CARNAVAL GUIRATINGUENSE: BLOCO DOS CARETAS
O carnaval brasileiro é uma festa popular que canta e encanta as aventuras e desventuras do povo. Nesse país que possui um espírito meio irreverente ao estilo de um “moleque travesso”, dormimos ao som do batuque do samba, acordamos pávidos com a notícia de uma nova doença que se alastra rapidamente causando inúmeras mortes e vivemos embriagados pelo sabor da vitória do time do coração; e assim, entre uma revolta do sistema penitenciário falido e um seqüestro ou a amarga constatação da falência das instituições públicas, e das velhas e tradicionais profissões, vamos brincando de ser feliz... Como num passe de mágica, pierrôs e colombinas roubam a cena: se esquecem das tristezas ocasionadas pela última chuva quando o barraco foi junto com a enxurrada; do arroz que acabou antes mesmo do almoço; do armazém que ainda não pagou; e vai... E se transforma em fração de segundos num “Mega Star”; vaidade pura; a noite já finda e novamente voltamos a ser o que sempre fomos; Josés e Joões da Silva, vivendo meio que para contrariar as leis da física na corda bamba do salário mínimo, regado a infecção hospitalar.
Esta festa que é uma verdadeira psicose foi a fórmula encontrada pelos politiqueiros de plantão desde a antiguidade européia para acalmar os ânimos dos mais rebeldes; Pão e circo sempre apaziguou até mesmo os mais exaltados e como não poderia ser diferente, aportou na Terra Brasilis através do entrudo em pleno século XVIII. Contudo, o carnaval organizado em blocos, cordões ou escolas de samba só surgiria no final do século XIX e de lá pra cá, este que sempre foi um dos principais marcos do calendário turístico brasileiro, criou asas e ganhou o mundo se transformando numa das maiores festas do planeta, envolvendo um espetáculo que é a mais pura síntese entre arte e folclore. Capitalistas por excelência, nossos empresários sentiram o faro do lucro farto e aparentemente fácil, passaram então a investir largamente nestas festividades, reinventaram o carnaval e se o mesmo ganhou em brilho, perdeu e muito na sua essência. È neste sentido que os carnavais guiratinguense vêm conquistando cada vez mais espaço na mídia regional, por ser um carnaval que remonta às mais profundas raízes do povo brasileiro, é um carnaval verdadeiramente democrático onde verdadeiramente todos podem participar.
Sob o ruído desafinado de tambores a sorte é lançada; gritos ecoam ao vento trazendo consigo pura magia; o medo das crianças se confunde com a euforia dos jovens, adolescentes e adultos animados por dois blocos irreprocháveis: Caretas e Sujos. Esta tradição iniciou-se na década de trinta e ao longo dos anos foi consolidando uma identidade marcante e conquistando um espaço diferenciado entre os carnavais brasileiro. A festa não se traduz unicamente no momento de explosão do carnaval, ela começa muito antes, começa no projeto individual de cada máscara, no preparo da argila, para moldá-la, no preparo da massa de papel picado e cola que vai revestir a argila metamorfoseando-a até a fase de um singular acabamento.
Esta festa da carne1 começa invariavelmente quarenta dias antes da Semana Santa, nos meses de fevereiro ou março, para os integrantes do Bloco dos Caretas, no entanto, esta festa começa assim que termina a última festa.. Nas mãos de crianças, jovens e adultos com muita criatividade, gradativamente as máscaras vão ganhando forma e vida própria culminado com o momento em que o folião adiciona seus adereços a mesma dando um toque pessoal no acabamento. 1
Não se sabe ao certo qual a origem da palavra carnaval. Na opinião de Antenor Nascentes, se aplicava originariamente à terça-feira gorda, a partir de quando a Igreja Católica proibia o consumo de carne. Outros etimólogos propõem como origem o baixo latim carnelevamen, modificado mais tarde em carne, vale! que significaria "adeus, carne!"
Cada etapa das atividades é uma aventura a parte, a singularidade das fantasias é algo impressionante aos poucos a expectativa vai tomando conta de seus integrantes cada dia que se aproxima o tão esperado evento. A participação popular é tão intensa que em Guiratinga o carnaval acontece duas vezes por ano. Além da tradicional festa que ocorre no mês de fevereiro, a população comemora seu aniversário com o contagiante Carnaguira, ocasião em que a cidade é invadida por foliões das mais diversas partes do país.
A história do Bloco dos Caretas está intimamente ligada a história de Guiratinga e de sua gente, virou um patrimônio público e muito tem contribuído com a economia local e regional gerando emprego e renda para diversos segmentos da sociedade sul mato-grossense. Em todo pais, o carnaval é festejado no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. Em Guiratinga é comemorado também por ocasião das comemorações do aniversário da cidade com o nome de “Carnaguira” que acontece geralmente n o final de semana que antecede o dia 02 de agosto.
O Carnaguira é uma micareta a exemplo do que acontece em várias cidades dos estados do Nordeste, o chamado "carnaval fora de época" como o Fortal, em Fortaleza; o Carnatal em Natal; a Micaroa em João Pessoa; o Recifolia, em Recife; o Micaru, em Caruaru entre outros. As passeatas, a máscara, o talco, os shows pirotécnicos e artísticos e a liberdade de expressão entre as pessoas, refreada durante o ano todo, caracterizam o carnaval guiratinguense que se transformou assim, numa celebração ordeira de caráter cultural e a cada ano atrai mais turistas ao município.
CARNAGUIRA 2009