11 De Setembro De 2001

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QUA12SET EDIÇÃO LISBOA 12 de Setembro de 2001 Ano XII • N° 4194 140$00 • €0,70 (IVA incluído) Director JOSÉ MANUEL FERNANDES Director adjunto: NUNO PACHECO e-mail: [email protected]

www.publico.pt

O ATENTADO QUE MUDOU O MUNDO

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HOJE AO FINAL DA MANHÃ, EDIÇÃO ESPECIAL DO PÚBLICO COM 32 PÁGINAS

2 D E S TA Q U E PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

TERROR NA AMÉRICA

HUBERT MICHAEL BOESL/EPA

DIA DE GUERRA

CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

13h45 (8h45 locais)

Um avião embate na torre sul do World Trade Center, um dos edifícios mais emblemáticos de Nova Iorque, à altura do 80º dos seus 110 andares. O avião é identificado pela cadeia televisiva CBS como sendo um Boeing 767 da American Airlines (esta companhia aérea daria mais tarde como “desaparecido” um avião deste modelo, num voo de Boston para Los Angeles, com 81 passageiros e onze tripulantes a bordo).

do um Boeing 767 da United Airlines (partira de Boston com destino a Los Angeles com 56 passageiros e nove tripulantes a bordo)

14h03

ção norte-americana (FAA) fecha os aeroportos de Nova Iorque. O mesmo é feito com todas as pontes e túneis da cidade.

Já sob o olhar das câmaras de televisão, 18 minutos depois, um segundo avião colide com a outra das Torres Gémeas do World Trade Center, aproximadamente à altura do 40º andar, causando uma devastadora explosão que deixa então os dois edifícios — onde trabalham cerca de 50 mil pessoas — em chamas. O avião é identificado como sen-

14h05 Na Florida, o presidente norteamericano George Bush está a ler para um grupo de crianças, na Emma E. Booker Elementary School, quando o seu chefe de gabinete, Andrew Card, lhe comunica ao ouvido as notícias do ataque.

14h17 A Administração Federal da Avia-

14h20 Surgem relatos, não confirmados oficialmente, de que o FBI estava a investigar casos de aviões que haviam sido desviados antes dos ataques ao World Trade Center.

14h30 Nas primeiras declarações sobre o sucedido, George Bush afirma que os Estados Unidos sofreram “o que parece ser um ataque terrorista”.

14h42 A televisão de Abu Dhabi relata ter recebido um telefonema da Frente Democrática da Libertação da Palestina reivindicando a responsabilidade dos ataques ao World Trade Center. Mais tarde responsáveis deste movimento negam ter tido qualquer envolvimento no sucedido. 14h43

Um terceiro avião, muito provavelmente um Boeing 757, (que tinha sido dado como “desaparecido” nessa manhã pela American Airlines, e que saíra de Washington com destino a Los Angeles, com 58 passageiros e seis tripulantes a bordo), despenha-se junto ao edifício do Pentágono, em Washing-

ton. O edifício, que é o centro nervoso das forças militares norte-americanas e onde trabalham cerca de 20 mil pessoas (entre civis e militares), deflagra em chamas com a explosão e uma boa parte de um dos cinco lados da estrutura acaba por desmoronar menos de meia hora depois.

14h45

A Casa Branca, em Washington D.C., é evacuada. Segue-se de imediato o Capitólio. O mesmo acontece nos edifícios das Nações Unidas, dos Departamentos do Tesouro, de Justiça e de Estado.

15h05 A torre sul do World Trade Center desmorona sobre as ruas em baixo. Forma-se uma enorme nuvem de pó e detritos que aos poucos se afasta das ruínas da estrutura. Desde o momento das colisões até à queda da estrutura foram vistas pessoas

D E S TA Q U E 3 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Um grupo terrorista declarou guerra aos Estados Unidos. Milhares de pessoas morreram em ataques. Não foram usadas bombas, não foram usados mísseis. As armas dos terroristas foram aviões, cheios de passageiros, desviados e atirados contra edifícios. Bush foi levado para lugar secreto. Os ministros e os dirigentes políticos também. A América refém dos terroristas, ou em estado de guerra? Por Ana Gomes Ferreira, Nova Iorque

a saltar das janelas do edifício, em fuga do fogo e do fumo e perante a inevitável derrocada, mas sem qualquer esperança de salvamento.

15h10

os Estados Unidos são desviados para o Canadá, segundo ordens da FAA.

15h27 A torre norte do World Trade Center acaba também por ruir, desabando de cima abaixo como se estivesse a ser descascada, largando para o ar uma enorme nuvem de pó e detritos.

Um avião Boeing 757 despenhase em Somerset County, a 80 milhas de Pittsburgh, no estado da Pensilvânia. É mais tarde identificado pela companhia aérea United Airlines como tratando-se do voo 93, com destino a São Francisco e tendo partido de Newark, em New Jersey, com 38 passageiros e sete tripulantes a bordo.

15h45 Todos os edifícios federais dos Estados Unidos são evacuados. Todos os aeroportos do país são evacuados e encerrados.

15h25

18h04

É noticiada a explosão de um carro armadilhado às portas do edifício do Departamento do Tesouro, em Washington. Mais tarde há um desmentido.

15h26 Todos os voos com destino para

George Bush garante aos norte-americanos que estão a ser tomadas todas as medidas de segurança. E deixa o aviso: “Não tenham dúvidas, os Estados Unidos vão caçar os responsáveis por este ataque”. D.F.

Caos é uma palavra simples de mais para descrever o que aconteceu, ontem, nos Estados Unidos. Terroristas ainda não identificados conseguiram, com uma cadeia de atentados, tornar refém o Governo dos Estados Unidos. O Presidente, George W. Bush, foi levado para uma base militar no Nebraska e a Casa Branca foi encerrada. Os principais membros do executivo e do Congresso estavam também sem paradeiro. Em Washington, a capital, foi decretado o estado de emergência e todos os ministérios foram esvaziados e encerrados. Só em tempo de guerra medidas de segurança tão draconianas são declaradas. Outra situação que só acontece quando o país está em guerra: a cúpula militar do Pentágono recolheu, em conselho de urgência, ao “bunker” nos subterrâneos do edifício. Algumas unidades das Forças Armadas pediram aos seus homens que estavam de folga, ou em férias, para voltarem aos quartéis. “Isto é uma guerra. Foi declarada guerra aos Estados Unidos. Ainda é cedo para se tomarem decisões. Primeiro, temos que saber quem fez isto”, disse Samuel Berger, que foi conselheiro de Segurança Nacional do anterior Presidente, Bill Clinton. “Estes atentados foram uma declaração de guerra”, concordou Oliver North. O inimaginável — é a única palavra possível — começou faltavam cinco minutos para as nove da manhã (quase duas da tarde em Portugal Continental). Terroristas atacaram as duas cidades mais emblemáticas do país: Nova Iorque, o centro económico, e Washington, o centro político. Não usaram armas, ou bombas, ou mísseis. Os terroristas desviaram aviões civis, cheios de passageiros, e atiraram-nos contra edifícios igualmente cheios de gente. Um avião da American Airlines, que viajava de Dallas para Los Angeles com 54 passageiros, chocou contra uma das torres gémeas do World Trade Center, na baixa financeira de Manhattan, em Nova Iorque. Durante escassos momentos, a cidade acreditou ter acontecido um acidente horrível — um aparelho que se preparava para aterrar no aeroporto de la Guardia, ou no J.F.K., desviara-se tragicamente da rota. Dezoito minutos depois, a inocência desfez-se: um segundo avião, também da American, também desviado, desfez-se contra a segunda torre. Fazia o percurso entre Boston e Los Angeles e levava 81 passageiros. Durante a hora que se seguiu, as torres gémeas arderam, expelindo fumo negro visível a dezenas de quiló-

metros de distância. Depois, desfizeram-se em pó. Ruiram. Possivelmente com 50 mil pessoas dentro. Algumas pressentiram a derrocada e preferiram atirar-se da janela das torres, do que cair com elas. Outros saltaram antes, com os corpos em chamas. Muita gente viu. Enquanto a tragédia de Nova Iorque corria no relógio, materializavam-se outras, noutros lugares. Um terceiro avião desviado — da United, —, era atirado contra o Pentágono, o quartel-general dos militares dos EUA. A ala oeste do edifício ficou destruída. Um quarto avião desviado despenhou-se numa floresta perto de Pittsburgh. Aparentemente, falhou o alvo, que não se sabe qual era. Entretanto, aconteceu uma explosão perto do Departamento de Estado, em Washington. Falou-se de um carro armadilhado, depois a notícia foi desmentida. Perseguidos e castigados Balanço dos ataques? À hora de fecho desta edição, não havia. “Não é possível perceber o impacto desta desgraça”, disse um porta-voz da polícia de Nova Iorque. Acrescentou: “O que queremos, agora, é salvar quem precisa de ser salvo”. Havia 10 mil elementos das equipas de socorros na baixa de Manhattan. Sabe-se que, nos aviões, viajavam pelo menos 266 pessoas — um homem num dos voos fechouse, aterrorizado, na casa de banho e, com um telefone, avisou os serviços de emergência do desvio. E que, em Nova Iorque, a estimativa é de pelo menos dez mil mortos. Todos os aeroportos dos Estados Unidos foram fechados. O que significa que os terroristas conseguiram parar o Governo dos Estados Unidos.

E, mais do que isso, conseguiram fechar o país, que ficou isolado do mundo. “Sofremos um atentado de grandes proporções”, disse George W. Bush, que se encontrava na Florida quando a cadeia de ataques começou. Os ataques provaram que os Estados Unidos são vulneráveis a certo tipo de atentados. Atentados terroristas, cometidos por suicidários. Atiraram aviões contra o World Trade Center, contra o Pentágono — onde se encontrava o secretário da defesa, Donald Rumsfeld, que não ficou ferido —, mas poderiam ter elegido como alvo a Casa Branca, ou o Congresso. Já em segurança, o Presidente voltou a falar à nação, para dizer: “Não se enganem: os Estados Unidos vão perseguir, e castigar, os responsáveis por estes ataques cobardes. Estou em contacto com os membros do meu gabinete. Vamos mostrar ao mundo que passámos o teste”. Pelas palavras de Bush e pelas acções do Pentágono, percebe-se que está montada a máquina da retaliação. Não se sabe é contra quem retaliar. O Presidente optou por não acusar qualquer grupo terrorista pelos ataques. Os analistas mostraram-se igualmente cautelosos, o que é explicável com o “síndrome Oklahoma”, onde houve um atentado, em 1995, imediatamente atribuído a terroristas árabes quando, afinal, foi o acto de um homem cidadão dos EUA, Timothy McVeigh, para punir o Governo federal. Porém, no subtexto de todas as declarações feitas, está um nome: Osama Bin Laden, o terrorista saudita que declarou guerra aos Estados Unidos e é protegido pelo regime dos taliban, no Afeganistão. I

Ainda não há estimativa de vítimas No total, eram 266 as pessoas transportadas pelos quatro aviões que ontem caíram nos EUA — dois nas torres do World Trade Center, um no Pentágono e outro na Pensilvânia, perto de Pittsburgh. Os quatro aparelhos, das duas maiores companhias de aviação dos EUA, a American (AA) e a United Airlines (UA), levavam a bordo 233 passageiros, 25 tripulantes e oito pilotos. Os aviões envolvidos da AA foram um Boeing 767 (voo 11 de Boston para Los Angeles) com 81 passageiros, nove tripulantes e dois pilotos; e um Boeing 757 (voo 77), que seguia do aeroporto de Washington Dulles para Los Angeles levando 58 passageiros, quatro tripulantes e dois pilotos. Os outros dois aviões eram da UA: um Boeing 757 (voo 93) que seguia de Newark com destino a São Francisco e transportava 38 passageiros, sete tripulantes e dois pilotos; e um Boeing 767 (voo 175) que tinha partido de Boston rumo a Los Angeles, com 56 passageiros, sete tripulantes e dois pilotos. Em Washington, um porta-voz do departamento de defesa norte-americano admitia a morte de “várias pessoas” no Pentágono. Em Nova Iorque não havia também qualquer ideia do número de vítimas. O presidente da Câmara de Nova Iorque, Rudolph Giuliano, falava vagamente de “um número enorme” de mortes. No World Trade Center trabalham 40 a 50 mil pessoas. Ao início da tarde (hora local) tinham sido tratadas nos hospitais da cidade cerca de 600 pessoas, entre as quais 150 feridos graves. M.J.G.

4 D E S TA Q U E

TERROR NA AMÉRICA

PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

“O mundo que conhecíamos acabou” Em Nova Iorque, minutos depois das primeiras explosões, o pânico instalou-se. Desesperadas, as pessoas tentavam chegar à parte sul de Manhattan. Muitos dirigiram-se aos hospitais para dar sangue. Reportagem de Ana Gomes Ferreira, em Nova Iorque

EUA

O QUE ACONTECEU EM NOVA IORQUE

Nova Iorque 1 km

100 km

CONNECTICUT

Rio

Hu

ds

on

PENSILVÂNIA

Times Square

Nova Iorque Long Island

Manhattan

Filadélfia NOVA JERSEY

MARYLAND

Washington D.C.

Central Park

Greenwich Village

Broadway

OCEANO ATLÂNTICO Lower East Side

World Trade Centre Bairro financeiro Battery Park

1 WORLD TRADE CENTER Primeira torre (417 metros de altura) construída em 1972. Segunda torre concluída em 1973 (415 metros). Cada uma tinha 110 andares de escritórios e acomodava dez mil trabalhadores.

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1 13h45 Boeing 767 da American Airlines, que faria o voo 11, entre Boston e Los Angeles, com 92 pessoas a bordo, colide com a torre Norte.

2 14h03 Boeing 757 da American Airlines, voo 77, entre Washington Dulles e Los Angeles, com 64 pessoas, embate contra a torre Sul.

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Equipas de emergência tentam evacuar as torres e a área circundante, enquanto os destroços caem sobre as ruas.

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15h05 15h27 A torre Sul desaba, cobrindo as ruas Menos de meia depois, a torre Norte com toneladas de destroços. também desmorona. REUTERS | PÚBLICO

Ontem de manhã, os autocarros não andaram na zona sul de Manhattan, em Nova Iorque. Os táxis também não. Paravam na rua 14, e recusavam avançar. O metro tentou a normalidade, por instantes. “Senhores passageiros, devido a uma situação de emergência no World Trade Center, o tráfico está congestionado. temos que parar. Sejam pacientes.” No interior da carruagem — a primeira carruagem —, uma mulher começa a chorar. “O meu marido trabalha no World Trade Center. Preciso de chegar lá.” Farto de esperar no cubículo que lhe compete, o condutor do metro decidiu fazer companhia aos passageiros: a mulher à procura do marido, um casal muito bem vestido a caminho do trabalho, que não sabe de nada, um grupo de rapazes de camisa branca. “Já telefonaste à tua família?” “Não, nem pensei nisso. Assim que ouvi a notícia, meti-me no comboio, só queria chegar lá”. “Vê lá se telefonas, és parvo ou quê?” O condutor do metro decide ser simpático. Vai ouvindo, pelo intercomunicador, as notícias. Vai passando as notícias aos passageiros. É boa a intenção. É mau o resultado. “Parece que o incêndio é cada vez maior. Parece que há bocados das torres a caír por todo o lado”. A carruagem volta a mexer-se. A carruagem volta a parar. “Senhores passageiros, estamos em posição de informar que estão a acontecer ataques noutras zonas do país”. A mulher à procura do marido entra em estado de choque (antes, já tinha entrado em estado de choro convulsivo). Quer sair do comboio, parado entre estações. Estar às escuras não ajuda. Os passageiros estão nervosos. Começam a conversar uns com os outros. “Eu, onde é que estava? Em frente à televisão, a tomar o pequeno-almoço. Vi o segundo avião chocar com a torre. Fiquei arrepiado”. O casal a caminho do trabalho não percebe. “O quê? Não sabem? Os terroristas atiraram dois aviões contra o World Trade Center. Está tudo a arder”. A mulher começa a chorar, o homem enterra as mãos no cabelo. O condutor faz-se ouvir novamente. “Devido à situação de emergência que foi declarada na baixa da cidade, o metro está parado. Queiram sair com cuidado”. Os passageiros saltam das carruagens, seguem, escoltados por homens de colete encarnado, pelos túneis negros, até uma saída na Broadway. “Eu só queria sobreviver” Há milhares de pessoas nas ruas. Caminham todas na mes-

ma direcção: para Norte, conforme mandou a polícia, que esvaziou o Sul de Manhattan em tempo recorde. “Eu só queria sobreviver, sair dali para fora. Quero ir para casa”, diz um homem com os pés e as pernas cobertos de poeira, e o cabelo salpicado de cinza. “Eu vi. Eu vi. Pelo menos dez pessoas a saltar daquele inferno. Saltaram mesmo lá de cima, para o chão”, conta uma mulher com as meias salpicadas de sangue que não é dela. De repente, a multidão perde a ordem. Desata a correr.

As torres gémeas viam-se da Cleveland Plaza. Agora, o espaço entre arranha-céus onde os gigantes de prata se destacavam está vazio. “Olha, olha, estás a ver. Era ali que estava a primeira. E ali, ali, estás a ver, era ali que estava a segunda”, explica Manuel, apontando para o vazio e vendo o que já não é possível ver.

“Isto vai começar uma guerra. O inimigo é desconhecido, mas é uma guerra. Nunca imaginei que isto pudesse acontecer-nos. Olhe, sabe o que isto é? É a materialização de um pesadelo.”

Corre o mais depressa que pode. Alguns atiram-se para o chão. Alguns abrigam-se nas entradas do metropolitano, nas fachadas dos edifícios. Nas portadas das lojas, que estão todas fechadas (e assim ficarão o resto do dia). Parece que o tempo andou para trás, que Manhattan se chama Londres e está a ser atacada pelas bombas de Hitler. Há pessoas agachadas de mãos a proteger a cabeça. O que se passa? “Olha, olha. Está a cair. Está a cair. Não estou a acreditar no que estou a ver. Isto não é verdade. O World Trade Center está a desaparecer”. As torres, que foram prateadas e um dos símbolos mais reconhecíveis da paisagem de Manhattan, caíram. Uma de cada vez, duplicando o horror dos nova-iorquinos.

O céu mudou de cor. Estava negro, do fumo dos incêndios que consumiram os edifícios. Ficou branco, de pó de tijolo e tinta e todas as coisas de que são feitas os prédios. As torres ruiram ordeiramente, andar por andar. E, durante instantes, quando a estrutura não passava de um destroço no chão, a forma, o relevo, permaneceu, como um fantasma branco, feito de pó. Outros prédios, vizinhos, estão condenados. É uma questão de tempo. [durante a noite a CNN anunciou que o edifício 7 do complexo do World Trade Centertinha acabara de ruir]. As torres gémeas viam-se da Cleveland Plaza. Agora, o espaço entre arranha-céus onde os gigantes de prata se destacavam, está vazio. “Olha, olha, estás a ver. Era ali que estava a primeira. E ali, ali, estás a ver, era ali que estava a segunda”, explica Manuel, apontando para o vazio e vendo o que já não é possível ver. “O mundo mudou. O mundo que conheciamos acabou”. Junto aos destroços, começa a definir-se a ordem. A polícia abre ruas só de entrada para as ambulâncias. Outras só de saída. Faz rotas de fornecimento de água para os socorristas e vítimas. O céu volta a enegrecer. Os escombros ainda estão a arder. Pelo céu voam papéis, destroços levezinho que aterram no outro lado do rio, em Brooklyn. Uma cidade perfeita para tragédias Dizem os que pairam pelas ruas que Nova Iorque é uma cidade perfeita para tragédias. Está habituada a muita gente, a muita confusão. Os nova-iorquinos organizaram-se depressa. Rumaram para os hospitais, onde era preciso sangue. O povo parece estar habituado a organizar-se. Rumou aos hospitais, para dar sangue. Os que tinham rádios, levaramnos para a rua, para se poder ouvir as notícias. Os que tinham moedas, deram-nas a quem tentava telefonar das cabines públicas. habituaram-se à música das ambulâncias, que cruzaram a cidade todo o dia. Esvaziaram o Sul, como lhes foi pedido. Pelo caminho, deixaram comentários. “Isto vai começar uma guerra. O inimigo é desconhecido, mas é uma guerra. Nunca imaginei que isto pudesse acontecer-nos. Mas aquele tipo não faz nada de jeito. Nem falar sabe. Ouviu-o falar? Só disse banalidades. O Clinton, esse sabia falar. O Bush não tem jeito e só fez porcaria no Médio Oriente. Olhe, sabe o que isto é? É a materialização de um pesadelo.” 

D E S TA Q U E 5 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Ú LT I M A H O R A

Explosões em Cabul

Às 23h, hora de Lisboa, Nic Robertson, o correspondente da CNN em Cabul, deu conta em directo de explosões e incêndios na capital do Afeganistão, provavelmente na zona do aeroporto, e de mísseis a sobrevoarem a cidade. NUNO PACHECO EDITORIAL

D I S C U R S O D E G E O R G E W. B U S H

Inimigos invisíveis

A liberdade foi atacada esta manhã por cobardes sem rosto. E a liberdade será defendida.Quero garantir ao povo americano que todos os recursos do Governo federal estão empenhados na assistência às autoridades locais no salvamento de vidas e na ajuda às vítimas destes ataques. Não se iludam: os Estados Unidos perseguirão e punirão os responsáveis por estes actos cobardes. Tenho estado em contacto regular com o vice-presidente, o secretário da Defesa, a equipa de segurança nacional e o meu gabinete. Tomámos todas as precauções de segurança apropriadas para proteger o povo americano. As nossas forças militares na América e por todo o mundo estão em estado de alerta máximo e assegurámos as medidas de segurança necessárias à continuação em funções do vosso governo. Temos estado em contacto com os líderes do Congresso e com os líderes mundiais para lhes garantir que faremos o que for preciso para proteger a América e os americanos. Peço ao povo americano que se junte a mim no agradecimento a todos os que têm lutado duramente para resgatar os nossos concidadãos e que reze comigo pelas vítimas e as suas famílias. O futuro da nossa grande nação está a ser testado. Não se iludam. Mostraremos ao mundo que passaremos este teste. Deus vos abençoe.

D

ivididos entre a incredulidade e o horror assistimos, ontem, ao que julgávamos impossível: o coração da América golpeado por inimigos sem rosto. A analogia com Pearl Harbor foi imediata, em muitas das análises produzidas, sobretudo na própria América. Mas, ao contrário do que sucedeu nessa altura, os assassinos de hoje não têm face. Vieram da própria América, em silêncio, infiltrando-se em voos internos, e conseguiram aquilo que George W. Bush, na

A partir de ontem o mundo jamais será o mesmo. E ninguém terá razões para se orgulhar disso

Washington, uma capital ajoelhada Pentágono atingido por um avião ficou em chamas e parcialmente destruído, provocando o caos na capital norte-americana JOANA AMADO

A capital dos Estados Unidos viveu um dia de caos, ficou sitiada, parou. A capital da nação mais poderosa do planeta ajoelhou-se depois de um avião se ter despenhado contra o Pentágono, o centro nevrálgico da defesa norte-americana. Ontem ao fim do dia não era conhecida ainda a verdadeira dimensão dos estragos, nem o número exacto de pessoas que se encontravam no edifício, nem o número de feridos e mortos causados pela tragédia. Num dia normal, e segundo as agências, trabalham nas instalações do Pentágono cerca de 24 mil pessoas. O avião sacrificado era, julga-se, um Boeing 757 com 58 passageiros e seis tripulantes a bordo. No momento em que o avião embateu no edifício de cinco andares, muitos curiosos rondavam a zona porque já tinha sido declarado um incêndio no Pentágono depois da explosão de um provável — mas não confirmado — engenho explosivo. O número de vítimas mortais poderá ter sido consideravelmente reduzido porque, na altura em que o avião se despenhou, as ins-

talações do Pentágono já tinham começado a ser evacuadas. A meio do dia uma imensa coluna de fumo negro agigantavase ainda nos céus de Washington. As televisões mostram parte do edifício do Pentágono a ruir. Por esta altura já todos os edifícios oficiais, Casa Branca, departamento de Estado, departamento do Tesouro, e mesmo Congresso norteamericano tinham sido evacuados. O estado de Emergência foi declarado. Sucederam-se notícias, não confirmadas e mesmo desmentidas, de explosões aqui e carros armadilhados ali. “Nunca nada será como dantes”, disse à AFP um funcionário do departamento de Estado, a tremer da cabeça aos pés. “É uma viragem da história da América”, lançou, antes de se afastar do edifício de oito andares em passo de corrida ordenado, juntamente com centenas de outros funcionários. No Centro da cidade, uma outra coluna de fumo elevou-se perto da Casa Branca. Dezenas de carros de bombeiros, com as sirenes histéricas, aceleram pela Pensylvannia Avenue, em direcção à residência oficial do Presidente dos EUA. Ao início da noite ainda ninguém percebia o que se tinha passado exactamente. Os homens do Secret Service corriam para todo o lado, afastando toda a gente e cintando a Casa

Branca com uma fita amarela. A pé e de moto dezenas de polícias afastam os turistas, muitos deles velhotes, que faziam bicha para visitar a casa por onde passaram Roosevelt, Kennedy, Nixon,... “Pouco a pouco é o caos”, afirmou Dave Loeb, arrumando as cadeiras do seu restaurante para fechar as portas. Já não ia ter mais clientes. “É uma loucura, toda a gente corre em todas as direcções ninguém sabe o que vai acontecer, o melhor mesmo é irme embora daqui”. Nas ruas vizinhas o pânico ia-se contagiando. Milhares de pessoas saíam a correr dos prédios de escritórios. “Vou para casa...tenho muito medo”, disse uma mulher à porta do banco onde trabalha. Os prédios foram ficando vazios: Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Arquivos Nacionais, os museus, o Mall — o relvado entre o Congresso e o Lincoln Memorial — onde normalmente se passeiam multidões de pessoas, ficou vazio. A sede do FBI foi evacuada e a sede do organismo da Segurança Nacional dos Transportes, que tem por missão investigar as catástrofes aéreas, também ficou deserta. Por questões de segurança o Presidente não está no seu posto. No ar, um avião militar e vários helicópteros sobrevoam a capital. Os olhares para cima eram de medo. Ninguém se sentia seguro. 

O voo que não chegou ao alvo Não se sabe e talvez nunca se venha a saber para onde é que se dirigia o voo 93 da United Airlines (UA) que ontem se despenhou numa floresta no estado da Pensilvânia, a mais de 100 quilómetros de Pittsburg. A bordo seguiam 45 pessoas segundo números citados pelas agências e fornecidos pela companhia aérea. Não há sobreviventes. O Boeing 757 da UA voava de Newark para São Francisco, mas duas horas depois de levantar voo despenhou-se no meio de lado nenhum. Já passava das 10h da manhã (hora local). Já o World Trade Center tinha sido ferido de morte. E já o poderoso Pentágono se tinha desmoronado parcialmente. Segundo a CNN um passageiro que seguia a bordo do aparelho terá feito um telefonema a dizer que o avião tinha sido desviado. Por quem? Qual seria o alvo? 

sua forma excessivamente esquemática de ver o mundo, contava receber um dia em forma de mísseis ou armas biológicas. Enganou-se Bush e engaram-se os que pensavam como ele, aprovando a fabricação de escudos protectores para que o solo americano não fosse de novo pejado de sangue. Foi, e da forma mais bárbara. Isso prova que os Estados Unidos, se quiserem sobreviver nesta nova era de guerras travadas no campo do mais puro terror, têm não só entender melhor o verdadeiro peso dos conflitos com que lidam (o Médio Oriente em particular) mas aceder à cooperação com outras democracias de modo a restaurar um mínimo de dignidade humana num mundo onde ameaça imperar a barbárie. As imagens de gente feliz, verdadeiramente feliz, ao saber dos atentados que mataram um número ainda incalculável de inocentes em território americano, é disso exemplo. Que nos devia envergonhar a todos e nos devia fazer reflectir sobre o estado miserável a que chegámos. Não se trata já de apoiar facções adversas em guerra aberta, de atacar ou condenar países onde a violência é lei, mas sim de festejar a morte de milhares de inocentes a troco de nada. Apenas de uma ignominiosa ideia de vingança que só nos conduzirá, a todos, ao abismo. De nada vale à América dizer, como ontem fizeram alguns analistas, que nenhum grupo de terroristas consegue intimidar a maior democracia do mundo. Porque, na guerra que hoje se trava a partir das trevas nenhuma democracia, nem mesmo a americana, está imune ao mais rude dos golpes. Os deploráveis atentados de ontem provam-no em absoluto. Como o prova o proliferar do terrorismo à escala mundial, num renascer dos piores fantasmas do passado, agora com mais ódio e menos piedade. Perda da inocência, dizem? Talvez seja mais do que isso. A verdade é que, como se regista nesta edição em vários textos, o mundo jamais será o mesmo. E nenhum de nós terá razões, no futuro, para se orgulhar disso. 

6 D E S TA Q U E PÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

TERROR NA AMÉRICA

E se fossem armas nucleares? Washington é de bombas no uma cidade calseu interior. ma, calma coAs torres dominavam mo a Bona do toda a zona romance policial de John baixa de MaLe Carrè. Eu nhattan. Estive ali num conestava a dois E DUARDO C INTRA quilómetros do certo ao ar T ORRES Pentágono onlivre, junto de tem de manhã uma das torquando as Twin Towers, em No- res, no sábado, e tomei depois va Iorque, e o próprio Pentágo- o metropolitano numa estação no foram alvo do maior ataque subterrânea debaixo do World terrorista na história dos Esta- Trade Center. Os edifícios representavam o comércio livre dos Unidos. Entrevistava para o PÚBLI- e, por isso, o capitalismo, e em CO um responsável da Federal consequência, simbolizavam o Communications Commission, “inimigo” americano. Não haa entidade que atribui licenças via, segundo creio, nenhum dede rádio e de televisão nos EUA, partamento oficial nos edifícios. quando alguém interrompeu Apenas empresas privadas. dizendo que um avião chocara As primeiras horas nas telecom uma da torres em Nova Ior- visões locais mostravam o horque. Não houve qualquer evacu- ror dos ataques e o silêncio das ação. Passados minutos, sou- autoridades. A perplexidade foi bemos do segundo ataque às total. O presidente só apareceu Twin Towers — e, poucos minu- às 13h15 locais, e a mensagem tos depois, levaram-me a uma era gravada. sala onde uma dezena de pessoCom o Departamento de Esas olhava para o Pentágono em tado evacuado (houve boatos chamas. O vento levava o fumo de um carro-bomba explodinpara Leste, mesmo em frente à do no edifício, a poucos quarsede da FCC onde me encontra- teirões daqui), este edifício va. Tinha começado a guerra. onde estou, o National Press O edifício continuou em fun- Building, foi transformado em cionamento, mas toda a gente centro de imprensa. Os corsaía para a rua. Saí também. respondentes de todas as estaAs ruas de Washington estavam ções e agências noticiosas inscheias de carros e de gente a pé. talaram-se nos gabinetes aqui As pessoas largaram os empre- disponibilizados pelas pessoas que aqui trabalham. gos e partiram para casa. Dirige-me para o National A sala de imprensa transPress Building, a três quartei- formou-se em poucos minutos rões da Casa Branca. O centro num improvisado palco para comercial dos primeiros an- as habituais conferências de dares estava fechado. Os ele- imprensa do State Department, vadores não funcionavam. As no caso de haver uma comunicentrais telefónicas estavam cação aos jornalistas, o que potão sobrecarregadas que só foi derá não acontecer. Colin Popossível fazer chamadas locais wel, o Secretário de Estado, durante mais de uma hora. Só estava esta manhã no Peru então tomei conhecimento da e não deverá fazer sombra à dimensão da tragédia em No- equipa do Presidente, que é va Iorque, de onde tinha saí- também o chefe das Forças Ardo domingo ao fim da tarde, madas e o responsável máximo ao mesmo tempo que a minha pela segurança interna. família terminava as férias e A maior parte dos canais regressava a Lisboa num voo de televisão centraram as sudo Aeroporto JFK, em Queens, as emissões em Nova Iorque Nova Iorque. e Washington. As imagens de Estive no sábado nas Twin Lower Manhattan mostram Towers. Eram dois edifícios ma- uma região devastada por uma ravilhosos, de linhas perfeitas guerra terrível. A esta hora e simples: toda a sua força deri- (14h00 locais) o Pentágono — vava da altura a que se levanta- outro símbolo da América — vam, mais de 110 andares. Não continua em chamas. precisavam de mais arquitecCom os aeroportos fechados, tura que a simplicidade. Eram os comboios parados, as escoum dos mais poderosos símbo- las fechadas, os edifícios púlos de Nova Iorque, os edifícios blicos evacuados, o corredor mais altos da cidade e os mais entre Nova Iorque e Washingaltos depois do Sears Building ton está refém do terror e do em Chicago. ambiente de guerra. Porque é A arquitectura das torres re- um ambiente de guerra. Foi o alçava uma transparência inte- que senti nas ruas: olhei recerior. A estrutura de suporte fora oso para o céu de Washington, projectada nas paredes exterio- como os outros apressados trares, pelo que no interior havia seuntes, quando ouvi o ruído amplos espaços, o que não suce- de um avião passando por cide em muitos outros arranha- ma do centro da cidade. Estacéus. Talvez por isso, por esta- ria eu em Pearl Harbour? E, enrem suportados principalmente quanto entrava no edifício da pela estrutura das paredes ex- imprensa, pensei: o que aconteriores, as Twin Towers eram teceria se os terroristas troumais susceptíveis a um ataque xessem armas nucleares nos vindo de fora do que a partir seus ataques suicidas?

Twin Towers, “ex-líbris” por 31 anos

MIKE SEGAR /REUTERS

Um dos símbolos de Nova Iorque ... INÊS NADAIS

Em finais dos anos 70, no auge da paranóia alimentada pela Guerra Fria, a CIA elaborou uma lista dos edifícios mais sujeitos a atentados terroristas: do top constava, obviamente, o imponente complexo nova-iorquino do World Trade Center, que oferecia um potencial de número de vítimas praticamente imbatível. Vinte e tantos anos depois, as estatísticas falam por si: aos cerca de 50 mil trabalhadores do complexo, há que somar o fluxo de 150 mil a 200 mil visitantes que diariamente procuravam o terraço do 110º andar da Torre 2 para alcançar a melhor vista sobre Manhattan. Desde 1970 que as Twin Towers (“Torres Gémeas”) dominavam o horizonte de Nova Iorque. O World Trade Center foi um cavalo de batalha do banqueiro David Rockefeller, que passou a década de 50

a tentar convencer os poderes públicos a alterar de vez a imagem de degradação do West Side através da instalação do maior e mais concentrado centro comercial do mundo. A ideia era centralizar em 406 mil metros quadrados a actividade das mais importantes empresas e agências governamentais com uma palavra a dizer no comércio mundial, estimular o desenvolvimento das áreas metropolitanas adjacentes e garantir a reanimação económica do extremo sudoeste de Manhattan. A Administração do Porto de Nova Iorque e New Jersey encarregou-se do assunto e acabou por entregar ao arquitecto Minoru Yamasaki a tarefa de mudar a face do distrito financeiro da cidade sem ultrapassar um tecto orçamental de 500 milhões de dólares: o projecto desenvolvido pela Yamasaki and Associates, em colaboração com a Emery Roth and Sons, acabou por

privilegiar a construção de duas torres, cujo tamanho a Administração do Porto foi esticando até aos 410 metros, para satisfazer plenamente as suas metas de rentabilidade. Na altura, as Torres Gémeas bateram todos os recordes de altitude, quebrados em 1974 pela Torre Sears de Chicago. A estrutura do complexo de sete edifícios consumiu 200 mil toneladas de aço, chegou a absorver uma mão-de-obra estimada em 3500 operários da construção civil e demorou sete anos a ficar pronta. Depois, passou a abrigar mais de 500 empresas e sociedades comerciais, agências governamentais diversas, um centro comercial, terminais de metropolitano e comboio e um gigantesco parque de estacionamento. Entre as entidades que ali assentaram arraiais, encontravam-se o Deutsche Bank, o Bank of America, o Crédit Suisse, a Embaixada da Tailândia, um hotel com 250 quartos, serviços alfandegários, áreas de exposições, o gabinete de emergência da cidade e a autoridade de trânsito nova-iorquina. A terra escavada para acolher os alicerces do complexo foi depositada no rio Hudson e serviu para alargar artificialmente para oeste o perímetro da cidade, abrindo caminho à instalação de outro projecto megalómano: o complexo habitacional do Battery Park e o vizinho World Financial Center, a que o World Trade Center estava ligado por uma ponte. As últimas notícias sobre o World Trade Center davam conta da iminência de uma milionária operação que colocaria o complexo nas mãos da Vornado Realty Trust: a empresa ultimara um contrato de aluguer por 99 anos a troco de 3,12 mil milhões de dólares, mas nada tinha sido ainda assinado.  com ANTÓNIO MELO

Pentágono, o coração militar dos EUA

HYUNGWON KANG /REUTERS

Trabalham 23 mil pessoas no Pentágono LUIS MIGUEL QUEIRÓS

“O Pentágono é o símbolo das convicções e do poder dos Estados Unidos”, resumiu o actual secretário da Defesa norte-americano, Colin Powell, num discurso proferido em 1993, por ocasião das comemorações do 50º aniversário da construção do edificio. Erguido em plena Segunda Guerra Mundial, para reunir num só local todos os departamentos do então Ministério da Guerra, o Pentágono, onde trabalham 23 mil pessoas, entre militares e civis, transformou-se num verdadeiro sinónimo do Departamento da Defesa nele sediado. Projectado pelo

arquitecto George Edwin Bergstrom, o estranho edifício de cinco corpos dispostos em torno de um pátio central em forma de pentágono, começou a ser construído em 1941 e foi inaugurado no dia 15 de Janeiro de 1943. Custou cerca de 90 milhões de contos. Inicialmente previa-se que tivesse três andares, mas, logo após o ataque a Pearl Harbour, em Dezembro de 1941, foi decidido acrescentar-lhe mais dois. Localizado ligeiramente a sul de Washington, mas já no estado da Virgínia, do outro lado do rio Potomac, é um dos maiores edifícios de escritórios do mundo, com uma área útil três vezes maior do que a do Empire State Buil-

ding. Cada uma das suas cinco faces exteriores mede quase 300 metros. Os seus corredores totalizam perto de 30 quilómetros de comprimento, mas foi concebido de modo a que não sejam precisos mais de dez minutos para percorrer a distância entre quaisquer dois pontos do edifício. Os serviços de apoio que coexistem, no interior, com as instalações dos vários ramos das forças armadas e do gabiente do secretário da Defesa, incluem um gigantesco restaurante, seis snack-bars e duas cafetarias. E um outro serviço que poderá ter sido gravemente afectado pelo ataque de ontem: uma livraria com 300 mil volumes e colecções de 1700 publicações periódicas de todo o mundo. Uma estatística oficial calcula em 4.500 as chávenas de café servidas diariamente no Pentágono. É apenas uma média. O número terá sido bastante superior em algumas ocasiões críticas, a começar pelos último anos da Segunda Guerra Mundial, quando serviu de quartel-general a Eisenhower e Marshall. Foi no interior do Pentágono — na “Sala de Guerra” dos chefes de EstadoMaior — que se traçaram estratégias para as guerras da Coreia e do Vietname, para a invasão de Granada ou do Panamá, e, mais recentemente, se desenhou a operação “Tempestade no Deserto”, contra o Iraque.  L.M.Q.

D E S TA Q U E 7 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001 PETER MORGAN /REUTERS

O cenário impossível 1.

... e o que restou depois do ataque WILLIAM PHILPOTT /REUTERS

O Pentágono foi atacado às 14h43 (hora de Lisboa)

Foi provatema de defesa anti-míssil (MD) lanvelmente Chris Patten, o comissáçada em todas as rio europeu para latitudes pela noas questões exterva administração americana é justinas, quem usou as palavras mais ficada pela ameasimples e, porvença que constituem T ERESA DE S OUSA tura, mais certas para os EUA e papara resumir o sigra os seus aliados nificado do atenos chamados “Estado terrorista contra os Estados tados-párias” como a Coreia do Unidos. “Este é um dos raros dias Norte, com capacidade para dispasobre os quais se pode dizer sem rarem mísseis. risco de exagero que mudaram o Nem o “exercício virtual” do mundo.” Pentágono nem a nova “guerra das Talvez fosse esta também a úni- estrelas” puseram a América ao ca certeza dos analistas interna- abrigo do verdadeiro “massacre” cionais, parcos em palavras e em que ontem se abateu sobre ela. comentários, confirmando com o Hoje, a confiança dos americaseu silêncio e a sua prudência a nos no seu governo, no seu poder, verdade contida nas palavras do na inviolabilidade do seu território comissário britânico. — onde nunca se travaram guerras Em que cenário encaixa o que — terá provavelmente atingido o ontem se passou na América? Em grau zero. que visão do mundo pós-guerra fria? Em que filme de ficção produ- 4. Também nos últimos dias, a zido em Hollywood? imprensa americana dava conta das críticas generalizadas à inca2. Bastou, no entanto, observar pacidade da nova administração as reacções generalizadas dos go- para dar um rumo à sua política vernos mundiais e, em particular, externa. A revisão da política dos governos europeus para que externa que George W. Bush a dimensão da mudança de que fa- anunciou com fanfarras logo que lou Chris Patten começasse a ga- chegou à Casa Branca estava a renhar os seus primeiros contornos. velar-se errática, no meio de uma Não tanto nas palavras de repúdio, “guerra” ainda não resolvida ende condenação e de solidariedade, tre as várias “escolas” pelo lugar preponderante junto do Presidenmas sobretudo nos actos. Sucederam-se as reuniões de te. Colin Powell e o departamento emergência em Londres, Paris, de Estado contra os velhos “falBerlim, Roma, Praga, Atenas... As cões” do vice-Presidente Cheney forças armadas e de segurança da e os novos “falcões” do Conselho França, de Itália, do Reino Unido, Nacional de Segurança. de todos os países, foram colocadas A imprensa fazia o retrato de um em alerta máximo. O tráfego aéreo Presidente ainda à procura de uma suspenso ou desviado do centro linha, de um estilo, de uma forma das grandes cidades europeias. A de se relacionar com o mundo. O segurança reforçada em todos os pior dos momentos para Bush enedifícios públicos. frentar o tremendo desafio à sua Não se trata apenas da natural capacidade de liderança que o atenpreocupação dos governos com tado constitui. uma eventual generalização dos Não será uma retaliação dura atentados contra os aliados da e rápida contra os principais susAmérica. Trata-se da necessidade peitos da barbárie que ontem se de contrariar de qualquer forma abateu contra a América — e que o terrível sentimento de insegu- certamente ocorrerá — que pode rança e de vulnerabilidade que restabelecer a confiança dos ameontem abalou as democracias eu- ricanos na sua administração. ropeias, do topo à base, do primeiro responsável ao mais anónimo 5. A tentação será, provaveldos cidadãos. mente, a da segurança em todos os Como disse Patten, a agenda in- azimutes, alimentando a percepternacional vai mudar e vai desde ção da América contra um mundo agora ser dominada pela combate hostil, fechada na sua frágil caraa uma nova espécie de terrorismo paça de hiperpotência solitária. para o qual as democracias ociden- Os arautos do unilateralismo — o tais não estão preparadas. A União isolacionsimo dos tempos moderEuropeia enfrentará agora, inexo- nos que Roosevelt venceu quando ravelmente, o seu momento da ver- respondeu a Pearl Harbour — e no dade para saber que mundo quer e “diktat” internacional vão ganhar o que pode fazer pelo mundo. provavelmente um novo alento. “Há uma reflexão a fazer sobre 3. O “International Herald Tri- a forma como as democracias ocibune” escrevia há dias na sua pri- dentais (...) mas sobretudo os EUA meira página: “Jogos de guerra subestimaram o agravamento da tranquilizam o Pentágono”. O jor- crise do Médio Oriente e o desespenal informava que “um exercício ro de alguns povos do mundo”, disse de guerra” conduzido pelos altos o Presidente da Comissão dos Necomandos americanos concluira gócios Estrangeiros do Parlamenque, com os actuais recursos em to francês, François Loncle, citado tropas e armamento, as forças ar- pela AFP. Um comentário que, tenmadas americanas estavam em do todo o fundamento, aponta para condições de dominar um adver- outro caminho. O “engagement” da sário e de parar ao mesmo tempo a América é provavelmente a única ofensiva de um segundo agressor. resposta que pode afastar o cenário A “batalha” em favor do novo sis- impossível que ontem aconteceu.

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TERROR NA AMÉRICA

RISCOS DE RECESSÃO MUNDIAL AUMEN COM ATENTADOS AO CORAÇÃO DO CAPITA Antes dos “aparentes ataques terroristas” a situação económica internacional era má, mas os economistas alimentavam esperanças de poder escapar à recessão. Agora, o mínimo que se pode dizer é que essas esperanças diminuíram. O primeiro balanço revela estragos consideráveis no dólar e nos mercados accionistas, em especial nos seguros e aviação. Os investidores procuraram portos mais seguros como o franco suíço, o ouro e o petróleo JOANA AMORIM, LURDES FERREIRA E ROSA SOARES

Ainda é cedo para avaliar as consequências económicas, era a frase mais ouvida da boca dos economistas poucas horas depois dos “aparentes atentados terroristas” nos Estados Unidos da América. “Ainda não consegui pensar sobre o assunto. O medo que existe é grande, mas ninguém tem a ideia das consequências económicas. Admito que os americanos sejam capazes de reagir mais depressa que o resto do mundo. Agora o que se vai passar na economia mundial, não faço ideia. Pode ser um ataque de um conjunto de fundamentalistas e não ter muitos efeitos. Mas, se for um ataque vindo do Médio Oriente, então os efeitos serão muito graves, concretamente a nível do petróleo”, resumiu ao PÚBLICO Alberto de Castro, o professor catedrático da Universidade Católica doi Porto que, recentemente, recusou um convite de Guterres para ministro da Economia. No plano imediato, as bolsas vão cair, o dólar vai en-

fraquecer e o petróleo irá disparar, previu. Os números parecem dar-lhe razão. Os mercados accionistas viveram horas difíceis, o que motivou a suspensão da negociação em alguns mercados, incluindo Lisboa. A bolsa de Frankfurt, que encerrou uma hora antes do fecho normal devido a uma ameaça de bomba, esteve a perder chegado a perder 11 por cento. Paris recuou mais de sete por cento e Amesterdão 6,9 por cento. Melhor estiveram Londres (menos 5,4 por cento), Madrid (menos 4,5 por cento) e Lisboa (menos 4,3 por cento). Contudo, os analistas recusam a ideia de “crash”, preferindo acreditar que se esteja perante uma reacção emotiva. “Não é uma situação de pânico, o que aconteceu na bolsa é inferior ao crash de 1987 e a queda do dólar é relativamente insignificante”, desdramatiza Miguel Beleza, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal. Quanto ao mercado cambial, o professor universitário e consultor do Banco Comercial Português reconhece que a valorização de dois por

cento do euro face ao dólar é “bastante”, mas nota que “é preciso ter em conta que a moeda europeia está subvalorizada e, por isso, é normal que suba”. No que diz respeito ao petróleo, Miguel Beleza frisa que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) já garantiu que não haverá rupturas e que os países ocidentais têm grandes “stocks”. Há bem pouco tempo o petróleo esteve a níveis bem mais elevados, recordou ainda. “Para já, o comportamento dos mercados não parece sugerir perigos de adiamento da recuperação dos Estados Unidos”, conclui o ex-governante. “Mais turbulência” A não ser que haja uma reacção psicológica, “do ponto de vista dos mecanismos económicos não há razão para o atentado afectar a economia”, corrobora o economista José da Silva Lopes, citado pela Lusa. Houve milhares de milhões de dólares de prejuízo e haverá gastos de milhares de milhões de dólares em segurança e outras despesas, o que poderá es-

timular a economia, explica o presidente do Comité Económico e Social. “Os ataques terroristas poderão dar ao presidente Bush a oportunidade de aumentar a despesa com o sector de defesa, criando uma expansão fiscal que tornará mais moderada a recessão americana”, precisou ao PÚBLICO o economista Sérgio Rebelo, a viver e leccionar actualmente nos EUA. Para o economista, o ataque terrorista de ontem criará “mais turbulência numa altura em que a economia americana atravessa uma reestruturação dolorosa com o redimensionamento do sector de tecnologias de informação”. Se a quebra do dólar face ao euro e a subida do ouro são efeitos evidentes de curto prazo, Sérgio Rebelo considera já ser difícil prever o prazo de impacto sobre a economia, em geral, e sobre os preços das acções e do imobiliário, em particular. Quanto à Europa e Portugal, o efeito principal virá de “uma redução do fluxo de turismo dos EUA”, considera. Menos optimista é a visão dos gabinetes de estudo do

Banco Português de Investimento e do Banco Espírito Santo (BES): Os atentados nos EUA “aumentam as possibilidades de a economia mundial cair em recessão”, defendeu o economista chefe banco controlado pela família Espírito Santo, Miguel Frasquilho, em declarações à Lusa. Para o analista “ainda é cedo para tirar as conclusões, mas os atentados terão decerto um efeito de diminuição da confiança dos agentes económicos”, um factor fundamental para a economia. A queda dos mercados bolsistas e a subida em flecha dos preços do petróleo, que hoje se verificaram, “são reacções a quente, que poderão não se prolongar”, dependendo das “acções que se seguirem”, ressalvou o economista. Recuperação mais lenta Mas “trata-se, sem dúvida, de um acontecimento negativo para a economia mundial”, garantiu Miguel Frasquilho, frisando a ausência de informação detalhada sobre os acontecimentos nos EUA. Os ataques terroristas “farão disparar os preços do petró-

leo, com as consequentes implicações a nível do índice de preços”, comentou por seu turno a economista chefe do BPI, Cristina Casalinho. O aumento do preço do petróleo, um dos principais “motores” da inflação, terá um impacte directo tanto na economia norte-americana, como na europeia, precisou a analista. A juntar a este factor há ainda a “instabilidade que os ataques causarão nos mercados accionistas, que já se encontravam em dificuldades”, acrescentou. Todos estes factores poderão “implicar uma maior demora na recuperação económica” ou, até mesmo, “uma recessão económica”, admitiu Cristina Casalinho. Para a União Europeia, além do impacte directo por via do preço do petróleo, os atentados poderão significar também uma “menor procura dirigida à Europa, por parte dos EUA, afectando as relações comerciais externas”, referiu, sublinhando que se “tratam de meras conjecturas, por ser ainda prematuro avaliar as consequências” dos ataques. 

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TAM LISMO. GANHADORES Petróleo Títulos de rendimento fixo, sobretudo dívida pública de curto prazo Metais preciosos como ouro, prata e platina Divisas alternativas ao dólar como euro, iene e franco suíço

PERDEDORES Dólar Acções, sobretudo de companhias de seguros e agências de viagens

Sector segurador dos EUA pode entrar em crise Prejuízo depende das coberturas contra actos terroristas. Resseguradoras americanas, londrinas e das ilhas Bermudas deverão ser as mais afectadas CLARA TEIXEIRA

Os estragos físicos e a perda de vidas humanas causados pela destruição das torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e do edifício do Pentágono, em Washington, representam certamente uma despesa de milhares de milhões de dólares para as seguradoras e resseguradoras ao nível internacional, mas para já é impossível fazer cálculos com um mínimo de fiabilidade. O presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), António Reis, disse ontem ao PÚBLICO que, numa situação como a que ocorreu nos Estados Unidos, “os seguros respondem quando há coberturas adicionais para actos terroristas”. Mas, conforme lembrou, o World Trade Center foi alvo de um ataque terrorista em 26 de Fevereiro de 1993, causando na altura grande prejuízo a algumas das maiores seguradoras mundiais. “Não sei se terão conseguido fazer um novo seguro com essa cobertura”, afirmou António Reis. De acordo com a lógica de funcionamento dos resseguros entre os

grupos do sector, as empresas de seguros formam uma espécie de cadeia que lhes permite repartir, umas com as outras, o risco financeiro normalmente associado a grandes catástrofes. Por isso, António Reis não descura “a existência de uma crise no sector nos Estados Unidos, mas a nível mundial talvez não”. Uma das áreas mais afectadas será certamente o ramo vida, uma vez que os EUA são um dos países onde a “cultura” dos seguros de vida é muito forte. O presidente da APS calcula que a maior parte das pessoas que morreram no interior dos edifícios destruídos “teriam seguros de vida individuais”. Assim sendo, as empresas de seguros do ramo vida “irão ter certamente prejuízos avultados”, acrescentou. Nos Estados Unidos, um dos responsáveis do Instituto de Informação dos Seguros, Robert Hartwig, estimou os prejuízos em “milhares de milhões de dólares”, explicando

Nos Estados Unidos, um dos responsáveis do Instituto de Informação dos Seguros, Robert Hartwig, estimou os prejuízos em “milhares de milhões de dólares”

que nas contas finais — cujo apuramento pode demorar anos — entrarão, não apenas os estragos causados no World Trade Center, mas também nos edifícios contíguos, assim como as despesas da sua reparação ou reconstrução. A somar a essa factura, as seguradoras terão ainda de pagar o realojamento das empresas que ali tinham as suas sedes. Estima-se que as seguradoras e resseguradoras mais afectadas sejam, além das norte-americanas, as grandes empresas com sede em Londres e nas ilhas Bermudas. As maiores resseguradoras mundiais são a alemã Munich Re e a suíça Swiss Re, cujos títulos foram ontem fortemente penalizados nas bolsas europeias, contribuindo para que o índice Dow Jones European Stoxx para o sector dos seguros caísse 11,5 por cento. A Loyd’s of London, alojada na City londrina e ontem obrigada a evacuar as suas instalações por precaução, não fez qualquer comentário sobre eventuais prejuízos, mas a sua exposição ao mercado da aviação comercial é elevada. No meio de tantas incertezas, sabe-se apenas que os acontecimentos de ontem em Nova Iorque e Washington poderão significar que acaba de ser quebrado um triste recorde no sector internacional dos seguros, envolvendo pagamentos aos três mil milhões de dólares (3,3 mil milhões de euros), em 1998, quando da explosão da plataforma petrolífera Piper Alpha na Grã-Bretanha. 

Chamadas para os EUA aumentaram 2500 por cento Entre as 14h e as 18h foram feitas 283 mil tentativas de estabelecimento de ligação de Portugal para os Estados Unidos As tentativas de comunicação telefónica entre Portugal e os Estados Unidos aumentaram consideravelmente ao longo da tarde de ontem, com taxas de concretização muito baixas, não só por causa da sobrecarga das linhas mas, também, porque o funcionamento das redes de telecomunicações nos EUA foi parcialmente afectado pelas consequências dos ataques terroristas registados em Nova Iorque e em Washington. De acordo com dados oficiais da Portugal Telecom (PT), o tráfego normal para os Estados Unidos é de 2300 chamadas tentadas por hora na rede fixa, com uma taxa de concretização (sempre que alguém do outro lado da linha atende o telefone) de 65 por cento. Ontem, registou-se um acréscimo médio de 2500 por cento nas tentativas de chamadas, com taxas de concretização que, na cidade de Nova Iorque, por exemplo, desceram para os oito por cento do total. Entre as 14h e as 18h foram feitas 283 mil tentativas de estabelecimento de ligação para os EUA, registando-se um pico de utilização, entre as 15h e as 16h, em que o número de tentativas ascendeu a 93 mil por hora. Desse total, apenas 9 por cento foram concretizadas (8670 chamadas). Embora sem valores absolutos, que só ficarão disponíveis hoje, a rede de Internet do grupo PT registou uma duplicação das tentativas de acesso a “sites” internacionais. Muitos deles, tanto em Portugal como nos EUA, foram abaixo momentaneamente devido ao aumento não previsto do número de utilizadores. Na rede móvel da TMN, a informação disponível apontava para um aumento de três vezes e meia no número de chamadas.  C.T.

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TERROR NA AMÉRICA

RALPH ORLOWSKI/REUTERS

Corrida ao petróleo e ao ouro

DERROCADA NAS PRINCIPAIS BOLSAS INTERNACIONAIS Os mercados accionistas viveram horas de pânico. Os analistas preferem acreditar que se está perante uma reacção emotiva, rejeitando, para já, a ideia de um “crash” profundo ROSA SOARES

“Nada vai ser como dantes!” Esta frase foi dita ontem por um operador contactado pelo PÚBLICO, numa reacção a quente e emotiva ao descalabro dos mercados accionistas. As horas que se seguiram ao atentado terrorista nos Estados Unidos foram de pânico para operadores e investidores, especialmente pela ausência de dados que permitissem descortinar o que é que se vai passar a partir de hoje. Os mercados accionistas reagem mal a atentados terroristas e este atingiu o coração financeiro norte-americano. A reacção emotiva, de pânico, ficou visível em todos os mercados que estavam em funcionamento, especialmente na Europa, mas também na América Central e do Sul. As bolsas de Nova Iorque não chegaram a arrancar, apenas os futuros estavam em funcionamento, o que evitou maiores perdas nos restantes mercados. A Bolsa de Frankfurt chegou a perder mais de 11 por cento, tendo a negociação sido interrompida uma hora antes do seu encerramento devido a uma ameaça de bomba que se veio a revelar infundada e fechando

com uma queda de 8,4 por cento. A praça de Londres fechou a perder 5,4 por cento. A queda de Paris ultrapassou os sete por cento e a de Amesterdão 6,9 por

cento. Madrid e Lisboa encerraram com as menores quedas da Europa, respectivamente 4,5 e 4,3 por cento. Algumas bolsas europeias chegaram a suspender, por curto período de tempo, a negociação, mas isso não evitou o sentimento de pânico de muitos investidores, o que se traduziu na forte venda de títulos de

O dilema da suspensão Nos momentos de grande instabilidade dos mercados, há investidores que entram em pânico e tentam vender as suas posições a qualquer preço, enquanto outros parecem ter verdadeiros “nervos de aço” e entram a comprar. Só mais tarde se percebe se os primeiros perderam uma fortuna ou se os segundos fizeram um bom negócio. Por isso, as opiniões dividem-se sobre a legitimidade da suspensão temporária dos mercados, como ontem aconteceu na Bolsa de Lisboa por meia hora, pouco depois do atentado terrorista em Nova Iorque. A medida de suspensão também foi tomada em Espanha, França e Holanda, aparentemente sem que a decisão tenha sido concertada entre estas praças. Uma hora antes de encerrar, a Bolsa de Frankfurt, a que mais caiu na Europa, também suspendeu a negociação. Na América Latina, São Paulo e Buenos Aires também interromperam a cotação e, no Extremo Oriente, a Bolsa de Taiwan fez saber que hoje não abrirá. A Comissão Executiva da Bolsa de Lisboa justificou a decisão como uma medida que pretendeu dar “algum tempo” aos investidores e agentes do mercado para se aperceberam do que se estava a passar. Esta interrupção não agradou a alguns operadores, que alegam que uma suspensão cria maior insegurança e expectativa, referindo que isso foi visível no agravamento das quedas, que eram de três por cento antes da suspensão. E, após a reabertura, chegaram aos cinco por cento, recuperando pouco antes do encerramento. R.S.

empresas seguradoras (como a Allianz e a Axa), ou de aviação, e num “refúgio” em companhias petrolíferas, ou noutros produtos financeiros de menor risco, como as obrigações do tesouro. Apesar da forte queda dos mercados, alguns analistas e economistas parecem rejeitar a ideia de que se está perante um dia de “crash” — que tecnicamente designa uma queda superior a cinco por cento —, argumentando que os mercados não apresentaram um volume de transacções muito acima do que é normal. Se os mercados norte-americanos estivessem abertos, se algumas das grandes casas de investimento não tivessem sido directamente afectadas pelo atentados — como a Morgan Stanley, que era uma das maiores “inquilinas” de uma das torres do World Trade Center —, a queda teria sido muito superior. Por isso, existe uma grande expectativa a propósito da abertura dos mercados norte-americanos. Ontem, existia alguma “esperança” de que nos próximos dias as bolsas de Nova Iorque possam estar encerradas, na medida em que existia a indicação de que o sistema de compensação financeira só reabriria na próxima segundafeira. Por enquanto há a confirmação de que as bolsas norteamericanas estarão encerradas hoje. 

“Agora só queremos comprar ouro e petróleo, tudo o resto será para vender”. Esta foi a divisa adoptada pelos mercados após os atentados que abalaram a América. Mal o primeiro avião embateu numa das torres do World Trade Center, o preço do barril de Brent para entrega em Outubro disparou, em Londres, para os 31,05 dólares, o valor mais alto desde 1 de Dezembro de 2000 — mais 13,1 por cento — e o maior ganho diário desde Março de 1998. Valor que contrasta com os 27,26 dólares a que era transaccionado antes dos atentados. A memória não deve, no entanto, ser curta, sendo conveniente relembrar que, há um ano, o Brent para entrega em Outubro chegava a cotar-se a 35,19 dólares. Especialistas contactados pelos PÚBLICO justificam esta alta na cotação do petróleo com base no medo generalizado de um aumento das tensões no Médio Oriente, região que é o maior produtor mundial de crude. Entretanto, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Ali Rodriguez, afirmou que o cartel de que fazem parte os principais produtores da região irá garantir ao mundo “estabilidade de preços” e “provisões de petróleo suficientes”. A OPEP, que cortou recentemente a produção em um milhão de barris por dia, reúne-se no próximo dia 26. Apesar de os analistas considerarem que “as reacções a quente que hoje determinaram

a subida do crude podem não se prolongar”, o ouro negro mais caro aumenta as pressões inflacionistas. Em alta transaccionou-se também o “verdadeiro” ouro. Após os atentados a “onça troy” — 31,103481 gramas — disparou, em Londres, para 287 dólares, contra 271,40 registados na abertura da sessão. Com o decorrer da sessão o ouro ainda subiu mais, testou os 293 dólares, mas acabaria por recuar para 291 dólares no fecho. Em Portugal, o grama de ouro fino cotou-se a 1951,30 escudos, em alta ligeira face aos 1949,00 escudos registados na segundafeira. Na altura dos atentados o mercado de ouro americano, New York Comex, ainda não estava a transaccionar, o que veio a fazer mais tarde, mas apenas durante alguns minutos. Localizado nas imediações das torres gémeas, o New York Comex não deverá funcionar hoje. O mesmo não acontecerá com o mercado londrino, pois o Banco de Inglaterra informou que hoje haverá transacções, até porque, conforme explicou um analista à Reuters, “tirar 20 toneladas de ouro do mercado iria fazer com que os preços da onça subissem acima dos 300 dólares”. Ainda no mercado de metais, a platina também fechou, em Londres, em alta, valendo a onça 445 dólares, contra os 438 dólares registados na segundafeira. A prata seguiu tendência idêntica, fechando em alta.  JOANA AMORIM

Dólar perde papel de refúgio O dólar foi um dos grandes perdedores dos atentados de ontem em Nova Iorque e Washington, ao desvalorizar-se contra todas as moedas, desde o euro ao iene, passando pelo franco suíço. No caos que se seguiu “aos aparentes ataques terroristas”, aquelas divisas funcionaram como moedas de refúgio, um papel normalmente reservado ao bilhete verde em épocas de instabilidade, resumiu um analista citado pela Agência France Presse. Antes de os dois aviões terem atingido as torres do World Trade Center, em Nova Iorque, o dólar trocava-se por 1,114 euros, 121,88 ienes e 1,6882 francos suíços. Depois do atentado, o pânico instalou-se e o bilhete verde caiu para 1,096 euros, 119,15 ienes e 1,6510 francos suíços. Nesta altura, operadores americanos afirmavam que o mercado estava “louco” e que era “o pânico a comprar [divisas alternativas ao dólar]”. Tratou-se de um reacção “psicológica” aos atentados e ao clima de insegurança e desconfiança entretanto instalado nos mercados, concordam especialistas portugueses contactados pelo PÚBLICO, realçando o

fraco volume de transacções. Ultrapassada a “loucura” pós-atentado, o bilhete verde acabaria por recuperar ligeiramente, cotando-se a 1,093 euros, 119,06 ienes e 1,6420 francos suíços. Feitas as contas no final do dia, o dólar tinha perdido quase um por cento face à moeda única europeia e cerca de 1,5 por cento contra a divisa nipónica. A queda mais expressiva foi relativamente ao franco suíço (menos 8,2 por cento), que atingiu máximos de sete meses. Os operadores cambiais receiam que os ataques empurrem a maior economia do mundo para a recessão, explicam os analistas. A provar que os receios são fundados, a Reserva Federal (Fed) dos EUA fez saber que iria garantir a liquidez dos mercados durante a crise americana. “A Fed está aberta e a funcionar. Estamos disponíveis para emprestar dinheiro aos bancos às taxas de desconto em vigor”, garantiu o banco central norte-americano em comunicado. Esta atitude da Fed, que visa satisfazer a procura de activos mais líquidos por parte dos investidores, foi seguida pelo Banco Central Europeu.  J.A.

D E S T A Q U E 11 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Pearl Harbour II

A

o atingirem o aos americanos, procoração dos tegidos por um escudo anti-míssil — situação Estados Unidos pela priideal para as tendênmeira vez na história, cias isolacionistas hoos horríveis atentados je prevalecentes em terroristas de ontem Washington. Ora essa abrem uma nova fase visão foi ontem brutalFRANCISCO na vida internacional. mente desmentida. ARSFIELD CABRAL S No plano económico Os americanos desCOMENTÁRIO cobriram que não ese financeiro, foi tremendamente abalada tão ao abrigo de coisa a convicção de que os alguma, não obstante EUA estariam ao abrigo das perturba- serem a única superpotência no munções sociais e políticas que, por vezes, do. E talvez descubram também que, têm afectado outros países desenvol- hoje, ninguém, nenhum país, pode vidos, em particular na Europa. Tal viver isolado, por muito forte que seja convicção era uma das razões que fa- ou julgue ser. Toda a política unilateziam afluir à América capitais de todo ralista de George W. Bush fica, assim, o mundo. Coincidindo esse abalo com posta em causa. Os EUA precisam da a quase recessão económica que já cooperação internacional, até para ali se fazia sentir, torna-se agora bem combaterem eficazmente o terrorisreal o risco de uma saída em massa mo. Não podem continuar a rasgar de dinheiro dos EUA, com o dólar em tratados internacionais nem a desprebaixa, tendo como consequência gra- zar as organizações políticas e econóves perturbações financeiras inter- micas multilaterais. Pearl Harbour, nacionais. há sessenta anos, acordou a América Mas serão políticos os efeitos mais para a necessidade de cooperar com profundos da tragédia de ontem. Os os aliados europeus no combate ao americanos sentem-se hoje muito vul- nazismo. Tenho esperança de que este neráveis, até porque não estavam ha- segundo Pearl Harbour, não menos bituados a este tipo de atentados em trágico do que o primeiro, ponha um sua casa. A grande preocupação era travão nas tendências isolacionistas um ataque de mísseis por parte de e unilateralistas que se acentuaram um país “terrorista”. Essa era, pelo com a nova administração Bush e leve menos, a justificação apresentada por Washington a liderar a edificação Washington para avançar com o sis- de uma globalização politicamente tema de defesa anti-míssil, violando o enquadrada. Se assim acontecer, ao tratado ABM e preocupando russos, menos algo de positivo poderá emerchineses e europeus. Aquele siste- gir da tragédia de ontem. Tal como ma parecia oferecer tranquilidade há sessenta anos.

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TERROR NA AMÉRICA

RAHIMULLAH YOUSAFAZI/REUTERS

Bin Laden tinha ameaçado ataque sem precedentes Milionário saudita, que tem as suas bases no Afeganistão, é o principal suspeito ALEXANDRA PRADO COELHO

Osama bin Laden

Há três semanas, Osama bin Laden, o milionário saudita considerado o inimigo número um dos Estados Unidos, avisou que iria lançar um ataque sem precedentes contra interesses norte-americanos pelo apoio que Washington dá a Israel, revelou ontem à Reuters Abdel-Bari Atwan, editor do jornal “al-Quds al-Arabi”, baseado em Londres. “Pessoalmente recebemos informação de que ele estava a planear ataques muito, muito grandes contra interesses americanos”, disse Atwan, que já entrevistou Bin Laden e mantém contactos próximos com alguns dos seus seguidores. O Egipto também tinha avisado os EUA para a possibilidade de atentados terroristas se a actual política americana no Médio Oriente — evitar um envolvimento directo, apoiar incondicionalmente Israel — continuasse. “Se os EUA não encontrarem uma solução para a violência [no Médio Oriente], esta poderá transformarse em terrorismo”, tinha dito, no dia 26 de Junho, o Presidente egípcio, Hosni Mubarak. No dia 18 do mês seguinte, Washington lançou um alerta contra riscos de atentados visando interesses americanos na península arábica. Osama bin Laden esteve sempre sob suspeita. No início de Fevereiro, a CIA divulgou o seu relatório anual sobre as ameaças à segurança dos EUA, em que considerava o milionário de origem saudita (actualmente a viver no Afeganistão sob a protecção dos ultra-fundamentalistas islâmicos que governam o país, os taliban) como “a mais imediata e séria ameaça à segurança nacional”. “Desde 1998, Bin Laden declarou todos os cidadãos norteamericanos como alvos legítimos para um ataque”, disse na altura o chefe da CIA George Tenet, recordando que “como ficou demonstrado pelos atentados nas nossas embaixadas em África em 1998 [Quénia e Tanzânia], ele é capaz de planear ataques múltiplos com pouco ou nenhum aviso”. Mas o plano de guerra global de Bin Laden não data de 1998. Vem de muito antes. Segundo uma investigação publicada pelo “New York Times”, foi em 1987 que o milionário saudita “teve uma visão”. “O momento tinha chegado, disse aos amigos, para iniciar uma ‘jihad’ [guerra

santa] global contra os governos seculares corruptos do Médio Oriente e as potências ocidentais que os apoiam”. A estratégia é utilizar os seus campos no Afeganistão, convidando guerrilheiros de todo o mundo para se treinarem para uma guerra santa. Com este projecto, Bin Laden quer reunir as forças dispersas em conflitos desde as Filipinas à Argélia e concentrálos num único objectivo. Desta “visão” nasceu o grupo “Al Qaeda”, árabe para “a base”. Este grupo atraiu malaios, argelinos, filipinos, argelinos, palestinianos, egípcios, que têm em comum a vontade de combater em nome do Islão e o ódio aos EUA. “As políticas nacionais estão por detrás do que eles fazem, mas é muito mais visionário do que isso”, explica Robert Blitzer, um antigo especialista do FBI em contraterrorismo. “Isto é à escala global”. Os cálculos da CIA apontam para que “Al Qaeda” possua uma dúzia de campos no Afeganistão, onde já foram treinados mais de cinco mil combatentes, que, quando regressam aos respectivos países, criam células ligadas ao grupo-mãe. Deverão existir pelo menos 50 destas células. Os homens de Bin Laden têm à disposição a mais moderna tecnologia de comunicações e, segundo peritos, estarão a desenvolver armas químicas. Os atentados são planeados durante meses ou mesmo anos, e o grupo usa “submarinos”, ou seja, agentes infiltrados entre a população local. “Ele não quer negociar” O inspirador desta poderosa rede é um homem magro, de

aspecto calmo, turbante na cabeça e longa barba. Osama bin Laden nasceu em Riad em 1975 e foi o 17º dos 52 filhos de um rico construtor civil da Arábia Saudita. Apesar de ter nascido numa família religiosa, na sua juventude Osama não era propriamente um exemplo. Nos seus tempos de estudante, em Beirute, antes da guerra civil, era mais visto nos bares do que nas mesquitas. Discreto, vestido à ocidental e sem barba, vivia na sombra de um dos seus irmãos mais velhos. Mas aos 22 anos, a sua vida conheceu uma mudança radical. Aconselhado pelo chefe dos serviços secretos sauditas e ajudado pela fortuna da família, começou a treinar combatentes para lutar contra os soviéticos no Afeganistão. Com o tempo, e o fim da guerra afegã, foi-se afastando cada vez mais da Arábia Saudita (que o expulsou em 1991 e acabou por lhe retirar a nacionalidade em 1994), acusando-a de se ter vendido à América. Bin Laden refugiou-se no Sudão, mas, pressionadas pela comunidade internacional, as autoridades de Cartum expulsaram-no. Os taliban afegãos abriram-lhe então as portas. Olivier Roy, um especialista francês em islamismo citado pelo “New York Times” afirma que o maior trunfo da Al Qaeda é o facto de milhares de combatentes espalhados pelo mundo já não encararem a sua luta como nacional, mas sim global, o que os torna “imunes” a pressões políticas e militares normais. As acções de Bin Laden, diz Roy, “não são a continuação da política por outros meios”. Bin Laden é diferente. “Ele não quer negociar”. 

Taliban negam envolvimento do seu “hóspede” Os taliban convocaram uma conferência de imprensa no Paquistão poucas horas depois dos atentados nos EUA, para negarem veementemente o envolvimento do seu “hóspede” Osama bin Laden. “Osama é apenas uma pessoa, ele não tem os meios para fazer este tipo de actividades”, afirmou o embaixador dos taliban (grupo ultrafundamentalista islâmico, no poder no Afeganistão) em Islamabad, Abdul Salam Zaeef. “Queremos dizer ao povo americano que o povo afegão partilha a sua dor. Esperamos que os terroristas sejam apanhados e julgados”, disse o diplomata, sublinhando mais uma vez que as autoridades afegãs “não permitem que Bin Laden use o território do Afeganistão contra outro país”. A mesma ideia foi depois repetida em Cabul pelo portavoz dos taliban Abdul Hai Mutmaen: “O que aconteceu nos EUA não é obra de pessoas vulgares. Pode ter sido obra de um governo. Mas Osama bin Laden não podia ter feito isto. Nem nós.” Interrogado sobre se o Afeganistão receia uma retaliação americana, o embaixador Zaeef disse esperar que “a América não tome uma medida tão rápida e trágica sem completar uma investigação”. Em 1998, após os atentados contra as embaixadas no Quénia e na Tanzânia, os EUA bombardearam o Afeganistão e o Sudão.

D E S TA Q U E 1 3 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001 DOUG KANTER/EPA

Os inimigos da América

As torres gémeas do World Trade Center foram reduzidas a cinzas

Milícias – o inimigo interno JEFF MITCHELL/REUTERS

Antes do ataque de ontem, o pior atentado em território dos EUA fora levado a cabo não por um grupo terrorista estrangeiro mas por um cidadão americano: Timothy McVeigh. Em 1995, McVeigh (e cúmplices como Terry Nichols, ainda à espera de sentença) mataram 168 pessoas num edifício federal em Oklahoma City. O atentado de McVeigh chamou a atenção sobre as milícias paramilitares extremistas que existem nos Estados Unidos. McVeigh, um antigo soldado, estava ligado a esse movimento de grupos que consideram que as liberdades individuais dos cidadãos norte-americanos estão a ser postas em causa por uma conspiração do Governo federal. A ideologia destes extremistas é confusa e variada, mas o que eles têm em comum é a crença de que o poder central norte-americano, aliado às Nações Unidas e/ou a uma conspiração sionista internacional, querem impor um “Governo sombra” nos EUA, que tomaria medidas como proibir o direito de porte de armas. McVeigh, como outros extremistas, agiu para se vingar de acções das forças policiais federais como os cercos de Waco (em que morreram vários membros de uma seita religiosa radical) ou de Ruby Ridge (em que morreu a família de um radical de extrema-direita, Randy Weaver). E vingou-se atacando um edifício federal. Este ano, foi executado pelo crime. Poderão os ataques de ontem ser novas ofensivas des-

O atentado de Oklahoma chamou a atenção sobre as milícias paramilitares extremistas que existem nos EUA tas milícias? Não é provável. Bruce Hoffman, analista norte-americano, disse à BBC que “depois de Oklahoma, os media inflacionaram o poder [das milícias], atribuiramlhes uma força que elas nunca tiveram”. Com efeito, o acto mais espectacular destas milícias — o atentado de Oklahoma — foi levado a cabo por um indivíduo solitário ou por um pequeno grupo, e com meios

relativamente rudimentares; nenhuma milícia alguma vez mostrou capacidade logística para organizar ataques da dimensão do de ontem. Além disso, alguns dos alvos dos ataques de ontem não se enquadram nos objectivos das milícias: a luta dos paramilitares radicais é contra o Governo federal, não contra a iniciativa privada (o World Trade Center) ou a política externa americana (o Pentágono).

Sobretudo, as milícias paramilitares entraram claramente em decadência depois de Oklahoma. Segundo o Southern Poverty Law Center, que faz o acompanhamento deste fenómeno nos EUA, as milícias aumentaram no período imediatamente após o atentado de McVeigh: chegou a haver 858 grupos conhecidos em 1996. Mas depois, seja por desilusão e desinteresse dos seus

membros, seja pela acção do FBI que atacou fortemente o movimento de milícias, o número caiu para apenas 194 actualmente. E a maioria destes grupos distanciou-se do acto de McVeigh, renunciando a acções violentas. Os seus protestos contra o Governo federal resumem-se a actos simbólicos como não registar as matrículas dos seus carros ou não pagar impostos.  P.R.

Os Estados Unidos são a única superpotência mundial. O seu papel nas relações internacionais criou-lhes muitos inimigos, alguns dos quais terão sorrido com a notícia do ataque de ontem em Washington e Nova Iorque. Alguns talvez até gostassem de ter estado por trás do ataque — mas teriam capacidade para isso? Na lista de suspeitos da responsabilidade deste ataque, a primeira pista é islâmica — Osama binLaden, o “inimigo número um” da América. Mas, no Médio Oriente, os EUA têm outros inimigos. Saddam Hussein é o mais óbvio: derrotado na Guerra do Golfo por uma aliança internacional liderada pelos EUA, o ditador do Iraque vitupera regularmente o “grande Satã” de Washington. Desde há dez anos que o Iraque vive no isolamento, e as suas instalações militares são periodicamente bombardeadas por aviões norteamericanos. O apoio dos Estados Unidos em Israel valeu-lhes o ódio do mundo árabe, particularmente dos envolvidos no conflito israelo-palestiniano. As organizações radicais armadas que defendem a causa palestiniana devotam a Washington o mesmo tipo de hostilidade que a Israel; mas tradicionalmente os movimentos palestinianos Jihad Islâmica, Hamas ou FPLP, ou o libanês Hezbollah, não incluem nos seus métodos ataques a objectivos americanos fora do Médio Oriente. Moammar Khadafi, o líder da Líbia, também é um inimigo fidagal dos EUA. O enigmático e imprevisível Khadafi está, no entanto, num processo de reaproximação ao mundo ocidental. O mesmo se pode dizer de outro dos países que fazem parte da lista americana de “estados-párias”, a Coreia do Norte — não é provável que o regime estalinista de Kim Jongil optasse por uma acção deste tipo, particularmente numa altura em que Pyongyang tem mostrado abertura ao exterior. Na Colômbia, os norteamericanos têm uma forte presença militar, no âmbito do seu combate à luta contra as drogas. Aí enfrentam os cartéis de droga de Medellin e Cali, e as guerrilhas (também associadas ao tráfico) das FARC e do ELN. No entanto, é duvidoso que estes movimentos tenham capacidade para organizar um ataque com a amplitude do de ontem. P.R.

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TERROR NA AMÉRICA

EVY MAGES/REUTERS

TRINTA ANOS DE ATENTADOS NA AMÉRICA 1970 Agosto, 24 — Um investigador universitário que trabalhava para o Exército é morto em Madison, no Wisconsin, num atentado assinado por militantes ditos “pacifistas” 1975 Janeiro, 24 — Uma explosão num café de Nova Iorque causa quatro mortos. É um dos 49 atentados atribuídos entre 1974 e 1977 ao grupo nacionalista das Forças Armadas de Libertação Nacional de Porto Rico Dezembro, 29 — Atentado à bomba no aeroporto La Guardia, de Nova Iorque: 1 morto e 75 feridos 1981 Maio, 16 — Explosão no terminal do aeroporto Kennedy assinado pela “Resistência Armada Porto-Riquenha”

O atentado de 1993 contra o World Trade Center causou mais de 330 milhões de euros de prejuízos

Quando a América deixou de ser invulnerável O primeiro acto terrorista contra o World Trade Center ocorreu em 1993, causando seis mortos e mais de mil feridos MARCO VAZA

A 26 de Fevereiro de 1993, uma carrinha estacionada na garagem de uma das torres do World Trade Center explodiu, causando a morte a seis pessoas e ferimentos a mais de mil, para além de ter provocado mais de 300 milhões de dólares (330 milhões de euros) em prejuízos, naquele que foi o primeiro acto terrorista internacional a ocorrer em território norte-americano. A explosão abriu uma enorme cratera na zona subterrâneo das “Twin Towers”, provocando o colapso dos cinco primeiros andares (do qual resultaram as seis vítimas mortais), e, consequentemente, um visível abanão das torres. O xeque egípcio Omar Abdel Rahman, chefe religioso de uma mesquita em Nova Iorque, e nove outros militantes islâmicos, um grupo onde se incluiam cidadãos do Sudão, Egipto e Jordânia, foram condenados em 1995 a prisão perpétua por conspiração e outras acusações ligadas ao atentado. Três anos depois, o alegado cérebro da operação, Ramzi Yousef, de nacionalidade indeterminada (possivelmente iraquiana), foi também condenado a prisão perpétua.

Na sexta-feira do atentado, a polícia de Nova Iorque recebeu várias chamadas de organizações diferentes a reivindicar a responsabilidade do atentado, incluindo a autoproclamada Frente de Libertação da Sérvia, e as suspeitas iniciais apontavam para uma acção relacionada com o conflito na Jugoslávia. Mas a “pista balcânica” foi rapidamente abandonada e as atenções concentraram-se numa possível autoria de terroristas islâmicos. A investigação conduziu as autoridades norte-americanas à captura dos suspeitos, que já estariam a preparar atentados contra a sede do FBI, da ONU e de pontes e túneis que ligam Nova Iorque e New Jersey, no seu próprio território, confirmando as suspeitas que apontavam para a existência de uma rede clandestina formada por fundamentalistas islâmicos destinada a espalhar o terror pelo país. Mais difícil foi a “caça” a Ramzi Yousef, que fugiu na noite a seguir ao atentado e chegou a ter a cabeça a prémio, tendo sido, inclusivamente oferecida uma recompensa de dois milhões de dólares (2,2 milhões de euros). Só em 1995, depois de uma perseguição que se estendeu por vários países (passou pelas Filipinas, onde estaria a preparar o assassínio do Papa João Paulo II), é que Yousef foi capturado em Islamabad, no Paquistão. “As torres do World Trade

Center não estariam de pé se eu tivesse dinheiro e explosivos suficientes”, terá dito Ramzi Yousef a um agente do FBI quando regressava aos EUA para ser julgado. A investigação levada a cabo na altura chegou à conclusão de

que com uma maior quantidade de explosivos e com a colocação de duas carrinhas armadilhadas em locais estratégicos as consequências poderiam ter sido bem piores, tendo em conta a hora (12h18) a que ocorreu o aten-

tado. “Em vez dos seis mortos, o atentado teria posto em risco a vida de 70 mil pessoas”, referiu na altura Robert Kupperman, especialista em terrorismo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington. 

Anos de bombas e mortos África, América, Médio Oriente ou Ásia, não há praticamente nenhum canto do mundo onde um qualquer grupo ou guerrilha não tenha aparecido de surpresa a dizimar sem olhar a nada. Um dos últimos ocorreu em Angola, no dia 10 de Agosto, quando a UNITA, o movimento que combate o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos, atacou um comboio que circulava a Sul de Luanda, matando 252 pessoas — um dos piores incidentes da longa guerra civil angolana. Antes desse ataque, no dia anterior, um palestiniano suicida tinha matado cinco pessoas e ferido outras 90 em Jerusalém, no âmbito do levantamento palestiniano que começou há quase um ano e tem sido farto de atentados do mesmo tipo. Como o de dia 1 de Junho, quando um outro combatente palestiniano também se matou a si próprio e a outras 21 pessoas num clube de Telavive. O ano passado viu dois grandes atentados à bomba, um no dia 12 de Outubro, contra um “destroyer” dos Estados Unidos no porto de Áden, no Iémen, em que morreram 17 marinheiros, e outro, em Fevereiro, em Ozamis, nas Filipinas, onde as vítimas mortais ascenderam a 45. 1999 tinha sido pior: 110 mortos — e 400 feridos — num ataque, em Outubro, contra um mercado da capital, Grozni, nunca se soube muito bem perpetrado por quem, e 276 outros noutras acções

com explosivos no mês anterior, dois em Moscovo e um em Buynaksk, no Daguestão, além de centenas de feridos. Em Março, meia centena de pessoas tinham morrido na explosão de um carro armadilhado num mercado de Vladikavkaz, no Sul da Rússia. O ano de 1998 tinha ficado marcado pelo mais violento dos atentados na Irlanda do Norte nos últimos trinta anos, em Omagh, em que morreram 29 pessoas, assinado pelo Real IRA, dissidência radical do Exército Republicano Irlandês, e pelos que mataram, nas embaixadas norte-americanas em Nairobi e Dar-esSalam, 224 pessoas e feriram milhares de outras. Quanto a 1996, atentados mataram quase todos os meses: 300 mortos no estado indiano de Assam em Dezembro, 125 no desvio de um Boeing 767 etíope ao largo das Comores em Novembro, 21 em Multan, no Paquistão, em Setembro, 78 no Sri Lanka em Julho, 200 feridos num atentado do IRA, em Manchester, em Junho, 26 em Jerusalém em Fevereiro, mais 31 no Sri Lanka em Janeiro. 1995 foi o ano do atentado com gás no metro de Paris, onde morreram oito pessoas e ficaram intoxicadas outras 86, e do de Oklahoma, que causou 168 mortos. 1994 o da explosão da comunidade mutualista judaica em Buenos Aires, onde uma bomba matou 96 pessoas.

1993 Fevereiro, 26 — Ataque contra uma das torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque: seis mortos e mil feridos. Quatro islamistas integristas de um grupo liderado pelo xeque Omar Abdel Rahman, guia espiritual de uma organização egípcia, são condenados em Maio de 1994 a um total de 240 anos de prisão pela autoria do ataque 1995 Abril, 19 — Um atentado com uma viatura armadilhada contra um edifício de Oklahoma causa 168 mortos e mais de 600 feridos. Autor: Timothy McVeigh, um antigo combatente da guerra do Golfo, simpatizante de milícias e pequenos grupos hostis ao Governo federal Outubro, 9 — Um comboio que assegura a ligação Miami-Los Angeles descarrila na sequência de um atentado reivindicado por um grupo desconhecido — “Os Filhos da Gestapo”. Uma pessoa morre e 80 outras ficam feridas. As autoridades relacionam a acção com o drama de Waco, no Texas, em Abril de 1993 1996 Julho, 27 — Explosão de bomba no Parque do Centenário, em Atlanta, na Geórgia, durante os Jogos Olímpicos: dois mortos e 110 feridos 1998 Therodore Kaczynski, conhecido por “Unabomber”, é condenado a prisão perpétua em Maio de 1998 por ter conduzido uma cruzada anti-modernista através de cartas armadilhadas que em três anos matou três pessoas e feriu outras 23

D E S TA Q U E 1 5 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Era também manhã em Oklahoma JEFF MITCHELL/REUTERS

19 DE ABRIL DE 1995, 9 HORAS E 03 MINUTOS Kathy olhou na direcção do infantário, onde deviam estar Chase e Cole, e eles não estavam lá FERNANDO SOUSA

A penúltima vez que uma bomba fez tremer os Estados Unidos foi a 19 de Abril de 1995, em Oklahoma. O autor do atentado, Timothy McVeigh, foi depois condenado à morte. Morreu por injecção letal há três meses. Era, como ontem, também manhã, os americanos acordavam e preparavam-se para a escola ou o trabalho. De repente, passavam três minutos das nove, o edifício federal Alfred P. Murrah, desfazia-se em pedaços. “Eu e a minha filha fomos para a rua. Havia vidros a voar, carros a rebentar. Olhei para o infantário e não estava lá. Percebi logo que era mau, que as duas crianças tinham morrido”, recordou mais tarde Kathy McVeigh. Os dois miúdos eram Chase e Cole, os netos, de dois e três anos, duas das duas vítimas mortais do desastre, em que ficaram feridas outras 500 pessoas. O atentado mexeu com os americanos, tomados de assalto por especulações sobre altas conjuras internacionais, talvez neonazis, talvez árabes. Não tinha sido um árabe, Omar Abdel Rahman, o mentor do atentado, dois anos antes, em Fevereiro de 1993, contra o World Trade Center? Depois, porém, acabaram por ter de admitir que o crime partira do interior, de um dos seus, para mais um jovem condecorado na guerra do Golfo cheio de ódio às instituições. Ao ponto de se abandonar à sentença de morte. Questionado pelo juiz sobre se tinha alguma coisa a dizer em sua defesa, respondeu seco: “A este tribunal, nenhuma!” Com base num acervo documental de 25 mil folhas e 137 testemunhas, a acusação provou que Timothy McVeigh, de 26 anos de idade, um antigo sargento do Exército, organizou e realizou o atentado, com a ajuda de outra pessoa, mediante um camião que tinha alugado no Kansas com um nome falso e que encheu com uma mistura de mais de 2 mil quilos de explosivos, incluindo nitrato de amónio, enfurecido com o cerco de Waco, Texas, pela polícia, durante o qual morreram 86 pessoas da seita dos davidianos. Os sobreviventes de Oklahoma City, uma cidade que se queixava de ali nunca acontecer nada, disseram que queriam ver McVeigh “desaparecer”, para poderem “seguir em frente”. 

Milhares de pessoas prestaram homenagem às vítimas do atentado de Oklahoma

Os ataques da Tanzânia, Quénia, Iémen A 7 de Agosto de 1998 uma violenta explosão atingiu a embaixada norte-americana em Nairobi, capital do Quénia. Minutos depois, outra explosão produziu um caos e um pânico idênticos em frente a outra embaixada americana, desta vez em Dar esSalam, capital da Tanzânia. Mais de 200 pessoas morreram e pelo menos cinco mil ficaram feridas. Nos Estados Unidos, o então Presidente Bill Clinton preparava-se para ser interrogado pelo Grande Júri sobre a sua relação com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. O escândalo, que se arrastava há meses, deixara o Presidente profundamente fragilizado. A América sentiase humilhada, dentro e fora das suas fronteiras. Os taliban afegãos avisaram imediatamente Washington para que não tentasse capturar o milionário saudita Osama bin Laden, a viver em território afegão e considerado o principal suspeito do duplo atentado. Mas a 20 de Agosto, Clinton ordenava uma dupla retaliação: aviões norteamericanos atacaram alvos no Afeganistão e no Sudão. Este segundo país era suspeito de estar a desenvolver um programa de armas químicas numa fábrica que foi arrasada pelos aviões, e que, segundo os sudaneses, nunca produzira mais do que produtos farmacêuticos (mais tarde os americanos admitiram o erro). Bin Laden tinha mostrado a sua força e a sua capacidade de lançar ataques coordenados. A América elevou-o à categoria de inimigo número um. Mas o milionário voltaria a atacar — ou pelo meno seria suspeito de outro atentado. A 12 de Outubro de 2000, uma pequena embarcação carregada de explosivos colidiu com o contratorpedeiro norteamericano “Cole”, que se encontrava no porto de Áden, capital do Iémen. Dezassete marinheiros americanos morreram. A Administração americana apontou novamente o dedo a Bin Laden, e o Pentágono discutiu a hipótese de lançar um “ataque preventivo” contra a organização. Mas Clinton parece ter decidido adiar a punição para não provocar a fúria dos muçulmanos e não prejudicar aquele que era o seu objectivo prioritário, um acordo de paz no Médio Oriente. A.P.C.

1 6 D E S TA Q U E PÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

TERROR NA AMÉRICA

A Europa em estado de choque BORIS ROESSLER/EPA

ALEMANHA SCHROEDER CONDENA “ACTO DE TERROR CONTRA O MUNDO CIVILIZADO” A Alemanha parou, literalmente, à medida que as terríveis notícias chegavam, via televisão, do World Trade Center, em Nova Iorque, e de Washington. Imediatamente a sessão parlamentar do Bundestag (Parlamento) foi suspensa, o chanceler alemão, Gerhard Schroeder, convocou o conselho de segurança nacional alemão e decretou o “grau de alerta máximo”. Numa primeira reacção, o chanceler condenou o ataque terrorista contra os EUA e expressou a “solidariedade ilimitada” da Alemanha. “Todos os alemães estão indignados com este acto. Trata-se de uma declaração de guerra contra o mundo civilizado”, afirmou Schroeder, “o povo alemão está nesta hora difícil ao lado dos norte-americanos”. “Quem protege os terroristas viola todas as normas que regem as relações internacionais”. A seriedade dos acontecimentos do outro lado do Atlântico levou a que em todos os edifícios públicos germânicos as bandeiras fossem colocadas a meia haste em sinal de respeito pelas vítimas. Inúmeras festividades por todo o país — como a abertura prevista para amanhã do salão automóvel de Frankfurt, IAA — assim como espectáculos teatrais e musicais foram cancelados. No maior aeroporto alemão, Frankfurt, as medidas de segurança foram reforçadas e todos os voos transatlânticos para os Estados Unidos anulados ou desviados. O Presidente alemão, Johannes Rau, enviou ao seu homólogo George W. Bush um telegrama de condolências, no qual expressava a “consternação e indignação” dos alemães. Todas as forças políticas representadas no Bundestag se manifestaram chocadas pela barbárie do acto e apresentaram condolências familiares das vítimas. A embaixada norte-americana em Berlim foi encerrada (e barricada), assim como a israelita. Também as bases militares norte-americanas em solo alemão foram colocadas em estado de alerta máximo. Ao longo de toda a tarde de ontem as televisões emitiram edições especiais a acompanhar o desenvolvimento dos acontecimentos no Word Trade Center onde foi possível ver jornalistas com dezenas de anos de experiência profissional com a voz embargada. Na Alemanha, os centros de crise criados (no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Gabinete Federal) estão apreensivos não só relativamente à segurança de edifícios norteamericanos e israelitas, mas também, segundo um comentador do canal televisivo público, ARD, em relação à segurança do próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fischer, pelo seu empenho na tentativa de pacificação do conflito no Médio Oriente.  HELENA FERRO DE GOUVEIA, em Frankfurt

REINO UNIDO TERRORISMO É O NOVO “FLAGELO DIABÓLICO” Na qualidade de aliado privilegiado dos Estados Unidos, também o Reino Unido reforçou ontem o estado de alerta em todos os edifícios governamentais — civis e militares —, bem como em todas as representações diplomáticas britânicas no estrangeiro, segundo anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jack Straw. O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, convocou ontem para o número 10 de Downing Street uma reunião do comité de urgência do seu governo, baptizado como o nome de “Cobra”. Para além de Straw, também o ministro do Interior, David Blunkett, e da Defesa, Geoff Hoon, foram convocados para a reunião onde estiveram presentes os responsáveis máximos militares e dos serviços secretos britânicos. “As pessoas vão tentar pesar se o Reino Unido é vulnerável a ataques semelhantes e o que pode fazer para os evitar ou enfrentar”, disse

Conferência de Paz sobre o Médio Oriente e que recentemente Aznar afirmou a disponibilidade para a realização de uma iniciativa idêntica. Apesar desta postura e das tradicionais boas relações que Madrid mantém com várias capitais árabes, incluindo com o Presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, tudo indicia que a Espanha tomará a mesma posição que os seus parceiros da União Europeia. Mas também é difícil admitir que haja uma alteração radical da sua posição de querer aproximar Israel do mundo árabe e suscitar a paz na região. Ontem, nas delegações diplomáticas acreditadas em Madrid, como na sociedade e nos responsáveis políticos, vivia-se surpresa, indignação e sob o signo de uma segurança reforçada nas instalações diplomáticas norteamericana e israelita, bem como nas bases dos Estados Unidos em solo espanhol. As eventuais repercussões políticas e diplomáticas do 11 de Setembro de 2001 só serão conhecidas mais tarde.  NUNO RIBEIRO, em Madrid

FRANÇA “PIOR DO QUE PEARL HARBOR”

Um pouco por todo a Europa o drama de Nova Iorque foi seguido com espanto à Reuters o analista de defesa Paul Beaver. Por respeito às vítimas dos atentados norteamericanos, Blair anulou o seu discurso previsto frente ao congresso anual dos sindicatos britânicos, em Brighton. Segundo a AFP, a voz do primeiro-ministro britânico estava trémula quando se declarou “terrivelmente chocado” pela série de atentados contra os EUA. Blair transmitiu “as mais profundas condolências ao presidente Bush e ao povo americano da parte do povo britânico” e condenou “o terrorismo em massa que é o novo flagelo diabólico no nosso mundo actual, que foi perpetrado por fanáticos que são completamente indiferentes ao carácter sagrado da vida humana”. Para o primeiro-ministro britânico é o dever das democracias “unirem-se e combaterem em conjunto para erradicar totalmente este flagelo” que é o terrorismo contemporâneo. “Não conseguimos imaginar a carnificina que se passou lá [em Nova Iorque e Washington] e o número muito, muito elevado de inocentes que perderam a vida”. Jack Straw ofereceu aos EUA “toda a ajuda possível” do Reino Unido para encontrar os autores do atentado. O quotidiano da vida de Londres também foi afectado pelo ambiente de ameaça generalizada que se viveu ontem em todo o mundo ocidental. A bolsa de Londres foi evacuada, bem como as torres de Canary Wharf, nas Docklands. A companhia aérea British Airways anulou todos os voos de e para os Estados Unidos e as medidas de segurança foram reforçadas nos três principais aeroportos da capital britânica: Heathrow — que

continua a ser o aeroporto internacional mais movimentado de todo o mundo —, Gatwick e Stansted.  J.A.

ESPANHA EM ESTADO DE ALERTA Todos os serviços de segurança espanhóis estão em alerta máximo após os atentados cometidos nos Estados Unidos. A meio da tarde de ontem, a embaixada norte-americana em Madrid, na calle Serrano, estava protegida por forças especiais da polícia espanhola e rodeada por blindados da Guarda Civil. O presidente do Governo espanhol, José Maria Aznar, que iniciava uma viagem a três países bálticos, regressou urgentemente a Espanha. Numa conferência de imprensa em Tallin, capital da Estónia, Aznar atacou “a loucura terrorista”. “Disse várias vezes que não devemos distinguir entre terroristas, o terrorismo é igual em todo o lado e os terroristas devem ser perseguidos onde quer que estejam”, sintetizou o “premier” espanhol. Um discurso com evidente sinal político interno, uma referência indirecta de Madrid ao terrorismo etarra. Na capital espanhola, a “célula de crise”, intregrada pelos ministros da Defesa, Interior e Negócios Estrangeiros, continuava reunida à hora do fecho desta edição, e a diplomacia madrilena é parca em declarações, para além da óbvia condenação dos brutais atentados. Em 1991, na era dos Governos de Felipe González, a Espanha foi anfitriã e inspiradora da

“A história do mundo está a mudar perante os nossos olhos. O atentado do World Trade Center tem o impacto histórico de Pearl Harbor, mas é pior do que Pearl Harbor, porque o alvo é civil e o inimigo sem rosto”: este comentário do presidente do partido centrista UDF, François Bayrou, resumia o sentimento predominante na classe política francesa em reacção aos atentados que abalaram ontem os EUA. A embaixada americana foi imediatamente fechada e rodeada pelas forças da ordem. Nas ruas de todas as cidades francesas, centenas de pessoas aglutinavam-se em torno nos cafés com televisões, ou em frente das montras de lojas de electrodomésticos — e a pergunta incessante era: “Paris será também visada?” Rapidamente, o governo francês reactivou o plano Vigipirate para limitar os riscos de atentados terroristas em França, mesmo se o ministro do Interior, Daniel Vaillant, considera que “não há ameaças identificadas contra a França”. Este plano mobiliza o Exército, as forças de polícia e da “gendarmerie” (guarda republicana) em patrulhas de rua. O Vigipirate foi concebido em 1995, depois dos atentados terroristas atribuídos ao GIA (Grupo Islâmico Armado, argelino) e que fez oito mortos e centenas de feridos. De tarde, houve uma reunião de crise de todas as polícias, dos serviços secretos e da contra-espionagem, mas nenhuma informação foi divulgada. Quatro patrulhas da força aérea vigiam permanentemente o céu da região parisiense. O Presidente Jacques Chirac terminou de imediato uma deslocação à Bretanha para regressar a Paris: “É com uma emoção imensa que a França toma conhecimento dos atentados monstruosos que abalam os Estados Unidos”, reagiu o chefe de Estado francês, que assegurou a “solidariedade” do povo francês para com o povo americano “nesta tragédia”. Em Matignon, o primeiro-ministro Lionel Jospin condenou “o recurso abominável à violência terrorista”. Numa conferência de imprensa improvisada, o chefe do governo manifestou a “emoção profunda” e o “sentimento de horror” que lhe inspira “esta violência inaceitável”. Ao cair da noite, Jospin apelou aos franceses para “manterem a calma”. Um Conselho de Ministros restrito, com os ministros dos Negócios Estrangeiros, do Interior, da Defesa e dos Transportes, foi organizado no Eliseu ao fim da tarde. O Presidente Chirac prometia falar ao país de noite. “Mudámos de mundo. Nada será como antes do ataque contra o World Trade center”, preconiza o deputado gaullista Pierre Lelouch, especialista de questões estratégicas e antigo cronista da revista americana “Newsweek”.  ANA NAVARRO PEDRO, em Paris

ESPECIAL 17 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

15h10 Um avião Boeing 757 despenhase em Somerset County, a 80 milhas de Pittsburgh, no estado da Pensilvânia. É mais tarde identificado pela companhia aérea United Airlines como tratando-se do voo 93, com destino a São Francisco e tendo partido de Newark, em New Jersey, com 38 passageiros e sete tripulantes a bordo.

15h45

Todos os edifícios federais dos Estados Unidos são evacuados. Todos os aeroportos do país são evacuados e também encerrados.

19h30 A FAA anuncia que todos os voos comerciais norte-americanos estarão suspensos pelo menos até ao meio-dia (hora de Nova Iorque) de quarta-feira — a primeira vez que tal medida é tomada na história dos EUA.

15h25

18h04 O Presidente norte-americano,

20h55 Karen Hughes, directora de comu-

George Bush, garante à nação, numa intervenção televisiva, que estão a ser tomadas todas as medidas de segurança. E deixa o aviso: “Não tenham dúvidas, os Estados Unidos vão caçar os responsáveis por este ataque.”

nicações da Casa Branca, diz que o Presidente está “em local secreto”; apura-se depois que George W. Bush estava numa base aérea do Nebraska (Oeste dos EUA).

É noticiada a explosão de um carro armadilhado às portas do edifício do Departamento do Tesouro, em Washington. Mais tarde há um desmentido.

15h26 Todos os voos com destino para os Estados Unidos são desviados para o Canadá, segundo ordens da FAA.

15h27

A torre norte do World Trade Center acaba também por ruir, desabando de

REUTERS

ALEX FUCHS/EPA

cima abaixo como se estivesse a ser descascada, largando para o ar uma enorme nuvem de pó e detritos.

16h02 O “mayor” Giuliani pede aos nova-iorquinos que fiquem em suas casas e ordena a evacuação do Sul de Manhattan.

18h27

É declarado o estado de emergência em Washington D.C.

22h20 Um edifício de 47 andares junto ao

dos negam qualquer envolvimento, dizendo que não se tratou de uma retaliação pelos ataques; a oposição afegã ao regime dos taliban reivindica as explosões.

23h54 George W. Bush regressa a Washington.

0h02 A CNN anuncia que um outro edifício próximo do World Trade Center está em risco de desabar.

0h45

A polícia de Nova Iorque anuncia que mais de 70 polícias e 200 bombeiros estão desaparecidos.

World Trade Center desaba.

1h30 O Presidente George W. Bush fala à

23h Ouvem-se explosões em Cabul, capital

nação e promete que os EUA e os seus aliados “juntos, irão vencer a guerra contra o terrorismo”. D.F./P.R.

do Afeganistão. Mais tarde, os Estados Uni-

1 8 D E S TA Q U E PÚBLICO•QUARTA -FEIRA, 12 SET 2001

TERROR NA AMÉRICA

ALI HASHISHO7REUTERS

dadosamente planeados e coordenados, e como tal condeno-os firmemente. O terrorismo tem de ser combatido resolutamente onde quer que surja. Em momentos como este um julgamente frio e racional é mais necessário do que nunca. Não sabemos quem está por detrás destes actos ou que objectivo espera alcançar. O que sabemos é que nenhuma causa justa pode ser conseguida pelo terror.”

MEDIDAS DE SEGURANÇA NA RÚSSIA... As forças de defesa antiaérea da Rússia adoptaram medidas antiterroristas e as tropas do ministério do Interior foram colocadas em estado de alerta. O Presidente Putin reuniu no Kremlin os ministros responsáveis pela segurança e transmitiu diversas ordens sobre o reforço da segurança nacional.

Palestinianos celebram com tiros de alegria Nos campos de refugiados no Líbano, festejou-se os ataques de Nova Iorque e Washington; por todo o mundo houve reacções, na sua maioria de pesar “Sinto que estou num sonho. Nunca acreditei que um dia os Estados Unidos viriam a pagar um preço pelo seu apoio a Israel”, disse Mustapha, um palestiniano de 24 anos, contente, de arma ao ombro. Com ele, em Nablus (Cisjordânia), estiveram centenas de palestinianos na rua para celebrar os atentados mortíferos de ontem contra o Pentágono e o World Trade Center, nos Estados Unidos. Em Jerusalém oriental, dezenas de jovens também celebraram e quem ouvisse as buzinas dos carros ira pensar que se tratava de um cortejo de casamento ou de uma vitória num qualquer jogo de futebol. “Estamos tão contentes por a América ter sido atingida. A América está contra nós ao apoiar Israel”, afirmou Suleiman à Reuters, para quem os amigos de Israel são os inimigos do povo oprimido da Palestina. Nos campos de refugiados palestinianos do Líbano também se celebrou com tiros para o ar. Em Ain-El-Ailweh, no sul do país e em Chatila

(Beirute, já era hora da sesta quando a notícia dos atentados chegou. Muitos palestinianos saíram para a rua, alguns de pijama, para disparar as suas armas como sinal de vitória e alegria. Segundo a AFP também se ouviu fogo de artifício e muitos jovens gritaram, dançando, “os americanos são todos porcos”.  J.A.

DISCURSO DE KOFI ANNAN “Estamos todos traumatizados com esta terrível tragédia. Não sabemos ainda quantas pessoas foram mortas ou feridas, mas inevitavelmente o número será alto. Os nossos primeiros pensamentos e orações têm de ser para eles e para as suas famílias. Quero expressar-lhes as minhas profundas condolências, bem como ao povo e ao governo dos Estados Unidos. Não pode haver dúvidas de que estes ataques são actos dliberados de terrorismo, cui-

CENTRAIS ELÉCTRICAS E GASODUTOS EM ALERTA Nos EUA, as centrais de energia eléctrica e os gasodutos foram colocados em alerta máximo, numa medida definida como “de precaução”. O rei Abdallah II da Jordânia decidiu anular a visita programada aos EUA, enquanto as autoridades norte-americanas da aviação civil (FAA) ordenaram a suspensão de todos os voos comerciais em território norte-americano. Os voos transatlânticos foram desviados para o Canadá.

APELO DE ROBERTSON

... E NA POLÓNIA, GRÉCIA E CHINA No campo de Ain al-Hiylweh, crianças, velhos e guerrilheiros festejaram o ataque

pessoal das suas representações diplomáticas nos EUA, por receio de eventuais ataques.

A polícia polaca reforçou a protecção das representações diplomáticas dos EUA e de Israel, e dos aeroportos polacos. Na Grécia, o chefe da polícia, general Photis Nasiakos, ordenou o reforço das medidas de segurança nos aeroportos do país e em redor dos edifícios norte-americanos. A China também adoptou idênticas medidas, à semelhança de muitos outros países do mundo.

CANADÁ SUSPENDE TRÁFEGO AÉREO À semelhança dos EUA, o vizinho Canadá também decidiu suspender todo o tráfego aéreo, à excepção dos voos com objectivo humanitário. Na Europa, o Eurocontrol, organização que supervisiona a circulação aérea no espaço aéreo europeu, decidiu suspender todos os voos europeus em direcção aos Estados Unidos.

CONSELHOS DE EMBAIXADAS DOS EUA A embaixada dos EUA em Paris avisou os cidadãos norte-americanos em França para manterem “low profile” e evitarem falar inglês em público. “Aconselhamos a que tenham muito cuidado, vejam a CNN e televisões locais e tenham em atenção o que se passa. Tentem manter a máxima discrição possível, evitem falar inglês nas ruas. Nunca se sabe”, referiu a embaixada. E a representação norte-americana em Moscovo também emitiu conselhos similares. Em Vilnius, capital da Lituânia, procedeu-se à evacuação da embaixada norteamericana. Israel decidiu ainda evacuar o

O secretário-geral da NATO, George Robertson, apelou ao “pessoal não essencial” para abandonar o edifício e “não se apresentar quarta-feira [hoje]”. As bases militares norteamericanas da NATO na Itália foram ainda rodeadas por medidas de segurança, á semelhança das instalações do quartel-general da zona sul da NATO (AFSOUTH) em Nápoles.

AL GORE ANULA CONFERÊNCIA O antigo vice-presidente dos EUA, Al Gore, anulou uma conferência onde deveria participar na noite de ontem em Viena e preparavase para regressar ao país. “O senhor Gore, que estava muito chocado, anulou todos os seus compromissos”, declarou um dos organizadores do encontro. “Preparamos o seu regresso aos EUA para se juntar à família o mais depressa possível”, concluiu.

CUBA OFERECE AJUDA E SOLIDARIEDADE AOS EUA O ministro cubano dos Negócios Estrangeiros, Felipe Perez Roque expressou ontem, em nome do governo de Havana, “solidaridade” e “dor” pelos ataques contra Washington e Nova Iorque e ofereceu ajuda médica e aérea aos Estados Unidos. “Lamentamos profundamente a perda de vidas humanas, e nossa posição é de total rejeição deste tipo de ataques terroristas”, declarou Roque, considerando “bárbara” a ideia de alguém sugerir o envolvimento do governo cubano.

IMODIVOR - SOCIEDADE IMOBILIÁRIA, S.A. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia Capital Social: 5.000.000$00 Matriculada na C.R.C. da Maia sob o n.º 3030 Pessoa Colectiva n.º 502 979 330

ANÚNCIO Nos termos e para os efeitos do disposto nos nrs. 1 e 2 do art. 16.º do DL. 343/98 de 6/11, dá-se conhecimento que esta sociedade, face ao aprovado na Assembleia Geral Anual realizada em 28 de Março de 2001, vai redenominar as accções representativas do seu capital social, da seguinte forma: *IDENTIFICAÇÃO DOS VALORES MOBILIÁRIOS A REDENOMINAR: 10.000 accções, sendo 5.000 representativas da totalidade do capital social desta sociedade que é de Esc. 5.000.000$00, e as outras 5.000 através da emissão de novas acções, para adaptação ao capital social mínimo de 50.000 euros. *FONTE NORMATIVA EM QUE ASSENTA A DECISÃO: Decreto-Lei n.º 343/98 de 6 de Novembro; *TAXA DE CONVERSÃO: 200$482; *MÉTODO DE REDENOMINAÇÃO E O NOVO VALOR NOMINAL: método não padrão fixando-se: o valor nominal de cada accção em 5 euros e o capital social em 50.000 euros representado por 10.000 accções; *DATA DA REDENOMINAÇÃO: 25 DE OUTUBRO DE 2001. *DATA PREVISTA PARA O PEDIDO DE INSCRIÇÃO DA REDENOMINAÇÃO NO REGISTO COMERCIAL: 25 DE OUTUBRO DE 2001. Matosinhos, 10 de Setembro de 2001 Pelo Conselho de Administração

D E S TA Q U E 1 9 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

REACÇÕES OFICIAIS

ISRAEL

Oriente, mas rejeitou qualquer envolvimento da sua organização.

O ministro da Defesa israelita, Benjamin Ben Eliezer, denunciou a ameaça sobre o mundo do que definiu por “Islão extremista”. O Governo de Ariel Sharon ordenou o encerramento do espaço aéreo do país. A Força Aérea entrou em estado de alerta, segundo referiu a televisão pública.

HAMAS

AUTORIDADE PALESTINIANA O Presidente da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, através de uma declaração, emitiu as “condolências do povo palestiniano ao Presidente americano [George W.] Bush, ao seu Governo e ao povo americano por este acto terrível”, afirmou em Gaza. “Condenamos totalmente esta grave operação [...] Estamos completamente chocados. É inacreditável, inacreditável, inacreditável”, sublinhou.

FPLP A Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), a partir da sua sede em Damasco, rejeitou qualquer envolvimento na série de atentados. “Não temos nada a ver com estas explosões”, referiu Maher Taher, porta-voz e membro da direcção da FPLP. A 27 de Agosto, após o assassínio do chefe da FPLP Abu Ali Mustafa num ataque de mísseis lançado por Israel na Cisjordânia, Taher tinha apelado a “acções contra os interesses americanos”.

JIHAD ISLÂMICA Em Gaza, um alto responsável do movimento radical palestiniano Jihad Islâmica considerou que os atentados nos EUA são uma consequência “da política americana na região mais quente do mundo”, numa referência ao Médio

O Hamas, outro movimento radical palestiniano, também negou qualquer relação com os atentados. “A estratégia do Hamas consiste em lutar contra o ocupante sionista na Palestina e não fora da Palestina, seja nos Estados Unidos ou noutro local”, declarou um responsável do Hamas em Gaza, Ismaïl Haniyé. Na sua perspectiva, e após os atentados de ontem, “Washington deveria rever seriamente a sua política no mundo”.

EGIPTO O Presidente Hosni Mubarak condenou os ataques “horrendos” que conduzem “à morte de um grande número de vítimas inocentes”. “Foi com tristeza e pesar que recebi as notícias dos ataques criminosos”, prosseguiu Mubarak, que ofereceu a ajuda do seu país aos EUA e disse que os atentados “foram horrorosos e para além da imaginação”.

RÚSSIA O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, enviou um telegrama ao Presidente George W. Bush onde afirma que “semelhantes actos terroristas e bárbaros não devem ficar impunes” e apelou à “coordenação internacional” contra o terrorismo. Numa missiva iniciada com a expressão “Caro George”, Putin solicita que “transmita as nossas mais sinceras simpatias aos familiares das vítimas desta tragédia e à totalidade do povo americano em sofrimento”. “Compreendemos a sua mágoa e dor, tal como a Rússia já sofreu com o terrorismo. Toda a comunidade internacional deve unir-se na luta contra o terrorismo”, refere o texto divulgado em russo pelo Kremlin.

2 0 D E S TA Q U E PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

TERROR NA AMÉRICA

A maior operação aérea de toda a história O desvio dos milhares de aviões que se encontravam no espaço aéreo dos EUA foi uma operação sem precedentes e arriscada JOSÉ BENTO AMARO

O desvio dos aviões do espaço aéreo norte-americano para o Canadá — principalmente para as cidades de Toronto e Otava —, efectuado nas horas que se seguiram aos atentados terroristas, foi a maior operação mundial de sempre na história da aviação. Avançar com um número relativo às aeronaves implicadas era, ontem, impossível, uma vez que aos aparelhos de carreiras regulares havia ainda que somar os muitos pequenos aviões privados. “Para se ter uma pequena ideia da grandiosidade de uma operação do género [o desvio do tráfego aéreo dos EUA para o Canadá] basta referir que em qualquer aeroporto médio americano descolam e aterram, num período de 45 minutos, entre 35 e 40 aviões”, explicou ao PÚBLICO um técnico ligado ao sector da aviação civil. A juntar a estes números surgem depois os voos de milhares de aeronaves de menores di-

mensões, sobretudo aparelhos de empresas. “Qualquer aeródromo que recebe voos deste tipo tem, em média três ou quatro centenas de pequenos aviões. É, portanto, natural, que todos estes aparelhos, tentando aterrar de emergência, provoquem o caos”, adiantou o mesmo responsável. Qualquer um destes aeródromos tem mais movimento do que a Portela, o principal aeroporto português. A complicar ainda mais toda a gestão do espaço aéreo surgiu depois o aviso das autoridades norte-americanas: qualquer avião detectado a voar a menos de 5000 pés (cerca de 1500 metros) seria abatido. Mas, apesar da prontidão das ordens para que muito do tráfego aéreo dos Estados Unidos fosse encaminhado para o Canadá, esta foi uma operação classificada como “muito arriscada”. É que tal significou que determinados corredores aéreos (uma espécie de estradas por onde se deslocam os aviões) sofressem um congestionamento fora do comum. “É sempre uma operação complicada e arriscada. Com o aumento do número de aeronaves em determinados corredores diminuiu, obrigatoriamente, a distância de cada avião em voo e, por consequência, aumentaram as hipóteses de acidentes. Os corredores aéreos al-

ternativos ficaram saturados.” A maior parte dos aviões desviados para o Canadá são aparelhos de quatro reactores, os quais têm maior autonomia e, portanto, podem manter-se por mais tempo no ar sem terem de aterrar de emergência em pistas dos EUA. No entanto, muitos outros de apenas dois motores, como o Airbus 310 da TAP que ontem, pelas 9h45, saiu de Lisboa com destino a Nova Iorque, também foram desviados para o país vizinho. No caso do aparelho em causa, acabou por aterrar em Halifax. Um outro voo da TAP, com destino a Nova Iorque (um Airbus 340), que deveria ter partido de Lisboa às 14h45, foi cancelado. O cancelamento dos voos, de e para os Estados Unidos foi, aliás, uma regra comum a todas as companhias de aviação mundiais. Acontece que, quando aconteceram os atentados, alguns aviões internacionais tinham como pistas mais próximas as das ilhas Terceira e Santa Maria, nos Açores. Foi para este segundo aeroporto que foram encaminhados 12 aviões, ficando o controlo do tráfego aéreo na região a cargo dos militares americanos. A pista das Lajes (Terceira), onde se situa uma base norteamericana, ficou reservada a aparelhos militares. 

D E S TA Q U E 2 1 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001 DAVID CLIFFORD

Um cruzeiro de sonho, um regresso de medo Passageiros retidos no aeroporto de Lisboa vivem horas de angústia e incerteza “Um avião vai para todo o lado, só é preciso é que o levem”, diz um comandante da TAP

“Pilotos não têm qualquer hipótese” SEGURANÇA NOS AEROPORTOS QUESTIONADA Os comandantes de aviões portugueses sentem-se especialmente atingidos pela tragédia ocorrida. E lembram que “todos os sistemas são falíveis” INÊS SEQUEIRA

Com três ou quatro comandos terroristas dentro de um avião, “os pilotos não têm qualquer hipótese” de resistência, acredita um comandante de aviação civil. Quanto à possibilidade de terem sido as próprias tripulações a dirigirem as aeronaves sob coacção dos “piratas do ar”, as opiniões dos pilotos ontem contactados pelo PÚBLICO foram unânimes: “É mais fácil acreditar que alguém abateu o piloto e tomou o controlo do avião”, afirmou o presidente da Associação Portuguesa de Pilotos de Linha Aérea, comandante Salvador Sottomayor. Quem vai nos comandos do “cockpit” “não é responsável por ver se alguém entra dentro do aparelho armado”, referiu aquele responsável, acrescentando que isso compete aos aeroportos. E quais as capacidades de resistência de um piloto, quando coagido? Por óbvias regras de segurança, nenhum dos elementos da tripulação entra armado dentro de uma aeronave, referiu por seu turno o comandante António Ramalho, porta-voz do Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil. A regra principal é apenas uma: “Nunca contrariar as ordens dos ‘piratas do ar’, embora para isto não haja preparação possível”, indicou outro comandante de longo curso, Ângelo Felgueiras. E quanto à capacidade necessária para embater uma aeronave de grande porte contra um alvo específico? “Um avião vai para todo

o lado, é preciso é que o saibam levar”, disse Sottomayor Cardia. E, para o saberem levar, depois do aparelho estar já em voo, o necessário “são conhecimentos básicos”: conhecer o que é uma manche e como funciona, controlar a altitude do aparelho... Num caso destes, reconhece António Ramalho, “nem é preciso saber aterrar”. Hoje em dia tirar um curso de pilotagem de aviões de grande porte pode ser caro, mas está facilmente ao alcance de uma organização com meios económicos para isso. Indo um pouco mais longe, um dos pilotos comparou os aviões naquela situação a um autocarro em andamento. “Imagine um carro com a quinta mudança metida e um miúdo de dez anos a conduzi-lo, pode dirigi-lo facilmente sem pre-

Num caso destes, reconhece o comandante António Ramalho, “nem é preciso saber aterrar”. Hoje em dia tirar um curso de pilotagem de aviões de grande porte pode ser caro, mas está facilmente ao alcance de uma organização com meios económicos para isso

cisar de saber meter as mudanças”. “A rotina leva ao desleixo” “Todos os sistemas são falíveis, nós todos somos alvos fáceis”, indicou uma outra fonte do mesmo sector, salientando que “a rotina leva ao desleixo” nos aeroportos. Todos os pilotos concordam sobre um aspecto: “Depois do que sucedeu, muita coisa vai ter de mudar nos sistemas de segurança”, afirmaram. “Isto vai obrigar a uma reflexão profundíssima sobre o dinheiro que se gasta”. O ditado “tempo é dinheiro” impera hoje na aviação: a partir do momento em que pára um avião na pista e saem os passageiros, inicia-se uma corrida contra o tempo para manter o aparelho em terra o menor tempo possível. Entram a equipa de limpeza, os serviços de ‘catering’ (refeições a bordo), os técnicos de manutenção. Como controlar todos? Existem os sistemas de detecção raios X, mas são “dezenas de pessoas que passam todos os dias, às mesmas horas, pelos mesmos sistemas de segurança e os mesmos guardas”. “Entra-se na rotina”, os rostos tornam-se conhecidos e a atenção diminui. Para mais, actualmente nos Estados Unidos, como em muitos outros países, “trata-se um avião como um autocarro”: as passagens são a preços reduzidos, os passageiros chegam ao aeroporto e embarcam no espaço de meia hora. Como exercer um controlo apertado? Em Portugal, por exemplo, apenas no caso de transportarem o Presidente da República é que as malas das tripulações entram no aeroporto de véspera para serem revistadas. E estender esse procedimento a todos os voos? “Seria inviável. Nenhum aeroporto tem capacidade para isso”, lembrou a mesma fonte. 

CATARINA GOMES

Megan, uma estudante da Carolina do Norte de 22 anos, ganhou um cruzeiro de sonho na Internet. Teve uns relaxantes quinze dias, passando pela Inglaterra e por França, para finalizar em Lisboa. Foi com a descontracção de umas férias bem passadas, à borla, que fez o “check in”, se sentou no avião da TAP que a levava de volta a Nova Iorque, e daí à Carolina do Norte. Poucos minutos depois, foi convidada, ela e mais cerca de 140 passageiros, a regressar à sala de embarque por causa de ataques terroristas. E voltou o “stress”, misturado com o medo, com o desnorteamento: o seu pai é piloto, não sabe se ia num dos aviões, não conseque fazer um único telefonema para os Estados Unidos. Foi o que aconteceu aos outros seis americanos, que só ficaram a saber pelo PÚBLICO os pormenores dos ataques. Margery, uma agente de turismo e participante no cruzeiro, lembra-se de ter vivido a II Guerra Mundial — o seu marido esteve no Pacífico — mas nunca de os próprios Estados Unidos serem alvo de tamanhos ataques. Pergunta-se como podem entre eles especular sobre a autoria dos atentados se nem os serviços secretos adivinharam nada... No avião com destino a Nova Iorque seguiam também vários emigrantes portugueses. Leonilde está no aeroporto desde as 5 da manhã, depois de 10 horas na “carreira” vinda de Chaves. Há quem aposte numa pausa forçada de três dias, há quem aponte em semanas. Leonilde é das optimistas e recusa-se a voltar a Chaves. Fica à beira do aeroporto, na residencial Terminus, à espera que a televisão lhe diga MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

que a situação normalizou e pode reencontrar toda a sua família. Os únicos passageiros a quem a TAP paga estadia, no hotel Altis Park, são os que vinham de outros destinos e faziam escala em Lisboa. Artur Rodrigues, residente nos Estados Unidos desde os cinco anos, só quer que lhe devolvam Joshua e Jack, os filhos que enviou no voo da TAP para regressarem às aulas a tempo. Desde o cancelamento do voo até à sua aparição aguardou durante mais de duas horas, com escassas informações por parte da TAP. À pergunta que se foi repetindo: quando poderão apanhar um voo de volta?, todos receberam a mesma resposta dos funcionários: “Vá vendo televisão!” Nível máximo de segurança nos aeroportos portugueses Durante o dia de ontem, houve dois voos para Nova Iorque que partiram durante a manhã, um da TAP e outro da Continental Airlines, que teve que aterrar no Canadá, e outros dois foram cancelados, o segundo da TAP e um outro da Sata para Boston, que partia de Ponta Delgada. Vindos dos EUA chegaram durante a manhã três voos. O ministro da Administração Interna, Nuno Severiano Teixeira, ordenou a instauração do nível máximo de segurança nos aeroportos, embora não tenha suspendido o espaço Schengen. Ao contrário da Itália e da Alemanha, que decidiram encerrar os aeroportos ao tráfego, o Gabinete Coordenador de Segurança reuniu-se de emergência ontem à tarde e decidiu impor o grau três de medidas de segurança. Esta determinação implica a revista de todos os passageiros, a conferência dos passaportes e o exame através de raio X de todas as bagagens de porão. O cenário de voos cancelados de e para os Estados Unidos repetiu-se um pouco por todo o mundo, desde todo o espaço europeu a África e à América latina. 

EXPECTATIVA NAS LAJES Se houver retaliação, a base açoriana terá grande importância estratégica no reabastecimento de caças NUNO MENDES

A Base das Lajes, na ilha Terceira, passou o dia de ontem em “Alerta Delta”, com todos os edifícios civis encerrados e os militares norteamericanos aconselhados a não abandonarem as instalações. Ao mesmo tempo, foi reforçada a vigilância em todo o perímetro militar, tendo, contudo, a parte civil do aeroporto continuado a funcionar, se bem que com um maior controlo, dentro da normalidade. O fecho dos edifícios e o aumento da vigilância constituíram os únicos registos de anormalidade ao longo do dia. Segundo uma fonte militar contactada pelo PÚBLICO, o movimento de aviões foi “o que se pode considerar dentro do habitual”, até porque o “a nível de actuação da base não faria supor outra coisa”. As Lajes são utilizadas, normalmente, sempre que os Estados Unidos decidem actuar no Médio Oriente ou na Europa, o que “não é o caso”. Assim sendo, acrescentou a mesma fonte, “só é de admitir que o aumento do tráfego aéreo caso o Governo norteamericano decida retaliar”. Nestas circunstâncias, o aeroporto açoriano será de extrema utilidade “para a circulação dos aviões que reabastecem caças sobre o Atlântico”. Durante quase todo o dia as atenções dos militares americanos colocados nas Lajes estiveram, à falta de missões a realizar, concentradas no que se estava a passar nos Estados Unidos, já que a rádio que serve a base esteve todo o dia a transmitir informações em directo de outras emissoras dos “States”. A falta de um inimigo, explicou uma fonte contactada pelo PÚBLICO, “leva a que neste momento a postura seja mais de expectativa”. Ainda durante o dia, uma reunião, realizada a meio da tarde, entre norte-americanos e portugueses serviu para decidir a forma de actuação conjunta. Este tipo de encontros, explicou a mesma fonte, “é comum sempre que é necessário reforçar a segurança na base, uma vez que alguns dos procedimentos ficam a cargo dos militares portugueses”. Tal como na base, também nos aeroportos do arquipélago foi reforçada a segurança. O “check in” e o embarque só eram realizados com a identificação de todos os passageiros. Passou também a ser exercida uma maior vigilância sobre as bagagens. 

2 2 D E S TA Q U E

TERROR NA AMÉRICA

PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Comunidade lusa assistiu incrédula aos atentados nas margens de New Jersey CARLOS LOPES

Clarisse Frias e José Gonçalves, dois portugueses a viver na América, tinham razões especiais para a sua revolta: ela trabalha numa empresa com sede no World Trade Center, ele trabalhou na sua reconstrução depois do atentado de 1993

CHUVA DE TELEFONEMAS NAS AGÊNCIAS DE VIAGENS A notícia da tragédia levou familiares de turistas a procurarem informações e muitos passageiros trataram de cancelar viagens

LUÍSA PINTO e SANDRA SILVA COSTA

Primeiro foi a estupefacção e a incredulidade. Depois o terror e o pânico contido. Por fim, a tentativa de contactar pessoas que pudessem estar na área dos atentados, mas sem sucesso. As comunicações não funcionavam; as linhas telefónicas, fixas e móveis, não estavam disponíveis: o World Trade Center era a principal base de todas as antenas de comunicações. Os transportes foram cortados, apenas a ligação náutica do ferry poderia trazer “notícias” da outra margem, mas durante longas horas sem sucesso. A consternação apoderou-se de toda a gente, porque todos conheciam alguém que trabalhasse ou se deslocasse diariamente para a zona sul de Manhattan. Uns limitaramse a aglomerar-se junto à saída do ferry à espera de ver chegar os seus; outros colaram-se aos televisores, a chorar. “Está toda a gente em estado de choque. Ninguém consegue acreditar. É impossível perceber como tudo isto pôde acontecer”. Algumas horas depois do primeiro ataque às torres do World Trade Center, em Nova Iorque, estas foram as primeiras palavras que Clarisse Frias conseguiu balbuciar em declarações ao PÚBLICO. Moradora em New Jersey, esta corretora financeira cuja empresa tinha os escritórios mãe numa das torres desaparecidas, só pensou em ir buscar os filhos à escola. “Uma loucura! Os telefones não funcionavam, e não foi propriamente a sensação de perigo imediato que nos assolou. Mas perante o cenário tão trágico e inimaginável que as televisões começaram a mostrar, só temos vontade de reunir toda a gente que nos é querida e fecharmo-nos nalgum sítio”, afirmou.

“Está tudo em estado de choque. É impossível perceber como pôde acontecer”, comenta-se nas comunidades

Aquilo que José Carvalheira viu de manhã, pouco antes de abandonar a sua casa de Elisabeth, de onde tem “uma vista perfeita sobre Nova Iorque inteira”, pareceu-lhe “o princípio do fim” José Nunes, um funcionário de uma empresa de distribuição de sinal televisivo por cabos, que trabalha e reside na mesma ilha de New Jersey, viu da sua janela os aviões a embater nas torres, e posteriormente os edifícios a ruir. “Não dá para acreditar. Olhamos para Manhattan e as Twin Towers já não estão lá. Ter visto aquele colosso a desabar é uma experiência indescritível”. Ao contrário de Clarisse, que só quando soube do embate do segundo avião começou a pensar em “atentados”, Nunes nunca teve dúvidas. A sua estupefacção vai toda para o facto de a “maior tragédia de sempre” ter acon-

tecido no país “que tem uns serviços secretos apuradíssimos” e que devia estar alerta “porque tem já sofrido várias ameaças de terroristas”. “Há três semanas, alguém avisou de que algo de colossal iria acontecer contra a América. Aí está”, apontou. Também José Manuel Gonçalves, presidente da Casa do Benfica em Newark e supervisor de uma poderosa empresa de construção civil que desenvolveu, entre outros, os trabalhos de recuperação das Twin Towers depois do atentado de 1993, pensou desde o início no pior. A trabalhar actualmente nas obras de ampliação do aeroporto de JFK — de onde consegue avistar Manhattan — sentiu um avião a passar por uma área que sempre lhe esteve proibida. Olhou para os céus e viu o que nunca poderia ter imaginado. “Ninguém consegue descrever como é que o povo se está a sentir. Portugueses e americanos”, sublinhou. Com muitos operários portugueses, e outros conhecidos, a trabalhar na construção de túneis na zona mais afectada por atentados, Gonçalves continuava sem notícias de ninguém. E à hora de fecho desta edição,

ainda não sabia como é que ia voltar para casa, em New Jersey. Sabia apenas que todos os seus familiares se encontravam bem. José Carvalheira, um português de Gouveia “profundamente religioso”, lembrou-se imediatamente das palavras de Deus: “Um dia haveis de ver coisas que nunca pensarias ver”. Aquilo que viu de manhã, pouco antes de abandonar a sua casa de Elisabeth de onde tem “uma vista perfeita sobre Nova Iorque inteira”, pareceu-lhe “o princípio do fim”. “Saí porta fora para espreitar o que se passava. Mas vim-me logo embora a chorar, porque achei que não valia a pena estar ali a ver aquela miséria. A minha senhora até se sentiu mal. Foi uma tragédia muito grande”, contou ao PÚBLICO ao final da tarde. Nessa altura, o agente imobiliário de 70 anos ainda desconhecia o paradeiro de uma afilhada. “Ela trabalha dois edifícios abaixo das torres, mas tenho uma grande fé de que ela está bem”. “Deus disse-nos que devemos perdoar, mas isto não tem perdão. Morreram milhares de inocentes”, afirmou Carvalheira. 

MNE em ligação com embaixada nos EUA O Ministério dos Negócios Estrangeiros português emitiu ontem um comunicado em que informava não se ter verificado até às 19h15 (hora de Lisboa) a existência de qualquer português entre as vítimas dos atentados nos Estados Unidos da América. O MNE colocou ainda à disposição do público dois telefones para a recolha e obtenção de informações (213946406/ /213946420). Para monitorizar o desenrolar da situação o ministério montou uma “célula de acompanhamento”, a qual ficou em ligação permanente com a Embaixada e os consulados de Portugal nos Estados Unidos.

Médicos portugueses saíram ilesos do ataque Clínicos participavam em reuniões científicas O grupo de médicos que se deslocaram aos Estados Unidos para participar em várias reuniões científicas não sofreram qualquer consequência dos acidentes ocorridos ontem em Nova Iorque e Washington. “Estão todos bem, não houve qualquer problema com eles”, adiantou à Lu-

sa uma fonte da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC). A SPC informou também que os 37 clínicos, que viajaram para os Estados Unidos a fim de assistir a congressos ligados à área da cardiologia, foram repartidos por dois grupos: uns estavam em Washington, outros em Nova Iorque. A fonte citada pela Lusa garantiu que os hotéis onde se encontram instalados são muito afastados dos locais afectados.

O laboratório farmacêutico Novartis foi uma das entidades organizadoras do congresso. “Falei há poucos minutos com um colega que está em Nova Iorque e ele garantiu-me que estava tudo bem com toda a gente”, disse ao PÚBLICO, ao final da tarde, Maria João Dias, assessora de imprensa do laboratório, acrescentando ter recebido informações que apontavam para que o congresso estivesse a decorrer “dentro da normalidade possí-

vel”. Maria João Dias assegurou que o congresso está a decorrer no York Hilton & Towers, na 13-35 Avenue of Americas, “a uma longa distância do World Trade Centre”. Pelo lado da Novartis partiram 13 médicos, todos com destino a Nova Iorque. Até à hora de fecho desta edição, o PÚBLICO apenas conseguiu apurar que pelo menos três dos médicos participantes exercem funções no Hospital de Setúbal.  S.S.C.

A tragédia nos Estados Unidos reflectiu-se de imediato nos operadores turísticos e agências de viagens portuguesas, que foram inundadas com telefonemas a indagar sobre a situação dos familiares a gozar uns dias de férias em Nova Iorque. Numa ronda que o PÚBLICO efectuou na tarde de ontem junto de mais de duas dezenas de operadores, não havia registo de portugueses entre as vítimas. No entanto, algumas dessas agências não tinham conseguido ainda contactar com os seus clientes hospedados em Manhattan. Um dos operadores que conseguiu falar com Nova Iorque pouco tempo depois dos atentados foi a Carlson Wagons. Segundo informações de um responsável desta empresa, os 27 portugueses que viajaram para os EUA através da agência “encontravam-se todos bem”. Na Cosmos e na Abreu, dois dos maiores operadores turísticos portugueses, não foi possível obter informações quer quanto ao número de portugueses que se encontram em Nova Iorque com programas de férias, quer no que diz respeito à sua situação. Na Star não foi também possível obter qualquer informação porque os escritórios deste operador turístico foram evacuados na sequência da ameaça de bomba no hotel Porto Palácio, no World Trade Center do Porto (ver notícia nestas páginas). Mas o PÚBLICO sabe que o voo utilizado por alguns clientes da Star, que ontem viajaram para os Estados Unidos, acabou por ser desviado para Gander, uma pequena cidade canadiana próxima do Quebeque, isto por força do encerramento do espaço aéreo nos EUA. O anúncio nas televisões de que os aeroportos na Europa estavam também a fechar provocou uma outra onda de telefonemas junto das agências de viagens, com dezenas de clientes a cancelar os respectivos voos marcados para os próximos dias com destino a diversas cidades europeias, especialmente para Londres e Paris.  R.A.

D E S TA Q U E 2 3 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001 DANIEL ROCHA

ÁLVARO VASCONCELOS OPINIÃO

A barbárie que a todos afecta s ataques terroristas contra Nova Iorque e Washington são o último hediondo marco no processo de emergência do nacionalismo e da barbárie que caracteriza a segurança internacional no pós-guerra fria, de transformação dos civis em vítimas privilegiadas das acções de guerra e de terror. É, em tudo, um acto semelhante aos que afectaram já muitas centenas de milhares de vidas nos Balcãs, na Argélia e em muitas regiões da Ásia, como em Timor. Se os perpetradores de actos de terror são por vezes difíceis de identificar, a ideologia que os anima é conhecida: os seus componentes são o ódio, o extremismo identitário, religioso e étnico, o desrespeito absoluta pelos direitos da pessoa humana, a recusa de que existem limites à utilização da força, e a consequente violência total contra os civis. Um dos elementos do ressurgimento do nacionalismo extremo é o antiamericanismo primário. Os acontecimentos dos últimos meses na Palestina, a utilização da força sem regra nem limites éticos ou políticos por Sharon e pelos islamistas radicais, não podem ter deixado de contribuir para a cultura de violência total que se desenvolve, e de alimentar também o antiamericanismo. O isolacionismo pós-Clinton, o “lavar daí as mãos”, não é solução para a resolução dos problemas de segurança que hoje se colocam e que, como se sabe desde a Bósnia, são essencialmente de natureza interna, embora tenham muitas vezes uma componente externa. O mundo está sem defesas perante o atentismo

O

António Guterres apelou à união da comunidade internacional para se unir na luta efectiva contra o terrorismo

Portugal disponível para “esforço conjunto acrescido” Governo e oposição repudiam atentados nos Estados Unidos PAULO CORREIA E SÃO JOSÉ ALMEIDA

Portugal está totalmente disponível para “participar em qualquer esforço conjunto acrescido que venha ser acordado a nível internacional”, anunciou ontem o primeiro-ministro, António Guterres.

Numa conferência de imprensa realizada três horas depois dos atentados, o líder do Governo português afirmou que se deve condenar “com toda a energia” a “irracionalidade” manifestada através de “formas violentas, imprevisíveis e totalmente impiedosas”. António Guterres sublinhou que “este é o momento em que é dever da comunidade internacional, independentemente das suas diferenças, se unir integralmente

não apenas na condenação, mas na luta efectiva contra o terrorismo”. Apesar de ser ainda “prematuro dizer que formas vai revestir uma cooperação internacional acrescida”, o primeiro-ministro garantiu que Portugal está disponível para estudar e participar em quaisquer acções conjuntas que possam reforçar a segurança a nível mundial”. António Guterres apelou ainda, repetidamente, aos “portugueses para que pos-

sam exprimir um sentimento de unidade, de tranquilidade e de segurança”. Também o presidente do PSD, Durão Barroso, condenou, “sem qualquer reserva”, o atentado terrorista, que, acrescentou, deve “indignar toda a comunidade internacional”. Expressando a sua “total solidariedade ao Governo e ao povo norteamericano”, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros sublinhou: “Este não é apenas um ataque aos f

Atentado de uma “gravidade sem precedentes”, diz Sampaio CARLOS LOPES

Classificou o ataque como o mais grave de sempre, mas escusou-se a dizer o que fazer para punir os terroristas. Foi esta a resposta do Presidente da República, Jorge Sampaio, quando as notícias chegadas do outro lado do Atlântico eram ainda escassas. Depois de expressar às autoridades e ao povo americano a “total solidariedade” e o “sentimento de profundo pesar e revolta”, o Presidente da República classificou o sucedido ontem como um atentado de uma “gravidade sem precedentes”, aproveitando para “reafirmar, com toda a clareza e determinação, a mais veemente condenação do terrorismo”. Jorge Sampaio recusou, contudo, fazer qualquer comentário sobre que medidas deveriam ser adoptadas contra os autores dos ataques. Para o Presidente, esta era a hora de “cuidar dos vivos e enterrar os mortos”, tendo a comunidade internacional muito tempo para decidir o que fazer. Antes disso o Presiden-

te tinha já exprimido o seu “profundo choque e incredulidade perante os bárbaros ataques terroristas”. Numa comunicação feita ao país a partir do Palácio de Belém, o chefe de Estado português começou por falar na “hora de luto” que sentia ser também de todos os portugueses. “Não podemos deixar de nos sentir directamente atingidos com a brutalidade do que presenciámos e a dimensão da tragédia.” O Presidente da República apelou ainda à calma de todos: “Estou seguro que os portugueses saberão viver estes momentos difíceis com calma e serenidade.” O chefe de Estado disse estar em “permanente contacto” com o primeiroministro, António Guterres, confirmando terem sido “accionados todos os meios para acautelar a sua [dos portugueses] segurança.” Para o fim deixou uma esperança: “Que nenhum dos nossos compatriotas tenha sido vítima destes trágicos acontecimentos.”

A resposta à tragédia não pode ser mais unilateralismo, mais isolacionismo, mas sim a consciência de que o nacionalismo e a barbárie identitária, onde quer que se alojem, são uma ameaça para todos, uma ameaça que só pode ser prevenida ou contrariada através de respostas globais americano, a fragilidade da União Europeia no domínio da defesa e segurança, e a impotência das Nações Unidas, fragilizadas pelo unilateralismo de Bush. Nova Iorque e Washington são o Pearl Harbour da nova situação internacional. Mostram que, ao contrário do que pensava a administração Bush, os EUA não podem isolar-se dos graves problemas que enfrentam as diferentes regiões do mundo. Os horrores das Bósnias deste mundo não afectam apenas os outros. Numa outra megadimensão, o que aconteceu em Nova Iorque e Washington tem paralelo e precedente nos ataques terroristas contra prédios de habitação em Moscovo, ou no sinistro ataque de Oklahoma. A resposta à tragédia não pode ser mais unilateralismo, mais isolacionismo, mas sim a consciência de que o nacionalismo e a barbárie identitária, onde quer que se alojem, são uma ameaça para todos, uma ameaça que só pode ser prevenida ou contrariada através de respostas globais. Pode ser que a primeira reacção americana seja um ataque fulminante contra um alvo externo determinado, embora a identificação de um inimigo preciso deva ser extremamente difícil, dada a característica fragmentária da acção terrorista. E uma tal retaliação não resolverá certamente o problema. Espera-se que, ainda assim, num segundo momento, os Estados Unidos, em parceria com a União Europeia, ocupem de novo o seu lugar como actores fundamentais na resolução dos problemas internacionais e na definição de uma nova ordem multilateral — começando pela questão do Médio Oriente, que como se sabe há muito tempo é o paiol do mundo. A paz, como ainda hoje afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Celso Lafer, “é uma esquiva conquista da razão política”.

2 4 D E S TA Q U E PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

f EUA — é um ataque contra os valores da nossa civilização.” Barroso, que ontem mesmo falou com o primeiroministro, sustentou porém que, apesar da gravidade da situação, “não há razões para medidas de carácter alarmista” em Portugal. O líder do CDS-PP, Paulo Portas, condenou igualmente a “barbaridade” dos atentados, manifestou solidariedade para com as vítimas e defendeu uma punição firme para os responsáveis. Em face das “vidas ceifadas e do horror generalizado” hoje vivido, “todos nos sentimos nova-iorquinos”, disse Paulo Portas em conferência de imprensa; observou que com o fim da guerra fria as ameaças ao “mundo livre” vêm hoje de “grupos e Estados expressão de fundamentalismos políticos ou religiosos capazes de violência extrema”. E defendeu que a “superioridade moral” das democracias obriga a que as “nações livres” não continuem a “oferecer tolerância” a terroristas. O facto de os “polícias do mundo” terem sofrido um ataque desta dimensão prova a “vulnerabilidade” das “nações livres” e o “grau de insegurança de um mundo em efectiva desordem” e sem “organização política consistente”, considerou Paulo Portas; defendeu ainda que os Estados Unidos devem “punir os criminosos” responsáveis pelos ataques com “firmeza,” mas também com a “equidade” necessária para que civis inocentes não tenham que pagar por eles. Carlos Carvalhas, secretário-geral do PCP, assumiu também a “clara condenação” dos atentados que “sacrificaram muitas centenas de vítimas inocentes” e apresentou condolências às famílias das vítimas e ao povo norte-americano. Considerou que os ataques se inserem numa “escalada de violência a nível mundial”. Já antes o secretariado do PCP emitira um comunicado em que este organismo do comité central do PCP condenava os atentados terroristas nos Estados Unidos e lamentava o “sacrifício de vidas de cidadãos inocentes”, exprimindo condolências aos familiares e ao povo americano. O secretariado do PCP não deixou de considerar que a “espiral de violência em que estes atentados se inserem só agrava a situação mundial”. Por sua vez, o Bloco de Esquerda manifestou a sua “absoluta consternação” e a “solidariedade com as famílias das vítimas e as comunidades atingidas pela tragédia”. Sustentou que “o terror dos atentados” e “o número de vítimas, que se projecta para dimensões atrozes, fazem deste dia uma marca de barbárie”. O Bloco apela à mobilização da comunidade internacional e da ONU para a “condenação da jornada de terror” e a “contenção da sua espiral”, já que, faz notar, “a escalada militarista seria a pior resposta aos actos inqualificáveis” de ontem. 

TERROR NA AMÉRICA

Embaixadas com segurança envergonhada CARLOS LOPES

Em Portugal, o atentado reflectiu-se num reforço policial à porta das representações israelita e norte-americana, que a PSP tentou minimizar NUNO SÁ LOURENÇO

Reforço policial? Qual reforço policial? Era esta a resposta que o PÚBLICO recebia de cada vez que se aproximava de um dos polícias à porta da embaixada dos Estados Unidos ou de Israel. O aparato, no entanto, desmentia a desdramatização feita pelos agentes. À porta da representação israelita estavam três carros-patrulha e, pelo menos, um agente de pistola-metralhadora em punho. Quanto à embaixada dos EUA, teve direito à presença de um subcomissário. Dentro das embaixadas reinava uma serenidade que, aparentemente, a polícia portuguesa teve dificuldade em manter durante a tarde de ontem. A embaixada norte-americana permaneceu “funcional”, com excepção dos serviços de atendimento ao público. Quem quer que se tenha deslocado a Sete Rios durante a tarde de ontem para receber um visto ou qualquer outro documento de identificação obtinha a mesma resposta: a embaixada não tratava de mais nenhum assunto até aviso em contrário. Os serviços essenciais, contudo, permaneceram em funcionamento como habitualmente. O único pormenor que destoava no cenário era a pre-

A segurança das embaixadas dos EUA, Israel e OLP em Lisboa foi de imediato reforçada após os atentados sença de um maior número de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP). Perto da porta da embaixada dos EUA estava estacionado um carro-patrulha a que se juntavam quatro agentes e o subcomissário Fernandes Dias. “Não se pode falar em reforço”, dizia vezes sem conta o subcomissário aos jornalistas presentes no local. “O que se passa é que eu mandei parar aqui um carro-patrulha que ia a passar, mais nada”, explicava Fernandes Dias à medida que repetia que não havia razões para alarme.

Nem mesmo quando o PÚBLICO lhe perguntou se a patrulha habitual à embaixada norte-americana costumava incluir a presença de um subcomissário o responsável mudou de discurso. “Eu estou sempre na rua”, afirmou antes de lembrar que fazia parte da 2ª esquadra das instalações diplomáticas. A presença policial à volta da representação israelita era ainda mais visível. E o nervosismo dos agentes também. Para além dos três carros-polícia estacionados, encontravam-se seis agen-

tes nas imediações que tentavam impedir que fossem recolhidas imagens da embaixada. Enquanto uns procuravam tapar as objectivas das câmaras, outros pediam satisfações aos jornalistas por estarem ali. Os agentes no local negavam também que tivesse sido levado para junto da missão diplomática qualquer tipo de reforço, dizendo ser “normal” a presença de um agente de pistola-metralhadora e de três carros ali, por existir uma esquadra perto. Mas a vigilância não se li-

mitava às embaixadas. As escolas americanas e britânicas na zona de Lisboa estavam também sob protecção policial. Segundo uma fonte policial, as medidas de reforço de segurança previstas para várias instituições britânicas e americanas incluíram a Saint Julian’s School, na zona de Cascais, e a Escola Americana, no Linhó. Medidas que a Polícia de Segurança Pública achou por bem estender aos serviços da companhia de aviação TWA, próximo do Marquês de Pombal, em Lisboa. 

Ameaça de bomba no WTC do Porto NÉLSON GARRIDO

Edifício no coração da cidade onde estava hospedada a equipa da Juventus teve de ser evacuado ANTÓNIO ARNALDO MESQUITA

Um forte dispositivo policial foi montado na Avenida da Boavista, a meio da tarde de ontem, na sequência de uma mensagem anónima anunciando a existência de um engenho explosivo no World Trade Center, que funciona num edifício do Grupo Soane e é contíguo ao Porto Palace Hotel. O alarme terá sido feito cerca das 15h30 e ambas as instalações foram evacuadas 15 minutos depois por inicitiva da PSP, obrigando a equipa da Juventus, que hoje defronta o FC do Porto, a antecipar em três horas a sua deslocação para o Estádio das Antas. Os primeiros operacionais a chegar ao local foram elementos das brigadas à paisana daquela força, acabando por entrar em acção quase

Mensagem anónima levou PSP a evacuar edifício do World Trade Center no Porto uma hora após o alarme, isto é, às 16h.38. “É para ir para onde?”, indagava um agente empunhando uma “shot-gun”. “Para a parte detrás”, aconselhou o superior hierárquico. Dois minutos depois, era apertada ainda mais a malha: “Ninguém en-

tra no hotel e no World Trade Center”, ordenava. Em ligação com o comando, o mesmo comissário dava conta da situação:”Estamos à espera das ‘minas e armadilhas’ para passar tudo a pente fino”. Pelas 16h57 chegam os sapadores que iam apurar a

consistência do aviso anónimo. O atraso, apurámos, terse-á ficado a dever ao facto de terem previamente esquadrinhado as instalações do consulado dos Estados Unidos, situado a algumas centenas de metros do local. Enquanto a brigada da Equipa de Inacti-

vação de Esplosivos (EIE) inspeccionava o hotel, no exterior agentes da PSP criavam um cordão de segurança, afastando os mirones do local e cortando o trânsito na via ascendente da avenida. Um porta-voz do estabelecimento hoteleiro explicara antes à comunicação social que a evacuação se verificou por decisão da polícia. “Estamos a obedecer a ordens”, esclareceu. O hotel foi reaberto pelas 18h34, quando os especialistas da PSP concluíram que a denúncia anónima não tinha fundamento. “Entra tudo pela porta principal”, era a ordem recebida pelas dezenas de trabalhadores do hotel, que pouco depois reiniciaram as suas tarefas. Ao lado, a entrada do WTC continua vigiada por agentes da PSP. “Ninguém passa!”, intimava um cívico, na porta principal do centro de negócios, acrescentando que a brigada da EIE estava a inspeccionar o local, após ter cumprido a sua missão no Palace Hotel, apesar do WTC ter sido o alvo anunciado no telefonema anónimo. 

D E S TA Q U E 2 5 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Americanos em Lisboa em estado de choque

Forças Armadas de prevenção em Portugal

ADRIANO MIRANDA

“Choque”, “horror”. Estas são as palavras que alguns americanos de passagem em Lisboa, entrevistados pelo PÚBLICO no Hotel da Lapa, mais usaram para descrever o que sentiram, face à onda de atentados nos Estados Unidos. José Wehnes, de viagem a Portugal por razões profissionais — trabalha numa editora americana especializada em assuntos de medicina — tem familiares em Nova Iorque, embora não viva lá, mas explicou que conseguira falar com eles e estavam bem. “Estou aliviado por isso, mas muito chocado com o que aconteceu”, explicou. O PÚBLICO tentou perceber se, para este cidadão americano, os atentados têm algo que ver com a política externa do actual Presidente, George W. Bush. “As coisas podiam ser diferentes, realmente”, admitiu Whenes, lembrando, no entanto, que já houve outro atentado contra o World Trade Center. “Talvez os culpados sejam os mesmos”, aventou. “Estou zangada, muito zangada”, afirmou por sua vez Toni Lindstedt, também americana, de visita a Lisboa igualmente por razões profissionais. “Agora fiquei cheia de medo de viajar, não sei como vou regressar a casa”, disse, mostrando-se também preocupada por não ter conseguido contactar com ninguém das suas relações em Nova Iorque, onde vive. “Não tenho família, apenas amigos, mas não consigo telefonar-lhes. Isto é tudo um horror.” “Não acredito, não acredito”, diziam sem parar uma para a outra, abanando a cabeça de incredulidade, duas turistas americanas, instaladas no Hotel da Lapa. Ambas moram na zona de Nova Iorque e tinham acabado de regressar de um passeio de um dia inteiro por Lisboa. Chegaram ao hotel carregadas de compras e dirigiramse de imediato para junto de uma televisão, para tentar perceber o que se passava, ficando coladas ao aparelho, a ouvir as notícias da CNN. “Não sabíamos de nada. Quando vínhamos no táxi, percebemos que acontecera qualquer coisa grave, só que não entendemos o quê, não percebemos a língua. Não conseguimos acreditar nisto”, explicou uma delas. I.B.

Ministério da Defesa centraliza informações sobre a crise HELENA PEREIRA

As informações sobre a resposta militar em Portugal aos atentados terroristas dos EUA estão a ser centralizadas pelas relações públicas do Ministério da Defesa Nacional. “Estão a ser tomadas todas as medidas normais nesta situação”, afirmou ao PÚBLICO um elemento do MDN, evitando pormenorizar essas medidas e remetendo quaisquer dúvidas para a declaração do primeiro-ministro. As medidas no plano defensivo, no entanto, podem passar pela activação dos comandos operacionais das forças, pelo reforço das unidades e pela prontidão de meios na defesa de pontos sensíveis não militares, entre os quais os governamentais. No plano ofensivo, pelo aumento do grau de prontidão dos meios. Em termos de estruturas da Aliança Atlântica em Portugal, o Comando Atlântico do Sul (Cincsouthlant), em Oeiras, reforçou a sua segurança, na sequência dos atentados. Mas o grau de ameaça calculado — e as medidas tomadas em função deste — não foi um dos mais elevados. A percepção é a de que os alvos estão em solo norteamericano. A preocupação, em Oeiras, contudo, vai para a segurança dos militares norte-americanos

Foram adiadas, em princípio para segunda ou terça-feira, as audiências do primeiroministro, António Guterres, com os partidos da oposição que estavam marcadas para hoje. Os encontros destinavam-se à preparação da discussão parlamentar do Orçamento do Estado para 2002. Adiado foi também o encontro entre as delegações do grupo parlamentar do PS e do PSD, chefiadas pelos respectivos líderes parlamentares, Francisco Assis e António Capucho, que iria servir para acertar os contornos finais da revisão constitucional em curso. Este encontro deverá ocorrer na segunda-feira. Para amanhã, foi transferida a conferência de líderes parlamentares que estava marcada para ontem à tarde.

GOVERNO NA AR

Segurança de militares americanos em Portugal é prioridade que ali estão colocados. O Cincsouthlant é um comando regional que está directamente sob a dependência orgânica do Comando Aliado Supremo do Atlântico (Saclant), em Norfolk, EUA. O Centro de Operações Aéreas Combinadas 10 (CAOC 10) da NATO, que funciona nas instalações da Força Aérea em Monsanto, é que registou um grande aumento de actividade. O CAOC faz o controlo do espaço aéreo do Atlântico e aqui reúnem-se

todas as informações sobre os voos comerciais e não comerciais. Ontem, estiveram em trânsito cerca de duas dezenas de voos comerciais com destino aos EUA. Alguns tiveram que ser desviados, para o Canadá, por exemplo, outros regressaram ao aeroporto de origem. No âmbito da reforma das estruturas da NATO, o CAOC 10, que está instalado em Portugal há algumas décadas, corre o risco de vir a ser encerrado. I H.P.

Militares alertam Governo sobre riscos para o país Portugal não está livre de ser um dia vítima de ataques como os de ontem nos EUA, disseram ao PÚBLICO dois generais portugueses HELENA PEREIRA E JOÃO PEDRO HENRIQUES

Dois generais portugueses especialistas em análise estratégica — um no activo, outro na reserva — consideraram ontem, em declarações ao PÚBLICO, que Portugal não está livre de um dia ser vítima de ataques de origem semelhante à dos que ontem atingiram os EUA. “Pode acontecer-nos a nós”, disse o general Garcia Leandro, director do Instituto de Defesa Nacional. “A própria Europa pode ser alvo de atentados, incluindo Portugal”, acrescentou Loureiro dos Santos, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, actualmente na reserva. Para Garcia Leandro é impossível prevenir militarmente ataques como o de ontem. “Não há capacidade para conseguir uma protecção total contra ataques deste género, não há nenhuma capital que não seja vulnerável”, afirmou este general do Exército. Segundo acrescentou, “é a lógica do sistema de relações internacionais que está a levar a isto”. Para o general, a globalização gerou lógicas de exclusão de muitos milhões de pessoas. “A globalização

AUDIÊNCIAS ADIADAS

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Luís Amado, reúne-se hoje à tarde com a comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, para analisar a situação criada ao nível da política internacional e das relações externas portuguesas pelos atentados terroristas contra os EUA. A reunião contará também com a presença do presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos. Em comunicado assinado pelo seu presidente, Luís Marques Mendes, a comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros assumia ontem que estivera reunida para “exprimir publicamente a sua viva condenação pelos graves atentados terroristas ocorridos nos Estados Unidos, os quais atingiram trágicas proporções e traduzem acções absolutamente intoleráveis para toda a humanidade”.

LINHA DE EMERGÊNCIA Os serviços diplomáticos e consulares portugueses nos Estados Unidos estão a desenvolver “todos os esforços no sentido de obter elementos relativos a portugueses envolvidos nos atentados”, informou um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e do gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portugueses. Para tal, a embaixada portuguesa em Washington e os consulados-gerais em Boston e Nova Iorque estão a procurar obter informações sobre as listas de passageiros dos voos envolvidos nos atentados e sobre a identidade das vítimas. Em Lisboa, o MNE montou uma linha telefónica, a funcionar 24 horas por dia, através da qual é possível obter informações sobre a situação dos cidadãos portugueses nos Estados Unidos. Quem quiser saber dos seus familiares ou amigos neste país deve ligar para os números 213946406 ou 213946420.

GAMA NO UZBEQUISTÃO Garcia Leandro

Loureiro dos Santos

gerou muita gente desesperada e as pessoas mais perigosas são as desesperadas. Não têm nada a perder.” Já para Loureiro dos Santos, Portugal deve a partir de agora alterar “radicalmente a sua política de investimentos na Defesa e deixar de sonhar com grandes meios convencionais, como os navais, e investir em meios aéreos, por exemplo, para responder ao terrorismo, em agentes infiltrados, em operações de projecção de forças que actuem em áreas de situações de crise e que defina num conceito estratégico as verdadeiras ameaças”. O antigo chefe do Exército português disse ao PÚBLICO estar “con-

vencido que os EUA estavam prevenidos” para o ataque. Mas “deve ter havido uma falha nos serviços de informação”. E o “mais estranho” são as “falhas nos sistemas de segurança de centros vitais dos EUA, como o Pentágono e mesmo o World Trade Center”. “Os atentados são surpreendentes pelos alvos atingidos, os meios utilizados e a sua amplitude”, afirmou. No seu entender, “os atentados são uma sequência de toda uma série de acções terroristas quer contra interesses norte-americanos, quer contra a Europa e mesmo contra a Rússia. A Rússia vem alertando para isto há muito tempo”. I

Os atentados nos Estados Unidos apanharam o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, de surpresa, no Uzbequistão, onde se encontrava de visita, para preparar a presidência portuguesa da Organização para a Segurança Europeia (OSCE). Gama tentou de imediato apanhar um avião de regresso a Lisboa, mas foi impedido de o fazer pelo encerramento do espaço aéreo da União Europeia e da Federação Russa, informou o seu porta-voz, Horácio César. Quando soube das notícias, o ministro, que viaja num Falcon da Força Aérea Portuguesa, encontrava-se em Tashkent, capital do Uzbequistão, tendo cancelado então as deslocações que tinha previstas às outras ex-repúblicas soviéticas do Tajiquistão, Quirguistão e Turquemenistão. Gama tentará regressar hoje a Portugal, mas não a tempo de participar no Conselho Extraordinário dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, marcado também para hoje, em Bruxelas, pelo que será substituído pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Teresa Moura.

2 6 E S PA Ç O P Ú B L I C O PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

FANTASMA DA

Bartoon

LUÍS AFONSO

RECESSÃO REGRESSOU Para além de todas as perdas humanas e materiais que o inominável ataque terrorista ontem provocou, vai também ser necessário contabilizar os danos económicos que se farão sentir nos próximos tempos O mundo dos negócios andava nervoso, irritadiço e impaciente com o evoluir da conjuntura. Na manhã de ontem, quando chegou ao conhecimento do mundo o ataque a um dos símbolos da pujança económica da América, o World Trade Center, e ao ícone do seu poderio militar, o Pentágono, a descrença abateu-se sobre os mercados, que registaram pesadas perdas, e a histeria, como sempre, provocou uma intensa corrida aos metais de refúgio. Não há, nem pode haver, certezas a frio sobre o impacte da vaga terrorista que abalou o principal centro financeiro internacional e deixou os cidadãos da maior economia do planeta atónitos com a dimensão do horror. Mas que o acontecimento vai ter sérias repercussões na já de si periclitante situação da economia mundial, disso já poucos têm dúvidas. Sabe-se pela experiência do passado recente que a economia, seja pelo lado dos mercados, dos investidores ou dos consumidores, não se dá bem com o imprevisto. Editorial Todos os dias milhares de analistas olham a realidade, e se muitas vezes as suas previsões saem ao contrário — há apenas um ano muito poucos ousariam imaginar o forte abrandamento da economia que afecta os três grandes blocos, os EUA, o Japão e a Europa —, quando ocorrem ataques como o de ontem tudo pode acontecer. E o que ontem aconteceu é motivo para nos preocuparmos: o petróleo ultrapassou novamente a barreira dos 30 dólares, as bolsas europeias reagiram com fortes quedas — felizmente Nova Iorque esteve fechada — e se o afastamento de cenários de recessão parecia uma possibilidade real apenas ontem, hoje os seus fantasmas voltam a impor-se. No segundo trimestre do ano a economia americana cresceu uns tímidos 0,2 por cento. Nas últimas semanas a taxa de desemprego registou um agravamento, mas a confiança dos consumidores, em boa parte instigada pelos sucessivos cortes nas taxas de juro, deixavam antever perspectivas, no mínimo, razoáveis de recuperação. Com a manifestação de vulnerabilidade do sistema de segurança dos Estados Unidos e com a consequente quebra de confiança dos agentes económicos, dificilmente sobrará margem para grandes optimismos. E se a economia norteamericana entrar em definitivo em recessão, o resto do mundo sentirá certamente os seus efeitos. Para além de todas as perdas humanas e materiais que o inominável ataque terrorista ontem provocou, vai também ser necessário contabilizar os danos económicos que se farão sentir nos próximos tempos. Os bancos centrais poderão e deverão reagir com celeridade para reforçar os estímulos à economia, mas muitos investidores dificilmente esquecerão tão cedo o horror de ontem. Para que o longo ciclo de prosperidade que vem dos anos 90 se prolongue, não basta agora encarar as dificuldades do contraciclo: será também necessário vencer o espírito de insegurança e de depressão que os actos terroristas de ontem deixaram no ar. MANUEL CARVALHO

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AS SO C I AÇÃO P O R T UGUE SA D O C O N T R O LO D E T I R AG E M

Tiragem média total do mês de Agosto 72.388 exemplares

Cartas ao Director As cartas destinadas a esta secção — incluindo as remetidas por e-mail — devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos recebidos. Não se devolvem os originais dos textos não solicitados, nem se prestará informação postal ou telefónica sobre eles. Endereço electrónico: [email protected]

A justiça em Portugal De entre os problemas de que enferma a justiça em Portugal não tenho visto ser debatido aquele que diz respeito à possibilidade de o advogado de uma causa actuar de forma lesiva dos interesses e dos direitos da parte que teoricamente deve defender e que lhe paga para isso. Afinal, parece que é uma situação que está longe de ser pouco comum e dela, estranhamente, pouco se fala. Da minha experiência concluo que é muito difícil, senão impossível, conseguir um advogado que se encarregue de levar a tribunal outro advogado, acusado de procedimento ilícito no desempenho das suas funções. Correse Ceca e Meca e não se encontra um advogado disponível que queira encarregar-se de tal causa, nem mesmo os mais mediáticos paladinos da defesa da cidadania, militantes em partidos de extrema-esquerda. A situação completa-se com o que parece ser uma prática usual das secretarias dos tribunais, que só aos advogados facultam o acesso aos processos, tornando impossível o controlo pelo interessado da actuação do advogado. No meu caso foi-me dito que não se sabia onde estava o processo que pretendia consultar, nem sabiam quando estaria disponível. A quem pode recorrer o cidadão numa situação destas? Será possível que num Estado que se diz de direito não seja possível fazer prevalecer a lei? Há, afinal, pessoas neste país, que na prática, se situam acima da lei? Do ponto de vista dos direitos do cidadão isto é um atentado gravíssimo. A coberto da impunidade que esta prática garante, o advogado não cumpridor permite-se achincalhar o próprio conceito de justiça, reduzir a papel higiénico a Constituição e pôr

em frangalhos o ideal de Estado de direito. Sendo o advogado um intermediário do cidadão perante a justiça, indispensável na prática ao seu funcionamento, esta deveria ser exigentíssima na punição dos delitos cometidas no exercício das suas funções, proporcionando ao cidadão apoio para avançar com causas destas de um modo simples e o mais possível isento de formalidades processuais. JOÃO COSTA Cacém

“Um dinossauro entalado nas arribas de Torres Vedras” Em relação ao excelente artigo de divulgação da paleontologia, de que o PÚBLICO constitui um exemplo notável, “Um dinossauro está entalado nas arribas de Torres Vedras” (21/08/01), é referido por Bruno Silva que “o osso (de saurópode) apresenta marcas que revelam que, depois de o animal estar morto, insectos se alimentaram da cartilagem na zona dos tendões. Fizeram pequenas depressões no osso”. E o dr. Pedro Dantas salienta que “só encontrou referências a ossos (de dinossáurios) perfurados por insectos em fósseis achados na Mongólia, com 83 a 72 milhões de anos”. De facto, existe pelo menos uma referência à existência de perfurações/ escavações em ossos de dinossáurios, igualmente do Jurássico final, incluindo ossos de saurópodes, terópodes e stegossáurios, provavelmente produzidas por insectos. Estas perfurações, circulares a elípticas, com diâmetro variando entre 0,5 e 5,0 mm, surgem em vários elementos esqueléticos de dinossáurios dos grupos referidos encontrados nas jazidas de Carnegie no Monumento Nacional dos Dinossáurios (Utah), de Cleveland Lloyd (Utah), na jazida de “Big Al” (Wyoming) e na jazida de Bone Cabin (Wyoming). Vários investigadores sugeriram que estas perfurações evidenciam comportamentos de necrofagia e reprodutor e terão sido provavelmente produzidas por adultos e larvas (pupas) de coleópteros

dermestídeos, depois da morte dos animais, mas antes de as carcaças destes terem sido enterradas. Mas, como é evidente, o “dinossauro de Porto Novo” continua a ser “excepcional”. CELESTINO COUTINHO Paço de Arcos

Que confiança, sr. primeiro-ministro? Parece inverosímil o senhor primeiro-ministro deixar o seu país chegar a uma tal caótica situação de penúria, por falta de meios pecuniários, tendo recebido, diariamente e durante anos, milhões de contos, acumulados com mais 24 milhões de vendas de imóveis estatais, prejudicando o ensino público, inclusive o superior, faltando às comemorações de eventos históricos nacionais, como Aljubarrota, diminuindo funções das Forças Armadas, colocando em sobressalto a função pública, etc., etc. Mas o mais grave tem sido o logro devido ao mesmo primeiro-ministro, ao assegurar à população que tudo estava bem e pedindo a sua confiança, enquanto economistas de renome já há bastante tempo se vinham preocupando e divulgando informação sobre o agravamento da situação económica do país e da premente necessidade de uma reforma fiscal. No entanto, o “estúpido” imposto da sisa continua e o trabalho do dr. Sá Fernandes foi para a gaveta. Assim se gere a confiança. (...) Afirmou o sr. primeiro-ministro que tudo iria ser esclarecido quanto à “fundação Vara” (FPS). Conclusão? Nada de concreto e a confiança no primeiro-ministro é mais longínqua. Após as férias, apelou de imediato à confiança dos portugueses. Será que já estava a pensar em lançar mão dos 700 milhões do Fundo de Capitalização de Pensões, deixando de render juros para passar à ordem e serem rapidamente consumidos? Que confiança, sr. engº Guterres, com medidas destas, para não falar na dualidade de critérios quanto à co-incineração em que a própria confiança socialista também sofreu grande erosão relativamente a si? LANÇA BRITO Parede

ES PAÇ O P Ú B L I C O

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PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Diz-se “Tenho a imodéstia de achar que nenhum daqueles senhores que por aí apareceram fará melhor que eu. Todos eles têm a cabeça noutro lado. (...) O amor por Lisboa tem de ser um amor exclusivo.” JOÃO SOARES “A Capital“, 11-9-01

“De facto, tanto o PCP como o PP querem casamentos de conveniência, o chamado golpe do baú, com o PS e o PSD, respectivamente.” JOÃO PAULO GUERRA “Diário Económico”, 11-9-01

“Como alternativa a esta mistela ideológica e política resta a alternância, sem penduras, entre o partidocara e o partido-coroa do bloco central.” Idem, ibidem

“Enquanto a questão do orçamento para 2002 não estiver resolvida, o ambiente político em Portugal será um pântano com os seus limos escorregadios e seus cheiros pestilentos.” JOSÉ MEDEIROS FERREIRA “Diário de Notícias“, 11-9-01

“Mas... o que fazer para mudar esta sensação de frustração que mina o país? Duas medidas de esplendoroso alcance político: correr com Boloni no Sporting e com o Toni do Benfica...” CARTOON DE MAIA “24 Horas“, 11-9-01

“Se os resultados não melhorarem nas próxima uma/ duas semanas, não lhe dou [a Boloni] mais tempo.” CARLOS MONJARDINO “24 Horas“, 11-9-01

“O Benfica quer mesmo avançar com a construção do estádio. O problema continua a ser o PDM. O PDM, sempre o PDM. Esses idiotas que inventaram o planeamento e o urbanismo deviam ser todos presos!” LUÍS AFONSO Cartoon “A Bola“, 11-9-01

“O desporto é, e tem de continuar a ser, festa e alegria para todos e nunca motivo para confrontos ou instrumento ao serviço de estratégias de forças obscuras que, não tendo outros meios ao seu alcance, se servem dele para alcançar os seus fins ilegítimos.” JORGE COELHO “O Jogo“, 11-9-01

“A corrupção está institucionalizada e é uma engrenagem demasiado complexa. (...) Não é possível [acabar com ela]. Tornou-se controlável porque entrou no convívio das pessoas e sociedades.” JOSÉ EDUARDO PINTO DA COSTA “Diário Económico“, 11-9-01

“O tráfico de influências é o tipo de corrupção mais moderna e mais difícil de detectar e de controlar.” Idem, ibidem

Exames são bons instrumentos de medida? De quê? RITA BASTOS

S

Os exames não podem medir capacidades de raciocínio, de formulação e resolução de problemas, de comunicação, de reflexão e crítica, de colaboração, de liderança. No entanto, todos os estudos têm apontado para que estas são capacidades importantíssimas no desempenho de qualquer actividade, académica ou profissional. Os exames não medem o empenho dos alunos em integrar-se numa prática, seja ela profissional, académica, artística, desportiva ou até de defesa dos seus ideais. Finalmente, os exames não medem o futuro sucesso profissional dos alunos, como todos os estudos têm demonstrado. Várias são as grandes figuras da nossa praça, que confessam ter tido insucesso a algumas disciplinas na escola; discute-se a efectividade do sistema de acesso à universidade por se constatar que os médicos que estão a ser formados nem sempre estão vocacionados para o exercício da profissão, apesar das notas altíssimas que tiveram nos exames do 12º ano; todos nós conhecemos exemplos de pessoas que tiveram insucesso na escola e no entanto são óptimos profissionais ou vice-versa. Parece-me que há uma grande confusão que tem que ser desfeita: a função primeira da escola é ensinar, proporcionar experiências de aprendizagem que façam com que os nossos alunos sejam pessoas felizes numa sociedade melhor. Infelizmente, a certa altura foi necessário que a escola cumprisse também outra função – a de seleccionar – e para isso criaram-se

ou professora de Matemática do ensino secundário, há mais de 20 anos, e tenho estado desagradavelmente perturbada com as reacções que o ranking dos resultados dos exames nacionais, publicado há dias, tem suscitado! Todas, ou quase todas as intervenções que li (parabéns ao José Soeiro, que é uma excepção!) se referem às notas dos exames nacionais, ou melhor a umas médias, de alguns dos exames, calculadas de formas muito discutíveis (como aliás já foi escrito), como se elas medissem algo que é objectivo e claro, mas que ainda ninguém disse o que é! Pois eu afirmo que aquilo que os exames medem é muito pouco relevante, e que não é, com toda a certeza, a qualidade do ensino nas escolas, ou o nível cultural dos alunos, ou o seu futuro sucesso como cidadãos e profissionais. Os exames podem medir a quantidade de informação que um aluno foi capaz de memorizar, de entre a que “vem para o exame”, e a sua capacidade em processar essa informação rapidamente. Mas não medem, com toda a certeza, a capacidade de memorizar e processar outras informações provavelmente mais interessantes para muitos jovens, mas menos valorizadas pelo sistema, isto é, pela cultura academicista e liceal que preside à elaboração dos nossos programas. Os exames também não medem a capacidade dos alunos de encontrar a informação necessária noutros A Q U I L O Q U E O S E X A M E S M E D E M é muito pouco relevante, suportes — lie não é, com toda a certeza, a qualidade do ensino nas escolas, ou o nível vros, internet, cultural dos alunos, ou o seu futuro sucesso como cidadãos e profissionais especialistas — e de a processar então, em condições de trabalho normais, e com a pos- os exames nacionais. Da forma como as quessibilidade de interagir com outras pessoas, co- tões estão a ser colocadas, estamos a correr o mo acontece na vida real, em todas as activida- risco de esquecer a função de ensinar para nos des humanas. concentrarmos apenas na de seleccionar, o que Os exames medem também o domínio que os me parece extremamente perigoso e antialunos têm dos códigos linguísticos, e por vezes democrático! éticos e estéticos, utilizados nos enunciados, e Por outro lado, gostaria aqui de lembrar que que são muito próximos dos códigos utilizados a função de educar não pertence exclusivamensocialmente e em família, em alguns grupos, te à escola, muito pelo contrário: há grandes mas que não são nada próximos das linguagens responsabilidades que têm que ser assumidas utilizadas nos grupos sociais da maior parte pelas famílias, comunicação social e sociedade dos jovens que actualmente frequentam o se- em geral. Há outros indicadores e números que poderiam e deveriam servir de base de reflexão cundário. Os resultados dos exames são influenciados, para avaliarmos a forma como estamos a educomo é testemunhado por todos os que já passa- car os nossos jovens, e sugiro apenas alguns, ram por essa situação, pela capacidade que ca- no que respeita à população juvenil: da um tem de dominar algumas emoções como — os níveis de audiência dos vários prograa ansiedade e a angústia provocadas pelo facto mas de televisão, por exemplo dos “reality shode se ser posto à prova, sabendo às vezes que o ws”, comparativamente com outros programas seu desempenho naquele momento tem conse- de informação, divulgação artística, literária quências importantíssimas para o seu futuro, e científica; sobretudo se as suas famílias não podem pagar — a frequência de exposições, teatros, muuniversidades privadas. seus, e outros acontecimentos culturais; — a frequência com que lêem jornais, livros, Enfim, em última análise os exames medem também o empenho que foi colocado pelo alu- etc. — os que têm acesso a tecnologias de inforno e pelo professor na sua preparação e realização. Mas ensinar é muito mais do que prepa- mação e comunicação e a outros bens culturar para exames, e também muito diferente. rais. Como dizia Eduardo Veloso (PÚBLICO, 13/8), Estes também são números indicadores do o dilema entre preparar para exames ou ensi- nível de cultura dos jovens. Porque é que a conar realmente o que é importante, com todas municação social não os divulga em letras goras limitações e os objectivos ambiciosos que das? Talvez vá chegar à conclusão que há muitemos, é um dos grandes entraves a um ensino tos jovens interessantes e interessados, esclarede qualidade. cidos, a fazer coisas interessantes e a trabalhar Os exames não medem qualidades que hoje para uma sociedade melhor. Eu apostaria nissabemos serem importantíssimas num cidadão so, já que trabalho todos os dias com eles, e e num profissional, como o rigor, a honestida- tenho conhecido muitos como o José Soeiro de, a abertura a outros saberes, o respeito pelo (Público On Line, 29/8, Redutor e Simplista), outro, a persistência em alcançar objectivos, o que, apesar dos seus 17 anos, mostrou ter uma espírito democrático, a curiosidade científica, capacidade crítica muito mais apurada do que etc. No entanto, todos os dias trabalhamos no alguns grandes nomes da nossa praça.  Professora da Escola António Arroio, Lisboa sentido de promover essas qualidades.

LURDES FERREIRA O U S I M O U S O PA S

Distância Ele fazia 52 anos no dia em que se conheceram, mas não foi esse o tema de conversa, apesar de ter sido uma das primeiras coisas que lhe anunciara. Estavam sentados lado a lado no avião, a sobrevoar o Atlântico, depois de quase duas horas de espera fechados num aparelho que teimava em não levantar voo, quando Gilberto, brasileiro, desatou a falar de Lisboa, de Portugal, do Alentejo, do Minho e das ajudas da União Europeia. Naquele exacto momento, ela queria apenas ter a certeza de que as dificuldades iniciais não prenunciariam mais complicações nas seis horas de voo que faltavam, mas era óbvio que tinha um interlocutor à espera. O homem tinha o seu relógio de ouro, dois mil trabalhadores numa empresa de canade-açúcar de que era um dos directores, filhos jovens, dinheiro — “certamente mais do que merecia”, segundo o próprio — e uma curiosidade imensa em saber como é que estava a política portuguesa. Era a pergunta de quem visita o país várias vezes por ano e tem observado as mudanças — “Vocês mudaram muito desde que entraram para a Comunidade Europeia. Vê-se na construção, nas estradas, na qualidade de vida...” Recordava-se de em 1972, era ainda jovem, entrar num café em Portugal e o empregado, de ar triste, só lhe falar da vontade de emigrar — de “sair daqui”. Naquele tempo, era um desejo que ele ouvia a muitas pessoas, e entendia-o como uma falta de futuro. Ela lá lhe ia dizendo que o sr. Sampaio e o sr. Guterres iam bem de saúNão era a crítica que de, eram, sem dúvida, polítia incomodava, mas cos da geração a repentina do sentimento, perspectiva de que avessos ao risco e a grandes o assunto, depois expressões de de gastos milhões autoridade, até de decibéis que ele lhe perde discussões guntou pelo estado da econoe de toneladas mia, queria sade tinta, pudesse ber se éramos banalizar-se, ser mais europeus do que ele imaaceite como parte ginava: “Bom, integrante da vida vocês estão na Europa, mas há coisas em que estão muito longe dela. A gente entra numa aldeia do interior e dá logo para ver.” Bom, que quanto à economia, continuava ela, as coisas não iam bem, muitas famílias estavam em dificuldades, e os nossos compromissos com a Europa andavam periclitantes, o Estado gastava cada vez mais; que as reformas nunca mais apareciam e que a sociedade discutia hoje muito a fraude e a corrupção. A ironia de um “Querida, só vocês é que parece não verem que já são assim há muitos anos” foi desconfortável, mas provido de realismo. A medida de Gilberto para provar o seu argumento eram as ajudas europeias, porque — dizia — o muito investimento enviado para o país deveria ter dado mais resultados e mais desenvolvimento do que os que estão à vista, nas empresas e nas cidades. “Foram muitos milhões.” Não era a crítica que a incomodava, mas a repentina perspectiva de que o assunto, depois de gastos milhões de decibéis de discussões e de toneladas de tinta, pudesse banalizar-se, ser aceite como parte integrante da vida e concluir (algures no futuro, com o mesmo conformismo de Gilberto) que, “infelizmente, o nosso país só funciona assim”.

MUNDO

T I M O R O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO

PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

A D E R R O TA

O pior resultado dos trabalhistas noruegueses desde 1924 O Partido Trabalhista da Noruega sofreu a sua mais grave derrota desde 1924 depois de uma campanha eleitoral dominada pelo descontentamento popular pelos elevados impostos e inadequados serviços públicos num país que o petróleo tornou rico. Ontem, com 98 por cento dos votos contados, o Labour conseguira apenas cerca de 24 por cento — menos do que os 35 por cento obtido nas últimas eleições gerais há quatro anos. Esperamse agora semanas de negociações para que três partidos possam formar Governo e três políticos tentem ser nomeados primeiro-ministro, observou a BBC. As previsões são as de que os trabalhistas irão ocupar 43 lugares entre os 165 do Parlamento — na anterior assembleia contavam com 65. Os conservadores ficaram em segunda posição com 21 por cento, o que lhes dá 38 deputados. O pequeno Partido do Progresso (extremadireita) terá subido de 20 assentos para 26. A coligação de três partidos liderada pelos cristãos-democratas caíu de 42 para 34 lugares. O primeiro-ministro cessante, Jens Stoltenberg, que chefiava um Executivo trabalhista minoritário, admitiu que esta foi “uma má eleição”, mas avisou: “Não nos vamos agarrar ao poder a qualquer preço mas seria um erro abdicarmos das novas responsabilidades governamentais.”

A FIGURA

Presidente Museveni prendeu a mulher do rival

Alguns timorenses manifestaram o seu apoio à Fretilin usando autocolantes com a figura do líder do partido, Mari Alkatiri

Estrangeiros sem direito a titularidade sobre a terra em Timor independente Em declarações ao PÚBLICO, Mari Alkatiri, o líder da Fretilin que será chefe do Governo e ministro da Economia, admite ainda divergências com Sérgio Vieira de Mello e Xanana Gusmão Dos nossos enviados LUCIANO ALVAREZ (textos) e FERNANDO VELUDO(foto), em Díli

Winnie Byanyima, deputada da oposição no Uganda, foi presa ontem, duas semanas depois de o seu marido, Kizza Besigye — que concorreu (e perdeu) contra o Presidente Yoweri Museveni nas eleições de Março último — ter fugido para os Estados Unidos. A primeira justificação para a detenção da senhora Byanyima foi a de que ela agiu como “fiadora” de um correligionário político entretanto desaparecido. Posteriormente, a polícia acusou-a de posse ilegal de uma arma, que terá sido encontrada na sua residência. Byanyima, deputada eleita pelo município de Mbarara, no Ocidente do Uganda, pagou uma “fiança política” para que Deus Bainomugisha, activista que fez campanha pelo seu marido, fosse libertado depois de ter sido detido, no dia 2 deste mês, por possuir “informações perigosas”. Agora, ele está em paradeiro desconhecido.

“Não haverá titularidade para estrangeiros” na terra da futura República Democrática de Timor-Leste (RDTL) independente. Quem o assegura é Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin e futuro chefe de Governo, cargo que acumulará com a pasta de Economia no segundo Executivo de transição das Nações Unidas. Isto, se as negociações com Sérgio Vieira de Mello, administrador da ONU no território, chegarem a bom porto, o que, ontem, ainda não estava garantido. “Não temos pressa para formar Governo, ou as coisas são como nós queremos ou vamos só para a assembleia”, afirma, acrescentando logo a seguir que “se alguém disser que já há acordo [para a formação do Executivo] está a mentir”. No dia em que o partido que venceu as eleições do passado dia 30 festejou a maioria absoluta e o 27º aniversário da sua fundação, Mari Alkatiri falou ao PÚBLICO sobre alguns dos assuntos mais quentes no momento, tais como a formação do futuro Governo de transição e o papel de Xanana Gusmão até à independência e a sua candidatura à Presidência da República. Abordou ainda alguns dos temas mais polémicos que se vão colocar no dia em que oficialmente nascer o primeiro país do século XXI, como a posse da terra. E assegura desde já que só cidadãos timorenses terão direito a ela. Determinado, Mari Alkatiri deixa claro

que não teme um confronto com a Administração das Nações Unidas nos tempos mais próximos, nem com Xanana se a sua candidatura à presidência não se revelar totalmente independente.

Fretilin fica de fora, porque este Governo é da responsabilidade da UNTAET.” Um dos pomos da discórdia já está, porém, resolvido, o que leva Alkatiri a dizer que “as coisas já começam a correr melhor” e a admitir mesmo a possibilidade de se chegar a

A TREMIDA FORMAÇÃO DO GOVERNO Sérgio Vieira de Mello tem afirmado que tudo está a correr bem nas negociações com a Fretilin para formação do segundo Governo de transição, tendo mesmo dado a entender na passada segunda-feira que já havia acordo. A versão de Mari Alkatiri é, porém, bem diferente. “Se alguém disser que já há acordo está a mentir”, assegura. Para já, segundo o secretário-geral da Fretilin, só há concordância em relação ao chefe do Governo — Mari Alkatiri, que ontem revelou ao PÚBLICO que também ocupará a pasta da Economia — e às personalidades independentes. Ou seja, Ramos-Horta para os Negócios Estrangeiros, Filomeno Jacob para a Educação, e o médico Rui Araújo, para a pasta da Saúde. Mari Alkatiri continua a dizer que a política do seu partido é a de um Governo de inclusão, “com pessoas de competência e íntegras”, e “não um Governo de unidade nacional ou coligação”. “Se estes critérios fossem assimilados como deve ser, não haveria a tendência de se propor à cabeça nomes de pessoas que já se sabia que a Fretilin iria recusar. O problema é que quando se quer incluir, muitas vezes se está a excluir”, diz, referindo-se a Vieira de Mello. O secretário-geral da Fretilin afirma, porém, que talvez a viagem a Jacarta que ontem iniciou na companhia de Sérgio Vieira de Mello, Xanana Gusmão e Ramos-Horta “ajude a resolver as coisas”. Se não ajudar, Alkatiri não tem dúvidas: “Não temos pressa de formar governo. Se não houver acordo, se as coisas não forem de acordo com a nossa política, a

Fusão da ASDT na Fretilin já foi acordada A fusão da nova Associação Social-Democrata Timorense (ASDT) de Xavier do Amaral na Fretilin está já assegurada, o que garantirá ao partido que ganhou as eleições do passado dia 30 de Agosto a maioria de dois terços necessária para aprovar a Constituição sem ter que fazer qualquer aliança ou cedência a outra força partidária. Xavier do Amaral, também fundador, em 1974, da primeira ASDT, partido que pouco tempo depois daria lugar à Fretilin, de que foi primeiro presidente, esteve ontem no aniversário da Fretilin e com lugar de destaque. Perdoado está o facto de se ter “passado” no final dos anos 70 para o lado integracionista, o que levou à sua expulsão da Fretilin. Para já, os dois partidos vão ocupar os seus lugares separados na Assembleia Constituinte, embora Xavier do Amaral continue a deixar claro que “estará sempre ao lado da Fretilin”. Num “futuro próximo” será feito o acordo institucional de fusão que, tal como o PÚBLICO já tinha noticiado, garantirá à Fretilin um total de 62 deputados (56 seus e seis vindos da ASDT) num total 88 eleitos. “Em termos emotivos já está tudo acordado, falta só o lado institucional”, disse ontem Mari Alkatiri.

MUNDO

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PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

um acordo. Sérgio Vieira de Mello queria colocar o Partido Social-Democrata (PSD) no Governo, a Fretilin estava contra, mas Mário Carrascalão, líder do PSD, acabou por resolver a contenda, decidindo que não queria entrar no Executivo. Escolhido está já também o presidente da Assembleia Constituinte: “Isso é claríssimo, vai ser Lu-Olo [presidente da Fretilin].”

O PAPEL DE XANANA GUSMÃO E A SUA CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA Primeiro que tudo, “face a alguns equívocos que surgiram”, Mari Alkatiri faz questão de esclarecer que Xanana Gusmão “não ocupará nenhum cargo no Governo”. E, de facto, isso não acontecerá. O líder histórico, como também já afirmou Sérgio Vieira de Mello, ficará, até à independência, responsável pela áreas de defesa e planeamento estratégico, respondendo apenas ao administrador transitório e funcionando como uma espécie de elo de ligação entre o Governo de transição e a administração da ONU nessas áreas. Um cargo sem funções executivas que é visto, quer pela UNTAET, quer pelos principais dirigentes políticos, como de preparação do eventual futuro chefe de Estado da RDTL. Em relação à candidatura de Xanana Gusmão à Presidência da República é que a Fretilin ainda não tem todas as certezas. Mari Alkatiri continua a afirmar que Xanana não será o candidato da Fretilin, embora possa vir contar com o apoio do partido. Porém, para que tal aconteça, “é necessário que Xanana Gusmão surja inequivocamente como candidato independente”. “Se Xanana surgir como candidato de algum partido, como estamos a ver que alguns se preparam para fazer, teremos de analisar a situação”, acrescenta Mari Alkatiri. A ausência do líder histórico da resistência, ontem de manhã, na festa da vitória da Fretilin, partido a que pertenceu, foi muito notada. Mari Alkatiri continua, no entanto, a dizer que não há ruptura entre o seu partido e Xanana e justifica a ausência na festa da seguinte forma: “A culpa não é de Xanana, que até não foi avisado para vir. Nós não queremos forçar o Xanana a tomar atitudes que possam levar as pessoas a dizer que ele se está a querer adaptar à realidade.”

A TERRA SÓ NAS MÃOS DOS TIMORENSES E DE QUEM A TRABALHA A pertença da terra é uma das questões que promete levantar mais polémica após a independência, até porque muitos dos empresários, alguns verdadeiros aventureiros, que estão em Timor-Leste não se cansam de falar no assunto, disparando críticas a torto e a direito, por não estarem a conseguir assegurar desde já direitos. Não conseguem, não vão conseguir até à independência. A UNTAET tentou, até para atrair desde logo algum investimento estrangeiro, começar durante a sua administração a fazer algumas concessões mediante uma análise que será feita por uma espécie de tribunal independente. Só que os dirigentes timorenses não o permitiram, deixando escrito, como lei da administração da ONU, que a pertença da terra só será decidida pelos dirigentes do futuro Estado independente. Ontem, Mari Alkatiri revelou que a questão da terra “ficará clara na futura Constituição”, deixando para já uma certeza em nome do seu partido: “Não haverá titularidade de terra para cidadãos estrangeiros.” Significa isto que todos os cidadãos ou entidades estrangeiras que tenham adquirido terra no passado, fosse durante o período do colonialismo português, fosse durante a ocupação indonésia, vão perder esses direitos, que vão passar a ser pertença do futuro Estado independente. “A terra será só de cidadãos timorenses, mas também não queremos terra cansada. A terra é para produzir e quem a quiser trabalhar terá a sua parte”, acrescenta. Quando a divergências entre timorenses pela posse da terra, Mari Alkatiri diz que haverá um período para cada um reclamar o que é seu, sendo essas reclamações analisadas pelo Estado. “Tudo o que não for reclamado pelos timorenses passará para o Estado.” 

Crónica

A velha bandeira de um novo país LUCIANO ALVAREZ Quando a bandeira começou a subir o mastro, com os seus amarelo, vermelho e preto vibrando ao vento, todas as vozes se calaram. Todos olharam, num silêncio impressionante e emocionado, alguns sem conseguir segurar as lágrimas, para aquela bandeira de três cores apenas adornada com uma pequena estrela branca de cinco pontas que subia lentamente o mastro. Para a maioria dos presentes não era apenas uma bandeira. Subia lentamente aquele mastro branco o símbolo de uma luta, o sonho da liberdade aguardada durante tantos anos, o rosto de muitos dos que morreram em sua defesa. Subia lentamente o mastro a recordação do dia 28 de Novembro de 1975, quando sob aquela bandeira muitos dos que ontem voltavam a olhar para ela declararam Timor independente. “É o dia por que esperámos durante muitos anos”, diziam muitos, entre trocas de abraços, no final da cerimónia. O dia em que a Fretilin comemorou oficialmente a sua vitória nas eleições de 30 de Agosto e, ao mesmo tempo, o 27º aniversário da sua fundação. O dia em que a bandeira da República Democrática de Timor-Leste voltava a estender-se ao vento. Já não é a primeira vez desde o dia 30 de Agosto de 1999, quando os timorenses abriram, no referendo popular, as portas da liberdade, que a bandeira da independência do país é festejada. Não tem, aliás, passado um dia em que ela não seja festejada. Ontem era, porém, um dia especial. Ao lado da bandeira da independência voaria ao vento pouco tempo depois o estandarte da Fretilin, sua irmã nas cores e na luta, também ela chorada enquanto subia, mas ao mesmo tempo saudada por todos com hino do partido: “Fo Ramelau”, a canção que dantes era cantada em sussurros e agora é gritada a plenos pulmões. Ontem foi, acima de tudo, festejada a primeira eleição em liberdade dos timorenses. Foi a festa da democracia. Na primeira fila, todos de olhos nas bandeira, alguns dos fundadores da Fretilin: Ramos-Horta, Mari Alkatiri, Lu-Olo, Xavier do Amaral, um irmão em tempos desavindo que agora regressa, Rogério Lobato e Ma’uhno, um dos grandes combatentes. Junto aos líderes, milhares de pessoas enchiam o espaçoso terreiro da sede da Fretilin e os seus arredores. Ex- guerrilheiros, homens e mulheres que lutaram dentro e fora do país, e povo. Gente anónima que foi a grande alma da resistência. “O grande herói”, como ninguém tem dúvidas em apelidar aqueles que, desde a mais pequena das aldeias à maior das cidades, foram a água e o pão de resistência. E entre eles, individualidades estrangeiras, impressionadas com a emoção que ali se vivia. Na multidão, um “malai” (estrangeiro) de feições asiáticas merecia mais olhares que todos os outros. Chalief Akbar, chefe da missão diplomática da Indonésia em Timor. Ontem, também ele se colocou em posição de sentido, de respeito, enquanto as duas bandeiras que o seu país perseguiu durante 24 anos se estendiam ao vento. A festa da vitória da Fretilin nas eleições de 30 de Agosto e do 27º aniversário da fundação do partido foi de recordações e emoções, mas também a festa dos novos tempos de democracia, liberdade, paz e reconciliação que se vivem na meia ilha que dentro de menos de um ano se tornará no primeiro país do século XXI. 

RETRATO DE UM GUERRILHEIRO Mantinha-se ontem envolto em mistério o destino de Ahmad Shah Massoud, o líder da guerrilha contra os taliban, com os seus próximos a insistirem que ele sobrevivera a um ataque bombista suicida, apesar de persistentes notícias sobre a sua morte

Província de Takhar

TAJIQUISTÃO

Maazare-Sharif Herat

PAQUISTÃO Cabul Vale de Panjsher

AFEGANISTÃO

200 km

Kandahar Área controlada pelos taliban Área controlada pela oposição Área disputada

Ahmad Shah Masood

Nasce em 1953 — Conhecido como "Leão de Panshir", por ter nascido no vale com o mesmo nome

1996 — Uma nova força apoiada pelo Paquistão — os taliban — vem do Sul e de Leste para tomar Cabul

Finais de 1979 — Regressa do exílio no Paquistão, na sequência da invasão soviética

Setembro de 2000 — Massoud é isolado pelos taliban na província de Badakhshan

Anos 80 — Torna-se um dos mais bem sucedidos comandantes mujaedin, na luta contra os invasores

2001 — Massoud, apoiado pelo Irão, Índia e Russia alarga a área de oposição aos taliban

1992 — Ganha a guerra, as facções "mujahedin" não conseguem implantar a paz. Massoud é nomeado ministro no governo de Burhanuddin Rabbani.

9 de Setembro — Massoud é alvo de assassinos disfarçados de jornalistas de televisão, no seu quartel-general, na província de Takhar REUTERS | PÚBLICO

Taliban lançam ofensiva para controlar todo o Afeganistão A única província que os homens de Ahmad Shah Massoud ainda controlam integralmente é Badakhshan, no extremo nordeste do país Aproveitando os rumores sobre a morte de Ahmad Shah Massoud, o líder carismático da guerrilha afegã, os taliban lançaram ontem uma ofensiva contra zonas controladas pela oposição, 25 quilómetros a Norte de Cabul, na direcção de Charikar, capital da província de Parwan. Segundo as agências internacionais, o som das explosões ouvia-se claramente em Cabul. A milícia no poder atacou

também Mahmud-i-Raqi, capital da província de Kapisa. Tal como Charikar, trata-se um acesso importante ao Vale de Panshir, a praça-forte de Massoud, a quem chamam justamente Leão de Panshir. Um porta-voz dos taliban — que controlam já quase a totalidade do território afegão — declarou à AFP que os combates foram retomados na sequência da “perda de moral” das tropas de Massoud. Mohammad Habeel, um porta-voz da oposição afegã, confirmou que “eles [os taliban] tomaram alguns postos, mas voltaram a perdê-los, num contra-ataque”. Ontem à tarde, o dirigente local da oposição, Besmillah, acrescentou à AFP que a situação era “calma, normal”, e que “o inimigo” fora afastado. Segundo este comandante, a ofensiva dos taliban envol-

veu uma grande número de tropas e bombardeamento aéreo, e ter-lhes-á custado “dezenas” de baixas. A única província que os homens de Massoud ainda controlam integralmente é Badakhshan, no extremo nordeste do Afeganistão. Entretanto a televisão estatal iraniana anunciou ontem que os estados vizinhos do Afeganistão que contestam o domínio taliban e a sua influência na região se reunirão brevemente (não foram avançadas datas) em Dushanbé, capital do Tajiquistão. Só o Paquistão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos reconhecem o governo dos taliban — as Nações Unidas ainda consideram o Governo do Presidente Rabbani, que os taliban afastaram em 1996, como legítimo. 

Oposição afegã garante que Massoud está vivo Numerosas fontes diplomáticas em Washington e Moscovo calculavam ontem que Ahmad Shah Massoud, o líder da guerrilha contra os taliban, tenha morrido na sequência do atentado de domingo, no seu quartel-general, na província de Takhar, Norte do Afeganistão, quando dois pseudojornalistas de televisão fizeram explodir uma câmara armadilhada. Mas tanto o irmão de Massoud como o presidente afegão no exílio garantiram às agências que o combatente está vivo e a ser tratado num hospital da região. “O meu irmão está a recuperar, num estado estacionário”, declarou à AFP Ahmad Vali Massoud, embaixador em Lon-

dres da oposição afegã. “Ele está bem”, confirmou por sua vez à Reuters o antigo presidente Rabbani, acrescentando que Massoud “consegue comer, e até certo ponto, andar”, embora esteja impedido de falar, e que “o conselho dos médicos é de o enviar para um hospital europeu”. Um “site” da oposição afegã (www.payamemujihad.com) explicita que o líder da guerrilha perdeu três dedos, sofreu feridas graves na cabeça e na perna direita, mas que conseguiu ir sem ajuda desde o local do atentado até ao hospital. A oposição afegã responsabiliza os taliban e Ousama Bin Laden pelo atentado contra Massoud, acusação que os taliban rejeitaram.

30 MUNDO PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Tanques israelitas cercam cidade palestiniana AMMAR AWAD/REUTERS

Com Jenin isolada, já ninguém esperava que Arafat e Peres se encontrassem ontem à noite A cidade autónoma palestiniana de Jenin, na Cisjordânia, está desde ontem cercada por tanques israelitas numa operação que o Exército descreveu como de prevenção contra a infiltração de potenciais “kamikazes” em Israel. O cerco gerou confrontos e, segundo fontes hospitalares citadas pela agência Reuters, pelo menos dois palestinianos foram mortos. Um encontro planeado para ontem à noite entre o chefe da OLP, Yasser Arafat, e o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Shimon Peres, ficou também em dúvida. Noutros incidentes separados, tropas israelitas mataram a tiro um palestiniano que seguia de carro para a Faixa de Gaza e guerrilheiros palestinianos mataram dois agentes da polícia de fronteiras israelita que guardavam uma base próxima da Cisjordânia, adiantou a Reuters. A operação com os tanques à volta de Jenin — uma localidade descrita por responsáveis militares como “um ninho de terrorismo” —surgiu dois dias depois de um bombista suicida ter morto três israelitas na cidade de Naha-

Uma mulher palestiniana protesta contra a demolição da sua casa pelo Exército israelita riya, no Norte do Estado judaico. O gabinete do primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, denunciou que pelo menos seis bombistas saíram de Jenin desde que a revolta palestiniana começou há quase um ano.

O Exército, que bloqueou as estradas de acesso à cidade, não especificou durante quanto tempo vai manter o cerco. Os blindados permanecem a poucos metros do interior da povoação e nos montes que lhe são sobranceiros pra-

ticamente desde que a operação foi desencadeada às primeiras horas da madrugada. Os apeos à resistência fizeram-se ouvir em todos os altifalantes nos minaretes das mesquitas de Jenim enquanto os tanques avançavam sob a co-

bertura da escuridão, relatou o jornalista da Reuters. Activistas palestinianos dispararam as suas armas e o Exército respondeu com os seus canhões lançando pelo menos seis bombas. Dois homens, Ibrahim Fayed e Ihab al-Masri, foram mortos

num campo de refugiados próximo de Jenin. Israel tem feito breves incursões em território sob controlo da Autoridade Palestiniana. A maioria tem durado várias horas, embora na localidade de Beit Jala, nas imediações de Jerusalém, tivessem permanecido dois dias no mês passado, para neutralizar os guerrilheiros que atacavam com morteiros o vizinho colonato judaico de Gilo. Com a tensão em alta, as esperanças de um encontro PeresArafat diminuíram substancialmente, até porque ambas as partes ainda não tinham chegado a um compromisso quanto ao local do diálogo previstro para ontem à noite. Arafat queria a estância egípcia de Taba; Peres preferia o “checkpoint” de Erez que separa Gaza de Israel. Ontem, um dos mais influentes ministros palestinianos, Nabil Shaath, disse a repórteres em Damasco que o “rendezvous” tão esperado não deverá acontecer antes da visita que Arafat inicia hoje à Síria — uma data simbólica, já que é o oitavo aniversário dos Acordos de Oslo agora moribundos. Em todo o caso, mesmo que Arafat e Peres se sentassem à mesma mesa para a primeira das três sessões inicialmente planeadas, ninguém espera que eles ponham fim a 11 meses de banho de sangue que já causou mais de 700 mortos — 562 palestinianos e 165 israelitas. 

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PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

O suicida muçulmano e o general druso viviam na mesma aldeia eridos depois a terrível primeira DAVID LANDAU de quase um semana de Outubro Jerusalém ano de conde 2000, quando uma C O M E N T Á R I O flito violento sublevação árabe no com os palestinianos, norte da cidade bloos israelitas sofreram queou as principais esta semana mais um trauma: toma- estradas e ameaçou alastrar às ram conhecimento, para seu horror, cidades mistas, tomando a forma que um bombista suicida respon- de uma quase rebelião de massas. sável pela morte de três inocentes Mal preparadas e posicionadas, as numa estação de caminhos-de-ferro unidades de polícia usaram muniera um compatriota. ções reais para combater as pedras Mohammed Shaker Habeishi (na e pneus a arder que lhes foram arrefoto), nascido em Acre, a residir messados. Treze cidadãos árabes há anos na aldeia de Abu Snaam, foram mortos. na Galileia, não Nessa altura, a era um refugiado Intifada assolava palestiniano, resa Cisjordânia e sentido com o a Faixa de Gaza, Estado judaico com manifestanpelo êxodo da sua tes palestinianos família. Era um a enfrentar o cidadão desse Exército. Mas foi mesmo Estado, a explosão de vioum comerciante lência dentro de de meia idade, Israel que os isramarido de três elitas não mais mulheres, pai de esqueceram. Esse seis filhos, que momento, com o ainda há cerca de país quase à beira um ano se candidatou a presidente de uma guerra civil, ficou eternade junta de freguesia da sua aldeia, mente gravado na memória de todos habitada por drusos e muçulmanos. os cidadãos — judeus e árabes. No domingo de manhã, ele fez-se O Governo estabeleceu uma explodir no exterior de uma estação comissão de inquérito, presidida de comboios em Nahariya, no Norte por um juiz do Supremo Tribunal, de Israel. As suas vítimas indiscri- para examinar os acontecimentos minadas eram três viajantes de Jeru- daquela semana. As suas audiênsalém: um artista, um arquitecto e cias ainda continuam em Jerusaum soldado que queria ser músico. lém, numa sala cheia de emoções, Agravando o choque que no com testemunhas a prestar depoidomingo abalou a nação surgiram mentos por detrás de vidros espesimagens na televisão, difundidas sos, para sua própria protecção. pelo movimento palestiniano Muitos judeus e árabes israelitas Hamas, onde se via Habeishi, antes partilham a esperança de que a do ataque, a explicar friamente o comissão de inquérito represente seu acto de suposto sacrifício reli- uma oportunidade de catarse para gioso. As imagens, filmadas com a ira e amargura e ajude a sarar um fundo de “slogans” muçulma- as feridas, de modo que as duas nos e com o herói usando uma comunidades possam reconstruir faixa verde e branca na testa, a sua fracturada coexistência. eram idênticas a outras exibidas O ataque bombista em Nahariya anteriormente. Só que desta vez desferiu um golpe nessas espeo assassino-suicida não era “um ranças e redespertou, do lado tipo meio doido”, mas um homem judaico, os medos, as desconfianque ganhou maturidade dentro da ças e as suspeitas de que a violênsociedade israelita. cia de há um ano ressurgiu. Habeishi era militante do Movimento Um ano de Intifada com a sua Islâmico de Israel, uma organização constante escalada e número crespolítico-religiosa que cresceu imenso cente de mortos e feridos criou nos últimos anos. O seu líder, o terreno fértil para que esses xeque Ra’id Salah, é um dos numero- medos e suspeições ganhem raízes sos dirigentes árabes israelitas que, e floresçam de novo. Recenteimediata e inequivocamente, conde- mente apareceram casos de colanaram o atentado. “Temos que agir boracão, suspeita ou provada, segundo as regras da lei e da demo- entre palestinianos da Cisjordâcracia de Israel”, declarou um dos nia-Gaza e árabes israelitas em seus porta-vozes. actos de terrorismo. Esta semana, Deputados árabes do Knesset (Par- uma maioria de judeus israelitas lamento), frequentemente acusados começou a sentir que a distinpelos seus colegas judeus de alinha- ção, que eles imaginavam real, rem com os palestinianos na revolta entre as diferentes comunidades em curso, insistiram em que o assas- árabes palestinianas está cada vez sino era uma “erva daninha” numa mais diluída. Depois do ataque comunidade leal e advertiram contra de Habeishi, essa distinção toras tentativas da maioria judaica de nou-se mais difícil de manter. manchar a dignidade da minoria Na segunda-feira, o jornal árabe israelita com a suspeita de “Yedioth Achronoth” publicou traição. fotografias do chefe do EstadoTodas estas condenações tiveram Maior das Forças Armadas, Shaul imenso espaço nos jornais locais. Mofaz, com a sua mulher e alguns Mas também foram tantos os elogios oficiais a jantar em casa de Yussuf que garotos nas ruas das aldeias de Mishlav, um militar recém-proárabes israelitas fizeram a Habeishi, movido a general. Mishlav é o considerando-o um “shaheed”, primeiro general druso de Israel. mártir que irá para o Céu. A sua casa fica em Abu Snaan, Entre os judeus de Israel, a acção de não muito longe da residência da Habeishi evocou, inevitavelmente, família de Habeishi.

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ECONOMIA PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

A AJUDA

África necessita de 2200 milhões de contos As nações africanas precisam de uma ajuda externa de 10 mil milhões de dólares (2200 milhões de contos) por ano para atingirem o objectivo de reduzir a pobreza para metade até 2015, revelou ontem um relatório das Nações Unidas. “Apesar dos seus esforços para se integraram no mundo globalizado, os países africanos não conseguirão desenvolver as suas economias sem a ajuda externa”, afirma o documento de 59 páginas intitulado “Desenvolvimento Económico em África, Acções Perspectivas e Políticas”. Em 1999, o Produto Interno Bruto por habitante (PIB) da África subsariana foi de 507 dólares e em 1980 de 711 dólares, o que significa que o previsto crescimento de 3 por cento na próxima década apenas equilibra a taxa de natalidade.

A CONFIANÇA

China pode crescer sete por cento O ministro chinês das Finanças, Xiang Huaicheng, mostrou-se ontem confiante em que a economia chinesa conseguirá crescer este ano cerca de sete por cento, apesar do abrandamento económico global. “Estou prudentemente optimista que o crescimento económico da China seja de cerca de sete por cento”, disse Xiang Huaicheng, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo norteamericano, Paul O’Neill. Xiang Huaicheng admitiu, contudo, que a situação económica global está a afectar o crescimento económico da China, sobretudo na área das exportações, que representam mais de 40 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês. “O abrandamento da economia global, incluindo nos Estados Unidos, e a estagnação da economia japonesa estão a ter algum impacte no crescimento da China”, disse.

CÂMBIOS DÓLAR/ESCUDO LIBRA/ESCUDO

223,652 325,669

B O L S A S D E VA L O R E S

- 4,46 - 6,39 —

PSI-20 EURO STOXX 50 DOW JONES

TA X A S D E J U R O

- 0,5 0,0 1 0

LISBOR 3 MESES EURIBOR 3 MESES OT 10 ANOS BUND 10 ANOS LISBOR

Madrid mantém defesa de “participação mútua” na electricidade NELSON GARRIDO

DECISÃO SOBRE VOTOS NA HIDROCANTÁBRICO EM BREVE As negociações para o desbloqueamento dos direitos de voto da EDP na quarta maior eléctrica espanhola trouxeram secretário de Estado espanhol a Lisboa LURDES FERREIRA

A decisão do Governo espanhol sobre o desbloqueamento dos direitos de voto da EDP na Hidrocantábrico será anunciada nas próximas semanas, disse ontem o secretário de Estado espanhol da Economia, José Folgado, após um encontro com o seu homólogo português, Eduardo Oliveira. Com os “dossiers” EDPHidrocantábrico e Iberdrola na mesa das negociações e a dominarem, neste momento, as relações entre os dois países, José Folgado disse desconhecer recentes declarações do ministro português da Economia exigindo “mais respeito” de Madrid, sobre a forma como o assunto tem sido conduzido pelo país vizinho. Em causa estão as crescentes pressões espanholas para um aumento da participação da Iberdrola na EDP como moeda de troca para que esta confirme a sua posição accionista na Hidrocantábrico. “Nunca colocámos a questão ao nível de uma empresa em concreto, é de modelo e de participação”, afirmou. Para Madrid, “o mercado ibérico de electricidade implica uma participação mútua nos distintos âmbitos de produção, distribuição e venda”. O representante de Madrid justificou a sua visita com a necessidade de criação do mercado ibérico de electricidade, no âmbito da preparação da presidência europeia no próximo semestre, a cargo de Espanha, considerando esta agora

5,16 4,27

EURIBOR

BUNDS 4,91 4,242

4,82

04/09 05/09 06/09 07/09 10/09

04/09 05/09 06/09 07/09 10/09

4,276 * Variação em pontos base: diferença entre as taxas de juro multiplicada por 100

ses para ser assinado, “será trabalhado e enriquecido” pelos respectivos directores-gerais de Energia dos dois países. O protocolo era visto como o compromisso político de aceleração de uma série de iniciativas impostas pela própria União Europeia à luz dos planos do negócio da EDP na Hidrocantábrico, nomeadamente através do reforço das interligações entre os

Contactos entre Galpenergia e Iberdrola José Folgado mostrou-se favorável aos planos de expansão da Galpenergia em Espanha, sublinhando com algum entusiasmo a existência de contactos entre a “holding” portuguesa de gás e petróleo e a Iberdrola, a empresa eléctrica que se encontra no centro da controversa negociação para a resolução do caso Hidrocantábrico. O secretário de Estado espanhol não avançou, contudo, se este projecto se enquadra na tese de “participação mútua” defendida pelo país vizinho. A Galpenergia quer reforçar a sua rede de retalho em Espanha, admitindo-se a possibilidade de sinergias com os negócios da EDP no âmbito da distribuição de gás natural, na qual a Hidrocantábrico tem interesses.  L.F.

Impresa perdeu 3,3 milhões de contos no primeiro semestre Grupo de Balsemão desvalorizou-se 17 por cento em bolsa nos últimos dois dias

OT 5,25

4,315

As pressões para o reforço da participação da Iberdrola na EDP estão no centro do “dossier” eléctrico que a sintonia com Portugal nesta matéria é “um pilar importante” no desfecho da inibição dos direitos de voto da eléctrica portuguesa na quarta maior empresa espanhola do sector da electricidade. No encontro, os dois países concordaram que o protocolo bilateral que já definia medidas concretas para o mercado ibérico de electricidade, e que espera há me-

Os prejuízos semestrais da Impresa superaram as piores expectativas dos analistas, atingindo 3,3 milhões de contos (16,44 milhões de euros). Estes resultados negativos contrastam com os lucros de 247,21 mil contos (1,23 milhões de euros) registados no período homólogo de 2000. A quebra de investimento publicitá-

rio, o aumento dos preços do papel, o acréscimo dos custos na televisão e custos de reestruturação de algumas unidades de negócio foram os principais factores apontados, em comunicado, para a deterioração das margens operacionais da empresa liderada por Francisco Pinto Balsemão. A cotação da Impresa em bolsa caiu, nos últimos dois dias, 17 por cento, fechando ontem a 1,8 euros (360 escudos) — e as perdas desde o início do ano situam-se na casa dos 72 por cento. A estação televisiva do grupo foi a área de negócio mais afectada este

semestre: “[Esta quebra] deveu-se à redução verificada no investimento publicitário, que registou uma queda de 6,1 por cento na primeira metade do ano, afectando principalmente a actividade da SIC. Simultaneamente, continuou a assistir-se a uma queda generalizada na circulação das publicações, reflexo do abrandamento do consumo privado”, explica a Impresa em comunicado. As receitas semestrais da SIC registaram uma queda de 11,8 por cento face ao período homólogo do ano passado, para 14,4 milhões de contos (71,5 milhões de euros). Também as

dois países, da criação de uma bolsa ibérica de electricidade e da liberalização do sector. Foi para o efeito acordada a “necessidade de estabelecer um programa de trabalho conjunto nos próximos meses, para atingir objectivos comuns”, o qual constará do futuro documento. Questionado sobre a possibilidade de ser esta uma forma de ganhar tempo neste processo, José Folgado respondeu que “é para ganhar eficácia”. “Queremos que esse programa garanta que vamos alcançar os objectivos que pretendemos”, acrescentou. Depois de uma fusão falhada com a Endesa e de uma nova administração, a Iberdrola retomou o seu interesse pelo mercado português e pela EDP, o que não era previsível. Foi esse, aliás, o motivo apontado para que a decisão sobre a Hidrocantábrico tivesse sido adiada para este mês, depois de prevista para o início de Agosto passado. 

receitas da Abril Controljornal (ACJ) — a área de revistas do grupo — registaram uma quebra homóloga de 19,2 por cento, situando-se em 7,3 milhões de contos. Esta área de negócio foi afectada pelo encerramento da revista “Roda dos Milhões”. Por outro lado, as receitas consolidadas da área dos jornais do grupo de Balsemão registaram um aumento de 7,2 por cento, para 5,9 milhões de contos (29,3 milhões de euros). A SIC procedeu, em Agosto, a uma redefinição dos blocos publicitários, que passaram a ter menor duração e maior frequência, para melhorar a eficácia da mensagem publicitária. A Impresa prevê que esta reorganização dos blocos publicitários e o correspondente ajustamento de tabelas gere um aumento de cinco a dez por cento da facturação publicitária da estação televisiva.  PÚBLICO/Lusa

ECONOMIA 33 PÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Carrefour propõe congelamento de preços em Janeiro e Fevereiro Cadeia avança sozinha se for preciso. Nesse caso, congela preços de 2000 produtos entre Dezembro e Fevereiro A cadeia de distribuição Carrefour vai propor, aos operadores de distribuição em Portugal, o congelamento de preços no país, durante o período de transição do escudo para o euro (de Janeiro a 28 de Fevereiro), por forma a assegurar uma transição harmoniosa para a moeda única. Se o desafio não for aceite por estes agentes de mercado, vai ser a

própria cadeia a congelar por si só os preços de um cabaz de compras de cerca de dois mil produtos entre Dezembro e Fevereiro, anunciou ontem Gerard Vinson, administrador-delegado da cadeia Carrefour em Portugal. Facilitar a mudança através de uma transição harmoniosa, gerar confiança nos consumidores, travar as pressões inflacionistas e combater o risco de se desencadear uma crise de consumo (com a redução acentuada de vendas) são os objectivos desta acção inédita e pioneira da cadeia de distribuição francesa. O administrador-delegado da Carrefour defendeu que a ideia central sub-

QUINTAS, SEXTAS E SÁBADOS ÀS 21H30

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TELS. 225898090

jacente a esta acção “é transmitir a ideia de que o euro é uma oportunidade, nomeadamente para fazer baixar os preços, é algo de positivo”. O Carrefour considera que é necessário apoiar e informar o consumidor nesta transição, na medida em que ele vai perder, momentaneamente, as suas referências, o que pode levar a um abrandamento do consumo, com consequências graves para a actividade económica nacional. Gerard Vinson admitiu que o objectivo do Carrefour — a cadeia possui cinco lojas em Portugal — é “forçar um pouco as coisas” para que o mercado tome a

decisão de congelar os preços, pois defende que “devem ser os actores económicos a decidir, e não o Governo a impor” um cenário de congelamento de preços. O cabaz de produtos de grande consumo que o Carrefour vai assegurar aos portugueses durante os três primeiros meses do ano abrange a área alimentar (como arroz, esparguete, conservas, iogurtes, cereais, congelados, bolachas ou sumos), mas também detergentes, fraldas ou champôs “e poderá representar mais de 50 por cento das vendas do Carrefour em Portugal”, referiu ontem Gerard Vinson, num encontro com a imprensa.  REUTERS/ LUSA

Franceses disponíveis para parceria com Sonae A Carrefour, o maior distribuidor europeu, vai manter a sua posição de 21 por cento na Modelo Continente — o número um da distribuição nacional —, estando disponível para uma eventual parceria com o Grupo Sonae (que detém cerca de 70 por cento da Modelo Continente). “Por enquanto, não há nenhuma razão particular para vender. É uma boa participação e dá lucros”, disse à Reuters o administrador-delegado da Carrefour em Portugal. “No início, após a fusão com a Promodés, foi um casamento forçado [a entrada no capital da Modelo Continente], mas temos que considerar isto como uma oportunidade para as duas instituições construírem uma nova parceria que ainda não foi possível”, afirmou Gerard Vinson, relembrando que, há algum tempo, a Carrefour propôs alguns cenários para resolver a situação dos dois grupos no Brasil (que, após a fusão com a Promodés, passaram a ser simultaneamente parceiros em Portugal e concorrentes no Brasil), sem obter quaisquer respostas.

34 ECONOMIA PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

BOLSA

FUNDOS DE INVESTIMENTO Fundo

Euro

MOBILIÁRIO MORGAN STANLEY MISTO GLOBAL F €9,97 MORGAN STANLEY DEAN WITTER FT €10,03 PARVEST DYNAMIC USD BIG SECTORES €7,41 BIG Valorizaçao FF €9,31 BIG Moderado FF €10,45 BIG Euro Capital €7,83 B.I.G. Crescimento Global €7,05 Alves Ribeiro Acções Europa* * €35,99 A R Mé dias Empresas Portugal* * €50,21 Finifundo Small Caps €4,65 Finifundo Blue Chips €4,24 Finibond Mercados Emergentes €6,67 Finiglobal €5,16 PPA Finibanco €5,92 Finirendimento €5,15 Finicapital €4,46 Banifundo Euro Renda Mensal €4,99 Banifundo Acções Brasil €1,59 Banifundo Euro Acções €2,71 Banifundo Obrigaçoes Merc Emergentes €5,35 Banifundo Oportunidades €1,06 Banifundo Estrategia Agressiva €3,04 FF Banifundo Estr. Equlibrada €4,09 FF Banifundo Estr. Conservador €4,84 Banifundo Acções Portugal €3,05 Banifundo Euro Obrigações €5,61 Banifundo PPA €4,00 Banifundo Euro Tesouraria €6,07 Raiz Poupança Acções €10,23 Raiz Poupança Reforma €7,21 Raiz Rendimento €5,44 Raiz Tesouraria €6,78 Raiz Europa €4,60 Raiz Global €4,82 MG Obrigações €74,62 MG Acções €82,77 MG Tesouraria €74,54 MULTI GESTÃO PRUDENTE €47,31 MULTI GESTÃO EQUILIBRADA €44,42 MULTI GESTÃO DINÂMICA €38,50 MG Obrigações Agressivo €51,64 MG Acçoes Europa €34,53 MG Taxa Fixa €56,00 MG Renda Mensal €49,91 MG Monetário €57,88 BNC Rendimento €7,65 BNC Euro Taxa Fixa €5,34 BNC Accoes €3,63 BNC Global 75 €3,48 BNC Global 50 €4,02 BNC Globa l 25 €4,61 BNC PPA €4,06 BNC Valor €3,79 BBVA Obrigações €7,16 BBVA Curto Prazo €8,32 BBVA Cash €8,45 BBVA Disponível €8,11 BBVA Êxito €4,81 BBVA Bolsa Internacional €3,09 BBVA MIX 60 €4,39 BBVA MIX 30 €4,71 BBVA Global €5,51 BBVA PPA €4,21 Privado Agressivo F.F. €3,81 Privado Crescimento F.F. €5,48

Esc 1 998$92 2 011$83 1 486$69 1 867$14 2 095$53 1 569$85 1 414$88 7 216$73 10 067$38 932$98 851$82 1 339$05 1 035$95 1 188$31 1 032$52 895$05 1 001$90 320$29 544$54 1 072$81 214$49 610$22 821$93 972$33 612$05 1 125$86 803$51 1 217$30 2 051$29 1 446$93 1 091$78 1 360$91 922$37 967$86 14 960$44 16 595$43 14 944$42 9 485$80 8 906$79 7 719$59 10 353$31 6 923$50 11 228$37 10 007$37 11 604$05 1 534$02 1 072$55 729$65 698$63 807$24 925$48 814$29 760$32 1 435$89 1 668$33 1 694$91 1 626$87 965$38 620$51 881$37 944$45 1 105$81 845$45 765$84 1 100$64

Fundo

Euro

Privado Rendimento F.F. BPN Valorizacao FM BPN Optimizaçao FM BPN Conservador F M Barclays FPA Barclays Premier Acções Port. Barclays Premier Obrig. Port. Barclays FPR/E Barclays Premier Tesouraria Barclays Curto Prazo Barclays Rendimento BARCLAYS FPR/E Rendimento Barclays Global Moderado F.F. Barclays Global Conservador F.F. E.S.Poupança Acções E.S.Obrigações Europa E.S.Mercados Emergentes E.S.Fundo Acções Europa BIC Tesouraria BIC PPR/E E.S.Capitalização E.S. Obrigações Global E.S.Tesouraria E.S.Portfolio F.F. E.S.Curto Prazo F.tes. E.S.Renda Mensal Gestão Activa F.F. Espírito Santo Invest 90 Espírito Santo invest 40 Espirito Santo Invest 15 E.S. Acçoes America E.S. Acçoes Global E.S. Acçoes Rendimento E.S.Opção Moderada E.S. Portfolio I F.F. E.S. All Stars E.S. Fixed Income E.S. Liquidez F.Tes. E.S. Opção Dinâmica F.F. E. S. Opção Conservadora F.F. E.S. Portfolio Dinâmico E.S.Top Ranking F.F. Estratégia Moderada -F.F. E.S.Portugal Acções E.S.Renda Trimestral Espírito Santo Monetário Totta PPR Totta Taxa Fixa Obrigações Semestre Santander Capital Portugal Santander Banca Santander Telecom Santander Acções Internacional Carteira Misto F.F. Carteira Protecção F.F. Santander Plano Poupança Acções Santander FPR/E Valor Futuro FPR/E Santander Iberfundo Acções Santander Acções Portugal Santander Mercados Emergentes Santander Tesouraria Novofundo Santander Obrigações Totta Capital Europa EURO Futuro Utilities EURO Capital 2004 EURO Capital 2003* *

€4,55 €5,73 €5,44 €5,26 €10,21 €8,74 €7,78 €12,38 €8,39 €10,03 €11,05 €10,79 €9,79 €6,45 €8,42 €8,20 €3,05 €12,01 €5,95 €12,69 €8,41 €8,00 €6,91 €5,46 €100,02 €4,99 €6,01 €8,62 €9,47 €9,92 €8,34 €8,01 €7,77 €4,74 €5,04 €3,22 €5,15 €5,66 €4,34 €5,07 €5,13 €5,51 €5,35 €3,89 €5,01 €5,73 €16,44 €8,70 €5,05 €139,91 €5,72 €3,88 €5,94 €5,80 €5,94 €18,79 €11,97 €5,07 €10,57 €14,80 €4,99 €9,79 €10,30 €47,83 €25,00 €48,56 €49,04

Esc

Fundo

914$19 1 149$22 1 091$56 1 056$27 2 047$12 1 752$65 1 561$65 2 482$38 1 682$60 2 011$37 2 216$52 2 164$96 1 964$40 1 294$61 1 689$24 1 644$37 612$15 2 408$71 1 194$51 2 545$01 1 687$65 1 604$11 1 385$99 1 094$67 20 053$27 1 001$44 1 205$81 1 728$57 1 899$80 1 989$20 1 672$20 1 606$82 1 558$72 951$56 1 010$93 645$61 1 033$82 1 135$69 871$65 1 016$46 1 029$89 1 105$47 1 073$62 781$31 1 006$05 1 149$48 3 297$90 1 745$67 1 013$85 28 050$33 1 146$89 778$11 1 191$48 1 164$66 1 192$60 3 768$01 2 399$88 1 017$58 2 121$05 2 967$77 1 002$08 1 964$00 2 066$80 9 590$07 5 012$81 9 735$54 9 832$25

Credito Predial Tesouraria Crédito Predial Obrigações TOTTA Obrigações TOTTA Tesouraria E.F. Qualidade Vida E.F. Tec. Informaçao E.F. Banca e Seguros E.F. Telecomunicaçoes Futuro Jovem Santander Santander Acçoes Europa Santander Empresas - F. Tes. Eurosul * * Multidiversificação Santander Capital 2002* * Multinvest Multipoupança Luso Valor * Luso-Acções * BNU PPA BNU Oriente Crescimento BNU Internacional BNU Prestígio BNU Acções BNU Obrigações BNU Rendimento BNU Tesouraria Invest - Obrigações Invest BNU Japao BNU Euro Indice BNU Gestão Activa Acções BNU Gestão Activa Obrigações BNU Gestão Activa Tesouraria BNU Fundo de Fundos III BNU Fundo de Fundos II BNU Fundo de Fundos I BNU Renda Mensal BPI Universal BPI Tesouraria BPI Taxa Variável BPI Bonds BPI Reforma Investimento PPR/E BPI O. Alto Rend. Alto Risco BPI Financeiras BPI América BPI Portugal BPI Euro Taxa Fixa BPI Reforma Segura PPR/E Europa Crescimento BPI TAXA VARI¡VEL PPR/E BPI Taxa Fixa PPR/E BPI Poupança Acções BPI Liquidez (FT) BPIRenda Trimestral Europa Valor BPI Reestruturações BPI Oportunidades M undiais BPI Tecnologias BPI Brasil BPI Global AF Obrigações F.F. Delta F.F. Beta F.F. Alfa AF Acções Portugal AF PPA AF Euro Taxa Fixa

Euro €5,17 €5,22 €5,23 €5,18 €21,58 €12,52 €23,80 €8,83 €5,27 €4,48 €5,28 €21,30 €5,12 €50,03 €5,31 €5,36 €25,10 €35,70 €10,14 €2,59 €12,89 €7,90 €10,06 €9,50 €9,24 €11,37 €5,11 €5,81 €3,28 €4,51 €3,93 €5,56 €5,43 €4,97 €5,23 €5,54 €4,99 €5,89 €6,37 €6,78 €6,70 €10,72 €5,24 €4,83 €6,76 €8,20 €9,12 €11,35 €10,48 €4,99 €5,00 €9,66 €5,96 €5,02 €18,32 €4,28 €3,19 €1,54 €4,14 €6,32 €6,20 €7,63 €7,25 €6,92 €8,38 €13,13 €8,73

Esc 1 037$97 1 047$57 1 048$56 1 038$87 4 327$40 2 510$57 4 772$43 1 771$69 1 058$00 899$94 1 060$08 4 270$68 1 027$24 10 030$63 1 066$04 1 076$08 5 032$19 7 157$60 2 033$93 519$46 2 584$43 1 584$16 2 018$67 1 905$72 1 853$13 2 280$48 1 025$92 1 165$56 658$04 904$61 788$49 1 116$64 1 088$65 996$85 1 048$82 1 111$67 1 000$72 1 182$48 1 278$21 1 360$77 1 345$15 2 150$83 1 051$76 969$93 1 356$52 1 643$99 1 830$12 2 277$31 2 102$09 1 000$50 1 003$29 1 936$69 1 196$23 1 008$42 3 672$99 858$72 640$17 309$08 831$61 1 267$52 1 243$22 1 530$45 1 453$67 1 388$75 1 680$68 2 633$07 1 751$63

Fundo

Euro

AF Japão AF Mercados Emergentes Saude e Lazer 2004 * * AF Multinvestimento AF Portfolio Internacional AF Eurocarteira AF Curto Prazo Novofundo - Obrigações AF Obrigações R Mais Valor Futuro 2005 Novas Economia 2005 AF America F.F. Ciclo de Vida AF Prestige F.F.Ciclo de Vida AF Prestige F.F.Ciclo de Vida AF Prestige AF Obrigações EUA AF Euro Utilities AF Euro Financeiras M Acções Europa * * Redes e comunicações 2003 * AF Inv. Acçoes Pacifico Af Inv. Accoes America Af Inv. Accoes Europa Af Inv. Accoes Portugal Af Inv. Taxa Fixa Af Inv. Obrigacoes Af Global Mais AF Acções Euro Obrigações 7 F.F.BCP Global I M Acções Portugal * Af Empresas - Gest. De Tesouraria AF Rendimento Mensal Caixagest PPA Val.Fiscal Caixagest Investimento Caixagest Multidivisas Caixagest Moeda CAIXAGEST GEST√O AC«’ES EUA CAIXAGEST AC«’ES EUA Caixagest Renda Mensal Caixagest Obrigações Euro Caixagest Acções Europa Postal Rendimento Postal F. Tesouraria Caixagest Valorização Caixagest Tesouraria Caixagest Rendimento Caixagest - Curto Prazo Postal Capitalização Postal Acções Caixagest Maxivalor Postal Gestão Global F.F. Caixagest Gestão Euroacções Caixagest Gestão Lusoacções Caixagest Gestão Interobrigações Caixagest Gestão Euroobrigações Caixagest Gestão Cambial Caixagest Gestão Monetária Caixagest Multivalor Caixagest Investimento II Caixagest Investimento IV Caixagest Taxa Fixa Caixagest Acções Portugal Caixagest Investimento III IMOBILIÁRIO BANIF IMOPREDIAL BANIF IMOGEST* *

Esc

€4,14 €4,24 €51,54 €7,30 €12,65 €11,28 €6,93 €10,47 €13,40 €40,98 €31,76 €3,86 €4,49 €4,70 €4,80 €68,39 €4,86 €4,96 €51,77 €45,25 €2,92 €5,45 €4,09 €2,88 €5,46 €5,47 €4,97 €53,67 €5,65 €5,48 €15,09 €5,63 €5,01 €10,23 €6,23 €6,38 €6,31 €4,00 €4,00 €4,99 €7,77 €9,63 €5,02 €8,61 €12,27 €9,65 €5,01 €9,16 €12,30 €6,27 €4,80 €53,81 €4,24 €2,95 €5,56 €5,44 €5,39 €5,42 €5,38 €5,86 €5,45 €7,37 €11,15 €5,78

830$47 850$44 10 334$26 1 465$32 2 536$45 2 262$45 1 389$96 2 100$89 2 688$06 8 216$17 6 368$13 774$38 900$82 943$64 962$65 13 712$80 976$30 995$59 10 380$45 9 073$05 585$88 1 093$76 820$73 579$39 1 096$33 1 098$44 998$01 10 761$41 1 133$24 1 099$14 3 025$67 1 129$09 1 005$61 2 051$25 1 250$62 1 280$03 1 266$66 803$89 802$70 1 001$08 1 558$02 1 931$92 1 006$88 1 726$61 2 461$03 1 934$87 1 005$67 1 836$97 2 466$57 1 258$76 964$01 10 788$29 851$16 592$96 1 115$48 1 092$60 1 080$67 1 087$29 1 078$81 1 175$90 1 093$82 1 479$43 2 236$71 1 160$04

€4,97 -

996$86 -

Fundo

Euro

Esc

€500,75 100 393$02 €5,25 1 054$30 €5,66 1 136$73 €4,73 950$00 €44,99 9 020$56 €6,72 1 348$75 €5,88 1 180$48 €5,69 1 142$73 €6,17 1 238$89 €6,42 1 287$39 €5,71 1 145$39 €6,31 1 265$15 €52,26 10 477$44 €5,75 1 154$23 €65,11 13 053$49 €22,06 4 423$30 €6,81 1 366$13 €8,24 1 652$13 €4,29 862$05 €5,45 1 093$00 €64,54 12 940$14 €8,22 1 649$43 €6,43 1 289$61 €5,00 1 004$09 €13,40 2 686$61 €5,00 1 003$73 €8,56 1 718$00 €1 027,76 206 049$38 €7,59 1 523$50 €8,91 1 786$44 €6,39 1 282$70 €6,29 1 262$05 €50,17 10 060$10 1 021$17 €5,09 €4,02 806$82 €8,88 1 781$00 €7,96 1 596$41 €5,30 1 063$78 €83,44 16 730$22 €9,60 1 925$16 €61,74 12 377$97

BPN REAL ESTATE* * BPN Imonegócios Vision Escritorios* * Imosotto Acumulação Bonança I * Gestão Imobiliária Portfolio Imobiliário Imosotto Rendimento Finimobiliário * Finipredial Selecto I * Margueira Capital * F.I.I. Fechado Turístico II * * F. Turismo * Imosonae Dois Vila Galé * Império * BNC Predifundo Grupo BFE Imofomento Amorim * Correia & Viegas * Urbifundo Renda Predial * T.D.F. * Imorenda * VIP Eurofundo * Fundimo GEF - II * Primeiro Imobiliário Maxirent * LUSIMOVEST* * NOVIMOVEST Hispano Imobiliário 2 Imovest Gestimo * Tottafimo Prestigeste Um * Gespatrimónio Rendimento Efisa Imobiliário * FUNDOS DE PENSÕES Praemium “V” Praemium “S” PPR BNU/Vanguarda Horizonte Pensoesgere - PPR PPR Europa Maximus Stabilis Maximus Medius Maximus Activus PPA Valoris Reforma Empresa BPI Vida PPR Multireforma GES PPR Vintage PPA - Acção Futuro Viva PPR/E 5 Estrelas PPE FRA Futuro Classico PPR/E Platinium PPR/E Garantia de Futuro BBVA PPR * Fundo fechado

€15,21 €13,11 €13,54 €8,64 €6,08 €6,70 €5,18 €4,80 €4,46 €4,73 €7,44 €5,62 €7,08 €9,48 €6,96 €8,18 €10,15 €15,46 €10,00 €10,35 €5,14 €5,45 €8,76

3 051$00 2 630$00 2 716$00 1 733$35 1 220$08 1 343$23 1 040$10 962$51 895$55 950$28 1 492$82 1 127$79 1 419$43 1 901$47 1 396$25 1 640$70 2 035$00 3 101$00 2 005$72 2 076$97 1 031$00 1 094$00 1 757$52

MERCADO MONETÁRIO E CAMBIAL COTAÇÕES INDICATIVAS DO SEBC Moeda

TAXAS BILATERAIS

C. de Ref. Cada Euro

Pos.Vol. Escudos

TAXAS DE REF. DOS BANCOS CENTRAIS

Moeda

Escudos

Franco belga

4.96982

Euro 12

Franco luxemburguês

4.96982

Cedência

Dólar Australiano AUD

1.7453

114.870

Dólar canadiano CAD

1.3984

143.365

Marco alemão

Franco Suíço CHF

1.5146

132.366

Peseta espanhola

Libra de Chipre CYP

0.5732

349.759

Franco francês

Coroa Checa CZK

34.1

5.879

Libra irlandesa

102.505 1.20492 30.5633 254.560

Taxa actual

4.1265%

4.8455%

3.4875%

0.0781%

3.9970%

3.9965%

4.8931%

3.6113%

0.0900%

Reino Unido

Japão

Fed Funds Rate

3.50%

21-08-2001

3.00%

21-08-2001

0.25%

01-03-2001

Taxa de desconto Japão

Markka finlandesa

33.7187

Taxa de desconto

Dólar de Hong Kong HKD

6.9917

28.674

Lira italiana

0.103540

Forint húngaro HUF

251.78

0.796

Dracma

0.588355

Iene japonês JPY

109.3

1.834

Coroa norueguesa NOK

7.947

25.227

Dólar da Nova Zelândia NZD

2.1018

95.386

NOTA: Taxas bilaterais de referência, implícitas na taxa de conversão fixada para cada uma delas face ao euro. Por força legal, qualquer transacção entre as moedas dos países da união monetária exige a passagem pelo euro.

Novo Zloty da Polónia PLN

3.784

52.982

Coroa sueca SEK

9.4974

21.109

Tolar da Eslovénia SIT

219.7513

Dólar dos Estados Unidos USD

0.8964

223.652

Real Brasil

2.3266

86.170

Escudo Cabo Verde

110.264

1.818

Portugal

Pataca de Macau MOP

7.2015

27.839

Bélgica

26.169

Alemanha

* Sistema Europeu de Bancos Centrais FONTE: Banco Central Europeu e Banco de Portugal

França Luxemburgo

CÂMBIOS A PRAZO DO EURO Moedas

Spot

Forward

francos libras

Holanda

2.20371

florins

1.5133

1.5102

1.4975

Áustria

0.6159

0.6166

0.6209

Finlândia

Dólar

0.8964

0.8959

0.8947

0.8931

Itália

Iene

109.3

105.19

francos

0.787564

Libra inglesa 0.6156

108.17

6.55957 40.3399

Irlanda

Franco suíço 1.5146

108.91

Base rate

Grécia

13.7603 5.94573

xelins markkas

1936.27

liras

340.75

dracmas

5.00%

02-08-2001

Suíça Intervalo para Libor 3M

TAXAS DE JURO INTERBANCÁRIAS DE LONGO PRAZO Portugal

Reino Unido

2.75%-3.75%22-03-2001

Brasil SELIC

marcos

0.0600%

4.1270%

90.9748

francos

0.0563%

3.4863%

4.0225%

14.5696

pesetas

3.5700%

4.8756%

4.1675%

Xelim austríaco

166.386

4.9686%

4.2390%

12 meses

Florim holandês

Espanha

4.3014%

4.2420%

6 meses

12.813

7.661

4.3010%

4.2700%

10-05-2001

26.941

Rand da África do Sul ZAR

4.3375%

Estados Unidos

325.669

escudos

1 mês

10-05-2001

0.6156

1.95583

Iene

10-05-2001

3.25%

15.6466

40.3399

4.25% 5.25%

7.4415

200.482

Lisbor Libra Inglesa Dólar

Euro

Facil. permanente de dep.*

Libra Esterlina GBP

Um euro corresponde a

Euribor

Facil. permanente de ced.*

Coroa da Estónia EEK

TAXAS DE CONVERSÃO

Lisbor*

3 meses

Coroa Dinamarquesa DKK

0.912

TAXAS DE JURO INTERBANCÁRIAS DE CURTO PRAZO

Última Alter.

19.00%

18-07-2001

Euro

EUA

1 ano

3.81%

3.86%

-

4.51%

2 anos

4.01%

3.84%

3.52%

-

0.07%

5 anos

4.32%

4.27%

4.33%

5.01%

0.48%

0.04%

7 anos

4.53%

4.52%

-

4.97%

-

10 anos

5.16%

4.82%

4.84%

4.91%

1.41%

30 anos

-

5.48%

5.38%

4.65%

-

*Taxa de rendibilidade da dívida pública para as maturidades fixadas. As taxas do euro correspondem aos títulos franceses e alemães mais representativos. FONTE: Banco de Portugal

36 ECONOMIA

BOLSA

PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

05/09

06/09

07/09

10/09

11/09

05/09

06/09

07/09

10/09

11/09

05/09

06/09

07/09

10/09

11/09

PSI-20 BCP -4,76%S

VARIAÇÃO DIÁRIA DOS TÍTULOS

BES -6,25%S

BPI -6,33%S

BRISA - (PRIV.) -2,90%S

CIMPOR -0,11%S

EDP -5,17%S

IMPRESA -10,00%S

J. MARTINS -1,82%S

M. CONTINENTE -1,64%S

NOVABASE -4,60%S

R E S U M O DA S E S S ÃO SUBIDAS 2 • 3,23%

MAIORES SUBIDAS GRÃO-PARÁ 4,50% • SONAE IMOBILIÁRIA 0,42% • ITI-NOM. 0,00% • ITI - PORT. 0,00% • ESTORIL-SOL - NOMINATIVAS -10,44% • PT MULTIMEDIA -10,27% • PTM.COM -10,05% • IMPRESA -10,00% • PARAREDE -9,80% • MAIS TRANSACCIONADAS PORTUGAL

CONSTANTES DESCIDAS 6 • 9,68% 54 • 87,10%

BOLSAS INTERNACIONAIS DOW JONES NOVA IORQUE ENCERRRADO

NASDAQ NOVA IORQUE ENCERRADO

FTSE 100 LONDRES -5,72%S

MERCADO DE FUTUROS RESUMO DA SESSÃO 11/09/01 Contratos

Pos. Abertas

PSI-20 PT EDP CIMPOR BCP TELECEL PT-MULTIMÉDIA SONAE TOTAL

Negócios

Volume

101 246 50 0 3 0 1 2 403

689 2.610 2.707 0 111 0 10 200 6.327

13.953 13.284 16.086 220 9.660 69 88 7.166 60.526

Valor (euros)

4.803.276 1.780.195 767.300 0 46.722 0 7.350 12.460 7.417

FUTUROS PSI-20 Código Pos. I901

Volume

Melhores Ofertas

Abertas

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

13.739

689

6.885

50

7.303

Preço 40

IO01 ID01

Refer.

Abert.

Máx.

7.319

7.349

Média

6.971

Mín.

6.802

6.942 214

6.996 7.063

I602

6.999

I902

7.065

FUTUROS PORTUGAL TELECOM Código Pos. P901

Volume

Melhores Ofertas

Abertas

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

13.284

2.610

6.6

8

Preço

6.67

5

Preço

Refer.

Abert.

Máx.

Média

6.6

7.14

7.18

6.821

PO01

6.62

PD01

6.67

Mín.

6.31

FUTUROS EDP Código Pos. E901

Volume

Melhores Ofertas

Preço

Abertas

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

Refer.

Abert.

Máx.

Média

16.086

2.707

2.77

2.91

2.92

2.835

2.77

100

2.78

60

EO01

2.78

ED01

2.8

Preço Mín.

2.76

FUTUROS CIMPOR Código Pos.

Volume

Melhores Ofertas

Preço

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

Refer.

Abertas

C901

220

17

10

Preço Abert.

Máx.

Média

Mín.

17.66

CO01 CD01

FUTUROS BCP Código Pos. B901

Volume

Melhores Ofertas

Preço

Abertas

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

Refer.

Abert.

Máx.

Média

Mín.

9.660

111

4.02

4.22

4.23

4.209

4

3.94

3

4.1

100

Preço

BO01 BD01

FUTUROS TELECEL Código Pos. Abertas

T901

Volume

Melhores Ofertas

Preço

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

Refer.

69

Preço Abert.

Máx.

Média

Mín.

6.35

TO01

6.37

TD01

6.42

FUTUROS PT MULTIMÉDIA Código Pos. M901

Volume

Melhores Ofertas

Preço

Abertas

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

Refer.

Abert.

Máx.

Média

88

10

6.7

7.35

7.35

7.35

5.85

7

MO01

6.72

MD01

6.77

Preço Mín.

7.35

FUTUROS SONAE Código Pos. N901

Volume

Melhores Ofertas

Abertas

Trans.

Compra Quant. Venda Quant.

7.166

200

0.55

300

Preço

Preço

Refer.

Abert.

Máx.

Média

0.575

0.623

0.623

0.623

NO01

0.577

ND01

0.581

XETRA DAX FRANKFURT -8,81%S

IBEX 35 MADRID -4,56%S

Lisboa não escapou ao pânico

Mín.

0.623

NOTA: O PRIMEIRO CARACTER REFERE-SE AO SUBJACENTE SOBRE O QUAL FOI LANÇADO O CONTRATO, O SEGUNDO REFERE-SE AO MÊS DE VENCIMENTO E OS DOIS ÚLTIMOS AO ANO DE VENCIMENTO. OS MESES DE JANEIRO A SETEMBRO SÃO REPRESENTADOS PELOS ALGARISMOS 1 A 9 E OS MESES SEGUINTES PELAS LETRAS O, N E D. NO CASO DE O PRIMEIRO CARACTER SER “S” REFERE-SE AO “SPREAD” DO CONTRATO INDICADO PELO SEGUNDO CARACTER, SENDO A DATA DE VENCIMENTO INDICADA PELOS RESTANTES.

SMI ZURIQUE -7,07%S

MIB 30 MILÃO -7,79%S

NIKKEI TÓQUIO 0,95%R

HANG SENG HONG KONG 0,49%R

B O L S A D E VA L O R E S D E L I S B OA E P O R T O MERCADO DE COTAÇÕES OFICIAIS Empresas

Valor Negoc.* Abert.

Preços Max.

Min.

Fecho

Oferta Compra

var% Venda

CONTÍNUO NACIONAL

OBRIGAÇÕES Dívida Pública

ROSA SOARES

Preço

6.919

I302

CAC 40 PARIS -7,39%S

Pouco depois de a Bolsa de Lisboa encerrar, o sentimento dos operadores era de pânico e de angústia. O dia tinha começado muito bem, os mercados accionistas estavam positivos, e de repente as notícias dos atentados terroristas nos Estados Unidos deitavam tudo a perder. Pior do que as fortes quedas é o sentimento de angústia quanto ao que se vai passar a partir de agora nos mercados, confessavam. A Bolsa portuguesa, que chegou a ter a negociação interrompida durante meia hora, registou a maior queda diária desde Outubro de 1997, fechando abaixo dos sete mil pontos. O PSI-20 encerrou a desvalorizar 4,3 por cento, uma das menores quedas da Europa. Pouco depois da reabertura, a queda da bolsa portuguesa chegou a ultrapassar os cinco por cento. Apesar da forte queda, e do sentimento de pânico de alguns investidores, o volume de negócios de 123,5 milhões de euros (24,7 milhões de contos) está dentro dos valores normais. Todos os títulos do PSI-20 fecharam no “vermelho”, à excepção da Portucel, com 15 títulos a bater novos mínimos. Escaparam ao “rol” de mínimos a Brisa, a EDP, a Portucel, a Sonae.com e a Semapa. As perdas do dia foram lideradas pela PTM e PTM.com, com desvalorizações superiores a dez por cento, logo seguidas da Impresa, a recuar igualmente dez por cento, no dia em que apresentou resultados considerados maus. A Pararede, Sonae SGPS, BPI e BES fecharam com quedas da ordem dos seis por cento, logo seguidas da EDP e do BCP. As acções mais líquidas foram as da PT, com mais de dez milhões de títulos negociados e uma queda de 4,9 por cento. A Brisa continua a registar fortes compras, tendo sido negociado um milhão de títulos. A Sonae.com voltou ontem a dar nas vistas, tendo chegado a subir cerca de dez por cento, com 800 mil títulos transaccionados.

O.T.-Junho 93/2003

-

-

-

-

-/

110,58%

-

O.T.-Janeiro 94/2004

-

-

-

-

-/

109,46%

-

-

O.T.-Fevereiro 95/2005

-

-

-

-

-/

122,40%

-

-

O.T.-Fevereiro 96/2006

90830

119,85% 119,85% 119,85%

119,85%/

119,85%

-

O.T.-Março 97/2002

1247

100,05% 100,05% 100,05%

100,05%/

100,05%

-

-0,07 0,05

O.T.-Fevereiro 97/2007

5400

109,50% 109,50% 109,50%

109,50%/

108,28%

-

1,15

O.T.-Abril 98/2003

-

-

-

-

-/

100,01%

-

-

O.T.-Junho 98/2008

-

-

-

-

-/

101,80%

-

-

-/

100,60%

92,06%/

92,05%

O.T.-Setembro 98/2013

-

OT.JUL9909

64680

92,06% -

92,06%

OT.AGO9904

-

OT.MAI0010

5000

-

OT.OUT0005

-

-

-

OT.JUN0111

-

-

-

OTRV 96/2002

-

-

OTRV 96/2003

-

OTRV 97/2004

-

92,06% -

95,50%

-2,06

-/

99,00%

-

104,98%/

103,84%

-

-

-/

102,01%

-

-

-/

99,50%

-

-

-

-/

-

100,00%

-

-

-

-

-/

-

99,83%

-

-

-

-

-/

-

99,70%

-

7377

€10,00

€10,08

€9,23

€9,40/1 884$

€9,40

€9,65

-5,43

104,98% 104,98% 104,98%

-0,73 -

ACÇÕES Alimentação e bebidas Sumolis

Papel 100

€20,69

€20,69

€20,69

€20,69/4 147$

€17,62

€22,00

-5,95

651260

€0,92

€0,94

€0,90

€0,92/184$

€0,91

€0,92

0,00

2100

€3,14

€3,18

€2,95

€2,97/595$

€2,97

€3,16

-6,01

100

€3,40

€3,40

€3,40

€3,40/681$

€3,40

€3,77

-0,29

3357

€3,61

€3,61

€3,40

€3,40/681$

€3,35

€3,40

-4,23

-

-

-

-

-/-

€1,52

€1,64

Barbosa & Almeida

-

-

-

-

-/-

€12,64

€13,13

-

Barbosa & Almeida-pref.s/v

-

-

-

-

-/-

-

€9,00

-

€8,60

€9,10

€8,60

€9,10/1 824$

€8,16

€9,10

-

-

-

-/-

€9,09

€9,49

€2,91

€2,92

€2,74

€2,75/551$

€2,75

€2,76

Celulose do Caima Portucel

Impressão e reprodução Lisgráfica

Química Fisipe CIN Cires

-

Minerais não metálicos

Metalúrgicas F.Ramada

281

-1,09

Automóveis Salvador Caetano

-

-

Electricidade, Gás e Vapor EDP

3526076

-5,17

Construção 91500

€1,12

€1,13

€1,11

€1,11/222$

€1,11

€1,12

0,00

1005328

€10,77

€10,77

€10,08

€10,39/2 083$

€10,30

€10,39

-2,90

555

€9,92

€9,98

€9,70

€9,70/1 944$

€9,60

€9,89

-2,22

25377

€2,03

€2,03

€1,94

€1,94/388$

€1,93

€1,94

-5,37

-

-

-

-/-

€5,92

-

516

€5,80

€6,27

€5,80

€6,27/1 257$

€5,75

€6,46

4,50

6900

€2,05

€2,08

€2,00

€2,05/410$

€2,05

€2,09

0,00

-

-

-

-/-

€5,20

€5,70

-

3098

€2,38

€2,38

€2,36

€2,37/475$

€2,37

€2,45

-4,05

417084

€6,60

€6,67

€6,16

€6,25/1 253$

€6,25

€6,30

-3,85

Teixeira Duarte Brisa - (Priv.) Brisa Soares da Costa Soares Costa-pref.s/v

-

Grão-Pará

-

Comércio por grosso Papelaria Fernandes

Transportes por água Orey Antunes

-

Auxiliares dos transportes Tertir

Telecomunicações Telecel

Intermediação financeira -

-

-

-/-

€20,01

€21,00

BCP

2605564

€4,23

€4,26

€3,95

€4,00/801$

€3,99

€4,00

-4,76

BES

117521

€12,75

€12,89

€11,67

€12,00/2 405$

€12,00

€12,18

-6,25

3128

€5,90

€5,90

€4,53

€5,50/1 102$

€5,50

€5,70

-6,78

9

€27,31

€27,31

€27,31

€27,31/5 475$

€27,01

€27,70

0,00

Imoleasing

Banif B.Totta & Açores

-

-

BOLSA ECONOMIA 37 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

05/09

PARAREDE -9,80%S

06/09

07/09

10/09

11/09

05/09

06/09

07/09

PORTUCELPORTUGAL TELECOMPT MULTIMEDIAPTM.COM SAG 0,00%P -4,29%S -10,27%S -10,05%S -1,98%S

10/09

11/09

SEMAPA-S.G.P.S. -1,27%S

SONAE SGPS -6,56%S

SONAE.COM -2,63%S

TELECEL -3,85%S

VOLUME DE TRANSACÇÕES (em milhares de euros)

0,00% • V.ALEG.ATL 0,00% • MAIORES DESCIDAS VALEG.ATLF -14,71% • EFACEC-SGPS TELECOM 10.733.308• SONAE SGPS 8.462.192• EDP 3.526.076• BCP 2.605.564• BRISA - (PRIV.) 1.005.328

308658

04/09

C Â M B I O S EURO DÓLAR

DIA: 0,8964 VAR: -0,92% VAR. ANO: -3,66%

0,8964 0,8891 04/09

05/09

06/09

07/09

EURO LIBRA

DIA: 0,6156 VAR: -0,26% VAR. ANO: -1,35%

0,6148 0,6156

10/09

04/09

05/09

06/09

07/09

EURO IENE

109,30

106,93

10/09

101324

05/09

04/09

05/09

06/09

07/09

06/09

07/09

10/09

DIA: 109,30 VAR: 0,23% VAR. ANO: 0,96%

10/09

Notas MERCADO DE COTAÇÕES OFICIAIS Empresas Central-Banco de Invest. Finibanco BSCH.NOM BPI

Valor Negoc.* Abert.

MERCADO DE COTAÇÕES OFICIAIS Preços Max.

Min.

Fecho

Oferta Compra

var%

Valor Negoc.* Abert.

Preços Max.

Min.

Fecho

Oferta Compra

665

€5,95

€6,07

€5,66

€6,03/1 208$

€6,03

€6,05

-0,82

BCPA TEL00

6300

90,60%

90,60%

90,60%

90,60%/

90,60%

3120

€1,18

€1,18

€1,15

€1,15/230$

€1,15

€1,19

-4,17

CISFTF2E99

199800

99,94%

99,94%

99,94%

99,94%/

99,94%

27937

€9,39

€9,39

€8,29

€8,60/1 724$

€8,60

€8,75

-7,13

B.Santander Sub.

149963000

99,00%

99,00%

98,00%

98,00%/

808292

€2,25

€2,27

€2,00

€2,07/414$

€2,07

€2,12

-6,33

MELLOSTX04

1000000

97,31%

97,31%

97,31%

97,31%/

97,31%

MELLOMUL03

5500000

91,40%

91,40%

91,40%

91,40%/

91,40%

Informática Compta

Empresas

Venda

66

€8,40

€8,50

€8,40

€8,40/1 684$

€8,40

€8,50

0,00

Cofina (Warrants) INPAR.9804

Prestação de serviços

var% Venda -

0,00

100,00%

-

-

-0,01 0,00

98,81% -

0,00 0,00

8000

94,99%

94,99%

94,99%

94,99%/

92,62%

94,99%

-0,01

35000

89,00%

89,00%

89,00%

89,00%/

89,00%

90,00%

1,52

Inapa

41199

€5,24

€5,27

€4,80

€5,10/1 022$

€4,90

€5,10

Sonae Imobiliária

16321

€14,15

€14,19

€14,04

€14,19/2 844$

€14,00

€14,19

0,42

Ibersol-SGPS

12643

€3,40

€3,49

€3,01

€3,20/641$

€3,06

€3,19

-6,98

Fundos Invest. Mobiliário

Sonae SGPS

8462192

€0,61

€0,63

€0,56

€0,57/114$

€0,56

€0,57

-6,56

Luso Acções

-

-

-

-

-/-

-

-

-

Reditus SGPS

29596

€1,95

€1,95

€1,77

€1,77/354$

€1,77

€1,78

-7,81

Luso Valor

-

-

-

-

-/-

-

-

-

Somague - SGPS

25243

€7,20

€7,25

€6,50

€7,13/1 429$

€6,99

€7,13

-0,83

EUROSUL

-

-

-

-

-/-

-

€24,10

-

Cofina - SGPS

30331

€1,84

€1,84

€1,70

€1,75/350$

€1,74

€1,78

-4,37

REDES C.98

350

€44,00

€44,00

€44,00

€44,00/8 821$

€43,90

€44,00

0,00

C. Amorim - SGPS

55719

€0,96

€0,97

€0,84

€0,92/184$

€0,92

€0,93

-5,15

SAUDELAZER

148

€42,70

€42,70

€42,70

€42,70/8 560$

€42,50

€44,00

0,47

Sonae Indústria-SGPS

16937

€4,24

€4,25

€4,00

€4,01/803$

€3,95

€4,01

-5,42

N.ECONOMIA

312

€37,78

€37,78

€37,78

€37,78/7 574$

€37,78

€39,39

-3,99 0,05

SAG M. Continente Cimpor

-2,67

73835

€2,02

€2,03

€1,85

€1,98/396$

€1,89

€1,98

-1,98

VALFUT2005

40

€37,60

€37,60

€37,60

€37,60/7 538$

€37,60

€40,50

383282

€1,24

€1,28

€1,18

€1,20/240$

€1,20

€1,21

-1,64

M.Acções Potugal

-

-

-

-

-/-

-

-

-

81002

€17,74

€18,23

€17,03

€17,48/3 504$

€17,48

€17,50

-0,11

M.ACC.EURO

-

-

-

-

-/-

-

-

-

-

-

-

-

-/-

-

-

-

-

-

-

-/-

€12,35

€14,83

-

Efacec-SGPS

17500

€3,59

€3,75

€3,17

€3,26/653$

€3,26

€3,40

-10,44

Mota-Engil

13578

€1,15

€1,16

€1,10

€1,15/230$

€1,10

€1,15

-1,71

Mundicenter-SGPS

UNIDADES PARTICIPAÇÃO

-

Fundos Invest. Imobiliário Maxirent

120023

€7,16

€7,34

€6,53

€7,00/1 403$

€6,90

€7,00

-1,82

SEGUNDO MERCADO

37976

€3,91

€3,98

€3,90

€3,90/781$

€3,90

€3,96

-1,27

ACÇÕES

Pararede

213580

€0,51

€0,51

€0,46

€0,46/92$

€0,46

€0,49

-9,80

PT Multimedia

142758

€7,36

€7,47

€6,43

€6,55/1 313$

€6,55

€6,58

-10,27

J. Martins Semapa-S.G.P.S.

Futebol Clube do Porto SPORTING-SDF

816

€3,11

€3,11

€3,05

€3,11/623$

€3,05

€3,11

0,00

1295

€3,05

€3,06

€3,04

€3,04/609$

€3,04

€3,09

0,00

Sonae.com

871387

€1,92

€2,08

€1,81

€1,85/370$

€1,82

€1,85

-2,63

Cofaco

-

-

-

-

-/-

€0,36

€0,36

-

Impresa

208710

€2,00

€2,00

€1,80

€1,80/360$

€1,80

€1,84

-10,00

Copam

-

-

-

-

-/-

€25,00

-

-

PTM.com

313168

€1,91

€1,94

€1,62

€1,70/340$

€1,70

€1,71

-10,05

Soc. Têxtil Amieiros Verdes

-

-

-

-

-/-

€4,95

€5,00

-

Novabase

47279

€8,70

€8,70

€7,47

€8,30/1 664$

€8,29

€8,30

-4,60

Litho Formas Portuguesa

-

-

-

-

-/-

€1,50

€2,70

-

Conduril

-

-

-

-

-/-

-

€5,15

-

Sacor Marítima

-

-

-

-

-/-

€5,30

-

-

€3,21

€3,21

€3,21

€3,21/643$

-

-

0,00

10733308

€7,15

€7,18

€6,15

€6,70/1 343$

€6,70

€6,73

-4,29

V.ALEG.ATL

254

€0,70

€0,70

€0,67

€0,68/136$

€0,67

€0,68

0,00

valeg.ATLF

4702

€0,65

€0,69

€0,58

€0,58/116$

€0,57

€0,62

-14,71

1002

€11,11

€11,11

€11,10

€11,10/2 225$

€11,05

€11,10

-0,18

Portugal Telecom

MERCADO SEM COTAÇÕES

Recreativos e culturais Estoril-Sol - Portador Estoril-Sol - Nominativas

-

-

-

-

-/-

-

-

-

ITI - Port.

-

-

-

-

-/-

€10,00

€10,89

-

ITI-Nom.

-

-

-

-

-/-

-

-

-

Soc.Águas da Curia

EURO STOX X 50 Título

OBRIGAÇÕES

ABN-Amro

Diversas EDP-22ª Emissão BPI.AP2.99

3491

99,40%

99,40%

99,40%

99,40%/

34000

98,14%

98,14%

98,14%

98,14%/

99,30% -

-

0,00

-

-0,05

BPI.CSI.99

4500

87,40%

87,40%

87,40%

87,40%/

-

-

0,08

BPI.I.2E99

1000

87,27%

87,27%

87,27%

87,27%/

-

-

0,38

100

País Holanda

Fecho

Var.%

Título

País

Fecho

Var.%

Título

-12.35%

Konin Philips

16.5

-11.19%

Deutsche Bank

Alemanha

57.5

Aegon

Holanda

25.6

-10.55%

Deutsche Telekom Alemanha

14.4

-7.75%

Pinault Printemps

Ahold

Holanda

29.68

-6.08%

Dresdner Bank

Alemanha

53

-4.85%

Repsol

Air Liquide

França

140.2

-6.84%

E.on

Alemanha

18.12

0.00%

Royal Dutch

Alcatel

França

12.6

-11.83%

Endesa

Espanha

14.31

0.00%

RWE

Allianz

Alemanha 232.36

-12.58%

ENI

Itália

25.01

-10.04%

Aventis

Alemanha

Fecho

Var.%

Holanda

133.2

-4.17%

França

18.36

0.00%

Espanha

60.2

1.07% -3.97%

Holanda

41.1

Alemanha

12.42

0.00%

Itália

70.25

-4.42%

68.5

-10.16%

Fortis

Bélgica

-9.27%

Sanofi Synthelabo

44.8

-7.05%

BPI.RF3A99

18000

99,11%

99,11%

99,11%

99,11%/

-

-

0,02

AXA

França

22.89

-13.30%

France Telecom

França

32.1

0.00%

Siemens

Alemanha

56.1

-8.71%

BPI CM2E00

5

86,60%

86,60%

86,60%

86,60%/

-

-

0,46

BASF

Alemanha

41.98

-4.46%

Generali

Itália

36.34

-10.23%

Soc. Générale

França

7.82

0.00%

BPI CM3E00

5000

85,91%

85,91%

85,91%

85,91%/

-

-

-0,16

Bayer

Alemanha

33.1

-5.43%

Hipovereinsbank Alemanha

26.37

-12.97%

Telecom Italia

Itália

5.36

0.00%

BPI RF5A00

2500

99,99%

99,99%

99,99%

99,99%/

-

-

0,45

BBVA

Espanha

12.44

-3.49%

ING Groep

Holanda

2.39

-9.13%

Telefónica

Espanha

10.45

-5.86%

BNP

França

89

-8.81%

KPN

Holanda

69.15

-11.12%

Totalfina Elf

França

160

0.13%

BSCH

Espanha

8.86

-3.59%

L’Oreal

França

45.34

-7.83%

França

49.9

-6.73%

LVMH

França 232.81

-16.09%

40

-9.09%

Munich Re

135

-8.16%

Nokia

BPICSZE200

4500

BPIRF3A800

2038

BPIRLETE00

10000

CGDRGT2097

2494

91,90%

91,90%/

-

-

100,16% 100,16% 100,16%

91,90%

100,16%/

-

-

0,19

70,00%

70,00%/

-

-

0,43

114,60% 114,60% 114,60%

114,60%/

70,00%

91,90% 70,00%

114,60%

120,00%

0,00

-4,50

Carrefour

Daimler Chrisler Alemanha Danone

França

28.1

San Paolo

País

Unicrédito Italiano Unilever

Alemanha

14.4

-6.49%

Vivendi Univers

Finlândia

23.66

-9.87%

Volkswagen

França

Itália

4.01

0.00%

Holanda

62.4

-4.15%

França

46.36

-5.43%

Alemanha

44.65

-8.60%

A produção industrial portuguesa registou um abrandamento no mês de Julho, crescendo 0,6 por cento face ao período homólogo. A produção de bens de consumo sofreu uma queda homóloga de 4,5 por cento e a de bens de investimento perdeu 0,4 por cento, quebras que foram compensadas pelo aumento de quatro por cento na produção de bens intermédios e pelo crescimento de 3,3 por cento na energia. A produção e distribuição de electricidade, gás e àgua subiu 7,8 por cento, e a das indústrias extractivas aumentou 3,7 por cento. Nos sete primeiros meses do ano, a produção industrial cresceu 3,4 por cento. O PIB francês registou um crescimento de 2,3 por cento, em termos homólogos, no segundo trimestre deste ano. Em Itália, a confiança dos consumidores voltou a diminuir em Agosto, e na Alemanha a balança de transacções correntes apresentou novamente um défice. O conjunto destes dados reforça a perspectiva de moderação do crescimento económico na zona do euro, favorecendo a manutenção de baixas taxas de juro. O Governo alemão reviu em baixa a previsão do crescimento para 2002, estimando que fique abaixo dos dois por cento, contra os cálculos iniciais de 2,25 por cento. O ministro das Finanças alemão, Hans Eichel, referiu que a economia do país deverá recuperar no final de 2002, “agradecendo” ao Banco Central Europeu o corte nas taxas de juro, que deverá permitir uma retoma mais rápida das economias europeias.

SOCIEDADE MANUEL ROBERTO

PÚBLICO•TERÇA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

O PIOR

Álcool com metileno já matou 41 pessoas O número de mortos depois de terem tomado álcool com metileno aumentou para 41 na Estónia. Outras 81 pessoas estão a ser tratadas nos hospitais de Parnu, esperando-se que o número de mortos cresça ainda mais. Os casos mais graves são transportados para Tartu ou para Talin, a capital. “Infelizmente, o número de mortos está a crescer e continuam a chegar vítimas ao hospital. O período de incubação é de 16 horas, o que quer dizer que vamos continuar a receber pessoas que beberam metanol depois de o assunto ser divulgado pelos ‘media’”, afirmou Annu Adra, porta voz da polícia. A polícia continua a procurar o álcool que terá tido origem no mercado de contrabando. Em Parnu, uma cidade a 130 quilómetros de Talin, já foram encontrados cerca de mil litros de álcool ilegal, que teria metanol. O ministro da Justiça garantiu que cerca de dez pessoas já tinham sido detidas pelo contrabando. Mas como o químico foi misturado involuntariamente, estes apenas estarão sujeitos a uma condenação de três anos.

A INVESTIGAÇÃO

Enfermeira suíça confessa mais actos de eutanásia Uma enfermeira suíça, que já estava ligada à morte de nove mulheres idosas, confessou ontem ser responsável por 18 outros actos de eutanásia. Torna-se assim a maior praticante de eutanásia neste país, superando as mortes provocadas por um homem a que os ‘media’ suíços chamam o “Anjo da Morte“. As autoridades não divulgam o nome da enfermeira, apenas indicando tratar-se de uma jovem entre os 20 e os 30 anos. A enfermeira afirmou agir por simpatia, estando convencida que tinha tomado a opção correcta.

O CENSO

Recorde de japoneses centenários O número de japoneses centenários vai atingir um recorde. Segundo um estudo anual do Ministério da Saúde, cerca de 15.475 pessoas terão mais de 100 anos no final do mês. “O número de pessoas centenárias aumentou para mais do dobro desde há cinco anos”, afirmou um funcionário do ministério. A população japonesa é aquela que vive mais anos. A esperança de vida das mulheres é de cerca de 84 anos e dos homens é de 77. A questão, mais de que um mero “faitdivers”, é reveladora do grave problema de envelhecimento da população que o Japão enfrenta. Segundo as organizações internacionais, este envelhecimento vai ter um forte impacte na sociedade, fazendo crescer o desemprego e aumentando os custos da saúde e das pensões. O crescimento do número de idosos deve-se aos melhores cuidados médicos, à segurança social e à comida.

As três frentes do incêndio da serra da Estrela foram finalmente circunscritas no final da tarde de ontem

Fogo dominado na serra da Estrela e chamas intensas em Viseu VENTO DIFICULTOU TRABALHO DOS BOMBEIROS Incêndio da serra da Estrela entrou em fase de rescaldo no final da tarde de ontem ANA TROCADO MARQUES

Um violento incêndio deflagrou cerca das 16h00 de ontem no norte do concelho de Viseu, com as chamas a avançarem rapidamente numa área densamente arborizada, informou fonte dos bombeiros. No combate ao fogo estão cinco corporações de bombeiros com cerca de 60 homens no local. Os responsáveis pela coordenação de meios no terreno mobilizaram os corpos de bombeiros disponíveis para se deslocaram para a zona de forma a evitar que as chamas ganhem a intensidade que nos últimos dias adquiriram na re-

gião, nomeadamente em Sátão, Vila Nova de Paiva e Tondela. Esta área de pinhal é de difícil acesso e o vento, aliado às elevadas temperaturas, dificultou a acção dos bombeiros. Ontem, este era o incêndio de piores proporções, dado que o fogo que há dois dias consumia a serra da Estrela entrou em fase de rescaldo. No local estavam ontem 409 bombeiros, apoiados por 124 viaturas, seis helicópteros e dois aerotanques pesados a combater as chamas, apoiados agora por 85 militares provenientes da Base de Santa Margarida. Depois de terem ameaçado várias vezes as povoações de Teixeira e Baldoca, provocando entre oa população dois feridos com queimaduras de segundo grau, as chamas cederam. As três frentes da incêndio — Sobral de S. Miguel, na Covilhã; Piódão, no concelho de Arganil, já na serra do Açor; e Balocas e Teixeira, no concelho de Seia — encontravam-se ao final da tarde de ontem completamente circunscritas e em

início de rescaldo. As frentes dos incêndios distribuíram-se por três distritos — Guarda, Coimbra e Castelo Branco —, mobilizando um total de 409 homens: 175 em Seia, no distrito da Guarda, 197 em Arganil, distrito de Coimbra e 137 na Covilhã, distrito de Castelo Branco. Para além dos bombeiros, muitos foram as pessoas que, perante a aproximação do fogo, ajudaram como puderam a combater as chamas, auxiliados ainda pelas forças da GNR e pelas brigadas da polícia florestal. Depois da intensa neblina que se fez sentir durante toda a manhã, impossibilitando a descolagem dos meios aéreos, no combate ao fogo estavam já ontem à tarde dois helicópteros na Guarda, dois em Coimbra e dois helicópteros e dois aerotanques na zona de Castelo Branco. Os 85 militares destacados para o local encontram-se divididos em três pelotões distribuídos pelas três frentes de fogo. Após a consolidação da extinção das chamas, prevista para o final da tarde de ontem, estes

Arderam este ano mais de 42 mil hectares A área queimada é um terço da área ardida no mesmo período de 2000 Mais de 42 mil hectares de floresta e mato arderam do início do ano até 2 de Setembro, número considerado positivo pelos bombeiros quando comparado com os 115 mil hectares ardidos no mesmo período de 2000. Contudo, as temperaturas eleva-

das dos últimos dias levam os bombeiros a encarar o mês de Setembro com um “optimismo moderado”. “Se tivermos em conta que até agora ardeu um terço da área que já tinha sido queimada o ano passado no mesmo período podemos considerar que tem sido um ano positivo”, disse à agência Lusa o presidente do Serviço Nacional do Bombeiros (SNB), Joaquim Marinho. De acordo com dados provisórios

da Direcção-Geral de Florestas, de 1 de Janeiro a 2 de Setembro de 2001 ocorreram 3853 incêndios florestais, em que arderam 42.089 hectares. No mesmo período de 2000 já tinham sido consumidos pelas chamas 115.402 hectares, num total de 5459 fogos florestais. Joaquim Marinho considera que o clima, o dispositivo de combate existente e a prevenção foram os três factores que mais contribuíram para o decréscimo dos fogos e da área

militares deverão permanecer no local, numa missão de vigilância e auxílio no rescaldo. Ao final da tarde de ontem era ainda impossível prever a extensão da área ardida, sabendo-se apenas que seriam milhares de hectares de mato e floresta, que afectaram algumas das manchas mais ricas da reserva natural da serra da Estrela. Em fase de rescaldo estava ainda ontem à tarde o incêndio na serra do Caramulo, em Tondela. Nesta zona, o fogo, apesar de circunscrito, encontrava-se ainda em fase de rescaldo. No local estavam ainda 108 bombeiros, apoiados por 19 viaturas. As causas do incêndio, bem como o total de área ardida não eram ainda conhecidos. Em Vila Real, o incêndio que estava desde a passada segunda-feira em fase de rescaldo já ontem se encontrava extinto. Por motivos de prevenção continuavam no local as equipas de patrulhamento, não se verificando no entando, durante o dia de ontem, qualquer reacendimento. 

já ardida. “Este ano até Agosto tivemos um Verão moderado, com temperatura abaixo do que é habitual para a época e com pouco vento, principalmente vento de leste, o que podemos considerar como condições favoráveis para os bombeiros”, sublinhou o presidente do SNB. Por outro lado, afirmou, o dispositivo de combate tem aumentado todos os anos, contando actualmente com 3100 homens e quatro helicópteros pesados, entre outro equipamento. “Desde 1996, altura em que cheguei ao SNB, foi feito um investimento de cerca de 12 milhões de contos em equipamento. Existem mais 1100 viaturas no terreno. Claro que isso também contribui para que a área ardida seja menor”, acrescentou.  LUSA

SOCIEDADE

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PÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001 DAVID HANCOCK/EPA PHOTO

DESBLOQUEADA VERBA PARA TRATAR DOENÇA DOS PEZINHOS

HÁ 96 MIL DOENTES EM LISTA DE ESPERA

Associação preparava manifestação de protesto em frente ao Ministério da Saúde

Ministro da Saúde desconhece o número de operações por fazer, porque ainda há médicos com as listas no bolso

TERESA LIMA

JOANA FERREIRA DA COSTA

Os número de doentes em lista de espera para operações disparou nos primeiros seis meses do ano. No final de Junho, 96 mil portugueses aguardavam por uma cirurgia nos hospitais públicos, mais 11 mil do que em Janeiro passado. Números que o ministro da Saúde, Correia de Campos, apresentou ontem e justificou com a adesão de novos hospitais ao programa de recuperação das cirurgias em atraso (PPA), sobretudo em doenças como cataratas, hérnias ou varizes O problema dos congressos Na Comissão Parlamentar de Saúde e Toxicodependência, onde se estreou como titular da pasta, o ministro afirmou mesmo que este aumento “até nos honra”, pois significa “que há uma maior identificação das necessidades” reais do país. Hoje, reconheceu, ainda não é possível saber com rigor quantas pessoas aguardam por uma cirurgia, porque ainda há médicos com as listas de doentes no bolso. O PPA deverá avançar “em força”, garantiu, explicando que desde o início do ano foram feitas 10.400 operações, e que “tem a expectativa” de chegar às 21 mil até ao final de 2001. Ontem, perante a comissão da Saúde — onde também esteve presente sua antecessora Maria de Belém Roseira e o ex-secretário de Estado Nelson Baltazar —, Correia de Campos deixou claro que o ministério está disposto a negociar com quem se comprometa a cumprir: a remuneração das horas extraordinárias dos profissionais pela tabela máxima tem de corresponder a uma melhoria dos cuidados. As consultas marcadas e não realizadas são outra das prioridades do novo ministro. Além da necessidade de reorganizar os serviços, Correia de Campos lembrou que existem ainda “questões de honra” a resolver. A ida de um médico a um congresso durante cinco dias representa 100 consultas que não são feitas. E muitas vezes, no final desses congressos, “há um pico do receituário dos patrocinadores desses eventos”: uma “vergonha nacional que não se resolve com repressão, mas sim com prevenção”. O ministério está disposto a apoiar a formação médica contínua.

O navio “Manoora” transporta 433 refugiados afegãos em direcção à república de Nauru, no Pacífico

Tribunal defende desembarque de refugiados na Austrália Grupos de defesa dos direitos humanos criticam Governo, que prepara nova lei de imigração LINA FERREIRA

O Tribunal Federal da Austrália condenou ontem a posição do Governo no caso dos refugiados que viajavam no navio “Tampa”, agora a bordo do “Manoora”. O juiz afirmou que os refugiados não podem ser impedidos de pisar solo australiano, mas a saga continua: o Governo apresentou recurso e pretende agora levar os refugiados directamente para Nauru. O juiz Tony North considerou ilegal o assalto ao “Tampa” e a detenção dos 433 refugiados, na maioria afegãos, impedindoos de desembarcar na ilha de Natal. “As ordens do tribunal vão obrigar à libertação dos refugiados detidos pela Austrá-

lia”, afirmou o juiz, acrescentando que teve de ser o “antigo poder do tribunal” a proteger estas pessoas contra uma detenção sem razão. A queixa tinha sido apresentada por um grupo de direitos humanos, que punha em dúvida a gestão que o Governo australiano fez da crise. O advogado responsável pela queixa considerou a decisão do tribunal “uma grande vitória”. Também a Agência da ONU para os Refugiados, que desde o início condenaram a posição do Governo australiano, aplaudiu ontem a decisão do tribunal. Governo recorre da sentença Sexta-feira é o prazo-limite dado ao Governo para cumprir a decisão. Um porta-voz de John Howard, primeiro-ministro australiano, afirmou imediatamente que vai recorrer da sentença e prosseguir a viagem dos refugiados. “Uma vez que há apelo, as pessoas devem man-

ter-se a bordo do barco”, acrescentou. A Austrália encontrou ontem novos planos para o “Manoora”, que transporta os refugiados desde que, na semana passada, foram evacuados do “Tampa”. Até agora, iriam ser transportados para a Nova Guiné, onde seguiriam de avião até Nauru e a Nova Zelândia. “Pretendemos levar os refugiados directamente para Nauru em vez de apenas os transportar para a Nova Guiné”, afirmou Alexander Downer, ministro dos Negócios Estrangeiros australiano. Uma decisão anterior do tribunal indicava que os refugiados apenas poderiam abandonar a embarcação voluntariamente. Esta nova rota poderá, segundo as autoridades, demorar “algum tempo”. No “Manoora” seguem outros 237 refugiados, desde que o barco em que seguiam foi interceptado pela Marinha. Ontem a Austrália rejeitou o desembarque de um terceiro barco, trans-

Urgência para dores de dentes Dentistas dão consultas gratuitas em Outubro, o “Mês da Saúde Oral” PAULA TORRES DE CARVALHO

Uma consulta externa de Estomatologia vai funcionar até à meia-noite, já a partir de Outubro, na Faculdade de Medicina Dentária, em Lisboa, disse ao PÚBLICO o presidente da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD), Vasconcelos Tavares. O início desta consulta, a primeira com características de serviço de urgência em Portugal, é uma resposta daquela faculdade ao desafio lançado pelo reitor da Universidade de Lisboa, Barata Moura. Segundo Vasconcelos Tavares, cerca de duas dezenas de dentistas vão integrar esta nova consulta de Estomatologia que, a médio pra-

zo, se prolongará durante toda a noite. Esta é uma notícia que poderá contribuir para melhorar o panorama da estado da saúde oral dos portugueses, por altura em que decorre o “Mês da Saúde Oral”, uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária, com o patrocínio da Colgate, que se prolongará durante o próximo mês de Outubro. Para assinalar esta acção, vão realizar-se “check-ups” dentários gratuitos, com a participação de cerca de mil médicos, foi ontem anunciado em conferência de imprensa realizada em Lisboa. Todos os interessados poderão visitar gratuitamente o dentista e informar-se sobre o estado da sua saúde oral. Para esclarecimentos acerca dos médicos aderentes a esta iniciativa e contactos de consultórios, começa a funcionar, já a partir de

dia 21, uma “linha verde” com o número 800 100 800. 70 por cento das crianças com cárie dentária As conclusões de um estudo realizado, no ano passado, baseado em mais de sete mil exames dentários realizados foram também divulgados na conferência de imprensa. Os resultados indicaram que 70 por cento das crianças com idades compreendidas entre os oito e os 16 anos já tinham tido cárie dentária, o que foi considerado “inaceitável” por Mário Bernardo, secretário-geral da SPEMD, para quem “não se justifica que, hoje em dia, crianças e adolescentes desenvolvam cáries”, situação cuja responsabilidade é atribuída aos pais. Relativamente à população adulta, o mesmo estudo revela que mais de metade “recorre ao dentista somente quando neces-

portando cerca de 130 pessoas, nas ilhas de Ashmore Reef. Segundo a agência Reuters, Ashmore Reef e Natal são geralmente pontos de chegada de barcos de refugiados. São principalmente pessoas provenientes do Médio Oriente, Afeganistão e Paquistão que procuram desta forma chegar aos Estados Unidos. O Governo australiano está a preparar uma nova lei que exclui estas duas ilhas da zona de imigração do país. De acordo com o novo diploma, os refugiados que aí cheguem não vão receber asilo na Austrália. Esta lei pode vir a criar novos protestos por parte dos grupos de direitos humanos. “É bastante preocupante a forma como os refugiados estão a ser tratados neste país”, afirmou um porta-voz do grupo de direitos humanos que apresentou queixa. Mas a população, que viu o número de refugiados no país a crescer até cinco mil por ano, apoia a política de Howard. 

sário e que apenas 17 por cento o faz mais de uma vez por ano”. Considerado, sobretudo, como um problema de educação, esta questão está decerto intimamente relacionada com o facto dos serviços de medicina dentária não estarem integrados no Serviço Nacional de Saúde, não sendo acessíveis a uma parte significativa da população, devido aos seus elevados custos. É um problema reconhecido por Vasconcelos Tavares, que refere a inexistência de consultas de Estomatologia nos centros de saúde. O presidente da SPEMD aponta também uma questão, já abordada pelo bastonário dos médicos dentistas, Orlando da Silva, e que diz respeito ao “desperdício de recursos”, ou seja, ao facto de os equipamentos existentes em alguns centros de saúde não estarem a ser utilizados. A questão de fundo, reside, contudo, na necessidade de passar a encarar a saúde oral como prioritária, ao contrário do que tem acontecido, como nota Vasconcelos Tavares. 

Foi preciso mais de meio ano, exactamente sete meses, para que a vice-presidente da Associação Portuguesa de Paramiloidose (APP), Goretti Machado, ouvisse uma notícia assim. O ministro da Saúde, Correia de Campos, assinou finalmente o acordo estabelecido entre a Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) e a APP, que viabiliza a transferência de verbas do Governo para a única clínica fisiátrica do país vocacionada para tratar os “doentes dos pezinhos”. A situação ameaçava tornarse insustentável e, por isso, a APP tinha tudo preparado para se instalar à porta do Ministério da Saúde no dia em que a clínica completava dois anos, a 17 de Setembro. Subitamente, Goretti Machado foi informada verbalmente pela tutela de que o ministro havia assinado a convenção. A vice-presidente da associação “não tem dúvidas” que a decisão dos doentes se manifestarem em Lisboa funcionou como o melhor meio de pressão para que tudo se resolvesse. Agora, Goretti Machado aguarda que o despacho do ministro lhe chegue às mãos dentro de oito dias. Anualmente, a clínica irá receber 12 mil contos do Governo. Trinta mil contos de dívida O processo começou com a ex-ministra Manuela Arcanjo. Quando a APP se preparava para uma manifestação, na próxima segunda-feira, em Lisboa, em protesto contra o atraso do Governo em homologar a convenção, eis que o Ministério da Saúde desbloqueia o acordo. Há dois anos que a Clínica Fisiátrica Bracara Augusta, com sede em Braga, vivia às custas da associação de paramiloidose, sem que se percebesse por que é que não recebia uma convenção anual do Estado, tal como acontece com as restantes clínicas privadas do país. Durante o tempo em que tem estado aberta, providenciando um tratamento a cerca de cinquenta doentes, vinte dos quais com paramiloidose, acumulou uma dívida de 30 mil contos. A clínica está equipada com um revestimento especial, que evita que estes doentes se magoem em caso de embate. Da mesma maneira, as casas de banho têm um chuveiro que regula a temperatura da água junto à sanita, para que os pacientes não corram o risco de se queimarem. São aspectos como estes que fazem a diferença entre uma normal clínica e a Bracara Augusta. A paramiloidose é uma doença hereditária que tem origem num erro genético, o qual provoca a degenerescência dos nervos. 

EDUCAÇÃO

Guterres quer reforço da qualidade em Português, Matemática e no ensino experimental DANIEL ROCHA

A visita de António Guterres a estabelecimentos de ensino é já um clássico da “rentrée” escolar

INÍCIO DO ANO LECTIVO Primeiro-ministro garantiu que a partir de 2006 não haverá mais escolas a funcionar em pre-fabricados, adiando em três anos a promessa feita por Marçal Grilo ISABEL LEIRIA

Já é uma rotina no início de cada ano lectivo. Oficializando o regresso às aulas de mais de dois milhões de alunos, António Guterres juntou-se ontem à equipa do ministério da Educação para visitar dois dos 73 novos empreendimentos escolares que entram este ano em funcionamento. Um esforço fi-

nanceiro superior a 37 milhões de contos que o primeiro-ministro fez questão de referir na primeira visita do dia, à Escola Básica (EB) 2,3 Professor Galopim de Carvalho, em Queluz. E foi pelos números que começou a intervenção de Guterres, visto ser a EB 2,3 Galopim de Carvalho um bom exemplo do investimento que o Governo tem feito nos últimos anos, explicou. É que, tal como acontecia em 1995 com 20 por cento das escolas da Área Metropolitana de Lisboa, também esta instituição de ensino funcionou até este ano em pavilhões pré-fabricados. “Neste momento são apenas cinco por cento e com este Quadro Comunitário de Apoio [até 2006] serão erradicados, não apenas em Lisboa, mas em todo o país”. A promessa não é nova, mas sofreu um atraso face ao que já fora anunciado no início do ano lectivo

de 1999. O fim do ensino em instalações provisórias, algumas com mais de 20 anos, foi na altura garantido para 2003 pelo então ministro da Educação, Marçal Grilo, igualmente acompanhado pelo primeiroministro. Um novo empreendimento em cada cinco dias De qualquer forma, entre 1996 e 2000 o parque escolar contou com cinco centenas de novos empreendimentos, entre obras de ampliação, substituição, pavilhões gimnodesportivos ou criações de raiz. Este ano, cumprir-se-á uma média de um “ novo empreendimento em cada cinco dias”, contabilizou António Guterres. Números à parte, o chefe do executivo enalteceu a aposta na avaliação do sistema, enquanto prova dos “objectivos de rigor, qualidade e exigência do Gover-

no”, contrariando “um certo laxismo instalado”. O reforço da qualidade do ensino em “domínios vitais como a Matemática, o Português e o ensino experimental” foi outra das apostas referidas. Mas antes das intervenções que marcaram a sessão oficial de abertura do ano escolar houve ainda tempo para para uma visita — em passo de corrida, que do programa constavam ainda mais duas idas a outras tantas instituições de ensino do concelho de Sintra —, às novíssimas e bem equipadas instalações da EB 2,3 Galopim de Carvalho. Uma “escola completa”, com direito a sala de informática, centro de recursos, laboratório e pavilhões desportivos, capaz de garantir as condições que levem os “alunos a gostar mais da escola, de estar nela e sobretudo de aprender”, sustentou o ministro da Educação, Júlio Pedrosa. Afinal, um cenário bem diferente daquele a que estavam habituados os alunos. “As salas de ciências não eram como estas, não tínhamos computadores, só podíamos ter aulas de Educação Física se não chovesse e às vezes até chovia nas salas de aula”, descreviam quatro alunos do 6º ano, entusiasmados com a sua primeira aula de Ciências Naturais. Já a reorganização curricular do ensino básico, que entra este ano em vigor do 1º ao 6º ano, não era motivo de tanta alegria. As aulas de 90 minutos “vão ser mais difíceis para os alunos e para os professores”, explicava uma aluna. Quanto às novas áreas curriculares — Estudo Acompanhado, Área de Projecto e Formação Cívica — ninguém parecia ainda saber muito bem do que se tratava. 

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Bolseiro para Projecto de Investigação Pretende-se admitir um Licenciado ou Mestre interessado em integrar um projecto de investigação financiado pela FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia na seguinte área:

Estreia Amanhã

Estreia Amanhã

- Estudo dos mecanismos de endurecimento após transformação estrutural de revestimentos metaestáveis do sistema W-SI-N As actividades de investigação decorrerão preferencialmente no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e serão remuneradas através de uma bolsa de iniciação à investigação científica. A data de início dos trabalhos de investigação é 2 de Janeiro de 2002. O(A)s candidato(a)s devem possuir uma Licenciatura, ou grau superior, em áreas consideradas relevantes para o projecto (Eng.ª de Materiais ou Metalúrgica, Eng.ª Mecânica, Eng.ª Física, Licenciatura em Física Tecnológica).

PÚBLICO NA ESCOLA

NOVO EMAIL

[email protected]

O concurso decorrerá pelo prazo de 30 dias úteis a partir 11 de Setembro de 2001. Para mais informações, ou enviar Curriculum Vitae, contactar: Prof. Albano Cavaleiro - Departamento de Engenharia Mecânica - Pólo 2 - Pinhal de Marrocos - Universidade de Coimbra - 3030-201 Coimbra - Telefone: 239/790700 - Fax: 239/790701 - E-mail: [email protected]

SOCIEDADE

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PÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

DESPORTO PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

SECÇÂO

LIGA DOS CAMPEÕES

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PÚBLICO•DATA

Anfield Road ficou mudo Silva marcou o golo que faz do Boavista a primeira equipa portuguesa a pontuar com o Liverpool

AT E N TA D O S N O S E U A GERRY PENNY/EPA PHOTO

UEFA decretou um minuto de silêncio A UEFA decretou um minuto de silêncio, a guardar em todos os jogos sob sua jurisdição que se realizaram ontem, em memória das vítimas dos actos de terrorismo ocorridos nos Estados Unidos. O chefe do Comité Executivo da UEFA, Gerhard Aigner, expressou simultaneamente a sua “profunda indignação” face “aos trágicos e terríveis acontecimentos que tiveram lugar nos Estados Unidos”. Num comunicado emitido a propósito, a UEFA expressou “a sua profunda tristeza e horror”, sublinhando que os pensamentos e os corações dos seus dirigentes “estão com as vítimas” dos atentados, que provocaram a queda das duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, e derrubaram ainda parte da estrutura do gigantesco edifício conhecido como “Pentágono”, que alberga os principais departamentos do Ministério da Defesa dos EUA. Ao fim da tarde, a UEFA pusera de lado a hipótese de cancelar as partidas da Liga dos Campeões europeus previstas para ontem.

OS JOGOS DE ONTEM Liga dos Campeões Grupo A AS Roma (Ita)-Real Madrid (Esp) 0-1, Luís Figo, 50 minutos 0-2, “Guti”, 63 1-2, Francesco Totti (g.p.), 73’ Lokomotiv Moscovo (Rus)-Anderlecht (Bel) 0-1, Hendrikx, 15’ 1-1, Maminov, 18’

1-2

1-1 2-2

Grupo C Schalke 04 (Ale)-Panathinakos (Gre) 0-1, Goran Vlaovic, 75’ 0-2, Agelos Basinas, 80’ Maiorca (Esp)-Arsenal (Ing) 1-0, Vicente Engonga (g.p.), 12’

0-2 1-0

Grupo D Nantes (Fra)-Eindhoven (Hol) 1-0, Pierre-Yves André, 5’ 2-0, Olivier Quint (g.p.), 10’ 3-0, Wilfried Dalmat, 44’ 4-0, Marama Vahirua, 75’ 4-1, Jon de Jong, 93’ Galatasaray (Tur)-Lazio (Ita) 1-0, Umit Karan, 79’

4-1

1-0

Taça UEFA Gorica (Slo)-Osijek (Cro) Roda JC (Hol)-Fylkir (Isl) Troyes (Fra)-Ruzomberok (Svq) Zizkov (Che)-FC Tirol (Aut) Puchov (Svq)-Friburgo (Ale)

1

BOAVISTA

1

Estádio Anfield Road, em Liverpool Noite fresca, relvado bom Cerca de 35.000 espectadores Liverpool 6 Dudek 6 Carragher 6 Henchoz 6 Hyypia 6 Vignal 6 Gerrard 6 McAllister 6 Hamann 6 Murphy 5 (Riise),70’m 7 Owen 6 Heskey

Boavista Ricardo Frechaut Paulo Turra Pedro Emanuel Erivan Glauber Petit Sanchez (P. Santos),58’m Alexandre Goulart Duda (Bosingwia),83’m Silva (Serginho),78’m

Treinador Gerard Houllier Não Utilizados Arphexad, Fowler, Redknapp, Barmby, Biskan e Litmannen

Treinador Jaime Pacheco Não Utilizados William, Márcio Santos, Mário Loja e Gouveia

1-2 3-0 6-1 0-0

7 7 6 6 6 6 7 6 6 6 6 7 6

Árbitro Kyros Vassaras (6) ,da Grécia. Amarelos: Paulo Turra (24’), Vignal (26’), Silva (32’), Henchoz (37’), Pedro Emanuel (71’), Glauber (76’) e Ricardo (85’). Golos 0-1, por Silva, aos 3’; 1-1, por Owen, aos 29’. Estatística Cantos: Liverpool 7 (3+4) Boavista 1 (1+0) Livres: Liverpool 22 (11+11) Boavista 25 (12+13) Remates: Liverpool 11 (5+6) Boavista 11 (4+7) Foras de jogo: Liverpool 1 (1+0) Boavista 5 (3+2)

1-1

Grupo B Liverpool (Ing)-Boavista 0-1, Silva, 3’ 1-1, Michael Owen, 29’ Dínamo Kiev (Ucr)-B. Dortmund (Alem) 1-0, Oleksandr Melashchenko, 15 minutos 2-0, Isi Lucky Idahor, 46’ 2-1, Jan Koller, 56’ 2-2, Márcio Amoroso, 74’

LIVERPOOL

Silva prepara-se para ultrapassar Henchoz — o avançado boavisteiro marcou um golo e fez uma exibição de luxo

Do nosso enviado LUÍS OCTÁVIO COSTA em Liverpool

“Se estás na zona da marca de grandepenalidade e não sabes o que fazer com a bola, mete-a na baliza e mais tarde discutimos as opções”. O boavisteiro Silva nem precisou de ler os manuais de história do Liverpool para absorver a sabedoria das palavras do histórico “manager” inglês Bill Shankly. Com um golo logo ao terceiro minuto de jogo, o Boavista amealhou um ponto precioso — quase inimaginável — na ronda de abertura da Liga dos Campeões. A estreia do Liverpool na prova saiu furada. Amorteceu (de cabeça) para Goulart um pontapé que veio da direcção do guarda-redes Ricardo, o número 30 devolveu de peito e o “pistoleiro” chutou de primeira sem hesitar, colocando o Boavista numa posição que poucos esperariam. O minuto de silêncio decretado pela UEFA — um gesto de solidariedade

para com os familiares das vítimas da tragédia que se abateu sobre os EUA — repetiu-se (literalmente) e, a partir daí, os cerca de 35 mil adeptos ingleses foram obrigados a intercalar os estrondosos “yeah” com os, cada vez mais frequentes, “oh”. Naquele momento, de pouco serviu a Gerard Houllier os 1,85m de Emile Heskey ou o meio-campo musculado (Gerrard, McAllister, Hamann e Murphy), meticulosamente preparado para anular a raça da equipa do Bessa. Num pontapé de livre (5’), o veterano McAllister obrigou Ricardo a uma defesa apertada, e a mais recente aposta de Jaime Pacheco, Goulart, respondeu com um mergulho espectacular (21’) para a estirada do guarda-redes Dudek. Mas a grande ovação da noite estava reservada para o precoce Michael Owen, que, com um gesto digno do “Super-Rato”, fugiu à armadilha de fora-de-jogo e chutou em folha seca, longe do alcance das luvas de Ricardo. Os olhos de Houllier brilharam, mas o francês nunca chegou a ver a ópera

que tanto apregoou. O jogo ganhou então outra dinâmica. E voltou a ser o Boavista a dar o primeiro sinal de insatisfação, com Duda (44’) a desperdiçar infantilmente mais uma perfeita triangulação “axadrezada”: recebeu, isolou-se pela direita, mas quis adornar o lance e estatelou-se a um par de metros de Dudek. O Boavista continuava a dar que fazer ao Liverpool, que conta com apenas uma vitória na liga caseira, mas a segunda parte deixou a descoberto a diferença de valor entre as duas equipas. Durante os últimos dez minutos, ninguém se entendia na área “axadrezada”. E os cartões eram já mais que muitos. O Anfield Road berrou “goal” com uma cabeçada de Heskey (64’), agitou-se com mais um “s” de Owen (75’), suspirou com um lapso de McAllister (69’), que cortou em vez de chutar, e entusiasmou-se com um livre de Riise. Algumas unhas desapareceram e muitas foram as mãos que se juntaram em prece. O resultado, esse, manteve-se intocável. 

Pacheco: “Soube-nos a pouco”

0-0

Os responsáveis da equipa escocesa do Glasgow Rangers rejeitam deslocar-se ao Daguestão para defrontar o FC Anzhi Makhachkala, em jogo da primeira mão da primeira eliminatória da Taça UEFA. O clube escocês assume a responsabilidade por desobedecer às ordens da UEFA, que o obriga a comparecer ao encontro no Daguestão, agendado para depois de amanhã, e admite recorrer ao Tribunal Arbitral do Desporto para provar as suas razões. O Rangers justifica a decisão pelo clima de insegurança que reina actualmente naquela república do Cáucaso russo, que faz fronteira com a Tchetchénia.

“Sinto alguma frustração. Eu tinha dito que o empate podia servir ou não, mas soube-nos a pouco”. Foi assim que Jaime Pacheco reagiu ao resultado (1-1) do Boavista em Anfield Road, frente ao Liverpool. O técnico “axadrezado” confessou que o empate “alegra muito os boavisteiros”, tanto mais que foi conseguido em casa de “uma das melhores equipas do mundo” por um conjunto de jogadores que “custaram pouco dinheiro”, mas se adaptaram à “mística” do Boavista. “Mostrámos raça e qualidade, e se temos arriscado um pouco mais...”. Contudo, rapidamente controlou a euforia: “Os pontos são importantes na qualidade de visitante. Mas isto não nos faz ganhar os próximos jogos”. Satisfeito estava igualmente Silva, que marcou, aos 3’, o golo boavisteiro. “A primeira bola que peguei fiz golo. Estamos de parabéns. Mas o Boavista merecia melhor, pois teve boas oportunidades”, disse o ponta-de-lança.

Antes do encontro, a tragédia que se abateu sobre os EUA marcou os discursos da comitiva em Liverpool. João Loureiro foi o primeiro a reagir: “O jogo é irrelevante perante o que está a acontecer no Mundo. Hoje estou abananado, não tenho palavras para me exprimir num momento que é para todos reflectirmos”. Loureiro apresentou mesmo junto da UEFA um pedido para a utilização de um fumo juntamente com o equipamento “axadrezado”, gesto de solidariedade que o organismo recusou. Gerard Houllier disse que “a equipa do Boavista não foi uma surpresa”. “Já tinha avisado que tem bons jogadores, todos muito rápidos”, acrescentou. O técnico do Boavista disse apenas ter ficado surpreendido com “as vezes que os boavisteiros caíram ao mão”. “Mas foi um bom resultado. Daqui a dois meses veremos que foi um ponto fundamental”, concluiu. 

X

Boavista Pacheco fez o seu “bluff”, mas manteve-se fiel ao seu esquema. A equipa, essa, respondeu com tudo. Destaque para a tranquilidade que poucos esperariam e algumas triangulações a roçar o brilhantismo. Owen Anfield Road continua a levantar-se de cada vez que o meninoprodígio toca na bola. Depois do “hat-trick” com a Alemanha, um golo espectacular que amenizou a desgraça inglesa.

Z

Liverpool O sucesso nem sempre é amigo do peso, altura e músculo. Houllier preparou uma equipa anti-Boavista, mas, para já, terá de continuar a apregoar as tais cinco taças em meia dúzia de meses. Desperdício Não esteve mal o ataque do Boavista. Longe disso. Mas até Jaime Pacheco refilou quando Duda desperdiçou um par de golos trabalhados pelos seus colegas.

DESPORTO

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PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

“FC Porto tem ambições justificadas” Sporting Octávio Machado alivia pressão reconheceu o NELSON GARRIDO

Alertado para o facto de não ter mencionado treinador e equipa sportinguistas, o técnico portista admitiu o “lapso”, aproveitando para agradecer a amabilidade de Lazlo Bölöni, que havia desejado felicidades aos portistas, via fax, antes do jogo com o Grasshoppers.

favoritismo da Juventus, mas acredita num bom começo na Liga dos Campeões NELSON MARQUES

Octávio Machado reconheceu ontem que a Juventus é porventura a “principal favorita à vitória a Liga dos Campeões”. Classificando a equipa orientada por Marcello Lippi como “a mais forte de Itália e uma das mais fortes da Europa”, o treinador portista assumiu o favoritismo dos transalpinos, mas sublinhou que o FC Porto não se vai deixar intimidar pelos milhões da “vecchia signora”. “Respeitamos o adversário, que se reforçou muito com o objectivo único de conquistar as competições em que vai intervir. Mas temos ambições justificadas”, disse, acrescentando ser “importante começar bem perante um adversário de tanta qualidade”. Falando na habitual confe-

Os jogadores da Juventus foram obrigados a abandonar o hotel rência de imprensa que antecede os jogos da Liga dos Campeões, o técnico dos portistas disse ainda ser um “privilégio” defrontar a equipa “bianconeri”: “Não há nenhum profissional de futebol que não gostasse de estar no lugar em que vão estar os jogadores do FC Porto. É um motivo de grande orgulho e de grande estima”. Apesar de manifestar o seu respeito pelo adversário, reforçado esta época com jogadores como Buffon, Thuram, Nedved e Sals, o técnico “azul-e-branco” alertou para o facto de nem sempre um gru-

po de excelentes jogadores fazer uma grande equipa: “Nem só de grandes vedetas se faz uma grande equipa. Às vezes, umas atrapalham as outras”, disse, dando o exemplo de Zidane, cuja contratação pelo Real Madrid tem sido motivo de grande reflexão. Octávio Machado aproveitou ainda para desejar boa sorte “a Jaime Pacheco e ao Boavista, ao Marítimo e Nelo Vingada, a Fernando Santos, bem como a todos os jogadores e técnicos portugueses” em acção nesta jornada europeia.

Restam 9 mil bilhetes A venda de bilhetes para o jogo de hoje tem decorrido aquém das expectativas. Ontem, os responsáveis portistas esperavam vender cerca de 10 mil bilhetes, mas não foram adquiridos mais de 4 mil ingressos. Depois da lotação esgotada nos jogos com o Barry Town e o Grasshoppers, o FC Porto espera repetir a façanha, mas a verdade é que faltam ainda vender cerca de 9 mil ingressos. Hoje, as bilheteiras encerram-se às 16h00, hora em que começa a ser delimitado o perímetro de segurança. A partir desse momento, quem tiver reservado bilhete poderá levantá-lo no posto de relações públicas que funcionará numa bola gigante que será colocada junto da Torre das Antas. 

Juventus evacuada por ameaça de bomba

EQUIPAS

A Juventus viveu ontem um dia muito atribulado. A formação italiana chegou ao Aeroporto de Pedras Rubras por volta do meiodia, seguindo de autocarro para o Hotel Porto Palácio, para um descanso antes do treino, às 18h30. Inesperadamente, por volta das 15h45, a polícia mandou evacuar o hotel devido a uma ameaça de bomba. “Ficámos um pouco impressionados. Parecia um filme”, afirmou o treinador Marcello Lippi, manifestan-

Árbitro: Giles Veissière (França) FC PORTO: Ovchinikov, Ibarra, J.

do a sua estranheza por o aviso de evacuação não ter sido feito em italiano — e apenas em português, inglês e francês —, já que no hotel estavam hospedados cerca de 50 italianos. Relativamente aos atentados perpetrados contra os EUA, o capitão Del Piero negou que isso possa afectar o rendimento das equipas: “Estamos a falar de coisas distintas. Futebol é paixão, é divertimento. Somos atletas e temos que estar concentrados no jogo”.

Em relação ao jogo, Lippi recusou assumir o favoritismo da formação “bianconeri”: “Não sei se somos favoritos. A atitude da Juventus, tal como todas as equipas, é ganhar, com grande respeito pelo adversário”. O técnico italiano não achou “exagerado” que Octávio Machado tenha comparado deco a Zidane. “O treinador do F.C. Porto conhece-o bem e sabe do que fala. Acho que o Deco é um médio com muita técnica e criatividade”.

Costa, J. Andrade, M. Silva, Costinha, Quintana, Deco, Capucho, Clayton e Pena. Outros convocados: P. Santos, R. Silva, R. Carvalho, Paulinho, Alenitchev, C. Costa, R. Júnior, Postiga e Rafael. JUVENTUS: Buffon, Thuram, Montero, Iuliano, Zambrotta, Pessotto, Tudor, Tacchinardi, Del Piero, Salas e Trezeguet. Outros convocados: Carini, Rampulla, Zenoni, Ferrara, Paramatti, Birindelli, Athirson, O’Neill, Maresca e Amoruso.

Figo abriu caminho à vitória do Real CARLOS FILIPE

O Real Madrid começou da melhor maneira a sua participação no Grupo A da Liga dos Campeões, ao derrotar, na capital italiana, por 2-0, a Roma. Figo foi o autor do primeiro golo, aos 50’, num livre a 30 metros da baliza. O português bateu com força e a bola tabelou ainda num defesa romano e traiu o guarda-redes Pellizoli. Pouco depois, Guti (63’) fez o 0-2. Mas a Roma carregou e aos 71’ Karanka derrubou Zebina. Totti encarregou-se da marcação e reduziu para 1-2. Batistuta fez-se notar no último terço da partida, reclamando um par de oportunidades. A jornada teve início mais cedo, às 16h00 de Lisboa, com o outro encontro do Grupo, onde o Lokomotiv de Moscovo recebeu e empatou (1-1) com o Anderlecht. A UEFA determinou que em todas as partidas fosse respeitado um minuto de silêncio, e os 15 mil espectadores que presenciaram o encontro associaram-se aos atletas no respeito pela dor dos norte-americanos. A partida teve pouca história:

Hendrikx abriu o activo para os belgas, aos 15’, e Maminov repôs a igualdade aos 18’. No Grupo B, e enquanto o Boavista surpreendia o Liverpool em Anfield Road (1-1), o Dínamo de Kiev começou por se superiorizar ao Borussia de Dortmund. Até ao intervalo, dois golos (por Melashchenko e Idakhor) sem resposta dos alemães, que só surgiu no segundo tempo, por Koller, autor do golo (56’) que reduziu a desvantagem para 2-1, e por Amoroso (77’), que bateu para o 2-2 final. No Grupo C, em Maiorca, grande surpresa: o Arsenal, que começou da pior forma, perdendo o concurso de Cole logo no minuto 11 por expulsão a punir falta violenta para penalti sobre Luque na área, perdeu por 1-0. Engonga fez o golo de penalti para a equipa das Baleares. Na Alemanha, o Schalke 04 recebeu o Panathinaikos, com o português Paulo Sousa em campo, e foi presenteado com uma segundo parte de grande qualidade pelos gregos, que marcaram aos 75’ por Vlaovic e aos 80’ por Bassinas. Resultado: 0-2.

Outro resultado-sensação, porém, ocorreu no Sul de França, onde o Nantes (Grupo D) chegou ao intervalo e bater o PSV Eindhoven por 3-0, golos de Andre (5’), Quint (10’, de g.p.) e Dalmat (43’). Marama Vahirua, aos 75’, fez o quarto golo dos franceses, e o golo de honra holandês (4-1) foi obtido por Bruggink. Na Turquia, o Galatasaray bateu a Lazio, com Fernando Couto já na equipa, por 1-0, golo de Umit Karan, aos 79’. Esta noite, e exceptuando o FC Porto-Juventus, ganham particular realce os embate no Pireu, entre a Olimpiakos e o Manchester United, e em Barcelona e Lille, onde duas formações espanholas e duas francesas se defrontam. Os campeões ingleses apresentam-se em força, com Beckham e Véron no apoio a Nistelrooy. A turma grega, contudo, com os brasileiros Zé Elias e Giovanni e o francês Karembeu, tentará conseguir a primeira vantagem. No curioso duelo entre espanhóis e franceses, realce maior para a deslocação do Lyon a Barcelona (Grupo F), do

que para a do Corunha a Lille (Grupo G). Mas em França, no outro jogo do Grupo G, os galegos não terão a vida facilitada. O “Barça” aposta forte, mas sem Rivaldo, lesionado. Carlos Rexach avaliza a sua candidatura ao golo ao colocar na frente Kluivert, Geovanni e a jovem extrela argentina Saviola. Na mesma série de competição, o Bayer Leverkusen parece decidido a confiar no avançado Kirsten, mas terá que se acautelar com o fulgor de Revivo, estrela dos turcos do Fenerbahce.  PROGRAMA DE HOJE:

Jogos às 19h45 Grupo E Celtic (Esc)-Rosenborg (Nor) FC Porto (Por)-Juventus (Ita) Grupo F B. Leverkusen (Ale)-Fenerbahce (Tur) Barcelona (Esp)-Lyon (Fra) Grupo G Lille (Fra)-Corunha (Esp) Olimpiakos (Gre)-M.United (Ing) Grupo H S. Praga (Che)-S. Moscovo (Rus) Feyenoord (Hol)-B. Munique (Ale)

José Bettencourt acredita no projecto da equipa, que já está na Dinamarca, e reitera confiança no técnico Do nosso enviado PAULO CURADO, em Billund

Uma nota do improvisado discurso de José Bettencourt, administrador executivo da SAD do Sporting e chefe da comitiva que viajou ontem para a Dinamarca, serviu para aliviar a pressão sobre o técnico da equipa, o romeno Laszlo Bölöni, já “castigado” pelos resultados menos positivos da equipa neste arranque de temporada. A verdade é que os responsáveis pela equipa voltaram ontem a dar um voto de confiança ao técnico. “Só os medrosos e os parvos é que saltam para fora das pressões”, disse ontem Bettencourt, sem referenciar destinatários. O administrador da SAD afirmou ainda: “Os momentos menos bons ultrapassam-se, fundamentalmente, com vitórias, porque as derrotas potenciam debilidades e as vitórias maximizam as potencialidades. É por isso que vamos lutar até ao fim, pois sabemos que estamos no bom caminho. Contra ventos e marés vamos dar a volta”. Choque à chegada Isolados do mundo durante as mais de três horas e meia que durou o voo, foi com increduli-

dade que a comitiva “leonina” recebeu as notícias dos atentados terroristas nos EUA assim que pisou solo dinamarquês, onde amanhã o Sporting defronta o Midtjylland, na primeira mão da primeira eliminatória da Taça UEFA. Isolados do exterior durante as mais de três horas e meia que durou o voo — por sinal, o último autorizado a aterrar naquele país — que transportou de Lisboa o plantel, adeptos e jornalistas, foi com espanto que se inteiraram dos acontecimentos que mantinham há já algum tempo o mundo suspenso e atónito. Pouco passava das 17h30 (16h30 de Lisboa) quando aterrou em Billund, na Dinamarca, o avião da SATA. Os sorrisos iniciais à entrada do aeroporto da pequena localidade foram substituídos pelos primeiros esgares de incredulidade, ao ritmo de cada chamada de telemóvel proveniente de Portugal. Por fim sobrou a perplexidade e o assombro face às loucas notícias que invadiram a sala de desembarque. Jogadores, equipa técnica e dirigentes formaram pequenos grupos de conversação, misturados com jornalistas e adeptos, que acompanharam a equipa, trocando as informações de que dispunham. Todas demasiado surpreendentes para serem reais e que levantavam as mais genuínas dúvidas, e até interrogações, como a levantada por Manolo Vidal, director de futebol da SAD, a respeito da efectivação do jogo ou do voo de regresso a Lisboa. 

Sokota preocupa Benfica diz que não recebeu convocatória angolana para Mantorras, que enviou carta a pedir dispensa Sokota é a última preocupação do Benfica para o jogo com o FC Porto, que sábado tem lugar na Luz e conta para a quinta jornada da I Liga. O avançado croata ressentiu-se de uma lesão e foi inclusivamente fazer um teste médico fora da Luz para avaliar a situação. Se não recuperar, Sokota junta-se a Zahovic, também lesionado (tal como Porfírio), comos grandes ausentes para este “clássico”, cuja importância vai levar o Benfica a realizar um curto estágio nas Caldas da Rainha, entre amanhã e sábado. Entretanto, João Malheiro, porta-voz do Benfica, garantiu ontem que não chegou ao clube qualquer convocatória da federação angolana relativa a Mantorras, com vista ao jogo de domingo entre Angola e o Zimbabwe, da primeira mão da final da Taça COSAFA, o que impediria o avançado “encarnado” de jogar o Benfica-FC

Porto. Ao que o PÚBLICO apurou, Mantorras enviou nos últimos dias uma carta à federação do seu país para que o libertassem deste compromisso e de outros até ao final do ano. Reuniões pelo estádio Numa azáfama continua a direcção do Benfica para conseguir concretizar a construção do novo estádio, como anteontem reafirmou Manuel Vilarinho. Para ontem esteve prevista a reunião entre Vilarinho e João Soares, presidente da Câmara de Lisboa, por causa da necessária alteração do PDM, mas foi adiada. Segundo fonte do Benfica, o dito encontro terá lugar no dia de hoje. E para Londres viajou ontem Mário Dias, vice-presidente para o património, acompanhado de quadros da Somague, que vai construir o novo estádio. Na capital inglesa reuniram-se com responsáveis da Hok Sport, empresa que desenhou o recinto. Esta reunião é bastante importante e visa resolver um dos obstáculos que Vilarinho apontou anteontem: o fecho do contrato de empreitada com a Somague para que, então, seja estabelecido o preço final da obra e assim seja montada a operação financeira necessária.  JOSÉ J. MATEUS

44 DESPORTO PÚBLICO• QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Marítimo preparado para receber o Leeds

Colombiano Botero no comando da Vuelta

Equipa madeirense está fortemente moralizada

Alemão Erik Zabel (Telekom) ganhou ontem a sua terceira etapa em cinco já disputadas

O Marítimo prossegue amanhã a sua nova etapa em competições europeias de futebol, depois de ter ultrapassado na pré-eliminatória a equipa do Sarajevo, da Bósnia-Herzegovina, quando receber, no Funchal, os britânicos do Leeds, da Premier League inglesa de futebol, encontro da primeira mão da Taça UEFA. E para isso apresenta-se e afirma-se fortemente moralizada, especialmente depois do recente sucesso (1-0) frente ao Belenenses, no sábado, na quarta jornada da competição interna. A equipa orientada por Nelo Vingada prosseguiu ontem os trabalhos de preparação, e ficou mais animada com as recuperações físicas de Nélson e de Eusébio, jogadores que têm estado lesionados. Só hoje, contudo, após o derradeiro treino, é que o técnico divulgará a lista de convocados para a partida, que terá lugar no Estádio dos Barreiros, a partir das 21h45, com transmissão directa na SportTV. A equipa madeirense, que disputa pela quarta vez uma competição europeia de clubes, já tinha defrontado, em anteriores ocasiões, e desde a época de 1992-93, equipas como o Antuérpia, da Bélgica, o Aaraus, da Dinamarca, e a poderosa Juventus, de Itália. Na mais recente ocasião, na temporada de 1998-99, o Marítimo foi derrotado pelo mesmo Leeds, primeiro na deslocação a Inglaterra, perdendo por 1-0 em Elland Road, desfecho que os maritimistas contrariaram no encontro da segunda mão, vencendo então pelo mesmo resultado, embora tivessem sido eliminados, perdendo na decisão de desempate por pontapés da marca de grande penalidade. A formação inglesa — se o espaço aéreo europeu permanecer aberto durante as próximas horas — tem horário de chegada marcado ao Funchal ao início da tarde (13h00), devendo treinar ao fim da tarde, por volta das 18h30, no Estádio dos Barreiros, onde o técnico da equipa, David O’Leary, irá promover uma conferência de imprensa para falar aos jornalistas. A equipa britânica não teve um bom teste na última ronda do campeonato inglês, pois não foi além de um empate sem golos ante o modesto Bolton, equipa que, todavia, está a fazer uma boa carreira na prova, e a surpreender tudo e todos, ao manter-se na liderança da clasificação, com dez pontos, mais dois do que o campeoníssimo Manchester United.  PÚBLICO/Lusa

Campeonato paralelo pode avançar na Fórmula 1 EPA/PHOTO

O ciclista alemão Erik Zabel (Telekom) continua a somar vitórias na Volta à Espanha, tendo alcançando ontem, na quinta etapa, o terceiro triunfo consecutivo. A prova é agora comandada pelo colombiano Santiago Botero (Kelme). Uma queda de vários ciclistas a cerca de dois quilómetros da chegada fraccionou o pelotão em vários grupos, com Botero a terminar a tirada, que ligou Leon a Gijon (175 quilómetros), com menos cinco segundos do que o anterior líder, o britânico David Millar. À partida para esta quinta etapa, Millar “segurava” a camisola amarela por apenas um segundo, mas a queda colectiva na fase decisiva da tirada relegou o britânico para o grosso do pelotão, que terminou a 21 segundos do vencedor. Mais feliz foi Botero, que conseguiu juntar-se a mais dois ciclistas e distanciar-se o suficiente para se consagrar como novo comandante da corrida. “É lamentável vestir a camisola amarela desta forma. Preferia alcançar o primeiro lugar na quarta-feira [primeiro dia de alta montanha], mas, mesmo assim, não deixa de ser um prazer estar na frente da corrida”, confessou o colombiano. Para hoje estão agendadas as primeiras grandes dificuldades montanhosas, na tirada que ligará Gijon a Lagos de Covadonga (160,8 quilómetros), com a meta a coin-

Mercedes e Renault lideram grupo de pressão CARLOS FILIPE

Botero, novo camisola amarela, lamenta ter beneficiado de uma queda de vários ciclistas cidir com uma contagem especial de montanha. Apenas 40 quilómetros antes, o pelotão terá de superar uma contagem de primeira catego-

ria, colocada no Alto del Mirador del Fito. Consternação Entretanto, a equipa de ciclis-

CLASSIFICAÇÕES Quarta etapa (175 quilómetros) 1.º Erik Zabel, Ale. (Telekom), 4:09.46 horas; 2.º Oscar Freire, Esp. (Mapei), mt; 3.º Sven Teutenberg, Ale. (Festina), mt; 4.º David Fernandez, Esp. (Relax Fuenlabrada), mt; 5.º Wilfried Cretskens, Bel. (Domo Farm Frites), mt; (...) 30.º Rui Lavarinhas, Por. (Maia), a 21 s.

Geral 1. Santiago Botero, Col (Kelme), 11:02.20 horas; 2. David Millar, G-B; 3. Pedro Horrillo, Esp (Mapei), a 11; 4. Igor Gonzalez Galdeano, Esp (ONCE), a 21; 5. Jose Gutierrez, Esp (Kelme), a 29; (...) 60. Melchor Mauri, Esp (Maia), a 1.35 minutos.

mo norte-americana da US Postal, a participar na Vuelta, manifestou-se ontem consternada pelos violentos ataques terroristas nos Estados Unidos, embora não pense abandonar a prova. “Ainda não falámos com o patrão da equipa, mas não creio que esta atrocidade tenha outras repercussões na equipa. Quando tomei conhecimento do sucedido, em plena corrida, não quis acreditar e evitei dizer alguma coisa aos ciclistas”, afirmou o director desportivo da US Postal, o belga Johan Bruyneel. 

Liga de Basquetebol Michael Jordan com 16 equipas admite regresso Conselho Superior do Desporto aprovou ontem, por maioria, o alargamento

O talentoso basquetebolista tem vindo a treinar-se à porta fechada

O Conselho Superior do Desporto (CSD) aprovou ontem, por maioria simples, o alargamento de 14 para 16 do número de equipas que vão disputar o campeonato de 2001/2002 da Liga dos Clubes de Basquetebol (LCB). O CSD esteve reunido nas instalações do Complexo Desportivo da Lapa, em Lisboa, e a discussão sobre o alargamento ocupou os conselheiros por mais de cinco horas, acabando a medida por ser aprovada apenas por dois votos de diferença: dez a favor e oito contra. A LCB e a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) defendiam, à partida, o alargamento, e o presidente desta última entidade, Mário Saldanha, participou na reunião de ontem do CSD, na qualidade de convidado, para ali defender a posição federativa. O parecer favorável do CSD será agora apresentado ao ministro da Juventude e do Desporto, José Lello, de cuja aprovação final depende

Michael Jordan pode regressar em breve à Liga NorteAmericana de Basquetebol profissional (NBA), como ele próprio já admitiu. De acordo com um jornalista norte-americano, Jordan reconheceu que está a ser preparada uma conferência de imprensa, em Washington D.C., para os próximos dez dias, onde deverá ser confirmado o que se tem dito sobre esta possibilidade nos últimos meses. Jordan é um dos proprietários dos Washington Wizards e tem vindo a treinar-se nos últimos tempos com mais alguns basquetebolistas num ginásio à porta fechada. Para muitos observadores, isso significa que Michael Jordan, de 38 anos, tem procurado recuperar a forma física e técnica para poder voltar a jogar a alto nível na NBA, onde ganhou seis títulos pelos Chicago Bulls, além de fama e proveito. E as recentes declarações do talentoso basquetebolista a um pequeno círculo de pessoas (incluindo alguns

a entrada em vigor da medida agora aprovada. Caso o ministro da tutela venha a promulgar a decisão do Conselho Superior do Desporto, o Belenenses e o Gaia — as duas formações despromovidas na última temporada — serão recolocados na Liga Profissional, perfazendo assim o total de 16 clubes na competição relativa à época prestes a começar (o início da competição está agendado para o final deste mês de Setembro). As equipas terão agora de apresentar as respectivas candidaturas, as quais deverão cumprir determinadas premissas para obterem aprovação. Segundo Manuel Aurélio, presidente da Liga dos Clubes de Basquetebol, “todas as equipas terão de apresentar garantias bancárias”, para além de passarem a estar sujeitos à obrigatoriedade de terem pelo menos três jogadores portugueses inscritos para a primeira jornada da Liga Profissional. 

jornalistas que acompanham a modalidade), segundo as quais os seus joelhos estão bem e que está recuperado de uma tendinite, foram interpretadas como um sinal de que se encontra, efectivamente, a preparar-se para regressar. De acordo com o sítio “CNNSI.com”, Jordan fez uma avaliação pessoal numa escala de um a dez, referindo que atribuía um oito à sua condição física. Se voltar à NBA, Jordan terá de vender as acções que possui nos Washington Wizards e será obrigado a jogar por esta equipa. Questionado sobre a possibilidade de actuar por uma formação habituada a perder, Jordan disse que amadureceu e que agora sabe que “não se ganham só campeonatos”. Perguntaram-lhe ainda porque pensa em voltar à competição: “Pelo amor ao jogo, nada mais”, respondeu. Quando entrou no seu carro, Jordan foi ainda mais enigmático para os jornalistas: “Já têm a vossa história”. 

Os construtores europeus de automóveis implicados na Fórmula 1 deverão encontrarse nos próximos dias para darem luz verde ao arranque do seu projecto de competição paralela, iniciativa congeminada após a tomada de controlo dos direitos de televisão deste desporto pelo grupo alemão liderado por Leo Kirch. “Uma reunião de construtores [de F1] terá lugar nos próximos dias, em Frankfurt”, disse ontem o presidente do Conselho de Administração de Mercedes-Benz, Juergen Hubbert, à margem de uma conferência de imprensa no Salão Automóvel que se realiza naquela cidade, onde as medidas de segurança foram ontem drasticamente reforçadas, na sequência da série de atentados verificados um pouco por todo o lado nos Estados Unidos, e tendo em conta a situação geográfica da cidade, bem no coração da Europa. Hubbert confirmou também as recentes propostas feitas pelo presidente da Renault Sport, o francês Patrick Faure, quando mencionou um encontro no seio da Associação de Construtores Automóveis. “Vamos criar e desenvolver a nossa própria sociedade para gerir a F1 no futuro”, anunciou o responsável da Mercedes. Como reacção à aquisição de 75 por cento dos direitos das provas de F1 pelo grupo Kirch, que as pretenderia retransmitir apenas para clientes assinantes da sua rede de canais codificados, o projecto de campeonato de F1 paralelo ao que é promovido pela Federação Internacional do Automóvel, e controlado pelo inglês Bernie Ecclestone, foi lançado em Abril último. Todavia, algumas pessoas bem integradas no meio da F1 estimam que as repetidas ameaças dos construtores visam, sobretudo, fazer pressão sobre o grupo controlado por Kirch, de forma a obter um bom compromisso, e que nunca serão postas em prática. O grupo “media” de Leo Kirch detém já os direitos, fora do território dos Estados Unidos, da retransmissão dos jogos do Mundial de futebol em 2002 e 2006. Aquele magnata também já tinha adquirido os direitos para a Alemanha dos jogos da Bundesliga de futebol (campeonato alemão), quer pela televisção, quer pela Internet. E a F1 deveria completar o “dossier” desportivo que asseguraria ao grupo importantes proveitos financeiros nos próximos anos.  *com AFP

C U LT U R A PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 2001

A DISTINÇÃO

Prémio “Odisseia nas Imagens” para Oliveira

A antestreia nacional do filme-documentário “Porto da Minha Infância”, de Manoel de Oliveira, transformou-se anteontem à noite, no Teatro Rivoli, em mais um momento de rara empatia entre o cineasta e a sua cidade. No final da projecção, os espectadores que lotavam o teatro municipal portuense dispensaram a Oliveira uma longa ovação — idêntica àquela que o cineasta tinha recebido, poucos dias atrás, no Festival de Veneza. E Teresa Lago, em nome da Sociedade Porto 2001, ofereceu ao autor de “Porto da Minha Infância” a escultura-protótipo (da autoria de José Rodrigues) do prémio que irá distinguir os vencedores do Festival Internacional do Documentário e Novos Media, que vai decorrer entre 19 de Outubro e 17 de Novembro. Ao agradecer o gesto — lembrando ser sempre essa “a parte mais difícil” da sua actividade —, Oliveira limitou-se a explicar que o seu trabalho é um filme sobre a memória que guarda da cidade “que tanto amamos”. Antes, Jorge Campos, responsável pela pelouro do audiovisual da Capital da Cultura, tinha classificado a estreia de “Porto da Minha Infância” como “o momento culminante de toda a programação” do sector. E João Bénard da Costa, numa mensagem enviada para o Rivoli, classificara o novo trabalho de Oliveira como “um filme singularíssimo“, que é ao mesmo tempo “a ficção de um documento e o documento de uma ficção”.

O NÚMERO

5000 contos é a verba que a empresa J. Pinto Leitão, firma portuense do ramo de madeiras e revestimentos, decidiu atribuir à Sociedade Porto 2001 nos termos de um contrato de apoio mecenático assinado ontem. Este montante destina-se a apoiar o concerto que o Coro Gulbenkian vai realizar no dia 19 de Outubro no auditório de Serralves, num programa dirigido pelo maestro Fernando Eldoro e que integra as peças “Vislumbre” e “Minnesag”, do compositor português Emmanuel Nunes.

SUGESTÃO DO DIA FESTIVAL Ruas em festa no Porto A segunda edição do FRESTAS — Festival de Cultura na Rua arranca esta tarde no Porto, junto da câmara municipal. Até ao próximo domingo, dezenas de artistas vão surpreender os transeuntes com “performances”, habilidades e partidas várias, cruzando as mais desencontradas disciplinas e animando o espaço público da cidade. PORTO Avenida dos Aliados. Entre as 17h e as 20h. Entrada livre.

“Não há ninguém melhor para a música contemporânea que Boulez” om um novo maestro titular — o húngaro Zoltán Pesko, que substitui o espanhol José Ramon Encinar —, a Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP) inicia hoje a sua nova temporada, trocando o controverso Teatro Camões pela sua casa-mãe: o Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. Numa temporada que ficará marcada pela diversidade da programação operática, os concertos sinfónicos foram reduzidos, mas em contrapartida cada programa será objecto de duas apresentações. Neste primeiro concerto, que repete amanhã à mesma hora, serão interpretadas as “Duas Imagens”, op. 10, de Béla Bartók, “... Quasi una fantasia...”, op. 27, de György Kurtág (n. 1926), com o pianista italiano Andrea Pestalozza como solista, e a Sinfonia nº1, “Titã”, de Mahler. A obra de Kurtág terá nesta ocasião a sua primeira audição em Portugal (ver Mil Folhas de 8-9-2001) e contará com a presença do compositor que dará amanhã (18h) um recital de piano com a sua mulher, Márta Kurtág, no Salão Nobre. Este será preenchido com uma selecção de peças extraídas das colecções “Játékok” (Jogos) e “Transcrições de Machaut a Bach”.

C

PÚBLICO — Esta tarde teve o primeiro ensaio com a OSP. Qual foi a sua impressão? ZOLTÁN PESKO — Óptima. Está muito bem preparada, estou muito contente. A peça de Kurtág, uma obra-prima, é dificílima, mas os músicos já a conheciam. A de Bartók é raramente tocada, mas é uma obra que admiro muito. É nesta época que ele começa a desenvolver a sua própria linguagem. Quanto à Sinfonia nº 1, foi escrita em Budapeste quando Mahler era director da Ópera, uma obra madura, que a orquestra felizmente já conhece e toca muito bem. É um programa que vem de encontro às suas raízes húngaras… Não é uma questão de ser ou não húngaro. Mahler é pouco húngaro e Kurtág é muito internacional. Podia até ter sido Boulez ou Donatoni. Crê que o facto de ser húngaro o coloca numa posição privilegiada para interpretar este repertório? No caso de Kurtág, creio que sim. Sou dos poucos maestros que já dirigiram toda a sua obra. Não foi meu professor, mas sinto-me muito próximo dele. Quanto a Bartók não precisa hoje de um especialista húngaro, é um compositor internacional. As suas obras são interpretadas de forma excelente por Abbado, Boulez, Maezel… A Primeira Sinfonia de Mahler é uma obra que me é muito cara, porque está ligada a um episódio que me marcou muito. Um dos meus grandes protectores, o compositor Luigi Dallapiccola, proporcionou a minha estreia no Scala de Milão. Quando terminei a récita, ele teve de partir para Florença e não consegui falar-lhe. Escrevi-lhe um pequeno cartão a agradecer e a dizer como tinha

E N T R E V I S TA C O M

Z O LT Á N P E S K O Bartók, Kurtág e Mahler foram os compositores escolhidos pelo novo maestro titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa, o húngaro Zoltán Pesko, para o seu concerto de estreia à frente desta formação. Um retrato das suas origens musicais que poderá ser escutado, hoje e amanhã, às 21h00, no Teatro Nacional de São Carlos. Por Cristina Fernandes

Uma carreira em torno da ópera Nascido em Budapeste no seio de uma família de músicos, Zoltán Pesko adquiriu notoriedade a nível internacional ao substituir três prestigiados maestros — Claudio Abbado, Lorin Maazel e Riccardo Muti — numa série de três produções de ópera diferentes no Scala de Milão, em 1970. Depois de ter estudado composição com Goffredo Petrassi e direcção de orquestra com Sergiu Celibidache, Pierre Boulez Perfil e Franco Ferrara, empreendeu uma bem sucedida carreira internacional, que incluiu entre outras funções a de maestro da Deutsche Oper de Berlim (1966-1973), maestro titular do Teatro Comunale de Bolonha (1973-1976) e do Teatro La Fenice de Veneza (1976-78) e o de director musical da Orquestra da RAI de Milão (1978-83). Nos três últimos anos desempenhou as funções de Director Musical da Deutsche Oper am Rhein (Düsseldorf-Duisburg), na qual mantém o cargo de maestro convidado. A sua extensa discografia encontra-se registada nas etiquetas CBS, Fonit-Cetra, Hungaroton, Sony, Supraphon e Wergo, destacando-se o Prémio Alemão do Disco que lhe foi atribuído em Janeiro de 2000. I

mudado a minha vida. Ele respondeu-me com uma carta de três páginas: “Caro Pesko, não deves agradecer-me, porque quando era jovem mandei as minhas composições ao maior compositor da época, Alfredo Casella, e ele rapidamente as fez interpretar. Eu agradeci-lhe, mas ele respondeu: Caro Dallapiccola, não deves agradecer-me porque aos 18 anos, quando fiz uma audição para Gustav Mahler, ele rapidamente me contratou como pianista. Agradeci-lhe e ele respondeu: Caro Casella, não deves agradecerme porque quando escrevi a cantata “Das Klangende Lied” e a primeira sinfonia escrevi a Bruckner e… etc, etc. Podíamos continuar até Pérotin! Se queres agradecer-me deves sempre continuar a apoiar os jovens”. Foi esta a grande lição. Mais tarde ofereci a carta a um arquivo onde se guarda outra correspondência de Dallapiccola. Tem trabalhado muito com orquestras ligadas aos teatros de Ópera. Foi uma escolha deliberada? Sim. Ser maestro de concerto e maestro de ópera são duas profissões diferentes. Os concertos são muito importantes. Em primeiro lugar, a orquestra sai do fosso e torna-se protagonista. Em segundo lugar, um programa sinfónico é sempre muito mais importante do que o acompanhamento de uma ópera italiana. Não estou a negligenciar esta música, mas para o nível da orquestra a prática do grande repertório sinfónico é essencial. Estudou com três grandes maestros: Celibidache, Pierre Boulez e Franco Ferrara. O que é que cada um lhe transmitiu? Foi um contributo muito diverso. Não há ninguém melhor para a música contemporânea do que Boulez. O mesmo se pode dizer de Ferrara na lírica italiana, ou de Celibidache na ópera francesa ou na música do início do século. Foi muito importante ver como Celibidache comunica com as pessoas, como Boulez se prepara, a disciplina, o artesanato… Estudou composição com Goffredo Petrassi. Ainda compõe? Infelizmente não. São duas actividades inconciliáveis. Mesmo um grande génio como Boulez tem dificuldades em conjugá-las. O último grande compositor que acumulou as duas foi Mahler. Compunha no Verão. Acho que morreu tão jovem devido a essa pressão. São dois comportamentos opostos: um voltado para o interior e outro para o exterior. Não é possível ser interior das sete às nove da manhã e exterior a partir das dez! Tem um repertório muito amplo. Mas quais são as suas grandes preferências? No teatro, naturalmente Mozart, Richard Strauss, Wagner, Verdi, Puccini. Na grande literatura sinfónica, quase tudo. Afinal temos só 250 anos de música. Qualquer encenador teatral tem um repertório de pelo menos 3 mil anos! I

48 JOGOS

Bridge

PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Palavras cruzadas

Anuário das Organizações Não Governamentais

PARA QUÊ ADIVINHAR? Ninguém vulnerável Dador: Norte

PROBLEMA 4194A

O Terceiro Sector em Portugal O PÚBLICO, com o apoio do Montepio Geral, vai editar, no último trimestre de 2001, um anuário das organizações não governamentais em Portugal. Trata-se de um trabalho inédito no País, já que apenas parcelarmente e em relação às ONG do ambiente ou do desenvolvimento, havia directórios minimamente actualizados. Para o trabalho de levantamento dos vários sectores em que as ONG têm exercido actividade já foram feitos milhares de contactos e recebidas centenas de respostas. Mas só uma adesão maciça a este projecto por parte do Terceiro Sector fará do anuário uma obra de referência, no País e no estrangeiro. Se a sua ONG já foi contactada e respondeu ao inquérito, o nosso obrigado. Se já recebeu o inquérito e ainda não respondeu, recordamos-lhe que o poderá fazer até 30 de Setembro. Se é dirigente de uma ONG que não tenha sido contactada e a quer ver incluída no anuário, poderá pedir os elementos de contacto e o inquérito a Departamento de Projectos Especiais - [email protected] Telefone - 210 111 276/277 Fax - 210 111 006/007/008 PÚBLICO Rua Viriato, 17 1069-315 Lisboa

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CARTA DE SAÍDA Dama de Copas

11 HORIZONTAIS: 1 — Curado. Lente. 2 — Acertar. Que dura um ano. 3 — Antiga flauta pastoril. Retalho de pano, papel, etc., mais comprido do que largo. 4 — Cada um dos anéis que faz parte de uma cadeia. Parte aquosa que se separa do leite ou do sangue depois de coagulados (pl.). 5 — Lã cardada. A parte mais larga da enxada (pl.). Duas consoantes. 6 — Rocha (bras.). Aquilo que prejudica ou se opõe ao bem. Face inferior do pão. 7 — Sétima nota da escala musical. Variedade de carbonato de cálcio, usado especialmente para escrever em ardósia ou quadro preto nas aulas, para riscar, etc. Cause ferimento a. 8 — Fizera subir. Anuência. 9 — Instrumento achatado num dos lados, que serve para fazer avançar na água embarcações pequenas. Pesquisam. 10 — Espaço de 12 meses (pl.). Ermidas. 11 — Alargamento de um prazo, para se restituir ou pagar alguma coisa. Que tem muitos ramos. VERTICAIS: 1 — Sociedade Anónima (abrev.). Noticiaram. 2 — Género de formigas a que pertence a saúva. Hidrocarboneto de hidrogénio. 3 — Torna horizontal. Paixão. 4 — Desejo ardente. O conjunto de doze dúzias. 5 — Prejuízo. Geme (gír.). 6 — Além disso. Serenidade de espírito. Coloração da face. 7 — Substância utilizada para condimentar os alimentos. Dá saúde a quem está doente. 8 — Dilatado (pl.). Olham fixamente para. 9 — Formar um só. Polido com lima. 10 — Falar à toa. Certamente. 11 — Estender gradualmente. Sem companhia. Solução do problema anterior: HORIZONTAIS: 1 — Pausa. Atara. 2 — Aire. Alor. 3 — Atolam. To. 4 — Er. Asir. Cor. 5 — Mor. Ga. Sopa. 6 — Rela. Mala. 7 — Cepo. Ei. Are. 8 — Ola. Arar. Am. 9 — Lá. Amarar. 10 — Aros. Real. 11 — Ralar. Rosca. VERTICAIS: 1 — Parem. Colar. 2 — Ai. Rorela. 3 — Ura. Repa. Al. 4 — Seta. Ló. Ara. 5 — Osga. Amor. 6 — Alia. Eras. 7 — Alar. Miar. 8 — Tom. Sá. Raro. 9 — Ar. Cola. Rés. 10 — Topara. AC. 11 — Agora. Emala.

PROBLEMA 4194B

HORIZONTAIS: 1 — Interjeição designativa de admiração. Borboleta nocturna. 2 — Ventarola. Capaz (fem.). 3 — Antes de Cristo (abrev.). Alimentar. 4 — Forma. O dobro de uma. 5 — Trovejar. Estado atmosférico. 6 — Vogal (pl.). Contracção de “me” com “a”. Alternativa. 7 — Espécie de loto. Outra coisa (ant.). 8 — Preposição que designa posse. Espécie de sapo da região do Amazonas (Bras.). Falso. 9 — Incriminariam. 10 — Doçura (fig.). Manifestação que se faz, sorrindo, e que exprime um sentimento de benevolência, simpatia ou ironia. 11 — Cheiro. Que vive no ar (fem.). VERTICAIS: 1 — Pequena ulceração das mucosas. Mulher nobre. 2 — Oração que os Muçulmanos fazem a Alá, antes de nascer o Sol. Urdir. 3 — Brinquedo constituído de uma bobina ou carretel a que se enrola um cordel e se dá um movimento de rotação. Gemido de agonia (Bras.). 4 — Avantesma (pl.). 5 — Consentir. Carvão incandescente. 6 — Jogo de azar. Sarraceno. 7 — Um certo. Cólera. 8 — Espécie de aranhas que mergulham na água. Nome dado pelos indígenas do Brasil ao padre missionário. 9 — Correcção (fig.). Governador árabe. 10 — Dar a forma de pua. Partícula apassivante. 11 — Pérfido. Pequeno lago. Depois do problema resolvido encontre o nome de uma obra de Alexandre O’Neill (3 palavras). Solução do problema anterior: HORIZONTAIS: 1 — Quota. Aguar. 2 — Silvar. De. 3 — Em. Amaras. 4 — Mirrar. Dual. 5 — Aia. AMEAÇA. 6 — Uso. Aru. Dom. 7 — Mm. Ti. Imo. 8 — AFRONTA. 9 — Aos. Olhar. 10 — Rara. Astuto. 11 — Amorfa. Amor. VERTICAIS: 1 — QUEM. UM. Pra. 2 — Miasma. AM. 3 — Os. Rio. Faro. 4 — Tiara. Troar. 5 — Alma. Aios. 6 — Varar. Aa. 7 — Aar. MUITOS. 8 — Grade. Malta. 9 — Suado. Hum. 10 — AD. Aço. Fato.

Depois de o parceiro ter falado num naipe durante o leilão, se resolver sair a qualquer outro naipe, é bom que tenha fortes razões para o fazer. Se os seus motivos não forem suficientemente justificados, pode ter conseguido provocar danos irreparáveis na confiança da parceria. O “cue-bid” de Norte em Dois Ouros mostrava uma mão limitada com apoio a Espadas. Com um naipe de seis caras de trunfo e valores de corte em dois outros, Sul considerou que a sua mão era suficientemente boa para marcar a partida. Para quem joga naipes ricos de cinco, uma abertura em naipe pobre não quer dizer que a voz tenha sido dada com um naipe fraco ou curto. De facto, as Copas que Oeste tinha na mão sugeriam que o parceiro deveria ter um forte naipe de Ouros — daí que a posse de duas honras secundárias de Copas fosse razão suficiente para sair à Dama de Copas. Se Oeste tivesse saído ao naipe do parceiro, Este teria feito duas vazas em Ouros e saído de mão num dos naipes ricos. O carteador teria então que adivinhar a localização do Valete de Paus para conseguir ganhar o jogo. Depois da saída a Dama de Copas e com as Espadas divididas 2-2 no flanco, o declarante não teve problemas em resolver a situação. O carteador fez a primeira vaza na mão e tirou trunfos em duas voltas. De seguida, bateu Ás de Copas, cortou uma Copa fechada e saiu de mão com um Ouro. Não tinha importância qual dos adversários iria fazer a vaza de Ouros. Um dos jogadores em Este-Oeste ficaria em mão, depois de terem tirado as duas vazas de Ouros e teria que se virar em Paus para as forquilhas do carteador ou ceder um corte-e-balda. O resultado da mão estava ditado: Quatro Espadas igual.

TV-RÁDIO MEDIA 49 PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

TVHoje

FUTEBOL FC Porto-Juventus

Dragões recebem a equipa mais difícil do

RTP1 19H00 Grupo E na abertura da Liga dos Campeões.

DOCUMENTÁRIO Crónica de Uma Morte Decidida Nesta emissão de Sinais do Tempo é apresentado o documentário “O Direito à Morte”, um testemunho do jornalista Jean-Marie Lorand, que decidiu recorrer à eutanásia. São as últimas três semanas de vida deste homem, que sofria de uma doença incurável, filmadas por um colega. Desde criança que, devido a uma vacina contra a tosse convulsa, foi perdendo progressivamente o controlo do seu corpo. Aos 15 anos já não conseguia andar e em Junho de 2000 estava completamente paralisado e decidiu que queria morrer. São os preparativos para a morte, as despedidas dos amigos, a organização do funeral e, até, a notícia da sua morte, redigida pelo próprio. Vêem-se alguns momentos de desespero, mas também a alegria pela libertação que a morte proporciona.

RTP2 00H10

BIOGRAFIA Alberto Giacometti “Biografarte” é a nova série de documentários da SIC Notícias onde o destaque principal é dado a personalidades artísticas das áreas da música, arquitectura, pintura ou escultura. O programa de hoje é sobre o escultor Alberto Giacometti. Através de um visão geral da obra deste artista, com testemunhos de amigos e colegas, o documentário traça o percurso daquele que ficou conhecido pelas suas esculturas de figuras frágeis, extraordinariamente magras e alongadas, que parecem simbolizar a condição solitária do ser humano.

SIC-N 21H00

LEGENDA CÓDIGOS: ANDAL: ANDALUCIA TV / BBC-P: BBC PRIME / BBC-W: BBC WORLD / BLOOM: BLOOMBERG / TOON: CARTOON NETWORK/ CINE1: TELECINE 1 / CINE2: TELECINE 2 / DISC: DISCOVERY / E-NEW: EURONEWS / EU-SP: EUROSPORT / F-TV: FASHION / GALIZ: TV GALIZA / HIST: CANAL DE HISTÓRIA / HOLL: HOLLYWOOD / MUZZ: MUZZIK / N-GEO: NATIONAL GEOGRAPHIC / ODISS: ODISSEIA / P&ART: PEOPLE&ARTS / PARL: PARLAMENTO / SIC-G: SIC GOLD / SIC-N: SIC NOTÍCIAS / SIC-R: SIC RADICAL / SKY-N: SKY NEWS / SOL-M: SOL MÚSICA PORTUGAL / SP-TV: SPORT TV

RTP1

RTP2

SIC

TVI

SPORT TV

07.30 Infantil/Juvenil 09.15 Notícias 09.30 Praça da Alegria Como convidados, os actores Ricardo Carriço, André Cerqueira e Vítor Mendes. O espaço musical conta com a actuação da Banda de Alcochete. Apresentação de Manuel Luís Goucha e Sónia Araújo. 12.10 Pedra Sobre Pedra 13.00 Jornal da Tarde 13.55 Emoções Fortes III 15.40 Vidas de Sal Telenovela realizada por Álvaro Fugulim e Lourenço de Mello 17.40 Privilégio de Amar Telenovela com Adela Moriega e Helena Rojo. 18.05 Meu Pé de Laranja-Lima 19.00 Futebol: FC Porto-Juventus Ver destaque. 21.35 Telejornal 22.30 Direito de Antena 22.35 A Senhora das Águas 23.30 Liga dos Campeões 00.45 Andrómeda: “Under the Night” Estreia de uma série de ficção científica que gira em torno das aventuras de Dylan Hunt, o comandante da nave espacial, Andromeda Ascendant e do seu esforço em recuperar o System´s Commonwealth, um governo responsável por uma época de paz e prosperidade. Depois de vaguear no horizonte longínquo de um buraco negro, a Andromeda Ascendant é descoberta três séculos mais tarde, por Eureka Maru, uma nave de salvamento tripulada por um bando de mercenários. Dylan acorda e encontra um mundo totalmente diferente e modificado. A civilização está um caos e em ruínas. Determinado a reinstaurar o Commonwealth, Dylan recruta a tripulação da Eureka Maru para a sua causa. 01.45 24 Horas 02.05 RTP Economia 02.15 Boas Noites: “Mesmer” Um drama biográfico sobre o controverso médico do século XVIII Franz Anton Mesmer (1734-1815), que se tornou célebre pelas suas teorias de cura, a partir do magnetismo animal. Roger Spottiswoode constrói uma bela e romântica evocação de época sobre a acidentada trajectória de um médico que aplicou teorias e métodos revolucionários numa época de prática médica que quando tudo falhava acabava, inevitavelmente, a sangrar os seus infelizes pacientes. GB/ Can./Al., 1999. 104 min. Com Alan Rickman e Amanda Ooms. 04.25 O Tempo

06.52 Hora Viva 09.45 Euronews 11.00 Infantil/Juvenil Inclui as rubricas Mr. Men Show, Nocamolinho,O Terrível Ralph, Tombik e BB e Hikarian. 14.10 Boletim Agrário/O Tempo 14.15 Euronews 15.00 Ciclismo Transmissão de uma etapa da Volta a Espanha 2001. 16.30 Informação Gestual Inclui as rubricas Jornal da Tarde e Acontece. 18.00 Fronteira Ocidental Reposição de uma série documentalsobre a Europa do passado e do presente, com realização de Mário Mendes. 18.30 A Fé dos Homens 19.05 Onda Curta 19.50 Espaço Infantil 20.20 Sabrina 20.45 Documentário: Os Problemas do Estado Itália atravessa, especialmente no Sul, um período de enorme agitação. No plano administrativo local, o colapso das velhas estruturas do poder e as consequências das novas leis permitiram o aparecimento de novas caras políticas. Esta mudança não é apenas relativa às classes dirigentes mas uma concepção inteiramente nova do que é “público”. Este documentário centra-se na pequena cidade de Herculano, a leste de Nápoles, onde uma urbanização descontrolada, o desemprego, a presença de especuladores e a acção da Camorra são alguns dos problemas que se apresentam à nova “mayor”, Luísa Bossa. 21.45 O Tempo 21.50 RTP/Economia 22.00 Acontece 22.20 Remate Magazine desportivo. 22.30 Jornal 2 23.25 Começar de Novo 00.10 Sinais do Tempo: “Crónica de uma Morte Decidida” Ver destaque. 01.10 Telefilme: “Os Caminhos da Paixão” Um nostálgico melodrama sobre um homem que tenta retomar uma relação amorosa com uma mulher. As suas vidas tomam rumos diferentes e muitos anos depois o seu romance continua ameaçado por intrigas, segredos e revelações. Baseado num romance de Edith Wharton, este telefilme conta com uma bela reconstituição de época e uma hábil realização de Robert Allan Ackerman. Destaque para as interpretações de Sela Ward e Timothy Dalton nos principais papeis. Al./EUA, 1997. 90 min. 02.45 O Tempo

07.45 Portugal Radical Magazine sobre os acontecimentos mais importantes nos desportos radicais. 08.00 Buereré Espaço infantil que inclui as séries Celestin,Dragon Ball, Jim Button, Teletubbies e Triplets. 10.00 SIC 10 Horas Programa com convidados em estúdio, apresentado por Fátima Lopes 12.00 A Presença de Anita Repetição dos primeiros episódios de uma mini-série brasileira produzida pela Rede Globo. Com Mel Lisboa, José Mayer e Helena Ranaldi. 13.00 Primeiro Jornal Apresentação de Rodrigo Guedes de Carvalho. 14.00 Confiança Cega Reality show apresentado por Felipa Garnel. Resumo dos principais acontecimentos de ontem. 14.15 A Próxima Vítima Telenovela brasileira em reposição. 15.15 A Viagem Telenovela brasileira em reposição, com António Fagundes no principal papel. 16.30 New Wave Telenovela brasileira de Andréa Maltarolli em reposição. 17.10 Um Anjo Caiu do Céu 18.10 Ganância Telenovela portuguesa com Catarina Furtado e Paulo Pires. 19.10 A Padroeira Telenovela brasileira de Walcyr Carrasco e Mario Teixeira, com direcção de Ivan Zettel e Vicente Barcellos. 20.00 Jornal da Noite Apresentação de José Alberto Carvalho. 21.30 Porto dos Milagres Telenovela brasileira. 22.30 Sai de Baixo Série brasileira de humor, com Miguel Fallabela e Aracy Balabanian. 23.30 Noites Marcianas Segunda edição de um programa que inclui diversos momentos de humor, crítica aos programas de televisão e olhares curiosos sobre os representantes do “jet set” lusitano. Apresentação de Júlia Pinheiro. 01.30 Espaço de Informação 01.35 O Grande Desastre Americano — Jerry Springer Show Talk show apresentado por Jerry Springer. 03.20 Portugal Radical Segunda edição. 03.50 Vibrações

08.30 Animação Infantil Espaço infantil que inclui as séries Os Traquinas, Rocky e Bullwinkle, Yolanda, As Aventuras da Sereia e Navegantes da Lua. 10.00 Big Brother III Terceira edição. 11.00 Big Brother — Talk Show Repetição do talk-show apresentado em directo por Teresa Guilherme e Pedro Miguel Ramos. 13.00 TVI Jornal As notícias com Júlio Magalhães, em directo dos estúdios do Porto. 14.00 Big Brother Extra Primeira edição. Análise e comentários dos ex-residentes Marco e Zé Maria, ao que de mais interessante se passou durante o dia na casa. 14.10 Dona Anja 15.00 Chiquititas 16.00 Batatoon Inclui as séries de animação Exosquad, Yaba, Jay Jay e Rita Catita. Como convidado de hoje, o Trio Marraquês. 18.00 Big Brother Extra Segunda edição. 19.00 Anjo Selvagem Telenovela portuguesa com Paula Neves, Isabel de Castro e Manuel Cavaco. 20.00 Jornal Nacional As notícias com Pedro Pinto. 21.00 Filha do Mar Telenovela portuguesa com Dalila Carmo e Marcantonio del Carlo. 22.00 Olhos de Água 22.50 Big Brother III 23.40 Big Brother — Directo Transmissão directa. 23.50 Causa Justa Bobby procura uma forma de ganhar a causa de Wallace, enquanto, por seu lado, Gamble tenta desacreditar os testemunhos que lhe são desfavoráveis. 00.50 Última Edição 01.30 Diário Económico/Financial Times 01.40 Filme: “Viúva Assassina” Thriller policial sobre um mulher ambiciosa que não olha a meios para atingir os seus fins. Quando os seus dois maridos morrem em circunstâncias suspeitas, a polícia começa a desconfiar da atraente Bridgette Michaels, a única pessoa a lucrar com as duas mortes. De Michael Scott. Com Diana Scarwid e Hope Lange. EUA, 1997. 88 min. 03.40 Maggie 04.10 A Herança 05.10 Colégio Brasil

18.00 Automobilismo: Sport Protótipos Transmissão de um resumo alargado da prova de Donington, um dos circuitos clássicos do automobilismo britânico, no qual os Sport Protótipos animaram a pista. 19.45 Futebol Transmissão de dois jogos de futebol a contar para a Liga dos Campeões. Às 19h45, assista em directo ao jogo OlympiakosManchester United. Segue-se, às 21h45, em diferido, um desafio entre as equipas do Barcelona e do Olympique Lyonnais.

Devido aos recentes acontecimentos nos Estados Unidos, não nos responsabilizamos por alterações na programação.

SIC NOTÍCIAS 15.00 Toda a Verdade: “O Mercado da Fama” As revistas do coração vendem cada vez mais. Em Espanha, uma em cada três pessoas é leitora assídua deste tipo de literatura. É um negócio que move milhões, entre revistas, rádio e televisão. O interesse pela vida dos outros é cada vez maior, e as personalidades, os chamados famosos, temem pela sua privacidade.

NATIONAL GEOGRAPHIC 20.30 O Que Acabou com o Mamute O objectiva da pesquisa do paleontólogo Ross Macphee é a razão por que, há milhares de anos, uma criatura como o mamute foi levado à extinção. Ross Macphee é um dos caçadores de genes que acredita que pode encontrar a solução do desaparecimento dos mamutes através das pesquisas do D.N.A, pois acredita que um vírus pode ter sido o responsável pela destruição destes animais. Como demonstra nas suas teorias, esta descoberta pode vir a fornecer pistas para a saúde do planeta.

GNT 22.00 Marília Gabriela Entrevista: Marcello Antony No programa desta semana, Marília Gabriela entevista o actor brasileiro Marcello Antony, conhecido entre nós pela sua participação nas telenovelas “O Rei do Gado”, “Torre de Babel” ou “Terra Nostra”. Depois de falar sobre a sua carreira na televisão, cinema e teatro, Marcello dá alguns pormenores da sua vida pessoal e comenta o companheirismo que existe no seu casamento com a também actriz, Monica Torres.

50 MEDIA TV-RÁDIO PÚBLICO•QUARTA-FEIRA, 12 SET 2001

Cinema em Casa Os Noivos Sangrentos Título original: Badlands Realizador Terrence Malick Actores: Martin Sheen, Sissy Spacek, Warren Oates, Ramon Bieri EUA, 1973, 89 min.

HOLLYWOOD, 17H00

RÁDIOS

Na sua primeira longa-metragem, Terrence Malick inspirou-se num caso verídico que ocorreu nos EUA, nos anos 50, para filmar “Os Noivos Sangrentos”. Kit (Martin Sheen) é um jovem que trabalha na recolha do lixo e namora com Holly (Sissy Spacek), uma adolescente de quinze anos. O comportamento de Kit não é propriamente exemplar e, naturalmente, o pai da rapariga (Warren Oates) opõe-se à relação entre os jovens. Kit remove facilmente esse impedimento, matando o pai da rapariga, perante o olhar impávido e sereno desta. Depois, ambos iniciam uma fuga de automóvel por vários estados dos EUA. A história é narrada parcialmente por Holly, de forma desapaixonada. O filme deu um empurrão decisivo à carreira de Sissy Spacek, que viria a protagonizar “Carrie”, de Brian de Palma, três anos depois. O cineasta Terrence Malick, que tem uma escassa filmografia, rodou em 1988 “A Barreira Invisível”, obra muito aclamada pela crítica, que apesar de ter sido nomeada para sete Óscares, em 1999, acabou por não receber nenhum.

Antena 1 O Prazer de Ler 13h55 e 21h05 Programa de Isabel da Nóbrega. Cinco Minutos de Jazz 00h15 e 20h50 No programa de hoje podemos ouvir o saxofonista Charles Gayle. À Esquina do Mundo 00h50 e 13h30 Hoje podemos ouvir o poema “Fado português”, de José Régio. Antena 2 A Partitura de Um Século 10h00 Programa de Luís Tinoco e Inês Moreira. A Música e a Dança 13h10 Neste programa podemos ouvir obras de Glazounov. O Perfil de Um Autor 23h00 Pedro Coelho traça o perfil de Aaron Copland.

As Cinzas de Ângela Título original: Angela’s Ashes Realizador: Alan Parker Actores: Emily Watson, Robert Carlyle, Joe Breen, Ciaran Owens, Michael Legge EUA, 1999, 145 min.

TELECINE PREMIUM, 13H10

Ana e as Suas Irmãs Título original: Hannah and Her Sisters Realizador: Woody Allen Actores: Barbara Hershey, Michael Caine, Mia Farrow, Dianne Wiest, Woody Allen EUA, 1986, 106 min.

TELECINE GALLERY, 19H40

“As Cinzas de Ângela” baseia-se no “best-seller” autobiográfico de Frank McCourt, distinguido com o prémio Pulitzer, em 1997. O filme relata as experiências da família McCourt para resistir à miséria, da perspectiva de Frankie (Joe Breen), um dos filhos. Em 1935, numa época negra da história irlandesa em que muitos abandonam o país para procurar uma vida melhor na América, os McCourt fazem o percurso inverso e regressam a Limerick, cidade conhecida pela sua pobreza. Foi Ângela (Emily Watson) quem tomou essa decisão, após a morte da filha, surpreendendo toda a família. Apesar da ajuda relutante da avó (Ronnie Masterson), as coisas não correm melhor na sua terra natal. A comunidade católica tem um grande preconceito em relação a Malachy (Robert Carlyle), pai de Frankie, um protestante natural de Belfast, o que dificulta a sua procura de trabalho e agrava o seu problema de alcoolismo. A situação piora ainda mais quando Malachy decide desaparecer. O filme foi nomeado em 2000 para o Óscar de melhor banda sonora original.

Os amores e as desventuras de três irmãs durante o feriado de Acção de Graças. Hannah (Mia Farrow) é o protótipo da mulher perfeita e é à sua volta que gravitam os outros personagens de “Ana e as Suas Irmãs”. Casada em segundas núpcias com Elliot (Michael Caine), Hannah reúne toda a família para a refeição do feriado de Acção de Graças, incluindo as suas irmãs Holly (Dianne Wiest) e Lee (Barbara Hershey) e o seu neurótico ex-marido, Mickey (Woody Allen). A festa vai

Antena 3 100% 21h00 Programa de música moderna portuguesa com Henrique Amaro. RFM Café da Manhã 06h00 Programa de Pedro Tojal e Maria João. TSF Jazz Avenue 17h30 e 23h30 Hoje podemos ouvir Coleman Hawkins, Stan Getz e Roy Eldridge.

desmistificar o carácter de Hannah, revelando também os dramas familiares, que passam pelo ciúme, a fidelidade, a hipocondria ou a falta de amor. Um filme divertido e brilhante, cujo argumento tem a chancela de qualidade de Woody Allen. O realizador/ actor/argumentista ganhou, aliás, em 1987 o Óscar para melhor argumento original. Michael Caine e Dianne Wiest foram também premiados, nas categorias de melhor actor secundário e melhor actriz secundária.

FREQUÊNCIAS FM

Lisboa Porto Coimbra Braga Faro

ANTENA 1

95.7

96.7

87.9

88.3

97.6

ANTENA 2

94.6

92.5

89.3

88.0

93.4

ANTENA 3

100.3 100.4

102.2

103.0 100.7

R. CAPITAL

100.8 102.7

103.9

88.9 102.3

R. CIDADE

107.2 107.2

R. COMERCIAL 97.4

97.7

99.7



95.5

90.8

99.2

96.1

R. NOSTALGIA 104.3 100.8





R. NOVA



98.9







RDP ÁFRICA

101.5









RFM RR Canal 1 TSF

93.2 104.1 103.4

91.7

106.1

90.4 104.9

93.7

106.0

103.4

98.6

89.5 105.3

107.4

106.9

90.9

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POR BILL WATTERSON Tradução de Helena Gubernatis

Novo Pearl Harbour para serviços secretos americanos SHANNON STAPLETON

COMUNICAÇÕES SUSPEITAS NÃO FORAM INTERCEPTADAS Especialistas em defesa dizem que é preciso acabar com as rivalidades entre a CIA, o FBI ou a NSA, e uma historiadora lembra que os EUA negligenciaram tensões no Médio Oriente JEAN-MICHEL STOULLIG

Os serviços de segurança da superpotência americana foram apanhados de surpresa, ontem, pelos atentados de uma dimensão e coordenação nunca vistas, segundo os peritos, que apontam o dedo, até agora sem provas, a Osama Bin Laden. Estes especialistas, inquiridos pela AFP, notam que as diferentes agências de informação civis e militares foram surpreendidas, nomeadamente porque não se conseguiram infiltrar em alguns grupos terroristas. É verdade que, segundo os peritos, estes serviços conseguiram evitar atentados antes da passagem do ano 2000 e prenderam suspeitos que chegaram aos Estados Unidos com explosivos. Mas ontem “houve uma falha nas nossas informações”, aparentemente não houve avisos, afirma Ann Nelson da American University, interrogando-se sobre como é que os terroristas conseguiram penetrar nos aviões que explodiram contra o World Trade Center, em Nova Iorque, e o Pentágono, em Washington.

“É muito difícil infiltrar grupos terroristas originários da mesma localidade”, explica esta especialista em serviços secretos. Segundo Ann Nelson, os “meios humanos” da CIA e do FBI devem ser aumentados. Dan Goure, do centro de pesquisas conservador de Lexington admite também que, “mesmo nos Estados Unidos, é muito difícil a infiltração em grupos mafiosos” que falam o mesmo dialecto, e que se conhecem bem. Mas este perito militar considera que os serviços de espionagem tecnológica, como a NSA (Agência de Segurança Nacional) que escuta as comunicações electrónicas no mundo, ou o NRO (Gabinete Nacional de Reconhecimento), responsável pelos satélites-espiões, não estiveram à altura da tarefa. Ao contrário do que diz Ann Nelson, Goure afirma que o que é necessário é “reforçar a tecnologia”: os terroristas tiveram necessariamente que comunicar para preparar os seus ataques e estas comunicações deveriam ter sido interceptadas. Na opinião deste perito, é preciso acabar com a divisão nefasta do contraterrorismo entre agências ri-

A protecção civil mobilizou-se para apoiar os feridos dos atentados que apanharam os serviços secretos desprevenidos vais, como a CIA, o FBI, a NSA ou os serviços militares. Quem são os suspeitos? Quem é que conseguiu realizar com tanta eficácia estes ataques mortíferos no coração da superpotência? Horas depois da catástrofe, os especialistas mantêm-se prudentes. O senador Orrin Hatch, que acabara de receber informações do FBI, disse na televisão que era “possível ver a assinatura de Osama Bin Laden”.

“É o suspeito número um”, confirmou na CNN o especialista em serviços secretos Peter Bergen, recordando que o milionário de origem saudita foi sem dúvida capaz de realizar ataques simultâneos contra as embaixadas no Quénia e na Tanzânia em 1998. Para além dos Estados “renegados”, como o Iraque, apenas alguns grupos, como o de Bin Laden ou a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), teriam os meios para

lançar ataques tão vastos e precisos, diz ainda Dan Goure. “O dia 11 de Setembro de 2001 ficará para a história do mundo civilizado tão memorável como o ataque de surpresa de 7 de Dezembro” de 1941 pelos japoneses em Pearl Harbour, considera Goure. Ann Nelson rejeita a analogia com Pearl Harbour, que representava uma entrada em guerra, e recorda que, antes de atacarem, os pilotos japoneses estabeleciam um

silêncio rádio total. Segundo a historiadora, os dirigentes dos EUA não prestaram a atenção suficiente ao resto do mundo nos últimos anos, negligenciando, nomeadamente, as tensões no Médio Oriente depois da guerra do Golfo. Mergulhados na crença de que o seu santuário nacional era seguro, “os americanos vão entrar em pânico” face a um “terrível elemento de incerteza”, diz Nelson.  Jornalista da AFP, em Washington PUBLICIDADE

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