MICHAEL MOORE O Livro Oficial do Filme
FAHRENHEIT - 11 de setembro 2004
Para Elmer Bernstein
Sumário Prefácio: A obra de um patriota, John Berger
9
Introdução 13 Parte I: Fahrenheit 11 de setembro - Roteiro
19
Parte II: Fahrenheit 11 de setembro - Provas e evidências Parte III: A opinião do público sobre Fahrenheit 11 de setembro 183
129
Parte IV: Ensaios e críticas sobre Fahrenheit 11 de setembro 223 Parte V: Além de Fahrenheit 11 de setembro Mais escritos sobre as questões do filme 255 Parte VI: Charges e fotografias
341
Prefácio A Obra de um Patriota John Berger Fahrenheit 11 de setembro é estarrecedor. O filme de Michael Moore tocou profundamente os artistas que integraram o júri do Festival de Cannes, e a votação que lhe deu a Palma de Ouro foi unânime. Desde então vem comovendo milhões e milhões de pessoas. Arrecadou mais de 100 milhões de dólares
nas seis primeiras semanas de exibição nos Estados Unidos. Essa soma, assombrosa, é aproximadamente a metade do que Harry Potter e a Pedra Filosofal arrecadou em período equivalente. As pessoas nunca viram um filme como Fahrenheit 11 de setembro. Só os chamados formadores de opinião, na imprensa e em outros meios de comunicação, parecem ter ficado aborrecidos com ele. O filme, considerado como ato político, talvez seja um marco histórico. Mas, para perceber isso, é necessário ter certa perspectiva de futuro. Quem vive com os olhos pregados exclusivamente nas "últimas notícias", caso da maioria dos formadores de opinião, perde um pouco essa perspectiva: qualquer coisa é uma complicação, nada mais. O filme, contrapondo-se a isso, acha que pode dar uma pequena contribuição para mudar a história do mundo. É uma obra inspirada pela esperança. O que converte o filme em evento é o fato de ser uma intervenção eficaz e independente na política mundial imediata. Nos dias de hoje, é muito raro que um artista (e Moore é um artista) consiga fazer uma intervenção desse tipo e contestar declarações préfabricadas e mentirosas de políticos. Seu objetivo imediato é reduzir a probabilidade de reeleição do presidente Bush em novembro. Do começo ao fim, o filme propõe um debate político e social. A tentativa de denegrir o filme como propaganda é ingênua ou perversa, porque esquece (deliberadamente?) o que o século passado nos ensinou. A propaganda exige uma rede de comunicação permanente, capaz de asfixiar de modo sistemático, com palavras de ordem emotivas ou utópicas, toda reflexão. Seu ritmo é em geral acelerado. A propaganda invariavelmente está a serviço dos interesses de longo prazo de alguma elite. Este filme único e não-conformista é freqüentemente lento, reflexivo, e não tem medo do silêncio. Convoca os espectadores a pensar por si mesmos e a relacionar as coisas depois de refletir. E
as pessoas com as quais se identifica, e que defende, são aquelas cuja voz raramente é ouvida. Defender um argumento com vigor não é a mesma coisa que saturar com propaganda. A FOX TV faz a segunda coisa. Michael Moore faz a primeira. Desde a tragédia grega, artistas se perguntaram de tempos em tempos como poderiam influir nos acontecimentos políticos de sua época. Uma questão delicada, já que envolve dois tipos bem distintos de poder. Numerosas teorias éticas e estéticas giram em torno desse problema. Para os que vivem sob tiranias políticas, a arte é com freqüência uma forma de resistência secreta, e os tiranos habitualmente buscam maneiras de controlá-la. Tudo isso, porém, em termos gerais e em território amplo. Fahrenheit 11 de setembro é diferente. Conseguiu interferir em um programa político no território específico desse programa. Para que isso ocorresse, houve uma necessária convergência de fatores. O prêmio em Cannes e a tentativa desastrada de impedir a distribuição do filme foram fundamentais para a criação do acontecimento. Ressaltar isso não quer dizer, de modo algum, que o filme como filme não merece toda a atenção que vem recebendo. É só um lembrete de que, no âmbito dos meios de comunicação, uma ruptura (a derrubada do muro cotidiano de mentiras e meias verdades) é uma coisa muito rara. E esse caráter de raridade é o que torna o filme exemplar. Ele é um exemplo para milhões de pessoas - como se estivessem à espera dele. O filme sugere que, no primeiro ano deste milênio, a Casa Branca e o Pentágono foram tomados de assalto por uma quadrilha violenta - e por seu Líder Cristão Renascido - para que o poder dos Estados Unidos dali em diante estivesse a serviço, prioritariamente, dos interesses globais das grandes empresas. Uma proposição dura, que se aproxima mais da realidade do que muitos editoriais cheios de sutilezas. E ainda mais importante do que a proposição é
a clareza com que o filme se expressa. Ele demonstra que, apesar do poder de manipulação dos especialistas em comunicação, dos discursos presidenciais mentirosos e das entrevistas coletivas insípidas, uma única voz independente que chame a atenção para certas verdades que incontáveis americanos já estão descobrindo por conta própria é capaz de romper a conspiração do silêncio, a atmosfera artificial de medo e a solidão de sentir-se politicamente impotente. É um filme que trata de desejos remotos e obstinados em uma época de desilusão. Um filme que faz piada enquanto a orquestra toca o Apocalipse. Um filme no qual milhões de americanos se reconhecem e enxergam com precisão os métodos concretos que são usados para enganá-los. Um filme que fala de muitas surpresas discutidas juntas - a maioria é ruim, mas algumas são boas. Fahrenheit 11 de setembro recorda ao espectador que, com coragem compartilhada, é possível lutar contra tudo. Em mais de mil salas de cinema por todo o país, Michael Moore se converte, com este filme, em tribuno do povo. E o que vemos? Que Bush é claramente um cretino político, tão ignorante sobre o mundo quanto indiferente a ele. Enquanto o tribuno, educado pela experiência popular, ganha credibilidade política não como político profissional, mas como a voz que expressa a ira de uma multidão e sua vontade de resistir. Existe ainda outra coisa estarrecedora. O objetivo de Fahrenheit 11 de setembro é impedir que Bush manipule as coisas para vencer a próxima eleição, tal como fez com a anterior. Seu foco é a guerra totalmente injustificada contra o Iraque. Mas suas conclusões vão além desses dois temas. O filme declara que uma economia política que gera incessantemente uma riqueza colossal, cercada de uma pobreza que também cresce de maneira desastrosa, necessita - para sobreviver - de uma guerra contínua contra algum inimigo estrangeiro inventado. Para manter sua própria ordem e sua segurança interna, necessita de uma guerra sem fim.
Assim é que, quinze anos depois da derrocada do comunismo, décadas depois do suposto Fim da História, uma das principais teses da interpretação marxista da história volta a ser tema de debate e possível explicação para as catástrofes que vivemos. São sempre os pobres os que fazem os maiores sacrifícios, é o que declara Fahrenheit 11 de setembro em seus minutos finais. Até quando? Não existe futuro para nenhuma civilização de qualquer parte do mundo que ignore essa pergunta. É por isso que este filme foi feito e é por isso que se converteu no que se converteu. É um filme que deseja intensamente a sobrevivência dos Estados Unidos.
Introdução Enquanto escrevo esta introdução, meu filme Fahrenheit 11 de setembro continua a ser exibido em centenas de cinemas nos Estados Unidos. "Estar no olho no furacão" é um velho clichê que escutei muitas vezes na vida. Mas, na verdade, nunca entendi muito bem o que queria dizer - até fazer este filme. E ainda é muito cedo para que eu mesmo consiga entender e explicar a febre em torno de Fahrenheit 11 de setembro. Os recordes começaram a pipocar nas primeiras horas de lançamento: Maior bilheteria de estréia de qualquer filme nos dois cinemas em Nova York em que estava sendo exibido. Primeiro documentário a ficar em primeiro lugar nas bilheterias. Maior bilheteria para um documentário em todos os tempos, superando o recordista anterior (Tiros em Columbine) em 600%. Uma pesquisa Gallup mostrou que mais da metade do público americano pretendia assistir ao filme, fosse nos cinemas, em vídeo
ou DVD. Ninguém se lembra de outro filme que tenha apresentado tais números. Esse extraordinário interesse por Fahrenheit 11 de setembro é fruto de uma série de acontecimentos que teve início no fim de abril de 2004, quando nossa distribuidora foi informada pela controladora, a Walt Disney Company, de que não poderia distribuir o filme. Michael Eisner, o presidente da Disney, declarou que não queria que seu estúdio lançasse um filme político partidário que poderia ofender as famílias que freqüentam seus parques de diversão. Lógico, ele não mencionou nenhum desconforto quanto ao fato de a Disney distribuir o programa de rádio de Sean Hannity [apresentador de direita] (o que eles fazem) ou apresentar Rush Limbaugh [ultra-conservador e ultra-moralista] nas estações da rede ABC que pertencem à Disney (o que eles fazem) ou transmitir o programa 700 Club de Pat Robertson [pastor-apresentador, racista e reacionário] no Disney Family Channel (o que... bom, você entendeu. O que Eisner quis dizer é que, se meu filme fosse uma peça de propaganda de direita cheia de ódio e de aprovação a cada movimento da administração Bush, então não haveria problema em distribuí-lo.). Quando a notícia estourou, a Disney fez o melhor que pôde para abafá-la, mas não conseguiu. Só deixou as pessoas com mais vontade de ver o filme. Assim, partimos para o Festival de Cinema de Cannes sem distribuidor. Até então, só dois documentários haviam participado da competição oficial (O mundo silencioso, de Louis Malle e Jacques Cousteau [em 1956], e Tiros em Columbine). Fahrenheit 11 de setembro conquistou o maior prêmio do festival, a Palma de Ouro. Mas voltamos para casa sem distribuidor. A Casa Branca começou a jogar pesado. Do escritório de Karl Rove [principal estrategista e conselheiro político de Bush] partiam telefonemas incitando jornalistas a detonar um filme que nem sequer tinham visto. Um
grupo republicano iniciou uma campanha de ameaças contra todos os proprietários de cinemas que haviam manifestado interesse em exibir Fahrenheit 11 de setembro. Pelo menos três redes exibidoras e muitos outros cinemas independentes se assustaram e anunciaram que o filme não seria exibido em nenhuma de suas salas. Um outro grupo apresentou um recurso à comissão eleitoral federal dos Estados Unidos (FEC) [órgão regulador independente, encarregado da administração e do cumprimento da lei federal de financiamento de campanhas] pedindo que fôssemos proibidos de anunciar o filme na TV; sob o argumento de que as inserções eram "anúncios políticos" que violavam a lei. Quando a FEC decidiu o caso em nosso favor, nosso distribuidor já havia tirado todos do ar. Rove soltou seus cães de guerra para atacar nosso filme - a declaração oficial da Casa Branca foi: "Nós não precisamos ver para saber que não presta". O pai de Bush me chamou de um monte de coisas, e seus sábios porta-vozes na mídia apareceram em todos os programas de entrevistas para me achincalhar e para achincalhar o meu filme. Mas nada disso funcionou. As pessoas só ficaram com mais vontade de ver o filme. E, quando esses milhões de americanos saíram das salas de exibição, saíram profundamente abalados. Gerentes de cinemas em todo o país relataram ter visto multidões em lágrimas, platéias em pé aplaudindo a tela vazia ao final da exibição. Depois das sessões, tanta gente ficava nas salas conversando com os desconhecidos sentados nas cadeiras ao lado que os cinemas foram obrigados a se reprogramar e ampliar os intervalos entre as exibições. Nosso website recebeu uma enxurrada de e-mails, em média 6 mil por dia. Houve dias em que mais de 20 milhões de pessoas acessaram nossa página na Internet. Uma após outra, as pessoas contavam suas experiências ao ver o filme. Uma infinidade de mensagens começava com uma destas duas frases: "Nunca votei,
mas neste ano vou votar" ou "Sou republicano e simplesmente não sei o que fazer". Num ano eleitoral em que a presidência pode ser decidida por uns poucos milhares de votos, são comentários que tocam fundo - e assustadores para a Casa Branca. De acordo com uma pesquisa Harris, cerca de 10% dos que viram o filme eram republicanos. Destes, 44% disseram que recomendariam o filme a outros republicanos. Para 30%, o tratamento que o filme dá a Bush é "imparcial". Outra pesquisa mostrou que mais de 13 % dos eleitores indecisos haviam assistido ao filme. Um pesquisador republicano, depois de fazer sua própria pesquisa informal assistindo ao filme com platéias de três cidades diferentes, me disse o seguinte: "Uns 80% dos que entram no cinema são eleitores de Kerry - mas 100% dos que saem são eleitores de Kerry. Não consegui encontrar ninguém que dissesse 'meu voto é do Bush' depois de passar duas horas assistindo ao seu filme". Na Pensilvânia, estado que pode ser fundamental na definição da eleição, uma pesquisa do instituto Keystone mostrou que 4% dos votos declarados para Kerry tinham sido influenciados por Fahrenheit 11 de setembro (outros 2% foram creditados aos incessantes ataques lançados contra Bush por Howard Stern [polêmico radialista], que também defendeu vigorosamente o nosso filme). Enquanto escrevo, falta pouco para o dia da eleição, e ninguém sabe em que é que tudo isso vai dar. O que sabemos é que Fahrenheit 11 de setembro sacudiu o país de um jeito que um filme raramente é capaz. Por esse privilégio, todos nós, os envolvidos em sua produção, somos extremamente gratos. Cinqüenta por cento desta nação não vota. Se esse percentual cair só uns pontinhos e isso tiver a ver conosco, então tudo terá valido a pena. Por fim, enquanto esperamos que Fahrenheit 11 de setembro dê sua contribuição, nós somos, antes de tudo e sobretudo, cineastas
e artistas. Trabalhamos duro para criar uma obra cinematográfica capaz de tocar as pessoas não só politicamente, mas também de um modo emocional, visceral. Espero que tenhamos dado uma contribuição a essa forma de arte que amamos tanto. Quem não gosta de ir ao cinema e rolar de rir, se surpreender, se estarrecer, cair no choro, se emocionar profundamente, experimentar o extraordinário, sair do cinema com vontade de entrar lá outra vez? Nós, que fazemos filmes, os fazemos por isso. É o que esperamos ter feito aqui. Como tantos de vocês nos pediram o roteiro do filme - e todas as provas que sustentam o que dizemos nele -, decidimos publicar este livro. A palavra "roteiro" pode soar meio estranha quando se fala em documentário, mas a não-ficção também pode ser uma forma de escrever para cinema, tal como a ficção (a Writers Guild destacou isso pela primeira vez em 2002, ao conceder o prêmio de melhor roteiro original do ano a Tiros em Columbine). Documentários, além de geralmente não utilizar atores, também são diferentes dos filmes de ficção porque são escritos depois que o filme é rodado. Você entra na sala de edição com centenas de horas de filmagem e então precisa decidir qual é a sua história e construí-Ia – escrevê-la. Definitivamente é um sistema "carro-nafrente-dos-bois", o que de certa maneira implica um desafio maior que os filmes de ficção, nos quais o roteirista simplesmente diz a todo mundo o que cada um deve fazer. Nós não podemos mandar George W. Bush dizer uma coisa ou decidir o que John Ashcroft [procurador-geral que, depois de 11 de setembro, resolveu inspirar seus funcionários do Departamento de Justiça, começando cada dia com uma música] vai cantar. Mas é preciso quebrar muito a cabeça para decidir o que fazer com as coisas que são ditas - para determinar como se encaixam na história básica que queremos contar. E tudo isso vai sendo entrelaçado com a narração que eu escrevo. É um processo trabalhoso que leva meses, às vezes anos.
Publico o roteiro nestas páginas para que vocês possam ler o filme e redescobrir a montanha de informações e fatos que Fahrenheit 11 de setembro apresenta. É difícil absorver tudo em uma sessão. Espero que o roteiro os ajudem a descobrir pérolas que podem ter passado despercebidas, "enterradas" por cenas como a da chuva de ovos atingindo a limusine presidencial. Para aqueles que andam sendo azucrinados pelo cunhado conservador que repete tudo o que escuta na FOX NEWS acerca de Fahrenheit 11 de setembro, este livro fornece toda a munição necessária para refutar todo e qualquer comentário louco dele sobre o filme. Os conservadores acham difícil acreditar que seu líder possa estar na cama com os caras errados, portanto em anexo estão todas as provas de que você precisa para ajudá-los a curar o porre. Afinal de contas, amigo não deixa amigo votar em republicano. Também republico alguns dos melhores ensaios e críticas sobre o filme, escritos por gente mais esperta que eu, que decifrou o que eu pretendia antes que eu mesmo o fizesse. Os textos darão a vocês algumas boas sacadas sobre o significado do filme e seu lugar na história do cinema. Um outro capítulo traz vários textos sobre alguns assuntos que são abordados no filme. Eu mesmo os escolhi. Quero que a discussão vá além do filme e passe a tratar das coisas que devemos fazer a partir de agora. Os textos trazem visões mais aprofundadas sobre a conexão Bush-sauditas (incluindo novas informações sobre os vôos da família Bin Laden após o 11 de setembro), sobre os motivos pelos quais nos enganaram para invadir o Iraque e também sobre o fracasso da imprensa, que não conseguiu fazer seu trabalho. Um artigo do Los Angeles Times de dez anos atrás fornece, possivelmente, a verdadeira história por trás da decisão da Disney de não distribuir Fahrenheit 11 de setembro. Para terminar, quero compartilhar com vocês alguns daqueles emails que recebi do público. Eles ainda me comovem, e acho que
vão comover vocês. Incluímos também algumas de nossas charges favoritas publicadas em grandes jornais diários. Acho que nenhum de nós, da turma que trabalhou em Fahrenheit 11 de setembro, tinha a menor noção de que o filme iria se transformar em um acontecimento central neste ano eleitoral histórico. A gente só queria fazer um bom filme. Acho que conseguimos. E espero que vocês apreciem este livro que agora o acompanha. Algum dia, depois que tudo isso passar e eu tiver tempo de refletir sobre seu significado, dividirei a história com vocês. Mas isso não pode ser feito neste momento. Neste momento, embora concluído, o filme de certo modo ainda está sendo feito. O verdadeiro final só vai ser escrito em 2 de novembro [data oficial das eleições, embora a votação tenha começado em 18 de outubro na Flórida e em outros estados] de 2004 e nos meses seguintes. Isso transforma todos vocês em meus coautores. MICHAEL MOORE Nova York Agosto de 2004
PARTE I Fahrenheit 11 de setembro Roteiro Narração de Michael Moore Fogos de artifício explodem no ar enquanto um triunfante AI Gore comemora no palanque. Ao fundo, num grande painel luminoso,
está escrito: celebridades.
"Vitória
na
Flórida".
Gore
está
cercado
de
NARRADOR Será que tudo não passou de um sonho? AL GORE Deus abençoe a Flórida! Obrigado. NARRADOR Será que os quatro últimos anos não aconteceram? Olha lá, Ben Affleck estava lá, ele sempre aparece nos meus sonhos. O cara de Taxi Driver [o ator Robert De Niro, astro do filme dirigido por Martin Scorsese em 1976] estava lá também. E o pequeno Stevie Wonder, tão feliz... como se tivesse presenciado um milagre. Será que foi tudo um sonho? Ou aconteceu de verdade? Era a noite da eleição de 2000, e tudo parecia sair conforme o planejado. Montagem: trechos de vários noticiários TOM BROKAW (NBC NEWS) Em Nova York, nossas projeções indicam vitória de AI Gore. DAN RATHER (CBS NEWS) Em Nova Jersey, vence AI Gore. Nossas projeções indicam a vitória do Sr. Gore em Delaware. Esse estado votou com o vencedor. Desculpe interromper por um segundo, Mike, mas a notícia é muito importante. AI Gore venceu na Flórida. JUDY WOODRUFF (CNN NEWS)
A CNN anuncia vitória de AI Gore na Flórida. NARRADOR Foi então que uma coisa chamada FOX NEWS CHANNELL declarou que o vencedor era o outro cara. BRIT HUME (FOX NEWS) Interrompendo: a FOX NEWS agora projeta vitória de Bush na Flórida. Com isso, Bush deve ser o vencedor da eleição presidencial americana. NARRADOR De repente, todas as outras redes de TV disseram: "Ei! Se a FOX está dizendo, deve ser verdade!". TOM BROKAW (NBC NEWS) Todos nós, das redes de notícias, cometemos um erro ao projetar a vitória de AI Gore na Flórida. Foi um erro nosso. Cena: John Ellis trabalhando na FOX NEWS, entre telefones e monitores, na noite da eleição NARRADOR Bem, o que a maioria das pessoas não sabe é que o homem que tomava as decisões na FOX naquela noite - o homem que declarou que a vitória era de Bush - era ninguém menos que John Ellis, primo de Bush. Como é que um cara como o Bush consegue se dar bem com uma coisa dessas?! Cena: Bush às gargalhadas NARRADOR Os irmãos Bush [George e Jeb, governador da Flórida] no avião.
Para começar, ajuda muito se o seu irmão é o governador do estado em questão. GEORGE W. BUSH Sabe de uma coisa? Nós vamos ganhar na Flórida. Estou dizendo. Pode escrever aí. NARRADOR Cenas de Katherine Harris, da Database Technologies, e de eleitores nas urnas Em segundo lugar, você precisa garantir que a sua chefe de campanha seja também a responsável pela contagem nos votos no estado. E que o estado tenha contratado uma empresa que elimine das listas de votação os eleitores que provavelmente não votariam em você. Em geral, dá para saber pela cor da pele quem são esses caras. Depois, certifique-se de que a turma do seu lado lute como se fosse questão de vida ou morte. JAMES BAKER (EX-SECRETÁRIO DE ESTADO, ADVOGADO DE BUSH) Acho que toda essa conversa sobre legitimidade é um enorme exagero. MULTIDÃO PROTESTA CONTRA A RECONTAGEM DE VOTOS NA FLÓRIDA Presidente Bush! Presidente Bush! NARRADOR Cena: os líderes democratas no Congresso, deputado Richard Gephardt e senador Tom Daschle, no gabinete olhando para os telefones.
Então, torça para que a turma do outro lado fique de braços cruzados, aguardando o telefone tocar. E ainda que várias investigações independentes comprovem que Gore recebeu mais votos... JEFF TOOBIN (CONSULTOR DA CNN NEWS) Se houvesse uma recontagem geral de votos no estado, em qualquer cenário Gore seria o vencedor. NARRADOR ... Isso não tem importância. Basta que todos os amigos do seu pai na Suprema Corte votem direitinho. AL GORE No discurso em que concedeu a vitória a Bush. Apesar de discordar "firmemente da decisão da Suprema Corte, eu a aceito. SENADOR TOM DASCHLE Anuncia à imprensa a posição dos democratas diante da decisão da Suprema Corte. O que é preciso fazer agora é aceitar. Temos um novo presidente eleito. NARRADOR De volta às cenas da comemoração da vitória de AI Gore na Flórida. Ele e a mulher, Tipper, acenam para a multidão Então, não foi um sonho. Foi exatamente o que aconteceu. TELA ESCURECE GRADUALMENTE
AI Gore preside a sessão conjunta do Congresso que reconheceu oficialmente o resultado da eleição No dia em que a Câmara e o Senado, em sessão conjunta, deveriam ratificar o resultado da eleição, AI Gore - no papel duplo de presidente do Senado e vice-presidente prestes a deixar o cargo - presidiu o evento em que George W. Bush foi oficialmente declarado o novo presidente dos Estados Unidos. Deputados do Congressional Black Caucus [bloco parlamentar de defesa dos direitos dos negros] tentam contestar formalmente o resultado das eleições na Flórida. Caso um congressista queira formalizar uma objeção, deve ter o apoio por escrito de pelo menos um senador. É o que diz a regra. DEPUTADO ALCEE HASTINGS Senhor presidente - tenho muito orgulho de tratá-lo assim -, sou obrigado a contestar o resultado [da eleição na Flórida] em razão da esmagadora evidência de que houve má conduta oficial, fraude deliberada e tentativa de impedir eleitores de votar... AL GORE O presidente deve recordar aos membros que, de acordo com a Seção 18 do Título 3 do Código de Leis Federais dos Estados Unidos, não se permitem debates durante a sessão conjunta. DEPUTADO ALCEE HASTINGS Obrigado, senhor presidente. Respondendo à sua questão, senhor presidente, a objeção foi feita por escrito. Foi assinada por vários membros da Câmara, mas por nenhum senador.
Música sinistra - um a um, os deputados negros que tentam apresentar suas petições são evitados pelos membros do Senado DEPUTADA CORRINE BROWN Ora, senhor presidente, a objeção é um documento por escrito assinado por vários colegas deputados e por mim em nome dos 27 mil eleitores do condado de Duval, dos quais 16 mil são afroamericanos que foram privados de seu direito de votar na última eleição. AL GORE A objeção foi assinada por algum membro do Senado? DEPUTADA CORRINE BROWN Não foi assinada por nenhum membro do Senado. O Senado está ausente. DEPUTADA BARBARA LEE Senhor presidente, é uma objeção por escrito e está assinada por mim em nome de muitos eleitores de nosso país, especialmente os eleitores do 9º. Distrito Congressional, e de todos os eleitores americanos que compreendem que foi a Suprema Corte - e não o povo dos Estados Unidos - quem decidiu esta eleição. AL GORE A objeção... A objeção tem a assinatura de algum senador? DEPUTADA BARBARA LEE Infelizmente, senhor presidente, não foi assinada por nenhum senador. DEPUTADA PATSY MINK
Infelizmente, não tenho autoridade sobre o Senado dos Estados Unidos, e nenhum senador assinou. DEPUTADA CARRIE MEEK Senhor presidente, a objeção está por escrito e foi assinada por mim e por muitos dos eleitores que eu represento. Eleitores da Flórida, nós precisamos de um senador, mas não há nenhum. AL GORE A objeção está por escrito e é assinada por um membro da Câmara e por um senador? DEPUTADA MAXINE WATERS A objeção está por escrito, e não me importa se tem ou não tem a assinatura de um membro do Senado.
AL GORE A... a presidência adverte que as regras têm importância. E... e... a assinatura de um senador... NARRADOR Nem um único senador se apresentou para apoiar os afroamericanos no Congresso. Um após o outro, todos ouviram que tinham de se sentar e calar a boca. DEPUTADO JESSE JACKSON JR. É um dia triste para a América, senhor presidente, um dia em que não conseguimos encontrar um só senador para assinar um pedido de objeção... não assinarás pedidos de objeção, eu contesto... . AL GORE
O cavalheiro... O cavalheiro terá de se calar... O cavalheiro terá de calar... O cavalheiro terá de se calar... IMAGEM SE DISSOLVE. CENAS DO CHUVOSO DIA DA POSSE VOZ DE PETER JENNINGS (ABC NEWS) Estamos acompanhando a cerimônia de posse do presidente, em 2001, um dia de tempo horrível em Washington. MULTIDÃO Manifestantes fazem passeata com cartazes e megafones. O que é que nós queremos? Justiça! E quando nós queremos? Agora! NARRADOR Uma grande multidão marcha acompanhando presidencial, e a polícia tenta controlá-la.
o
cortejo
No dia em que George W. Bush tomou posse, dezenas de milhares de americanos tomaram as ruas de Washington D.C. em uma derradeira tentativa de recuperar o que lhes havia sido tomado. MULTIDÃO Viva o ladrão! Viva o ladrão! NARRADOR Tomada da limusine de Bush cercada por manifestantes - e sendo atingida por ovos Eles lançaram uma chuva de ovos sobre a limusine de Bush... POLICIAL
Para trás, para trás. NARRADOR ... E interromperam o desfile de posse. O plano de Bush de deixar a limusine para a tradicional caminhada até a Casa Branca teve de ser abandonado. O protesto vira tumulto - manifestantes são arrastados pela polícia. A limusine de Bush dispara, e os agentes do Serviço Secreto correm atrás dela, escapando da multidão enfurecida. A limusine de Bush teve de pisar fundo no acelerador para evitar um tumulto ainda maior. Jamais um presidente havia enfrentado coisa parecida no dia de sua posse. Imagens de Bush em apuros - sua taxa de aprovação cai quase 10% entre 3 de maio e 5 de setembro de 2001. E, ao longo dos oito meses seguintes, as coisas não melhoraram para George W Bush. Ele não conseguiu indicar os juízes que queria, teve dificuldades para aprovar leis e perdeu o controle republicano no Senado. Nas pesquisas, suas taxas de aprovação começaram a despencar. Já estava começando a parecer presidente em fim de mandato. Assim, como tudo estava dando errado, ele fez o que qualquer um de nós faria: tirou umas férias. MÚSICA Vacation, all I ever want Vacation, had to get away Vacation, meant to be spent alone . [Férias, tudo o que eu sempre quis / Férias, precisava me mandar / Férias, pra ficar sozinho]
Cenas: George w: Bush jogando golfe, pescando, brincando com os cachorros. GEORGE W. BUSH Jogando golfe, erra uma tacada. Ah, não! NARRADOR Em seus oito meses no cargo antes do dia 11 de setembro, segundo o Washington Post, George W. Bush passou 42% do tempo em férias. GEORGE W. BUSH Diz aos jornalistas que presenciaram a tacada errada. Se eu acertasse todas, iam dizer que eu não trabalho. NARRADOR Cena: Bush, com chapéu de caubói, está serrando uma árvore caída. Não é de estranhar que Bush precisasse de umas folgas. Ser presidente dá muito trabalho. REPÓRTER NÃO-IDENTIFICADA Fora do plano Bush dá autógrafos cercado por jornalistas e crianças, em 8 de agosto de 2001. E sobre essas pessoas que dizem que o senhor passa muito tempo de folga aqui no Texas, que suas férias são muito longas?
GEORGE W. BUSH Elas não entendem a definição de trabalho. Estou fazendo muitas coisas. Além do mais, você não precisa estar em Washington para trabalhar. É... é incrível... Todas as coisas que a gente pode fazer por fax e com telefones e... [inaudível] OUTRO REPÓRTER Fora do plano O que o senhor vai fazer hoje no resto do dia? GEORGE W. BUSH Karen Hughes [conselheira para assuntos de imprensa e comunicação] está vindo para cá. Estamos trabalhando em algumas coisas, ahn... Ela vem para cá e vamos trabalhar em algumas coisas, alguns assuntos. Nós estamos, ahn... Vocês vão ver. Estamos tomando decisões e vamos anunciar quando chegar a hora. NARRADOR Michael Moore e equipe num evento de campanha "Bush para governador" No primeiro encontro que tivemos, ele me deu um bom conselho. MICHAEL MOORE Governador Bush... Sou Michael Moore. GEORGE W. BUSH Comporte-se, ok? Arrume um trabalho de verdade. NARRADOR
Bush posa para fotos em evento preparado por sua assessoria enche um prato com "grits" [canjica com alho típica do sul dos Estados Unidos] e sorri para as câmeras. E trabalho era um assunto do qual ele entendia bastante. GEORGE W. BUSH Alguém quer canjica? NARRADOR Cenas de Bush em férias em diferentes lugares Relaxando em Camp David. Passeando de iate em Kennebunkport. GEORGE W. BUSH Na fazenda, falando com o cachorro Tudo bem? NARRADOR Ou bancando o caubói em süa fazenda no Texas. GEORGE W. BUSH Mais poses para a imprensa após serrar a árvore caída - a data é 25 de agosto de 2001 Eu adoro a natureza. Eu adoro entrar na picape e sair para passear com os meus cachorros. GEORGE W. BUSH Falando com o cachorro dentro da picape, na fazenda. Oi! NARRADOR
George Bush passou o resto do mês de agosto na fazenda. Onde a vida era menos complicada. GEORGE W. BUSH Durante a mesma entrevista ao lado da árvore caída, em 25 de agosto de 2001. Os tatus adoram cavar a terra para procurar insetos. Outro dia eu cheguei aqui e encontrei o Barney enfiado neste buraco, tentando pegar um tatu. NARRADOR Bush dá uma risadinha ao relembrar a cena. Foi um verão inesquecível. E, quando o verão acabou, o presidente deixou o Texas e foi para o segundo lugar do qual mais gosta. George W. Bush encontra o irmão Jeb Bush em pista de aeroporto na Flórida - eles posam para as câmeras, e George W. Bush vai cumprimentar os homens que estão esperando em fila. No dia 10 de setembro, Bush foi visitar seu irmão na Flórida. Eles viram alguns papéis e se reuniram com gente ilustre. Naquela noite, Bush dormiu numa cama preparada com finos lençóis franceses. TELA ESCURECE GRADUALMENTE Créditos do filme - cenas de Bush e membros do gabinete sendo maquiados antes de pronunciamentos, declarações e entrevistas na TV. LIONS GATES FILMS E IFC FILMS E
THE FELLOWSHIP ADVENTURE GROUP APRESENTAM DONALD RUMSFELD (A um auxiliar fora do plano) Você acha que ele confia mesmo nesses números sobre as forças de segurança iraquianas? UMA PRODUÇÃO DOG EAT DOG FILMS FAHRENHEIT 11 de setembro MÚSICA: JEFF GIBBS - PRODUTOR DE ARQUIVO CARL DEAL CÂMERA: MIKE DESJARLAIS - SOM: FRANCISCO LATORRE EDITORES: KURT ENGFEHR / CHRISTOPHER SEWARD / T. WOODY RICHMAN - CO-PRODUTORES: JEFF GIRRS / KURT ENGFEHR JOHN ASHCROFT Eu quero parecer jovem! (dá uma gargalhada) É, estou ouvindo um zumbido no ouvido. É, não aumente muito isso [o volume do microfone de ouvido] ou a minha cabeça vai explodir. SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO: TIA LESSIN VOZ FORA DE CENA Bush sentado no Salão Oval, pouco antes de fazer um pronunciamento à TV.
Tenho... Tenho um microfone aqui, se quiserem ouvir. Testando: um, dois, este é o Salão Oval. Estamos testando: um, dois. Testando: um, dois, este é o Salão Oval. Testando: um, dois, três, quatro, cinco... PRODUTORES EXECUTIVOS: HARVEY WEINSTEIN / BOB WEINSTEIN / AGNES MENTRE - PRODUTORES: JIM CZARNECKI / KATHLEEN GLYNN . ESCRITO, PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: MICHAEL MOORE TELA NEGRA - Áudio dos aviões atingindo as torres do World Trade Center REPÓRTER Só áudio - tela negra Aconteceu alguma coisa no World Trade Center. Nós vimos um avião e muita, muita fumaça. MULTIDÃO Só áudio - tela negra Oh, meu Deus. Meu Deus. Vamos sair daqui. Vamos sair daqui. Venha. Vamos sair daqui. Gradualmente aparece a imagem - uma multidão aterrorizada que olha para o alto. MULHER NA MULTIDÃO Oh, Deus, salve aquelas almas. Meu Deus, salve aquelas almas. MULHER NA MULTIDÃO Eles... Eles estão pulando do prédio!
Rostos chocados. Pessoas olham para o alto e não conseguem acreditar no que está acontecendo. Se abraçam, rezam. Uma nuvem de poeira avança. Em câmera lenta, pessoas fogem dos destroços que caem do céu. NARRADOR Cartazes e fotos de pessoas que desapareceram no ataque; vigílias à luz de velas. No dia 11 de setembro de 2001, quase 3 mil pessoas - entre elas um colega meu, Bill Weems - foram assassinadas no maior ataque estrangeiro jamais ocorrido em solo americano. Os alvos foram os centros financeiros e militares dos Estados Unidos. MULHER NÃO-IDENTIFICADA Trecho de noticiário: segurando uma foto, ela pede ajuda e chora. Se alguém sabe de alguma coisa, se alguém o viu ou sabe onde ele está, por favor, telefone para nós. Ele tem dois filhinhos. Dois bebês. NARRADOR Limusine de Bush chega a uma escola Enquanto os ataques aconteciam, o senhor Bush estava a caminho de uma escola de ensino fundamental na Flórida. Ao ser informado de que um primeiro avião atingira o World Trade Center - que apenas oito anos antes havia sido atacado por terroristas -, o senhor Bush decidiu seguir em frente com a programação montada para render boas fotos. PROFESSORA
Bush entra na sala de aula. Bom-dia, crianças. CRIANÇAS Bom-dia... GEORGE W. BUSH Bom-dia. PROFESSORA Leiam esta palavra bem depressa. Atenção... CRIANÇAS Esteira! PROFESSORA Certo, esteira. Atenção... CRIANÇAS Gato! GEORGE W. BUSH Aplaudindo as crianças. É! PROFESSORA OK, atenção. Vamos ler as palavras desta página sem errar. NARRADOR O chefe de gabinete [Andrew Card] entra na sala e sussurra no ouvido de Bush.
Quando o segundo avião atingiu a outra torre, o chefe de gabinete de Bush entrou na sala e disse ao presidente: "A nação está sendo atacada". Sem saber o que fazer, sem ninguém que lhe dissesse o que fazer, sem que ninguém do Serviço Secreto o tirasse dali às pressas para um lugar seguro, o presidente Bush simplesmente ficou ali, sentado, e continuou a ler um livro - Minha cabra de estimação - com as crianças. TEXTO NA TELA 9h05 - plano médio de Bush - olha para a frente, para um ponto além das crianças. 9h07 - Bush baixa a cabeça e olha o livro. 9h09 - Bush olha nervosamente para assessores no canto da sala. 9h11 - assessor diz algo ao ouvido do secretário de imprensa de Bush, Ari Fleischer. 9h12 - Bush balança a cabeça enquanto a leitura das crianças prossegue. NARRADOR Bush não se move. Continua na cadeira, sentado, olhando ao redor da sala. Quase sete minutos se passaram sem que ninguém fizesse coisa alguma. Sentado ali, naquela sala de aula na Flórida, em que é que Bush estava pensando? Estaria se perguntando se talvez não devesse ter aparecido mais vezes no trabalho? Será que não devia ter convocado ao menos uma reunião, desde que tomara posse, para discutir a ameaça terrorista com seu chefe de contraterrorismo? (imagem de Richard Clark, coordenador nacional de segurança e contra-terrorismo, durante depoimento ao Congresso).
Também podia estar se perguntando por que cortou verbas do FBI para o combate ao terrorismo. Ou imaginando que talvez devesse ter lido o relatório de segurança que recebera no dia 6 de agosto de 2001. Fotos de Bush na fazenda, com assistentes que têm em mãos o relatório de 6 de agosto. Aquele relatório que dizia que Osama bin Laden planejava atacar os Estados Unidos seqüestrando aviões. Bem, pode ser que ele não estivesse preocupado com a ameaça terrorista porque o título do relatório era muito vago. CONDOLEEZZA RICE (ASSESSORA NACIONAL DA CASA BRANCA)
DE
SEGURANÇA
Em depoimento à comissão independente de investigação sobre o 11 de setembro. Eu acho que o título do relatório dizia: "Bin Laden decidido a atacar dentro dos Estados Unidos". NARRADOR Cenas de Bush pescando; dose do presidente na sala de aula na Flórida. Um relatório daqueles podia ter feito muitos homens pularem da cadeira. Mas, como em outras ocasiões, George W. Bush simplesmente saiu para pescar. Os minutos iam passando e Bush continuava ali, naquela cadeira. Talvez estivesse pensando... "Será que me meti com os caras errados? Quem é que me ferrou?"
Será que foi o cara que recebeu um montão de armas dos amigos do meu pai? (imagem de Donald Rumsfeld cumprimentando Saddam Hussein em 1983) Foi aquele grupo de fundamentalistas religiosos que me visitou no Texas quando eu era governador? (foto de líderes talibãs no Texas) Ou foram os sauditas? (Bush com príncipe saudita) Que diabo, foram eles. (Osama bin Laden faz disparos com uma arma). Mas acho que é melhor jogar a culpa neste cara. (Imagem de Saddam Hussein dançando). NARRADOR Passageiros retidos em aeroportos. Nos dias que se seguiram ao 11 de setembro, todo o tráfego de vôos comerciais e particulares foi paralisado. Trechos de noticiários CHEFE DA AFA A Administração Federal de Aviação fechou todos os aeroportos do país. VOZ DE REPÓRTER NÃO-IDENTIFICADO (NBC) Nem o pai do presidente conseguiu voar. O ex-presidente Bush em avião obrigado a pousar em Milwaukee. VOZ DE REPÓRTER NÃO-IDENTIFICADO (ABC) Milhares de passageiros ficaram retidos. Entre eles, Ricky Martin, que deveria se apresentar hoje à noite na festa de premiação do Grammy Latino. NARRADOR
Ricky Martin entre jornalistas, no aeroporto, com expressão de ''fazer o quê?" Nem Ricky Martin podia voar. Mas, falando sério, quem queria voar? Ninguém - exceto a família Bin Laden. MÚSICA We've got to get out of this place, If it's the last thing we ever do [precisamos sair deste lugar / Nem que seja a última coisa que a gente faça]. Gabinete do senador Byron Dorgan (Democrata, Dakota do Norte), do subcomitê de Aviação do Senado. SENADOR BYRON DORGAN Sabemos que alguns aviões foram autorizados pelo mais alto escalão do governo a decolar para recolher membros da família de Osama bin Laden e outros sauditas e levá-los para fora do país. NARRADOR Título do New York Times [''Casa Branca autorizou partida de sauditas depois do 11 de setembro, diz ex-assessor", edição de 4 de setembro de 2003]; relatórios de vôo; Osama bin Laden, com rifle, sentado à frente de um mapa. Então ficamos sabendo que a Casa Branca deu sua autorização para que aviões recolhessem membros da família Bin Laden e muitos outros sauditas. Pelo menos seis aviões particulares e quase duas dúzias de aviões comerciais tiraram os Bin Laden e outros sauditas dos Estados Unidos depois do dia 13 de setembro.
Ao todo, 142 sauditas, incluindo 24 membros da família Bin Laden, foram autorizados a deixar o país. Entrevista com Craig Unger, autor do livro House of Bush, House of Saud [no Brasil, As famílias do petróleo - As relações secretas entre os clãs Bush e Saud, Record, 2004]; ao fundo, a Casa Branca. ENTREVISTA: CRAIG UNGER Osama costuma ser retratado como a maçã podre, como a ovelha negra da família, que teria cortado relações com ele por volta de 1994. Na realidade, a coisa é bem mais complicada. MICHAEL MOORE Imagens de Osama no casamento de um filho. Você quer dizer que Osama mantém contato com outros membros da família? CRAIG UNGER Exatamente. No verão de 2001, pouco antes do 11 de setembro, um dos filhos de Osama se casou no Afeganistão, e muitos membros da família compareceram ao casamento. MICHAEL MOORE Bin Laden? CRAIG UNGER Exatamente. Ou seja, eles não estão completamente afastados. Dizer isso é realmente um exagero. Trecho do programa Larry King Live, da CNN
LARRY KING Agora vamos receber no Larry King Live - é bom vê-lo outra vez - o príncipe Bandar, embaixador do Reino da Arábia Saudita nos Estados Unidos. PRÍNCIPE BANDAR Nós tínhamos mais ou menos 24 membros da família Bin Laden, e... LARRY KING Aqui? PRÍNCIPE BANDAR Sim, nos Estados Unidos. Estudantes e... Sua Majestade entendeu que não seria justo que esses inocentes ficassem expostos a riscos. Por outro lado, nós compreendíamos todo o clima de forte emoção. Então, trabalhando em conjunto com o FBI, nós retiramos todos eles do país. NARRADOR Jack Cloonan é entrevistado por Michael Moore . Este é Jack Cloonan, agente aposentado do FBI. Antes do dia 11 de setembro, ele era agente sênior da força-tarefa do FBI e da CIA para assuntos relacionados à Al-Qaeda. JACK CLOONAN Eu, como investigador, não gostaria que essas pessoas deixassem o país. Acho que, no caso da família Bin Laden, teria sido mais prudente expedir intimações, trazê-los, gravar depoimentos... Sabe, ter tudo registrado. MICHAEL MOORE Esse é o procedimento padrão.
JACK CLOONAN Sim. Sim. E quantas pessoas foram tiradas de aviões depois daquilo, gente que entrava no país e era o quê? Era gente do Oriente Médio ou que se encaixava num espectro bem amplo. MICHAEL MOORE Nós detivemos centenas de pessoas. JACK CLOONAN Centenas, e eu... MICHAEL MOORE Por semanas, às vezes por meses... De volta à entrevista com Craig Unger MICHAEL MOORE As autoridades fizeram alguma coisa quando os Bin Laden tentaram sair do país? CRAIG UNGER Não, eles foram identificados no aeroporto. Eles tiveram os passa portes checados... Foram identificados. MICHAEL MOORE Bom, isso é o que aconteceria com você ou comigo se tentássemos sair do país. CRAIG UNGER Exatamente, exatamente.
MICHAEL MOORE Então, uma pequena entrevista, uma conferida no passaporte, e o que mais? CRAIG UNGER Nada. NARRADOR Tema de abertura e cenas da série de TV Dragnet: detetives em ação. Eu não sei o que vocês acham disso, mas... Me parece que, quando a polícia não consegue encontrar um assassino, em geral tenta falar com membros da família para descobrir se eles sabem onde o cara está, não? Trechos de Dragnet Você não sabe onde o seu marido está? HOMEM 1 Bem, se você souber de alguma coisa, avise-nos, ok? Você não quer vir com a gente e prestar um depoimento? HOMEM 2 Esse negócio demora muito? HOMEM 1 Você tem tempo. HOMEM 2 O meu tempo é dinheiro, o seu não é.
HOMEM 1 Manda a conta pra gente. HOMEM 2 Eu te fiz uma pergunta. HOMEM 1 Você está aqui para responder, não para perguntar. HOMEM 2 Escuta aqui, tira, eu pago o seu salário. HOMEM 1 Muito bem, sente-se. Vou ganhar meu salário. NARRADOR Mais cenas de Dragnet É isso aí, é assim que os tiras fazem. O que houve por aqui? ENTREVISTA: SENADOR BYRON DORGAN Acho que precisamos saber muito mais sobre esse caso. Fazer uma investigação detalhada. O que aconteceu? Como aconteceu? Por que aconteceu? E quem deu a autorização? ENTREVISTA: JACK CLOONAN Tente imaginar o que é que aqueles pobres desgraçados estavam sentindo... ao pular das janelas daquele prédio... para morrer... Aqueles... Aqueles... Pessoas que eram jovens, e policiais e bombeiros que entraram naqueles prédios sem pensar duas vezes... Estão todos mortos. As vidas dessas famílias estão arruinadas. E eles nunca... eles nunca vão ter paz.
MICHAEL MOORE É verdade. JACK CLOONAN Se eu tivesse de incomodar um... um membro da família Bin Laden com uma intimação ou um inquérito, você acha que eu ficar sem dormir por causa disso? Nem por um minuto, Mike. MICHAEL MOORE E ninguém questionaria isso. JACK CLOONAN Não, ninguém. MICHAEL MOORE Nem o mais ardoroso defensor das liberdades civis... JACK CLOONAN Não, não... MICHAEL MOORE Ninguém questionaria... JACK CLOONAN Uma coisa simples, muito simples. o senhor tem um advogado? Tem? Ótimo. Senhor Bin Laden, tenho tais e tais perguntas. Não é porque acho que o senhor seja isso ou aquilo. Só quero perguntar ao senhor o quer perguntaria a qualquer pessoa... MICHAEL MOORE Certo. JACK CLOONAN
... E é só. NARRADOR Imagens da Casa Branca, do atentando em Oklahoma City, do expresidente Bill Clinton, de Timothy McVeigh e de um jato particular. Nada disso faz o menor sentido. Você consegue imaginar, nos dias seguintes ao atentado terrorista em Oklahoma City, o presidente Clinton dando um jeito de tirar do país a família McVeigh? O que você acha que aconteceria com Clinton se uma coisa dessas viesse a público? TRECHO DE FILME EM PRETO-E-BRANCO (homens queimando uma pessoa numa fogueira) Queimem ele! Queimem ele! Trecho do programa Larry King Live, da CNN LARRY KING Príncipe Bandar, o senhor conhece a família Bin Laden? PRÍNCIPE BANDAR (EMBAIXADOR SAUDITA NOS EUA) Conheço, muito bem. LARRY KING Como eles são?
PRÍNCIPE BANDAR
Eles são seres humanos encantadores, de verdade. Ahn... Ele [Osama] é o único que eu nunca... Eu não o conheço bem, só o vi uma vez. LARRY KING E em que circunstância o senhor o conheceu? PRÍNCIPE BANDAR É uma ironia. Em meados dos anos 1980, você se lembra, nós e os Estados Unidos apoiávamos os guerrilheiros mujahedin a... liberar o Afeganistão dos soviéticos. Ele veio agradecer meus esforços para conseguir que os americanos, nossos amigos, nos ajudassem contra os ateus, como ele disse. Os comunistas. LARRY KING Que ironia. PRÍNCIPE BANDAR Não é irônico? LARRY KING Em outras palavras, ele agradeceu a sua ajuda para conseguir que os Estados Unidos o ajudassem. PRÍNCIPE BANDAR Sim. LARRY KING E agora ele é provavelmente o responsável pelo ataque terrorista contra os Estados Unidos. PRÍNCIPE BANDAR
É isso mesmo. LARRY KING O que o senhor achou dele, quando o conheceu? PRÍNCIPE BANDAR Para falar a verdade, ele não me impressionou muito... LARRY KING Não o impressionou muito. PRÍNCIPE BANDAR Não, ele era... Me pareceu um sujeito simplório e muito quieto. Bush na sala de aula na Flórida - continua pensando. NARRADOR De volta a Bush, na sala de aula na Flórida, não parece nada feliz. Hmmm... Um sujeito simplório e muito quieto cuja família por acaso mantém relações de negócios com a família de George W. Bush. Será que era nisso que ele estava pensando? Claro, se a opinião pública descobrisse, não ia ser nada bom. Talvez ele estivesse pensando: "Sabe, acho que preciso de uma caneta preta bem grande". (Cena de discurso em que Michael Moore acusa Bush de ser um desertor). No início de 2004, em um discurso durante as primárias de New Hampshire, eu chamei George W. Bush de desertor por conta do período em que ele serviu na Guarda Nacional Aérea do Texas. Para tentar desmentir a acusação, a Casa Branca divulgou a ficha militar do presidente. Imagem da ficha militar do presidente
O que Bush não sabia é que eu já tinha uma cópia de sua ficha militar. Uma cópia não censurada, obtida em 2000. E existe uma diferença marcante entre a ficha de 2000 e aquela apresentada em 2004. (câmera se aproxima, mostrando em detalhe trechos da ficha militar cobertos com tinta preta) Um nome foi apagado coberto com tinta preta. Em 1972, dois pilotos foram suspensos por deixar de fazer um exame médico obrigatório. Um deles era George W. Bush. (Vinheta musical: riff de guitarra de "Cocaine') o outro era James R. Bath. Em 2000, o documento mostrava os dois nomes. Mas, em 2004, Bush e a Casa Branca apagaram o nome de Bath. Por que Bush não queria que a imprensa e o público vissem o nome de Bath em sua ficha militar? Sua preocupação talvez fosse evitar que os americanos descobrissem que James R. Bath foi durante certo período o administrador dos investimentos da família Bin Laden no Texas. Bush e Bath tornaram-se bons amigos quando serviram na Guarda Aérea Nacional no Texas. Logo que foram dispensados, época em que o pai de Bush era o chefe da ClA, Bath abriu seu próprio negócio no ramo da aviação após vender um avião a um homem chamado Salem bin Laden, herdeiro da segunda maior fortuna da Arábia Saudita - o Saudi bin Laden Group. JIM MOORE (REPÓRTER INVESTIGATIVO E ESCRITOR) Naquela época, "W" estava apenas começando no mundo dos negócios. Como é um sujeito que sempre tentou imitar o pai, decidiu entrar no ramo do petróleo. (Cenas e fotos antigas de George W. Bush) Ele fundou no oeste do Texas uma companhia petrolífera chamada Arbusto, uma companhia de prospecção que era muito, muito boa em abrir buracos que nunca davam em nada. Mas a pergunta sempre foi: "De onde vem o dinheiro?" O pai dele... Ora, o pai dele é um homem rico, podia ter dado o dinheiro a ele, mas o fato é que não o fez. Não existe nenhum indício de que papai tenha assinado o cheque para que ele abrisse a companhia.
NARRADOR Sobre imagens antigas de George Bush Então, de onde George W. Bush tirou o dinheiro? GEORGE W. BUSH Imagem antiga de Bush apertando a mão de alguém Sou George Bush. NARRADOR Foto de James Bath e reprodução do contrato firmado entre Bath e Salem bin Laden James R. Bath foi uma das pessoas que investiram em Bush. O bom amigo James Bath fora contratado para administrar o dinheiro da família Bin Laden no Texas e investir em negócios. E James Bath, por sua vez, investiu em George W. Bush. (registros financeiros comprovam um investimento de 50 mil dólares na empresa Arbusto, de Bush). Bush afundou a Arbusto, assim como fez com todas as outras empresas com as quais se envolveu. Até que, finalmente, uma delas foi comprada pela Harken Energy - e ele ganhou um cargo no conselho diretor. ENTREVISTA: JIM MOORE Ao longo dos anos, muitos de nós suspeitamos de que... havia dinheiro de petróleo saudita envolvido em todas essas empresas na Harken, na Spectrum 7, na Arbusto, em todas as empresas de Bush. Sempre que elas se metiam em encrencas, apareciam esses anjos investidores e colocavam dinheiro nelas.
ENTREVISTA: CRAIG UNGER Então, a pergunta é: por que será que os sauditas, donos de todo o petróleo do mundo, resolvem atravessar o mundo inteiro para investir numa companhia petrolífera imprestável? Ocorre que essa companhia possuía um ativo muito valioso. A Harken tinha uma coisa a seu favor, isto é, tinha George W. Bush entre seus diretores quando o pai dele era o presidente dos Estados Unidos. . GEORGE W. BUSH Entrevista à TV, agosto de 1992 Quando você é o filho do presidente e tem acesso ilimitado, mais algumas credenciais de uma campanha anterior, em Washington, D.C., as pessoas respeitam isso. Acesso é poder. E eu posso encontrar meu pai e falar com ele a qualquer momento. NARRADOR Fotos de George Bush na Harken Energy. É, ser filho do presidente ajuda. Especialmente quando você está sendo investigado pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos [a SEC, Securities and Exchange Comission, é o órgão que regula e fiscaliza o mercado de capitais nos EUA]. Trecho de noticiários VOZ DE BILL PLANTE (REPÓRTER, CBS) Em 1990, quando o sr. Bush era diretor da Harken Energy, recebeu este memorando (detalhe) no qual os advogados da empresa advertiam que os diretores estavam legalmente impedidos de vender suas ações caso tivessem conhecimento de informações desfavoráveis sobre ela. Urna semana depois, Bush vendeu 848
mil dólares em ações da Harken. Dois meses mais tarde, a empresa anunciou um prejuízo de mais de 23 milhões de dólares. NARRADOR Foto de Robert Jordan e mapa da Arábia Saudita O advogado e sócio de James Baker que ajudou Bush a sair ileso da investigação da SEC é um homem chamado Robert Jordan, que foi nomeado embaixador norte-americano na Arábia Saudita quando George W. Bush tornou-se presidente. Com a ruína da Harken, os amigos do pai de Bush arranjaram-lhe um outro cargo de diretoria em uma empresa do Carlyle Group. ENTREVISTA: DAN BRIODY (AUTOR DO LIVRO THE HALLIBURTON AGENDA) Nós queríamos descobrir que empresas haviam lucrado mais com o 11 de setembro. Chegamos a esta, o Carlyle Group. (gráficos mostram empresas controladas pelo grupo) O Carlyle Group é um conglomerado multinacional que investe em setores da economia fortemente regulamentados pelo governo, corno telecomunicações, serviços de saúde e, particularmente, defesa. Tanto George W. Bush quanto seu pai trabalharam para o Carlyle Group, grupo que também tinha entre seus investidores membros da família Bin Laden. (Os dois Bush, pai e filho, em um camarote privativo durante um evento esportivo.) Na manhã do dia 11 de setembro o Carlyle Group realizava sua conferência anual de investidores no hotel Ritz-Carlton, em Washington, D.C.. Naquela reunião estavam todos os figurões do Carlyle: James Baker, provavelmente John Major [ex-premiê britânico], certamente George H. W. Bush, que entretanto deixou o encontro ainda pela manhã. Shafiq bin Ladin, meio-irmão de Osama bin Laden, estava na cidade para cuidar dos investimentos da família no Carlyle Group. Todos eles, reunidos numa sala, viram... quando os aviões
atingiram as torres. O fato é que os Bin Laden tinham dinheiro investido em fundos de defesa da companhia. O que significa, ironicamente, que tiveram lucro, por meio do Carlyle, quando os Estados Unidos passaram a ampliar seus gastos com defesa. MESTRE DE CERIMÔNIAS (Bush sendo apresentado durante um evento da empresa United Defense, subsidiária do Carlyle Group). Nosso comandante-em-chefe... o presidente George W. Bush. NARRADOR Cenas de Bush na United Defense O Grupo Carlyle era o 11º. maior fornecedor de material bélico militar dos Estados Unidos. Uma das muitas empresas de armamentos que controlava era a United Defense, fabricante do carro de combate blindado Bradley. O 11 de setembro garantiu um ano excelente para a United Defense. [Destaque do jornal Los Angeles Times] Apenas seis semanas após os atentados, o Carlyle deu início ao trâmite para lançar ações da United Defense na Bolsa - e em dezembro, num único dia, lucrou 237 milhões de dólares. Infelizmente, com tanta atenção concentrada nos Bin Laden e em seus investimentos, a família teve de abandonar o negócio. O pai de Bush, porém, manteve o cargo de conselheiro sênior da divisão asiática do Carlyle por mais dois anos. DAN BRIODY Para os americanos... saber que George H. W. Bush se reunia com a família Bin Laden enquanto Osama era procurado como terrorista, muito antes de 11 de setembro... é muito incômodo descobrir isso.
(Cenas do ex-presidente reunido com autoridades sauditas) George Bush evidentemente mantém uma enorme influência na Casa Branca. Ele recebe informes diários da ClA - o que é um direito de todo ex-presidente, só que pouquíssimos fazem isso. Bush faz. E eu acho que eles se beneficiam muito concretamente da confusão que se cria quando George Bush visita a Arábia Saudita em nome do Carlyle Group e se reúne com a família real e com a família Bin Laden.. Ele está representando os Estados Unidos? Ou está representando uma companhia de investimentos dos Estados Unidos? Ou está representando as duas coisas? O negócio do Carlyle é ganhar dinheiro. Eles não estão no ramo das conspirações para dominar o mundo, da engenharia política e coisas do gênero. O negócio deles é ganhar dinheiro, muito dinheiro. E se deram muito, muito bem. Trecho de noticiário HELEN THOMAS (MEMBRO DA EQUIPE DE JORNALISTAS DA CASA BRANCA) Fora do plano, jornalista questiona o porta-voz Ari Fleischer durante entrevista coletiva na Casa Branca. Quero registrar o que você tem a dizer sobre esta questão. Na visão da Casa Branca, não existe um conflito ético no fato de o expresidente Bush e o ex-secretário de Estado James Baker utilizarem seus contatos com líderes mundiais para representar o Carlyle Group, um dos maiores fornecedores de armas de todo o mundo? ARI FLEISCHER O presidente tem absoluta certeza de que sua família agirá seguindo todos os princípios éticos e todas as leis aplicadas a este caso, e saberá conduzir suas ações da maneira correta.
Bush com membros da família real saudita e associados. NARRADOR Imagens de cidadãos norte-americanos comuns intercaladas com fotos de membros da família real saudita e confidentes de Bush. OK. Digamos então que um grupo de pessoas, por exemplo o povo americano, pague a você 400 mil dólares por ano para ser o presidente dos Estados Unidos. Mas aí um outro grupo de pessoas investe em você, em seus amigos e em seus negócios, ao longo de vários anos, 1 bilhão e 400 mil dólares (a tela mostra: US$ 1,4 bilhão). A quem você vai agradar? Quem é o seu pai? Porque essa é a quantia que a família real saudita e seus associados deram à família Bush, a seus amigos e a seus negócios nas últimas três décadas. Trecho de noticiário GEORGE BUSH Cumprimentando os sauditas. Bom-dia, pessoal. Tivemos uma ótima reunião entre amigos. NARRADOR Seria grosseiro sugerir que todos os dias, ao acordar, a família Bush pode estar pensando no que é melhor para os sauditas, em vez de pensar no que é melhor para você ou para mim? Porque 1 bilhão e 400 mil dólares não só compram uma porção de vôos para fora do país. Compram um bocado de amor. MÚSICA
Bush e membros do gabinete com a elite saudita - de mãos dadas e sorrindo para fotógrafos. Shiny happy people holding hands Shiny happy people holding hands Shiny happy people laughing Everyone around them, love them, love them Put it in your hands Take it, take it There's no time to cry Happy, happy Put it in your heart Where tomorrow shines Gold and silver shine [Pessoas brilhantes, felizes, de mãos dadas/ Pessoas brilhantes, felizes dão risada/ Todo mundo em volta as ama/ Coloque em suas mãos/ Tome, tome/ Não há tempo para chorar/ Feliz, feliz/ Coloque em seu coração/ Onde o amanhã brilha/ Ouro e prata brilham]. NARRADOR Cedo ou tarde, esta relação especial com um regime condenado pela Anistia Internacional como perpetuador de violações generalizadas contra os direitos humanos voltaria para assombrar os Bush. (imagens de uma decapitação pública em Jiddah, na Arábia Saudita). Agora, depois de 11 de setembro, era um constrangimento, e eles gostariam que ninguém fizesse perguntas. Trechos de notícias CAROL ASHLEY (MÃE DE UMA VÍTIMA DO 11 DE SETEMBRO) A investigação deveria ter começado no dia 12 de setembro, não existe razão para não ter sido assim. Três mil pessoas morreram.
Foi assassinato. imediatamente.
E
a
investigação
devia
ter
começado
NARRADOR Manchete do Washington Post: "Bush Seeks to Restrict Hill Probes of Sept 11" [Bush tenta limitar investigação do Congresso sobre o 11 de setembro]. Primeiro, Bush tentou impedir que o Congresso fizesse sua própria investigação sobre o 11 de setembro. TRECHO DE NOTICIÁRIO: GEORGE W. BUSH É importante para nós, ahn, não revelar como obtemos informações. É isso o que o inimigo quer. E nós estamos lutando contra um inimigo. NARRADOR Manchete de jornal: "Bush Opposes 9/11 Panel" [Bush é contra investigação independente do 11 de setembro]. Quando não conseguiu impedir o Congresso, tentou então impedir a formação de uma comissão independente sobre o 11 de setembro. Trechos de noticiário NORAH O'DONNELL (REPÓRTER DA NBC) A posição do presidente rompe uma tradição histórica. Investigações independentes foram iniciadas dias depois do ataque a Pearl Harbour e do assassinato do presidente Kennedy. NARRADOR
Congressistas segurando "Relatório da investigação sobre o 11 de setembro". Mas quando o Congresso concluiu sua investigação, a Casa Branca censurou 28 páginas do relatório. Trechos de noticiário VOZ DE ANDREA MITCHELL (REPÓRTER DA NBC) O presidente está sendo pressionado por todos os lados a liberar a divulgação integral do relatório. Funcionários do governo norteamericano disseram à NBC News que a maior parte das fontes secretas envolve a Arábia Saudita. GEORGE W. BUSH Entrevistado no programa Meet the Press Nós, ahn, oferecemos, ahn, cooperação extraordinária, ahn, aos presidentes Kean e Hamilton [Thomas Kean, presidente, e Lee Hamilton, vice-presidente, da comissão de investigação independente]. GOVERNADOR THOMAS KEAN (PRESIDENTE DA COMISSÃO DO 11 DE SETEMBRO) Nós não tivemos acesso aos materiais de que precisávamos, e sem dúvida não os recebemos a tempo. Os prazos que havíamos definido não foram cumpridos. TIM RUSSERT (APRESENTADOR DO PROGRAMA MEET THE PRESS) O senhor vai testemunhar perante a comissão?
GEORGE W. BUSH Esta comissão?.. Você sabe, eu não... Eu... Testemunhar? dizer, terei prazer em visitá-los. ENTREVISTA: ROSEMARY DILLARD (VIÚVA DE VÍTIMA DO 11 DE SETEMBRO) Isso é o que me sustenta apesar do vazio que eu tenho no coração desde o dia 11 de setembro. Perdi o marido com quem convivi por quinze anos. Agora estou só, sou apenas eu, sozinha. Preciso saber o que aconteceu com ele. Aquele homem era a minha vida, não tenho mais planos. Eu estava fazendo um curso, e me perguntaram o que é que vou fazer nos próximos cinco anos. Se eu não fizer nada a respeito disso, não sei que razão terei para continuar vivendo. Eu tenho de viver. Então, é muito importante. Muito importante. Entendeu? NARRADOR Cenas de protesto de famílias do 11 de setembro em Washington. Ignorados pela administração Bush, mais de 500 familiares de vítimas do 11 de setembro entraram com processos contra a família real saudita e outros. Os advogados que o ministro saudita da Defesa contratou para a briga com as famílias do 11 de setembro? O escritório de advocacia de James A. Baker, o confidente da família Bush. Michael Moore e Craig Unger caminham pelas ruas de Washington, D.C. MICHAEL MOORE
Estamos aqui no centro de três importantes marcos históricos americanos, ahn, o hotel e prédio de escritórios Watergate, o Kennedy Center ali do outro lado. E, ahn, a embaixada da Arábia Saudita. CRAIG UNGER É. MICHAEL MOORE Quanto dinheiro, por alto, os sauditas têm investido nos Estados Unidos? CRAIG UNGER Pelos números que ouvi, a cifra pode chegar a 860 bilhões de dólares. MICHAEL MOORE 860 bilhões. CRAIG UNGER Bilhões. Michel Moore É muito dinheiro. Craig Unger Muito. MICHAEL MOORE E... que percentual da nossa economia isso representa? Quero dizer, parece bastante. GRAIG UNGER
Enquanto conversam, carros do serviço secreto estacionam em frente embaixada e se aproximam dos dois. Bem, em termos de... de investimentos em Wall Street, patrimônio americano, equivale mais ou menos a seis ou 6% ou 7% do país. Eles são donos de uma fatia bem generosa dos Estados Unidos. E a maioria desse dinheiro está investida nas grandes empresas. Citigroup, Citibank... o maior acionista é um saudita. A AOL Time Warner tem importantes investidores sauditas. (Agentes do Serviço Secreto conversam entre si e observam a entrevista à distância). MICHAEL MOORE Bem, eu li em algum lugar que os sauditas têm um trilhão de dólares nos nossos bancos, dinheiro deles. O que aconteceria se um belo dia eles simplesmente decidissem sacar esse trilhão e levá-lo embora? Graig Unger Um trilhão de dólares? Seria um golpe tremendo na economia. Michael Moore Certo, certo. AGENTE DO SERVIÇO SECRETO Caminha até os dois e interrompe a entrevista Senhor Moore, posso falar com o senhor por um instante, por favor? MICHAEL MOORE Sim. Claro.
AGENTE DO SERVIÇO SECRETO Como vai, tudo bem? MICHAEL MOORE Comigo, tudo bem. E com você? AGENTE DO SERVIÇO SECRETO Steve Kimball, Serviço Secreto. Como vai, senhor? MICHAEL MOORE Como vai, senhor? Sim.
AGENTE DO SERVIÇO SECRETO Ahn, só estamos averiguando informações. Vocês estão fazendo um documentário sobre a embaixada saudita? Ou sobre a chancelaria? MICHAEL MOORE Ahn, não. Eu estou fazendo um documentário e uma parte dele é sobre a Arábia Saudita. NARRADOR Michael Moore e o agente do Serviço Secreto continuam a conversar. Embora nós não estivéssemos nem perto da Casa Branca, por algum motivo o Serviço Secreto apareceu para nos perguntar o que é que estávamos fazendo em frente à embaixada saudita, do outro lado da rua. Michael Moore
(Para o agente de serviço secreto) Nós não estamos aqui para criar nenhum tipo de problema, sabe. É que... AGENTE DO SERVIÇO SECRETO Certo, ótimo. Nós só queríamos ter certeza, obter algumas informações sobre o que de fato estava acontecendo. MICHAEL MOORE Sobre o que está acontecendo, claro, claro, claro. Eu não sabia que o Serviço Secreto fazia segurança de embaixadas estrangeiras. AGENTE DO SERVIÇO SECRETO Ahn, normalmente não. Não, senhor. MICHAEL MOORE Não, não. Eles dão trabalho para vocês? Os sauditas? AGENTE DO SERVIÇO SECRETO Sem comentário sobre isso, senhor. MICHAEL MOORE Ah, OK. Muito bem, vou tomar isso como um "sim". Certo, muito bem. Muito obrigado. Obrigado pelo trabalho que vocês fazem. NARRADOR Agentes se afastam e vão para os degraus da embaixada. Acontece que o príncipe saudita Bandar é provavelmente o mais bem protegido embaixador dos Estados Unidos. O Departamento de Estado fornece a ele um destacamento de seis seguranças. Considerando que ele e a família dele e a elite saudita são donos de 7% dos Estados Unidos, provavelmente não é uma má idéia.
Fotos de George W. Bush com o príncipe Bandar. O príncipe Bandar era tão próximo dos Bush que eles o consideravam um membro da família. Tinham até um apelido para ele: "Bandar Bush". Duas noites depois do 11 de setembro, George Bush convidou Bandar Bush para um jantar íntimo e uma conversa na Casa Branca. Embora Bin Laden (Osama bin Laden) fosse saudita e dinheiro saudita tenha financiado a Al-Qaeda, e 15 dos 19 seqüestradores fossem sauditas (fotos dos seqüestradores), lá estava o embaixador saudita casualmente jantando com o presidente no dia 13 de setembro. Sobre o que os dois conversaram? (Fotos de Bush e Bandar) Será que falavam de solidariedade em meio à dor? Ou estavam comparando informações? (Imagens da polícia saudita e manchete do jornal Houston Chronicle: "U.S. Reluctant to Upset Flawed, Fragile Saudi Ties" [EUA não querem complicar os abalados laços com a Arábia Saudita]) Por que o governo de Bandar impediria os investigadores americanos de falar com os parentes dos 15 seqüestradores? Por que a Arábia Saudita relutaria em congelar os bens dos seqüestradores? Os dois caminharam até o Truman Balcony para que Bandar pudesse fumar um charuto e tomar um drinque. Ao longe, do outro lado do Potomac, estava o Pentágono parcialmente em ruínas. (pentágono em chamas) Fico pensando se Bush disse a Bandar que não se preocupasse, porque já tinha um plano em andamento. Trechos de noticiário CHARLES GIBSON (APRESENTADOR DO PROGRAMA GOOD MORNING AMERICA, DA ABC)
Entrevista com Richard Clarke, ex-coordenador do grupo de antiterrorismo de Bush. No dia 12 de setembro, o senhor se apresenta para definir como seria a resposta à Al-Qaeda. Vamos falar sobre... Sobre a resposta que o senhor recebeu dos funcionários do primeiro escalão do governo. Naquele dia, o que o presidente disse ao senhor? RICHARD CLARKE O presidente, de maneira claramente intimidatória, nos deixou, a mim e a minha equipe, com a clara indicação de que queria que voltássemos com a afirmação de que havia uma mão iraquiana por trás do 11 de setembro. Isso porque já vinham planejando alguma coisa sobre o Iraque antes mesmo de assumir o governo. CHARLES GIBSON Ele fez perguntas sobre outros países, além do Iraque?
RICHARD CLARKE Não. Não, não, não. Não, de jeito nenhum. Era o lraque, era Saddan. Descubra e me traga aqui. CHARLES GIBSON E as perguntas dele eram mais sobre o Iraque do que sobre a Al Qaeda? RICHARD CLARKE Exatamente. Exatamente. Ele não me fez perguntas sobre a Al Qaeda. CHARLES GIBSON
E, o que disse naquele dia o secretário da Defesa, DonaId Rumsfeld, e seu assistente, Paul Wolfowitz? RICHARD CLARKE Bem, DonaId Rumsfeld disse, quando discutimos sobre atacar a infra-estrutura da Al-Qaeda no Afeganistão, ele disse que não havia bons alvos no Afeganistão. Vamos bombardear o Iraque. E nós dissemos, mas o Iraque não tem nada a ver com isso. Mas isso aparentemente não fez muita diferença. E o motivo pelo qual eles tiveram de lidar antes com o Afeganistão foi o fato de que era óbvio que a Al-Qaeda havia nos atacado. E era óbvio que a Al-Qaeda estava no Afeganistão. O povo americano não ficaria do nosso lado se não fizéssemos nada contra o Afeganistão. Mapa do Afeganistão em chamas... Seqüência de abertura do seriado Bonanza, com os rostos dos líderes sobrepostos. George W. Bush, Donald Rumsfeld, Dick Cheney e Tony Blair. NARRADOR Sobre imagens da invasão do Afeganistão. Os Estados Unidos iniciaram o bombardeio do Afeganistão apenas quatro semanas depois do 11 de setembro. O sr. Bush disse que o fazia porque o governo talibã do Afeganistão dava abrigo a Bin Laden. Trechos de noticiários. GEORGE W. BUSH Eu vou arrancá-lo da toca. Vamos obrigá-lo a sair da toca.
Vamos arrancá-lo da toca. Vamos arrancá-lo. ATOR NÃO IDENTIFICADO Cena de filme de faroeste da década de 1930. Vamos atacar e obrigá-lo a sair da toca! NARRADOR Apesar de todo o alarde, Bush não fez lá muita coisa. Trechos de noticiário. RICHARD CLARKE No programa Good Morning America. Bem, eles fizeram pouco e devagar. Colocaram apenas 11 mil soldados no Afeganistão. Há mais policiais aqui em Manhattan - há mais policiais aqui em Manhattan - do que o número de soldados que havia no Afeganistão. Basicamente, o presidente estragou a resposta ao 11 de setembro. Ele devia ter ido imediatamente atrás de Bin Laden. As Forças Especiais dos Estados Unidos demoraram dois meses para chegar à região onde ele estava. NARRADOR Para divulgação à imprensa: cenas de Bush caçando. Dois meses? Um assassino em massa que atacou os Estados Unidos teve dois meses de vantagem? Quem, em seu juízo perfeito, faria uma coisa dessas?
GEORGE W. BUSH Alguém disse boa foto? FORA DO PLANO Ótima foto, fantástica. NARRADOR Ou será que a Guerra do Afeganistão foi travada por outro motivo? Talvez a resposta estivesse em Houston, no Texas. Poços de petróleo, mapa de gasoduto, imagens de talibãs no Texas. Em 1997, quando George W. Bush era governador do Texas, uma delegação de líderes talibãs do Afeganistão voou para Houston para se reunir com executivos da Unocal e discutir a construção de um gasoduto que atravessasse o Afeganistão, trazendo gás natural do mar Cáspio. E quem conseguiu um contrato de perfuração no Mar Cáspio no mesmo dia em que a Unocal assinou o acordo do gasoduto? Uma empresa chefiada por um homem chamado Dick Cheney. A Halliburton. ENTREVISTA: MARTHA BRILL OLCOTT (CONSULTORA DE PROJETO DA UNOCAL) Do ponto de vista do governo americano, era uma espécie de gasoduto mágico, capaz de atender a inúmeros propósitos. NARRADOR Fotos de Kenneth Lay e da Enron. E quem mais ficou para se beneficiar do gasoduto? O maior contribuinte individual para a campanha de Bush, Kenneth Lay, e a "gente fina" da Enron. Só a imprensa britânica cobriu essa viagem.
Então, em 2001, apenas cinco meses e meio antes do 11 de setembro, a administração Bush deu as boas-vindas a um enviado especial talibã para que percorresse o país a fim de ajudar a melhorar a imagem do governo talibã. Cenas da visita do Talibã aos Estados Unidos, com Sayed Rahmatullah Hashimi, o ministro talibã, sendo confrontado por uma manifestante que protestava vestindo uma burca. MANIFESTANTE Arranca a burca da cabeça e grita para o ministro. Vocês aprisionaram as mulheres. É um horror, tenho de dizer. SAYED RAHMATULLAH HASHIMI (LÍDER TALlBÃ) E eu tenho muita pena do seu marido. Ele deve passar maus bocados com você. NARRADOR Trechos de noticiário de 19 de março de 2001: Hashimi saindo do Departamento de Estado. Aqui está o funcionário talibã visitando nosso Departamento de Estado para se reunir com nossos funcionários. Por que diabos a administração Bush permitiria que um líder talibã visitasse os Estados Unidos sabendo que o Talibã dava abrigo ao homem que bombardeou o destróier USS Cole e nossas embaixadas na África? (fotos de Osama bin Laden, do USS Cole e de embaixada africana em ruínas) Concluída a invasão do Afeganistão, nós instalamos no país seu novo presidente, Hamid Karzai. Quem era Hamid Karzai? (foto para divulgação de Bush e Karzai) Era um ex-conselheiro da Unocal. Bush também nomeou como nosso enviado ao Afeganistão
Zalmay Khalilzad, que também havia sido conselheiro da Unocal. (foto de Khalilzad e Bush no Salão Oval da Casa Branca). Imagino que vocês estejam percebendo onde é que isso vai parar. Cenas de Karzai assinando um acordo. Mais depressa do que você possa dizer "Ouro Negro, Chá do Texas", o Afeganistão assinou um acordo com os países vizinhos para construir um gasoduto através do Afeganistão para transportar gás natural do mar Cáspio. Ah, sim, e o Talibã? A maioria escapou, assim como Osama bin Laden e a maior parte da Al-Qaeda. GEORGE W. BUSH Falando à imprensa na Casa Branca, referindo-se a Osama bin Laden. O terror é maior que uma única pessoa. E, ahn, ele é só... Ele é... Ele é, ahn, ele é hoje um fugitivo, então eu não sei onde ele está, nem... vocês sabem que não perco muito tempo com ele, vou ser honesto com vocês. NARRADOR Não perde muito tempo com ele? Que tipo de presidente é esse? Trecho de entrevista no Meet de Press. GEORGE W. BUSH Eu sou o "Presidente da Guerra". Eu tomo decisões aqui no Salão Oval, ahn, sobre política externa, com a guerra na cabeça. NARRADOR Bush caminhando com o general Tommy Franks.
Com o fim da guerra no Afeganistão e Bin Laden esquecido, o "presidente da guerra" tinha um novo alvo - o povo americano. Arte grande e dramática da FOX: "Guerra ao Terror". Vários trechos de noticiários. DAVID ASMAN (ÂNCORA DA FOX NEWS) Recebemos dos federais um alerta extraordinário sobre a ameaça terrorista. A FOX NEWS obteve um boletim do FBI alertando que terroristas podem usar canetas-pistolas, exatamente como as de James Bond, cheias de veneno, como armas. JOHN SIEGENTHALER (ÂNCORA DA NBC) Boa-noite a todos. Os Estados Unidos estão em grande estado de alerta esta noite, faltando apenas quatro dias para o Natal. WOLF BLITZER (ÂNCORA DA CNN) ... Uma possível ameaça terrorista. JOHN ROBERTS (ÂNCORA DA CBS) Tão grave ou pior que o 11 de setembro. Voz de Joie Chen (Repórter da CBS) Mas onde? Como? Não existe informação específica. VOZ DE PIERRE THOMAS (REPÓRTER DA ABC) Fiquem de olho em aeromodelos que podem estar lotados de explosivos. MIKE EMMANUEL (REPÓRTER DA FOX NEWS)
O FBI alerta que as balsas podem ser consideradas alvos em potencial para seqüestros. VOZ DE REPÓRTER DE NOTICIÁRIO LOCAL ARCHlVES) Será que este gado pode ser alvo dos terroristas?
(CONUS
Entrevista: Deputado Jim McDermott (Democrata, Washington), psiquiatra e membro do Congresso. MICHAEL MOORE O medo funciona. DEPUTADO JIM MCDERMOTT O medo funciona, sim. Você consegue com que as pessoas façam qualquer coisa quando estão assustadas. MICHAEL MOORE E como é que você as assusta?
DEPUTADO JIM MCDERMOTT Bem, você as assusta criando uma aura de ameaça sem fim. Eles nos tocam como a um órgão (fotos dos painéis coloridos dos alertas de terror). Eles elevam o alerta ao ... nível laranja, depois passam para o vermelho, depois baixam outra vez ao laranja. Quer dizer, eles dão esses sinais desencontrados que deixam todo mundo louco. Trechos de discursos no noticiário. GEORGE W. BUSH
O mundo mudou depois do 11 de setembro. Mudou porque deixou de ser seguro. GEORGE W. BUSH Peguem um avião r aproveitem os maravilhosos destinos dos Estados Unidos. DONALD RUMSFELD Nós entramos no que muito provavelmente é o ambiente de segurança mais perigoso que o mundo já conheceu. GEORGE W. BUSH Peguem suas famílias e aproveitem a vida. DICK CHENEY OS terroristas estão fazendo todo o possível para obter meios ainda mais fatais de nos atacar. GEORGE W. BUSH Vão para a Disney, na Flórida.
ENTREVISTA: DEPUTADO JIM MCDERMOTT É como adestrar um cachorro. Você diz "Senta!" e ao mesmo tempo pede para ele rolar, o cachorro não sabe o que fazer. Bem, o povo americano estava sendo tratado assim. Foi mesmo muito, muito engenhoso e... horrível... o que eles conseguiram. Trechos de noticiário GEORGE W. BUSH Sessão de fotos para divulgação: imprensa no campo de golfe.
Nós precisamos deter o terror. Eu conclamo todas as nações a fazer tudo o que puderem para deter esses terroristas assassinos. Obrigado. Agora vejam essa. (dá uma tacada) ENTREVISTA: DEPUTADO JIM MCDERMOTT Eles vão continuar, em minha opinião, enquanto durar esta administração, a estimular o medo em todo mundo sempre que possível. Para o caso de a gente esquecer. (mais imagens dos painéis coloridos de alerta de terror) O nível de alerta não vai baixar para verde ou azul. Isso nunca vai acontecer. E claramente ninguém pode viver constantemente no limite. VÍDEO PROMOCIONAL DA ZYTECH ENGINEERING Apresentador fala olhando diretamente para a câmera, com tom de voz preocupado. A dura realidade que as famílias americanas enfrentam hoje é que já não estão seguras como antes. Traficantes de drogas e usuários procurando a próxima dose. Gangues que vagam pelas ruas em busca da próxima vítima e a crescente ameaça de ataques terroristas significam que a necessidade de proteção é cada vez maior. Agora, a proteção está aqui. (imagem do "quarto do pânico”) A Zytech Engineering LLC desenvolveu e testou um quarto do pânico que finalmente cabe no bolso do cidadão americano comum. É o tipo de proteção que antigamente só estava disponível para os ricos e poderosos. CEO DA ZYTECH CORPORATION Sentado no quarto do pânico, mostra ao público o quanto é confortável a sua caixa de metal.
Heck, você pode ficar sentado aqui saboreando o seu mais fino vinho Bordeaux e aproveitando a vida enquanto o caos explode lá fora. Anúncio de utilidade pública TOM RIDGE CHEFE DE SEGURANÇA NACIONAL Todas as famílias americanas devem se preparar para um ataque terrorista. Trechos de noticiário: programa Today MATT LAUER (APRESENTADOR DO PROGRAMA TODAY DA BBC) E agora, como escapar de um arranha-céus. John Rivers é o CEO da Executive Chute Corporation. Bom-dia, John. JOHN RIVERS Falando com Lauer de seu showroom em Three Rivers, Michigan. Bom-dia, Matt. MATT LAUER Fale sobre o produto que vocês estão lançando no mercado. JOHN RIVERS É um, ahn, um pára-quedas de emergência. MATT LAUER Qual é a altura de que se deve pular do prédio para que esse páraquedas realmente funcione? JOHN RIVERS Você precisa estar do décimo andar para cima.
MATT LAUER As pessoas conseguem colocar isso sozinhas? JOHN RIVERS Sim, é fácil, dá para uma pessoa colocar em até trinta segundos. É realmente muito fácil... (a modelo que deve demonstrar como se coloca o pára-quedas se complica toda ao tentar enfiar os pés nas alças). JOHN RIVERS Tudo bem... É realmente fácil de colocar, mas, ahn... No começo, quando você comprar o pára-quedas, é bom colocar algumas vezes para experimentar... (ele se curva e tenta ajudar a modelo a enfiar o pé nas alças - sem sucesso) MATT LAUER Devo dizer que a Jamie está tendo um pouquinho de dificuldade para vestir essa coisa. Ou seja, será que... Honestamente, você acha que num momento de pânico uma pessoa conseguirá lidar com esse equipamento corretamente?
JOHN RIVERS Jamie continua a brigar com o pára-quedas - o problema agora é a fivela na cintura. Claro, claro, claro que sim. É que... É que a Jamie provavelmente nunca tentou colocar esse equipamento na vida, então... ENTREVISTA: PREFEITO ROY GLADDING Bom, no noticiário das seis falaram alguma coisa sobre um alerta de
terror em Tappahannock. Tudo bem. Não se preocupe com isso. Quando você comprar, vai experimentar um monte de vezes. (Jamie olha desalentada para a câmera) Trechos do noticiário. DAVE BONDY (REPÓRTER DA WNEM, DE MICHIGAN) Apesar da elevação no nível de alerta de terror, os moradores aqui em Saginaw continuam com seus preparativos para o Natal. Frances Stroik faz compras de última hora com a família sabendo que a AlQaeda planeja atacar o país. Ela diz que, apesar de estar em Saginaw, não se sente mais segura do que se estivesse na cidade de Nova York. FRANCES STROIK No noticiário da WNEM. Midland é aqui pertinho. E fico pensando, "Detroit não é longe, não é tão longe", e fico pensando, "eles podem tentar alguma coisa e Flint pode ser... pode ser um problema para a gente". MEL STROIK No noticiário da WNEM. Não dá para saber o que eles vão atacar. Não dá para saber o que eles vão atacar. Trechos de noticiário VOZ DE JIM MIKLASZEWSKI (REPÓRTER DA NBC NEWS)
Mas um alvo em potencial mencionado especificamente pelos terroristas estarreceu as equipes encarregadas da segurança. É a pequena Tappahannock, na Virgínia, com população de 2.016 pessoas. Um ataque assim disseminaria o temor generalizado de que nem mesmo aqui, nas cidadezinhas da zona rural do país, ninguém está totalmente seguro. Entrevista: Prefeito Roy Gladding Bom, no noticiário das seis falaram alguma coisa sobre um alerta de terror em Tappahannock. MICHAEL MOORE Ao xerife Clarke. O que o FBI disse a vocês? XERIFE STANLEY CLARKE Bem, eles me ligaram, e me falaram sobre essa palavra "Tappahannock", e foi assim que a coisa começou... PREFEITO ROY GLADDING Na conversa, eles não tinham certeza. Tappahannock. Existe um condado de Rappahannock. Este é o rio Rappahannock (mapa da região). Entrevistas rápidas com habitantes de Tappahannock FRANCES WILMORE Existe Rappahannock... um lugar chamado Rappahannock, fizeram confusão. MORADOR Aqui é Tappahannock, não Rappahannock.
MICHAEL MOORE Existe algum alvo para terroristas por aqui? PREFEITO ROY GLADDING Não consigo imaginar nenhum. XERIFE STANLEY CLARKE Pode acontecer em qualquer lugar. PREFEITO ROY GLADDING Nós temos um Wal-Mart aqui. FRANCES WILMORE Vamos ter um grande festival de espaguete aqui. MORADOR Provavelmente o Wal-Mart. MICHAEL MOORE Vocês ficam mais desconfiados das pessoas de fora? ROBERT ROYAL Ah, todo mundo fica. Acaba acontecendo.
MORADORA Às vezes, quando olho para certas pessoas, fico pensando: "Ah, meu Deus! Será que essa gente pode ser terrorista?" WILLIAM J. JACKSON Você nunca sabe o que pode acontecer.
MORADOR É isso aí, você nunca sabe o que pode acontecer. WILLIAM J. JACKSON Você nunca sabe o que pode acontecer. Pode acontecer agora, exatamente agora, sabe. ROBERT ROYAL Você nunca deve confiar em gente que não conhece. E não dá para confiar nem quando a gente conhece. NARRADOR Cenas de cidadãos americanos amedrontados. De Tappahannock a Rappahannock e em todas as cidades e todos os vilarejos dos Estados Unidos, as pessoas estavam com medo. E elas se voltaram ao seu líder para que as protegesse. Mas protegesse de quê? John Ashcroft cantando no pódio "Let the Eagle Soar", letra e música de John Ashcroft. JOHN ASHCROFT (cantando) Let the eagle soar, Like she s never soared before. From rocky coast, to golden shore, Let the mighty eagle soar... [Que a águia voe/ Que a águia voe mais alto do que nunca/ Da costa rochosa ao litoral dourado/ Que a águia voe mais alto do que nunca] Texto na tela. Cenas da disputa para o Senado em 2000.
NARRADOR Cenas da disputa para o Senado no Missouri em 2000. Este é John Ashcroft. Em 2000, ele estava disputando a reeleição como senador pelo Missouri com um cara que morreu um mês antes da eleição. (retrato do senador Carnahan - com sinal de luto) Os eleitores preferiram o finado. Então, George W. Bush nomeou Ashcroft seu procurador-geral da Justiça. (Ashcroft assume jurando sobre três Bíblias) Ele prestou juramento sobre uma pilha de Bíblias, porque, quando você não consegue ganhar de um cara que já morreu, precisa de toda a ajuda possível. Cenas das audiências da comissão de investigação do 11 de setembro. NARRADOR No verão que antecedeu o 11 de setembro, Ashcroft disse a Thomas Pickard, então diretor do FBI, que não queria mais ouvir falar sobre ameaças terroristas. RICHARD BEN-VENISTE, DA COMISSÃO DE INVESTIGAÇÃO DO 11 DE SETEMBRO Interrogando Thomas Pickard O sr. Watson o procurou e disse que a CIA estava muito preocupada com a possibilidade de um ataque. O senhor afirmou que reiterou o fato repetidas vezes ao procurador-geral durante essas reuniões. Correto? THOMAS PICKARD (DIRETOR DO FBI NO VERÃO DE 2001) Responde a Ben-Veniste.
Eu disse isso a ele em, ahn, pelo menos duas ocasiões. RICHARD BEN-VENISTE E o senhor disse à equipe, segundo esta declaração, que o sr. Ashcroft disse ao senhor que não queria mais ouvir falar sobre o assunto. Correto? THOMAS PICKARD Correto. NARRADOR Close-ups de documentos do FBl datados de 10 de julho de 2001 mencionando que estudantes de Osama bin Laden estavam cursando escolas de aviação civil. Naquele verão, o próprio FBI de Ashcroft sabia que havia integrantes da Al-Qaeda nos Estados Unidos, e que Bin Laden estava mandando seus agentes para escolas de aviação em todo o país. O Departamento de Justiça de Ashcroft, porém, fechou os olhos e tapou os ouvidos. Mas, depois de 11 de setembro, John Ashcroft apareceu com algumas idéias brilhantes sobre como proteger a América. Trechos de noticiário ELIZABETH HASHAGEN (NEWS 12, LONG ISLAND) O U.S.A Patriot Act [Lei Patriota dos Estados Unidos] aprovado pelo Congresso e sancionado por Bush seis semanas depois dos ataques mudou o modo do governo de fazer as coisas. A Lei Patriota dos Estados Unidos autoriza a realização de investigações em registros médicos e financeiros, comunicações por computador e por telefone e até mesmo sobre os livros que você retira da biblioteca. Mas a maioria das pessoas com que falamos se declara
disposta a abrir mão de algumas liberdades para combater o terrorismo. HOMEM (NO NOTICIÁRIO) Pode ser uma coisa boa. MULHER (NO NOTICIÁRIO) É realmente muito triste, mas precisa ser feito. NARRADOR Cenas de membros do grupo Peace Fresno, reunidos em uma sala com aparência inofensiva. Sim. Alguma coisa precisava ser feita. Esta é a boa gente que faz parte do Peace Fresno, um grupo comunitário da cidade de Fresno, na Califórnia. Ao contrário do resto de nós, eles aprenderam depressa o sentido da Lei Patriota. Todas as semanas o grupo se reúne para discutir questões relativas à... paz. Eles sentam, eles contam histórias, eles comem biscoitos. (grupo passa biscoito - uma mulher pega dois de uma vez) Alguns pegam mais de um. Este é Aaron Stokes, membro do Peace Fresno. (foto de Aaron Stokes durante um protesto da Peace Fremo) Os outros membros do grupo gostavam dele. ENTREVISTA: EUGENE BARANOFF (MEMBRO DO PEACE FRESNO) Ele vinha às reuniões. Ele estava com a gente. Nas noites de sexta-feira, nós íamos até uma esquina bastante movimentada de Fresno e ele vinha conosco, distribuía folhetos, em junho ele participou com a gente de um protesto contra a Organização Mundial do Comércio. NARRADOR
Mas então, um dia, Aaron Stokes não apareceu na reunião. ENTREVISTA: CAMILLE RUSSELL (MEMBRO DO PEACE FRESNO) Meu amigo Dan e eu estávamos lendo o jornal de domingo e, quando abri a seção de notícias locais, uma foto de Aaron chamou minha atenção. A reportagem dizia que um oficial havia sido assassinado e eu vi que trazia um nome que não era o nome correto. A reportagem dizia que ele fazia parte da unidade antiterror do xerife. NARRADOR Detalhe do jornal. É isso mesmo, a foto do cara no jornal não era a do Aaron Stokes que eles conheciam. Na verdade, ele era o oficial Aaron Kilner. E havia se infiltrado no grupo. CATHERINE CAMPBELL Foto imponente do xerife Pierce. O xerife Pierce deixou bem claro que, sim, de fato, Aaron Kilner fora designado para se infiltrar no Peace Fresno, que ele podia se infiltrar em organizações abertas ao público. NARRADOR Fotos de ativistas sorridentes durante uma reunião. Dá para entender por que a polícia achou que devia espionar um grupo como o Peace Fresno. Olhem só para eles. Um bando de terroristas, se é que eu sei como eles se parecem.
NARRADOR Homem maduro caminha no parque - e na academia de ginástica. Este é Barry Reingold, trabalhador aposentado de uma telefônica em Oakland, Califórnia. Barry gosta de malhar na academia. Em algum momento entre a esteira e os pesos, Barry se tornou político. ENTREVISTA: BARRY REINGOLD Estávamos na academia e depois dos exercícios muitos de nós estávamos conversando sobre o 11 de setembro, o Afeganistão e Bin Laden e alguém disse: "Bin Laden é um cretino porque matou toda aquela gente". E eu disse:"É, mas ele nunca vai ser tão cretino quanto o Bush, que bombardeia o mundo inteiro para lucrar com petróleo". NARRADOR Barry não precisava se preocupar com espiões da polícia. Seus próprios colegas de levantamento de peso estavam mais que dispostos a entregá-lo. BARRY REINGOLD Eu estava tirando um cochilo, acho que lá pela uma e meia, duas da tarde, quando eles apareceram na minha casa. Eu perguntei: "Quem é?". E eles responderam: "É o FBI". E eu disse: "FBI? O que é que esses caras estão fazendo aqui?" NARRADOR É, o FBl tinha ido ver o Barry, e não era para fazer ginástica. BARRY REINGOLD O FBI disse: "Você anda falando por aí sobre o 11 de setembro, sobre Bin Laden e lucros com petróleo e sobre o Afeganistão?". Eu disse: "Um monte de gente está falando sobre tudo isso".
Eu senti que meus direitos tinham sido, sabe, pisoteados. Quer dizer, se você quer me dizer alguma coisa na academia, ótimo, mas não vá dizer ao FEl para que eles venham à minha casa quando estou tirando uma soneca. ENTREVISTA: DEPUTADO PORTER GROSS (REPUBLICANO DA FLÓRIDA, PRESIDENTE DO COMITÊ DE INTELIGÊNCIA DA CASA) Não há nenhum motivo para vergonha aqui. Existe total transparência. Não existe nada na... na Lei Patriota que seja motivo de vergonha para mim, de nenhum jeito, de nenhuma maneira, de modo algum. Eu tenho um número 0800 (palavras piscam na tela: NÃO É VERDADE), telefonem para mim. Eu sou o cara para quem vocês devem telefonar se houver violação ou abuso. (palavras piscam na tela: MAS AÍ VAI O NÚMERO DE TELEFONE DO ESCRITÓRIO DELE...) Se vocês sabem de alguma caso, eu quero ver. (palavras piscam na tela: 202-225-2536). O povo dos Estados Unidos me contratou para supervisionar isso. Eu supervisiono. ENTREVISTA: DEPUTADO JIM MCDERMOTT (DEMOCRATA, WASHINGTON) Trent Lott disse, no dia em que a lei foi apresentada: "Talvez agora a gente possa fazer as coisas que estamos querendo fazer há dez anos". Trechos de noticiário GEORGE BUSH Bom, eu sempre... Vocês sabem que com uma ditadura ia ser muito mais fácil, sem dúvida. ENTREVISTA: DEPUTADO JIM MCDERMOTT
Quero dizer, eles já tinham... Eles já tinham tudo isso pensado, guardado em algum lugar, idéias sobre o que gostariam de fazer. E veio o 11 de setembro e eles disseram: "É a nossa oportunidade! Vamos nessa!" ENTREVISTA: DEPUTADO JOHN CONYERS (DEMOCRATA, MICHIGAN), COMITÊ JUDICIÁRIO DA CÂMARA Da parte do governo veio a conclusão instantânea de que teríamos de alguns direitos. ENTREVISTA: DEPUTADA TAMMY BALDWIN (DEMOCRATA, WISCONSIN), COMITÊ JUDICIÁRIO DA CÂMARA A lei tem várias definições que são profundamente inquietantes. Em primeiro lugar, a definição de "terrorista"... e... é uma definição tão ampla que pode incluir pessoas que... MICHAEL MOORE Pessoas como eu? Ela ri DEPUTADO JIM MCDERMOTT Ninguém leu a lei. Essa é a questão. Eles esperaram até o meio da noite, lançaram-na no meio da noite, ela foi impressa no meio da noite, e na manhã seguinte, quando nós chegamos, ela foi aprovada. MICHAEL MOORE Mas... Como é que o Congresso pôde aprovar a Lei Patriota sem nem mesmo chegar a lê-Ia? DEPUTADO JOHN CONYERS
Entenda uma coisa, filho. Nós não lemos a maioria das leis. Você tem alguma noção do que aconteceria se fôssemos ler cada lei que aprovamos? Isso iria retardar todo o processo legislativo. NARRADOR Michael Moore em Washington, D. C. com um enorme caminhão de sorvete. Eu não conseguia acreditar que virtualmente nenhum membro do Congresso houvesse lido a Lei Patriota antes de votá-la. Então, decidi que a única coisa patriótica a fazer era ler a lei para eles. O caminhão circunda o Capitólio - Michael Moore lê a Lei Patriota pelo alto-falante. MICHAEL MOORE Membros do Congresso, aqui fala Michael Moore. Gostaria de ler para vocês a Lei Patriota dos Estados Unidos. Seção I, Seção 210 deste código diz o seguinte... A seção 2703 C... Trechos de noticiário: sessão de fotos para divulgação durante jantar. GEORGE W. BUSH A minha tarefa é garantir a segurança da pátria, e é exatamente isso o que vamos fazer. Mas estou aqui para anotar pedidos. Vai ser você, Stretch, o que você vai querer? STRETCH (REPÓRTER) Vou te acompanhar. GEORGE W. BUSH
Vou pedir umas costeletas. NARRADOR Todo mundo sabe que não dá para garantir a segurança da pátria com o estômago vazio. E, para manter a segurança, todo mundo precisa fazer sacrifícios. (cenas de mamãe e bebê) Especialmente o pequeno Patrick Hambleton. Tenho certeza de que todo mundo tem uma história pessoal de terror envolvendo segurança em aeroportos. Mas esta é a minha preferida: a da ameaça terrorista contida no leite materno da mãe do Patrick. ENTREVISTA: SUSAN HAMBLETON Em casa Eu pensei, bom, se eu colocar só um pouquinho nos lábios vai ser suficiente, porque obviamente estou experimentando o leite. E ela me olhou e eu senti como se estivesse dizendo: "Beba mais". E ela continua: "Não, você tem de beber mais". E, de uma mamadeira de 250 ml, acabei bebendo mais da metade de leite materno. E, como eu tinha colocado a boca na mamadeira, precisei jogar todo o leite fora. NARRADOR Cenas de segurança em ação em aeroportos Enquanto o Departamento de Segurança Nacional garantia que não entrasse leite materno nos aviões, também fazia todo o possível para garantir que ninguém pudesse detonar uma bomba a bordo. MULHER Despeja cinco caixas de fósforos e dois isqueiros no contêiner de segurança do aeroporto.
Posso levar isso no avião? SEGURANÇA DO AEROPORTO Na verdade, pode. É, tudo bem. Ooops... uma caixa de fósforos a mais. Você pode levar quatro caixas de fósforos e dois isqueiros. ENTREVISTA: SENADOR BYRON DORGAN (DEMOCRATA, DAKOTA DO NORTE), SUBCOMITÊ DE AVIAÇÃO DO SENADO Quando já tínhamos passado pela experiência de Richard Reid, o homem do sapato-bomba, que com seu sapato-bomba poderia ter explodido um avião se tivesse um isqueiro a gás, de acordo com o FBI, por que a Agência de Segurança de Transportes diz que está tudo bem, que você pode levar quatro caixas de fósforos e dois isqueiros a gás no bolso ao embarcar em um avião? Cenas de fabricação de cigarros - com a palavra "ALGUÉM" piscando sobre elas Acho que alguém pressionou os caras para dizer, você sabe, "Quando o avião pousa, as pessoas querem acender os seus cigarros rapidinho, então não tirem os isqueiros delas". NARRADOR Trechos de várias reportagens. OK, vamos ver se entendi direito... Velhinhos na academia, mau. Grupos pacifistas em Fresno, mau. Leite materno, muito mau. Mas fósforos e isqueiros no avião? Ah, tudo bem, sem problemas! Tudo isso tinha mesmo a ver com a nossa segurança? Ou havia alguma coisa mais?
NARRADOR Plano exibe a faixa costeira do Oregon. É aqui que o oceano Pacífico se encontra com a costa do Oregon. Uma linda faixa litorânea que se estende por mais de 160 quilômetros em nossa fronteira. E, graças a cortes no orçamento, sabe qual o número total de guardas estaduais protegendo isso tudo? Um. (imagem de patrulheiro solitário) E só por meio expediente. Conheça o patrulheiro Brooks. ENTREVISTA: PATRULHEIRO JOSHUA BROOKS Às vezes eu consigo passar por este trecho da estrada durante o expediente. Uma, talvez duas vezes por semana. Sabe, só dirigir até aqui para dar uma olhada. Quer dizer... Até onde eu sei, qualquer um poderia... Tem um monte de coisas que qualquer um poderia fazer por aqui. Não gosto nem de pensar, me deixa doente. NARRADOR Na central da Guarda Estadual, por causa de cortes no orçamento, o patrulheiro Kenyon teve de vir trabalhar em seu dia de folga para colocar a papelada em dia. ENTREVISTA: PATRULHEIRO ANDY KENYON Na Central, que está fechada. Na maioria das vezes, especialmente durante o verão, quando as pessoas aparecem aqui é exatamente isso o que encontram. A porta está fechada. Elas lêem um aviso explicando que, por causa dos cortes, nossa central não está aberta para atendimento ao público. Um outro aviso pequenininho aqui embaixo explica que, quando a central está fechada, as pessoas devem usar a cabine telefônica para entrar em contato conosco. A ironia final é que o telefone é uma droga, não funciona bem. Quando alguém tenta
usá-lo para falar com a gente, na metade das vezes não consegue escutar nada por causa da estática. Na terça-feira não teremos ninguém para fazer patrulha. Na quarta-feira não haverá ninguém na patrulha. Na quinta-feira também não haverá ninguém na patrulha. Recebemos ligações o tempo todo, de pessoas relatando ter visto um carro estranho ou gente com aparência suspeita, essas coisas... E eu praticamente já não atendo ninguém, porque simplesmente não tenho tempo para isso. Outro dia fiz a seguinte pergunta: quantas pessoas nós temos em serviço aqui no estado do Oregon hoje à noite? Nós tínhamos oito patrulheiros trabalhando... no estado inteiro. Acho que o Oregon é um exemplo vivo de que a segurança nacional não é lá tão eficiente quanto a população gostaria que fosse. PATRULHEIRO JOSHUA BROOKS Ninguém me mandou nenhum manual explicando o que devo fazer para apanhar um terrorista. Se eu tivesse um manual desses, leria. Mas não tenho. Então... É isso aí. NARRADOR Cenas de patrulheiros em serviço. É claro que a administração Bush não distribuiu nenhum manual explicando como lidar com a ameaça terrorista, porque seu problema não era a ameaça terrorista. Eles só queriam que nós ficássemos apavorados a ponto de não perceber quais eram os seus verdadeiros planos. Trechos de noticiário: imagens de navio sendo carregado com ogivas são intercaladas com imagens de Bush - o presidente é maquiado em sua mesa momentos antes de falar à nação pela TV.
VOZ DE MULHER Fora do plano, diz a Bush que faltam quatro minutos para o início do discurso de 19 de março de 2003. Quatro minutos. MULHER Fora do plano - com mais imagens de carregamento de ogivas. Três minutos. MULHER Fora do plano com imagens de porta-aviões em preparação para combate e de Bush fazendo caretas antes de entrar no ar ao vivo. Trinta segundos. MULHER Fora do plano - Bush se mostra pouco à vontade durante a contagem regressiva. Quinze segundos. Dez, nove, oito, sete... MULHER Fora do plano Seis... Cinco... Quatro... Três... Dois... Um... Discurso na TV. GEORGE W. BUSH Meus caros compatriotas...
Corta para cenas de Bagdá em março de 2003 [pouco antes da guerra] - crianças brincando, casamentos, pessoas rindo etc. GEORGE W. BUSH Enquanto são mostradas cenas [pacíficas] do Iraque no início de 2003. Neste momento, as forças americanas e da coalizão estão nos estágios iniciais da operação militar que tem por objetivo desarmar o Iraque, libertar seu povo e defender o mundo de um grave perigo. Sob meu comando, as forças de coalizão começaram a atacar alvos militares selecionados e estratégicos para minar o poderio bélico de Saddam Hussein. (no momento em que fortes explosões atingem toda a extensão de Bagdá) NARRADOR Em meio a cenas do bombardeio maciço dos EUA contra Bagdá [a operação denominada "choque e pavor"]. No dia 19 de março de 2003, George W. Bush e as Forças Armadas dos Estados Unidos invadiram a nação soberana do Iraque - uma nação que jamais havia atacado os Estados Unidos. Uma nação que jamais havia ameaçado atacar os Estados Unidos. Uma nação que jamais havia assassinado um único cidadão norteamericano. Trecho do noticiário: iraquiano segura um bebê morto à frente de uma caminhonete cheia de cadáveres de iraquianos. ENTREVISTA TRADUZIDA Qual foi o crime deste bebê? Ele ia enfrentar os soldados?
Covardes! Eu saí com um bastão e falei para o soldado me acertar. Eu juro pelo Alcorão. Aqueles que não temem a morte não morrem. ENTREVISTA: JOVEM IRAQUlANO ESCAVA DESTROÇOS Acabamos de achar este... pedaço do corpo da minha vizinha, uma garota, tinha 20 anos, Shams. Acho que é outra parte do corpo dela. É só isso.
ENTREVISTA: SOLDADO AMERICANO EM RUA DO IRAQUE Nós matamos muitos civis inocentes. Eu acho que é porque... O Exército americano, sabe... Nós entramos aqui sabendo que não ia ser fácil. Então, no começo, atirávamos em qualquer coisa que se movesse. ENTREVISTA: SOLDADO AMERICANO EM RUA DO IRAQUE Quando há uma guerra, quando o combate começa, sabe... Você fica ligadão, muito motivado, pronto para lutar. ENTREVISTA:SOLDADO AMERICANO EM RUA DO IRAQUE É o máximo. Você sabe que vai entrar em combate, põe uma música para tocar... Aí fica em ponto de bala. Pronto para fazer o que tem de fazer. Dois soldados americanos em um tanque. Dá para ligar o aparelho de CD no sistema de comunicação interna do tanque... Assim dá para ouvir música quando colocamos o capacete.
SOLDADO NO TANQUE Esta é a que mais ouvimos. É com esta que viajamos e matamos o inimigo. É [a banda] Drowning Pool, "Let the Bodies Hit the Floor" ["Deixe os corpos pelo chão”]. É perfeita para o trabalho que estamos fazendo aqui.. Cenas: civis iraquianos mortos ou mutilados. SOLDADO Nós escolhemos, ahn... "The Roof is on Fire" ["O telhado está em chamas"], porque... Basicamente porque simbolizava Bagdá em chamas, e... Naquele momento queríamos que a cidade inteira queimasse para tirar Saddam da toca e derrubar seu governo. O mesmo soldado canta para a câmera. "The roof, the roof, the roof is on fire / We don't need no water / Let the motherfucker burn / Burn motherfucker, burn..." ["O telhado, o telhado, o telhado está em chamas / Não queremos água / Deixe o desgraçado queimar / Queime, desgraçado, queime" - a música é "Fire Water Burn", da banda Bloodhound Gang] Cenas de Bagdá em chamas. "We don't need no water, let the motherfucker burn, burn motherfucker, burn..." SOLDADO Na rua, com aparência assustada.
O cenário aqui é totalmente diferente. Entramos na cidade, em uma guerra urbana, de tanque, sabe... Civis... Tanques rodam pelas ruas de Bagdá. SOLDADO Enquanto iraquiano é levado por soldados. É, os civis, você... SOLDADO Garotinho iraquiano chora. Você não sabe quem é amigo, quem é inimigo... SOLDADO Uma criança que teve o braço esquerdo destroçado é operada em uma mesa de cirurgia. Isso aqui é muito mais real, muito mais forte do que um videogame. Alguns achavam que a coisa ia ser fácil, tipo... "Ah, é só fazer mira e atirar!". De jeito nenhum. Muitas vezes o negócio é cara a cara. E, especialmente quando você vê... Depois que as bombas explodem, você vê toda aquela gente apodrecendo pela rua (imagem de corpo de iraquiano apodrecendo), e tem aquele cheiro em toda parte, sabe, o cheiro das pessoas no chão, mortas, apodrecendo... É horripilante, muito mais do que as pessoas imaginam. (imagem de cadáver ensangüentado sendo transportado em uma maca) SOLDADO Mulheres e crianças em hospital, com os rostos desfigurados por napalm.
Nós entramos usamos artilharia e napalm... Algumas mulheres e crianças inocentes foram atingidas. Nós os encontramos na estrada, havia menininhas sem nariz... Havia maridos carregando as mulheres mortas, esse tipo de coisa. Foi extremamente difícil lidar com isso. Porque, sabe, você fica se perguntando: "Cara, o que é que a gente fez?". Trechos de noticiário. DONALD RUMSFELD Imagem intercalada com cenas de bombardeio intenso. Nossa eficiência no acerto de alvos e o cuidado que tomamos ao selecionar esses alvos são notáveis, como qualquer um pode ver. (bebê iraquiano tem a cabeça suturada sem anestesia) Gravação noturna mostra soldado matando iraquiano na rua - só áudio. SOLDADO Peguei um. Ótimo. Pega o outro, o segundo. DONALD RUMSFELD Tomamos todos os cuidados, agimos com senso de humanidade. Trechos de noticiário MULHER IRAQUlANA Em meio a destroços – histérica. TRADUÇÃO Eles não têm consciência! Eles não sabem nada!
Eles massacraram a gente! Eles destruíram as nossas casas! Deus vai destruir as casas deles! Deus é grande! Deus, destrua as casas deles! Que vença o lraque! REPÓRTER DA REDE DE TV AL JAZIRA Fora do plano. Então eles mataram civis? MULHER IRAQUlANA Sim, civis! Esta é a casa de nosso tio! Somos todos civis. Não existe milícia aqui. Rezo a Deus para que nos vingue! Só posso contar com você, Deus! Já enterramos cinco por causa dos bombardeios. Meu Deus! Meu Deus! Deus, proteja-nos deles! Onde você está, meu Deus? Onde você está? Entrevista: Britney Spears Mascando chiclete, algo entediada e insolente – em trecho de entrevista a Tucker Carlson, da CNN. Honestamente, acho que precisamos confiar no nosso presidente e em todas as decisões que ele toma. Precisamos apoiar tudo isso e, sabe, ter fé no que vai acontecer.
TUCKER CARLSON Fora do plano. Você confia neste presidente? BRITNEY SPEARS Sim, confio. NARRADOR Cena de Bush subindo à tribuna para o discurso anual sobre o Estado da Nação - é ovacionado. Britney Spears não era a única. A maior parte do povo americano acreditava no seu presidente. E por que não acreditaria? Ele passou quase um ano inteiro oferecendo todas as justificativas possíveis e imagináveis para a invasão ao Iraque. Montagem: trechos de diferentes noticiários. GEORGE W. BUSH Saddam Hussein planejou tudo detalhadamente, gastou montanhas de dinheiro e assumiu riscos enormes para construir e armazenar armas de destruição em massa. COLIN POWELL Saddam Hussein está decidido a conseguir uma bomba nuclear. GEORGE W. BUSH Arma nuclear. Arma nuclear. Arma nuclear.
COLIN POWELL Sobre fotos tiradas por satélite. Depósitos subterrâneos de munição química... Fábricas móveis... GEORGE W. BUSH Sabemos que ele tem armas químicas. GEORGE W. BUSH Ele tem. Ele tem. Ele tem. NARRADOR Imagem em câmera lenta: Colin Powell falando à imprensa. Hmm... Estranho. Porque não foi era isso o que o pessoal de Bush dizia quando ele assumiu a presidência. COLIN POWELL Entrevista coletiva em fevereiro de 2001. Saddam não conseguiu desenvolver nenhuma estrutura significativa em termos de fabricação de armas de destruição em massa. Ele não tem poder de fogo convencional para atacar os países vizinhos. Trecho de noticiário. CONDOLEEZZA RICE Em julho de 2001.
Nós conseguimos manter as armas longe das mãos dele. Seu poder militar não foi reconstruído. GEORGE W. BUSH No discurso sobre o Estado da Nação. Saddam Hussein auxilia e protege terroristas, inclusive membros da Al-Qaeda. DICK CHENEY Entrevistado no programa Meet the Press. Havia uma relação entre o Iraque e a Al-Qaeda. Montagem de trechos de vários noticiários: George W. Bush repete seu bordão. Saddam. Al-Qaeda. Saddam. Al-Qaeda. Saddam. A Al-Qaeda. Saddam. Saddam. Saddam, Al-Qaeda. DONALD RUMSFELD Em depoimento ao Congresso. É só uma questão de tempo até que Estados terroristas desenvolvam os meios necessários para atacar as cidades dos Estados Unidos com suas armas de destruição em massa.
COLIN POWELL Na ONU O que estamos mostrando a vocês são fatos e conclusões baseados em um rigoroso trabalho dos serviços de inteligência. Mapas indicam suposta localização de arsenais no Iraque. GEORGE W. BUSH Em diversos pronunciamentos. Ele é um homem que odeia os Estados Unidos. É um homem que não suporta o que defendemos. Está disposto a agir pessoalmente como terrorista. Ele odeia, assim como a Al-Qaeda odeia, o nosso amor à liberdade. É o cara, afinal de contas, que já tentou matar o meu pai. ENTREVISTA: DEPUTADO JIM MCDERMOTT Eles simplesmente levaram as pessoas a acreditar que havia uma ameaça real, e a verdade é que não havia. DONALD RUMSFELD Entrevista no Pentágono. Todos os dias nos dizem coisas que acabam não acontecendo. As pessoas não parecem aborrecidas com isso. NARRADOR Sessão no Senado.
Os democratas, naturalmente, estavam a postos para pôr um fim a todas essas mentiras. SENADOR TOM DASCHLE DEMOCRATA NO SENADO) Discursando durante a sessão.
(DAKOTA
DO
SUL,
LÍDER
Eu voto a favor da concessão de toda a autoridade necessária ao presidente. COLlN POWELL Em depoimento. Os Estados Unidos estão dispostos a liderar uma Coalizão da Boa Vontade. GEORGE W. BUSH Falando a jornalistas. REPÓRTER Fora do plano. Neste momento, quais são os integrantes da Coalizão da Boa Vontade...? GEORGE W. BUSH Algo irritado com a pergunta. Vocês já vão descobrir quem está na Coalizão da Boa Vontade. LOCUTOR Mapas e imagens de cada país mencionado.
A Coalizão da Boa Vontade... Chamada geral! Jovens dançam a hula. A República do Palau! Homem conduz carro de bois. A República da Costa Rica! Trecho de filme em preto-e-branco: navio viking. A República da Islândia. NARRADOR O problema é que nenhum desses países tem exército. Por causa disso, claro, também não tem armamentos. Então... Parece que o negócio da invasão vai ficar mesmo por nossa conta. Mas também havia... LOCUTOR Trecho de filme em preto-e-branco: vampiro se levanta da tumba. Quando eu digo que vamos liderar uma Coalizão da Boa Vontade para desarmar Saddam se ele decidir manter suas armas, estou falando sério. A Romênia! Apresentação de músicos típicos. O Reino de Marrocos! NARRADOR
Imagens de encantador de serpentes e de macacos selvagens correndo pelo mato. Marrocos não era oficialmente membro da coalizão. Mas, segundo algumas informações, eles prometeram mandar dois mil macacos para ajudar a detonar minas terrestres. GEORGE W. BUSH Estes são homens de visão. LOCUTOR Homem acende um cachimbo enorme. Países Baixos. GEORGE W. BUSH Macacos em mesa de reunião. E eu tenho orgulho... Tenho orgulho de chamá-los de meus aliados. LOCUTOR Afeganistão! NARRADOR Imagens de soldados americanos no Afeganistão. Afeganistão? Ah, claro! Eles tinham um exército... O nosso exército! Sem dúvida, é uma maneira de construir uma coalizão basta continuar invadindo países. Sim. Com nossa poderosa coalizão formada, estávamos prontos. DONALD RUMSFELD Dá até para dizer que esta é a mãe de todas as coalizões.
CORO MILITAR Na FOX NEWS (Cantando) América, América... NARRADOR Felizmente, nosso país tem uma imprensa independente que ia nos contar toda a verdade. Montagem de trechos de diversos noticiários – jornalistas se mostram tendenciosos. SHEPHARD SMITH (ÂNCORA DA FOX NEWS) A união em torno do presidente, da bandeira e dos soldados evidentemente começou. SOLDADO Na FOX NEWS. E nós vamos vencer! LINDA VESTER (ÂNCORA DA FOX NEWS) Realmente, você precisa estar ao lado dos soldados para sentir toda a adrenalina neles. KATIE COURIC (APRESENTADORA DO PROGRAMA TODAY, DA NBC) Quero que vocês saibam: os SEALS [tropa de elite da Marinha dos EUA] são demais! REPÓRTER DA CNN
As imagens que vocês estão vendo são simplesmente fantásticas. DAN RATHER (ÂNCORA DA CBS NEWS) Quando o meu país está em guerra, eu quero que ele vença. PETER JENNINGS (ÂNCORA DO ABC NEWS) A oposição iraquiana desapareceu diante do poder americano. REPÓRTER O que vocês estão vendo aqui é verdadeiramente histórico para o jornalismo e para a televisão. REPÓRTER DA CNN Foi eletrizante... Eles tiveram de me prender na parte traseira do avião com a câmera... TED KOPPEL (ÂNCORA DO PROGRAMA NIGHTLINE, ABC NEWS) ... É uma impressionante máquina sincronizada para matar. DAN RATHER Existe uma tendência natural à parcialidade na cobertura da imprensa americana... NEIL CAVUTO (APRESENTADOR DA FOX NEWS) Eu sou tendencioso e parcial? Pode apostar que sim! NARRADOR Cenas: soldados rezam por companheiros mortos; caixões; enterros. Mas havia uma história que a imprensa não estava cobrindo - a história pessoal dos soldados mortos na guerra. O governo não permitia a filmagem dos caixões sendo embarcados de volta para
casa. É o tipo de notícia que baixa o astral, especialmente quando você se prepara para dar uma grande festa em um navio. MÚSICA Cenas: Bush voando em jato a caminho de um porta-aviões, confraternização com soldados. "Believe It or Not", tema do filme The Greatest American Hero Look at what's happened to me I can't believe it myself Suddenly l'm on top of the world Believe it or not l'm walking on air I never thought I could feel so free Flying away on a wing and a prayer Who could it be? Believe it or not it's just me. [Veja o que me aconteceu / Mal posso acreditar / De repente, estou por cima / Acredite ou não, estou andando nas nuvens / Nunca pensei que pudesse me sentir tão livre / Voando com uma prece / Quem mais podia ser? / Acredite se quiser, sou eu]. GEORGE W. BUSH Em porta-aviões, tendo ao fundo a inscrição "Missão cumprida". Meus caros compatriotas, os combates mais intensos no Iraque chegaram ao fim, Na batalha do Iraque, os Estados Unidos e seus aliados triunfaram. Cenas gravadas no Iraque: bomba explode perto de um grupo de soldados - vítimas americanas são colocadas em caminhões - caos - soldados gritando.
SOLDADOS Quase inaudíveis, ao fundo. Saiam do caminho... Vamos... Evacuar... Evacuar... Evacuar... Evacuar... Evacuar... Pega outro ... Vamos, cara... Vamos lá, cara... Agüenta firme... Agüenta firme, cara. Trechos de vários noticiários, sobre imagens do cemitério de Arlington. REPÓRTER Já são 162 os soldados mortos pelo inimigo. REPÓRTER 244 soldados americanos... REPÓRTER 384 soldados americanos perderam a vida... REPÓRTER Número total de mortos: 484. REPÓRTER 500 morreram no cumprimento do dever. REPÓRTER 631 soldados americanos. REPÓRTER HAROLD MOSS Mais de 825 soldados foram mortos no Iraque. REPÓRTER É o maior número de soldados americanos mortos desde a guerra do Vietnã.
GEORGE W. BUSH Durante entrevista coletiva na Casa Branca. Algumas pessoas acham que, se nos atacarem, vão nos obrigar a deixar o Iraque antes da hora. Elas não sabem o que estão dizendo. Quero concluir. Alguns acham que têm condições favoráveis e que podem nos atacar lá. Minha resposta para essa gente é: "Podem vir. Experimentem" . Imagens: corpos mutilados de soldados americanos mortos em Fallujah - agredidos com pedaços de pau, arrastados por automóveis, pendurados em uma ponte. ENTREVISTA: SOLDADO AMERICANO Os Estados Unidos pensaram que entrar e andar por aqui ia ser um passeio. Mas não é tão fácil conquistar um país. Não é? (cenas: iraquianos marchando pelas ruas)
DAN RATHER A nova batalha pelo controle do Iraque prosseguiu hoje violentamente, pelo quarto dia seguido, com confrontos de rua em quase todos os pontos do país. O Iraque pode se transformar... em um novo Vietnã? REPÓRTER Imagens: homens armados em ruas iraquianas. Segundo funcionários do governo, há sinais de que extremistas sunitas e xiitas estão unindo suas forças no, sul do país.
GEORGE W. BUSH Durante entrevista coletiva. Os iraquianos não estão felizes com a ocupação. Eu também não estaria. MÚSICA Combatentes iraquianos marcham carregando armas. "FIRE BURN WATER" Everybody here we go - ooh ooh Come on party people - ooh ooh Throw your hands in the air - ooh ooh Come on party people - ooh ooh (Pessoal, aí vamos nós/ Entrem na festa/ Mãos para o alto/ Entrem na festa). REPÓRTER Sobre imagens de civis japoneses seqüestrados sendo ameaçados com facas no pescoço. Três civis japoneses - dois ativistas humanitários e um jornalista foram seqüestrados por grupo autodenominado Esquadrão Mujahadin. Eles ameaçam queimar os reféns vivos caso o Japão não retire suas tropas do Iraque no prazo de três dias. Trechos de noticiário: o norte-americano Thomas Hamill é exibido por seus seqüestradores; o comboio em que ele viajava aparece em chamas na estrada. REPÓRTER O que aconteceu?
THOMAS HAMILL (EMPREGADO DA HALLIBURTON) Eles atacaram o nosso comboio. REPÓRTER Você pode nos dizer o seu nome? REFÉM Hamill. Thomas. REPÓRTER DA CBS O Pentágono pode estender o tempo de permanência de até 24 mil soldados que estão combatendo no Iraque. ENTREVISTA: SOLDADO Sei que o número de alistamentos caiu. Estão falando em manter a gente aqui por mais tempo... ENTREVISTA: SOLDADO Nunca pensei que ia ficar tanto tempo aqui. Acho que ninguém esperava isso. SOLDADO Não sei por que é que ainda estamos no Iraque. Não faço a menor idéia. SOLDADO Cercado por outros soldados. Se o Donald Rumsfeld estivesse aqui, mandava ele pedir demissão. NARRADOR Combates em Bagdá.
A guerra não está saindo conforme o planejado, os militares precisam de mais e mais tropas... Onde é que vão achar novos recrutas? BILL PLANTE (REPÓRTER DA CBS) Especialistas em questões militares afirmam que, para pacificar e reconstruir o país, será preciso triplicar o contingente de soldados americanos no Iraque. Atualmente, há cerca de 120 mil homens no país. NARRADOR Imagens de áreas miseráveis do centro de Flint, em Michigan. Esses recrutas podiam ser encontrados por toda a América. Nos lugares devastados pela economia. Lugares nos quais o alistamento no Exército é um dos únicos empregos que existem. Lugares como a minha cidade natal: Flint, no estado de Michigan. Entrevista com um grupo de jovens negros em academia de ginástica de Flint. ENTREVISTA: TORIAN BILLINGS Outro dia, na TV, mostraram alguns prédios e áreas que foram bombardeados e coisa e tal. Eu vi aquilo e fiquei pensando que aqui em Flint existem lugares parecidos, mas nós não passamos por uma guerra. Bairro semi-abandonado em Flint ENTREVISTA: GREGORY FITCH
Este é o bairro onde eu moro. Agora está quase todo abandonado. Quer saber? Isso não está certo, Querem falar de terrorismo? Venham para cá, Presidente Bush, venha até aqui. Bem aqui. Ele sabe o que está acontecendo neste pedaço. Eu mandei um e-mail para ele. Escritório da agência de empregos Carrer Alliance, Flint, Michigan. LILA LIPSCOMB (ASSISTENTE EXECUTIVA DA AGÊNCIA CAREER ALLIANCE) No fim de janeiro de 2004, a taxa de desemprego chegava a 17%. Mas é preciso levar em conta que, quando termina o segurodesemprego, você deixa de ser contado. Eu diria que a taxa está hoje em cerca de 50%. De desempregados ou subempregados. Estar subempregado é tão ruim quanto não ter emprego. Minha família passou pelo sistema. Em meados dos anos 80, eu participei de um programa de treinamento profissionalizante e estudei secretariado. Hoje sou a assistente executiva do presidente da agência. Interessante, não? Minha mãe costumava me perguntar: "Por que você tem sempre de estar do lado dos pobres-diabos?" Bom, porque são eles que precisam de mim. Tenho de lutar é pelas pessoas que não têm nada. E é por elas que eu tenho lutado a minha vida inteira. Eu comecei a falar para meus filhos: "O Exército é uma boa opção. Não tenho dinheiro para pagar faculdade para vocês". Então eu, como mãe, comecei a explicar os benefícios que eles teriam no Exército, que poderiam viajar e ver o mundo, coisas que eu não teria como pagar. E o Exército pagaria os estudos deles, já que sua mãe e seu pai não teriam como. MICHAEL MOORE O Exército é uma boa opção para os jovens de Flint?
LILA LIPSCOMB O Exército é uma excelente opção para as pessoas numa cidade como Flint. Interior da academia de ginástica - grupo de jovens negros. MICHAEL MOORE Quantos de vocês têm amigos ou parentes no serviço militar? (quase todo mundo levanta a mão). Tem alguém atualmente servindo no exterior? MARTRES BROWN Tenho um irmão. ADRIAN WALKER Meu primo. ESTUDANTE Fora do plano Meu irmão. MICHAEL MOORE Onde está o seu irmão? MARTRES BROWN No Iraque. ADRIAN WALKER Na Alemanha. JORDAN POLK
Meu primo embarcou para o Iraque faz uns três dias. TORIAN BILLINGS Quase toda semana aparecem uns recrutadores do Exército, da Marinha e dos fuzileiros por aqui, no refeitório... recrutando estudantes no refeitório. ANÚNCIO DE RECRUTAMENTO DO EXÉRCITO Animação e música estridentes, ao estilo dos videogames. Algumas pessoas têm uma vocação. A maioria serve um fim de semana por mês e duas semanas por ano. Ganhe dinheiro para a faculdade. Proteja a sua comunidade. Na Guarda Nacional do Exército, você pode fazer tudo isso! ENTREVISTA: RANDY SUTTON Eu mesmo vou me alistar na Força Aérea. Vou terminar o colegial. Vou tirar um ano quando me formar no colégio, depois vou me alistar e fazer carreira. Quero ser técnico em manutenção de aeronaves. ENTREVISTA: HARRY WILLIAMS Eu conheci um recrutador e reparei numa coisa interessante... Meio estranha. Parecia que ele estava me contratando para um trabalho, não para me alistar no Exército. Foi assim que ele me abordou. Também abordou um amigo meu. Eu estava numa loja, o cara chegou com seu cartão de visitas. Um cartão de visitas do Exército. NARRADOR Dupla de fuzileiros navais em busca de recrutas em Flint. Estes são os sargentos Dale Kortman e Raymond Plouhar, do Corpo de Fuzileiros Navais - dois dos muitos recrutadores
designados para trabalhar em Flint, Michigan. Eles andam muito ocupados. SARGENTO RAYMOND PLOUHAR No carro, falando sobre uma pessoa na rua. Olha lá, ele já saiu correndo... Ele viu a gente. SARGENTO DALE KORTMAN No carro, falando sobre um jovem negro que passa na frente deles. Olha este aqui. Membro de gangue, com certeza. SARGENTO RAYMOND PLOUHAR Agora estamos indo para o shopping Courtland. NARRADOR Seguindo o carro dos fuzileiros. Eles decidiram evitar os centros comerciais das áreas mais ricas. É difícil encontraram jovens para recrutar por lá. Então, seguiram para outro shopping. SARGENTO DALE KORTMAN Montando sua estratégia de ataque. Vamos entrar aqui... SARGENTO RAYMOND PLOUHAR Por aqui.. SARGENTO DALE KORTMAN Depois seguimos em frente... SARGENTO RAYMOND PLOUHAR
Em frente... SARGENTO DALE KORTMAN ... Aí damos a volta e seguimos até... Fora do carro, eles abordam os dois primeiros candidatos. SARGENTO DALE KORTMAN Cavalheiros! Sabem que andamos à procura de vocês, não sabem? Vocês nunca pensaram em se alistar? JOHN KINGSTON Eu quero ir para a faculdade e jogar basquete. SARGENTO DALE KORTMAN Certo, certo. Você é bom? JOHN KINGSTON Sou. Especialmente no basquete. SARGENTO DALE KORTMAN Ótimo. Você também pode jogar com os fuzileiros, sabe? Viajar pelo mundo jogando no time de basquete dos fuzileiros. E... David Robinson [famoso jogados da NBA] também esteve nas Forças Armadas... JOHN KINGSTON Ah, é? SARGENTO DALE KORTMAN Então, você também pode servir.
ENTREVISTA: SARGENTO RAYMOND PLOUHAR Fala para a câmera. Tem muita gente por aí que gostaria de entrar para os fuzileiros, mas não sabe como. SARGENTO DALE KORTMAN Fala com outro candidato a recruta. Onde você trabalha? MONTLEY BOWLES Trabalho no Kentucky Fried Chichen. SARGENTO DALE KORTMAN Legal! MONTREY BOWLES Na esquina das ruas Dort e Lapeer. SARGENTO DALE KORTMAN Você pode dar um desconto para a gente. MONTLEY BOWLES Ok. ENTREVISTA: SARGENTO RAYMOND PLOUHAR Fala para a câmera. Eles estão loucos para se alistar. MONTREY BOWLES
Não sei, estou pensando em fazer carreira como músico ou coisa assim. SARGENTO DALE KORTMAN Você quer ser músico? Talvez os fuzileiros possam ajudar você a seguir a carreira de músico. Você dever conhecer o [músico] Shaggy, não? MONTREY BOWLES Conheço. SARGENTO DALE KORTMAN Sabe alguma coisa sobre ele? MONTREY BOWLES Sei. Ele é... Ahn, jamaicano, coisa assim. SARGENTO DALE KORTMAN É. MONTREY BOWLES É. SARGENTO DALE KORTMAN E você sabia que ele foi fuzileiro? Sabia? Definitivamente, você tem de aprender a ter disciplina para entrar no ramo da música. MONTREY BOWLES É, sei disso. SARGENTO DALE KORTMAN Precisa ter disciplina principalmente com o seu dinheiro. Se ganhar um milhão, precisa saber administrar esse dinheiro. Então, venha
ao meu escritório. A gente pode sentar e conversar. Mostraremos a você tudo sobre os fuzileiros. Gosta da idéia? SARGENTO RAYMOND PLOUHAR O que vocês vão fazer hoje à tarde? E amanhã? Vamos combinar amanhã às dez da manhã? MONTREY BOWLES Tá, para mim está ótimo. SARGENTO RAYMOND PLOUHAR Você quer que a gente passe para te pegar? ENTREVISTA: SARGENTO RAYMOND PLOUHAR Fala para a câmera. É melhor pegá-los quando estão sozinhos ou em dupla. E convencê-los no caminho, SARGENTO DALE KORTMAN Senhoritas, não gostariam de se alistar? Olha... Tem um atrás de você. Ele é jovem. SARGENTO RAYMOND PLOUHAR É... SARGENTO DALE KORTMAN Analisando possíveis candidatos. Tem dois ali. Bem ali ao lado da van vermelha. Você vai por esse lado e eu vou pelo outro. A gente cerca eles.
Falando com um garoto Você está no primeiro colegial? GAROTO Sim, senhor. SARGENTO DALE KORTMAN Rapaz, você parece mais velho, então... GAROTO Sim, senhor. SARGENTO DALE KORTMAN Tudo bem. Fique com o meu cartão. SARGENTO RAYMOND PLOUHAR A um jovem que está entrando no shopping com sua esposa e o bebê. Você alguma vez já pensou em ser fuzileiro? CLIFFTON E. WALKER Ahn... Já pensei nisso, Mas agora tenho mulher e filho, então... SARGENTO RAYMOND PLOUHAR Mais um motivo para se alistar. SARGENTO DALE KORTMAN A um jovem negro que disse não estar interessado em se alistar. Garoto, eu só quero algumas informações a seu respeito, bem rápido, antes de poder riscar você da minha lista, para lembrar que
já falei com você e que você não está interessado. Tudo bem? Qual é o seu nome? Telefone? Qual o seu endereço, Mario? Mais um para a lista. Entrevista na academia. MARTRES BROWN Claro que qualquer um adoraria ter a chance de ir para a faculdade. Mas muitos jovens podem fazer isso sem precisar arriscar a vida, para falar claramente. Iraque, véspera de Natal de 2003 - no posto de comando, soldados se preparam para uma incursão noturna. ENTREVISTA: SOLDADO NO COMANDO OS feriados são um pouco mais tensos do que os dias normais. Gostaríamos de dar ao pessoal uma folga para relaxar. Mas estamos em uma zona de combate, meus soldados entendem isso. SOLDADO Mostra nervosismo antes da incursão. Acho que todo mundo aqui está um pouco nervoso. Mas... SOLDADO Soldado mais velho atrás do primeiro - ironiza o medo do outro. Somos profissionais. Vamos cuidar de você. Prometo. Gargalhadas fora do plano. SOLDADO
Aqui toda casa tem o direito de possuir armas. No máximo – perdão um AK-47, Nossa suposição sempre é a de que nossos alvos estão armados. SOLDADO Pronto para sair - engatilha a arma. É hora do show. DOIS SOLDADOS Exibem suas armas para a incursão. Porra, ele tudo para sair arrebentando portas. Estoura essa aqui... MÚSICA Soldados nos tanques em patrulha noturna "SANTA CLAUS IS COMING TO TOWN" You better watch out, you better not cry You better not pout, I'm telling you why. Why? Santa Claus is coming to town. Gather round. He's making a list, checking it twice. Gonna find out who's naughty and nice Santa Claus is coming to town. He sees when you are sleeping. He knows when you 're awake. He knows when you've been bad or good So be good for goodness sake You better watch out.
[É melhor você se comportar / Não chore / Melhor não fazer cara feia / Vou te contar por quê / Papai Noel está chegando à cidade / Prepare-se / Ele está fazendo uma lista / Vai conferir duas vezes / Vai descobrir quem se comportou bem e quem se comportou mal / Papai Noel está chegando à cidade. / Ele sabe quando você está dormindo / E sabe quando está acordado / Ele sabe se você foi bom ou mau / Então, seja bonzinho / Para seu próprio bem / É melhor tomar cuidado] Soldados chutam a porta de uma casa em Bagdá. SOLDADO Cadê o cara? Ei, espera aí. SOLDADO Fala ao intérprete - quer saber aonde está indo uma mulher iraquiana idosa. Não, não, não... Aonde ela vai? MULHER Vou atrás dela? SOLDADO Aonde ela vai? MULHER Vai telefonar para ele. SOLDADO Caos na casa às escuras - ouvem-se vozes, confusão.
Ela vai telefonar para ele? Não, não, não, não, não... Onde é que ele está agora? Não no telefone... Ele está na casa? Ele está na casa? Está? Ele está na casa? Onde? SOLDADO Vamos! Segundo andar! Segundo andar! SOLDADO Cuidado, cuidado! SOLDADO Vai, vai, vai! SOLDADO Cuidado, Adele. Cuidado. Cuidado! SOLDADO Lá vem um! SOLDADO Mantém um jovem iraquiano no chão com luz de lanterna na cara. Ele é o al Douri? Este é Suheib aI Douri? Suheib al Douri. Qual é o seu nome? HOMEM Suheib. Suheib. SOLDADO Este é o Suheib? MULHER IRAQUlANA (Sua fala aparece em legendas).
O que ele fez? É só um estudante. SOLDADO Calma, fique calma, por favor. SOLDADO Certo... Para o telhado. SOLDADO Nós agradecemos a colaboração. SOLDADO Este é o alvo. SOLDADO Vamos trazer ele aqui... SOLDADO Vai! SOLDADO Saia! ENTREVISTA: SOLDADO NO POSTO DE COMANDO Nós precisamos... Como diz o velho ditado, conquistar os corações e as mentes das pessoas. Esse é o nosso trabalho. Nós temos de... Trazer os ideais de democracia e de liberdade ao país e mostrar a eles que os americanos não estão aqui para... para governar o Iraque. MULHER IRAQUlANA
De volta ao apartamento - incursão na noite no sofá - garotinha está chorando de medo. (Fala aparece em legendas) Não tenha medo. Ele não vai te bater. a que ele fez? Por que não nos dizem? Deus nos proteja, o que ele fez? ENTREVISTA: SOLDADO Vamos colher algumas provas aqui. Esse processo leva umas três horas. Por hoje, vai ser isso - e assim termina a véspera de Natal. MÚSICA SANTA CLAUS IS COMING TO TOWN He's making a list, checking it twice. Gonna find out who's naughty and nice. Santa Claus is coming to town. SOLDADO VESTIDO DE PAPAI NOEL Feliz Natal, pessoal, Feliz Natal. Papai Noel veio até o Iraque só por causa de vocês, rapazes. SOLDADO A gente vai manter o céu seguro para você, Papai Noel. Entrevista: casa de Lila Lipscomb em Flint, Michigan - enquanto ela hasteia uma bandeira americana do lado de fora da casa MICHAEL MOORE Você tem orgulho de ser americana?
LILA LIPSCOMB Certamente. Tenho total orgulho de ser americana. Acho que tenho mais orgulho que a média. Quando hasteio minha bandeira, não deixo ela tocar no chão, porque sei que vidas são perdidas e sangue é derramado para que eu possa estar aqui e possa ter essa bandeira. MICHAEL MOORE Certo... Com que freqüência você coloca a bandeira? LILA LIPSCOMB Todo dia, todo santo dia. Comecei quando minha filha estava na operação Tempestade no Deserto [na Guerra do Golfo, em 1991]. Eu colocava essa mesma bandeira na varanda, e as mesmas fitas amarelas, rezando todos os dias para que minha filha voltasse a salvo para casa. E para que os filhos dos outros também voltassem a salvo para casa. MICHAEL MOORE E ela voltou. LILA LIPSCOMB E ela voltou. MICHAEL MOORE Você tem outros parentes que já serviram nas Forças Armadas? LILA LIPSCOMB Claro. Tios, tias, primos, irmãos... meu pai... MICHAEL MOORE A tradição militar na família é forte...
LILA LIPSCOMB Muito forte. Minha família era... Minha família é do tipo que eu considero como uma parte da coluna vertebral dos Estados Unidos. São famílias como a minha, não só a minha, há centenas, milhares de famílias assim, que sustentam este país nas costas. As pessoas me consideram uma democrata conservadora. MICHAEL MOORE É como você se considera? LILA LIPSCOMB Hmm-hmm. É. MICHAEL MOORE É. Este é um grande país. LILA LIPSCOMB É um grande país. É um grande país. Mostra o crucifixo no pescoço. Esta cruz que eu uso no pescoço, não sei se notou, é uma cruz multiculturalista, uma cruz multicolorida. É porque eu acredito que o Deus de todas as pessoas pode assumir muitas cores. E minha família mesmo é uma família multicultural. MICHAEL MOORE Você tem uma filha que entrou nas Forças Armadas? LILA LIPSCOMB Nas Forças Armadas.
MICHAEL MOORE E o seu primogênito está nas Forças Armadas? LILA LIPSCOMB Nas Forças Armadas. MICHAEL MOORE Bom, realmente é um grande presente para este país... LILA LIPSCOM É isso aí. Exatamente. MICHAEL MOORE ... Um grande presente da sua família. LILA LIPSCOM Exatamente. MICHAEL MOORE Hmm-hmm. É. Então, ter um filho nas Forças Armadas... uma coisa para se ter orgulho. LILA LIPSCOMB Foto de Michael Pederson, fardado, em saudação militar. Ah... Você sabe... Ele conseguiu. MICHAEL MOORE Qual a sua reação diante de protestos contra... A Guerra do Golfo ou a Guerra o Vietnã, ou... LILA LIPSCOMB
Cenas de protestos Eu sempre odiei os manifestantes. Sempre odiei. Eles eram como um tapa na minha cara. Era como se estivessem desonrando o meu filho. Eu queimava por dentro de vontade de dizer a eles: ''Vocês não entendem, eles não estão lá porque querem". Mas depois entendi que eles não estavam protestando contra os soldados e sim contra a guerra. Iraque - entrevista com soldado americano Sei que sou um soldado e que estou aqui para fazer um trabalho. Já sou soldado há algum tempo. Quando você vai, faz seu trabalho e vê certas coisas, fica meio desiludido. SOLDADO AMERICANO AO LADO DE UM TANQUE Voz trêmula. O comandante do batalhão tem certeza de que vamos, ahn, ser atacados de algum jeito antes de... (inaudível). Até agora tudo está bastante calmo, não aconteceu muita coisa. Mas sabemos que pode acontecer e provavelmente vai acontecer. SOLDADO AMERICANO NO CAMPO DE BATALHA Eles estão começando a se organizar nos bairros. Muitos garotos começaram a se juntar - bom, não dá para dizer garotos, mas são uns caras de 17, 18 anos, que estão começando a se juntar e odeiam a gente. Por quê? Não sei bem.
NARRADOR
Cenas de prisioneiros iraquianos maltratados pelos americanos – Soldados encapuzados tiram fotos deles. Comportamento imoral gera comportamento imoral. Quando um presidente comete o ato imoral de enviar garotos, que em outra situação poderiam ser bom garotos, para uma guerra baseada em mentiras, é isso o que acontece. SOLDADO Soldados insultam prisioneiros; iraquiano ferido está deitado em uma maca. Ele tem cócegas? Ali Babá ainda está de pau duro. SOLDADO Por que mexeu nele? SOLDADO Ele pôs a mão no pau. ENTREVISTA: SOLDADO NORTE-AMERICANO NO IRAQUE Essa gente atira na gente, nos matam, nos explodem, são capazes de qualquer coisa, e eu não entendo. Estamos tentando ajudar essa gente e parece que eles não querem a nossa ajuda. "Vão embora", dizem. Mas basta alguma coisa dar errado e eles começam a reclamar: "Ah, mas por que vocês não estavam aqui? Por que não fizeram isso ou aquilo?" Sabe, é... Eu odeio este país. SOLDADO AMERICANO NO IRAQUE Você sabe... Sabe... Quando tiro uma vida, sinto que um pedaço da minha alma é destruído. É impossível matar sem matar uma parte de você mesmo.
Capitólio - entrevista com o cabo Abdul Henderson US Marine Corps, que serviu no Iraque. MICHAEL MOORE Se você fosse convocado, voltaria ao Iraque? ABDUL HENDERSON Fardado. Não. MICHAEL MOORE Você não voltaria. ABDUL HENDERSON Não. MICHAEL MOORE E que conseqüências teria de enfrentar por causa disso? ABDUL HENDERSON Passaria um tempo na prisão. É uma das possibilidades. MICHAEL MOORE E você está disposto a correr esse risco? ABDUL HENDERSON Sim. Sim. Eu não vou... Não vou deixar ninguém me mandar de volta para lá para matar outros pobres coitados, especialmente se eles não representam nenhuma ameaça para mim ou para o meu país. Não vou fazer isso.
Imagens de Bush em traje de gala, discursando em um evento para arrecadar fundos. GEORGE W. BUSH É impressionante a turma que está aqui hoje. Os ricos e os mais ricos ainda! Algumas pessoas chamam vocês de elite. Eu os chamo de "minha base". NARRADOR Imagens de Bush, em várias ocasiões, posando com soldados e veteranos de guerra. Enquanto Bush estava ocupado tomando conta de sua "base" e declarando seu amor por nossos soldados, propôs cortar o soldo dos combatentes em 33% e a assistência às suas famílias em 60%. Rejeitou um aumento de 1,3 bilhão de dólares em benefícios para os veteranos, bem como 1,3 bilhão de dólares em assistência médica, fechando sete de seus hospitais. Tentou dobrar o preço dos remédios receitados a veteranos e rejeitou a concessão de benefícios plenos para os reservistas em tempo parcial. Foto e túmulo de Brett Petriken. E quando o sargento Brett Petriken, de Flint, Michigan, foi morto no Iraque, no dia 26 de maio, o Exército enviou seu último pagamento para a família. Com desconto dos últimos cinco dias do mês – os dias em que ele não trabalhou porque tinha morrido. ENTREVISTA: DEPUTADO JIM MCDERMOTT Eles dizem que os veteranos não serão esquecidos, mas muita gente está sendo deixada para trás. Entrevista - Walter Reed Army Medical Hospital
Entrevistas com veteranos feridos em hospital do Exército em Washington. SOLDADO FERIDO (PERDEU AS PERNAS) Não vou dizer que fomos esquecidos. Não, sei que não fomos esquecidos... Mas, se houve falhas? Sim. Sim. Muitos soldados não receberam o tratamento adequado, não foram tratados como mereciam. TEXTO NA TELA Quase 5 mil feridos nos primeiros 13 meses da guerra. SOLDADO FERIDO (PERDEU AS PERNAS) Eles têm uma lista de mortos. Mas não mostram quanta gente foi ferida ou sofreu amputações por causa dos ferimentos. SOLDADO FERIDO Sendo preparado para cirurgia - perdeu as mãos. Cara, eu ainda sinto as mãos... BRIAN WILLIAMS (REPÓRTER DA NBC NEWS) Fora do plano. É? SOLDADO FERIDO ... E a dor é... É como se as minhas mãos estivessem sendo esmagadas por um torno. Mas eles fazem de tudo para ajudar, para aliviar o pior... Assim é mais fácil agüentar. Entrevistas: hospital do Exército no Kentucky.
SOLDADO FERIDO Falando em meio a um grupo de soldados feridos. Fui ferido no final de abril durante uma patrulha em Bagdá. Dois caras emboscaram a gente. Fui ferido, tive nervos afetados, essas coisas. Sinto dores constantes e tomo muita morfina para ajudar a aliviar a dor. Estou... Estou... Sabe, me readaptando, tentando recolocar a vida nos trilhos. Entende o que estou dizendo? Não vou poder fazer as coisas como fazia antes. Fui republicano durante uns bons anos... Por algum motivo, os republicanos, eles... Eles fazem as coisas de um jeito desonesto. Quando eu sair daqui, vou ser muito atuante no Partido Democrata lá onde eu vivo. Definitivamente, vou dar o máximo de mim para garantir que os democratas voltam ao poder. Entrevista - interior da casa de Lila Lipscomb - cercada pela família. LILA LIPSCOMB Lila e Howard Lipscom, pais do sargento Michael Pedersen. Iraque, Bagdá, Eu não sabia nada sobre essas coisas. Fotos de Michael antes de embarcar para o Iraque. E ele... Estávamos no corredor do segundo andar da casa. Ele estava chorando, dizia que estava com muito medo e que não queria ser obrigado a ir para o Iraque, Então nós tivemos uma longa conversa sobre o medo, sobre o medo às vezes ser uma coisa boa, porque nos deixa alertas, Foi quando ele me disse que não tinha dito a ninguém, mas já sabia que teria de ir para Bagdá.
Nós ficamos, como todo mundo, grudados na TV: Grudados, completamente grudados na esperança de vê-lo de relance. "Será que não dá para mostrar os helicópteros? Não dá para deixar a gente ver ele, por favor?" Então, naquela noite, eram mais ou menos dez horas, eu subi para o quarto. Estava deitada na cama, passando de canal em canal com o controle remoto... Só escutei: "Um helicóptero Black Hawk caiu no centro-sul do Iraque". Trecho de noticiário PHIL ITTNER (REPÓRTER DA CBS) Sendo televisionado. Até o momento, o que sabemos é que na noite passada o Exército de fato perdeu um helicóptero Black Hawk. Segundo informações de oficiais em terra, havia seis tripulantes no helicóptero. ENTREVISTA: LILA LIPSCOMB No dia seguinte, levantei e disse: "Tire da cabeça esses pensamentos negativos. Jesus, preciso de você, preciso de você, me ajude a superar isso". Então o Exército me telefonou. Eu me lembro de estar ao telefone e esse homem falava, me perguntava se eu era Lila Lipscomb, e eu disse "sim". E ele perguntou: "A mãe do sargento Michael Pedersen?" E lembro-me de ter deixado o telefone cair. (Lila começa a chorar) Honestamente, é a única coisa de que consigo me lembrar: "Senhora, o Exército dos Estados Unidos, o secretário da Defesa lamentam informar..." Só isso. A dor foi tão forte que eu literalmente caí no chão. Estava sozinha, não havia ninguém para me ajudar, fui rastejando até a mesa. Estava me segurando nela e me lembro de gritar: "Por que tinha de
ser o Michael? Por que você tinha de levar meu filho? Por que justo o meu filho é que você tinha de levar? Ele não fez nada! Ele não era uma má pessoa, era um bom garoto, por que você tinha de levar meu filho?" Trecho de noticiário GEORGE W. BUSH Entrevistado pela jornalista Diane Sawyer na ABC. Eu... Eu... Sou... Ahn... Não consigo imaginar como é a sensação de quem perde um filho ou uma filha, ou um marido, uma esposa... E isso me dói. Casa da família Lipscomb - a entrevista prossegue. MICHAEL MOORE Você tem a última carta dele? LILA LIPSCOMB Sim. Foi postada no dia 16 de março, mas só recebi mais ou menos uma semana antes de ele morrer. "Olá. Mamãe, desculpe por não ter conseguido telefonar. Eles tiraram o telefone faz uma semana. Recebi a carta e o pacote. Que legal, então seu primeiro neto nasceu no mesmo dia que o seu filho mais velho." (Lila chora) Como estão todos? Eu estou bem. Estamos no meio do deserto e das tempestades. Por que diabos é que George quer ser igual ao papai Bush? Ele nos trouxe até aqui para absolutamente nada. Estou com tanta raiva neste instante, mamãe. Realmente espero que não reelejam esse idiota, honestamente. Eu estou bem e firme. Realmente tenho muita saudade de vocês. Obrigado pela Bíblia... (Lila chora) e pelos livros e doces.
Realmente fico esperando cartas de vocês. Bom, diga alô para a família toda e diga que eu estou bem. Achamos que por enquanto não vai acontecer nada. Estou louco para voltar para casa e retomar minha vida. Dê os parabéns ao Sputnik. Vou ver meu primeiro sobrinho em breve, assim que chegar aos Estados Unidos. Espero que vocês todos estejam bem. Continuem escrevendo para mim, as cartas me ajudam a enfrentar os dias. Bom, agora vou dormir. Volto a escrever em breve. Eu amo todos vocês e tenho muitas saudades." (a emoção toma conta de Lila) (chorando) Eu o quero vivo. E eu não posso ressuscitá-lo. O corpo dói. Você quer seu filho. Não é desse jeito. O pai ou a mãe não devem enterrar o filho. HOWARD LIPSCOMB Foto de Michael na igreja, como coroinha. Eu sinto... Eu... Eu... Estou triste por minha família porque perdemos nosso filho. Mas estou realmente triste pelas outras famílias que estão perdendo seus filhos enquanto nós estamos conversando aqui. E para quê? Eu não... Essa é a parte que dá vontade de vomitar. Para quê? Corta para anúncio da Halliburton. DAVID LESAR (CEO DA HALLIBURTON) Em comercial da empresa Vocês têm ouvido falar muito sobre a Halliburton nos últimos tempos. A crítica não é um problema para nós. Nós aceitamos a crítica. A crítica não é uma condenação. Nossos funcionários estão fazendo um excelente trabalho. Estamos alimentando os soldados, reconstruindo o Iraque. Algumas coisas vão dar errado? Claro que sim... Trata-se de uma zona de guerra, Nós servimos os nossos
soldados com nossos conhecimentos e não por causa das pessoas que conhecemos. Corta para Bush e Cheney falando à imprensa durante a campanha eleitoral, em julho de 2000. DlCK CHENEY Bem, quero falar um pouco sobre a Halliburton, a empresa que eu dirigi... Tenho muito orgulho do que fiz na Halliburton, e o pessoal da Halliburton tem muito orgulho de nossas realizações. E, francamente, não vejo nenhum motivo para pedir desculpas pelo que fiz nos últimos anos como presidente e CEO de uma grande companhia americana. GEORGE W. BUSH Interrompendo. Essa é uma tentativa de desviar a atenção do fato de que eles [os democratas] não têm uma política energética. O próprio secretário de Energia declarou: "Fomos apanhados de surpresa!". NARRADOR Cenas de um evento sobre oportunidades de negócio - salão de hotel - figurões ao redor do bufê. No meio da guerra, a Microsoft, a DHL e outras empresas convidaram a Halliburton a participar de uma conferência para debater quanto lucro seria possível obter no Iraque. MICHAEL MELE (UNIDADE DE ENGENHARIA DO EXÉRCITO DOS EUA) Na tribuna, falando aos participantes do evento.
Depois de muita preparação e esforços, a libertação do Iraque começou. Vocês, da indústria, são parte vital desse esforço. Nós agradecemos seu interesse. Nós precisamos de vocês.
YOUSSEF SLEIMAN CORPORATION) Na tribuna.
(IRAQ
INITIATIVES
HARRIS
Bem, muitos de vocês são pequenos empreendedores que estão pensando: "Como vamos conseguir uma fatia desse enorme negócio”? Os grandes vão levar tudo. Para nós, o resto, existe a possibilidade de fazer subcontratos, ou nada. A USTDA [Agência de Comércio e Desenvolvimento dos EUA] é para vocês. Quando o petróleo começar a jorrar e começar a aparecer dinheiro, vai ser muito dinheiro. O Iraque tem a segunda maior reserva de petróleo do mundo. Ninguém duvida, vai sair muito dinheiro dali. ENTREVISTA: DR. SAM KUBBA (CÂMARA DE COMÉRCIO IRAQUE - EUA) Tenho recebido reclamações de empresas iraquianas, e de americanas também, sobre falta de transparência, corrupção... Acho que os lucros que as grandes empresas americanas, as maiores, estão obtendo, são estratosféricos. Por exemplo, se você fecha um contrato por um milhão de dólares e o repassa a outra empresa por 50 mil ou 60 mil ou 70 mil dólares, o lucro é imenso. E quem vai pagar por isso é o contribuinte americano. YOUSSEF SLEIMAN Ainda na tribuna, falando aos participantes da conferência.
E as coisas vão melhorar ainda mais! Comecem a investir em contatos, porque as coisas vão melhorar muito quando o petróleo jorrar e as verbas orçamentárias aumentarem. E a boa notícia é que, não importa o custo, o governo pagará vocês.
DR. SAM KUBBA A guerra é sempre um bom negócio para algumas empresas, quero dizer, para aqueles que estão no negócio da guerra. ENTREVISTA: GEORGE SIGALOS (VICE-PRESIDENTE DA HALLIBURTON) Nós temos muito orgulho do trabalho que estamos fazendo, repito, que é dar apoio ao governo e às Forças Armadas dos Estados Unidos. Os verdadeiros heróis da campanha, os verdadeiros heróis da reconstrução são os homens e as mulheres das Forças Armadas dos Estados Unidos. Nós temos muito orgulho de tudo o que pudermos fazer para, ajudá-los. LOCUTOR Trechos de um melodramático comercial da Halliburton. A Halliburton envia refeições quentes, suprimentos, roupas limpas e material de comunicação para os nossos soldados. Assim eles podem se sentir mais perto de casa. SOLDADO NO COMERCIAL Ao telefone, recebendo a notícia de que sua mulher deu à luz nos Estados Unidos. É, é, é uma menina? É uma menina!
LOCUTOR NO COMERCIAL DA HALLIBURTON Halliburton. Temos orgulho de servir nossas tropas. Mulheres em asilo para idosos na Flórida - conversando sobre a Halliburton. BERTHA OKOSKIN Acabei de ler no jornal que a Halliburton conseguiu outro contrato. A Halliburton conseguiu outro contrato. E ninguém diz uma palavra contra. EVELYN STROM É porque ninguém sabe. BERTHA OKOSKIN Bom, saiu no jornal. Então, alguém sabe. EVELYN STROM Mas saiu depois de acontecer. Já aconteceu. É tarde demais. Trecho de noticiário. HAROLD MOSS Os Estados Unidos agora têm grande participação no negócio petrolífero do Iraque. Soldados americanos protegem os poços para que trabalhadores vindos do Texas possam avaliar o seu potencial de produção. TRABALHADOR DE PETROLÍFERA Este é um lugar seguro para trabalhar. Não nos sentimos correndo nenhum risco. Nós nos sentimos bem protegidos, ou não estaríamos aqui.
Entrevista com soldado americano no lraque. SOLDADO Não é segredo... Eu ganho entre 2 mil e 3 mil dólares por mês. Um cara que dirige um caminhão para a Halliburton chega a ganhar de 8 mil a 10 mil dólares por mês. Pode me explicar isso? Por 40 horas semanais de trabalho. Para dirigir pelo mesmo trecho de quatro quilômetros. Faça as contas. De onde... Como se justifica isso? Corta para: conferência de negócios - interior do hotel. GORDON BOBBIT (KALMAR RT CENTER) Não existe hoje nenhuma outra região no mundo com maior potencial e oportunidades de negócio do que o Iraque. ENTREVISTA: GRANT HABER (AMERICAN INNOVATIONS, INC.) O presidente fez o que tinha de fazer, e todos nós apoiamos o presidente e nossos soldados. E queremos ter a certeza de que todo o esforço e todas as vidas perdidas e. .. não foram em vão. ENTREVISTA: DR. SAM KUBBA Se não fosse pelo petróleo, ninguém estaria lá. Ninguém daria a mínima. ENTREVISTA: BLAINE OBER (EMPRESA HIGH PROTECTION) Infelizmente, pelo menos à curto prazo, nós achamos que a situação vai ser favorável... Quero dizer, a situação vai ser perigosa. Boa para os negócios, ruim para o povo.
De volta às aposentadas na Flórida. BERTHA OKOSKIN Hoje no noticiário Rumsfeld estava dizendo... e Wolf, Wolf, Wolfowitz estava dizendo: O povo iraquiano está muito, muito melhor. Nós os livramos de Saddam, e agora o povo iraquiano pode fazer o que quer e ser realmente livre. Será que algum dia eles vão ser livres? Não, eles não vão ser livres. E onde estão... as armas de destruição em massa? Isso foi... Fomos tapeados. Fomos realmente tapeados. E esses coitados, esses jovens que estão morrendo lá... É desnecessário. Eu... Eu... Eu... É isso... EVELYN STROM É uma vergonha. BERTHA OKOSKIN Chega EVELYN STROME É uma vergonha. Presidente Bush na tribuna, discursando GEORGE W. BUSH Eles morreram por uma causa justa, defendendo a liberdade, e suas mortes não serão em vão. NARRADOR Externa: Washington, D. C. - Lila caminhando até a Casa Branca. Lila me telefonou dizendo que viria de Flint até Washington, D.C., para participar de uma conferência sobre emprego. Disse que no intervalo pretendia fazer uma visita à Casa Branca.
Lila está chorando em frente à Casa Branca. Ela se aproxima de uma manifestante [Concepcion Picciotto] que mostra fotos e um cartaz em que Bush é chamado de terrorista. Bush matou crianças, crianças iraquianas, crianças iraquianas... LlLA LlPSCOMB Meu filho foi morto...
MANIFESTANTE NA CASA BRANCA ... Matou meu povo na Espanha ontem. As mentiras dele matam gente, matam seus filhos também. LILA LIPSCOMB Sim. Meu filho. MANIFESTANTE NA CASA BRANCA ... Agora fazem negócios no Iraque. E estão matando todos esses jovens americanos... LlLA LlPSCOMB Sim. MANIFESTANTE NA CASA BRANCA E para quê? Pelo petróleo. Bush é um terrorista. Uma mulher se aproxima e confronta Lila. MULHER NA RUA Não, ele não é. Isso aqui é encenação. Tudo encenação. MANIFESTANTE
Sim, sim, ele é o carniceiro do Iraque. É o carniceiro do Iraque. LlLA LlPSCOMB Dirige-se enraivecida à mulher que se aproximou. Meu filho. MULHER NA RUA Onde ele foi morto? LlLA LlPSCOMB Você me diz que meu filho... MULHER NA RUA Onde é que ele foi morto? LlLA LlPSCOMB ... Não é uma encenação... MULHER NA RUA Onde ele foi morto? LILA LIPSCOMB Ele foi morto em Karbala. No dia 2 de abril. Não é uma encenação. Meu filho está morto. MULHER NA RUA Muitas outras pessoas morreram também. Bote a culpa na AlQaeda! Lila se afasta desconsolada.
MICHAEL MOORE O que foi que aquela mulher disse para você? LlLA LlPSCOMB Lila está chorando e mal consegue recuperar o fôlego. Disse que eu devia botar a culpa na Al-Qaeda. A Al-Qaeda não decidiu mandar o meu filho para o Iraque. Ignorância... Temos de enfrentar isso todos os dias. É porque as pessoas não sabem. Elas pensam que sabem, mas não sabem. Eu achei que sabia, mas não sabia. Lila chora descontroladamente. Eu preciso do meu filho. Deus, estar aqui é mais difícil do que eu pensava, mas também é uma libertação, porque finalmente eu tenho um lugar onde desabafar e depositar toda a minha dor e toda a minha raiva. NARRADOR Michael Moore e o cabo Henderson caminham pelo Capitólio. Eu estava cansado de ver o sofrimento de gente como Lila Lipscomb. Especialmente porque, dos 535 membros do Congresso, só um tem um filho lutando no Iraque. Eu convidei o cabo Hendersen, do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, a vir comigo ao Capitólio para descobrir quantos parlamentares nós convenceríamos a mandar seus próprios filhos para o Iraque. MICHAEL MOORE
Aborda John Tanner. Deputado, eu sou Michael Moore. DEPUTADO JOHN TANNER Oi, Michael, como vão as coisas? MICHAEL MOORE Vão bem, eu vou bem. DEPUTADO JOHN TANNER Bom. MICHAEL MOORE Bom. DEPUTADO JOHN TANNER John Tanner. MICHAEL MOORE Prazer em conhecê-lo. É um prazer conhecê-lo. DEPUTADO JOHN TANNER O que é que vocês estão fazendo por aqui? MICHAEL MOORE Bom, eu estou aqui com o cabo Henderson, do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. DEPUTADO JOHN TANNER Muito bem, cabo. Eu também estive na Marinha anos atrás, entre 1968 e 1972. Era fuzileiro e guardava a base.
MICHAEL MOORE O senhor tem filhos? DEPUTADO JOHN TANNER Sim. MICHAEL MOORE E será que algum deles estaria interessado em se alistar? Ir para o Iraque e ajudar o esforço? Nós temos folhetos... DEPUTADO JOHN TANNER Um deles tem dois filhos... MICHAEL MOORE Ah, claro. Bem, veja só, não há muitos congressistas com filhos no Iraque... Na verdade, só existe um. Então nós achamos que talvez vocês devessem mandar seus filhos primeiro, sabe. O que o senhor acha da idéia? DEPUTADO JOHN TANNER Ao mesmo tempo que Moore. Eu sei, eu sei, eu sei. DEPUTADO JOHN TANNER Acho que não discordo da idéia. MICHAEL MOORE Ah, o senhor não discorda. Que bom. Então, leve alguns folhetos, pelo menos um folheto dos fuzileiros... E passe adiante. Encoraje seus colegas, caso eles apóiem a guerra, a apoiar a idéia. E a mandar seus próprios filhos. DEPUTADO JOHN TANNER
Obrigado, Mike. MICHAEL MOORE Obrigado, senhor, muito obrigado. MICHAEL MOORE Aproxima-se de outro deputado. Deputado? Eu sou Michael Moore. DEPUTADO O que você quer? MICHAEL MOORE Estou tentando convencer membros do Congresso a convencer seus filhos a se alistar no Exército e ir para o Iraque. (Deputado olha muito surpreso para Michael Moore) Deputado? Deputado? (tenta falar com outros parlamentares) Deputado Castle? Deputado Castle? Deputado? Deputado? Deputado Doolittle, é Michael Moore. DEPUTADO DOOLITLE Ahn..... MICHAEL MOORE Gostaria de saber se Se existe um jeito de... NARRADOR É claro que nenhum membro do Congresso estava disposto a sacrificar seus filhos pela guerra no Iraque. E quem pode culpálos? Quem estaria disposto a sacrificar seus filhos? Você? Ele? (imagem da Casa Branca, Bush com filhas) Sempre achei
assombroso o fato de serem sempre as pessoas que vivem nos lugares mais pobres, as que freqüentam as piores escolas, as que têm a vida mais difícil (cenas de áreas urbanas miseráveis), as primeiras a se apresentar para defender justamente este sistema. Elas se alistam para que nós não precisemos nos alistar. (cenas de alistamento) Elas oferecem suas vidas para que nós possamos ser livres. É uma dádiva notável o que nos oferecem. E tudo o que nos pedem em troca é que não os enviemos na direção do perigo a menos que seja absolutamente necessário. (soldados no Iraque sorridentes e esperançosos) Algum dia voltarão a confiar em nós? Trechos de vários noticiários. GEORGE BUSH Ele usou armas. DONALD RUMSFELD Nós sabemos onde elas estão, estão na região ao redor de Tikrit, e em Bagdá e... e no leste, no oeste, no norte e no sul. CONDOLEEZZA RICE Há uma ligação entre o Iraque e o que aconteceu em 11 de setembro. DlCK CHENEY A luta só vai terminar com a sua aniquilação total e permanente. GEORGE BUSH Nós fizemos uma guerra para salvar a própria civilização. Nós não buscamos a guerra. Mas vamos lutar essa guerra e vamos vencer. Imagens de líderes saindo de cena após discursos e aparições públicas intercaladas com imagens de áreas miseráveis - contraste
entre a elite rica que controla a guerra e a classe trabalhadora, que morre nela. NARRADOR George Orwell certa vez escreveu que a questão não é saber se uma guerra é legítima ou não. A vitória nunca é possível. A guerra não é algo a ser vencido, é concebida para ser contínua. Uma sociedade hierarquizada só pode existir baseada na pobreza e na ignorância. Esta nova versão é o passado, e nunca houve passado diferente. Em princípio, o esforço de guerra sempre é planejado para manter a sociedade à beira da inanição. A guerra é travada pela elite dominante contra seus próprios dominados, e seu objetivo não é uma vitória na Eurásia ou no Leste Asiático: seu objetivo é manter intocada a estrutura da sociedade. GEORGE BUSH Na tribuna - se enrola com as palavras. Existe um velho ditado no Tennessee... Sei que ele existe no Texas, provavelmente existe no Tennessee, que diz: "Me enganou uma vez, que vergonha... Que vergonha... Me enganou uma vez, não me engana nunca mais". NARRADOR Uma vez na vida, nós dois concordamos. CRÉDITOS
PARTE II Fahrenheit 11 de setembro Provas e evidências
2 de novembro de 2000 a 11 de setembro de 2001: Como pudemos acabar desta forma? A FOX foi a primeira rede de televisão a nomear Bush na Flórida. Antes disso, outras emissoras haviam nomeado Gore na Flórida, e mudaram após a FOX ter nomeado Bush. FONTE: "Com informações forneci das pelo Voter News Service [Serviço de notícias do eleitor], a NBC foi a primeira rede a projetar Gore como vencedor na Flórida às 19h48. Às 19h50, a CNN e a CBS também anunciaram Gore como o vencedor na Flórida". Por volta das 20h02, todas as cinco emissoras e a Associated Press tinham nomeado Gore o vencedor na Flórida. Até mesmo a VNS nomeou Gore como vencedor às 19h52. Às 2h16, a FOX nomeou Bush na Flórida, a NBC seguiu-a às 2h16. A ABC foi a última rede de televisão a anunciar Bush como o vencedor na Flórida, às 2h20, enquanto a AP e a VNS nunca o fizeram. CNN: http://www.cnn/2001/ALLPOLITICS/stories/02/02/cnn.report/cnn.pdf FONTE: Dez minutos depois do grande acontecimento, a empolgação das redes de televisão começava a aumentar novamente. Às 2h16, o anúncio foi feito: o canal de notícias FOX, com o primo de primeiro grau de Bush, John Ellis, que comandava o programa sobre a eleição, foi o primeiro a anunciar a Flórida - e a presidência - para o governador do Texas. Em alguns minutos, as outras emissoras fizeram o mesmo. "George Bush, governador do Texas, torna-se o 43º. Presidente dos Estados Unidos da América", Bernard Shaw, da CNN, anunciou sobre uma montagem gráfica de Bush sorrindo. "Às duas horas e dezoito minutos horário oficial, a CNN declara que George Walker Bush ganhou 25 votos na Flórida e isso deve colocá-lo em primeiro lugar." PBS:
http://www.pbs.org/newshour/media/election2000/election_night.ht ml O homem responsável pelo programa sobre as eleições na FOX na noite das eleições era o primo em primeiro grau de Bush, John Ellis. FONTE: "John Ellis, primo em primeiro grau de George W. Bush, comandou o programa sobre as eleições durante a eleição de 2000, e a FOX foi a primeira a anunciar Bush como vencedor. Momentos antes, Ellis havia telefonado seis vezes para o primo Bush durante a contagem dos votos”. William O'Rourke, "Talking Radio Key to GOP Victory", Chicago Sun-Times, 3 de dezembro de 2002. FONTE: Um consultor da FOX News, John Ellis, que opinou sobre as "ligações" presidenciais na noite das eleições, admite que esteve em contato com George W. Bush e com o governador da Flórida Jeb Bush por telefone várias vezes durante aquela noite, mas nega ter quebrado qualquer regra. CNN, 14 de novembro de 2000; http://www.cbsnews.com/stories/2000/11/14/politics/main249357.shtml FONTE: John Ellis, o consultor da FOX que nomeou George Bush mais cedo na Flórida, teve que parar de escrever sobre a campanha para o Boston Globe por motivos de "lealdade" familiar a Bush. CBS News, http://www.cbsnews.com/stories/2000/11/14/politics/main2493 57.shtml
14 de novembro de 2000. "Em segundo lugar, você precisa garantir que a sua chefe de campanha seja também a responsável pela contagem nos votos no estado. E que o estado tenha contratado urna empresa que elimine das listas de votação os eleitores que provavelmente não votariam em você. Em geral, dá para saber pela cor da pele quem são esses caras." FONTE: "O total de votos foi confirmado pela secretária estadual da Flórida, Katherine Harris, responsável pela campanha de Bush na Flórida, em nome do governador Jeb Bush, irmão do candidato". Mark Zoller Seitz, "Bush Team Conveyed an Air of Legitimacy", San Diego Union Tribune, 16 de dezembro de 2000. FONTE: O Departamento de Estado da Flórida recebeu um contrato de 4 milhões de dólares para a Database Technologies Inc. (subsidiária da ChoicePoint), com sede em Boca Raton. Eles foram encarregados de encontrar votos registrados indevidamente no banco de dados do estado, mas os erros foram excessivos. "Em certo ponto, a lista incluía cerca de 8 mil ex-criminosos residentes no Texas que haviam sido condenados por mau comportamento”. St. Petersburg Times (Flórida), 21 de dezembro de 2003. FONTE: Database Technologies, uma subsidiária da ChoicePoint, "foi responsável por destruir uma revisão de arquivos de registros de eleitores na Flórida; dessa maneira, milhares de pessoas, desproporcionalmente negras, perderam o direito de votar nas eleições de 2000. Se elas tivessem sido capazes de votar, poderiam ter balançado o estado e então a presidência seria de AI Gore, que perdeu na Flórida". Oliver Burkeman, Jo Tuckman, "Firm in Florida Election Fiasco Earns Millions Erom Files on Foreigners", The Guardian, 5 de maio de 2003.
http://www.guardian.co.uk/usa/story/0,12271,949709,00.html Veja também Atlanta Journal-Constitutions, 28 de maio de 2001. FONTE: Em 1997, Rick Rozar, o último chefe de campanha comprado pela ChoicePoint, doou 100 mil dólares para o Comitê nacional republicano. Melanie Eversley, "Atlanta-Based Company Says Errors in Felon Purge Not Its Fault", Atlanta JournalConstitution, 28 de maio de 2001. FONTE: Frank Borman, da Database Technologies Inc., fez doações generosas para os republicanos do Novo México, bem como para a campanha do presidente George W. Bush. Opensecrets.org, "Frank Borman". Se houvesse urna recontagem geral de votos no estado, em qualquer cenário Gore seria o vencedor. FONTE: "Um consórcio [Tribune Co., proprietário de Times; Associated Press; CNN; New York Times; The Palm Beach Post; St. Petersburg Times; Wall Street Journal; e Washington Post] contratou o NORC (National Opinion Research Center - Centro de pesquisa de opinião nacional, uma organização de pesquisa nãopartidária associada a Universidade de Chicago] para ver cada cédula eleitoral não contada e obter informações de como foram marcadas. Em seguida, as organizações da mídia usaram computadores para classificar e tabular os votos, baseando-se em vários cenários que tinham sido criados na luta pós-eleição na Flórida. Sob qualquer padrão usado para tabular todos os votos disputados no estado, Gore apagou a vantagem de Bush e emergiu com uma liderança mínima que subiu de 42 para 171 votos". Donald Lambro, "Recount Provides No Firm Answers", Washington Times, 12 de novembro de 2001.
FONTE: "A revisão descobriu que o resultado teria sido diferente se todos os locais de apuração de votos em todas os condados tivessem examinado a totalidade dos votos, uma situação que nenhuma autoridade eleitoral ou de justiça tinha pedido. Gore teria solicitado tal contagem manual em todo o estado se Bush concordasse, mas Bush rejeitou a idéia e não havia nenhum mecanismo substituto para conduzir a recontagem". Martin Merzer, "Review of Ballots Finds Bush's Win Would Have Endured Manual Recount", Miami Herald, 4 de abril de 2001. FONTE: Veja também o seguinte artigo de um dos jornalistas do Washington Post que comandou o consórcio da recontagem. O ponto relevante é feito na tabela I do artigo. http://www.aei.org/docLib/20040526_KeatingPaper.pdf Membros do Congressional Black Caucus tentaram objetar o resultado da eleição na Casa Branca; nenhum senador assinou a objeção. FONTE: Enquanto o vice-presidente AI Gore parecia aceitar seu destino contido em duas urnas de madeira, membros democratas do Congressional Black Caucus tentavam repetidamente desafiar a indicação de 25 votos eleitorais da Flórida para Bush.[...] Mais de uma dezena de democratas seguiram o pedido, procurando forçar um debate sobre a validade dos votos da Flórida sob a alegação que nem todos os votos tinham sido contados e que alguns eleitores tiveram seu direito de votar erroneamente negado". Susan Milligan, "It's Really Over: Gore Bows Out Gracefully", Boston Globe, 7 de janeiro de 2001. FONTE: O esforço do Congressional Black Caucus fracassou devido à "falta de assinaturas necessária de senadores". O líder da
minoria do senado Tom Daschle (Democrata, Dakota do Sul) tinha aconselhado previamente os senadores democratas a não cooperarem. "Eles não cooperaram." Robert Novak, "Sweeney Link Won't Help Chaos", Chicago Sun-Times, 14 de janeiro de 2001. "No dia em que George W. Bush tomou posse, dezenas de milhares de americanos tomaram as ruas de Washington D.C. em uma derradeira tentativa de recuperar o que Ihes havia sido tomado. Eles lançaram urna chuva de ovos sobre a limusine de Bush..." FONTE: "Gritando slogans como 'Salve o ladrão' e 'Escolhido, não eleito' dezenas de milhares de protestantes acompanharam, ontem, a rota do desfile oficial de Bush para proclamar que ele e o vicepresidente Dick Cheney tinham 'roubado' as eleições". Michael Kranish e Sue Kirchhoff, "Thousands Protest 'Stolen' Election", Boston Globe, 21 de janeiro de 2001. FONTE: "Tumultos estouram entre radicais e a desorientada polícia enquanto um ovo atinge a limusine presidencial blindada que transportava o senhor Bush e sua esposa Laura para a Casa Branca". Damon Johnston, "Bush Pledges Justice as Critics Throw Eggs", The Advertisers, 22 de janeiro de 2001. Veja também o filme. "... E interromperam o desfile de posse. O plano de Bush de deixar a limusine para a tradicional caminhada até a Casa Branca teve de ser abandonado." FONTE: Bush fez uma concessão devido ao tempo - ou a problemas de segurança: ele ficou em sua limusine durante quase toda a extensão do desfile oficial, acenando da janela através da leve neblina. Ele caminhou apenas um breve trecho quando sua
carreata chegou até a arquibancada VIP em frente ao Departamento do Tesouro e da Casa Branca. Doyle McManus et aI., "Bush Vows to Bring Nation Together", Los Angeles Times, 21 de janeiro de 2001. FONTE: A limusine de Bush, que percorreu a maior parte do percurso bem lentamente, parou pouco antes de chegar na esquina da rua 14 com a avenida Pennsylvania, onde a maioria dos protestantes tinha se reunido. Então acelerou dramaticamente, e os agentes do Serviço Secreto que protegiam o carro a pé tiveram que correr. Quando chegaram no trecho do percurso onde as calçadas eram restritas a convidados oficiais, Bush e sua esposa, Laura, que trajava um terno turquesa pouco discreto, saíram da limusine para andar e cumprimentar colaboradores. Helen Kennedy, "Bush Pledges a Unites US", Daily News (Nova York), 21 de janeiro de 2001. "Ao longo dos oito meses seguintes, as coisas não melhoraram para George W. Bush." FONTE: Uma pesquisa realizada entre 5 e 9 de setembro de 2001 pelo lnvestor's Business Daily e pelo Christian Science Monitor mostrou que o índice de aprovação do presidente Bush havia caído de 52% em maio para 45% (Pesquisa lnvestor's Business Daily / Christian Science Monitor realizada por TIPP, de 5 set. a 9 set. de 2001). A pesquisa da Zogby registrava a queda de Bush de 57% em fevereiro para 47% em julho de 2001 (Zogby, de 26 jul. a 29 jul. de 2001). FONTE: Em junho de 2001, uma pesquisa do Wall Street Journal / NBC News mostrou que o índice de 50% de aprovação do presidente Bush era o mais baixo dos últimos cinco anos. Richard
L. Berke, "G.O.P. Defends Bush in Face of Dip in Poll Ratings, New York Times, 29 de junho de 2001. FONTE: Em 26 de julho de 2001, em um artigo intitulado "Bush Lacks the Ability to Force Action on Hill" [A falta de habilidade de Bush para forçar uma ação em Hill], Dana Milbank do Washington Post escreveu: Pode parecer prematuro concluir que Bush perdeu o controle de sua agenda, mas legisladores e estrategistas de ambos os partidos disseram que o próximo ano de Bush está muito mais próximo do conturbado mês de julho do que da marcha ordenada em direção ao corte de impostos de Bush na primavera.[...] Os problemas começaram, obviamente, com a saída do GOP do senador de Vermont James M. Jeffords, dando o controle do senado aos democratas. No entanto, há problemas também na Casa Branca, onde moderados que apoiavam Bush no corte de impostos estão se mostrando relutantes com relação a outros assuntos. Eles se rebelaram contra os líderes do GOP na campanha de reforma financeira e obstruíram a legislação de Bush 'baseada na fé' quanto a problemas de discriminação. Na próxima semana, eles provavelmente irão se opor a proposta de Bush de disciplinar o refúgio nacional de vida selvagem do Ártico. FONTE: A crise de energia da Califórnia também prejudicou os índices de aprovação de Bush. Devido a recorrentes blackouts e ao aumento das contas de consumo, o índice de aprovação de Bush foi prejudicado entre os californianos. A pesquisa mostrou que a relação entre a aprovação e a reprovação do trabalho do presidente ficou em 42 para 40. "Calif. Governor Says He'll Sue to Force Government Action", Houston Chronicle, 30 de maio de 2001.
"Em seus oito meses no cargo antes do dia 11 de setembro, segundo o Washington Post, George W. Bush passou 42% do tempo em férias." FONTE: "Várias reportagens ressaltaram que a estadia de um mês de W. em sua fazenda em Crawford são as mais longas férias presidenciais em 32 anos. Os supercomputadores do Washington Post calcularam que se somarmos todos os finais de semana do presidente em Camp David, descansos em Kennebunkport e idas e vindas aleatórias, W. terá gasto 42% de sua presidência 'em férias ou a caminho delas'''. Charles Krauthammer, "A Vacation Bush Deserves", Washington Post, 10 de agosto de 2001. Bush descansa em Camp David, Kennebunkport e em sua fazenda em Crawford, Texas. FONTE: Em abril de 2004, o presidente Bush tinha feito 33 viagens para Crawford durante sua presidência, totalizando mais de 230 dias na fazenda no decorrer de três anos. "Some suas 78 viagens a Camp David e mais 5 para o seu complexo familiar em Kennebunkport, Maine, e Bush terá gasto cerca de 500 dias - ou 40% de sua presidência - em um de seus três refúgios." "Bush Retreats to a Favorite Gatewat: Crawford Ranch", Houston Chronicle, 11 de abril de 2004. Em 10 de setembro de 2001, Bush juntou-se a seu irmão na Flórida, onde passou a noite "numa cama preparada com finos lençóis franceses". FONTE: Bush não estava empolgado em visitar a Flórida, o marco zero na batalha de recontagem de votos que aconteceu depois da eleição do ano passado. Nesta viagem, ele passou grande parte de seu tempo com o irmão Jeb Bush. "President to Push Congress on
Education in Fourth Florida Visit", Associated Press, 10 de setembro de 2001; veja também CNN Inside Politics, 10 de setembro de 2001. FONTE: Duas pessoas prepararam o quarto do presidente "e fizeram a cama com finos lençóis franceses de linho da família". Tom Bayles, "The Day Before Everything Changed, President Bush Touched LocaIs' Lives", Sarasota Herald-Tribune, 10 de setembro de 2002. "Enquanto os ataques aconteciam, o senhor Bush estava a caminho de uma escola de ensino fundamental na Flórida. Ao ser informado de que um primeiro avião atingira o World Trade Center - que apenas oito anos antes havia sido atacado por terroristas -, o senhor Bush decidiu seguir em frente com a programação montada para render boas fotos." Nota: Deve-se enfatizar que na ocasião que Bush foi avisado do ataque do primeiro avião, ele (diferente do restante dos Estados Unidos) já sabia, por meio do Resumo Presidencial Diário (PDB), de 6 de agosto de 2001, que Osama bin Laden estava planejando atacar os EUA seqüestrando aviões. Ele também sabia, obviamente, que o World Trade Center tinha historicamente sido alvo de ataques terroristas. Mesmo assim seguiu em frente com a oportunidade de ser fotografado em uma escola cheia de crianças. FONTE: "Bush chegou na escola, um pouco antes das 9 horas, esperando ser recebido pela diretora do maternal, Gwen Rigell. Em vez disso, ele foi chamado de Iado rapidamente pelo conhecido e importante Karl Rove, 51 anos, político veterano e conselheiro confiável de ambos, Bush e o pai, Bush sênior. Rove, um companheiro texano com modos expansivos e de tiradas alegres, disse ao presidente que um grande avião comercial (American, vôo 11) havia colidido contra a Torre Norte do World Trade Center. Bush
cerrou os dentes, abaixou seu lábio superior e disse algo inaudível. Então entrou na escola". William Langley, "Revealed: What Really Went on During Bush's 'Missing Hours''', The Telegraph, 16 de dezembro de 2001. FONTE: "O ataque aéreo ao World Trade Center foi, no mínimo, a segunda tentativa terrorista de derrubar os edifícios. Em 1993, terroristas tentaram bombardear um prédio de forma que este explodisse e caísse sobre o outro. A conspiração não obteve sucesso, no entanto 6 pessoas morreram e mais de mil ficaram feridas". Cragg Hines, "Terrorists Strike from Air; Jetlines Slam into Pentagon, Trade Center", Houston Chronicle, 11 de setembro de 2001. FONTE: Resumo Diário Presidencial (PDB), 6 de agosto de 2001 "Bin Laden determinou ataque dentro dos Estados Unidos": "Membros da Al-Qaeda - incluindo alguns que são cidadãos americanos - residiram ou viajaram para os Estados Unidos durante anos, e o grupo aparentemente mantém uma estrutura de apoio que poderia auxiliar os ataques.[...] Informações do FEl desde aquela época indicam exemplos de atividades suspeitas no país, consistindo em preparações para seqüestro de aviões e outros tipos de ataques, incluindo recente vigilância de prédios federais em Nova York". 6 de agosto de 2001, "Bin Ladin Determined to Strike Inside US", http://www.cnn.com/2004/images/04/10/whitehouse.pdf "Quando o segundo avião atingiu a outra torre, o chefe de gabinete de Bush entrou na sala e disse ao presidente: 'A nação está sendo atacada'". FONTE: "Às 9h05, o chefe de equipe da Casa Branca, Andrew H. Card Jr., entrou na sala de aula e sussurrou no ouvido direito do presidente: 'Um segundo avião bateu na outra torre, a América está
sob ataque'''. David E. Sanger e Don Van Natta Jr., "After the Attacks: The Events; In Four Days, A National Crisis Changes Bush's Presidency", New .York Times, 16 de setembro de 2001. "O presidente Bush simplesmente ficou ali, sentado, e continuou a ler um livro - Minha cabra de estimação”. FONTE: "Foi enquanto visitava uma aula de leitura da segunda série na escola fundamental Emma E. Booker, em Sarasota, Flórida, para promover suas reformas educacionais, que o presidente Bush soube que os Estados Unidos estavam sendo atacados. Na presença de sua convidada VIP, a professora Sandra Kay Daniels, 45 anos, ele conduziu a lição do dia que era centrada na história de uma cabra de estimação". "9/11: A Year Later", Los Angeles Times, 11 de setembro de 2002. FONTE: Na terça-feira, o presidente Bush ouviu dezoito alunos da segunda série da Escola Fundamental Booker lerem uma história sobre a cabra de estimação de uma garota, antes de falar brevemente e de forma sombria sobre os ataques terroristas. "Bush Hears of Attack While Visiting Booker", Sarasota Herald-Tribune, 12 de setembro de 2001. Veja também o filme. "Quase sete minutos se passaram sem que ninguém fizesse coisa alguma." FONTE: "Ele demorou-se na sala por cerca de seis minutos (depois de ter sido informado do segundo avião)[...] Às 9h12, retirou-se abruptamente, falando com Cheney e oficiais de Nova York". David E. Sanger e Don Van Natta Jr., "After the Attacks: The Events; In Four Days, A National Crisis Changes Bush's Presidency", New York Times, 16 de setembro de 2001.
FONTE: "Bush permaneceu na escola fundamental por quase meia hora depois de Andy Card ter sussurrado em seu ouvido". Michael Kranish, "Bush: US to Hunt Down Attackers", Boston Globe, 11 de setembro de 2001.
George W. Bush deixa Osama - e muitos outros Fugir "Será que não devia ter convocado ao menos uma reunião, desde que tomara posse, para discutir a ameaça terrorista com seu chefe de anti-terrorismo?" FONTE: "[...] Eles não me permitiram informá-lo sobre o terrorismo. Você sabe, agora eles estão dizendo que era minha escolha falar com ele sobre cibersegurança. Isso não é verdade. Eu pedi para informá-lo sobre o terrorismo em janeiro, para lhe passar a mesma informação que havia dado ao vice-presidente Cheney, Colin Powell e Condi Rice. E me disseram: 'Você não pode dar essa informação, Dick, até o final do processo de política de desenvolvimento"'. Richard Clarke em entrevista com Tim Russert no programa da NBC "Meet the Press", 28 de março de 2004. FONTE: "Clarke pediu reuniões com diretores de comitê sobre esses temas [esboçado em seu memorando em 25 de janeiro de 2001] em diversas ocasiões anteriores e ficou frustrado por não haver nenhuma reunião agendada. Ele queria que os diretores aceitassem que a Al-Qaeda era uma 'ameaça de primeira ordem' e não um problema rotineiro exagerado por alarmistas 'medrosos'. Nenhuma reunião de diretores de comitê sobre a Al-Qaeda foi realizada até 4 de setembro de 2001". Comissão nacional de ataques terroristas nos Estados Unidos, ameaças e respostas em
2001, relatório da equipe no. 8 "National Policy Coordination", pp 910. http://www.9-11comission.gov/hearing8/staff_statement_8_pdf FONTE: Veja o testemunho de Richard A. Clarke antes da Comissão Nacional de Ataques Terroristas nos Estados Unidos, 24 de março de 2004: ROEMER: OK. Vamos falar, nos meus 15 minutos, vamos falar do governo de Bush. No dia 25 de janeiro, nós vimos um memorando que você havia escrito para a dra. Rice, pedindo urgentemente um estudo dos líderes da Al-Qaeda. Você incluiu ajuda da Aliança do Noite, auxílio secreto, novo orçamento significativo de 2002 para ajudar a combater a Al-Qaeda... CLARKE: hum-rum. ROEMER: ... e resposta ao U.S.S. Cole. O senhor anexou a este documento o Plano Delenda de 1998 e um estudo de estratégia de dezembro de 2000. O senhor recebeu resposta para esse pedido urgente para uma reunião de cúpula, e como isso afeta sua organização de tempo para lidar com assuntos importantes como esses? CLARKE: Recebi uma resposta. A resposta foi que, no governo Bush, eu e meu comitê, o grupo secreto de anti-terrorismo, deveríamos informar o comitê dos deputados, que é um comitê em nível de sub-gabinete, e não de cúpula; dessa forma era inapropriado eu estar pedindo uma reunião de cúpula. Em vez disso, ocorreria uma reunião de deputados. ROEMER: Então, isso de falar primeiro com os deputados, em vez de se dirigir à cúpula ou a um grupo pequeno, como você tinha feito antes, retardou o processo? CLARKE: Isso causou uma enorme lentidão, durante meses. Primeiramente, o comitê dos deputados não se reuniu com
urgência em janeiro ou fevereiro. Então, quando o comitê se reuniu, a questão da Al-Qaeda fez parte de um grupo de assuntos políticos, incluindo proliferação nuclear no sul da Ásia, democratização no Paquistão, como tratar os problemas, os vários problemas, incluindo narcóticos e outros problemas do Afeganistão, e organizou-se uma série de encontros de deputados que se estendeu por vários meses para incluir a Al-Qaeda no contexto de todos aqueles assuntos inter-relacionados. Aquele processo provavelmente terminou, creio, em julho de 2001, e estávamos nos preparando para uma reunião de cúpula em julho, mas o calendário dos diretores estava cheio e então eles saíram de férias, muitos deles em agosto; assim, não pudemos nos reunir em agosto, conseqüentemente a cúpula se reuniu em setembro. "Também podia estar se perguntando por que cortou verbas do FBI para o combate ao terrorismo." FONTE: "Esta questão de recursos também surgirá no questionamento da comissão do advogado geral John Ashcroft, que era novo no cargo no outono de 2001 e, em 10 de setembro, cortou o pedido do FBI de mais verba para o anti-terrorismo em 12%". John Dimsdale, "Former FBl Director Louis Freeh and Attorney General John Ashcroft to appear before 9/11 comission tomorrow", Rádio NPR: Marketplace; 12 de abril de 2004. Veja também documentos do orçamento de 2001 incluindo o pedido de orçamento FY 2003 do advogado geral John Ashcroft para o Escritório de Gerência e Orçamento, 10 de setembro de 2001, mostrando o corte de 65 milhões de dólares no orçamento de subvenção de equipamento anti-terrorismo do FBI: http://www.americanprogress.org/atf/cf/%7BE9245FE4-9A2B-43C7A5215D6FF2E06E03%7D/FY03ASHCROFT.pdf
O briefing de segurança que foi dado a ele em 6 de agosto de 2001 dizia que Osama bin Laden estava planejando atacar a América por meio do seqüestro de aviões. FONTE: Resumo Diário Presidencial (PDB), 6 de agosto de 2001: Membros da Al-Qaeda - incluindo alguns que são cidadãos americanos - residiam ou viajaram para os EUA durante anos, e o grupo aparentemente mantém uma estrutura de apoio que poderia auxiliar os ataques. Dois membros da AI-Qaeda culpados pelo bombardeamento de nossas embaixadas na África do Leste eram cidadãos americanos, e um membro sênior da EIJ (Egyptian Islamic Jihad) morou na Califórnia em meados dos anos 1990. Uma fonte clandestina disse em 1998 que a célula de Bin Laden em Nova York estava recrutando jovens muçulmanos-americanos para ataques. Não fomos capazes de confirmar alguns dos relatórios mais sensacionalistas de ameaças, tal como aquele do...[trecho redigido]... serviço em 1998. dizendo que Bin Laden queria seqüestrar uma aeronave americana para libertar 'Blind Shaykh' Umar 'Abd al-Rahman' e outros extremistas presos nos EUA. No entanto, informações do FBI desde aquela época indicam exemplos de atividades suspeitas no país, consistindo em preparações para seqüestro de aviões e outros tipos de ataques, incluindo recente vigilância de prédios federais em Nova York. 6 de agosto de 2001, "Bin Ladin Determined to Strike Inside US", http://www.cnn.com/2004/images/04/10/whitehouse.pdf FONTE: O documento de 6 de agosto de 2001, conhecido como Resumo Presidencial Diário, tem sido foco de intensa apuração, pois relatou que Bin Laden defendeu o seqüestro de aviões, que colaboradores da Al-Qaeda estavam nos Estado Unidos e que o grupo planejava ataques aqui. Clarke J. Scott, "Clarke Gave
Warning on Sept. 4, 2001; Testimony Includes Apology to Families of Sept. 11 Victims", Associated Press, 25 de março de 2004. Em 6 de agosto de 2001, George W. Bush foi pescar. FONTE: "O presidente Bush entrou em férias segunda-feira, pescando em sua lagoa, passeando nos 1.600 acres de sua fazenda, fazendo corridas matinais". Associated Press, "President Bush Vacationing in Texas", 6 de agosto de 2001. "Será que foi o cara que recebeu um montão de armas dos amigos do meu pai?" FONTE: Em 1995, um membro do Conselho de Segurança Nacional de Reagan e co-autor das Diretrizes de Segurança Nacional, Howard Teicher, assinou um juramento de garantia afirmando: De 1982 a 1987, servi como membro de equipe do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos.[...] Em junho de 1982, o presidente Reagan decidiu que os Estados Unidos não podiam permitir que o Iraque perdesse a guerra para o Irã. O presidente Reagan decidiu que os Estados Unidos fariam o que fosse necessário e legal para evitar que o Iraque perdesse a guerra para o Irã. Como conseqüência dessas diretrizes de segurança secretas, os Estados Unidos apoiaram ativamente o esforço de guerra iraquiano ao fornecer bilhões de dólares de crédito, inteligência militar e conselho aos iraquianos, além de monitorar bem de perto a venda de armas de outros países ao Iraque, para se certificar de que o Iraque teria o armamento necessário. Esta mensagem foi entregue pelo vice-presidente Bush, que comunicou o presidente egípcio Mubarak, que, por sua vez, passou a mensagem para Saddam Hussein. O diretor da CIA Casey e o líder dos deputados Gates afirmaram que a CIA confirmou que
fabricantes não-americanos fabricaram e venderam ao Iraque as armas que os iraquianos precisavam. Em certos momentos, quando um componente-chave não estava prontamente disponível, os níveis mais altos do governo dos Estados Unidos decidiram disponibilizar o componente para o Iraque, direta ou indiretamente. Eu me lembro especificamente de que a provisão de penetradores anti-blindagem ao Iraque foi um caso a parte. Os Estados Unidos tomaram a decisão política de fornecer tais armas ao Iraque. Juramento do ex-membro do Conselho de Segurança Nacional, Howard Teicher, United States of America v. Cartos Cardoen et al., 31 de janeiro de 1995. http://www.informationclearinghouse.info/articleI413.htm FONTE: Surgiram questões sobre a possibilidade de os Estados Unidos não apenas ignorarem carregamentos estrangeiros de armas para os Iraque, mas de realmente incentivá-los ou até providenciá-los. Um ex-membro do Conselho de Segurança Nacional, Howard Teicher, disse em um tribunal, em 1995, que a CIA certificou-se de que o Iraque havia recebido as armas dos fabricantes não-americanos. Ken Guggenheim, "War Crimes Trial for Saddam Could Reveal Details of Past U.S. Help" , Associated Press, 24 de janeiro de 2004. FONTE: "Há uma ampla documentação demonstrando que os governos Reagan e Bush forneceram tecnologias militares críticas que foram postas diretamente em prática na construção da máquina de guerra do Iraque. Há também fortes evidências indicando falha da seção executiva em combater traficantes ilegais de armas ou manter o controle da transferência de armamento dos EUA por terceiros, o que permitiu um fluxo substancial de equipamento militar de origem americana e de componentes militares chegando ao Iraque. William D. Hartung, "Weapons at
War; A World Policy Institute Issue Brief", maio de 1995. Veja também, Alan Friedman, Spider's Web: The Secret History of How the White House Illegaly Armed Iraq (Bantam Books, 1993); Kenneth R. Timmerman, The Death Lobby: How the West Armed Iraq (Houghton, Mifflin, 1991). FONTE: Dante Fascell (Democrata, Flórida), responsável pelo Comitê de Assuntos Internacionais da Casa Branca, disse [...] que os Estados Unidos não poderiam 'clamar por pureza' na venda de armas, já que o governo americano vendeu armas ao Irã, Iraque e 'a todos do mundo'''. Robert Shepard, "Congress Approves Aid for Former Soviet Republics", United Press International, 3 de outubro de 1992. FONTE: Durante o governo Reagan, um programa secreto americano forneceu ao Iraque assistência no planejamento de batalhas, em uma época em que agências de inteligência americanas sabiam que os comandantes do Iraque empregariam armas químicas em batalhas decisivas na guerra Irã-Iraque, de acordo com graduados oficiais militares com conhecimento direto do programa. Tais oficiais, que concordaram em falar desde que não fossem identificados, responderam à pergunta de um repórter sobre a natureza da guerra de gás em ambos os lados do conflito entre Irã e Iraque de 1981 a 1988. O uso de gás pelo Iraque no conflito é freqüentemente citado pelo presidente Bush e, esta semana, pela sua conselheira de segurança nacional, Condoleezza Rice, como justificativa para a 'mudança de regime' no Iraque. O programa secreto foi realizado em uma época que os assessores mais importantes do presidente Reagan, incluindo o secretário de Estado George P. Shultz, o secretário de Defesa Frank C. Carlucci e o general Colin Powell, então conselheiro de segurança nacional, condenaram publicamente o Iraque pelo uso de gás venenoso, especialmente depois de ter atacado os curdos em Halabja, em
março de 1988. Patrick E. Tyler, "Officers Say U.S. Aided Iraq in War Despite Use of Gas", New York Times, 18 de agosto de 2002. "Foi aquele grupo de fundamentalistas religiosos que me visitou no Texas quando eu era governador?" FONTE: "Uma delegação sênior do movimento Talibã no Afeganistão está nos Estados Unidos para discutir com uma empresa de energia internacional que quer construir um gasoduto do Turmenequistão até o Paquistão, cruzando o Afeganistão. Um porta-voz da empresa, a Unocal, disse que o Talibã esperava passar vários dias na matriz da empresa em Sugarland, Texas". "Taleban in Texas for Talks on Gas Pipeline", BBC News, 4 de dezembro de 1997. (Sugarland fica a cerca de 35 quilômetros de Houston). "Ou foram os sauditas? (Bush com príncipe saudita) Que diabo, foram eles." FONTE: "As 27 páginas classificadas do relatório do congresso sobre o 11 de setembro retratam o governo saudita apenas fornecendo dinheiro suficiente e ajuda aos seqüestradores assassinos, mas também permitindo potencialmente o fluxo de centenas de milhões de dólares para a Al-Qaeda e outros grupos terroristas através de caridades suspeitas e outras frentes, de acordo com fontes familiarizadas com o documento. Um dos oficiais dos EUA que leu a seção classificada disse que ela descreve 'ligações bem diretas, bem específicas' entre oficiais sauditas, dois seqüestradores de San Diego e outros coconspiradores em potencial, que não podem ser consideradas mentiras, fatos isolados ou coincidência. Quinze dos 19 seqüestradores eram sauditas. Josh Meyer, "Report Links Saudi
Government to 9/11 Hijackers, Sources Say", Los Angeles Times, 2 de agosto de 2003. "Nos dias que se seguiram ao 11 de setembro, todo o tráfego de vôos comerciais e particulares foi paralisado." FONTE: Na manhã de 11 de setembro, havia 4.873 vôos operando no espaço aéreo americano. Assim que soube da natureza e da escala do ataque terrorista em Nova York e Washington - que nós estávamos enfrentando não apenas um, mas quatro possíveis seqüestros de aviões, e muito outros rumores de aviões desaparecidos ou não identificados - a secretária Mineta pediu ao sistema de tráfego aéreo para fechar todas as operações civis. James F. Garvey na Segurança de Aviação após o ataque de 11 de setembro, 21 de setembro de 2001. http://www.faa.gov/newsroom/testimony/2001l testimony_010921.htm Veja também, "Airports to Remain Closed, Mineta Says", release de imprensa do Departamento de transporte, 12 de setembro de 2001. "A Casa Branca deu sua autorização para que aviões recolhessem membros da família Bin Laden e muitos outros sauditas." FONTE: Temendo represálias contra os cidadãos do seu país, o governo saudita pediu ajudar para tirar alguns cidadãos sauditas dos Estados Unidos. Comissão nacional dos ataques terroristas nos Estados Unidos, ameaças e repostas em 2001, relatório da equipe no. 10, Os vôos sauditas, p. 12;
http://www.911comission.gov/hearings/hearing10/staff_statement_1 0.pdf FONTE: "Agora, o que me lembro é de pedir relatórios, de vôo para todos a bordo e que todos os nomes fossem direta e individualmente investigados pelo FBI antes de receberem permissão para deixar o país. Eu também quis que o FBI assinasse até mesmo a permissão dos sauditas para deixar o país. E me lembro também de que tudo aquilo foi feito. É verdade que entre aqueles que partiram estavam membro da família Bin Laden. Sabíamos disso na época. Não posso dizer mais nada em seção aberta, mas foi uma decisão consciente com total revisão dos níveis mais altos do Departamento de Estado, do FBI e da Casa Branca". Testemunho de Richard Clarke, ex-coordenador do grupo de anti-terrorismo, membro do Conselho Nacional de Segurança, ex-membro do Comitê Judiciário do Senado, 3 de setembro de 2003. FONTE: "Eu estava tomando ou coordenando várias decisões em 11/9 e nos dias seguintes. Eu adoraria ser capaz de dizer a você quem fez isso, quem trouxe essa proposta para mim, mas não sei. Mas como você está me pressionando, as duas possibilidades mais prováveis são o Departamento de Estado, ou o chefe de equipe da Casa Branca. Mas não sei". Testemunho de Richard A. Clarke, diante da Comissão Nacional dos Ataques Terroristas nos Estados Unidos, 24 de março de 2004. "Pelo menos seis jatos particulares e quase duas dúzias de aviões comerciais tiraram os Bin Laden e outros sauditas dos Estados Unidos depois do dia 13 de setembro. Ao todo, 142 sauditas, incluindo 24 membros da família Bin Laden, foram autorizados a deixar o país."
Nota: Deve ser observado que, apesar de o filme não fazer alegações, fortes evidências mostraram recentemente que pelo menos um avião particular levou cidadãos sauditas, enquanto os vôos particulares ainda estavam proibidos. Entretanto, por quase 3 anos, a Casa Branca negou a existência desse vôo. Relatado em 9 de junho de 2004, artigo do St. Petersburg Times citado abaixo. FONTE: Depois de o espaço aéreo ser reaberto, seis vôos fretados, com 142 pessoas, na maioria sauditas, partiram dos Estados Unidos entre 14 e 24 de setembro. Um vôo, o chamado vôo de Bin Laden, partiu dos Estados Unidos em 20 de setembro com 26 passageiros, a maioria deles parentes seus. Comissão Nacional dos Ataques Terroristas nos Estados Unidos, ameaças e respostas em 2001, relatório da equipe no. 10. Os vôos sauditas, p. 12; http://www.911comission.gov/hearings/hearing10/staff_statement10.pdf FONTE: Deve ser observado que o documento de proteção de fronteira e alfândega dos EUA liberado pelo Departamento de Segurança da Pátria lista, em 24 de fevereiro de 2004, 162 cidadãos sauditas que voaram para fora do país entre 11 e 15 de setembro de 2001, partindo do aeroporto Kennedy em Nova York, Dulles de Washington e Dallas/Fort Worth. http://www.judicialwatch.org/archive/2004/homelandsecurity.pdf FONTE: Para uma lista oficial de portadores de passaportes sauditas (nomes redigidos) que voaram para fora dos EUA entre 11 e 15 de setembro de 2001, veja o documento de proteção de fronteira,e alfândega dos EUA liberado pelo Departamento de segurança da pátria, 24 de fevereiro de 2004;
http://www.judicialwatch.org/archive/2004/homelandsecurity.pdf FONTE: Matéria do St. Petersburg Times, de 9 de junho de 2004: "Dois dias depois dos ataques de 11 de setembro, com a maior parte do tráfego aéreo ainda proibido, um jato pequeno aterrissou no aeroporto internacional de Tampa, pegou três jovens sauditas e partiu. Os homens, um deles suposto membro da família real saudita, foram acompanhados por um ex-agente do FBI e um expolicial de Tampa no vôo para Lexington, Kentucky. Então os sauditas pegaram um outro vôo para fora do país". Entretanto: "Por quase três anos, a Casa Branca, oficiais da lei e da aviação insistiram que o vôo nunca ocorreu e negaram relatórios publicados e especulações difundidas na Internet sobre esse propósito.[...] O painel terrorista, mais conhecido como Comissão de 11/9, disse em abril que tinha conhecimento de seis vôos fretados com 142 pessoas a bordo, na maioria sauditas, que deixaram os Estados Unidos entre 14 e 24 de setembro de 2001. Mas não disseram nada a respeito do vôo de Tampa [...] A Comissão 11/9, que disse que os vôos para fora dos Estados Unidos foram tratados pelo FBI, parece preocupada com a manobra do vôo de Tampa [...]. A maioria das aeronaves autorizadas a voar no espaço aéreo americano em 13 de setembro eram jatos vazios sendo levados de aeroportos onde haviam feito pousos forçados em 11 de setembro. A reabertura do espaço aéreo incluiu vôos fretados pagos, mas não particulares, vôos não comerciais. Jean Heller, "TIA now verifies flight of Saudis; The government has long denied that two days after the 9/11 attacks, the three were allowed to fly". St. Petersburg Times, 9 de junho de 2004. Em 2001, um dos filhos de Osama casou-se no Afeganistão, vários membros da família foram ao casamento.
FONTE: "Bin Laden, bem como sua mãe, dois irmãos e uma irmã, que vieram de avião da Arábia Saudita, foram ao casamento de um de seus filhos, Mohammad, segunda-feira, na cidade de Kandahar, no Afeganistão, afirmou o jornal diário árabe Al-Hayat. [...] Outro filho de Bin Laden casou-se com uma das filhas de al-Masri's em janeiro. O Al-Hayat afirmou que vários membros da família Bin Laden, os quais comandam uma grande empresa de construção na Arábia Saudita, também comparecerem ao casamento. Agência France Presse, "Bin Laden Full of Praise for Attack on USS Cole at Son's Wedding", quinta-feira, 1o. de março de 2001. "Nós detivemos centenas de pessoas" imediatamente após 11/9. FONTE: "Mais de 1200 estrangeiros foram detidos como parte da investigação do governo nos ataques terroristas, alguns passaram meses na prisão. Advogados de alguns civis reclamaram, mas oficiais do governo insistiram estar simplesmente cumprindo longas leis de imigração". "A Nation Challenged", New York Times, 25 de novembro de 2001. FONTE: O Departamento de Segurança Nacional anunciou ontem novas regras destinadas a prevenir a recorrência de longas detenções de centenas de estrangeiros, dos quais muitos foram impedidos de telefonar ou contatar advogados durante meses após terem sido presos na vigília dos ataques de 11 de setembro de 2001. As orientações foram anunciadas publicamente ontem através de Asa Hutchinson, subsecretária do departamento de fronteira e segurança de transporte, e foram bem recebidas por grupos de direitos civis que tinham denunciado amargamente a detenção de 762 imigrantes ilegais depois dos ataques, muitas vezes por conta de suspeitas infundadas do FBI de que estariam ligados com o terrorismo. As novas orientações são uma resposta a
um relatório de 198 páginas, altamente crítico do último mês de junho, escrito por Glenn A. Fine, inspetora geral do departamento de Justiça. Concluiu-se que entre as conseqüências caóticas dos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, centenas de árabes e sul-asiáticos que haviam cometidos pequenos delitos de imigração mofavam na cadeia sem uma revisão periódica de suas penas por oficiais dos EUA. Alguns foram maltratados por guardas. A média de detenção era de três meses, e a mais longa foi de 10 meses, antes que os imigrantes fossem inocentados das ligações com o terrorismo e libertados da prisão. John Mintz, "New Rules Shorten Holding Time for Detained Immigrants", Washington Post, 14 de abril de 2004. FONTE: Nos dias, semanas e meses que seguiram os trágicos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, centenas de imigrantes americanos foram investigados e detidos, freqüentemente sob circunstâncias ásperas e abusivas, em nome de uma América segura. Não devido às evidências (ou mesmo intuição) de que estavam envolvidos em ataques terroristas que ceifaram vidas de mais de 3.100 pessoas. Não por terem ligações ou mesmo conhecimento – com grupos terroristas que podiam ameaçar a segurança dos americanos no futuro. Ao contrário, centenas de imigrantes foram arbitrariamente pegos nesta armadilha, e jogados (por vezes, literalmente) na cadeia. O número exato é desconhecido, pois o governo se recusa a revelar tais informações. Eles tinham algo em comum: quase todos eram homens da Arábia Saudita ou do Sul Asiático, e quase todos eram muçulmanos.[...] Uma vez presos, muitos imigrantes eram etiquetados como 'de interesse' para as investigações de 11 de setembro e jogados no limbo legal - detidos por semanas ou meses em conexões com investigações criminosas, mas lhes eram negados os devidos direitos legais que teriam se fossem de fato processados por crimes. ACLU, "America's Disappeared: Seeking
International Justice for Immigrants Detained after September 11", janeiro de 2004, aclu.org. O FBI conduziu "uma pequena entrevista, uma conferida no passaporte". FONTE: No ano passado, a National Review relatou que o FEl conduziu entrevistas breves com os sauditas - nas palavras de um porta-voz do FEl, "no aeroporto, quando eles estavam prestes a partir". Especialistas entrevistados pelo National Review chamaram as ações do FBI de "muito incomuns", devido ao fato de que aqueles que partiam serem realmente membros da família de Osama bin Laden. "Ele [o FBI] não podia ter feito uma longa e completa entrevista", disse John L. Martin, o ex-chefe de segurança interna do departamento de Justiça. "The Great Escape: How did assorted Bin Ladens get out of America after September 11?" National Review, 29 de setembro de 2003. FONTE: "Trinta das 142 pessoas desses vôos foram entrevistadas pelo FBI, incluindo 22 das 26 pessoas (23 passageiros e 3 guardacostas particulares) no vôo Bin Laden. Muitos foram interrogados com detalhes. Nenhum passageiro afirmou ter tido contato recente com Osama bin Laden ou ter qualquer conhecimento sobre atividades terroristas". Comissão nacional dos ataques terroristas nos Estados Unidos, ameaças e respostas em 2001, relatório da equipe no. 10, Os vôos sauditas, p. 12: http://www.911comission.gov/hearings/hearing10/staff_statement_10.pdf FONTE: "Falei com várias pessoas que estavam com o FBI durante a repatriação. E eles disseram que houve muitas idas-e-vindas entre o FBI e a Embaixada saudita. E que a Embaixada saudita
tentou tirar as pessoas de lá sem mesmo identificá-las. O FBI obteve sucesso na identificação das pessoas e na obtenção de seus passaportes. Mas, em muitos casos, o FBI tomou contato com as pessoas pela primeira vez na pista ou no próprio avião à medida que partiam. Aquela não era hora para uma entrevista séria ou uma interrogação séria". Entrevista com Craig Unger, CNN, 4 de setembro de 2003.
George W. Bush e seus antigos amigos no Texas A Casa Branca libera registros em respostas às acusações de deserção de Moore. FONTE: O diretor de cinema de esquerda Michael Moore começou a discussão em janeiro, quando endossou Clark presidente e chamou o presidente de "desertor". A Casa Branca respondeu liberando os registros de serviço do presidente, incluindo uma baixa com louvor. James Rainey, "Who's the Man? They Are; George Bush and John Kerry Stand Shoulder to Shoulder in One Respect: Macho is Good. Very Good. It's Been That Way Since Jefferson's Day", Los Angeles Times, 18 de março de 2004. "E existe uma diferença marcante entre a ficha de 2000 e aquela apresentada em 2004. Um nome foi apagado - coberto com tinta preta. Em 1972, dois pilotos foram suspensos por deixar de fazer um exame médico obrigatório. Um deles era George W. Bush. E o outro era James R. Bath." FONTE: Veja o Escritório da Guarda Nacional, pedido aeronáutico número 87, 29 de setembro de 1972, http://www.michaelmoore.com/warroom/f911noteslindex.php?id=18
"James R. Bath foi durante certo período o administrador dos investimentos da família Bin Laden no Texas." FONTE: Veja o acordo registrado em cartório, Condado Harris, Texas, assinado por Salem M. Binladen, 8 de julho de 1976 (documento original), anexo C. "Eu, Salem M. Binladen, transfiro, por meio desta procuração, completa e total autoridade para James Reynolds Bath, 2330 Bellefontaine, Houston, Texas, para agir em meu nome em todos os assuntos relacionados aos negócios e operações dos escritórios Binladen-Houston, em Houston, Texas". Notarized Trust Agreement, Condado Harris, Texas, 8 de julho de 1976. FONTE: Segundo um acordo de 1976, feito pouco depois [George H. W.] de Bush ser indicado diretor da ClA, o xeque saudita Salem M. Binladen apontou Bath como seu representante comercial em Houston. Binladen e seus irmãos são proprietários da Construtora Irmãos Binladen, uma das maiores empresas de construção no Oriente Médio". Jerry Urban, "Feds Investigate Entrepreneur Allegedly Tied to Saudis", Houston Chronicle, 4 de junho de 1992. "George W. Bush e James R. Bath tomaram-se bons amigos." FONTE: "Bath, 55 anos, admite amizade com George W. Bush desde a época em que serviram juntos no Texas na Guarda Aérea Nacional". Jonathan Beaty, "A Mysterious Mover of Money and Planes", Time, 28 de outubro de 1991. FONTE: "Em uma cópia do registro liberado pela Guarda Nacional em 2000, o homem em questão, James R. Bath, estava listado como suspenso de voar pela Guarda Nacional em 1972 por não ter passado no exame médico, próximo de uma anotação similar para o sr. Bush. Foi amplamente relatado que os dois eram amigos e que o sr. Bath investiu no primeiro grande negócio de risco do sr.
Bush, Arbusto Energy, no final da década "de 1970, depois de o sr. Bath ter começado a trabalhar para Salem bin Laden". Jim Rutenberg. "A Film to Polarize Along Party Lines", New :York Times, 17 de maio de 2004. "Logo que foram dispensados, época em que o pai de Bush era o chefe da ClA, Bath abriu seu próprio negócio no ramo da aviação após vender um avião a um homem chamado Salem bin Laden, herdeiro da segunda maior fortuna da Arábia Saudita - o Saudi bin Laden Group." FONTE: "Bath abriu sua própria corretora de aeronaves em 1976". Jonathan Beaty, "A Mysterious Mover of Money and Planes", Time, 28 de outubro de 1991. (Bush foi diretor da ClA de 1976 a 1977). FONTE: "Por volta de 1974 [...] Bath estava tentando vender um turbo-propulsor F-27, um avião lento de médio-porte, que não era exatamente um bom negócio naqueles dias, quando recebeu um telefonema que mudou sua vida. A voz do outro lado pertencia a Salem bin Laden. [...] Bath não somente tinha um comprador para um avião que ninguém parecia querer, como também havia tropeçado em uma fonte de dinheiro e poder que tinha certeza de despertar o interesse do mais [...] impetuoso barão de petróleo do Texas. Craig Urger, House of Bush, House of Saud (Scribner, 2004), pp. 19-20. "Ele fundou no oeste do Texas uma companhia petrolífera chamada Arbusto, uma companhia de prospecção que era muito, muito boa em abrir buracos que nunca davam em nada."
FONTE: "Depois de se formar na Escola de Administração de Harvard, Bush organizou sua primeira empresa, Arbusto Energy (Arbusto é a palavra em espanhol que significa Bush), em 1977, no meio de uma candidatura para o Congresso. Segundo os registro dos arquivos da Security and Exchange Comission [órgão que regula e fiscaliza o mercado de capitais nos EUA], a Arbusto não operou até março de 1979. [...] De acordo com os arquivos de 1984 dessa comissão, os sócios de Bush investiram 4,66 milhões de dólares nos vários programas de perfuração, mas receberam de distribuição de lucros somente 1,54 milhão de dólares. No entanto, o CFO [Chief Finacial Office] de Bush afirmou: "Não encontramos muito petróleo e gás" e "Não estávamos procurando dinheiro". George Lardner Jr. e Lois Romano, "Bush Name Helps Fuel Oil Dealings", Washington Post, 30 de julho de 1999. FONTE: "Finalmente Bush renomeou sua empresa Bush Exploration e mais tarde consolidou uma empresa chamada Spectrum 7. Documentos arquivados na Securities and Exchange Comission mostram que a empresa perdeu dinheiro de 1979 até 1982 e que investidores que colocaram quase 4,7 milhões de dólares, receberam de volta apenas 1,5 milhões. Relatórios publicados informam que a Bush Exploration foi salva por Bill De Witt e Mercer Reynolds, importantes homens do mundo do petróleo de Cincinnati. No entanto, atualmente Bush diz que sua empresa estava financeiramente forte e que o consolidador foi uma estratégia. De qualquer forma, George W. perfurou a parte que lhe cabe de buracos secos. Como Conaway se lamenta deste dia, a empresa 'nunca atingiu [...] o Grande Kahuma"'. Maria La Ganga, "Bush Finesses Texas 2.Step of Privilege, Personality", Los Angeles Times, 2 de março de 2000. "Não existe nenhum indício de que papai tenha assinado o cheque para que ele abrisse a companhia."
FONTE: "A semeadura de dinheiro, mais de 4 milhões de dólares, cresceu entre 1979 e 1982 com a ajuda do tio [de Bush], o financiador Jonathan Bush. A lista de investidores da Arbusto é repleta de nomes de família e amigos famosos. Sua avó, Dorothy W. Bush, investiu 25 mil dólares. Expoentes corporativos, como George L. Ball, chefe executivo da Prudential-Bache Securities, investiu 100 mil dólares. Macomber e William H. Draper III, que investiram mais de 125 mil dólares, foram mais tarde nomeados presidentes do U.S. Export-Import Bank durante as administrações Reagan e Bush". Maria La Ganga, "Bush Finesses Texas 2-Step of Privilege, Personality", Los Angeles Times, 2 de março de 2000. "O bom amigo James Bath fora contratado para administrar o dinheiro da família Bin Laden no Texas e investir em negócios. E James Bath, por sua vez, investiu em George W Bush." FONTE: Veja o acordo registrado em cartório, Condado Harris, Texas, assinado por Salem M. Binladen, em 8 de julho de 1976: "Eu, Salem M. Binladen, transfiro, por meio desta procuração, completa e total autoridade para James Reynolds Bath, 2330 Bellefontaine, Houston, Texas, para agir em meu nome em todos os assuntos relacionados aos negócios e operações dos escritórios Binladen-Houston, em Houston, Texas". Notarized Trust Agreement, Condado Harris, Texas, 8 de julho de 1976. FONTE: As relações comerciais de Bath com Salem bin Laden, e outros ricos empresários sauditas, foram bem documentadas. Veja, por exemplo, Mike Ward, "Bin Laden Relatives Have Ties to Texas", Austin American-Stateman, 9 de novembro de 2001; Jerry Urban, "Feds Investigate Entrepreneur Allegedly Ties to Saudis", Houston Chronicle, 4 de junho de 1992; Thomas Petzinger Jr., et aI., "Family Ties: How Oil Firm Linked to a Son of Bush Won Bahrain Drilling Pact", Wall Street Journal, 6 de dezembro de 2001.
FONTE: "[...] No início dos anos 80 registros de impostos revisados pela Time mostram que Bath investiu em negócios de risco de energia de Bush e continuou acionista até Bush vender sua empresa para a Harken em 1986". Jonathan Beaty, "A Mysterious Mover of Money and Planes", Time, 28 de outubro de 1991. "Bush afundou a Arbusto, assim como fez com todas as outras empresas com as quais se envolveu. Até que, finalmente, uma delas foi comprada pela Harken Energy - e ele ganhou um cargo no conselho diretor." FONTE: O nome de Bush [...] era para ajudar a salvá-lo, até que tivesse atraído investidores e ajudado a recuperar sua fortuna enfraquecida ao longo dos anos na cidade de planícies empoeiradas de Midland. Uma grande empresa com sede em Dallas, Harken Oil and Gas, estava à procura de empresas de petróleo em dificuldades para comprar. Depois de encontrar a Spectrum, os executivos da Harken vislumbraram um bônus em seus objetivos gerenciais, apesar dos registros "manchados" da empresa. No final de setembro de 1986, o acordo foi feito. A Harken assumiu 3,1 milhão de dólares em dívidas e colocou 2,2 milhões de dólares de suas ações numa empresa banhada no vermelho, embora tivesse reservas de petróleo e gás projetadas para gerar 4 milhões de dólares futuramente. A Harken, uma empresa que gostava de se ligar às estrelas, também contratou Bush, que não serviu como gerente operacional, mas como membro da alta diretoria [...] Essa foi uma das grandes oportunidades da vida de Bush. O acordo Harken tornou-se uma reprise decepcionante do que estava se tornando um padrão familiar. Como homem do petróleo, Bush sempre trabalhou duro, ganhando uma reputação de atirador certeiro e de um bom chefe, engenhoso, caloroso e imensamente adorável. Até os investidores
que perdiam dinheiro em seus negócios de risco continuavam seus admiradores, e alguns deles estão agora ganhando dinheiro com sua campanha presidencial. Mas a história da carreira de Bush no petróleo, que começou logo após sua graduação na Escola de Administração de Harvard, no verão de 1975, e terminou com a entrada da Harken e sua ida para Washington, é mais o seu fracasso em obter sucesso, apesar das excelentes ligações de sua linhagem e da educação trazida pela Ivy League". George Lardner Jr. e Lois Romano, "Bush Name Helps Fuel Oil Dealings", Washington Post, 30 de julho de 1999. Bush foi investigado pela SEC. "O advogado e sócio de James Baker que ajudou Bush a sair ileso da investigação da SEC é um homem chamado Robert Jordan, que foi nomeado embaixador norte-americano na Arábia Saudita quando George W. Bush tornou-se presidente." FONTE: "Uma semana antes da venda das ações de George W Bush em 1990 para a Harken Energy Co., as empresas de advocacia preveniram Bush e outros diretores contra a venda de ações caso soubessem de fatos negativos significantes sobre as prospecções da empresa. A venda ocorreu alguns meses antes de a Harken relatar perdas significativas, levando a uma investigação da Securities and Exchange Comission. Uma carta da empresa de advocacia de Haynes e Boone, com data de 15 de junho de 1990, não foi enviada à SEC pelo advogado de Bush, Robert W. Jordan, até 22 de agosto de 1991, de acordo com uma carta de Jordan. Isso foi um dia antes de os membros de equipe da SEC que investigavam a venda de ações concluírem que não haviam provas suficientes para recomendar uma sanção contra Bush por informações privilegiadas". Peter Behr, "Bush Sold Stock After Lawyers' Warning", Washington Post, 12 de novembro de 2002.
FONTE: "O presidente Bush escolheu como embaixador da Arábia Saudita um advogado de Dallas, que o representou contra [...] alegações levantadas da venda de ações na Harken Energy Co. onze anos atrás". G. Robert Hillman, "Bush Taps Dallas Attorney to Be Ambassador to Saudi Arabia", Dallas Morning News, 21 de julho de 2001. "Com a ruína da Harken, os amigos do pai de Bush arranjaramlhe um outro cargo de diretoria em uma empresa do Carlyle Group." FONTE: "Fred Malek, conselheiro sênior da Carlyle, que também foi diretor da convenção republicana de 1988, sugeriu que o filho mais velho do presidente, George W. Bush, seria um reforço positivo no conselho da Caterair. O senhor Malek era também diretor da Caterair e vice-presidente das linhas aéreas Northwest, um grande cliente da Caterair. 'Achei que George W. Bush pudesse contribuir para a Caterair', afirmou Malek. Mais tarde Malek alegou: 'Ele estaria no conselho mesmo se seu pai não fosse presidente"'. Kenneth N. Gilpin, "Little-Known Carlyle Scores Big", New York Times, 26 de março de 1991. FONTE: O co-fundador do grupo Carlyle, David Rubenstein, falando sobre o início da Caterair depois de a Carlyle tê-lo comprado: "Quando estávamos montando o conselho", disse Rubenstein, "alguém veio até mim e disse: 'Olha, tem um homem que gostaria de estar no conselho, Ele está meio sem sorte. Precisa de um emprego. Precisa de uma posição no conselho. Você poderia aproveitá-lo? Pague um salário a ele e será um bom colaborador, um voto leal para a gerência e assim por diante.[...] Nós o colocamos no conselho e ele permaneceu por três anos. Veio a todas as reuniões. [...] E depois de um tempo eu disse a ele após quase três anos - 'Sabe, eu não tenho' certeza de que isso
seja realmente para você. Talvez você devesse fazer outra coisa. Pois não acho que sua presença valorize o conselho. Você não conhece a empresa tanto assim.' Rubenstein disse que o membro do conselho disse: 'Bem, acho que vou sair desse negócio de qualquer forma. Não gosto disso tanto assim. Então provavelmente sairei do conselho'. Eu disse: 'Obrigado'. Não pensei que fosse vêlo novamente. O nome dele é George W. Bush", afirmou Rubenstein. 'Ele se tornou presidente dos Estados Unidos. Se você me pedisse para citar o nome de 25 milhões de pessoas que pudessem se tornar presidente dos Estados Unidos, ele não estaria nessa categoria. Então, nunca se sabe". Nicholas Horrok, "White House Watch: With Friends Like These"; UPI, 16 de julho de 2003.
O Grupo Carlyle, a conexão saudita e os lucros depois do 11 de setembro "O Carlyle Group é um conglomerado multinacional que investe em setores da economia fortemente regulamentados pelo governo, como telecomunicações, serviços de saúde e, particularmente, defesa." FONTE: O grupo Carlyle é uma empresa com um dos maiores patrimônios líquidos do mundo, administrando mais de 18,3 bilhões de dólares. Com 23 tipos de fundos em cinco tipos de investimentos (compras de empresas, imóveis, finanças alavancadas, capital de risco e circulante), Carlyle combina visão global com critério local, confiando em um time de aproximadamente trezentos profissionais de investimento de alto nível, operando em escritórios de catorze países para descobrir grandes oportunidades na América do Norte, Europa e Ásia, Carlyle está focada em setores onde tem demonstrado habilidade: indústria aeroespacial e defesa, indústria automotiva e transporte, bens de consumo, fornecimento de energia elétrica e mecânica,
convênios de saúde, indústrias, imóveis, tecnologia e prestação de serviços, telecomunicação e mídia." Website do Grupo Carlyle, http://thecarlylegroup.com/eng/company/index.html As famílias Bin Laden e Bush eram ambas ligadas ao grupo Carlyle, assim como muitos amigos e aliados da família Bush. FONTE: No início dos anos 90, George W. Bush fez parte da diretoria da Caterair, uma companhia de fornecimento de refeições para aviões. A Caterair era de propriedade do grupo Carlyle. Kenneth N. Gilpin, "Little-Known Carlyle Scores Big", New .York Times, 26 de março de 1991. "George W. Bush deixa a companhia em 1994, um ano depois do fim da presidência do pai." Ross Ramsey et aI., Campaign '94 Fisher's Staff Slips Up on Spanish", Houston Chronicle, 17 de setembro de 1994. FONTE: Em meados dos anos 90, George H. W. Bush juntou-se ao grupo Carlyle. "Sob a liderança de ex-oficiais como Baker e o exsecretário de Defesa Frank C. Carlucci, Carlyle especializou-se em comprar empresas de defesa e dobrar ou quadruplicar seu valor. O ex-presidente não se tornou apenas investidor da Carlyle, mas também membro do quadro de conselheiros da companhia na Ásia e 'um homem que faz' que ganhou os investidores." Doze ricas famílias sauditas, incluindo os Bin Laden, estavam entre eles. Em 2002, o Washington Post informou, 'Sauditas próximos ao príncipe sultão, o ministro da Defesa saudita [...] foram encorajados a investir na Carlyle como um favor para o velho Bush'. Bush aposentou-se da companhia em outubro passado, e Baker, que influenciou os aliados dos Estados Unidos no mês passado para que a dívida do Iraque fosse perdoada, permanece como conselheiro sênior do Carlyle." Kevin Phillips, "The Barreling Bushes; Four Generations of the Dynasty Have Chased Profits
Through Cozy Ties with Mideast Leaders, Spinning Webs of Conflicts of lnterest", Los Angeles Times, 11 de janeiro de 2004. FONTE: A família Bin Laden investiu na Carlyle pela primeira vez em 1994. Representando o conselho. da Carlyle na Ásia, George H. W. Bush visitou a matriz da família Bin Laden em Jiddah, na Arábia Saudita. Kurt Eichenwald, "Bin Laden Liquidates Holdings with Carlyle Group". New York Times, 26 de outubro de 2001. FONTE: James Baker era conselheiro sênior da Carlyle no início de 2003. Website do grupo Carlyle, http://www.thecarlylegroup.com/eng/team/15-team391.html FONTE: O chefe da OMB [Office of Management & Budget escritório de gerenciamento e orçamento] de Bush, Richard Darman, estava na Carlyle em 1994. Bob Cook, Mergers & Acquisitions Report, 12 de dezembro de 1994. FONTE: George W. Bush estava na Carteair - de propriedade do grupo Carlyle - até 1994, depois que Fred Malek, conselheiro sênior da Carlyle, que também foi diretor da convenção republicana de 1988, sugeriu ao grupo Carlyle que o filho mais velho do presidente "seria uma contribuição positiva para o conselho da Carlyle." Kenneth N. Gilpin, "Little- Known Carlyle Scores Big", New York Times, 26 de março de 1991. "Na manhã do dia 11 de setembro o Carlyle Group realizava sua conferência anual de investidores no hotel Ritz-Carlton, em Washington, D.C.. Naquela reunião estavam todos os figurões do Carlyle: James Baker, provavelmente John Major [ex-premiê britânico], certamente George H. W. Bush, que
entretanto deixou o encontro ainda pela manhã. Shafiq bin Ladin, meio-irmão de Osama bin Laden, estava na cidade para cuidar dos investimentos da família no Carlyle Group. Todos eles, reunidos numa sala, viram... quando os aviões atingiram as torres." FONTE: Na manhã de 11 de setembro de 2001, "no ambiente aconchegante do Hotel Ritz-Carlton em Washington D.C., o grupo Carlyle estava em sua conferência anual de investidores. Frank Carlucci, James Baker ID, David Rubenstein, William Conway e Dan D'Aneillow estavam reunidos com vários ex-líderes mundiais, ex-especialistas em defesa, ricos árabes do Oriente Médio e com os principais investidores internacionais, ao mesmo tempo em que a televisão mostrava o terror. Lá com eles, cuidando dos investimentos de sua família, estava Shafiq bin Laden, o meioirmão afastado de Osama bin Laden. George Bush (pai) também estava na conferência, mas o porta-voz do Carlyle diz que o expresidente saiu antes dos ataques terroristas, e que estava no avião para o Oriente Médio quando os vôos pelo país foram proibidos na manhã de 11 de setembro. Sob qualquer circunstância, uma confluência de pessoas de tal dimensão política e tão globalmente conectadas seria curiosa ou chegaria até a causar apreensão. Mas no contexto dos ataques terroristas contra os Estados Unidos por um grupo de sauditas liderados por Osama bin Laden, o grupo reunido no Hotel Ritz-Carlton naquele dia era uma desconcertada e singular coincidência". Dan Briody, The Iron Triangle (John Wiley & Sons, Inc., 2003), pp. 139-140. Veja também, Melanie Warner, "What Do George Bush, Arthur Levitt, Jim Baker, Dick Darman, and John Major Have in Common? (They AlI Work for the Carlyle Group)", Fortune, 18 de março de 2002. "O grupo Carlyle era o 11º. maior fornecedor de material bélico militar dos Estados Unidos."
FONTE: Em virtude de suas ações em companhias como U.S Marine Repair e United Defense Industries, a Carlyle é equivalente ao décimo primeiro maior contratante de defesa da nação. Ele administra 16,2 bilhões de dólares e reivindica uma média de retorno anual de 35%". Phyllis Berman, "LuckyTwice", Forbes, 8 de dezembro de 2003. "Uma das muitas empresas de armamentos que controlava era a United Defense, fabricante do carro de combate blindado Bradley. O 11 de setembro garantiu um ano excelente para a United Defense. Apenas seis semanas após os atentados, o Carlyle deu início ao trâmite para lançar ações da United Defense na Bolsa - e em dezembro, num único dia, lucrou 273 milhões de dólares." FONTE: "Em apenas um dia do mês passado, a Carlyle lucrou 237 milhões de dólares vendendo ações das United Defense Industries, a quinta maior contratante do exército. A renda das ações chegou na hora certa: funcionários da Carlyle dizem que eles decidiram abrir a 'empresa somente depois dos ataques de 11 de setembro [...] em 26 de setembro [de 2001], o exército assinou um contrato modificado de 665 milhões de dólares com a United Defense até o fim de abril de 2003 para completar a fase de desenvolvimento do Crusader, Em outubro, a companhia listou o Crusader e os ataques terroristas como pontos de vendas para as ofertas de ações." Mark Fineman, "Arms Buildup Is a Boon to Firm Run by Big Guns", Los Angeles Times, 10 de janeiro de 2002. FONTE: "Ainda no seu relatório anual de 2001, a United anunciou que tinha sido recompensada por um contrato de três anos de 697 milhões de dólares para completar uma grande melhoria em 389 unidades Bradley, e que havia outro contrato de modificação de
655 milhões de dólares para completar o contrato 'das fases de definições e redução de risco' do Crusader no valor de 1,7 bilhão até o fim de 2003. Juntos, o Crusader e os programas da Barkley contribuíram com 41 % das vendas da United em 2001, cita o relatório. Com as melhorias do Crusader e da Barkley em mãos, foi tomada a decisão para a venda de ações da United para o público no fim de 2001." Walter Pincus, "Crusader a Boon to Carlyle Group Even if Pentagon Scraps Project", Washington Post, 14 de maio de 2002. "Infelizmente, com tanta atenção concentrada nos Bin Laden e em seus investimentos, a família teve de abandonar o negócio." FONTE: "Depois dos ataques de 11 de setembro, os investimentos da família Bin Laden no grupo Carlyle tornaram-se inoportunos para o grupo e a família foi forçada a liquidar seus ativos com a companhia". Kurt Eichenwald, "Bin Laden Family Liquidates Holdings with Carlyle Group". New York Times, 26 de outubro de 2001. "O pai de Bush, porém, manteve o cargo de conselheiro sênior da divisão asiática do Carlyle por mais dois anos." FONTE: "O ex-presidente Bush foi conselheiro sênior do quadro de conselheiros do Grupo Carlyle na Ásia, mas aposentou-se do posto em outubro de 2003. Ele não tem nenhum outro cargo na Carlyle". http://www.thecarlylegroup.com/eng/news/14-presskit681.html#8 FONTE: "O ex-presidente não é mais conselheiro da companhia, mas ainda tem investimentos lá, o senhor Ullman (vice-presidente
de comunicação corporativa) disse". "Michael Moore Keeps Heat on at Premiere", Dallas Morning News, 18 de maio de 2004. George H. W. Bush recebe informações diárias da CIA. FONTE: "Uma das pessoas que se corresponde com [o exembaixador Joseph] Wilson é George H. W. Bush, o único presidente que foi chefe da ClA - ele ainda recebe instruções de Langley". Vicky Ward, "Double Exposure", Vanity Fair, janeiro de 2004. FONTE: O ex-presidente Bush esforçou-se em acompanhar as relações exteriores, em parte por exercer seu direito de ser informado pela CIA sobre os desenvolvimentos ao redor do mundo. George Bush Sr. Vouches for Son's Support of Israel to the Saudis", Há'aretz, 16 de julho de 2001. "Eles se beneficiam muito concretamente da confusão que se cria quando George Bush visita a Arábia Saudita em nome do Carlyle Group e se reúne com a família real e com a família Bin Laden. Ele está representando os Estados Unidos? Ou está representando uma companhia de investimentos dos Estados Unidos? Ou está representando as duas coisas?" FONTE: Poucas empresas teriam se igualado ao Grupo Carlyle por seu conjunto ordenado de amigos super-poderosos. A casa de capital de risco baseada em Washington fora comparada a uma casa de veteranos da Guerra do Golfo, e gente como George Bush pai, James Baker e John Major 'podem ser creditados por esse crescimento rápido'. The Observer, 15 de setembro de 2002. FONTE: "Deve ser causa de grande preocupação o fato de uma companhia como a Carlyle simultaneamente ter diretores e
conselheiros que façam negócios e ganhem dinheiro e também aconselhem o presidente dos Estados Unidos', diz Peter Eisner, diretor administrativo do Center for Public Integrity [Centro para Integridade Pública], uma organização sem fins lucrativos em Washington. O problema surge quando negócios pessoais misturam-se com política pública. Que chapéu o ex-presidente Bush usa quando ele diz ao príncipe Abdullah para não se preocupar com a política do Oriente Médio? Que chapéu ele usa quando lida com a Coréia do Sul, e causa mudanças políticas lá? Ou quando James Baker discute a eleição presidencial do jovem Bush? É uma situação informal, e a informalidade envolvida é precisamente a marca de sucesso da Carlyle. Oliver Burkeman Julian Borger, "The Winners: The Ex-Presidents' Club", The Guardian, 31 de outubro de 2001. FONTE: "A família saudita de Osama bin Laden está rompendo seus laços financeiros com o grupo Carlyle, uma companhia de investimentos conhecida por suas ligações com figuras políticas influentes de Washington [...] Há poucos anos, Frank C. Carlucci, presidente do Carlyle e ex-secretário de Defesa, visitou a sede da família em Jiddah, na Arábia Saudita, assim como o ex-presidente George Bush e James A. Baker III, ex-secretário de Estado. Bush trabalha como conselheiro da Carlyle, e Baker é sócio dessa companhia". Kurt Eichenwald, "Bin Laden Family Liquidates Holdings with Carlyle Group". New York Time, 26 de outubro de 2001. "Outro grupo de pessoas investe em você, em seus amigos e em seus negócios, ao longo de vários anos, 1 bilhão e 400 mil dólares." FONTE: No total, pelo menos 1,46 bilhões saíram dos sauditas para a casa dos Bush, e suas empresas e instituições aliadas".
Craig Unger, House of Bush, House of Saud (Scribner, 2004), p. 200. Para uma completa análise dos investimentos, veja o anexo C de Unger, pp. 295-298. Este número inclui investimentos feitos e contratos outorgados no tempo em que os amigos de Bush estavam envolvidos como o grupo Carlyle. FONTE: James Baker era conselheiro sênior da Carlyle no início de 1993. Website do Grupo Carlyle, http://www.thecarlylegroup.com/eng/team/15-team391.html FONTE: O chefe de OMB de Bush, Richard Darman, estava com o Carlyle em 1994. Bob Cook, Mergers & Acquisitions Report, 12 de dezembro de 1994. FONTE: George W Bush estava na Carteair - de propriedade do grupo Carlyle - até 1994, depois que Fred Malek, conselheiro sênior do Carlyle, que também foi diretor da convenção republicana de 1988, sugeriu ao grupo Carlyle que o filho mais velho do presidente "seria uma contribuição positiva para o conselho da Carlyle". Kenneth N. Gilpin, "Little-Known Carlyle Scores Big", New York Times, 26 de março de 1991. FONTE: Bush pai envolveu-se primeiro na Carlyle em meados dos anos 90 e não passou de 1997. Kevin Phillips, "The Barreling Bushes; Four Generations of the Dynasty Have Chased Profits Through Cozy Ties with Mideast Leaders, Spinning Webs of Conflicts of Interest", Los Angeles Times, 11 de janeiro de 2004; Dan Briody, The Iron Triangle Gohn Wiley & Sons, Inc., 2003). Mais fontes para esses números: FONTE: Investimentos sauditas no grupo Carlyle valem 80 milhões. Craig Unger, "Saving the Saudis", Vanity Fair, outubro de 2003. O
número foi divulgado para Unger pelo diretor do Carlyle, David Rubenstein, em uma entrevista. FONTE: Em 1994, a BDM, fornecedor militar do grupo Carlyle, "foi recompensada por oferecer assistência técnica e suporte logístico para as Força Aérea Real Saudita". Valor: 46,2 milhões de dólares. PR Newswire, "BDM Federal Awarded $46 Million Contract to Support Royal Saudi Air Force", 27 de outubro de 1994. FONTE: Durante os anos 90, a Vinnell Corporation (subsidiária da BDM) foi contratada para treinar a Guarda Nacional da Arábia Saudita pelo valor de 819 milhões de dólares. Robert Burns, "US Advises Saudi Military on Range of Threats - Including Terrorism". Associated Press, 13 de novembro de 1995. FONTE: Em 1995, a BDM conseguiu um contrato para "discutir o aumento de pessoal da Força Aérea Real Saudita em desenvolvimento, implementação e logística de manutenção, projetos e programas de engenharia". Valor: 32,5 milhões de dólares. "Defense Contracts", Defense Daily, 23 de junho de 1995, como citado por Craig Unger. FONTE: Em 1996, a BDM recebeu um contrato "para realizar a construção de 110 alojamentos no complexo MK-1, Khamis Mushayt, na Arábia Saudita, para o pessoal do programa de suporte técnico que estava assistindo a Força Aérea Real Saudita [...] Essa ação ajuda a venda de material bélico para a Arábia Saudita". Valor: 44.397.800 dólares. Release oficial do departamento de Defesa "BDM Federal, Incorporated", 1º. de abril de 1996. FONTE: No fim dos anos 90, Vinnell recebeu um contrato "para o programa de modernização da Guarda Nacional da Arábia Saudita
(SANG). O contrato de três anos, concedido numa licitação, diz que Vinnell continuará a auxiliar a SANG nos treinamentos de operação e atividades relacionadas". Valor: 163,3 milhões de dólares. PR Newswire, "Vinnell Selected for Award of $163.3 Million Contract for Saudi Arabian National Guard Modernization Program", 3 de maio de 1995. Kashin AI-An, "Saudi Guard Gets Quiet Help From US Firm with Connections", Associated Press, 22 de março de 1997. FONTE: Em 1997, a BDM recebeu um contrato "para oferecer 400 empreiteiras para auxiliar a Força Aérea Real Saudita em desenvolvimento, implementação e logística de manutenção, fornecimento, computação, verificação, programas de inteligência e projetos de engenharia". Valor: 18.728.682,00 dólares (nota: este é um "valor nominal para uma companhia com valor fixado em contrato"). “Defense Contracts", Defense Daily, 4 de fevereiro de 1997. Nota: A Carlyle comprou a BDM e sua subsidiária Vinnell em 1992 e vendeu-as para a TRW cm dezembro de 1997. FONTE: Em novembro de 2001, a Halliburton, antiga empresa de Dick Cheney, recebeu “um contrato para oferecer serviços para a companhia petrolífera da Arábia Saudita (Saudi Aramco) Qatif Field no desenvolvimento de projetos no leste da Arábia Saudita". Valor: 140 milhões de dólares. Release oficial da Halliburton, "Halliburton Awarded $140 Million Contract by Saudi Aramco", 14 de novembro de 2001. FONTE: No mesmo mês, um consórcio de três companhias conduzido pela subsidiária KBR da Halliburton ganhou "um contrato para engenharia, compra e construção de uma fábrica de etileno para a Jubail United Petrochemical Company, uma empresa de total propriedade da Saudi Basic Industries Corporation". Valor: 40
milhões de dólares. Maggie Mulvihill et aI., "Bush Advisers Cashed in on Saudi Gravy Train". Boston Herald, 11 de dezembro de 2001. FONTE: Release da Halliburton, "Halliburton KBR, Chiyoda and Mitshubishi Win Saudi Arabian Ethylene Project", 19 de novembro de 2001. (Nota: O valor de 40 milhões de dólares citado neste contrato é muito baixo sob qualquer circunstância). Três protocolos de indústrias de energia, distintos, estabelecem o valor de 350 milhões de dólares para o contrato. Apesar de existirem duas outras companhias envolvidas, todos os relatórios indicam que a Halliburton KBR conduziu o consórcio e assim, se o contrato era de 350 milhões de dólares, é provável que a parcela dela seria - como os líderes do contrato - significativamente maior do que 40 milhões de dólares. Veja "News in Brief", Petroleum Economist, 14 de janeiro de 2002; "KBR, Chiyoda, Mitsubishi Win Jubail Ethylene Contract", Chemical Week, 5 de dezembro de 2001; "Projects Update: Petrochemicals", Middie East Economic Digest, 7 de março de 2000. FONTE: Logo após a Harken adquirir de George W. Bush a empresa Spectrum 7 em 1986 e colocar Bush na sua diretoria, um xeque saudita surgiu para salvar a conturbada Harken. Abdullah Taha Bakhsh comprou 17% da companhia. Valor: 25 milhões de dólares. Thomas Petzinger Jr. et aI., "Family Ties: How Oil Firm Linked to a Son of Bush Won Bahrain Drilling Pact; Harken Energy Had a Web of Mideast Connections; In the Backgtound: BCCI; Entrée at the White House", Wail Street Journal, 6 de dezembro de 1991. FONTE: Em 1989, Fahd, rei da Arábia Saudita, doou dinheiro para a Fundação Barbara Bush pela Alfabetização da Família. Nessa época, a senhora Bush era a primeira-dama dos Estados Unidos. A contribuição do rei representou quase metade do montante que a fundação foi capaz de levantar naquele ano. Valor: um milhão de
dólares. Thomas Ferraro, "Saudi King also Contributed to Barbara Bush's Foundation", United Press International, 13 de março de 1990. FONTE: Em seguida à saída de George H. W. Bush, o embaixador saudita para os Estados Unidos, príncipe Bandar, doou dinheiro para o fundo da Biblioteca Presidencial de Bush. Valor: pelo menos um milhão de dólares. Dave Montgomery, "Hail to a Former Chief". Fort Worth Star-Telegram, 7 de novembro de 1997. FONTE: George H. W. Bush e George W. Bush freqüentaram a elite de Phillips Academy-Andover em Massachusetts. No verão de 2002, a academia anunciou que tinha aberto uma bolsa de estudos no nome de Bush pai. O príncipe saudita Alwaleed bin Talal bin Adul Aziz Alsaud - o mesmo príncipe que financiou a EuroDisney em meados dos anos 90 - estava entre os doadores da bolsa de estudos. Valor: 500 mil dólares. Release da Phillips AcademyAndover, "A Statement from Phillips Academy-Andover Regarding the Bush Scholars Program", 31 de dezembro de 2002. FONTE: Entre os muitos presentes que George W. Bush recebeu de líderes estrangeiros e dignatários durante seu período na presidência, talvez nenhum seja tão valioso quanto o do príncipe Bandar. Bandar deu ao atual presidente "um óleo sobre tela, de C.M. Russel, que mostra um nativo americano caçando um búfalo [...]". Valor: um milhão de dólares. Siobhan McDonough, "Gifts to President Are Gratefully Received, Quickly Carted into Storage", Associated Press, 14 de julho de 2003. A Anistia Internacional condena a Arábia Saudita por violação de direitos humanos.
FONTE: "A Arábia Saudita viola sistematicamente os direitos humanos internacionais mesmo depois de concordar com eles. Por exemplo, em setembro de 1997, a Arábia Saudita associou-se à Convenção contra a Tortura. Mas a tortura ainda é muito difundida no sistema judicial da Arábia Saudita. (A Arábia Saudita associouse à Convenção contra a Tortura e à Convenção contra a Discriminação em 23 de setembro de 1997)". Anistia Internadonal, "Saudi Arabia: Open for Business", 8 de fevereiro de 2000. http://web.amnesty.org/library/Index/engMDE230822000?OpenDoc ument&of=COUNTRIES%5CSAUDI+ARABIA FONTE: "Sharon Burke, diretora jurídica da Anistia Internacional dos EUA para o Oriente Médio e África do Norte, disse que sua organização confirmou com o ministério de negócios internos saudita que três homens foram decapitados por sodomia". Washington Blade, 4 de janeiro de 2002. http://www.sodomylaws.org/world/saudi_arabia/saudinews15.htm "Bush tentou impedir que o Congresso fizesse sua própria investigação sobre o 11 de setembro. Quando não conseguiu impedir o Congresso, tentou então impedir a formação de urna comissão independente sobre o 11 de setembro." FONTE: O esforço original da Casa Branca era de limitar o escopo da investigação sobre o 11 de setembro para apenas duas comissões parlamentares. "Ontem o presidente Bush pediu aos líderes da Casa e ao Senado que permitissem duas comissões parlamentares para investigar a resposta do governo aos eventos do 11 de setembro, disseram os funcionários do governo". Mike Allen, "Bush Seeks to Restrict Hill Probes of Sept. 11; Intelligence
Panels' Secrecy is Favored", Washington Post, 30 de janeiro de 2002. FONTE: "Eu, evidente, quero que o Congresso veja o que aconteceu antes do 11 de setembro. Mas desde que lidamos com informações tão delicadas, na minha opinião é melhor para a guerra contra o terror que está em andamento que a investigação seja feita nos comitês de inteligência", disse o presidente Bush. David Rosenbaum, "Bush Bucks Tradition on Investigation", New York Times, 26 de maio de 2002. FONTE: "Na sexta-feira, legisladores nervosos [McCain, Pelosi, Lieberman] acusaram a Casa Branca de tentar secretamente arruinar a criação de uma comissão independente para investigar os ataques terroristas de 11 de setembro, embora declarem que apóiam a idéia". Helen Dewar, "Lawmakers Accuse Bush of 9/11 Deceit", Los Angeles Times, 13 de outubro de 2002. A Casa Branca censura 28 páginas de relatório do Congresso sobre 11 de setembro. FONTE: "Os principais funcionários federais dos Estados Unidos acreditam que o governo da Arábia Saudita não só impediu esforços para evitar o crescimento da AI-Qaeda e parar com os ataques terroristas, como também podem ter dado apoio financeiro e de logística para os seqüestradores sauditas do 11 de setembro, de acordo com o relatório do Congresso emitido na quinta-feira. Essas suspeitas instigaram muitos congressistas a exigir que o governo Bush investigasse mais ativamente as ações da Arábia Saudita, antes e depois de 11 de setembro de 2001 em parte fazendo grandes seções públicas do relatório que pertence a Riyadh, mas que permanece em sigilo. As passagens, incluindo todas as 28 páginas, discutem em detalhes se um dos aliados mais
relutante dos americanos na guerra contra o terrorismo estava de alguma forma envolvido nos ataques, de acordo com funcionários federais americanos familiarizados com o relatório completo". Josh Meyer, "Saudi Ties to Sept. 11 Hinted at in Report", Houston Chronicle, 25 de julho de 2003. "Mais de 500 familiares de vítimas do 11 de setembro entraram com processos contra a família real saudita e outros. Os advogados que o ministro saudita da Defesa contratou para a briga com as famílias do 11 de setembro? O escritório de advocacia de James A. Baker, o confidente da família Bush." FONTE: ''James Baker, enviado ao exterior recentemente por Bush para buscar ajuda para reduzir a dívida do Iraque, ainda é um conselheiro sênior do grupo Carlyle, e o escritório de Baker localizado em Houston, Baker Botts, está representando o ministério de Defesa saudita no caso Motley [reunião de demandantes num processo de ação coletiva relacionado aos ataques de 11 de setembro]". "A Nation Unto Itself", New York Times, 14 de março de 2004. Sauditas investiram 860 bilhões de dólares nos EUA. FONTE: "Pelos próximos 25 anos, cerca de 85 mil sauditas de 'altíssimo patrimônio' investiram a surpreendente quantia de 860 bilhões de dólares em companhias americanas - uma média de mais de 10 milhões por pessoas, e uma soma que é aproximadamente equivalente ao produto interno bruto da Espanha". Craig Unger, House of Bush, House of Saud (Scribner, 2004). FONTE: "Allan Gerson, advogado que representa quase 3.600 membros das famílias das vítimas dos ataques terroristas de 11 de
'Setembro (...) disse que não está processando o governo saudita, mas está atrás de 'interesses sauditas' nos Estados Unidos, estimados por ele em 860 bilhões de dólares". "$113 Million in Terrorismo Funds Frozen", CNN, 20 de novembro de 2002. Em termos de investimentos em Wall Street, 860 bilhões de dólares é "aproximadamente 6% ou 7% dos EUA". FONTE: "Com a capitalização total do mercado excedendo 12 trilhões de dólares, a composição da Bolsa de Nova York representa aproximadamente 82% do total de capital de mercado dos Estados Unidos" (860 bilhões de dólares são quase 7% de 12 trilhões de dólares). Release da Bolsa de Valores de Nova York, "NYSE to Reintroduce Composite Index", 2 de janeiro de 2003. Citigroup, AOL Time Warner têm grandes investidores sauditas FONTE: "O nome dele é Alwaleed bin Talal. Seu avô foi o monarca que fundou a Arábia Saudita. Com um imenso número de ações em companhias do Citigroup Inc., à cadeia de hotéis de luxo Four Seasons, ele é um dos homens mais ricos do planeta.[...] No ano passado, a revista Forbes classificou Alwaleed como o 5º. homem mais rico do mundo, com um patrimônio líquido de aproximadamente 18 bilhões de dólares. Sua empresa Kingdom Holding Co. estende-se por quatro continentes. Durante anos, ele adquiriu grandes lotes de ações de companhias como a Apple Computer Inc., AOL Time Wamer Inc., News Corpo e a Saks Inc., matriz da varejista Saks Fifth Avenue". Richard Verrier, "Disney's Animated Investor; an Ostentatious Saudi Billionaire Prince Who Helped Bail Out the Company's Paris Resort in the Mid-'90s Is Being Courted to Do So Again", Los Angeles Times, 26 de janeiro de 2004.
FONTE: "A primeira grande transação da Carlyle com os sauditas aconteceu em 1991, quando Fred Malek guiou o príncipe AlWaleed bin Talal, um extravagante milionário saudita de 35 anos, até a companhia para uma negociação que iria capacitá-lo a tornarse o maior acionista individual do Citicorp". Craig Unger, House of Bush, House of Saud (Scribner, 2004). "Eu li em algum lugar que os sauditas têm um trilhão de dólares nos nossos bancos, dinheiro deles. O que aconteceria se um belo dia eles simplesmente decidissem sacar esse trilhão e levá-lo embora?" FONTE: "Outros disseram que o investimento é ainda maior, chegando a trilhões de dólares depositados nos bancos dos Estados Unidos - um acordo lançado no início dos anos 80 pela administração de Reagan, ainda numa tentativa de levar os sauditas a equilibrar o déficit do orçamento dos Estados Unidos. Os sauditas possuem outros trilhões de dólares ou mais nas bolsas de valores dos Estados Unidos". Robert Baer, Sleeping with the Devil (Crown Publishers, 2003), p. 60. Bandar é um dos mais protegidos embaixadores nos Estados Unidos, com seis seguranças oferecidos pelo departamento de Estado. FONTE: "Bandar, o decano do corpo diplomático em virtude de seu longo trabalho em Washington, é o único embaixador que possui seu próprio grupo de segurança do departamento de Estado concedido a ele por causa de 'ameaças' e de seu status de príncipe, de acordo com o porta-voz do departamento de Estado". Robert G. Kaiser et aI., "Saudi Leader's Anger Revealed Shaky Ties", Washington Post, 10 de fevereiro de 2002.
FONTE: "O príncipe Bandar é considerado, politicamente, o mais astuto de todos os embaixadores que moram em Washington. Pode ser ou não verdade - mas ele certamente é o mais protegido. De acordo com um oficial da segurança diplomática, o príncipe Bandar possui um grupo de seguranças que inclui seis oficiais da DS (segurança diplomática) em tempo integral, hábeis e altamente treinados (Os oficiais da DS são funcionários federais encarregados da segurança de missões diplomáticas americanas.)". Joel Mowbray, Dangerous Diplomacy: How the State Department Threatens American Security (Regnery, 2003). "O príncipe Bandar era tão próximo dos Bush que eles o consideravam um membro da família. Tinham até um apelido para ele: 'Bandar Bush'." FONTE: "Quando o presidente [George H.W.] Bush chegou em Riad, ele chamou Bandar de lado e o abraçou. 'Você é uma pessoa boa', disse o presidente. Bandar diz que Bush tinha lágrimas em seus olhos. Visitando a casa de verão de Bush em Kennebunkport, no Maine, o embaixador saudita foi afetuosamente apelidado de 'Bandar Bush'. Bandar retornou o favor, convidando Bush para uma caça de faisão na sua fazenda inglesa. (Desde que deixou a Casa Branca, Bush também lucrou atuando como um maravilhoso 'abridor de portas' para o grupo Carlyle, uma companhia de investimentos que lida com uma considerável riqueza saudita.)". Evan Thomas et al., "The Saudi Game", Newsweek, 19 de novembro de 2001. FONTE: "O embaixador saudita participou do descerramento da foto oficial do ex-presidente George H. W. Bush quando ele retornou à Casa Branca em 1995. Ele estava entre os convidados na festa surpresa de aniversário de 75 anos da ex-primeira-dama Bárbara Bush em 2000, e o ex-presidente havia passado férias na
casa de Bandar em Aspen, no Colorado. Bandar tinha sido convidado de Bush em sua fazenda, em Crawford, no Texas. No passado ele presenteou a primeira família com um quadro de C. M. Russell no valor de um milhão de dólares, que será guardado na coleção nacional juntamente com outros muitos presentes de admiradores, destinados a uma biblioteca presidencial de [George W.] Bush". Mike Glover, "Kerry Criticizes Bush on Saudi Meeting", Associated Press, 23 de abril de 2004. "Duas noites após o 11 de setembro, George Bush convidou Bandar Bush para um jantar Último e uma conversa na Casa Branca." FONTE: Dois dias após os ataques, o presidente pediu a Bandar para vir até a Casa Branca. Bush o abraçou e o escoltou até a sacada Truman. Bandar tomou uma bebida e os dois fumaram charutos. EIsa Walsh, "The Prince", The New Yorker, 24 de março de 2003. O governo de Bandar proibiu os investigadores americanos de conversar com os parentes dos quinze seqüestradores. FONTE: "O relatório criticou severamente os oficiais sauditas pela 'falta de cooperação' antes e depois dos ataques do 11 de setembro, mesmo quando se tornou conhecido que 15 de 19 seqüestradores eram sauditas.[...] Um alto oficial dos Estados Unidos contou à equipe de investigação que, desde 1996, os sauditas não cooperavam com os assuntos relacionados a Osama bin Laden. Robert Baer, ex-oficial da ClA., disse que os sauditas proibiram os agentes do FBI de conversar com os parentes dos 15 seqüestradores e de seguir outras pistas no reino". Frank Davis et aI., "Bush Rejects Call to Give More 9/11 Data", Philadelphia Inquirer, 30 de julho de 2003.
A Arábia Saudita estava relutante em congelar os bens dos seqüestradores. FONTE: "Riad ainda não se juntou ao esforço internacional de bloquear contas bancárias suspeitas de ter financiado as operações terroristas, dizem oficiais dos Estados Unidos. Mas o governo Bush, receoso em ofender os sauditas, ainda não levantou nenhuma reclamação pública". Elaine Sciolino et al., "U.S. Is Reluctant to Upset Flawed, Fragile Saudi Ties", New York Times, 25 de outubro de 2001. "Em 1997, quando George W. Bush era governador do Texas, uma delegação de líderes talibãs do Afeganistão voou para Houston para se reunir com executivos da Unocal e discutir a construção de um gasoduto que atravessasse o Afeganistão." FONTE: "Uma delegação sênior do movimento Talibã no Afeganistão está nos Estados Unidos para discutir com uma companhia de energia internacional que quer construir um gasoduto de gás do Turcomenistão, passando pelo Afeganistão, até o Paquistão. Um porta-voz da companhia Unocal disse que se esperava que o Talibã passasse vários dias na matriz da companhia em Sugarland, no Texas". "Taleban in Texas for Talks on Gas Pipeline", BBC News, 4 de dezembro de 1997. (Sugarland fica a cerca de 35 quilômetros de Houston.) FONTE: Os ministros do Talibã e seus conselheiros hospedaramse em um hotel 5 estrelas e foram levados por um motorista em um microônibus da companhia. Suas únicas solicitações foram visitar o zoológico de Houston, o centro espacial da NASA e a Super Target, uma loja de descontos de Omaha, para comprar meias, creme dental, pentes e sabonete. O Talibã, que controla dois terços do
Afeganistão e ainda luta pela terceira parte, teve uma clara compreensão de como os outros vivem. Os homens, que estão acostumados com vida sem aquecimento, eletricidade, água encanada, ficaram maravilhados com as casas luxuosas dos magnatas do petróleo texano. Convidados para um jantar na suntuosa residência de Martin Miller, vice-presidente da Unocal, ficaram impressionados com a sua piscina, vistas da pista de golfe e com os seis banheiros. Depois da refeição, especialmente preparada com carne halal, arroz e Coca-Cola, os fundamentalistas linha-dura - que proibiram mulheres de trabalhar e garotas de irem à escola - perguntaram a Miller sobre a sua árvore de Natal. Caroline Lees, "Oil Baron Court Taliban in Texas", The Telegraph (Londres), 14 de dezembro de 1997. E quem conseguiu um contrato de perfuração no Mar Cáspio no mesmo dia em que a Unocal assinou o acordo do gasoduto? Uma empresa chefiada por um homem chamado Dick Cheney. A Halliburton. FONTE: Em 27 de outubro de 1997, tanto a Unocal quanto a Halliburton deram informações oficiais sobre o seu trabalho de energia no Turcomenistão. "A Halliburton Energy Services tem prestado uma ampla gama de serviços no Turcomenistão nos últimos cinco anos". Release de imprensa, "Halliburton Alliance Awarded Integrated Service Contract Offshore Caspian Sea in Turkmenistan", 27 de outubro de 1997. http://www.halliburton.com/news/archive/1997/hesnws_102797.jsp "ASHGABA'T, Turcomenistão, 27 de outubro de 1997 - Seis companhias internacionais e o governo do Turcomenistão formaram a Central Asia Gas Pipeline, Ltd. (CentGas) em
cerimônias formais de assinaturas hoje, sábado." Release de imprensa, "Consortium Formed to Build Central Asia Gas Pipeline", 27 de outubro de 1997. A Eron beneficiou-se do gasoduto. FONTE: O dr. Zaher Wahab, do Afeganistão, professor nos Estados Unidos, falando no evento do Dia Internacional dos Direitos Humanos, "explicou que Delta, Unocal, e também companhias de petróleo e gás russas, paquistanesas e japonesas assinaram acordos com o governo do Turcomenistão, ao norte do Afeganistão, que tem a quarta maior reserva de gás do mundo. Também foram assinados contratos com os talibãs, permitindo a esses gigantes do petróleo e do gás transportar gás e petróleo turcomeno através do Afeganistão ao Paquistão, de onde serão levados ao mundo todo. O consórcio de energia Eron planeja ser um dos construtores do gasoduto". Elaine Kelly, "Northwest Groups Discuss Mghan, Iranian and Turkish Right Violations", Relatório de Washington sobre o Oriente Médio, 31 de março de 1997. Kenneth Lay, da Eron, era o contribuinte número um da campanha de Bush. FONTE: "Lay, também amigo do ex-presidente George Bush, era o maior contribuinte da eleição presidencial de Bush em 2000". Jerry Seper, "Collosal Collapse: Enron Bankruptcy Scandal Carves a Wide Swath", Washington Times, 13 de janeiro de 2002. "Embora a Eron seja o doador número 1 de George W. Bush, o presidente está altamente endividado com as firmas profissionais que ajudaram e favoreceram a maior falência e dissolução na história dos Estados Unidos". Texans for Public Justice, "Bush Is Indebted to Enron's Professional Abettors, Too", 17 de janeiro de 2002.
http://www.tpj.org/page_view.jsp?pageid=255 "Então, em 2001, apenas cinco meses e meio antes do 11 de setembro, a administração Bush deu as boas-vindas a um enviado especial talibã para que percorresse o país a fim de ajudar a melhorar a imagem do governo Talibã." FONTE: "Segunda-feira, o enviado do Talibã pediu ao governo Bush para supervisionar seu grupo extremista de apoio a Os ama bin Laden e a destruição de antigas esculturas budistas de valores inestimáveis, e levantar sanções no Meganistão que ajudem a aliviar uma crise humanitária que está ameaçando as vidas de milhares de pessoas. Sayed Rahmatullah Hashemi entregou ao presidente Bush uma carta do Talibã que clama por melhores relações e negociações entre os Estados Unidos e o Afeganistão, a fim de resolver a disputa pelo saudita Bin Laden". Robin Wright, "Taliban Asks US to Lift Its Economic Sanctions", Los Angeles Times, 20 de março de 2001. FONTE: "O fórum da prefeitura era a última reunião de Hashemi em uma semana de visita à Califórnia, onde ele falou em várias universidades, incluindo a USC, UCLA e UC Berkeley. Na última quinta-feira, ele partiu para Nova York para uma outra parada em sua visita de relações públicas antes de seguir para Washington, onde deve entregar uma carta de seu partido para o governo de Bush". Teresa Watanabe, "Overture by Taliban Hits Resistence", Los Angeles Times, 16 de março de 2001. "O Talibã dava abrigo ao homem que bombardeou o destróier USS Cole e nossas embaixadas na África?" FONTE: "Osama bin Laden assumiu os ataques a soldados americanos na Somália em outubro de 1993, com 18 mortes; os
ataques às embaixadas no Quênia e Tanzânia em agosto de 1998, com 224 mortes e aproximadamente 5 mil feridos; e estava ligado aos ataques ao USS Cole em 12 de outubro de 2000, quando 17 tripulantes morreram e outros 14 ficaram feridos. Eles procuraram adquirir material nuclear e químico para usar como armas terroristas". "Britain's BiII of Particulars", New York Times, 5 de outubro de 2001. FONTE: "Nos últimos anos, Osama bin Laden tem sido o suspeito terrorista mais procurado, com uma recompensa de 5 milhões de dólares por sua cabeça pela sua alegada participação no ataque com caminhões-bombas a duas embaixadas americanas no Leste da África em agosto de 1998, matando mais de 200 pessoas, bem como muitos outros ataques terroristas.[...] Mais recentemente, o FBl nomeou Bin Laden como o principal suspeito do bombardeio suicida ao destróier americano Cole, que foi atacado no porto Aden, a cerca de 564 quilômetros da estrada a sudoeste daqui, em 12 de outubro, resultando na morte de 17 marinheiros". John F. Burns, "Where Bin Laden Has Roots, His Mystiques Grows", New York Times, 31 de dezembro de 2000. Hamid Karzai foi conselheiro da Unocal. FONTE: "Tranqüilo e conhecedor do mundo, Karzai foi funcionário da companhia americana de petróleo Unocal - uma das principais companhias de petróleo que estava no comando do lucrativo contrato de construir um gasoduto de petróleo do Usbequistão passando pelo Afeganistão até o porto do Paquistão - e é o filho de um ex-porta-voz do parlamento do Afeganistão". Ilene R. Prusher, Scott Baldauf e Edward Girardet, "Mghan Power Brokes", Christian Science Monitor, 10 de junho de 2002. http://www.csmonitor.com/2002/0610/p01s03e-wosc.html
FONTE: "O presidente afegão Hamid Karzai, ex-conselheiro da Unocal, assinou um tratado com o líder paquistanês Pervez Musharraf e o ditador turco Saparmurat Niyazov para autorizar a construção de um gasoduto no valor de 3,2 bilhões de dólares, passando pelo corredor Heart-Kandahar no Afeganistão". Lutz Kleveman, "Oil and the New 'Great Game"', The Nation, 16 de fevereiro de 2004. FONTE: Traduzido do francês: "Ele era consultor da companhia americana de petróleo Unocal enquanto estudava a construção de um gasoduto no Afeganistão". Chipaux Francoise, "Hamid Karzai:, Une Large Connaissance Du Monde Occidental", Le Monde, 6 de dezembro de 2001. "Bush também nomeou como nosso enviado ao Afeganistão Zahnay Khalilzad, que também havia sido conselheiro da Unocal." FONTE: "Khalilzad sabe como as coisas mudam. Em meados dos anos 90, ele defendeu o Talibã enquanto trabalhava como consultor da Unocal, a companhia de petróleo que estava na época tentando construir um gasoduto pelo Afeganistão. Depois tornou-se um crítico furioso do Talibã". Amy Waldman, "Afghan Returns Home as American Ambassador", New York Times, 19 de abril de 2004. "O Afeganistão assinou um acordo com os países vizinhos para construir um gasoduto através do Afeganistão para transportar gás natural do mar Cáspio." FONTE: "A estrutura do contrato define mecanismos legais para iniciar o consórcio para construir e operar o tão adiado gasoduto de 3,2 bilhões de dólares, conhecido como Trans-Afghanistan
Pipeline, que carregará gás do Turcomenistão, rico em energia, até o Paquistão. Este será um dos maiores projetos de investimentos no Afeganistão em décadas". Baglia Bukharbayeva, "Pakistani, Turkmen, Afghan Leaders Sigo $3.2 Billion Pipeline Deal", Associated Press, 27 de dezembro de 2002.
Criando medo como pretexto para a guerra - uma guerra baseada na fraude "Em 2000, ele estava disputando a reeleição como senador pelo Missouri com um cara que morreu um mês antes da eleição. Os eleitores preferiram o finado." FONTE: "Na quarta-feira, o senador John Ashcroft admitiu a derrota em sua campanha de reeleição contra o ex-governador Mel Carnahan, e insistiu com os companheiros republicanos que cancelassem qualquer disputa legal". Eric Stern, "Ashcroft Rejects Challenge to Election; Senator Says He Hopes Carnahan's Victory Will Be 'of Comfort' to Widow", St. Louis Post-Dispatch, 9 de novembro de 2000. "No verão que antecedeu o 11 de setembro, Ashcroft disse a Thomas Pickard, então diretor do FBI, que não queria mais ouvir falar sobre ameaças terroristas." FONTE: "Terça-feira, o ex-chefe interino do FBI, Thomas Pickard, testemunhou que o procurador-geral John Ashcroft não queria ser informado sobre terrorismo quando ele tentou notificá-lo durante o verão de 2001, visto que relatórios da inteligência sobre as ameaças de terrorismo estavam alcançando um nível histórico". Cam Simpson, "Ashcroft Ignored Terrorism, Panel Told: Attorney General Denies Charges, Blames Clinton", Chicago Tribune, 4 de abril de 2004.
Veja também o filme. "Naquele verão, o próprio FBI de Ashcroft sabia que havia integrantes da AI-Qaeda nos Estados Unidos, e que Bin Laden estava mandando seus agentes para escolas de aviação em todo o país." FONTE: "O memorando 'Phoenix', escrito por um agente do FBl no Arizona, em julho de 2001, alertava sobre um 'número irregular de indivíduos de interesse investigativo' tendo aulas de pilotagem. Isso instigou o agente a coletar dados sobre escolas de pilotagem e alunos estrangeiros, e ele discutiu a ameaça em potencial com outros agentes de inteligência. [...] Um dos homens mencionados no memorando foi preso no Paquistão com um facilitador sênior da Al-Qaeda, Abu Zubayda". R. Jeffrey Smith, "A History of Missed Connections; U.S. Analysts Warned of Potential Attacks but Lacked Follow-Through", Washington Post, 25 de julho de 2003. FONTE: Trecho do "Memorando de Phoenix": "O objetivo desta comunicação é alertar o Departamento e Nova York da possibilidade de esforços coordenados de OSAMA BIN LADEN (UBL) de enviar estudantes aos Estados Unidos para freqüentarem escolas de aviação civil. Phoenix tem observado um número. irregular de indivíduos de interesse investigativo que freqüentam escolas de aviação no estado do Arizona". Leia o memorando de Phoenix na íntegra: http://www.gpoac-cess.gov/serialset/creports/911.html "É isso mesmo, a foto do cara no jornal não era a do Aaron Stokes que eles conheciam. Na verdade, ele era o oficial Aaron Kilner. E havia se infiltrado no grupo."
FONTE: "Aaron Kilner, 27, que se juntou às forças em junho de 1999 e tinha sido designado nos últimos 18 meses para o grupo anti-terrorismo sob a unidade de vice-inteligência, aparentemente morreu instantaneamente quando sua motocicleta, uma Yamaha azul, bateu de frente com um Buick 1999, disse o policial de Fresno". Louis Galvan, "Crash Kills Off-Duty Detective, Victim Joined Fresno County Force in 1999", Fresno Bee, 31 de agosto de 2003. FONTE: "Ainda não parece claro porque o xerife do município de Fresno infiltrou o oficial no grupo de paz ali, mas Pierce disse que as ações do departamento dele eram legais, 'Nós podemos estar em qualquer lugar que queiramos, isso é público', disse Pierce, em seu escritório em Fresno, durante uma entrevista por telefone", Sam Stanton e Emily Bazar, "More Scrutiny of Peace Groups, Public Safety Justifies Surveillance Since 9/11, Authorities Say", Sacramento Bee, 9 de novembro de 2003. História de Barry Reingold FONTE: "E há Barry Reingold, de San Francisco, que foi despertado de seu cochilo de tarde pelo interfone em 23 de outubro. Ele foi até a rua para ver quem era. 'O FBI', foi a resposta. Ele falou para os dois homens entrarem, mas decidiram esperar no corredor. 'Eu estava um pouco agitado', disse Reingold. 'Quero dizer, por que o FBl teria interesse em mim, um trabalhador aposentado de uma companhia telefônica, de 60 anos de idade?' Quando foi perguntado se fazia ginástica em uma certa academia, ele entendeu o motivo da visita. Na academia ele levanta pesos - e expõe suas visões políticas". Kris Axtman, "Political Dissent Can Bring Federal Agents to Door", Christian Science Monitor, 8 de janeiro de 2002. Veja também: Sam Stanton, Emily Bazar, "Security
Collides with Civil Rights. War on Terrorism Has Unforseen Results", Modesto Bee, 28 de setembro de 2003. Congresso não leu o Ato Patriota antes de votá-lo. FONTE: "Mais tarde naquela manhã [de 12 de outubro], a Casa votou 377 a 79 para aprovar o projeto. Os divergentes reclamaram que ninguém teria tempo para ler um complexo de lei de 342 páginas que apurava quinze diferentes estatutos federais e que só teria sido impresso horas antes". Steven Brill, After: How America Confronted the September 12 Era (Simon & Schuster, 2003). FONTE: "Muitos legisladores estavam indignados pelo fato de um projeto de lei, que havia passado pelo Comitê Judiciário por unanimidade, ter sido deixado de lado por uma legislação negociada no último minuto por um grupo muito pequeno. Parlamentares levantaram-se para dizer que quase ninguém tinha lido o novo projeto e pleitearam por mais tempo e por mais deliberação.[...] Questionado sobre as reclamações dos parlamentares de ter de votar um projeto de lei sem tê-lo lido, o presidente do comitê de regras, David Dreiner, republicano da Califórnia, respondeu, 'Não é sem precedente'''. Robin Toner e Neil A. Lewis, "House Passes Terrorism Bill Much Like Senate's, but with 5-Year Limit", New York Times, 13 de outubro de 2001. Veja também a cena dos congressistas Conyers e McDermott. "Agência de Segurança de Transportes diz que está tudo bem, que você pode levar quatro caixas de fósforos e dois isqueiros a gás no bolso ao embarcar em um avião." FONTE: "Coerente com as regulamentações do Departamento de transporte para materiais cortantes, passageiros também têm permissão para carregar não mais do que quatro caixas de fósforos (mas não de acender fósforos em qualquer lugar) e dois isqueiros
para uso individual, se os mesmos estiverem cheios de gás líquido (tipo BIC ou Colibri) ou líquido absorvido (tipo Zippo)". 49 CFR 1540. http://www.tsa.gov.interweb/assetlibrary/68_FR_9920.pdf "Por causa de cortes no orçamento, o patrulheiro Kenyon teve de vir trabalhar em seu dia de folga para colocar a papelada em dia." FONTE: "Cortes no orçamento que dispensaram temporariamente 129 oficiais de polícia do estado de Oregon no início deste ano deixaram apenas um único oficial para cobrir o território de 2.250 quilômetros quadrados e 160 quilômetros das estradas estaduais ao redor desta cidade, na região costeira de Oregon". "Layoffs Leave Oregon Trooper AIone in Big Coastal Territory", Seattle Times, 6 de outubro de 2003. "No dia 19 de março de 2003, George W. Bush e as Forças Armadas dos Estados Unidos invadiram a nação soberana do Iraque uma nação que jamais havia atacado os Estados Unidos. Uma nação que jamais havia ameaçado atacar os Estados Unidos. Uma nação que jamais havia assassinado um único cidadão norte-americano." FONTE: "O Iraque nunca ameaçou ou esteve envolvido em nenhum ataque contra o território dos Estados Unidos, e a CIA não anunciou nenhum ataque patrocinado pelo Iraque contra os interesses americanos desde 1991". Stephen Zunes, "An Annotated Overview of the Foreign Policy Segments of President George W. Bush", Foreign Policy in Focus, 29 de janeiro de 2003. Trechos do Discurso ao Estado da União do presidente George W. Bush, Foreign Policy in Focus, 29 de janeiro de 2003.
FONTE: "O Iraque nunca ameaçou a segurança dos Estados Unidos. Oficiais de Bush cinicamente atacaram um país corrupto porque sabiam que era mais fácil do que encontrar o verdadeiro vilão de 11 de setembro, que não tinha país. E agora estão presos no próprio blefe". Maureen Dowd, "We're Not Happy Campers", New York Times, 11 de setembro de 2003. FONTE: "O Iraque nunca ameaçou os Estados Unidos, sem falar na Austrália. A consideração básica era e permanece sendo a percepção da vasta estratégia americana de interesse no Oriente Médio". Richard Woolcott, "Threadbare Basis to the Homespun Yarn That Led Us into Iraq", Sydney Morning Herald, 26 de novembro de 2003. (Woolcott era secretário do departamento de Comércio e Relações Exteriores da Austrália durante a primeira Guerra do Golfo.) FONTE: Para uma definição de assassinatos de civis (o oposto de combatentes), veja o Artigo 3 da Convenção de Genebra. ("Para pessoas que não façam parte ativa nas hostilidades, os seguintes atos são e deverão ser mantidos proibidos a qualquer momento [a] Violência à vida e à pessoa, em assassinatos de qualquer tipo.") A Coalizão da Boa Vontade incluiu Palau, Costa Rica, Islândia, Romênia, Países Baixos e Afeganistão. Lista da Casa Branca dos membros da Coalizão, 20 de março de 2003: http://www.whitehouse.gov/news/releases/2003/03/print/2003032011.html Marrocos, de acordo com um relatório, ofereceu enviar 2 mil macacos para ajudar a detonar minas terrestres.
FONTE: "O governo de Bush voltou-se até para o reino dos animais para ajudar na guerra. Primeiro vieram os golfinhos, aqueles mamíferos muito inteligentes, recrutados para ajudar a limpar as minas no porto iraquiano de Umm Qasr. Então aparece Marrocos, oferecendo 2 mil macacos para ajudar a detonar minas". AI Kamen, "They Got the 'Slov' Part Right''', Washington Post, 28 de março de 2003. "O governo não permitia a filmagem dos caixões sendo embarcados de volta para casa”. FONTE: "Nos 13 últimos anos, o Pentágono proibiu repórteres de testemunhar o transporte de soldados em caixões cobertos com a bandeira para a Base da Força Aérea de Dover em Dalaware". Amanda Ripley, "An Image of Grief Returns", Time, 3 de maio de 2004. "No fim de janeiro de 2004, a taxa de desemprego chegava a 17%." Fonte: Cidade de Flint, janeiro de 2004, taxa de Desemprego, 17%. Escritório de informações sobre o mercado de trabalho, governo do estado de Michigan. http://www.michilmi.org/LMI/lmadata/laus/laus-docs/049If04.html Bush "propôs cortar o soldo dos combatentes em 33% e a assistência às suas famílias em 60%." FONTE: O governo Bush anunciou que irá reduzir "modestos" aumentos de benefícios às tropas. O Army Times informou: "a administração anunciou que em 111 de outubro quer reduzir os recentes modestos aumentos no adicional mensal de perigo-
iminente 225 para 150 dólares (corte de 33%) e o auxílio à separação de famílias de 250 para 100 dólares (corte de 60%) para tropas em zona de combate". http://www.armytimes.com/story.php?f=I-292259-1989240.php FONTE: "Graças a uma lei aprovada este ano, tropas no Iraque, Afeganistão e outras áreas de risco agora recebem 225 dólares por mês como pagamento complementar. Isso representa um aumento de 75 dólares no montante anterior para pagamentos de combates. De acordo com a mesma lei, soldados que tenham sido forçado a deixar esposas e filhos recebem 250 dólares por mês extras para ajudar nos cuidados da criança e outros gastos adicionais causados por tarefas no exterior. Isto é um aumento de 150 dólares em relação ao suplemento anterior.[...] Em seu pedido de orçamento de 2004, o Pentágono pediu ao Congresso para voltar tanto o pagamento de combate quanto o de separação para os níveis anteriores". "Our Opinions: Proposal to Reduce Pay No Way to Salute Military", Atlanta Journal-Constitution, 15 de agosto de 2003. "Rejeitou um aumento de 1,3 bilhão de dólares em benefícios para veteranos, bem como 1,3 bilhão de dólares em assistência médica, fechando sete de seus hospitais. Tentou dobrar o preço dos remédios receitados a veteranos e rejeitou a concessão de benefícios plenos para os reservistas em tempo parcial." FONTE: "Em 12 de novembro, o Office of Management & Budget [Escritório de gerenciamento e orçamento] se opôs à devolução de 1,3 bilhão dos fundos para os hospitais de veteranos que o Rouse Appropriations Commitee [Comitê da Câmara de Apropriações] tinha cortado. 'É como se eles nem estivessem sabendo [que]
existe uma guerra ao terror à caminho', diz Steve Thomas, portavoz da Legião Americana e veterano da marinha". Stan Crock em Washington, com William C. Symonds em Boston, "Will the Troops Salute Bush in '04?", Business Week, 8 de dezembro de 2003. FONTE: "A Casa Branca expressou sua forte oposição aos esforços do Senado para expandir os benefícios de saúde militares para reservistas e membros da Guarda Nacional, e de aumentar a verba com planos de saúde para 'veteranos' em 1,3 bilhão". Jonathan Weisman, "Bush Aides Threaten Veto of Iraqi Aid Mesure", Washington Post, 22 de outubro de 2003. FONTE: No início de 2003, o governo Bush anunciou que iria fechar "sete dos 163 hospitais para veteranos a fim de 'reestruturar' o departamento de assuntos de veteranos". Suzzane Gamboa, "VA Proposes Overhaul, 13 Facilities Would Close or See Major Changes", Associated Press, 4 de agosto de 2003. FONTE: Em 2003, o governo Bush propôs um aumento nos custos de prescrições médicas para veteranos, uma proposta que iria dobrar o custo com prescrições. "O plano de Bush incluiria uma nova taxa de inscrição no valor de 250 dólares e um aumento no co-pagamento de 7 para 15 dólares para veteranos que recebem mais de 24 mil dólares." A Câmara retificou a proposta para rejeitar o aumento das taxas do governo Bush e recuperar o custo de 264 milhões de dólares, reduzindo fundos administrativos dos veteranos. "Panel Rejects Extra Funds for AmeriCorps", Washinton Post, 22 de julho de 2003. FONTE: "O governo Bush é completamente contra em oferecer à Guarda e à Reserva acesso ao sistema de saúde do Pentágono". Opinião, Daily News Leader (Staunton, Virgínia), 5 de outubro de 2003.
FONTE: "O senador americano Lindsey Grahamn (Republicano, Carolina do Sul), ajudou a levar o projeto de lei para o Senado a fim de melhorar os benefícios de saúde dos membros da Guarda e da Reserva. Este projeto tinha o total apoio bipartidário desde que foi introduzido em maio. Na semana passada, o plano de saúde de Graham seguiu como um anexo a uma emenda para um projeto de lei de apropriações suplementares no valor de 87 bilhões de dólares que Bush estava buscando para pagar as operações em andamento no Iraque e no Afeganistão. A Câmara deveria aprovar a emenda na próxima semana. Estranhamente, o governo de Bush se opôs ao novo benefício aos membros da Guarda e da Reserva, argumentando que seria muito caro". Equipe, "Helping Our Guard and Reserve", Greenville News, 16 de outubro de 2003. Aproximadamente 5 mil feridos na [...] guerra. FONTE: "Há um ano, por esta época, mais de 160 soldados americanos foram mortos no Iraque. Esse total aumentou para mais de 800, e na semana passado o Pentágono informou que o número de feridos em combate está se aproximando de 4.700." Pete Yost, "Bush Hails D.S. War Dead and Veterans", Associated Press, 1o. de junho de 2004. "Dos 535 membros do Congresso, só um tem um filho lutando no Iraque." FONTE: "Apenas quatro dos 535 membros do Congresso têm filhos no exército; somente um, o senador Tim Johnson (Democrata, Dakota do Sul), tem um filho que lutou no Iraque". Kevin Horrigan, "Hired Guns", St. Louis Post-Dispatch, 11 de maio de 2003.
PARTE III A opinião do público sobre Fahrenheit 11 de setembro DE: Susan ENVIADO EM: Quarta-feira, 7 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: OBRIGADA 6:36am Prezado Sr. Moore, Como mãe solteira de três garotos adolescentes (13, 17, 19) sou grata ao senhor do fundo do coração. Sentei-me no cinema, com os meus dois mais velhos, totalmente preparada para receber a mesma velha retórica sobre os males da administração Bush. Em vez disso, recebi grandes ensinamentos e, como resultado, chorei. Chorei pelos homens e mulheres que morreram sem necessidade nessa guerra ilegal. Chorei pelo meu próprio filho de 17 anos que decidiu alistar-se na Marinha. Chorei pelo nosso país e por aqueles que vivem na pobreza, e aparentemente sem nenhuma esperança. E, então, tive uma inspiração. Tomei a decisão de participar das atividades da igreja - um lugar pequeno numa região realmente pobre da cidade... um lugar que alcança os de renda baixa, os bairros de pessoas sem acesso à educação e oferece esperança. Acho que é isso que é ser norte-americano - buscar os aflitos do mundo, oferecendo ajuda. Portanto, novamente, obrigada... meus filhos são gratos ao senhor.
Susan Rochester, Nova York DE: Jennifer Layton ENVIADO EM: Sábado, 24 de julho de 2004 4:29pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: Estou inscrita! Oi, senhor Moore. Mudei-me recentemente para uma casa nova e meu título eleitoral novo chegou há umas duas semanas. Quando recebi meu último título de eleitor, só o assinei e coloquei dentro da bolsa, sem pensar muito nele até a hora de mostrá-lo no dia da eleição. Mas quando recebi este novo, não sei descrever exatamente o que senti. Havia visto o seu filme. Mesmo antes disso, já estava zangada com o fato de George W. Bush ter roubado na eleição anterior e estava preocupada com o que ele poderia aprontar nesta próxima. Mas tenho um título de eleitor. E meu lugar de votação é a escola primária do outro lado da rua. Meu título de eleitor novo, embora possa parecer melodramático, traz esperança e um pouquinho de poder. No dia da eleição, mesmo se tiver um metro e meio de neve do lado de fora, mesmo se eu estiver com as duas pernas quebradas e se o Alerta contra o Terror estiver no nível de Pânico Rosa - vou me arrastar de bunda até o outro lado da rua, até a escola com meu título de eleitor novo e votarei. Obrigada por me ajudar a perceber a importância do título de eleitor. Vejo o senhor nas eleições. Jennifer Layton DE: Adam Shoup ENVIADO EM: Quinta-feira, 29 dê julho de 2004 11:24am PARA:
[email protected]
ASSUNTO: Obrigado...por me transformar num eleitor! Senhor Moore, Sei que o senhor é um homem ocupado, mas queria agradecer pessoalmente por me tornar alguém mais consciente do que se passa no governo. Tenho que votar, para fazer valer a minha opinião. Graças ao seu filme Fahrenheit 11 de setembro estarei na cabine na eleição deste ano. Obrigado, Adam Shoup DE: Diamond, Elizabeth A. ENVIADO EM: Quinta-feira," 1º. de julho de 2004, 4:09pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: Obrigada Muito obrigada pelo filme. Eu já me cadastrei para votar, tenho 27 anos e é o primeiro ano que votarei... Eu sei... eu sei!!! Já vi o que realmente acontece se você não acreditar na força do seu voto. Tenho insistido com meus colegas de trabalho não só para ver Fahrenheit 11 de setembro, mas também para votar. Meu primo estava no USS Abraham Lincoln, quando Bush esteve lá. Fiquei triste em ver o cartaz "Missão cumprida" lá. Especialmente quando aqueles homens e mulheres deveriam ter voltado para casa muitos meses antes daquilo. Desde então, meu primo foi enviado novamente. Só queria usar esta oportunidade para agradecer-lhe por tornar as pessoas mais conscientes. Se alguma vez aparecer por aqui perto de Connecticut, por favor, avise-nos. Meu marido e eu gostaríamos muito de encontrá-lo. O senhor realmente fez com que ele refletisse a respeito de Bush. Ele queria votar nele, mas eu não deixaria, porque assim ele anularia meu voto - essa é a batalha da hora aqui em nossa casa.
Obrigada novamente, Liz Diamond DE: Damian Geiss ENVIADO EM: Segunda-feira, 05 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: O primeiro voto da minha vida :) 6:06pm Oi, senhor Moore Tenho certeza de que este e-mail estará perdido entre milhares de outros, mas tenho que lhe dizer obrigado - pelo menos para que eu saiba que tentei lhe dizer obrigado, senhor Moore. Tenho 42 anos, sou empregado federal e ex-militar e nunca votei em toda a vida. Entretanto, sua coragem em praticar a liberdade de expressão e de demonstrar uma razão crítica verdadeira, fez-me inscrever para votar pela primeira vez na minha vida. Obrigado, e espero que possamos nos encontrar um dia, trocar um aperto de mãos e que eu possa pagar uma xícara de café para o senhor. Mal posso esperar por novembro! Paz e boa vontade ao senhor. Seu Amigo dentre as Massas, Damian Geiss DE: Janell M. Schüller ENVIADO EM: Quinta-feira, 12 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Obrigada pela sua coragem 1:37am Senhor Moore, Sei que está abarrotado de e-mails e que provavelmente nem verá este, mas me sinto impelida a escrever do mesmo jeito.
Acabei de ver Fahrenheit 11 de setembro hoje à noite com meu marido e devo dizer que ainda estou entorpecida. Eu me senti tão ingênua... como se estivesse vivendo dentro de uma bolha! Graças a Deus que meu marido me arrastou para o cinema! Sou mãe em período integral de dois garotos pequenos, um de quatro anos e o outro de onze meses. Somos uma família típica de classe média que mora num subúrbio de Seattle. Eu me envergonho de dizer que votei em George Bush. Não tenho muita certeza do motivo, mas agora que reflito sobre isso, foi o que aconteceu. Não vou repetir o erro. Meu marido lê notícias em sites alternativos e me informa o que acontece de verdade nos Estados Unidos e como o governo e a mídia enganaram o povo americano; no entanto, mesmo assim, eu mantive meus olhos ofuscados. Desde o 11 de setembro, eu me arrependo de ter votado em G.W.B., não concordo com a guerra do Iraque e a confusão em que Bush nos meteu. Apóio os soldados e quero que eles voltem para casa a salvo, mas a guerra não atingiu a MINHA família de verdade. Não perdi ninguém da família ou nenhum amigo na guerra ou nos acontecimentos de 11 de setembro. Portanto, tenho levado a vida como sempre. Vejo o noticiário e leio os jornais e lamento por aqueles que sofreram a perda, mas mesmo assim, não conseguia me relacionar. Seu documentário trouxe tudo direto e me atingiu bem no estômago. Foram os 8,50 dólares MAIS BEM gastos da minha vida. Chorei tanto e ainda não consigo tirá-lo da cabeça. Quando vi aquele menininho iraquiano deitado na maca, pensei no meu filho. Acho que jamais esquecerei aquela imagem. Seu filme despertou algo em mim. Fez-me desejar desafiar os líderes de nosso país, levantar-me e ser útil. O senhor abriu-me os olhos e é por isso que quero agradecer. Não quero que meus filhos cresçam num mundo de corrupção e mentiras. Tenho que tentar fazer valer a minha opinião para o bem do futuro deles. Vou participar mais das coisas, encorajar as pessoas a votar e a
desempenhar um papel mais ativo na mudança deste país para melhor. Há mais de nós, pequeninos, e, se nos agruparmos, isso tem que valer alguma coisa. Incentivei meus pais, que apóiam Bush, a ver o seu filme. Eles PRECISAM ver o filme. Acho que eles vão se sentir de uma maneira diferente depois disso. É preciso ter esperança! Portanto, senhor Moore, obrigado pela sua coragem e por ser tão direto. Acredito mesmo que o seu filme teve um grande impacto em muitos norte-americanos. Eu sei que não mais oferecerei a outra face e não me calarei mais. Você é um herói para mim! Sinceramente, Janell Schüller Auburn, Washington DE: Dave ENVIADO EM: Sexta-feira, 2 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Bárbaro 11 :40am Vi seu filme ontem. Uau, fiquei completamente fascinado. Votei em Bush em 2000 e, cara, eu estava errado. Nunca mais!!! Obrigado por fazer esse filme fantástico... Dave Kidd DE: Faye Walker ENVIADO EM: Quarta-feira, 7 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Votarei pela primeira vez! 1:23am Sou uma afro-americana de 37 anos e nunca havia votado em nenhuma eleição durante toda a vida. Seu filme me incentivou a
me inscrever para votar. (Não sei bem como proceder, mas tenho certeza de que vou descobrir!) Obrigada pelos seus filmes. Sou fã de seu trabalho desde Roger e eu. Fahrenheit 11 de setembro é uma composição excelente de fatos e eu o aplaudo pelo presente ao povo norte-americano. Concordo que os "liberais falharam conosco, trabalhadores deste país". Só posso rezar para que o democrata que substitua Bush trabalhe melhor para os Estados Unidos do que os democratas têm trabalhado no Congresso e no Senado. De qualquer modo, Bush e seu bando são persona non grata. Seria interessante se Lila Lipscomb e outros familiares de militares entrassem com uma ação por morte injustificada contra Bush e administração em nome dos soldados que deram suas vidas no Iraque para que Bush e seu "bando" lucrassem. Tenho certeza de que o senhor tem consciência de que seria uma ótima idéia lançar Fahrenheit 11 de setembro em DVD no próximo outubro para assegurar seu efeito nas próximas eleições. Por favor, continue com o seu bom trabalho! A sua voz é necessária na sociedade norte-americana. Faye (que em breve vai tirar seu título de eleitor) Chicago, Illinois DE: Matthew Heffelfinger ENVIADO EM: Sábado, 26 de junho de 2004 Para:
[email protected] Assunto: Lançamento em Las Vegas 11 :09am Que noite em Vegas! Lugares em pé somente, cinemas lotados, filas tão compridas que parecia o lançamento de Guerra nas estrelas, em 1977. Mas espere aí, tem mais: pessoal da televisão local, muitas palmas, aplausos em pé e, depois que o filme terminou, as pessoas
pedindo a outras para se cadastrarem para votar. Que filme poderoso, quando as pessoas realmente se sentem tão movidas a votar na hora. Heff de Las Vegas, Nevada DE: Terry Endres ENVIADO EM: Terça-feira, 6 de julho, 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: nenhum 7:39pm Senhor Moore, Meu nome é Terry Endres e sou de Seattle, Washington. Tenho 29 anos e nunca votei na minha vida. Sou ex-militar e sempre honrei meu país. Depois de assistir a seu filme, não só votarei em alguém ou em qualquer coisa que seja contra Bush, como também quero mais respostas para um monte de coisas sobre as quais tenho dúvidas. Obrigado por abrir meus olhos para o que fui ensinado a ignorar pelas mesmas pessoas que criam os problemas. Acho que o mundo precisa saber o que está acontecendo com as vidas e trabalhos dos nossos funcionários do governo que foram "ELEITOS". Isso me embrulha o estômago. Por favor me avise se tiver algo em que eu possa ajudar. Terry Endres DE: Cassandra Smith ENVIADO EM: Quinta-feira, 1° de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Acabei de ver seu filme 11:28am Oi, Mike,
Acabei de ver seu filme ontem e gostaria de agradecer a você pessoalmente. Eu ri, chorei e fiquei muito zangada. A coisa mais importante: levei meus dois filhos, de 20 e 18 anos, para ver o filme e agora há mais dois eleitores cadastrados neste país. Eu só queria que soubesse que o que você vem fazendo é muito importante e que sua opinião vale a pena neste canto do universo. Continue com a sua batalha! Cassandra Smirh DE: Kimberley Green ENVIADO EM: Sábado, 26 de junho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Eu vi a luz! (no Texas) 10:34am Prezado senhor Moore, Tenho que admitir que sou republicana, votei em Bush para governador do Texas, trabalhei na campanha presidencial dele em 2000 e sou voluntária registrada para a sua campanha de reeleição. Ouvi suas observações no Oscar e pensei: "Nunca vou ver nenhum de seus filmes! Que canastrão!". Bem, não sou tão obtusa que não possa admitir que estava errada. Recentemente fui exposta a várias histórias sobre Bush, sua família, amigos e ligações obscuras nos últimos dois meses (muitos fatos que foram abordados no seu filme) e comecei a me questionar sobre o que seria realmente a verdade. Minha opinião começou a mudar vagarosamente, mas depois de ver seu filme às 11:30 da manhã, no dia do lançamento em Frisco, Texas, sou oficialmente uma mulher transformada. Sinto como se todas as peças tivessem se agrupado e a lâmpada tivesse sido acesa! O senhor arrumou as peças que faltavam para mim. Caminhei para fora do cinema zangada por ter sido tão cega por tanto tempo e por ter de fato
ajudado Bush a chegar onde ele está hoje! Estarei trabalhando numa campanha este ano...para TIRAR Bush do governo. Já comecei a telefonar para as pessoas, a enviar mensagens etc., tentando fazer as pessoas assistirem a seu filme e abrirem os olhos também. Obrigada por se dar ao trabalho... e pelo risco em colocar a verdade lá para que o povo visse. Espero que muito mais pessoas se sintam do mesmo modo que eu me sinto agora. Continue com o seu bom trabalho! Kim Plano, Texas DE: Robyn Larsen ENVIADO EM: Quinta-feira, 22 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Tiro o meu chapéu para você 3:18pm Caro Michael, Antes de começar, quero dizer que sei como você deve estar atolado com os compromissos gerados pelo Fahrenheit 11 de setembro e não preciso, nem aguardo uma resposta. Eu simplesmente queria aproveitar o momento para agradecer e oferecer uma palavra de incentivo para seus projetos futuros. Sou do tipo de pessoa que é responsável por falar muito e não fazer nada em relação à política. Aprecio uma discussão política saudável e apaixonada com os amigos e considero essencial ler notícias de fontes variadas além da mídia de massa da imprensa principal, para ficar mais bem-informada e menos alienada. Entretanto, sou culpada por votar esporadicamente no passado e, depois de ver seu último filme, duvido que venha a negligenciar meu dever cívico de votar novamente. Agora aguardo com ansiedade a oportunidade de votar em novembro.
Depois de ver o filme pela primeira vez (acabei de revê-lo), meus amigos e eu fomos a um bar local para conversar sobre ele. E ficamos lá, conversando durante horas. O filme gerou uma quantidade imensa de discussão EM TODA A PARTE e todos concordamos naquela noite. que o objetivo mais poderoso que o filme poderia produzir era a discussão generalizada pelo país. Precisávamos desesperadamente questionar a guerra no Iraque, bem como a versão pasteurizada das informações com que somos bombardeados no noticiário do horário nobre. Precisamos de você, Michael, porque você ajuda a equilibrar a natureza extrovertida do político de extrema-direita. Você expôs opiniões que também formei, por conta própria, e, ao fazê-lo, me sinto mais representada, livre neste país. Obrigada por ter tomado os passos dolorosos de checar as informações várias vezes. Obrigada por mostrar o custo real da guerra: em termos de sangue, membros perdidos e Iares perdidos. Obrigada por nos forçar a olhar nos olhos as mães chorosas do Iraque. Obrigada por trazer à tona o assunto do engodo da eleição de 2000 de novo - talvez assim jamais vamos esquecer. Acima de tudo, obrigada por fazer perguntas e realmente escutar as respostas que ouve. Ao escutar alguém como Lila Lipscomb você descreveu onde está o seu coração - com o povo, para o povo. Estou ansiosa para saber qual será seu próximo projeto, Sinceramente, Robyn Larsen DE: Eric Sparks ENVIADO EM: Quarta-feira, 28 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Nunca votei até agora! 5 :04pm
Michael Moore, Sou branco, tenho 26 anos e nunca votei numa eleição presidencial antes. Você incentivou mais uma pessoa a dar esse passo e votar. Não me importo quanto vai custar. Vou direto para a cabine e votarei contra Bush. Gostaria de agradecer por tudo que você fez você é um rebelde de verdade. Eric Sparks DE: Tom Williamson ENVIADO EM : Sexta-feira, 2 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Pelo menos um você convenceu 1O:27am Oi, Vi Fahrenheit 11 de setembro ontem à noite. Obrigado. Hoje, eu me cadastrei para votar. Tom Williamson DE: Kirk Riutta ENVIADO EM: Sábado, 26 de junho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Fahrenheit no centrão do país 11:34am Como moro em Indiana, tenho que confessar que fiquei um pouco ansioso em saber que tipo de público seria levado para ver Fahrenheit 11 de setembro. Quando cheguei ao Kerasotes Showplace 16 no na região sul de Indianápolis, fiquei boquiaberto ao descobrir que os ingressos estavam esgotados e que não havia lugares nem na próxima sessão, nem na outra. De onde vinham
aquelas pessoas que encaravam as filas enormes? No começo, o público estava bem discreto, mas depois de algumas vaias e aplausos espontâneos, foram duas horas ininterruptas de aplausos, vaias, bater de palmas e, no fim, muitas pessoas gritaram "VOTE!". Honestamente, se o filme pode esgotar os ingressos aqui no centro conservador dos Estados Unidos, talvez haja mesmo esperança para o dia da eleição. A coisa mais estranha sobre o filme é que me fez sentir, pela primeira vez na vida, algum senso de solidariedade patriótica pelos meus companheiros Hoosiers [naturais do estado de Indiana]. Espero que todas as pessoas, de todos os lugares, de quaisquer convicções políticas venham ver o filme, pensem e discutam o direcionamento do nosso país. Kirk Riutta Shelbyville, Indiana DE: Colleen Russell ENVIADO EM: Terça-feira, 29 de junho de 2004 7:45pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: Reação perturbadora a Fahrenheit 11 de setembro Sou republicana e venho de um longo histórico de família de republicanos convictos. Vi seu filme hoje, sozinha, e chorei o tempo todo. Nunca me emocionei com nenhum filme antes e, como norteamericana, fiquei envergonhada de saber tão pouco a respeito de quem está no poder em nosso país. Gostaria de participar de sua equipe para desmascarar a verdade sobre nossa nação. Sou enfermeira qualificada, mas gostaria de ter experiência em filmagens. Obrigada por ter tido peito e educação em fazer valer a sua opinião. Agora, tenho medo de morar neste país e gostaria de poder me mudar para o Canadá. Colleen Russell DE: Lois
ENVIADO EM: Terça-feira, 27 de julho de 2004 9:37pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: O filme - a resposta de uma republicana de 84 anos de idade Olá, Levei uma republicana de 84 anos de idade para ver o filme. Ela já estava inclinada a não votar em Bush - ela odeia o fundamentalismo dele, entre outras coisas. Ela AMOU seu filme e agora planeja convencer outros a vê-lo... PARABÉNS! Lois DE: Lourdes Luis ENVIADO EM: Sexta-feira, 2 de julho de 2004 9:23pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: Eleitora pela primeira vez Oi, Mike Só queria lhe dizer que vi você em Charlie Rose a noite passada e o ouvi mencionar que espera que Fahrenheit 11 de setembro faça pessoas que não votam a se cadastrarem para votar. Bem, sou uma dessas pessoas que não votam, mas tenho pensado em votar este ano porque não conseguiria mais suportar aquele palhaço. Nunca fui uma pessoa politizada, mas depois de ver o que ele fez e está tentando fazer com este país, e depois de ver Fahrenheit 11 de setembro, votarei pela primeira vez! Desta vez é pessoal! Sinto que meu voto será importante e espero que faça diferença. Obrigada pelos documentários maravilhosos! Lourdes Miami, Flórida
DE: Thomas O'Keefe ENVIADO EM: Domingo, 11 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Obrigado 1: 18am Mike, Acabei de ter a oportunidade de ver seu filme hoje à noite. Nem sempre concordo com todas as suas interpretações, mas que documentário mais poderoso. Eu sinceramente aprecio o fato de você ter colocado uma face humana nos acontecimentos que transpiraram nos últimos anos passados. Obrigado pela dedicação àqueles que perderam a vida; isso foi de suma importância para mim. Eu perdi um amigo no 11 de setembro, ele trabalhava num dos andares superiores do World Trade Center... Tudo de bom, Tom Seattle, Washington DE: John Carr ENVIADO EM: Domingo, 4 de julho de 2004 1:48pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: Meu esforço para conseguir ingressos para Fahrenheit 11 de setembro para todos os interessados Esta é minha pequena contribuição para espalhar a mensagem. Enviei para todos meus conhecidos, fique à vontade para repassar:
Olá, amigos, família, amigos e família de amigos e família. Desculpe enviar este e-mail tão grande; entretanto, é uma questão importante e espero espalhar este recado o máximo que puder. Há duas noites, minha mulher e eu vimos o novo filme de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro. Vou poupar ficar batendo na mesma tecla - já que tudo está amplamente disponível em toda a parte -, mas vou dizer que ele levantou algumas questões muito relevantes sobre nosso processo político e para onde este país caminha. E acredito que fazer as pessoas se engajarem E DISCUTIREM os assuntos que abordam nossa economia, a guerra do Iraque, o terroismo e a mídia é essencial para o funcionamento da nossa democracia. Também acredito que, independente do que você pensa a respeito do presente governo e/ou de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro é um bom começo para este tipo de discussão. Para tanto, estou fazendo o seguinte pedido e a seguinte oferta: 1. Gostaria de pedir que cada pessoa que recebesse este e-mail fosse ver Fahrenheit 11 de setembro nos cinemas e repassasse este e-mail para pelo menos dez pessoas que conheça, independente de suas opiniões políticas. 2. SEPAREI 200 DÓLARES DO MEU PRÓPRIO BOLSO A FIM DE COMPRAR INGRESSOS PARA FAHRENHElT 11 DE SETEMBRO PARA QUALQUER DESTINATÁRIO DESTE E-MAIL que não tenha dinheiro para comprar seu próprio ingresso ou que de outro modo não despenderia dinheiro para assisti-lo. Como estudante universitário que ganha um pouco mais do que o piso de assistente de ensino e que está sem trabalho neste verão, não disponho de muito dinheiro. Dito isto, acho que é importante que eu invista dinheiro onde acho relevante tentar iniciar uma discussão. POR FAVOR ENVIE ESTE E-MAIL para qualquer pessoa que você acha que possa se interessar por um ingresso.
Em troca do ingresso de Fahrenheit 11 de setembro, a única coisa que peço é que me envie um breve e-mail depois de assistir ao filme, dizendo o que achou e se discutiu sobre ele com alguém ou com quem discutirá a respeito. (Vocês podem omitir os nomes das pessoas devido ao direito de privacidade. Algo como "meu vizinho Jim" é suficiente.) Comprarei ingressos através do Fandango para qualquer pessoa que pedir, até que os 200 dólares separados para isso acabem. É só enviar um e-mail com o cinema e horário da sessão que pretende ver Fahrenheit 11 de setembro. Se você já viu o filme e concorda comigo que é um bom início para discussões, só posso incentivar você a fazer a mesma coisa que estou fazendo. Ofereça levar um amigo ou conhecido para ver o filme e discuta-o em seguida. Espero ter muitos pedidos, que eu gaste essa pequena quantia rapidamente e que outros prossigam com a jornada de onde eu parei. A democracia não faz sentido a menos que estejamos todos preparados para seguir os seguintes três passos: (1) discutir os assuntos entre si, (2) cadastrar-se para votar e (3) votar. Obrigado pelo tempo despendido para ler a mensagem. John Newman Carr Seattle, Washington DE: Andrew J. Marsico ENVIADO EM: Sexta-feira, 2 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Pahrenheit 11 de setembro 9:20am Michael, Só queria lhe agradecer pela obra-prima que você criou. Eu e meu primo acabamos de ver o filme. Moramos na cidade de Nova York e
enquanto esperávamos o filme começar, parecia que estávamos numa reunião de família. Todos conversavam uns com os outros e se divertiam, quase pressentindo que talvez o fim deste pesadelo de quatro anos estivesse próximo. Sabia que ele conseguiria este tipo de reação em Nova York. Espero que o mesmo aconteça em outras partes do país que são conservadoras. Perdi muitos amigos e colegas de trabalho no 11 de setembro, e os meses após aquele dia horroroso foram surreais na cidade. Foi o "dia da desonra" de nossa geração. No filme, na parte em que você mostra as cenas das pessoas em Nova York no 11 de setembro, e também a tela em branco com o áudio, fiquei arrepiado e chorei. Era possível ouvir um alfinete caindo no chão dentro do cinema. Acho que todos no cinema choravam. Foi muito tocante. Como nova-iorquinos perdemos parte de nossas almas aquele dia e ainda não nos recuperamos. Aquelas torres e muitas pessoas dentro delas faziam parte de minha vida e agora elas se foram. Obrigado pelo que você fez. Você é um herói de verdade. Este é verdadeiramente um Governo Mau de malfeitores! Mike, estou muito preocupado com o que acontece neste país. Como pode ser possível que esta corrida presidencial ainda possa estar assim tão apertada? Há muitos idiotas nesse país que são preguiçosos demais para ler e se informar sobre o que acontece com o governo e com o mundo, porque isto pode interferir com o The Bachelor, o Survivor (os quais admito assistir) e o American Idol. Quando querem se atualizar, ligam a FOX News enquanto agitam as bandeiras na frente dos aparelhos de televisão e se animam com Hannity e Colmes (Al Franken é histérico), Bill O'Reilly e ouvem Rush Limbaugh no rádio. Desculpe por me estender tanto, sei que você recebe milhões de emails e cartas todos os dias, mas só queria lhe agradecer por fazer um filme como este, num tempo como este. Isto é patriotismo, isto é liberdade de expressão, isto é a verdade! Estou fazendo tudo que
é possível nesta pequena parte do meu mundo para ter certeza de que Bush não ficará por mais quatro anos. Obrigado, Andrew J. Marsico DE: Marge McCarthy ENVIADO EM: Quinta-feira, 12 de julho de 2004 6:39pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: "Mãe, seus democratas voltaram!" foi declarado com orgulho por um republicano a menos depois de ver Fahrenheit 11 de setembro. Fui ver F11/9 sozinha. Meu marido é republicano afiliado e ele teria ido, mas eu queria passar por esta experiência sem a influência dele. Pedi a ele para levar o nosso filho sabe-tudo de 19 anos para jantar e ver F11/9. Eles saíram e ao pôr novamente os pés em casa disseram: "Mãe, seus democratas voltaram!". Agora não sou mais uma que vota pelas linhas do partido, especialmente quando há poucas escolhas de vida e de morte, mas este filme mudou a dinâmica da família. Meu filho, que tem sido muito rebelde ultimamente, veio até mim, com lágrimas nos olhos e disse: "Obrigado por ter feito a gente ir, mãe". Eu não os OBRIGUEI a ir, mas incentivei muito e no fim tudo deu muito certo. Meu marido já não se considera republicano e meu filho fica mais em casa e está mais legal com a gente. (talvez ao perceber o que poderia estar encarando agora tenha lhe aberto os olhos um pouco.) Finalmente, a filha de minha melhor amiga é neta de um homem que não só concorreu ao cargo de governador do Colorado na década de 1980, como também subvenciona sozinho a maior campanha para criar um sistema de "vales" para nossas escolas públicas. Esta linda, porém ingênua jovem de 16 anos, me disse que queria ver F11/9 e pediria ao pai ou avô para levá-la nesta
semana. Não é preciso dizer que ela não viu o filme, mas a mãe dela (divorciada) vai levá-la. Obrigada a você e a todos que estão envolvidos na criação do poderoso F11/9 . Obrigada a Lila por compartilhar e permitir que todos nós compartilhássemos de sua dor. Marge McCarthy Colorado Springs, Colorado DE: Michael H. ENVIADO EM: Quinta-feira, 22 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Pessoa mudada 12:07am Prezado senhor Moore, Tenho 24 anos, sou estudante de Tulsa. Sou republicano afiliado desde que tinha idade para votar. Sempre fui meio "de centro", mas colocava uma fachada de conservador para evitar críticas da minha família e amigos que, na maior parte, é extremamente conservadora. Sabendo que teria poucas chances de convencer quaisquer dos amigos a ir ver Fahrenheit 11 de setembro comigo, fui sozinho numa das janelas entre as aulas nesta tarde. Acho que agora o senhor deve estar se perguntando: "Qual o objetivo desta carta?". Bem, aqui está: gostaria de agradecer. Seu filme abriu-me os olhos para muitas coisas. Os Estados Unidos são um país maravilhoso, mas não somos os únicos no mundo. Os norteamericanos tendem a colocar uma bandeira adiante do povo. Por mais importante que um país seja, não deve ter um valor maior do que qualquer vida humana. Não sou uma pessoa sentimental demais. Não consigo me lembrar de mais do que cinco vezes em que tenha realmente chorado depois de adulto. Uma dessas cinco vezes foi em 11 de setembro
de 2001. Uma outra foi esta tarde. Ouvir a senhora Lipscomb falar sobre o filho no fim do filme e quase cair nas calçadas de Washington de tanta tristeza trouxe a guerra para dentro de minha casa. As imagens na TV realmente não fazem isso. Na TV; a guerra é um palácio sendo derrubado pelas bombas. Na vida, é algo mais: pessoas. Seu filme abriu-me os olhos de uma maneira que achava impossível. Nas últimas doze horas desde que o vi, devo ter "desabrochado" meu liberalismo para minha mãe e exclamei com orgulho que vira um filme que me transformara mais do que achava possível. Penso seriamente em me oferecer como voluntário para o partido democrata, assim como o soldado no seu filme. Nas últimas doze horas, eu me tornei um destemido defensor seu, quando ontem mesmo, era um crítico. Os críticos sempre estarão lá para falar contra o senhor e seu filme, mas tudo bem. Por que tudo bem? Porque estes são os Estados Unidos, o lugar que você obviamente ama o suficiente para questionar os líderes. Não há nada de anti-americano nisso. Obrigado pelo tempo e espero que esta carta o encontre bem. Michael H. Tulsa,Oklahoma DE: Stefanie Mathew ENVIADO EM: Sexta-feira, 23 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Obrigada 9:25pm Oi, Eu só queria acrescentar minha voz aos milhares que agradecem a você por ter feito Fahrenheit 11 de setembro. Já faz tempo que me juntei ao grupo, mas estou surpresa de que - depois de 56 anos como republicana convicto - foi o seu filme que fez meu pai decidir-
se a votar nos democratas. Ele já estava muito insatisfeito com a guerra e insatisfeito com Bush como homem, mas ao ver as histórias que você conseguiu contar, ele superou a barreira. Nunca pensei que isso pudesse acontecer, mas a decisão de meu pai me deu esperança de que ainda haja um núcleo de norte-americanos decentes, honestos, independente de suas crenças políticas, que ainda saibam a diferença entre o que é direito e o que é inaceitável e que votarão conscientemente em novembro. Obrigada. Stefanie Mathew Washington, D.C. DE: Pam & Rick Bennett ENVIADO EM: Domingo, 25 de julho de 2004 12:08pm PARA:
[email protected] ASSUNTO: Um outro homem vê a luz... obrigado Michael, Quero relatar minha experiência de ter levado meu pai para ver seu filme hoje. Durante os últimos dois anos, meu pai tem sido um partidário de Bush sob todos os aspectos. Certa vez ele deixou de falar comigo por dois meses porque eu era bastante enfática na minha oposição a respeito do que acontecia na guerra do Iraque. Ele acreditou de verdade que Bush era um homem de Deus. Hoje, levei meus pais para almoçar e depois lhes disse que os levaria ao cinema. O filme era Fahrenheit 11 de setembro. Fiquei com medo de que meu pai ficasse bravo ou saísse no meio do filme. Mas ele absorveu cada palavra e, quando saímos, disse que tinha sido "um verdadeiro abridor de olhos". Um pouco mais tarde, ele disse que escreveria uma carta ao editor do jornal da sua cidade natal para dizer que todos os cristãos deveriam ver este filme. Se você conhecesse meu pai, saberia que isso é testemunho do poder do filme. Obrigado por tê-lo realizado. Você não só fez um homem
enxergar a verdade, você também o fez entender a briga da filha nos dois últimos anos. Eu realmente temo pelo nosso país. Por favor, continue trabalhando bem assim... Quem sabe você possa se candidatar... Pam Bennett Lewis Center, Ohio DE: Srta. Taylor Parson ENVIADO EM: Sexta-feira, 23 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Um momento na história... 5:38pm Michael, Sou estudante da Universidade da Carolina do Norte em "Wilmington, Carolina do Norte e tenho 25 anos de idade. Meu pai é um homem de negócios, republicano convicto, mas uma das pessoas mais racionais, honestas e de mentalidade aberta que já conheci. Ele mora em Kinston, Carolina do Norte, e foi ver Fahrenheit 11 de setembro na terça-feira, 20 de julho. Depois de ouvir a respeito do filme pela mídia, por mim e meus irmãos, ele decidiu ir ver. Achou que seria justo ver um outro enfoque. Como disse antes, ele é bem aberto e não tem nem a personalidade de Bill O'Reilly ou de Rush Limbaugh. Ele investigou as declarações contra Bush e tem consciência da carreira desordenada de Bush como "presidente". Nem é preciso dizer que ele é republicano por falta de opção. Mas eu fiquei surpresa com o desejo dele de ver o filme. Acompanhei meu pai ao cinema, foi a quarta vez que vi o filme. Depois, meu pai virou-se para mim e disse: "Acho que terei que mudar meu registro para independente para poder votar em John Kerry".
Meu pai, que tem 58 anos de idade, NUNCA votou em democratas em sua vida. Esta será a PRIMEIRA VEZ. Ele declarou que os fatos mencionados por você eram verdadeiros e, acredite quando digo, meu pai não é ingênuo, nem idiota. É um homem brilhante com o dobro do QI de Bush e se ele diz que você diz a verdade, então é verdade. E ponto final. Por causa de sua própria pesquisa independente sobre os registros desacreditados de G(uerra) W. Bush e da confirmação de seu filme inacreditável, meu pai deseja uma mudança rápida e votará em Kerry em 2 de novembro. Agora, meu pai insiste em ler e ver todo o seu trabalho excelente, sobre o qual eu o informei cronologicamente com bastante entusiasmo. E acredito nele quando ele diz que assistirá a todos os seus filmes e lerá todos os livros. Ele, diferentemente de nosso caubói, tem credibilidade, honra, força e é muito culto. Portanto, em meu nome e de meu pai, obrigada Michael por dar valor a tudo que já sabemos e por nos iluminar com as coisas que ainda não sabíamos. Meu pai diz que você é um norte-americano importante e legítimo. E, lembre-se, ele sempre está certo. Srta. Taylor Parson DE: Angela ENVIADO EM: Quarta-feira, 30 de junho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Obrigada mesmo 9:27am Caro Mike, Muito obrigada por ter feito Fahrenheit 11 de setembro. Acho que é impossível expressar o quanto eu sou agradecida por você ter feito o filme. Eu morava em Nova York no dia 11 de setembro de 2001, trabalhava no baixo Manhattan e, da rua, vi o segundo avião bater
no World Trade Center pouco depois das 9 horas. Posso dizer, com honestidade, que me lembro de cada minuto daquele dia. Desde correr até o escritório, me esconder debaixo da escrivaninha, sentindo a cidade balançar com a queda das torres. Sempre me lembrarei do som do avião chocando contra o prédio é um som que está impregnado na minha memória. Assistir a seu filme - e ouvir os sons do ataque apenas contra uma tela negra fez meu coração disparar. Foi a primeira vez que ouvi aqueles sons novamente depois daquele dia. Agradeço por ter sido tão respeitoso e não ter mostrado as torres queimando e as pessoas saltando dos prédios. Os noticiários da cidade de Nova York mostraram as cenas dia após dia. Os meses que se seguiram foram muito assustadores com "advertências" de nível alto de terror e ameaças diárias. Mas a coisa mais difícil para mim foi passar diante de uma mulher na rua, em pé, do lado de fora do meu prédio, todos os dias, durante meses. A filha dela trabalhava no World Trade Center e estava desaparecida desde o 11 de setembro. Mas a mãe dela ficou em pé do lado de fora do meu prédio todos os dias, durante meses, perguntando se eu vira a filha dela, distribuindo a foto dela em folhetos para os pedestres. A garota era minha vizinha e tinha exatamente a mesma idade que eu. Ela, também, tinha acabado de se formar na faculdade e estava começando a carreira em Nova York. Cortava meu coração ver a mãe dela todos os dias e ter de dizer que não, não havia visto Sarah. Eu me lembro de ter chorado quando a mãe de Sarah parou de aparecer de manhã, em algum momento por volta do Natal. Meu primo foi enviado ao Iraque pouco depois de 11 de setembro. Eu me lembro de ter pensado na época: "Por que o Iraque? Por que não o Afeganistão?". Parecia tão estranho para mim. Quando Bush promoveu a guerra contra o Iraque, percebi que todos nós éramos manipulados pelo governo - que aqueles avisos de "níveis
de terror" eram aumentados, cada vez em que começávamos a nos sentir a salvo novamente. Provavelmente você já ouviu milhares de histórias de pessoas que viviam em Nova York no dia 11 de setembro. Embora eu seja de uma pequena cidade costeira em Maine, serei sempre uma novaiorquina de coração por causa dessa experiência. Eu me lembro de ter colocado meu broche com a bandeira norte-americana com orgulho, em honra daqueles heróis tombados. Parei de usá-lo depois que invadimos o Iraque, depois de perceber que fomos manipulados por um governo no qual queríamos tanto acreditar. Mike,obrigada por fazer seu filme. Você me fez sentir orgulho de ser norte-americana novamente. Acho que vou tirar meu broche de bandeira da caixa de jóias novamente. Sinceramente, Ângela DE: Susan Brown ENVIADO EM: Sexta-feira, 2 de julho de 2004 10:58am PARA:
[email protected] ASSUNTO: Você não precisa responder, sei que está ocupado, mas Pensei que ficaria feliz em saber. Minha mãe, que é a pessoa mais apolítica que existe e que sempre votou nos republicanos porque o pai dela votava e o marido vota, viu Fahrenheit 11 de setembro há dois dias. (Mamãe tem 71 anos.) Ela me ligou no dia seguinte para perguntar como poderia deixar de estar inscrita como republicana e cadastrar-se novamente como "recusou-se a declarar". Ela me ligou porque sou uma liberal fanática e lido com estatísticas, elaborando-as, toda eleição, e ela não queria dizer ao meu pai o que estava fazendo. Ela não tinha certeza quanto a isso antes da eleição, mas eu lhe disse que era importante que fizesse aquilo agora, para que o
partido visse que o filme estava fazendo efeito (minha esperança é que muito mais pessoas tomem a mesma decisão). Então, enviei um cartão de registro de eleitor para mamãe ontem. Em meu nome e em nome das minhas irmãs liberais. Obrigada! Você fez Mamãe se interessar por política!!! Susan Brown Davis, Califórnia DE: A. Keith Rutherford ENVIADO EM: Quinta-feira, 17 de junho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: 11 de setembro 4:21 pm Prezado senhor Moore, Acabei de ver seu filme hoje e, para dizer a verdade, estou chocado!!! Votei em Bush e me envergonho disso!!! Gostaria que ele tivesse sido um tipo diferente de presidente. Muito obrigado por abrir meus olhos... A. Keith Rutherford Los Angeles, Califórnia DE: Charlene Wall ENVIADO EM: Sexta-feira, 2 de julho de 2004 PARA:
[email protected] ASSUNTO: Senhor Moore, fui ver seu filme 2:03pm Oi, Mike, Meu nome é Charlene Wall e sou republicana afiliada, noiva de um democrata. Sou republicana de mente aberta e na minha casa
sempre há discussões acaloradas. Acredito em ser honesta e honrar a verdade. Seu filme Fahrenheit 11 de setembro foi tocante e bem-feito. Ficou assombrando meus pensamentos durante dias. Eu já decidira por minha conta que o presidente George W. Bush mentira para mim e eu não iria apoiá-lo na campanha de reeleição. Depois de ver o filme, peguei um adesivo de pára-choques escrito "John Kerry para presidente" e coloquei no meu carro. Eu me sinto uma idiota por ter votado e apoiado GWB e estou incentivando todos os amigos e colegas a se informarem mais. Na verdade, fiz uma oferta aos meus amigos republicanos de que pagaria o ingresso deles para ver Fahrenheit 11 de setembro, mas, até o momento, ninguém teve coragem de aceitar minha oferta. Em vez disso, ele ficam discutindo comigo; ameaçam e condenam a sua pessoa. Eu admiro você por lutar pelas suas crenças e fazer algo delas. Você é um homem corajoso. Se algum dia passar na cidade (Camarillo, Califórnia, condado de Ventura), Todd e eu gostaríamos de convidá-lo para jantar. Saudações cordiais, Charlene
Umas últimas poucas palavras sobre Fahrenheit 11 de setembro "Acho que todos os norte-americanos devem assistir ao filme." Ex-presidente BILL CLINTON, Rolling Stone, 13/7/04 "Independente de suas crenças políticas, será uma boa experiência de empatia. Trata-se de algo bom para os norte-americanos assistirem." DALE EARNHARDT JR., campeão do Nascar (que levou sua equipe para ver Fahrenheit 11 de setembro na noite anterior), FOX TV, 27/6/04
"Acho que é um dos filmes mais importantes já realizados. Tem o potencial de afetar a eleição de verdade e, se o fizer, mudará o mundo. Poucos filmes ou trabalhos de arte produzem um impacto profundo nas questões mundiais", ele disse, ao mencionar Uncle's Tom Cabin e I Am a Fugitive from a Chain Gang. "Mas ele, na verdade, tem a oportunidade de mudar o mundo." ROB REINER, Hollywood Reporter, 10/6/04 ''Ver Fahrenheit 11 de setembro me fez pensar profundamente sobre amor ao país, como ele nos molda, dirige e incentiva e como às vezes nos deixa tão furiosos que desejamos gritar ao mundo: 'Não, isto está errado'. Muitas coisas foram ditas sobre o filme e, é claro, sobre o diretor Michael Moore. Mas não acho que ouvi algum comentário sobre o amor de Moore pelos Estados Unidos. Para mim parece claro que o filme nasceu desse amor." PATTI DAVIS, filha de RONALD REAGAN, Newsweek, 20/7/04 "Acho que nunca chorei tanto por causa de um filme em toda minha vida. Incentivo todos vocês a vê-lo." MADONNA, Daily News (Nova York), 18/6/04 "No fim, se conseguirmos sair desta sem a III Guerra Mundial ou quaisquer outros cenários que este governo preparou para nós, será porque as pessoas continuam a fazer coisas do tipo dar declarações, participar de abaixo-assinados. Será porque os Michael Moore daqui não desistiram." JOAN BAEZ, San Diego Union- Tribune, 17/6/04 "Nunca antes se ouviu de outro documentário ter superado todos os outros filmes no Festival de Cannes, portanto ele é um gênio." TONY BENNEIT na estréia de Fahrenheit 11 de setembro no cinema Ziegfeld, cidade de Nova York, 14/6/04
A senhora Blige, que nunca havia votado, disse que depois de assistir ao documentário de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro, estava ansiosa para ir às eleições em novembro. "Tenho que votar este ano", ela declarou. "Depois de ver esse filme, não há outra alternativa." MARY J. BLIGE, The New York Times, 6/7/04 "Estou convencido de que ele deve ser visto pelo máximo possível de americanos e que eles reflitam sobre o filme... especialmente os jovens, que, em poucos anos, poderão se tornar parte de nossa força militar. Estou comprometido pessoalmente, mais do que somente como advogado, com a proposta de que todos devam ver este filme." MARIO CUOMO, depois de assistir a Fahrenheit 11 de setembro pela terceira vez, Chicago Sun-Times, 17/6/04 "Certos âncoras conservadores de um programa de entrevistas disseram que Michael Moore não era norte-americano devido ao filme. Ele e todos os outros que dizem qualquer coisa a respeito da guerra... Questionar a política de nosso país, especialmente numa guerra que mata pessoas, definitivamente não é não ser americano. É provavelmente a coisa mais patriótica que se pode fazer." JOHN FOGERTY, Scripps Howard News Service, 14/7/04 "Fiquei comovida com o filme - especialmente com a história da mulher que perdeu o filho na guerra. Fui com um bando de amigos e todos nós choramos. Depois do filme não consegui falar nada durante uns trinta minutos." EMILY SALIERS do Indigo Girls, The Denver Post, 23/7/04
"A verdade é tão irônica. A melhor informação que podemos ter sobre esta eleição pode vir de uma combinação de The Control Room, Fahrenheit 11 de setembro, John Sayles, o noticiário noturno de Jon Stewart." SEYMOUR HERSH, Conferência dos Associados do ACLU, São Francisco, 7/7/04 "Acho que muitas pessoas vão fazer comentários sobre o filme. E acho que mais pessoas ainda que estão em cima do muro sobre em quem votar, depois de ver o filme, votarão com convicção." LEONARDO DICAPRIO, The New York Observer, 21/6/04 "Não só incentivou as pessoas a tomarem parte do ato de cidadania, mas a arrumarem tempo para ver o Fahrenheit 11 de setembro de Michael Moore." BIG BOI, de OutKast, Quarta Premiação Anual da BET, 15/7/04 "Michael Moore merece meus sete dólares por este filme." TOM HANKS, USA Today, 15/6/04 "Tenho dedicado 'Desperado' todas as noites a Michael Moore tentando fazer as pessoas assistirem a Fahrenheit 11 de setembro." LINDA RONSTADT, Las Vegas Review-Journal, 16/7/04 "Muitos de nós confiam que Michael Moore desvendará a verdade." CAMRYN MANHEIM, USA Today, 10/6/04 "A noite passada tive a chance de ver o novo filme de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro. Foi absolutamente encorajador e incrivelmente bem pensado, provocante; eu recomendo a todos". ANNIE LENOX, www.alennox.net 9/7/04
"Acho que é importante que haja algo que provoque os jovens por aí. Estou com trinta anos, daí pelo menos para aqueles que não ponderam no que é importante para o país há algo para se ver e tomar alguma decisão." CARSON DALY, pré-estréia de Fahrenheit 11 de setembro no Cinema Siegfeld, cidade de Nova York, 14/6/04 Acho que estamos enfrentando os tempos mais perigosos desde que estou no planeta e cada vez em que atuo nestes dias, protesto contra este ciclo insano de violência para o qual o governo parece inclinado. Eles não fazem nada para detê-lo e o país está dividido de uma maneira tão amarga agora. É pior do que durante os anos do Vietnã. Quando o comentário inocente de Linda Ronstadt sobre o filme de Michael Moore causa tanta indignação, você sabe que está na hora de tomar uma posição. Acho que se deveria exigir a exibição de Fahrenheit 11 de setembro em todas as escolas e faculdades. KRIs KRISTOFFERSON, The Toronto Star, 26/8/04 "Acho que Fahrenheit 11 de setembro é tão importante porque diz a verdade sobre assuntos dos quais a verdade foi suprimida nos últimos três anos". MOBY, CNBC, Topic [A] with Tina Brown, 20/6/04 "[O filme] deveria ser obrigatório como parte do currículo de todas as pessoas nas escolas de segundo grau dos Estados Unidos." LEELEE SOBIESKI, atriz, USA Today, 10/6/04 Quando um jornalista italiano reclamou que o filme só tinha um ponto de vista, a senhora Swinton respondeu: "Já ouvimos o que o Bush tem a dizer. Convivemos com isso. Acho que é uma disputa justa. Este filme ajuda a restabelecer o equilíbrio."
TILDA SWINTON, atriz, Chicago Sun-Times, 24/5/04 "Queríamos que você soubesse que a política do filme não tem relação com esta premiação... Estamos entregando o prêmio a você por ter feito um grande filme." QUENTIN TARANTINO, Chicago Tribune, 30/5/04 "Um filme pode ser engraçado e nada mais. Pode me fazer chorar. Pode me fazer rir. Pode me perturbar. Pode me elevar. Este filme fez tudo isto." QUENTIN TARANTINO, presidente do júri de Cannes 2004, The Globe and Mail (Toronto), 25/04/04
PARTE IV Ensaios e críticas sobre Fahrenheit 11 de setembro "O recado genial de Moore foi entregue" Daily News (Nova York) DENIS HAMILL, 29 de junho de 2004 Dava para escutar uma lágrima caindo. No momento em que a mãe americana chamada Lila Lipscomb se afogava em sofrimento com a morte do filho no Iraque, o cinema do Loews Bay Terrace no Queens, lotado, estava tão silencioso na sessão das onze da manhã de Fahrenheit 11 de setembro da sexta-feira, que só se conseguia ouvir o roçar dos tecidos das roupas. Sentei lá atrás, ao lado de um operário da construção do Brooklyn, desempregado, e, enquanto o filme passava, fiquei
observando as silhuetas de homens e mulheres, jovens e velhos, limpando as lágrimas. Eram as lágrimas da nação neste fim de semana, no momento em que Fahrenheit 11 de setembro fulgurava do Atlântico ao Pacífico: o filme número 1 dos Estados Unidos. Uma novíssima maneira de ir ao cinema. Desde que comecei a ir ao cinema aos quatro anos de idade no RKO Prospect do Brooklyn, acho que nunca sentei numa platéia tão pessoalmente envolvida com a história que estava sendo contada na tela. Afinal de contas, não era nenhum "filmão" cheio de bolas de fogo explodindo. Não, as bolas de fogo que explodem neste filme são reais. Os mortos neste filme são reais. O diálogo é real. Soldados reais, vítimas reais, mães reais, crianças mortas reais. Os bandidos retratados pelo cineasta Michael Moore são muitíssimo reais. A única coisa falsa são os motivos desta administração para entrar em guerra, explorando as quase 3 mil mortes do 11 de setembro, para que um garoto rico que deu um jeito de se ausentar da Guarda Nacional durante a guerra do Vietnã conseguisse mandar soldados americanos para morrer no Iraque e ainda chamar a si mesmo de "war prez'din" - "prizidenti da guerra". A razão pela qual as pessoas na platéia, americanos, se envolvem tanto nesse filme é porque somos todos extras nessa história. O filme - hilário e comovente ao mesmo tempo - é uma sublime exposição do patriotismo americano, de difícil classificação por ser uma declaração muito pessoal, assim como o Common Sense [panfleto de 1776 que propagou idéias de liberação da Inglaterra] e Thomas Paine foi algo novíssimo em sua época sanguinária. Paine escreveu: "Até mesmo em sua melhor condição, o governo é um mal necessário; na pior, é intolerável". Michael Moore não tolera o governo Bush. Às vezes precisamos de um cara inteligente, engraçado e comum para entender o que está
acontecendo no país dele. Se houvesse câmeras por ali naquela época, Tom Paine poderia ter feito um documentário em vez de escrever um panfleto exigindo a independência da Inglaterra. Fahrenheit 11 de setembro destila patriotismo, porque é um barulhento enaltecimento da nossa Carta de Direitos, dizendo ao nosso comandante-em-chefe que estamos achando que essa guerra fede em um ano eleitoral. Vejam só, a campanha de Bush gastou 85 milhões de dólares em três meses, tentando convencer o eleitorado de que John Kerry é uma indecisa ameaça de esquerda à segurança nacional. Moore gastou 6 milhões de dólares para fazer seu documentário mostrando que Bush é um bufão arrogante, egocêntrico e perigoso, uma ameaça à segurança nacional. Fahrenheit 11 de setembro também é um corretivo para o tamborilar diário das rádios da direita, que enviesam as notícias de modo a se encaixarem numa agenda radical. Mesmo assim, os Rush Limbaughs e os Sean Hannitys desdenham Michael Moore por ousar expressar seu ponto de vista com cenas ao vivo. Os americanos não gostam de hipócritas. E é por isso que estão pagando mais de 10 dólares por cabeça para dizer isso, em lugares como Queens, Brooklyn, nas pequenas cidades e bairros operários pela fértil planície de onde saem os garotos que matam e são mortos nas guerras boas e más dos Estados Unidos. A imprensa padrão também fez picadinho de Fahrenheit 11 de setembro - mas só porque Moore bate na mídia americana por ela ter se deixado levar pela míope histeria patriótica pós-11 de setembro, permitindo ser cooptada pela administração e engolindo as notícias chauvinistas da guerra no Iraque. Fahrenheit 11 de setembro também é um testemunho a favor do capitalismo americano, porque em nenhum outro lugar no planeta um cara da classe trabalhadora que vem de um lugarejo como Flint, no Michigan, poderia emergir para espetar o presidente dos Estados Unidos com suas próprias palavras e ações e transformá-
lo no mais indecente documentário da história, abocanhando 21,8 milhões de dólares em seu fim de semana de estréia. Esta é uma história do grande americano Horatio AIger [autor americano (1832-1899), que escreveu mais de 118 livros de aventura para meninos. Seus jovens heróis venciam por causa de um misto de coragem e sorte], que todo americano deveria aplaudir. Que foi exatamente o que a platéia no Queens fez na última semana depois que George W. Bush pronunciou sua última sentença e os créditos passaram. Eu me senti tão comovido pelo aplauso quanto pelo filme, porque aquilo era o poderoso som do Joe Public [Zé-povinho], como diz Bush quando se refere a We the People [Nós, o Povo]. Aqui fora, nesses distritos teimosos, que nunca admitem estar errados, eu esperava alguma vaia. Não escutei uma única. Em vez disso, saí com uma multidão profundamente emocionada, passando por uma enorme fila para a sessão seguinte. Voltando ao Brooklyn, o operário desempregado comprou uma cópia pirata de Fahrenheit 11 de setembro, tirada com uma câmera de vídeo portátil num cinema. Ele me ligou para dizer: "Até a platéia no filme pirata aplaude no final!"
"Obrigado, Michael Moore!" truthout / Perspective WILLIAM RIVERS PITT, sexta-feira, 25 de junho de 2004 "A luz no fim do túnel poderia ser a lâmpada num projetor de cinema."
JEANETIE CASTILLO Telas em Bartlett, Chattanooga, Jackson, Knoxville e Memphis, no Tenessee, estarão mostrando aquilo. Telas em Layton e West Jordan, Ohio, estarão mostrando. Se você estiver em Leawood, Merriam, Shawnee ou Wichita, Kansas, pode ver. Isso também vale para Centerville, Fairfax e Abington, na Virgínia. Ou, se por acaso, você estiver em Akron, Bexley, Dublin ou Elyria, em Ohio, também. Roover, Montgomery e Mobile, no Alabama, não ficarão de fora. Laramie, no Wyoming? Está lá. Bozeman, Montana? Claro. Se você estiver visitando sua terra natal seja ela Grand Island, Lincoln ou Omaha, em Nebraska, não terá sido esquecido. O maior shopping do país, o Mall of America, em Bloomington, em Minnesota, o terá em seu cinema. Se você é soldado em Camp Lejune ou Fort Bragg, pronto para ser despachado para o Iraque, poderá vê-lo em Fayetteville, na Carolina do Norte. Essas cidades, grandes e pequenas, do Atlântico ao Pacífico, passando pelo coração da terra americana, a partir do meio-dia e um minuto da manhã da sexta-feira, 25 de junho de 2004, começarão a exibir o documentário de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro. Para a maioria das pessoas que assistirem a este filme naquelas cidades, grandes e pequenas, a sensação não será nada menos do que uma bomba mental. O grupo The Who tinha uma canção sobre como o hipnotizado nunca mente, mas, como vimos, pessoas hipnotizadas pela televisão e por um medo deliberadamente imposto com certeza podem apoiar uma guerra e um presidente, que basicamente estão contra a essência do decoro americano. Na verdade, pessoas hipnotizadas pela televisão e pelo medo deliberadamente imposto se enfiarão no moedor de carne cantando alegremente "Deus salve América". O filme de Michael Moore quebrará essa hipnose, mas por bem. Os americanos que acreditavam no que seu presidente lhes dizia
porque o viram na televisão, quando saírem da escuridão para a luminosidade do dia, depois de menos de duas horas no cinema local, olharão para a televisão e o presidente com dúvida e pavor. Milhões de americanos que acreditaram no que lhes disseram sobre o 11 de setembro, sobre o Iraque, sobre o próprio George W. Bush - entrarão nessa luz conscientes de que alguém mentiu para eles. Cá entre nós, nenhum dos dados desse filme me deixou surpreso. Depois de ter passado cada dia dos últimos três anos trabalhando para mostrar ao maior número possível de americanos a verdade sobre o homem a quem chamam de presidente, era bastante improvável que seja lá o que o filme contivesse me fizesse mudar de atitude ou de opinião. As conexões entre Bush, os sauditas, o grupo Carlyle e os ataques do 11 de setembro estavam ali. As conexões entre Dick Cheney e a Halliburton estavam ali. As conexões entre a Enron, a Unocal, as tubulações de gás natural, a guerra no Afeganistão e um país quase desconhecido chamado Turcomenistão estavam ali. Adorei o fato de Moore ter mostrado cópias não-preparadas do registro de serviço militar de Bush, permitindo que víssemos partes desses documentos que haviam sido obliteradas. Não encontrei nesse filme nenhuma afirmação, nenhum fato que possa ser questionado ou posto em dúvida. Fiz meu dever de casa, e, como ficou dolorosamente claro, Michael Moore fez o dele. A maioria dos americanos não sabe nada sobre tudo isso; para dizer o mínimo, ver essas coisas muito bem documentadas e meticulosamente pesquisadas na tela grande será revelador. Sim, Virgínia, há bilhões de dólares a serem lucrados para os amigos de Bush nessa guerra do Iraque. A segunda porta à esquerda é o escritório de recrutamento. Assine na linha pontilhada e seja o primeiro garoto no seu quarteirão a morrer em benefício das opções da Carlyle na Bolsa. Mas cuide para deixar algum dinheirinho guardado de antemão, porque o exército vai passar a
mão no seu pagamento pelos dias em que você estiver morto. É a política, sabe como é... Michael Moore enfiou dois punhais em mim com este filme; o primeiro tem a ver com os soldados americanos. Soldado após soldado falaram francamente para a câmera de Moore, condenando a guerra e as pessoas que os enfiaram nela. Muitas cenas explicavam vividamente o que acontece com o corpo de um soldado quando apanhado em uma explosão. O resultado é desastroso; os gritos dos feridos e dos mortos soarão para sempre nos meus ouvidos. As cenas mais funestas do filme estão centralizadas na mulher chamada Lila, que ama seu país, ama sua bandeira e, acima de tudo, ama os filhos, a quem energicamente persuadiu a entrarem nas forças armadas. Ficamos sabendo que Lila tem um filho no Iraque e por isso despreza os que protestam contra a invasão. Mais tarde, descobrimos que o filho dela foi morto em Karbala no dia 2 de abril, quando seu helicóptero Blackhawk foi derrubado a tiros. Nós a vemos ler a última carta que o filho escreveu para casa, em que esbraveja contra Bush e contra a guerra. Por fim, vemos Lila de pé nos portões da Casa Branca, os olhos vertendo lágrimas, no momento em que ela descobre seu verdadeiro inimigo, aquele que tirou seu filhinho de seus braços. O outro punhal, Moore enfiou durante a montagem da cobertura que a mídia faz da guerra. Um jornalista após o outro aparece cantando louvores a Bush, sua administração e a guerra. Cada um deles passou adiante o que hoje sabemos serem mentiras descaradas: que o Iraque tinha armas de destruição de massa, que o Iraque era uma ameaça, que tínhamos de ir e que tudo está ótimo. Foi um espetáculo de absurdos que os americanos tiveram de engolir por tempo demais. Se ainda duvida disso tudo, o verdadeiro jornalismo agressivo e eficaz de Sidney Blumenthal, visto em sua mais recente
reportagem intitulada "Reality Is Unraveling for Bush" [A realidade está se desvendando para Bush] poderá ajudar você. "A maior pane da mídia estava no palanque ou sentia-se intimidada", escreve Blumenthal. "O próprio Cheney chamou o presidente da corporação proprietária de uma das cadeias da mídia para se queixar de um comentarista. Assessores políticos dirigidos por Karl Rove estavam sempre ligando para editores e produtores com ameaças veladas sobre acessos que não seriam concedidos de maneira alguma. A imprensa não morderia a mão que não a alimentava." De um só golpe Michael Moore desfez três anos de jornalismo televisivo ruim, enviesado, distorcido, desprovido de fatos concretos. No final das contas, esta é a grandeza de Fahrenheit 11 de setembro. Não apenas os americanos conseguirão ter uma idéia do tamanho do logro que toleraram, mas certos "jornalistas" por todo o país serão obrigados a agüentar a humilhação que tanto mereceram. Tive o privilégio de ver este filme na companhia de três grupos que estiveram contra essa desastrosa guerra desde o primeiro dia: Military Families Speak Out, September 11 Families for Peaceful Tomorrows e Veterans for Peace [Famílias de militares se expressam, Famílias do 11 de setembro por dias pacíficos e Veteranos pela paz]. Muitos no cinema tinham família no Iraque, perderam um familiar no Iraque ou perderam um familiar no 11 de setembro e viram seus mortos queridos sendo usados como desculpa para uma guerra injustificada. Não havia um olho seco na casa. Fahrenheit 11 de setembro não é uma vitória para ninguém. Nós, o Povo, deveríamos ter sabido melhor, Nós, o Povo deveríamos ter sabido dos fatos antes de mandarmos 851 dos nossos filhos para a morte. Nós, o Povo fomos traídos pelos nossos líderes e por uma mídia que lucrou e ainda lucra com a venda diária de mentiras.
Este filme levou esse fato horrendo para casa com uma boa marretada, e dói. Enquanto saía nessa companhia de heróis, me lembrei de um trecho da fala de rendição de Henrique diante de Agincourt, de Shakespeare: Quem sobreviver, e a salvo chegar em casa, quando seu nome esse dia receber, bem alto erguerá um brinde a Crispim. Quem esse dia viver e a velhice atingir, todos os anos receberá seus vizinhos na véspera: "Amanhã é o dia de São Crispim!" e arregaçará as mangas, mostrando as cicatrizes: "São feridas do dia de Crispim". Muitos de nós não foram hipnotizados. Milhões de americanos foram às ruas neste país e pelo mundo afora para tentar deter essa loucura antes que ela estivesse desenfreada. As pessoas naquele cinema comigo haviam feito isso, jamais pararam de fazer isto, embora seu presidente e sua mídia os chamassem de traidores. Eles estavam certos. Estavam certos. Estavam certos. Michael Moore soltou um lobo dentro das cercas de Bush. Não há como escapar. Agora que já é tarde demais, talvez a nação desperte. No dia em que esse despertar acontecer, aqueles dentre nós que permaneceram de pé, que jamais deixaram de protestar, que aprenderam a viver sem dormir, que aprenderam a viver em uma nação que menospreza a verdade em troca da fantasia televisiva, os patriotas com quem estive à noite naquele cinema podem fazer uma pausa para respirar. Podemos sentar na grama em um dia claro, arregaçar as nossas mangas e mostrar nossas cicatrizes. Wllliam Rivers Pitt é editor administrativo de Truthout.org e autor de The Greatest Sedition is Silence.
"Fahrenheit 11 de setembro: ligação com uma esquerda durona" Fahrenheit 11 de setembro corta e pica a presidência de Bush em mil pedaços satíricos The Washington Post DESSON THOMSON, 18 de maio de 2004 CANNES, França - Fahrenheit 11 de setembro, o mais forte filme de Michael Moore desde Roger & eu, corta e pica a presidência Bush em mil pedacinhos satíricos. É um milagre que o chefe do executivo pelo menos o retratado neste filme - não tenha se espalhado pelos quatro ventos, como a poeira do Texas. A julgar pelo animado pandemônio com que foi recebido esse documentário no Festival de Cinema de Cannes, Fahrenheit 11 de setembro não é apenas o filme a ser superado na competição pela Palma de Ouro, ele também tem as potencialidades de um trator cultural - um filme para esses dias perturbados. Com uma narrativa irônica que nos leva da confusão da Flórida que decidiu a eleição presidencial de 2000 ao atual conflito no Iraque, Moore se diverte quase interminavelmente às custas do presidente. E com freqüência usa o presidente como seu próprio flagelo tragicômico - em outras palavras, enforcando-o com suas próprias palavras e expressões faciais. Em um dos momentos mais dramáticos do filme, vemos o presidente visitando uma turma do primário naquela fatídica manhã de 11 de setembro. Um assistente sussurra em seu ouvido a notícia do impacto do avião na torre norte do World Trade Center. A expressão de Bush é de espanto, como aconteceria com qualquer
um. Um relógio faz tique-taque. Parece que o presidente nunca mais se levantará da cadeira. Os minutos passam. "Estaria se perguntando se talvez não devesse ter aparecido mais vezes no trabalho?", diz Moore numa voz que se sobrepõe à imagem, e esse comentário está ligado a vislumbres anteriores no filme com as freqüentes idas de Bush ao Texas para limpar o mato e jogar golfe. O presidente olha para o livro infantil que tem nas mãos. Título: Minha cabra de estimação. Em todo caso, em Fahrenheit 11 de setembro há mais do que ridículo faccioso. Pouco antes desta cena, deparamos com o indizível: quando os dois aviões atingem as torres gêmeas em Manhattan. Moore mostra apenas uma tela negra. Escutamos o zumbido da aeronave. Sabemos o que está por vir. Escutamos o choque e, um segundo depois; os gritos e respirações ofegantes das testemunhas em agonia. E aí vem o segundo impacto. Só então Moore corta para os rostos dos que estão vendo. Uma mulher aos prantos grita para Deus salvar as almas. do que estão pulando das janelas. Outra, desolada, senta na calçada. Não vemos quem está pulando. Mas é como se víssemos. O notável aqui não é a animosidade política ou a inteligência irritadiça de Moore. É seu poder de persuasão bem argumentado e sincero. Embora aqui haja muitas coisas das quais já sabemos, Moore junta tudo. É um olhar para o passado que parece um novo olhar para o futuro. O filme aponta as conexões sociais e financeiras entre a família Bush e os ricos sauditas, entre os quais a família real, o príncipe Bandar (embaixador saudita em Washington) e a família Bin Laden. O filme mostra impressionante quantidade de filmagens por equipes que estavam inseridas nas forças americanas no Iraque. Passa um bom tempo com gente como Lila Lipscomb, uma mãe do
Michigan que mergulha de apoio patriótico à administração Bush em profundo desespero depois de perder um filho na guerra. Há muitos momentos fortes a apontar, todos por diferentes razões: o terror visceral de um lar em Bagdá no momento em que jovens soldados americanos irrompem para prender alguém; o testemunho franco de soldados americanos que expressam seu ódio pela situação ali; entrevistas em Michigan com jovens negros americanos empobrecidos, um grupo social que tem sido uma reserva inesgotável para o recrutamento do exército americano. Ver esse filme é perceber com aprovação manifesta que o diretor de Tiros em Columbine finalmente aprendeu a dizer o que queria num filme.
"Persuasivo e emocionante. Fahrenheit 11 de setembro é as duas coisas. Também é o melhor filme de Michael Moore." San Francisco Chronicle MICK LASALLE, 24 de junho de 2004 O grande momento em Fahrenheit 11 de setembro de Michael Moore chega pelo meio do documentário, e não há como se equivocar: é a manhã de 11 de setembro de 2001, e o presidente dos Estados Unidos está sentado em uma cadeirinha numa sala de aula na Flórida. Seu chefe de equipe entra e sussurra em seu ouvido que o país está sob ataque. E o presidente George W. Bush simplesmente permanece ali sentado por sete longos minutos. Em um documentário convincente que se dedica a espetar a imagem do presidente como um líder que assumisse
responsabilidades, para muitos este será o ponto da virada. No mínimo será a cena de que todo mundo falará. Moore não mostra todos os sete minutos. Em vez disso, se demora na cena apenas o tempo suficiente para a platéia pensar em Eisenhower, Reagan, Truman, Bush pai, Clinton, Nixon ou Kennedy naquela mesma situação, é imaginar qualquer um deles levantando-se imediatamente, pedindo desculpas e exigindo ser posto em contato com sua equipe de segurança nacional. Avaliar os méritos de um filme político é uma tarefa complicada. Evidentemente, parte de sua qualidade está em seu poder de persuasão, mas sua capacidade persuasiva está no olho do observador. Mas há outros aspectos a considerar: a emoção do filme. A seriedade de seu objetivo. Seu tom. Sua mistura de palavras e imagens, o modo como ambas se demoram na mente. Há também a maneira como o filme dá forma a seus argumentos e o efeito cumulativo que a experiência proporciona - o que sentimos ao sair, o que pensaremos no dia seguinte. Por todas essas medidas, Fahrenheit 11 de setembro é o melhor filme de Michael Moore. Certamente é um marco em sua carreira, um filme que assinala sua transição de ator político a pensador político, de propagandista a jornalista idiossincrático, de chato delirante a patriota. Se Tiros em Columbine foi um degrau, este é um pulo, em que Moore salta além de Will Rogers e cai em território todo seu. Nos noventa anos de história do longa-metragem americano, nunca houve um documentário de ano eleitoral tão popular como este. O filme, que ganhou a Palma de Ouro nos Festival de Cannes deste ano, tem uma única idéia unificadora que junta seus diversos elementos. É uma idéia emocional: nos últimos anos os Estados Unidos têm vivido uma espécie de pesadelo, um pesadelo que não começou com os fatos do 11 de setembro de 2001, mas no momento em que as cadeias da mídia tiraram a Flórida da coluna de Gore na noite das eleições de 2000. Moore postula que a
principal fonte do pesadelo dos Estados Unidos tem sido a presidência de George W. Bush. Há raiva no âmago da posição de Moore, mas ele jamais a demonstra. E ao mesmo tempo em que ele salpica o filme com seu humor impassível, na maior parte ele joga direto, apresentando metodicamente os fatos, confiando piamente no interesse e na atenção da platéia. A conexão entre a família Bush e os interesses do petróleo da família Bin Laden domina a primeira seção do filme. Embora Moore não desvende nada sinistro, a simples vastidão dessa conexão pessoal e financeira entra como elemento surpresa e alimenta a indignação de Moore de que a família Bin Laden foi autorizada a sair dos Estados Unidos sem interrogatório depois do 11 de setembro. Que Moore está se tornando um artista é evidente na maneira como ele descreve os ataques ao World Trade Center. Em vez de recorrer a trechos de arquivo de noticiários, ele escurece a tela e nos faz escutar os sons da baixa Manhattan naquele dia horrível. Isso traz tudo de volta. Daí em diante, Moore questiona a manipulação que o presidente faz do combate ao terror trazendo especialistas para dizer que a guerra do Afeganistão foi um trabalho malfeito, que foram enviados muito poucos soldados. Ele mostra em detalhes as falhas da segurança no país. Para apoiar seu argumento de que a administração promoveu a cultura do medo, ele vai a uma cidadezinha na Virgínia e fala com cidadãos à espreita de terroristas. Ao serem perguntados sobre o que os terroristas poderiam querer bombardear, muitos dos habitantes locais respondem: "O Wal-Mart!" No Iraque, Moore tinha uma câmera, e o que filmou não se parece com nada visto na televisão americana. Uma mulher chora e grita que a casa de sua família foi destruída. Soldados americanos fazem palhaçadas em volta de prisioneiros encapuzados por perto, outros soldados expressam dúvida sobre a missão. As realizações de Moore são manipuladoras no melhor sentido - ainda que a platéia saiba o que ele está querendo mostrar, esses momentos
têm força. Enquanto o presidente fala sobre a necessidade da guerra, Moore mostra crianças brincando em Bagdá. Mais tarde, ele mostra um menino deitado na rua com o braço quase amputado. No campo nacional, Moore mostra a mãe cujo filho foi morto no Iraque, lendo sua última carta - em que ele diz que espera que o presidente não seja reeleito. Moore está jogando pra valer. Apesar do tom sombrio, o filme está em chamas. É um tanto exaustivo, arrasador de ver, e deixa uma sensação que perdura por dias. O que ao mesmo tempo exalta a experiência e alicerça o filme é a convicção essencialmente patriótica de Moore de que um argumento sincero, envolvente, consegue ser escutado nos Estados Unidos. Ver Fahrenheit 11 de setembro e sentir sua emoção faz com que nos perguntemos por que nunca apareceram filmes políticos populares como este desde o início do cinema, e de todos os pontos de vista. Parece um uso muito racional do cinema, de indescritível excelência.
"Fahrenheit 11 de setembro põe questões reais sob os holofotes" The Toronto Star LINDA MCQUAIG, 11 de julho de 2004 Num comentário na revista Time, Andrew Sullivan misturou indiscriminadamente o intrigante Fahrenheit 11 de setembro de Michael Moore com o bombástico A paixão de Cristo de Mel Gibson, descartando esses dois filmes por "corroerem profundamente a possibilidade de verdadeiro debate e inteligência em nossa cultura".
É simplesmente uma rematada bobagem acusar Moore de corroer o verdadeiro debate. Ora, a mídia encerrou a verdadeira discussão há muito tempo! É precisamente porque o debate foi tão completamente corroído pela mídia convencional - especialmente nos Estados Unidos, onde a presidência extremista de George W. Bush foi tratada com luvas de criança que o filme de Moore está sendo recebido tão gratamente por tanta gente. Aparentemente, há probabilidade de que Fahrenheit 11 de setembro venha a gerar discussão entre os americanos comuns que só tiveram a oportunidade de ver pouco mais do que "noticiários" noturnos da TV; nos quais os Estados Unidos combatem os maléficos pelo mundo afora. Moore questiona a maneira como a administração Bush tem usado o 11 de setembro para justificar a "guerra ao terror", e pergunta para quê toda essa guerra, a começar pelo fato de que em grande parte ela está sendo combatida por gente pobre, enquanto os ricos interesses privados se beneficiam. Moore segue os recruta dores do exército em zonas degradadas, em que as perspectivas de recrutamento são quentes; quase todos já têm um amigo ou um parente no Iraque. Tenta depois fazer os deputados inscreverem seus filhos para a guerra e não encontra ninguém que aceite, embora o Congresso tenha votado a favor da guerra. Uma cena mostra Bush discursando num jantar de ricos que o apóiam, chamando-os de "os ricos e os mais ricos ainda". Bush sorri com afetação: "Algumas pessoas chamam vocês de elite. Eu os chamo de minha base". Esse cálido relacionamento entre Bush e a multidão dos mais ricos ainda foi amplamente ignorado pela mídia, que deixa Bush se apresentar como um sujeito folclórico.. Moore põe essa calorosa intimidade sob os holofotes.
E também mostra um trecho comovente de congressistas negros, em geral mulheres, impedidas em seus esforços de protestar contra casos de privação de direito de voto de negros durante a eleição presidencial de 2000. Depois há a inesquecível seqüência de Bush, depois de receber a informação de que um segundo avião atingiu o World Trade Center, sentado em uma sala de aula da Flórida durante sete minutos enquanto as criancinhas lêem uma história sobre uma cabra de estimação. Cravado ali naquela sala de aula, com câmeras em cima dele mas ninguém para aconselhá-lo sobre o que fazer, Bush está perdido, confuso, e inteiramente inútil para a nação. Aviões de combate devem ser enviados? Edifícios devem ser evacuados? A cabritinha encontrará um lar feliz? Quem sabe o que está pensando aquele sujeito na frente da turma? Mas com aviões seqüestrados ainda voando pelo país, parece difícil imaginar que esse cara seja capaz de assumir o encargo de qualquer coisa, muito menos a defesa do mundo livre. E isso levanta a pergunta: por que as redes de televisão jamais mostram esse trecho? Há anos ela está disponível na Internet e no mínimo é tão interessante quanto aquele filme da boca de Saddam Hussein sendo examinada depois de sua prisão - que a mídia jamais se cansam de passar. Se o trecho da cabritinha houvesse sido amplamente veiculado como a cena da boca de Saddam - ou o trecho do final de carreira de Howard Dean berrando depois de perder uma primária democrata -, seria bem mais complicado para Bush apresentar-se como o homem durão que defende os Estados Unidos dos terroristas. Ele seria para sempre o cara que escutava a história da cabritinha enquanto o país pegava fogo - comportamento que no mínimo é
tão pouco presidencial quanto dar berros exuberantes na cara do derrotado nas primárias. Apesar dos esforços para detê-lo, Michael Moore conseguiu tirar da obscuridade algumas questões e imagens vitais e lançá-las na mídia convencional. Isso parece mais impressionante do que fez Mel Gibson: pegou uma história bastante conhecida e a contou de novo, só que desta vez com mais violência. Pode-se dizer que o filme de Gibson responde a pergunta: como ficará um homem depois de apanhar horas a fio até virar uma pasta? O filme de Moore faz a pergunta mais urgente: como ficará o mundo depois de mais quatro anos de George Bush?
"Moore interessado na política nacional: o cineasta liberal está remodelando a eleição de 2004 nos Estados Unidos" Financial Times (Londres) 3 de julho de 2004 Cada campanha presidencial dos Estados Unidos apresenta seus ícones anti-establishment. Barry Goldwater, Eugene McCarthy e o reverendo Jesse Jackson perderam o voto popular, mas todos contribuíram para o fermento democrático. Em 2004, o insurgente a observar é Michael Moore, esse independente diretor de cinema... Fahrenheit 11 de setembro quebrou os recordes de bilheteria para documentários de longa-metragem... Se esse súbito aumento no giro da catraca se traduzirá em votos para o partido Democrata é algo que não está nada claro. O bom senso alega que os filmes de Moore têm pouca atração além dos ativistas liberais já acesos para tirar Bush da Casa Branca. Seus
votos estão garantidos. O senador John Kerry, presumível indicado pelo partido Democrata, realmente precisa de uma boa estratégia para conquistar os republicanos descontentes, muitos dos quais parecem estar esfriando em relação a Bush. Kerry está fazendo o melhor possível para chegar além da linha divisória do partido fazendo uma campanha esmeradamente de centro. Talvez ele vá mais longe com a escolha, a ser desvendada em breve, de seu companheiro para a vice-presidência nesta corrida eleitoral. Kerry desejará alguém que saiba atrair bem além de sua própria base na Massachusetts liberal, os estados industriais do Meio-Oeste, como Ohio e Pensilvânia, e também o Sul. No entanto, tanto Kerry quanto Bush fariam muito bem em examinar mais de perto o fenômeno Fahrenheit 11 de setembro. O sucesso do filme se encaixa em outro fato - que se percebe no notável aparecimento de best-sellers políticos, inclusive as memórias da intimidade do poder de ex-funcionários da administração de Bush pai: os americanos redescobriram seu interesse pela política nacional. A causa mais próxima é o Iraque. Bush apostou pesado na idéia de que os americanos o apoiariam como "presidente da guerra", capaz de defender a nação contra o fundamentalismo islâmico. O caos no Iraque e o número crescente de baixas dos Estados Unidos têm erodido seriamente o apoio popular ao presidente, e a ausência das tais armas de destruição de massa acabou com as premissas sobre as quais foi feita essa guerra. Novas pesquisas indicam que muitos americanos acreditam que a guerra do Iraque aumentou e não diminuiu a ameaça do terrorismo a mensagem de Fahrenheit 11 de setembro. Além do mais, o argumento do filme de que a guerra do Iraque foi uma guerra de escolha e não de necessidade é cada vez mais aceita, não apenas entre ativistas liberais, mas também pelo establishment da política externa.
Contra Bush está a transmissão do poder esta semana para o governo interino do Iraque em Bagdá, indicando o fim da ocupação americana. Ele está apostando em um realinhamento de longo prazo no Oriente Médio. No entanto, não há nenhuma garantia de que o Iraque será sucesso completo na data da eleição em novembro. Um ano atrás, a diatribe contra a guerra de Moore teria sido posta de lado como política marginal. Hoje, o grandalhão de Flint, Michigan, apresentou a maior de todas as surpresas com um filme que tocou num sentimento da nação. Esta é uma versão resumida de um editorial do Financial Times publicado em 3 de julho de 2004.
"Michael Moore traz a guerra para casa" O tipo de coisa que a mídia convencional não contará para você Sojourners Magazine DANNY DUNCAN COLLUM, setembro de 2004 No cinema em que vi Fahrenheit 11 de setembro, entre as próximas atrações estava o trailer de Diários de motocicleta - filme a estrear sobre a juventude do revolucionário latino-americano Ernesto "Che" Guevara. O trailer terminava com a marcante citação: "Se você deixar, o mundo mudar você, você poderá mudar o mundo". Um bom presságio, pensei. O dia foi cheio de presságios. A foto de Michael Moore e uma história sobre seu filme me saudaram na primeira página do Memphis Commercial Appeal já no café da manhã. Fomos almoçar antes da sessão e lá estava ele de novo, na entrada do barzinho, na primeira página do USA Today.
O filme de Moore não frustrou as expectativas. Ali, na imensa tela do cinema estava em uniforme o jovem negro Abdul Henderson, cabo da Marinha, explicando que não voltaria ao Iraque porque não estava a fim de "matar outros pobres coitados" que não são nenhuma ameaça para o nosso país. Ali, depois de noventa minutos em que as falsidades por trás da guerra do Iraque foram surgindo, está a explicação (do 1984, de George Orwell) de que, no final do dia, a manutenção de uma sociedade hierárquica exige a guerra. Ela mantém as pessoas da base assustadas e economicamente inseguras. "A guerra não é algo a ser vencido", escreveu Orwell, em palavras que definem a guerra ao terror de Bush, "é concebida para ser contínua." Esse recado vem junto com detalhes do incestuoso relacionamento entre o reino saudita e os Estados Unidos empresarial, surpreendentes (e perturba dores) trechos com mortos e feridos civis iraquianos e as vozes normalmente não ouvidas de soldados americanos que deram suas pernas e se sentem amargurados pela guerra no Iraque. Tudo isso é o que a mídia convencional não contará para você. E aí está, em Fahrenheit 11 de setembro, uma pancadinha no sistema convencional. Eu queria me levantar e gritar: "Viva!". Muita gente fez analogias entre a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e a guerra do Vietnã; os paralelos são reais. Mas nós, os antiguerreiros, bem faríamos em lembrar que, comparados aos nossos predecessores nessa fase inicial do desastre do Vietnã, estamos bem à frente na brincadeira. A opinião pública já está inclinada contra a guerra. Durante a era do Vietnã, isto só aconteceu lá por 1969, quatro anos já haviam passado, em pleno conflito. Além do mais, na década de 1960 não existia nenhum Michael Moore. Bom, existia sim, mas ainda era um garotinho numa escola católica em Flint, no Michigan. Hoje, é um autor de sucesso de diatribes político-humorísticas e diretor de documentários populares
de longa-metragem, ganhador de um Oscar. Temos a sorte de tê-lo porque, se prestarmos atenção, ele nos indicará o caminho para longe dos erros e asneiras do último grande movimento contra a guerra. Ao contrário de muitos ativistas pós-Vietnã, Michael Moore realmente ama seu país e sua gente comum. Seu patriotismo não é ideológico, é enraizado e local. A Flint dos operários é sua pedra de toque. Ele emergiu como um artista-celebridade contando a história do abandono de sua cidade natal pela General Motors em Roger & eu ("Roger" era o CEO da General Motors, Roger Smith). Ele volta a Flint no último ato de Fahrenheit 11 de setembro. Em seu novo filme, a solidariedade de Moore está claramente com os soldados que são obrigados a fazer o trabalho sujo da guerra desse cara rico, com suas famílias lá em casa, e os garotos pobres e da classe trabalhadora que são a presa dos que fazem o recrutamento. Ele se preocupa mais com estes do que com qualquer político democrata ou com os pacifistas de Fresno que encontramos em uma trama secundária sobre o Ato Patriota em Fahrenheit 11 de setembro. Deveríamos fazer o mesmo. Os soldados que servem sob o alistamento econômico dos Estados Unidos - pobres brancos, negros e mestiços, homens e mulheres - são parte da grande massa de americanos deserdados e deixados para trás pela economia global. Eles afluem dos centros das zonas degradadas das metrópoles e das cidadezinhas decadentes das zonas rurais e lançam seus corpos jovens em troca da chance de uma educação e uma carreira. Eles não são o inimigo. A longo prazo, são eles as únicas pessoas que podem mudar este país. Em cima dos créditos de encerramento de Fahrenheit 11 de setembro, escutamos "Rockin' in the Free World" [Agitando num mundo livre]. Esta canção já foi um hino para a derrubada do presidente Bush-pai. Sic semper tyrannis. E continuemos agitando...
"Fahrenheit 11 de setembro - os telespectadores são atraídos ao cinema por notícias" Associated Press FRAZIER MOORE, 14 de julho de 2004 Tempo houve em que se tinha de ir ao cinema para ver o noticiário. Aí chegou a televisão, que trouxe as notícias para dentro de casa. Hoje, meio século depois, neste ano eleitoral, um imenso número de pessoas descobriu que obter notícias sobre a guerra no Iraque, e sobre a política que há por trás dela, faz uma ida ao Multiplex valer muito bem a pena. Quem poderia prever uma recaída como essa? Nem os fãs nem os detratores de Michael Moore, cujo Fahrenheit 11 de setembro arrancou pilhas de espectadores viciados do sofá desde sua estréia há três semanas. Moore, naturalmente, sabe fazer barulho. No ano passado, um bilhão de espectadores viu-o aceitar o prêmio da Academia de melhor documentário por seu Tiros em Columbine, denunciando a guerra de um "presidente fictício... Que vergonha, senhor Bush!" Mas depois ele trabalhou mais esse tema com Fahrenheit 11 de setembro, e a resposta do público foi bem maior do que qualquer pessoa teria imaginado, disparando ondas de choque muito além da espetacular bilheteria recorde de 80 milhões de dólares. É o filme dele que está despertando o público - a favor e contra - e até mesmo gente que não viu. E fez algo mais. A maneira como o filme enquadra a presidência de George W. Bush ("Será que é tudo um sonho?" - devaneia Moore em cima de imagens de AI Gore comemorando sua curta vitória),
Fahrenheit 11 de setembro conseguiu ofuscar o jornalismo convencional da televisão. Junto com seus documentários anteriores, um longa-metragem satírico e best-sellers políticos, Moore se envolveu em jornalismo para televisão - ou melhor, em sua própria versão do jornalismo televisivo. Ele dirigiu The Awful Truth, "programa de denúncias travessas de corrupção administrativa" no canal Bravo e, antes dele, criou e planejou o TV Nation para a NBC, que anunciava a série de 1994-95 como "espetáculo de revista cômicoinvestigativa". Entre as histórias do TV Nation havia uma reportagem sobre vendedoras Avon levando maquiagem para índias na selva amazônica e o esforço de Moore em negociar a paz na Bósnia, com os embaixadores da Sérvia e da Croácia fazendo serenata com a canção do Barney. Desnecessário dizer que TV Nation não é cria do NBC News (cuja mais importante revista eletrônica de notícias, a Dateline NBC, havia sido abalada por escândalo um ano antes, depois de provocar um fogoso acidente de caminhão para uma reportagem sobre o risco de incêndio nas picapes da GM). Moore provavelmente jamais se encaixaria no molde do noticiário da televisão. Por exemplo, é bastante difícil imaginá-lo fazendo algo por Stone Phillips como âncora do Dateline NBG. Moore é uma espécie de personalidade de nicho. Concordo, um estilo pessoal marcante não feriu o veterano fanfarrão Geraldo Rivera do canal da FOX NEWS, ou John Stossel, o anarquista panfletário da ABC News. O volumoso Moore enfiado num jeans é um excêntrico muito dedicado, com um ar mal-ajambrado e uma agenda liberal. Há muito tempo ele baliza suas afirmações como repórter-provocador bem distanciado do repórter jornalístico convencional bem vestido. Ainda mais surpreendente é que a instituição do noticiário televisivo, que transmite seu conteúdo de graça durante as 24
horas do dia, tenha sido eclipsada por um filme independente que custa um bom dinheiro para ser visto e que até bem poucas semanas atrás sequer havia conseguido um distribuidor. Então, o que Fahrenheit 11 de setembro traz à sua platéia que os noticiários até agora não trouxerem? Para os iniciantes: o trecho do vídeo dos soldados americanos em recuperação, baixas do Iraque, presidente Bush na sala de aula paralisado durante sete minutos depois de saber dos ataques terroristas. É um vídeo que você provavelmente viu em algum lugar, e sai do cinema se perguntando: "Por que, diabos, não?". Fahrenheit 11 de setembro, que venceu o maior prêmio do Festival de Cinema de Cannes em maio, trata de assuntos importantes com humor, fúria e descarado sectarismo que exige uma reação do espectador. E proporciona uma revigorante alternativa para a exigente objetividade que reina nos canais de noticiários de TV (inclusive, naturalmente, o "justo e equilibrado" canal FOX NEWS, cuja falta de objetividade provavelmente seja seu maior patrimônio). Esses fornecedores dos noticiários da Grande Mídia serviram como facilitadores da administração Bush desde sua disputada eleição, declara Moore, um sujeitinho cujo recado é inequivocamente dele mesmo. Moore tem estado sob os olhos do público desde que, em 1989, seu primeiro longa Roger & eu se tornou um sucesso, emergindo do nada. Nesse meio tempo, as empresas que controlavam a ABC, a CBS e a CNN foram engolidas por conglomerados ainda maiores. A NBC News e seu canal a cabo MSNBC, lançada em 1996, permanecem sob as asas da gigantesca General Electric, ao passo que o canal FOX NEWS foi criado em 1996 pela gigante da mídia global News Corpo Inabalado com a agitação da mídia, Moore agora é bastante conhecido, uma força da mídia que faz seu próprio caminho. Talvez
esta seja outra razão pela qual tanta gente tenha levantado de sua poltrona para ir ver seu novo filme. E a razão pela qual até mesmo os que não vão não conseguem deixá-lo em paz.
"Fahrenheit 11 de setembro recrutou platéia inesperada: soldados dos EUA" The Wall Street Journal SHAILAG MURRAY, 12 de julho de 2004 FAYETTEVILLE, Carolina do Norte - John Atkins não é o tipo de pessoa que se esperaria encontrar no meio da multidão que vem ao cinema Cameo para ver Fahrenheit 11 de setembro, o filme de Michael Moore. O metralhador do exército americano de 26 anos, de Fort Bragg, votou pelo presidente Bush. Formado pela Universidade de Bolder, Colorado, ele se alistou no ano passado "para servir ao meu país" e espera ir para o Iraque mais tarde, -em 2004. "Aquilo me fez pensar muito", diz o soldado Atkins depois de uma apresentação do documentário de Moore. "Acho que me sinto um tanto decepcionado. Agora tenho muito mais perguntas do que respostas." Todos os dias desde a estréia de Fahrenheit 11 de setembro na cidade, mais de duas semanas atrás, homens e mulheres militares encheram os 125 lugares do Cameo. "Todo mundo acha que os militares são muito firmemente republicanos", diz o sargento Brandon Leetch, um especialista da inteligência militar que passou algum tempo no Afeganistão. "Isto aqui mostra que não somos todos iguais", diz ele, olhando ao redor antes de o filme começar. Embora um cinema multiplex dos arredores também tenha começado a passar Fahrenheit 11 de setembro em duas telas (o
que significa que os moradores de Fayetteville têm sua dose de dez sessões por dia), a maior parte das dezenas de milhares de soldados que residem na área provavelmente não verá o filme. Em todo caso, soldados e suas famílias constituem bem mais de metade de cada platéia no Cameo, segundo a estimativa do proprietário do cinema, Nasim Keunzel. Isto surpreende Peter Feaver, cientista político e especialista militar da Duke University, Carolina do Norte. Entre os militares há uma sensação de que "a mídia está nos apunhalando pelas costas, como fez durante o Vietnã", e o filme de Moore seria a "prova do crime", diz ele. A maioria dos espectadores estão vindo de Fort Bragg, logo ali depois da estrada. Às vezes alguns fuzileiros navais de Camp Lejeune, a cerca de duas horas de distância, juntam-se a eles. Na noite em que o soldado Atkins assistiu ao filme, três soldados chegaram da Carolina do Sul bem depois que os ingressos para a sessão das 19h30 havia esgotado, como sempre. O bilheteiro arrumou umas cadeiras num corredor lateral. Fahrenheit 11 de setembro é um retrato cruelmente satírico e polêmico da presidência de Bush, embora tenha cenas simpáticas de soldados de combate e suas famílias. Os críticos dizem que ele distorce os fatos para reforçar seu argumento. O filme estreou em 868 cinemas durante a semana de 25 de junho, e está sendo apresentado em mais de 2.011 cinemas pelo país afora. Na semana passada, estreou no Reino Unido, na Bélgica, França e Suíça. O U.S. Army and Air Force Exchange Service [Departamento de abastecimento do exército e aeronáutica dos Estados Unidos], que distribui filmes em 164 cinemas de bases pelo mundo afora, está tentando reservar o Fahrenheit 11 de setembro, diz o porta-voz Judd Ansley. "A nossa política é de que se um filme faz sucesso nos Estados Unidos e conseguimos uma cópia, nós a apresentaremos", diz ele.
Atualmente, todas as cópias estão em cinemas comerciais. Ele diz que levou cerca de um mês para conseguir outro recente sucesso surpreendente, A paixão de Cristo de Mel Gibson.
Parada fora do comum O Cameo não é um ponto de parada habitual para os soldados de Fort Bragg. A sra. Keunzel e seu marido transformaram um prédio dilapidado localizado no centro de Fayetteville num cinema com duas telas porque adoravam filmes estrangeiros e filmes independentes, e estavam cansados de ter de dirigir até Raleigh para vê-los. Ela diz que sequer teve de anunciar a estréia de Fahrenheit 11 de setembro no jornal de Fort Bragg. O distribuidor de cinema da área lhe dissera "os militares não vão querer ver esse filme". Mas as duas primeiras sessões marcadas esgotaram tão depressa que ela acrescentou uma sessão à meia-noite. No dia seguinte, acrescentou mais sessões, chegando a cinco por dia. Todas lotadas, ainda que as novas sessões nunca tenham sido anunciadas na mídia. O sargento Billy Alsobrook, 28 anos, mecânico de mísseis num batalhão de apoio, certa tarde foi uniformizado até Cameo para comprar as entradas para a sessão da noite, de modo a poder trazer a mulher. "Ouvi dizer que fizeram uma porção de entrevistas com soldados", diz o sargento Alsobrook, cujo período de um ano no Iraque terminou em fevereiro. Ele espera voltar em setembro. Natural da Flórida, disse: "Quero escutar um outro ponto de vista sobre Bush. Mal não faz...!"
"Como enquadrar Michael Moore" In These Times JOEL BLEIFUSS, 24 de junho de 2004 O que é que Bill Clinton, John Kerry e Michael Moore têm em comum? Todos foram vítimas da caneta envenenada de Michael Isikoff. Na Newsweek de 28 de junho, Isikoff repudiou Fahrenheit 11 de setembro como "uma miscelânea de jornalismo investigativo, comentário parcial e teorias da conspiração". E segue em frente, discutindo três das que ele chama de alegações mais provocativas de Moore, levando assim o leitor desavisado a se perguntar o que mais teria Moore inventado. Adiante me estenderei sobre isso. Primeiro relato uma história sobre a "miscelânea de jornalismo investigativo, comentário parcial e teorias da conspiração" do próprio Isikoff. Em abril de 1989, o Foreign Relations Subcommittee in Terrorism, Narcotics and International Operations [Subcomitê sobre Terrorismo, Drogas e Operações Internacionais das Relações Exteriores] de John Kerry divulgou um minucioso relatório concluindo que os Contras estavam envolvidos em tráfico de drogas e que os funcionários da administração Reagan sabiam desse envolvimento. No dia 14 de abril de 1989, num artigo do Washington Post, Isikoff minimizava as descobertas do relatório e afirmava que as
alegações de tráfico de drogas por contras de alto escalão "não poderiam ser comprovadas". Em seguida, a matéria "Conventional Wisdom Watch" da Newsweek chamou Kerry de "libidinoso fanático por conspiração". O Post não teve mais nada a dizer sobre o assunto até o outono de 1991, quando o general Manuel Noriega foi a julgamento por acusações de tráfico de drogas em Miami. Isikoff então escreveu: "As alegações de que o governo trabalhou com traficantes conhecidos para armar os Contras foram levantadas durante anos, mas investigações do Congresso no final dos anos 80 encontraram poucas provas para fundamentar as acusações de que esta fosse uma atividade organizada aprovada por funcionários do alto escalão dos Estados Unidos". Esta afirmação logo foi contradita pelas próprias testemunhas do governo americano contra Noriega. Em outubro de 1991, Floyd Carlton Caceres declarou que sua operação de contrabando levou, de avião, armas dos Estados Unidos para os Contras na Nicarágua e no retorno do vôo trouxe cocaína para o país. Contudo, o juiz federal "William Hoeveler, apoiando todas as objeções dos promotores dos Estados Unidos, recusou permitir que o advogado de defesa de Noriega pressionasse Caceres mais sobre o assunto. A certa altura, Hoeveler retrucou: "Mantenha-se longe disso!" Em novembro de 1991, Carlos Lehder, o condenado barão da droga na Colômbia e testemunha do governo, disse ao tribunal que um oficial americano não identificado se oferecera para permitir que ele contrabandeasse cocaína para os EUA em troca do uso de uma ilha das Bahamas, de sua propriedade, como parte da rota do abastecimento dos Contras. Lehder declarou ainda que o cartel colombiano havia doado 10 milhões de dólares aos Contras. A essa altura, o Post finalmente reparou na história. "As audiências de Kerry não receberam a atenção merecida na época", concluía o editorial. "O julgamento de Noriega traz este aspecto sórdido do envolvimento da Nicarágua para atrair a atenção do público." O
editorialista do Post poderia ter acrescentado: "Realmente, nosso próprio repórter Michael Isikoff nos deixou na mão". Isikoff escreveu um artigo sobre Bill e Hillary Clinton promovendo o escândalo Whitewater. Em uma série de histórias do Post no final de 1993 e início de 1994, citando fontes cujos nomes não listava, Isikoff oferecia revelações sobre manobras burocráticas que soavam agourentas ("Funcionários do departamento de Justiça estão dando andamento a duas investigações separadas que foram expandidas") e especulações não-comprovadas de outras fontes sem nome ("Bill e Hillary Clinton talvez tenham se beneficiado do suposto plano"). A imprensa foi atrás e uma investigação que usou 52 milhões de dólares do dinheiro público deu em nada. Na década de 1990, Isikoff também foi um dos principais repórteres sensacionalistas de Washington. Estivera farejando um fumegante pênis presidencial desde 1994, quando foi suspenso do Post depois de uma briga com os editores a respeito de seu exagerado zelo em repetir as duvidosas declarações de Paula Jones contra o presidente Clinton. Mas em 1998, empregado na Newsweek, ele deu com o grande filão, com uma ajudinha de Linda Tripp. Naquele ano, Isikoff teve a chance de escrever para a Newsweek sete histórias que mencionavam o sêmen do presidente Clinton. O ''fornigate'' teve seu início no "dia 17 de janeiro de 1998, quando o fofoqueiro Matt Drudge informou o seguinte item da notícia no "The Drudge Report", sua revista online: "No último minuto, às 6 horas da tarde de sábado, a revista NewS71Jeek matou uma história [do repórter Michael Isikoff] que estava destinada a abalar a Washington oficial até suas bases: uma estagiária da Casa Branca teve um caso sexual com o presidente dos Estados Unidos!". Na manhã seguinte, outro editor de direita, William Kristol, do Weekly Standard, trouxe a matéria ao programa This Week with Sam and
Cokie, da ABC. Na quarta-feira os jornais informavam os boatos. O impeachment estava no ar. Agora Isikoff virou os olhos para Moore, mentindo na Newsweek e em uma subseqüente aparição no programa "The O'Reilly Factor" da FOX para afirmar que ninguém deve acreditar em Moore. Isikoff alega que, ao contrário dos fatos apresentados em Fahrenheit 11 de setembro, os seis vôos fretados que levaram os sauditas para fora dos Estados Unidos "só começaram no dia 14 de setembro, depois que o espaço aéreo foi aberto". O filme diz o seguinte: A Casa Branca deu sua autorização para que aviões recolhessem membros da família Bin Laden e muitos outros sauditas. Pelo menos seis aviões particulares e quase duas dúzias de aviões comerciais tiraram os Bin Laden e outros sauditas dos Estados Unidos depois do dia 13 de setembro. Ao todo, 142 sauditas, incluindo 24 membros da família Bin Laden, foram autorizados a deixar o país. Isikoff também discute a afirmação do filme de que o grupo Carlyle - empresa em que George W. Bush e membros da família Bin Laden estavam envolvidos - lucraram "com o 11 de setembro, porque a empresa era dona da United Defense, uma fornecedora militar". Isikoff aponta: "O sistema do foguete de artilharia Crusader de 11 bilhões de dólares da United Defense, desenvolvido para o exército americano, é um dos poucos sistemas de armas cancelado pela administração Bush". Mais uma vez, Isikoff está distorcendo a verdade. O contrato do Crusader foi cancelado depois que o grupo Carlyle vendeu a United Defense. Fahrenheit 11 de setembro diz o seguinte: O 11 de setembro garantiu um ano excelente para a United Defense. Apenas seis semanas após os atentados, a Carlyle deu
início ao trâmite para lançar ações da United Defense na Bolsa e em dezembro, num único dia, lucrou 237 milhões de dólares. A saber, no dia 10 de janeiro de 2002, Mark Fineman, do Los Angeles Times, escrevia: Em apenas um dia do mês passado, a Carlyle lucrou 237 milhões de dólares vendendo ações das United Defense Industries, a quinta maior contratante do exército. A renda das ações chegou na hora certa: funcionários da Carlyle dizem que eles decidiram abrir a empresa somente depois dos ataques de 11 de setembro [...] em 26 de setembro [de 2001], o exército assinou um contrato modificado de 665 milhões de dólares com a United Defense até o fim de abril de 2003 para completar a fase de desenvolvimento do Crusader. Em outubro, a companhia listou o Crusader e os ataques terroristas como pontos de venda para a oferta de ações. Naturalmente, Isikoff sequer menciona um dos fatos mais reveladores apresentados em Fahrenheit 11 de setembro. Em 2004, quando a Casa Branca liberou a ficha do serviço militar de Bush, fizera desaparecer o nome do seu bom amigo, James Bath. (Na cópia do original obtida por Moore, o nome de Bath não havia sido revisto.) Os dois se encontraram na Guarda Aérea Nacional do Texas e ambos foram suspensos em 1972 por deixarem de se apresentar para o exame médico. (Em Fahrenheit 11 de setembro a câmera passeia pelo registro enquanto ao fundo toca a canção "Cocaine" de Eric Clapton.) Em 1976, Bath foi contratado pela família Bin Laden para administrar seu dinheiro no Texas. Três anos depois, Bath deu a Bush 50 mil dólares em troca de 5% de ações de seu primeiro negócio, a Arbusto Energy. Há muito tempo se suspeita mas jamais foi provado que o dinheiro da Arbusto veio diretamente de Salem Bin Laden, chefe da família e irmão de Osama bin Laden. (Veja "Questionable Ties: Tracking Bin Laden's
Money Flow Leads Back to Midland, Texas", de autoria de Wayne Madsen, 12 de novembro de 2001.) Fahrenheit 11 de setembro é um documentário impressionantemente forte. Moore reúne uma série de material de arquivo - um jovem George W. dirigindo pelo país afora, Paul Wolfowitz alisando o cabelo para trás com cuspe enquanto se prepara para as câmeras, Bush fazendo um discurso num jantar para levantamento de fundos: É impressionante a turma que está aqui hoje. Os ricos e os mais ricos ainda! Algumas pessoas chamam vocês de elite. Eu os chamo de 'minha base’. Moore entrelaça documentos históricos com suas vinhetas marcantes - dois recrutadores da Força Aérea logrando jovens para o serviço militar, a mãe enlutada cujo filho soldado foi morto no Iraque e congressistas fugindo quando ele pede que assinem e alistem seus filhos na guerra. Com essas e outras, Moore constrói um hábito de penitência de aniagem para um presidente nu e que, em novembro, se o eleitorado quiser, estará desempregado. Significativamente, graças a Michael Moore. Sim, Fahrenheit 11 de setembro é propaganda, assim como o noticiário da noite ou a primeira página de qualquer jornal diário. Só que Moore é mais direto com o que tenta provar. Os críticos alegam que ele está acusando em falso o presidente. Não exatamente. Moore constrói seu argumento com as próprias palavras do presidente, incontáveis fatos condenatórios e o testemunho dos que foram mais afetados pela guerra. O que deixa os críticos realmente furiosos é que Fahrenheit 11 de setembro pode surtir efeito na eleição presidencial. Depois de quebrar recordes em Nova York, o filme estréia na sexta-feira, 25 de junho, e na segunda-feira, dia 28, a MoveOn fará uma noite de festas por toda a nação. Essas festas, mais de mil, culminarão com um encontro nacional online da cidade com Moore.
Para lutar contra, alguém ou uma organização desconhecida contratou a firma de relações públicas Russo, Marsh & Rogers, de Sacramento, Califórnia. A empresa, que tem fortes laços com o partido Republicano, criou um site na Internet, o MoveAmericaForward.org, para atacar Fahrenheit 11 de setembro. Os relações públicas responsáveis pelo site e pela publicidade estimulavam: Os americanos que viram no filme Fahrenheit 11 de setembro uma tentativa de sabotar a guerra ao terror, devem fazer os operadores do cinema saberem de suas objeções. Pense nisso... Se ao entrar em uma loja do Wal Mart e notar que estão vendendo mercadoria que. ataca os militares, os nossos soldados e a batalha dos Estados Unidos contra o terrorismo islâmico, você não reclamaria para o gerente ou escreveria uma carta pedindo que não venda aquele produto porque ele está sabotando o nosso esforço nacional? Outros à direita pretendem enfrentar Moore com um filme de sua própria lavra - Michael Moore Hates América: A Documentary That Tells the Truth about a Great Nation. (Michael Moore detesta a América: Um documentário que conta a verdade sobre uma grande nação). Será bem difícil vender esse material para qualquer pessoa que tenha visto Fahrenheit 11 de setembro, em que está muito claro que Michael Moore ama os Estados Unidos. É a administração Bush que ele não agüenta.
PARTE V Além de Fahrenheit 11 de setembro. Mais escritos sobre as questões do filme
"Salvando os sauditas" Vanity Fair CRAIG UNGER, outubro de 2003 Na manhã de 13 de setembro de 2001, um detetive particular de 49 anos chamado Dan Grossi recebeu um telefonema inesperado do Departamento de polícia de Tampa. Grossi trabalhara durante 20 anos com a força policial de Tampa antes de se aposentar e não era particularmente estranho que a polícia recomendasse antigos policiais para missões especiais de segurança. Mas a nova tarefa de Grossi era bem fora do comum. Dois dias antes, terroristas tinham seqüestrado quatro aviões de passageiros e praticado a pior atrocidade da história americana. Quinze dos 19 seqüestradores eram da Arábia Saudita. "A polícia estivera oferecendo proteção a estudantes sauditas desde 11 de setembro", relembra Grossi. "Eles me perguntaram se eu estaria interessando em escoltar alguns estudantes de Tampa até Lexington, Kentucky." Grossi recebeu instruções para ir até o aeroporto, onde um pequeno jato fretado estaria disponível para conduzi-lo, junto com os sauditas, ao vôo deles. "Para ser sincero, eu sabia que todos os vôos estavam proibidos", disse ele. "Nunca imaginei que aquilo fosse acontecer." Mesmo assim, Grossi, a quem pediram que levasse um colega, telefonou para Manuel Perez, ex-agente do FBl, dizendo-lhe que ficasse de prontidão. Perez mostrou-se igualmente incrédulo. "Eu disse, 'Esqueça o assunto"', relembra Perez. "Ninguém vai voar hoje." Os dois homens tinham bons motivos para se mostrar cépticos. Poucos minutos depois dos ataques do 11 de setembro, a Administração Federal de Aviação (FAA) enviara uma nota especial
chamada notam - um aviso aos pilotos - ordenando que todos os aviões que estivessem no espaço aéreo dos Estados Unidos aterrissassem o quanto antes no aeroporto mais próximo e proibindo a decolagem dos aviões que estivessem em terra. O exvice-presidente AI Gore ficou detido na Áustria quando o seu vôo para os Estados Unidos foi cancelado. Bill Clinton também adiou uma viagem. Jogos de beisebol da primeira divisão foram cancelados. Pela primeira vez em um século, o espaço aéreo americano estava tão vazio quanto estivera quando os irmãos Wright voaram pela primeira vez em Kitty Hawk. Não obstante, mais ou menos às 13h30 ou 14h00 do dia 13, Dan Grossi recebeu o telefonema. Ele foi informado que os sauditas seriam conduzidos ao Raytheon Airport Services, um hangar particular no Aeroporto Internacional de Tampa. Quando ele e Perez se encontraram no terminal, uma mulher riu de Grossi por ele achar que voaria naquele dia. Os vôos comerciais tinham recomeçado pouco a pouco, mas às 10h57 a FAA divulgara outro aviso aos pilotos, lembrando que os vôos particulares ainda estava proibidos. Três aviões particulares violaram a interdição naquele dia e, em cada caso, dois jatos de guerra rapidamente obrigaram a aeronave a aterrissar. No que tangia aos aviões particulares, a proibição ainda vigorava. "Disseram-me que o procedimento teria a aprovação da Casa Branca", afirma Grossi. Sem o conhecimento de Dan Grossi, o príncipe Bandar bin Sultan, embaixador saudita nos Estados Unidos, de 52 anos de idade, estivera em Washington coordenando a fuga de cerca de 140 sauditas espalhados pelo país, que eram membros de duas enormes famílias ou seus amigos íntimos. Uma delas era a Casa de Saud, a família que governa o Reino da Arábia Saudita e que, devido às suas vastas reservas de petróleo, é a família mais rica do mundo. A outra era formada pela família Bin Laden, cujos membros são amigos e aliados da família dominante, os quais, além de possuir um conglomerado de construção civil no valor de muitos
bilhões de dólares, havia gerado o notório terrorista Osama bin Laden. Graças ao relacionamento extremamente próximo da família Bin Laden com a Casa de Saud, a enorme empresa de construção civil da família, o Saudi Bin Laden Group, havia obtido contratos para restaurar as mesquitas sagradas em Meca e Medina, dois dos maiores símbolos do Islã. A repatriação dos sauditas é bem mais do que apenas um caso em que a Casa Branca concede a árabes abastados um status especial na presença de condições extraordinárias. Antes de mais nada, nos dois anos que se seguiram ao atentado do 11 de setembro, vários sauditas de posição elevada, inclusive a família Bin Laden e os membros da família real, foram atacados devido à sua suposta participação no financiamento do terrorismo. Quatro mil parentes das vítimas do atentado do 11 de setembro deram entrada em uma ação ordinária no valor de um trilhão de dólares em Washington, D.C., denunciando a Casa de Saud, a família Bin Laden e centenas de outras pessoas por mortes criminosas, conspiração e participação no crime organizado, por terem contribuído com dezenas de milhões de dólares para instituições de caridade que eram fachadas para a Al-Qaeda. Além disso, documentos do FBl marcados como "Confidenciais" indicam que dois membros da família Bin Laden, a qual tem repetidamente se distanciado de Osama bin Laden, estavam sendo investigados pelo departamento devido a suspeitas de associação com uma instituição de caridade islâmica apontada como um grupo de apoio ao terrorismo. Mais recentemente, em julho, o governo pediu ao Congresso que retivesse 28 páginas do seu relatório oficial sobre o atentado de 11 de setembro. De acordo .com os noticiários, a seção confidencial denuncia que houve vínculos entre os seqüestradores e dois sauditas, Omar al Bayoumi e Osama Bassnan, que tinham relacionamentos financeiros com membros do governo saudita. As autoridades sauditas negam que o seu governo esteja de alguma
maneira relacionado com os atentados. Os sauditas solicitaram que as páginas fossem tornadas públicas para que eles pudessem refutá-Ias, mas o pedido foi negado pelo presidente Bush. Os especialistas em terrorismo dizem que os sauditas presentes nos Estados Unidos logo depois dos ataques talvez pudessem ter sido capazes de lançar luz sobre a estrutura da Al-Qaeda e fornecer valiosas indicações para a investigação do atentado do 11 de setembro. No entanto, segundo fontes que participaram da repatriação, eles deixaram os Estados Unidos sem ao mesmo ser interrogados pelo FBl. Oficialmente, a Casa Branca recusou-se a fazer comentários e uma fonte interna afirmou que os vôos nunca aconteceram. No entanto, ex-representantes do governo Bush deram declarações diferentes à revista Vanity Pairo. Como foi possível que, assim que o presidente Bush declarou uma guerra global irrestrita ao terrorismo que enviaria centenas de milhares de soldados americanos ao Afeganistão e ao Iraque, e tão logo Osama bin Laden tornou-se o Inimigo Público número um e alvo de uma caçada humana internacional, a Casa Branca tenha agilizado a partida de um número tão considerável de possíveis testemunhas, inclusive de duas dúzias de parentes do homem que estaria por trás do próprio ataque? O incidente é particularmente importante devido ao relacionamento especial que os sauditas há muito mantêm com os Estados Unidos e, em particular, com a família Bush. Durante décadas, a Arábia Saudita tem sido um dos mais poderosos aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio, sem mencionar que tem sido também um enorme manancial de petróleo. Há mais de 20 anos a família Bush e a Casa de Saud, as duas dinastias mais poderosas do mundo, possuem estreitos vínculos pessoais, comerciais e políticos. Na década de 1980, quando o Bush mais velho era vice-presidente, ele e o príncipe Bandar se tomaram amigos pessoais. Juntos,
fizeram lobby para a venda maciça de armas americanas aos sauditas e participaram de empreendimentos críticos relacionados com a política externa. Os sauditas e o Bush mais velho foram aliados na Guerra do Golfo em 1991. No setor privado, os sauditas ajudaram a Harken Energy, uma companhia de petróleo em dificuldades da qual George W Bush era um dos investidores. Mais recentemente, o ex-presidente George H. W Bush e o ex-secretário de estado James A. Baker III, seu antigo aliado, apresentaram-se diante dos sauditas nos eventos de arrecadação de fundos para o grupo Carlyle, possivelmente a maior empresa de participação acionária do mundo. Hoje, o expresidente Bush continua a atuar como consultor sênior para a empresa, que supostamente conta entre os seus investidores com um saudita acusado de ter vínculos com grupos de apoio a terroristas. "Sempre esteve bem claro que existem laços profundos entre a família Bush e os sauditas", afirma Charles Lewis, chefe do Center for Public Integrity [Centro de Integridade Pública], uma fundação situada em Washington, D.C., que examina questões éticas no governo. Este fato gera um problema de credibilidade. No que diz respeito à guerra contra o terrorismo, muitas pessoas devem estar se perguntando por que estamos preocupados com alguns países e com outros não. Por que a Arábia Saudita tem passe livre?" Em um dia úmido de julho, Nail al-Jubeir, diretor de informações da Arábia Saudita, encontra-se no seu escritório da embaixada saudita em Washington e relembra a manhã do 11 de setembro de 2001. Como muitas pessoas, al-Jubeir estava a caminho do trabalho naquela manhã e tão logo ouviu dizer que um segundo avião se chocara contra a torre sul do World Trade Center, compreendeu que os terroristas tinham atacado. Os dias que se seguiram presenciaram um enorme tumulto na embaixada saudita. Cidadãos sauditas inocentes foram presos nos Estados Unidos. "Este fato criou um problema", comenta al-Jubeir.
"Como proteger os sauditas que estão sendo detidos? A nossa preocupação era a segurança dos sauditas que estavam aqui nos Estados Unidos." Inicialmente, o príncipe Bandar tivera a esperança de que os primeiros relatos do papel dos sauditas nos atentados tivessem sido exagerados; afinal de contas, todos sabiam que os agentes terroristas da Al-Qaeda usavam passaportes falsos. Mas às dez horas da noite do dia 12 de setembro, aproximadamente 36 horas depois dos ataques, um alto funcionário da ClA - segundo a revista Newsweek, provavelmente o diretor da entidade, George Tente telefonou para Bandar e deu a ele as más notícias: 15 dos 19 seqüestradores eram sauditas. Após duas décadas no cargo de embaixador, Bandar havia muito era a figura mais reconhecível do seu país nos Estados Unidos. Amplamente conhecido como o "Gátsby árabe," com a sua barbicha de bode bem aparada e temos trespassados feitos sob medida, Bandar personificava as contradições do membro atual da Casa real de Saud, pertencente ao jetset internacional e com tendências ocidentais. Ele sabia que as relações públicas nunca haviam sido tão cruciais para os sauditas. Com a ajuda da Burson-Marsteller, a gigante das relações públicas, Bandar lançou uma intensa campanha na mídia. Colocou anúncios em jornais de todo o país condenando os atentados e desvinculando a Arábia Saudita deles. Na televisão, bateu repetidamente na mesma tecla: a Arábia Saudita apoiaria os Estados Unidos na luta contra o terrorismo. Os seqüestradores não podiam nem mesmo ser considerados verdadeiros sauditas, afirmou ele, porque "nós, membros do reino, o governo e o povo da Arábia Saudita, nos recusamos a aceitar que qualquer pessoa associada ao terrorismo tenha alguma ligação com o nosso país". E isto incluía Osama bin Laden, declarou Bandar, visto que o governo havia cancelado o seu passaporte como resposta às suas atividades terroristas.
Osama bin Laden, contudo, era saudita, e não apenas um saudita qualquer. Bandar conhecia bem os membros da sua importante família. "Eles são seres humanos realmente adoráveis", declarou à CNN. "[Osama] é o único que... Só estive com ele uma vez. Os outros são instruídos, homens de negócios bem sucedidos, envolvidos com inúmeras obras de caridade. É muito, muito trágico... Ele causou uma grande dor à família." A família Bin Laden exemplifica de um modo impecável o dilema que os Estados Unidos enfrentam nas suas relações com a Arábia Saudita. Por um lado, a família é um produto do fundamentalismo wahhabi, uma seita islâmica austera e moralista que ajudou a tornar a Arábia Saudita um campo fértil para a reprodução dos terroristas. Contrariando a crença popular, Os ama não era o único membro da imensa família Bin Laden - são mais de cinqüenta irmãos - que mantinha laços com os fundamentalistas islâmicos militantes. Já em 1979, Mahrous bin Laden, meio-irmão mais velho de Osama, 'amparara membros da Irmandade Muçulmana militante e desempenhara, talvez de um modo inconsciente, o papel principal na Questão de Meca, um violento levante contra a Casa de Saud em 1979 que resultou em mais de cem mortes. Posteriormente, o Saudi bin Laden Group tornou-se parte do que foi conhecido como "a Cadeia de Ouro", uma lista de sauditas abastados que promoveram os primórdios da Al-Qaeda no final da década de 1980, algum tempo antes de ela ser considerada uma ameaça internacional. Por outro lado, anos atrás, a família Bin Laden se desvinculara de Osama e dos seus terríveis atos terroristas. Estou me referindo aos bilionários sauditas que realizavam operações bancárias com o Citigroup, faziam investimentos com a Goldman Sachs e a Merrill Lynch, e negociavam com ícones da cultura ocidental como a Disney, a Snapple e a Porsche. Os jovens da família Bin Laden e os membros da Casa de Saud que moravam nos Estados Unidos' em setembro de 2001 eram em
sua maioria estudantes que freqüentavam o segundo grau ou a faculdade, e jovens profissionais. Vários membros da família Bin Laden tinham freqüentado a Tuffs University, nas imediações de Boston. Sana bin Laden se formara pelo Wheelock College, em Boston. Abdullah bin Laden, irmão mais novo de Osama, graduarase em 1994 pela Harvard Law School e tinha escritórios em Cambridge, Massachusetts. Dois outros membros da família Bin Laden - Mohammed e Nawaf - eram proprietários de apartamentos no condomínio Flagship Wharf em Boston Harbor. Wafah (que às vezes se escreve Waffa) Binladin, de 26 anos, diplomada pela Columbia Law School, pagava 6 mil dólares por mês por uma água-furtada no SoHo, em Nova York, e estava pensando em se dedicar profissionalmente ao canto. Ela freqüentava assiduamente casas noturnas e restaurantes da moda de Manhattan como a Lotus, o Mercer Kitchen e o Pravda, e por acaso estava em Londres em 11 de setembro e não voltou aos Estados Unidos. Kameron bin Laden, na casa dos 30 anos, e primo de Osama, também freqüentava as casas noturnas de Manhattan e consta que, menos de dois meses depois do atentado de 11 de setembro, gastou quase 30 mil dólares em um único dia na butique Prada da Quinta Avenida. Ele optou por permanecer nos Estados Unidos. No entanto, o meio-irmão Khalil Binladin decidiu voltar para Jiddah. Khalil, que tem uma esposa brasileira, fora nomeado cônsul honorário do Brasil em Jidda, embora também seja dono de uma vasta propriedade rural de oito hectares em Winter Garden, na Flórida, perto de Orlando. Já os membros da família real saudita estavam espalhados pelo território americano. Alguns tinham ido para Lexington, Kentucky, para participar dos leilões de cavalos, suspensos em 11 de setembro, mas reiniciados no dia seguinte. O príncipe saudita Ahmed Salman, freqüentador habitual de Lexington, permaneceu no local e comprou dois cavalos por 1,2 milhão de dólares no dia 12 de setembro. "Sou um homem de negócios", declarou Salman.
"Não tenho nada a ver com o que aconteceu. Estou me sentindo tão mal quanto qualquer americano." Outros se sentiram pessoalmente mais ameaçados. Pouco depois dos atentados, um dos irmãos de Osama bin Laden telefonou histérico para a embaixada saudita em Washington pedindo proteção. Ele foi hospedado no Watergate Hotel e lhe disseram para não abrir a porta. O idoso e enfermo monarca saudita, rei Fahd, enviou a seguinte mensagem para seus emissários em Washington: "Tomem medidas para proteger os inocentes". Se algum diplomata estrangeiro teve poder para mexer os pauzinhos na Casa Branca em meio a uma grave crise de segurança nacional, esse diplomata foi o príncipe Bandar. Os sauditas eram notoriamente competentes em bajular o governo dos Estados Unidos - eles contribuíram para todas as bibliotecas presidenciais construídas nos últimos 30 anos -, mas ninguém teve um melhor desempenho do que Bandar. Ele jogara racquetball com Colin Powell anos antes. Conduzira operações secretas para o falecido diretor da ClA, Bill Casey, que foram mantidas em segredo até do presidente Ronald Reagan. Ele foi o homem que escondeu dezenas de pastas de couro fechadas a chave que continham alguns dos segredos mais profundos do mundo da inteligência. Mas foi a sua amizade íntima com a família Bush que verdadeiramente o destacava. Quando George H. W. Bush tornouse vice-presidente em 1981, Bandar o enxergou pelo que ele era, ou seja, o dono de uma companhia de petróleo no Texas que nutria um enorme respeito pelas vastas reservas de petróleo dos sauditas e não era um defensor automático de Israel. Os dois começaram a almoçar regularmente e, em meados dos anos 80, em uma época na qual a imprensa estava atacando Bush e chamando-o de "frouxo", Bandar organizou uma festa extravagante em sua homenagem. Depois que Bush assumiu a presidência em 1989, Bandar atuou como emissário entre ele e Saddam Hussein, garantindo a Bush
que os Estados Unidos poderiam estar certos de que Saddam proporcionaria um baluarte contra o fundamentalismo islâmico extremista. Em agosto de 1990, depois que o Iraque invadiu o Kuwait, Bandar juntou-se a Bush no refúgio da família em Kennebunkport, no Maine, onde os dois homens discutiram a idéia de juntos declararam guerra a Saddam. Alguns meses depois, por insistência de Bush, Bandar convenceu o rei Fahd da Arábia Saudita a se tornar aliado de Bush na Guerra do Golfo. Em 1992, Bandar considerou uma perda pessoal o fato de Bush ter sido derrotado por Bill Clinton. E depois da eleição de 2000, decolou no seu Airbus para ir caçar na Espanha com o ex-presidente Bush, o general Norman Schwarzkopt e Brent Scowcroft, ex-consultor de segurança nacional. Agora, depois do 11 de setembro, o relacionamento entre os sauditas e os Estados Unidos estava sendo testado e Bandar ficou extremamente agitado. Nas 48 horas que se seguiram aos atentados, ele permaneceu em contato permanente com o secretário de Estado Colin Powell e a conselheira de segurança nacional Condoleezza Rice. Antes do 11 de setembro, coincidentemente, o presidente Bush convidara Bandar para comparecer à Casa Branca em 13 de setembro de 2001, a fim de discutir o processo de paz no Oriente Médio. A reunião teve lugar como o programado, mas após os ataques terroristas, o cenário político mudara dramaticamente. Segundo a revista The New Yorker, Bush disse a Bandar na reunião que os Estados Unidos entregariam aos sauditas qualquer agente da Al-Qaeda que fosse capturado. e que se recusasse a cooperar, insinuando que os sauditas poderiam usar quaisquer métodos necessários para obrigar os suspeitos a falar. Nail alJubeir afirma que não sabe se o príncipe Bandar e o presidente discutiram a viagem da família Bin Laden e de outros sauditas de volta à Arábia Saudita.
Mas mesmo assim, as providências começaram a ser tomadas. Em Tampa, no mesmo dia que Bandar e Bush conversavam na Casa Branca, diz o investigador particular Dan Grossi, ele e Manuel Perez esperaram que três sauditas chegassem, todos aparentemente com vinte e poucos anos. O piloto então conduziu Grossi, Perez e os sauditas até um Learjet, bem equipado, com capacidade para oito passageiros. Eles partiram para Lexington, Kentucky, por volta das 16h30. Grossi não captou o nome dos estudantes que estava escoltando. "Tudo aconteceu muito rápido", diz ele. "Eu só sabia que eles eram sauditas e bem relacionados. Um deles me disse que o seu pai ou tio era um bom amigo de George Bush pai." Tanto o Tampa Tribune quanto fontes que sabiam do vôo dizem que um dos rapazes era filho ou sobrinho do príncipe sultão Bin Abdul Aziz, o ministro da defesa saudita e pai do príncipe Bandar. Dizia-se que um outro passageiro era filho de um comandante do exército saudita, mas a embaixada saudita recusou-se a confirmar a identidade deles. O Tribune relatou que o pedido de repatriar os sauditas fora feito por outro membro da realeza saudita; o príncipe sultão Bin Fahad. Segundo Grossi, eles aterrissaram no aeroporto Blue Grass em Lexington cerca de 45 minutos depois de decolarem. Lá, os sauditas foram recebidos por um americano que os tomou sob a sua custódia e os ajudou com a bagagem. Na pista de decolagem havia um Boeing 747 com inscrições em árabe, aparentemente esperando para levá-Ios de volta à Arábia Saudita. "No meu entendimento, havia outros sauditas no Kentucky comprando cavalos de corrida naquela ocasião que iam partir no mesmo avião", declara Grossi. O vôo de Tampa para Lexington, noticiado no Tampa Tribune em outubro de 2001, é o único incidente documentado no qual os sauditas receberam permissão para voar no espaço aéreo americano quando os cidadãos americanos ainda estavam
proibidos de voar em aviões particulares, permissão esta que precisou de uma aprovação especial do governo. Como o vôo-fantasma de Tampa obteve permissão para decolar? Naquela época, a Administração Federal de Aviação (FAA) negou que o vôo tivesse acontecido. "Ele não está nos nossos registros", Chris White, porta-voz da FAA, declarou ao Tampa Tribune. "Ele não aconteceu." Oficialmente, o governo recusou-se a tecer comentários, mas, de forma confidencial, uma fonte da Casa Branca declarou que o governo estava confiante de que vôos secretos não tinham acontecido e que não havia nada que indicasse que a Casa Branca teria autorizado esses vôos. No entanto, segundo Nail al-Jubeir, a repatriação fora aprovada "no nível mais alto do governo dos Estados Unidos". O processo começou nas entranhas da Casa Branca. Na época, o governo Bush refugiava-se na Situation Room [Sala de prontidão e informações estratégicas], uma pequena suíte subterrânea com uma luxuosa sala de conferências com 5,5 metros quadrados na ala Oeste. Os ocupantes da sala estavam em contato permanente com o FBl, o departamento de Estado e outros órgãos importantes. O vice-presidente Dick Cheney, a conselheira de segurança nacional Condoleezza Rice e outros altos funcionários se mantinham firmes e devoravam as informações, tentando determinar se outros ataques teriam sido planejados. Os membros mais poderosos do governo entravam e saíam, entre eles Colin Powell, o diretor da CIA George Tenet e o secretário de governo Donald Rumsfeld. Nos reduzidos limites daquela sala, o czar do terrorismo, Richard Clarke, coordenador do Counterterrorism Security Group [Grupo de segurança antiterrorista] do Conselho de Segurança Nacional, presidiu um grupo de crise permanente tomando centenas de decisões relacionadas com os atentados. Clarke era uma verdadeira raridade em Washington, pois começara como servidor civil e ascendera aos níveis mais elevados da formulação de
diretrizes. Como é caracterizado no livro The Age of Sacred Terror, de autoria de Daniel Benjamin e Steven Simon, Clarke era um homem que infringia todas as regras. Ele não apoiava nem os republicanos nem os democratas e recusava-se a comparecer às reuniões regulares da alta direção do Conselho de Segurança Nacional, enviava e-mails ofensivos aos seus colegas e trabalhava regularmente fora dos canais burocráticos normais. Clarke fora um dos dois diretores importantes do governo de George Bush pai mantidos por Bill Clinton e, apesar da sua personalidade desagradável, continuara a subir devido ao seu talento para saber quando e como apertar os botões do poder. Nos primeiros dias que se seguiram ao atentado do 11 de setembro - ele não se lembra no dia exato -, ele foi consultado na Situation Room sobre a rápida repatriação dos sauditas. "Teríamos que aprovar ou não a decisão de permitir que um avião cheio de sauditas, inclusive membros da família Bin Laden, deixasse o país", diz Clarke. "O meu papel era responder que o vôo não poderia acontecer sem a aprovação do FBl, de modo que a agência foi consultada. Tínhamos uma conexão direta com o FBl e o consultamos para ter certeza de que os dirigentes da agência estavam convencidos de que todos os que iriam embarcar no avião estavam limpos para partir. Eles responderam dizendo que por eles estava tudo bem. Nós então dissemos: 'Ótimo; que aconteça então.''' Clarke, que já deixou o governo e hoje dirige uma empresa de consultoria na Virgínia, acrescenta que não se lembra de quem fez inicialmente o pedido, mas que foi provavelmente o FBl ou o departamento de Estado. Os dois órgãos negam ter desempenhado qualquer papel no episódio. "Não surgiu daqui", disse uma fonte do departamento de Estado. "Gente importante como o príncipe Bandar não precisa da autorização do departamento de Estado para esse tipo de coisa."
"Posso afirmar inequivocamente que o FBl não facilitou de nenhuma maneira esses vôos", diz o agente especial John lannarelli, porta-voz do FBl sobre atividades anti-terroristas. Com apenas três sauditas a bordo, o vôo de Tampa dificilmente foi a única viagem misteriosa naquele dia. Membros da família Bin Laden estendida, da Casa de Saud e seus companheiros estavam se reunindo em vários locais no país inteiro. Segundo o The New York Times, membros da família Bin Laden primeiro foram levados de carro ou de avião, sob a supervisão do FBl, para um ponto de reunião secreto no Texas e depois para Washington. Dali, relatou o Times, eles deixaram o país quando os aeroportos voltaram a funcionar no dia 14 de setembro. O FBl afirmou que a notícia do Times é "incorreta". Nesse ínterim, os sauditas tinham pelo menos dois outros aviões de sobreaviso. Começando em Los Angeles em uma data indeterminada, um deles voou primeiro para Orlando, na Flórida, onde Khalil bin Laden embarcou. De Orlando, o avião seguiu para o Aeroporto Internacional de Dulles, nas imediações de Washington, D.C., antes de seguir para o Aeroporto Internacional de Logan em Boston no dia 19 de setembro, recolhendo durante o trajeto membros da família Bin Laden. Dizem que Houston, Cleveland e Newark estão entre outras paradas para os sauditas. No total, cerca de 140 sauditas estiveram nos vôos, segundo uma fonte do FBl. A essa altura, a proibição das viagens aéreas começara a abrandar. A FAA estava permitindo que as companhias aéreas operassem desde que cumprissem certas regras de segurança. A aviação particular estava sujeita a maiores restrições, mas mesmo neste caso a FAA começara a permitir vôos fretados quando os pilotos submetiam às autoridades os planos de vôo. A FAA entregou todos os seus registros de viagens aéreas durante o período em questão para o Departamento de segurança interna. Um pedido relacionado com o Freedom of Information Act [Ato de
liberdade de informação] foi protocolado, mas os documentos ainda não foram liberados. A aprovação de Richard Clarke para a repatriação dos sauditas fora condicionada a um exame cuidadoso da parte do FBl. "Pedi [ao FBl] que se certificasse de que nenhuma pessoa inadequada estaria deixando o país", diz ele. "Perguntei se eles teriam alguma objeção ao evento inteiro, ao fato de os sauditas deixarem o país num momento em que os aviões estavam proibidos de voar." Clarke acrescenta que partiu do princípio de que o FEl examinara escrupulosamente a famíliia Bin Laden antes do 11 de setembro. "Não tenho a menor idéia se eles fizeram um bom trabalho", afirma ele. "Não estou em posição de fazer críticas posteriores ao FBl." Na verdade, o FBl andara de olho em alguns membros da família Bin Laden. Um arquivo confidencial do FBl examinado pela revista Vanity Fair e marcado como "Confidencial" mostra que já em 1966 a agência havia passado quase nove meses investigando Abdullah e Omar bin Laden, que estavam envolvidos com a divisão americana da Assembléia Mundial da Juventude lslâmica (WAMY), uma organização beneficente que publicou muitas obras do erudito islâmico Sayyid Qutb; um dos mentores intelectuais de Osama bin Laden. No entanto, segundo Dale Watson, ex-chefe da divisão antiterrorista do FEl, essas investigações de .sauditas nos Estados Unidos eram exceção. "Se surgiam denúncias, elas eram investigadas", diz ele. "Mas uma investigação abrangente dos sauditas não aconteceu aqui." Em alguns momentos os sauditas que tinham se reunido para partir tentaram fazer os aviões decolarem antes de o FBl identificar quem estava neles. "Lembro-me de ter tido uma grande discussão com o escritório de Bandar sobre se eles iriam partir sem que soubéssemos quem estava no avião", diz um agente do FBl. "Bandar queria que o avião decolasse, e estávamos enfatizando que o avião não partiria enquanto não soubéssemos exatamente quem eram os passageiros."
No final, o FBl chegou à conclusão de que não era prático realizar uma investigação completa. "Eles foram identificados", declara Dale Watson, "mas não foram submetidos a entrevistas aprofundadas ou interrogatórios." A agência se recusou a informar a identidades deles. Alguns dos que participaram da repatriação insistem em que o fato de os sauditas não terem sido interrogados foi irrelevante, e, na verdade, é possível apresentar uma justificativa convincente de que nem a família Bin Laden nem a realeza saudita teria intencionalmente ajudado os terroristas. "O objetivo de grupos como a Al-Qaeda é derrubar o governo saudita", diz Nail al-Jubeir, porta-voz da embaixada saudita. "Dizem que financiamos [a AlQaeda], mas isso simplesmente não é verdade. Por que ajudaríamos pessoas que querem derrubar o nosso governo?" A maioria dos que estavam partindo eram estudantes ou jovens homens de negócios. Além disso, a família Ein Laden tinha rompido vigorosamente com Osama divulgando uma nota na qual expressava a "condenação deste triste evento, que resultou na perda de muitos homens, mulheres e crianças inocentes, e que contradiz a nossa fé islâmica". Um agente do FEl afirma que eles ,tinham o direito de partir e que o fato de estarem relacionados com Osama não constituía base para investigação. No entanto, o atentado de 11 de setembro foi sem dúvida o maior crime da história americana. Quase 3 mil pessoas tinham morrido. Uma caçada humana de proporções sem precedentes estava em andamento. O procurador geral John Ashcroft afirmara que o governo tinha "a responsabilidade de usar todos os meios legais à nossa disposição para evitar outras atividades terroristas, prendendo pessoas que infringiram a lei e que podem representar uma ameaça para os Estados Unidos". Os árabes estavam sendo detidos e interrogados em todo o país. No fim de semana que se seguiu aos atentados, Ashcroft já havia proposto que os poderes do FEl fossem ampliados para que ele pudesse prender
estrangeiros, grampear o telefone deles e rastrear a lavagem de dinheiro até os terroristas. Centenas de pessoas foram detidas pelo governo enquanto os agentes americanos investigavam a fundo a sua vida pregressa. Algumas chegaram a ficar presas por dez meses na base naval americana de Guantánamo, em Cuba. "Faz parte de qualquer investigação procurar pessoas que conheçam o suposto suspeito do assassinato", declara John L. Martin, que, na qualidade de chefe de segurança interna da divisão criminal do departamento de justiça, supervisionou durante 18 anos a investigação e os processos dos delitos contra a segurança nacional. "No caso do assassinato do presidente Kennedy, a família de Lee Harvey Oswald, inclusive à mulher e mãe dele, embora não fossem culpadas, foram investigadas para que fossem obtidas informações sobre os antecedentes dele. No caso de Timothy McVeigh, a família dele se tornou o alvo. das atenções." Como puderam as autoridades passar por cima de uma parte tão elementar e rotineira de uma investigação durante uma catástrofe sem precedentes de segurança nacional? Na pior das hipóteses, não poderiam os parentes ter fornecido algumas informações sobre as finanças, os aliados ou os partidários de Osama? Vários investigadores experientes se mostraram surpresos com o fato de os sauditas não terem sido interrogados. "Sem dúvida eu esperaria que eles fizessem isso", declara Oliver "Buck" Revell, exvice-diretor adjunto do FBl. "Neste caso, temos um ataque que possui vínculos substanciais com a Arábia Saudita", afirmaJohn Martin. "Certamente iríamos querer conversar com membros da família real saudita e do governo saudita, especialmente porque eles prometeram cooperar." Uma simples declaração de repúdio aos ataques da parte da família Bin Laden significou que nenhum membro da família tinha qualquer tipo de contato ou informação útil? Não muito tempo depois do atentado do 11 de setembro, Carmen bin Laden, cunhada de Osama e que estava de relações cortadas com ele,
disse a ABC News que achava que membros da família talvez tivessem dado dinheiro para Osama. Foi amplamente divulgado que Mohammed Jamal Khalifa, cunhado de Osama, seria uma importante figura da Al-Qaeda, e ele foi acusado de ter tido ligações com a explosão no World Trade Center em 1993, com a explosão do destróier USS Cole em outubro de 2000 e com o financiamento de um grupo terrorista filipino. (Correu o boato de que Khalifa estaria nas Filipinas em setembro de 2001.) Khalil bin Laden, que embarcou em um avião em Orlando que finalmente o levou para a Arábia Saudita, chamou a atenção de investigadores brasileiros devido a possíveis conexões terroristas. Segundo um jornal brasileiro, ele mantinha relações comerciais em Minas Gerais, um estado não muito distante da região da tríplice fronteira (sic], um suposto centro de treinamento de terroristas. Havia também os documentos secretos do FBl que detalhavam o envolvimento de Abdullah e Omar bin Laden com a Assembléia Mundial da Juventude Islâmica (WAMY). Tanto as autoridades indianas quanto as forças armadas filipinas mencionaram que a WAMY financiava o terrorismo na Caxemira e nas Filipinas. "A WAMY estava envolvida com atividades de apoio aos terroristas", afirma um funcionário do setor de segurança que serviu sob as ordens de George W. Bush. "Não existe nenhuma dúvida a esse respeito." As autoridades do FBI se recusaram a tecer comentários sobre a investigação, que foi noticiada no jornal inglês The Guardian, mas os documentos revelam que o arquivo sobre Abdullah e Omar foi reaberto no dia 19 de setembro, enquanto a repatriação saudita ainda estava em andamento. "Esses documentos mostram que o FBl estava investigando esses caras na época da partida deles", afirma David Armstrong, investigador do Public Education Center, a fundação com sede em Washington, D.C. que obteve os documentos.
Na década de 1980, com o apoio do governo americano, a Casa de Saud e importantes homens de negócios sauditas haviam contribuído entusiasticamente para a luta com os soviéticos no Afeganistão, enviando dinheiro e armas para os rebeldes fundamentalistas islâmicos que combatiam ao lado das forças de resistência afegã (mujahedin]. Tanto os sauditas quanto os americanos apoiaram esses militantes. Mas depois de ajudar a expulsar os soviéticos do Afeganistão, esses guerrilheiros, liderados por Osana bin Laden, formaram a rede terrorista conhecida como Al-Qaeda. Perguntas complicadas continuam a ser feitas sobre até que ponto os sauditas continuaram a apoiar o fundamentalismo islâmico militante depois que Bin Laden e a AlQaeda começaram a atacar alvos americanos na década de 1990. Durante o governo Clinton, os sauditas repetidamente resistiram a tentativas dos Estados Unidos de rastrear o financiamento do terrorismo no seu reino. Segundo Richard Clarke, que dirigiu a iniciativa, várias razões geraram a resistência dos sauditas. "Alguns deles eram claramente simpatizantes da Al-Qaeda", diz ele. "Outros achavam que se oferecessem um certo grau de cooperação à Al-Qaeda, ela os deixaria em paz. E outros ainda estavam reagindo de uma forma automática e instintiva ao que consideravam uma interferência nos assuntos internos do país." Repetidamente, o Departamento do Tesouro americano procurou os diretores de várias instituições islâmicas beneficentes por terem ajudado financeiramente os terroristas. Em outubro de 2002, o Conselho de Relações Exteriores declarou que, transcorrido um ano do atentado do 11 de setembro, a Al-Qaeda continuava a arrecadar contribuições de abastados simpatizantes sauditas. Em novembro de 2003, a revista Newsweek noticiou que milhares de dólares em presentes de caridade da princesa Haifa, esposa do príncipe Bandar, tinham ido indiretamente parar nas mãos de dois dos seqüestradores do atentado de 11 de setembro. E muitos
membros da família real, junto com vários membros da família Bin Laden, são hoje réus na ação de classe judicial de um trilhão de dólares movida a favor de 4 mil parentes das vítimas do atentado. Documentos apresentados no processo alegam que o pai do príncipe Bandar, o ministro da defesa príncipe sultão, contribuiu com pelo menos 6 milhões de dólares a partir de 1994 para quatro organizações beneficentes que financiam Osama bin Laden e a AlQaeda. Os próprios advogados do sultão reconhecem que durante 16 anos consecutivos ele aprovou pagamentos anuais de cerca de 266 mil dólares para a International Islamic Relief Organization [Organização de Auxílio Islâmico Internacional] - uma instituição beneficente saudita cujos escritórios nos Estados Unidos sofreram uma devassa dos agentes federais. Casey Cooper, um dos advogados do príncipe sultão, diz o seguinte: "As alegações não possuem mérito". Ele acrescenta que o príncipe sultão autorizou as doações como parte das obrigações oficiais do governo e que não financiou intencionalmente o terrorismo. A alegação contra o príncipe sultão é apenas uma entre as milhares incluídas no processo. Além de Osama bin Laden, a empresa da família, o grupo saudita Binladin, foi indiciada no processo. No cerne das alegações jaz a acusação de que os réus tinham conhecimento de que. parte do seu dinheiro estaria indo para a Al-Qaeda e, por conseguinte, tinham alguma responsabilidade nos atentados de 11 de setembro. Muitos sauditas admitem ter contribuído para as organizações beneficentes em questão, mas declaram que não sabiam que o dinheiro acabaria nas mãos da Al-Qaeda. "O maior problema que temos com as instituições de caridade sauditas é a forma medíocre e negligente como são administradas", diz Nail al-Jubeir. Os advogados dos autores da ação não consideram essa resposta satisfatória. Além disso, acreditam que se o governo tivesse interrogado os membros da família Bin Laden e da família real antes de eles deixarem o país, algumas perguntas vitais poderiam
ter sido respondidas. "Deveria lhes ter sido perguntado se eles tinham contatos ou sabiam de quaisquer outros contatos sauditas com Osama bin Laden", diz Allan. Gerson, um dos advogados dos autores da ação. "O que eles sabiam sobre o financiamento da Al-Qaeda? O que eles sabiam a respeito da utilização de instituições de caridade nos Estados Unidos e em outros países como canais para o financiamento do terrorismo? Por que o governo saudita não foi receptivo aos apelos dos Estados Unidos em 1999 e em 2000 para que parassem de fazer vista grossa ao financiamento do terrorismo através dos bancos e organizações beneficentes sauditas?" Tudo que foi dito conduz à questão de quem tomou a decisão de deixar os sauditas partirem. E por quê? Poderia o antigo relacionamento entre os sauditas e a família Bush ter influenciado o governo? Especialistas em segurança nacional como Richard Clarke consideram dúbia esta insinuação. "O príncipe Bandar desempenhou um importante papel durante a primeira Guerra do Golfo", assegurou Clarke. "Ele era íntimo da família Bush. Mas não creio que seja exato afirmar que ele desempenha hoje o mesmo papel. Percebemos que temos que trabalhar com o governo atual da Arábia Saudita. As alternativas poderiam ser bem piores. Existe uma elevada probabilidade de a Casa de Saud ser substituída por um grupo que provavelmente será mais hostil - na verdade, extremamente hostil - aos Estados Unidos. Esta é a provavelmente a razão que leva o governo americano a tratar desse jeito a Casa de Saud e não um relacionamento pessoal." Com a guerra contra o terrorismo em andamento, os Estados Unidos desejavam a cooperação dos sauditas, e a repatriação representava claramente uma alta prioridade nos níveis mais elevados no reino. Ainda assim, o relacionamento entre a família Bush e os sauditas levanta graves questões, no mínimo porque é extraordinário que dois presidentes compartilhem uma história pessoal tão longa e
profunda com qualquer potência estrangeira, ainda mais com uma que é ao mesmo tempo tão vital para os interesses econômicos dos Estados Unidos e tão problemática quanto a Arábia Saudita. Tudo começou em meados da década de 1970 quando dois jovens bilionários sauditas - Salem bin Laden, irmão mais velho de Osama e chefe do Grupo Saudita Bin Laden, e Khalid bin Mahfouz, banqueiro saudita bilionário - chegaram ao Texas, esperando formar relacionamentos políticos. Eles escolheram um homem de negócios de Houston chamado James R. Bath, que conhecera George W. Bush na Texas Air National Guard, para representar os seus interesses nos Estados Unidos. Bath investiu 50 mil dólares na nova companhia de petróleo de Bush, a Arbusto. Ele nega, contudo, que o seu investimento representasse interesses sauditas. Em 1986, George W Bush vendeu a encarnação mais recente da sua debilitada companhia de petróleo para a Harken Energy, uma companhia independente de petróleo do Texas, que, por sua vez, também estava em dificuldades, e obteve um lugar no conselho diretor da empresa. Nessa ocasião, Khalid bin Mahfouz se tornara o maior acionista do Bank of Commerce & Credit International, ou BCCI, um banco internacional que financiava traficantes de drogas, terroristas e operações secretas, e que se tornou conhecido como a mais corrupta instituição financeira da história. Assim que Bush ocupou o cargo na Harken, teve início um cortejofantasma da parte de Khalid bin Mahfouz e o BCCI. Nem George W. Bush nem a Harken jamais tiverem um contato direto com Bin Mahfouz ou o BCCI. Mas tão logo Bush assumiu a sua posição no conselho diretor, coisas maravilhosas começaram a acontecer à Harken, como novos investimentos, fontes inesperadas de financiamento e felizes e inesperados direitos de perfuração. Entre os que tinham laços com o BCCI e ofereceram ajuda à Harken estavam o banco de investimentos Stephens Inc., o investidor saudita xeque Abdullah Bakhsh e o emir de Bahrain, que
inesperadamente concedeu à Harken os direitos exclusivos de perfuração ao largo da costa. Em 1991, uma investigação do Wall Street Journal sobre os laços entre a Harken e o BCCI concluíram que: "O número de pessoas ligadas ao BCCI que tinham negócios com a Harken - todos depois que George w: Bush entrou para a empresa - também levanta a questão de se eles mascaram uma tentativa de maior aproximação com o filho de um presidente". George H. W. Bush e James Baker finalmente começaram a colher os frutos da sua amizade com os sauditas quando retornaram ao setor privado em 1993. Naquele ano, Baker assumiu o cargo de consultor sênior no grupo Carlyle, a empresa privada de participação acionária de 16 bilhões de dólares. Dois anos mais tarde, Bush entrou para a empresa como consultor sênior. Em 1998, o ex-primeiro ministro da Inglaterra John Major também ingressou na companhia. Em várias ocasiões, Bush, Baker e Major voaram para a Arábia Saudita com executivos da Carlyle para se reunir e discursar para os membros da família real e homens de negócios abastados, como os membros da família Bin Laden e da família Bin Mahfouz, a família de banqueiros mais rica da Arábia Saudita. Na condição de líderes mundiais que defenderam os sauditas durante a Guerra do Golfo, Bush, Baker e Major tinham potencial para fazer chover na horta da Carlyle, e a política da empresa possibilitava que eles fizessem isso sem macular as mãos pedindo dinheiro de uma forma direta. "Os discursos de Bush giram em torno do que é ser ex-presidente e pai de presidente", declara o diretor executivo da Carlyle, David Rubenstein. "Ele não fala sobre a Carlyle e nem alicia investidores." Depois dos discursos de Bush, Rubenstein e a sua equipe responsável pela arrecadação de fundos se apresentava para recolher o dinheiro. "A Carlyle queria abrir portas", declarou um observador ao The lndependent, "e eles
apresentaram Bush e Major, que salvaram a pele dos sauditas na Guerra do Golfo. Com esses caras na área... essas empresas vão se dar muito bem." Rubenstein afirma que Bush e Baker não receberam um tratamento especial na Arábia Saudita. "Eles receberam lá o mesmo tratamento que receberam no resto do mundo." Uma fonte próxima do governo saudita declara que a família real considerou o investimento do grupo Carlyle uma maneira de demonstrar gratidão ao presidente Bush por ele ter defendido os sauditas na Guerra do Golfo. "George Bush ou James Baker costumavam se reunir com todos os membros mais importantes da família real", afirma a fonte. "A mensagem indireta era: 'Eu gostaria que você investisse algum dinheiro no Grupo Carlyle.'" Segundo o Washington Post, o príncipe Bandar foi um dos investidores. Em 1995, a família Bin Laden começou a investir. Segundo o advogado da família Cherif Sedky, os filhos de Khalid bin Mahfouz, Abdulrahman e Sultan também se tomaram investidores. Abdulrahman bin Mahfouz foi um dos diretores da Muwafaq Foundation, considerada pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos como "uma fachada para a Al-Qaeda". "Em 1995, Abdulrahman e Sultan fizeram um investimento em um dos fundos da Carlyle da ordem de 30 milhões de dólares", escreveu Sedky em um e-mail. "O investimento é administrado em benefício deles por Sami Ba'arma", um gerente de investimentos que tem trabalhado com freqüência com a família Mahfouz. Sedky acrescentou que a família Bin Mahfouz condena o terrorismo e nega que os fundos que ela doou para instituições de caridade tenham sido usados para financiar o terrorismo. A Carlyle nega categoricamente que os membros da família bin Mahfouz sejam hoje investidores da sua empresa ou que o tenham sido em uma época anterior. Contactado em Michigan durante as férias, Cherif Sedky manteve a sua declaração original. "Suponho que a Carlyle possua registros de investimentos de alguém relacionado com a
família bin Mahfouz, seja Sami Ba'arma o testa-de-ferro ou outra pessoa", declarou ele, acrescentando que Ba'arma era primo irmão dos irmãos bin Mahfouz. No todo, os altos funcionários da Carlyle dizem que os sauditas investiram 80 milhões de dólares na empresa. O percentual dessa quantia que foi arrecadado depois que o ex-presidente George Bush ou James Baker participaram de reuniões com os sauditas não está claro. A família Bin Laden aplicou 2 milhões no Carlyle Partners II Fund, uma quantia relativamente pequena que se dizia ser parte de um pacote maior. Um dos membros da família, Shafig bin Laden, participou de uma reunião de investidores no dia 11 de setembro de 2001. Mas depois dos atentados daquele dia, a Carlyle comprou a participação da família Bin Laden. "A princípio achei que era injusto culpar os outros 53 meios-irmãos por causa desse cara que eles não vêem faz dez anos", declara Rubenstein. "Mas depois me dei conta de que a vida nem sempre é justa." Não existem' dados que indiquem que a Carlyle tenha desempenhado algum papel na repatriação dos sauditas, mas os defensores públicos argumentam que os laços entre a família Bush e os sauditas criam pela menos a aparência de um conflito de interesses. "Qualquer pessoa se sentiria menos inclinada a tomar uma atitude contundente ou dinâmica contra um grupo se estivesse ligada financeiramente a ele", declara Charles Lewis, diretor do Centro de Integridade Pública. "Trata-se apenas de bom senso." No dia 18 de setembro de 2001, um Boeing 727 especialmente remodelado decolou do aeroporto de Logan em direção à Arábia Saudita, tendo a bordo pelo menos' cinco membros da família Bin Laden. No dia 19 de setembro, a equipe que prepara os discursos do presidente Bush estava envolvida com um empolgante pronunciamento que o presidente iria proferir no dia seguinte, declarando oficialmente uma guerra global contra o terrorismo. "A nossa guerra contra o terrorismo... não acabará enquanto cada
grupo terrorista de âmbito mundial não tiver sido encontrado, neutralizado e derrotado", prometeria o presidente. No Pentágono, o planejamento para levar até o Iraque essa nova guerra contra o terrorismo já estava em andamento. Nesse mesmo dia, o avião que partira de Los Angeles e fizera escalas nos aeroportos de Orlando e Dulles chegou ao aeroporto de Logan. O número de membros da família Bin Laden ou outros sauditas que haviam embarcado no avião antes de ele chegar a Boston não está bem claro, mas quando ele aterrissou, pelo menos mais 11 parentes de Bin Laden embarcaram. Na ocasião, o caos reinava no aeroporto de Logan. Ele estava abala do devido a críticas de que falhas na segurança teriam possibilitado os atentados. Afinal de contas, os dois aviões seqüestrados que haviam se chocado contra o World Trade Center tinham partido do aeroporto de Logan. Como resultado, medidas excepcionais estavam sendo tomadas. Vários milhares de carros foram rebocados do estacionamento do aeroporto. "Não sabíamos se eles estavam carregados com cargas explosivas ou alguma outra coisa", declara Tom Kinton, diretor de aviação do aeroporto de Logan. A FAA havia autorizado o reinício dos vôos comerciais no dia 13 de setembro, desde que fossem respeitadas as novas medidas de segurança. Entretanto, o aeroporto de Logan, por causa de várias questões de segurança, só voltou a funcionar no dia 15 de setembro, ou seja, dois dias mais tarde. Mesmo então, o tráfego aéreo recomeçou lentamente. Por conseguinte, quando o Centro de Operações de Emergência do Logan recebeu um telefonema no início da tarde de 19 de setembro dizendo que a aeronave fretada iria apanhar membros da família Bin Laden, Kinton não conseguiu acreditar no que tinha ouvido. "Estávamos no meio do pior ato terrorista da história", diz ele, "e estávamos presenciando a evacuação da família Bin Laden!"
Exatamente como Kinton, Virginia Buckingham, na época chefe da Port Authority [Comissão coordenadora dos transportes] de Massachusetts, que supervisiona o aeroporto de Logan, ficou aturdida. "A minha equipe foi informada de que um jato particular procedente da Arábia Saudita chegaria ao Logan para pegar 14 membros da família de Osama bin Laden que moravam na área de Boston", escreveu ela mais tarde no The Boston Globe. '''O FBI tem conhecimento disso? Por que estão deixando essas pessoas irem embora? Elas foram interrogadas? Isso era ridículo." Poucos dias antes, alguns aviões, como o que conduzia um coração que seria transplantado para um paciente cardíaco em Olympia, Washington, foram obrigado a descer na metade do vôo. Segundo o porta-voz do FBI John lannarelli, os agentes antiterroristas do FBI responsáveis pela investigação estavam retidos em todo o país, impossibilitados de voar por vários dias. No entanto, agora, essa mesma unidade antiterrorista estava atuando efetivamente como acompanhante dos sauditas. O espantoso era que a repatriação estava tendo lugar através de Logan e Newark, dois dos aeroportos de onde os seqüestros tinham se originado poucos dias antes. Quando a família Bin Laden começou a se aproximar de Boston, as altas patentes do aeroporto de Logan mostravam-se ansiosas diante o que estava acontecendo. No entanto, a lei federal não lhes concedia muita liberdade de ação para restringir vôos individuais. "Eu queria me dirigir às autoridades supremas em Washington", afirma Tom Kinton. "A situação era da alçada deles. Mas não se tratava de um vôo misterioso que estivesse chegando ao aeroporto de Logan. Ele já tinha feito escala em três aeroportos importantes e éramos a última. Era um fato conhecido. As autoridades federais sabiam o que ele estava fazendo. E recebemos ordens para deixáIo pousar." Era um começo pouco auspicioso para a recém-declarada guerra contra o terrorismo. "O crime que aconteceu no dia 11 de setembro
foi horrível", declara John Martin, ex-diretor do Departamento de Justiça. "Foi um ato de guerra. E a resposta é não, esta não é a maneira de investigá-lo."
"Avião conduzia 13 membros da família "Bin Laden; lista de passageiros de 19 de setembro de 2001, vôo dos Estados Unidos, é liberada" The Washington Post DANA MILBANK, 22 de julho de 2004 Pelo menos 13 parentes de Osama .bin Laden, acompanhados de seguranças pessoais e amigos, obtiveram permissão para deixar os Estados Unidos em um vôo fretado oito dias depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, de acordo com uma lista de passageiros liberada ontem. Um dos passageiros, Ornar Awad bin Laden, sobrinho do líder da Al-Qaeda, fora investigado pelo FEl porque morara com Abdullah bin Laden, um dos líderes da Assembléia Mundial da Juventude lslâmica, organização que o FBl suspeitava ser terrorista. A lista de passageiros foi publicada pelo senador Frank Lautenberg (Democrata, New Jersey), que a obteve de dirigentes do Aeroporto Internacional de Logan em Boston. O escritório de Lautenberg recebeu" o documento nas últimas semanas e o liberou hoje antes da emissão do relatório tinal da comissão que está investigando os atentados de 11 de setembro. Embora já se soubesse muitas coisas sobre o "vôo Bin Laden", Lautenberg forneceu detalhes adicionais, inclusive a informação de que o avião, um 727 de propriedade da DB Air e operado pela Ryan International, iniciou o vôo em Los Angeles e fez escalas em Orlando, no Aeroporto Internacional de Dulles e em Boston antes de seguir para Gander, Newfoundland; Paris; Genebra e Jiddah, na
Arábia Saudita. O avião, cujo número de identificação inscrito na cauda era N521DB, fora fretado com freqüência pela Casa Branca para uso da equipe de imprensa que viaja com o presidente Bush. Um relatório apresentado nesta primavera pela equipe da comissão de 11 de setembro disse que o vôo foi um de seis vôos fretados que conduziram 142 pessoas, a maioria de nacionalidade saudita, para fora dos Estados Unidos entre 14 e 24 de setembro depois que o espaço aéreo voltou a ser liberado. O governo dos Estados Unidos autorizara, antes de os vôos comerciais serem liberados, pelo menos um vôo doméstico para os sauditas que temiam pela sua segurança, declarou a equipe de Lautenberg. A comissão relatou que o vôo Bin Laden transportara 23 passageiros e três guardas de segurança particular. No entanto, a lista contém o nome de 25 passageiros, além dos três seguranças contratados pela CDT Training Inc. de Elmwood Park, Nova Jersey. Depois que um pedido de autorização para a partida da família Bin Laden chegou a Richard A. Clarke no Conselho de Segurança Nacional, o avião decolou do Aeroporto Logan em Boston às 23 horas do dia 19 de setembro de 2001. Dale Watson, ex-chefe de antiterrorismo do FBI, declarou ontem que agentes do FBI "interrogaram as pessoas que estavam partindo, e fui informado de que não precisávamos deter nenhuma delas ou impedir que fossem embora". Em uma declaração, Lautenberg disse que Bush "precisa explicar ao povo americano por que o seu governo deixou esse avião decolar", Sean McCormack, porta-voz da Casa Branca, declarou que as alegações de que o vôo não deveria ter tido permissão para decolar foram "desmentidas pelos fatos", Ron Ryan da Ryan International declarou ontem ter "praticamente certeza" de que a embaixada saudita organizou o vôo através de um sócio de Ryan chamado Sport-Hawk. Ele disse que a família Bin Laden "estava muito preocupada com a própria segurança", o que alarmou a tripulação. "A embaixada saudita ofereceu-se para
pagar uma quantia maior' caso a nossa tripulação estivesse preocupada", disse ele. Mas ele afirmou que todos se tranqüilizaram porque "o FBI e o serviço secreto estavam intensamente envolvidos na operação. Podíamos ver uma grande quantidade deles por toda parte". A equipe da comissão informou que cada um dos vôos sauditas "foi investigado pelo FEl e tratado de maneira profissional antes de partir". A equipe afirmou que 22 pessoas no vôo Bin Laden foram entrevistadas pelo FBI e que este examinou bases de dados em busca de informações sobre os passageiros. A comissão informou que nenhum dos passageiros estava na lista de alerta de terroristas. A lista de passageiros relaciona 13 pessoas com o sobrenome Bin Laden e outras com passaportes brasileiros, britânicos, indonésios e iemenitas. O passageiro Ornar Awad bin Laden morara com Abdullah bin Laden, um sobrinho de Osama bin Laden que estava envolvido na formação de uma divisão americana da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica em Alexandria. Agentes federais fizeram uma devassa nos escritórios da entidade nesta primavera como parte de uma investigação relacionada com o terrorismo. O FEl descreveu o grupo como uma "possível organização terrorista". Entre os outros passageiros estava Shafig bin Laden, um meio-irmão de Osama bin Laden que, ao que consta, estaria participando, no dia 11 de setembro, em Washington, da conferência anual de investidores do grupo Carlyle, uma empresa de investimentos com conexões políticas. Também a bordo estava Akberali Moawalla, alto funcionário da companhia de investimentos dirigida por Yeslam bin Laden, outro meio-irmão de Osama bin Laden. Os registros mostram que um dos passageiros, Khloud Kurdi, morava na região norte da Virgínia com um membro da família Bin Laden.
O vôo Bin Laden recebeu nova publicidade porque foi um dos temas do documentário anti-Bush de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro. A pesquisadora Margot Williams e a redatora da equipe do jornal Susan Schmidt contribuíram para este reportagem.
"O aeroporto internacional de Tampa agora verifica o vôo dos sauditas" St. Petersburg Times JEAN HELLER, 9 de junho de 2004 Dois dias depois dos atentados de 11 de setembro, com a maior parte do tráfego aéreo do país ainda em terra, um pequeno jato aterrissou no Aeroporto Internacional de Tampa, pegou três rapazes sauditas e decolou. Os três homens, um dos quais acreditava-se ser membro da família real saudita, estavam acompanhados por um ex-agente do FBI e um ex-oficial de polícia de Tampa no vôo para Lexington, Kentucky. Os sauditas tomaram então outro vôo para fora do país. Os dois exfuncionários voltaram para o Aeroporto Internacional de Tampa algumas horas depois no mesmo avião. Durante quase três anos, a Casa Branca, a aviação e os agentes responsáveis pelo cumprimento da lei insistiram em afirmar que o vôo nunca aconteceu e negaram a veracidade de relatos publicados e de uma difundida especulação na Internet a este respeito. Mas agora, a pedido da Comissão Nacional sobre Ataques Terroristas, os dirigentes do Aeroporto Internacional de Tampa confirmaram que o vôo aconteceu e forneceram detalhes a respeito.
A odisséia do pequeno Learjet 35 faz parte de uma controvérsia mais ampla com relação à fuga precipitada dos Estados Unidos da família real saudita e de parentes de Osama bin Laden nos dias que seguiram ao atentado de 11 de setembro. O painel do terrorismo, mais conhecido como a Comissão de 11 de setembro, declarou em abril que tinha conhecimento de seis vôos fretados com 142 pessoas a bordo, em sua maioria sauditas, que deixaram os Estados Unidos entre os dias 14 e 24 de setembro de 2001. Mas a comissão não se pronunciou a respeito do vôo de Tampa. O advogado geral da comissão, Daniel Marcus, solicitou ao Aeroporto Internacional de Tampa, em uma carta datada de 25 de maio, qualquer informação a respeito de um vôo fretado com seis pessoas, entre elas um príncipe saudita, que teria voado de Tampa, na Flórida, exatamente, ou aproximadamente, no dia 13 de setembro de 2001. Ele pediu que as informações lhe fossem remetidas até o dia 8 de junho. Dirigentes do Aeroporto Internacional de Tampa afirmam ter enviado a resposta na segunda-feira. O aeroporto utilizou um equipamento para o monitoramento de aeronaves, normalmente destinado a um programa de redução de ruído, para determinar a identidade de todos os aviões que entraram no espaço aéreo do Aeroporto Internacional de Tampa no dia 13 de setembro e encontrou quatro registros do Learjet 35. O avião penetrou inicialmente no espaço aéreo a partir do sul, possivelmente vindo da área de Fort Lauderdale, depois das 15 horas e aterrissou pela primeira vez às 15h34. Decolou às 16h37 rumo ao norte. Voltou a Tampa às 20h23 e decolou novamente às 20h48, em direção ao sul. O escritor Craig Unger, que foi o primeiro a divulgar a possibilidade de um vôo conduzindo sauditas após 11 de setembro no livro House of Bush, House of Saud, declarou em uma entrevista que
acredita que o jato voltou a Tampa para deixar dois ex-agentes de Tampa que tinham acompanhado os três rapazes sauditas a Lexington por motivos de segurança. Os sauditas solicitaram que o Departamento de Policia de Tampa escoltasse o vôo, mas o departamento transferiu a incumbência para Dan Grossi, ex-membro do departamento, disse Unger. Grossi recrutou Manuel Perez, agente do FBI, para acompanhá-lo. Ambos descreveram o vôo para Unger como um tanto esquisito. Unger cita Perez CQmo lhe tendo dito: "Eles conseguiram a autorização em algum lugar. A ordem deve ter vindo dos escalões mais altos do governo". Embora não exista uma lista dos passageiros a bordo do vôo do Lear para Kentucky, Unger afirma que os estrangeiros partiram de Lexington para Londres em um Boeing 727. A lista de passageiros deste último contém oito sauditas, dois sudaneses, um tunisiano, um filipino, um egípcio e dois ingleses. Três desses passageiros residiam no N ormandy Trace Drive em Tampa e todos tinham carteiras de motorista da Flórida. Trata-se de Ahmad AI Hazmi, na época com 19 anos; Fahad AI Zeid, com 20; e Talal M. AI Mejrad, com 18, todos rapazes sauditas. Não se sabe com certeza se um deles era um príncipe saudita. Não foi possível encontrar Perez, o ex-agente do FBI que estava no vôo, e Grossi recusou-se a falar sobre a experiência. "Para mim chega", disse ele em uma entrevista por telefone. "A Casa Branca, a FAA e o FBI afirmaram que o vôo não aconteceu. Esses três órgãos estão muito acima de mim e por isso não vou mais falar sobre o assunto." Mas Grossi disse que o relato de Unger sobre a sua participação no vôo está correto. A FAA ainda não está falando sobre os vôos, encaminhando todas as perguntas ao FEI, que também não está respondendo nada. Nem a Comissão de 11 de setembro.
O livro de Unger critica o governo Bush por ter permitido que tantos sauditas, inclusive os parentes de Bin Laden, deixassem o país sem ser meticulosamente interrogados a respeito dos ataques terroristas. Quinze dos 19 homens que seqüestraram quatro aviões no dia 11 de setembro eram sauditas", como Bin Laden. A Comissão de 11 de setembro, que declarou que os vôos que saíram dos Estados Unidos foram adequadamente supervisionados pelo FBI, parece preocupado com a maneira como o vôo de Tampa foi tratado. "Vocês têm alguma informação sobre a filtragem realizada pelos agentes de segurança - inclusive por aqueles ligados ao aeroporto dos passageiros desse vôo?", perguntou a comissão ao Aeroporto Internacional de Tampa. O departamento de polícia do Aeroporto Internacional de Tampa informou que uma verificação nos seus registros indicou que nenhum membro do departamento fez uma filtragem nos passageiros do Lear. Apesar dos indícios de que o vôo ocorreu, surgiram várias questões novas. A Raytheon Aircraft é o único estabelecimento no Aeroporto Internacional de Tampa que presta serviços de aviação em geral, o que inclui os vôos fretados. Quando pertinente, a Raytheon cobra a taxa de aterrissagem desses aviões para o Aeroporto Internacional de Tampa e apresenta a este último um relatório sobre os vôos. De acordo com os registros do aeroporto, o Raytheon só recebeu taxas de aterrissagem de dois aviões no dia 13 de setembro, sendo que um deles era um Lear 35. No entanto, segundo o registro, o número de identificação na cauda do Lear é 505RP, número este que, de acordo com os registros federais mais recentes, é atribuído a um Cessna Citation com base em Kalamazoo, Michigan, e a Oskar Rene Poch.
Poch confirmou na terça-feira que é de fato proprietário de um Citation com esse número de série e que já o possuía antes dos ataques terroristas. "Alguém deve ter anotado errado o número de série em Tampa", declarou ele. Brenda Geoghagan, porta-voz do Aeroporto Internacional de Tampa, disse que se acredita que a jornada do Lear em 13 de setembro tenha começado em Fort Lauderdale, possivelmente em uma empresa de fretes chamada Hop-a-Jet Inc. O fato de que as quatro viagens de chegada e saída de Tampa traziam a especificação de vôo "HPJ32" reforça essa idéia. No entanto, um dos dirigentes da Hop-a-Jet, que não quis se identificar, declarou que a companhia não possui um avião com número de identificação 505RP. Além disso, acrescentou, se esse número é atribuído a um Cessna Citation, a empresa tampouco possui Citations. Quase todas as aeronaves que tiveram permissão para voar no espaço aéreo americano no dia 13 de setembro foram aviões de passageiros vazios sendo transportados dos aeroportos onde tiveram que aterrissar em 11 de setembro. A reabertura do espaço aéreo incluiu vôos fretados pagos, mas não vôos particulares sem fins lucrativos. "Para que um vôo (LearJet) desse tipo tenha sido legal, alguém tem que ter pago por ele", afirma o porta-voz da FAA William Shumann. "Este é o ponto chave."
"Uma quantia principesca ajudará a salvar a Euro Disney; Turismo: sobrinho do rei Fahd da Arábia Saudita vem em auxílio do parque de diversões em dificuldades prometendo investir até meio bilhão de dólares." Los Angeles Times
JESUS SANCHEZ,2 de junho de 1994 "Um dia o meu príncipe virá. . ." BRANCA DE NEVE, 1937 Certo dia chegou uma quarta-feira para a Walt Disney Co. e seus associados na Euro Disney, quando um príncipe da Arábia Saudita prometeu investir até 500 milhões de dólares em um plano destinado a salvar o parque temático em grandes dificuldades. O príncipe Al-Waleed bin Talal Ibn Abdulaziz aI Saud, que também possui uma grande participação na Citicorp e na Saks Fifth Avenue, concordou em comprar de 13 % a 24% da Euro Disney através de uma nova oferta de ações, que é o cerne do socorro financeiro de um bilhão de dólares prestado por investidores e banqueiros que visa recuperar o parque deficitário. Além disso, Al-Waleed concordou em aplicar 100 milhões para financiar um centro de convenções próximo ao parque, cuja construção está sendo considerada, a pouco mais de trinta quilômetros a leste de Paris. Esse centro poderia atrair mais visitantes ao parque e aos seus hotéis, particularmente nos dias de semana e na baixa estação, declarou a Euro Disney. A Walt Disney Co., que é dona de 49% da Euro Disney, poderia ter a sua participação reduzida para 36% caso a venda de ações para AlWaleed se concretizasse. "Este significativo investimento e compromisso de financiamento da parte do príncipe Al-Waleed significa que existe um novo parceiro poderoso e sofisticado que compartilha a nossa opinião sobre o futuro da Euro Disney e cujo envolvimento acentua a importante contribuição da Disney para o pacote de reestruturação financeira da Euro Disney", declarou o presidente da Disney, Michael D. Eisner.
Apesar de ter se tornado um dos destinos turísticos mais populares da Europa, a Euro Disney acumulou quase 4 bilhões de dólares em dívidas e apresentou crescentes prejuízos desde que foi inaugurada há mais de dois anos. Os financiadores do parque lançam a culpa dos seus problemas financeiros na recessão européia e em gastos menores do que esperavam da parte dos visitantes. Como parte de uma reestruturação financeira anunciada no mês passado, a Disney renunciaria até 1998 aos royalties que deveria receber sobre a venda de ingressos e mercadorias na Euro Disney e investiria no parque mais de 526 milhões de dólares oriundos do dinheiro apurado com a nova venda de ações. Em troca, 61 bancos credores perdoariam 18 meses do pagamento de juros. A Disney se compromete a vender a Al-Waleed novas ações no valor de até 178 milhões de dólares se o príncipe não conseguir comprar uma quantidade suficiente de novas ações de outros acionistas, "Tornar-me sócio do projeto da Euro Disney é coerente com a minha estratégia de investir um grande montante de capital ao lado de equipes internacionais de administradores de alto nível", declarou Al-Waleed. O príncipe de 37 anos, sobrinho do rei Fahd da Arábia Saudita, chamou atenção no passado devido aos seus investimentos em famosas empresas americanas. Em 1991, ele se tornou o maior investidor individual da gigantesca Citicorp ao adquirir ações da companhia no valor de 800 milhões de dólares. No ano passado, ele comprou 11 % das ações da empresa varejista Saks Fifth Avenue. Analistas afirmaram que a participação de Al-Waleed garantirá a conclusão da reestruturação financeira da Euro Disney, o que é esperado mais tarde neste verão. Ainda assim, o futuro do parque temático ainda não está assegurado.
"Os maiores problemas se situam na parte operacional", declarou Jeffrey Logsdon, analista da indústria de entretenimento da Seidler Coso em Los Angeles. "O grande desafio é saber como aumentar a freqüência e o consumo per capita."
"Bush fez uma grande besteira na manhã de 11 de setembro Daily News (Nova York) BILL MAHER, 12 de agosto de 2004 John Kerry tem atacado com energia uma questão levantada por Michael Moore no filme Fahrenheit 11 de setembro, ou seja, o fato de o presidente Bush ter permanecido sentado durante sete minutos em uma sala de aula da Flórida depois de receber a notícia de que "o país está sendo atacado". É claro que os republicanos estão ficando indignados. Mas as críticas são amplamente merecidas. O fato de Bush ter desperdiçado 27 minutos naquele dia - não apenas os sete minutos que ele passou lendo para as crianças, como também os outros vinte que gastou tirando fotos com os jornalistas - foi, na minha opinião, a coisa mais ultrajante que um presidente já fez desde que Franklin Roosevelt tentou reorganizar a Suprema Corte. Watergate foi um escândalo, mas não encerrava a possibilidade de uma total devastação, como quando um presidente fica paralisado no momento em que precisávamos que ele se concentrasse de imediato no ataque que estava acontecendo contra os Estados Unidos. Esta é uma questão que envolve a responsabilidade suprema de um presidente, ou seja, agir em um momento de emergência.
Mesmo que nada mais em Washington seja apartidário, esta questão deveria sê-lo. Mas não é. Os republicanos estão se enredando cada vez mais tentando defender as ações de Bush naquela manhã. As desculpas que eles apresentam são absurdas: Ele estava "pondo as idéias em ordem". Aquele era um momento que um presidente tinha que ter imaginado milhares de vezes. Não há tempo na era nuclear para um presidente se sentir como Forrest Gump "pondo as idéias em ordem" depois do ataque ter começado. O que ele deveria ter feito era obter informações. Do secretário de imprensa da Casa Branca: "O presidente achou que deveria demonstrar força e calma até poder compreender melhor o que estava acontecendo". Concordo com a idéia de que entender melhor o que estava acontecendo deveria ter sido a meta dele. O que eu não entendo é como essa meta poderia ser alcançada com ele parado e sentado em vez de se levantar e falar com as pessoas. Ele é paranormal? Estava recebendo telepaticamente as informações? "Ele não quis assustar as crianças." O vice-presidente Cheney fez a seguinte declaração sobre Kerry: "O senador de Massachusetts nos forneceu amplos motivos para duvidar da sua capacidade de julgamento com relação a questões vitais da segurança nacional". Então a capacidade de julgamento de Kerry é suspeita, mas em um momento de crise nacional, a capacidade de julgamento de Bush foi a seguinte: é melhor não assustar momentaneamente 20 crianças do que reagir de imediato a um ataque ao país! Se ele tivesse simplesmente dito: "Ei, garotada, preciso ir embora para tratar de coisas que só o presidente pode fazer - obedeçam à mamãe e ao papai, tchau!", o meu palpite é que as crianças teriam sobrevivido. Não consigo entender como uma pessoa que se considera conservadora é capaz de defender a inércia de George Bush. Os
conservadores se orgulham de ser perspicazes e decididos. Eles não são chegados a nuanças e respeitam a determinação. Mas Bush se atrapalhou no momento mais importante que um presidente poderia ter. Tivemos sorte porque a Al-Qaeda já fizera tudo que tinha a fazer quando ele saiu da sessão de fotos com os jornalistas. Na próxima vez, as coisas talvez não aconteçam desta maneira. Maher é o apresentador de Real Time with Bill Maher da rede de televisão HBO. O Projeto para o Novo Século Americano (PNAC) é um poderoso órgão de pesquisa neoconservador que defende uma política externa agressiva. O seu presidente, William Kristol, é um conhecido "falcão" ["hawk", pessoa que prega uma política externa agressiva e belicosa, ao contrários dos "doves" (pombos)], tem vínculos estreitos com o governo Bush e é analista da FOX NEWS. Segue-se uma carta que o PNAC escreveu para o presidente Bill Clinton em janeiro de 1998. Ela foi assinada por vários falcões conhecidos, que posteriormente se tornaram membros importantes do governo Bush: o secretário de defesa Donald Rumsfeld, o vicesecretário de Defesa Paul Wolfowitz e o emissário da Casa Branca Elliot Abrams, citando apenas alguns. A carta exigia que Saddam Hussein fosse deposto e fornece uma pista hoje bastante óbvia a respeito de como eles planejaram invadir o Iraque desde o início... http://www.newamericancentury.org/iraqclintonletter.htm 26 de janeiro de 1998 Ao Excelentíssimo Presidente William J. Clinton Presidente dos Estados Unidos Washington, DC
Prezado Sr. Presidente: Estamos lhe enviando esta carta porque estamos convencidos de que a atual política americana com relação ao Iraque não está sendo bem-sucedida e que talvez possamos enfrentar em breve uma ameaça no Oriente Médio, mais grave do que qualquer outra que tivemos desde o final da Guerra Fria. No seu próximo Discurso ao Estado da União, o senhor terá a oportunidade de traçar um rumo claro e determinado para enfrentar esta ameaça. Recomendamos com insistência que o senhor aproveite esta oportunidade e proclame uma nova estratégia que garanta os interesses dos Estados Unidos e dos nossos amigos e aliados ao redor do mundo. Essa estratégia deveria visar, acima de tudo, derrubar o regime de Saddam Hussein. Estamos prontos para oferecer o nosso total apoio neste difícil, porém necessário empreendimento. A política de "contenção" de Saddam Hussein tem se desgastado gradualmente nos últimos meses. Como eventos recentes o demonstraram, não mais podemos ter certeza de que os nossos parceiros na coalizão da Guerra do Golfo continuarão a manter as sanções ou punir Saddam quando ele se esquivar das inspeções da ONU ou impedi-Ias. Por conseguinte, a nossa capacidade de assegurar que Saddam Hussein não produzirá armas de destruição em massa diminuiu substancialmente. Mesmo que as inspeções integrais fossem finalmente reiniciadas, o que hoje parece altamente improvável, a experiência demonstrou que é difícil, e talvez impossível, monitorar a produção de armas químicas e biológicas do Iraque. O longo período durante o qual os inspetores terão sido incapazes de penetrar em muitas instalações iraquianas tornou ainda menos provável que eles sejam capazes de descobrir todos os segredos de Saddam~ Como resultado, em um futuro não
muito distante, seremos incapazes de determinar com um nível razoável de confiança se o Iraque possui ou não essas armas. Essa incerteza, por si só, exercerá um grave efeito desestabilizador em todo o Oriente Médio. Quase não é preciso acrescentar que se Saddam adquirir a capacidade de distribuir armas de destruição em massa, o que é quase certo que ele fará se prosseguirmos no curso atual, a segurança das tropas americanas no local, dos nossos amigos e aliados como Israel e os estados árabes moderados, bem como uma parte significativa do suprimento de petróleo do mundo estará em risco. Como o senhor corretamente declarou, Sr. Presidente, a segurança do mundo na primeira parte do século XXI será determinada em grande parte pela maneira como lidarmos com esta ameaça. Tendo em vista a magnitude da ameaça, a política atual, que para ser bem-sucedida depende da estabilidade dos nossos parceiros de coalizão e da cooperação de Saddam Hussein, é perigosamente inadequada. A única estratégia aceitável é aquela que elimina a possibilidade de que o Iraque será capaz de usar, ou ameaçar usar, armas de destruição em massa. A curto prazo, isso significa a disposição de empreender uma ação militar, pois a diplomacia está claramente fracassando. A longo prazo, significa derrubar Saddam Hussein e o seu regime. Este precisa agora se tornar o objetivo da política externa americana. Recomendamos com insistência que o senhor articule este objetivo e volte a atenção do seu governo para a implementação de uma estratégia para derrubar o regime de Saddam Hussein. Esta decisão exigirá um completo entrosamento entre os empreendimentos diplomáticos, políticos e militares. Embora estejamos conscientes dos perigos e das dificuldades da implementação desta política, acreditamos que os perigos de deixar de executá-Ia são ainda maiores. Acreditamos que os Estados Unidos possuem a autoridade de acordo com as resoluções existentes da ONU de tomar as providências neces-
sárias, inclusive medidas militares, para proteger os nossos interesses vitais no Golfo. De qualquer modo, a política americana não pode continuar a ser mutilada por uma insistência equivocada ou pela unanimidade no Conselho de Segurança da ONU. Recomendamos com insistência que o senhor aja com firmeza. Se o senhor tomar medidas agora destinadas a eliminar a ameaça das armas de destruição em massa contra os Estados Unidos ou os seus aliados, o senhor estará agindo de acordo com os interesses mais fundamentais de segurança nacional do país. Se aceitarmos uma rota de fraqueza e instabilidade, estaremos colocando em risco os nossos interesses e o nosso futuro. Sinceramente, Elliot Abrams Richard L. Armitage William J. Bennett Jeffrey Bergner John Bolton Paula Dobrianksy Francis Fukuyama Robert Kagan Zalmay Khalilzad William Kristol Richard Perle Peter W Rodman Donald Rumsfeld William Schneider Jr. Vin Weber Paul Wolfowitz R. James Woolsey Robert B. Zoellick
"Eles sabiam..." Apesar de Whitewash, agora sabemos que a administração Bush foi informada antes da guerra de que suas alegações sobre o Iraque eram fracas
In These Times DAVID SIROTA E CHRISTY HARVEY, 3 de agosto de 2004 Se o desespero é feio, Washington D.C. hoje é pura e simplesmente abominável. Como relatou recentemente a Comissão do 11 de setembro, não houve nenhuma "evidência confiável" de um relacionamento cooperativo entre o Iraque e a Al-Qaeda. De modo análogo, não foram encontradas armas de destruição em massa no Iraque. Com as baixas americanas aumentando em um ano eleitoral, a Casa Branca está se agarrando a qualquer coisa para não ser responsabilizada pela sua desonestidade. As tentativas de encobrir os fatos já começaram: em julho, republicanos da Comissão de Inteligência do Senado liberaram um relatório controverso culpando a CIA pela bagunça. O grupo convenientemente se recusa a avaliar o que a Casa Branca fez com as informações que recebeu ou como definiu e nomeou a sua equipe especial de assessores políticos do Pentágono (chamada de Secretaria de projetos especiais) para burlar os reconhecidos canais do serviço de inteligência. Além disso, o vice-presidente Dick Cheney continuar a afirmar sem nenhuma prova que existem "indícios esmagadores" que justificam as acusações do governo que antecederam a guerra. No entanto, como afirmou o escritor Flannery O'Conner, "A verdade não muda de acordo com a nossa capacidade de tolerá-Ia". Isto significa que, independentemente da quantidade de manipulação defensiva voltada pela Casa Branca, o governo Bush não pode escapar do fato documentado de que foi claramente avisado antes da guerra que os seus argumentos para invadir o Iraque eram fracos.
Altos representantes do governo repetidamente deixaram de dar atenção às advertências a respeito das supostas Armas de Destruição em Massa e as conexões com a Al-Qaeda foram exageradas. Em alguns casos, foram informados de que as suas alegações eram totalmente desprovidas de mérito, mas eles foram em frente e as fizeram assim mesmo. Até mesmo o relatório do Senado admite que a Casa Branca "adulterou" informações sigilosas eliminando referências a afirmações contraditórias. Em resumo, eles sabiam que estavam enganando os Estados Unidos. E não se importavam com isso. Eles sabiam que o Iraque não representava uma ameaça nuclear. Não há dúvida, embora não houvesse nenhuma prova da cumplicidade do Iraque, de que a Casa Branca se concentrou no Iraque horas depois dos atentados de 11 de setembro. A CBS News noticiou: "apenas cinco horas depois de o vôo 77 da American Airlines ter arremetido contra o Pentágono, o secretário de defesa Donald H. Rumsfeld estava ordenando aos seus assistentes que elaborassem planos para atacar o Iraque". O exczar do antiterrorismo de Bush, Richard Clarke, relatou de modo vívido a maneira como, depois do atentado, o presidente Bush o pressionou para descobrir uma conexão com o Iraque. De muitas maneiras, esta atitude não era nenhuma surpresa, pois, como confirmaram o ex-secretário do Tesouro Paul O'Neill e outro alto funcionário do governo, a Casa Branca estava de fato procurando uma maneira de invadir o Iraque bem antes dos ataques terroristas. No entanto, a invasão não provocada de um país soberano precisava de uma justificativa pública. Assim sendo, o governo Bush instilou no coração dos americanos o medo das supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein, começando pelas armas nucleares. No seu primeiro discurso importante sobre
a "Ameaça do Iraque" em outubro de 2002, o presidente Bush invocou imagens exaltadas de destruição e nuvens semelhantes a cogumelos, dizendo: "O Iraque está recompondo o seu programa de armas nucleares". No entanto, antes desse discurso, a Casa Branca tinha determinado que o serviço de inteligência questionasse essa afirmação. Em 1997, a U.N.'s International Atomic Energy Agency (IAEA) [Agência Internacional de Energia Atômica das Nações Unidas] - a agência cuja finalidade é evitar a proliferação das armas nucleares - apresentou um relatório declarando que não havia nenhuma indicação de que o Iraque algum dia teria alcançado o potencial nuclear ou que teria qualquer capacidade física de produzir algum material nuclear na categoria de armas em um futuro próximo. Em fevereiro de 2001, a CIA remeteu um relatório à Casa Branca que dizia: "Não temos indicações diretas de que o Iraque tenha usado o período que seguiu à Operação Raposa do Deserto para reestruturar os seus programas de armas de destruição em massa". O relatório foi tão definitivo que o secretário de Estado Colin Powell declarou em uma subseqüente entrevista coletiva à imprensa que Saddam Hussein "não desenvolveu nenhum potencial significativo no que diz respeito a armas de destruição em massa". Dez meses antes do discurso do presidente, uma análise crítica sobre informações realizada pelo diretor da CIA George Tenet não fazia uma única menção a uma ameaça ou potencial nuclear iminente do Iraque. A ClA teve o respaldo do próprio departamento de Estado de Bush; na época que o presidente proferiu o discurso, a agência de inteligência do departamento declarou que os indícios não "resultavam em um argumento irrefutável de que o Iraque esteja atualmente envolvido com o que consideramos ser uma abordagem ampla e integrada à aquisição de armas nucleares".
Apesar de tudo, o governo continuou no mesmo rumo. Em março de 2003, dias antes do início da guerra, Cheney falou em cadeia nacional na televisão afirmando que o Iraque "reconstruiu as armas nucleares". Ele teve o apoio do porta-voz do departamento de Estado Richard Boucher, que falou aos repórteres sobre "preocupações a respeito dos possíveis programas nucleares do Iraque", supostamente graves. Mesmo depois da invasão, quando as tropas não conseguiram encontrar nenhum indício da existência de armas nucleares, a Casa Branca se recusou a admitir a verdade. Em julho de 2003, Condoleezza Rice disse a Gwen Ifill do PBS [public Broadcasting Service] que as afirmações do governo sobre armas nucleares eram "totalmente aceitáveis". Naquele mesmo mês, o porta-voz da Casa Branca Scott McClellan afirmou enfaticamente: "Existem muitos indícios que demonstram que o Iraque estava reestruturando o seu programa de armas nucleares". Eles sabiam que os tubos de alumínio não se destinavam a annas nucleares Para dar respaldo às afirmações de que o Iraque estaria ativamente tentando construir armas nucleares, o governo mencionou o fato de o Iraque ter importado tubos de alumínio, os quais, segundo os representantes de Bush, se destinavam ao enriquecimento de urânio. Em dezembro de 2002, Powell disse o seguinte: "O Iraque tentou obter tubos de alumínio de alta resistência que podem ser usados para enriquecer o urânio em centrífugas para um programa de armas nucleares". Analogamente, no seu Discurso ao Estado da União de 2003, Bush declarou que o Iraque "tentou adquirir tubos de alumínio de alta resistência adequados à produção de armas nucleares". No entanto, em outubro de 2002, bem antes desses e de outros representantes do governo fazerem essa afirmação, dois importantes departamentos informaram à Casa Branca exatamente
o oposto. O departamento de Estado ratificou relatórios de especialistas do departamento de energia que concluíram que os tubos não eram adequados a qualquer tipo de enriquecimento de urânio. E segundo memorandos liberados pela Comissão de Inteligência do Senado, o departamento de Estado também recomendou a Powell, dias antes do seu discurso de fevereiro de 2003 na ONU, que não usasse a hipótese dos tubos de alumínio. Ele se recusou a seguir a recomendação e mencionou assim mesmo os referidos tubos. As advertências do departamento de Estado foram logo confirmadas pela IAEA. Em março de 2003, o diretor da agência declarou: "É bem provável que a tentativa do Iraque de importar esses tubos de alumínio não estivesse diretamente relacionada" com a expansão de armas nucleares. Ainda assim, esses fatos tampouco detiveram a Casa Branca. Fingindo que o governo nunca recebera nenhuma advertência, Rice afirmou em julho de 2003 que "a opinião consensual" na comunidade do serviço de informações era que os tubos "eram adequados à utilização em centrífugas destinadas à rotação de materiais destinados à fabricação de armas nucleares". Hoje, os especialistas concordam em que as afirmações do governo sobre os tubos de alumínio eram totalmente desprovidas de mérito. Eles sabiam que as afirmações sobre o urânio do Iraque não eram comprovadas. Em uma das mais famosas declarações sobre os supostos arsenais nucleares do Iraque, Bush disse o seguinte no seu Discurso ao Estado da União de 2003: "O governo britânico teve informações de que Saddam Hussein tentou obter da África quantidades significativas de urânio". A maneira cuidadosa como essa base foi formulada enfatiza a falsidade dela. Ao atribuir a
afirmação a um governo estrangeiro, a Casa Branca fez uma poderosa acusação, ao mesmo tempo que se protegia contra quaisquer conseqüências caso ela viesse a se revelar falsa. Na verdade, o presidente invocou os ingleses porque os seus especialistas na área da inteligência haviam aconselhado a Casa Branca a não tocar no assunto. No outono de 2002, a CIA disse aos representantes do governo que não incluíssem a declaração sobre o urânio nos discursos presidenciais. Especificamente, a agência enviou dois memorandos para a Casa Branca e Tenet telefonou pessoalmente para os mais altos funcionários da segurança nacional implorando-lhes que não usassem a declaração. Embora as advertências tenham obrigado a Casa Branca a retirar a referência ao urânio de um discurso presidencial de outubro de 2002, elas não impediram que a acusação fosse incluída no Discurso ao Estado da União de 2003. Não é de causar surpresa o fato de logo terem surgido indícios que forçaram a Casa Branca a admitir o engodo. Em março de 2003, o Diretor do IAEA Mohammed EI Baradei declarou que não havia provas de que o Iraque possuísse armas nucleares, e acrescentou que "documentos que formaram a base das [declarações da Casa Branca] sobre recentes transações de urânio entre o Iraque e a Nigéria na verdade não são autênticos". Mas quando Cheney foi questionado sobre o assunto uma semana mais tarde, ele disse: "O Sr. EI Baradei está literalmente errado". Tanto Bush quanto Rice tentaram culpar a ClA pelo fracasso, asseverando que a declaração "foi aprovada pelos serviços de inteligência". Quando a agência de inteligência apresentou os memorandos que enviara para a Casa Branca sobre o assunto, Rice declarou sem titubear ao programa de notícias Meet the Press: "é bem possível que eu não tenha" lido os memorandos, como se eles fosse uma leitura "opcional" para os mais altos funcionários da segurança nacional do país às vésperas da guerra. Mais ou menos naquela época, um ou alguns representantes do
governo deixaram vazar para a imprensa que a esposa do embaixador Joseph Wuson era agente secreto da ClA - uma medida amplamente vista como uma tentativa da parte do governo de punir Wilson pelo artigo que escreveu no dia 6 de julho de 2003 na página op-ed [Acrônimo de "Opposite the Editorial Page". Página de um jornal, geralmente oposta à do editorial, que publica artigos assinados por pessoas que expressam suas opiniões pessoais.] do New York Times, no qual ele afirmou que não encontrara nenhum indício de que o Iraque tivesse tentado comprar urânio da Nigéria. Nas últimas semanas, gurus da direita apontaram para novos fatos que revelam que a acusação sobre o urânio do Iraque pode ter flertado com a verdade em algum ponto do passado distante. Esses homens sem escrúpulos contratados pela Casa Branca afirmam que o governo não manipulou nem escolheu a dedo os membros do serviço de inteligência. Eles também apregoam que o recente relatório britânico (também conhecido como O relatório Butler) defende a afirmação do presidente sobre o urânio. No entanto, se a Casa Branca não escolheu a dedo nem manipulou os membros serviço de informações, por que o presidente fez alarde de informações provenientes de um governo estrangeiro ao mesmo tempo que deixava de dar atenção a advertências explícitas do seu próprio governo no sentido de que não o fizesse? Os registros mostram que altos funcionários do serviço de inteligência americano claramente avisaram à Casa Branca que "os ingleses desta vez exageraram". No entanto, o governo se recusou a escutar. Até mesmo o próprio Relatório Butler reconhece que os indícios são nebulosos. O especialista em não-proliferação Joseph Cirincione da Carnegie Endowment International Place [Fundação Carnegie para a Paz Internacional] recentemente salientou o seguinte: "Na melhor das hipóteses, a declaração parece dúbia, ou seja, dificilmente algo que devesse servir de base para decisões presidenciais”.
Mas agora, em vez de se mostrar arrependidos, os republicanos afirmam veementemente que a acusação da Casa Branca sobre o urânio era precisa. Na verdade, a única opção desses apologistas é tentar desviar a atenção do público da simples verdade que não existe nenhum indício confiável que confirme esta acusação fundamental que pressionou a guerra. Eles sabiam que não havia nenhuma prova incontestável de armas químicas ou biológicas. Em setembro de 2002, o presidente Bush afirmou que o Iraque "poderia lançar um ataque biológico ou químico em apenas 45 minutos depois que a ordem fosse dada". No mês seguinte, ele. proferiu um importante discurso para "delinear a ameaça iraquiana", dois dias antes de uma crítica votação da ONU. Nesse discurso, ele afirmou sem nenhuma dúvida que o Iraque "possui e produz armas químicas e biológicas". Ele acrescentou que "o Iraque possui uma frota crescente de veículos aéreos tripulados e não-tripulados (UAVs) que poderiam ser usados para espalhar armas química ou biológicas" e que o governo estava "preocupado com o fato de o Iraque estar explorando maneiras de usar esses UAVs para missões cujo alvo eram os Estados Unidos". Mas ele não disse que a Casa Branca fora explicitamente avisada de que essas afirmações não podiam ser comprovadas. O Washington Post mais tarde noticiou que Bush "desprezou o fato de que o serviço de inteligência dos Estados Unidos desconfiou da fonte" da afirmação sobre os 45 minutos para o ataque e, portanto, a omitiu das suas avaliações. Bush desconsiderou ainda o fato de que a Agência de Inteligência do Departamento de Defesa havia submetido anteriormente um relatório ao governo no qual declarava não ter encontrado "nenhuma informação confiável" que provasse que o Iraque estava produzindo ou estocando armas nucleares. Segundo a revista Newsweek, a conclusão foi semelhante às
constatações de uma comissão do governo de 1998 sobre armas de destruição em massa presidida por Rumsfeld. Bush também deixou de ressaltar que, no início de outubro de 2002, os especialistas militares do governo de mais alto nível tinham informado à Casa Branca que "questionavam acentuadamente a idéia de que os Veículos Aéreos Não-tripulados do Iraque estivessem sido projetados como armas de ataque". Especificamente, o Centro de Inteligência Nacional Aeroespacial da Força Aérea corretamente demonstrou que as aeronaves nãotripuladas controladas por controle remoto eram pesadas demais para ser usadas para acionar dispositivos pulverizadores de armas químicas e biológicas. Mesmo assim, as declarações do governo sobre armas químicas e biológicas continuaram a aumentar. Powell disse às Nações Unidas em 5 de fevereiro de 2003: "Não pode haver nenhuma dúvida de que Saddam Hussein possui armas biológicas e o potencial para produzir rapidamente uma quantidade muito maior delas". Como prova, ele mencionou imagens aéreas de um suposto veículo de descontaminação circulando em um suspeito local de armamentos. Segundo documentos recentemente tornados disponíveis no relatório da Comissão de Inteligência do Senado, os mais altos especialistas em inteligência do próprio Powelllhe disseram que não fizesse aquelas afirmações sobre as fotografias. Eles acrescentaram que os veículos eram provavelmente caminhõespipa. Ele não deu atenção aos avisos. No dia 6 de março de 2003, semanas antes da invasão, o presidente superou Powell afirmando: "Os agentes iraquianos continuam a esconder agentes biológicos e químicos". Até hoje, nenhuma arma química ou biológica foi encontrada no Iraque. Eles sabiam que Saddam e Bin Laden não estavam colaborando um com o outro.
No verão de 2002, o USA Today noticiou que advogados da Casa Branca tinham concluído que estabelecer um vínculo entre o Iraque e a Al-Qaeda forneceria a cobertura legal nas Nações Unidas para que o governo atacasse o Iraque. Essa ligação, sem dúvida, também proporcionaria capital político nos Estados Unidos. Desse modo, no outono de 2002, teve início a violenta defesa da ligação entre o Iraque e a Al-Qaeda. Tudo começou no dia 25 de setembro de 2002, quando Bush declarou: "não é possível distinguir entre a Al-Qaeda e Saddam". Essa foi uma novidade até mesmo para os membros do próprio partido político de Bush que tinham acesso às informações secretas do serviço de inteligência. Apenas um mês antes, o senador Chuck Hagel (Republicano, Nebrasca), que atua na Comissão de Relações Exteriores do Senado, declarou: "Saddam não tem vínculos com a Al-Qaeda. Não vi nenhuma informação secreta que me levasse a estabelecer uma ligação entre Saddam Hussein e a Al-Qaeda". Não é de causar surpresa que, no dia seguinte à declaração de Bush, o USA Today tenha noticiado que vários especialistas da área de inteligência "se mostraram céticos" com relação à afirmação do presidente, sendo que um alto funcionário do Pentágono chamou a declaração do presidente de "exagerada". Mesmo assim, Bush desconsiderou essas preocupações e descreveu naquele dia Saddam Hussein como "um homem que adora formar laços com a Al-Qaeda". Nesse ínterim, Rumsfeld promoveu uma entrevista coletiva à imprensa alardeando provas "incontestáveis" de uma ligação - sentimento que foi ecoado por Rice e pelo porta-voz da Casa Branca Ari Fleischer. E enquanto o New Jórk Times comentava que "as autoridades não forneceram detalhes que confirmassem as afirmações", Rumsfeld mesmo assim insistia em que as suas declarações eram "precisas e incontestáveis".
Poucos dias depois, as acusações se tornaram mais do que apenas "contestáveis"; elas foram desmascaradas. O ministro, da Defesa da Alemanha Peter Stuch declarou, no dia seguinte à entrevista de Rumsfeld, que o seu país "não tinha conhecimento de nenhuma ligação" entre o Iraque e as tentativas da Al-Qaeda de adquirir armas nucleares. O Orlando Sentinel noticiou que "um número crescente de oficiais militares, profissionais na área da inteligência e diplomatas do próprio governo [de Bush] possuía particularmente profundas dúvidas" a respeito das afirmações sobre a conexão entre o Iraque e a Al-Qaeda. Os especialistas acusaram os falcões do governo de ter "exagerado as provas". Um funcionário do alto escalão do governo declarou ao Philadelphia Inquirer que analistas da área da inteligência "contestam as afirmações do governo de que existe um importante vínculo entre o Iraque e a Al-Qaeda". Embora estes indícios tenham obrigado o primeiro-ministro inglês Tony Blair e outros aliados a se abster de enfatizar uma ligação entre o Iraque e a Al-Qaeda, o governo Bush se recusou a permitir que os fatos o dissuadissem do seu propósito. No dia 1º. de novembro de 2002, o presidente Bush afirmou: "Sabemos [que o Iraque] possui laços com a Al-Qaeda". Quatro dias depois, Jean-Louis Bruguiere, o maior investigador de terrorismo da Europa, relatou: "Não encontramos nenhum indício da existência de vínculos entre o Iraque e a Al-Qaeda. Se estes vínculos existissem, nós os teríamos encontrado. No entanto, não encontramos nenhuma ligação importante". O secretário do exterior da Inglaterra, Jack Straw, cujo país estava ajudando os Estados Unidos a formar um argumento a favor da guerra, admitiu: "Estão me perguntando se eu percebi qualquer indício de [uma ligação entre o Iraque e a Al-Qaeda]. E a resposta é: Não percebi. Pouco depois surgiu uma avalanche de indícios que indicavam que a Casa Branca estava deliberadamente iludindo os Estados Unidos. Em janeiro de 2003, funcionários do serviço de inteligência
declararam ao Los Angeles Times que ficaram "perplexos com a nova iniciativa da Casa Branca de criar a idéia de uma ligação entre o Iraque e a Al-Qaeda e disseram que a comunidade do serviço de inteligência desconsiderou, e até mesmo descartou, informações que pareciam apontar para um possível vínculo entre o Iraque e a Al-Qaeda". Um dos funcionários do serviço de inteligência declarou: "Não existe uma base factual" para a teoria conspiradora do governo sobre a suposta conexão. Na manhã de 5 de fevereiro de 2003, no mesmo dia que Powell proferiu o seu discurso nas Nações Unidas, o serviço de inteligência britânico deixou vazar um relatório abrangente que não encontrara laços substanciais entre o Iraque e a Al-Qaeda. A BBC noticiou que altos funcionários do serviço de inteligência britânico sustentavam que "qualquer relacionamento incipiente [entre o Iraque e a Al-Qaeda] soçobrou devido à desconfiança e a ideologias incompatíveis". Não obstante, Powell se apresentou diante das Nações Unidas e afirmou que havia "um nexo sinistro entre o Iraque e a Al-Qaeda". Um mês depois, Rice o apoiou, dizendo que a Al-Qaeda "claramente manteve vínculos com os iraquianos". E no seu discurso de 17 de março de 2003, às vésperas da guerra, Bush justificou a invasão citando o laço totalmente desacreditado entre o Iraque e a Al-Qaeda. Quando a guerra começou, o castelo de cartas desmoronou. Em junho de 2003, o presidente do grupo da ONU que monitora a AlQaeda disse aos repórteres que a sua equipe não tinha encontrado nenhum indício que ligasse o grupo terrorista ao Iraque. Em julho de 2003, o Los Angeles Times publicou que o relatório bipartidário do congresso que analisava o atentado de 11 de setembro "solapou as afirmações do governo Bush anteriores à guerra de que Hussein teria laços com a Al-Qaeda". Nesse ínterim, o New York Times noticiou que "Forças de coalizão não descobriram nenhum indício importante que demonstrasse o vínculo entre o Iraque e a Al-Qaeda". Em agosto de 2003, três ex-representantes
do governo Bush se apresentaram e admitiram que os indícios anteriores à guerra que ligavam a Al-Qaeda ao Iraque "eram frágeis, exagerados e, freqüentemente, estavam em conflito com as conclusões das principais agências de inteligência". Ainda assim, a Casa Branca insistiu em sustentar o engodo. No outono de 2003, o presidente Bush fez a seguinte declaração: "Não existe nenhuma dúvida de que Saddam Hussein possui laços com a AlQaeda". E Cheney afirmou que o Iraque "possuía um relacionamento consolidado com a Al-Qaeda". Quando a mídia finalmente começou a exigir provas de todas as alegações, Powell esboçou um vislumbre de arrependimento. Em janeiro de 2004, ele admitiu que não havia indícios conclusivos que comprovassem a afirmação. A sua confissão logo se fez acompanhar em março de 2004 por um relatório da Knight Ridder, que citava representantes do governo que admitiam que "nunca houve nenhum indício de que o estado policial secular de Hussein e a rede terrorista islâmica de Osama bin Laden mantivessem uma ligação". Mas a declaração de Powell foi a exceção e não a regra. A Casa Branca ainda se recusa a reconhecer que agiu de má-fé e, em vez disso, recorre ao clássico estratagema duplo, ou seja, citando fontes, porém recusando-se convenientemente a reconhecer as falhas críticas dessas fontes. Por exemplo, Cheney começou indicando aos repórteres um artigo na revista de direita Wéekly Standard como a "melhor fonte" de indícios que amparam a afirmação que existe um vínculo entre Saddam e a AlQaeda, embora o Pentágono tenha anteriormente desacreditado a história. Analogamente, em junho, a máquina republicana manipuladora da mídia veio em auxílio da Casa Branca e promoveu um artigo no New York Times a respeito de um documento que mostrava as tentativas fracassadas de Bin Laden de trabalhar ao lado do Iraque em meados da década de 1990 contra a Arábia Saudita. Não é de causar surpresa que os manipuladores não tenham mencionado a principal constatação do
artigo, ou seja, que uma força-tarefa do Pentágono descobriu que o documento "não descrevia nenhuma aliança formal que tivesse sido formada entre Bin Laden e o serviço de inteligência do Iraque". Quando a Comissão de 11 de setembro não encontrou "indícios aceitáveis" de um relacionamento de colaboração entre o Iraque e a Al-Qaeda, a contestação da Casa Branca não surpreendeu ninguém. Cheney afirmou audaciosamente que havia "indícios esmagadores" da existência de uma ligação, não forneceu nenhum deles e a seguir repreendeu a mídia e a comissão por ter a audácia de relatar o óbvio. Bush não sentiu necessidade de justificar as suas distorções, limitando-se a declarar depois da publicação do relatório: "A razão pela qual continuo a afirmar que houve um relacionamento entre o Iraque, Saddam e a Al-Qaeda é o fato de que existia um relacionamento entre o Iraque e a Al-Qaeda". Esta foi a perfeita resposta de um governo que nunca permite que os registros factuais afetem o que ele diz para o público americano. Eles sabiam que não houve nenhum encontro em Praga. Um dos principais sustentáculos do mito da ligação entre o Iraque e a Al-Qaeda foi uma história secundada pela Casa Branca que afirma que Mohammed Atta, um dos seqüestradores do atentado de 11 de setembro, teria se encontrado com um espião iraquiano em abril de 2001. A narrativa procede originalmente de um informante tcheco isolado, que afirmou ter visto o terrorista em Praga na época. Os falcões da Casa Branca que, ansiosos por ligar a Al-Qaeda a Saddam, não esperaram para verificar a veracidade da história, usando-a imediatamente para energizar argumentos a favor de um ataque preventivo ao Iraque. No dia 14 de novembro de 2001, Cheney afirmou que Atta esteve "em Praga não apenas em abril deste ano, como também anteriormente". No dia 9 de dezembro de 2001, ele foi adiante, declarando sem ter provas que o encontro de Atta estava "praticamente confirmado".
Nove dias depois, o governo tcheco informou que não havia nenhum indício de que Atta tivesse se encontrado em Praga com um agente do serviço de inteligência iraquiano. O chefe de polícia tcheco Jiri Kolar declarou que não havia nenhum documento provando que Atta estivera em Praga no decorrer daquele ano, e as autoridades tchecas disseram à Newsweek que a testemunha não confirmada que sustentou a história deveria ter sido observada com mais ceticismo. Na primavera de 2002, importantes publicações como os jornais Washington Post e New York Times, e as revistas Newsweek e Time estavam publicando histórias que chamavam a "conexão de Praga" um erro "embaraçoso" e diziam que, segundo os dirigentes europeus, as informações que corroboravam a afirmação se encontravam em uma faixa que variava entre "insuficientes" e "inexistentes". As histórias também citavam representantes do governo e analistas da CIA e do FBI dizendo que após um exame mais atento "não havia indícios de que Atta tenha deixado os Estados Unidos ou voltado para lá na ocasião em que supostamente estaria em Praga". Até mesmo o diretor do FBI Robert S. Mueler m, assessor político nomeado por Bush, admitiu em abril de 2002 que "analisamos literalmente centenas de milhares de pistas e checamos cada registro que conseguimos obter, desde reservas de vôos e aluguel de carros a contas bancárias", mas não encontramos nada. Mas essas declarações não foram suficientes para o governo, que, em vez de esquecer a história, começou a tentar manipular o serviço de inteligência para transformar a fantasia em realidade. Em agosto de 2002, quando os case officers [agente secreto que também atua na equipe de um serviço de inteligência] do FEl disseram ao vice-secretário de Defesa Paul Wolfowitz que o encontro de Atta havia ocorrido, a Newsweek relatou que Wolfowitz "os desafiou energicamente". Wolfowitz queria que o FBI endossasse as declarações de que Atta e o espião iraquiano teriam
se encontrado. O chefe de anti-terrorismo do FBI Pat D'Amuro recusou-se a fazer o que ele queria. Em setembro de 2002, a CIA entregou a Cheney uma avaliação sobre informações sigilosas que lança uma dúvida grave e específica quanto ao fato de o encontro de Atta ter de fato ocorrido. No entanto, naquele mesmo mês, Richard Pede, então presidente da Junta da Política de Defesa de Bush declarou o seguinte: "Muhammad Atta se encontrou com [um secreto colaborador da Saddam Hussein] antes de 11 de setembro. Temos provas deste fato e temos certeza de que ele não estava lá de férias". Quase simultaneamente, Pede admitiu abertamente que "O encontro é um dos motivos de um ataque americano ao Iraque". No inverno de 2002, até mesmo os aliados dos Estados Unidos estavam insistindo com o governo para que cedesse: em novembro, Jack Straw, Secretário do Exterior inglês, declarou que não vira nenhum indício de um encontro em Praga entre Atta e um agente do serviço de inteligência do Iraque. Mas as coisas não pararam por aqui. Em setembro de 2003, no programa de notícias Meet the Press, Cheney trouxe de novo a história à baila, dizendo: "Com relação ao atentado de 11 de setembro, é claro, tivemos a história que se tomou pública lá fora. Os tchecos alegaram que Mohammed Atta, o líder do ataque, encontrou-se com um alto funcionário do serviço de inteligência iraquiano cinco meses antes do atentado". Ele não forneceu novas provas, optou por não mencionar que os tchecos haviam retirado muito tempo antes as alegações e não deu atenção aos novos indícios que demonstravam que a história não era provavelmente verdadeira. Mesmo hoje, com todo o serviço de inteligência contra ele, Cheney permanece impenitente. Quando lhe perguntaram em junho se o encontro tinha acontecido, ele admitiu: "Isto nunca foi provado", acrescentando a seguir: "Nunca foi desmentido". Quando Gloria Borger da rede de televisão CNBC lhe fez perguntas a respeito da
sua afirmação inicial de que o encontro estava "praticamente confirmado", Cheney respondeu asperamente: "Eu nunca disse isso. Eu nunca disse isso. De jeito nenhum". Eis as palavras que ele efetivamente pronunciou em dezembro de 2001: "Está praticamente confirmado que [Atta] foi a Praga e se encontrou com um alto funcionário do serviço de inteligência iraquiano". Em outras palavras, Cheney desceu ainda mais. Agora, além de lançar mão do expediente de mentir sobre a história, ele passou também a mentir a respeito de mentir sobre a história. Conclusão: eles sabiam que estavam enganando os Estados Unidos. No discurso de 17 de março de 2003 no qual preparou os Estados Unidos para a invasão do Iraque, o presidente Bush declarou de forma inequívoca que existia um nexo entre o Iraque e a Al-Qaeda, e que não havia "nenhuma dúvida de que o regime iraquiano continua a possuir e ocultar algumas das armas mais letais já concebidas". No contexto do que hoje sabemos que a Casa Branca sabia na época, Bush deliberadamente mentiu. A comunidade do serviço de inteligência repetidamente disse à Casa Branca que o argumento do governo em defesa da guerra encerrava profundas falhas. A propensão do presidente de não dar atenção a esses avisos e fazer essas declarações inequívocas demonstra que o governo estava intencionalmente pintando uma imagem marcante e supersimplificada, ciente de que os fatos eram na verdade bem mais atenuados. Essa postura gerou graves conseqüências para todos os americanos. Sob o aspecto financeiro, os contribuintes pagaram mais de 166 bilhões de dólares pela guerra do Iraque e em breve terão que pagar mais. Sob o aspecto geopolítico, o nosso país está
mais do que nunca isolado dos estrangeiros, pois o antiamericanismo está em ascensão em todo o planeta. Além disso, a nossa segurança diminuiu. Um recente relatório do Anny War College [Faculdade de Guerra do Exército] dos Estados Unidos diz o seguinte: "a invasão do Iraque foi um desvio com relação à ênfase mais restrita que é derrotar a Al-Qaeda". O enviado da ONU Lakhdar Brahimi descreveu a situação da seguinte maneira: "A guerra contra o Iraque foi inútil, causou mais problemas do que solucionou e promoveu o terrorismo". Estas declarações são confirmadas pelos fatos. O International Institute of Strategic Studies [Instituto Internacional de Estudos Estratégicos] de Londres informa que a Al-Qaeda conta hoje com 18 mil membros e muitos recrutas estão se .alistando em decorrência da guerra no Iraque. Não é coincidência o fato de a Casa Branca recentemente ter declarado que o território americano enfrenta a ameaça iminente de um ataque terrorista da parte de uma operação da Al-Qaeda ainda ativa no Afeganistão. No entanto, o governo de fato retirou forças especiais daquele país em 2002 para se preparar para a invasão do Iraque. Por este motivo, enfrentamos a situação na qual não temos mais do que 20 mil soldados no Afeganistão perseguindo e capturando aqueles que nos ameaçam diretamente, mas temos 140 mil soldados no Iraque, país que não representava uma séria ameaça antes da invasão. É claro que são esses soldados que estão passando pelo pior. Os nossos homens e mulheres de uniforme estão atolados em uma situação difícil e perigosa, obrigados a arriscar a vida por uma mentira. Sem sombra de dúvida, os gurus neo-conservadores e os falcões do governo Bush continuarão a culpar qualquer pessoa exceto a Casa Branca por esses engodos. Dirão também que o serviço de inteligência conferiu bastante credibilidade a algumas das declarações feitas antes da guerra, e isso sem dúvida é verdade.
No entanto, nada é capaz de contestar a prova cristalina de que o presidente Bush e representantes do governo exageraram amplamente as informações que receberam. Eles se envolveram em uma iniciativa calculada e bem coordenada destinada a transformar uma guerra opcional contra o Iraque em uma guerra percebida como de necessidade iminente. E só nos resta pagar o preço.
"Os defensores da guerra agora lucram com a reconstrução do Iraque; lobistas, assistentes dos altos funcionários e outras pessoas estimularam a invasão e agora ajudam empresas a ir atrás de contratos. Eles não vêem nenhum conflito." Los Angeles Times WALTER F. ROCHE JR. E KEN SILVERSTEIN, 14 de julho de 2004 Nos meses e anos que conduziram à invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos, eles marcharam juntos na vanguarda dos que defendiam a guerra. Na condição de lobistas, consultores de relações públicas e consultores confidenciais dos mais altos funcionários federais, eles os preveniram das armas de destruição em massa do Iraque, elogiaram o líder exilado Ahmad Chalabi e sustentaram que derrubar Saddam Hussein era uma questão de segurança nacional e obrigação moral. Agora, enquanto a luta continua no Iraque, eles estão recolhendo muitos milhares de dólares em comissões por ajudar clientes a obter contratos federais e outras oportunidades no Iraque. Por exemplo, um ex-assistente de senador que ajudou a conseguir
recursos americanos para exilados anti-Hussein, que estão agora ativos nos assuntos do Iraque, tem um acordo de 175 mil dólares com a Romênia para aconselhá-Ia sobre negócios vantajosos no Iraque e em outras questões. E a facilidade com que eles deixaram de defender políticas e aconselhar as autoridades do governo e passaram a ganhar dinheiro em atividades ligadas às suas políticas e conselhos reflete os limites indistintos que freqüentemente existem entre os interesses públicos e privados em Washington. Na maioria dos casos, as leis que regem os conflitos de interesses não atingem exfuncionários ou pessoas que tenham atuado apenas como consultores. Larry Noble, diretor executivo do Center for Responsive Politcs [Centro para a Política Responsiva], declarou que os atos dos exfuncionários e de pessoas que atuam em conselhos consultivos, apesar de não serem ilegais, podem parecer um conflito de interesses. "Surge a dúvida de se o conselho que eles oferecem não visaria uma vantagem pessoal em vez de o interesse público", comentou Noble. Michael Shires, professor de política pública na Pepperdine University, discorda: "Não vejo no caso uma questão ética", disse ele, "e sim pessoas cuidando dos próprios interesses". O ex-diretor da CIA R. James Woolsey é um exemplo proeminente do fenômeno, ao misturar os seus interesses nos negócios com o que ele afirma serem interesses estratégicos do país. Ele deixou a CIA em 1995, mas continua a ser um importante consultor do governo em assuntos de inteligência e segurança nacional, inclusive o Iraque. Ao mesmo tempo, ele trabalha para duas empresas privadas que têm negócios no Iraque e é sócio de uma companhia que investe em firmas que oferecem serviços de segurança e antiterrorismo. Woolsey declarou em uma entrevista que não estava diretamente envolvido com os empreendimentos das empresas no Iraque. No
entanto, na qualidade de vice-presidente da Booz Allen Hamilton, uma firma de consultoria, ele foi orador especial em maio de 2003 em uma conferência co-patrocinada pela companhia na qual cerca de 80 executivos e outras pessoas pagaram até 1,1 mil dólares para ouvir informações sobre o panorama econômico e as oportunidades de negócios no Iraque. Antes da guerra, Woolsey foi um dos membros fundadores da Comissão para a Libertação do Iraque, uma organização criada em 2002 a pedido da Casa Branca para ajudar a conquistar o apoio do público para a guerra no Iraque. Ele também escreveu a respeito da necessidade de uma mudança de regime e foi membro do conselho consultivo da CIA e do Conselho de diretivas da defesa, cujos membros não-remunerados ofereceram conselhos sobre o Iraque e outros assuntos para o secretário de defesa Donald H. Rumsfeld. Woolsey faz parte de um pequeno grupo que exibe com uma clareza fora do comum a natureza coordenada da forma pela qual o sistema de informações privilegiadas pode funcionar. Freqüentando os mesmos círculos sociais, amiúde sentando-se lado a lado nos painéis do governo e trabalhando com órgãos da alta consultoria e grupos que defendem os mesmos interesses, eles escreviam cartas para a Casa Branca recomendando com insistência a ação militar no Iraque, formavam organizações que pressionavam a invasão e promoviam leis que autorizavam ajuda a grupos exilados. Desde o início da guerra, apesar da violência e da instabilidade no Iraque, eles se voltaram para os empreendimentos privados. Além de Woolsey, fazem parte do grupo as seguintes pessoas: . Neil Livingstone, ex-assistente do senado que atuou como consultor do Pentágono e do departamento de Estado, e lançou repetidos apelos públicos para a derrubada de Hussein. Ele dirige uma firma com sede em Washington, a Global Options, que oferece contatos e serviços de consultoria às empresas que têm negócios no Iraque.
. Randy Scheunemann, ex-consultor de Rumsfeld, que ajudou a redigir o Ato' de Libertação do Iraque de 1998 autorizando 98 milhões de dólares como ajuda americana aos grupos de exilados do Iraque. Ele foi o presidente fundador da Comissão para a Libertação do Iraque. Hoje ele ajuda antigas nações do Bloco Soviético a conseguir negócios naquele país. . Margaret Bartel, que administrou recursos federais direcionados para o grupo de exilados de Chalabi, o Congresso Nacional do Iraque, inclusive fundos para o programa de inteligência pré-guerra deste último sobre as supostas armas de destruição em massa de Hussein. Ela agora dirige uma firma de consultoria em Washington que ajuda investidores em perspectiva a encontrar parceiros no Iraque. . K. Riva Levinson, lobista de Washintgon e especialista em relações públicas, que recebeu recursos federais para conseguir apoio pré-guerra para o Congresso Nacional do Iraque. Ele era muito próximo a Bartel e agora ajuda empresas a se fixarem no Iraque em parte devido a seus contatos com o Congresso Nacional do Iraque. Outros partidários da ação militar contra Hussein estão buscando oportunidades de negócios no Iraque. Dois ardentes defensores da ação militar, Joe Allbaugh, que administrou a campanha do Presidente Bush para a Casa Branca e mais tarde dirigiu a Federal Emergency Management Agency [Agência Federal de Administração de Emergências], e Edward Rogers Jr., um dos assistentes do primeiro presidente Bush, ajudou recentemente a criar duas empresas para promover negócios no Iraque pós-guerra. A firma de advocacia de Rogers assinou um contrato de 262.500 dólares para representar o Partido Democrata Curdo do Iraque. No entanto, nem Rogers nem Allbaugh possuem o perfil ostensivo de Woolsey.
Pouco depois dos atentados de 11 de setembro, ele escreveu um artigo opinativo no Wall Street Journal dizendo que uma nação estrangeira tinha ajudado a Al-Qaeda a preparar os ataques. Ele citou o Iraque como o principal suspeito. Em outubro de 2001, o vice-secretário de Defesa Paul D. Wolfowitz enviou Woolsey a Londres, onde este foi atrás de indícios que ligassem Hussein aos atentados. Na conferência de maio de 2003 em Washington, intitulada "As empresas no cenário da ação: o desafio para os negócios na reconstrução do Iraque", Woolsey falou sobre questões políticas e diplomáticas que poderiam afetar o progresso econômico. Ele também se referiu favoravelmente à decisão do governo Bush de tentar fazer com que os contratos de reconstrução do Iraque sejam assinados por firmas americanas. . Woolsey declarou em uma entrevista que não percebia nenhum conflito entre defender a guerra e posteriormente prestar consultoria a empresas sobre negócios no Iraque. Booz Allen é um subcontratante em um contrato de telecomunicações no Iraque no valor de 75 milhões de dólares, que também ajudou a administrar as subvenções do governo federal. Woolsey declarou que não estivera envolvido com esse trabalho. Woolsey foi entrevistado no escritório do Paladin Capital Group em Washington, empresa de capital de risco da qual é sócio. A Paladin investe em companhias envolvidas com a segurança interna do país e a proteção da infra-estrutura, declarou Woolsey. Woolsey também é um consultor remunerado da Global Options de Livingstone. Ele afirmou que o seu trabalho na firma não tem relação com o Iraque. Sob a direção de Livingstone, a Global Options "oferece um vasto leque de serviços de segurança e administração de riscos", de acordo com o site da empresa na internet.
Em um artigo de opinião de 1993 no jornal Newsday, Livingstone escreveu que os Estados Unidos "deveriam lançar um maciço programa secreto destinado a depor Hussein". Em uma entrevista recente, Livingstone declarou que tinha refletido mais a respeito da guerra, principalmente devido ao fato de não terem sido encontradas armas de destruição em massa. No entanto, ele tem sido um orador regular nos seminários sobre investimentos no Iraque. Enquanto Livingstone tem se concentrado em oportunidades para os americanos, Scheunemann está voltado para a ajuda a antigos países do Bloco Soviético. Scheunemann dirige uma firma de lobby chamada Orion Strategies, que tem o mesmo endereço do porta-voz de Washington do Congresso Nacional do Iraque e da extinta Comissão para a Libertação do Iraque. Entre os clientes da Orion estão a Romênia, que assinou um contrato de nove meses no valor de 175 mil dólares mais cedo este ano. Entre outras coisas, o contrato prescreve que a Orion deve promover "os interesses da Romênia na reconstrução do Iraque". Scheunemann também viajou para a Latívia, ex-cliente da Orion, e reuniu-se com um grupo empresarial para discutir as oportunidades de investimento no Iraque. Poucas pessoas defenderam a guerra com tanta intensidade quanto Scheunemann. Uma semana depois do atentado de 11 de setembro, ele e outros conservadores enviaram uma carta a Bush pedindo que Hussein fosse deposto. Em 2002, Scheunemann tornou-se o primeiro presidente da Comissão para a Libertação do Iraque, que alcançou o seu maior sucesso no ano passado quando dez países da Europa Oriental apoiaram a invasão americana do Iraque. Conhecidos como o grupo ''Vilnius 10", eles demonstraram que a "Europa está unida pelo compromisso de acabar com o regime sanguinário de Saddam", declarou Scheunemann na ocasião.
Ele se recusou a discutir as suas atividades empresariais relacionadas com o Iraque, dizendo: "Não tenho nada a dizer com relação a este assunto". Scheunemann, Livingstone e Woolsey desempenharam o seu papel promovendo amplamente em público. a guerra contra o Iraque. Por outro lado, Bartel e Levinson atuaram às ocultas. No início de 2003, Bartel tornou-se um dos diretores da Boxwood Inc., uma firma da Virgínia criada para receber recursos americanos para o programa de inteligência do Congresso Nacional do Iraque. Hoje, críticos no Congresso afirmam que o Congresso Nacional do Iraque forneceu informações errôneas sobre a iniciativa de Hussein de desenvolver armas de destruição em massa e sobre os laços dele com Osama bin Laden. Bartel começou a trabalhar para o Congresso Nacional do Iraque em 2001. Ela foi contratada para monitorar a maneira como o congresso estaria usando os recursos americanos após várias auditorias críticas do governo. Após o início da guerra, Bartel fundou uma empresa na Vlrgínia, a Global Positioning. Segundo Bartel, o objetivo primordial da empresa é "apresentar os clientes ao mercado iraquiano, ajudá-Ios a encontrar parceiros iraquianos em potencial, organizar reuniões com os representantes do governo... e proporcionar um apoio in loco para os seus interesses empresariais". Bartel mantém um estreito relacionamento profissional com Levinson, diretora administrativa da firma de lobby BKSH & Associates, com sede em Washington. Francis Brooke, assistente de alto nível de Chalabi, afirmou que a BKSH recebeu 25 mil dólares por mês para promover o Congresso Nacional do Iraque, e Levinson "fez um grande trabalho para nós". Em 1999, Levinson. foi contratada pelo Congresso Nacional do Iraque para conduzir o setor de relações públicas. Ela disse que o seu contrato com o congresso terminou no ano passado. Antes da
invasão e nos primeiros dias da luta no Iraque, Chalabi e o congresso desfrutavam um estreito relacionamento com o governo Bush, mas o relacionamento esfriou. Levinson declarou ao Times: "Não vemos nenhum conflito de interesses em utilizar o conhecimento e os contatos no Iraque que desenvolvemos através do nosso trabalho anterior com o Congresso Nacional do Iraque para apoiar o desenvolvimento econômico no Iraque. Na verdade, consideramos esta atitude um complemento ao objetivo comum de construir um país democrático".
"Lucros da guerra" The Guardian - excerto de The Halliburton Agenda DAN BRIODY, 22 de julho de 2004 No dia 12 de janeiro de 1991, o Congresso autorizou o presidente George H.W Bush a declarar guerra ao Iraque. Cinco dias depois, teve início no Kuwait a Operação Tempestade no Deserto. Como aconteceu no caso da guerra mais recente no Golfo, não demorou muito para que os Estados Unidos se declarassem vencedores tudo estava terminado no final de fevereiro -, mas a limpeza duraria mais e seria bem mais dispendiosa do que a ação militar propriamente dita. Em um estúpido ato de desespero, as tropas iraquianas incendiaram mais de 700 poços de petróleo do Kuwait, provocando uma neblina permanente de fumaça negra e espessa que transformou o dia em noite. Imaginava-se que não menos de cinco anos seriam necessários para que tudo ficasse limpo de novo, pois as labaredas dos lagos de petróleo que circundavam cada poço estavam fora de controle, o que tornava quase impossível chegar perto dos poços em chamas, que dirá extinguir o fogo. No entanto, com o fim da guerra,
a Halliburton decidiu dedicar-se à atividade de limpeza e reconstrução que se supunha fosse custar em torno de 200 bilhões de dólares (163 bilhões de libras) nos dez anos seguintes. A empresa enviou 60 homens para ajudar a combater o fogo. Nesse Ínterim, a sua subsidiária de engenharia e construção, a Kellogg Brown & Root (KBR) obteve um contrato adicional de 3 milhões de dólares para fazer uma avaliação dos danos causados pela invasão à infra-estrutura do Kuwait, contrato este cujo valor se multiplicara por sete no final da participação da KBR. Ainda mais significativo é o fato de a KBR ter conseguido um contrato para retirar os soldados da Arábia Saudita quando os seus serviços deixaram de ser necessários no Golfo. Era a primeira vez, desde a guerra do Vietnã, que a Halliburton voltava a se envolver seriamente na atividade de logística do exército. O final da guerra do Golfo presenciou nada menos do que o renascimento da atividade de terceirização militar. A terceirização militar não era novidade. Empresas privadas já vinham auxiliando as atividades bélicas bem antes de a KBR obter o seu primeiro contrato de construção naval. No entanto, a natureza da terceirização militar mudou radicalmente na última década. A tendência em direção a uma redução da estrutura das forças armadas teve início devido ao "dividendo da paz" no final da Guerra Fria e continuou ao longo da década de 1990. Esta combinação de um efetivo militar reduzido e a continuação do conflito deu origem a uma nova indústria, sem precedentes, de empresas militares privadas. Estas firmas ajudavam as forças armadas nas mais diversas coisas, desde a aquisição e manutenção de armas ao treinamento de soldados e a logística. Na década que se seguiu à primeira Guerra do Golfo, o número de empresas prestadoras de serviços privadas utilizadas no campo de batalha e ao redor dele tornou-se dez vezes maior. Estima-se que exista hoje uma empresa particular para cada dez soldados no
Iraque. Companhias como a Halliburton, que se tornou a quinta maior prestadora de serviços do país na área da defesa na década de 1990, desempenhou um papel crítico nesta tendência. A história por trás dos "super contratos de prestação de serviços" começa em 1992, quando o departamento de defesa, na época dirigido por Dick Cheney, ficou impressionado com o trabalho da Halliburton no Kuwait. Por sentir a necessidade de reforçar as suas forças caso surgissem conflitos de natureza semelhante, o Pentágono pediu a prestadores de serviços que iam apresentar propostas para um contrato de 3,9 milhões de dólares que redigissem um relatório sobre como uma empresa privada poderia fornecer apoio logístico ao exército no caso de uma nova ação militar. O relatório deveria examinar 13 diferentes áreas de tensão no mundo e detalhar de que maneira serviços diversos como a construção de bases e a alimentação dos soldados poderiam ser realizados. A empresa que iria potencialmente prestar os serviços detalhados no relatório teria que sustentar a mobilização de 20 mil soldados durante 180 dias. Tratava-se de um plano de contingência, o primeiro deste tipo nas forças armas dos Estados Unidos. Trinta e sete empresas apresentaram propostas; a KBR ganhou a concorrência. A companhia recebeu mais 5 milhões de dólares ainda naquele ano para estender o projeto para outras localidades e acrescentar detalhes. O relatório da KBR, que permanece confidencial até hoje, convenceu Cheney de que era realmente possível criar um contrato coletivo e adjudicá-Io a uma única empresa. O contrato tomou-se conhecido como o Logistics Civil Augmentation Programme (Logcap) [programa de Aumento de Logística Civil] e foi chamado de "a mãe de todos os contratos de prestação de serviços". Ele tem sido usado em toda a mobilização de tropas dos Estados Unidos desde que foi adjudicado em 1992 - a um custo de vários bilhões
de dólares (que continua aumentando). O afortunado signatário do primeiro contrato Logcap de cinco anos foi a mesma empresa contratada para elaborar inicialmente o projeto: a KBR. O contrato Logcap arrancou a KBR da sua estagnação do final da década de 1980 e incrementou o resultado líquido da Halliburton durante a década de 1990. Ele é, na verdade, um cheque em branco do governo. A remuneração da empresa prestadora de serviços provém de uma percentagem de lucro embutida, que varia entre um 1% e 9%, dependendo de várias cláusulas de incentivo. Quando o nosso lucro é um percentual do custo, quanto mais gastamos, mais ganhamos. Tão logo o primeiro contrato Logcap acabou de ser assinado, o exército dos Estados Unidos foi mobilizado e enviado para a Somália em dezembro de 1992 como parte da Operação Restaurar a Esperança. Os funcionários da KBR já estavam no local antes mesmo de o exército chegar, e foram os últimos a partir. A empresa lucrou 109,7 milhões de dólares na Somália. Em agosto de 1994, ela lucrou 6,3 milhões de dólares na Operação de Apoio à Esperança em Ruanda. Em setembro desse mesmo ano, a Operação de Defesa da Democracia no Haiti rendeu à companhia 150 milhões de dólares. E em outubro de 1994, a Operação Guerreiro Vigilante permitiu que eles ganhassem 5 milhões de dólares. No espírito de "não recusar nenhum serviço", a companhia estava construindo os acampamentos, fornecendo água, comida, combustível e munição para os soldados, limpando as latrinas e até mesmo lavando a roupa deles. Os representantes da empresa estavam comparecendo às reuniões do comando militar e eram colocados a par de todas as atividades relacionadas com as missões específicas. Eles estavam se tomando uma outra unidade do exército dos Estados Unidos. A crescente dependência do exército na empresa foi de fato constatada quando, em 1997, a KBR perdeu o contrato Logcap
para a sua rival Dyncorp em uma nova concorrência. O exército considerou impossível retirar a Brown & Root das suas atividades nos Bálcãs - de longe a parte mais lucrativa do contrato -, de modo que cavou trabalho naquele local para manter a KBR. Em 2001, a empresa ganhou novamente o contrato Logcap, desta feita por um período duas vezes maior do que o da cláusula normal: 10 anos. Para os não iniciados, a indicação de Cheney para as posições de presidente do conselho administrativo, presidente e diretor executivo da Halliburton eni agosto de 1995 fizeram pouco sentido. Cheney praticamente não tinha nenhuma experiência em negócios, tendo sempre sido um político de carreira e um burocrata. Os analistas financeiros rebaixaram as ações e a imprensa empresarial questionou abertamente a decisão. Cheney tem sido descrito por aqueles que o conhecem como comedido e até mesmo totalmente insípido, mas a confiança que ele inspirava e a lealdade que professava o tornaram uma parte indispensável da ascensão de Donald Rumsfeld ao poder. Na década de 1970, Rumsfeld se tornou o chefe do Estado-maior da Casa Branca de Gerald Ford e Cheney foi o seu vice. Naquela época, Cheney recebeu um codinome do serviço secreto que resumia perfeitamente o seu temperamento: "Backseat" [literalmente "assento traseiro" (no avião, automóvel); no sentido metafórico, "posição secundária, sem importância]. Mas a Halliburton percebia o valor de Cheney. Com ele na posição de diretor executivo, a empresa conquistou uma considerável influência em Washington. Até a indicação de Cheney no outono de 1995, os resultados dos negócios da Halliburton tinham sido razoáveis. Após uma perda de 91 milhões de dólares em 1993, a companhia voltara a ter lucro em 1994 com um lucro operacional de 236 milhões de dólares. Com a nova receita proveniente do Logcap, a Halliburton e a sua subsidiária de primeira classe, a KBR, voltaram a progredir. Embora o Logcap só estivesse gerando
modestos rendimentos, ele conseguiu reintegrar a KBR na máquina militar. A grande oportunidade surgiu em dezembro de 1995, apenas dois meses depois de Cheney ter assumido a posição de diretor executivo, quando os Estados Unidos enviaram milhares de soldados para os Bálcãs como uma força mantenedora da paz. Como parte da Operação Esforço Conjunto, a KBR foi enviada para Bósnia e Kosovo para fornecer apoio ao exército nas suas operações na região. O alcance e a dimensão da tarefa eram imensos. Um exemplo do trabalho que a KBR realizou nos Bálcãs foi o Acampamento de Bondsteel. O acampamento era tão grande que o Departamento geral de contabilidade (GAO) o comparava a "uma pequena cidade". A companhia providenciou a geração de energia, construiu estradas, o sistema de abastecimento de água, a rede de esgoto, moradia, um aeroporto para helicópteros, uma cerca de perímetro, torres de proteção e um centro de detenção. Bondsteel é a maior e mais dispendiosa base do exército desde o Vietnã. Ocorre também que ela está construída no trajeto do gasoduto transbalcânico Albanian-Macedonian-Bulgarian Oil (Ambo), o gasoduto que liga a região do Mar Cáspio, rica em petróleo, ao resto do mundo. O projeto inicial de viabilidade para o Ambo foi executado pela KBR. O fluxo de caixa da KBR proveniente do Logcap cresceu rapidamente durante a gestão de Cheney, saltando de 144 milhões de dólares em 1994 para mais de 423 milhões em 1996, e os Bálcãs eram a força motriz. Já em 1999, o exército estava gastando pouco menos de um bilhão de dólares por ano no trabalho da KBR nos Bálcãs. O GAO publicou um relatório em setembro de 2000 denunciando graves problemas de controle de custos na Bósnia, mas a KBR mantém o contrato até hoje. Nesse ínterim, Cheney estava ocupado expandindo os negócios da Halliburton em outras partes do mundo. "O fato de que temos de
escolher entre os nossos interesses comerciais e outros interesses é uma falsa dicotomia", disse ele ao Cato Institute [Fundação de pesquisas de diretivas públicas] em 1998, falando abertamente contra as sanções econômicas impostas pelo governo Clinton contra os países suspeitos de atividade terrorista. "O nosso governo se tornou um entusiasta das sanções", continuou ele. Cheney se opunha em particular às sanções contra a Líbia e o Irã, dois países com os quais a Halliburton, independentemente disso, já estava fazendo negócios. No entanto, mais desconcertante ainda foi o trabalho que a companhia realizou no Iraque. No intervalo entre os períodos que exerceu o cargo de secretário de Defesa e vice-presidente, Cheney esteve no comando da Halliburton quando ela estava contornando as rígidas sanções da ONU, ajudando a reconstruir o Iraque e enriquecendo Saddam Hussein. Em setembro de 1998, a Halliburton fechou uma fusão de ações no valor de 7,7 bilhões de dólares com a Dresser Industries (a companhia que ofereceu a George H. W. Bush o seu primeiro emprego). A fusão tornou a Halliburton a maior empresa de prestação de serviços do mundo de campos petrolíferos. Ela também trouxe consigo duas subsidiárias estrangeiras que estavam fazendo negócios com o Iraque através do controvertido programa Petróleo por Comida. As duas subsidiárias, a Dresser Rand e a Ingersoll Dresser Pump Co, assinaram contratos no valor de 73 milhões de dólares para equipamento de produção de petróleo. Cheney declarou à imprensa em 2000, durante a sua campanha à vice-presidência, que adotava a "firme política" de não fazer negócios com o Iraque. Ele admitiu ter negociado com o Irã e a Líbia, mas "o Iraque é diferente", disse ele. Cheney fez a seguinte declaração ao canal de televisão ABC: "Não fizemos nenhum negócio no Iraque desde que a ONU impôs sanções àquele país em 1990, e eu tinha uma política permanente de que não faria isso".
Três semanas depois, Cheney foi obrigado a admitir os vínculos de negócios existentes, mas alegou desconhecimento. Ele disse aos repórteres que não tinha conhecimento das operações da Dresser no Iraque e que, além disso, a Halliburton tinha se desfeito de ambas as empresas em 2000. Nesse meio tempo, as companhias tinham feito negócios no Iraque de mais 30 milhões de dólares antes de serem vendidas. A fusão com a Dresser deu a impressão de ser a realização que coroou os anos que Cheney passou na Halliburton. Mas Cheney deixou para a Halliburton vários outros legados. David Gribbin, exchefe de Estado-maior de Cheney, tomou-se o principal lobista da Halliburton em Washington. O almirante Joe Lopez, ex-comandante da sexta frota, foi contratado como especialista em operações do governo da KBR. A equipe de Cheney reunida fazia da Halliburton uma das principais empresas que prestavam serviços ao governo. A KBR tinha quase duplicado os seus contratos com o governo, de 1,2 bilhões de dólares nos cinco anos que antecederam. a.participação de Cheney para 2,3 bilhões durante os cinco anos em que foi diretor executivo da companhia. A Halliburton subiu vertiginosamente na lista das principais prestadoras se serviços, indo do 73º. para o 18º. lugar. Depois dos atentados de 11 de setembro, a KBR pôs-se a trabalhar na guerra contra o terrorismo, construindo as mil celas de detenção na Baía de Guantánamo, Cuba, destinadas a pessoas suspeitas de terrorismo, a um custo de 52 milhões de dólares. O empreendimento era certamente familiar para a KBR: ela fizera exatamente a mesma coisa 35 anos antes no Vietnã. Quantos as tropas foram mobilizadas e enviadas para o Meganistão, a KBR as acompanhou. Construiu bases americanas em Bagram e Kandahar por 157 milhões de dólares. Como fizera no passado, a KBR já tinha homens na região antes de as primeiras tropas chegarem à maioria dos locais de destino. Os seus funcionários prepararam o terreno, alimentaram os soldados e levaram embora o lixo. E o
fizeram como os militares teriam feito: com rapidez e eficiência. O trabalho foi bom, os rendimentos sólidos, mas nada que se parecesse com o golpe de sorte que a companhia experimentara nos Bálcãs. Além disso, a Halliburton obteve o contrato para restaurar a infraestrutura de petróleo do Iraque, contrato este para o qual não houve uma concorrência. Ele foi entregue à Halliburton por conveniência, pois ela tinha elaborado o plano para combater os incêndios dos poços de petróleo (todos, nessa época, já extintos). Apesar do novo negócio, a sorte da Halliburton e da sua subsidiária não melhorou. As ações que Cheney vendeu quase na cotação máxima, quando retomou a carreira política em 2000, despencaram a partir de então. O culpa foi principalmente da fusão com a Dresser em 1998, que sobrecarregou a companhia com débitos com amianto que acabaram levando duas subsidiárias da Halliburton - uma delas a KBR - a entrar com pedido de falência. Quando Cheney deixou a empresa para se tomar o parceiro de Bush na campanha, ele levou consigo uma indenização generosa, além das ações que foi obrigado a vender por 30 milhões de dólares. Em setembro de 2003, Cheney afirmou enfaticamente: "Desde que deixei a Halliburton para me tomar o vice-presidente de George Bush, rompi todos os vínculos com a companhia e me livrei de todos os meus interesses financeiros. Há mais de três anos não tenho nenhum tipo de participação financeira na Halliburton". O Serviço de Pesquisa do Congresso (CRS), uma agência apartidária que investiga questões -políticas a pedido de altos funcionários eleitos, afirma algo diferente. Cheney vem recebendo um salário diferido da Halliburton desde que deixou a empresa. Em 2001, ele recebeu 205.298 dólares. Em 2002, retirou 162.392 dólares. Existe uma programação para que receba pagamentos semelhantes até 2005 e ele tem uma apólice de seguro em vigor para proteger os pagamentos caso a Halliburton venha a falir. Além disso, Cheneyainda possui na Halliburton uma opção de compra de
433.333 ações, direito que ele ainda não exerceu. Ele concordou em doar quaisquer lucros que venha a ter para instituições de caridade.
"Eis O novo perfil das Forças Armadas dos Estados Unidos: Lynndie England" New York Observer PHILP WEISS, 31 de maio de 2004 A condenação de Lynndie England, aquela que cometeu abuso contra os prisioneiros, de certa maneira ecoa a exaltação de Jessica Lynch um ano atrás. As duas moças nasceram em pequenas cidades de West Virginia. Os privilegiados que emitem opiniões tão violentas a respeito das moças não são colegas delas; eles nunca tomariam a decisão de se alistar. Apesar do horror de Abu Ghraib, as descrições das pessoas pobres, que estão travando a guerra para ó restante de nós, soam um tanto arrogantes e pouco convincentes. A questão de classe obscureceu a guerra desde o início, mas tem recebido mais atenção recentemente. Ela é o impulso que aciona várias iniciativas no Capitólio e um dos temas do documentário contra a guerra de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro: "É um batalhão da pobreza", declarou RickJahnkow, que faz um recrutamento anti-militarista na Califórnia. "O vasto número de pessoas neste país que estão fugindo do recrutamento não são membro da elite e sim pessoas de classe média ou da classe média alta." A questão começou a se propagar politicamente no ano passado. "Estávamos examinando as baixas do Texas no site do Departamento de Defesa e nos demos conta de que 'Nossa, esses jovens vêm de cidades do Texas de que nunca ouvimos falar"',
declarou Robert G. Cushing, professor de sociologia aposentado de Austin que trabalha para o American-Statesman de Austin. "Não se trata apenas de cidades pequenas e sim de cidades pequenas que não se encontram nem mesmo nas proximidades das regiões metropolitanas". O jornal realizou um estudo dos números e descobriu que enquanto um em cada cinco americanos mora em municípios nãometropolitanos, quase uma em cada três baixas no Iraque estavam relacionadas com pessoas provenientes desses municípios. Alguns lugares não possuem cidades com mais de 50 mil habitantes e a distância a que se encontram das grandes cidades não lhes permite trabalhar nesses centros e voltar para casa todos os dias. As entrevistas que o jornal fez com recrutas desses lugares revelaram que eles não conseguem encontrar bons empregos nas suas comunidades e sentem que a educação universitária está fora das suas possibilidades, pois não poderiam arcar com o custo de se mudar para uma comunidade perto de uma faculdade estadual. O deputado Ike Skelton de Missouri, o membro de mais alto nível da minoria da Comissão das Forças Armadas da Câmara dos Deputados, foi ainda mais enfático. No último outono ele declarou que 43,5% dos soldados mortos no Iraque eram provenientes de cidades e lugarejos rurais com uma população inferior a 20 mil habitantes. Esses jovens tendem a ser pessoas brancas da região rural. Os negros e os de descendência latino-americana das áreas urbanas de baixa renda também foram desproporcionalmente afetados. "Ouvi pessoas dizendo: 'Esses garotos querem lutar, eles se alistaram"', declarou Charles Rangel, que há muito é membro do Congresso. "Mas eu vi esses jovens partirem para o campo de treinamento e depois para o Iraque, e vou lhes dizer que eles precisam do sentimento de importância que o uniforme proporciona. E eles estão divididos. Eles dizem: 'Deputado, continue a lutar contra esta guerra, mas não se preocupe comigo.
Vou deixá-Io orgulhoso. Vou ser um segundo-sargento bom pra diabo"'. O deputado Rangel se declarou a favor do recrutamento como uma forma mais justa de dividir o risco. O Senador Ernest Hollings da Carolina do Sul imediatamente se manifestou. "Hollings disse o seguinte: 'Os meus caipiras estão se ferrando"', relembrou o deputado Rangel. "Nessas pequenas cidades, a pessoa é importante se tem algumas listras no ombro ou barras bordadas no colarinho." O assunto adquiriu uma comoção adicional na Carolina do Sul no ano passado, quando três rapazes de uma escola do segundo grau de uma pequena cidade, Orangeburg- WIlkinson, morreram no Iraque, semeando a desordem na comunidade. Quantas escolas de segundo grau em Westchester ou Montgomery County, em Maryland, possuem registros semelhantes? Nunca ouvimos falar em nenhum. Embora a proposta do recrutamento não tenha avançado nem um pouco no Capitólio, a questão maior da justiça obteve um grupo de adeptos nos distritos "vermelhos", com maioria republicana, fazendo menção à divisão entre o vermelho e o azul na última eleição presidencial. Um republicano conservador, o senador James Inhofe de Oklahoma, endossou o apelo para o recrutamento, ao passo que outro, Chuck Hagel de Nebraska, preconizou um debate nacional sobre a questão. Nesse ínterim, Skelton pediu ao Departamento geral de contabilidade que estude a composição socioeconômica das forças armadas. Michael Moore também apareceu no Capitólio. Uma cena do seu novo documentário mostra o cineasta e provocador abordando três congressistas do lado de fora do Capitólio, tentando recrutar os filhos deles para as forças armadas. Segundo as pessoas que assistiram ao filme, os congressistas se afastam estupefatos ou dizendo bobagens.
O assunto vai bem além do Congresso. Rick Jahnkow, que é contra os recruta dores, ressalta que é possível encontrar jovens pertencentes ao ROTC [Corpo de Treinamento de Oficiais da Reserva] em todas as escolas de segundo grau de San Diego, exceto nas três escolas situadas na área abastada do norte da cidade. A mesma regalia ocorre nas cidades do nordeste do país. A estatística mais surpreendente apresentada ao Departamento de Defesa por uma empresa prestadora de serviços na área de recursos humanos (humrro.org/poprep2002) é que, no final da era do Vietnã, o nordeste do país fornecia 22% dos membros das forças armadas. Hoje, este número diminuiu para 14%. Ao longo do mesmo período, o percentual de alistamento do Sul aumentou. Entra Jessica Lynch. "Um grande número de comunidades parece apresentar as seguintes escolhas: vá trabalhar no Burger King ou entre para o exército, onde você pode ter um plano de carreira, ganhar dinheiro para freqüentar a faculdade e obter treinamento em uma carreira", declarou Nancy Lessin, membro do grupo Fanu1ias çlos Militares Contra a Guerra. A resposta óbvia para esse desequilíbrio é que as forças armadas sempre funcionaram dessa maneira, como uma ponte para que grupos carentes de poder ascendessem à classe média. Ela desempenhou este papel para as pessoas de etnia branca durante a Segunda Guerra Mundial e para os negros nas últimas gerações. Os pobres sempre estarão super-representados nas linhas de frente e os instruídos quase sempre conseguirão funções burocratas. No entanto, a diferença no Iraque é que a seleção dos pobres está mais absoluta do que nunca. De fato, uma grande quantidade de pessoas abastadas conseguiu se livrar da convocação durante a guerra do Vietnã. Desta feita, elas nem mesmo precisam se preocupar com isso. Quando a deputada Susan Tauscher,
democrata moderada que atuava nas ricas comunidades das colinas nas adjacências de Oakland, preconizou um aumento das forças militares no Iraque e apresentou um projeto de lei que buscava um recrutamento mais agressivo, ela podia se mostrar confiante de que esse aumento de pessoal não sairia da sua parte do eleitorado, formado pelas donas de casa dos bairros de classe média que passam o dia levando os filhos para os jogos de futebol e atividades esportivas em geral. E embora a esquerda freqüentemente afirme que o Iraque é uma repetição do Vietnã, a grande melhora a partir do ponto de vista das forças armadas é a passividade daqueles que se opõem à guerra. As pesquisas de opinião indicam que a oposição está difundida. No entanto, os campus das universidades estão quietos. Não têm havido grandes demonstrações contra a guerra. "Todas as demonstrações são feitas por telefone", declarou Emile Milne, uma das assistentes do congressista Rangel. Apesar de toda a veemência que exibem contra a guerra, os ricos não estão acordando no meio da noite com pesadelos sobre os seus filhos. Se os jovens privilegiados fossem chamados a fazer o maior sacrifício que a sociedade exige dos seus cidadãos, esta guerra provavelmente acabaria bem rápido. "As decisões a respeito desta guerra estão sendo feitas por pessoas que não correm nenhum risco pessoal", declarou Nancy Lessin (que afirmou que em três ocasiões a sua organização tentou falar com John Kerry sobre a guerra e, nas três ocasiões, ele não conseguiu arranjar tempo para o encontro). Ou então como declarou o congressista Rangel: "É fácil tomar a decisão de envolver-se com uma guerra quando não se espera uma grita". O recrutamento da pobreza reflete a grande divisão na nova economia. As pessoas de nível superior consideram um desperdício o fato de seus filhos se alistarem nas forças armadas, pois devem receber um treinamento de alto nível para participar na
economia global. Nesse ínterim, o alto risco pode ser terceirizado e entregue ao imigrante da Guatemala ou ao jovem do gueto que não consegue arranjar emprego. E para garantir a oferta, as forças armadas oferecem vantagens adicionais de milhares de dólares aos que se alistarem, enquanto os editorialistas que são a favor de um maior envolvimento dos militares preconizam "melhores incentivos" e "uma melhor comercialização" para os que se alistam. Deve haver uma maneira melhor de definir a cidadania. O deputado Rangel serviu (e ficou aterrorizado) na Coréia e embora tampouco tenha entendido a missão naquela época, ele nunca esqueceu as lições de democracia que os militares lhe proporcionaram: "Naquele época, tínhamos a capacidade de reunir pessoas de classe e raças diferentes, e obrigá-Ias a se respeitarem mutuamente". A guerra do Iraque substituiu esse sentimento de uma comunidade democrática pelo desrespeito por aqueles que não conseguem participar da nova economia. E não pensem que os cidadãos das oligarquias árabes não percebem este fato. Gostamos de pensar que estamos exportando democracia. Até agora, estamos exportando um capitalismo brutal. Este espaço estava originalmente reservado para um artigo do New York Times. No dia 26 de maio de 2004, em uma decisão sem precedentes a respeito -da sua cobertura do Iraque, o New York Times admitiu que parte da sua "cobertura não fora tão rigorosa quanto deveria ter sido". O jornal também admitiu falha nas informações que divulgou sobre a principal fonte do programa de armas de destruição em massa e os seus vínculos com a Al-Qaeda: "O Times nunca verificou a veracidade dessa fonte e tampouco as tentativas de confirmar as suas alegações."
Eu quis imprimir aqui a admissão de culpa do jornal. Era de se esperar que, se o Times realmente estivesse arrependido do entusiasmo com que defendeu a guerra do Iraque almejada por Bush, ele teria permitido que eu a reeditasse aqui porque, como George W Bush sabe muito bem, é difícil pedir desculpas. Especialmente se estávamos errados.
"Por que a mídia deve a vocês um pedido de desculpas com relação ao Iraque" The Free Lance-Star (Fredericksburg, Virgínia) RICK MERCIER, 28 de março de 2004 A mídia parou de festejar o aniversário da invasão do Iraque, mas esqueceu-se de dizer uma coisa: sentimos muito. Sentimos ter permitido que afirmações infundadas tenham orienta do as nossas reportagens. Sentimos ter menosprezado especialistas que questionaram as acusações da Casa Branca contra o Iraque. Sentimos ter deixado que um bando de desertores do Iraque que agiam em causa própria nos fizessem de bobos. Sentimos ter nos deixado seduzir pelo desempenho de Colin Powell nas Nações Unidas. Sentimos não ter pressionado o governo antes da guerra, quando realmente importava. Talvez o nosso desempenho seja melhor na próxima guerra. É claro que é absurdo receber esse pedido de desculpas de uma pessoa que ocupa uma posição tão baixa na hierarquia da mídia. Na verdade, vocês o deveriam estar recebendo dos editores e repórteres das publicações que definem as notícias, como The New York Times e o Washington Posto Foi a elite da mídia
impressa que mais os traiu, porque é nessas instituições que vocês têm que confiar e que lhes permite acompanhar os políticos em Washington (os noticiários da televisão não são capazes de realizar o tipo de reportagem profunda e detalhada dos jornais e das revistas - quando eles estão fazendo adequadamente o seu trabalho). Nos últimos meses, o Times, o Post e outras publicações da mídia impressa têm feito perguntas a respeito da qualidade das informações pré-guerra sobre o Iraque, e sobre a possibilidade de o governo ter usado essas informações de um modo inadequado para convencer os americanos e o resto do mundo de que a guerra era necessária. No entanto, a maioria desses veículos da mídia também precisam fazer um auto-exame. Desde a reportagem terrivelmente distorcida do Times de autoria da repórter Judith Miller (os seus pecados, de muitas maneiras, foram bem piores do que as do repórter plagiador e criador de fatos Jayson Blair) à desconcertante (e tendenciosa?) avaliação das notícias pelos editores do Post, os jornalistas das publicações de maior influência dos Estados Unidos ajudaram a garantir que a maioria de vocês seria mal informada sobre o Iraque e a natureza da ameaça que ele representava para vocês. Estenógrafos ou jornalistas? A principal razão pela qual vocês foram mal informados é que a maior parte da mídia impressa estava excessivamente disposta a acreditar na Casa Branca. Uma pesquisa apresentada mais cedo neste mês pelo Center for International Security Studies [Centro de estudos de segurança internacional] da University of Maryland concluiu que grande parte das reportagens a respeito do Iraque e das armas de destruição em massa "relatavam taquigraficamente a perspectiva do representante do governo" e ofereciam "muito pouco exame crítico da maneira como as autoridades formulavam
os eventos, as questões, as ameaças e as opções políticas". Muito poucas histórias, afirmou a pesquisa, incluíam perspectivas que contestavam a linha oficial. Um estudo publitado no mês passado no The New York Review of Books chegou a uma conclusão semelhante. "No período que antecedeu à guerra, os jornalistas americanos confiavam demais em fontes simpatizantes do governo. Aqueles com opiniões divergentes - e não eram poucos - eram simplesmente excluídos", escreve Michael Massing, editor colaborador da Columbia Journalism Review, autor do estudo. Até mesmo grande parte das reportagens investigativas e de empreendimento do período que antecedeu a guerra era moldada pela suposição de que as fontes a favor da guerra estavam acima de um intenso escrutínio. Este foi particularmente o caso dos desertores do Iraque, em quem tanto o governo quanto a mídia se apoiaram fortemente para pintar a imagem da ameaça iraquiana. Massing observa que um vigoroso debate estava tendo lugar dentro dos círculos do serviço de inteligência com relação à veracidade de muitas das afirmações dos desertores, mas uma pequena parte do que estava acontecendo chegava aos leitores. Em vez disso, a mídia impressa foi repetidamente ludibriada por desertores que estavam na folha de pagamento do Pentágono e que estavam ativamente passando para os crédulos repórteres as mesmas desinformações que estavam espalhando para o governo. Os jornalistas Jonathan Landay e Tish Wells da Knight Ridder relataram mais cedo este mês que o principal grupo de exilados do Iraque, o Congresso Nacional do Iraque, transmitiram ao Times, ao Post, à Associated Press (a principal fonte de notícias mundiais e nacionais deste jornal) e a outros veículos da mídia impressa numerosas alegações infundadas a respeito do regime do Iraque, que resultaram em mais de 100 artigos no mundo inteiro. Os correspondentes da Knight Ridder descobriram que esses artigos faziam afirmações que ainda não foram confirmadas, mas
que ajudaram a formar os argumentos do governo a favor da invasão. Eles incluíam alegações de que o Iraque possuía instalações móveis de armas biológicas; que tinha mísseis Scua carregados com veneno, prontos para atacar Israel; que Saddam estava agressivamente em busca de armas nucleares e que tinha colaborado com a Al-Qaeda. A diva da desinformação do Times, Judith Miller, tinha uma inclinação acrítica pelo Congresso Nacional Iraquiano (INC) e o seu líder, Ahmed Chalabi. Na primavera passada, o colunista de mídia do Post Howard Kurtz conseguiu um e-mail interno do Times no qual ela escrevera o seguinte: "Há mais ou menos dez anos faço a cobertura de Chalabi. Ele forneceu a maioria das notícias exclusivas da primeira página sobre as armas de destruição em massa para o nosso jornal". É difícil imaginar uma admissão mais censurável, não apenas à luz de uma visão retrospectiva como também devido às dúvidas que muitos analistas da área da inteligência (tanto de dentro quanto de fora do governo) tinham antes da invasão a respeito da qualidade das informações do INC. O Times não pode argumentar que era impossível obter opiniões discordantes dos que estavam dentro do serviço de inteligência dos Estados Unidos. A Knight Ridder foi capaz de estabelecer fontes entre funcionários de carreira do serviço de inteligência que estavam consternados com muitas das declarações do governo. Em uma entrevista com Massing para o seu estudo, John Walcott, chefe do escritório de Washington da Knight Ridder, explicou a decisão do serviço de notícias de usar essas fontes de nível mais baixo. Essas pessoas estavam mais bem informadas a respeito dos detalhes do serviço de inteligência do que as que ocupam um lugar mais elevado na hierarquia. Elas estavam profundamente perturbadas com a atitude do governo, que percebiam como uma
adulteração deliberada das informações, de uma maneira que variava entre exagerar o caso e inventar totalmente os fatos. Essa abordagem levou a Knight Ridder a produzir algumas reportagens precisas e equilibradas, mas os especialistas em inteligência de nível intermediário continuaram a ser uma peça perdida do quebra-cabeça na maior parte das reportagens da mídia impressa. O grande show de Powell A mídia teve acesso a outras peças importantes do quebra-cabeça, mas minimizou a importância delas ou simplesmente não lhes deu atenção. Tomemos Hussein Kamel, genro de Saddam, que foi o chefe de armas do Iraque até desertar em 1995. Ele era citado pelo vicepresidente Dick Cheney, pelo secretário de Estado Colin Powell e praticamente por todos os outros defensores da invasão como uma fonte importante de informações sobre o arsenal de Saddam. No entanto, enquanto ele descrevia todas as terríveis armas de Saddam durante os seus interrogatórios pós-deserção, Kamel acrescentou um pequeno detalhe que o governo e os seus portavozes se esqueceram de mencionar: todas as armas proibidas do Iraque tinha sido destruídas. A revista Newsweek obteve a transcrição da entrevista na qual Kamel fez esta afirmação e publicou-a cerca de duas semanas antes do início da invasão, mas a revista não conferiu à história o destaque que ela merecia. Quanto aos outros veículos da mídia impressa americana, somente o Post e o Boston Globe selecionaram a história, segundo o grupo de cães de guarda da mídia, Fairness and Accuracy in Reporting [Justiça e precisão nas reportagens]. Os dois jornais publicaram as notícias sem nenhum destaque dentro da seção de notícias. O exemplo de Kamel ilustra um problema comum que ocorreu nas reportagens anteriores à guerra: até mesmo quando os repórteres
realizaram um bom trabalho de investigação, este com freqüência era posto de lado. Walter Pincus, redator da equipe do Post, disse a Massing que os editores do jornal "passaram por uma fase na qual não publicavam na primeira página notícias que pudessem influenciar a situação". O artigo de Massing não deixa claro quando esta fase pode ter ocorrido, mas pelo menos parte dela deve ter coincidido com o período posterior ao discurso de Powell nas Nações Unidas e anterior ao início da invasão. No dia que se seguiu ao grande show de Powell, um editorial no Post intitulado "Irrefutável" declarou que era "difícil imaginar que alguém pudesse duvidar que o Iraque possuísse armas de destruição em massa". As páginas de notícias do Post, bem como as de outras publicações de elite, pareciam estar operando durante meses com base nessa suposição, mas o espetáculo de Powell fechou a questão. No entanto, o argumento de Powell dava margem a um grande questionamento: o depósito de munições que supostamente armazenava armas proibidas; os supostos laboratórios móveis de armas biológicas; os tubos de alumínio que se dizia terem sido comprados para promover o programa de armas nucleares do Iraque; e as afirmações da existência de uma ligação entre Saddam e a Al-Qaeda. Até mesmo as conversas gravadas entre militares iraquianos que Powell apresentou como prova de que o regime estaria tentando esconder armas proibidas gerou ceticismo entre alguns especialistas que conheciam o protocolo de segurança do Iraque. (Ver o documentário de Robert Greenwal, Uncovered: The Whole Truth About the Iraq War [Descoberta toda a verdade sobre a guerra do Iraque para um exame cuidadoso da apresentação de Powell.) Mas a maior parte da comunicação de massa não estava interessada em chamar muita atenção para esses pontos fracos do argumento de Powell ou em realizar um trabalho de investigação
adicional para esmiuçar as afirmações do secretário de Estado. Em vez disso, eles evitaram riscos e fomentaram a marcha em direção à guerra. "Fomos enganados" No início deste mês, o presidente da Polônia, país que possui um contingente de mais de 20 mil soldados no Iraque, declarou o seguinte: "Fomos enganados" pelo governo na corrida para a guerra. Está claro agora que a parte mais importante da mídia ajudou a Casa Branca a navegar durante essa longa e estranha viagem. Mas algumas coisas devem ditas em defesa da mídia. Em primeiro lugar, não é fácil fazer perguntas difíceis no meio de uma histeria de guerra, e aqueles que fazem um bom trabalho serão atacados pelos super-patriotas. (posso confirmar a partir da minha experiência pessoal que alguns poderão até pedir a sua cabeça.) Em segundo lugar, alguns jornalistas convencionais de fato fizeram as perguntas difíceis quando era importante. Mas um enorme número de repórteres nada estavam questionando e agiam como se fossem pouco mais do que um dente na engrenagem da máquina de propaganda da Casa Branca. O mais perturbador é que alguns desses jornalistas ainda não entendem o que está acontecendo. Quando Massing perguntou a Miller do Times - uma repórter investigativa na área da inteligência - por que ela não incluía nas suas histórias mais comentários de especialistas que contestavam as afirmações da Casa Branca, ela respondeu: "A minha função não é avaliar as informações do governo e ser uma analista independente de inteligência. A minha função é dizer ao leitores do The New York Times o que o governo achava do arsenal do Iraque". Mas até uma repórter principiante deveria saber que se o governo lhe dizer que o céu é azul; a obrigação dela é verificar se ele não é
vermelho, cinza ou preto. E é preciso exercer fortemente o ceticismo quando o assunto em questão é se o país entrará em guerra. Ao deixar de empregar totalmente a faculdade de pensamento crítico, Miller e muitos dos seus colegas na elite da mídia impressa não apenas traíram os seus leitores durante a contagem regressiva para a invasão do Iraque, como também traíram a nossa democracia. E não há desculpa para essa falha. A única coisa que tem lugar aqui é um pedido de desculpas. Rick Mercier é escritor e editor do The Free Lance-Star. Ele pode ser contactado através do endereço
[email protected]
"Por que a mídia nos traiu no Iraque" ORVILLE SCHELL No dia 26 de maio de 2004, quando os editores do New York Times publicaram uma admissão de culpa devido às reportagens unilaterais do jornal sobre as armas de destruição em massa e a guerra do Iraque, eles admitiram que "em vários casos a cobertura não fora tão rigorosa quanto deveria ter sido". Também comentaram que a partir de então vieram a "desejar que tivéssemos tido uma maior iniciativa no sentindo de reexaminar as afirmações" feitas pelo governo Bush. Resta-nos no entanto querer saber por que o Times, como muitos outros veículos da mídia deste país, era tão pouco cético com relação às justificativas do governo a favor da guerra? Como uma política analisada de um modo tão ineficaz, baseada em fontes de informação espúrias no exílio, pode ter sido tão jubilosamente aceita, até mesmo adotada, por tantos membros da mídia? Em resumo, o que aconteceu ao tão exaltado papel da impressa, tão cuidadosamente explicitado pelos Pais da Pátria, de "cão de guarda" céptico do governo?
Não há nada como uma máquina bem lubrificada que pára de repente para nos ajudar a detectar problemas. Agora que o governo Bush está totalmente na defensiva e pessoas zangadas no Pentágono, na ClA e em outras parte da burocracia de Washington estão deixando vazar documentos secretos e fazendo denúncias aos repórteres, a nossa imprensa voltou a ter um aspecto mais reconhecivelmente jornalístico. Mas este fato não deve nos impedir de perguntar de que maneira uma imprensa "independente" em um país "livre" pode ter ficado paralisada por tanto tempo. Ela não apenas deixou de fazer uma investigação séria nas justificativas do governo a favor da guerra, como também praticamente não levou em consideração as miríades de vozes na imprensa online, alternativa e mundial que procuravam realizar essa investigação. Não era certamente nenhum segredo o fato de que vários dos nossos aliados ocidentais (além de outros países), administradores de várias ONGs e figuras como Mohamed EI Baradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, e Hans Blix, diretor da Comissão de Monitoramento, Verificação e Inspeção da ONU tinham opiniões muito diferentes sobre a "ameaça do Iraque" antes da guerra. Parecia que poucos na nossa mídia se lembravam da veemente advertência de I. F. Stone: "Se vocês quiserem saber coisas sobre os governos, basta conhecerem duas palavras: governos mentem". As vozes discordantes dos meios convencionais estavam amplamente enterradas nas últimas páginas dos jornais, ausentes das páginas oped ou confinadas às margens da mídia, sendo-lhes portanto negado o tipo de "respeitabilidade" que um importante veículo da mídia é capaz de oferecer. Como as reportagens sobre os antecedentes da guerra, a guerra em si e as suas conseqüências vividamente demonstraram, o nosso país está hoje dividido em uma estrutura de mídia de dois níveis. O nível mais baixo, que abrange as publicações especializadas, os veículos de mídia alternativos e os sites da
Internet, abriga o espectro mais amplo de pontos de vista. Antes que o esforço de guerra começasse a se desenredar na primavera de 2004, o nível superior, formado por um número relativamente pequeno dos principais veículos de radiodifusão, jornais e revistas, possuía uma amplitude muito mais limitada de visões críticas, geralmente acatando a visão de mundo do governo Bush. Opiniões divergentes vindas de baixo raramente exsudavam para cima. Michael Massing ressaltou recentemente na New York Review of Books que as insinuações do governo Bush de que as críticas não eram patrióticas - o secretário de imprensa da Casa Branca Ari Fleischer vergonhosamente advertiu os repórteres: "É melhor que as pessoas tomem cuidado com o que dizem" - exerceu um efeito inegavelmente arrepiante na mídia. No entanto, outras formas de pressão também inibiam a imprensa com eficácia. O Presidente realizou poucas entrevistas coletivas à imprensa e raramente aceitou manter diálogos abertos. O governo sempre foi, em primeiro lugar, reservado e disciplinado e usava com habilidade a ameaça de ter o acesso negado como uma maneira de intimidar os repórteres que mostravam sinais de independência. Para um repórter, isso significava não fazer mais entrevistas individuais, deixar de receber dicas especiais e informações que porventura vazassem, além de ser preterido nos períodos de perguntas e respostas das entrevistas coletivas à imprensa. Tudo isso, sem mencionar ser excluído de eventos especiais e viagens importantes. Depois do início da guerra, por exemplo, dizia-se que Jim Wilkinson, texano de 32 anos que administrava o Centro de Mídia da Coalizão da Centcom em Qatar, repreendia os repórteres cuja matéria fosse considerada como sendo insuficientemente "favorável à guerra", e "advertiu um dos correspondentes em um tom ameaçador de que o nome dele e os de outros dois repórteres do jornal dele figuravam em uma lista". No mundo de governo
Bush, em que cooperar estava na ordem do dia, as reportagens críticas representavam um bilhete rápido para o exílio. Um mundo da mídia em que a verdade se baseia na fé Dificilmente o impulso de controlar a imprensa nasceu com George W. Bush, mas o seu governo tem estado menos inclinado do que qualquer outro de que se tem lembrança a reproduzir a famosa declaração de Thomas Jefferson de que "Sendo a base do nosso governo a opinião do povo, o primeiro objetivo deve ser mantê-Ia; e se coubesse a mim decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não hesitaria um único momento em preferir a última opção". O governo Bush não apreciava muito o papel de cão de guarda da imprensa, em parte porque a sua própria busca da "verdade" se baseara em algo diferente do empirismo. Na verdade, ela entronizava um novo critério para a veracidade, a verdade "baseada na fé", às vezes corroborado pela inteligência "baseada na fé," pois para os representantes deste governo (e tampouco apenas os religiosos), a verdade parecia cair do céu, uma espécie de revelação divina que prescindia de qualquer escrutínio terreno. Para o nosso presidente, este era evidente e literalmente o caso. O jornal israelense Ha'aretz relatou que ele disse para Mahmoud Abbas, o primeiroministro palestino na época: "Deus me mandou atacar a Al-Qaeda e eu ataquei, e a seguir ele me ordenou que atacasse Saddam, e foi que fiz". Não é de causar surpresa, portanto, que esse presidente evitasse os jornais que se mostravam a favor de notícias de "fontes mais objetivas", a saber, da sua equipe. Ele se referiu freqüentemente a confiar em "reações instintivas" e a agir baseado em "pressentimentos". Tanto para ele quanto para o resto do seu governo, a tomada de decisões tem tido a tendência de avançar das conclusões para os indícios e não destes para as conclusões.
A leitura, os fatos, a história, a lógica e a complexa interação entre o eleitorado, a mídia e o governo foram relegados a papéis secundários no que ele chamou de formação de política "fundamentalista". Assim como o livre intercâmbio de informações desempenha um papel pequeno no relacionamento entre um crente fundamentalista e o seu Deus, ele também desempenhou um papel distintamente 'reduzido no nosso recente mundo paralelo de revelação política divina. Afinal de contas, se já conhecemos a resposta a uma pergunta, que outra utilidade tem mídia a não ser transmitir essa resposta? Por conseguinte, a tarefa que temos diante de nós é jamais ouvir e pregar o evangelho político entre os cépticos, transformando em evangelização um processo anteriormente interativo entre cidadão e líder. Embora no universo político de Bush a liberdade tenha sido interminavelmente exaltada como princípio, ela tem sido na prática pouco útil. Que papel uma imprensa livre poderia desempenhar quando a revelação proclama que o fato e as conclusões são predeterminados? Uma imprensa esquadrinhadora é logicamente encarada como sabotadora nessas condições, por se interpor entre o governo e aqueles cuja única verdadeira salvação reside em se tomarem parte de uma nação de verdadeiros crentes. Como a oposição (leal ou de outro tipo) era pouco necessária e respeitada, os circuitos de feedback de informações, nos quais a imprensa deveria ter desempenhado um papel crucial em qualquer democracia operante, deixaram de funcionar. As sinapses da mídia que normalmente transmitem avisos dos cidadãos para o governo simplesmente se fecharam. As redes de televisão continuaram a irradiar programas e os jornais continuam a ser publicados, porém, postos de lado e desprezados, eles se tomaram irrelevantes, exceto talvez pelo seu valor de entretenimento. Como a imprensa murchou, o governo, que já vive em um universo de auto-referência e auto-engano, foi privado da
capacidade de tomar conhecimento do perigo oriundo das suas próprias diretivas e, portanto, de fazer correções na sua linha de ação. Um universo no qual as notícias não terão importância Karl Rove, o principal consultor político do presidente, declarou diretamente ao redator Ken Auletta da revista New Yorker que os membros da imprensa "não representam o público mais do que outras pessoas representam. Não creio que vocês tenham uma função controladora de equilíbrio". Aulette concluiu que, aos olhos do governo Bush, a imprensa se transformara em pouco mais do que outro grupo de lobby com um interesse especial. Na verdade, o território que a mídia tradicional certa vez ocupou tem sido cada vez mais invadido pelo lobby, pela publicidade e pela propaganda do governo - sessões de fotos com a imprensa habilmente preparadas, comícios de propaganda cuidadosamente produzidos, "eventos" planejados de antemão, grandes ondas de anúncios de campanha e coisas semelhantes. Receosos de perder ainda mais "influência", acesso e os lucrativos rendimentos dos anúncios provenientes dessa criação de imagens políticas favoráveis, os principais veículos da mídia acharam que era do seu interesse financeiro sossegadamente se submeter a que esse rebaixamento do papel da mídia declara sobre a maneira como o nosso governo encara os seus cidadãos, os supostos soberanos do nosso país? Ele indica que "nós, o povo" somos vistos não como um eleitorado político que confere legitimidade aos nossos governantes, e sim como consumidores a quem a política é vendida, como os anunciantes vendem os produtos. Na tempestade de venda, manipulação, intimidação e "disciplina" que há anos tem sido a característica inconfundível de Bush, os veículos de notícias tradicionais se viram cada vez mais abafados, isolados e intimidados. Atacados como "liberais" e "elitistas", desprezados
como "criadores de caso" e "excessivamente críticos" (mesmo quando não estão criando problemas), eles foram chutados para escanteio, cada vez mais incertos e tímidos com relação ao seu papel cada vez menor no processo político. Acrescentemos ainda uma outra dinâmica (a qual os intelectuais das sociedades marxista-Ieninistas instantaneamente reconheceriam): os grupos aos quais é negada a legitimidade e que são desprezados pelo Estado tendem a interiorizar essa exclusão como uma forma de culpabilidade e, com freqüência, sentem um anseio abjeto e autônomo de recuperar a posição anterior praticamente a qualquer preço. Não é de causar espanto, portanto, que "a imprensa tradicional" tenha tinha dificuldades para organizar uma contra-narrativa convincente enquanto o governo conduzia para a guerra uma -nação aterrorizada e excessivamente confiante. Não apenas uma forma mutante de notícia livre de ceticismo conseguiu - pelo menos durante algum tempo - deixar desinformados grandes segmentos da população, como também corrompeu a capacidade de atuação dos altos funcionários. Com excessiva freqüência eles se viam olhando para um espelho na casa de espelhos do parque de diversões que eles mesmo criaram, e imaginavam estar vendo a realidade. Até mesmo a revista conservadora National Review observou que o governo Bush possui "a desalentadora capacidade de acreditar nos seus próprios relações-públicas". Neste mundo de "notícias" mutantes, os circuitos de informações transformaram-se em estradas de mão única; e o consultor em segurança nacional, o secretário de gabinete ou o procurador-geral tomou-se um polemista bem administrado e programado, com ordens para "ficar do lado do governo" e justificar o que este já fez ou está prestes a fazer. Como essas campanhas modernas de "dominar o ambiente da mídia", como o Pentágono gosta de dizer, empregam toda a sofisticação e a tecnologia desenvolvidas pelos
especialistas em comunicação desde que Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud, combinou pela primeira vez o conhecimento da psicologia com o marketing de mercadorias, as notícias de hoje são muito mais sedutoras do que as de antigamente. Na verdade, podemos assistir na FOX NEWS a suprema combinação de notícias com relações públicas, em uma fonte de propaganda habilidosa tão bem organizada que a maioria das pessoas não consegue distingui-Ia da realidade. Há mais de três anos temos sido governados por pessoas que não consideram que as notícias, no sentido tradicional, desempenhem um papel construtivo no nosso sistema de governo. No momento, elas recuaram por um instante, rechaçadas da linha de frente da verdade baseada na fé pelas erros crassos que cometeram. Mas não se enganem. A experiência assustadora delas terá seguimento se os Estados Unidos o permitirem. Para elas, o sucesso completo não significaria apenas a imprensa ter desistido do seu papel fundamental de cão de guarda, e sim, o que é um pensamento bem mais sombrio, que mesmo que ela se recusasse a fazer isso, que possa ser desviada para um lugar onde não teria mais importância. Quando a guerra do Iraque afundou em um atoleiro deserto, a imprensa pareceu despertar, atrasada, e adotar uma postura mais céptica com relação a um conjunto de diretivas do governo Bush que já estavam desmoronando. No entanto, se é preciso um episódio sangrento, dispendioso e catastrófico como a guerra no Iraque para que nos lembremos do papel importante que a imprensa desempenha na nossa democracia, algo está gravemente errado na maneira como o nosso sistema político passou a funcionar. Orville Schell é reitor da Graduate School of Journalism [Escola de Graduação em Jornalismo], University of California, Berkeley. Este trecho foi adaptado do prefácio de uma coleção de artigos do New
York Review of Books sobre a cobertura da IlÚdia no Iraque, de autoria de Michael Massing. Eles em breve serão publicados como um pequeno livro, Now They Tell Us [Agora eles nos contam] (The New York Review of Books, 2004).
"De novo não" A escritora indiana Arundhati Roy defende a idéia de que são as exigências do capitalismo global que estão levando o Ocidente a travar guerra com o Iraque. Manchester Guardian Weekly ARUNDHATI Roy, 9 de outubro de 2002 Recentemente, aqueles que têm criticado as ações do governo americano (inclusive eu) têm sido chamados de "anti-americanos". O anti-americanismo está em vias de ser consagrado uma ideologia. O termo é geralmente empregado pelo sistema americano para desacreditar e, não de um modo falso, mas diremos impreciso, definir os seus críticos. Quando uma pessoa é rotulada de anti-americana, é bem provável que ela será julgada antes de ser ouvida e o seu argumento se perderá no rebuliço do orgulho nacional ferido. O que exatamente o termo significa? Que você é anti-jazz? Ou que você se opõe à liberdade de expressão? Que você não adora Toni Morrison ou John Updike? Que você briga com as sequóias gigantes? Significa que você não admira as centenas de milhares de cidadãos americanos que marcharam contra as armas nucleares ou os milhares de opositores da guerra que obrigaram o governo a se retirar do Vietnã? Significa que você odeia todos os americanos?
Esta capciosa combinação de música, literatura, a estonteante beleza física do território, gs"prazeres comuns das pessoas comuns com a crítica à política externa do governo é uma estratégia deliberada e extremamente eficaz. É como um exército em retirada que procura proteção em uma cidade intensamente povoada, na esperança de que a possibilidade de atingir alvos civis desencoraje o fogo inimigo. Chamar uma pessoa de antiamericana, aliás, ser antiamericano, além de ser um ato racista é uma falha da imaginação. A incapacidade de ver o mundo sob aspectos diferentes daqueles que o sistema especificou para você. Se você não nos ama, você nos odeia. Se você não é bom, você é mau. Se você não está do nosso lado, é a favor dos terroristas. Ano passado, como muitas outras pessoas, cometi o erro de zombar da retórica que se seguiu ao atentado de 11 de setembro, descartando-a como ridícula. Compreendi que ela não é. Ela é na verdade um astuto esforço de recrutamento para uma guerra equivocada e perigosa. Todos os dias me surpreendo com a quantidade de pessoas que acredita que opor-se à guerra no Afeganistão equivale a apoiar o terrorismo. É claro que o horror do que se tomou conhecido como o atentado de 11 de. setembro está em primeiro lugar na mente de todo mundo, particularmente nos Estados Unidos. Quase 3 mil pessoas perderam a vida naquele fatal ataque terrorista. A dor ainda é profunda. A raiva ainda é intensa. E uma guerra estranha e mortífera está se alastrando pelo mundo. No entanto, cada pessoa que perdeu um ente querido sabe sem dúvida que nenhuma guerra, nenhum ato de vingança, amenizará a sua dor ou trará de volta os seus entes queridos. A guerra não pode vingar os que morreram. A guerra é apenas uma profanação brutal da memória deles. Alimentar outra guerra, desta feita contra o Iraque, manipulando a dor das pessoas, apresentando-a em programas especiais da
televisão patrocinados por empresas que vendem detergente ou tênis de corrida, significa desvalorizar a dor, privá-Ia de significado. Estamos presenciando a apropriação até mesmo dos sentimentos humanos mais privados para finalidades políticas. Um Estado fazer isso com o seu povo é algo terrível e violento. O governo dos Estados Unidos afirma que Saddam Hussein é um criminoso de guerra, um déspota militar cruel que praticou o genocídio contra o seu próprio povo. Esta é uma descrição relativamente precisa do homem. Em 1988, ele destruiu centenas de lugarejos no norte do Iraque e matou milhares de curdos. Hoje sabemos que naquele mesmo ano o governo dos Estados Unidos forneceu a ele 500 milhões de dólares em subsídios para que comprasse produtos americanos. No ano seguinte, depois de ele ter concluído com sucesso a sua campanha de genocídio, o governo americano duplicou o subsídio para um bilhão de dólares, além de fornecer a Saddam esporos de antraz de alta qualidade, helicópteros e material de dupla utilização que poderiam ser usados para fabricar armas. químicas e biológicas. Acontece que enquanto Saddam estava pondo em prática as suas piores atrocidades, os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra eram seus fones aliados. O que mudou então? Em agosto de 1990, Saddam invadiu o Kuwait. O seu pecado não foi tanto ter praticado um ato de guerra e sim o fato de ele ter agido de forma independente, sem a autorização dos seus senhores. Essa demonstração de independência foi suficiente para perturbar a equação de poder no Golfo. Foi decidido então que Saddam seria exterminado, como um bicho de estimação que perdeu a estima do dono. E se o Iraque tiver uma arma nuclear? Esse fato justifica um ataque preventivo dos Estados Unidos? Esse país possui o maior arsenal de armas nucleares do mundo. É o único país do planeta a ter efetivamente usado essas armas contra populações civis. Se é justificado o fato de os Estados Unidos lançarem um ataque
preventivo contra o Iraque, também é justificado que qualquer potência nuclear ataque qualquer outra preventivamente. A Índia poderia atacar o Paquistão ou vice-versa. Recentemente os Estados Unidos desempenharam um importante papel ao obrigar a Índia e o Paquistão a recuar quando a guerra era eminente. É tão difícil seguir o próprio conselho? Quem é culpado de uma moralização ineficaz? De pregar a paz enquanto trava guerra? Os Estados Unidos, que George Bush chamou de "a nação mais pacífica do mundo", têm estado todos os anos em guerra com um outro país nos últimos cinqüenta anos. As guerras nunca são travadas por razões altruístas. Elas o são, em geral, pela hegemonia, pelos negócios. E existe, é claro, o negócio da guerra. No seu livro sobre a globalização, The Lexus and the Olive Tree [O Lexus e a oliveira], Tom Friedman diz o seguinte: "A mão oculta do mercado nunca funcionará sem um punho oculto. O McDonald's não pode prosperar sem McDonnell Douglas. E o punho oculto que mantém o mundo seguro para que a tecnologia do vale do silício se desenvolva se chama o exército, a aeronáutica, a marinha e o corpo de fuzileiros navais dos Estados Unidos". Talvez esse parágrafo tenha sido escrito em um momento de vulnerabilidade, mas é sem dúvida a descrição mais sucinta e precisa do projeto de globalização corporativa que já li. Após o atentado de 11 setembro e a guerra contra o terrorismo, a mão e o punho ocultos tiveram o seu disfarce descoberto e temos uma visão clara da outra arma dos Estados Unidos - o livre mercado - descendo sobre o mundo em desenvolvimento, com um sorriso trincando que não sorri. A Tarefa Que Nunca Termina é a guerra perfeita dos Estados Unidos, o veículo perfeito para a interminável expansão do imperialismo americano. À medida que aumenta a disparidade entre ricos e pobres, o punho oculto do livre mercado tem o seu trabalho delineado. Empresas multinacionais em busca de negócios antiéticos que gerem lucros enormes não conseguem introduzi-Ios nos países em
desenvolvimento sem a conivência ativa da máquina do Estado. Hoje em dia, a globalização corporativa precisa de uma confederação internacional de governos leais, corruptos e de preferência autoritários nos países mais pobres, para forçar reformas impopulares e reprimir as revoltas. Ela precisa de uma imprensa que finja ser livre. Precisa de tribunais que finjam distribuir a justiça. Precisa de bombas nucleares, exércitos permanentes, leis de imigração mais severas e um cuidadoso patrulhamento costeiro para garantir que apenas o dinheiro, as mercadorias, as patentes e os serviços serão globalizados e não a livre movimentação das pessoas, não o respeito pelos direitos humanos, não os tratados internacionais sobre a discriminação racial, as armas químicas e nucleares, o efeito estufa, a mudança do clima, ou, Deus nos livre, a justiça. É como até mesmo um gesto em direção à responsabilidade internacional fosse arruinar todo o empreendimento. Quase um ano depois de a guerra contra o terrorismo ter oficialmente começado nas ruínas do Afeganistão, a liberdade está sendo restringida em nome da proteção à liberdade em um número cada vez maior de países, a liberdade civil está sendo suspensa em nome da proteção à democracia. Todos os tipos de dissensão estão sendo definidos como "terrorismo". a secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, declarou que a sua missão na guerra contra o terror era convencer o mundo de que é preciso permitir que os americanos continuem a viver o seu modo de vida. Quando o rei enraivecido bate o pé com força no chão, os escravos tremem no alojamento. Assim sendo, é difícil para mim dizer isto, mas o modo de vida americano simplesmente não é sustentável, porque ele não reconhece que existe um mundo além dos Estados Unidos. Por sorte, o poder tem um tempo de vida útil. Quando esse tempo acabar, talvez esse poderoso império, como aconteceu com tantos
antes dele, vá subjugar a si mesmo e implodir a partir de dentro. Parece que rachaduras estruturais já começaram a aparecer. O comunismo soviético fracassou, não porque fosse intrinsecamente mau, mas porque era defeituoso. Ele permitia que um número muito pequeno de pessoas usurpassem dinheiro demais: o capitalismo de mercado do século XXI, o estilo americano, cairá pelas mesmas razões.
PARTE VI Charges e Fotografias