SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DISCIPLINA: PRODUÇÃO DE TEXTO II PROFESSOR: SIMÃO FARIAS ALMEIDA
Conteúdo Programático: 1. O texto jornalístico 1.1 Linguagem e estilo 1.2 Estrutura 1.3 Argumentação 2. O discurso jornalístico 2.1 Heterogeneidade, polifonia e dialogismo 2.2 Gênero e discurso 2.3 O discurso noticioso 2.4 O discurso opinativo 2.5 O discurso interpretativo Bibliografia básica: AMARAL, Luiz. Jornalismo: matéria de primeira página. 3ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Fortaleza: UFC, 1982. DISCINI, Norma. Comunicação nos textos. São Paulo: Contexto, 2005. ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em Jornalismo: redação, captação e edição no jornal diário. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1991. KOTSCHO, Ricardo. “Perfil”. In: ______. A prática da reportagem. São Paulo: Ática, 1986. LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. 5ª ed. São Paulo: Ática, 2002. ___________. Linguagem jornalística. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1986. __________. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1979. LIMA, Eduardo Pereira. Páginas Ampliadas. Barueri, SP: Manole, 2004. MARTINS, Nilce Sant'anna. Introdução à estilística. 3ª ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000. MEDINA, Cremilda. “Anexo II”. In: ______. Notícia: um produto à venda. 2ª ed. São Paulo: Summus, 1988. MELO, José Marques de. Jornalismo Opinativo. 3ª ed. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003. PAILLET, Marc. “O Sistema 1”. In: ______. Jornalismo: o quarto poder. São Paulo: Brasiliense, 1986. Manuais de Redação.
1. Linguagem Jornalística Linguagem: uso de regras de determinado idioma selecionadas para emprego em situação particular Linguagem jornalística: leis gerais comuns a muitos idiomas Características da linguagem jornalística: a) é composta de palavras, expressões e regras combinatórias passíveis no registro coloquial e aceitas no registro formal; b) é objetiva e mais denotativa do que conotativa; c) é empática; d) é convencional, arbitrária: o jornalista faz suas opções lingüísticas; e) é referencial; f) é metalingüística: composta de um conjunto de sistemas: gráfico (traços, linhas, tipos de fontes), analógico (legendas, títulos e fotos) e lingüístico (manchetes, títulos, textos); g) contém os registros formal e coloquial da língua; h) redundante e esteriotípica; i) metadiscurso: o discurso jornalístico refere-se a outros discursos sociais; em relação a eles cria hierarquia de vozes, ética ao evitar usos pejorativos; é análoga à sociedade, privilegiando valores e costumes (avanços sociais por exemplo). Sobre este assunto ler: LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1986. 2. Estrutura jornalística a) Lead: parágrafo inicial do texto jornalístico que contém as informações básicas sobre o fato. O lead clássico é composto pelos elementos Quem, o que, a quem, quando, onde, como, por que e para quê. Os jornalistas costumam dar destaque a um ou mais desses elementos dependendo da visão que tem sobre o fato e do tratamento dele no texto. Apesar da forma clássica do lead, há uma variedade nas formas de apresentar o lead atualmente, com o objetivo de deixar o texto leve, agradável e empático ao leitor. A idéia é que o lead faça ele ler a notícia toda. b) Documentação: composta de proposições adicionais aos elementos do lead; informações e dados comprobatórios do que está indicado no início do texto, daí a qualidade da documentação depende da eficaz argumentação do autor do texto. c) Sublead: informações objetivas inseridas no texto que fazem referências anteriores, análogas ou opostas ao fato, personagem ou situação apresentados no lead. Exemplificando: Fato recente na cidade X (lead) + fato já acontecido na cidade y (sublead) Nova descoberta sobre o caso (lead) + o início do caso (sublead) Sobre este assunto ler: LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. 5ª ed. São Paulo: Ática, 2002. 3. Estilo jornalístico Estilo: “é compreendido como uma ênfase (expressiva, afetiva, ou estética) acrescentada à informação veiculada pela estrutura lingüística sem alteração de sentido. O que quer dizer que a língua exprime e o estilo realça” (Rifaterre in Martins: 2000, p.2). Estilo jornalístico: real características globais do jornalismo como a objetividade, a clareza e o texto enxuto.
Características do estilo jornalístico:
a) uso de frases curtas (neste sentido, evitar uso excessivo do que já que este acrescenta novas orações, novas informações ao mesmo enunciado); b) uso de frases simples, evitar orações complexas; c) evitar intercalação excessiva (apostos, travessões, parênteses); d) evitar locuções verbais com mais de dois verbos; e) uso da ordem direta da língua; f) evitar ambigüidade; g) uso de repetições, não excessivas, que contribuam para a percepção e a memorização das informações do texto. Sobre este assunto ler: MEDINA, Cremilda. “Anexo II”. In: ______. Notícia: um produto à venda. 2ª ed. São Paulo: Summus, 1988. 4. Argumentação jornalística Categorias relevantes para a argumentação: a) a opinião: ponto de vista, tese, crítica; b) o orador, autor: repertório, lugar social, lugar jornalístico; c) o argumento: didático, científico, produto, retórico; d) o auditório, leitor, receptor: repertório, homogeneidade ou heterogeneidade; e) o contexto: lugar, tempo, condições técnicas, posição entre orador e auditório (espacial, social, empatia). Procedimentos argumentativos a) resumo b) analogia c) ressonância d) antítese e) testemunho de autoridade f) referencialidade g) competência do orador/autor h) poeticidade i) taxionômico j) reciprocidade k) causalidade l) comparação m) ilustração Argumentação jornalística: a) dados b) citações c) depoimentos d) enquadramento do fato e) factualidade f) testemunho g) análises globais ou conjecturais h) objetividade i) assinatura (autoria)
5. Gêneros jornalísticos 5.1 Informativos 5.1.1 Notícia Definida tanto por autores como pelos jornalistas através de critérios de seleção dos acontecimentos. Mário Erbolato afirma que a notícia deve ser recente, objetiva e ter interesse público. Já Nilson Lage afirma: “poderemos definir notícia como o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante, e este, de seu aspectos mais importante” (1979). O Manual de Redação da Folha de S. Paulo aponta que a notícia é a “informação que se reveste de interesse jornalístico; puro registro dos fatos, sem comentário nem interpretação”. 5.1.2 Reportagem Nilson Lage define bem em Ideologia e técnica da notícia: “compreende desde a simples complementação de uma notícia – uma expansão que situa o fato em suas relações mais óbvias com outros fatos antecedentes, conseqüentes ou correlatos – até o ensaio capaz de revelar, a partir da prática histórica, conteúdos de interesse permanente” (1979). Já em sua obra Estrutura da notícia ele asserta: “a reportagem não cuida da cobertura de um fato ou de uma série de fatos, mas do levantamento de um assunto conforme ângulo preestabelecido” (2002). O Manual de Redação e Estilo de O Estado de S.Paulo diferencia notícia de reportagem pelo conteúdo, extensão e profundidade. “A notícia, de modo geral, descreve o fato e, no máximo, seus efeitos e conseqüências. A reportagem busca mais: partindo da própria notícia, desenvolve uma seqüência investigativa que não cabe na notícia”. 5.1.3 Entrevista É necessário em primeiro lugar diferenciar a entrevista como técnica jornalística da entrevista como gênero. Nesta disciplina nos preocupamos com o gênero entrevista sistematizado através de uma estrutura particular, com texto de introdução, perguntas e respostas. Mário Erbolato classifica a entrevista quanto aos entrevistados (individual e de grupo – enquete ou pesquisa), quanto aos entrevistadores (pessoal e coletiva) e quanto ao conteúdo (informativa, opinativa e de personalidade). 5.1.4 Perfil Trata-se de um gênero em que se traça características do caráter, da personalidade de um entrevistado a partir do depoimento dele e/ou de outros. O Manual de Redação da Folha de S. Paulo define o perfil como “uma reportagem biográfica que mescla declarações de pessoas entrevistadas, dados de sua vida e comentários sobre a figura em foco. O perfil busca traçar as opiniões da personalidade em pauta, sua inserção cultural ou política na sociedade e os fatos mais relevantes de sua vida, além dos detalhes de seu cotidiano”. 5.2 Opinativos 5.2.1 Editorial Gênero que expressa a opinião da empresa jornalística diante dos fatos,atuais ou permanentes, que repercutem e expressos na própria edição (referencialidade interna) ou não (referencialidade extra-lingüística). O objetivo principal é argumentar ao leitor sobre um fato ou tema para convence-lo a compartilhar da mesma opinião.
Segundo Juarez Bahia, os atributos do editorial são impessoalidade, topicalidade (unidade no tratamento do tema), condensalidade (brevidade) e plasticidade (não é dogmático). 5.2.2 Coluna Pode ser tratada como seção fixa, e aí pode divulgar artigo ou crônica, ou como gênero contendo estruturas distintas – texto ou mosaico de pequenos textos. José Marques de Melo define a coluna como bastidores de notícia, formando a opinião pública sobre fatos cujos contornos aprofundados e definitivos serão dados por outros gêneros como a notícia e a reportagem. 5.2.3 Crônica Gênero situado entre a informação de atualidade e narração literária. Uma narrativa do cotidiano ou parte do imaginário do cronista. Possui a transitoriedade do texto jornalístico. A opinião expressa na crônica não é a de um personagem mas do próprio autor. 5.2.4 Artigo Não representa necessariamente a opinião do veículo de comunicação em que está divulgado. Escrito por jornalista da empresa jornalística ou por colaborador, representante da opinião pública. A divulgação do artigo depende da representatividade jornalística e/ou social do autor, da qualidade do texto, da atualidade ou permanência do tema justificada pelo factual e pelo caráter polêmico das opiniões defendidas no texto. No artigo, à parte a linguagem e estilo jornalísticos, o autor pode expressar e valorizar o texto com seu estilo particular (humor, ironia, paradoxo etc). 5.2.5 Ensaio Como o artigo não representa necessariamente a opinião do veículo de comunicação em que está divulgado. Escrito por jornalista da empresa jornalística ou por colaborador, representante da opinião pública. A divulgação depende da representatividade jornalística e/ou social do autor, da qualidade do texto, da atualidade ou permanência do tema justificada pelo factual e pelo caráter polêmico das opiniões defendidas no texto. À parte a linguagem e estilo jornalísticos, o autor pode expressar e valorizar o texto com seu estilo particular (humor, ironia, paradoxo etc). Mas o ensaio diferencia-se pelo tratamento documental do tema (o autor referencia documentos científicos, filosóficos, históricos articulando-os com a idéia expressa) e pela complexidade ao fazer comparações e analogias que vão além do factual, do jornalismo e da cultura.