ENTREVISTA
Uma publicação da Aver Editora - 1 a 15 de Outubro de 2009 - Ano I Nº 12 R$ 5,00
Marcos Caruso revela quais foram as parcerias de sucesso que teve durante os 36 anos de carreira
Divulgação
VIDA E OBRA
A trajetória de Miriam Mehler, incansável na arte de criar as personagens Pág. 21
POLÍTICA CULTURAL
Aprovação da PEC 150 permite viabilização do Plano Nacional de Cultura Pág. 20
DANÇA
Giséle Santoro revela os detalhes da história do balé na capital federal Pág. 7
EDITAIS
o r t a e t O
infantil ? il s a r B o n o d a iz r o l a év
Mesmo sendo um dos grandes formadores de público e primeiro contato de muita gente com o teatro, o gênero sofre com a falta de patro-
cínio e valorização dentro e fora da classe artística. Quem garantiu isso ao Jornal de Teatro foram profissionais de diferentes partes do Brasil que,
mesmo com todas as dificuldades, acreditam que um trabalho de qualidade sempre terá reconhecimento. Pág. 12 e 13
Política inclusiva da Caixa Econômica Federal promove revolução cultural Pág. 6
ESPECIAL
Talentosa desde menina, Bia Bedran dá uma aula de como se dedicar às crianças Pág. 11
FESTIVAIS
Fenatib leva beleza e encanto aos jovens apreciadores do teatro Pág. 16
Fábio Torres / Divulgação
Atores em ação durante “Filhotes da Amazônia”, da Cia Pia Fraus: falta de importância dada às peças infantis leva muitos deles a optarem pelo teatro ‘adulto’
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Jornal de Teatro
Não espere que te contem, VIVA VOCÊ MESMO. Lago Villarrica
Santiago e Região dos Vinhos
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7 noites .................................................................. Entrada R$ 776, + 9x de R$ ,88 Inclui passagem aérea, traslados e hospedagem de 5 noites em Santiago, 1 em Curicó, 1 em Santa Cruz com café da manhã. Ticket de trem Santiago/Curicó. Passeio aos vinhedos na região de Curicó com almoço típico e degustação, rota do vinho de Colchagua com almoço e degustação. Passeio pela cidade de Santiago, Viña del Mar, Valparaíso e tour Santiago by night com degustação de vinhos. Assistência de viagem internacional. À vista R$ 3.880, Base US$ 2.088, Preço para saídas diárias de outubro a novembro.
Santiago
2, 3 e 4 noites................................ Entrada R$ 244, + 9x de R$ 108,44
Inclui passagem aérea, traslados e hospedagem. Moderna e vibrante, a capital chilena vem atraindo cada vez mais visitantes em busca de novidade e também de paisagens incríveis da cordilheira que emoldura o horizonte. À vista R$ 1.220, Base US$ 658, Preço de 2 noites para saídas diárias até 1o/dezembro.
Santiago, Patagônia e Torres del Paine
7 noites .........................................................Entrada R$ 762, + 9x de R$ 338,66
Inclui passagem aérea, traslados e 4 noites de hospedagem em Santiago, 1 em Punta Arenas, 2 em Puerto Natales com café da manhã. Passeio pelas cidades de Santiago e Punta Arenas. Tour ao Parque Nacional Torres Del Paine com Cueva de Milodon e assistência de viagem internacional. À vista R$ 3.810, Base US$ 2.048, Preço para saídas diárias de outubro a novembro.
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Jornal de Teatro
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Cadu Cinelli / Divulgação
Editorial Profissionais da inocência
REPORTAGEM
Atores e diretores do teatro infantil avaliam se o segmento já alcançou a maturidade no Brasil Págs 12 e 13
Índice EDITAIS.......................................................................6 CEF registra crescimento de propostas para editais Diretores do órgão consideram relevante o aumento no número de inscrições de projetos e creditam o avanço a uma política inclusiva
FESTIVAIS................................................................16 Fenatib reinventa o teatro infantil Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau apresentou peças focadas exclusivamente no universo das crianças
VIDA & OBRA................................................................ 21 Uma dama que não usa black-tie Miriam Mehler, com 74 anos e mais de 50 peças no currículo, garante que não pensa em parar de atuar
Ao observar as 11 edições passadas do Jornal de Teatro, percebemos o pouco espaço que demos para o teatro infantil. Não há nenhum motivo especial para isso, mas, simplesmente, o assunto passava pelas reuniões de pauta. E por quê? Será que não se ouve falar de teatro infantil nos demais meios de comunicação e nas mesas de discussão pelo mesmo motivo, por que “passa batido”? Sem justificativas, resolvemos dedicar grande parte desta edição (que não por acaso circula durante o Dia das Crianças) para os profissionais que talvez mais se dediquem a formações de público, à construção de pensamento teatral e ao primeiro contato de multidões com o palco. Sim, multidões – sem medo de exagerar -, pois, em uma pequena amostragem que fizemos, percebemos que o primeiro contato com a atividade dramática de grande parte das pessoas que nos cercam foi durante o período escolar, nas famosas excursões ao teatro. Mesmo que o hábito não tenha sido mantido fora da escola, a impressão inicial vem dali – e talvez a motivação para seguir uma carreira. Dentre os profissionais de teatro infantil com que conversamos, muitos concordam que a escolha de viver da arte veio deste período e que há falta de valorização dos espetáculos porque muitas produções não representam muito bem a classe. Peço licença para dividir uma história pessoal, retomada sempre que minha família conta as situações bizarras da infância de cada um. Com quatro ou cinco anos, meus pais me levaram ao teatro, e interessado, sentei nas primeiras filas de uma casa lotada. No palco surgiram príncipes, princesas, fadas – mas eu não estava preparado para o bruxo - e, quando ele surgiu, saí correndo desesperado por todo o teatro. Entre risos de toda plateia e principalmente dos meus pais, tiveram que me explicar que nada daquilo era real. Este deve ter sido o meu primeiro contato com o teatro e, com certeza, se confunde com o de grande parte dos leitores. As mães ainda contam histórias para as crianças antes de dormir? Minha geração ainda teve isso e contávamos também com a poesia dos circos de final de semana e de pessoas como Bia Bedran na televisão. O que considero mais interessante nos espetáculos infantis, assim como na contação de histórias, lendas, fábulas e até nos melodramas circenses, é que o final dos mocinhos nem sempre é feliz. Qual a realidade dos artistas do teatro infantil? Suas histórias de vida, como as que interpretam, nem sempre têm final feliz? Acompanhe nas próximas páginas do Jornal de Teatro o depoimento de alguns destes artistas que vencem a desvalorização e conquistam as crianças de todas as idades.
HISTÓRIA.................................................................22 Três décadas atraindo multidões no Sul do Brasil Teatro criado pelo lendário palhaço Teleco no Rio Grande do Sul continua encantando a plateia após 36 anos
Rodrigoh Bueno Editor do Jornal de Teatro
INTERNACIONAL..................................................... 23 Teatro Sarmiento: a casa do experimento Conheça a história da sala que foi feita como o Teatro do Zoológico de Buenos Aires e se transformou em um espaço de investigação teatral
Presidente: Cláudio Magnavita Castro
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Bastidores
Jornal de Teatro
Reinaldo Canato/ Entrelinhas
Isabelle Ruppert atraiu atenção da imprensa brasileira
O FURACÃO ISABELLE HUPPERT Em temporada no Brasil com o espetáculo “Quartett”, do diretor americano Bob Wilson e do autor alemão Heiner Müller, a atriz francesa Isabelle Huppert foi o assunto no meio teatral nas últimas semanas. Seja pelo belíssimo trabalho que apresentou no palco, pelas homenagens que recebeu ou – principalmente – pelas excentricidades características de uma diva. Foram trocas de hotéis nas cidades pelas quais passou, pedidos imediatos e a falta de interesse em conversar com a imprensa brasileira. Sobraram poucos registros fotográficos da visita, mas quem conferiu o espetáculo garante que a personalidade da atriz agrada mesmo é no palco. “Quartett” integra o calendário oficial do Ano da França no Brasil e é uma adaptação ao romance de Choderlos de Laclos, “As Relações Perigosas”. Isabelle Huppert é um das mais versáteis e premiadas atrizes das últimas décadas. Tem prêmios como duas Palmas de Ouro em Cannes (por “Violette Nozière”, em 1978; e “A Professora de Piano”, em 2001), dois Festivais de Veneza (“Um Assunto de Mulheres”, em 1988; e “Mulheres Diabólicas”, em 1995), um Urso de Prata em Berlim (“8 Mulheres”, 2002), um César (1996, também por “Mulheres Diabólicas”) e um Bafta (como atriz revelação por “Um Amor Tão Frágil”, de 1977), entre outros.
FUNARTE SÃO PAULO LANÇA CINCO NOVOS EDITAIS DE OCUPAÇÃO DESTINADOS ÀS ARTES CÊNICAS A Funarte (Fundação Nacional de Artes) lança novos editais de artes cênicas para a ocupação das salas Carlos Miranda e Renée Gumiel, localizadas no Complexo Cultural Funarte, em São Paulo, e do Teatro de Arena Eugênio Kusnet. Os editais já estão disponíveis no site orgão. Serão selecionados, ao todo, cinco projetos que, entre outubro e dezembro, ocuparão estes espaços. Interessados em participar do processo seletivo para a Sala René Gumiel devem enviar seus projetos à Funarte até 9 de outubro. Para os demais editais, as inscrições seguem até 10 de outubro. Por meio dessa iniciativa, a fundação destinará R$ 220 mil a montagens de espetáculos. Dois dos editais lançados contemplam especificamente o teatro infantil e um está voltado para a revisão crítica da dramaturgia nacional - tema a que se dedica o Teatro de Arena. A seleção será realizada por especialistas em teatro e obedecerá às seguintes diretrizes gerais: excelência artística do projeto, qualificação dos profissionais envolvidos, viabilidade prática da proposta e relevância das contrapartidas apresentadas. Poderão participar dos editais, com apenas um projeto, companhias, grupos ou empresas, com ou sem fins lucrativos, de natureza cultural, com pelo menos dois anos de atividades comprovadas. Os selecionados deverão realizar pelo menos uma atividade gratuita voltada para escolas, públicas ou particulares, e comunidades do entorno. Mais informações em www. funarte.gov.br “CARA A TAPA” EM TEMPORADA NO LEBLON, NO RIO Divulgação
Priscila Amorim e Marcello Melo tentam reinventar um relacionamento
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Reprodução
ESTREIA O TEATRO LÁ EM CASA, EM SÃO PAULO
TELEDRAMARTUGIA BRASILEIRA: ARTE OU ESPETÁCULO? O livro “Teledramaturgia brasileira: arte ou espetáculo?”, de Ana Maria Figueiredo, é dirigido a todos que são afetados pelas novelas da televisão – ainda quando as criticamos como mero divertimento sem qualidade artística ou educativa. Só que há diferenças entre as várias categorias da teledramaturgia, que permitem qualificar algumas como mais responsáveis diante da arte e do público que outras. “Não será importante investigar a contribuição de tais teledramas à cultura popular brasileira?”, pergunta a autora.
O espaço Teatro Lá em Casa é a nova sede do Grupo de Teatro Meio
Cinco anos depois de terem se transformado em companhia teatral, o Grupo de Teatro Meio – coordenado pelo diretor Alex Brasil – inaugura sua sede no dia 3 de outubro, às 20h30. Na aber-
tura desse novo espaço cultural, batizado de Teatro Lá em Casa, será feita a estreia do espetáculo “O Gênio em Concurso”. O espaço fica na Rua Lopes de Oliveira, 635, Barra Funda, e remete à informalidade e ao
aconchego de uma casa. Apesar de ser a sede do Grupo de Teatro Meio, o espaço é aberto para abrigar manifestações artísticas de outros grupos interessados e promete oferecer oficinas e seminários.
Até onde um casal pode chegar na tentativa de reinventar um relacionamento? O espetáculo “Cara a Tapa” promete responder a essas perguntas. No elenco estão os atores Priscila Assum e Marcello Melo. A direção é de Renato Farias e o texto de Tarcísio Lara Puiati. A peça segue temporada no Teatro Café Pequeno. TEATRO AUGUSTA ABRE TESTE PARA NÚCLEO EXPERIMENTAL O Núcleo Experimental do Teatro Augusta seleciona atores para nova montagem do grupo, a peça “Coronado”, do dramaturgo norte-americano Dennis Lehane e direção de David Rock. Os testes acontecem nos dias 13 e 14 de outubro, das 10h às 17h, no Teatro Augusta (Rua Augusta, 943 – São Paulo) e serão agendados pela direção do espetáculo. Os ensaios da peça acontecem de 19 de outubro a 10 de dezembro de 2009 e de 4 a 20 de janeiro de 2010, de segunda a quinta-feira, das 10h às 14h, com estreia marcada para janeiro de 2010. O Núcleo Experimental do Teatro Augusta tem no currículo os espetáculos “R & J” e “Mojo”. Para participar, o ator/atriz deve enviar material (currículo e duas fotos 10x15) para o e-mail: montagemcoronado@ gmail.com. Mais informações sobre as cenas para o teste estão no blog www.coronado2010.blogspot.com
Jornal de Teatro
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Sergio Martins
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Bastidores
MISTÉRIO BUFO Segue até 12 de outubro, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, a temporada do espetáculo “Mistério Bufo”. Na foto de camarim, as atrizes Carol Machado, Raquel Karro e o diretor Fábio Ferreira. STEVEN SPIELBERG QUER REVELAR BASTIDORES DA BROADWAY O diretor Steven Spielberg e o canal de televisão americano Showtime querem fazer um programa sobre os bastidores de um espetáculo da Broadway. A ideia é similar ao que foi visto no Brasil, em junho deste ano, na minissérie “Som e Fúria” que, por sua vez, foi baseada na série canadense “Strings and Arrows”. Ambas mostravam cenas sobre o que acontecia por trás das coxias. No caso de Spielberg – e dos produtores Craig Zadan e Neil Meron – a série pretende expor todo o processo que envolve uma produção da Broadway, desde a criação ao dia da estreia. Os envolvidos pretendem montar a peça de fato nos palcos depois que a série for ao ar. Apesar de a série ainda estar em sua fase inicial, os representantes da Showtime negam qualquer tipo de comentário sobre o programa (os produtores estão se reunindo com diversos roteiristas, com a intenção de evidenciar os diversos pontos de vista que se confrontam na hora de montar um espetáculo, dos atores aos investidores). CURSO ORIENTA ESPAÇOS CULTURAIS SOBRE COMO RECEBER PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS A SMPED (Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida) lança um curso para orientar gestores, produtores e funcionários de espaços culturais sobre o relacionamento com pessoas com necessidades especiais. O objetivo é combater o preconceito e criar um ambiente de inclusão e convivência. As primeiras edições do curso foram ministradas a funcionários da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). A primeira etapa do programa inclui vistoria e orientações técnicas realizadas por arquitetos da CPA (Comissão Permanente de Acessibilidade), tendo como foco a acessibilidade arquitetônica. A segunda consiste em sensibilizar os funcionários para melhorar o atendimento, simulando situações do cotidiano, como auxiliar um cego com seu cão guia, empurrar uma cadeira de rodas ou atender um surdo na lanchonete. A etapa seguinte inclui reuniões com gestores e administradores do espaço. O curso integra o programa “Sem Barreiras na Cultura”. Os espaços culturais interessados em receber as aulas devem entrar em contato com a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida e agendar uma visita da equipe. Mais informações: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/ secretarias/deficiencia_mobilidade_reduzida
Festival irá reunir oito grupos de rua para um público estimado de 50 mil espectadores
GARANTIDA A REALIZAÇÃO DA 2º EDIÇÃO DO FESTIVAL DE TEATRO DE RUA DE PORTO ALEGRE Realizado pelo grupo Falos & Stercus e pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre foi aprovado pela Caixa Econômica Federal e já tem garantida a sua segunda edição, prevista para 2010. O evento pretende reunir oito grupos de teatro de rua do Estado e dois convidados das demais regiões do Brasil. Serão 30 apresentações para um público estimado de 50 mil espectadores. Para a formação dos artistas e técnicos, serão realizadas oficinas, seminários e um ciclo de debates. A primeira edição do evento foi realizada entre 21 a 28 de abril. “PEQUENA MISS SUNSHINE” E “COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE” SÃO ADAPTADOS PARA O TEATRO O filme independente de comédia “Pequena Miss Sunshine” e o livro “Como água para chocolate”, de 1989, de Laura Esquivel – que mais tarde também foi parar nas grandes telas – foram os escolhidos para participar do laboratório anual Sundance Institute Theatre Lab. As obras serão adaptadas como musicais de teatro na temporada 2009-2010. O Sundance Institute Theater Lab propõe auxiliar profissionais de teatro que queiram desenvolver suas habilidades “sem a pressão da produção, com a ajuda de um time de atores profissionais e artistas talentosos que podem ajudar a moldar o trabalho”, como o site da instituição explica. “Pequena Miss Sunshine” teve sua estreia em 2006, justamente no Sundance Film Festival, e agora se transforma em musical com música de William Finn e direção de James Lapine. Já “Como água para chocolate”, que tem composição de Lila Downs e Paul R. Cohen, também teve a estreia de sua versão cinematográfica em Sundance. “AGUARDO NOTÍCIAS DA POLÔNIA” REESTRÉIA EM SÃO PAULO
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Após temporada muito bemsucedida no Teatro Augusta, em São Paulo, o espetáculo “Aguardo Notícias da Polônia”, de João Fábio Cabral, reestréia no dia 7 de outubro, no Espaço dos Satyros 1, na praça Roosevelt. No elenco estão Fábio Rhoden, Gabi Cywinski, Guilherme Gonzalez, Julia Bobrow e Roberta Uhller, sob autoria Reestreia aguardada em SP e direção de João Fábio Cabral.
CATHERINE ZETA-JONES ESTREIA NA BROADWAY O musical “A Little Night Music” é uma adaptação do filme de 1955 do sueco Ingmar Bergman, traduzido no Brasil como “Sorrisos de uma noite de amor”. O espetáculo teve sua primeira aparição nos palcos da Broadway nos anos 1970 e agora tem sua reestreia marcada para novembro com grandes nomes no elenco. A atriz vencedora do Oscar pelo musical “Chicago”, Catherine Zeta-Jones fará sua estreia nos palcos nova-iorquinos ao lado da ganhadora de cinco prêmios Tony Angela Lansburry. As mulheres farão os papéis de Desiree Armfeldt e Madame Armfeldt, respectivamente. Na primeira versão, as estrelas eram Glynis Johns, Hermione Gingold e Len Cariou. “A Little Night Music” terá direção de Trevor Nunn e trilha de Stephen Sondheim em curta temporada, de 24 de novembro a 13 de dezembro, no Walter Kerr Theater.
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Jornal de Teatro
Editais
CEF registra crescimento de propostas para editais Por Felipe Sil Efervescência cultural. A CEF (Caixa Econômica Federal) registrou aumento de propostas recebidas, fato considerado relevante para os editais culturais. As propostas para Ocupação dos Espaços Culturais da Caixa contaram com um crescimento de 42% em relação a 2008 (2.771 trabalhos enviados). Já para Festivais de Teatro e Dança foram recepcionados 312 projetos, número 16% superior ao registrado no ano passado. O maior aumento percentual, porém, ficou por conta do edital Apoio ao Artesanato Brasileiro, que recebeu 420 projetos e superou em 92% as inscrições de 2008. Os três editais totalizaram 3.503 propostas, de todas as regiões do País. O investimento previsto é de R$ 28 milhões. A escolha dos vencedores dos editais, que deve ocorrer até o dia 30 de novembro, costuma ser divulgada em toda a imprensa e se dá, anualmente, via edital público de ocupação. A Caixa direciona ações para o apoio a projetos e programas culturais relacionados aos segmentos de teatro, artes plásticas, fotografia, dança, música e artesanato. São priorizados eventos que circulam nos espaços da Caixa Cultural localizados em Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Há, porém, destinação também para projetos de todos os Estados do País, assim como ações culturais que ocorrem em espaços de terceiros. Para os diretores do órgão, os números só comprovam que os patrocínios culturais da Caixa ganharam ainda mais força ao longo dos últimos anos, ao lado da histórica atuação nos segmentos sociais, e assumem mais responsabilidades na área cultural do País. Para o gerente nacional de Promoções, Cultura e Esportes, Gerson Bordignon, “o recorde de inscrições é resultado de uma política inclusiva, de afirmação dos valores do País e preservação do patrimônio estético brasileiro, representado pela criatividade de nosso povo”. NOVAS ÁREAS E ESPAÇOS A Caixa ainda prevê a inauguração de mais três espaços culturais, além das unidades que já estão em funcionamento, nas cidades de Fortaleza,
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Diretores do órgão consideram relevante o aumento no número de inscrições de projetos e creditam o avanço a uma política inclusiva
>> Bordignon: ‘O recorde de inscrições é resultado de uma política inclusiva, de afirmação dos valores do País e preservação do nosso patrimônio estético’
Recife e Porto Alegre. Eles ainda estão em fase de reforma e adaptação. As inaugurações estão previstas para 2010. “A Caixa acredita que, dessa maneira, contribui para a democratização do acesso ao patrocínio cultural e possibilita aos artistas dos mais distantes municípios brasileiros concorrerem ao patrocínio para a sua realização. Cabe um destaque: a maioria das atividades que acontece na Caixa Cultural é suportada por projetos pedagógicos que ela mesma coordena, contemplando as atividades de visitação, monitoria, oficinas, além de lanche e transporte para crianças, idosos e portadores de necessidades especiais”, esclarece Gerson. Para Regina Albuquerque, gerente da Caixa Cultural no Rio, uma explicação que pode ser dada para o aumento significativo das propostas recebidas é a segmentação dos editais. “O de apoio ao artesanato brasileiro, por exemplo, é recente. Com essa segmentação, os artistas acabam sabendo dessa oportunidade pelo boca-a-boca. Isso legitima os editais, que passam a ser vistos como porta de
entrada para muitos profissionais. Esse patrocínio da Caixa é transparente e cada vez mais dá suporte não só a artistas renomados, mas a artistas iniciantes”, garante. Lançado em 2008, o edital da CEF Programa Caixa de Apoio ao Artesanato Brasileiro tem como foco o desenvolvimento de comunidades artesãs e de sua sustentabilidade, além da valorização do artesanato tradicional e da cultura brasileira, contemplando todo o processo produtivo, desde a aquisição de matéria-prima até a comercialização do produto. O programa consiste no patrocínio a comunidades artesãs por meio de um processo seletivo público, aberto anualmente a todas as regiões do País. Os projetos para o edital (foram recebidas 420 propostas) serão analisados com base em critérios como o manejo sustentável da matéria-prima para a produção artesanal, a adequação das unidades produtivas aos princípios de economia solidária, a sustentabilidade do projeto, comércio justo, a qualidade artística e o caráter tradicional do artesanato
produzido, além do impacto social positivo na comunidade em que estão inseridos. A primeira edição do programa culminou no patrocínio a 16 pontos de vários Estados brasileiros, com um investimento total de R$ 550 mil. EVENTOS NACIONAIS Outro edital da Caixa é o Festivais de Teatro e Dança, em que a seleção dos projetos é feita com bases nos princípios de nacionalização dos recursos, com o objetivo de promover e incentivar as diversas manifestações artísticas e culturais em todo o território nacional. Foram recebidas 312 propostas. O edital atende a critérios como análise da concepção geral do projeto, expectativa de interesse do público, currículo do proponente e das companhias integrantes e adequação orçamentária, além de perspectiva de contribuição ao enriquecimento sociocultural da comunidade e o caráter de responsabilidade social. Em 2008, a Caixa lançou a segunda edição do programa para seleção de Festivais de Teatro e Dança, referente ao
ano de 2009. Foram selecionados 28 projetos de teatro e 20 de dança, dentro de um total de 272 projetos inscritos, com um investimento total de R$ 3,45 milhões. O primeiro processo seletivo para o patrocínio de projetos de festivais havia sido lançado no primeiro semestre de 2008 e teve 531 projetos inscritos de todo o Brasil. Com um investimento de R$ 2,9 milhões, a Caixa contemplou um total de 36 projetos de festivais, sendo 21 de teatro e 15 de dança. A instituição, como empresa pública, julga que a escolha de projetos culturais para patrocínio, via processo seletivo público, visa dar transparência à gestão dos recursos disponíveis para este fim. “O mais legal de todos esses editais é que eles descentralizam a cultura em todas as regiões do País. Notamos um aumento considerável de propostas recebidas de todos os Estados do Brasil. Tudo devido à credibilidade que os editais da Caixa têm ganho dentro da classe artística. Isso é maravilhoso porque foge daquele eixo Rio-São Paulo apenas”, comemora Regina.
Jornal de Teatro
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Dança
A coreografia de uma cidade A capital federal possui outras bancadas além daquelas formadas no Congresso Nacional, onde os parlamentares se encontram para discutir projetos de leis e outras demandas de cunho nacional. Na bancada de cá, que não é formada por políticos, existe um grupo de difusores que trabalha arduamente para que a dança, em especial o balé, se mantenha vivo na capital. Para isso, a arte conta com um grupo de talentos como a ex-bailarina e professora, Giséle Santoro, conhecida internacionalmente como a Maìtre de Ballet. O título Maìtre é o resultado de mais de 30 anos dedicados à arte da dança. É a própria Giséle que conta um pouco desse panorama e como foi ser uma das pioneiras a trazê-la para uma cidade que acabara de nascer no Centro-Oeste brasileiro. Os primeiros passos não foram muito bem sucedidos na nova capital do País, devido o golpe militar de 1964. “Os projetos profissionais de que participei, no início de Brasília, não tiveram prosseguimento por razões de força maior. O primeiro deles, a fundação de uma escola profissional de dança e de um corpo de baile não aconteceu porque o exame de seleção para contratação dos bailarinos foi realizado no dia do golpe militar. O segundo, o curso de graduação em dança da UnB (Universidade de Brasília), em fase de implantação, foi adiado em novembro de 1965, quando mais de 280 docentes da UnB pediram demissão coletiva. Enquanto isso, eu dava aulas particulares de dança na sede do Bancrévea – foi um dos primeiros clubes do Distrito Federal –, até a época em que deixamos a cidade (Giséle e o marido, o maestro Cláudio Santoro) para ir para o exílio, em 1966. O retorno de Giséle a Brasília aconteceu em 1978, com a missão de organizar a Escola Profissional de Dança do Distrito Federal e o Corpo de Balé do TNCS (Teatro Nacional Cláudio Santoro). O projeto foi interrompido novamente devido à mudança de governo. Durante este período, estabeleceram-se na cidade as bailarinas Norma Lília e a Lúcia Toller. Ainda no mesmo período foi fundada na cidade a Academia Advanced, de Glória Cruz e Soraia Amorim. No ano
Divulgação
Por Adair de Oliveira
Marcelo Dischinger / Divulgação
Giséle Santoro ajuda a apresentar a história da dança em Brasília
>> Apesar das dificuldades, como falta de espaço e de financiamento, o balé em Brasília persiste e busca cada vez mais ares de profissionalismo
seguinte, Cecília Leite e a Yara de Cunto abriram uma escola de música e dança chamada Academia Stilo, na quadra 302 Norte e na avenida W3 Sul, mas as iniciativas não duraram muito tempo. Giséle conta que, nesse momento, surgiram várias escolas como IGE, Ofélia Corvelo e Regina Maura, entre outras. Mas boa parte delas foi fechada, o que levou à instalação de aulas de balé em colégios particulares e academias de ginástica. “Com isso, a clientela das academias de balé particulares, composta principalmente de crianças, diminuiu incrivelmente. Com a proliferação das academias de ginástica e o advento da popularidade de outros estilos de dança, novas escolas foram aparecendo e, para sobreviver, a maioria oferece, além do balé – que muitas vezes passa a ser complemento e não prioridade –, um mix de atividades físicas de todos os gêneros”, conta. Em 1980, foi aberta na cidade a Academia de Balé e Artes Cênicas Gisèle Santoro, que funcionou até 1987. A escola patrocinou dois cursos
nacionais de aperfeiçoamento em dança, com professores de nome nacional e internacional, que foi o embrião dos Seminários Internacionais de Dança de Brasília, iniciados em 1991. A cidade contou com companhias como Asas e Eixos, que teve curta duração; o Endanças, ligado à UnB, mas que acabou quando seu fundador foi para o Rio de Janeiro; o Balé de Câmera Gisèle Santoro e o Balé de Brasília, com bailarinos selecionados por audição que existe até hoje, mas que, por falta de espaço próprio, não mantém uma temporada regular. Há, também, grupos contemporâneos, desligados de academias, mas com bases diversas de apoio e que mantêm atividade regular como o Alaya, de Lenora Lobo, e, posteriormente, o Anti Status Quo, de Luciana Lara, e o Basirah, de Gisele Rodrigues, além do mais recente grupo, o Atmos Cia de Dança, de Janson Damasceno e Sheyla. DIFICULDADES E RESULTADOS Entre os obstáculos encontrados pelo balé em Brasília
estão não só a falta de espaço para desenvolvê-lo, mas o pouco financiamento e, principalmente, no caso da dança, a rotatividade de bailarinos. Nas cidades em que as artes, em geral, e a dança, em particular, se desenvolvem, há o binômio formação/mercado de trabalho. O que significa haver uma escola estatal de formação profissional e um corpo de baile. As duas vertentes, conectadas, se auto-alimentam. Em Brasília, só a música dispõe deste binômio (na área de formação, com a Escola de Música e o Departamento de Música da UnB, bem como na área profissional, com a Orquestra do Teatro Nacional Claudio Santoro). “Como a cidade não proporciona nada de nível profissional na área de formação em dança e não oferece o consequente mercado de trabalho, os praticantes de dança na cidade só têm como opção parar de dançar, ao chegarem à crítica fase do vestibular, e continuar no amadorismo, fazendo da dança um hobby. Ou ir para outros centros, seja no País, seja no exterior”, explica Giséle, acrescentando que a cidade possui grupos de expres-
são, mas ainda falta um estilo ou marca, devido à dança na cidade ainda ser muito jovem. Outro dado apontado por ela é que não há um calendário oficial em Brasília, devido a não existência de um orçamento de apoio. Mas os bailarinos brasileiros podem contar com um dos mais importantes festivais de dança realizado no País, o Seminário Internacional de Dança de Brasília, concebido pela própria Giséle. O evento acontece sempre em julho, no TNCS, e conta com o apoio da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, com a Associação Cultural Claudio Santoro, embaixadas e instituições culturais nacionais e internacionais. O Festival oferece cursos, diversas disciplinas práticas e teóricas de dança e teatro. Outra característica do encontro é a oferta de bolsas de estudo em prestigiosas instituições de ensino na Europa e nos Estados Unidos, estágios remunerados e até contratos em diversos teatros e companhias no exterior. Desde a criação, o evento concedeu mais de 260 bolsas de estudos, estágios e contratos para jovens bailarinos brasileiros de talento.
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Jornal de Teatro
Entrevista
Marcos Caruso, uma exceção
Fotos de divulgação
Por Daniel Pinton Schilklaper
O
que pode mais desejar um homem já consagrado naquilo que ama? O que pode mais desejar um ator com recordes de público na sua carreira? Foram basicamente estas perguntas que logo me surgiram quando eu soube que entrevistaria Marcos Caruso. O que seriam, a princípio, duas páginas dedicadas a ele, se tornaram três – por conta da simpatia, da disponibilidade e, mais do que tudo, da coragem deste homem do teatro em abrir o seu coração. Nesta longa entrevista, o ator e dramaturgo fala, bem à vontade, dos mais diversos temas comuns a todos os cidadãos brasileiros: da era das “celebridades”, do consumismo desenfreado, de uma sociedade aprisionada e, é claro, da política e da inércia da população frente ao seu cenário atual. Como não poderia deixar de ser, Marcos Caruso fala, também, do teatro brasileiro: disserta sobre seus 36 anos de profissão, seus grandes sucessos (como “Trair e Coçar, é Só Começar”), suas parcerias, a questão do patrocínio teatral, e “As Pontes de Madison”, espetáculo que protagoniza atualmente ao lado de sua grande companheira (e ex-mulher) Jussara Freire.
Jornal de Teatro – Como e quando foi seu primeiro contato com o teatro? Marcos Caruso – Quando ainda era criança. Minha mãe morreu quando eu tinha dez dias de vida e fui criado, em parte, pela a minha avó, que me deu um boneco de fantoche. Desde aquele momento, comecei a criar historinhas, a fazer o meu teatrinho. JT – Você é formado em direito. Por que essa escolha? Realmente pensava em trabalhar na área? MC – Meu pai me aconselhou a ter um diploma, caso minha vida de ator não desse certo. Então, escolhi direito como o meu plano B. Imaginei que com o direito eu poderia, no mínimo, representar nos tribunais, acusando ou defendendo um réu. JT – E como foi a reação da sua família? MC – Meu pai reagiu numa boa. Ele viu que era aquilo que eu realmente queria fazer e me apoiou. Não houve problema algum. JT – Muita gente costuma criticar a nova geração de atores, já que muitos “caem de paraquedas” na profissão
como “celebridades”. Qual a sua opinião a respeito dessa nova geração? MC – É exatamente contrária. As pessoas que “caem de paraquedas” também são muito bem-vindas. Quem não tem talento não resiste ao teatro. A seleção natural vai automaticamente se encarregar de cortar do meio aquele que não tem talento. Veja, por exemplo, esse talento que é a Grazi Massafera. Eu só acho uma pena porque, muitas vezes, gente de talento não tem ainda o espaço que merece. JT – Hoje em dia está mais fácil ou mais difícil se produzir uma peça em relação à década de 1970, quando você começou? MC – Está mais difícil. Os donos de teatro cobram preços altíssimos, os jornais cobram fortunas para divulgar o nosso trabalho e os próprios técnicos e profissionais da área pedem valores altíssimos. Por quê? Porque ninguém produz sem patrocínio. Então, na medida que se tem um patrocínio, todo mundo eleva o seu preço e se torna impossível fazer uma produção sem patrocínio hoje em dia. JT – Então, como você tem agido? MC – Eu sou uma exceção.
Tenho grandes sucessos na minha carreira. Tenho três peças de seis anos em cartaz, tenho duas peças de sete anos em cartaz, tenho uma peça de 23 anos. Eu nunca, na minha vida profissional, fiquei no teatro menos de nove meses em cartaz. Eu sempre fui um ator de muita sorte por ter feito muito sucesso. De todas as peças que fiz, que foram mais de 30, tive patrocínio em quatro (foram essas últimas que fiz). Eu sempre fui um homem que produzi com o meu dinheiro, produzia com o dinheiro que eu ganhava do teatro. Eu investia no teatro aquilo que eu recebia do teatro. E não só eu, muita gente fez isso: Antônio Fagundes, Marco Nanini, Paulo Goulart, Othon Bastos, Eva Wilma, Raul Cortez, Irene Ravache, Juca de Oliveira... Muita gente fez isso durante muitos anos. Estiveram sempre em cartaz colocando dinheiro do próprio bolso no teatro. Hoje em dia mudou, pois as regras mudaram. E mudaram, acho, para pior. JT – Falta incentivo público? Como você vê as iniciativas do poder público para o teatro? MC – Existem algumas coisas interessantes. Algumas leis que são interessantes, como a lei de fomento da Prefeitura
Marcos Caruso é símbolo de experiência com seus 36 anos de profissão
de São Paulo. Mas acho que o teatro tem de ser patrocinado de uma outra forma, embora isso resulte em uma discussão enorme. Acho que, hoje, está mais difícil. Em “Operação Abafa”, que ficou quase dois anos e três meses em cartaz, produzimos com R$ 50 mil, então é possível. Em São Paulo ainda existem muitos grupos que conseguem sobreviver assim, mas acho que o dinheiro tem sido usado para poucos e, muitas vezes, dado àqueles que não precisam. JT – Acredita que hoje em dia a pessoa precisa ter uma imagem atrelada à TV para conseguir patrocínio? MC – O patrocinador exige que essa pessoa tenha uma imagem atrelada à TV. Isso é injusto para com a arte. O Mateus Nachtergaele, antes de ter ido para a Globo, fez “Livro de Jó”, um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, e não tinha patrocínio nenhum. É um cara que hoje talvez tenha porque está na Globo. Mas, independentemente de estar com a cara na Globo, ele tem talento, só para dar um exemplo. Existem poucas empresas com sensibilidade de apoiar verdadeiramente o talento em todos os níveis – um ator, um
autor ou um diretor – sem que não tenham passado pela televisão. Eu entendo que para a empresa o retorno para o seu produto deva ser maior (com ator na TV), mas ninguém garante que um ator que está na televisão leve mais público do que um que não está. JT – Baseado me que você diz isso? MC – Sou um exemplo disso. Tenho 36 anos de profissão e seis anos de Rede Globo. Os outros 30 anos anteriores eu sobrevivi – e muito bem – do teatro. Sobrevivi brilhantemente. Sou um nome conhecido em São Paulo devido ao que eu faço no teatro. Esses últimos seis anos da Rede Globo me deram uma projeção nacional, maior visibilidade, mas eu nunca precisei da minha imagem na televisão para levar público ao teatro e acho que poucas pessoas precisaram, graças a Deus. Hoje a mentalidade passa a ser mais consumista. Vivemos em um mundo mais capitalista do que nunca, no qual o seu produto tem que ter uma cara e, se você puder valorizar o seu produto com uma cara mais vendável, melhor. Nós não gostaríamos que fosse assim, mas as empresas praticamente exigem que alguém do seu elenco es-
“Esses seis anos de Globo me deram projeção nacional, mas eu nunca precisei, para levar público ao teatro, da minha imagem na TV e acho que poucas pessoas precisaram, graças a Deus”
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“Eu sou uma exceção. Eu nunca, na minha vida profissional, fiquei no teatro menos de nove meses em cartaz. Eu sempre fui um ator de muita sorte por ter feito muito sucesso” teja na televisão. Pelo lado do mercado eu entendo, mas não entendo pelo lado da arte. JT – “Sua Excelência, o Candidato”, de 1985, apesar de cômico, não deixa de ser uma crítica aos políticos, já naquela época. Como você enxerga a política hoje em dia? Mudou muita coisa da década de 1980 para cá? MC – Mudou. Hoje podemos falar abertamente, vivemos uma democracia mais plena, podemos saber das falcatruas, das injustiças e dos resultados das CPIs que, na maioria das vezes, não são aquilo que a gente gostaria que fosse, mas, de qualquer forma, você tem abertura e liberdade. Acho que isso nós ganhamos. Isso o povo brasileiro conquistou: essa abertura para você falar livremente aquilo que pensa a respeito, coisa que não se falava até 1984. JT – Você enxerga a peça como pioneira nesse sentido? MC – “O Candidato” foi a primeira peça a falar abertamente de política e a colocar o dedo na ferida dos problemas políticos do País pós-abertura democrática. Tanto que nós ganhamos o Prêmio Molière daquele ano por conta da contundência daquele espetáculo, um prêmio que nunca tinha sido dado para autores de comédia. Depois disso, a Jandira Martini e eu escrevemos várias outras peças e colocamos o dedo na ferida de problemas, além de políticos, sociais e econômicos do País. Assim foi “Jogo de Cintura” (1989), “Porca Miséria” (1993), e, recentemente, “Operação Abafa” (2004), onde nos aproveitamos de forma oportuna um momento político para, através da comédia, falarmos da tragédia que era aquele momento em que vivíamos. JT – E como você avalia o espaço atualmente para se falar de política no teatro? MC – Acho que tem diminuído. Como autor de comédia de costumes e como autor de um teatro político, que sou há mais de 25 anos, acho que está sumindo porque a internet é muito rápida. Você se posiciona imediatamente diante de um site, de um blog, de uma notícia que você lê... Coisa que não acontecia antes. Se você fizer um texto político no Brasil de hoje, onde o presidente da Re-
pública tem 80% de aprovação, e não pegar a veia correta, você poderá ser chamado de ingênuo ou panfletário. JT – Você vê o público um pouco desinteressado com o tema político? MC – Totalmente. Estamos vivendo em um mundo onde as pessoas se isolaram. Não estou dizendo que sou contra ou a favor, mas a realidade de 2009 é que você se fecha em sua casa com grades, se fecha em seu carro com vidros elétricos, se fecha em seu mundo com seu celular. Quando você não quer conversar com alguém, você põe o celular na orelha, finge que está conversando com uma pessoa e se fecha em seu mundo. Seu escritório vira uma pastinha de computador. Então o ser humano foi se isolando pelas circunstâncias do momento, da vida, do meio em que estamos vivendo, da evolução tecnológica. O ser humano se isolou de tal forma que não consegue mais agir em grupo, agir coletivamente. Você, nos anos 1960, agia coletivamente, ia para as ruas. Nos anos 1970 e 1980, que foram anos de chumbo, você, de certa forma, agia coletivamente, se reunia clandestinamente ou, através de metáforas, fazia com que o seu discurso chegasse aos ouvidos das pessoas. Hoje estamos isolados. JT – Diante da atual conjuntura, você já pensa em algum tema, algum texto político? MC – Eu não sei qual será o próximo tema político que a Jandira e eu abraçaremos. Vamos esperar a eleição de 2010. JT – Gostaria que você comentasse também sobre “Trair e Coçar é Só Começar”. Você imaginava, enquanto escrevia a peça, que ela poderia chegar a ser recorde absoluto de público na história do teatro brasileiro? MC – Jamais. Acho que ninguém pensa em fazer um sucesso tão longo e, ao que me parece, eterno, porque não tem sinais de que vá terminar tão cedo. Claro que, quando eu escrevi, tinha certeza de que estava escrevendo uma comédia matematicamente feita para fazer rir de 60 em 60 segundos. É um vaudeville e você não tem como errar. É feito para o público que quer apenas rir, quer apenas o divertimento. Que a peça faria sucesso eu tinha certeza enquanto eu estava escrevendo.
Caruso com Marília Pêra. Para o ator, o próprio meio se encarrega de eliminar os que não possuem talento
JT – E por que você acha que a peça fez esse sucesso tão estrondoso? MC – O sucesso é resultado de uma união de qualidades: um elenco estrelar e de muito talento, como foi o da estreia, um teatro bem localizado, uma bela divulgação, uma direção boa, com aquele texto... Não tem por que ela não ficar muito tempo em cartaz. Agora, um, dois, três anos, tudo bem. Quatro você fala: ‘Nossa!’. Cinco fala: ‘Ainda?’. Seis, sete, oito, fala: ‘Mas, meu Deus’. Depois de dez anos eu fui verificar, fazer uma pesquisa e descobri que a peça já estava quase chegando em sua segunda geração de espectadores. Chegou a um ponto em que, em uma roda de quatro pessoas, três já haviam assistido e a quarta, como ficava sem assunto, meio que se obrigava a ir. O “Trair e Coçar” foi visto por seis milhões de pessoas em 23 anos. Isso é uma loucura. E não é nada perto do que ele atingiria se ele passasse na televisão: seria visto por 80, 150 milhões de pessoas em uma só noite. A peça praticamente não viajou o Brasil. Ainda tem uma longa caminhada. Então, acho que vou embora um dia e “Trair e Coçar” fica.
Caruso e Sandra Bréa. Grande parte da carreira do ator foi sobre os palcos
“Está mais difícil de se produzir. Os donos de teatro, os jornais e os próprios técnicos e profissionais da área cobram preços altíssimos. As regras mudaram e acho que mudaram para pior”
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Entrevista “Existem poucas empresas que têm uma sensibilidade de apoiar verdadeiramente o talento em todos os níveis: um ator, um autor ou um diretor sem que não tenham passados pela televisão” Fotos: Divulgação
Caruso e Irene Ravache. As grandes parcerias do consagrado ator, em 36 anos de carreira, foram mulheres
JT – Você sempre se dá muito bem quando trabalha com mulheres (tem parceria autoral de mais de 20 anos com Jandira Martini, foi casado durante 20 anos com Jussara Freire e, como agora em “Pontes de Madison”, sempre se destacou no palco ao lado dela e, na televisão, formou dupla memorável com a Lilia Cabral em “Páginas da Vida”). Você tem mais facilidade em trabalhar com mulheres? Por que você acha que isso acontece? MC – Você está me chamando a atenção agora para isso. Eu não tenho parcerias masculinas mesmo. Fiquei cinco anos e meio com a Irene Ravache, em “Intimidade Indecente”, trabalhei durante três anos com a Regina Duarte, em “Honra”, além de outras mulheres que participaram da minha trajetória. Eu não sei. Eu realmente nunca fiz um trabalho de dois homens no palco. Acho que é destino. JT – E o fato de dividir cena com alguém que você foi casado durante 20 anos? A intimidade entre os atores facilita? MC – É um presente. Sem dúvida alguma facilita. Primeiro porque nós já temos uma intimidade cênica e, obviamente, para esta peça (“Pontes de Madison”), onde o tema central é uma história de amor, é claro que você ter uma intimidade
afetiva e carnal – eu sei onde pegar na Jussara, não precisamos ensaiar – só ajuda. E nós somos muito amigos. Fomos casados durante 20 anos, estamos separados há 15, mas somos grandes amigos, não ficamos mais de uma semana sem nos falar. É muito prazeroso poder dividir o palco em uma história com um tema como este, com uma mulher que eu amei e que ainda amo como minha ex-mulher e colocar isso para fora em cena. Torna-se realmente mais fácil. JT – Como está sendo a recepção do público a “Pontes de Madison”? MC – Impressionante. O público mais velho se emociona porque estamos contando uma história de amor na maturidade. O público com mais de 40 anos se emociona muito e o público mais jovem, de 20 a 35, reflete sobre esse amor que acontece uma vez só na vida, essa coisa única que, se você perder esse bonde, não encontra outro. Voltando ao tema da superficialidade em que vivemos, o beijante e o ficante são termos mais adequados a essa geração. E uma geração que vai ver um espetáculo onde ninguém só beija, só fica, reflete até que ponto ser beijante ou ser ficante hoje em dia é bom e até que ponto quando chegar um amor desse não vai passar por uma revisão de suas necessidades
amorosas, físicas. A peça é um grande sucesso. JT – Você acredita em finais felizes para paixões avassaladoras? MC – Eu acho que a gente tem sempre que acreditar, porque a gente sempre espera que o nosso final seja feliz. Somos criados com finais felizes. Começa-se a história com “Era uma vez...” e termina-se sempre com “E foram felizes para sempre”. De repente a gente vê que a vida não é um sonho, não é um conto de fadas e que os finais não são necessariamente felizes, ao contrário, a maioria deles é infeliz. JT – Já se viu como o Robert, tendo uma paixão avassaladora? MC – Já me vi uma vez sim, mas ela não era casada (risos). Não dá para fazer um paralelo. JT – Vocês pretendem viajar com a peça no ano que vem? MC – Ficamos até 20 de dezembro em São Paulo e a ideia é ir para o Rio depois, fazer algumas capitais. JT – Pretende se dedicar também à TV, ao cinema? MC – Eu devo fazer a próxima novela das sete “Bom Dia Frankenstein”, estou escrevendo uma minissérie com a Jandira Martini, que ainda vamos apresentar à Globo, e tentando esboçar ainda um texto de teatro para 2011 ou 2012.
Caruso e Cleyde Yaconis. Ator fará próxima novela das sete, da Globo
SOBRE A PEÇA “PONTES DE MADISON”: As “Pontes de Madison”, best seller de Robert James Waller, em cartaz no Teatro Renaissance, até 20 de dezembro, trata da história de amor entre Francesca Johnson (Jussara Freire), uma mulher casada, e Robert Kincaid (Marcos Caruso), fotógrafo da revista “National Geographic” que vai até o condado de Madison, em Iowa (EUA), registrar imagens das famosas pontes cobertas. Em apenas quatro dias, Robert e Francesca passam por uma avassaladora paixão e depois vivem um longo desencontro, preenchido por raro e intenso amor. A partir deste simples encontro suas vidas se modificarão para sempre. É um romance com toques de humor. A história é contada em flashbacks, a partir da leitura dos diários de Francesca,, que revela essa passagem de sua vida, encontrados por seus filhos Carolyne (Luciene Adami) e Michael (Paulo Coronato) depois de sua morte. O drama simples e tocante discute profundos valores humanos pouco utilizados nos dias de hoje. FICHA TÉCNICA: Autor: Robert James Waller Tradução e Adaptação: Alexandre Tenório Direção: Regina Galdino Elenco: Marcos Caruso como Robert Kincaid, Jussara Freire como Francesca Johnson, Luciene Adami como Caroline Johnson e Paulo Coronato como Michael Johnson Cenário: Marco Lima Figurinos e Visagismo: Fábio Namatame Iluminação: Ney Bonfante
“De repente a gente vê que a vida não é um sonho, não é um conto de fadas e que os finais não são necessariamente felizes, ao contrário, a maioria deles é infeliz”
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Vou te contar uma estória
Era uma vez Bia Bedran, uma menina que nasceu para fazer as crianças sonharem e hoje ensina a quem quiser a viver feliz para sempre Por Douglas de Barros Foi em Niterói (RJ), no dia 26 de novembro de 1955, que Bia Bedran nasceu, ou melhor, estreou. Isso porque, desde criança, assim bem pequenininha, a menina, criada em família de artistas, começou a escrever músicas e poemas, coisas que, geralmente, toda criança que lê e se diverte com a literatura faz. “No início, eu não sonhava em ser artista da infância. Eu era criança e gostava de ler. Gostava de contar, fabular o que eu lia. Às vezes, só para mim mesma, para o meu fazer, gostava de me trabalhar artisticamente”, relembra Bia. Na adolescência, assim já mais mocinha, seu pai sempre a inscrevia em concursos de música e só revelava a idade da filha depois, para ela não ser desclassificada. Nessa fase, Bia fazia sua arte pensando nos adultos. Fazia sambas, toadas, músicas políticas e concorria com adultos em festivais de canção. Tanto que foi muito influenciada por João de Barro, Braguinha, Lamartine Babo e pelas músicas da Rádio Nacional. Precoce, não? Sua carreira começou para valer em 1973, aos 17 anos (nem era gente grande ainda a menina). Na época, sua família montou um grupo de teatro para crianças. As apresentações aconteciam no quintal da casa de uma tia, daí o nome Quintal Teatro Infantil. “Eu descobri a minha vocação quando tive
a sorte de trabalhar no grupo que minha família criou. Éramos, ao todo, 23 entre irmãos e primos da família Martini Bedran. Minha mãe escrevia peças para crianças e a família toda trabalhava. Minha avó fazia os vestidos e meu avô ficava na bilheteria. Eu, com 17 anos, era uma das mais velhas do grupo. Nesse tempo foi que eu descobri esse mundo”, diz Bia. A arte de contar estórias veio naturalmente com o convívio com as crianças. Foi nessa época que a jovem atriz entrou no mundo mágico da contação de estórias. “Aí descobri que contar estória era diferente do que interpretar. Toda vez que eu entrava na voz da narradora, percebia que a criançada prestava mais atenção. A criança tem uma paixão pela narração, pelo texto contado. Quando eu narro, quando eu falo do personagem, eu sinto uma atenção maior”, explica. Hoje, já com 54 anos, Bia Bedran tem sete livros publicados, oito discos e um DVD. A artista já compôs mais de 300 canções. Dessas, 100 músicas foram gravadas. A atriz também foi apresentadora de televisão. De 1986 até 1993, Bia esteve à frente do “Conta Conto”, na antiga TV Educativa, atual TV Brasil. Em 1988 e 1989, apresentou o programa ecológico “Baleia Verde”, na extinta TV Manchete, além de “Lá vem História”, na TV Cultura e “Alfabetização no Canteiro de Obras”, pela Fundação
Roberto Marinho. Os planos dessa eterna menina, no entanto, não param por aí. Seu próximo passo pode ser na telona. “Só falta agora cinema. Não vou morrer sem fazer um filme, trabalhar atuando ou ser uma narradora, mas é um sonho ainda. Minha filha acabou de se formar em cinema e a gente tem conversado muito sobre isso ultimamente”, vibra. “QUEM CONTA ESTÓRIA FAZ O OUTRO IMAGINAR” Professora concursada desde 1985, Bia dava aulas de musicalização para as crianças do CAP (Colégio de Aplicação) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). No início, ela só ensinava música. Com o tempo, o hábito de ler e contar estórias invadiu suas aulas. Foi então que descobriu que bom mesmo era cantar e contar ao mesmo tempo. “São quase 25 anos como professora na Uerj. No decorrer do tempo, eu já era contadora de estórias na vida artística e fui incorporando a coisa do ensinar música para as crianças, mas ensinar também o fazer, o contar, música dentro de uma estória, estória com canções e fui mudando a minha metodologia que era só de ensino músical, para fazer estórias junto com canções”, explica. Nessa época, Bia Bedran foi chamada para dar aulas em uma oficina chamada A Arte
de Cantar e Contar Estórias, para professores e educadores. Seu desejo é passar para outros essa nobre arte. “De lá para cá já se passaram 14 anos, sempre às segundas e quartas à noite. Essa oficina eu trabalho com educadores, não mais crianças, e ensino esse ‘making-off ’ de como é contar estórias e como construir pequenos adereços, entre outras coisas”, revela. Segundo Bia, o contar estórias revela uma troca de experiências muito interessante. Naquele curto espaço de tempo, que pode durar dez, 20 minutos ou até meia hora, o intérprete só tem ali a sua palavra, a sua voz, a sua mão, os seus olhos, e, principalmente, a sua expressão. Todo o resto é imaginado por quem ouve. “Ensinar a contar estória nem é tanto a coisa do ator, não é ensinar a interpretar, mas ensinar a amar esse fazer tão atávico ao homem, que é esse momento que você senta, conta coisas reais e imaginárias. Às vezes você conta um fato que realmente aconteceu”. A educadora se mostra preocupada com a perda do hábito de conversar e acredita que o mundo hoje precisa pisar no freio. “As pessoas hoje, nessa vida muito corrida, têm pouco tempo para contar suas histórias pessoais. Em um tempo mais antigo, as pessoas tinham esse hábito naturalmente, não existia aulas de contar estória. Não tinha televisão, as pessoas faziam uma roda e o que exis-
tia era a troca de experiências, o ato de contar para o outro o que você viveu”, relembra. Essa falta de tempo também tem prejudicado a formação das crianças. Bia comenta que elas precisam ler mais e não somente assistir televisão ou navegar pela internet. “A criança também entra num frisson de cada vez mais aprender conteúdo e mais conteúdo. Esse é o momento em que o professor para e conta uma estória. É o momento do sonho. A criança viaja como se fosse uma parada no tempo, não uma parada onde ela fica vazia, uma parada ativa. A alma está em repouso mais ela está atenta, está sentindo”, ensina. A professora revela, ainda, dicas para quem também quer viver essa experiência. “Quem quer contar e viver de estórias tem que descobrir o que quer ser. Quer ser um educador ou contar profissionalmente em eventos de literatura? É preciso descobrir que sente prazer com isso e depois focar. Trabalho em hospitais e, diferentemente de atuar em um palco, em todas essas modalidades tem que amar contar estórias, tem que gostar da literatura, de transformar o texto lido em um texto coloquialmente falado. Treinar em casa, montar um repertório e fazer cursos”, explica mais uma vez a professora que sabe que, no final de toda estória tem que ter um “e viveram felizes para sempre”. E quem quiser que conte outra.
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Reportagem
Jornal de Teatro
Teatro
à espera
Por Felipe Sil Na carreira de grande parte dos artistas brasileiros está lá, bem no início da lista de trabalhos no currículo, alguma peça de teatro infantil. É por este meio que atores e atrizes têm o primeiro contato com a arte dos palcos. Invariavelmente, porém, profissionais do teatro fogem do gênero com o passar dos anos. Uma onda de preconceito marca o estilo, já estigmatizado no setor. Prova disso é a dificuldade de patrocínio e os investimentos menores em comparação com o teatro considerado “adulto”. Fica a questão: por que as peças infantis não são valorizadas no Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, que costumam dar atenção e verbas “carinhosas” para o assunto? As explicações são as mais diversas. As obras feitas para crianças geralmente não contam com grandes celebridades, atuais puxadoras de verbas no País. Os trabalhos infantis também não costumam ser vistos pelo meio acadêmico como algo produtivo financeiramente, nem intelectualmente sério. O teatro infantil, porém, é um grande formador de público: o futuro. “A criança que tem contato com o teatro desde cedo já tem uma vantagem sobre as outras. Irá se tornar uma pessoa amante das artes e com ideias bem consolidadas de solidariedade, amizade e outras virtudes”, avalia Fafá Rennó, atriz da Companhia Luna Lunera, de Belo Horizonte. Nada disso, entretanto, parece ser su-
ficiente para facilitar a captação de verbas. O mais recente espetáculo da Cia. Luna Lunera, “Um Gato para Gertrudes”, só conseguiu patrocínio após meses de suada luta. A suposta baixa rentabilidade de peças infantis era a justificava usada por instituições que negavam a parceria. De certa forma, empresários e financiadores têm suas razões para tanto receio em investir nesse tipo de teatro. Afinal, o espaço dado para o estilo é praticamente nulo nos grandes meios de comunicação. A divulgação nos jornais e canais de TV de maior audiência é irrisória. Em uma economia de mercado, um fator dessa grandeza já é suficiente para assustar nomes importantes da iniciativa privada. QUALIDADE COMO DIFERENCIAL A consequência não poderia ser pior. Alarmados com o escasso patrocínio oferecido para o teatro infantil, muitos atores e produtores fogem do ramo e migram para obras destinadas a um público de maior idade, esvaziando ainda mais o estilo. Outro caminho inverso, abominado por antigos artistas, é a cópia barata de sucessos do exterior como forma de atrair a atenção do público. “Então fazem toda essa porcaria que vemos por aí, que só serve para estragar a imagem do teatro infantil. Há muita produção ruim no mercado e isso nos envergonha”, lamenta Amauri Ernani, que atua no segmento há 23 anos e é Divulgação
diretor artístico da Companhia Palco Produções, do Rio de Janeiro. Um dos maiores erros do atual cenário do teatro infantil, segundo Fafá Rennó, é a insistência em apelar para a linguagem “infantilóide” para atingir o público-alvo. O uso da infantilidade extrema como forma de atrair a atenção da garotada já foi provado insuficiente em outros meios. Em desenhos animados e filmes feitos atualmente para os menores um detalhe chama a atenção: a rapidez das cenas. Pesquisadores e estudiosos da psicologia infantil afirmam, há alguns anos, que as crianças, hoje, preferem enredos velozes, ágeis e vibrantes, mas que, no fundo, a moral continue presente, mesmo que indiretamente. “Esse é o caminho para o teatro infantil. Aquele negócio de Tom & Jerry é ultrapassado. Os artistas brasileiros que trabalham nesse ramo precisam entender isso. Já saí no meio de apresentações recentemente porque não aguentava ver aquela linguagem infantilóide, que não prende a atenção dos menores. O ideal é que o diretor pense sempre em fazer algo que não agrade apenas as crianças, mas, também, seus pais, já que são eles, afinal, que levam a garotada para a frente dos palcos e estes precisam se sentir convencidos de que vale a pena voltar”, comenta. A dificuldade para se obter patrocínio, alinhada com a baixa qualidade das produções atuais, fez com que boa parte
da classe artística brasileira tenha desenvolvido um preconceito contra o teatro infantil. Os mais prejudicados são os atores que escolheram esse caminho, que acabam estigmatizados entre colegas de profissão. “É um absurdo essa ideia. O teatro infantil me proporciona desafios tão complexos quanto o teatro adulto. Só que, infelizmente, existe esse preconceito, gerado em grande parte pela mídia, que nos nega espaço de divulgação. O que é uma besteira, já que, mesmo entre tanta coisa ruim, há muitos autores novos se destacando no meio, principalmente em Curitiba, onde, a meu ver, há muitas obras de qualidade, que visam entreter a criança e não possuem um papel apenas didático, já que este não deve ser o único caminho”, relata Amauri. EXPERIÊNCIA DE SUCESSO Curitiba é mesmo uma cidade diferente quanto ao teatro infantil. Na cidade, o estilo é admirado e estudado desde a década 1980, quando artistas, autores e intelectuais apaixonados debatiam o tema e buscavam maneiras de aprimorar as encenações e a metodologia. Foi nesta onda de pesquisas e criatividade que a atriz Letícia Guimarães decidiu começar a carreira com a peça “Menino Maluquinho”, em 1987. Desde aquela década, o teatro infantil não arrefeceu na capital do Paraná, onde a produção artística para menores continua efervescente. “Aquele maravilhoso movimento ajudou a formar
Bruno Magalhães / Divulgação
As cores e a magia do teatro infantil ainda não são garantia de sucesso profissional para seus atores. Meio ainda sofre grande preconceito e tem dificuldades para obter patrocínios para novas peças
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Reportagem
da maturidade um modelo de atuação. Lembro que não gostávamos do rótulo de teatro infantil. Na verdade, o que funciona é realizar peças para crianças de todas as idades, fora do sentido cronológico do ser humano. Essa, talvez, seja a melhor maneira de nos livrarmos do preconceito que hoje reina na mídia. Muito desse estigma, porém, pode ser explicado quando notamos tantas produções que funcionam, na verdade, como caça-niqueis. Essa falta de respeito com a criança, que muito se vê por aí, é a causa de muitos problemas do segmento no Brasil”, analisa Letícia, que hoje faz parte da Companhia do Abração. Uma opinião dissonante de boa parte da classe artística é a de Beto Andreta, diretor da Companhia Pia Fraus. Para ele, o Brasil é um país cruel, que elimina as chances de sucesso de qualquer pessoa ou empresa que esteja abaixo de um nível alto de excelência. De qualquer maneira, o mercado para o teatro infantil continuaria a oferecer um espaço razoável para a divulgação desse tipo de peça. “Já fizemos quase 20 montagens e sempre contamos com casas cheias. Ao todo, já realizei mais de mil espetáculos. O problema é que a classe teatral ainda é muito pouco profissional. Trabalho desde 1984 e consegui fazer meu caminho dentro do mercado. Não adianta só reclamar. O artista precisa avaliar, também, o próprio trabalho. Muitos ainda têm aquela visão romântica do século XVIII, mas, além de ter talento, é neces-
sário certo empreendedorismo para alcançar o sonhado lugar de destaque. Aliás, trata-se de um mercado”, comenta. Há, também, quem veja um segmento que se valoriza cada vez mais no País. É o caso de Warley Goulart, diretor do grupo Tapetes Contadores de Histórias. No dia 3 de outubro, duas peças da companhia estreiam na Caixa Cultural de São Paulo: “Palavras Andantes” e “Bicho do Mato”. Desde 2003, o grupo conta com o patrocínio da instituição, com espetáculos sempre lotados e divulgação eficiente. “Não poderia dizer o contrário. Temos essa parceria e também vemos um número cada vez maior de pais levando suas crianças às peças. O fato é que realmente existe preconceito contra todo tipo de trabalho feito para o público infantil, não só no teatro. A situação da literatura infanto-juvenil é um dos maiores exemplos. Isso é uma grande besteira. Só que, graças a Deus, temos tido sucesso e acho que a receptividade do brasileiro para esse segmento do teatro aumentou bastante nos últimos anos”, afirma. Uma realidade, porém, é o fato de o teatro infantil ter papel essencial na formação dos jovens, embora ainda persista uma dúvida: o segmento é valorizado no Brasil? A resposta, talvez, só possa ser dada daqui a alguns anos, quando esses menores se tornarão adultos e decidirão sobre o futuro do País.
Elenize Dezgeniski / Divulgação
FALTA DE PATROCÍNIO E ESPETÁCULOS RUINS ABASTECEM A CRISE DO SEGMENTO Início dos anos 1990. A mega-empresa Coca-Cola decide criar o Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil e passa a patrocinar entre dez e 15 peças todos os anos. Há um boom de expectadores e o segmento entra em uma fase promissora, após anos escondido nas sombras do meio. Nomes importantes como Teresa Frota, Carlos Augusto Nazareth e Dudu Sandroni ganham força. No final da década, entretanto, a marca decide encerrar com os patrocínios e o setor é esvaziado. Pior: não só o teatro infantil perde seu maior patrocinador, como a grande mídia deixa de dar atenção especial ao trabalho feito para a garotada. O poder público, por sua vez, manteve a tradição de desrespeitar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e pouco tem ajudado a alavancar o segmento com incentivos e licitações. “Não se respeita o que está na lei, que é clara quanto à prioridade que se deve dar às crianças em todos os setores. Quem trabalha com crianças no Brasil parece fadado ao prejuízo. Veja o caso dos nossos professores da rede pública”, lamenta Antonio Carlos Bernardes, secretário do CBTIJ (Centro Brasileiro Teatro para Infância e Juventude). A instituição, junto com o Cepetin (Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil), ainda mantém as esperanças de um forte desenvolvimento do setor no
Brasil. No momento, a luta é para persuadir grandes empresas para que voltem a investir maciçamente neste tipo de teatro. Para Antonio Carlos, artistas e produtores não conseguem mais ver benefícios em trabalhar e produzir uma obra voltada especialmente para as crianças. “Ninguém quer ter prejuízo. Nos editais abertos pelo poder público, o teatro infantil concorre sempre junto do adulto e o número de premiados do nosso segmento é baixíssimo. Então, há duas opções: investir no meio com recursos próprios ou participar daquelas produções horrorosas que hoje são abundantes por aí, com fantasias pessimamente desenhadas, e musicais super produzidos, mas sem nenhum conteúdo”, diz. Além da péssima qualidade das peças atuais, voltadas ao público menor de idade, existem outros motivos apontados para a estigmatização do teatro infantil entre os próprios artistas. Um deles é a formação acadêmica, voltada, exclusivamente, para a atuação em programas de TV, o que leva ao esvaziamento das salas. Outro ocorre devido à violência na cidade, o que, muitas vezes, faz os pais pensarem cautelosamente se realmente é benéfico levar seus filhos ao teatro em vez de mantê-los em casa. Há, ainda, a falta de informação. Carlos Augusto Nazareth foi o último crítico especializado em teatro infantil no Rio de Janeiro. Em 2007, saiu do Jornal do Brasil e deixou órfão o segmento, que, àquela altura, já respirava com a ajuda de aparelhos. “Não é do interesse da grande mídia falar sobre teatro infantil. Eles preferem comentar aquela peça que tem um ator global e que é encenada em shoppings da elite. Isso não é sinônimo de qualidade. Os pais, então, ficam sem saber onde levar seus filhos a uma boa peça e acabam caindo na armadilha de levar as crianças a uma dessas peças sem qualidade alguma. Muitos grandes produtores da década de 1990 desistiram do meio. Não sem razão. Afinal, não é um investimento lucrativo. Não há financiamento e os horários reservados para as apresentações costumam ser os piores possíveis. Os artistas brasileiros que têm preconceito com o teatro infantil também têm suas razões, já que, atualmente, muitos trabalhos produzidos para crianças são horrorosos. A imagem do segmento foi muito arranhada”, revolta-se Carlos Augusto, que também é diretor do Cepetin.
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Jornal de Teatro
Artigo
Coleção Aplauso
Tônia Carrero em três momentos: biografia da atriz, feita por Tânia Carvalho, tem qualidade gráfica e textual sem precedentes
faz um mosaico da memória teatral Por Michel Fernandes especial para o Jornal de Teatro*
Um dos sentidos figurados da palavra “mosaico” diz que seu uso se refere a qualquer trabalho intelectual em que o conjunto completo reúne em si fragmentos que compõem o todo. Tal significado não poderia ser mais bem aplicado à Coleção Aplauso, uma vez que seus títulos são pequenos recortes a resgatar a memória das artes brasileiras. O trabalho foi coordenado pelo renomado crítico de cinema Rubens Ewald Filho, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Segundo Rubens, Hubert Alqueres, presidente da Imprensa Oficial, o procurou, há cinco anos, com a proposta de “resgatar a memória cultural do Brasil” por meio da publicação de perfis de atores, de atri-
zes, de diretores, da pesquisa iconográfica, da publicação de textos teatrais, de compilações de críticas de teatro e cinema, além de roteiros de filmes, entre outros. Nasceu, aí, a Coleção Aplauso, consequência de uma das principais missões da Imprensa Oficial, a de registrar a história oficial do País. Artistas, intelectuais e as pessoas que sentiram mais de perto o patrulhamento feito durante os anos sombrios de Ditadura Militar a respeito do que se podia e o que não se podia expressar sobre os fatos reais que marcaram aquele período, podem temer o fato de que a Coleção Aplauso tenha como propósito ser veículo de registro da História Oficial. Contudo, o contemporâneo regime democrático de direito não comporta mais os rigores da censura manipulando os fatos. De mais a mais, Ewald Filho, na condução
dos 200 títulos que a coleção já apresenta, deixa aos autores espaço para a impressão de suas próprias assinaturas na escrita dos livros, em lugar da manipulação do que e como tal assunto pode ser tratado. O rigor é único: a excelência na confecção e no produto final. Diferentes meios reconhecem a qualidade literária e investigativa dos textos escritos para os diversos volumes da Coleção Aplauso. Ano passado, por exemplo, o Prêmio Jabuti, uma das premiações literárias mais relevantes, concedeu ao perfil de Raul Cortez – “Raul Cortez – Sem Medo de se Expor” –, de Nydia Lícia, o título de Melhor Biografia. Para Rubens, 200 títulos são números relevantes já que o preço dos livros é popular. “Além da divulgação e da distribuição cada vez maior, acho que, com o lançamento da bio-
grafia de Tônia (Carrero), alcançamos um novo padrão de qualidade com o mesmo preço de capa”, afirma. Realmente não é difícil encontrarmos os títulos da Coleção Aplauso em estantes das livrarias de maior fama da cidade de São Paulo e, sem sombra de dúvidas, “Tônia Carrero – Movida Pela Paixão”, de Tânia Carvalho, tem uma primorosa edição, em papel de alta qualidade, que ressalta as fotografias selecionadas por Marcelo Pestana. Um resgate, além de registro, de uma trajetória teatral de mais de meio século. Esse mosaico nos faz ter um panorama não linear da história de nosso teatro moderno, que ainda não tem nem um século e já se revela de exuberante qualidade. Ao lermos cada um dos perfis vamos montando o quebra-cabeça das reminiscências do palco brasileiro. A cada
nova leitura as partes se encaixam e tudo faz sentido. E, lendo outro perfil, o derradeiro sentido se transforma e, doravante, percebemos que somos como co-autores, dialogando, à nossa própria maneira, e erigindo o todo desse painel histórico. Não é à toa que o atual governador de São Paulo, José Serra, adotou, com simpatia e eficiência, o projeto criado ainda no mandato de Geraldo Alckmin e requisitou à equipe que iniciem a incursão pelas veredas da Música Popular Brasileira (MPB). “A pedido do governador (José) Serra, começamos a entrar na MPB fazendo biografias de gente como Inezita Barroso, Johnny Alf, Angela Maria, Alaíde Costa, Leny Andrade e outros”, completa. *Michel Fernandes é jornalista cultural, crítico, pesquisador de teatro e editor do www. aplausobrasil.com.br
Sindicais
Criança é coisa séria “A criança se vê no mundo através da cena do teatro. Ela se emociona, questiona, fica em dúvida. Amplia seus horizontes além de seu cotidiano familiar e escolar”. Esta relação próxima do teatro com a criança é defendida por Carlos Augusto Nazareth, dramaturgo, diretor e professor de literatura. Ele defende a arte de atuar como parte fundamental da formação do ser humano e, em 2006, fundou, no Rio de Janeiro, o Cepetin (Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil). A intenção é desenvolver ações e aumentar a qualidade deste tipo de espetáculo. Pensando assim, o Cepetin criou os prêmios Zilka Sallaberry e Ana Maria Machado de Dramaturgia, ambos voltados para o teatro infantil. “Queremos estimular que profissionais gabaritados sejam reconhecidos, separando o joio do trigo”, conta Carlos Augusto. O Cen-
tro de Pesquisa estimula também a leitura de textos teatrais através da Coleção Cepetin de Teatro Infantil, com a publicação de livros de teatro para crianças, distribuídos em escolas e bibliotecas. Este ano, a instituição, com patrocínio da Lamsa (Linha Amarela S/A), desenvolveu um projeto com crianças da rede municipal de ensino do Complexo da Favela da Maré, comunidade carente do Rio de Janeiro, distribuindo livros com textos teatrais e levando as crianças ao teatro. Carlos Augusto reclama do pouco incentivo para o estudo mais aprofundado das questões teóricas que envolvem os espetáculos para crianças: “Nos falta verba e apoio governamental para podermos traçar um perfil técnico da situação do teatro infantil.” No site da instituição (www. cepetin.com.br) é possível encontrar estudos teóricos sobre o tema, textos teatrais, entrevistas, filmes e uma seção de
Divulgação
Por Gabriela de Freitas
Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil incentiva produções teatrais para os pequenos
Hassum e Melhem: melhor ator 2006 com espetáculo “Nós no tempo”
espetáculos recomendados que ajuda na divulgação do teatro infantil. Rômulo Rodrigues, ator, autor, produtor cultural e um dos fundadores da instituição, alerta para o espaço
reduzido dado pela mídia às produções destinadas ao público infantil: “As peças não são divulgadas, não têm retorno e, assim, não são patrocinadas. Uma reação em cadeia”.
PRÊMIOS Em 2006, o Cepetin criou o Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil. Com patrocínio da Oi e da seguradora Porto Seguro, são apresentados os destaques em dez categorias. Durante o ano, quatro jurados avaliam os espetáculos em cartaz no Rio de Janeiro e fazem pré-indicações. No fim do ano, são anunciados os indicados e, na véspera da cerimônia de entrega do prêmio, em março, são definidos os vencedores de cada categoria. O Prêmio Ana Maria Machado de Dramaturgia Infantil é nacional e chega a sua terceira edição. Os textos a serem inscritos precisam possibilitar a encenação de um espetáculo de, no mínimo 45 minutos, serem inéditos e não adaptações de outras obras. Três jurados elegem as melhores obras do ano. O primeiro colocado recebe R$ 1.500 em dinheiro, além ter seu textos publicados em forma de livro pela editora Autores Associados, com o selo Ciranda das Letras. O regulamento de cada premiação está no site do Cepetin (www.cepetin.com.br).
vida Jornal de Teatro
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A rte e d u c a n d o p a r a a
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Formação
Teatro Escola Macunaíma lança plano de expansão em escolas e faculdades do estado de São Paulo
Por Ive Andrade
Com mais de mil alunos em sua unidade na capital paulista, o Teatro Escola Macunaíma chega ao seu 35º aniversário com um projeto de expansão que leva cursos de teatro para outras seis cidades espalhadas pelo estado de São Paulo. O diferencial é que não são escolas de teatro. São faculdades e colégios que incluíram em suas grades extracurriculares o programa de artes cênicas. “Nosso intuito é difundir e levar a arte para esses lugares. Em São Paulo existe uma variedade de cursos e fora do estado existem apenas alguns pólos centralizados. Queremos democratizar a arte”, explicou o diretor do Macunaíma, Luciano Castiel.
Depois da implementação do projeto, no tradicional colégio paulistano Pueri Domus, em março, o Macunaíma segue para as Faculdades Veris, do grupo IBMEC, e Pitágoras, além dos colégios Gutenberg, Marconi e Dottori. Os cursos – em Campinas, em Sorocaba, em Jundiaí, em Mogi das Cruzes, em Guarulhos e em São Miguel Paulista – não se limitam às paredes das escolas e tiveram inscrições abertas à comunidade. “O plano de expansão foi uma ação conjunta entre nós e as escolas, ao longo dos últimos quatro meses”, revela o diretor do Macunaíma. FORMAÇÃO DE ATORES-CIDADÃOS Para Castiel, a diferença entre
os alunos que procuram a sede, em São Paulo, e os que buscam o curso não é tão grande quanto parece. “Existe uma euforia vinda de ambas as partes, de quem busca o curso básico na escola com a intenção de ser ator e os outros que veem esse como um trabalho de evolução pessoal e acabam se apaixonando pelo teatro, querendo se tornar atores”, diz Castiel, acrescentando que a metodologia da escola não tem foco apenas na arte do teatro. “Os ensinamentos da arte não se limitam às salas de aula. Temos o hábito de lidar com os obstáculos dos alunos, desde emocionais até físicos. Muito mais do que teatro, nós pretendemos educá-los para a vida, criando atores cidadãos, criativos e auto-suficientes.”
A ARTE NO CAMPO DA LÓGICA Como fazem parte da grade extracurricular, os cursos não são obrigatórios, mas têm obtido retorno positivo em lugares nos quais a arte, geralmente, perde espaço para os estudos matemáticos e de lógica. “Temos sido muito bem recebidos em faculdades de administração, que ficaram durante muito tempo separadas da arte. Hoje o corporativo descobriu a arte como necessária, importante, algo que faz parte da construção do ser humano”, frisa o diretor, que acredita que a ideia principal do projeto é democratizar a arte para esse público que nem sempre esteve ligado a ela. A metodologia da escola, que trabalha com o Teatro de Verda-
de e o método de formação de atores desenvolvido por Stanislaviski, é fundamental no processo de expansão. “Temos uma metodologia sólida, que pode ser levada a qualquer lugar, mesmo para alunos que ainda vão aprender o bê-á-bá”, explica Castiel. “Somos uma das maiores escolas de teatro do Brasil, o que a gente faz é teatro, não é vídeo, comercial ou televisão. Teatro é o que a gente acredita”. Ainda dá tempo de se inscrever para os cursos bimestrais distribuídos pelo estado de São Paulo. O preço médio dos cursos é de R$ 96 por mês. Para mais informações entre no site da escola: www.macunaima.com.br
Quando ‘fazer arte’ vira sinônimo de talento e vocação para as artes Crianças de 3 a 6 anos desenvolvem criatividade, raciocínio e aprendem a importância de trabalhar em oficina de teatro para público infantil Por Letícia Souza Você conseguiria imaginar crianças, de três a seis anos de idade, criando histórias e elaborando espetáculos teatrais com suas próprias ideias? Pois é exatamente o que acontece no “Fazendo Arte”, do Tepa (Teatro Escola de Porto Alegre). Orientados pela atriz Eveliana Marques, mais conhecida como Ekin, os pequenos têm, na oficina, a oportunidade de descobrir que o seu mundo próprio pode servir para criar cenas de teatro. Reunidos todos os sábados pela manhã, desde agosto deste ano, as crianças apresentam grande intimidade com o universo teatral. A ampla sala tem espaço livre para brincadeiras e o principal: um grande palco. Nele, histórias e personagens tradicionais ganham versões adaptadas pelos próprios alunos, de acordo com a maneira com que cada um enxerga aquele herói ou vilão. Não existir certo ou errado é uma das regras. Portanto, a bruxa não é necessariamente má ou vestirá preto, o príncipe poderá abdicar do cavalo ao buscar a princesa de carro e a fada madrinha realizar os seus
próprios desejos. Tudo dependerá do autor da história. “Cada um é livre para fazer tudo da sua forma, criando seu personagem como quiser”, explica Ekin. É através desta liberdade de criação que as crianças desenvolvem a autoconfiança para transformar seus sonhos em espetáculos. São eles próprios que montam o cenário e organizam a história e as personagens. O grupo é dividido em dois grupos aleatórios: os atores do dia e a plateia. Assim, a segunda regra é colocada em prática. Respeito entre os colegas é, segundo a ministrante, fundamental para o bom andamento da oficina. Saber diferenciar a hora de ouvir, agradecer e aplaudir é essencial. Regadas a muita diversão, está a terceira e última regra: as aulas também tem seus momentos de profundo aprendizado. A inserção de termos técnicos da arte à mentes tão jovens e dispersas parece uma tarefa complicadíssima para leigos, mas não para Ekin. “A técnica é introduzida, aos poucos, ao cotidiano deles. Por serem muito curiosos e inteligentes, eles querem aprender sempre. Durante as brincadeiras, introduzo informações técnicas como
figurino e coxia, por exemplo, e eles memorizam com muita facilidade”, garante a atriz. Ekin revela que começou a lecionar para o público infantil com a intenção de desenvolver seu trabalho de atriz e passar todo seu aprendizado adiante. Ela vê nas crianças um laboratório ininterrupto e afirma aprender muito com eles. “Essa faixa etária é quando eles estão criando sua personalidade. Vejo o teatro como uma forma de contribuir para o desenvolvimento no ser humano”. O objetivo primordial da “Fazendo Arte” nos seus cinco anos de existência não é o de formar artistas, mas de despertar o “ser criativo” e desenvolver na criança suas potencialidades e dificuldades individuais, ativar imaginação e espontaneidade, além de trabalhar a desinibição e a relação de grupo. “Não estamos analisando quem está fazendo bem ou mal, certo ou errado, o importante é se divertir”, ressalta Ekin. Ao final da oficina, os pequenos irão apresentar um espetáculo com direito a plateia, e será a grande oportunidade de expor o trabalho de três meses de aprendizado.
Letícia Souza / Divulgação
Liberdade de criação é a tônica das aulas, para deleite da criançada
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Festivais
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Ciranda das Flores, um espetáculo colorido e recheado de cantigas e brincadeiras
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Chega ao palco do GACEMSS um dos personagens mais famosos da TV
Festivais
Enquanto alguns produtores reclamam da falta de incentivo ao teatro infantil no Brasil, outros arrumam as malas e se lançam nos festivais que acontecem durante todo o ano. Além da troca de experiências e referências características dos eventos, os festivais são uma grande vitrine para curadores e investidores. Saiba quando, onde e por que acontecem as grandes reuniões do gênero. Por Liliane Ribeiro
O cascudo douradinho em “Amigo lata, amigo rio”
III FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO INFANTO-JUVENIL (SÃO PAULO/ SP) Grupos de teatro da Bélgica, da Alemanha, do Brasil e da Suíça. Sete dias de apresentações, com espetáculos de rua, música, leitura dramática, narração e contação de histórias. Essa é a receita de 2009 para o III Festival Internacional de Teatro Infanto-Juvenil, que acontece de 2 a 8 de outubro, e inclui na programação mesas de reflexão, debates e oficinas com convidados da Argentina e da Turquia. SERVIÇO Data em 2009: de 2 a 8 de outubro Contatos: (11) 5522-1283 / www.paideiabrasil.com.br Realização: Cia. Paidéia Associação Cultural Patrocínio: Caixa Econômica Federal “O sapato do meu tio”: sucesso em 2008
2º FENATIFS (FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO INFANTIL DE FEIRA DE SANTANA/ BA) A segunda maior cidade da Bahia se prepara para sediar o 2 º FENATIFS (Festival Nacional de Teatro Infantil de Feira de Santana). Neste ano, 29 montagens de diversas regiões do País estarão presentes nos espetáculos que acontecem entre os dias 3 e 12 de outubro. O festival baiano não tem caráter competitivo e abrangerá quatro categorias: Mostra Nacional, Mostra Interior do Nordeste, Mostra de Talentos Mirins e Mostra Jovens Talentos. Serão realizadas atividades como debates, oficinas, sessões de contação de histórias, palestras e mesas redondas. SERVIÇO Data em 2009: entre 3 e 12 de outubro Contatos: Coordenação de Teatro do Cuca - Tel: (75) 3221-9766 e-mails:
[email protected] e
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Fotos: Divulgação
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“Mogli, o menino lobo” é uma das atração em solo capixaba
11º FESTIVAL DE TEATRO INFANTIL DO ESPÍRITO SANTO Dez peças estão em cartaz no 11º Festival de Teatro Infantil do Espírito Santo, que dura quase 70 dias. De terça a sexta-feira, os espetáculos são encenados exclusivamente para grupos escolares e, aos finais de semana, para o público em geral. A organização do evento visitou, no primeiro semestre deste ano, 310 escolas da Grande Vitória e de alguns municípios do interior do Estado do Espírito Santo a fim de agendar a ida das instituições de ensino ao teatro. SERVIÇO Data em 2009: entre 12 agosto e 18 de outubro Realização e Produção: Alfa 4 Produção e Eventos Contatos: e-mail:
[email protected] / www.festivaldeteatroinfantil.com.br
6º FESTIVAL GACEMSS DA CRIANÇA (VOLTA REDONDA/RJ) O Festival GACEMSS (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva) da Criança já é tradição em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro. O evento, que conta com apresentações teatrais de grupos de Barra Mansa, do Rio de Janeiro, de São Lourenço e de Volta Redonda, já atraiu, nas cinco edições anteriores, mais de 43 mil crianças. O GACEMSS é destinado a toda rede educacional do sul do Rio de Janeiro e redondezas, com o intuito de unir promoção cultural e inclusão social. SERVIÇO Data em 2009: 1 a 16 de outubro Contatos: www.gacemss.com.br e-mail:
[email protected] Telefones: (24) 3342-4202 / (24) 3343-1770 / (24) 3343- 3033 Realização e Produção: GACEMSS – Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva
FESTIVAL DE TEATRO INFANTIL DE SALTO/ SP A segunda edição do festival, que aconteceu em agosto, reuniu 60 atrações e teve um público de 14 mil pessoas na cidade de Salto, que fica a 100 quilômetros de São Paulo. Os moradores lotaram a praça XV de Novembro para assistir as peças e disputar ingressos de espetáculos como “Cocoricó, uma aventura no teatro”; “Os Saltimbancos”, apresentado pela Cia Teatral Vernáculo de Salto; e a “Saga da Bruxa Morgana”, com Rosi Campos. Durante todo o festival, ônibus gratuitos estiveram disponíveis para levar as pessoas para os espaços culturais.
Tchutchuco anima a criançada
SERVIÇO Data em 2009: de 20 a 23 de agosto Ingressos: Toda a programação foi gratuita, mas necessária a retirada de senhas dos espetáculos com uma hora de antecedência nos respectivos locais de apresentação. Realização e Produção: Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo Co-Produção: APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte Parceria: Prefeitura e Secretaria de Cultura e Turismo do Município de Salto
“Cocoricó”: sucesso com a garotada
18 Festivais
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Diego Pisante
Marcelo Francisco em cena em “A Dama da Noite”, famosa e reconhecida obra de Caio
A hora dos encontros
Jornal de Teatro
Divulgação
Marcelo e Gawronski. Gerações diferentes de apaixonados por Caio Fernando Abreu Divulgação
Luciano Alabarse revela a real motivação do Porto Alegre em Cena Por Rodrigoh Bueno Antes de começar a entrevista com o Jornal de Teatro, o organizador do Porto Alegre em Cena recebe alguns convidados no belo casarão que serve como sede de produção do evento na capital gaúcha. Exibe, orgulhoso, as lembranças dos amigos que já passaram por ali e se lembra dos que ainda estão chegando. “Avisa a Ná que não poderei buscá-la no aeroporto, mas nos vemos sem falta no almoço”, diz para uma de suas produtoras entre um convidado e outro. Este é Luciano Alabarse, criador, idealizador e agregador do Porto Alegre Em Cena. “Faço questão de receber pessoalmente os artistas que vêm para o festival, e não por qualquer papel institucional. Gosto de receber as pessoas, possibilitar os encontros e firmar os laços que me prendem a cada um deles: essa paixão louca e inquietante pela arte”, disse. E é fato. Na noite anterior, acompanhei Luciano aguardando pacientemente para entrar no camarim de três jovens atores pernambucanos e possibilitar a eles mais um encontro. AS DAMAS DE CAIO O espetáculo era “Monólogos de Caio F.”, uma junção de três peças de duas companhias pernambucanas. No palco, os atores Antonio Rodrigues, Henrique Ponzi e Marcelo Francisco. Um Caio Fernando Abreu apresentado com um sotaque diferente e ousado – por levar para a terra do autor os traços contemporâneos dos jovens atores. Além de Luciano, estava na plateia a irmã do autor e o diretor Gilberto Gawronski, que por mais de dez anos (e em vários idiomas) interpretou o brilhante texto “Dama da
Noite”, de seu amigo Caio. Tensão dupla na sala de espetáculo: de Gawronski na expectativa de ver um texto tão íntimo com um novo intérprete; e do ator, frente à sua grande referência. “Gilberto confessou que estava com muito medo e ansioso para ver a montagem. ‘Sei de cada palavra, cada pausa. Conheço tudo neste texto’ confessou ele a mim”, disse Luciano. “No intervalo ele me abraçou e desabou de tanto chorar. Era o texto ganhando nova vida. As palavras do nosso amigo Caio transformando novamente”, completa Luciano. O ator Marcelo Francisco, que vive em Garanhuns, Pernambuco, revela que soube da presença ilustre minutos antes de entrar em cena. “Fiquei muito nervoso e tive medo de não conseguir realizar meu trabalho como queria, mas a emoção parece ter sido positiva e o resultado foi elogiado, inclusive pelo Gilberto, que me disse que Caio ‘abençoaria’ a minha interpretação. A irmã do autor também usou essas palavras e disse que ele certamente estava por ali muito emocionado com esse encontro. Para mim foi um momento marcante que com certeza vou carregar por toda a minha vida artística”, conta. REJEIÇÃO Se os encontros ocasionados pelo festival são marcantes para algumas pessoas, outras preferem concentrar o tempo criticando a programação e comparando-a com os demais festivais. Luciano explica que o Porto Alegre em Cena tem uma meta: oportunizar diálogos, seja entre os artistas, entre artista e público; artista e cidade; e espetáculos e crítica. “Quando uma peça causa rejeição na plateia nossa meta também foi alcançada. É importan-
“ ” Luciano Alabarse: ‘O sucesso de diferentes eventos acaba reverberando em todos’
Gosto de receber as pessoas, possibilitar os encontros e firmar os laços que me prendem a cada um deles: essa paixão louca e inquietante pela arte
te ter contato com diferentes referências para se escolher qual mais se relaciona com você. Isso agrega maturidade e desperta um olhar diferente para o mundo das artes”, conta. Para ele, o mesmo acontece com a classe artística da cidade, que “divide com esses grandes nomes do teatro mundial o padrão vibratório que domina a cidade durante o festival”. “E AS NOVIDADES?” O que esperar de novo em um festival já consolidado e respeitado no universo cênico? Continuidade – ou melhor, seguir desconstruindo as bases do teatro. “A única obrigação que temos na hora de montar a grade é com a consistência do
projeto, a humanidade presente na atuação. Não sei muito bem da programação dos outros festivais e nem procuro saber. Ninguém concorre. Muito pelo contrário, o sucesso de diferentes eventos acaba reverberando em todos”, revela. Ao que tudo indica, Luciano Alabarse já deu os primeiros passos para a próxima edição do Porto Alegre em Cena. Aliás, os dá todos os dias. “Me orgulho dos amigos que fiz durante a minha vida artística e é deles que busco as referências e a paixão para essa loucura de festival. Cada ano somos novos amigos e espero que possam aproveitar os dias em Porto Alegre. Eu e minha equipe queremos, apenas, fazer diariamente o melhor festival possível”, revela.
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Prêmios Fotos: Angela Alegria POA em Cena/Divulgação PMPA
O vitorioso elenco do espetáculo “O Sobrado” sobe ao palco do Theatro São Pedro, na capital gaúcha, enquanto Zé Adão Barbosa e Inês Marocco exibem, orgulhosos, seus troféus
Braskem premia espetáculos gaúchos Participantes do Porto Alegre em Cena concorreram em cinco categorias. “O Sobrado”, de Inês Marocco, foi o grande vencedor do festival
Por Rodrigoh Bueno Criado com o intuito de valorizar as produções gaúchas que participam do festival de teatro Porto Alegre Em Cena, o 4º Prêmio Braskem em Cena foi entregue na capital gaúcha, no dia 21 de setembro, no Theatro São Pedro, e teve como grande ganhador
“O Sobrado”, dirigido por Inês Marocco. O espetáculo é uma criação do grupo Cerco, promovida pelo Departamento de Arte Dramática do Instituto de Artes da UFRGS. No discurso de agradecimento, os alunos pontuaram: “Esperamos que mais professores saiam de seus gabinetes, onde passam o tempo escrevendo
artigos e vão para a palco”. “O Sobrado” recebeu os troféus de melhor espetáculo dos júris oficial e popular, votado em urnas nas saídas dos teatros. Os prêmios somam R$ 23 mil. Também foram vencedores o diretor Zé Adão Barbosa, pelo espetáculo “A Arca de Noé”; a atriz Aracy Esteves, por
“Marleni”, de Liliana Sulzbach e Márcia do Canto; e o ator Daniel Colin de “A Vida Sexual dos Macacos”. Destinada às produções do Rio Grande do Sul, o Prêmio Braskem contou com dez peças concorrentes, que foram apresentadas na 16ª edição do Porto Alegre em Cena: “A Arca de Noé”, “A vida sexu-
al dos macacos”, “Desvario”, “Ditos e malditos – uma instalação coreográfica”, “Marleni”, “Mulheres fortes em corpos frágeis”, “O bairro”, “O médico à força”, “O Sobrado” e “Teresa e o aquário”. Os jornalistas Antonio Holhfeldt, Renato Mendonça, Vera Pinto, Helio Barcellos e Roger Lerina foram os jurados desta premiação.
Opinião Tocar o barco e virar o leme Gerson Steves Ando maluco por (e com) sites de relacionamento tipo Facebook ou Twitter. São ferramentas que aproximam pessoas, valorizam talentos, ajudam a divulgar trabalhos e a promover ideias – para o bem e para o mal. O sonoplasta Fê Pinatti me apresentou a blogosfera – espécie de universo paralelo das ideias, onde todo mundo escreve sobre tudo, especialmente os próprios umbigos. Nessa toada, passo horas dos meus dias lendo o que dizem os colegas, vendo o que estão aprontando, articulando pensamentos banais sobre o cotidiano: qual o papel do teatro nestes tempos de virtualidade? Qual sua função na era multimeios, em um começo de século em que, como preconizou Platão, nos afastamos da vida para fixar os olhos nas sombras do fundo da caverna? Mas, se tudo são sombras nas cavernas virtuais, cadê a vida? E o teatro? Afinal, para o filósofo grego, a arte era também uma espécie de fundo de caverna. Aviso de antemão: não tenho as respostas.
Luz e sombra. Vida e arte. Verdades e mentiras. Virtudes e pecados. Por dias, estes têm sido os binômios a ocupar minha cabeça em marteladas de estética e ética. Ary França (grande amigo e comediante, não necessariamente nessa ordem) disse no Facebook que eu precisava “fazer cursinho para ateu e largar essa mania de pecado”. Mas o que é esta nossa arte senão uma arena pública onde praticamos uma espécie de religiosidade pagã, na qual exorcizamos demônios, desfilamos um sem-fim de pecados e culpas dostoievskiamente expostas como feridas abertas? Em “Odisseia do Teatro Brasileiro” – depoimentos compilados por Silvana Garcia – Antunes Filho propõe a reflexão: “como podemos reelaborar o futuro?” E responde: “precisamos enfrentar essa nova realidade que está aí... largar as besteiras do passado, estudar e tocar o barco.” Tomo a liberdade de emendar outra analogia: precisamos virar o leme. Alguém disse que, no futuro, talvez a única possibilidade que as pessoas tenham de estar unidas em grupo e partilhar algo que as emocione
seja na arena. Temos de rever a ideia da arena futura. Reavaliar o que moverá as pessoas até ela, arrancando-as dos chats, fóruns e eme-esse-enes da vida. São tempos de novos profetas. Em que milhares falam para milhões num clique. Vivemos em constante estado de atenção: checamos fontes, avaliamos consistências, nos defendemos de armadilhas. E, ao mesmo tempo, perdemos o foco do que de fato importa: tocar o barco para onde? Virar o leme em que direção? Tenho patinado nessa miscelânea de assuntos. Noutro dia, fui assistir ao Blue Men Group e ouvi de um amigo que o espetáculo era datado. O que é ser datado? O que vi foi uma divertida crítica aos meios de comunicação, à manipulação das massas, à celebrização do anonimato. Nada mais atual. Será que é porque o frisson dos anos 1990 já passou e eles agora são espécie de franchising viajando pelo planeta? Ou porque meu amigo seja mais antenado que a maioria e o resultado lhe soe déja-vu. Mesmo assim é efervescente e instigante. Do mesmo modo que, para dizer
o mínimo, é revigorante rever as coreografias do Wuppertaler Tanztheater. “Café Müller”, em que se vê com nitidez a fusão entre dança e teatro, é de 1978. Antes disso, Pina fizera o visceral e poético Sagração da Primavera (‘75). Alguém ousaria dizê-las datadas? Não seria egoísmo dos construtores de um pensamento contemporâneo privar as novas gerações de ver estas obras, sob o rótulo de serem datadas? Ao contrário: são modelos de como tocar o barco e virar o leme. Retomo o binômio verdade-mentira, tão vivo no teatro, e recorro à dramaturgia Rodrigueana. São textos em que nada é verdade, nada é fato. Há o recurso do flash-back, da narrativa de um terceiro sobre algo vivido pelos protagonistas, o olhar da imprensa, um diário esquecido ou uma gravação suicida. São pontosde-vista. A verdade objetiva é o que menos importa. O teatro sempre enfrentou o desafio de retratar o homem em seu tempo. E nos habituamos a pensar que o bom teatro é o que permanece vivo para além do seu tempo. Talvez o grande desafio em nossos dias seja
olhar para a verdade em um mundo em que cada vez mais o que importa é o ponto-de-vista. Para mim, tempo e espaço têm perdido a importância. Ainda mais após ter visto “O Fantástico Reparador de Feridas”, de Brian Friel, que celebra os 50 anos de carreira de um dos nossos grandes atores, Walter Breda (bem acompanhado por Mariana Muniz e Rubens Caribé). Os três, em cena, por meio de relatos muito particulares, constroem – ou desconstroem – uma verdade que jamais existirá, devida sua distância no tempo e no espaço. Além de reflexão sobre a verdade, é metáfora para o fazer artístico que merece ser vista, refletida e preservada como norte aos que desejam tocar o barco e virar o leme. * Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais na cidade de São Paulo, tendo atuado como diretor, dramaturgo, ator, produtor e professor. E tem tuitado à beça ultimamente (www.gersonsteves. com.br).
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Jornal de Teatro
Política Cultural
Aprovada a PEC 150 Emenda Constitucional, aprovada pela Comissão Especial de Tramitação, garante a vinculação de receitas para a área da Cultura Marcello Casal Jr / ABr
Por Comunicação Social/ MINC A Comissão Especial de Tramitação – destinada a analisar, simultaneamente, quatro propostas de emendas à Constituição que vinculam recursos orçamentários para a Cultura (PECs 324/01, 427/01, 150/03 e 310/04) – aprovou, por unanimidade, na tarde do dia 23 de setembro, o texto substitutivo do deputado José Fernando Aparecido de Oliveira (PV-MG). De acordo com o parecer do relator, a PEC 150/2003 é a mais exequível, pois determina que, anualmente, 2% do orçamento federal, 1,5% dos estados e 1% dos municípios, advindos de receitas resultantes de impostos, sejam aplicados diretamente em Cultura. Atualmente, o Governo Federal investe entre 0,7% e 0,8% do Orçamento da União na área cultural. A PEC 150/2003 é considerada essencial para que se estruture o Plano Nacional de Cultura (PNC), cujo texto também foi aprovado no dia 23, na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Com relação às duas votações, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, manifestou-se em nota oficial. “Este
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, é só sorrisos com as aprovações: fim do complexo de vira-latas
avanço se traduz na garantia crucial de recursos para a área, mas seu alcance é muito maior. Significa que, uma vez aprovados estes instrumentos, nós, brasileiros, enfim, surgiremos como pessoas e nação que se cultivam, que abandonam definitivamente o complexo de vira-latas
Unanimidade
apontado por Nelson Rodrigues, para, enfim, assumir-se no mundo como seres afetos à cultura – a cultura que nos traduz, explica, alimenta e posiciona no mundo.” Já o secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, José Luiz Herencia, que acompanhou as duas votações,
afirma: “O estado brasileiro passará e ter maior planejamento cultural com a aprovação do PNC e, ao mesmo tempo, garantirá recursos por meio da PEC 150. As duas propostas se complementam para que possamos assumir maior responsabilidade com relação ao campo cultural”, explicou.
PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL O texto aprovado contou com apenas uma alteração, sugerida pelo deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA): a palavra “cultura” em vez da expressão “cultura nacional’. O parlamentar explicou que a intenção é prevenir que ocorram interpretações equivocadas do dispositivo legal. “Depois, poderiam falar que a PEC não serve para a promoção de concertos de música clássica porque não se trata de cultura nacional”, disse. A PEC 150/2003 ainda será votada, em Plenário, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Existe, porém, um clima de confiança em torno do tema. “Através dessa emenda haverá uma recolocação de recursos para que tenhamos uma política cultural mais eficiente”, afirmou o deputado José Fernando, ao final da reunião. O deputado Geraldo Magela (PT-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, também se mostrou otimista, mas admitiu que existem dificuldades para aprovar uma Emenda Constitucional. Segundo ele, trata-se de um “trabalho hercúleo”, mas a meta é aprovar a PEC ainda este ano e, assim, garantir maiores recursos para o setor cultural em 2010. Roosewelt Pinheiro / ABr
no Plano Nacional de Cultura
O Plano Nacional de Cultura (PNC) avançou de forma significativa, dia 23 de setembro. O substitutivo do Projeto de Lei foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura (CEC) da Câmara dos Deputados. Agora, o texto segue para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) para aprovação. O PNC, que orientará as políticas culturais em um horizonte de dez anos, foi elaborado com base em debates e estudos realizados desde 2003, com intensa participação social. “O Estado brasileiro caminha para adquirir, pela primeira vez, capacidade de planejamento das políticas nessa área”, avaliou o secretário de Políticas Culturais do MinC, José Luiz Herencia. “As diretrizes, objetivos e metas do Plano orientarão os investimentos do poder público”, complementou Herencia, acres-
centando. “Agora enfrentaremos a próxima luta, que é garantir a capacidade de investimento de um Estado que está assumindo suas responsabilidades para reverter os indicadores de exclusão cultural no País”, disse o secretário, para quem foi a falta de planejamento que gerou “as enormes distorções visíveis no modelo de financiamento cultural.” Herencia destacou, ainda, “a sensibilidade e o empenho dos parlamentares de todos os partidos” na CEC da Câmara dos Deputados, em especial da presidente da Comissão, deputada Maria do Rosário (PT-RS), e da relatora do Projeto de Lei. Pelo MinC, também acompanharam a votação o presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Sérgio Mamberti, e o secretário executivo substituto, Gustavo Vidigal.
A deputada Maria do Rosário, presidente da CEC, teve seu empenho e sensibilidade elogiados por Herencia
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Vida & Obra
Por Carlos Gabriel Alves Mais de meio século de carreira, atuação em cerca de 50 peças, 20 produções teatrais, participação em 25 telenovelas, oito aparições no cinema, trabalhos com dublagem, teleteatro ao vivo, idealização de um teatro em São Paulo e 74 anos de vida. Esses são os números de Miriam Mehler, uma mulher que tem sua vida confundida com a história do teatro paulista e nacional, e que não pensa em parar de atuar. “Eu escolhi essa profissão por amor, por paixão e continuo com essa paixão até hoje. Cada vez que entro em cena me sinto muito bem e realizada. Gosto do contato direto com o público e o teatro te possibilita isso na hora. Atuar é o que mais me encanta na vida. Se me convidarem, vou continuar me apresentando até morrer”. Tamanha paixão e vocação foram despertadas ainda na infância, quando Miriam freqüentava teatros com a família. “Meus pais costumavam me levar para assistir peças. Quando chegava em casa, representava os papéis que tinha assistido. Gosto de atuar desde pequena”, conta a atriz. No entanto, quando decidiu fazer a EAD (Escola de Arte Dramática), em São Paulo, se deparou com uma exigência de seu pai: se quisesse ser atriz precisaria entrar na faculdade de Direito. Miriam acatou a decisão, e, após ser aprovada no curso de direito, ingressou na EAD, onde ficou por quatro anos. NOITES DE GALA Sua estreia nos palcos foi em grande estilo, em peça que inaugurou uma nova fase no Teatro de Arena, em 1958. Miriam classifica a obra “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, como “um marco”, e relembra: “Na época, o Teatro Arena estava no limite. Ou essa peça do Guarnieri emplacava ou o teatro fechava. Eu resolvi topar, apostei com eles, e foi uma aposta vitoriosa. A peça fez imenso sucesso e foi uma grande estreia, não só minha, mas do Guarnieri como autor também.” O ano de 1958, o primeiro após se formar na EAD, trouxe grandes frutos para a atriz, que, além de participar da bem sucedida montagem de Guarnieri, também fez parte do elenco de “Um Panorama Visto da Ponte”, de Alberto D´aversa – produção do consagrado TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), primeira companhia teatral profissional do País – e ganhou o prêmio de atriz revelação da APTC
Fotos: João Caldas / Divulgação
Uma dama que não usa black-tie
Miriam, com 74 anos, garante: “Se me convidarem, vou continuar me apresentando até morrer”
(Associação Paulista de Críticos Teatrais), por sua atuação em “A Lição”, de Eugène Ionesco e direção de Luís de Lima. Com sua carreira em ascensão, Miriam ligou-se, em 1963, ao Teatro Oficina, onde atuou em peças como “Quatro Num Quarto”, de Valentin Kataev, “Pequenos Burgueses”, de Máximo Gorki, e “Andorra”, de Max Frisch. Miriam relembra com carinho esse período, no qual teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes da dramaturgia brasileira. “Foi uma época muito boa. Aprendi muita coisa. Pude trabalhar com Zé Celso, que era um diretor sensacional. Tínhamos também Eugênio Kusnet, que era professor e ator maravilhoso. Foi uma experiência que me enriqueceu muito”. No final dos anos 1960 e início dos 1970, Miriam e seu marido na época, Perry Sales, investiram esforços para a inauguração do Teatro Paiol, em São Paulo. Ela revela que a ideia do projeto foi mais de Sales do que dela, com o ideal de que tivessem um espaço onde pudessem trabalhar juntos. “O teatro, na verdade, era um galpão. Nós o construímos. No começo, pretendíamos fazer só peças nacionais, mas logo percebemos que precisaríamos
trabalha também com grandes textos”, comenta. Nos dez anos em que esteve à frente do Paiol – mesmo depois de separar-se de Sales – Miriam não só atuou, mas também produziu diversas peças. Destaques para as montagens “A Flor da Pele”, “Abelardo e Luísa”, “Bonitinha, mas Ordinária”, “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá”, “Salva”, “Absurda Pessoa” e “Um Grito Parado no Ar”. DANOS IRREVERSÍVEIS A ditadura militar, instaurada no País na época em que Miriam ainda estava no Teatro Oficina, trouxe sérias conseqüências ao modo de o teatro ser feito e apresentando. “No início da ditadura estava em cartaz com a peça “Os Pequenos Burgueses” e fomos obrigados a parar com as apresentações”, conta a atriz. Essa não foi a única dificuldade que o regime causou aos atores. “As peças eram censuradas e cortadas. Tínhamos que apresentar uma sessão completa para os censores liberarem ou não as montagens”, diz Miriam. Porém, mesmo diante dessa atmosfera de censura, vigilância e controle, Miriam consegue apontar algo de positivo: “Foi, para os autores e atores, uma época muito
criativa, pois tínhamos de driblar essas dificuldades e dar um jeito de fazer as coisas andarem”, diz a atriz, que ressalta a importância do movimento teatral no contexto. “Tínhamos que lutar contra a ditadura e nossas armas eram a palavra e o teatro”, frisa Miriam, acrescentando que esse período foi traumático e de danos irreversíveis não somente para o País,
mas para o meio. “Esses 21 anos de ditadura afastaram o público dos teatros e sentimos os reflexos disso até hoje”. Nos anos pós-regime militar, a atriz – com sua carreira já consolidada – continuou atuando e se destacando. Nas décadas de 1980 e 1990, esteve nos elencos de “Tem um Psicanalista na Nossa Cama”, de João Bethencourt, “Não Explica que Complica”, de Alan Auckbourn, “A Herdeira”, com direção de Flávio Rangel, “Luar em Branco e Preto” e “Vidros Partidos”, última obra do autor Arthur Miller, dirigido por Iacov Hillel. Em 2009, a atriz esteve em cartaz, em São Paulo, com a peça “Mãe é Karma”. No elenco, Renato Borghi, amigo desde a época em que atuaram juntos no Teatro Oficina. Para Miriam, atuar com Borghi é fácil e natural. “Temos uma compreensão e intimidade cênica como eu nunca vi com outra pessoa. Para quem assiste à peça, parece realmente que somos marido e mulher”, enfatiza. Miriam admite que interpretar é um grande desafio e que ao longo de sua carreira sempre teve dificuldades para montar seus papéis, “dando um pouco da Miriam para cada personagem e tirando um pouco de cada personagem para a Miriam”. Com uma trajetória de sucesso tanto na televisão quanto no teatro, a atriz conta que gostaria de ter atuado mais no cinema. Mas não esconde sua preferência pelos palcos. “Entre os três, fico com o teatro, mas para mim o importante é atuar e representar. É disso que eu gosto, seja na tela ou na televisão. Mas é do teatro que me alimento. É a base de tudo”.
Miriam atuou em “Mãe é Karma” junto com o ator Renato Borghi
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História
Teatro Teleco: três décadas atraindo multidões no Sul do Brasil Por Leonardo Serafim Da delicadeza de dois olhos femininos cor de mar surgiu uma paixão arrebatadora que cresceu, ganhou vida e transformou um singelo palhaço em lenda artística no Rio Grande do Sul. Esse enredo, que mais lembra um conto de fadas moderno, graças a sua magia e encanto, é o começo da longa história do Teatro Teleco, que há 36 anos encanta multidões por onde passa. Tudo começou em 1964. Antônio Adair Machado, o Teleco, até então locutor de uma rádio do interior do Paraná e palhaço nas horas vagas, trabalhava tranquilamente no estúdio de uma estação em Rio Negro quando o destino bateu a sua porta. Era uma bela jovem, de 19 anos, chamada Tiana, que acabara de sair de um colégio de freiras e procurava seu primeiro emprego. Encantado com a beleza da moça, Teleco não pensou duas vezes em contratá-la como sua assistente. Em pouco tempo, os dois colegas de trabalho viraram bons amigos. E de amigos transformaram-se em casal, que, por partilharem o mesmo gosto pelas artes cênicas, decidiram dedicar suas vidas ao teatro popular. Após peregrinar, por muitos anos em diversas companhias nos estados do Sul do Brasil,
Teleco se transformou em uma verdadeira lenda do Rio Grande do Sul
Fotos: Divulgação
Teleco decidiu voltar às (velhas) origens: retornou, junto com a mulher, a sua cidade natal, Novo Hamburgo, onde havia iniciado a carreira artística. Desde muito jovem, Teleco sempre esteve presente nos circos gaúchos, que praticamente tornaram-se sua segunda casa. Tentando ganhar seu espaço, começou vendendo balas e picolés até conseguir pisar no picadeiro pela primeira vez aos 14 anos. Após sua aparição, apenas uma meta pairava sua cabeça: construir um teatro e distribuir alegria para o máximo de pessoas. TEATRO TELECO O sonho de infância virou realidade graças a um amigo, que lhe emprestou dinheiro para a construção de um circo, em 1972. Com a ideia firme de que poderia brilhar nas comunidades carentes do Rio Grande do Sul, o palhaço, junto com Tiana, sua filha Ana Beatriz e um jovem elenco de artistas, inaugurou o Teatro Teleco, que, em pouco tempo virou um dos principais e últimos grupos mambembes do País. Mesmo ficando boa parte de sua vida em uma cadeira de rodas, devido a uma cirurgia mal sucedida, e passando fome em diversos momentos, Teleco, ao lado de seus irmãos – como costumava chamar
Antônio Adair Machado, o palhaço Teleco, faleceu em 2008, mas a tradição de seu teatro ainda emociona
seus colegas de carreira – sempre perseverou, criando uma tradição dentro do seu teatro, que vive até os dias atuais. Teleco faleceu em 2008, mas o legado do teatro popular, que faz multidões rirem e chorarem, se mantém. TRADIÇÃO NOS MELODRAMAS CIRCENCES Como diria Tiana, mulher de Teleco, o show tem que continuar. É o que acontece desde a morte do velho mestre. Como não poderia ser diferente, sua família tocou o barco adiante e manteve a tradição do teatro. Atualmente, são 28 “irmãos” que dividem tarefas e os modestos, mas aconchegantes, traileres do grupo, para manter a chama viva de Teleco.
Com uma graça que transcende o tempo, a trupe continua tirando aplausos do público devido à sua forma inocente de apresentação. Considerado por muitos, e até mesmo por Teteco (novo líder da trupe), um estilo dissolvido do melodrama, o Teatro Teleco traz em sua história mais de 200 peças, que tanto orgulham os artistas. Composta em sua grande maioria por comédias, escritas por Ana Beatriz, o “circo” sempre tentou entreter com humor infantil, capaz de atrair tanto os mais velhos quanto as crianças. A ideia de agradar o povo com piadas sutis se mantém. Com encenações simples, como “Teteco: o Açougueiro”, ou “Teteco: o Professor”, os espectadores se deleitam com as leves trapalhadas do palhaço e de seus
companheiros de cena. Porém, engana-se quem pensa que a comédia é a única vertente que corre nas veias dessa família. Como um bom ator deve ser, Teleco sempre apreciou todos os campos da dramaturgia, sendo um admirador ferrenho das fortes interpretações. Foi nos dramas que ele fez milhares de fãs se debulharem em lágrimas, com espetáculos como “A canção de Bernadete” e “O céu uniu dois corações”, entre outros. Apesar do sucesso de outrora, os dramalhões, que tanto marcaram a trajetória do Teatro Teleco, já não fazem mais parte do repertório. “O povo está cansado de sofrer na vida real. Quando vem nos assistir, quer sair daqui gargalhando, para esquecer os problemas do cotidiano”, afirma Tiana.
Jornal de Teatro
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1 a 15 de Outubro de 2009
Internacional
Teatro Sarmiento:
A casa do Experimento Uma viagem pela história desta sala que foi feita como o Teatro do Zoológico de Buenos Aires e chegou a se transformar em um espaço de investigação, onde tudo está por se descobrir em meio a animais Por Daniela Rodríguez, Revista Mutis X El Foro Tradução: Pablo Ribera
Uma criança com algodão doce em uma das mãos e todo o rosto manchado de rosa chora. Sua mãe, puxando-a por uma mão, insiste para que ela continue a caminhar, mas ela decide não fazê-lo. “Quero cumprimentar os macacos”, diz a menina em seu linguajar ainda pequeno e entre lágrimas. Um grupo de estrangeiros tira fotos enquanto um guia explica-lhes que vão continuar caminhando pela avenida Sarmiento, em Buenos Aires, até o monumento do Libertador. Um casal de namorados que se olha e se beija como se não existisse outra realidade que a dele. Todos possuem um ritmo muito lento, despreocupado; levantando o olhar, no mesmo prédio do Zoológico, todos podem conferir uma grande galeria coberta onde se lê: Teatro Sarmiento – Investigação Teatral. O TEATRO INFANTIL “O Teatro Sarmiento existe desde meados da década de 30, segundo os poucos registros que temos”, sustenta Carlos Fos, subdiretor do Centro de Documentação de Teatro e Dança do Complexo Teatral de Buenos Aires. Uma placa que se encontra em uma das paredes externas do teatro o certifica da seguinte maneira: Teatro Infantil, 21 de janeiro de 1938. Int. Municipal Dr. Mariano de Vedia y Mitre. A princípio era somente um grande anfiteatro ao ar livre, que apresentava obras para crianças aproveitando o grande público que ia ao zoológico. Logo foi construído um galpão coberto, onde colocaram o cenário, mas, com o passar do tempo, as obras não tiveram continuidade e o galpão começou a ser utilizado como depósito, no qual eram guardados desde forragens para os animais até ferramentas e material de construção. Em 1955, já com o seu
As portas vidradas permitem ver a bilheteria desde o lado de fora
Fotos: Divulgação
No palco do Teatro Sarmiento, tudo pronto como se o espetáculo em cartaz estivesse prestes a começar
nome atual, o teatro começou a realizar apresentações, sobretudo no verão, já que as instalações não eram as adequadas para afrontar o frio do inverno. Os espetáculos infantis foram os que dominaram o cartaz, mas também houve uma variedade de obras dirigidas aos adultos. Realizou-se, ainda, um ciclo de leituras baseado em autores nacionais e a versão de “Um Tal Servando Gómez”, de Samuel Eichelbaum, que dirigiu Jorge Petraglia. “O problema do teatro é que, com o passar dos anos, não foi sendo construído um horizonte teatral, não estava dirigido a um público determinado. Além disso, não tinha um perfil definido e não havia uma programação planificada no tempo que conseguiu um público cativo. Isto acontecia pela incapacidade ou pela falta de verbas”, explica Carlos Fos. Nos anos 70, a sala passou a depender do Teatro San Martín e o espetáculo que inaugurou este período foi “Universexus”, primeira obra dirigida por Pepito Cibrian.
“A proposta se baseia em um jogo coreográfico e musical pensado para comunicar uma forma de livre expressão, na qual as necessidades afetivas da juventude brigam por demonstrar sua localização na sociedade” (La voz del pueblo, 12/03/71). Significou uma quebra, marcando, assim, uma época de manifestações vanguardistas e transgressoras. Na década de 80, e já dependendo da Organização Teatral Presidente Alvear, se manteve reiteradamente inabilitado. Foi utilizado pelos estudantes da Emad (Escola Municipal de Arte Dramática) como sala de ensaio e de apresentações de fim de ano. “Meus dois últimos anos na Emad os fiz no Teatro Sarmiento. Por isso, este lugar é muito significativo na minha vida. Tive muita coerência na minha carreira dentro da municipalidade: terminar de estudar lá e agora estar na direção deste lugar é algo que me enche de satisfação”, conta Vivi Tellas, atual diretora artística do teatro.
Sobreviveu à privatização do zoológico, nos anos 90, e o mais destacável desta época foram as obras infantis do grupo La Galera Encantada, os espetáculos de dança contemporânea montados pelo Centro Cultural Rector Ricardo Rojas e o humor desestruturado e irreverente do Los Macocos. PROCURANDO SUA PRÓPRIA IDENTIDADE O teatro tem uma entrada de portas vidradas que permitem ver a bilheteria desde o lado de fora. O hall de entrada é um espaço muito reduzido, com duas cadeiras, como as de uma sala de espera. Em uma das paredes há um grande cartaz: “Biodrama XIII: Deus ex machina”, dirigida por Santiago Gobernori, a obra que atualmente está sendo exibida. Ao caminhar por um estreito corredor se chega a uma sala com 250 poltronas. No palco está tudo pronto como se a peça fosse começar em breve. Ao atra-
vessar uma das portas que se encontra à esquerda do palco, pode-se ver um grande pátio com flores, plantas e o gramado cuidadosamente cortado. Uma grande grade separa o teatro do zoológico. Desde lá pode-se observar as jaulas dos animais e os pais passeando com seus filhos, sendo levados pela mão. “Uma vez começaram a tirar fotos de nós desde o outro lado da grade, como se isto fosse uma jaula do zoológico e nós fossemos seus protagonistas”, lembra, entre risadas, Vivi Tellas. Desde 2000, o Teatro Sarmiento faz parte do Complexo Teatral de Buenos Aires, junto com o Teatro San Martín, o De la Ribera, o Presidente Alvear e o Regio. O objetivo do complexo foi transformar a sala em um lugar de investigação e experiências de novas tendências cênicas e, assim, criar um perfil definido para o teatro, ausente durante toda a sua história. Para levar a cabo essa tarefa, Kive Staiff, diretor-geral e artístico do complexo, convocou Vivi Tellas. “Há vários anos eu vinha pensando que algum dos teatros estatais deveria oferecer espetáculos de experimentação teatral. O primeiro teatro que pensei foi no De la Ribera, até que Kive Staiff me ofereceu ser diretora-artística deste”, comenta Tellas. “Tinha que buscar primeiramente a visibilidade do teatro. Todos o conheciam, mas como um atrativo a mais dentro do zoológico. Assim, consegui que iluminassem a avenida Sarmiento. No primeiro ano me dediquei exclusivamente a repará-lo e a colocá-lo em condições”, conta a criadora do Projeto Biodrama. “O Teatro Sarmiento é um lugar de campo, distante do turbilhão e dos tempos desta cidade, que abre a mente para deixar entrar a criatividade e permite a busca de outras formas de teatralidade”, conclui Vivi Tellas.
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AF ASA 0035-09M AN FESTAS 260X368.pdf
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