Jesus E Nos Ivone Ghiggino

  • Uploaded by: Sir William Crookes
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  • June 2020
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JESUS E NÓS - Ivone Molinaro Ghiggino Conta-se que Benjamin bar Kaleb, jovem hebreu de 25 anos, saudável, bom, ativo, belo, admirado e querido por todos, pertencia a família abastada, vivendo em Cesaréia, em luxuosa vila debruçada sobre as esmeraldinas águas do Mar Mediterrâneo. Seu pai, rico comerciante exportador de tecidos preciosos e outros artigos de valor, rigidamente o educara e a Isaac (seu irmão três anos mais novo) na Lei Mosaica. Uma noite, após retornar de alegre tertúlia, deitou-se e adormeceu. Despertou de madrugada, sentindo-se mal, com calafrios, formigamento e fortes dores nas pernas e no corpo. Alertada a família, renomados médicos foram chamados, sem sucesso junto ao doente... Recorreu-se a sábios, e até a alquimistas de terras distantes, tudo inutilmente. Progressivamente o mal se instalava, intensificando as dores e provocando invencível paralisia em Benjamin, do tórax para baixo. Finalmente, nada mais havia a ser feito... Assim, o jovem perdeu as esperanças de livrar-se dessa situação angustiante, recolhendo-se a profunda melancolia. Um velho escravo da família, confrangido pelo sofrimento do rapaz a quem queria muito bem, atreveu-se a falar-lhe de um carpinteiro nazareno, que pregava na Galiléia uma nova filosofia, uma religião baseada no amor, na igualdade e na fraternidade. Relatou-lhe tudo o que ouvira de amigos sobre as atitudes desse homem, e sobre as inúmeras curas realizadas por ele. Benjamin sentiu reacender em seu íntimo o calor da esperança de obter, ao menos, alguma melhora em seu sofrimento... Desse modo, animou-se a empreender a jornada, de grande sacrifício para ele devido ao seu estado físico; falou ao pai, recebendo dele total recusa e desencorajando-o de recorrer a esse “embusteiro”, verdadeiro adversário da religião mosaica... O jovem permaneceu irredutível em sua decisão; convenceu Isaac a acompanhá-lo, além de dois servos de confiança, que supririam as necessidades de ambos. E, acomodado numa espécie de maca forrada de peles, Benjamin foi colocado numa carroça puxada por dois cavalos, iniciando aí a longa viagem desde sua casa, cruzando os terrenos da Samaria e atravessando parte da província da Galiléia, até a pequena cidade de Cafarnaum, onde o nazareno atendia o povo às margens do Lago de Genesaré. Viagem difícil e demorada devido à falta de estradas adequadas, terrenos às vezes íngremes e irregulares, riachos a serem vencidos, etc, além do imenso calor diurno contrastando com o intenso frio à noite, o que muito aumentou as dores lancinantes do enfermo. Enfim, após mais de três dias, alcançaram seu destino já em avançada hora do anoitecer. E todos se surpreenderam com o grande número de pessoas que ali se achavam, formando fila, também aguardando o atendimento. Aí se postou a carroça vinda de Cesaréia, aprestando-se a esperar pelo amanhecer do novo dia. Durante a noite, Benjamin notou, logo atrás dele, pobre mulher acompanhando o marido, tetraplégico e cego, amarrado numa esteira arrastada com dificuldade pelo filho adolescente. Esse, pensou ele, está em pior condição do que eu... Na manhã seguinte, um grupo de pessoas adentrou as areias das margens do lago, entre elas o nazareno (Jesus era seu nome) tão aguardado; soube-se que era justamente o dia de seu aniversário. Benjamin observou-o bem: alto, cabelos ao vento, olhos brilhantes e lúcidos, movimentos decididos mas gentis. Começou falando ao povo sobre a “vida verdadeira”, prometendo que ela seria “abundante” para quem decidisse seguir a Deus, Pai amoroso de todos os seres. E discorreu magistralmente sobre a divina Lei Maior, a do tríplice Amor: ao Pai acima de tudo, e ao próximo como a si mesmo... E esclareceu como vivenciar esse Amor, pois todos são irmãos... Sua voz sonora, enérgica e doce simultaneamente, penetrou as mais íntimas fímbrias de Benjamin, sobrepondo-se-lhe, com sua melodia mágica, às dores físicas, lenindo-lhe o pranto da alma. Jesus iniciou, então, o atendimento aos enfermos na fila interminável. E maravilhas aconteceram: sob seu influxo, cegos passaram a ver, entrevados andaram, leprosos ficaram limpos, endemoniados foram curados... As horas passaram e o sol se pôs, quando um dos homens que acompanhavam o galileu avisou que, pelo adiantado da hora, apenas mais uma pessoa seria atendida. O restante, somente no outro dia. Justamente Benjamin era o primeiro da fila. Quando lhe acenaram para que lhe avançassem a maca, seus olhos “casualmente” recaíram sobre o senhor tetraplégico trazido pela esposa e filho... Apiedou-se dele... Ordenou ao irmão espantado que não o movesse, e, decidido, sinalizou à pobre senhora para que conduzisse seu doente até o nazareno... Nesse momento, Jesus alçou o rosto e seus olhos luminosos encontraram os do jovem enfermo... Em pranto emocionado, a mulher e o filho puxaram o doente na esteira até Jesus, que falou com ele, e ordenou-lhe que se levantasse, já curado! A seguir, o galileu se retirou, seguido do grupo que o acompanhava. Isaac, terrivelmente irritado com a decisão de Benjamin, reprovou-o por desperdiçar essa chance de melhora após viagem tão difícil e cansativa, levando-os a terem que esperar pelo “curador” na manhã seguinte... E mais aborrecido ficou quando o irmão afirmou-lhe que resolvera começar o retorno à casa nesse mesmo momento;

explicou-lhe que já recebera muito de aprendizado sobre a “verdadeira vida”, e que curar-se fisicamente já não lhe era tão importante: havia outras pessoas bem mais necessitadas do que ele... Depois de sofrida jornada de volta, a carroça parou diante da bela vivenda na Cesaréia. Ante o aviso dos servos, a mãe solícita acorreu a recebê-los. Percebendo que o estado físico do filho não se modificara, começou um resmungo interminável sobre como avisara que o tal homem era um embusteiro, um charlatão, um anarquista... Benjamin não se importou. Sentia-se diferente, sadio em seu íntimo com essa nova filosofia do Amor. Serenamente, ordenou aos servos que o levassem a seu quarto. Para entrar na casa, tinham que atravessar o belo jardim, caminhando sobre estreita faixa de saibro entre os múltiplos canteiros. Justamente aí um dos servos escorregou; quase caindo ao chão e desequilibrando a maca que ajudava a carregar, o que fez com que o jovem doente começasse a escorregar para o chão. Nesse instante, para surpresa de todos, Benjamin, instintivamente procurando evitar a queda de alguma forma, conseguiu apoiar o pé sobre o solo! Sua perna movera-se, ele nem sabia como!... Ansiosamente, buscou mexer-se, e verificou que recuperara todos os movimentos! E não havia mais dor! Nesse momento, envolvido por especial emoção, ressoou em seu imo aquela mesma voz sonora, enérgica e simultaneamente doce: - “Quando esqueceste de ti mesmo para que um irmão sofredor fosse beneficiado, tu me ofereceste o mais lindo presente de aniversário! Agradecido, envio-te também um presente: levanta-te e anda, porque não estás mais doente! Que o Pai te abençoe!” E a luz dos olhos brilhantes e lúcidos de Jesus envolveu o jovem Benjamin, curado do corpo e da alma!... E nós, que presente vamos oferecer ao nosso Mestre Jesus em mais este aniversário seu? Recordemos também, alertados pela Doutrina dos Espíritos, que nosso dever de aprendizes do Cristo é transformar todos os dias de nossa encarnação em permanente festa natalina de Amor! Esforcemo-nos para isso! Feliz Natal com Jesus!

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