Jose Lourenco Pereira Da Silva Maringa

  • October 2019
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SÓCRATES, CORRUPTOR DE JOVENS?

José Lourenço Pereira da Silva∗ [email protected]

Defendo o princípio de que o professor de filosofia ao expor as teses de determinado filósofo (ou as idéias a ele atribuídas, sobretudo em se tratando de um pensador mais antigo), deve fazê-lo com toda a objetividade possível. Na ausência de tal objetividade, pelo menos duas lamentáveis conseqüências tendem a ocorrer: o aluno, confiando no mestre, não saberá o que realmente disse o pensador; e pior, pode contrair uma verdadeira ojeriza em relação a um filósofo que foi satirizado ou desqualificado pelo professor. Qualquer filósofo pode ser vítima dessa falta grave por parte do professor de filosofia pouco interessado em transmitir fielmente as teses ou programas filosóficos dos pensadores. Mas aqui gostaria de considerar o exemplo emblemático de Sócrates, posto que na história da filosofia ele talvez seja o pensador cuja vida e pensamento mais têm suscitado dúvidas e disputas. Múltiplos, variegados e amiúde contraditórios são os aspectos com os quais são caracterizados o filósofo ateniense e o suposto ensinamento que professava. No que concerne à pedagogia da filosofia, por exemplo, contrariamente à afirmação de W. Jaeger de que Sócrates “é o fenômeno pedagógico mais formidável da história do Ocidente” (1996, p. 404), há quem alegue ter sido Sócrates matriz da soberba e do autoritarismo da Filosofia e dos filósofos, um modelo de mestre a ser evitado. Saber qual imagem, ou imagens, representa o verdadeiro Sócrates já é uma questão clássica na abordagem a esse pensador – a chamada “Questão Socrática”.



Universidade Estadual de Maringá. Departamento de Ciências Sociais.

2 Para o conhecimento do Sócrates histórico contamos com quatro fontes principais: o comediógrafo e crítico social Aristófanes, concidadão de Sócrates; Xenofonte, o general militar dotado de certa capacidade literária, seguidor de Sócrates por pouco tempo; e os dois eminentes filósofos da antiguidade: Platão, que se manteve ligado a Sócrates por cerca de dez anos, e Aristóteles, membro da Academia platônica durante duas décadas. Dessas fontes, as representações de Sócrates que nos chegaram são, resumidamente, as seguintes. Em As nuvens, Aristófanes ridiculariza Sócrates apresentando-o como sofista que por dinheiro ensina a maneira de fazer o discurso mais fraco parecer o mais forte e como filósofo da natureza a pôr dúvidas a respeito da existência dos deuses cultuados pela cidade; descrição que parece fundamentar as acusações que levaram Sócrates à morte. Xenofonte, ao contrário, descreve a mesma pessoa como uma figura de extraordinária austeridade, tanto na observação das leis, da moral e da prática religiosa ateniense, quanto no trabalho e na lida diária, acerca da qual possuía muitos conselhos úteis; descrição que salvaria Sócrates da condenação. Platão faz o mestre o protagonista da quase totalidade de seus escritos, caracterizando-o com o que julgava as melhores qualidades pessoais e filosóficas. O Sócrates de Platão foi “o mais justo e sábio homem do seu tempo”, sua preocupação fora eminentemente com a ética, não deixando, todavia, de interessar-se por outros assuntos; do deus Apolo dizia ter recebido a missão de zelar pela conduta moral própria e de seus concidadãos, auxiliado nessa tarefa por um demônio pessoal; defendia certos princípios impopulares como de que “ainda é melhor sofrer que praticar injustiça”, “que ninguém peca voluntariamente”, “que a virtude é conhecimento”; desmascarava a ignorância dos pretensos sábios, atormentando-os com interrogatórios em torno de questões do tipo “o que é a beleza?”, “que é a temperança?”, “a virtude é ensinável?”; afirmava, porém, não possuir conhecimento, mas ser capaz de trazer à luz a verdade velada na alma dos

3 interlocutores; era uma personalidade atraente, vivia cercado por jovens ricos que costumavam imita-lo na sua atividade refutativa, e se relacionou com importantes personagens da história grega: destacados políticos, poetas famosos, cientistas etc. Aristóteles, enfim, transmite-nos o retrato de Sócrates como moralista que em suas investigações éticas acaba por se tornar o precursor da lógica. Sócrates é, de fato, um caso peculiar na história da filosofia. Pensador que nada escreveu, seus reais método e ensinamento sãonos difíceis de apreender devido às fontes mesmas a partir das quais acreditamos conhecer Sócrates. Em outras palavras, porque nosso conhecimento de Sócrates depende dos testemunhos frequentemente tendenciosos e/ou conflitantes de seus admiradores e detratores, o indivíduo Sócrates parece que não deixará de ser um enigma. Seja como for, para a filosofia o testemunho de Platão é, inegavelmente, de importância capital. Ainda que dúvidas possam persistir, a maioria dos estudiosos na atualidade tende a considerar o Sócrates platônico o mais historicamente acurado, pois Platão parece ser uma fonte privilegiada para se conhecer Sócrates na medida em que a complexidade de caráter que manifesta o principal personagem dos diálogos

torna

compreensíveis

tanto

os

louvores

quanto

as

condenações impingidas à figura de Sócrates. E na opinião da crítica mais recente, o Sócrates da Apologia é o mais próximo ao Sócrates histórico do que o dos outros diálogos. Se há muitas incertezas sobre a vida e o pensamento de Sócrates, é fato, porém, que ele foi julgado e condenado à morte no ano de 399 a.C. Seu julgamento foi relatado por Platão na Apologia de Sócrates1, uma peça literária da qual não se deve esperar ser a exposição precisa dos discursos de Sócrates diante dos juizes e do público presente ao seu julgamento, mas que seja, como admitido pelos mais circunspectos intérpretes, uma descrição acurada do 1

Existiram outras apologias de Sócrates, esse tipo de escrito teria constituído um gênero literário. Mas dentre as apologias conhecidas, no teor e na forma a de Platão é superior a todas.

4 evento com a indicação procedente das motivações históricas que levaram Sócrates à condenação. Não pretendendo aqui uma análise detida da Apologia, coloco uma questão para contemplar o meu ponto. A crer que a Apologia tenha base na realidade, foi Sócrates um mau e ruinoso professor? Foi ele um corruptor de jovens? São bem conhecidas as acusações por que o filósofo ateniense veio a juízo: foi acusado do crime de impiedade, precisamente, de não acreditar nos deuses cultuados em Atenas, introduzindo novos deuses, e de corromper os jovens. Para defender-se, Sócrates vai primeiramente a procura dos antecedentes dessas acusações. Assim procedendo, mostra que antigos adversários, Aristófanes o único a ser citado, o haviam confundido com um filósofo da natureza, gente que costuma afirmar heresias, e com um sofista que ensinava a fazer o discurso injusto prevalecer sobre o justo. Meras calúnias segundo Sócrates, que vê a necessidade de revelar-lhes as origens. Para Sócrates, a causa das calúnias e de tantos embaraços sofridos, inclusive o presente, é o desígnio de Apolo – argumento que priva, pois, de todo sentido a acusação de impiedade. Em vez de uma vida pacata de escultor, sua opção pela vida excêntrica dedicada à filosofia, ele explica, se deve ao oráculo do deus de Delfos. Conta Sócrates que se sentira impelido a examinar a si mesmo e aos outros depois da consulta que seu fervoroso amigo Querefonte fez ao deus sobre se havia alguém mais sábio (sophos) do que Sócrates. Muito intrigado com a resposta de que ninguém era mais sábio, Sócrates, que se julgava nada sábio, foi procurar o sentido oculto da mensagem do deus. Nesse desiderato se dirigiu às pessoas reputadas sábias, primeiro aos políticos, depois aos poetas, por fim aos artesãos. Interpelando cada um, constatou a arrogância e presunção que todos tinham. Por que cada qual era competente em determinada atividade, se pretendia sapiente em tudo o mais quando não o era. Do fato de questionar e refutar estes sábios é que sobrevieram a Sócrates tantas inimizades e ressentimentos, além da fama de sábio,

5 já que os que o ouviam refutar ou confundir outra pessoa consideravam Sócrates sábio na matéria em que exercia o exame. A sabedoria, porém, pertence ao deus, que provavelmente tomara Sócrates de exemplo para dizer que o mais sábio dentre os homens é quem como Sócrates “compreendeu que sua sabedoria (sophia) é verdadeiramente desprovida do mínimo valor” (Apologia, 23b. trad. Jaime Bruna). Tal seria o sentido do oráculo, acicate para vida filosófica

assumida

por

Sócrates:

“Por

isso

não

parei

essa

investigação até hoje, vagueando e interrogando, de acordo com o deus, a quem, seja cidadão, seja forasteiro, eu tiver na conta de sábio, provando-lhe que não é sábio”. Se agindo sozinho Sócrates tornou-se desagradável a muitos, sua reputação piorou quando jovens mais ociosos passaram a emulá-lo. A reação habitual daqueles refutados pelos seguidores de Sócrates era acusar esse aqui de corruptor da juventude. Mas nunca sendo capazes de mostrar com que ensinamentos ele corrompia os moços, assacavam-lhe as injúrias corriqueiras

contra

os

filósofos:

a

descrença

nos

deuses,

o

prevalecimento da razão mais fraca. Filósofo no sentido próprio do termo, Sócrates figura como modelo da modéstia da Filosofia. Com efeito, ele não arrogava a si sabedoria nem se estipulava sábio, nas diferentes acepções desses dois termos. As palavras gregas sophos e sophia primitivamente conotavam habilidade em uma arte ou técnica, passando a significar também habilidade nos assuntos da vida comum. Sophia é a sabedoria prática, mas também a sabedoria em geral; sophos, aquele que sabe. Sócrates afirmava nem ter conhecimentos das artes, e nisso ser superado pelos artesãos, nem possuir a sabedoria que muita gente julga ter a respeito das grandes questões da vida. A sophia possuída por Sócrates, aquela que o distinguia das demais pessoas, consistia em reconhecer a limitação do saber humano. Com isso, se alinhava à tradição que remonta a Heráclito, segundo quem sophos é um nome reservado aos deuses, o homem no máximo pode

6 ser qualificado de philosophos, “aspirante ao saber”. Duas atitudes são características do philosophos: 1. ele percebe que é desprovido de saber, e 2. busca o que sabe que lhe falta e aspira assim a verdade (Brisson, 2005, p. 139-140). Mas então, com que ensinamento esse “sábio” que alegava nada saber acaso desvirtuava os jovens? Ainda na Apologia Sócrates declara com toda eloqüência:

Eu nunca fui mestre de ninguém, conquanto nunca me opusesse a moço ou velho que me quisesse ouvir no desempenho de minha tarefa. Tampouco falo se me pagam, e se não pagam, não; estou igualmente à disposição do rico e do pobre, para que me interroguem ou, se preferirem ser interrogados, para que ouçam o que eu digo. Se algum deles vira honesto ou não, não é justo que eu responda pelo que jamais prometi nem ensinei a ninguém. Quem afirmar que de mim aprendeu ou ouviu em particular alguma coisa que não todos os demais, estai certos de que não diz a verdade (Apologia, 33a-33b).

Essas

palavras

suscitam

importantes

questões.

Uma,

extremamente polêmica, é se Sócrates ironiza ou se fala a verdade quando afirma que jamais instruiu alguém, vale dizer, que nunca transmitiu uma doutrina ou ensinamento positivo com que formava e moldava o caráter de discípulos, nem que fornecia saberes e competências a pessoas que antes não os possuíam. É de fato intrigante e espantoso o dizer de Sócrates que nunca foi mestre. Como não, se é notório que ele foi inspiração para diversas escolas filosóficas, de resto não havendo dúvida quanto a sua influência decisiva no pensamento ocidental? É necessário entender o texto da Apologia. Defendendo-se, Sócrates se anunciava desprovido de quaisquer doutrinas à diferença dos filósofos da natureza. Se quando jovem alguma vez interessou-se pelas teorias dos físicos (como testemunham Platão e Xenofonte), abandou logo este tipo estudo porque não encontrou nele lições sobre o assunto maior: a conduta humana. Também não foi mestre no sentido em que os seus

7 contemporâneos sofistas o eram. Ainda que tenha simpatizado com certas atitudes dos sofistas, tais como a de trazer a filosofia para o estudo do homem, de desenvolver o espírito crítico e a facilidade de expressão, Sócrates se opôs aos sofistas em questões fundamentais: entre outras coisas, foi contra o relativismo dos princípios éticos, contra o uso da arte dialética para obter vitória no debate independentemente da justiça da causa defendida, e com veemência repudiava a prática sofista da educação como uma profissão paga, fosse com alunos particulares, fosse em leituras públicas. Assim, não contando com uma ciência da natureza, nem com a erudição dos sofistas, Sócrates alegava não ser professor. Simplesmente acolhia todos

quantos

desejavam

ouvi-lo

dialogar;

sem

discípulos

propriamente ditos, tinha, todavia, seguidores que se lhe associavam por vínculos afetivos. Se Sócrates não possuía saberes para uma atividade docente, é certo, porém, que exercia uma prática investigativa: o famoso elenchos. G. Vlastos conseguiu encerrar numa descrição tão concisa quanto precisa, me parece, a natureza do elenchos socrático:

O elenchos socrático é uma busca pela verdade moral por meio do argumento contestante de questão-eresposta, no qual uma tese é debatida somente se asseverada como a crença própria do respondente e é considerada como refutada somente se sua negação for deduzida a partir das próprias crenças daquele que responde (Vlastos. In: Burnyeat, 1995, p. 4).

O termo grego elegkhos e o verbo elegkhein exprimem diversos significados. Em um sentido mais antigo, elegkhos quer dizer ‘vergonha’, ‘desonra’ ou ‘reprovação’; elegkhein, reprovar, censurar. Na evolução, elegkhos é usado para significar o ‘argumento de refutação’,

ou

simplesmente

a

‘refutação’,

assumindo

em

conseqüência o sentido de ‘exame’, ‘teste’ ou ‘escrutínio’. Em Sócrates o elenchos é acima de tudo uma busca, vale dizer, uma investigação que não chega a um resultado positivo que se impõe

8 como o fim do processo. Nisto é que, para Sócrates, a Filosofia devia consistir: examinar, inquirir, investigar, questionar. Como se sabe, o campo de aplicação do elenchos socrático foi a ética. Ao exigir do interlocutor responder aquilo que ele mesmo acredita (uma regra do elenchos dialético), Sócrates queria assegurar a linha de identidade entre o indivíduo e suas palavras. Sendo assim, o interrogatório conduzido por Sócrates não se refere mais às proposições que às convicções interiores. Como apropriadamente L. Brisson ressalta: “o elenchos socrático se dirige à vida de um indivíduo pelo viés de um exame de seu discurso” (2005, p. 72). O caráter pessoal do elenchos exercido por Sócrates é provado pelo sentimento de vergonha que Sócrates provocava naqueles que ele submetia a refutação. A tal sentimento Sócrates atribuiu, como se disse, a responsabilidade pelo clima de animosidade e hostilidade contra ele, clima propício para o florescimento de suspeitas e acusações, como a de corrupção de jovens em virtude da qual pereceu. A dar crédito à Apologia, Sócrates de fato não possuía uma espécie de ensinamento com a qual determinava a conduta de alunos. Por isso ele não aceita ser vinculado às ações imorais e aos crimes cometidos por antigos companheiros. É muito provável que os presentes ao julgamento guardavam na memória as práticas nefastas do demagogo Alcebíades, bem como os atos funestos do tirano sanguinário Crítias, personagens históricos que tidos como discípulos de Sócrates seriam prova circunstancial da culpa de corrupção de jovens imputada ao filósofo de Atenas. Mas, como é claro, Sócrates se exime afirmando jamais haver doutrinado alguém, tenha sido com lições em particular ou através de preleções públicas. Teria tãosomente discutido com Crítias e Alcebíades como fazia com qualquer um, sem aliás nada pedir em troca. É difícil acreditar que Sócrates realmente não teve qualquer mensagem a repassar, nenhuma idéia a defender, nem princípio a

9 sustentar. Teve sim. E na Apologia ele enunciou qual era seu único “ensinamento”.

Outra coisa não faço senão andar por aí persuadindovos, moços e velhos, a não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como melhorar o mais possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não vem a virtude para os homens, mas da virtude vêm os haveres e todos os outros bens particulares e públicos. Se com esses discursos corrompo a mocidade, seriam nocivos esses preceitos; se alguém afirmar que digo outras coisas e não essas, mente” (Apologia, 30a-b).

Assim,

apoiando-se

na

Apologia

podemos

dizer

que,

se

estimular espíritos a praticar a filosofia, a buscar incansavelmente a verdade, e se exortar as pessoas a viverem uma vida virtuosa, sábia e justa é perverter, Sócrates deve ser considerado um corruptor de jovens e velhos. Para concluir. A intenção nesse texto era mostrar que ao tratar um filósofo, em uma primeira abordagem, é preciso aspirar à objetividade. Pretendi exemplificar com o caso de Sócrates por ser um dos filósofos mais controvertidos, já constituindo um problema determinar sua verdadeira personalidade e presumida doutrina. Para a exposição sobre Sócrates, limitei-me quase que unicamente à Apologia de Platão, que descreve o fato histórico do julgamento de Sócrates sendo, por suposto, o escrito platônico que apresenta o Sócrates mais próximo ao da história. Na Apologia procurei a resposta para a pergunta se Sócrates foi um mau professor, se os seus detratores tinham razão em acusá-lo de corromper os jovens. Sócrates rejeita o título de professor, pois professor é quem possui e transmite saber, e ele se declarava privado de sabedoria. Porém dedicou a vida ao exercício da refutação (elenchos), submetendo as pessoas a interrogatórios e envergonhando-as na intenção de aperfeiçoá-las

moralmente,

agressividade

de

muitos.

com Jamais

isso

contraindo

pretendeu,

a

antipatia

afirma,

e

doutrinar

10 alguém, portanto não se responsabiliza pelo desvio de conduta de qualquer um com quem tenha dialogado. E o único ensinamento que alegava ter tido para corromper alguém, se ele isso fizesse, era que cada indivíduo devia antes de tudo cuidar de sua alma. O leitor vai reconhecer que o que foi exposto aqui se encontra suficientemente apoiado no texto platônico. Não quis fazer muito mais que isso. Pois estou convencido de que, no que diz respeito ao ensino de Filosofia, quando se trabalha com as obras dos filósofos, em primeiro lugar o professor deve elucidar o que está no texto. Note bem, não digo que é para se limitar ao texto e nunca dele sair, que seja para se pôr sempre de acordo com tudo que há no texto, nunca polemizando, nunca falando contra. Ora, isso seria o fim do pensamento crítico, o fim da filosofia. É próprio mesmo da filosofia refutar

e

inquirir;

simplesmente

isso

quero

Sócrates

dizer

é

deixou

que,

tanto

estabelecido. quanto

O

que

possível,

a

compreensão deve preceder a interpretação; caso contrário, por mais inventiva que possa ser uma crítica, ela erra o alvo. Ademais, se o professor formula uma interpretação ou uma crítica que não corresponde ao que disse o pensador, o penalizado ainda pode ser aquele aluno que em sua incipiência tende a acreditar mais no professor que lhe fala claro que no pensador que lhe parece obscuro. Portanto, defendo que sejamos honestos e objetivos enquanto expomos as idéias dos filósofos, que nossa apreciação crítica aconteça na seqüência.

Bibliografia

PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. São Paulo: Nova Cultural, 1991 (Os Pensadores). PLATON. Apologie de Socrate; Criton. Introductions et traductions de Luc Brisson. Paris: GF Flamarion, 2005. ARISTÓFANES. As Nuvens. Trad. Gilda M. Reale Strazynski. São Paulo: Nova Cultural, 1991 (Os Pensadores).

11 XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates; Apologia de Sócrates. Trad. Líbero R. de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1991 (Os Pensadores). BRICKHOUSE, T.; SMITH, N. Plato’s Socrates. New York, Oxford: Oxford University Press, 1994. GUTHRIE, W. K. C. A History of Greek Philosophy, v. III, 5 ed., New York, Melbourne: Cambridge University Press, 1995. JAEGER, W. Paideia: los ideales de la cultura griega. Trad. Joaquín Xirau e Wenceslao Roces, 12 ed., México: Fondo de Cultura Economica, 1996. LIDDELL, H. G.; SCOTT, R.; JONES, H. S. A Greek-English Lexicon. 9 ed., Oxford: Clarendon Press, 1996. PEREIRA, M. H. da Rocha. Estudos de História da Cultura Clássica, v. I, 8 ed., Lisboa: Gulbenkian, 1997. VLASTOS, G. The Socratic elenchus: method is all. In: BURNYEAT, M. (ed.). Socratic Studies. New York, Melbourne: Cambridge University Press, 1995.

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