Kama Antropofajika

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  • Words: 36,319
  • Pages: 248
Paulo Bauler

Kama Antropofajyka

Antigo Leblon/Antropófagos Erótykos 1

Copyright by Paulo Fernando Bezerra Bauler Editor: Érico Braga Barbosa Lima Edição musical do autor Ilustrações: fotos de desenhos e aquarelas de Elizabeth Kasper Figura incidental: arte sobre estatueta Inca representando a fertilidade da terra Capa do autor Editoração do miolo: Humber to Mello Impressão do CD: Estúdio Manhattan Acabamento e impressão: Marques Sar aiva Gráficos e Editor es Kama Antropofajyka e Antropófagos Erótikos são marcas do autor devidamente registradas nos órgãos competentes. Todos os direitos sobre as composições reservados aos seus respectivos autores. O Cd anexo é parte integrante da obra, não podendo ser comercializado separadamente.

B34k

Bauler, Paulo, 1948 Kama Antropofajyka / Paulo Bauler / (Ilustrações Elizabeth Kasper), Rio de Janeiro: Antigo Leblon; Antropófagos Erótikos, 2005. 248 p.; 23cm. ISBN 85-98513-04-0 1. Poesia Brasileira. 2. Música Popular - Brasil. I. Título 04-2077. CDD 869.91 CDU 821.134.3(81)Impresso no Brasil. 2005 Edições Antropófagos Erótikos Rua Eduardo Collier Filho Quadra 73 Lote 7 Maramar, Recreio dos Bandeirantes, CEP: 22785-340.

Editora Antigo Leblon Tel.: (21) 2274-1236 e-mail: [email protected] 2

Às Muzas Antropofajykas Aos Antropófagos Erotykos e A kem Interesar Prozas Pós-Antropofajykas 3

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KAMA ANTROPOFAJYKA

Aos Urros, Gritos, Rizos e Jemidos dos Tambores das Tribos 5

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...porke o omem é um animal poetyko... 7

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O Verso Pós-antropofajyko

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Kom este vinno, embriagando a tarde kwal domingo Ergo um brinde ao mundo, sonnado e prometido Subyto vindo a mim la de kwal futuro Algo asim komo um mutwo de um Dews distante Kwaze serto o mundo ke selebro não será para vosês, sisters and broders um mundo dos sews propryos sonnos prodygos. Kisá nem será mundo ese tal mundo, mas ao estalar da lingwa logo ao primeyro kopo - dele, ese owtro mundo Alguma sidade, bayrro, ow simples vila Deserto será, my sister, my broder Do voso inteyro agrado (Se asim for não se akanne, my dear Ke por lá avemos de lle akomodar) No passport, para este mundo, no viza and tax free. Nem armas nem barões asasinados, Pas de politike, even demokracy ke em tal mundo kada kwal goza o ke pode Kada gozo regam flores gozem mays Sim, sisters and broders, kom este gole - tinto, seko e karpinteyro Enxo mew tinteyro, de kores, de sons - inkluzive o silensyo I tell you the truth: ese tal mundo ew ka não invento posto ke já posto ao pensamento largo por tantos kwantos à sua ágora pertensam; Uma suma kosmolojyka, talvez, ew faso (Não ke seja de todo nesesaryo) Talvez os trasos deses atlas mays apago Dese tal mundo ke em verdade nada invento Posto ke já posto ao modo estreyto e vasto Ke a imajinasão konsede, a kem terrákeo Dews dew azas de universo: 11

O revólver de um lado, a garrafa tombada e a larga makwla à toalla sudarya o sange de um kristo e espinnos krusifikso desas todas noytes E a sinza espallada, e as pontas fedidas de um sinzeyro virado, e tudo o mays ke faz o senaryo latino dos desvarios, esa rasa xeya de nervos de orgullos feridos, sensível, sussetível ao mays leve deskazo de Venws

A kara no espello akorda a kara ke olla e não kondena a kara ke o pensamento olla kompreendendo a kara ke mora na alma Nem de lonje a kara ke na rua ollam ?Kwantas karas bastam a se ollar na kara? É mays uma formiga na multidão de uma terra ao sul do ekwador e nada mudará a despisiensya de kada kwal. Mas isto é o espello; o verso é ke se sabe estranjeyro já ke um Unyko de imposível enkayxe nese puzow de karnes em ke se elabora a espesye ke um dia para allá será Ineksorável destino, insipiensya, irrelevansya E ele observa a abóbada seleste azulmarinna, sempre eskura mesmo à toda luz da lua, kada vez mays eskura sempre a mesma paizajem, as estrelas se repetem em sew piska-piska vagalumes prezos na grande vidrasa de Dews E já ke os séws sempre se repetem Ollar para o bayxo xão é talvez a saida para não se morrer de tedyo, -ele kaminna e pensa, sem krer em absolutamente nada do ke sew pensamento, até porke de tudo rezulta um novo devir As jiganteskas mudansas kwantitativas levam às imperseptiveys mudansas kwalitativas Ke só se observa em lentes voltadas para tras 12

Mas é o Absoluto das koyzas inatinjiveys das koyzas inesgotaveys das koyzas impropryas aws umanos das koyzas ke pertensem aos dewzes Enfim, é o Absoluto o Unyko ke importa

Por tudo iso a vida se torna um fardo, leve ow pezado sempre kwalidade de fardo, embora aja prazer no fardo, vez em kwando ao se komparar os pezos e os lasos Por iso o revólver sempre apontado Por iso o vinno derramado As sinzas de sigarro, e o xoro mofado ao fundo Por iso ke as karas nos espellos nem se sabem mays: Desde ke enterrow o ultymo dos Absolutos e agora Gwarda rankor de si mesmo, mas Sege determinado O mandamento namber wann do diabo: Odiarás o tew prosymo komo a ti mesmo Mas isto ainda não é o revólver, isto ainda é o vinno e o trago, sange e espinno O sol lambia as areyas e os korpos e as espumas das ondas E o verde das agwas mays para allá, e o azul do séw mays para allá E as illas ao lonje, e a linna reta e kurva do orizonte E tudo é mesmo sempre mays para allá ?Ke importa? Igwal se pasa kom ele, ?não é ele também mays, muyto mays, para allá? De si mesmo, de todos, tudo kwanto esbarre kazual, ow ke a vontade subyta keyra agarrar 13

Komo agora, ke as palavras e as kurvas, e os kabelos ao vento e lle parese às vezes estranno, tão estranno ke ela lle keyra, Ke ela lle keyra para kwalker algo e é ainda mays estranno ke ela lle keyra para a karne Poys toda a vontade se devia enserrar no Unyko, e ela devia apenas deyxar-se para a vontade do Unyko, o Absoluto razão de ser de todas as vontades, derivadas d’A Grande Vontade Absoluta

E isto se pasa na kalsada da praya kwando pasa um jornal ke pasa gritando: !O Absoluto Morrew! !O Absoluto Morrew! E ele, nem sorriw nem sofrew Ele olla a parte do kopo ke lle faltava e nem tinna bebido ainda a metade kwando ela lle pede um trago E reklama ke amargo Sew dose, o idromel dos dewzes do olimpo Mas tudo iso morrew E ele, nem sorriw nem sofrew Uma tremwla bandeyra ao kanto eskerdo da televizão feyta de azul, feyta de estrelas e o resto tudo listras vermellas, e ele até gosta não pode mentir ke não apresia as lowras madeyxas de rapunzel ow as rózeas boxexas de uma branka de neve e tudo o mays faz a fantazia e o sonno palpável, posível, rózeos labyos a kobrir de beyjos, doses beyjos e drops, e amendoim, e xokolate e bala de menta e mel palpaveys, posiveys, rubros labyos a kobrir de lingwas, doses labyos a lamber o sal, a beber o ser akridose, animal 14

Mas tudo iso ainda não é o revólver: iso tudo ainda é o sudaryo No kwal se enrola o korpo poskrusifikado Na verdade não era asim ke ele a keria ke fose, nem ela asim o esperara o dia de ve-lo kosando a memorya a manter na rezerva um resto de misteryo para o dia do ke lle paresia ser o dia da invazão da normandia

E ela lle poria em volta o peskoso kolares de flores avayanas ela o beyjaria uma virjem dos labyos de mel ela só keria ke fose tal no sonno tal o sonno akordado às oyto en punto no mesmo kanal Para ele talvez fose a Marselleze, ow o momento fatal do gol ow o primeyro awmento de salaryo ke um dia lle fez akreditar ke a vida era ao alkanse das mãos Para ela talvez mays ainda ke o beyjo da novela, mays ke novela não é vida, ela o sabia talvez pudese se komparar ao primeyro gozo kom as propryas mãos Para ele seria asim komo a konkista da antartyda, ow o dia em ke asertaria na loteria de bixos (não pensava no millar) já na dezena bastava a se sentir um gannador

Para ela seria um powko de tudo akressido à surpreza da primeyra vez Para ele seria de tudo um powko akressido à surpreza da primeyra vez 15

Mas nem para ela, nem para ele nada nem de lonje lembrava a primeyra vez Mas nem se pense ke iso já era o revólver, ke não era Eram só as mãos Um tanto kalydas Avia também o rekyem mozartiano, e um serto kanto gregoriano de ke não se lembrava o nome Avia uma korrespondensya resebida junto kom um telegrama sem ke fose um enkontro de kontas Avia a ezijensya de regularizar serta burokrasia estatal em oyto repartisões Avia, enfim, uma porsão de ditas pekenas koyzas ke asasinam os dias Sobretudo, avia a nesesidade de eskapar do asko Mas também não se pode dizer ke nisto esteja o revólver Afinal, todos temos nosos dias semanas mezes anos dékadas De aflisão angustya dezespero Temperado a prazer até ke Nese dia limpow kwidadozamente a sinza e katow as pontas de sigarros espalladas e pos a lavar a toalla e levantow a garrafa, e a lansow ao sesto E mergullow a kabesa debayxo a torneyra de agwa fria E deskobriw no espello a kara das karas ke importava a ensenar o drama do sew ultymo ato no papel de judas da proprya alma 16

Para ke tudo fose a kontento Limpow kwidadozamente a arma kom óleo e tudo E kompletow de balas, novas para ke nada lle fallase Asim komo kem sabe do momento fatal todo valor e brillo E por falar em brillo, abriw owtra garrafa do vinno e vestido em kamiza e kalsa e paletó de linno, e meya de seda e gravata de seda E xegow à janela, na mão a tasa vermella e seka Kontemplow lá fora E não avia nada Senão ke o Absoluto O mesmo senaryo azulmarinno As mesmas estrelas O mesmo séw kyaroskuro E finalmente abriw as azas de universo dadas por Dews e voow O revólver ainda nem era o verso

Deliryo pós-antropofajyko n° 1 Ningém é livre em solidão: eys a primeyra deskoberta poetyka 17

A Lammpada

Susurro dos Ventos Follajem Verde Susurro dos ventos Follajem Verde Susurro dos Ventos Follajem verde Xuva Kaindo Susurro dos Ventos Follajem verde Xuva Kaindo Xuva kaindo xuva kaindo follajem verde Susurro dos Ventos Noyte Eskura Noyte Muyto Eskura susurro dos ventos xuva kaindo Follajem verde Follajem verde e A Kama Unyka luz Follajem verde e a Kama Unyka Luz Unyka Luz Unyka Luz xuva kaindo susurro dos ventos follajem verde e a lammmpada unyka luz unyka luz

unyka luz

18

Libelubrykas Libertas libertinas Libelwlas Libeludykas Libelubrykas Úber Líber Libetwlas estendidas pregisozas meninas nas retinas Borboletas Borbolíbertas Borbolindas borboletando grinaldas perfumozas Libertas libertinas do kazulo ao kawle do vakwo ao vento Libertas libertinas kwae sera tamen

Sérbero oje não invento o verso não kojito a proza não teso elojiozos fios a nada apenas espero (sérebro enkollido) ke o kantyko de tão fundo e sentido rebelde irrompa

sozinno

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Kafé da Mannã distraida um fio fino de kabelo longo a mão eskerda kolle ao akazo dos tapetes solitaryos Um kalor orvalla a flor okulta à menina dese brusko ollar !Kalma! rosnam-me as garras lammynas lagrymas d’oso e sal ...e volto à leytura dos jornays

Delirywm Tremens ?Por ke deliro, Amigo? Porke sow brazilian kukaraxo Sob um delirywm tremens In estremys Sow ser-ke-não-pensa Bizarre.... Apenas Bondozas Benevolensyas Maledisensyas Ao Ser-Pensado ...e esas peles palim?estas já se fazem kansadas

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Pura Poezia Era uma fonte Tão limpyda e klara As agwas ke bannavam a minna yara Não sey de onde Se owviam Sons de uma lira antiga e klasyka Para ke ew fikase asim Ao sabor de uma briza

Deliryo pós-antropofajyko n° 100 Toda a filozofia se rezume à sua primeyra indagasão: ?o ke é? Kwando, apontando uma árvore de gallos balowsantes à briza da mannã ensolarada, pergunto a algém o ke é, e me respondem ke o ser apontado é uma pitangeyra, digo ke não vejo nennuma semellansa entre os sons proferidos por ela, sua signifikasão, a palavra, kom akela árvore de gallos ke no momento seginte, sem briza, não balansa os gallos. Se peso ke me eskrevam a palavra, esta ainda mays se distansia dakele ser de follas verdejantes... E okorre o mesmo kom todas estas palavras E kom as palavras dos mews poemas O fazer poetyko será então o enkurtamento desas distansyas de semellansas? Enkontrar uma owtra via de signifikasões a sabermos o ke as koyzas são? Ow o objeto do poema será, ao kontraryo, estender de tal maneyra esa distansya ke tudo se disolva e não saybamos mays nem o ke é a koyza nem o ke é palavra ke indika a koyza? Afinal, o ke é o poema? Revelasão de verdades? Disolvisão de semellansas e diferensas de modo a ke tudo reste belo? Enkurtamento ow ampliasão das distansyas ke ezistem entre todas as koyzas? Poys ew, poeta, não sey E sempre ke me meto a saber, poeta não sow Obrigo-me konfesar ke as palavras todas dos poemas estão a dizer de um mundo ke não sey, de algo de um mundo ke talvez nem ezista mas ke, por algum motivo ke também deskonneso, as palavras do poema konvidam a vizitar 21

Amor Platonyko Por kawza de Nelida Piñon

Xegey tão perto dela Kwaze podia toká-la O mew sorrizo, esgarsado O sew korasão de gazela Não owzey falar-lle Kwaze susurrey sew nome A minna mente, orjiastyka O sew kaminnar de donzela No portão, era ainda ela Kwaze devia xamá-la A minna voz, asoprada O sew lugar na kolmeya Sonnando, era ela o sonno Kwaze devia soltá-la A minna veya, inxada O sew dorso de pantera Nunka mays a vi Kwaze devia eskesê-la O mew sorrizo, apagado O sew mundo de novela xegey tão perto dela kwaze kem sabe lambe-la xegey tão pertinno dela kwaze devia matá-la

Rubayata Kintesense

Dezayre Delixiows ventre kaliente Ay fawnded es yet may love soft keyje silky soleil …laing intakt

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Mikrofizyka do Poder

Enkwanto fusas tolos fukowts ew te fuso os mowkos owvidos moxos Poys ke a tua alma maxa/mente okupada não te silensia os poros, os todos os sonnos e os sonsos do femyno korpo Enkwanto fusas fukowts ew te fuso os mukos ao obvyo muskwlo dese mundo bruto Fusas fukowts (?e ew kom iso?) te dobro os sinos do natural esforso te kobro o sizo do feminino korpo

Deliryo pós-antropofajyko n° 39 O visyo da bondade é o pior de todos os visyos ke espreytam o poeta 23

Teoria Se o asannar das azas de uma borboleta na Oseania São kawza de um terremoto no Japão Espero, sinseramente espero, minna kerida Não kawzar nennum abalo Nas barbas mays distantes do Universo Kwando agarro tuas ankas por detraz

Tropyko de Venws Poys é, sow um kara asim, muyto, muyto romantyko O ke não ker absolutamente dizer não ser semantyko Fikey no verso Não kis ser fizyko, alkimyko Fis rimar kwando kom kwantyko, e portanto Não Vennam Me Ensinar Kantar Mew Kantyko poeta me fis asim Um Ser Estranno poeta-yoge, buskey ser poema tantryko Sonney viver um vate dos antannos Ao mesmo tempo Kosmyko e Terrákeo Tenno noytes não/sim Tenno dias sim/não Alguns, ke sow verbos demays: ?Ke vozes sow ew? ?Kways anjos? ?Kways kotidianos? Entredentes o mundo jira !Mentira! Ele é parado Poys é, sow um kara asim, sempre, sempre muyto romantyko O Ke Não Ker Dizer Ke Sow Otaryo 24

Uma Owtra Jeografia Ew Kanto Uma Owtra Jeografia Ew Kanto A Kada Verso Ser Poema, Poeta, Poyetyko O mew korasão empresto mews pezos, mews metros Ao sew korasão detrás os ferros Ao sew korasão Prinsype ow Mendigo Feya, das diáfanas estetykas Bela, das rekondytas feyuras Empresto igwal mew korasão Ao torpe e Ao eroy Das kotidianas lutas Poys se pertenso às alturas Não me meresam meskinnas partituras Antes me umillem, albatroz de Baudelaire Ow mews kyaroskuros mimem De kwalker modo, amigo, amiga sow sempre o poeta: Adoro mimos

Deliryo pós-antropofajyko n° 4 Não á poezia sem pekar kontra a palavra já posta, a saber, in-posta. A palavra espresa o mundo tal kwal está. Não se muda o mundo sem ke se mude simultaneamente suas palavras. Por iso os relijiozos konservadores prezam tanto “a palavra”, uns; e kwanto a sua interpretasão awtorizada, owtros. Definitivamente, o poeta é um ereje. Um ereje a serviso de Dews (Poyetyka 25

Prokura-se Uma Muza Prokura-se uma Muza, apayxonada e lowka De dezejos De trejeytos De toda maneyra Ke seja boa mosa, apayxonada e boba Na insufisiensya do amor dos ebryos Ke paseye de mãos dadas, numa korda bamba Ke se abra de repente Ke me beyje a boka Ke se fasa de inosente Ke se fasa tola E tão logo asim ew xege, fasa a kama pronta Fasa-se de Gata Fasa-se de Onsa Fasa-se de Serya Fasa um faz de konta Prokura-se uma Muza, apayxonada e lowka Poeta nesesita de uma muza tonta Prokura-se uma Muza, apayxonada e bela Ke um poeta nesesita da palavra atonyta

Elewzys Kanta Poeta Konta em versos (sob pena de degredo) Kwal vem a ser A tua vera poezia !A! Se ew pudese revelar Tão terrível e intymo segredo Keymaria os insensatos versos Nunka mays ew kantaria 26

O Mays Ke O Perfeyto Mayskeperfeyto, mays mayskedinneyro, mays mayskeoseyo, mays mayskedireyto, mays mayskeskerdo, mays mayskespello, mays mayskedefeyto, mays mayskeoeyxo, mays mayskeoventre, mays mayskeodeliryo, mays mayskeoséw, mays mayskeoberso, mays mayskeotumwlo, mays o omem se faz tolo e futyl d e s p e r d i s y o

Deliryo pós-antropofajyko n° 5 Ao final das kontas, toda etyka presupõe uma estetyka, ke lle é sempre superior. A derradeyra e glorioza vokasão do ser umano é tornar-se um ser estetyko; o ke já implika numa etyka. 27

Korpo-Santo Oje Sow Um; Amannã, Owtro Faso-me pele e oso Karne Karnaval Kanibal Mews kantos kantam tews pasos dansam Não owsam, poys, o noso verso À minna lira unyka voz É tua a korda, a ke arrebenta É noso o korasão, ke se ajita e doy A liryka viajem é o sem tempo Umanae Vitae, moderna e antiga Aos ferros e konkretos das enjennarias imposiveys São tantos, os ke te disputam os pasos Arte dos eternos Arte dos vatisinyos O odyo ow o amor são mews, é vero ?Mas não são asim os tews? O odyo e o amor dos versos são tews amigo amiga (kompanneyros) Fasam bom proveyto diso

Kantilena de Grumete Badejo, Robalo !Lingwado de Alto Mar! peyxinno miudo não kero fritar 28

Sange Brazileyro

Korredeyra em minnas veyas o bom sange portuges o mesmo de Camões, Pessoa, o mesmo de Inez Korredeyra em minnas veyas o bom sange alemão o mesmo de Goethe, Hesse, o mesmo de Demian Korredeyra em minnas veyas o bom sange espannol o mesmo de Cervantes, Lorca, o mesmo de Qijote Korredeyra em minnas veyas o bom sange xarrua o mesmo da Vó Awrora, o Minuano, o bom sange da lua Korredeyra em minnas veyas o bom sange kriowlo o mesmo da Vó Glorya, Kruz e Sowza, o mesmo dos kilombos Korredeyra em minnas veyas o bom sange judew o mesmo de Otniel, Zweig, o mesmo de Rakel Korredeyra em minnas veyas o bom sange brazileyro !A! este Sange Brazileyro, !tão bom!, ke nunka serey estranjeyro

Deliryo pós-antropofajyko n° 6 Por konta de lle konfundirem um abutre, nennuma agya deyxa de voar (o poeta, num momento de duvyda 29

Labirinto

já ew me gio, amigo, pelos pásaros karros sarros tragos ew me gio, amigo, pela mão estendida aflita medida justisa ew me gio, amigo, pelos sons da xuva kurva luta duvyda ew me gio, amigo, pelo ultymo gole toke mote sorte ew me gio, amigo, pelo traysoeyro amor ar/dor kalor !ó! Ew me gio, amigo, pela palavra velada kabala sevada ew me perko, amiga, pela tristeza beleza serteza leveza ew me perko, amiga, pela karensya demensya kerensya dolensya ew me perko, amiga, pela estrela teya veya xeya ew me perko pela muller muller muller muller também me gio pelo ke te perko também me perko pelo ke te gio neses labirintos famintos atako e defendo inda owvindo bem perto (rayva, xoro e silensyo) o sio dos bixos

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Red Aunt

Tarde de domingo e os osos os pratos, os kalyses Vinno tinto aos fundillos, as karas todas, o sorrizo até a porta A voz rowka se foy os seyos, os labyos Rubros labyos inxados As palavras, os xiados, os estalos da lingwa no séw da boka da lingwa nos dentes serpente, benvinda, sefoy Tenno ainda kinze anos Mew kwarto Mew barko Flutuando e o sonno Akordado às dez Às onze ainda me divido, mas Já pasa da meya-noyte Me viro de frente kontra o séw e gozo

Deliryo pós-antropofajyko n° 7 Em arte poetyka, powko importa ke se peske em agwas klaras ow turvas. O ke importa é fazer rebolar a iska 31

Ino à Dewza seyos de vera xota apertada na alma; koxas de lia rolisas jasmins paws-d’agwa; magnifyka bunda de maira levanta-saya; doses labyos de magda !mamma (e) mia! pelos e peles de andreya rubras sedas da xina; !ave!, venws xeyroza multipartida; rekollo os pedasos da alma tão powka a vida

Priapykon.poe.br Mulleres nuas de diferentes pelos seyos de diferentes bundas mulleres nuas de diferentes pejos de diferentes beyjos mulleres nuas mulleres nuas multyplas nunka uma só ke niso á perigo Mulleres nuas brasos langydos rustykos seyos dos grandes dos pekenos desde bem feytos Mulleres nuas karnes nobres karnes kruas labyos dos grandes dos pekenos rozáseos moluskos mollados Mulleres nuas pelvys triangwlos ipotenuzas de um kateto ao kwadrado Mulleres Nuas Muytas Nunka uma só Ke oje á um Príapo Priapyko Fomijyno Jinofajyko Resém Libertado 32

A Faka de Izys ollos labyos seyos pelos gruta de venws a bunda e a gruta obskura e o falo Ollos Labyos Seyos pelos gruta de venws a bunda e a gruta obskura e o Falo ollos labyos seyos pelos Gruta de Venws A bunda e a gruta obskura e O FALO ollos labyos seyos pelos Gruta de Venws A Bunda e A Gruta Obskura E o Falo Ollos Labyos Seyos Pelos Gruta de Venws A Bunda e A Gruta Obskura e o (?) f a l o

As Bakantes as furyas me serkam os jestos as furyas me gastam os pasos a kabesa de orfew por sobre o piano pende sem eyxo Tokam a kampainna da porta A kampainna das sete portas toka - furiozamente um rekyem de Mozart 33

Lobizomem Era improrrogável, akele amarelo-ovo em plena lua Batendo a porta para o nunka Ke vagase lobizomem Bêbado pelas ruas A mão peluda Eskorrendo dinneyro pelos ralos As patas firmes de um sentawro O sekso aflito, tabwa korrida Em nayts-bares, estreytos lares Muytas lareyras, powkas fornallas Uma garganta a rosnar para o infinito um uyvo longo, um breve alguns ganidos

-

Era imponderável, akele amarelo-klaro Já era o sol, desvendando os misteryos mays okultos Apenas um menino, imberbe e powko sizo menos ainda, um berso vazio – A korrer trôpego pelas dunas a mão tão pekena

Deliryo pós-antropofajyko n° 86 O poeta peka kontra les uns, o poeta peka kontra les autres. O poeta ke peka kontra le tout – !eys le poète! 34

O Burako da Agulla Tremo e tenno difikuldades em fiksar o ollar Nakele korpo todo Ke se faz pekeño Aos kalores de um lobo Só uma frajyl porta Entre o tezowro e o ladrão - A Kobisa, O Pekado Tremo e tenno Masymos zelos Kom a proprya respirasão Traz da porta era ELA Xuva, Orvallo, Xuveyro A transliterar marias Em traysoeyras sereyas

Trespaso ow não paso, o portal para a asunsão do mal? Toda uma vida kontida No segundo fatal

Oseano de peles salgadas (e ao feytio de um pirata) Ela era A ILLA, Densa Mata

O Tempo, o templo da alma Tabwa (de salvasão) Um nawfrago suado Subyto jorra Trinka os grunnidos A eskuridão dos sentidos o mel dos bixos

As fendas se abriam Se fexavam num atymo Mãos de fada Minna proprya palma Labyos ke beyjo Vagos pensamentos Do lowko imajinaryo

Rapydo, Afobado Aos masymos rasyosinyos Retorno a um pasado, Apago

Vestijyos 35

Fronteyras

A noyte não enkontra o dia, tanjensia Ainda um luar nos jardins lambendo pétalas, afiando espinnos Uma lua tonta kwanto a sua mão sob a minna Só um breve rosar de linnas da vida O dia não enkontra a noyte, afoyta Asim nosos ollos se mollam Nosos beyjos de lingwa Nosas bokas distantes (ainda agarro o pé desa kotovia)

Kaza Devoluta Vosê se foy A kaza fikow vazia De vosezinna. Muyto mays vazia ainda A kaza fikow vazia De mim 36

Tempo Frijydo

Não kerias ver kressidas as minnas espigas as ke plantey para entregar às fogeyras de junno e jullo Kwando os frios da noyte nos fazia mays prosymos e um fogo kom sabor de eterno keymava as partes kavernozas de todos, mosas e vellos Não kerias ver bonitas as minnas flores kom ke kostumávamos sawdar as primaveras Kwando reseávamos atropelar as borboletas, amarelas e uma briza freska e sempiterna insistia, insistia em fazermos amor e brinkadeyras Não kerias ver limpydas as minnas agwas marinnas As ke reprezey na praya para o verão de brazas e suores Kwando o kalor das noytes te fazia despudorada e nua E um alyto kente perkorria as nosas espinnas em kundalinykas poezias Mas mantiveste abertos os owvidos para o triste som das follas ke morriam Nos owtonos dos dias, na friajem emudesida Nas amendoeyras despidas Sem o kanto dos bem-te-vis ke só ew inda owvia Bem distante, é verdade, porém mays prosymo ke o tew sorrizo perdido na dura eternidade Agora és toda owtono, kerida – Não reklames se me faso um vento frio em tews finays de tarde

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fimdekazo.kom às 8 oras ela metelefona palreya sisia diz ke um amigo mandow-lle duas fotografias um amigo bonito retruko, mellor, konsilio ke uma para kada asukareyro da kaza a espantar as moskas ela não me kompreende (ajilidade mental nunka foy sew forte) e insiste: alto, jovem, bonito, muyto bonito o sew fiel amigo Desligo. Às 9 ela ainda grita, o telefone para um omem surdo/mudo. Até porke á um kult muvye alemão na vídeo-televizão à uma, às duas da madruga o telefone mia ainda pela mannã deletarey um meyl sem kwalker tremer de mãos

Deliryo pós-antropofajyko n° 3 Te negaste em prezensa da krityka? Em prezensa da krityka te negaste? Tu kovarde poeta não és! (O poeta, num momento de awto-sensura 38

Retiro de Salomão

No mew bayrro eziste um bar, se xama Retiro de Salomão Logo ali na rua da praya, mesmo defronte ao mar Por lá me deyxo largar bebendo enkwanto agwentar Se às vezes ew sayo sedo, owtras faso despeza Ollando o movimento Às vezes nem kero, owtras já kwaze kerendo um’alma pra konversar Lá mesmo um dia konnesi um kara orgullozo da profisão Kontow kazos pitoreskos, dezafios lutas kontra o mal e as mazelas da korrupsão - era um omem íntegro, onesto e bom – Kwando foy-se embora me xamow de irmão Lá mesmo um dia konnesi um kara ke se ezibia um poltrão Korrompido, imoralista finoryo - um kara xeyo de armasão – Sews ollos brillavam enkwanto narrava - desprezava jente de bom korasão – Kwando foy-se embora – me xamow de irmão kostumo deyxar-me por ali fikar, os kabelos ralos brankos ollando o vay-vem do mar Retiro de Salomão – é o nome do bar

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Sinkronia O sol sopra as kopas das figeyras ansestrays. Embayxo tudo é sombra ainda sonno, silensyo Só o farfallar dos restos; mews pés intruzos Do ke sobrow do ke nunka foy sidade Subyto, um gallo seko estala !E-o-mew-korasão-dispara! !Piw-piw-piw! !Piw-piw-piw! !Piw-piw-piw! !E-o-mew-korasão-dispara! !Pi-píw, pi-píw, pi-píw! !E-o-mew-korasão-dispara! !Pí-pypíw! !Pí-pypíw! !Pí-pypíw! !E-o-mew-korasão-dispara! !Mil-ollinnos-infantís-na-mata!

Vôo Sego um pardal batew – !bum! – no parabriza do mew karro talvez porke fose branko, talvez ke voase bayxo (ow ke ew segise rapydo) ainda o flagrey no espello, pasado retrovizor o korpinno miudo, em piruetas, kikar no asfalto mollado de xuva e suor de karro Segi em frente, konfeso Sem diso fazer um kazo Até porke, konfeso mays Nunka dey muyta importansya aos pardays A iso, uns xamam progreso Owtros, disturbyo ekolojyko Kwanto a mim (!Já dise! – !Já lle dise! !Nunka dey importansya aos pardays!) 40

Mayakóvska Primeyro, tiraram o sew sakrosanto emprego: um gerreyro dezonrado devolvew os brazões akumulados Tomaram o sew kartão de kredyto: teve ke vender o karro, a preso de muyto uzado Enserraram sua konta bankarya Botaram sew nome na lista dos intokaveys Já lle tinnam tomado os sonnos da juventude: por iso não lle puzeram trás-as-grades Powko a powko, nem tão powko, foram-lle tirando os eletrykos dos vídeos, dos diskos, e as telas piktorykas Deyxaram a televizão A televizão deyxaram, poys era presizo ainda ke sofrese a abundansya dos ke fikaram Mas logo kortaram a luz, o gaz e, por fim, a agwa Até ke lle tomaram a kaza Kwanto aos amigos, eram falsos: otaryos os ke não falam o mesmo dinneyro A muller já se tinna ido, junto kom os fillos suas ultymas lagrymas Kwanto aos vizinnos, doys deles deserto nunka leram Mayakovsky Ke à sorrelfa não lle teriam difamado Nem prodigalizado entre si tantas rizadas

Kastellanas n°1 Es tan difisyl realizar Lo ke almejamos para nozotros, para los nosos, para nwestra jente Ki mismo kwando, lo pyensamos konkistado Nos sobra lejos, lejos De la bonansa 41

K

a

y

uma folla de owtono aos nosos pés krispados

Uma briza konvida a filozofias: !Komo é dura a vida de kazado!

Entre as tuas pernas enkontrey trigo Foy trigo o ke prokurey A fazer o pão de kada dia Alimentar o korpo e o espiryto Reenkontrar a alma ke eziley Entre as tuas pernas enkontrey mel Foy mel o ke prokurey A saber da kolmeya o dose enkanto Por zangão entre abellas mays kerê-las E morrer, morrer, mil vezes morrer Entre as tuas pernas enkontrey fel Foy fel o ke enkontrey A amargar as noytes tão mays frias A arder de dezejo mesmo um medo A fazer de mim - omem - arremedo Entre as suas pernas enkontrey pó O mesmo pó ke então serey Às avesas da karne, elixir de envelleser Era tanto o fogo kwanto tanto se fez neve

Adews, amor!

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Entre as tuas pernas kwaze/kwaze fuy um dews

Klarise era tão bonita

Klarise era mesmo tão lindinna !Konfeso, Mew Dews! Olley o ke não devia ollar Klarise era tão mosinna Klarise era tão keridinna !Konfeso, Mew Dews! Pensey o ke não devia pensar Klarise era tão sapekinna Klarise era tão gostozinna !Konfeso, Mew Dews! Tokey o ke não devia tokar Mas Klarise era tão mullerzinna Klarise era tão prontinna !Konfeso, Mew Dews! Fiz o ke não devia fazer !Mas Mew Dews! (e muyto ká entre nós) ?O ke é ke o sennor faria no mew lugar?

Deliryo pós-antropofajyko n° 9 Os átomos, nosos átomos, todos os átomos, são as pesas do lego poetyko de Dews 43

Καθεδρα Χαλαρα para Rodrigo Bauler

Mestre Da tua Kátedra Grizalla Fizeste-me Do verbo: powko... Frente aos muytos Tews susesos Fizeste-me Do verso: lowko! Fase aos muytos Tews diskwrsos Mas não te apreses Mew karo Mestre: Ke já à Ágora me forjo E ainda sow aso novo

Non Sense Axo grasa em vós Kavalleyros de tristes komersyos Kwando ululam, xulam e berram Por um tal governo limpydo e onesto Axo grasa em vós ?Akazo limpydos e onestos em vosos negosyos? !A! Vos defendeys... ?Então? ?De ke vos servirá um tal governo Limpydo e onesto...? Se kultivas as máskaras ?Reklamas das máskaras por ke? ?Não são as máskaras o ke se ve? !?Então!? ?De ke vos serve um tal governo?, osos limpydos Onestisymas peles 44

A Luta Korporal Kero Kosturar-te, Mew Korpo A Mim, Tua Alma Intelijente !Korpo Safado! Esperto Akuado Se Inflama Tolo Faz-se Tonto Arrepela-se Em Mannas Artifisyos, Dores, Dezejos Kontrito, Oseanyko Nas realidades dos sews jeneralisymos impropryos kotidianos !Korpo Mew, Venna! Akredite Ká Dos Mews Abstratos, Dos Mews Absolutos Ew Te Kompreendo Te Aseyto Te Amo, Não Me Odeyes Não Lutes Komigo: Sow Tew Punno Tua Mão Tua Espada Tua Serpente Tua Paz

Kwotidianus, a, um Kwotidianus a um Kwotidianus a um Nem Eko Nem Resposta Kwotidianus a um Kwotidianus a um Nem Morte Nem Eterna Kwotidianus a um Kwotidianus a um 45

Ermafrodita Da minna lowkura me sirvo Da minna lowkura me alimento Fazes kara de nojo, kwando te ofereso O mellor bokado – as tripas d’alentejo Da tua lowkura me eskivo Da tua lowkura me Safo De Lesbos, kabesa de Orfew aos pedasos Amo, o Unyko ke amo Tranzyto livre pelos espasos Á uma Muller kwalker A esas oras em algum sisko de mundo Ela não me espera Ela é asim komo ew Da mesma lowkura se serve Da mesma lowkura se alimenta !Insesto! Eys a xave do amor

Deliryo pós-antropofajyko n° 87 ?A konversa vay-se aos meyos... e akabow-se o vinno? Poys tragam-me jarras e jarras de agwa Dezenkantemos as madrugadas (o poeta, num momento ímpar de lusidez 46

Amor Apaxe

poys kwalker dia é um bom dia para se deyxar morrer para se xegar, para se ir embora kwalker dia kwalker dia é um bom dia pra jente se ollar se tokar, se matar a sawdade kwalker dia kwalker dia é um bom dia para se deyxar morrer ese ollar lijeyro, ese mollar de boka esa tristana toda kwalker dia kwalker dia deses, deses bem feyjão kom arroz a jente se enkontra kwalker noyte poys kwalker noyte é uma boa noyte para se deyxar morrer saber – do Todo – os porkês os talvez kwalker mez kwalker dia kwalker dia, kerida kwalker dia é um bom dia para se morrer owtra vez

Deliryo pós-antropofajyko n° 10 O poeta ke não abole a nosão de Tempo, não konsebe, menos ainda pode revelar, sew propryo Templo 47

Na Estasão do Metrô

Sim, kerida, ew também Keria falar ao mundo, gritar, berrar o ke se pasa neste mew korasão Arrankar ao peyto, dezenterrar, mesmo kom as mãos da alma toda esta solidão Keria falar aos pásaros, brinkar de imitar sews kantos tê-los kantando aos ombros ser um tanto kwanto o santo ke falava aos animays

-

Keria ser vitoriozo em toda kawza nobre e justa ke a minna espada presta e robusta – fizese justisa sem ferir ningém Mas a estasão está mesmo xeya e !olla! Lá vem vindo o trem

Deliryo pós-antropofajyko n° 11 Sim, tenno um temor inkomensurável de uzar do Santo Nome da Poezia em vão. Mas um temor muyto mayor de não fazer d’Ele uzo nennum 48

Bar Garoto das Flores para Tavares e Amador

Es syerto, nwestro amigo keria ser bankaryo, ser bankeyro gannar dinneyro emprestando a juros a lingwa do enforkado Es syerto, usted mismo keria a Akademia, ser letrado una espesye de Joyce, um awtor konsagrado mismo pedindo dinneyro emprestado Es syerto, jo tambyem keria De mi parte l’amour, bebidas, orjias ser um kayam, poeta embriagado ow bokaje, desbokado um kamões, mismo roto y esfarrapado Es syerto, Dyos eskribe por linnas retas el lado errado: Ele está riko Usted emposado y jo me kedo aká, bebyendo esto myerda de wisky paragwayo

Deliryo pós-antropofajyko n° 47 Trowse mãos tão pekenas, para tão vasta Poezia (o poeta, num momento de lusidez 49

Araknídea

Plis, my love, não me leves a mal Se não vow kontigo, tews pasos de valsa O mel das palavras Kom ke lavras os korasões doentes dese tal amor Apenas, ke se te adoro as femynas teyas Mays ainda kwando te postas nua Tew tufo de pelos, tuas formas kurvilíneas Eses tays pelos e xeyros Ke nem a mays feya Será senão mays bela Ke toda a formozura das poetykas estrelas Ke se te adoro as femynas teyas Mays te adoro kwando me keres nawfrago Das minnas navegasões à larga vela y lowko a regresar ao ponto dos tews nós... Mas mews nós de marinneyro... (Ô marinneyro, marinneyro ?kem te ensinow a navegar? Ow foy o tranko-do-navio Ow foy o bá-lanso-do-mar

Deliryo pós-antropofajyko n° 13 apenas o ke o poeta faz é iluminar o palko em ke os ainda não poetas fazem sew número 50

Para Sempre A ma la Tensa era ela, de dorso kalma era ela, de pé Seka era ela, deytada Mollada era ela, sentada Dose era ela, malvada Sal era ela, kalada Dentro era ela, a lagryma Fora era ela, kantata Em kaza era ela, a makyna Na makyna era ela, a bala Sorrindo era ela, a tapa Na kara era ela, a fada Na ida era ela, a mala Na volta era ela, eskala Na voz era ela, palavra Nos nós era ela, lasada Na faka era ela, a farpa Na farpa era ela, afaga Na falla era ela, a fenda Na kama era ela, ajenda Na alma era ela, a venda Na rua era ela, a lenda Na ida era ela, a-má-la Na volta era ela, a-mala Na ida era ela, a-mala Na volta era ela, a-má-la 51

Os Fios da Urbys

Prezo, komo kondenado, amarrado por fios mays finos ke naylon (uns fios de nada) De mannã akorda, levanta, mal-umorado Leyte apresado, sigarro apresado, e já no traball (kom sorte não foy asaltado) Traballo igwal, fofoka igwal, rayva igwal, medo mays igwal (!Kuydado! Ainda podem te akuzar de asedyo sekswal) Prezo, amarrado, por fios mays finos ke naylon Os fios brankos da barba, a kara magoada, a muller (brigada) Todos gritam em sua kaza (menos vose) Vose, ke ainda sonna kom akela trepada Às duas da madrugada (poys é...) Prezo, derrotado, por fios mays finos ke naylon Os fios da baba (ó vida malvada) O dia em ke vosê saiw de kaza O dia em ke vosê largow a fabryka O plano-dezemprego do governo não valia nada O de saude então, nem se fala E tudo o ke vosê keria da vida (era a-ka-bá-la) Mas sempre aparese algém, uma alma rara (ke kom vosê kombina tão-bem) Kom duas pasajens kompradas (para lá de santarém) Prezo, amarrado, por fios mays finos ke naylon Apenas trokow de lado (e dor) Só então ke vem um anjo, torto e são (?kem sabe akele do tal Drummond?) e sopra no tew owvido: se solta, ke o vento é bom

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Vida Poetyka

Afundar-se, mesmo xafurdar-se na Poezia Ser um ser estranno aos ke korrem atrás das koyzas Sem kulpá-los Ow sentir-se asim, destes tão distante Disolver-se ainda vivo Para ke a morte seja uma subyta karisya Morrer de vello Ow morrer ainda moso, izento à kara no espello ?Poys para ke realmente vivemos Se não for para os doses momentos Da kompreensão do ser poetyko

Raykays Kariokas 1 Muller nua em asude no sertão: !borboleta no porão! 53

Nature Oblije

A duas fontes somente (e ke asim me julgem) Entregey intelijensya e alma Embebedey-me às agwas klaras das verdades De eros e de orfew a lira Tudo kwanto me bastava Tudo kwanto me bestava Tudo kwanto me desbeastava Mergulley. Nadey. Brinkey Fuy nawfrago Fuy feliz Mea kulpa se permaneso tal ow pior ke nassi Mea kulpa Mea masyma kulpa Também da kolmeya a muza Ke não me owvia owvir

Raykays Kariokas 2 Amor, (!asim não deyxo não!) Nem dise ke não... 54

Pur apréender le trotoar

A kopa de uma mangeyra Vista do interior O mesmo ke uma saya rodada sem kalsa de kor O vestido de seda (sem dólares a vez) A noyte sorri da dor. E sonna A gerreyra, kom mãos penelopenas A lagoa. O xoro das rãs A faka kravada nas agwas. A mata sekreta da alma Um signo lonjinkwo de kanser. A roza dos ventos vermella ?O amor, onde está? Talvez entre as koxas (!Não, não está!) Talvez em l’arjan (!Não, não está!) Á, mon amur, l’amur n’ekziste pa...

Lar, Dose Lar Mar Marullo Marujo. Se mew lar É pronde fujo, !Sow karamujo! 55

Vero Térreo Amor Kwando ela deyta sew korpo à noyte Kansada desas sakras lidas da kaza E ew, mal xegado das ruas Kwando ela esposta sew korpo à madrugada Antes de dezejá-la, lakrimejo ternuras Enkwanto ela sonna sew korpo à noyte Ew penso em Noso Sennor Jezus Kristo E na Santa Ave Maria E no pekeno ronronando ao dose berso E em tudo, tudo o tão vivemos juntos Antes de dezejá-la, relembro rozas e brankwras Kwando ela deytada sew korpo à noyte E logo, tão logo, eskeso de tudo y...!presto! Ezekuto-a ao rijo muskwlo

Das Komezinnas Verdades Kotidianas Então, Kerida então keres fazer da vida um inferno tudo bem, !ke seja! fasamos da vida um inferno se asim o keres fasamos da vida Um Inferno tu komesas, adaga ?ow sako ew, primeyro a espada? .............................................. !a! tu komesas .......................................................................... !mamma mia! ...não sabia ke tinnas bainna tão larga... 56

Momento

Às vezes, embevesido Fiko à espreyta da momentaneydade Ave irrekieta, azas sempre abertas !Olla! Ela já se foy Vez em kwando ela fika Adosando a boka Da alma Pelos infinitos abisays Kom ela estow no mundo e Nos espasos do eterno etéreo !A! Momentaneydade Unyka posibilidade De se ser Feliz Momentaneydade é awzensya de espaso aos largos kompasos É todo o lugar É todo o tempo, medido Ao metro dos afagos, ao dado dos sorrizos Kwando mesmo a sawdade susurra Komo a pluma ke se aninna Para ser só karisya Para não doer nunka a dor Áa, Momentaneydade... Eskesi sews enderesos, ao menos Telefona pra mim

Deliryo pós-antropofajyko n° 14 ...o osyo konduz à kriasão poetyka... 57

Xaleyra no fogo A vida é muyto mayor ke a jente, kara! A vida é muyto mayor ke a jente Nosa poezia, nosos entretantos Nosos okazyonalmentes triangwlos Nosos modos de ver – perfeytos nosos espantos A vida é muyto mays ke a jente entretantos A vida é muyto mayor ke a jente A muller ke se oferese O traballo ke seduz A vida é muyto mayor ke a jente, kara A vida é muyto mellor, e mayor Na rua pasa uma bela donzela Ke a jente subyto ker Mas a vida é muyto mayor ke a jente, kara Deyxemos pasar Em kaza ela espera As kriansas kerem kresser A vida é muyto mayor ke a jente, kara Nosos ollos de mentir A vida é muyto mayor ke a jente, kara E ela faz o ke ker

Deliryo pós-antropofajyko n° 12 Powko importa o ke os klones pensam a respeyto dos poetas e dos poemas por eles kom fé realizados. Muyto ao kontraryo. Portanto, se keres ser um poeta aos ollos das Nove Muzas, sejas um tolo perante os klones; poys, tentares ser um poeta aos ollos dos klones, serás um tolo perante as Nove Muzas 58

Sirkol’s Song Just like a song Ke ew sabia de kor She disappear de mim She vanished in the air But Like a sizyfo stone Eskaley owtras montannas Umas à luz, owtras à sombra Navegey owtras sereyas Trepey noytes luas xeyas Nem me importavam se feyas !Ów! Beautiful Marias Of my happiness and souls Just like a song Ke ew sabia de kor She disappear de mim, but There are a lot of skin-songs to sing (!Ów,Maria! !Ów, Beatriz! - even ékates e afins pleasure, please)

Raykays Kariokas 3 A lua vay até a metade do séw e volta A muller vay até a metade do omem e volta 59

Petrifikasão

Foste ?Ke importam nosas duvydas? Vosê foy a alma-jêmea, alma-jema, alfazema E kwanto ao korpo-jêmeo, duas metades kumpridas Na misão de ser unísona Vosê foy akela bem vinda alma lijeyra De ke falam (e não kumprem) os ezoterykos Os filózofos, os poetas, os jograys ?Ke importam mays? nosas duvydas... Em tudo o ke ew esperava de ti Fôsemos eroys, fôsemos martyres até Tal kwal nos ameasavam os BixosPapões da infansya, Papões da adolessensya, da juventude ...e até as furyas nos ameasaram até... !Basta! ?ke importam as antigas divydas? Foste Minna, Fuy Tew – e kwanto aos dias: Arketypos do ke seríamos... Noytes sem lua nunka mays

Deliryo pós-antropofajyko n° 15 ...o vinno konvida à kriasão poetyka... 60

Poezia Kom Kreta

e vos ak kero inteyro uma b esvaziar niverso zão ke ar-te bom

S

O

ê pen e te sugar komo oka a todoou tens ra rido Sug jáéum komes

SESI N’EST PAS INE PUSY 61

Vem ke não te alkanso

Pasam-se anos komo se fosem oras Ligey pra Maira Maira não eziste mays Pasam-se anos komo se fosem dias Ligey pra Leyla Leyla foy ser sey-lá-o-ke em Paris Pasam-se anos komo se fosem mezes Ligey pra Magda Magda traballa em Itaporannã Pasam-se anos komo se fosem anos mesmo Ke se tivesem pasado Ligey pra mim mesmo Telefone Okupado E a istorya podia bem akabar asim Não fosem os ruidos, as estatykas Das ligasões à distansya Os fones desligados E os ponteyros dos relojyos – tantas pernas abertas, mews tontos brasos Markasem segundos Komo se fosem sekwlos

Deliryos pós-antropofajykos n° 84 Nas retisensyas substantivas está o poema. As retisensyas adjetivas, esas – são iluzões, estelyonatos, finjimentos – armadillas 62

possiensya literarya

No konto, no kawzo, na narrativa Destrinxem lingwistykas lingwisas Vós, ke me lév y strauss Semyolojias, semas, senemas Semanas Deserto não diskuto intelijensyas Nem sow tão tolo Ke me fasa um dowto sennor das tristes retas Sow poeta Minna poezia Não é frango-asado ke se pede ao bar da eskina já venna kortado. E tem mays Owtra koyza: só ando reto em lozangwlos y sirkwlos Não me dezafinem os instintos Bebam komigo Os Infinitos

Deliryo pós-antropofajyko n° 16 poys a obra de arte é espresão nuklear do ser umano ligado às fontes enerjetykas primevas da kriasão, kujas nassentes jorram tanto da terra kwanto dos séws, prezentes em todo o kosmos, e verifikável sobretudo pela fé 63

Intelijensya Poetyka !Es syerto! Nem sow asim tão intelijente... Não faso poezia ke valla-rir Nem mew sérebro ke mal-armey !Es syerto! Tyenes toda razón Nem sow asim tão espyerto Ke fasa de la poezia um xeke a deskobyerto De elyoterykos sifrões Faso a pregisoza poezia Komo as antigas tardes kom marias... Sem saber dos labyos, orgasmos, senão... Ke á beyjos de lingwa, e á beyjos de mão... Apenas niso rezide toda a intelijensya da minna poezia Também toda a sua jentileza: Ke o digam as marias E os ke nos sonnam os sons

Kantilena de Exú Me despaxaram pra lá Pra lá ew não kero ir Talvez nem keyra voltar Nem keyra fikar por aki Me despaxaram pra lá Pra lá ew não kero ir Talvez nem keyra voltar Nem keyra fikar por aki Me despaxaram pra lá Pra lá ew não kero ir Talvez nem keyra voltar Nem keyra fikar por aki 64

O Portal

Gruta entreaberta avansos Koxas entreabertas Solusos Boka entreaberta Suspiros Alma entreaberta Diskursos

Tudo nela faz de um simples koyto Uma Terrível Inisiasão

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Maira

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Silensiozo Kanto Faso do silensyo a minna faka, pontyaguda arma Korto para um lado e furo – o owtro Faso do silensyo o mew eskuro, akostumo kom a morte – vow-me adaptando ao tumwlo faso do silensyo o mew remedyo, kuro – traysoeyras molestyas O tedyo, a inveja, estão entre as primeyras Faso do silensyo o mew korasão: as palavras, os sons navegam – por veyas dezertas – silensiozamente pulsando Faso do silensyo o tew silensyo: até ke owsamos a terra, os pásaros, o mar – kem sabe anjos, konversando Faso do silensyo os mews owtonos, preparando-me – aos invernos Mas se é primavera em tu’alma, e já me faso um verão – !silensyo para ke te kero?

Kontradansa Abriw-lle o botão primeyro, e destro tokaram-lle os mamilos dedos gôxes A protestar virow-se Mays a lingwa tokow-lle o séw da boka, lowka Deixow-se, e lá pelos embayxos Tal não fose ela, tal não fose a owtra Mãos de aso alargavam a konxa e a ostra umyda konsentia Antes ke implorase antes ke ezijise Antes ke gozase antes ke disese nunka Ma(á)ys 67

Ipanemia

Minna vida, mews livros, mews diskos, mews sumisos Deveria pensar na koletividade, deserto Mas este mundo é mesmo xeio de maldade E ew ainda enjôo, vomito nos golden parks Para owvir The Beatles muyta vez desperto A kantarolá-los, palydo de espanto... Uma janela aberta, e estow serto Ke o mundo só awmenta de tamanno Estranno mundo, muyto estranno Bem ke às vezes kero ser só, e me perko em multidão Tenno medo de asombrasão, e sawdades do tempo de eskola. São sews os ollos ke resplandessem enormes Enkwanto ew bebo xampanne, na eskuridão !Muller, ó muller! !Minna vida é vosê! Versos são versos, !tenna dó! Ke ew trowse vinno e uns versos vinisyus Trowse pãozinno Trowse keijinno e patê (le bourgoazys...)

Deliryo pós-antropofajyko n° 17 ...a serveja esparrama a kriasão poetyka... 68

Enterrem Mew Korasão Nas Kurvas do Rio

Kwando Kantey Mews Versos Owvistes Impavydo À Dor, Ao Amor, Às Kotidianas Gerras Ke asististes insolidaryo Poys, poeta, !Ke Kante! Kwando Fexey Mews Versos Aos mowkos owvidos do merkado Sem dor, sem amor, na paz dos semiteryos Ainda kwando nada espero !?Kutukas-me a tumba!? !?Dezenterra-me os osos!? !?Ke kereys?! Se doy agora em vós São Owtras as karnes São Tews eses versos

?mas vosê não me apresia os verbos? !!!!!!!!!!!!!Rá, Rá, Rá, Rá Rá!!!!!!!!!!!!! Iso aí são rizos, gargalladas Já foram, um dia, lagrymas (!Só-não-kero-ke-me-falte a-da-na-da-da-kaxasa!) 69

Owtono Frio de Mayo Das árvores os brasos desnudos debrusam-se sobre a kaza. Os gatos dormem Os kães dormem Da janela dos fundos uma sweter sem mangas, no varal Uma kadeyra de balanso: para frente e para trás O telefone dorme Anoytese lá fora, no séw Ela se movimenta a pasos e jestos. Vellos pasos. Vellos jestos É ora de soprarmos as sikatrizes. Owtono, ó owtono frio de mayo

Minna muller fotografa flores no jardim Um gato se kosa, um kão se lambe; Á pásaros, de pio e de kanto; Ainda não sey porke me enkanto Kom a borboleta preza em mews jasmins As kriansas vão indo bem, obrigado; Anda trankwila minna konta bankarya; Não tenno bebido, sozinno, nas madrugadas; O korasão vay bem; e asim também minna arkada dentarya; Têm kosado powko as mágoas (sikatrizes) do pasado A owtra (?será sempre a ultyma?) deyxey ontem, xoramingwada (mays owtro burako aberto na alma); Minna muller vem-se xegando para junto de mim e me beyja Um amor tanto Ke ainda não sey porke me enkanto Kom a borboleta preza em mews jasmins 70

No Satisfekxion

Tenno toda uma parafernalya eletro-eletronyka-dijital buks/vídeos/and sawnds aos meyos de fikar em kaza aos medos de sair às ruas sim, tenno muller e fillos parentada aos domingos e um karro sem motorista sow do traballo pra kaza sow da kaza para o traballo faso do lar o útero materno, a me alimentar; o mew rekanto seguro, mew luxo jardim/orta/e pomar invejam-me amigos unísonos aos isos ...é ke é viver; e no entanto – !ingrato ke sow! – às vezes me penso komo kem tem nada a perder

Deliryo pós-antropofajyko n° 19 ...mas nada, nada mesmo, serve mays à kriasão poetyka ke os misteryos de eros 71

!O vento varrew os patrisyos! !O vento varrew os prinsipyos! ?Terão varrido minnas rimas? O vento varrew os livros O vento varrew os diskos O vento varrew os filmes Varrew as transas da rapunzel Mas o vento sosega um dia Os ventos As ventas As veyas ?Karetas Kalendas Kaloψtas? !Bá! ?Ke poeta ainda serey, maria karolíjena? Se vosê não parar de limpar já já esas kortinas

(Ora, direys, amar formigas)

Maldonor de kada kwal vay tirando o sew pedaso: ali, um kaxorro – mesmo lowko ow um rosto, !mira ke kwerpo! Ollos de agya afiados, profundos mergulla e traz, entre os dentes, mays uma pomba de vôo bayxo tal ke não sobre mays kwalker penaxo por lembransa daninna ke lle lembre o tanto ke um dia amow eses pedasos de kada kwal kobra o sew kinnão; e o ke sobra atira lonje aos urubus ke pastam 72

?Onde Estão Os Nosos Sonnos? ...akaba-se o tempo dos gorilas, pakidermykos; sobrevivem as suas lombrigas,

tempo de bakteryas, envenenadas, virulentas, sibilinas; foy-se a mão pezada, asasina; a morte agora vem em lammynas frias, finas; e agusadas as karnes se ajitam, tremwlas, se debatem prezas às linnas dos orizontes ke se findam... !adews, eroys! soys agora tolos e despreziveys, os sews kalkannares à akiles, em fase às palavras infames e malditas, nas setas ke vos dirijem os kovardes do diaa-dia... dezabam, eses tiranosawros, se estingem, o ar rarefeyto, a lenda flasyda e tardia, nos legaram o odyo das suas lombrigas... ...ke agora é o tempo das feridas metafizykas... ...y os inimigos, eses moram nas kavernas obskuras da mente, desde os osos, os vazos sangwineos, o motor kardíako, os pés vulvíjenos, peninswlos... ...e os dewzes, os ke ora despertam, ke nunka morrem, ke ainda não se indignam, empoleyrados nos diskursos politykos, na vã esperansa de verem sew bem rekonnesido, mentem a porta aberta, eskankaram as murallas dos kastelos gotykos, e não adianta nada... ke é tempo de lammynas frias, finas, a kosarem as feridas, de dentro para fora, e as pesoas se tokam tal kwal kem já vay embora, ke os sekwlos findaram, foram-se os dias e as oras, e em powkos instantes a niil umanidade troka – !A Vida! ...pela morte-viva... ...vamos, adentremos ese resinto ke ainda xamam Terra; adentremos a eskuridão kom nosos ollos de pedra, e rasgemos todas as fotografias da antiga era em ke nos ezibíamos felizes ao menos em familya ke mays não presizamos finjir ke já sabemos de tudo o ke nos pertine poys somos e keremos o mesmo, konssientemente tristes servos satisfeytos deses novos prinsypes: !AVE ΠΩΣ − ΑΠΩΚΑΛΥΨΙΣ! (“ - tudo bode, broder, mas... !rola ai! ” )

Deliryo pós-antropofajyko n° 20 Não nos pesam definisões de poezia. A Poezia é konseyto 73

Senas Modernas e aselerow na pista, ke se keria primeyro e ultymo sentawro vivo ezato espesyme de um ser arketypo ke se fez moderno, ke se fundiw à makyna para avivar o kulto ao eroy absoluto de uma antiga rasa ke não ker morrer jamays aselerow na kurva, tal ke fose reta e ja era um ermes, as azas nas patas e não era umano, e não era um bixo era talvez um dews, já ke era eterno misturando o ferro kom veyas de luz esplodiw na terra renassew nos séws batew de frente tal ke dese as kostas aos podyos e à glorya do rizo perfeyto da muller mays bela, ja ke era gerreyro arredando a tasa, desdennando o owro arredando a prata, ja vensido o tempo já domado o espaso, dormiw rekolleram a karne tal ke fose tudo e tiraram fotos, e buskaram kawzas e kontaram kawzos, e fizeram filmes e kizeram owtro mesmo braso firme mesmos ollos puros sobraram as lagrymas, tays ke fosem versos sobraram números, tays ke fosem flores sobraram as makynas de fazer dinneyro

Deliryo pós-antropofajyko n° 18 ...o traballo kompleta a kriasão poetyka... 74

PAYXÃO LOBA

Ela às vezes É uma boka Um sigarro fumado estravagantemente Um vozeyrão Um ker-ser-omem Um vestido vermello Um grande busto Ela às vezes É gerreyra Amazona radikal e livre Uma antiga lesbianista Um xampanne espokando Uma tasa no ar Ela às vezes É uma kriansa No meyo-fio a xorar Um Dews-ká! Poys-estow-a-rezar Uma gata namorando um sabiá Ela às vezes É uma fogeyra Um repara-ke-akabey-de-xegar Um korpo E mira ke kwerpo! Uma gramatyka fora do lugar Ela é sempre um par de garras Avermelladas Ke não konsigo aparar

Deliryo pós-antropofajyko n° 22 O poeta é kapaz de viver uma vida inteyra sem eskrever O Poema. Mas lle será imposível deyxar de amá-Lo ...portanto buska, poeta-leytor, A Poezia, em todas os poemas. Ke A Poezia é Dews. 75

Viajem Ao Séw sow todo solto apago o bazeado e korro sow todo solto me eskondo atraz de um barrako sow todo solto algem gritow por sokorro ?kadê os ôme? me enfio nese burako sow todo solto mãe não pode sabê sow todo solto os menino soltando pipa sow todo solto o mew pay kumprindo sina sow todo solto; o ôme tem kara grande me tremo todo, me trinko tem mays três kwarenta e sinko; um owtro xega segido (bem mays grande) xinga, kospe, reklama sow todo solto edukado, me puxa pra sima sow todo solto xego antes lá na eskina sow todo solto; nós tudo fazemo fila sow todo solto um fedô de merda e urina sow todo solto ?pergunta mal respondida? !Bam! !Bam! Alma partida A Arma enkostada na nuka sow todo solto

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Nem medo, nem owzadia

Ele o tinna sob a mira Afinal, era akele owtro ke Já ia uns trez ow kwatro Mortes, sekwestros, asaltos Ele o tinna sob a mira Do mesmo kospe-fogo Kom ke o owtro ajira Ollos nos ollos owtros Nem medo nem owzadia Apenas doys ollos turvos Tão eskuros kwanto os sews Puxow o kão de xumbo e pólvora Ollos nos ollos todos Nem medo nem owzadia Em kaza a muller lle serve O jantar “?Então?” – ela esfrega e mia – “?Komo foy sew dia?” “Igwal (mastigow, deserto sabia ke ia xegar kom fome) do ke foy ontem anteontem, vay ser amannã... (?mas ke diabos tem nese nako de karne?)” Ollos nos ollos, ela Nem medo, nem owzadia

Deliryo pós-antropofajyko n° 23 Á sempre deses momentos de vida em ke só se deve konfiar na poezia, nos poemas e nos poetas 77

Fogos-fatwos

Saiw A foto do xefe no jornal do brazil. No eskritoryo não se fala nowtra koyza. Awmento de salaryo; para o the boss (?kem sabe sobra algum pra nós...?) Em kaza, Rozemaria até gostow da foto. Mas notow na gravata um serto laso de pobre. Na janta um dos fillos komenta. Ke vay indo muyto bem nA Firma

Abre uma garrafa. Rozemaria dorme. O kanaryo belga dorme. No sofá o jornal aberto a foto. Doys ollos medrozos: gannam fogos-fatwos No sofá ainda umas agullas kompridas: trikôs de Rozemaria. Doys ollos na foto: doys ollos fogos-fatwos (– !á! !se ew fose um xamã!...)

Abre owtra garrafa. Na pasajem fura os ollos da foto. nunka se sabe

Deliryo pós-antropofajyko n° 24 Libertar as umanidades dos sews grillões artifisiays ideolojykos é uma das konsekwensyas do fazer poetyko, komo de toda Arte. Entretanto, kabe ao poema revelar-para-libertar, abrindo portas aos infinitos, e, não, libertar-para-revelar Poys toda libertasão é antes revelasão poetyka 78

Omo Omini Lupus

O sange nas paredes da xowpana do menino; Os korpos estendidos os pays do menino; O revólver sem brinkedo brinkadeyra do menino; O xão roxovermello mesmo ollo do menino; Um anjo torto de dews esperansa do menino bem aventurados os ke tem fome e sede de justisa bem aventurados os ke têm fome e sede de justisa ke serão sasiados O sange nas paredes da xowpana do menino; Os ollos do bandido os ollos do menino; O sange nas pegadas Do Menino-Bixo

Deliryo pós-antropofajyko n° 25 Por mays ke os demonyos lles aplawdam os poemas, os poetas sempre terão anjos ao sew lado 79

Rio 50º

korre um frio jelydo pelas ruas do bayrro nese inisyo de primavera onde ainda ontem elas ardiam em brazas, e as xamas das metralladoras, dos fuzis AR-15 kuspiam o sange sorvido de antigos inosentes abrindo largos espasos nakelas almas oje, oje korre um frio jelydo pelas veyas da sidade o féretro, ele sege o mesmo trasado pelas ruas, e alguns mays indignados levam uma fayxa, owtro mostra um kartaz ke konklama ao fim da violensya ke implora a pasifyka paz sim, á um frio fetydo nas kazas do bayrro e o pekeno eskife, o menorzinno parese ke sege no vazio mas não; á almas à espreyta, almas sinzentas karregadas de trevas

Deliryo pós-antropofajyko n° 26 Saber ver no ke é minymo, o masymo, eys o ollar do poeta. Ollos de Agya, para aprosimar o minuskwlo, o lonje, às dimensões da prosimidade; para distansiar o mayuskwlo, o perto, às dimensões das alturas. 80

Jângal Bell

Kosa um sol de kwarenta graws na avenida sentral a muller, nem feya nem bonita, ekilibra a bolsa entre os pakotes, mastiga um rotdog kom batatas fritas o menino, de pasajem feyto moska em padaria, surrupia a pata afiada sua parte nowtra paga a muller solusa e grita, amaldisoa a multidão entorpesida; mas afinal, perdoa sege envergonnada a sua sina um bêbado na eskina asedia kom barrigillas gratuytas kwaze não se akredita ke ela asim tão pasiva, e jinga em malvadas jeometrias é sempre asim aos dezembros na lingwajem das ruas, é tempo de farras natalinas

Deliryo pós-antropofajyko n° 27 Na poetyka, kwanto mays se buska um sagrado korasão mays ekoam os rizos de Salomé 81

A Klase Medya Vay Para O Paraizo ...D. Amelya abre a porta para a nova empregada. Indikada por uma prima do zelador. Ainda bem. D. Amelya não agwentava mays ter ke dar konta da kaza sozinna. Detestava serviso domestyko. Komo toda muller de klase medya, emansipada, independente, serve ao Merkado. Dupla jornada de traballo. Botow a muller para dentro de kaza sem mays perguntas. Nem ollow direyto para a kara dela. Ollase kom atensão, teria pensado um powko. Pensase, teria rekuzado ...A nova empregada era gorda. Do tipo sento e vinte kilos. A saya, kwatro panos diferentes remendados à pesyma mão. A bluza aprezentava um rasgo, de alto a bayxo das kostas. E não era dekote, fiapos soltando-se das bordas. Kalsava xinelas. Faltando uma das tiras, sertamente a razão da muller ter um repetido kakoete no pé. Falava uma fraze, ajeytava a xinela no pé. Andava doys pasos, ajeytava a xinela no pé. Se enkostava num batente de porta, e lá fikava ajeytando a xinela no pé. A unyka koyza ke D. Amelya notow no primeyro dia de serviso da nova empregada. O marido e os fillos, ke a nova empregada kozinnava bem, magnifykamente bem ...D.Amelya sempre komew powko. Magrinna, por konviksão. O orsamento domestyko sendo espremido pelos programas ekonomykos do governo, ke teoria não enxe barriga, D.Amelya kostumava dizer, enkwanto asistia os telejornays diaryos ke todos asistem. O marido, rindo. Rindo porke kom a pansa xeya, grasas a mim, D. Amelya pensava. E as kriansas, zombando. Kriansas? Mews fillos são doys marmanjões de dezoyto e dezeseys anos, metidos a surfistas, komendo mays ke pobre em festa de kazamento. Surf! Mays valia estudasem de verdade, a ver se servem para alguma koyza no Merkado, se um dia pagam a proprya komida e a kriadajem ke lles dêem a mordomia ke ew dow. Não dizia esas koyzas pra ningém. Ke lá em kaza não tem briga por kawza de dinneyro, grasas a dews, ke lá em kaza tem de tudo na jeladeyra ...Da refeysão preparada pela nova empregada D.Amelya reparow apenas ke deve ter levado muyto óleo de soja, muyta sebola e allo, muyto tomate, muyto tempero, enfim ...De mannã, meza posta para o kafé, o marido lendo o jornal ke todos no eskritoryo lêem, D. Amelya, preparando uma torradinna de abyto. Estika o braso e alkansa o pote de rekeyjão. O pezo do pote mays leve ke o esperado. Irrita-se. Os meninos não estavam em kaza, o marido não gosta de rekeyjão, jamays gostow, sempre implikow kom o rekeyjão dela. Então kem, afinal, tinna komido kwaze ke o pote inteyro de rekeyjão, aberto ontem mesmo? 82

...A nova empregada xega à meza para renovar o bule de leyte. Não presizava, o bule ainda xeyo, mas a nova empregada traz owtro bule fumegante. D. Amelya larga um resmungo, agwarda o tempo sufisiente para a nova empregada se akomodar na kozinna e sege sews pasos. A nova empregada virando o leyte goela abayxo, ke eskorrega pelo biko do bule até uma boka voraz, kwaze mordendo a lowsa. Kê iso, mew dews? D. Amelya, a kara asustada. Iso o kê, patroa? A nova empregada, entre um gole e owtro. Depoys, kolokando o bule vazio na pia, olla para D.Amelya kom naturalidade. Às suas ordens, patroa ...O marido owve da sala os gritos e parte rapydo. D.Amelya, irta, o dedo em riste para a nova empregada, gagejando sons inintelijiveys. Esta, balansando ezajeradamente os ombros, komo a dizer ke não estava entendendo nada ...Sentada ao sofá da sala, já mays kalma, D.Amelya konta ao marido o ke asistira, e mays o problema do pote de rekeyjão, e o monte de óleo e tempero gasto no ultymo jantar. O marido rindo. Kwanto mays ela falava, eskandalizada, mays o marido ria. Até ke D.Amelya rezolvew não pensar mays no asunto e tokar pra frente o dia ...Não almosavam em kaza, D.Amelya e o marido. À noytinna, após um tranzyto lowko de buzinas, freadas, insultos ke o marido finjia não owvir, konstranjido, voltavam juntos às tersas e kintas, após as awlas de inglês de D.Amelya, enkontram a nova empregada refestelada no sofá da sala, telefone ao owvido. D.Amelya owve as gargalladas da nova empregada, altas, deboxadas. Amarra a kara e virase para komentar o insidente kom o marido, mas este já fexa a porta do kwarto para trokar o terno pelas bermudas de sempre. Ela não deziste e vay atrás dele. Lembrando o desperdisyo ke é trokar de bermudas todo dia, dando traballo para lavar e pasar, pergunta se não reparow na dezaforada ao telefone. Ke ela só podia estar uzando akele novo serviso, o diske-piadas, inventado pela Kompannia Telefonyka para tirar dinneyro da jente. O marido, displisente, responde ke não, ke ele xegara a owvir kwalker koyza asim komo “me pega aki na sesta-feyra ...A vagabunda. Kome e dorme às minnas kustas e ainda marka sews enkontros libidinozos pelo mew telefone. Os pensamentos de D.Amelya vageyam, a nova empregada komesando a servir o jantar. Kome em silensyo. O marido elojia a komida. Os fillos também. D.Amelya komenta baixinno ke o feyjão saiw kom um powkinno de sal demays, para o sew gosto. Vem a sobremeza. Goyabada, keijo e mamão. O marido e os fillos se servem, gulozamente. D.Amelya espera o sorvete, a lata de um kilo ke trowsera á powko, kreme kom xokolate, sua preferensya, surpreza para os meninos. Nada de sorvete. Xama a nova empregada, ke traga o sorvete, as tasas propryas também. A nova empregada não se mexe, ollos esbugallados. D.Amelya repete as ordens. A nova empregada parese 83

sorrir de lado agora e pergunta “ke sorvete?, ke não sabia de sorvete nennum, não. D.Amelya levanta-se, impasiente ...Na kozinna, D.Amelya enkontra a lata de sorvete na pia, xeya d’agwa, dentro uma koller. “Mas vosê komew o sorvete todo? O sorvete ke ew trowse oje?, agorinna mesmo? Komo é posível?” A nova empregada parese não se abalar. “Não, patroa, esa lata de sorvete ai na pia estava no finalzinno. Era só um resto de lata vella, kom jeyto de estar no konjelador á sekwlos. Ew keria só sentir o gostinno, fazia um tempão ke não komia sorvete”. ...O marido e os fillos não deram maior atensão aos insesantes dezabafos de D.Amelya. “Ora, Amelya, não vamos brigar por uma lata de sorvete, ora. E ria. “É iso ai, mãe. Riam os fillos. “Está bem, está bem. No pensamento, a desizão irrevogável de mandar a nova empregada embora logo na mannã seginte ...Depoys do telejornal rekollem-se. Dia de sekso. D.Amelya gosta do marido e, espesialmente do jeyto dele fazer sekso. Diferente dos antigos namorados, ke só pensavam em komer, komer. Já komi fulana e sikrana, diziam. Kom o marido, não, kom o marido ningém komia ningém, faziam amor ...Akele dia não foy tão bom, o marido terminando sem ke D.Amelya xegase ao orgasmo. Nesas vezes, a impresão de ter sido uzada. Não gostava nem um powko diso, fikava amuada. Madrugada, D.Amelya levanta para um kopo d’agwa, o marido ronkando alto. No korredor, persebe já a luz da kozinna aseza. O korasão dispara, a mente asannada, D.Amelya adentra a kozinna ...Danteska sena. D.Amelya se enkosta à parede, kom falta de ar. Vê potes e mays potes destampados, varyos pratos uzados á powko, osos de frango pelo xão, as panelas fartas do jantar na pia, inteyramente vazias. Garrafas de kokakola e serveja num kanto, paresendo kozinna em dia de festa. Sobre uma meza ke servia de aparador viw latas abertas, igwalmente vazias. Latas de goyabada, salsixas, azeytonas. Latas de feyjoadas, de ervillas, de millo verde, e tantas owtras. Um pedaso de karne-seka, owtro de lingwisa, kom vestijyos de dentadas. Um kaxo de bananas, uma unyka sobrevivente. Kaskas de laranjas. Ao fogo, uma panela fervia bakallaw, o xeyro do kozimento invadindo as narinas de D.Amelya, a presão kaindo. Numa banketa, ajeytando a xinela no pé, a nova empregada komia sorvete direto da lata, kom a mão, o rotwlo em letras grandes e koloridas anunsiando o kreme kom xokolate. Komendo e rindo, rindo. Rindo sozinna. D.Amelya desmaya, a nova empregada serya de repente, um rosto kruel, endemoniado, a maldade estravazando-lle os ollos Mannã alta, kalorenta, D.Amelya akorda ao som da rizada do fillo mays novo dizendo kwalker koyza sobre algém ke se esborraxow nas ondas da praya. A porta do kwarto fexada, o pijama do marido jogado ao xão. Na porta do banneyro, 84

uma talla mollada embrullava-se a um pé de xinelo. Doys ternos e algumas kamizas limpas e pasadas espallavam-se na beyra da kama de kazal, o marido á muyto no labor kotidiano. Levanta-se, ainda uma leve tontura, abre a porta do kwarto, a kara sorridente do fillo mays vello. “Ôy, mãe, estamos indo pra praya. Vê se não se esforsa muyto. O pay já ligow duas vezes, está preokupado kom vosê, por kawza da noyte de ontem. Até mays”. “Até mays, fillo”; voz em suspiro. Tarde demays, o medo, os fillos saindo de kaza, ela a sós kom a nova empregada. Rememora a sena terrível. Korajem, Amelya, korajem. Para a sala, sons de konversa. Voz de omem, estranna. Dews do séw, tem um omem estranno em kaza. Mas segiw andando, devagar, komo boy para o matadowro, ineksoravelmente. Já não era dona das suas pernas ...A nova empregada komia iogurte, sentada ao sofá, modos de dona da kaza. A sew pé, espallado ao xão, também komendo iogurte, o zelador do predyo. Eskankarada a porta de entrada do apartamento, komo a konvidar kwalker um. Paresew-lle dizerem, bom, muyto bom ese tal de iogurte. Kwando D.Amelya entrow de vez na sala, a nova empregada estikow o braso, o kopo de iogurte inteyramente vazio. “Servida, D.Amelya? ...Transfigurada, volta korrendo para o kwarto. Tranka-se à xave. Toma do aparello na mezinna de kabeseyra e xama o marido. Okupado, a ligasão não kompleta. Tenta de novo, a telefonista atende. Pede o ramal do marido. “Ramal okupado, favor ligar novamente. Desliga o aparello. Prokura suas pilwlas. À algum tempo pasara por uma faze difisyl e presizara tomar akelas pilwlas. Nada de muyto forte, agwa kom asúkar, dizia às amigas. Enkontrow o envelope. Konferiw a data de validade. Fora do prazo de validade. Engoliw asim mesmo. Metew-se embayxo das kobertas. Tremia. Tentow dormir, as pálpebras arriadas ...Akorda, o telefone tokando. O marido, grasas aos séws. Pediw, implorow mesmo, ke viese logo para kaza. Presizavam despedir a nova empregada. “Akalmese, Amelya, estow indo. Não gostow nem um powko da sensasão ke teve ao owvir o klik do owtro lado da linna ...Barullos estrannos, de moveys sendo arrastados, na sala. A voz do fillo mays novo. Um jemido. O mesmo som de kwando o fillo kaira da kama uma vez, já grandinno. Levanta-se komo sonambwla. Say para o korredor, dirije-se pé ante pé para a sala ...Orror, orror! Sews meninos, nus sobre o largo tapete da sala, jaziam de ollos abertos. À sua volta, o zelador, o porteyro, a faxineyra do apartamento vizinno, e um ser indivizo, maserrymo e maltrapillo, ke ela nunka tinna visto. Vem a nova empregada e junta-se ao grupo, distribuindo entre os komparsas fakas de korte 85

asowgeyro. D.Amelya paralizada. Não konsegia dar um paso, emitir um som. Se esforsava, keria gritar para não fazerem akilo kom os sews fillinnos. Tentow varyas vezes e nada, perdera a voz. Dews mew, será um pezadelo? Mas não, estavam realmente kortando as karnes das kriansas ...A nova empregada vira o mays vello de bunda e korta um nako de karne. Prova-a kom uma mordida e oferese aos demays. Mastiga. Kospe o resto sem sumo no xão. Ri. Pelas mãos do mendigo um maxado vay separando os brasos de um e de owtro dos rapazes, suas pernas, as kabesas. Pelo xão espallam-se garrafas de wisky da kolesão do marido. Vazias, todas elas ...Param de komer. Ollam todos para o lugar onde ela está, sem sange nas fases. Kaem na gargallada. Panyko. D.Amelya dispara de volta para o kwarto. Segem atrás dela. Ker trankar a porta. Não konsege. A nova empregada mete pela fresta um pé ke fika balansando frenetykamente uma xinela faltando uma tira, komo a ajeytá-la. Empurram a porta de vez. Jogam-na para a kama de kazal, por sobre os ternos do marido, nesa ora um refrão idiota na kabesa de D.Amelya. Os ternos dele, ew vow rasgar os ternos dele, rá-rá, ew vow rasgar os ternos dele

...Despem-na. Um dos omens pasa-lle os dedos sebozos de karne pelas partes intymas. Viram-na, reviram-na, rindo sempre. A nova empregada pega-lle a perna, morde-lle kom forsa a kanela. D.Amelya grita, berra. Indiferente, a nova empregada vay eskollendo o mellor ponto e, de repente, uma dentada mays violenta tira fora o muskwlo da perna, a grande veya azulada eskorrendo-lle dos kantos da boka, feyto makarrão. Ollando bem fundo nos ollos de D.Amelya vay engolindo o tesido muskulozo e sugando, sugando a veya komprida, D.Amelya sentindo esvair-se do korpo, primeyro o sange e, por fim, todas as suas veyas, tragadas pela boka esfomeada da nova empregada. Entrega-se, os owtros provando-lle também as karnes. Ao lonje, parese tokar o telefone. Batidas ansiozas na porta do apartamento. Alvoroso, vozes dezenkontradas, sons ke não artikulam um sentido. Owve o marido gritar sew nome, bem perto. Ker responder. Só konsege sorrir esgarsado, enkwanto vay tremendo e dessendo lentamente as pálpebras

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Ponte Aérea

Vôo Vôo Vôo Neojonas no ventre De um plastyko pásaro de aso Viasão Aérea São Pawlo Vôo Vôo Vôo Faso-me presa Em preza dos vis metaltos Altos Altos Altos Ansestro-me laso a dowrado semidews Á..., mew Rio de Janeyro ?O ke fasyl ew?

Deliryo pós-antropofajyko n° 28 O Poema se faz batendo as pedras das mãos, eskerda e direyta, uma à owtra. O som e a faiska são O Poema. O fogo akolledor é A Poezia 87

Porke tinna um nó no peyto difisyl de dezatar subiw korrendo as eskadas direto ao ultymo andar Porke tinna no ôllo a muller difisyl de namorar xegow ao kume do predyo sem xanse de se salvar Porke tinna na voz a mágoa imposivel de se gwardar gritow para o mundo a fera ke não se deyxa enjawlar Porke tinna na alma a idade ke nunka ningém terá abriw largo largas azas kom as kways não podia andar Porke era só um omem para tanto kerer de amar atirow-se kwal um anjo ke viese nos salvar Porke era a vida um leyto ke powko podia gozar subiw korrendo as eskadas ?por ke não trokow de par? ?por ke não trokow de lar? ?por ke não trokow de lado? ?por ke não trokow de fado? ?por ke não trokow de kazako? ?por ke não trokow de kalsa? ?por ke não trokow de sábado? ?por ke não trokow de gravata? ?por ke não trokow de sekso? ?por ke não trokow de kara? ?por ke não trokow de marka? ?por ke não trokow de muzyka? ?por ke não trokow de verbo? ?Por ke não trokow de verso?

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Pó de Pir-Lim-Pim-Pim Faz de konta ke somos felizes Faz de konta e...!Xazam! Akontesew Os olimpos oje vestiram azul-klarinno O sol oje nassew sorriw E um branko bigwá brinka no Largo do Anil... Noso amor de oje é tal kwal Foy ontem... Será amannã... Luas Xeyas de Mel... Peter Pan sow ew Vosê, Sinderela, kom mew beyjo amannesew... O Rio de Janeyro kontinua lindo... Nem ew... Nem vosê... Owvimos os tiros...

korkovado !Á...! Se vosês sowbesem Do amor ke esa sidade despertow em nós Da natura mão do Belo Ke nem gregos ow romanos, bizantinos jamays Se vosês por um atymo de segundo, pudesem Do amor ke esa sidade despertow em nós Parkos trajes Belas vestes Tanto faz A esa sidade asim tão destinada ao Belo Ke mesmo um breve ollar já satisfaz !Á...! Se vosês sowbesem Do amor ke esa sidade jerminow em nós Toda ira, as gerras Das Feras Imortays Seriam doses nas bokas dos pekeninos kristos Os brasos sempre abertos para nós 89

Deliryo Plúmbeo

Xove kopiozamente em toda a sidade do rio de janeyro ?Xoverá ainda em Nova York? korasão xorozo, navega ao turbillão das korrentezas remoinnos por avenidas, ruas e lamedas enxarkadas Korasão ke boya aos trankos e barrankos dos detritos Rekonnese nas almas enlameadas o antigo xoro dos aflitos os orizontes okultos à mão das sinzas Ierofantykas agwas, a rekordar as orijens derretidas Muyto antes das estrelas fazerem o sew traballo Korasão xorozo deyxa-se lavar Ao disabor das kurvas, das mágoas Em diresão ao sew destino elementar Não treme, não ranje os dentes Ainda a só tristeza de não ter feyto tudo o ke sabia Kwando os séws pararem de xorar se eskoará Tal ke o tudo todos, ao grande ralo do subterrâneo mundo de vermes e esgotos surdo/mudo

Deliryo pós-antropofajyko n° 29 A Poezia não se eskreve nem se deklama; o ke se eskreve e se deklama é o poema. 90

Umws Premer Polir Forjar Até ke do aso fasa-se o fasyl Seja Falso Até ke seja o owro Metal timydo Mera Semipresyozidade E o brillo Do diamante mays karo Seja palydo Para ke owsam apenas O Sange Umano Latejar na têmpora Para ke saybam de todo Odyo Kontigwo Vizinno Kontido Na palavra mor

Vida Literarya Vez em kwando também a mim, me rondam os abutres A uns, servem-se de kafezinno; uns owtros, serveja Todos sempre kosam as azas das noytes frias; lambem os labyos finos uns, bikos de porselana engrosando a lingwa, datas venyas os de resente ofisyo kwanto a mim, não tremo nem kuydo ow me faso de puro ao derramar mews vinisyus em suas toallas bordadas 91

Kada palavra é uma serpente Lingwa oblikwa de fora A konfundir os odyos Kom o amor de owtrora Kada palavra é uma dentada, e ela Espera ke doa

Kada palavra é dose veneno ke mata kwando se está à toa Kada palavra é redondilla, suave karisya kwando se alegra Kada palavra é poderoza trombeta de Jerikó A derrubar murallas, konstruir mundos à imajem e semellansa do vensedor As palavras são fakas kwando os ollos brillam sorrizos e os labyos e o korpo todo, sorrizos do aveso demonyo nas entrelinnas de um rosto vestido de anjo As palavras são farpas, finkadas na alma, a mergullar o korasão na dor das promesas náwfragas As palavras são moedas kwyda onde gastas Ke as palavras são pagas de palydas lembransas

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Porke dobrey-me sob sews ollos tão mel Porke dobrey-me sob sews labyos tão mews Porke dobrey-me sob sews seyos tão venws Porke dobrey-me dobrey-me sob sews pelos dezejos apelos

Porke dobrey-me dobrey-me mays sob sew ventre karente kalyente Porke dobrey-me sob sew xeyro de keyjo e sal Porke dobrey-me enfim sob sews joellos de sade Porke dobrey-me muyto mays dobrey-me sob sews pés de safo Porke doew, kerida Mas me levantey

Konsilyo de Trento Amey vosê, Alise Amey vosê, Maria !Amey igwal, Berenise! E ainda as amo, em tanto ke não sey de vosês se são mesmo trez Ow se serão, talvez uma antiga duvyda medieval: se vosês são trez em uma, ow se são a mesma uma una em trez

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Safo

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Safo

πολυ πακτιδος αδυµελεστερα, χρυσω χρυσοτερα... (Safo, de Lesbos)

Mays ke Arpa, Melodioza ke Owro Dowrada... Mays ke Arpa, Melisioza ke Owro Gostoza...

Bilitis Alegra-te, Mnazidyka Já podes voltar a suspirar o vôo das sabiás korujas Já, já, me axego Tokarey as serdas da tua lira oniryka Mews dedos de pluma e o mel Dos tews poros e os labyos Sugarey komo uma beyja-flor Famelyka... 95

O Kão e a Gata

Não, talvez não me akredites Poys nennuma fé á na eskuridão do tew kosmos Mas tua noyte komigo seria ano e luz Sufisiente ao brillo subyto de uma galaksya ke nasse Não, talvez não me akredites Mas só uma das tuas noytes komigo e seríamos estrelas kadentes xuva de meteoritos a riskar os séws de pedidos brillos nos ollos de papays-noeys Não, ainda talvez não me akredites Komo não akreditamos em breves rosar de mãos Aos bom-dias, boa-tardes ke sorriem em vão Talvez nunka me akredites, mas só uma das tuas noytes komigo alavankaria de volta o universo ao sew enkayxe natural

Deliryo pós-antropofajyko n° 30 Se o poeta pudese, diresyonaria toda sua sensibilidade e intelijensya para a muller amada. Mas o poeta não pode 96

Objetividade poetyka (da serye: papos universitaryos)

...tristeza e rayva, são as minnas medidas Não me leya, não me owsa os versos Se keres da poezia - alegrias Leya-me, owsa-me kom iras O korasão pronto para o salto Porke de tristeza e ira é feyta a minna poezia De briga, muyta briga, e os gritos Nesas kontendas kom umanos e dewzes Espliko a ela kwaze tudo da materyaprima da minna poezia Enkwanto ela balansa a kabesa e afirma ke esas minnas koyzas são tão komezinnas Devo konkordar [antes ke fike aflita e derrube saleyros e konsekwensyas devo konkordar [enkwanto ela balansa a kabesa e afirma ke esas minnas koyzas são tão komezinnas Devo konkordar devo konkordar Devo konkordar poys é presizo salvar a poezia [e a trepada desa noyte xuvoza

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Teoretyka Tews ollos tew belo rosto, e o klaroeskuro dos tews pekenos labyos semiserrados Tews tumydos seyos Sonno twas terras markadas Ao kabo da minna enxada Se pekado, mays arado Tew korpo Tew xeyro Tudo tão delikado e rózeo Sem pekado, mays arado Anjos Kerubins Fadas Gnomos Aliansa da Arka e o Diabo Se pekado, mays arado Tua kara Tuas rizadas Ollos klaros razos d’agwa Se pekado, sem pekado Irrompo tua femyna arya Ao aso barítono da minna espada

Ezistensyalismo Sayo dela owtra vez A noyte é klara komo o xampanne à beyra da kabeseyra da kama Dez millões de estrelas sobem-nos à kabesa Dews eziste Ela eziste Kem não eziste é vosê 98

Central Park, Wine and Snow

It’s autumn The naked trees eskapes their arms to the infinite nothing Almost winter We waited for the snow as we waited our souls And we never, never, never saw the snow, ours souls We open the bottle to celebrate it The endless of all The red wine brings a kind of fire We are happy, and warm souls we are Suddenly It begins to snow In Central Park

Deliryo pós-antropofajyko n° 31 Para manter sua a muller amada, o poeta se faz sol, o poeta se faz lua, o poeta se faz trevas. Ke toda Muza vale bem um poema 99

Nada, nada me komove mays Em tudo o ke em ti ew vi fazer Ke akele primeyro fio grizallo da tua alma, ew Ke te konnesi basta e negra kabeleyra Mays negra e basta No bayxo dos embayxos Ao repente de uma fraze subyta O primeyro fio grizallo da tua alma Ke akompanney kresser Agora estás indo embora, para sempre A kabeleyra branka da alma ébana Em áwreas madeyxas de ir e vir Kwanto a mim, me deyxo fikar por aki Nem alivyo nem jemido Testemunno O ultymo primeyro Fio grizallo da tua alma Naturalmente, entre a ira e o sizo Entre o rizo e a lagryma Ke me deyxaste kair

Korpo Antropofajyko Sabes mews jeytos E me segirás até kwando e enkwanto tua pele vasta se abra Territoryo profano de sagradas intensões Penetrar-te tão fundo ke a alma sakuda aos ventos e os siryos, lonjinkwos se apagem E dansarmos nus em torno nosas propryas brazas 100

Verbo

Kada palavra é arte Enjenno, se não lle basta Atymo ke o verso alkansa Átomo ke sege além Kada palavra é lammyna A rasgar da karne a parte Despida de esklamasão Kada palavra é trombeta De Jerikó, Voz de Jeruzalem Murallas kaem a sews pés Mil templos se konstroem Kada palavra é elo Nem Ultymo Nem primevo Nem Instante Nem Eterno Verbo ...umano...

Deliryo pós-antropofajyko n° 32 O poeta á ke tudo suportar kom pasiensya e karinno as pekenas lentes sobre os pekeninos ollos dos ke o julgam. Poys são eles, ollos sem luz, as primeyras vitymas da sua poezia 101

Pudisisya

Kwando kerias as mesmas serpentinas Kom ke brinkaste antigos karnavays Te oferesi o konfete vivo dos noktívagos bayles atuays Enkwanto suplikavas por koyzas proibidas Antigamente inosentes rituays Te dedikey a pós-moderna fantazia Ke te atisava ainda mays (e muyto mays) Kwando xoraste por toda teymozia Ke te konsedese magos festivays Te alegrey, te fiz gozar toda a alforria das femynas mannãs Kwando enfim te deste por vensida E klamaste ke não xegase a kwarta Te enlowkesi esparramando-te em sinzas Na fornalla dos lensoys Agora, aos akordes finays da nosa orkestra Me ollas transversa, kerida reklamando-te onesta

Deliryo pós-antropofajyko n° 85 ow, lembrando a karmem bizet, o poema é um pásaro rebelde/ ke ningém pode aprizyonar 102

As Brumas de Avalon Ew ke te keria The Fairy Queen Te fizeste Morgana Em feytisos setins Ew ke te keria As Nove Muzas Te fizeste nennuma Para mim Agora, ke tenno owtra nem virjem nem purisyma Nem vika, nem kwalker simplesmente muller Apareses-me sonsisyma Envolta nas brumas De uma Avalon perdida

Tem um towro no mew jardim, mamãe Tem um towro no mew jardim Tem um towro no mew jardim, mamãe Tem um towro no mew jardim !Tem um towro no mew jardim, mamãe! Tem um towro no mew jardim !Á...! Tem-um-tow-ro-no-mew-!jardim! Tem-um-tow-ro, !a!, no-mew-!a!...

...para-!íso!

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Kambaxirra Ela me vem paso a paso powko a powko komo uma kambaxirra asustada ela me vem Powko a powko, paso a paso De mansinno ela me vem Ela me vem nua Sob makiajens e setins Ela me vem de mansinno, nua Komo uma kambaxirra à tardinna Kwando sorri, mesmo kalada São lirykas melodias Komo uma kambaxirra enkantada Mays nua ela é Muller-madrugada Kwando um sol desperto Ela uma lua ainda akordada Ela me afaga – !bom dia! Me viro na kama – boas noytes... ...kerida... rowxinoys & kotovias kambaxirras e a kama ?kem presiza de nós? O gozo eskorre, eskorre, eskorre kataratas, kedas d’agwa, igwasus ............................................................... depoys d’amannã troko os lensoys

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Esgrima Tik-tak, Tik-tak, Tik-tak… Trimm………….mm Trimm……….....mm Trimm……….....mm .................................. !KLIK! Tik-tak, Tik-tak. tik-tak... Trimm...................... Trimm……………..mm ………………………… !Klik! Tik-tak, tik-tak, tik-tak... Trimm………………… !klik tik-tak, tik, tak, tik-tak Trimm……………… Trimm……………… Trimm……………… Trimm........................ Trimm........................ !?Klawdya!?... Ôy, amor...

Deliryo pós-antropofajyko n° 33 Do Manual de Poetyka – Bem eskrito, ow mal eskrito, bem-me-ker ow mal-meker, todo livro de poemas pertense ao jênero literaryo romanse. Poys toda palavra posuy poezia: da bula farmasewtyka ao tratado filozofyko, da ajenda eskolar ao kantyko dos kantykos Um livro de poezia teria ke ser eskrito por anjos – e a mando de Dews 105

Femyna Omini Lupus Vinna se sentindo mal Abriw ao akazo a ajenda da espoza e lew: (Este feytiso deve ser kantado mentalmente, sempre ke ele esteja nervozo, kom akompannamento de batukes kadensiados, kada vez mays aselerados, e um koro de vozes de exús aliados reforsando as esklamasões ao final de kada estrofe; reforso do feytiso: um sorrizo karinnozo nos labyos e muyta solisitude nesa ora; unyko perigo: o feytiso pode virar kontra a feytiseyra ke não domina esta arte) Fogo-fogaréw-em-sew-korasão !bão-bão! Fogo-foginno-em-sew-korasão !bam-binno! Fogo-fogum-em-sew-korasão !bum! (retornar ao inisyo do kanto, kada vez mays forte e ritimado, até ke surta efeyto)

Deliryo pós-antropofajyko n° 34 A estrada do sofrimento leva à eskravidão. A estrada do prazer leva à libertasão. Fazer Belo todo o prazer, eys nosa mays awtentyka misão poetyka 106

Agwas de marso A xuva eskorre pelos tellados Maxos e fêmeas se buskam - atavykos A xuva espanka os tellados Maxos e fêmeas se enkontram - asirrados A xuva lava os tellados Maxos e fêmeas se espantam - lavados A xuva eskorre pelos tellados Maxos e fêmeas se akietam - kortados A xuva pinga gota a gota pelos tellados Maxos e fêmeas, atentos - reparam Komo se a vida fose feyta de xuvas E tellados Maxos e fêmeas se kerem – dezastrados Maxos e fêmeas Fêmeas e maxos antropofajykos atavykos awtofajykos Komo se a vida fose feyta de xuvas E tellados De fêmeas e maxos

Deliryo pós-antropofajyko n° 87 Do Manual de Estetyka – O poeta sabe ke vive um tempo em ke forma não é mays kondisão de konteudo. A teknolojia avantajow a forma, fez do konteudo verdade okulta. Vivemos um tempo pós-mitolojyko; vivemos um tempo pósokultista, em ke as verdades se distansiam, retornam ao kolo dos inisiados. Só o pensamento poetyko desifra esas dansas de máskaras da vida pós-moderna 107

Ao Movimento da Barka Ao movimento da barka (masia) Finjem ignoransyas A forsa bruta dos instintos inda ke esplodindo preza de um sorrizo liryko Ke aos ollos owtros não se denunsiam O mar krispa os nervos sal indivizível nas veyas; O sol é lonje, para fora da linna dos orizontes Tudo o ke dezejam é lua eskura e nua Sege sew rito, a barka komo se em nupsyas Um povo de konvivas ignora korpos ke por si se gozam o esplendor dos segredos ke em silensyo se soltam nem asim tão submersos Mesmos sons da barka Gozo profundo...gozo profundo...gozo profundo... ...Ke à eskuna-eskura akelas duas almas gozam...

Deliryo pós-antropofajyko n° 35 karo poeta: só obterás ser o poeta ke sonnas ser kwando eskeseres o relojyo em tew pulso; e o número da tua ultyma pajyna (o poeta, aos inisyos do sew primeyro livro 108

Lunasão

!Lutey por vosê! Lutey por vosê entre vaidades perfumadas paletós e gravatas plumas e paetês !Sim! Ew lutey por vosê Lutey por vosê entre suores eskravos lowros likores eslavos entre jenyos e rikasos também ébanos, indyos e safos Sim! Ew lutey por vosê Lutey por vosê entre sons e ritmos diversos kwando tokavam piano, violão flawtinna dose, akordeão kwando um tenor entoava a sua kansão !Sim! Ew lutey por vosê Lutey por vosê entre lowkos de todo jênero frente o poeta, o literato os de koxas grosas, os frakos os sientistas, os pallasos !Sim! Ew lutey por vosê Lutey por vosê, amor !Tanto! ! Tonto! !Ke nunka mays lutarey, amor! (aos enkwantos dos enkwantos)

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Meras Konjekturas, Boas Vindas Talvez

Frio komo um sol de inverno serey agora se kero arder nela a payxão karnal Mas iso é só um pensamento, fugaz de uma mannã owtonal Poys kwando ela afinal me xegar, espallando gotikwlas de xuva em mew sorrizo beato um rapydo retrato dela em minnas retinas kaladas me rekordará de um algo allures na memorya atavyka e ew lle desprenderey o kazako, jentil farey o dekostume E frio komo um sol de inverno a tomarey em mews brasos antes ke se refasa deses tays pingos de xuva Frio komo um sol de inverno beyjarey sews labyos ...meras konjekturas, boas vindas talvez...

Deliryo pós-antropofajyko n° 36 Nennum poeta saberá da sua poezia se não sowber dos kwatro umanos ventos da Terra, e das palavras ke sopram (o poeta, ao abrir as janelas 110

Da Ensiklyka Poetyka

Não se faz versos komo os ke levantam muros, tijolo por tijolo, a masa forte, paredes a dividir o mundo. É poezia ke não se enxerga, do owtro lado, o poema submerso, okulto, ao lado eskuro Não se faz versos komo os ke fazem rowpas da moda, tesido kom tesido, vestimenta ke só veste os tolos. É poezia ke logo, logo, se data, o tempo pasa, o poema é morto Não se faz versos komo os ke fazem gerra, inos e bandeyras, bayonetas, a forsa bruta maxukando a terra. É poezia ke não se gwarda, a paz ke xega, o poema enterra

Deliryo pós-antropofajyko n° 37 Nege kwanto keyra o poeta os konseytos de relijião e divindade, nennum artista realiza uma obra de arte, espresão orijinal da sua individwalidade artistyka, sem fé awtentykamente relijioza 111

Amor sem metáforas

...e ew ke nem sabia mays dos tews xeyros, dos mil jeytos dos tews beyjos Á...! Ke dor tamanna foy a nosa separasão! ...e ew ke já avia eskesido o rumo dos tews tezowros... ke buskey – baldado intento! – em owtras tantas Mulleres ke de tão lindas Nem eram bonitas Nem eram as feyas ...para mim... Eys ke desde ontem à noyte - nosos rizos, noso antigo botekim Tudo Faz Sentido as dores, as awzensyas as buskas, as urjensyas de prazer Tudo Faz Sentido Nesa Vontade Enorme de Ser forever feliz kom vosê

Deliryo pós-antropofajyko n° 38 E, no entanto, sem fé n’O Poema, não se obtém poezia. Ver kom o korasão, konneser kom o espiryto, eskrever kom os sinko sentidos. Eys os poemas ke revelam o animal poetyko 112

Zoolojyko Intymo

Os kães mordem as pernas E latem aos owvidos de merkador E rosnam, e mordem orellas de merkador Os gatos por defeyto miam E afinam as garras As palavras, melozas Até ke anunsiam A morte pelo Terror Os pásaros em jeral voam, fazem ninnos As kobras se arrastam Inkolwmes, até ke ferem Os elefantes nunka eskesem Os papagayos repetem Os leões, os tigres, as agyas Koytos e Farras, Kasadas Umano Oje, ?Kwal Vow?

Deliryo pós-antropofajyko n° 88 mas o Verbo não é a palavra, poys esta é sempre uma umanizasão dakele... O Verbo é a enerjia ke propisia a formasão da palavra... e à esa enerjia dá-se o nome de Poezia 113

ad infinitum ad nawzeam

a palavra roda a palavra roda a palavra rola a palavra rola a palavrola a palavarola paralora a palavra rola a palavra bola a palavra embola a palavra embora a palavra mola a palavra mora a palavra kola a palavra sola a palavra arranna a palavraranna a palavra amola a palavra akorda a palavra korda a palavra engorda a palavra morta a palavra korta a palavra afoyta a palavra foy-se a palavra foyse a palavra porta a palavraporta a palavra boka a palavra tonta a palavra foka a palavra rola a palavra embola a palavra kaza a palavra roda a palavra rola a palavra rola a palavra rola.......... !Ufa!!!.............................................................................................................................. a palavra kala a palavra mala a palavra sabya a palavra kobra a palavra mata a palavra marka a palavra manka a palavra volta a palavra solta a palavra bota a palavra moyta a palavra akoyta a palavra ama a palavra kama a palavra goza a palavra forma a palavra fama a palavra lama a palavra teyma a palavra keyma a palavrasoyta a palavra mente a palavra sua a palavra bole a palavra fole a palavra mole a palavra agwa a palavra magoa a palavra lagryma a palavra kata a palavra pedra a palavra rika a palavra pobre a palavra medya a palavra midya a palavra limpa a palavra esperta a palavra pura a palavra densa a palavra fuga a palavra muda a palavra farpa a palavra lerda a palavra ladra a palavra lenda a palavra rola a palavra roda a palavra para.................................... !Ufa!!!.............................................................................................................................. !!!Êpa!!! a palavra roda a palavra rola palavra lavra a palavra xega.............////// //////// [Obitwaryo: Na madrugada de ontem o Prof. Jocelindo do Couto Magalhães, gramatyko e filólogo, defensor radikal da lingwa patrya, atirow-se da janela do apartamento em ke rezidia. O profesor, antes de vir a faleser, ainda balbusiow algumas palavras entreowvidas por tranzeuntes ke, no entanto, diskordavam kwanto à sua ezatidão. Algo asim komo “a palavra mata, ow a palavra morre, ow a palavra roda ow rola...”. O eminente Mestre, komo se sabe, traballava em projeto de ley ke estabelese padrões para a evolusão ordenada da lingwa nasyonal.]

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?A Kwal Lingwa Prometi Mew Korpo? (Heiliges Land)

Manxastes o mew Korpo kom odyo kom o sange dos mews pekeninos sérebros/sekwlos E o fizestes pela ambisão dos vosos sérberos Kwantas bokas kriey kalastes À férrea unyka soberba voz Agora - e embora vos ame igwal ke owtras sílabas arrannam vosos owvidos ke tremem vosos tronos impyos ao nervo mays karo, vosa lingwa altívoka Digo-vos agora, mews adotivos fillos Ainda á tantos owvidos tantos Em mew korpo jenerozo e limpydo Kwantos Mater Doloroza vosa dose voz owviw

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Selene

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Sol Eskuro

Sow só

Uma estrela perdida no etéreo vakwo Sol sem terra, sem luares Ke astrônomos e astrólogas distraídos ollam Aos viezes de suas parkas lentes embasadas Na eskuridão agwardo Ke de mim se soltem os fragmentos nesesaryos A formar os jirasoys da noyte eskura A abrir as selas das antigas feras Akelas, as de multyplas garras Um kosmos, na imensidão agwardo Ke ela se vire de repente Vestida de intuisões Note um algo invizível aos propryos ollos lijeyros Ke a sua alma atavyka enkontrow Na estatyka de um momento só Na eskuridão agwardo Ke se aprosime mays o mundo Ke subyto nassa nela a muller ke ew kero À kriasão de um universo inteyro Ke ew posa então klamar: !Fiat lux!

Deliryo pós-antropofajyko n° 8 São os umbigos ke revelam a konviksão nO Poema. 117

Borbolífera Enkwanto ela buska a toalla a enxugar-se dos mews visgos Penso ke a muller é um kosmos sem prinsipyo sem meyo, sem fim Sempre aos meyos dos kaminnos Disposta a flagrar-se de subyto Nua Por toda a eternidade Para ser então dakele Ke lle impõe uma segunda virjindade (ow terseyra, ow kwarta, ow kinta virjindade ?kwal importa? Desde ke lle restawre a etérea virjindade A romper-lle as metamorfozes a kada vez Kwando ela se aninna ao mew lado sosegada, penso ainda Ke ao omem Só o ke mays importa é a sina De romper virjindadezinnas E kwando reenkontra a virjem (e dá a iso o nome de amor) A muller é um kosmos sem prinsipyo, sem meyo Sempre aos meyos dos kaminnos, sempre Disposta a flagrar-se nua Por toda a etérea eternidade

sem fim

Deliryo pós-antropofajyko n° 40 Não á poetyka se não se aseyta a imperfeysão. Poys toda a poetyka é diálogo entre sagrados e profanos, umanos e dewzes 118

Bem-te-vis Ao bem-te-vi poeta A owtra marjem Do amor se nega Mulleres asenam e os lensos são brankos do imposível êstaze Porke ao poeta As marjens insitam Mas não konvidam A navegar os rios O poeta dedilla os oseanos A kada kurva dos kaminnos Ineksorável destino Suysidyo dos verbos Para renasser menino O poeta sabe ke é morte e é vida, e então ?O ke keres de mim, muller? Tews verdes ollos kastannos de menina são lindos E os owso komo os gritos das bem-te-vias vadias Mas tão logo o repowzo dos koytos fujirás de mim fujirey de ti

Deliryo pós-antropofajyko n° 41 Sem alguma espesye de perigo não á O Poema Sem alguma espesye de korajem não á o poeta 119

A Poezia vale mays ke trinta mil dinneyros

Vivemos um tempo de medo, tristeza e solidão Ao menos sejamos Poetykamente medrozos Poetykamente tristes Poetykamente solitaryos A transmutar rayva em kalma xumbo em owro inveja e resentimento em poetyka moeda Ke valla muyto mays ke os tays trinta mil dinneyros

Krityka poetyka Á os ke akreditam na palavra solitarya, kada a kada, komo se somente nela abitase a poezia. Á os ke akreditam no verso, owtros konferem o poema. Poys a Poezia tem muytos portays, para além das palavras, dos versos, dos poemas. A poezia está nos não eskritos a ke todos os eskritos dos poetas konvidam 120

Os Arpões de Eros Flexa kupyda ew, logo te vi Me apayxoney – tão terrivelmente Ke o tempo, padastro das felisidades Ezijiw o sew kinnão Vosê era uma antiga pintura de Muller nua Vestida em brankos diálogos, diáfonos E ew A kontemplar palydo o destino kruel Num instante, prezente em mews labyos tremwlos No tew sorrizo impavydo Owtra vez nos enkontramos – e novamente o amor Era posível Mas foy korrikeyro, ese - o amor Ave tremwla Azas lijeyras E os medos de Eros y sews arpões

O Poeta Antropofajyko Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema Mesmo o lixo eskorregadio Ke o ordeyro lixeyro (às segundas, kwartas e sestas) Konstranjido, rejeyta Por não lle valer a paga

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Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema Mesmo os fragmentos Ke a mente superfisial enterra Por despisiensya a kem, de despisiensyas vive Despisioza vida Em despisiendas kasas Tudo ew, poeta, aproveytoaopoema Mesmo os frakasos Ke aos frakos de estômago Abatem no sono de esgotos profundos Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema E babo Feyto um vampiro, ke não ker só sange Juntem vosos eskarros, sews vomytos Espermas konjelados nas kamizinnas suadas Das menstrwas madrugadas Abrasem toda a eskatolojia dos vosos abutres e das vosas ienas Kom o frio putrefato dos kadáveres nekroterykos Konjelados Tragam-me em vazillas de lama ke ainda nem barro Ke mesmo aos mays baixos maxos torna-os amarelos palydos após os rubros odyos Porke tudo ew, poeta, aproveyto ao poema Antropofajyko Awtofajyko, se nesesaryo Mefístoles e Fawstos ew, poeta, dezafio Na minna espurya luta pela Poezia imeresida

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Pezos e Medidas

A minna amada não vale nada E tenta, e seduz e se abre A boka palyda Os ollos rubros Komo se amase de verdade E dansa komo se fose a ultyma marxa E fala komo se fose a deklarasão das liberdades E sorri komo se kompreendese tudo, tudo ke a jente gwarda no mays intymo dos baús A minna amada não vale nada Mas kwando me olla na kama os ollos nos ollos vermellos e azuys O noso amor não vale mesmo nada E ela é tonta kwanto ew

Deliryo pós-antropofajyko n° 43 mas enkwanto a poezia for o instante e a eternidade, aos infinitos modos de asim nos prezarmos 123

Kama de Solteyro Mew korasão está pezado oje, powko mays ke ontem Komo se os sekwlos tivesem feyto o sew traballo Num’alma ke se mede aos frajeys dias, semanas Num’alma ke se peza aos parkos mezes, neses anos Mangeyras, abakateyros, kajus se estikam em proporsão dezumana E as plúmbeas tesem o sew traballo de eskonder Os soys desas mannãs É presizo rekonneser a realidade sekular dos dias Eskeser as poezias E fazer o kafé, e botar os lixos para fora E fazer gargallar as makynas de lavar Ao telefone ke toka ainda despisiensyas ezalam sews fetydos dezejos E a vidrasa da porta nesesita de brillos e xeyros ?Mews fillos virão nese final-de-semana? ?A konta da luz foy paga? ?O jornal já veyo, o jornal ke mantêm o mundo tudo igwal? ?E o lixeyro? – subyto desperto – ?O kaminnão já pasow? As flores da mannã não são as flores da noyte – filozofo Enkwanto ela boseja, e puxa o traveseyro Kwaze sem ew sentir

Deliryo pós-antropofajyko n° 44 Uma barata sozinna, pekenina, engatinna ao bloko de papeys. Izolada, aska barata, ainda mays aska. Deyxo-a pasar, pekenina, majestoza, mesmo aska, porke vida. (Sem alguma espesye de tolise não á poezia 124

Amor Ezekutivo Tudo faz sentido (intelijente), kwando amo e sow amado: Poetykas, Filoszofias, Politykas Ekonomias, Lingwistykas, Sosiolojias Tudo faz sentido (lukrativo), kwando amo e sow amado Abro largo os meyos dos jornays Sorrio dos kartoons e dos jograys As notisyas são romanses, narrativas De owtros kafés das mannãs Ela me pasa uma torrada, Despeja kuydadoza o bule do kafé E o branko leyte pasifika, kom trez kolleres de asúkar Minna sobransella ergida ao latido besta dos kães Maskwlas mannãs, Femynas mannãs Tudo faz sentido Kwando sow amado, enkwanto konsidero Se um garfo apontado é um ato de amor Tudo faz sentido (enkwanto mastigo um pão komezinno) Kwando amo e sow amado Talvez seja por iso, medito Ke ew amo Dela o xeyro, primeyro Enkwanto se veste para o traballo E a arrasto de volta – komo se fose um sábado – A estikar o tempo Sennor dos ponteyros Dono dos oraryos Tudo faz sentido (se ela diz ke oje presiza do karro) e nem me preokupo De já estar um tanto ralo – de kabelos De já ser um muyto kalo – aos mews pés despertos

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Tew Retrato

O tew retrato no mew kwarto, frente a kama Ainda sorri para mim Foste embora ontem........................................ ......................................................................... Oje, ezatamente oje, aos meyos-dias, voltaste E o tew retrato, noso kwarto, frente a kama Ainda sorri para mim...................................... É meya-noyte agora Dormes, esgotada De palavras e gosmas O mew esgotamento enfim O tew sorrizo no retrato, frente a kama Ainda sorri para mim ?Kwal dos sorrizos O tew retrato, frente a kama Ainda agorinna sorriw?

Deliryo pós-antropofajyko n° 45 A Poezia está morta? Poys poetas, levantem e andem! Poys toda a luz e toda eskuridão ke estão à frente são apenas as manifestasões dos vosos propryos brillos asezos allures. (o poeta, num momento de dezanymo 126

Klara Lutxy

Pude konviver kom o dezenkanto, kom o dezenkontro Pude konviver kom o dezamor. Pude konviver kom a umillasão, kom as falsas falas Kom as lagrymas, kom a traisão. Pude konviver kom a rayva, kom a distrasão Pude konviver kom a desepsão Pude konviver kom a dezolasão Pude konviver kom a dezatensão Pude konviver kom a mannã sem pão Pude konviver kom a kinta estasão Pude konviver kom a tara. Pude konviver kom a máskara. Pude konviver kom a rizada Brotando do nada Mays ke perfeyta asombrasão (Ke a mim foy dado ver a luz da eskuridão) Só não poso konviver kom vosê, minna dupla solidão

Deliryo pós-antropofajyko n° 46 Não á poema sem sua muzikalidade enkantatorya: seja muzyka das esferas, seja a dos subterrâneos da alma umana, a popular ow a erudita, folkloryka ow alieníjena, poema sem muzikalidade é komo uma orasão rezada sem fé. Nem esta é orasão, nem akele é poema algum. 127

Mediunyko ?Vosê sabe por ke o umano salta para o infinito abismo, o tiro na têmpora, o gas nos pulmões? ?Vosê sabe por ke o umano se mata Unyka espesye ke o faz? Vosê, ke me kontempla de lonje esas palavras De um korpo já imune a kwalker dor Ke do lado de ká vos kontemplo a todos Os labyos serenos O ollar trankwilo O korpo imune a kwalker dor O korasão liberto dese travo, amargo Ao peyto ainda feyto de amor Vosê, ke me kontempla kada vez mays lonje esas palavras Mastigá-las faz bem à dijestão da alma Nem se importe kom os estalos dentes osos A mesma voz de então

Tranzes Tranzytos Somos todos tranzes tranzytos Nada nos faz eternos Ow imutaveys A esensya não nos pertense Mas Aos Insondaveys Infinitos A nos esperimentar os provizoryos pasos simyos somos todos tranzes timydos e no entanto nos apelidamos umanos, kwando somos subytos relâmpagos... ...komo se posível fôsemos nós a luz e A Eternidade espello... 128

O Inferno de Ékate Xoro E Ranjer de Dentes A ke me Kondenaste Porke Pekey Xoro e Ranjer de Dentes Sofro, Xoro Porke Pekey Eternidade de Xoro E Ranjer de Dentes Porke Pekey Mayor Xoro Mayor Ranjer de Dentes Porke Ela Não Vem

Meya-Noyte Não Adianta Dezosarão a tua poezia Até servi-la Em bandejas de lata Aos finos kanapés revolusyonaryos Ow aos brutos pontapés da vã jentalla (Voltaire falava em demensya da kanalla) Não importa Ke o keyras não keyras Te rowbarão a alma Te sakrifikarão os versos Para os narizes de palla (Sews rizos sews xilikes sew wisky nos sofás da sala) Prosiga, porém Ke tua sílaba vazia Kontém todo o universo Ke muytos prokuram em vão (Owtra garrafa dese vinno bom? ) 129

Kanto Pós Demokryto e Eraklyto Num atymo, o átomo se faz fogo fatwo de Dews No intymo, o átomo é fogo feyto fato de Dews O átomo, os átomos são rizos são estakas de Dews O átomo, mil átomos, arawtos das palavras de Dews Os átomos, atomykos se espallam na superfisye de Dews Os átomos, atomykos, atonytos, sem azas se perdem de Dews Os átomos, atomykos, não morrem suspirados por Dews Os átomos, mil átomos, se alegram verso sabyo de Dews O átomo, os átomos, sawdades do sorrizo de Dews O átomo, os átomos, orakwlos são ollos de Dews Num átymo, os átomos, são lammpadas são as luzes de Dews Os átomos no éter são kriansas, são anjos Santa Fase de Dews Atomykos Atonytos Os átomos Mil átomos Se sagram Se sangram Se sagram Lá lonje Fogo Eterno de Dews

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Diálogos Amorozos n°11 !A Vida!

A vida não se vive aos sinko minutos, desidida Ke seja asim para sempre, regabofe Só o mellor pedaso da karkasa !A vida é o bixo inteyro! Das karnes

altas, às magras dos osos às tripas

!A Vida! A vida não é a karne limpa O sebo também é vida Não é o perfume das primeyras rozas Os espinnos também são vida E os xeyros Os xeyros ke vão das kozinnas às latrinas A vida é majia, transmutasão A vida é o amor-motor Resiklando os lixos e os esgotos Em fontes de agwas limpas Do obseno ao pudor !A vida! A vida, kerida Não se faz de ezijensyas Antes, retisensyas... ...Me-ta-mor-fo-ze-an-do... A vida não se faz no pensamento – jenial ke seja – instantâneo A vida é para sempre, kerida Por iso ke, se não a dinneyro pro taksy, amore mio Não perkamos o prosymo onybus

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vida de poeta Falas muyto de Marx de divizão de tarefas, de traballo de baze, mas kwando te levantas nem a kama fazes (Leila Míccolis, Vã Filosofia)

Dizes ke amas – !A Poezia! E aos poetas, ke a Ela entregam O mellor dos sews dias Sob o rosnar das Ienas Ke aos owvidos nos gritam !Vagabundos! !Parazitas! E ke lamentas As injustas penas E ke kompreendes As garrafas vazias A solidão, As lagrymas ke mesmo rekollerias Novisa das madrugadas E no entanto Se o poeta é tew marido ?O ke dizes? ?O ke fazes?

Deliryo pós-antropofajyko n° 55 A diferensa fundamental entre A Literatura, in espesye, e A Poezia, pay/mãe de todas as literaturas, é ke akela revela as finitudes das umanidades e do mundo, kabendo a Poezia revelar os sews infinitos. O esensial é saber ke, se a Literatura está nas palavras, a Poezia está no além-das-palavras 132

O Alimento das Gaivotas ...é, ew estava ali em pé - tal kwal poste no ponto do omnybus ke levaria vosê para sempre No mar em frente, as gaivotas farejavam as agwas talvez mew mar de lagrymas Vosê se mantinna erekta Infleksível Inexorável Fria Mays owtra vez desvio o ollar minn’alma preza ao rito dos finitos A gaivota se projeta Mergulla e volta O peyxe Não se debate !Á...! O mel dos peyxes Aos bikos finos, frios Das gaivotas O omnybws xegow Sem lugar de janela Um beyjo frio em fases finas E vosê foy embora Me devorow

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Menina Mosa Kwando o tew vestido soltow-se, dos seyos aos pelos Flagrow mays ke sonnara o mew korasão sinzento Eras ainda komesando a idade, e ew Muyto mays tarde Tew rizo a insendiar-me, e ew ?Eroy ow kovarde? Enkwanto a karne gritava por karne A alma rezava a Nosa Sennora um rubro rozaryo

A vida tal kwal não é De oje em diante farey a poezia Da vida tal kwal não é... Nem ke seja a poezia sosial Payrando asima do Bem e do Mal Farey a poezia astuta, esperta A driblar a fera Komo um sorrizo de muller Mesmo ke me doa o kalo Mesmo ke se entupa o ralo Em ke se eskoa a dor A vida tal kwal não é... Komo um sorrizo de muller Ow seja lá o ke iso for 134

Só a morte é unívoka para Ilse

Tal kwal um filme prosymo e pasado Ew me lembro do sorrizo dela perante a makyna fotografyka Ew me lembro ke ela konfidensiow teve katapora As markas espalladas pelas pernas, tinna ke subir a saya... Tal kwal um filme prosymo e pasado, ew me lembro dela por partes Um dia, fritando um ovo, dise ke o mew estava pronto A jema estava kebrada, mas o dela fikaria ao ponto Owtra vez, no aeroporto, me axow um tanto palydo Tinna um sorrizo de lado e me dise: ?ke tal komesar de novo? Kwando me flagrow na kama kom uma das suas empregadas Dezandow a me xingar. Mas não me traiw nada demays Teve a korrida para a maternidade: Se for omem é tew, se for muller te gwarda Kwando ela morrendo me falow das almas Tal kwal um filme prosymo e pasado Lembrava de mim por partes

Deliryo pós-antropofajyko n° 48 Kada palavra ke o poeta inskreve é umanae vitae ke o poeta mantém na trilla do além-do-umano 135

O Ultymo Bigwá

ama amanna amanne amannese amanna ese amanna aman nese aman nese amannese amannese amannese A dor se distray na formasão dos bigwás. Amannese Se eskese, no ajito do ultymo dos bigwás. Amannese Amannese no Séw, Amannese na Terra, Amannese no Mar Amannese. Amannese.Amannese, Amannese. Amannese Num atymo majyko vê klaro o pasado: Ainda ontem é antiga mente é pasado. .amannese. nunkaima jinowver tãoklara a dordo amor pasado

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Kravo de Marte

Serkow-lle os jestos komo kem konnese a kasa E aos negaseyos de muller pudika e fraka Impoz sews muskwlos, não do korpo Mas da alma Ela, tentow fujir do destino manuskrito em pergaminno de antigo ieroglifo Desde ke, muller predestinada A ser dakele ke a kizese a karne maskwla Baldado intento! Akele xeyro, akeles labyos Já markavam, roxos labyos, sew peskoso Sabedor, de sennor, a férrea marka Impoz sews muskwlos, lasos d’alma Agora o korpo Avansow rijo a gerra aberta E a sidadela sitiada nem powpow Kwalker algo ke pudese nem devasa Resgwardar komo se não fora amor Konkistar, dela, tudo, o ke ela tivera um dia sonnado à branka kor Depoys, ir-se – antes ke xegada a primavera É masyma gerreyra: Gerreyro não é flor

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Vika She se esfinje de nothing (e esfinje tão !well!) She se esfinje de all (e esfinje tão !mal!) Se esfinje de whore (e esfinje tão !more!) She se esfinje de pure (e esfinje tão !mall!)

Devosão Os dewzes do verão Inflamey-os todos Os dewzes do owtono Kaley-os todos Os dewzes do inverno Esfriey-os todos Os dewzes da primavera Ainda estow kom ela

Deliryo pós-antropofajyko n° 49 A melodia é a muza dansarina da muzyka em nosos korasões de poetas. Se o poema não é a melodia, se o poema não é a muzyka, se o poema é o verbo, não averá, no entanto, o poema, se a sua melodia, a sua muzyka, não nasserem do propryo verbo-poema. Daí porke o poeta, profeta do verbo, só xega ao poema se a sua muzyka: a saber, a muzyka kontida no verbo, a muzyka nassida do verbo, a muzyka ke o verbo-lingwajem konfidensia ao poeta. Kwantas melodias, koytadas, estão por aí, mulleres powko amadas, abrindo-se a tantos a preso vil 138

A Perfect Beach For A Bananafish

Ela estava irritada; ela estava irritada. Na alma, não sabia o ke se pasava Só ke estava irritada. Afinal, komposta ela estava, nada justifikava; Ela, estava irritada. Ela estava irritada. Na barraka O marido, a filla, a forminna, e o balde d’agwa. Disfarsava Mas ela estava irritada. Ela estava irritada. Ela estava Irritada. Ningém lle mirava tanto o triangwlo de Ve-nws, desde ke largara os dezeseys. E akele kara o ollar edukado frio ko mo aso, um vay-vem de pásaro nela um unyko espaso, uma pussy ke não era asim asim tão(m)ollada desde os dezesssseys

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Kintanise Kaia ew de triste Keria porke ew keria O amor difisyl de Alise Veyo um e falow-me: !lowko! Mays um: pretensiozo... Um owtro me ollow triste, nada me dise Kintana, o poeta, alegrava-se dizer: Não é porke imposível ke se a de não kerer !Ke Dews gwarde os poetas! Isto, não fuy ew kem dise Veyo no beyjo de Alise

Intuisão ?O ke fazes, poeta? ?Ora, não vês? Rekollo os rayos Dos Séws, antes ke matem ?E komo o fazes, poeta? ?Ora, não vês? Apenas os resebo Simplesmente, estendo as mãos ?E não te kansas, poeta? !Ainda ke não! Apenas reseyo nos espasos vazios dos entreverbos A voz nos trovões 140

Bateya

Arrogantes Nos kastraram os versos Em nome das só est-etykas Por konta das vis moedas Ke nem são dinneyro... Dezesperados Agora A Ágora sobram asentos... Buskam nas selvas Dos obskuros raymundos Algo brillo de pérola Em sityos profundos... Dow-vos kaska Dow-vos kaskallo Dow-vos tudo sempre owvistes !Mãos à lama!

Já vos lansamos pérolas Diamantes são mays difiseys

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There Are So Many Questions, ?aren’t there?

There was a dark shakespearl hidden in a hard heart blowing ?What kind of just one woman to get a good harem, man? ?What kind of flower to plant a beauty garden? ?What’s the sound applauded but just one hand, man? ?How many hands are silence on a kuiet krowd? ?How many stars darkness needs to bright, man? ?Which is which wheat Khrist used to multiply bread? ?How much pain to gain a solitary soul, man? ?What kind of love they talk you’d loved in vain? ?Which kisses to get a good orgasm, man? ?How many lips are how many you never met? ?How many thanatos you need to smile this way, man? ?And how you hope eros smiles you yet?

Deliryo pós-antropofajyko n° 50 O ato de kontemplar uma obra de arte é, sobretudo, um ajuste dos propryos estados alterados de konssiensya, aos estados alterados de konssiensya do artista. É deyxar-se levar pelas markas d’agwa da universalidade umana, impresas tanto nas obras kwanto no espiryto de kem as kontempla 142

Eskatolojia Waste Land é a minna, simya Maneyra de ser Aos impulsos trêfegos das mimetykas Artes de ser akem No brain, ke não seja o molde No heart, ice de ser or fire Komo se sabe. Jamays komo se E esa sawdade sempre no poder Sawdade, a unyka vantajem Dessa lira só disposta a não se deyxar morrer Não kero o tew lirismo simpatyko Kero-o aos pedasos A não fazer da mente engasgo Ow vomytos Rekuzo a tua karne oka de muko e porra Kero a tua pele masia, delikada, pronta À mastigasão das nosas sombras Até ke a luz dispare Kero servir-te aos pedasos Komo o fino fruto dos ovaryos Á tantas tasas, mil xampannes Para ke korram os restos Para ke eskorram os mowkos Para ke morram os mudos Obvyos esgotos

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ISTO NÃO É UM POEMA iso é, se owver, alguma poezia – os espasos vazios deses todos v ersos !pára um momento! kontempla o vazio da pajyna, enkoste-a, se presizo, às orellas owsa k om ollos de owvir veja kom owvidos de ver

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gata sem kalsa na sala

“...ááiy! não sey porke... mas ew gosto tanto de vosê...” (!Ew sey!) “!não!... Vosê não sabe... !Nem ew mesma sey! ...Talvez porke numa owtra vida... !áaa! Vosê me axa tão infantil...” (Não, não axo) “vosê não me kompreende...” (Kompreendo) “!não! !Vosê não me kompreende!” (É, realmente, ew não kompreendo vosê) “!ááiy!... mas nem me importo...nem ew mesma sey porke... gosto asim tanto, tanto de vosê... ...ááiy...” (?rumn?) “...mááííiis...

Deliryo pós-antropofajyko n° 51 Poema é poema, krityka é krityka... podem flertar e namorar – jamays kazar 145

Luminaryas Não Não vow dar ao sientifyko O mew fazer poetyko Prefiro Orjíako Desdém Sim Konstruirey Armadillas Paradoksays Antinomias Desdém Talvez Em um owtro dia Sejamos Eko e Melodia Desdém Também Se o silensyo das mãos Forem Vozes Desdém

Aborto O korpo se move pede lle pesa O beyjo ke promete O vento na fornalla As agwas do sempre Os korpos se enkontram logo asim konsegem As mãos ke afinam a arpa As mesmas mãos, ke arrankam árvores e sementes O korpo se disolve resta a alma Pasam-se as mágoas É madrugada e os pásaros: silensyo 146

Entredentes Korrentes arrastando no porão Fantasmas Grosas Lagrymas Enforkadas uma gwarda monta gwarda gwarda o ke já gwardas E esas restyas de sol entre as tabwas Á um futuro - talvez - Owve um pasado Estikas ambas as mãos, os brasos As pernas são frajeys, e as azas Palydas palavras Ekos de almas rasgadas Não. Nem somos os primeyros Nem os ultymos, e o sereno Estupydo. Preludyo. Rekomeso

Hölderlin Ri – se te maxukam Ri Mays – se te asoytam Ri – inda ke te ofendam Ri – ri, se te magoam Ri – se te perdoam Ri – mesmo te elojiem Ri – se te o permitem Rir mays – sem ke te markem Ri – se te adoram Ri – também – se te ignoram Tew rizo – se te imploram Ke rias – tal ke xores Ri – o mays ke te posas Ke mays tew pranto ekoará por todo o vale 147

Diálogos Amorozos n° 207

À umildade dos jestos Não korresponde a umildade das palavras Kwando a payxão verborrajyka sega as batidas kardíakas A umildade da vida – é vida A umildade dos konsiderandos umildade sem viso Arrogante ew sow, kwando dentro de ti (ke asim ezijes de mim) Umildade és, kwando me abres os labyos os todos sedenta de mim Umildade, Arrogansya São termos ke nada têm kom o mew/tew amor Apenas mentem os nãos Das nebulozas ke os sins

Deliryo pós-antropofajyko n° 52 Só poetas, e os ke sabem a Poezia, detêm a liberdade de ir e vir pelas livres portas das persepsões. Karregam konsigo as xaves para os portays dos infinitos (o poeta, num momento de inosente empolgasão 148

Mizojenias Ontem, te enkontrey num bar - deses

kwaysker Em ke nos ollamos sorrateyros sekiozos, atrevidos Dezesperansados makinews Dansavas kom owtros distraida e nua para os mews ollos Komo se fose a primeyra vez Aos intervalos Álkool e fumo Biskoytos finos Toaletes, bomboniéres aos papos Intelektos mofados, korasões malversados Korpos estendidos aos merkados No entanto, proklamando-nos dignos Na dignidade dos ratos Aos desenkontros das finalidades Persebemos o kwanto – futilidades – erramos ao lew: Nosos propryos pekados e eses ew-te-amos Nosos infernos de d’antes Nosos pekenos paraizos Nesas mordidas distantes

Deliryo pós-antropofajyko n° 53 Billete ao neofyto: não á poetyka sem teknyka, teoretyka e melopeyka ezatas ao poema (o poeta, inkorporando Ezra Pound 149

Subyto akorde

As ideyas, as ideolojias Por uteys, ow futeys Enganozas, ow simplesmente belas As mays ke perfeytas lojykas As estetykas A todas elas Agradeso, komovido O sérebro esparramado Mas agora, ke me vão xegando os anos tardios Medidos a kalvisyes, fios grizallos e sekso fujidio E tal kwal esa palmeyra versejante ke ora se posta diante mews ollos subyto despertos [?o ke faz uma palmeyra versejante bem frente aos mews ollos, subyto despertos logo justo kwando filozofo? Mas agora, kwando os pásaros da mannã flawteyam-me melodias aos owvidos subyto abertos [ke me perdoem os filózofos, os politykos, os relijiozos] Kero viver de brizas e brazas, ser verdadeyramente poetyko ser sem ser em permanente estado de fiksão

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Poemeto em si bemol mas os amigos abutres eses rondavam sua karnisa morta-viva enkwanto akelas owtras, ienas lle arrankavam da alma os ultymos suspiros e kom palavras garras o traduziam en mwerto mismo muytos owtros lle rowbaram os modos e os pezos e os jeytos kom ke prosegiam fazendo-se de vivos agora, olla ele lá mwerto, para todos Vivo ensimismo

Deliryo pós-antropofajyko n° 54 O poeta ignorará, mesmo sob as mays duras provas, a divizão de kores e lados ke a sosiedade asim organizada lle impõe. Ow não será poeta, e de nada valerão os lowros kom ke lle kobrem, e ke só lle dão por servir-lle a eles. Os sekwlos enterrarão a todos nós, é vero, mas enterrarão antes os filistews da poezia, e sews xefes. Jamays soterrarão a liberdade poetyka, a mays ampla, poys ke dela depende o propryo firmamento 151

Lenga-Lengwa

no, no me preguntes ke lengwa-lingwa jo ablo ké, sinseramente, jo no lo sé la lengwa de los siwdadanos de esto siwdade, ke lengwa es pero pyenso ke por aká , ombre, kada kwal abla su propryo lengwa pero todos se entyendem, por inakreditable pero todos se entyendem, si, si ¿usted es un peskizador de lengwas? ¿es un poeta, desyerto? Tienes un syerto aspekto de poeta pwes en verdad lo digo: por aká los poetas se entyendem los peskizadores de lengwas no, no se entyendem tampoko a los poetas pero, si no es poeta no, no me preguntes ke lengwa jo ablo apenas me konseda un trokado para más un trago para más soltar mi lengwa, desyerto

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O Sorrizo do Anjo Já se fartow do mel após o tonel de vinno Tragado entre gosmas e sarkastykas rizadas Das bokas o xeyro de glandwlas vomitadas Sem amor kwalker, maxos frijydos e sozinnos Pekow ao kalor e ao som das melodias ninfykas Ke a briza langyda espallava pelas nádegas Modelow tufos de pêlos nesas madrugadas Das fêmeas, doses e salgadas, provow jemidos Korrew solitaryo e irado sinzentos kaminnos Laserado e triste ao ferro em braza das rizadas Dos falsos amigos, das ienas emboskadas Kem toda a vizinnansa apontava por vampiro Agora, rózea e pétrea alma, liberto espiryto Sem temer do ar, da terra, do fogo ow da agwa Dos nassidos de muller, frajeys kargas pezadas Ao éter se entrega, alegre e inteyro, ao premyo De voltar a ser anjo, aos Séws, resém-nassido

Deliryo pós-antropofajyko n° 2 Em toda a Poetyka, a krityka konfesional é uma balela. Sem nem lembrar o konteudo sempre divinatoryo do poema, ao mellor estilo grego, o poeta nunka fala por si mesmo, sempre voz de personajens em suas verdades. Ademays, não é o ke akontese, traz as máskaras ideolojykas, em todas as relasões sosiays, ekonomykas, politykas e até nas pesoais e familiares? Se ningém realmente “é” todo o ke diz, por ke averia de sê-lo, o poeta? O poeta nunka “é” o sew poema, o poeta está sempre em permanente ser, não ser e vir a ser O poeta é um infinito ambulante 153

Tenno Muytos Amigos

Tenno Muytos Amigos kwantos me bastam À Estante, Impavydos Alguns, de banno tomado Owtros, empoeyrados Todos Poetas Tays ke Leyla e Flavyo Eryko e Jilberto Ke aos verbos me afagam E pesoalmente se mostram desenkadernados Tenno Muytos Amigos Kwantos Me Bastam ...e esa kadeyra de balanso...

Deliryo pós-antropofajyko n° 56 O Poema ezorsiza das koyzas o feyo; sopra nelas o belo 154

Tew Fillo Xora Na Sala enkwanto a mãe lle sensura e impede alguma perigoza travesura. Tew owtro fillo destroy uma kayxa boba pela kwal tinnas grande afeysão E nem reklamas

Pela televizão do owtro kwarto anunsiam sertos brinkedos para kriansas, e para adultos Para os kways o tew salaryo não tem mãos E é um sábado E xove miudo – powko antes de entrar a primavera E estás mays vello E não tens uzado o tew kalsão de banno Tews owtros fillos telefonam pedindo algum dinneyro Pedindo ke não te eskesas do paseyo Pedindo-te beyjos Tua muller volta da sala e kasa-te a palavra muzikal do Villa Para dizer-te de uma deskarga de privada enlowkesida Fexas o T.S.Elliot

Villa, T.S., os meninos, Maira e esa xuva miuda powko antes de xegar a primavera ?Tudo iso ker dizer ke sow feliz?

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Περι Ποιητικη

A Minna Arte, esa Arte Poetyka Às vezes jelyda Sempre ardendo em brazas A minna arte, esa arte poetyka Tem todas as artes, as sete partes do demonyo A minna arte, esa arte poetyka buska não ter metro ow parâmetro Moda alguma ela sege Nem de eterna buska ese tamanno A minna arte, esa arte poetyka tem todas as artes, as sete partes do demonyo Sob o Ollar Terno e Vijilante de Dews

Deliryo pós-antropofajyko n° 57 No poema, komo em toda muzyka, a armonia da intelijensya é impressindível, mas é a melodia na palavra ke toka a alma ...poys no poema, komo em toda muzyka a armonia é razão a melodia é emosão e o ritmo, tezão 156

Dejelo Á um tom de klaro-eskuro às seys Seys, exatamente às seys da tarde vivo mews dias, entre o séw e a terra Orizonte ao fundo, só as montannas me eskutam os brasos mudos; Tudo konvida ao portal dos bruxos: os ke ajem nos owtonos Dentro em powko será a noyte fria e ainda os blues me afinam Vivo os sekwlos, segundo por segundo O mundo me arrasta ao pó das galaksyas Nesesaryo ser surdo, vejetal ke despenka aos rizos do pasado Antigos atritos, owtras estasões Abismos se abrem, rekollem as azas podres – e os pobres frutos ke se foram Ela se alleya, ao aleatoryo ser ke sow, dezatenta – ke ainda me resta a dor Kom poeyra o vento arranna a alma, a folla ke ela não regow Dependurado ao gallo áspero do ke é solidão reklamo ainda o amor Árvore Mater, ke me rejeytow Somos sombras fujidias agora, brinkando à luz opaka dos moteys. Buskamos deskolar os korpos ainda akostumados – devagar A não doer demays, evitando rasgar tudo de uma só vez Suamos as peles, as karnes, as glandwlas. Os korasões mollados, um amor antartyko, jelo e distansya Somos Estalaktites p i n g a n d o

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Matematyka Era algo asim Komo um final de semana em Kabo Frio Enkontrar kom ela para um sinema ow só mesmo um xope lijeyro E depoys nós doys e depoys nós, doys e depoys nós Era um algo asim rotineyro, mundano, prozayko komo um kafé kom leyte um paletó e gravata ela numas meyas de seda e depoys nós, três Foy um algo asim .Um algo asim Um amor feyto de somas e subtrasões De Nós doys três, kwatro, sinko kwatro trez doys um z-eros

Deliryo pós-antropofajyko n° 58 A luz do poema não fere a eskuridão A luz do poema delisia a eskuridão 158

Mizojenias n° 2

Odeyo-te femyna alma Inkorporada in korpore insano Reklamo, de Eros Ke nos fez parentes, dependentes Ao prosegimento das rasas Odeyo-te femyna rasa Kom tua raxa A engolir-me os retos trasos komo kem doa Odey-te femyna rasa E o tew gozo - espuryo Odeyo-te kwando em tew lodo Também gozo Kerendo apenas kontemplar os orizontes Para além dos tews abismos Para além de nós mesmos LIVRE Para te amar owtra vez

Deliryo pós-antropofajyko n° 59 Podes rowbar-me o poema. Jamays me rowbarás a poezia. Poys se é justo a ela ke ew sirvo, a poezia. Leva o poema, amigo, fasa mesmo bom proveyto diso. Ke a poezia, esta fika komigo (o poeta, ao saber em boka impya um ow doys dos versos sews 159

As Novas Muzas

?Kwando me virão as poetizas enkantar-me os gallos sekos Kom sews rizos kristalinos e os xeyros? Xeyo de amor, ew ká me espero À transmutasão das Nove Muzas Em poetykas elokubrasões Pulmões, Korasões e Fígados Peles Umydas, poetiza, venna Ke de brasos abertos vos espero Ser um dia fillo das plumas Dos Maskwlos Muskwlos Ao Etéreo Eterno Na boka dos sews ays Poetiza, ew vos espero Y prometo ser jentil

Deliryo pós-antropofajyko n° 213 Sow, poeta, apenas o arko. O poema, é a flexa. A Poezia, é o ferimento divino ke transmuta a dor e a alegria do leytor em payxão. (o poeta, krente ke é grande koyza 160

Ferrajaria Poyetyka A’O Ferrajeiro de Carmona, de João Cabral de Melo Neto

Mira, ferrajeyro......de Sevilla Estas kalydas rimas kom Maria Foram muytas noytes, tantos dias Ke por amor me fiz intensa lisa Ke em rubra forja montey ferrajaria Mira, ferrajeyro......de Sevilla ?São estas rozas igways às das jardinas? ?Ow se anunsiam flores feytas de uma owtra liga?

Gerra e Paz Kwanto enkwanto a paz e as palavras Animam a rude atmosfera e a terra Grasiozas plumas se arrankam às propryas almas Bem-vindos os latidos o branko dos kaninos e as garras - ?Kwal razão? Se dirão os tolos (para os kways gerra e paz se dezafinam) Um dews inda sorri também ew te adivinno nesas flores e os espinnos mays garantem ke estow vivo estas mannãs 161

Fez ke se fez uma naw interestelar A adentrar a noyte sempre mays eskura Konfiante no destino e a veya maskwla Estikava o universo até minuskwlo

Desvendar todos os misteryos, kwal ulises moderno Nem kazo fazia dos perigos Nem owzasem travesar o sew kaminno Ela, era toda em noyte aberta Uma lilyt eskura, gruta sem fundura A lua, latejava um ponto apenas Nem era lua, tanto era um korpo okulto Ke adentrase, viese a kwalker tempo Nem a tempo kwalker na larga noyte Ke buskase penetrar a porta aberta Já foy tempo se fizera porta estreyta! Asim a naw, vagamente embriagada Navegava, perkorria Todos os kaminnos do posível Penetrava, adentrava o mays lonjinkwo Dos rekondytos protejidos por mil brumas Navegar, navegar o tão profundo !Ano-luz inda é medida deste mundo! A pele, tinna o musgo Vivo de florestas e perfumes Tinna o masio dos felinos E o branko era o branko dos kaninos E a naw prosege a sua buska A, em kada poro, um’owtra gruta Karrega em sua killa a estrela gia Nem á volta ke não seja por konkista Os seyos, são doys montes Sakrosantos montes arketipykos Perkorrê-los kom respeyto e devaneyo Mas á os bikos, mamilos ke asezos

162

Vensida mays a etapa konsegida Sem ke posa perkirir kwalker vitorya Atento se konsentra em sua lida Tal se presta a um mandado ke divino. Os pelos eskorrem desde sima A intervalos se xega ao ponto vivo Ke pulsa komo um kwazar no esterminyo Enerjia ke inversa aos suysidyos E a naw enkontra o inkonkisto Aterra a rubra karne, e os anjos gritam! Agora, navegante, estás sozinno Frente ao muyto ke é tudo e é vazio Á um xeyro de mar, revolto Um alyto de morte Um laso ke se afroxa e nem pensar Ke ezista owtra vida, ow owtro mundo E a naw, por dever ow por destino Inkomensuravelmente mayor ke o infinito Mergulla rubra forsa e penetra A gruta mays aberta em dezafio Ke se fexa e é uma konxa, é um marisko Nem á preso para morte asim tão digna Kwando o gozo dezabroxa, !O Verbo grita! E kria tudo o mays anverso em volta Brankas almas ke mergullam, gaivotas Prazerozas em voltar de volta à vida

163

Kwatrillo Owtonal (Aos Muytos Modos de Ler)

para Flávio Rubens

Vieram pedir ao poeta a kantar sonnos e esperansas

um poema kriansa

o poeta abriw sorrizo de papel em branko

na folla poezia

lá fora, no owtono uma esperansa

uma borboleta sonnando

tal kwal o poeta, não se impasienta ke elas sempre xegam, as flores

sabendo da primavera

Keda-de-braso Não abrirás mão de nennum poema - tew Em buska de mallarmés, baudelaires Ow de jovens rimbauds Não abrirás mão de nennum poema - tew Mesmo ke nem drummonds, vinisyus bandeyras Não abrirás mão de nennum poema De nennum instante Da tua poezia E ke atire a primeyra krityka Akele ke nunka pekow por pregisa 164

Ritual de Vestir ...já ew, por primeyro sey de um Kristo embora o menino (ainda o owtono ke sow me fasa aos ainda pagão por falar niso, também ew sow masa em mãos de muller: komeso inteyro, traveso me avexo À travesa aos pedasos vow ainda me sey planetaryo, brazileyro, karioka, plenitude e awzensya de kor Mas nada diso me muda o plakar Ow seja lá ke muda flor !Ó..., vida mundana! Kwal pedaso oje me visto Em ke detalle me alisto Aos modos de ser kem sow (Sem ke a vista um owtro amor)

Deliryo pós-antropofajyko n° 60 A ezistensya antropofajyka é imanente a todas as koyzas vivas. Tudo kwanto vive posuy a sua proprya filozofia antropofajyka, enserrada em si mesmo, o sew misteryo. Não kabe ao poeta debrusar-se sobre o objeto komo um sujeyto esterior a narrar informasões sobre a koyza em si. É presizo tornar-se o propryo objeto para konneser, ezerser e ampliar as suas kwalidades. A poezia antropofajyka propisia, em profundidade, tal metamorfoze epistemolojyka. Em owtras palavras: o poeta é mesmo uma metamorfoze selvajem, e o poema, algo ke rosna e berra e xora e ri e se enkanta e se abre em janelas para os eternos vazios infinitos da poezia... 165

Epistemolojyko Para ser poeta Espremeste a larga alma A tays agwas ke o Espiryto Perdew todo o sew sentido No deziderato de ser palavra Mas olla se não é ela ke pasa Para ser poeta Trokaste tews versos por... Gargallarias E as klamava alto na ágora Awmentando o som dos rizos Mas olla se não é ela ke pasa Para ser poeta Sakaste da aljibeyra a lira da alma !Ke lastyma! Olla se não é ela ke pasa Para ser poeta Depozitaste kontrito Não trinta, trezentas, trinta mil moedas Mas os brasos da serpente Olla, olla, se não é ela ke pasa Os seyos tremwlos As koxas largas A boka ainda umyda Dos tews primeyros versos

Deliryo pós-antropofajyko n° 61 ...poemar sem transgredir é komo amar sem posuir... 166

Moyra Ela estava preza no sinal de tranzyto Um powko aflita me paresia Aselerava o karro komo se fose o frio Das Montannas Nevadas Enkwanto ew bayxava o vidro, ela... Estava na mesma festa ke ew, solenes Komo se fose o dia da sua formatura Kolejial Avia tanta jente entre ela e ew E ew ainda tinna akele antigo kopo jelado na mão Abrindo kaminno na multidão, ela... Estava a kaminno da praya, um riko de um xapéw de palla Levava uma koka-kola na mão e na owtra... nada Avia uma larga kalsada e os karros O sinal verde fexado Bem ke ew tentey sorrir um owtro sinal Mas ela ia lonje, lonje, lonje komo se ew fora o sonno, e ela a realidade

Deliryo pós-antropofajyko n° 62 O poeta ke buska transsender as koyzas simples, não obterá mays ke uma palyda ideya da transsendensya; mas o poeta ke buska a transsendensya das koyzas simples, ese, obterá a poezia 167

Valkirya

168

The Fairy Queen

Uma bela y ezoteryka muller... uma bela tarde... Uma bela kaxoeyra, suas agwas... Ke ela dizia enkantada... Os rizos...os jemidos... Da sua voz de arpa e flawta estoryas de gnomos...duendes...silfydes... Elfos Ke por ali abitam... Oje Á tanta agwa pasada... Gnomos...duendes...silfydes.., elfos... Misturam-me na memorya oje só palavras Mas sews rizos kristalinos Sua bela kaxoeyra, akela bela tarde !a...! os mistykos jemidos da sua voz de fada...

Deliryo pós-antropofajyko n° 63 Jamays, mesmo em nome da Mayor Luz, o poeta abdikará de suas sombras. Na alma de kwalker poeta eskuridão e luz estão sempre se akarisiando 169

Um Graal

...eskeser do fragor das batallas as masymas as minymas tudo o ke seja derrota, poys – e komo dise Bolívar – ...nunka é mesmo a ultyma derrota... ...eskeser tudo o ke em tua memorya... memorya de menino rezulte em odyo ow dor para ke o poema seja apenas ino kwal seja o jênero epyko liryko para ke o poema seja nos espasos do intanjível apenas um fiapo de fio dos umanos nós

Omo Simbolykws Três vezes o omem se aseyta Em purgatoryos Três vezes o omem se nega Aos infernos Para ke asim três xanses o omem obtenna Viver sews paraizos 170

?dás a iso o nome de amor? A mim xegaste komo um pardalzinno morto Tremwla de frio, faminta de amor Em minnas garras, depoys kalejadas, sekaste tuas azas tuas agwas tuas almas Em minna fronte bebeste – !A Vida! Novamente larga, infinita Destemida Em minnas mãos te akeseste – “!Não me deyxes!” Nas fronteyras do gozo – sábiálaranjeyra A reklamar antigas penas Minnas azas kebraste, mews gritos de agya Kalaste Me deyxaste o eskuro das mãos ao rizo alegre dos tews pekenos vôos Os tews jemidos, e os tews enjôos e deste a iso o nome de amor

Lojyka Metaforyka Nós nos debatemos Entre a Lojyka e a Metáfora E tanto faz ke uma dite Normas ke à owtra, sons inawdiveys Nós nos debatemos. E nos dividimos Marxamos inkolwmes A owtros owvidos Até ke um dia Serto alarido Nos entrega à owtra, surdo-mudos Até ke – mesma noyte, mesmisyma ora Nos rastejemos àkela, Sem nennum sentido 171

Epistemolojias

A finalidade do maxo é manter erekta a sua personalidade E à fêmea, kabe komover-se Até às lagrymas Desde sima aos mays embaixos Oje, o séw azulklaro anunsia um belo dia de praya Agwa salgada nas veyas, agwas salgadas Brinkamos felizes na distrasão dos komandos naturays Ela sorri, sorrateyra Ew – sow seryo Só um powko, me enkosto Ela é pronta Enkwanto uma onda, xeya Enxe mays ainda os mews todos motivos Na praya, é kalma, é paz – kriansas brinkando Kastelos de areya Kojitos ergo sunts Nunka mays

Deliryo pós-antropofajyko n° 66 Entregar-se a alma às korredeyras é abdikar de ambas as marjens. Nennum poeta say inkolwme diso. Nem infeliz 172

Kafé solúvel, leyte desnatado Intelijensya, korasão e nervo denso Três aliados d’alma buskey fazer [Ao mew propryo mens sana in korpore sano Atenas, Afrodite & Príapo Dioniziws À sombra dos ollares de um Pater Liber Não digo ke deses pratos espuryos nunka provey (sempre mays de uma vez Sem arrependimentos, segredos Ke mal gwardey Ela Não entende nada do ke ew susurro Mesmo ao pé do owvido eskerdo e os ollos ke o jornal aberto em leke eskonde se fexam para eses mews mundos eskizitos Lá fora, um sol keyma; uma lua teyma As plantas kressem, gramas e kapins As árvores e os jasmins Kwanto a mim kalmaria marezia De alma esbugallada para os orizontes sow feyto de murmuryos ke sim, sim de murmuryos ke não, não enkwanto os awtomoveys, e os pedestres enkwanto as notisyas, e as polisyas enkwanto as krizes ekonomykas, e as politykas enkwanto os esportes, e as kronykas segem levantando as xíkaras desas mannãs de café au lait

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It’s Up To You

Vim à tua vida para te misturar O tew dezejo kom tew jeyto De se fazer amar Vim para te misturar O tew beyjo kom a tua boka umyda de um torto esperar Vim à tua vida para te misturar A tua ira kom a tua vaidade A ver a esplozão ke dá Vim para te misturar O tew ollar gulozo Kom o fruto saborozo Ke tanto kerias provar Vim à tua vida para te misturar Depoys – mero instrumento, sair dela, a tua vida: Ke a tua vida é a tua vida... Mistura grosa ow fina, é a tua vida It’s up to you, I’m not suppose to – but lucy in the sky with diamonds – fazer vosê brillar (He loves you, yê, yê, yê…)

Deliryo pós-antropofajyko n° 67 Toda arte é poetyka. Ow não é arte nennuma 174

Mew Reyno Mefistofleno Ew tenno rayva, ew tenno odyo Ew tenno em mim um inferno Liberdade, a minna proprya liberdade É tudo o ke ew kero Tenno paradigmas morays – é serto “amarás a tew prosymo komo a ti mesmo” “amarás a sobrevivensya da tua espesye komo a ti mesmo” Dews – tudo kom adekwadas distansyas De resto, Rayva – odyo - inferno Tenno em mew korasão Para além dos ferros Akordo, levanto, eskovo os dentes Kafé kom leyte, o pão fransês Tal kwal todo mundo Mas a minna liberdade, Neses parkos sinkwenta metros kwadrados Do mew apartamento alugado São mews Neste pekeno reyno sow livre – sow rey Kwal rainna – ke tanto espero – não sey !Mefístoles, tua vez

Deliryo pós-antropofajyko n° 68 Não é lisyto ao poeta kompor sem algum tipo de odyo; às vezes, é mesmo sew mister agarrar-se a ele 175

Treppo, ergo sunt

A Orijem, O Prinsipyo O Inisyo de Tudo Asim no Universo Komo na simples vida mesmo

meskinna

Da formiga ao umano Tudo se inisia – O Unyko ke importa É paw duro e xota mollada E isto ainda é poezia

As rikezas, os imoveys, os awtomoveys As jeladeyras novas, os televizores De não sey kwantas polegadas As bibliotekas, as videotekas, as amizades Mesmo as tribos, masonarias e as familyas As profisões, os susesos, as selebridades E as selebrasões Tudo, tudo o ke mays importa É paw duro e xota mollada Y todo akelo ki no es lo mismo pero es kwaze igwal E esto – kreya – ainda es poezia Todo lo resto es vil metal

Deliryo pós-antropofajyko n° 69 Se somos, poetas, antenas da rasa, à linnas kruzadas, interferensyas, balburdyas de sons e palavras, entrekruzando-se por todo o planeta Terra. O poeta deskonfia ke mesmo dos séws balbusiam-se diskursos 176

Espreso 999 ?Kem foy ke inventow Ke vosê é vermello Ke vosê é azul Kem foy ke inventow? ?Kem foy ke inventow Ke vosê é eskerdo Ke vosê é direyto Kem foy ke inventow? ?Kem foy ke inventow ke vosê é brazileyro ke vosê é estranjeyro Kem foy ke inventow? ?Kem foy ke inventow ke uma koyza é uma koyza ke owtra koyza é owtra koyza Kem foy ke inventow? ?Kem foy ke inventow ke vosê é as mulleres ke vosê é os omens Kem foy ke inventow? ?Kem foy ke inventow ke vosê é terra ke vosê é séw Kem foy ke inventow? ?Kem foy ke inventow ke vosê é orizontal ke vosê é vertikal Kem foy ke inventow? Poys ew, poeta, não fuy

177

Pós-Solidão É sábado, e é noyte Mew amor número um é estatyka Mew amor número doys é dinamyka. É sábado e é noyte Não estamos numa sesta-feyra Muyto menos numa sesta-feyra à noyte. Poys é sábado, mays ke tudo é noyte Não se trata de uma sesta-feyra das payxões Kwando os instintos se disolvem E engolem as razões Sábado à noyte, momento de saturno E por soturnos se eskondem os nosos korasões A primeyra é fria à sua maneyra, estatyka “ – Sow só, mas sow independente” Akostumada aos eskuros de um leyto feyto de kriansas. A segunda, sábado à noyte, é fria também – por owtros motivos A segunda é dinamyka. Ela buska mays ke nunka o jelo das desizões “ – ?Kwal importa? Não é tudo o mesmo? E enkontra as kalsas ke às sayas dizem: Solidão kum dignitat É sábado à noyte, não é de mannã, nem é de tarde Também para mim elas são duas e são a mesma uma numa só É sábado à noyte – estatyko e dinamyko ew sow Ora mays lijeyro – ora reparo no pó de uma dobra de kadeyra Elas se divertem, talvez – talvez me tentem eskeser Sayo para o patyo e o palyo de luzes subyto me entristesem – as estrelas É sábado à noyte – e por mays ke ew pense e tente me emosionar Nem os brankos kornos me nassem à kabeseyra do mew ser Para ke mews ollos fexados, minna boka bosejante, todo mew korpo enfim Não ezijisem de mim esa urjensya em dormir E ew pudese ao menos sofrer a dor d’un temp perdu

178

Maturidade Sow frio komo um sol de inverno Kwando uma lua xeya ferve Atraindo vampiros Esvoasam e konfundem-se Às luzes amarelas, aproveytam-se dos kyaroeskuros Permaneso frio komo um sol de inverno Disfarso-me, os amarelos Enkwanto me bikam os intestinos e o fígado e o baso e todas as vísseras servidas aos bons bokados Mas permaneso frio komo um sol de inverno apezar de todas as vãs tentativas dos ke se alimentam das sombras ke não korrem bayxo as árvores Lá fora é noyte, ontem Lá fora é dia, oje Multikores são lansadas aos orizontes entre sorrizos e emosyonalidades Kwanto a mim Sow frio komo um séw de inverno E nem seker tenno sawdades

Deliryo pós-antropofajyko n° 70 Somente o poeta ke sabe o misteryo poetyko de um sagrado korasão pode ambisyonar saber da poezia os poemas 179

O Poema e A Letra Fazer o poema mays muzikal Melopeyka fortuna Em ke os muzykos do mays klasyko, maestro ao mays banal Não owze dizer palavras em pawtas, simbolins Fazer o poema: anunsiar !IDOU H MOUSIKH! E ke a arpa se enkante Em nada traduzir !IDOU TO POIEMA! Ontem mesmo, mays um amigo Me traduziw as sílabas em notas Feliz ele estava – elojiozas finuras Enkwanto da Ágora o intymo koro: Sófokles! Eyripydes! e Eskylo! Safo e Alsew: O sofrimento dos poetas não tem fim (enkwanto um Bakus Dionizyus sakode as pansas e ri

Deliryo pós-antropofajyko n° 71 O misteryo do fazer poetyko se eskonde nas kurvas da livre rima ritmyka 180

Duas Oras da Mannã

São kwaze duas oras da mannã Na alma já um klarão apresando o amannã As kambaxirras trinando sews kompasos Ke me komovem às entrannas De um tempo em ke se owviam ainda Os misteryos susurrados pelas sombras Ke se despediam dos sonnos Murmurando – volte para mim A angustya subyto desperta Nem se dá konta das oras E buska aprovasão enkwanto dorme A palavra amiga prosyma e distante O telefone toka (inkolwme) A noyte reklama – !?Iso são oras!? Envergonnado, rekollo-me – Um ultymo gole... E já vow dormir (talvez, kom um powko de sorte sejam sonnos de sorrir

Deliryo pós-antropofajyko n° 72 Imajinasão é Razão e Emosão fazendo amor kom Tezão (Asim nassem os poetas 181

O Relojyo Xega sempre o momento Em ke o travo da serveja amarga E fikamos asim, asim Kontemplando a nós mesmos kom os ollos Não somos ezatamente o ke aos ollos

alleios

dos owtros somos Não ezatamente Mas somos um powko (às vezes tanto) o ke aos ollos dos owtros estamos A lingwa de bôy, os ollos morsegos Os labyos resekados A fase kwaze obssena Xega um momento em ke nos vemos Aos espellos E kwaze akreditamos Ora de ir para kaza – nos dizemos E dormir E no entanto insistimos em nos eskeser Por mays alguns momentos até o amanneser Mas é noyte ainda Alma eskura ?Por ke nos preokupar? !Eys ke a mannã nos flagra! Kwaze envergonnados kambaleamos em diresão à kaza Talvez lá dentro, a kama ainda kente, Ela espere por satisfasões Talvez Mas kom serteza, não Ela não me espera por satisfasões 182

Poys esa é a sentezyma noyte Após o ultymo perdão Abro a jeladeyra e o frio Me aviva a razão Puxo a penultyma serveja Sem kopo, atraente gargalo E kem sabe ainda keyra ligar a televizão Três pasos para a solidão Definitivamente sow feyto de frios E ferro, e jelo, e sal Por iso me deyto de sapatos Por iso um monte de pensamentos dezenkontrados buskam em vão ?Ke me importa? - ?Kem se importa? Kom a porta ke eskesi aberta Para o korredor vazio ................................................................ E lá kwando o despertador desperta !Traballo! !Salaryo! Lá – ao menos Ainda têm medo de mim

Deliryo pós-antropofajyko n° 73 Doys monólogos-preludyos, por mays ke se akarisiem, não fazem um diálogoorgasmo (o poeta, ao telefone kom uma antiga muza 183

Esas Follas Ke Kaem O verão se vay ao fim Um verão prejudikado por dejelos e rasgos

Na kamada de ozonyo Dizem – os entendidos

O serto é ke o verão se esvay E as agwas de marso são komedidas Não agwam a alma Não lavam Akaba-se de ir o amor prezente E o amor pasado, Embora as tolas promesas, Ke a jente sempre espera esperansas, O amor pasado são agwas Ke apenas mollam a boka sedenta O amor pasado não falla: sempre pasa Estow só - novamente E por iso devia regozijar-me Sidadão ke sow De uma sidade feyta de karnes avydas Mas esas árvores Esas follas ke kaem Esas brizas matinays Ventos à tarde E esas kansões ke me akodem a alma E esas vontades ke me vêm e vão E novamente esas follas ke kaem E mews propryos gallos desnudos E esas tarefas domestykas ke não se enserram nunka E esa morte ke se delonga e se delonga não vem E ke me faz subyto desperto E a kampainna da porta E as karnes bovinas ke xegam 184

E o xeke ke asino: oytenta e sinko reays e kwarenta sentavos E kwando o telefone toka E sow destro, sow pronto, sow karnívoro – !? Alô, tudo bem?! E logo depoys Esas follas ke kaem Apenas sujam o mew jardim Atento, me penso Esas follas ke kaem Apenas sujam o mew jardim Rezignado, kato-me as follas brankas ..................................... ?kem presiza de owtonos?

Νοµων Ke me importam sews furunkwlos Kokares Kolares Tribos Apenas kero a muller Ke a Ley Mayor fez komigo Maws merkadores vosês kobram do amor alto preso: À uma ke se eskesa as azas à owtra ke se korte as patas ke me importam sews furunkwlos kokares kolares tribos A penas kero a muller ke a ley menor fez komigo ?Kwantas estrelas ezistem Nos séws dos sews paraizos? ?kwantos sapos kwa-kwaxam nos xarkos dos sews dezignyos? 185

Não Averá Paiz Nennum

...kero viver !Kero Viver! !KERO VIVER! Kero viver em permanente estado de fiksão Aseitando Jezus no korasão Kom Bokaje, Sade, Safo, Kamões Ew kero vivermo-nos As delisyas de todos os infernos Kero viver os paraizos, Os inaksesiveys dos infinitos Dos Séws e dos Abismos Ke purgatoryos são futeys danteskadens E ew kero é vivermo-nus Xega dos medos de me dividir, razões de subtrair Para somar solitaryos unísonos Aos komandos das bestas piramidays Para fazer um paiz $$$$$$$$$$$$$$$ Não kero paiz nennum Kero-me individwossssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

Deliryo pós-antropofajyko n° 42 Á...!, poeta, kwando aprenderás a odiar sem poezia? 186

Korasão Inesperto Mew korasão – e apezar dos lasos. dos nós das tripas ke lle ezijem o sange Mew korasão permanese aberto Embora me alertem ke sow vello Para tays estrepolias Mew korasão aberto Mew korasão aberto Ke não se fexa Por mays ke as intelijensyas komandem - korasão Inesperto Mew korasão aberto me enkontra as fases livydas o korpo erekto Mew korasão aberto - ?kwando se fexa? Mas a kaza do mew korasão tem muytas moradas Todas portas abertas Para os infinitos prosymos e distantes Para os individwos konfesos

Deliryo pós-antropofajyko n° 65 O poema é sempre, tanto para o awtor komo para o leytor, uma viajem em buska da revelasão poetyka. Não á modelos poetykos para além do ke é propryo à espresão de kada poeta, à persepsão de kada leytor. O ke mays importa é se o poema logra estabeleser uma relasão jenuina, entre os relativos ezistensiays(lingwajem, individwo) e os esensiays absolutos (Dews, kosmos, Mundo, Ew Profundo, Umanidade, ow o ke kizerdes). Asim sendo, não eziste poezia sosial: poezia sosial é sosiolojia; não eziste poezia polityka: poezia polityka é ideolojia; não eziste poezia filozofyka: poezia filozofyka é filozofia. O poema é um rito de fé no mundo em buska da sua revelasão poetyka 187

AKATÍ Voltey

Para reviver os antigos paraizos Me ofereseste, dadivoza Antigos purgatoryos Aos meyos dos infernos tão antigos Antigos...ó...antigos...ó...antigos purgatoryos Mas as velas do mew barko balowsante Não atrakaram tew kays Nem antigo Nem moderno O oseano, o mar bravio Feyto de prezentes...pasados...futuros Feyto de urjensyas...de lasos imediatos E a ventura de ser sempre navegante Falando mays alto Ke as karisyas prometidas sem verdades !Terra à vista! Em tew jardim, bem-te-vis se alegravam À minna xegada Pardays marrons saltitavam E os beyja-flores sedentos, deskuydados No agwardo De abrir-se jeneroza a dose flor !Ó ludyka vida! Ó dose mel da ezistensya infinita Voltey ................................................................................. Antes o mar adamastor Poseydons sem senso de umor Ke o tew falso sorrizo A me atrakar A antiga dor Marinneyro me vow, navegante navegar

188

kem sabe mays adiante me volte Em tew sestante distante Venws no séw brillante E sorria um korasão dezantigo Ainda xeyo de amor Aos enkwantos Prefiro Adamastor Inimigo sinsero Poseydon sem senso de umor !Isar velas! !Rekoller velas! Remos e a forsa dos brasos Às kabeseyras do mar Kero sirses, kero kalipsos, kero sereyas ¡Ítaka traysoeyra! Tew antigo kays Fikow pra tras Ke retornar é morrer

Rekaida Ó Dews oje afasta de mim o tew kalyse do vinno viril ...ke oje prefiro-me pekenino liryo deses, ke se vay pizando nos kaminnos perdido na vorajem dos kapins... ...ke ela vem e kolle distraída komo kem apenas subyto se espanta kom a delikadeza dos tempos d’antes... 189

Ministeryo I love trees, growing up – the flowers I love people, growing up Smile I love women Ay!, I love women very, very, so more and so much Growing up I love my penis, growing up Ay! I love so much My penis Growing up I love God, growing up On my heart, on your heart Growing up (and I love even evil growing up but smart I love even evil, growing up, but smart If you have that old and empty doubt Look to the stars, as well you rise a smile Let all Human and Nature, lying on your heart To get through your life Growing up

Deliryo pós-antropofajyko n° 74 O bikinno-de-lakre powzado no ramo à janela do poeta anunsia ke a fé, a ke move montannas, nasse da alegria (o poeta, kom um sorrizo tolo nos labyos 190

Ministeryo n° 2 O objetivo da vida É viver morrendo-se Depurar-se dos osos à medula Do nervo ao muskwlo Do sange ao sérebro É transformar-se, de karne Espiryto Ser o espiryto ke komanda Não o korpo ke obedese Das koyzas ao espiryto das koyzas Do mundo ao espiryto do mundo O objetivo da vida é O Kaminno Do nada aO Tudo Poemas Somos sempre os meyos Para os amplos infinitos Morrer-se É levantar ânkoras e ir-se De portos inseguros a oseanos trankwilos Duas ow trez koyzas devem ser kwydadas, no entanto Os kompanneyros de viajem Os kantos das sereyas E os sopros dos dewzes (os ventos nos tews impulsos

Deliryo pós-antropofajyko n° 75 Ollar a si e as pesoas todas em sua karne viva, em sua alma aflita, esta a maldisão mayor do poeta. Também sua salvasão 191

Noz de marinneyros Se á estrelas em nós Tão luz ke nos fasa ir Kanto as trevas em nós Tão luz de nos impedir Se á estrelas em nós Tão luz de nos impedir Kanto as trevas em nós Tão luz ke nos fasa ir Os Mares e os Séws (Diz o mew sestante) Não brigam nem se negam Mas se apoyam e se ekilibram... A Vontade ke á no Kosmos é a vontade ke á no kaos A Natureza e Os Séws Não se negam... se ekilibram... Navegar mays é presizo... lego ludyko ...navegar mays é presizo... ego multyplo (...e fike kem kizer kom sua tribo sem ke me enxam o sako por iso...)

Deliryo pós-antropofajyko n° 76 Ao poema, de nada vale a indiferensa ow a vaya dos ke não tem owvidos para owvir, ollos para ler, nem mãos a abrir o livro kom fé. A eses o poeta só se dirije por parábolas 192

Korpws Kristy Oje é dia de Korpws Kristy E á muyto mays fantasmas no porão Por akazo o séw nassew, e sustentow os azuys klaros desas garras kwaze brankas Sugamos kamikazes todo o eskuro das noytes lobizomens E aseytamos nosos odyos kom naturalidade madame palreando aos espellos dos salões de beleza !Bon-soir Tristesse! Não asustas mays Aki e ali obtemos rowbar nakos de felisidade A felisidade é um rowbo – dise um filózofo E se asim não dise foy o ke kis dizer Poys afinal iso implika implisyto em todos os kânones osidentays De resto, os awtomoveys persegem buzinando Os asaltantes persegem os klase-medyas As polisyas persegem os klase-medyas Os governos persegem os klase-medyas Os klase-medyas persegem os klase-medyas Mas aos kyaroskuros todos finjem ser iso ow akilo Por medo da kruz Oje é dia de Korpws Kristy Eskesamos os korpos putrefatos no porão

Deliryo pós-antropofajyko n° 77 A arte poetyka: esa meduza, esa idra de lerna, esa venws implakável. E esas arpyas e farizews a subtrair orfews 193

Semypoeta Se não á palavras, para espresar na lingwa O kaos do ante-kaos As invensionises dos imbesis Ao tentar subtrair a lingwa Da boka jeneroza dos ansestrays Apenas prova ke esas antropofajias Ainda são pekenas demays Mas vay, poeta, kontinua O tew poema. Makina o verso Fasa-se de dezentendido Ke na eskina Os ollos monstros permanesem abertos Às sombras em tuas retinas Vay, poeta Makina o verbo Livra-te desas midyas Das akademias invadidas pelos bárbaros Se konstantinopla kaiw !Fasa-te Atyla! !O mayor dos UNOS!

Deliryo pós-antropofajyko n° 83 ?Vosê me sabe, leytor Pelos owvires ke owvem Pelos ollares ke vêem Ow pelos korasões, momentos ?Kways razões, tews sorrizos se abrazam 194

Ese papo já está pra lá de kwalker koyza A minna mão direyta tremula Komo uma bandeyra gasta De uma ultyma batalla Desas gerras perdidas A minna mão eskerda é Bokaje Kom suas desbokajens É Joyse, dando a Molly status penelopeno É Volterre, íkone das minnas libertas aos opyos akanallados Mays ainda Pound, o Ezra Das makarronykas poliglatias Kom eles, e mays owtros amigos Fazemos da Ágora pley-grawnd Y de la Akademia Patyo de los milagres

Antes ke ...teser, zelar, enamorar-se da ópera obra de uma vida mesmo destas, komezinnas tudo ke ao imajinaryo mays importa todos os tempos, desde os mays pekenos Todos os espasos, mesmo anxos, mesmo magros aliando-se às mays rowkas empreytadas aliar-se às lojykas só enkwanto não provadas persistindo persistir em sendo umano para allá, para muyto mays allá ke a fera makyna (de saya rodada ow paletó e gravata) ...teser-se, zelar-se, enamorar-se antes ke sejas tudo muyto tarde 195

Intelijensya Poetyka n° 2 Sow poeta, apenas mays um poeta Intelektual o poeta não é Se akademyko buskas tuas intelijensyas No poema Buskas porke keres, do poeta A imajem e semellansa de ti Mas poeta não és Intelijensya atada Aos jelos e setins Keres espello Da tua aventura (para a poezia, espurya) Ao sabor do mundo feyto Ideya Sow um poeta, apenas Não invejo o ke és ?Então porke kom mil diabos Keres de mim reflexo Da tua rala veya kardíaka Da tua powka dor Sem a alegria dos ke kantam kansões de amor?

Deliryo pós-antropofajyko n° 78 Nennum poema vem para trazer a paz, também a espada O poeta sabe ke o verso ke doy em si doy em toda a korrente umana ke em si lle korresponde. O mesmo para o verso ke o alegra. Mas o poeta sabe mays. Seja kwal fôr o verso, o anverso lle ezijirá o sew kinnão. 196

As Serdas da Lira

Às vezes, o poema á ke ser inferno para fazer nasser os Séws no korasão desprevenido Às vezes, o poema á ke ser efêmero para fazer nasser o eterno no sérebro pretensiozo Às vezes, o poema á ke ser só verbo para ke não se eskesa a sílaba da lingwa frater Às vezes, o poema á ke ser sawdade para ke não morra no korasão o majyko pasado Às vezes, o poema á ke ser kaskallo para ke não morra o umano no poeta alado Sempre o poema á ke ser do verbo-poezia eskravoliberto

Deliryo pós-antropofajyko n° 64 ...kaminnará o poeta pela Ironia até obter rir de si mesmo. Só asim se livrará das kotidianas lagrymas... 197

Para Enxergar À Noyte, é presizo

primeyro: ter medo – muyto medo e respeyto ke a noyte é perigoza, poderoza, e sempre kobra dakeles ke violam os sews segredos

Tem ke ser dela amigo, muyto sinsero e amar em suas sombras, deskobrir – o ke á de belo no mays aveso dos brillos Mays ke nesesaryo saber dos sews servisays: morsegos, kobras e sapos korujas, gatos e ratos Asim komo dos sews menestreys: os ke traballam à noyte, os mendigos – o ollar dos asasinos, os sios inkontidos, e os jemidos dos ke se entregam aos suysidyos A ke já ter bebido tanto, ter kaído – anjo na sarjeta adormesido E agradeser, komo a um dews, ow a um sinsero amigo ao kão aleyjado, vadio, ke lle veyo lamber o fosinno É atravesar getos e fewdos – nas ruas, nos bekos entre os tipos mays eskizitos, anormays E sentar-se entre eles, ser mesmo kapaz – de falar, de kalar sem despertar os animays Saber das fazes da lua, e – tanto kwanto ela o permita – da sua fase obskura Akreditar em São Jorje e no Dragão – eskollendo, de pronto, o sew lado a sua misão E arredar de si toda esperansa – de ser um omem inteyramente bom; A ke xorar, dezesperado – o xoro mays afogado e solusar o mays alto – sem ke perseba o kazal da meza ao lado E o sew rizo, o rizo da alma Mesmo à mays alegre gargallada Nunka deyxe algém entristesido A Fé, deve ser absoluta: em si, e nalguma krensa okulta E a sua luz à distansya se oferesa – tanto ke a konfundam kom o kaminnar de uma estrela Para enxergar à noyte é presizo levar a alma sempre eskuresida tanto kwanto ela mesma, se posível – nunka dezatar dela o umbigo; Konneser de toda verdade toda mentira – e, fundamental: ke a noyte é klara, ke eskuro é o dia 198

A Poezia é O Verbo ...poeta lles digo: A Poezia é O Verbo Dominyo Dos Espasos Infinitos ...o poema, é só a arte do poeta de kompartillar o verbo e o vinno... alguns poetas são, eles mesmos o sew propryo poema Levam a poezia onde vão komo os profetas de Sião

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owtros, talvez por muy awtokritykos seja por muy diskretos gwardam a poezia konsigo nakelas arkas de menino e se estaziam, sozinnos... aos porões....dos eskondidos... Á os ke ofisiam... ...e os ke a silensiam... aos sinturões de kastidade das palavras sem viso y é klaro, á muyto mays ke iso... kwanto a mim faso o mays ke poso ...kom tão powkas azas... kom tão powkos sinos

Deliryo pós-antropofajyko n° 79 ...em kada poema pulsa um sagrado korasão... 199

Ezistensialismo n° 2 Dews é Ser Dews é Não Ser Dews nem presiza ezistir Kem presiza ezistir somos nós

Révéyllonlatyon Os fogos espokam artifisyos Na noyte eskura: Luzes-Lagrymas de Kristo Gotas rutylas de luz eskorrem-lle pelo rosto Amarelas, brankas e azuys Enkwanto o povo se alegra em mil sorrizos Em Ipanema é Ano-Novo, é Vita Nwova ...Iemanjá abensoa tudo iso Ao som dos batukes, à luz das velas Mulatas em korpos kebradisos Dansam um ritmo belo e antikwisymo Nas areyas todas, à mão das ondas Nos korasões, neses gritos primitivos Sews dewzes realizam todos os feytisos Em Ipanema é Ano-Novo, é Vita Nwova E korre pelo povo um rumor afrodizíako Os fogos espokam artifisyos, enkwanto gotas rutylas de luz eskorrem-lle pelo rosto... Iluminuras lagrymas de kristo 200

Signifikansyas

Maltrato tanto, tanto A Lingwa Portugeza Maltrato tanto, tanto A Lingwa Espannola Maltrato tanto, tanto Até ke implorem Ke fasa mews versos nelas Poys se já as amo tanto, tanto A Lingwa Portugeza A Lingwa Espannola Poys se já as amo tanto, tanto Ke só as espanko Para koller florbelas Maltrato tanto, tanto A Lingwa Portugeza Maltrato tanto, tanto A Lingwa Espannola Maltrato tanto, tanto Suas primas y ermanas A Ingleza Amerikana A Lingwa Franseza A Lingwa Italiana y All em mannas A ke sejam todas sizo: xoro e rizo Da Brazileyra A-Orta

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Nada Mays Ke Poeta

Sow poeta Apenas poeta Nada mays ke um poeta Kwando lanso mews dardos Kwando aperto mews lasos Kwando me faso de galo Kwando me fazem de pato Kwando falo Kwando tallo Sow poeta Apenas poeta Nada mays ke um poeta Kwando me firo nos sios Kwando me ardo de amor Kwando dos Altos me grito Kwando me faso menor Kwando sow kaminno, kwando sow dor Sow poeta Apenas poeta Nada mays ke um poeta Tudo o mays é kontradansa Tudo o mays é peripesya

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vida de poeta nº 2

!A..., esta minna vida de poeta! !A..., este mew korasão de poeta! esa minna muller de poeta eses mews fillos de poeta eses mews domingos de poeta eses mews amigos de poeta !Á, ese mew Botafogo futebol de poetas! !ese Leblon!, sidade de poetas eses mews livros, eses mews diskos, eses mews vídeos de poeta !Á, eses xopinnos e vinnos de poeta! (esa menina vadia rondando o mew tezão de poeta) !Á, esa tristeza de poeta! tristeza dose, tristeza salgada pipokas, pororokas de poeta !Á, esa minna kaza de poeta! ese mew kaxorro de poeta e esa gata, !klaro!, de poeta !Á, essa minna kama de poeta! e esta sawdade imensa dA Poezia

Deliryo pós-antropofajyko n° 80 Não basta riskar apenas a fagulla primeyra. É presizo asender o fogo. Manter sempre aseza a xama poetyka. Insendiar em eros. Por ke fazer da prekarya e lijeyra vida umana um eterno koytws interruptws? 203

Ermenewtyka A Muller ke ew kero É klaro, não é a Muller perfeyta, desas ke não ezistem (e todos bem o sabemos, embora os kodygos, manuays e katesismos – perfeksyonismos digam o mesmo kom owtras intensões Nem ew mesmo busko ser perfeyto para a Muller, ow kwalker (embora eses mesmos kodygos, manuays e katesismos perfeksyonismos sonsos ezijam A Muller ke ew kero, basta ke esteja sempre nua aos mews verdes ollos Ke me oferesa um kafé, enkwanto poeto Ke me provoke os sentidos aos intervalos dos imajinaryos Ke mesmo seja um koytws interruptws Para ke o verso seja orgasmo A muller ke ew kero, deyta-se langyda aos sofás Folleando um livro kwalker, talvez uma revista feminil Mesmo um artigo viril (kurioza), ow asistindo um filme Drama ow komedya romantyka Whatever Ow um disko pregisozo na vitrola, saboreando piazzolas xokolates, mariolas – asukares sem medo de se pezar A Muller ke ew kero sabe o poeta Mente, sinserisyma, ke o jenyo Não pelos titwlos akademykos ow politykos Sérebros versus sélebros A muller ke ew kero Sabe de mim A Muller ke ew kero Sabe, komo muller, separa 204

Realidades de fiksões Mews álkoos, mews tezões A muller ke ew kero não uza, komigo Kalsinnas ow sutiãs A muller ke ew kero está sempre nua Perante mim A dezatar-me, vez em kwando Os nós das gravatas, os botões Na sufisiensya femyna Das nesesidades sem fim A muller ke ew kero é gerreyra – nesas gerras dos seksos Poetykamente sabendo Ke não temos nada kom iso A muller ke ew kero interpreta minnas promesas A Muller ke ew kero, é esa E esa, só a esa muller !Ew amo!

Debaixo das rodas Mews mortos me abandonaram E ainda nem é meya-noyte Nesta sidade de dores e prazeres dispersos Dos kways alkanso somente o tato Komo a agwa fria da torneyra aberta Deses mares ke nos transparesem a materya E nos afogam as lagrymas em agwas mayores Tento dormir. Tento dormir para o amannãsedo O sol nas frestas dos sonnos Uma teta apontada para o oeste das iluzões de antanno Uma gruta larga e meloza dos espasos desfeytos E nós, os gregos, estamos todos mortos !Bom dia, noyte! (O peskoso tartarújeo se estika) Vós, karraskos, ?estays prontos? 205

O mel dos mortos ...a jente já andava mesmo morta kwando ele enkostow na minna meza, ollow fundo em mews ollos, dise ke em dia de sol kente ningém devia traballar... ainda mays no Rio de Janeyro... Tinna os modos atrevidos das pesoas vivas, komo akredito ke tive um dia, antes de saber ke não á nada de mays importante ke a minna karreyra na Firma... ...não, não pensem ke invejo ese boballão, de atitudes irrekietas, só porke ele aparesew kom solusões diferentes, komo se pudese me ensinar komo konduzir os traballos de sekretaria... Antes de morrer pude eskoller viver... komo todos aki, aliás... é porke ele ainda está verde e não sey komo é ke a Diretoria não impediw sua admisão... Pesoas vivas trazem problemas... É difisyl lidar kom elas... e akaba akontesendo kazos de insurreysão entre os mortos daki... mas komo matá-lo?... ...é presizo matá-lo... antes ke o ambiente se kontamine e todos kayam sawdaveys.. De minna parte estow trankwilo... A minna kabesa branka atesta iso... Não sow mays kriansa para me deyxar levar por rabos de saya, ideays konstrutivistas ow novos amigos... Os vivos estão sempre prokurando amizade... Da owtra vez ke aparesew um vivo aki no eskritoryo, uma viva aliás, tivemos ke ezijir a sua dispensa, e fikamos varyos dias kontaminados kom a enerjia ke se esparramow por todas as mezas a partir do xoro konvulsivo da intruza... O Departamento Psikolojyko atestow sinays de vida em algumas das nosas funsyonaryas... Uma koyza medonna... ...orrível, simplesmente orrível... Alguma koyza kresse no mew peyto e a kabesa não funsiona kom a trankwilidade nesesarya ao bom kumprimento das minnas responsabilidades... Devo ir ao medyko?... este kalor ke sinto entre as pernas, iso, kwando ele se aprosima de mim... komo agora, o korpo retezado, o keyxo para sima, as mãos fazendo kurvas no ar, sempre em atividade... Ainda bem ke a xefia me xamow... ...é sobre akele relatoryo mensal de tarefas realizadas... persebe-se ke algo interfere na produsão, oje... o korreto é medirmos o indyse de vitalidade desta sesão... deve estar bem asima do permitido pela organizasão... não estow serto diso... podem deskobrir ke já não sow ezatamente o mesmo... Tive vontade de soká-lo, de apagar dos sews ollos o brillo inutyl... de mostrar-lle ke vivos todos podem ser... ke a jente daki não eskollew ser morta por nada... A sabedoria é privilejyo da morte... Ele deskonnese regra tão evidente... daí porke não vow agora mesmo ao Departamento Medyko... Vosê komesa a ter dezejos de bater 206

em algém e akaba internado no manikomyo organizasyonal... lugar de jente viva é no manikomyo organizasyonal ow na kadeya emprezarial... É mellor voltar ao relatoryo... esta sekretarya demonstra ter muyto powka intelijensya... Por iso, é tão efisiente... ... este kara lembra muyto o jeninno... o mesmo jeitão do jeninno... ali, parado na meza da D. Fatyma, fika mays paresido ainda... na viola, ew e jeninno juntos, era um som atrás do owtro... tempos bons akeles... agora estow ew aki, kopista de livro... keria mesmo era pasar o dia todo tokando violão... aí ew tinna ke eskoller entre kontinuar vivo e marjinal... korrendo o risko de ir parar na kadeya, fazendo um servisinno e owtro pra batallar o ke komer... ow enkarar esa morte... diziam ke a morte era kentinna, konfortável... sey não... ke ese kara tem todo o jeyto do jeninno, tem sim... ... Komo é ke rezolvem kolokar mays jente na Organizasão, kwando já está tudo organizado tão perfeytamente?...Mal akabamos de nos adaptar todos, uns aos owtros, aparese um intruzo para interferir na paz reynante... E logo jente viva, ke nunka morrew antes... Fose ainda uma transferensya de modwlo, vá lá... a adaptasão é fasyl para nós todos... um powko demorada para o transferido, obvyo, nada de tão dolorozo, também... Mas um vivo?... o vivo sempre mexe kom todos, de uma maneyra ow de owtra... Mas ew rezisto bem... sey lá... tenno a impresão ke já nassi morta... Por iso xegey onde xegey... Fuy tallada para komandar mortos... todos os testes konfirmaram isto... ...ew também, Fatyma, ew também estow de ollo nele... Um dia é mays ke sufisiente para se konneser um sujeytinno vivo de verdade, inkorrijível... ainda mays iso, vivo komo ele só... Não vay servir... Repara na pele dele... uma pele ke xega a brillar... tostada de sol diaryo, sol de anos e anos de vivasidade... sews kabelos brillam, sews ollos brillam, olla lá, sua boka se abre e se fexa inteyramente... Suas mãos são perigozas, resussitadoras... Kuydado kom ele, Fatyma... vosê olla demaziadamente para o estranno... ele não é komo nós, ke fornikamos às kintasfeyras, na dozajem masyma de sekso permitida aos mortos... Este aí akaba fazendo vosê se sentir viva... E o sew marido, Fatyma, ke é um morto ezemplar?... e sews fillos?, ke não vão entender jamays a resurreysão da mãe... ...podia ser mew fillo, tem idade para ser mew fillo, se tivese um...será ke teve mãe?... não, talvez não... porke ningém lle ensinow a morrer, koytadinno... kwando me kumprimentow na entrada da sekretaria senti pena dele... vontade de kolokálo no kolo... niná-lo... susurrar-lle os segredos da morte... não ke ew akredite muyto nela... mas ke jeyto?... ke adianta fikar vivendo por ese mundo afora se afinal todos temos ke morrer mays dia menos dia?... então, ke seja aos powkos... Asim a jente se akostuma mellor kom ela, a morte... a!... mas esta ansya de 207

abrasá-lo... por um rapagão deses até enfrento a resurreysão... ainda tenno kalor entre as pernas... ...um kalor medonno, oje... keria sair mays sedo... ese ar pezado, oje...aki no departamento... e logo oje, ke a Organizasão está para desidir a minna promosão... tenno sido uma morta perfeyta... nennum vestijyo de enerjia vital, espero... tudo konforme a linnajem ker... nunka fiz nada ke dezagradase a Totalidade ke somos... sempre tratey os inferiores komo inferiores... !Então! Não pretendo dar nennuma konversa ao novo... Não sey porke ele me kumprimentow... Se me pegam konversando kom ele as koyzas podem se komplikar para mim... e a minna promosão...presizo muyto desa imajem... dese ser kom a Totalidade... dese dinneyrinno para komprar mays koyzas... koyzas mortas, evidentemente, antes ke me konfundam... Koyzas ke mortos de bom nível presizam manter para konfirmar perante a Totalidade ke sua morte vay muyto bem, obrigada... não, de mim este intruzo não resebe seker um ollar... ...e porke ele me olla agora kom tanta insistensya... não gosto dele... tem nada ke me perguntar a kwanto tempo estow aki... se ew agwento bem o ar refrijerado dese modwlo... o ke á de errado kom o ar refrijerado?... sem ar refrijerado o kalor fika insuportável... kada um ezibe aos demays o orror dos sews suores... fikamos todos kom aparensya de vivos... Kalor é para jente komo ele, ke não ker nada kom a morte... só ker saber de viver... Ar refrijerado é uma konkista nosa, de jente morta... permanensya eterna do frio...Sem ar refrijerado noso karáter se dekompõe... Persebo ke este não tem nennuma xanse de permaneser konosko por muyto tempo... A organizasão vai espulsá-lo, masã podre, a não kontaminar a sesta... Kapaz de oje mesmo lle kortarem as bolas... espero ke sim... embora não sinta mays akela vontade de soká-lo... ainda bem... ... ainda bem ke xamaram ele no Konsello... não podia mays suportar a ansiedade ke ele me kawzava... o danado parese ke mexeu komigo... uma vez li um livro, deses livros ke todos aki lêem porke todos dizem ke lêem, ke não sow boba e sey direytinno o ke devo ler... bem, uma vez li um livro em ke um rapaz se apayxona por uma mosa e se divertem muyto...não xegey a ler o final... mas axo ke se divertiam muyto... axo ke morriam os doys, no final... gostaria de ter me divertido komo eles, antes... mesmo agora, mesmo ke fose kom um vivo... tenno um kalor no peyto, axo ke vow beber mays agwa... espero ke ningém note esa sede ke me ataka oje... ... e a Fatyma não say do bebedowro... o kara foy xamado na Diretoria... O jeninno... é, podia ser o jeninno... ke preferiw fikar vivinno... enkwanto ke ew optey por levar a morte a seryo... sawdades da viola... se pudese fikava tokando viola o dia inteyro... mas o jeninno também teve ke largar o violão... está pior ke 208

ew... sowbe ke está na kadeya, vivisymo... pelo menos ew estow aki, morto... sey não... o violão, o violão... tenno a impresão ke o jeninno não volta mays para ká depoys desa konversa kom a Xefia... ... os mews kabelos brankos me dizem ke ele vay ser jubilado... koytado... até ke não me paresia um maw sujeyto de todo... neses tempos difiseys lugar de morto é disputado... kom eses modos alegres não vay ter mays nennuma xanse... ... tenno medo por ele... não, por mim... se deskobrem o ke ele me dise vão pensar ke ele deskobriw alguma vivasidade em mim... e aí sow lansada novamente ao mundo dos vivos... ay, mew tanatos, protejey-me... juro ke se ele for embora jamays terey owtros bons pensamentos...maws, ew dise... prometo fikar bem kietinna, bem mortazinna... até o fim dos mews dias... também!, ele é muyto konfiado... Sol, sol, falar de sol em dia de traballo... ... koytadinno... sabia ke não ia durar muyto aki... teymozia, ese negosyo de kerer viver... pensa ke é asim?... vay entrando, enkarando a jente, dizendo koyzas, me deyxando aflita... Bom ke se vá... já me akostumey à minna morte e nem fillos tive ke é para não ver sinal de vida... estow bem komo estow... podia akabar me apayxonando e transtornando a todos ke me konnesem komo sow... trankwila, serena, Muller serya ke vivo só para a minna funsão... lá um amante ow owtro, esparsados, bem mortos...isto oje se permite mesmo a uma solteyrona komo ew... Mas deyxar a vida entrar em mim, iso nunka!... ainda bem ke o demonyo vay embora... ... nem um dia o imbesil segurow... naturalmente, pensava ke era esperto... ke os imbesis somos nós... koytado. ...volte à vida, de onde veyo... não são todos ke konsegem ser mortos, oje em dia.... O imbesil... Bem, onde é ke ew estava mesmo?... No relatoryo... a!, aki está... ...a antropofajia do sekwlo remete para... ... um kanibalismo ainda insipiente para... Tenno ke entender esta teoria ke botey no relatoryo antes ke a komisão me xame... Foy akele sujeyto... um sujeyto dezagradável, ke não parava kieto, ke vinna kom tezes não komprovadas pela Organizasão... ke falava kom todo mundo, sem respeytar ternos nem gravatas... Bolas!... komo se pode morrer asim?.... ...ainda bem ke tudo voltow ao normal.... ainda bem ke não sinto mays kalor nennum entre as pernas... ainda bem ke não vow ter mays ningém enkostado em minna meza... me ollando nos ollos... e me deyxando kom akela espesye de inkontinensya urinarya... e ainda bem, tanto mellor... ...sey não... o kara era mesmo paresido kom o jeninno... kem sabe até gosta de uma viola... vay ver vay daki direto para a gitarra de owro komprar uma novinna... 209

tem uma voz barítona igwal a do jeninno... kem sabe o jeninno não say da kadeya e não formamos uma bela duma dupla violeyra?...O kara falando em sol... jeninno gostava de tokar violão na praya... e se ew também fose kom ele?... a jente podia formar um belo dum grupo de violas... sey não... ew e jeninno, a jente já tinna muyta intimidade muzikal... sey não... mews dedos têm boa pegada prum dedillado, não foram feytos para fikar batendo tekla... sey não... iso de morrer pode ser muyto bom para eles... para mim, nem tanto... Maria Kristina, ke ainda é muyto da injenwa, mas muyto da viva, vem dizendo ke já não sow o mesmo... ke estow sempre falando das koyzas daki da Organizasão... ew, ke sempre faley dos kabelos dela, dos ollinnos sonsos dela, das koxas dela, do resto... ew, ke antes de xegar aki não perdia uma noyte de ver estrelas... sey não, sey não... á kwantos dias não deyto kom Maria Kristina?... sey não... sey não... tem uma muzyka... axo ke se ew korrer... ainda alkanso o jeninno dessendo as eskadas para a vida...

Deliryo pós-antropofajyko n° 21 Dizer ke o poema muzikado (a lyrik) não pode ser poezia é o mesmo ke negar toda a poezia liryka da gresya klasyka, bem komo toda a produsão poetyka dos antigos provensays, das kways a poezia liryka moderna é inteyra kontinuasão. Se toda poezia kontém nesesariamente melodia, toda kompozisão ke reúne arte muzikal e arte poetyka apenas torna mays esplisyta, e ezuberante, a armonia de toda poetyka. Mas, é klaro, sempre estamos falando de poezia 210

Multyplas Fases

A poezia não é só feyta de vôos altos A poezia também voa aos embayxos A poezia não é só feyta de prazeres A poezia também é feyta de responsabilidades A poezia não é só feyta de liberdades A poezia também é feyta de komprometimentos A poezia não é só feyta de asúkares A poezia também é feyta de karnes salgadas A poezia não é só feyta de santidades A poezia também é feyta de maldades A poezia não é só feyta de solidaryedades A poezia também é feyta de dinneyros A poezia não é só feyta de amores plasydos A poezia também é feyta de sakanajens A poezia não é só feyta de paraizos A poezia também é feyta de apokalipses A poezia não é só feyta disos e a kilos e asim por diantes A poezia também é feyta de ontens, antontes de futuros antepasados distantes A poezia só não é feyta de kwalker maneyra Poys para a poezia, tudo morre Tudo mata, tudo nasse Ke para a poezia, os tudos e os nadas São ainda partes Suas multyplas fases

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Fragmentarya Mil kaminnos andey, parafernalya De labirintykas emosões (deram em nada e rasyonalyas ke o mundo jamays Sol ke se transmuta powko a powko (sempre nem tão powko em luas até as trevas fatays Xega um tempo em ke Todos os amigos já trairam As mulleres – nem tanto kwanto poderiam E os institutos de fazer o mundo mays umano Te eskluiram dos butins ke mesmo só a eles kaberiam Sobraram-me eses mews (nem tão mels) mil pedasos De kaminnos, fragmentos Ke ora me fazem xorar, Ora me fazem sorrir Mil pedasos ke não fazem um puzzle (poys não á kwadro nennum Sob as lojykas metalykas De klones e makynas Esas novas máskaras Sow vivo ainda (performanses E aos infinitos dos espasos indomaveys Do enorme vazio ke nos serka a tudo e a todos Ese Tao inkontrolável Desperto-me: !Lego, lego fragmentos! Átomos, sementes Do ke ainda á de vir 212

Fragmentos Kariokas ...já a minna voz não se kala à toa senão kwando uma sua, nua owtra voz soa ...um urso no pensamento urra uma porta esmurra uma abella umana zumbe uma alegre juventude zôoa !êta vida à tôa! !Êta vida besta, mew dews! !Êta Vida Bôa! ...muytas koyzas pasam e repasam em tele vizão ...e kada vez mays sega mays sênema a minna mão ...a poezia á ke amar ao menos uma Das Três Literaturas E powko importa kways arranna se vê terra onde á mar se amar onde vê dor powko se lle dá a aventura espurya dos de allá ?...a nosa poeziazinna é mesmo feya, tola, futyl, desgarrada? !A!, Inatinjível xão forrado de nadas!... ...Nas terras do sem fim As owtras duas, Literaturas São para nós apenas nomes de magros ow lustrozos bordegins 213

...Á O Xeyo

Á O Vazio Á O Muyto Mays Ke Iso Mas Nunka Saberemos Se não uzarmos os pés ...poys se insistes ke ew kante o futuro Poys bem! Kantar-te-ey o futuro! Aos futuros do futuro, ew kantar... !Êpa! Não, não deyxa ele ir...!Ay! O futuro se foy... ?Kontenta-te kom o verso, pasado? ?Não? ...o pasado gwarda futuros No sew umbigo-rey E os futuros gwardam prezentes Ke ew não ey O Pasado gwarda O Tudo O Prezente gwarda O Talvez O Futuro gwarda O Nada Só enkwanto A Imajem não vem ...odeyo-me, Leytor; odeyo-me sozinno Por tudo o kwanto neses poemetos digo Mas amannã talvez Karos Leytores Odeye-vos komigo (Eskrever poezia tem muyto a ver kom iso) ...se no aki não dá pra Ser Senão Punneta Dos Finos Tratos 214

Se no agora não dá pra Ser Senão Punneta Dos Xulos Pasos Prefiro Ser Mão Dos Vagos Espasos ...Oje o pensamento viaja Enkwanto, no kaminno de kaza Apertam-me no onybus: “Enfiarey uma faka entre as tuas duas mays belas kostelas Para ke ainda muyto mays me saybas Os ew-te-amos” (! ó kamaradas! ó kamareyras! ) ...na kaza de masajem O xampanne já vay pela metade O ambiente é póspósmodernisymo, enkwanto Sow todo um tango dos antigos Ela oje á de me esperar em vão O bom e vello passo ventrílokwo

Olley kom ollos de eternidade Algém ke tinna ollos de momento Olley kom ollos de eternidade Algém ke tinna ollos de momento Olley kom ollos de eternidade Algém ke tinna ollos de momento !Ó! Umanae Vitae ...fatias de siskos...konta-gotas... ...fragmentos...

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Rekado ao bom leytor Nós, poetas, somos sós Nós, poetas, somos nós Não keyra poys, amigo leytor – intelijente e sensível Ser komo nós. Nós, poetas, somos sós Gwarda a tua enerjia, a tua alma aflita Para koyzas mays proveytozas ¡Gannar a vida é uma delas! Sempre á a muller amada !Ke belo dispendyo de enerjia! E á os fillos, talvez – a familya E o jenyo finanseyro ke á em vós Porke, nós, poetas, somos sós Beba das nosas agwas, se alimente Da seyva ke nutre amendoeyras vadias E fike asim, a sós, por alguns momentos Deyxe fluir a poezia em vós Ser leytor, fluensya da poezia Akredite, amigo Serás muyto mellor poeta ke nós

Deliryo pós-antropofajyko n° 81 Sim! Ew vi a estrela flamejante no Séw até mim kwaze ao alkanse de kwalker mão Feyto um simyo em estinsão/ abrasey sew brillo, tamanno e kor Feyto um simyo em estinsão, ew vi a estrela flamejante oazys/ em meyo à dor 216

Mas Sempre Á Deses Bares, Lugares Onde Se Pode Ir ...mas sempre á deses bares, lugares, onde se pode ir E alguma joana elena ke sempre sonna Kom um omem asim Tantas katyas, muytas déboras, uma infindável fieyra de ollares ke kaem !Em tuas redes – peskador de karnes! Tudo porke Magda e sew sorrizo deboxado Aproveyta ao masymo kada bokado De muller livre e dezembarasada A provar da maskulinidade espadas Sem se ferir Porke Magda é fêmea liberta e engole os maxos da espesye Komo uma sapa suga os insetos Porke Magda traballa e paga as propryas sedas e os xeyros Kom ke estende o korpo em teyas Komo uma aranna faz kwando tem fome Porke Magda é ela mesma a proprya razão de ser de todas as koyzas e pesoas, e é dona de um diskurso filozofyko-polityko-antropolojyko Ke esplika e justifika a ezistensya da Dewza Onipotente Oniprezente, e Impiedoza kom todos os ke duvidam da proprya fé

Porke Magda é lua nova, kressente, xeya e mingwante Kom toda a noyte a Lle servir A engolir sóys komo kem kome eskargots e depoys Dulsisymo xampanne entre os lensoys Tudo porke Magda é sempre o ke sempre ker, e mays Mil máskaras Mil rizos, e um dom de iludir 217

Mas sempre á deses bares, lugares, onde se pode ir Enkontrar desas ke se abrem as pernas a implorar por salvasão eterna prometendo ke o maxo é o maxo em troka de karne e alma e ke nas fendas gwarda vis moedas e kwando kaza faz-se moxa maxa e aflije as noytes kom sews berros d’agwa e aflije as noytes kom sews berros d’agwa Mas sempre á deses bares, lugares, onde se pode ir Talvez a sorte não é tão madrasta Talvez até por muyto mays karraska Em tuas fases lanse um’owtra Magda ke se gwardow até saber de ti Deses Misteryos ke o Universo gwarda Entre eses seyos feytos de marfim Talvez então a noyte seja kalma E a kama avanse pela madrugada Esploda em kores komo uma alvorada Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir Ke para sempre ker se repetir

Deliryo pós-antropofajyko n° 82 Não kero ter partido, nem kero ser inteyro. Kero ser, fragmentos (o poeta, tentando saber ao ke serve politykamente 218

Korasão Karioka O mew peyto tem palmeyras Também kantam sabiás Tem um pendão awriverde Um sol ke nasse no mar O mew peyto tem batuke Golfinnos dessem do ar Tem um azul bem klarinno Um branko de apayxonar O mew peyto tem vermello Um tié-sange a voar Um kanto de kanarinno Ke a ningém ker magoar O mew peyto tem morenas Lowras e negras-sinnás Tem um sol de meyo-dia E a noyte inteyra no bar O mew peyto tem pardal Sempre um kanto bem-te-vi Amigo novo ow antigo Sem balansa de medir O mew peyto tem molejo Kwal uma fuga de Bach Tem um xorinno eskondido Difisyl de segurar O mew peyto tem relojyo Sem ora de se enkontrar Um tempo mays ke perdido E a vontade de voltar O mew peyto tem Marias Ke sempre vow namorar Tem uma Amelya sorrindo Ke komigo ker kazar 219

Tem um Kabo das Tormentas Estreyto de Jibraltar Tem um Kaminno pras Indyas Nuas a me konvidar O mew peyto tem vizinna Janela aberta pra ká Tem marido siumento Sem saber kom kem brigar O mew peyto tem kastigo Xeyro de pólvora no ar Deyxa diso, mew amigo Karioka ker brinkar O mew peyto tem de um tudo Tanto praya kwanto mar Karnaval ke kwando akaba Se ajoella pra rezar O mew peyto tem um Dews Jezuskristinno a salvar Tem um menino kalado Anjo da Gwarda no lar O mew peyto tem poetas Trovadores Superstars Um juramento sagrado Jamays deyxar de sonnar O mew peyto tem estrelas Sol noturno e algum luar Tem umas nuvens sinzentas Pasando sem se esbarrar O mew peyto tem um kays Navio pronto a zarpar Tem um ollar marejado Pedindo para fikar Mew peyto gwarda o silensyo De um livro ke vay fexar Uma sawdade infinita Um adews, amigos – !‘té lá! 220

Os sizos e os rizos

Bom dia, poeta Sabes agora Ke somos para A Ágora Teselões dos eternos Somos para a ágora, apenas kolina eskarpada e a alma dorida Para A Ágora e nada mays somos senão ágora A eternidade agora também de ti se alimentará Bom dia, poeta, a ágora te sikatrizará as feridas, e esas prometeykas penas íkaras Todos fomos noso primeyro andar Alguns vieram lijeyro, esas paredes ígneas, sem kolesyonar degraws A dor do Espiryto a doer de uma só vez Agora a ágora esplode em gargalladas Junte-se a nós Bem vindo ao parlatoryo Á pão e vinno E Vita Nuova

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Kama Antropofajyka

Verso Voz Violão 222

Kantilena de Exu Sow poeta Apenas poeta Nada mays ke um poeta Kwando me firo nos sios Kwando me ardo de amor Kwando dos Altos me grito Kwando me faso menor Kwando sow kaminno, kwando sow dor Sow poeta Apenas poeta Nada mays ke um poeta Tudo o mays é kontradansa Tudo o mays é peripesya Me despaxaram pra lá Pra lá ew não kero ir Talvez nem keyra voltar Nem keyra fikar por aki

Versos e Deklamasão: Paulo Bauler Muzyka,Vokal e Violão: Érico Braga Kôro: Paulo Bauler e Ricardo Barroso Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes 223

Klones

Klones are koming here, my druge! Klones are koming here to kill, my druge! Klones travestidos de falsas kolores, lamuriando as suas dolores Sibilodos e rowkos Klones bebem o sange da noyte E mesmo a Estrela da Mannã eskondem Dasvitxe!, my druge! Dasvitxe!, my druge! Dasvitxe!, my druge! Dasvitxe! Klones are koming here, tonight Abafarão as luzes da tua kaza Arrepiarão as katxas, farão ganir os kães E trazem konsigo uma longa lista de orrores Didn’t I say, my druge Kan’t you hear o ranjer dos tambores ao lonje? Klones are koming here, my druge, esta noyte! Klones are koming here, my drugue, esta noyte! Klones are koming here, to kill my druge!

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 224

Viajem ao séw apago o bazeado e korro sow todo solto me eskondo atrás de um barrako Sow todo solto Algém gritow por sokorro Kadê os ôme? Me enfio nese burako Sow todo solto Mãe não pode sabê Sow todo solto Os menino soltando pipa Sow todo solto O mew pay kumprindo sina Sow todo solto O ôme tem kara grande Me tremo todo, me trinko Têm mays três kwarentesinko Um owtro xega segindo (bem mays grande) Xinga, kospe, reklama Sow todo solto Edukado me puxa pra sima Sow todo solto Xego antes lá na eskina Sow todo solto Nós tudo fazendo fila Sow todo solto Um fedor de merda e urina Sow todo solto Pergunta malrespondida Arma enkostada na nuka Bam! Bam! Alma partida Versos: Paulo Bauler Muzyka, Vokal e Violão: Érico Braga Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes 225

Korpo-Santo Oje sow um, amannã owtro, faso-me pele e oso Karne, karnaval, kanibal Mews kantos kantam, tews pasos dansam Não owsam, poys, o noso verso à minna liryka unyka voz É tua a korda ke arrebenta É noso o korasão ke se ajita e doy A liryka viajem é o sem tempo Umanae Vitae, moderna e antiga Aos ferros e konkretos das enjennarias imposiveys São tantos os ke te disputam os pasos Arte dos eternos, artes dos umanos pasos, arte dos vatisinyos O odyo ow o amor são mews, é vero: mas não são asim os tews? O odyo ow o amor são mews, é vero: mas não são asim os tews? O odyo e o amor dos versos são tews, amigo, amiga, kompanneyros Fasam bom proveyto diso Kanta Poeta, konta em versos, sob pena de degredo Kwal vem a ser a tua vera poezia Á! Se ew pudese revelar tão terrível intymo segredo Keymaria os insensatos versos Nunka mays ew kantaria Mews kantos kantam, tews pasos dansam Oje sow um, amannã owtro, faso-me pele e oso Karne, karnaval, kanibal O odyo ow o amor são mews, é vero: mas não são asim os tews? Kanta Poeta, konta em versos, sob pena de degredo Kwal vem a ser a tua vera poezia Á! Se ew pudese revelar tão terrível intymo segredo Keymaria os insensatos versos Nunka mays ew kantaria Mews kantos kantam, tews pasos dansam Ka,Ka,Ka-Kanibal, Ka,Ka,Ka-Kanibal Versos: Paulo Bauler Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas Miksajem de versos de Korpo Santo e Elewzys por Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 226

Nó no peyto porke tinna um nó no peyto, difisyl de dezatar subiw korrendo as eskadas, direto ao ultymo andar porke tinna no ollo a muller, difisyl de namorar subiw ao kume do predyo, sem xanse de se salvar porke tinna na voz a mágoa, imposível de se gwardar gritow pro mundo a fera, ke não se deyxa enjawlar porke tinna na alma a idade, ke nunka ningém terá abriw largo largas azas, ke não lle deyxavam andar porke era só um omem, pra tanto kerer de amar atirow-se kwal um anjo, ke viese nos salvar porke era a vida um leyto, ke powko podia gozar subiw korrendo as eskadas, direto ao ultymo andar por ke não trokow de par? por ke não trokow de lar? por ke não trokow de lado? por ke não trokow de fado? por ke não trokow de sábado? por ke não trokow de sekso? por ke não trokow de gravata? por ke não trokow de kara? por ke não trokow de marka? por ke não trokow de muzyka? por ke não trokow de verbo?por ke não trokow de verso?

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Vokal e Violão: Érico Braga Kôro: Pawlo Bawler e Ricardo Barroso Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes 227

Ezistensialismo

Sayo dela owtra vez A noyte é klara komo o xampanne à beyra da kabeseyra da kama Dez millões de estrelas sobem-nos à kabesa Dews eziste Ela eziste Kem não eziste é vosê Dews eziste Ela eziste Kem não eziste é vosê

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 228

Xuva Sobre o Mar Era um deses momentos logo após o amanneser Em ke um sol ainda palydo komo um bebê resém xegado Sendo bannado ao mar, lavado das rubras tintas de um parto Vijiado de perto pela estrela da mannã... Um deses momentos em ke se espallam pelas agwas gotikwlas rutylas de luz misturadas às espumas brankas das ondas, suaves Ke a todas beyjam e abrasam mesmo as fasam, doses, morrer... Um deses momentos em ke se paseya pela praya, as mãos dadas Talvez um fim de noyte Em ke uma lua mesmo kansada se deyxa fikar A gozar mays um powko antes de dormir... Talvez um inisyo de tudo, um enkontro fortuyto Komo uma flor nassendo de um muro Uma espesye de sonno Do kwal não se ker ainda akordar... Um deses momentos em ke ela o faz sentir-se tolo Largados na areya, kalados, os korpos separados Mas as almas, mãos dadas, beyjando, akarisiando Até ke o gozo imenso nassendo do sekso dos anjos... Ew sabia ke o mew dia ia xegar Tews labyos, tews ollos, lua e luar Tew korpo morena, o tew balansar Tew beyjo mollado, xuva sobre o mar E a noyte ke não ker nunka se akabar Tew korpo, tew xeyro e novamente amar Um sol siumado ke já ker xegar Uma kambaxirra vem nos avizar Owtra vez, owtra vez, da jente se akabar Ew sabia ke o mew dia ia xegar Versos e Deklamasão: Paulo Bauler Muzyka: Paulo Bauler, Ricardo Barroso e Érico Braga Vokal: Érico Braga Violão: Ricardo Barroso Kôro: Érico Braga e Ricardo Barroso Gravasão: ADS Studio - Ték de grav. e miks. - Paulo Scazzuso 229

Minna Muller Fotografa Flores No Jardim

Um gato se kosa, um kão se lambe Á pásaros de pio e de kanto Ainda não sey porke me enkanto Kom a borboleta preza em mews jasmins Minna familya vay indo bem, obrigado Anda trankwila minna konta bankarya Não tenno bebido sozinno nas madrugadas O korasão vay bem e asim também minna arkada dentarya Têm kosado powko as mágoas, sikatrizes do pasado A owtra – ?será sempre a ultyma? – deyxey ontem xoramingwada Mays owtro burako aberto na alma Minna muller vem-se xegando pra junto de mim, me beyja Um amor tanto, ke ainda não sey porke me enkanto Kom a borboleta preza em mews jasmins

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 230

Intelijensya Poetyka

Es syerto! Nem sow asim tão intelijente... Es syerto! Não faso poezia ke valla-rir Nem mew sérebro ke mal-armey Es syerto! Nem sow asim tão espyerto Ke fasa de la poezia um xeke a deskobyerto De elyoterykos sifrões Faso a pregisoza poezia Komo as antigas tardes kom marias... Sem saber dos labyos, orgasmos, senão... Ke á beyjos de lingwa, e beyjos de mão... Apenas niso rezide toda a intelijensya da minna poezia Também toda a sua jentileza: Ke o digam as marias E akeles ke nos sonnam os sons *They can’t get no erection *They ken can’t come They ken can’t come *They ken can’t come They ken can’t come Es syerto, nwestro amigo keria ser bankaryo, ser bankeyro,gannar dinneyro emprestando a juros a lingwa do enforkado Es syerto, usted mismo keria a Akademia, ser letrado uma espesye de Joyse, um awtor konsagrado mismo pedindo dinneyro emprestado Es syerto, jo tambyem keria De mi parte l’amur, bebidas, orjias ser um Kayam, poeta embriagado ow Bokaje, desbokado, um Kamões, mismo roto y esfarrapado Es syerto, Dyos eskribe por linnas retas el lado errado: Ele está riko Usted emposado y jo me kedo aká, bebyendo esto myerda de wisky paragwayo

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Vokal, Violão e Resitativo: Érico Braga Parodya de Satisfaction (Jagger&Richards) e Miksajem kom versos de Bar Garoto das Flores por Érico Braga Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes 231

A Lammpada

Susurro do vento. Follajem verde Susurro do vento. Follajem verde Follajem verde. Susurro do vento Xuva kaindo. Susurro do vento Follajem verde Xuva kaindo Xuva kaindo. Susurro do vento Noyte eskura. Muyto eskura Xuva kaindo. Susurro do vento Follajem verde. E a kama Unyka luz Xuva kaindo. Susurro do vento Follajem verde E a lammpada Unyka luz. Unyka luz Unyka luz Unyka luz Unyka luz

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 232

Marmita de Bordões (As Azas no Tew Ollar) Klones rondam por aí, vosê não vê... São tão igways Money y Fama por aí, mays ke viver... Mays, muyto mays Navegando por aí, enkontro vosê... Até nunka mays Por enfim, vosê talvez não... Sakrifikow todo o dezejo... Dos karnavays Ew kero enkontrar vosê, tentando eskapar... As azas no tew ollar Mexe daki, mexe dali... E mexe daki, Mestre Dali Mestres daki, mestres de lá... Pesoa dos versos de Bach (Resitativo) Enfim foy deklarada a kasa às estatuetas Mas as esfinjes de Rodes Mas vosê não partisipa dese evento, vosê ker A maravilla sem o moneymal, vosê ker Ser normal, ser anormal, animal Globalizado, global Torsendo pelo Brazil... Brazil, Brazil... Vosê ker akreditar ke não Sakrifikow sua vida Aos pés de um altar Kwalker altar... Vosê ke se diz poeta, artista, pensador Sofre kom a mesmise Imposta por tabloydes, modas, glozas Do kontinente yanke-ewropew E esa midya opresora, imoral, kanibal Ke devora vorazmente Tua Marmita de Bordões Deklamasão de Kipling: Se és kapaz de manter a tua kalma... Mas mexe daki, mexe dali... E mexe daki, Mestre Dali Mestres daki, mestres de lá... Pesoa dos versos de bar (Resitativo) !Í! Kwal é a tua, brôw? Vay prokurar tua foking tribo Fika dando uma de Kristo, pagando miko... De intelektual... Vosê não konnese os misteryos da literatura osidental Vosê, ew rekonneso Tem muyto estômago Para komer, saborear, degustar Esas marmitas de bordões Mas ew só vim aki para dizer Não kero saber tew ollar De avestruz Kero tew ollar de agya-jêmea Kero o tew ollar de azas Viajando trás-os-montes De Nova Igwasu Minna Paragwasu Ew sey ke vosê não kumpriw o ke prometew Ke anda dekorando o Novo Testamento Segundo São Matews Primeyro os sews Ke tem novas verdades do sew Salvador O Kristo Verdadeyro Mas por favor não me diga o nome dese sew pastor Mas mexe daki, mexe dali... Kuyda dos tews bordões E mexe daki, Mestre Dali... Só a Xina é filozofal E tem O Bem, e tem O Mal... E tem Talvez, talvez não sey Os segredos de um futuro virtual 233

E esa kabine lowka de viver Sem jamays mereser O Amor E esa kabine lowka de sofrer Ke se xama Poema, poeta Ke se xama Poema, poeta Á um bando de esfomeados Não sabem degustar O ke é Literatura A Poezia A Eskultura Noso amigo Ildebrando No sew atelier Varjem Pekena Rekreativa Sonna um dia Ter o sew nome gravado Na eskultura mundial Igreja Imakulada Konseysão... Imakulada Konseysão... Imakulada... Imakulada Konseysão O anjo de azas foy eskulpido Por Ildebrando, um eskultor Um artista osidental Mas mexe daki, mexe dali Mestres de lá, mestres daki A dizer vosê não Aki Não é a sua praya Tezão Inspirasão...Nunka mays Nunka, nunka, nunka, nunka mays (Resitativo): Enfim akabow a kasa às estatuetas, levaram todas Lowkos, nozotros, meros manés Mikelânjelos meresem... Deskansar em paz Mexe daki, mexe dali Mestre Dali, mestres daki E as azas no tew ollar Deklamasão de Camões: Kem vê, sennora, klaro e manifesto... Ew só kero enkontrar vosê Tentando eskapar As azas no tew ollar Mexe daki, mexe dali Mestre Dali, mestres daki E as azas no tew ollar As azas no tew ollar As azas no tew ollar As azas no tew ollar As azas no noso ollar...

Versos: Paulo Bauler e Ricardo Barroso Muzyka: Ricardo Barroso e Paulo Bauler Vokal e Violão: Ricardo Barroso Resitativo: Ricardo Barroso Sitasões de violão solo: Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, e Eleanor Rigby, de Lennon e McCartney, por Érico Braga Kôro: Érico Braga Deklamasões de Kipling, Se és capaz de..., e de Camões, Quem vê senhora..., por Paulo Bauler. Trad. dos versos de Kipling a partir de Guilherme de Almeida. Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes 234

Nós de Marinneyros

Se á estrelas em nós Tão luz ke nos fasa ir Kanto as trevas em nós Tão luz de nos impedir Se á estrelas em nós Tão luz de nos impedir Kanto as trevas em nós Tão luz ke nos fasa ir A Natureza e Os Séws Não se negam, nem brigam Mas se apoyam e se ekilibram Mas se apoyam e se ekilibram Os mares e os séws Somos nós ke navegamos Nosos nós de marinneyros Nosos nós de marinneyros E fike kem kizer kom sua tribo Sem ke me enxam o sako por iso Sem ke me enxam o sako por iso

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 235

Kwando a jente pensa Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma ainda uma kriansa, xora, rola o berso de terra, estende os brasos e pede: Mamãe! Mamãe! Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma filla de pays separados, pede, reklama, mendiga, às vezes grita: Pay e mãe! Tennam piedade de nós! Pay e Mãe! Tennam piedade de nós! E toda esa grizalla barba na kara, as rugas, A papa sob os ollos, eskuros, o álkool e o fumo Os nervos gastos, todos os sapos, lagartos da fala, sonnos largados amantes antigas, meninas felinas, vadias As ordens vindas de sima, esa indagasão Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese O sange lateja de volta, as kavernas têm jelos ke a jente não vê Omem ke ama reseya a folla primeyra sem rekonneser Muro, muralla se abre, eskankara, sem ke aja nada a perder Vida flutua do owtro lado da lua solta no além Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma ainda uma kriansa, xora rola o berso de terra, estende os brasos e pede: Mamãe! Mamãe! Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma filla de pays separados, pede, reklama, mendiga, às vezes grita: Pay e mãe! Tennam piedade de nós! Pay e Mãe! Tennam piedade de nós! E toda esa grizalla barba na kara, as rugas A papa sob os ollos, eskuros, o álkool e o fumo Os nervos gastos, todos os sapos, lagartos da fala, sonnos largados, amantes antigas, meninas felinas, vadias As ordens vindas de sima, esa indagasão Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese Nem mesmo a malvada azeda o gosto da kowve, o torresmo e o feyjão O pernil asim veyo de um porko afogado por serto em muyto limão Papo de anjo, kafé, o xaruto e a garapa de nome Beyrão Tanto ke somos amantes errantes Bonita e Lampião Kwanto mays a jente pensa ke envellese Versos: Paulo Bauler Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas Do livro Ghesas de Eros: Miksajem de versos por Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro MottaGravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 236

BEAUTIFUL MAIRA

Live in New York City is like a film Adentrar as telas de Scarlets O’Haras Ela é minna Roza Purpwra do Kayro Liberty Statue is like a Kristo, of them Ôw! Kiss my ass, ôw fuck you, sheet for all, of them Sem Anos de Imperyo, versos Sem Anos de Solidão Walk! Don’t walk! Go on Beatiful Maira of my soul Á um novo shoping Multiplikam-se os kanays de TV Somos todos magos, magros de fé Alguns esperam milagres loterykos Owtros agwardam Ets Satelytes trasam estradas E a voz viaja pelos kwatro konfins Nada mays á ke pensar Somos átomos, Molekwlas DNAs Pasem in Terra Gerra nas Estrelas

Versos: Paulo Bauler Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas Resitativo: Reinaldo Vargas Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta 237

Te Xamey Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?... Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê... Nuvens plúmbeas bayxam sobre a sidade e dansamos boleros Em nosas novas nupsyas... Tangos bandaleonykos Ao sabor dos instintos Komo se xegada a ora dos juizos Pasos firmes para os niilismos...Narsizos Todos os ritmos éramos Owvidos insinseros Lowkos xapews napoleonykos... Éramos Bumbas-mew-boy, Bergmans/Nietzsches, Batmans, Beatnicks, Novos Hippies, Meninos de Hitler, Vampiros, O Sio dos Bandidos, Barkeyros dos Infernos, Punnos Metaleyros, Soft Dreams, Heavy Trips, Noytes do Sem-Fim, Peste de Camus, Primos de Kaim, Ferros de Ferir, Kopos de Botekim, Mulas Sem Kabesa, Sasis, Morganas e Merlins, Simyos em Festim, Fuzis E uma inosensya imensa imersa em destruir o ke resta desa besta-fera... Apelidada Amor Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?... Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê... E nós? E os nosos nós? Nós, ke keríamos ser Humphrey Bogart e Ingrid Bergman Rindo Num konversível vermello Pelas prayas do nordeste brazileyro Rindo e fazendo, fazendo, fazendo... Amor nesas terras do sem-fim Nós, ke keríamos ser Amerikan Stars, Amerikans Stars, ke sabem viver E não esas Kabesas Kortadas Mizerya da rasa Kristos sem jasa para o prazer Keríamos ser apenas um homme et une femme Jean-Louis Tritgnant/Anouk Aimée Naturellement Bons Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?... Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê... Versos e Deklamasão: Paulo Bauler Muzyka: Ricardo Barroso e Paulo Bauler Vokal e Violão: Ricardo Barroso Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes 238

O Poeta

no rol dos malditos komo se fora um bandido listaram: poeta

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Indyses Kama Antropofajyka

(Aos Urros, Gritos, Rizos e Jemidos dos Tambores das Tribos) O Verso Pós-Antropofajiko....................................................................................09 A Lammpada............................................................................................................18 Libelubrykas..............................................................................................................19 Sérbero.......................................................................................................................19 Kafé da Mannã.........................................................................................................20 Deliryum Tremens...................................................................................................20 Pura Poezia................................................................................................................21 Amor Platonyko.......................................................................................................22 Rubayata....................................................................................................................22 Mikrofizyka do Poder..............................................................................................23 Teoria.........................................................................................................................24 Tropyko de Venws...................................................................................................24 Uma Owtra Jeografia Ew Kanto...........................................................................25 Prokura-se Uma Muza............................................................................................26 Elewzys......................................................................................................................26 O Mays Ke O Perfeyto............................................................................................27 Korpo-Santo.............................................................................................................28 Kantilena de Grumete............................................................................................28 Sange Brazileyro.......................................................................................................29 Labirinto....................................................................................................................30 Red Aunt...................................................................................................................31 Ino à Dewza..............................................................................................................32 Priapykon.poe.br.....................................................................................................32 A Faka de Izys..........................................................................................................33 As Bakantes...............................................................................................................33 Lobizomem...............................................................................................................34 O Burako da Agulla.................................................................................................35 Fronteyras..................................................................................................................36 Kaza Devoluta..........................................................................................................36 Tempo Frijydo..........................................................................................................37 fimdekazo.kom.........................................................................................................38 240

Retiro de Salomão....................................................................................................39 Sinkronia...................................................................................................................40 Vôo Sego...................................................................................................................40 Mayakóvska.................................................................................................................41 Kastellanas n°1 ........................................................................................................41 Kay ............................................................................................................................42 Entre as tuas pernas kwaze/kwaze fuy um dews................................................42 Klarise.........................................................................................................................43 Καθεδρα Χαλαρα................................................................................................44 Non Sense ................................................................................................................44 A Luta Korporal.......................................................................................................45 Kwotidianus, a, um .................................................................................................45 Ermafrodita .............................................................................................................46 Amor Apaxe ............................................................................................................47 Na Estasão do Metrô..............................................................................................48 Bar Garoto das Flores ............................................................................................49 Araknídea...................................................................................................................50 Para Sempre A ma la ..............................................................................................51 Os Fios da Urbys ...................................................................................................52 Vida Poetyka............................................................................................................53 Raykays Kariokas 1..................................................................................................53 Nature Oblije............................................................................................................54 Raykays Kariokas 2..................................................................................................54 Pur apréender le trotoar .........................................................................................55 Lar, Dose Lar............................................................................................................55 Vero Térreo Amor...................................................................................................56 Das Komezinnas Verdades Kotidianas.................................................................56 Momento...................................................................................................................57 Xaleyra no fogo........................................................................................................58 Sirkol’s Song..............................................................................................................59 Raykays Kariokas 3..................................................................................................59 Petrifikasão................................................................................................................60 Poezia Kom Kreta....................................................................................................61 Vem ke não te alkanso.............................................................................................62 possiensya literarya..................................................................................................63 Intelijensya Poetyka..................................................................................................64 Kantilena de Exu.....................................................................................................64 O Portal.....................................................................................................................65 241

Silensiozo Kanto......................................................................................................67 Kontradansa.............................................................................................................67 Ipanemia...................................................................................................................68 Enterrem Mew Korasão Nas Kurvas do Rio......................................................69 ?mas vosê não me apresia os versos?...................................................................69 Owtono Frio de Mayo............................................................................................70 Minna muller fotografa flores no jardim.............................................................70 No Satisfekxion........................................................................................................71 (Ora, direys, amar formigas)...................................................................................72 Maldonor...................................................................................................................72 ?Onde Estão Os Nosos Sonnos?...........................................................................73 Senas Modernas........................................................................................................74 PAYXÃO LOBA......................................................................................................75 Viajem Ao Séw..........................................................................................................76 Nem medo, nem owzadia.......................................................................................77 Fogos-fatwos.............................................................................................................78 Omo Omini Lupus..................................................................................................79 Rio 50°.......................................................................................................................80 Jângal Bell..........................................................................................................................81 A Klase Medya Vay Para O Paraizo.......................................................................82 Ponte Aérea...............................................................................................................87 Porke tinna um nó no peyto...................................................................................88 Pó de Pir-Lim-Pim-Pim..........................................................................................89 korkovado..................................................................................................................89 Deliryo Plúmbeo......................................................................................................90 Umws.........................................................................................................................91 Vida Literarya...........................................................................................................91 Kada palavra é uma serpente..................................................................................92 Porke dobrey-me sob sews ollos tão mel..............................................................93 Konsilyo de Trento..................................................................................................93 Safo............................................................................................................................95 Bilitis..........................................................................................................................95 O Kão e a Gata........................................................................................................96 Objetividade poetyka...............................................................................................97 Teoretyka...................................................................................................................98 Ezistensyalismo...........................................................................................................98 Central Park, Wine and Snow.................................................................................99 Nada, nada me komove mays...............................................................................100 242

Korpo Antropofajyko............................................................................................100 Verbo........................................................................................................................101 Pudisisya..................................................................................................................102 As Brumas de Avalon............................................................................................103 ...para-!íso!...............................................................................................................103 Kambaxirra.................................................................................................................104 Esgrima...................................................................................................................105 Femyna Omini Lupus............................................................................................106 Agwas de marso......................................................................................................107 Ao Movimento da Barka.......................................................................................108 Lunasão....................................................................................................................109 Meras Konjekturas, Boas Vindas Talvez.............................................................110 Da Ensiklyka Poetyka............................................................................................111 Amor sem metáforas.............................................................................................112 Zoolojyko Intymo..................................................................................................113 ad infinitum ad nawzeam......................................................................................114 ?A Kwal Lingwa Prometi Mew Korpo?..............................................................115 Sol Eskuro...............................................................................................................117 Borbolífera...............................................................................................................118 Bem-te-vis...............................................................................................................119 A Poezia vale mays ke trinta mil dinneyros........................................................120 Krityka poetyka......................................................................................................120 Os Arpões de Eros................................................................................................121 O Poeta Antropofajyko.........................................................................................121 Pezos e Medidas.....................................................................................................123 Kama de Solteyro...................................................................................................124 Amor Ezekutivo.....................................................................................................125 Tew Retrato.............................................................................................................126 Klara Lutxy..............................................................................................................127 Mediunyko...............................................................................................................128 Tranzes Tranzytos..................................................................................................128 O Inferno de Ékate................................................................................................129 Meya-Noyte.............................................................................................................129 Kanto Pós Demokryto e Eraklyto.......................................................................130 Dialogos Amorozos n°11.....................................................................................131 vida de poeta...........................................................................................................132 O Alimento das Gaivotas......................................................................................133 Menina Mosa..........................................................................................................134 243

A vida tal kwal não é..............................................................................................134 Só a morte é unívoka.............................................................................................135 O Ultymo Bigwá....................................................................................................136 Kravo de Marte......................................................................................................137 Vika..........................................................................................................................138 Devosão..................................................................................................................138 A Perfect Beach For A Bananafish......................................................................139 Kintanise..................................................................................................................140 Intuisão...................................................................................................................140 Bateya.......................................................................................................................141 ?There Are So Many Questions, aren’t there?....................................................142 Eskatolojia...............................................................................................................143 ISTO NÃO É UM POEMA................................................................................144 gata sem kalsa na sala............................................................................................145 Luminaryas..............................................................................................................146 Aborto.....................................................................................................................146 Entredentes.............................................................................................................147 Hölderlin.................................................................................................................147 Diálogos Amorozos n° 207..................................................................................148 Mizojenias................................................................................................................149 Subyto akorde.........................................................................................................150 Poemeto em si bemol............................................................................................151 Lenga-Lengwa........................................................................................................152 O Sorrizo do Anjo.................................................................................................153 Tenno Muytos Amigos..........................................................................................154 Villa, T.S., os meninos, Maira...............................................................................155 Περι Ποιητικη........................................................................................156 Dejelo........................................................................................................................157 Matematyka.............................................................................................................158 Mizojenias n° 2.......................................................................................................159 As Novas Muzas..........................................................................................................160 Ferrajaria Poetyka...................................................................................................161 Gerra e Paz.............................................................................................................161 Fez ke se fez uma naw interestelar.......................................................................162 Kwatrillo Owtonal.................................................................................................164 Keda-de-braso........................................................................................................164 Ritual de Vestir.......................................................................................................165 Epistemolojyko......................................................................................................166 244

Moyra........................................................................................................................167 The Fairy Queen....................................................................................................169 Um Graal................................................................................................................170 Omo Simbolykws...................................................................................................170 ?dás a iso o nome de amor?..................................................................................171 Lojyka Metaforyka.................................................................................................171 Epistemolojias.........................................................................................................172 Kafé solúvel, leyte desnatado...............................................................................173 It’s Up To You........................................................................................................174 Mew Reyno Mefistofleno......................................................................................175 Treppo, ergo sunt...................................................................................................176 Espreso 999............................................................................................................177 Pós-Solidão.............................................................................................................178 Maturidade..............................................................................................................179 O Poema e A Letra................................................................................................180 Duas Oras da Mannã.............................................................................................181 O Relojyo.................................................................................................................182 Esas Follas Ke Kaem............................................................................................184 Νοµων............................................................................................................................185 Não Averá Paiz Nennum......................................................................................186 Korasão Inesperto..................................................................................................187 AKATÍ.....................................................................................................................188 Rekaida.....................................................................................................................189 Ministeryo................................................................................................................190 Ministeryo n° 2.......................................................................................................191 Noz de marinneyros..............................................................................................192 Korpws Kristy........................................................................................................193 Semypoeta...............................................................................................................194 Esse papo já está pra lá de kwalker koyza..........................................................195 Antes ke...................................................................................................................195 Intelijensya Poetyka n°2........................................................................................196 As Serdas da Lira....................................................................................................197 Para Enxergar À Noyte.........................................................................................198 A Poezia é O Verbo...............................................................................................199 Ezistensialismo n°2................................................................................................200 Révéyllonlatyon.......................................................................................................200 Signifikansyas...........................................................................................................201 Nada Mays Ke Poeta.............................................................................................202 245

vida de poeta n°2...................................................................................................203 Ermenewtyka..........................................................................................................204 Debayxo das rodas.................................................................................................205 O mel dos mortos..................................................................................................206 Multyplas Fases.......................................................................................................211 Fragmentarya..........................................................................................................212 Fragmentos Kariokas.............................................................................................213 Rekado ao bom leytor............................................................................................216 Mas Sempre Á Deses Bares, Lugares Onde Se Pode Ir....................................217 Korasão Karioka....................................................................................................219 Os sizos e os rizos..................................................................................................221 O Poeta....................................................................................................................239

Kama Antropofajyka VERSO VOZ VIOLÃO Kantilena de Exu...................................................................................................223 Klones......................................................................................................................224 Viajem ao séw.........................................................................................................225 Korpo-Santo...........................................................................................................226 Nó no peyto............................................................................................................227 Ezistensialismo........................................................................................................228 Xuva Sobre o Mar..................................................................................................229 Minna Muller Fotografa Flores No Jardim........................................................230 Intelijensya Poetyka...............................................................................................231 A Lammpada..........................................................................................................232 Marmita de Bordões (As Azas no Tew Ollar)...................................................233 Nós de Marinneyros..............................................................................................235 Kwando a jente pensa...........................................................................................236 Beautiful Maira.......................................................................................................237 Te Xamey................................................................................................................238

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KAMA ANTROPOFAJYKA

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