Ontologia a partir da linguagem: Termos Singulares e Objetos Físicos. Márlon Henrique dos Santos Teixeira1
No artigo Strawson’s Ontology, Gustav Bergmann falando acerca do livro Individuals parece ansioso para caracterizar Strawson como um tipo de filósofo que estaria muito próximo de sua própria caracterização, em pelo menos um sentido, e diz: “[...] Strawson é um filósofo da linguagem no bom sentido. Isso é, ele não faz filosofia, se essa é a palavra, acerca da linguagem, mas, antes, por meio da linguagem, acerca do mundo”( BERGMANN, G. 1960. p. 602.). Ainda que Bergmann pense que essa é a essência de um filósofo da linguagem, mais tarde ele afirma que, porém, diverge em um outro ponto, pois, Strawson tem como meio seguro de fazer filosofia acerca do mundo a linguagem ordinária, enquanto ele por meio da linguagem ideal. No presente escrito quero dar pelo menos uma demonstração de por que Strawson pensa que a linguagem ideal – ou linguagem formal, no jargão de Strawson – não pode dar uma adequada elucidação aos fatos como nós os conhecemos. Ou, pelo menos, que a linguagem formal é um meio enganoso de fazer filosofia quando se pressupõe desvelar a essência da linguagem para além horizonte pragmático. A discussão vai instalar-se no campo da Ontologia. O escrito divide-se em duas partes. Na primeira parte, baseado no artigo “Singular Terms, Ontology and Identity”, exporei a crítica de Strawson ao mecanismo de tradução de nossos enunciados empíricos por meio de paráfrases, onde asserção de existência é feita pelos aparatos quantificação e suas variáveis; tal como proposta por Quine. Neste ponto, a tentativa é de mostrar que uma linguagem que prescinda de termos singulares como meio de fazer referência para particulares objetivos é uma linguagem que prescinde de qualquer referência para particulares. Cabe mencionar, que o intuito é tão somente elucidar firmações de Strawson tais como: “a confiança sobre um exame o mais próximo do efetivo uso das palavras é o melhor, e realmente o único, caminho seguro em filosofia”(1979. p. 9.), enquanto não vou levar em conta a força que tal argumentação tem para a tese de Quine; sendo assim, minha interpretação de Quine é uma interpretação tomada a partir de Strawson. Na segunda parte, pretendo mostrar que a anterior argumentação de Strawson contém alguma vagueza concernente a pergunta ‘Que entidades efetivamente, ou em um 1
Aluno do mestrado do departamento de Pós Graduação da Universidade Federal de Santa Maria.
sentido primeiro, existem?’2. E, na seqüência, baseando-me no artigo “Logical Subjects and Physical Objects", quero apresentar um argumento que, de um lado, elimina esta vagueza, e, de outro, consegue dar unidade a esses dois temas, a saber, uma ontologia de particulares e a preferência por enunciados existências por parte de uma parcela da tradição filosófica. No artigo “Singular Terms, Ontology and Identity”, Strawson investe em avaliar a tese de Quine, segundo a qual a verdadeira forma de nossos enunciados empíricos é aquela revelada quando interpretamos esses enunciados ordinários por meio de paráfrases, onde a categoria de termo singular é teoricamente supérflua. Segundo Strawson, a partir da leitura de Quine, pode-se interpretar essa tese de duas formas, uma mais fraca e uma mais forte. A tese mais fraca afirma que a eliminação da categoria de termo singular segue-se da possibilidade de nós elimina-los por meio de paráfrases, mas, insiste Strawson, isso seria também pressupor a existência de termos singulares, uma vez que a própria leitura que fazemos das paráfrases são em termos que pressupõem enunciados que contém termos singulares. A tese mais forte é aquela que afirma que termos singulares são teoricamente supérfluos no sentido em que eles nunca em realidade existiram, que são um mito da filosofia da linguagem. No encalço da tese mais forte Quine afirme que se segue dela vantagens de caráter lógico e filosófico, uma vez que os problemas de referência seriam concernentes tão somente aos quantificadores e suas variáveis. Segundo Strawson é tomado por óbvio que a possibilidade da segunda segue-se da possibilidade da primeira (1956. p. 434), e ainda, que todos os incentivos que Quine oferece são em prol da tese mais fraca – onde termos singulares são supérfluos pela possibilidade de paráfrases acerca desses enunciados. Mas, reitera Strawson, pode ser que a tese mais forte siga-se de uma verdade ou outra que precise de um exame mais detalhado para ser percebida (1956. p. 444). No caminho para avaliar a tese mais forte na qual termos singulares são eliminados por paráfrases, pois nunca em realidade existiram. Strawson encontra a necessidade de examinar em maiores detalhes qual especificamente é a noção de termo singular que Quine está propondo que eliminemos por meio de paráfrases. Segundo Quine um termo é singular se, em um dado uso ou contexto, ele pretende nomear, ou referir para, um e somente um 2
Strawson explicitamente reconhece a vagueza de sua própria formulação neste aspecto, porém, uma vez que a presente formulação é suficiente para seus objetivos no presente escrito, não dá maiores esclarecimentos, neste texto, sobre o conceito de termo singular.
objeto concreto ou abstrato (1984. p. 218-219.). É sugerido que tomemos a noção de referir a algo, pois ela é mais ampla do que a noção de nomear. Essa definição para Strawson é vaga, pelos seguintes motivos, e propõe uma correção, para que possamos precisamente saber que termos teríamos que eliminar. A vagueza pode ser entendida como se segue, veja os seguintes enunciados: (1) (a) Eu falei a você assim; (b) Alguém falou a você assim; (2) (a) O advogado correu pelo meio do jurado; (b) Um advogado correu pelo meio do jurado. (3) (a) João é o advogado; (b) João é um advogado. Segundo Strawson, Quine certamente consideraria os termos “eu’ em (1) e os termos ‘o advogado em (2) e (3) como termos singulares elimináveis por paráfrases. Enquanto que o termo ‘alguém’ em (1) e os termos ‘um advogado’ em (2) e (3), não. É claramente correto que os termos ‘eu’ e ‘o advogado’ pretendam ou, sejam usados em determinados contextos para referir uma única pessoa. Mas não é claramente incorreto que os termos ‘alguém’ e ‘um advogado’ pretendam em um contexto particular referir a uma única pessoa. Assim como é certamente mais correto pensar que eles pretendam referir a uma única pessoa nos casos de (1b) e (2b) do que no caso de (3b), onde o termo ‘um advogado’ funciona como um predicado. A elucidação da crítica de Strawson torna-se mais clara no momento em que ele distingue duas formas de identificação. Segundo ele, identificar no sentido dos termos ‘alguém’ ou ‘um advogado’, é identificar algo como membro de uma classe, mas isso seria mais bem definido como classificar ou descrever algo. Porém, identificar no sentido de ‘eu’ e ‘o advogado’ é identificar algo como membro particular de uma classe. Desta forma, como correção da noção de termo singular proposta por Quine, acrescenta-se: 'que um termo é singular se, em um dado contexto particular de uso, ele pretenda referir a um e somente um objeto, abstrato ou concreto, e não meramente classifica-lo ou descreve-lo, mas identificar esse objeto’(STRAWSON, P. F., 1956. p. 438-439.). Ou, o que seria seu equivalente: um termo é singular em um dado uso se ele pretende fazer uma referência identificante a um dado objeto. Uma vez que temos tal conceito percebemos o motivo de igualar as noções de ‘nomear’ e ‘referir’, pois, um nome, assim como uma descrição definida e diferentemente de uma descrição indefinida, pretendem ambos identificar o objeto o qual eles são usados para referir, justamente no sentido acima definido. Agora
podemos identificar a classe de enunciados que definem a tese mais forte, a saber, em enunciados em que não ocorrem termos referencias identificante. Antes que passemos a exposição da análise de Strawson dos enunciados-paráfrases, sejamos mais explícitos acerca do que são tais enunciados. Enunciado-paráfrase é a forma que enunciados assumem uma vez que analisamos descrições definidas no tradicional tratamento da Teoria das Descrições Definidas de Russell. Mais explicitamente, uma descrição definida pode melhor ser representada pela notação C(x), onde ‘x’ é totalmente indeterminada e ‘C’ é o conteúdo da proposição e a relação entre ‘C’ e ‘x’ é forma da proposição ou função proposicional. Desta maneira descrições definidas, e.g. ‘O menino é esperto’ tornam-se ‘Há algo que é verdadeiro dizer que e somente que menino e que esperto’. Dado isso, todo termo singular deve ser expandido dentro de uma descrição e logo analisado à lá Russell. O ponto importante para Strawson é concernente a situações de aprendizagem por ostensão – ou confrontação direta – de nomes. Segundo ele, Quine percebe que certos nomes podem ser aprendidos por meio de descrições, e.g. o nome ‘Platão’ pode ser aprendido como ‘O filósofo que foi discípulo de Sócrates’. Porém outros nomes eventualmente não possuem tal recurso, necessitando que os aprendamos por confrontação direta do nome com o objeto, e.g. supondo que ‘Carlos’ designa uma pessoa que quero apresentar a alguém e que não haja nada relacionado a essa pessoa que possa me auxiliar identifica-la para o ouvinte; assim o ouvinte só conhecerá o significado do nome uma vez que confrontarmos o nome com o objeto, no caso a pessoa em questão. Contudo, para evitar que seja carregada essa condição epistemológica para dentro da lógica, e que sejamos obrigados, sob fundamentos epistemológicos, a reconhecer a categoria de termo singular na linguagem, tanto quanto descrições definidas, Quine propõe que ‘trivialmente expandamos’ nomes dentro de descrições definidas e analisemos à lá Russell. Sendo assim, o nome ‘Carlos’ vem a ser ‘A coisa que Carloseza’; onde tais termos sempre seriam aprendidos como predicados verdadeiros do objeto mostrado. Neste momento Strawson fala de nomes, mas seus exemplos são articulados somente com nomes próprios, porém a noção de nome também se aplica a nomes para atributos, ou seja, termos gerais na função de termo singular, e. g. ‘O vermelho é tal e tal’, ‘A saudade é tal e tal’. Uma vez que nome é todo termo na função de termo singular cuja identificação por parte do ouvinte repousa tão somente sobre o significado do termo; e.g. se digo a uma pessoa ‘O vermelho é uma cor
agradável’, dificilmente ela replicaria ‘Qual vermelho?’, ainda que em determinados contextos isso seja possível. Passemos à análise das paráfrases; uma linguagem onde não há termos singulares e somente haveria: variáveis de quantificação, quantificadores, predicados e conectivos lógicos. A noção de termo geral pode ser compreendida de duas formas, a saber, como um nome ou como um predicado; e esses são os dois modos pelos quais atributos são introduzidos em nosso discurso. Dizemos que um termo geral aparece na posição predicativa quando o atributo é introduzido como uma instância de uma determinada parcela de nossa experiência, ou seja, como um instancia particular de um atributo. Respectivamente, dizemos que um nome é introduzido quando o termo geral cumpre a função de termo singular no enunciado e vem acompanhado de um termo na posição predicativa ou de advérbios demonstrativos quase-predicativos, como ‘aqui’, ‘agora’, ‘lá’. Quando procede a avaliação da alternativa proposta por Quine, Strawson assume uma premissa que, segundo ele, Quine não disputaria, a saber, “que para qualquer termo geral ser aprendido, o termo geral deve ser aprendido por ostensão, por ‘confrontação direta”(STRAWSON, P. F., 1956 p. 445-446.). Strawsonianamente falando isso seria o mesmo que dizer que só podemos apreender um universal como uma instancia de um particular. Assumir essa premissa ainda não nos faz decidir se em nossas situações de aprendizagem, apreendemos o significado de um termo geral como um nome ou como um predicado. O único modo de responder a questão é por referência às situações de uso da linguagem em experiência de aprendizagem por confrontação direta ou ostensão. No modo em que de fato são articuladas essas situações, elementos demonstrativos devem estar incluídos em nossa linguagem. Elementos demonstrativos podem ser incluídos por meio de expressões que referem identificadoramente para as instâncias do atributo, ou podem ser representados por meio de advérbio demonstrativo. Isso é a situações pode ser articulada ou na forma ‘Esse A-es’ ou na forma ‘A está aqui’. No primeiro caso o termo geral está funcionando como um predicado de um particular referido por um genuíno termo singular; no segundo caso o termo geral aparece em si como um termo singular, como o nome de um atributo, para o qual um demonstrativo quase-predicado é aplicado. No primeiro caso o termo geral está funcionado como um predicado uma vez que efetivamente se aplica a um particular identificado por um termo referencial. A menos que termos gerais adquiram
significado como predicados de particulares, não poderá haver referência alguma a particulares e, logo, nenhum desses tipos de referências indefinidas, tais como ‘alguma coisa que...’ ou pronomes relativos. Pois, se em situações de confrontação direta negamos enunciados como ‘Esse A-es’, a única alternativa são enunciados em que há referências somente para atributos, e, logo, particulares careceriam de justificativa desde a linguagem. Toda a questão recai sobre como interpretar enunciados tais como ‘Há uma coisa e somente uma que corresponde aos atributos tais’; segundo Strawson o modo como nós efetivamente os interpretamos é tal que pressupõe enunciados da forma ‘Isso é tal e tal’, e é somente nesta pressuposição que os termos gerais que ocorrem nas paráfrases tomam o sentido de predicado. Agora, se privarmos tais enunciados existências do contexto dos enunciados contendo termos singulares, então, no máximo, podemos interpretar as paráfrases como sentenças onde os quantificadores teriam o sentido de advérbios como ‘aqui’, ‘agora, ‘lá’ e os termos gerais como nomes de atributos. Pois essas são as únicas formas que nossa linguagem assume em situações de aprendizagem por ostensão. Se o argumento é aceito, segundo Strawson, segue-se que nenhum simbolismo pode ser interpretado como fazendo referência para particulares a menos que nele contenham elementos demonstrativos, i.e. a menos que contenham termos singulares para referir para particulares, exatamente no mesmo sentindo em que Quine declarou supérfluo. Por conclusão, segundo Strawson, a partir do argumento exposto temos a seguinte situação. Quine oferece uma forma de linguagem a qual referência para particulares é feita, mas não por meio de termos singulares – pois eles não existem. Em contraste com o argumento de Strawson isso é impossível, pois em uma linguagem onde não há referência para particulares por meio de termos singulares, jamais pode haver referência para qualquer um particular. Logo qual o único meio de interpretar tal linguagem em que, de alguma forma, há referência? A única alternativa é interpretar os termos gerais que ocorrem nas sentenças do tipo ‘Há uma coisa e somente uma que corresponde aos atributos tais’ como nomes para atributos e suas variáveis e aparatos de quantificação como expressões adverbiais tais como ‘aqui’, ‘agora’, ‘lá; se ela pretende ser uma linguagem empírica. De forma geral segue-se um completo platonismo, onde só há possibilidade de referência a atributos.
O argumento de Strawson surge em defesa de uma base adequada acerca da elucidação de uma tese ontológica que advoga em prol de objetos materiais ou particulares. Porém neste estágio seria proveitoso reunir alguns pontos que ainda mantém uma certa obscuridade. Strawson critica Quine, pois, segundo o primeiro, uma linguagem que prescinda de termos singulares é uma linguagem em que referência alguma para particulares pode ser feita. Porém considere a seguinte hipótese: digamos que as variáveis das paráfrases de Quine pudessem cumprir a função de referência em situações de confrontação direta; digamos que de alguma forma em tais situações elas realmente refeririam a particulares. Embora, segundo Strawson esse não seja o caso, haveria uma vantagem. Pois uma vez dado os valores de verdade do enunciado seria razoável pensar que as variáveis compreendessem somente particulares – uma vez que dado um fato segue-se o valor de verdade; e dado isso, se fosse o caso, variáveis compreenderiam somente particulares e termos em posição predicativa, somente predicados. Em um momento anterior, Strawson propõe que façamos uma correção a concepção de termo singular proposta por Quine, sob a justificativa que seria insuficiente para determinar quais efetivamente eram os termos que deveríamos identificar como termos singulares elimináveis. E, em troca, nos oferece a seguinte concepção: 'um termo é singular se, em um dado contexto particular de uso, ele pretenda referir a um e somente um objeto, abstrato ou concreto, e não meramente classifica-lo ou descreve-lo, mas identificar esse objeto’(STRAWSON, P. F., 1956. p. 438-439.). Ainda que o próprio Strawson declare essa concepção vaga como um todo, contrastando a concepção de Strawson com nossa anterior hipótese, estaríamos muito inclinados a pensar que a tese de Quine possui uma grande vantagem, uma vez que a própria definição de Strawson claramente afirma: ‘...abstrato ou concreto...’. Ou seja, se agora nos temos referência para particulares, também temos referência a qualquer tipo de entidade por parte dos termos singulares, o que poderia nos levar a uma superpovoação ontológica do mundo. Existem pelo menos três respostas distintas que Strawson oferece para o problema. Mas seria conveniente responder com alguma que se adequasse mais ao contexto, ou seja, que de alguma forma tentasse ser respondida dentro do terreno do adversário. Segundo Strawson realmente há razões pelas quais alguns filósofos têm preferido descrições indefinidas – ou paráfrases – como dando uma base adequada para a questão ontológica dos
objetos materiais. Antes de expor o argumento de Strawson seria conveniente fazer três observações, a saber: primeiro, que, em algum sentido, descrições definidas – assim como descrições indefinidas – possuem termos singulares, uma vez que, ainda que não pretendam referir identificadoramente a um particular, essas expressões fazem referencia de forma indireta ou não identificadora, tal como foi exposto na crítica de Strawson acerca da definição de termos singulares proposta por Quine. Segundo, que essas expressões, ainda que o ouvinte saiba o seu significado em uma situação de uso, aquilo que é referido por elas não é identificado, ao passo que quando usamos um nome, desde seu significado segue-se também identificação. E, em terceiro, que é uma condição necessária para nossa identificação de particulares sua posição no único e unificado sistema espaço-temporal que nós mesmos ocupamos. Neste ponto cabe lembrar que descrições definidas e indefinidas diferenciam-se também de termos demonstrativos, pois, os últimos, naturalmente usados em situações de confrontação direta, dado seu uso, segue-se sua identificação – ainda que possa haver eventuais falhas, dependendo do contexto. Considerando essas três observações o argumento se articularia de como se segue. Os enunciados onde quantificamos, ao modo proposto por Quine, não conseguem dar uma avaliação correta, pois, teoricamente, se articulados em situações de confrontação direta, referência alguma para particulares jamais poderia ser feita, tal como foi exposto mais acima. (mesmo na hipótese de que, em confrontação direta, tais enunciados pudessem referir para particulares, Strawson afirma que a questão de ‘sobre o que vamos quantificar?’ é meramente arbitrária, mas na pressuposição de que o anterior argumento é válido, não exporei tal argumento) Porém, segundo Strawson, o interesse em tais enunciados onde ocorrem quantificação não é gratuito e realmente podem conter uma explicação para nossa preferência por particulares a categoria de sujeito lógico ou, em linguagem, por termos singulares – neste instante não será relevante a distinção. E essa preferência pode ser elucidada quando averiguamos as efetivas situações e os modos de referência em que nomes, termos demonstrativos e quantificações ocorrem. E mesmo que teoricamente possamos quantificar sobre particulares e atributos indiscriminadamente, na prática isso não ocorre. Considere a situação em que queremos falar de uma pessoa em particular para um ouvinte: se essa pessoa está presente podemos usar termos demonstrativos para mostrá-la; se ela está ausente, mas o falante sabe o nome dela, então podemos referir a ela por meio de um nome próprio, desde que o
ouvinte saiba de quem é a pessoa e que o nome em questão é o seu nome. Mas se não temos nenhum destes recursos, então neste momento quantificação ocorre. Primeiro, podemos considerar o caso em o falante quer fazer com que o ouvinte saiba de quem ele está falando, sendo assim é usado uma descrição definida conectado com um particular já identificado, e. g. ‘O menino da filosofia que é filho da sua madrinha’. E neste caso é identificado o particular por meio de uma relação estabelecida com um particular já identificado, uma vez que o ouvinte conheça o particular identificado. Agora vejamos a situação em que é irrelevante para o ouvinte saber a identidade do particular identificado ou o falante não quer que ele saiba. Pode ser usada qualquer expressão daquelas pretendidas por Quine como figurando na real forma geral de nossos enunciados, a saber, ‘um menino da filosofia estava apresentando um trabalho’, ‘Três alunos da filosofia são tal e tal’, ‘alguns’, ‘todos’. E o ponto é que referir por meio de descrições indefinidas é o único recurso no caso em que fazemos referência para entidades em que é uma condição necessária para sua identificação sua localização em nosso sistema espaço-temporal unificado. Strawson ressalva que essas são características que surgem em conformidade com o tipo de linguagem que é a nossa linguagem empírica do dia-dia. Essas formas de enunciados surgem entre tantas outras, dependendo de cada situação de comunicação, e jamais devemos interpretá-los desconsiderando suas efetivas situações de uso. Por fim. Foi apresentada neste artigo apenas uma parcela da discussão em que Strawson advoga em favor do exame da linguagem ordinária como único meio seguro para fazer filosofia. Neste momento, apresentamos o argumento de Strawson onde a tentativa de traduzir nossos enunciados por meio de paráfrases descartando a existência de termos singulares implica em uma linguagem em que referência alguma a particulares pode ser feita. Segundo Strawson a única interpretação alternativa de tal linguagem, onde termos singulares não existem, é interpretá-la como uma linguagem Platônica; onde só há referência para atributos e não há meio de advogar em prol da existência de particulares ou objetos físicos. E a pretensão de encontrar algo como uma forma geral de enunciados só vem a ser, segundo Strawson, o único ‘metafísico artigo de fé’(1956 p. 453.). Logo depois, num movimento em que Strawson aproxima descrições definidas e indefinidas de suas efetivas situações de uso, questões que haviam surgido no interior do primeiro argumento passam a ter uma explicação – ainda que não todas – assim como também a preferência por
parte da tradição por tais enunciados como candidatos a responder questões ontológicas. Tanta a primeira parte, como a segunda, estão relacionadas com temas da filosofia da lógica que foram suprimidos, uma vez que não respondem diretamente para o tema da ontologia.
Bibliografia: BERGMANN, G. Strawson’s Ontology. The Journal of Philosophy, Vol. 57, No. 19, (Sep. 15, 1960), pp. 601622. pag. 602. QUINE, W. V. Methods of Logic, Forth Edition. Harvard University Pess. Cambridge, Massachusetts. 1984. STRAWSON, P. F. Singular Terms, Ontology and Identity. Mind, New Series, Vol. 65, No. 260. (Oct., 1956), pp. 433-454. pag. 434. _________. Logical Individual and Spacio-temporal Particular. Philosophy and Phenomenological Research, Vol. 17, No. 4, (Jun., 1957), pp. 441-457. _________. Logico-linguistic Papers. Ashgate Publishing Limited. 2004 _________. Individuals, An Essay in Descriptive Metaphysics. University Paperback. 1979. RUSSELL. B. On Denoting. Mind, Vol. 114 . 456 (Oct. 2005) pp. 479-493.