Frei

  • November 2019
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ESCRITA CRIATIVA TRABALHO DA TURMA 11ºACI - 2006/2007 – E. S. da MOITA

Frei Luís de Sousa (CONTINUAÇÃO) Mauro Santos 09

Acto Terceiro CENA XII (Modificada) D. JOÃO DE PORTUGAL, TELMO, MANUEL DE SOUSA, MARIA e MADALENA Nessa mórbida e escura noite D. João e Telmo entram na igreja. No breu vêem-se as faces constritas de D. João e Telmo, quais máscaras que se desvanecem pela luz dos bastões. D. JOÃO - Manuel de Sousa Coutinho, eu te ordeno que pares imediatamente com essa teimosia doentia. MANUEL DE SOUSA - Depressa ele vem aí. TELMO - Meu amo, pondere, imploro-lhe, antes que seja tarde demais. (Enquanto Telmo se dirige a Manuel de Sousa Maria levanta-se.) MARIA - Meu pai, que fazes? Como grande Português, amado e respeitado pelo povo, decerto D. João te perdoará. MANUEL DE SOUSA - Pois minha filha, mas os demais não. (Pega na mão de Madalena). -Tu vens comigo. MARIA 1

- Para onde ides? MANUEL DE SOUSA - Vou com vossa mãe para a floresta, no escuro ninguém nos poderá ver. Tu ficas aqui, na igreja ninguém te faz mal. MARIA - Mas, … meu pai…e os feitiços da floresta… Em hora oportuna D. Madalena e Manuel de Sousa saem pela porta das traseiras da igreja, evitando o confronto.

Bernardina Moreira 03

Acto Quarto Na intensa escuridão da noite, já no meio da grande floresta que ficava nas traseiras da Igreja de S. Paulo dos Domínicos d’Almada, estavam, agora a sós, D. Manuel de Sousa e D. Madalena. Com a ajuda de Telmo, tinham conseguido sair da igreja e montados em dois cavalos, que haviam sido antecipadamente preparados pelo mesmo. A galope embrenharam-se floresta adentro.

CENA I MANUEL DE SOUSA, MADALENA (Madalena nada disse durante os primeiros minutos de fuga, mas de repente pára o seu cavalo ….) MADALENA (…aflita …) - Manuel…. e nossa filhinha…? MANUEL DE SOUSA - Bem sei o que quereis dizer, minha Madalena!... (silêncio) Que Deus nos perdoe… mas agora não poderá ir connosco! MADALENA (Em grande ansiedade) - Mas … Oh meu Deus! Eu não conseguirei viver sem o nosso anjo! Não Manuel … por Deus não!

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MANUEL DE SOUSA - Não te inquietes, Madalena! O bom e fiel escudeiro… o bom Telmo, prometeu-me, junto da cruz do redentor, que cuidaria de nossa filha! Ninguém melhor que ele para lhe ficar em lugar de pai! (Tira dissimuladamente um lenço com que enxuga as lágrimas da face repentinamente envelhecida) Frei Jorge espalhará aos quatro ventos que o Romeiro não passou de um impostor, que tudo foi vil embuste dos nossos inimigos… Esta foi uma ideia do próprio… Romeiro. E também ele já saiu do palácio e seguiu para longe, desapareceu na noite e no anonimato. MADALENA (ainda inquieta) - E a nossa filha … Manuel? Depois de tudo o que viu, o que ouviu … acreditará em tal cousa? MANUEL DE SOUSA (tentando calmá-la) - Minha Madalena… por Deus acreditai. Tudo se resolverá! Também nossa filha acreditará nas palavras do seu bom Telmo e de Frei Jorge. E vereis como em breve estaremos todos juntos novamente… Tudo será esquecido… minha adorada Madalena, tem Fé, e vereis como tudo não passou de um pesadelo! MADALENA - Que assim Deus queira também, Manuel de Sousa, meu amado marido! Quando virá a tranquilidade?

Jorge Bernardo 17 CENA II MANUEL DE SOUSA, MADALENA E EREMITA Manuel de Sousa e Madalena, após longas horas de cavalgada pela gélida noite, atravessando a neblina, mais não viam que os vultos e sombras fantasmagóricos das árvores que sobre as suas cabeças se debruçavam. Era seu objectivo alcançar uma esquecida cabana de caça onde outrora El-Rei D. Sebastião pernoitava nos tempos em que por aquelas bandas caçava. Até que de repente…

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MADALENA (Ofegante e seguindo atrás de Manuel de Sousa.) - Manuel, Manuel…meu adorado marido, amor da minha vida. Não posso mais…não posso mais…o cansaço não me permite seguir-vos e o desgosto apoderase do meu coração…parai…parai. MANUEL DE SOUSA (Preocupado e também exausto.) - Minha doce madalena, perdoais o esforço que vos faço passar. Já não faltará muito para alcançar a cabana mas já vai sendo hora de dar descanso aos nossos corpos e aos pobres cavalos. Paremos aqui. (Manuel de Sousa e Madalena apeiam-se das montadas, junto a um riacho onde os cavalos aproveitam para saciar a sede.) MADALENA (Aproximando-se de Manuel e segurando-lhe na mão…) - Manuel, meu marido, meu coração enegrece ao pensar no nosso anjo que para trás ficou sem mãe… sem pai… sem ninguém…apenas com o bom e fiel escudeiro…nosso Telmo…Oh meu Deus…que desgosto… MANUEL DE SOUSA - Sei o que sentes minha adorada esposa…mas sossegai…ela está em boas mãos…nosso Telmo tomará bem conta do nosso anjo e… (Pára de repente e assustado sussurra) Calai-vos mulher…parece que não estamos sós… MADALENA (Abraçando o marido e com grande ansiedade…) - Que foi Manuel…que foi meu amor? …(À sua frente no meio da densa vegetação surge aos poucos diante dos seus olhos, um vulto à mediada que a neblina se dissipa) MANUEL DE SOUSA (Assustado e de tom forte) - Quem vem lá…quem vem lá?...respondei ou trespassar-vos-ei com a minha espada! MADALENA (Recolhida atrás de seu marido.) - Manuel…Manuel…que piores males ainda nos esperam?... Que nos esconde este Destino adverso? EREMITA (Mostrando-se ao pouco luar existente na noite escura, surge diante dos olhos de Manuel e de Madalena, um homem de vestes longas e cinzentas tal como as barbas que lhe emolduravam o rosto. Na mão um cajado que o apoiava nos seus passos inseguros à medida que se aproximava de ambos) - Acalmai-vos nobres senhores. Que todos os males que vos surjam sejam iguais a estes que vos trago!

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MANUEL DE SOUSA (Hesitando…) - Quem sois vós?... (…protegendo Madalena atrás de si.) EREMITA - Alguém que como vós se refugiou na escuridão da floresta…não receeis… sou um pobre homem que aqui vive há muitos anos… isolado… e de quem o mundo já se esqueceu…em mim não existem más intenções…e vós nobre senhor, acompanhado de tão frágil dama…o que fazeis nesta floresta…precisais de auxílio?... MANUEL DE SOUSA (Mais tranquilo mas ainda hesitante…) - Eu e minha esposa parámos para descansar e dar de beber aos cavalos…é nossa intenção alcançar uma cabana de caça outrora refúgio de El-Rei D. Sebastião…sabeis onde fica?... EREMITA - Sim eu sei onde fica, meu nobre homem… esse esquecido refúgio que vós procurais tem servido de abrigo a esta pobre alma que aqui vedes diante de vossos olhos…sossegai que estamos perto…se ainda assim o quiserdes é de bom grado que vos acolherei. MADALENA (Assustada e falando baixo.) - Manuel…Manuel…receio por nós… MANUEL DE SOUSA - Madalena aquietai-vos senhora…que esta pobre figura mais não parece que um velho honrado homem sem más intenções… EREMITA - Acompanhai-me senhores…segui-me…

MANUEL DE SOUSA - Assim seja…indicai-nos o caminho… (Manuel ajuda Madalena a subir para a sua montada e segura as rédeas de ambos os cavalos, seguindo, apeado, a par do eremita, que entre a neblina e escuridão da noite vai indicando o caminho) MADALENA (Em tom baixo para Manuel de Sousa) - Ainda falta muito meu amor? … EREMITA (Apercebendo-se da aflição de Madalena)

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- Sossegai nobre senhora…estamos perto…olhai!... (Madalena e Manuel erguem seus olhos e vislumbram por entre o nevoeiro os contornos de uma sombria cabana que surge no meio da vegetação) MANUEL DE SOUSA - Ali está…Madalena…olhai… EREMITA (num tom baixo…) - Ali podeis descansar…e não vos preocupeis…a vossa filha…está bem! (Madalena e Manuel olham atónitos um para o outro…)

Luísa Pinto 34 CENA III MANUEL DE SOUSA, MADALENA E EREMITA No interior da cabana, o aroma a papoilas sobressai no ambiente mofento e embriagante. O chão está coberto com um manto roxo com uma cruz bordada ao centro. Várias taças alinham-se com unguentos esverdeados e ressequidos. A luz tremeluzente de minúsculas velas projecta sombras assustadoras. Madalena, com os olhos orvalhados de lágrimas, fita suplicante o seu amado. Ajoelha-se e desata num pranto. MADALENA (com voz muito tremida) - Manuel. Oh, meu esposo! Meu fiel marido... por Deus! Levai-me, levai-me de volta meu senhor, que não suporto esta essência, que me lembra a nossa filhinha, que está sozinha, combalida e tão longe de seus pais. (deixa cair a cabeça, soluçando) Talvez não viva para voltar a vê-los... MANUEL DE SOUSA -

Minha querida... meu anjo! Por favor, não me atormente... que já me pesa a alma e contrai-se-me o coração. O seu choro é uma tortura, e a lembrança crava-me de espinhos o peito... (levantando-a, abraça-a) Seremos fortes, o Senhor é misericordioso, terá piedade e não lançará o infortúnio sobre uma inocente. MADALENA

-

Será, Manuel? Será?... (inconsolável) Não haverá maior sofrimento que a perda da minha flor amada... Sabe Deus que não... Por que não o havia de fazer a nós, pecadores? MANUEL DE SOUSA (Segurando a mão de Madalena.) 6

-

Madalena, não o ouviu dizer-vos que nossa filha está bem? MADALENA (agarra também as mãos de Manuel)

-

Mas quem é ele para que confie? De onde veio? Surgiu da névoa, no fim da noite, vagueando como um espectro na escuridão. Só as barbas mostrou por descuido, e a sua voz dissimulada, denunciava medo em ser reconhecido. E se tem vivido aqui... como pôde ele saber? MANUEL DE SOUSA

-

Também eu não sei. (Pensativo, solta Madalena e avança uns passos; estremece perante as criaturas empalhadas que o fixam.) Vejamos, não pode ser o Romeiro, esse já vai longe e com a promessa de não voltar, a não ser que... MADALENA

-

Por Deus Manuel!... (preocupada) Que vá longe e não se arrependa ele... Não creio que voltasse atrás, pesa-lhe já a consciência e bom coração sempre teve... (Ouvindo um estalido, Manuel de Sousa e Madalena calam-se subitamente, aproximam-se e voltam a abraçar-se) Ele aí vem... EREMITA (Completamente enterrado na sua capa, aproxima-se em passo ritmado) -

Ora, porque haveria de voltar? Tem um tal amor a sua esposa, (confronta Madalena) esposa sim!, que ainda sois casados, que voltou costas e não quis mais saber de sua grandeza nem fortuna e viveu cativo... (emocionado e mais uma vez com olhar acusador para Madalena) Oh, que grande fidalgo aquele! Nobre senhor, de uma só palavra, fiel ao juramento, incapaz de trair, de abandonar o seu amo... MANUEL DE SOUSA

-

Chega! (enquanto enxuga as lágrimas da envergonhada Madalena enche o peito de ar e fala com austeridade) Afinal, quem sois vós? Falais com a mais digna dama de Portugal... E sou eu o seu único amor! Como ousais humilhá-la em frente de seu marido... Como soubestes de nossa filha, de quem falamos e o que ganhais em defender esse outro? EREMITA (Sem se afectar com a arrogância de Manuel)

- Manuel, Manuel! Tudo tem o seu tempo... Sigam-me! Vamos buscar a cura para Maria. Só Ofídia, essa incrível curandeira a poderá salvar...

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(Ainda mais confusos, Manuel de Sousa e Madalena saem da cabana atrás do Eremita, sem ousar discutir a ordem do Eremita.)

Nuno Carrilho 20

CENA IV CENA IV

MANUEL DE SOUSA, MADALENA, EREMITA, OFÍDIA E DR. MEDO Já no interior da gruta de Ofídia, uma caverna lúgubre, macabra com as paredes pejadas de amuletos indiciantes do carácter supersticioso da moradora. OFÍDIA (Perante o som de passos demanda com a sua voz rouca.)

- Quem vem lá? EREMITA - Sou eu, o Eremita, cara Ofídia, comigo trago duas pessoas que precisam da sua ajuda. OFÍDIA - A minha ajuda, o que pretendem eles ao certo? Quem ousa entrar na escuridão que tanto preservo, no horror que a custo alimento? MADALENA (soluçando) - Temos uma filha muito doente, e de acordo com o Eremita o único sítio onde poderíamos encontrar a cura seria aqui! MANUEL DE SOUSA (Reforçando as palavras proferidas por Madalena.) - Sim, Sra. D. Ofídia haverá alguma hipótese de cura para a nossa filha? OFÍDIA (Após escutar pormenorizadamente todos os detalhes da doença de Maria.) - Creio que sim, existe ainda uma réstia de esperança para a vossa filha Maria, existe uma planta muito rara que se encontra para além desta floresta num pântano inóspito. Se conseguirdes encontrá-la, talvez seja possível fazer uma poção para a curar. MANUEL DE SOUSA (Arranjando-se prontamente e escutando todos os detalhes sobre a planta e o local onde esta se situava) 8

- Partirei já, Madalena aguardai por mim que voltarei brevemente com os ingredientes da cura para a nossa Maria! MADALENA (Receosa de que algo acontecesse a Manuel.) - Ide, ide meu amor mas sede prudente e breve! (Manuel de Sousa partiu então em busca da tal planta na qual residia a única esperança de salvação de Maria) MANUEL DE SOUSA (Já na floresta, uma mão invisível cravara-se funda no seu ombro…) - Quem sois? Deixai-me seguir o meu caminho… DR. MEDO - Eu sou aquele outro a quem vós outros chamais Medo! Estou aqui para vos dificultar a vida, para encarecer o que procurais com tanto afinco! Ah, ah, ah, ah, ah, ah… (A mão soltou-se mas dor funda permanece! Com dificuldade continuou a viagem resoluto.)

Sandra Féria 26 CENA V MANUEL DE SOUSA, DR. MEDO

(Uns minutos depois, o cavalo de Manuel de Sousa estaca de repente, atirando-o ao chão.) MANUEL DE SOUSA

- O que foi isto? O que se passou? DR. MEDO



Foi só uma partida que te quis fazer… Ah, ah, ah, ah, ah, ah…



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MANUEL DE SOUSA - Porque me fazeis isto? O que quereis de mim? … Deixai-me, pelas Chagas de Cristo! DR. MEDO - Ah, ah, ah… Ainda agora começou… E para chegares à planta ainda vais ter que ultrapassar mais obstáculos… E se conseguires ai sim vais obter o que quereis. Vamos ver até onde consegue ir a tua coragem, Ah, ah, ah, ah, ah, ah… MANUEL DE SOUSA - E como vós sabeis o que eu pretendo alcançar? (Sem obter resposta Manuel de Sousa retomou o seu caminho. Depois de cavalgar alguns metros apareceu-lhe um lobo.) MANUEL DE SOUSA - Sai daí… Vais ferir o meu cavalo! (Manuel de Sousa pára sai do cavalo e luta com o lobo ficando ferido num braço, mas vence-o e prossegue o seu caminho.) DR. MEDO - Safaste-te desta Ah, ah, ah, ah, ah, ah… MANUEL DE SOUSA - Porque me fazeis isto? Porque quereis tirar a vida a uma pobre criança? DR. MEDO - Eu não quero tirar a vida a nenhuma criança. Só quero dificultar a tua Ah, ah, ah, ah, ah, ah… Quero saber até que ponto gostas dela… MANUEL DE SOUSA - Pois ficai a saber que medo não tenho nenhum. E pela minha rica filha sou capaz de tudo… DR. MEDO - Já vi que me consegues enfrentar e por isso vou-te ajudar… Junto a uma ribeira está a planta que tu procuras. Ah, ah, ah, ah, ah, ah… (Manuel de Sousa consegue chegar à ribeira e apanha a planta.) MANUEL DE SOUSA -Esta é a planta que vai salvar a minha filha!!! (Da planta desprende-se um odor suave… envolvente…)

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- Esta é a planta que vai salvar a minha filha!!! Olha, sinto-me leve! O que é isto? Agora sinto-me a voar…

André Lopes 13 CENA VI MANUEL DE SOUSA E DOUTOR MEDO MANUEL DE SOUSA (Depois de se sentir leve com o odor da planta.) - Mas que sensação é esta a minha? Além de me sentir leve, tenho forças para enfrentar tudo e todos. DR. MEDO (Com ar sério.) - Sim. É esta a planta que vai salvar tua filha. E essa sensação que por agora estais passando é traiçoeira, não vos deixeis enganar por ela, pois continuais o mesmo homem. MANUEL DE SOUSA (Depois de se recompor.) - Já é tarde, ainda espero chegar a tempo de salvar a menina do meu coração, pois se não chegar, que Deus me castigue na vida eterna. Pois quem é que aguentaria a amargura da morte de um anjo? DR. MEDO - Nada temais, D. Manuel! Se partirdes agora ainda chegareis a tempo de a salvar. Esperai! Lembrai-vos que tendes de servir essa planta em chá e que tem de ser bebida quente para que faça efeito. MANUEL DE SOUSA (Subindo para o seu cavalo.) - Obrigado, Dr. Medo. (No seu cavalo, galopou a toda a velocidade para o palácio.)

Cena VII MANUEL DE SOUSA, D. JOÃO DE PORTUGAL E TELMO PAIS (Chegando ao palácio onde se encontrava Maria, D. Manuel entra de rompante.)

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TELMO PAIS -Mas que estais vós aqui fazendo? Não sabeis que correis perigo se D. João vos encontra? MANUEL DE SOUSA (Com grande ferocidade e bravura.) -Agora não tenho tempo para pensar nisso. Estou mais preocupado com minha filha. Ele que me mate, que me torture. Mas que ao menos me deixe curar aquele pobre anjo. D. JOÃO (Passado um pouco, D. João entra no palácio e encontra D. Manuel.) -Que, quereis? (Pergunta-lhe com acentuada arrogância.) MANUEL DE SOUSA (Manuel responde-lhe sem pestanejar.) - Venho salvar a minha filha. E nem vós nem ninguém me impedirá de tal feito. - Dizei-me imediatamente onde ela está. Se é que tendes coração. D. JOÃO - Quereis salvar a vossa filha? Vós que a deixastes aqui e fugistes como um cobarde. MANUEL DE SOUSA (Sem qualquer medo, desembainha a sua espada.) - Cobarde, quereis enfrentar este cobarde. Eu Manuel de Sousa, desafio-vos a vós, D. João de Portugal, para um duelo aqui e agora. TELMO PAIS (Intervém, para tentar evitar este duelo.) - Por favor meus senhores, já chega de sofrimento inútil nesta casa. - Por favor meu senhor D. João, sou eu agora que vo-lo peço, deixai-o curar a menina. D. JOÃO (A pedido de Telmo Pais, ele concede-lhe esse desejo.) - Meu bom Telmo, como percebo a vossa preferência. Não sei por que me fizestes voltar do meu caminho… Nunca conseguiria matar uma inocente! Esta é a minha casa, contudo, Manuel de Sousa Coutinho, ide curar a vossa filha que eu já não pertenço ao mundo dos vivos. Não quero que uma menina inocente morra por

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minha culpa. Mas, não vos esqueçais do desafio, D. Manuel. (Impondo um ar autoritário e valente.) Por esse repto, há muito que espero!

Sandra Soares 27 CENA VIII MANUEL DE SOUSA, TELMO PAIS E MARIA TELMO PAIS (Depois de conseguir acalmar os ânimos.) - Vinde D. Manuel, levar-vos-ei à vossa filha D. Maria, o meu querido e adorado anjo, que tanto tem sofrido com a vossa ausência. E D. Madalena? Como se encontra a minha estimada senhora? MANUEL DE SOUSA (Um pouco mais calmo e menos ansioso.) - D. Madalena lá vai andando com a cabeça entre as orelhas, com muitas saudades de Maria. Mas afinal onde está D. Maria? TELMO PAIS (Enquanto percorriam os corredores escuros e sombrios do palácio…) - D. Maria descansa nos seus aposentos, tem tido muitos pesadelos acompanhados de muita febre…e delira muito. Mas é melhor apressarmo-nos. MANUEL DE SOUSA (Entrando nos aposentos e vendo Maria dormindo, corre para ela.) - Maria minha filha, sou eu, o vosso pai! MARIA (Acordando um pouco sobressaltada.) - Meu pai…oh meu querido pai, és mesmo tu ou estou a sonhar? E a senhora minha mãe? MANUEL DE SOUSA (Emocionado.) - Não Maria, não estás a sonhar. Sou eu e vim salvar-te. Tua mãe encontrase bem, aguarda ansiosamente por notícias vossas. (Virando-se para Telmo Pais.) - Meu bom Telmo, tomai este saco e ide rapidamente preparar um chá com essas plantas. Mas Telmo, peço-te que te despaches e por favor não cheires as plantas…por favor não te esqueças do que te peço! Agora vai, ligeiro… D. Maria

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encontra-se na flor da idade e precisa de ficar boa rapidamente, para poder viver sua vida… precisa de começar a sair, a divertir-se, a ir para a desbunda. Ide...ide

Fernando Marques 15 CENA IX MANUEL DE SOUSA, TELMO PAIS E MARIA. Telmo Pais prepara dedicada e cuidadosamente a efervescência de plantas que todos esperam ser uma panaceia para os males físicos e espirituais da frágil Maria. TELMO PAIS (Quando se dirige aos aposentos de Maria, segurando vigorosamente a bandeja com o chá, a sombra do temido rato Matias surge reflectida de forma colossal na parede e Telmo estremece, provocando a queda da tampa do bule, levando inevitavelmente à inalação do vapor alucinogénio do chá.) - Maldito Matias…quase que caía… mas… que aroma… (Telmo entra nos aposentos de Maria; esta encontra-se debilitadamente deitada no seu leito.) - Madalena… meu amor… (Com os olhos esbugalhados.) MANUEL DE SOUSA (Introspectivo) - Decerto Telmo agirá com prudência, pois não sucederá tamanha calamidade como ele inalar ou beber acidentalmente o chá. (O Dr. Medo informarao veemente que se isso acontecesse a uma pessoa que não se encontrasse enferma, o resultado seria desastroso.) MARIA (Contemplando assombrosamente Telmo.) -Telmo, que tendes? Porque me olhais assim? Porque chamais pelo nome de minha mãe? TELMO PAIS (Prolongando o olhar embevecido perante Maria.) - Madalena, meu amor, finalmente a minha voz ganha coragem para proferir as mais ternas palavras que traduzem os meus secretos sentimentos: amovos e por isso convenci D. João regressar a esta casa. 14

Cena X MANUEL DE SOUSA, D. JOÃO DE PORTUGAL, MADALENA E VORIK (Manuel de Sousa encontra D. João no pátio. É o local escolhido para se concretizar o duelo.) D. JOÃO -Estimado adversário! Eis as condições da nossa contenda: O primeiro que deixar cair a espada no solo partirá e não mais regressará!

MANUEL DE SOUSA (Reage enraivecidamente às palavras de seu adversário.) -Aceito as condições. Vamos a isto! (Aquando do decorrer da luta, uma maçã espeta-se inesperadamente na ponta da espada de D. João. Ambos ficam perplexos.) D. JOÃO - Mas que sortilégio vem a ser este, Manuel de Sousa? Como ousais utilizar as artes obscuras para me vencer? MANUEL DE SOUSA - Do que falais?... (Manuel de Sousa é interrompido pelo brusco impacto de uma cadeira nas suas pernas, na qual acaba sentado.) - Mas que raio… VORIK (Duende pendurado numa árvore do pátio. Observa o duelo com uma expressão divertida, irónica e tresloucada.) - Se estivesse no lugar destes nobres senhores, deixava-me de brincadeiras com maçãs e cadeiras e preocupava-me com a esbaforida dama que empreendeu uma fuga da casa do eremita! MANUEL DE SOUSA (Indignado.) -Então eras tu, infame criatura, quem estava a atrapalhar o nosso combate! No entanto, foste-me útil ao informar-me da fuga da minha amada. (Virando-se seguidamente para D. João)

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- Terminemos o duelo que tenho de socorrer a mulher da minha vida. (Manuel de Sousa, acometido por uma nova energia devido à preocupação, avança sobre o adversário derrubando-o.) D. JOÃO (Cabisbaixo, desarmado e com um olhar soturno.) - Vou-me embora para não mais regressar. Dizei a Telmo que parti. (Manuel de Sousa parte em busca de D. Madalena com Vorik empoleirado no seu ombro.)

Cena XI MADALENA, VORIK E MANUEL DE SOUSA D. MADALENA (Assustada, atrás de uma árvore na floresta, avista Manuel de Sousa.) - Estou aqui meu amor! Aquele eremita queria obrigar-me a comer olhos de esquilo, por isso fugi! VORIK (Novamente com um olhar de escárnio.) - Se eu fosse o nobre casal regressaria novamente a casa, pois cousas estranhas sucedem no quarto de vossa filha. (Dito isto, desaparece.)

Cena XII MARIA, MADALENA, VORIK, MANUEL DE SOUSA E TELMO PAIS (Manuel de Sousa e D. Madalena galopam apressadamente para o palácio. Quando chegam, dirigem-se desesperadamente aos aposentos de Maria, onde se deparam com Telmo a tentar beijar a menina, com um ar alucinado.)

TELMO PAIS (Apaixonado.) Madalena, meu amor… esperei tanto por este momento. O Manuel de Sousa é um pacóvio que não vos merece. –



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MANUEL DE SOUSA (Com um olhar enfurecido.) - Telmo, que dizeis? (Com a cara cada vez mais vermelha de raiva.) - Parai!

Paulo Fernandes 23 Cena XIII MANUEL DE SOUSA, MADALENA E TELMO PAIS (Manuel de Sousa furioso com Telmo Pais esbofeteou-o até o fazer voltar à razão) MANUEL DE SOUSA (Ainda irritado.) - Telmo, que fazeis homem? Perdestes o juízo, a vossa sanidade mental esvaiu-se? TELMO PAIS - Senhor…… sois vós? Sinto – me atordoado…como se de uma só assentada tivesse bebido uma garrafa de absinto e perdesse o tino. - Passou-se algo, meus amos? D. MADALENA (D. Madalena furiosa por tal desaforo pede satisfações a Telmo.) - Zombais com minha cara, com certeza… ainda nem há cinco minutos tentáveis beijar Maria como se de mim se tratasse, difamastes o nome do teu honrado amo e agora fingis que nada se passou? TELMO PAIS (Telmo ainda zonzo estava a ficar cada vez mais confuso.) - Mas D. Madalena eu não sei de que falais… sinto-me tonto… de certeza que foi do chá pois eu nunca faria tal barbaridade à nossa menina (Telmo começa a chorar de raiva e desespero). - Não sabeis isso, senhora? Jamais tocaria num único cabelo de nossa princesa, quanto mais tentar beijá-la. 17

MANUEL DE SOUSA - Mas se não vos lembráveis de nada como vos lembrais do beijo? Não fomos nós que o referimos? - SEU PULHA!!!!!!! (Telmo começa a correr e passa pelo meio de Manuel de Sousa e D. Madalena empurrando-os contra a parede).

Acto Quinto Após a discussão entre Telmo, Madalena e Manuel de Sousa estes últimos vão assegurar-se que tudo está bem com Maria; ao aproximarem-se do seu leito ouve-se um grito forte, de extrema agonia).

Cena I MANUEL DE SOUSA e MADALENA (Agora mais calmos questionam-se sobre o sucedido.) MANUEL DE SOUSA - Madalena ouviu? D. MADALENA - Ouvi sim… o que terá sido isto? Não julgais que possa ser… MANUEL DE SOUSA - Não! Ele seria incapaz disso… Mas depois do sucedido… já espero tudo. - Vamos ver o que se passou? Maria ficará bem por uns instantes. A procura não foi grande… depressa viram a correria para as ameis e lá estava Telmo. Encontrava-se inerte, espalmado nas rochas que envolviam o palácio. A vergonha tinha-o consumido e a solução por ele encontrada foi a morte… Agora como companhia tinha apenas os corvos que da sua carcaça faziam um festim.

António Couceiro 02 (não enviou)

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Tiago Silva 12 Cena II MANUEL DE SOUSA e MADALENA (Manuel de Sousa aconchega carinhosamente Madalena.) MADALENA (Muito combalida.) - Ah! Porquê meu Telmo? Tu que foste a chave do meu cofre. Tantas confissões! Ai! Meu amor, porque acontecem todos estes infortúnios?

MANUEL DE SOUSA (Inseguro, mas tentando confortar Madalena.) - Tende paciência, meu amor… (toma-lhe ambas as mãos) Valha-te Deus, Madalena! Estás gélida? Apelai ao bom senso, D. Madalena. Sempre pensei que depois de tais devaneios Telmo não merecesse uma réstia de dor. MADALENA (As lágrimas corriam enquanto soluçava.) - Não pode ser, meu amor! Não digais isso, por favor! Não poderia ser o meu bom Telmo. Era incapaz de tal barbaridade. Não aceito tal cousa! O meu Telmo? Não!!! (chorando fortemente) MANUEL DE SOUSA (Tocando levemente na face de Madalena) - Sabeis, meu amor, nem sempre as gentes são o que aparentam, existe sempre algo que nós desconhecemos. MADALENA (Irritada com o discurso de Manuel de Sousa e olhando para o Telmo inanimado sobre as rochas) - Desculpai-me meu amor, mas conhecia o coração de Telmo melhor que a mim mesma. Ele seria incapaz de cometer tais brutalidades! Mas porquê? Quem o fez? Quem para além de D. João quer destruir todo o nosso lar? (As suas lágrimas derramavam-se sobre a auréola que manava do corpo de Telmo).

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Elisabete Faustino 04 Cena III MADALENA, MANUEL DE SOUSA e MARIA MANUEL (Tomando as mãos de Madalena.) - E Maria, nossa querida filha que é todo o gosto e ânsia da nossa vida. Abençoou-nos Deus na formosura daquele anjo, a quem Telmo chegou a pretender ter mais amor que nós mesmos. Dói-me o coração e a alma quando lhe contar este infortúnio. Temos de a consolar, minha querida Madalena. MADALENA (Caindo em si.) - Pois sim, tereis razão…tendes razão, em tudo o que dizeis. MARIA (Manuel revela a Maria a trágica notícia.) - Ai, meu pai meu querido pai! Bem mo dizia o coração! MANUEL (Com muito afecto.) - Que te dizia o coração, minha filha? MARIA (Escondendo a cabeça no seio de seu pai, chora gravemente.) - A verdade…é que eu sabia de um saber cá dentro; ninguém mo disse. Não pode ser, não pode ser, Deus não podia consentir em tal. Oh, meu pai, meu querido pai, agora és o maior gosto que posso ter nesta vida, com a minha querida mãezinha, é certo. MADALENA (Abraçando Maria.) - Minha pobre filha, minha querida filha! MARIA (Enxugando as lágrimas e pressentindo algo no olhar de seu pai.) - Que tens tu meu pai, dize, que tens tu?

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MANUEL (Volta-se para Madalena.) - É preciso sair desta casa…bem sei que é loucura, mas… não quero estar aqui por muito mais tempo. MADALENA (Fazendo-se por alegrar.) - Pois sairemos, sim; eu nunca me opus ao teu querer, estou pronta a obedecer-te sempre, meu querido esposo. MANUEL (Como que preparando desde já a partida.) - Rezaremos por alma de Telmo nesta devota capela e partimos hoje mesmo. Nuvens escuras tinham escurecido o palácio, até a face da lua estava coberta por um espesso véu; a família embarcou para África, com a grande comitiva de criados, escudeiros e soldados.

Paulo Fernandes 24 (a redigir) Cena IV MARIA, MANUEL DE SOUSA E MADALENA (Depois, de uma noite profunda de sono, Maria acorda em pleno oceano, com seus pais a seu lado…) MARIA - Mas, mas meu pai, onde estamos? MANUEL - A caminho do paraíso!!! Para a terra onde não há maldade, onde em toda a sua extensão se encontra a beleza, e nós vamos encontrar a alma, o coração e a felicidade eterna minha rica filha. MADALENA (Madalena interrompe a conversa) - Manuel a nossa filha está curada, pois já não tem febre a sua cor parece outra. MANUEL - Graças a Deus!!! Graças a Deus!!! Parece que agora que viajamos à procura da felicidade eterna vamos conseguir ter paz para a encontrar.

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MADALENA - Meu querido marido, que Deus esteja com os ouvidos aqui mesmo para te ouvir, meu amor, meu querido esposo. MANUEL - E está! Disso eu estou certo. MADALENA - Manuel as tuas palavras confortam o meu coração. MANUEL - Madalena estas palavras transportam todo o meu amor por ti, pois tu és o sol da minha vida, és a água que me tira a sede, és pão que me mata a fome, enfim és todo o meu ser! MADALENA - Oh Manuel!!! Como não haveria eu de te amar tanto, ao ponto de cometer as loucuras que cometi? MARIA (Maria estava atenta à conversa dos dois e decide intervir.) - Meu pai se a minha mãe é a tua vida, e eu, que sou para ti? MANUEL (Manuel surpreendido com a pergunta) - Minha rica filha, tu és o fruto deste grande amor, és o nosso anjo, és a razão da nossa vida, és a imaculada que nos dá a força e coragem, és tudo! MARIA - Oh meu pai!!! Dizeis coisas tão lindas… Mas pai, conta-me mais sobre essa terra, o paraíso? MANUEL – Minha filha, Africa é a terra onde o azul do mar é o mais lindo que possas imaginar, onde o cheiro da terra tem o perfume das rosas mais cheirosas que alguma vez tenhas sentido, onde nascem os mais belos frutos deste mundo, onde tudo é puro, onde até a chuva quando cai parecem pingos de prata, tal é o seu brilho… –

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MARIA - Meu pai quero mesmo conhecer essa terra…Ainda lá chegamos hoje? MANUEL - Não minha rica filha, ainda temos mais de trinta dias de viagem para lá chegar!

Pedro Colaço 39 Cena V MARIA, MANUEL DE SOUSA E ZÁZU (Decorridos os trinta longos dias e ao julgarem chegar à terra prometida tinham, na verdade, chegado a uma colónia de canibais onde encontram Zázu, o chefe daquela sinistra tribo) MANUEL (Desembarcando na praia, aproxima-se uma figura enorme, ricamente pintada e adornada com artefactos macabros: caveiras à cintura, um colar de orelhas humanas…) -Olá! Eu sou Manuel de Sousa, Português, e Vós, quem sois? ZÁZU -Sou Zázu, o chefe desta colónia e vocês, a partir deste momento, passam a ser todos meus convidados vou já mandar servir um banquete. (Zázu pensou em engordá-los para estarem mais saborosos!) MARIA -Ó paizinho, parece-me que ele tem um olhar esquisito! MANUEL -Não te apoquentes Maria, ele é bastante simpático! Além disso, temos todos estes escudeiros que nos protegem. (Faz sinal à comitiva para desembarcar.) (Zázu dá ordens à sua tribo para que cozinhem alguns dos escudeiros, depois de os fazer desaparecer sem dar muito nas vistas)

Tiago Carvalh0 38 Cena VI ZÁZU, MANUEL, MARIA (Zázu conduz os convidados para um belo palácio; as portas de entrada eram enormes, e com um ar muito robusto. Em cima encontrava-se um letreiro que dizia, “chácháchá comertátá bombom”. Manuel de Sousa ficara intrigado, com tal inscrição, mas como não compreendeu o significado do letreiro e decidiu perguntar). MANUEL 23

-Sr. Zazú! Qual é o significado daquele letreiro?! ZÁZU -É um idioma utilizado pelos os nossos antepassados, que significa: “Não tenhas mais olhos do que barriga.” MANUEL -Hum!... MARIA -Meu pai, qual a razão destes senhores estarem com a cara pintada?! MANUEL -Faz parte da cultura deles, minha querida filha.

Cena VII ZÁZU, MANUEL e MADALENA (Enquanto caminhavam pelo belo jardim do palácio, que conduzia finalmente ao salão de jantar, Manuel de Sousa repara que no meio do jardim há uma estátua. Quando se aproximou, constatou que não era uma estátua, era uma caveira com uma coroa na cabeça.) MANUEL DE SOUSA -Sr. Zabú, desculpe incomodar, mas tem ali uma caveira no meio do seu jardim?! ZÁBU -Sim, foi o nosso último rei, meu pai. Todos os reis que morrem, nesta tribo, os seus restos mortais permanecem no jardim até o seguinte falecer. Já estamos a chegar. MADALENA -Que horror!!!

Cena VIII ZÁBU, MANUEL, MARIA, MADALENA E TÁTÁ. (Quando chegaram ao salão de jantar ficaram impressionados, com o enorme espaço com que se depararam. As paredes eram altas, todas forradas em ouro, o tecto continha pinturas africanas dos seus antepassados, todo aquela salão era um requinte de arte. Sentada na mesa ao centro encontrava-se a rainha da tribo, a Dona Tátá Insaciável Esfomeada Comilona, que aguardava ansiosa, pelos os convidados.) ZÁZU

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-Esta senhora é minha esposa, Dona Tátá Insaciável Esfomeada Comilona. Sentemo-nos. MANUEL -Boa noite Senhora Dona Tátá. Quero agradecer esta gentileza, esta honra que nos dá. TÁTÁ -Ora meu caro nobre Manuel de Sousa é uma honra recebermos uma visita de sangue azul, uma vez que nunca provei “carninha azul”… Ups! Que tolice! Peço perdão pelo o meu português. O que eu queria dizer, era que nunca recebemos visitas tão importantes como vós. MANUEL

(intrigado) -Hum… Sim, obrigado.

(Findo o jantar, Zázu dá um sinal a um empregado, este sai do salão e volta a entrar com um grande cachimbo na mão; contém marijuana no seu interior. Zázu acende o cachimbo e dá um bafo, ficando um minuto a inspirar pelo nariz). ZÁZU - Fume aqui, o nosso cachimbo, para celebrarmos a vossa chegada a África. MANUEL -Desculpe, mas eu não fumo. ZÁBU -Mas tem de fumar, faz parte do protocolo ofical, os nossos convidados são obrigados a fumar do cachimbo que simboliza a paz. Se não o fizer, estará a violar uma lei muito antiga da nossa tribo, que dá direito à forca. MANUEL

(Sem hesitar) -Já que insiste, não seja por isso.

(Manuel dá um bafo no cachimbo, ficou vermelho que nem um tomate e começou-se a rir que nem um maluquinho) MANUEL -Hihihihihihi, ahahahahahahaha! Epá, Zábu, tem aqui bom material! Grande moca que vou apanhar! Ahahahahahahahah. MADALENA -Oh Manuel! Meu marido, deixa a tua querida esposa dar um sorvo para desconstrair, pois ando muito tensa…

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(Manuel passa o cachimbo a Madalena. Madalena dá um bafo e ficou branca como a cal.) MADALENA -Zázu, grande pomada que arranjou! Em África vive-se bem! Grande pedra que eu vou apanhar! Hihihihihihihi. ZÁBU -Aqui em África é tudo assim, à grande. Agora não seja forreta, passe o cachimbo à sua filha.

(Madalena ainda com o fumo nos pulmões, com a voz rouca). MADALENA -Mas… Ela ainda é muito nova! ZÁBU -Não é nada. O produto é 100% natural. Aqui em África, as crianças começam a fumar aos três anos. Confie em mim.

(Madalena hesitando, entrega o cachimbo à filha. Maria pega no cachimbo e dá um sorvo muito intenso. Quando aquele fumo agreste lhe penetra os pulmões virgens dá-lhe um ataque fortíssimo de tosse). MARIA -Cof cof cof. Ui, já estou a ver o que de bom se produz aqui, em África. Hi hi hi… MADELENA -Maria! MARIA -Mas mamã… Eu já tenho 14 anos. MANUEL -Deixa a tua filha gozar a vida.

Cena IX ZÁBU, MANUEL (Acabaram de jantar, e Zábu e Manuel retiraram-se para uma sala ao lado para fumarem uns charutos. A sala era pequena, escura. As paredes eram vermelhas, sentia-se um ar exótico no ar. No chão encontravam-se peles de animais. Toda a sala transbordava um ar de colchão. A sala tinha dois sofás e no canto um divã esplêndido…) ZÁBU 26

Vamos fumar estes charutos cubanos e beber um James Martins com vinte anos. Isto é África, mas temos tudo. MANUEL Estou a ver sim!

(Zábu bate uma vez as palmas e entram na sala sete belas escravas africanas. Elas pareciam ser mulheres do outro mundo, tal era a sua perfeição. Eram altas, os seus enormes seios pareciam querer saltar dos seus decotes. As suas coxas tinham a forma da deusa de “Vénus”. Todas elas emanavam erotismo, desejo, calor, paixão… O queixo de Manuel ficara caído, tal era o seu espanto perante toda esta beleza tão natural.) ZÁZU -Manuel. Tens aqui estas escravas para te satisfazerem. Sim, porque em África um homem tem no mínimo sete mulheres. MANUEL -Sete?! Nós em Portugal, só temos uma. E já não nos podemos queixar. Mas… Eu não posso Zázu! Eu sou um homem casado. ZÁZU -Mas tem de ser Manuel. Já sabe que o protocolo...

Cena X TÁTÁ, MADALENA, MARIA E BALTAZAR (Tátá, Madalena e Maria retiram-se para a sala de chá. Era um sala pequena, vulgar, menos luxuosa que os outros compartimentos do palácio, uma vez que era uma zona reservada às mulheres). TÁTÁ -Baltazar. Sirva-nos o chá ranhoca. Imediatamente. BALTAZAR -“Xim patroa, é prá já.”

(O empregado retira-se do salão e torna a entrar com duas bandejas. Numa trazia os bules com o chá e na outra as chávenas.) TÁTÁ - Bebam este chá delicioso! MADALENA -Sim, tem bom aspecto. Depois daquela cachimbada vai-me saber bem.

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MARIA -Eu também quero mamã.

(Depois de beberem o chá, Madalena e Maria desmaiam, caem para o lado) Pelos alunos João Ferreira 16 e Paulina Cativa 21 Cena XI JM (Quem nunca esteve em África pensa desta forma: os pretos comem os brancos, violam as europeias… Na realidade, esta família perdeu-se no seio das matas africanas, ninguém mais teve notícia deles. Em Almada, diz-se que morreram às mãos de uma tribo canibal! A família até já fez as partilhas! O antigo palácio de D. Manuel é hoje uma casa senhorial! Foi devidamente restaurada e os seus actuais donos deliciam-se com a vista do Tejo. Mal sabem que anos mais tarde nascerá ali uma empresa de reparação naval que empregará muita gente; mais tarde, por obra e graça de administradores hábeis despedirá toda essa gente… Deixem o tempo passar e logo saberão! Manuel de Sousa Coutinho comprou um milhão de hectares junto ao Rio Rovuma, mais propriamente na Inhaca. Delicia-se a mergulhar, pescar e viver o resto dos seus dias com Madalena. Não pensa regressar à Europa desde que consultou uma bruxa que lhe disse que no século XXI os portugueses suspirarão por pertencer a Espanha, tal é o estado em que o país cairá! Maria casou com Tágu, filho de Zágu Tinta Vermelha e Tátá Insaciável Esfomeada Comilona; tem já dezoito filhos, quase todos inscritos nos Papa Quilómetros, associação de atletas corredores de maratonas. Muitos não acreditarão no que aqui vai dito! Quanto a mim, fazem muito bem! ) -Até sempre!

NOVO FIM

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