Experimentando Teatro De Sombras Na Sala De Aula - Parte2 Conteudo

  • December 2019
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Introdução O teatro de sombras, uma arte milenar do oriente que encantou encenadores do ocidente, ainda é raramente praticado em nosso país. É uma linguagem que integra o campo do teatro de animação, onde também estão inseridos o teatro de marionetes, bonecos, objetos e máscaras. Através de uma tela branca onde um foco de luz se acende e sombras de silhuetas de figuras humanas, animais, ou objetos, recortadas em papel, são projetadas em conjunto, ou isoladamente nos remetendo a um mundo particular, poético e mágico de histórias, do faz de conta. Focaremos neste projeto conceitos relacionados a história deste tipo de teatro, em diversos países, abordando as técnicas desenvolvidas no passado por povos mais antigos, bem como as técnicas praticadas atualmente. Através de uma pesquisa teórica da área educacional verificamos os benefícios comprovados por educadores, que possuem experiências de encenação e produção de teatro de sombras com os educandos. Descreveremos as experiências práticas com vários tipos e formas deste teatro, realizadas por nosso grupo, na sala de aula. Procuramos através deste projeto averiguar qual seria o envolvimento e as reações dos educandos ao entrarem em contato com os diversos tipos e formas da linguagem do teatro de sombras, para responder à questão: o teatro de sombras, seria uma boa ferramenta para trabalhar em sala de aula e promover conhecimento? Pretendemos com a realização deste projeto, divulgar essa modalidade teatral e explorar com ela possibilidades de aguçar a imaginação, estimular o gosto pela leitura, melhorar a comunicação e a compreensão do outro. Este projeto nasceu da intenção de levar para a sala de aula,

atividades

experimentais com técnicas específicas do teatro de sombras, para estimular processos de criação, encenação de dramaturgia de outras tradições e culturas. Acreditamos que as atividades propostas servirão de estímulos aos educandos no que se refere ao desenvolvimento da coordenação motora, do raciocínio, da percepção do olhar, da memória, da criatividade, da noção de espaços e da análise crítica dos alunos quanto às suas produções. Acreditamos que qualquer linguagem teatral tem a capacidade de envolver os alunos em um processo de criação, socialização e cooperação em grupo. Esperamos que o teatro de sombras por ser pouco conhecido pelos profissionais da educação e por estudantes do Ensino Fundamental e Médio, venha despertar curiosidade e estimulo ao seu

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conhecimento. E que a diversidade dos recursos que o teatro de sombras utiliza, possibilite o seu emprego em outras disciplinas do conhecimento, trabalhando conjuntamente. 1 HISTÓRICO GERAL O teatro de sombras é um gênero teatral de origem muito antiga. Segundo a autora Idalina Ladeira (1993) desde o período da Pré-História os homens se encantavam com suas sombras movendo-se nas paredes das cavernas. Nessa época, as mães teriam desenvolvido o teatro de dedos, projetando com as mãos, sombras diversas para distrair seus filhos. Para Marcello Santos1 estudioso do gênero, o teatro de sombras como manifestação artística é muito popular em todo o continente Asiático. Já para Max Von Bohen (Beltrame, 2005, p 41) tudo começou na China, enquanto para Meher Contractor (Beltrame, 2005, p 41) os primórdios das manifestações do teatro de sombras surge na Índia. Ambos os historiadores apresentam em suas pesquisas registros de antigas silhuetas datadas de 2500 e 3000 anos atrás, pertencentes a acervos de museus dos dois países. Antes de Cristo, tanto na China quanto na Índia, o teatro de sombras era muito utilizado em rituais religiosos recitando poemas épicos, tocando músicas e articulando silhuetas feitas em couro, sustentadas por varas de bambu, com iluminação de lamparinas abastecidas a óleo de peixe e para a tela era utilizado um tecido. Segundo Margot Berthold (2001), no Egito, (figura 1) o teatro de sombras surgiu durante o século XII d.C., onde eram representados lendas populares e eventos históricos. A forma e a técnica desenvolvida no Egito tiveram como inspiração o teatro de sombras do oriente.

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SANTOS, Marcello Andrade dos – 22/08/1965 – Santa Rosa – RS - Ator; Iluminador; Compositor e Produtor Artístico, diretor da Cia. Karagoz K. Estudou teatro de sombras com Jean Pierre Lescot no Instituto Del Teatro de Sevilha (Espanha) em 1986.

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Figura 1: Egito. Bonecos de teatro de sombras, século XIV a.C.

Segundo a Cia de Teatro Lumbra (RS), no século XII, no ocidente, principalmente na Itália, alguns padres católicos utilizaram como recursos para a educação religiosa, as projeções das sombras, fazendo criação de textos e encenações. Outra pesquisadora Tâmara V. Fielding (Beltrame, 2005, p 41) defende o fato de que o teatro de sombras era muito popular há mil anos atrás na Ilha de Java, na Indonésia (figura 2) e seus estudos também mostram a existência dessa linguagem em países como Tailândia, Taiwan, Grécia e no Norte Africano, principalmente na África Mediterrânea, chegando à Europa Ocidental somente no século XVIII, diz ainda que entre 1774 e 1859, em Paris existiu um teatro especializado em teatro de sombras chamado “Sombras Chinesas”.

Figura 2: Mestre Dalang – Ilha de Java - Indonésia

Segundo o pesquisador Valmor Beltrame (2005) as silhuetas eram chamadas na Ilha de Java, (figura 3) de Wayang, em sua origem eram utilizadas em espetáculos que duravam 49 dias e 49 noites, com o decorrer do tempo reduziram para 7 dias e 7 noites. Atualmente é comum encontrar performance de até 1 hora. A duração desses espetáculos baseava-se no volume de livros sagrados da Indonésia “Ramayana” e “Mahahbarata” cujos conteúdos trazem ensinamentos religiosos e narram aventuras de Deuses, Príncipes e Bravos Guerreiros.

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Tendo como requisito para manipuladores, o conhecimento da Cultura Oriental para uma devida interpretação. Com a invasão da China pelos mongóis no século XIII, o teatro de sombras passou a ser utilizado em caráter não religioso, uma vez que foi levado aos países islâmicos como Turquia, Síria, Afeganistão por estes invasores. Ainda no século XIII em Bursa, na Turquia surgiu a forma mais popular do teatro de sombras do mundo árabe, que tem como caráter a critica social–política e é chamado de teatro de Karagöz realizado em feiras à noite cujo espetáculo conta com um único manipulador que controlava tudo: bonecos, texto e sonoplastia.

Figura 3: Teatro de sombras – Java, na Indonésia.

No século XVIII, com o surgimento da luz elétrica os jesuítas inseriram na França o teatro de sombras e foi considerado um dos protótipos do cinema de animação e serviu como inspiração para a invenção das máquinas fotográficas e projetores de cinema. Na Europa temos o conhecimento da existência dos grupos teatrais Le Phospènes (França) dirigido por Jean Pierre Lescot e Teatro Gioco Vita (Itália) dirigido por Fabrizio Montecchi. Durante esta pesquisa não encontramos material histórico que revelasse o período exato em que a linguagem do teatro de sombras foi trazida para o continente americano e atualmente existem vários grupos do gênero em atividade espalhados por todo o continente

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americano como, por exemplo: Karagöz K de Curitiba (figura 4) e Cachiporra (Uruguai). E através de nossa pesquisa descobrimos a Cia. De Teatro Lumbra de Porto Alegre e Cia. Luzes e Lendas de São Paulo (figura 5)

Figura 4: Marcello Santos – Cia. Karagöz – Curitiba. Foto: Junho/2007 (Fabiana)

Figura 5: Valter Valverde - Cia. Luzes e Lendas São Paulo. Foto: Abril/2007 (Fabiana)

Nessa trajetória histórica, o teatro de sombras assumiu diversas vertentes de acordo com a cultura de cada região em que foi produzido. No Brasil ainda é pouco conhecido ao comparar-se com a popularidade de outras variedades da linguagem do teatro de animação,

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mesmo assim vem sendo inserido por diversos grupos teatrais como recurso para enriquecimento de seus trabalhos. 2 TEATRO DE SOMBRAS ORIENTAL 2.1 Na China O teatro chinês possui cerca de cinco mil anos de idade. Impérios e dinastias vieram e se foram durante toda a história da China. Os primórdios do teatro de sombras de acordo com o cronista Ssu-ma Ch´ien pertencente à corte do imperador Wu-ti (140-87 a.C.) surgem durante o período de domínio deste imperador, amante das artes. Há 2500 e 3000 anos atrás, os chineses baseavam-se em movimentos humanos do cotidiano para animar seus personagens buscando aproximar-se da realidade através da semelhança induzindo os espectadores ao convencimento do que viam. Os temas da dramaturgia do teatro de sombras da China têm como base a vida cotidiana, os acontecimentos do dia a dia que buscam reforçar valores como amizade, solidariedade, respeito a autoridade e à natureza. É valorizada principalmente a manipulação das silhuetas feitas pelo marionetista que busca através da observação do real os movimentos e traços das figuras representadas (figura 6). A partir de 1966 com novas tecnologias a estética dos espetáculos foi alterada através das varas de manipulação trocando as de bambu por acrílico bem como a mudança das formas de iluminação por lâmpadas fluorescentes.

Figura 6: Mestre manipulando boneco de sombra na China.

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Para obter um bom resultado, a silhueta permanece bem próxima da tela (figura 7) para que a fidelidade da imagem seja projetada mais fielmente possível. O teatro de sombras da China é mais estilizado com movimentos e gesticulações controladas. Seus figurinos e cores possuem significados próprios, ou seja, utiliza simbologia, inventividade e não-realismo, se afasta da estética naturalista em que o ator manipulador vai modulando a voz do narrador.

Figura 7: Crianças observam manipulação.

De acordo com Valmor Beltrame (2005), era encenado por atores que cantavam durante a apresentação, obedecendo a um só repertório. Era mais comum encontrar apenas um manipulador-ator, mas também existem companhias formadas por muitos atoresmanipuladores. O manipulador solista também chamado de Mestre porque realizava todas as funções no teatro de sombras, fazia apresentações itinerantes que iam de cidade em cidade, para festas. Hoje em dia residem em cada cidade, artistas que circulam por vilas próximas. A formação do ator-manipulador se dava através de aprendizagem, por tradição, desde criança aos quatro anos de idade observando o pai ou parente próximo e obedecendo a execução de rigorosos exercícios de manipulação. O mestre ia apresentando, aos poucos, ao seu aprendiz, as técnicas de manipulação até que atingisse a maturidade para iniciar seu trabalho individualmente. Os objetivos do aprendiz a serem conquistados consistiam em: domínio da

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dramaturgia, confecção das silhuetas e ser exímio manipulador. O aprendiz necessitava de exercícios físicos diários especificamente para os dedos, pulsos e braços, pois em alguns espetáculos deveria manipular, simultaneamente e com sincronia para produzir gestos e ações impressionantes cheias de beleza e veracidade em cenas de combate, silhuetas de guerreiros montados em cavalos, todos totalmente articulados com diversas varetas e fios. Com a criação de academias especificas em 1970, aproximadamente, o ensino deixou de ser restrito no aprendizado por tradição e hoje crianças aprendem na escola as técnicas de silhuetas com reconhecidos professores. De acordo com a história contada por Ssu-ma Ch´ien, citada por Margot Berthold (2001) diz que um homem chamado Shao Wong do estado de T´si em 121 a.C. para mostrar sua habilidade em se comunicar com fantasmas e espíritos dos mortos, fez a imagem deles, inclusive da esposa favorita do imperador, chamada Wang, que havia acabado de falecer, e do deus dos lares aparecessem à noite através de uma cortina. Na China existe uma lenda conforme (Beltrame , 2005, p 41) que conta o nascimento do teatro de sombras, revelando aspectos interessantes desta arte de silhuetas: O Imperador Wu Ti, da dinastia dos Han, teve o desgosto de perder sua dançarina predileta. Havia vinte anos que ele governava com sabedoria e juízo o Império Celeste e seu reinado era dos mais gloriosos de todos os tempos. Mas Wu Ti era muito supersticioso e acreditava na arte de

mágicas. Quando certa feita sua

dançarina favorita morreu, ele, desesperado, voltou-se para o mágico da corte, exigindo que fizesse voltar à linda defunta do “Reino das sombras”. Caso contrário seria decapitado. Ameaçado o mágico não perdeu a cabeça... O mago usou sua imaginação e através de uma pele de peixe, cuidadosamente preparada para torná-la macia e transparente, recortou a silhueta da dançarina, tão linda e graciosa como ela fora. Numa varanda do palácio imperial, mandou esticar uma cortina branca em frente a um campo aberto. Com o Imperador e a corte reunida na varanda, e à luz do sol que se filtrava através da cortina, ele fez evoluir à sombra da dançarina, ao som de uma flauta e todos ficaram alucinados com a semelhança. (Beltrame, 2005, p 41)

Valmor Beltrame comenta que esta lenda remete às reflexões e considerações relacionadas com o trecho: “recortou a silhueta da dançarina tão linda e graciosa como ela fora” dizendo que o mágico marionetista procurou chegar à referência da imagem real, da

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forma mais fiel possível. Segundo o autor a impressão é de que não houve qualquer ousadia que incluísse algum detalhe na reprodução da imagem da dançarina da lenda, pela qual o imperador era apaixonado. Isso se confirma na lenda quando diz: “fez evoluir a sombra da dançarina e todos ficaram alucinados com a semelhança” e faz pensar que o teatro de sombras chinês procurava resgatar os movimentos do cotidiano tentando convencer àqueles que assistiam ao espetáculo de que a silhueta que estavam vendo, por alguns instantes, era a sombra da dançarina predileta do imperador. Em comparação com o teatro de sombras da Índia e Ilha de Java, os chineses exploravam mais as referências do cotidiano principalmente quando se destaca o teatro contemporâneo da China. O professor e manipulador Qi Yongheng da província de Habei na China, quando ministrou um curso na França em 1982 no Instituto Internacional de Marionete, destacou que o teatro de seu país tem a dramaturgia caracterizada por temas do cotidiano, acontecimentos do dia a dia que procurava valorizar amizade, solidariedade, respeito à autoridade e à natureza. 2.2 Na Índia Segundo a tradição da Índia, Brahma é o criador do universo e da arte do drama. Em todas as apresentações teatrais, uma cerimônia inicial de benção e purificação que expressava as ligações do teatro com a religião, antecedia os espetáculos indianos. Um sábio chamado Bharata escreveu Natyasastra, um manual das artes da dança e do teatro onde estão escritos detalhadamente a origem e princípios do drama. A partir do primeiro milênio a.C., as civilizações indo-pacificas tiveram como herança os livros de Ramayana que relata as aventuras do príncipe real Rama e sua esposa Sita e Mahahbarata onde estão escritos conhecimentos de mitologia e moral. Em passagens do Natyasastra são descritas hipóteses de que uma caverna chamada Sitabenga era usada como casa de espetáculos do teatro hindu. Um pequeno número de pessoas sentava-se no interior da gruta e o titeriteiro (bonequeiro) estava do lado de fora projetando seus bonecos recortados em couro. No século X o “saubhika”, um termo dado ao teatro de sombras, um homem à noite mostrava vários personagens com a ajuda de uma cortina de pano. Na Índia, a base da criação é a família do animador principal, suas varias esposas e filhos. As silhuetas são diferenciadas pelo seu tamanho, sua coloração, simbolismo dos personagens, o tema e a estética. Em certas regiões a dramaturgia era baseada na mitologia e

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também em passagens contidas nos livros sagrados Mahahbarata e Ramayana além de serem muito comuns passagens da vida de Krishna, Arjuna, Rama e Sita. Meher Contractor (Beltrame, 2005, p 43) referindo-se ao teatro de sombras, diz que: “essa foi durante muito tempo à única forma de educação popular na Índia e combinava pensamento religioso e normas sociais privilegiando o triunfo do bem sobre o mal” e diz também que as passagens religiosas foram substituídas por formas cômicas, tendo como protagonistas os bufões, e desta forma foram se abrindo espaço para improvisações que introduziam temas contemporâneos, às vezes até brincadeiras obscenas que provocavam o riso e estimulavam o interesse do espectador. A estrutura das apresentações do teatro de sombras da Índia tem duração de nove noites se prolongando até o amanhecer. No ritual, os manipuladores e músicos que cantam ao ritmo dos tambores trazem o candeeiro do templo em procissão. O marionetista chefe (Sutradher) no espetáculo apresenta o tema e os personagens e logo em seguida os atores manipuladores cantam e falam seus textos iniciando a recitação, a apresentação de efeitos sonoros e cenas de batalhas impressionantes com flechas voando sobre a cabeça, membros e cabeças decapitados voando através da cena. Na maioria das vezes a manipulação de dois personagens em combate é feita somente por um manipulador cujo ritmo é ditado por batimento com os pés sobre uma prancha de madeira com acompanhamento de instrumentos da orquestra e músicas com gritos dos músicos e cantores. Os atores manipuladores pertencem às castas nômades ou Brahmins cuja formação se dá por tradição com o marionetista mestre revelando aos aprendizes os segredos que vão aos poucos se incorporando com maturidade para exercer o ofício. O marionetista conhece epopéias religiosas, manipula, toca instrumentos musicais, canta e recita além de confeccionarem as silhuetas. Uma orquestra composta por diversos instrumentos característicos de acordo com cada região acompanha o marionetista. Os indianos utilizam este tipo de teatro para pedir fertilidade da terra, chuva, cura de doenças, boas colheitas ou usam para cerimônias de casamento ou outros tipos de festas. Eles seguem calendário religioso que depende da utilização de um templo para fazer sua realização. É uma manifestação predominantemente originaria das zonas rurais e só recentemente, nos últimos 40-50 anos vem aparecendo nas zonas urbanas. Devido à existência de poucas fontes, Margot Berthold levanta uma questão que ainda não foi respondida: Qual teatro de sombras surgiu primeiro? O da Índia ou o da China? Haja vista que na índia evidenciou-se a existência de um teatro de sombras na caverna de Sitabenga (citada anteriormente) e a influência cultural do teatro de sombras que se espalhou através do extremo oriente. Possivelmente seguiu o avanço do budismo pela Ásia Central ou da Indochina

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para China. Entretanto o Império Central Chinês afirma que o teatro de sombras é uma invenção da China defendendo o pioneirismo numa lenda que evoca espíritos sobre a tela de linho. Na década de sessenta do século XX, surgiram na Ìndia, iniciativas de criação de escolas de teatro de sombras. O instituto de Darpana em Ahmedabad ministrado por Meher Contractor. Mais recentemente as escolas públicas de algumas regiões estão incluindo no seu currículo o aprendizado do teatro de marionetes indiano, contudo, não se pode considerar esta, uma formação de profissionais marionetistas.

2.3 Na Indonésia Na ilha de Java, pertencente à Indonésia, desenvolveu-se o teatro de sombras ou Wayang, quando o hinduísmo veio da Índia através de viajantes para os impérios das ilhas da Indonésia. Os atores são figuras planas, recortadas em couro transparente, bonecos esculpidos em madeira em relevo inteiro ou semi-relevo com olhos estreitos e enigmáticos. O Wayang teria surgido dos cultos ancestrais javaneses da época pré-hindu, e adquiriu suas características durante o período de ouro da civilização indiano-javanesa. A exclusão inicial de mulheres da platéia e atualmente sua separação dos espectadores masculinos que compõem algumas das regras cerimoniais provavelmente está ligada as cerimônias sacras de iniciação. Incorporaram em suas histórias os velhos mitos da primitiva religião dos hindus escritos nos dois épicos indianos o Ramayana e o Mahahbarata e absorveu a genialidade das personagens e seus conflitos na guerra e na paz. O wayang possui uma rica representação descritiva assim como as figuras dos camarotes dos templos hindus javaneses e relevos de paredes e pórticos. O termo Wayang purwa (wayang significa sombra e posteriormente espetáculo; purwa significa antigo) nunca foi considerado um simples divertimento antireligioso e atualmente continua exercendo sua função mágica de fazer a mediação entre o homem e o mundo metafísico. Em aproximadamente 1430, período do sultão Demak, marcaram presença as primeiras figuras wayang feitas de couro. Nesse período também se encontra o surgimento do termo wayang Kulit (Kulit quer dizer couro). Figuras precisamente cortadas e perfuradas feitas de couro de búfalo. Rosto sempre de perfil, corpo na posição frontal e pés apontando para os lados na mesma direção do rosto. A figura é fixada com varetas de chifres de búfalo; ombros e cotovelos móveis manipulados por duas varetas finas. O bonequeiro que produz as

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figuras wayang precisa conhecer as regras iconográficas além de ter habilidade com as ferramentas que utiliza para que mostre bem definidos no contorno e desenho dos bonecos: em cada linha, cada traço decorativo em todas as características do corpo os significados de cada um dos seus elementos. Ele produz o delicado trançado dos figurinos e dá a esta beleza estranha e sobrenatural um toque de requinte como o uso de folhas de ouro, turquesa brilhante, vermelho profundo e preto. A música Gamelan acompanha todos os espetáculos wayang da Indonésia. Para a sua interpretação é preciso uma orquestra composta por instrumentos de percussão, gongos, tambores e xilofone e poucos instrumentos de sopro e cordas. No wayang kulit (figura 8) a peça é apresentada em geral pelo dalang, mestre manipulador, à noite, exceto em cerimônia especial que simboliza o exorcismo. O numeroso elenco de sombras é projetado numa tela de linhaço esticada sobre uma moldura de madeira e o foco de luz é produzido por um lume brando vindo de uma lâmpada abastecida a óleo. As personagens que representam o mal: demônios, traidores, espiões e animais selvagens ficam numa caixa à esquerda do dalang, enquanto em outra caixa à sua direita: damas da nobreza, rainhas, os fiéis ajudantes, heróis, todos aguardando a sua vez de serem apresentados.

Figura 8: Encenação de teatro Wayang, local onde está manipulador mestre Dalang e orquestra.

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Conforme Margot Berthold (2001 p 46) o dalang é considerado um mestre, pois precisa movimentar grande quantidade de figuras com apenas duas mãos, (figura 9) reger os músicos tamborilando com um martelinho de madeira ou chifre, algumas vezes até produzir efeitos sonoros com ajuda de pequenos discos de madeira ou metal presos às caixas onde guarda seus bonecos. Ele bate os discos com o pé, caso as suas mãos estejam ocupadas. Antes de iniciar a apresentação da peça, o dalang faz uma descrição detalhada do lugar e das personagens e depois insere a ação da peça.

Figura 9: Mestre Dalang manipulando vários bonecos de sombra.

O lakan, uma exposição de um apanhado de fatos que apresenta um enredo especifico e criado com base em modelos tradicionais, determina a ação da peça. Depois de interpretada a música Gamelan introdutória, o dalang faz o encantamento para afugentar os seres diabólicos. Então, as tarefas do dalang: ator, narrador e comentarista exigem dele extrema concentração e devoção por horas a fio na proposta e na atmosfera da peça. Além de requisitar muitos anos de treinamento para trazer à vida, dúzias de figuras diferentes cada qual individualmente com sua cadência e entonação. Para Valmor Beltrame (2005, p 43), na Indonésia o Dalang (manipulador) por tradição, é quem confecciona as silhuetas, mas atualmente existem fabriquetas especializadas em materiais de teatro de sombras, as quais também são comercializadas como elementos decorativos. A silhueta é confeccionada em couro de búfalo novo, ele passa por processo de secagem da pele, desengorduramento e raspagem até obter-se a espessura desejada que varia conforme o tamanho do personagem. O desenho se reproduz sobre o couro translúcido, tem formas e elementos decorativos de acordo com cada personagem obedecendo às normas da

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tradição. A pintura das cores se faz nas duas faces da silhueta mesmo que ela seja predominantemente preta, os motivos são contornados com preto na silhueta e para proteger a pintura é aplicada uma camada de verniz. Fios, ossos e prata fazem as amarrações das articulações. A rigidez da silhueta e a fixação da personagem são garantidas em troncos de bananeira que faz a sustentação de varas de bambu com partes de chifres de búfalo. Duas varas de bambu são fixadas nas mãos para acionar a manipulação dos braços. As silhuetas possuem coloração, detalhes de roupas e de jóias. Duas categorias diferenciam as personagens: os bons, heróis e vencedores têm o rosto fino com nariz pontudo, orelha em amêndoa, busto estreito e boca fechada, os maus têm a forma mais grosseira, nariz grande, orelha arredondada e corpo grande. A personagem nobre tem olho redondo assim como o gigante. As cores têm a função de caracterizar e dar significados aos personagens. As silhuetas não têm características realísticas, os clowns têm formas grotescas e são parecidos com caricaturas e ganham mais destaque em seus detalhes através da manipulação. Valmor Beltrame diz que segundo a tradição, as mulheres tinham permissão apenas de ficar do lado da platéia assistindo o espetáculo, impedidas de ver do outro lado da tela os procedimentos do Dalang (manipulador) e da orquestra, enquanto os homens tinham livre acesso aos dois lados. A estrutura da produção é formada por Dalang e uma orquestra situada atrás dele, composta por 14 músicos que tocam instrumentos de sopro, cordas, tambores e gongos. A comunicação entre Dalang e orquestra se dá por códigos sonoros e verbais auxiliados com um cone de madeira que ele percute com a mão esquerda para fazer diferentes ritmos que destacam momentos de um diálogo, pontuam uma marcha e anunciam um combate do espetáculo. O Dalang (figura 10) é mais que um manipulador é considerado um artista completo e está entre os homens e os Deuses e precisa dominar e compreender a filosofia dos 180 Lakans, narrativas contidas no Mahahbarata e o Ramayana, recitar parte destes textos em Kawi (javanês antigo) e além desse domínio ele tem que improvisar o dialeto local do espetáculo.

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Figura 10: Mestre Dalang

Ele é conhecedor das literaturas antigas e clássicas, orações e oferendas dos rituais, dos significados simbólicos das marionetes e peças e adereços de cada cena. Ele sabe cantar, imitar vozes para interpretar as personagens, conhece todos os instrumentos do Gamelan (melodias correspondentes ao texto), é o chefe da orquestra, sabe recitar poesias além de ser grande orador e precisa estar informado dos acontecimentos do local em que irá se apresentar. O Dalang precisa se preparar fisicamente para ficar sentado de pernas cruzadas e braços estendidos durante nove horas atuando. Ele arranca a emoção dos espectadores com a sua habilidade de manipular as marionetes. Faz passagens de improviso através de discursos filosóficos evidenciando as normas de sabedoria e cria no espetáculo um ambiente agradável. Por isso o Dalang precisa da sensibilidade de cantor, músico, poeta, filósofo e intérprete. O Dalang que assume a tarefa de realizar cerimônias de exorcismo deverá ser o mais velho e venerado com profunda sabedoria nascido de uma linhagem de 14 ancestrais Dalangs. Na Indonésia existem cerca de 200 a 300 Dalangs. As características do teatro de sombras da Indonésia impressionam por suas silhuetas expressivas, ritmo da manipulação, repetição da música, modulação da voz do Dalang e cantores. O Lakan, a narrativa, é escolhida pelo organizador da festa obedecendo a calendário religioso, cívico, ou social. A narrativa dá um sentido mais profundo e traz uma lição de moral, uma sabedoria e uma filosofia. Em Bali, o dalang apresenta a peça ao ar livre onde a platéia acomoda-se sentada no chão. Porém é em Bali que o teatro wayang com o valor de ritual permaneceu e predominou por seu território. Lá o hinduísmo ganhou força e adoração quando o Islã durante o século XV invadiu a ilha. Ainda hoje em Bali, os dalangs fazem apresentações em recintos de templos, principalmente na entrada do primeiro pátio. Em 1931, o encanto misterioso do teatro wayang serviram de inspiração para o titeriteiro vienense R. Teschner que levou os conceitos do teatro de sombras da Indonésia para artistas do teatro de bonecos de toda a Europa. A arte do teatro oriental sobrevive em Java graças às academias criadas pelo Estado e também pela ajuda dos últimos sultãos. Podem ser vistas ainda hoje em vilarejos nas estações de seca tendo o toca fitas como substituto do trabalho de orquestra em apresentações de teatro de sombras. Atualmente nas cidades da Indonésia, o teatro wayang é tão comercializado quanto as diversas formas de danças. Os indonésios ainda sentem o encanto mágico do teatro wayang a julgar por um poema criado pelo escritor javanês Noto Suroto: Senhor, deixe-me ser um wayang em vossas mãos. Posso ser um herói ou um demônio, um rei ou um homem humilde, uma árvore, uma planta, um animal... Mas

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deixe-me ser um wayang em vossas mãos... Ainda não lutei minha batalha até o fim, e logo vós me levareis: eu poderei descansar com os outros cuja peça esteja acabada. Estarei na escuridão com as miríades... E então, após centenas ou milhares de anos, vossa mão mais uma vez me concederá o dom da vida e do movimento... E eu, novamente, poderei falar e lutar a boa luta. Margot

Berthold,(2001, p 51),

2.4 Na Turquia O desenvolvimento histórico e cultural da Turquia e conseqüentemente o teatro turco sofreram influência dos rituais xamânicos (vem do xamanismo, religião de certos povos da Ásia, baseada na crença de que os espíritos maus ou bons são dirigidos pelos xamâs) e da vegetação trazidos da Ásia Central, misturado com o culto a Dionísio (Deus grego dos ciclos vitais, da alegria e do vinho); influência da antiguidade; rivalidade com Bizâncio; e influência do Islã. A aparição do teatro de sombras turco se deu no século XIII após a invasão dos mongóis na China que depois foram para a Turquia. Temos o conhecimento do famoso personagem Karagöz que vem de uma lenda e que significa homem de olhos negros e ainda vive em países de partes da Europa e África mediterrânea, Turquia, Síria e Tunísia. Os principais personagens da comédia Turca e os dois personagens do teatro de sombras, Karagöz e Hadjeivat viajaram através da Grécia, Hungria e Áustria, com missões de ordem diplomática otomânica. Esses personagens tornaram-se ancestrais de uma nova e independente forma de teatro composta por mímicos turcos, judeus, armênios, gregos, mas sobretudo por ciganos dotados de habilidades, como malabarismo, magia, danças e jogos acrobáticos. O herói do teatro de sombras turco e árabe é batizado de Karagöz (olho negro), também dá o nome ao espetáculo de sombras. Karagöz (figura 11) é conhecido na Grécia, nos Bálcãs (Península ao sudeste da Europa) e em lugares longínquos da Ásia. Espirituoso, possui uma retórica rápida e bem elaborada, trocadilhos penetrantes aos ouvidos e jogo de palavras grosseiras. Existe uma grande quantidade de lendas que contam a sua origem. A mais popular lenda de Karagöz afirma que ele e seu companheiro Hadjeivat existiram no século XIV, período em que estava sendo construída a grande mesquita de Bursa. Os dois duelavam verbalmente e suas palavras ridículas paralisaram as obras de construção, pois os pedreiros em vez de trabalhar ouviam as longas e divertidas discussões de Karagöz e Hadjeivat.

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O sultão ao descobrir tal fato, mandou enforcar os dois, como diz a lenda: Mais tarde sentiu arrependimento de sua própria atitude. Um dos seus cortesãos teve a idéia de ressuscitar Karagöz e Hadjeivat na forma de figuras de couro coloridas e translúcidas e sombras numa tela de linho. “Durante a construção de uma mesquita, o Sultão mandou prender e decapitar dois obreiros, que atrapalhavam o bom andamento da obra com suas histórias engraçadas. Então, tudo ficou muito triste neste lugar... e o próprio Sultão arrependeu-se e ordenou que revivessem o espírito destes dois obreiros. Sem ter outra saída, a corte, utilizou esta técnica dominada pelos Mongóis para fazer uma representação das histórias dos operários, os quais eram chamados de Karagöz e Hadjeivat seu amigo.

Figura 11: Turquia, teatro de sombras, Karagöz.

Karagöz tem nariz em forma de gancho, barba negra, olhos astutos de botão e mão direita movendo-se com violência; Hadjeivat está vestido de mercador é cauteloso e pensativo, bom caráter e sempre sendo enrolado. Segundo Borba Filho (Beltrame, 2005 p 45) Karagöz tem como característica um ser trapalhão, hipócrita, brutal, egoísta e libidinoso que vive fazendo trapaças com seu inseparável amigo Hacivad que sabe tudo, é mentiroso, inescrupuloso e tem sexualidade espantosa, tem o corpo barrigudo, calvo, corcunda e tem órgão sexual monstruoso. Outros personagens completavam o teatro Karagöz: Celebi: jovem que se veste com extremo excesso; a linda Messalina Zenne; Beberuhi, anão ingênuo; o persa com sua vasilha de madeira d’água; o albanês e os outros personagens regionais; o viciado em ópio; o bêbado. Diversão predileta do povo e da corte do sultão, o teatro de sombras era apresentado

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em casamentos e circuncisões. O auge de Karagöz chega com o início do Ramadã, mês sagrado do jejum quando todos vão até os cafés ao entardecer.

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TEATRO DE SOMBRAS OCIDENTAL

Na Europa é incerto o período em que o teatro de sombras foi inserido. Neste continente ele é trabalhado mais como espetáculo do que um ritual propriamente dito, como acontece no Oriente. É preciso encontrar um sentido para se fazer teatro de sombras e não somente desenvolvê-lo com o propósito de obter um resultado estético. Neste capítulo destacamos as opiniões de Maryse Badiou2 estudiosa e pesquisadora da área de artes cênicas sobre o teatro de sombras ocidental tanto no âmbito teórico quanto as experiências vividas e de grupos teatrais como o diretor teatral Jean-Pierre Lescot e o Teatro Gioco Vita que trabalham a arte do teatro de sombras contemporâneo, falando a respeito das diferenças entre o teatro de sombras ocidental e oriental. Segundo Maryse Badiou o homem arcaico segmentou a realidade exterior que se apresentava como continua, dando nome às coisas e torná-las únicas, para por um pouco de ordem e desenvolveu a função organizadora da linguagem que possibilita dar significado e entendimento do desconhecido através da idéia de representação. Tais necessidades permitiram para nossa espécie achar um equilíbrio e desenvolver cultura e civilização. Para ela o importante não é a reprodução da realidade, mas sim a criação da imagem que transmita o seu ideal. Essa realidade imaginada é que deverá ser inventada e oferecida à humanidade através da ficção. O irresistível e misterioso poder da ficção nos fazem deslizar a um nível de sensação estranha a realidade concreta. Quais os instrumentos que melhor materializam a ficção na existência humana? O objeto animado - marionete e sombra - através do movimento podem mostrar a expressão máxima da vida humana porque atua dentro do mundo da matéria inanimada e a vida do sujeito. Este objeto animado encanta o criador quando se procura coisas além da imediatez e quando se faz abstração do real conseguindo a 2

Professora, doutora e pesquisadora em teatro. Publicou o livro “As sombras das Marionetes ou Figuras

de Deus” pelo Instituto de Teatro de Barcelona. BADIOU, Maryse. As marionetes – A duplicidade do ser e não ser. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 17-24. – Florianópolis: UDESC, 2005.

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verdadeira essência da realidade. Sem vida as sombras com a sua grande singularidade e o poder de manipulação vivem diante dos espectadores. A sombra recupera através dos mitos, das crenças e das tradições ainda vivas atualmente em sociedades consideradas “primitivas” a manifestação da metamorfose e mudanças de sua natureza. Outro pesquisador, Jean Pierre Lescot3 (figura 12) que trabalha com a linguagem de sombra no teatro contemporâneo. Descobriu o teatro de sombras, através de um espetáculo balinês, em Paris em 1968. Na mesma época aprendeu com as lições sobre “O Teatro e seu Duplo” , as quais até hoje mantém influencia sobre as pesquisas do seu trabalho.

Figura 12: Jean Pierre Lescot.

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Diretor teatral da Cia. “Le Phosphènes” – Fantenayboir (França). LESCOT, Jean Pierre. Poesia e amor

no teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.). Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 9-11 – Florianópolis: UDESC, 2005.

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Montou com a Cia. um espetáculo quer trabalha com a mobilidade das silhuetas, joga com a cumplicidade da luz e com a transparência de tecidos, buscando destacar a característica expressionista da imagem. Para Jean-Pierre, o que marca o teatro de sombras é a leitura original da imagem produzida por esta linguagem. A imaterialidade da sombra remete aproximação com a magia ambientando uma expressão para a linguagem relacionada a sonhos. As figuras que interagem com a fonte luminosa e a vida da silhueta trazem formas muito expressivas. A sombra pode assumir várias características quando ela se distancia ou se aproxima da tela, conseguindo vibrar, ondular, desaparecer, ser opaca, translúcida, se deformar, ou ao contrario tornar-se nítida e contrastante. O teatro de sombras não pode ser limitado a fórmulas ou teorias ou com princípios técnicos que darão resultados previsíveis. Essa linguagem promove um encontro com uma matéria que dá a possibilidade ser manipulada, contemplada, recriada. Um espetáculo de sombras poderá promover

um momento no qual

sentiremos emoções reais se deixarmos de lado as nossas idéias pré-definidas diante das coisas. Aqueles que assistem ao espetáculo de sombras darão significadas as coisas e importância subjetiva, e o ato de descobrir ou redescobrir nunca será inocente. Jean Pierre Lescot, acha que em seu trabalho atualmente, tem como tarefa informar as pessoas o porquê das imagens, já que elas não têm mais imagens para expressar as emoções. E acredita que o teatro de sombras deve complementar um grande livro de imagens, animado por um narrador. Ele acha que os desenhos das crianças são de fato formas para o teatro de sombras, porque elas soltam a imaginação e têm menos idéias definidas; a sensibilidade está no lugar da experiência, o amor acima da razão. Para ele o teatro de sombras é um modo de expressão contemporânea que possui sua linguagem específica. É o emprego de materiais simples e aparentes e a criação de imagens. É o grande revelador do nosso mundo primitivo. Sob o aspecto estético o poder das sombras reside na percepção pelo contorno, a visão do plano. É algo subjetivo formado pela “visão” e não a busca de “reprodução”. O diretor ainda acha que o teatro de sombras ocidental ainda procura sua autenticidade no quotidiano.

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O teatro Gioco Vita4 é um grupo de teatro de animação que trabalhava com bonecos de vara, luvas ou marionetes e a partir de 1976 depois de um encontro com o teatro de sombras de Jean-Pierre Lescot, num festival de Charleville-Mezières5, passou a se dedicar exclusivamente a pesquisas sobre sombras. O resultado dessas experimentações provocou uma verdadeira revolução no teatro de sombras contemporâneo, tornando-se o mais importante grupo a trabalhar com esse gênero. Partindo do teatro de sombras tradicional europeu, cuja projeção das sombras acontece sempre em telas com luz também fixa. Em seus espetáculos o Teatro Gioco Vita faz a luz variar sempre, seja em relação ao espaço, seja em relação às qualidades técnicas dos focos de luz. As telas ou telões de luz de projeção passaram a ser também móveis e com dimensões sempre surpreendentes. Atenção especial foi dada a relação corpo do ator-manipulador, o boneco/ objetos e as suas respectivas sombras. Na natureza a sombra muda constantemente. Existe em função de uma luz que flui. Trabalhar com sombras na natureza é como tentar prender o tempo, ou controlar figuras incorpóreas. No teatro, a situação é diferente, a luz artificial pode ser controlada, e a sombra pode tornar-se objeto de investigações artísticas. Nos primórdios o conceito de sombra estava ligado à alma. A sombra era vista como reflexo da parte vital do homem. A alma de um corpo material manifesta-se em sua sombra. Pode ser vista também como o duplo. O nosso duplo, ou o nosso aspecto sombrio, desconhecido. Teatro de sombras é aquele em que um corpo é anulado em função de sua sombra, tomada como tal. Um bom teatro de sombras é aquele que nos remete e nos prende à sombra propriamente dita e não a figura/objeto. A especificidade desse teatro está na sombra projetada pela figura do boneco. O teatro de sombras, indiscutivelmente, tem uma poética própria que precisa ser refletida, respeitada. É uma experiência artística e cultural restrita a um tipo especifico de teatro.

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Grupo Italiano que trabalha com Teatro de Sombras. AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas

animadas – Máscaras, bonecos e objetos. 3a Ed. São Paulo: Editora USP, 1996. 5

Cidade do interior da França que sedia a mais importante organização de marionetistas de todo o

mundo. AMARAL, Ana Maria. Teatro de animação - Da teoria à prática. São Paulo: Ateliê Editorial, 1997. p.10

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Para Fabrizio Montecchi6 (Teatro Gioco vita), o que chegou na Europa foi um conjunto de técnicas obsoletas, um gênero teatral sem conteúdo e nem contexto. Por isso as grandes companhias teatrais contemporâneas estudam o teatro de sombras do Oriente com objetivo de descobrir o significado que seu próprio trabalho esconde. O Ocidente possui uma imensa distancia cultural que o separa do Oriente. Por isso é importante buscar no nosso patrimônio cultural a nossa razão de existência para dar sentido ao teatro de sombras Ocidental do presente. 3.1 Como fazer um filme de silhuetas O que é uma silhueta? É uma sombra? Nem sempre as sombras reais se alargam e se encurtam dependendo da projeção da luz. Porém uma silhueta se entende sempre com contorno bem definido e nítido perfil. Então um filme de silhuetas poderia se chamar um filme de recortes, porém estes recortes podem ser de todas as cores. Os materiais necessários são: tesoura, cartolina negra, papel adesivo, arame, uma câmera, luzes, placa de vidro e caixa de madeira para construir a mesa de animação. As figuras podem ser movimentadas com as mãos, dispensando as varetas colocadas sobre, uma placa de vidro, iluminada por baixo, (figura 13) fotografa-se todos os movimentos milímetro por milímetro. Gravando e exibindo todas as fotos a impressão que se tem é que a figura se movimenta com vontade própria.

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É membro fundador do grupo italiano de teatro de sombras Teatro Gioco Vita. Diretor do espetáculo “O

corpo sutil” no qual abandona a silhueta de objetos e utiliza exclusivamente a sombra baseada no corpo humano. O Gioco Vita revolucionou, desde suas primeiras montagens, a linguagem do teatro de sombras com um uso inovador da luz, tela, silhuetas, o trabalho do ator manipulador e suas múltiplas relações. Títulos como Gilgamesh (1982), O Pássaro de Fogo (1990) são espetáculos do grupo. MONTECCHIO, Fabrizio. Viagem pelo reino da sombra. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 25-30 – Florianópolis: UDESC, 2005.

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Figura 13: Cineasta movimentando personagem sobre placa de vidro iluminada.

Quando se deseja contar uma história, em um filme, é necessário imaginá-lo no papel. Não é recomendável utilizar-se somente de escritos, sendo necessária a produção de um storyboard. (figura 14) Nele são desenhadas as cenas com personagens e falas. Para cada cena são indicadas as quantidades de fotografias.

Figura 14 : Storyboard.

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A construção das figuras tem as seguintes fases: primeiramente esboçadas em papel e depois transferidas para uma cartolina preta de espessura média e recortadas em sua íntegra. (figura 15) Depois esta figura é desmembrada de acordo com as suas articulações. Em cada parte é feita uma perfuração onde é fixado um arame para garantir as articulações.

Figura 15: Construção das figuras.

A articulação da figura se faz cuidadosamente com estudo e ensaio de todos os movimentos. Durante os ensaios é recomendável marcar as posições para assegurar que a figura esteja no momento oportuno e lugar desejado de modo que mostre a trajetória de um movimento contínuo, construindo dessa forma a animação das personagens. (figura 16)

Figura 16:Articulação das figuras.

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O cenário é o apoio para a narração da história, além de bonito deve ter um significado de acordo com a trama. Os elementos principais do cenário estão em primeiro plano ao mesmo nível das figuras, porém para a ação das silhuetas é necessário um fundo claro. Para tonalidades de cenários mais claros colocar papel manteiga em último plano sobre a placa de vidro iluminada e para cenários de tons mais escuros colocar em plano acima mais próximo do plano das figuras, dando a impressão de profundidade para as cenas. (figura 17)

Figura 17: Os planos de cenários das figuras.

Toda trama se desenvolve de perfil numa superfície, fazendo-se necessário a cada animação do personagem também se mover todo o cenário sendo que ambos são controlados milimetricamente através de uma régua com escala para controlar a velocidade, colocada abaixo da base do cenário. Esta mesma escala é utilizada para compor a trilha sonora que deve obedecer ao mesmo ritmo.

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4 TEATRO DE SOMBRAS NO BRASIL O teatro de sombras no Brasil é uma arte muito nova e pouco popular em comparação com o teatro de bonecos, por exemplo. Em nossa pesquisa não encontramos a data de sua chegada ao nosso país. Neste capítulo apresentaremos relatos e opiniões de estudiosos e praticantes do teatro de sombras, entrevistas com dois diretores teatrais, cujos núcleos são referências no Brasil. Marcello Santos da Cia. Karagöz K, Curitiba (figura 18) e Valter Valverde da Cia Luzes e Lendas de São Paulo (figura 19). Segundo Eder da Costa Paulo7, o teatro de sombras tem facilidade em produzir imagens e a sombra corre o risco de ser simplesmente sombra. Ele na verdade tem uma linguagem específica que se fundamenta numa dramaturgia que cria imagens expressivas, ele não é construído no plano da narração. Ao utilizar a fala, é conveniente que exista uma sincronia entre o movimento e a linguagem verbal, admitindo uma convenção que diz que a personagem que estiver em movimento é aquela que está ligada à fala, enquanto as demais ficam imóveis. Mesmo que essa convenção não seja uma regra fixa é importante que se destaque aquelas personagens que se manifestam. Descrevemos a seguir alguns elementos do teatro de sombras:

4.1 Silhuetas: As silhuetas são peças recortadas que podem ser confeccionadas com papel como: papelão, papel couro, sola e etc. O material que permite a manipulação da silhueta pode ser arame, bambu, ripa de madeira. As silhuetas podem ser personagens, animais, arvores, casas, etc; inspiradas em temas, histórias, contos, contextos. A partir das suas articulações nos braços e pernas de uma personagem surge o movimento, a vida das silhuetas. Para iniciantes uma ou duas articulações são suficientes, pois é preciso habilidade e prática para personagens mais elaboradas. 7

Ator, pesquisador CNPQ e aluno de graduação, curso de licenciatura em Artes Cênicas da Universidade

do Estado de Santa Catarina – UDESC. PAULO, Eder da Costa. A dramaturgia no teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 85-91 – Florianópolis: UDESC, 2005.

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4.2 Objetos: A escolha dos objetos tem como critério o tema da ação que será apresentada. Verifica-se com diversos materiais, testando-os e observando as possibilidades de sombras que cada objeto projeta na tela. Pode-se produzir com as sombras diversas formas, algumas pouco expressivas se for apresentada a reprodução real do objeto, enquanto outras formas ganham significados particulares e podem ser compreendidas de várias maneiras.

4.3 O Cenário: O cenário pode ou não ser usado nos espetáculos, dependendo do tema. Ele situa um lugar, um ambiente. Quando ele trabalha somente com a função de representação, é conveniente utilizar pouco espaço da tela, geralmente um dos lados ou na base, serve como símbolo para leitura e entendimento de um lugar.

4.4 A Sonoplastia: A música contribui, e ajuda a criar o clima, que uma cena quer passar. A sonoplastia pode ser constituída por músicas ou ruídos, E a música pode ser executada ao vivo ou já gravada e reproduzida em aparelhos sonoros.

4.5 Cores: Podem ser utilizadas na tela diante de fonte luminosa. De acordo com a cor usada na cena, cria-se o ambiente que se deseja refletir, por exemplo uma tela vermelha cria um clima trágico ou dramático, uma tela amarela pode trazer a sensação de alegria, grande clareza, o azul, o aspecto de esperança, calma, serenidade, noite. Enfim dependendo da cor utilizada na tela, poderá arrancar do público diversas

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reações, por isso é importante conhecer as influências psicológicas que as cores costumam provocar no ser humano. Existe também o recurso de mudar a cor do foco luminoso usando lâmpadas coloridas ou gelatinas, esse efeito das cores, só ocorre por causa da luz.

4.6 Iluminação: As sombras variam de forma e de tamanho por causa do foco de luz. Seja tanto na intensidade luminosa quanto na distância entre silhueta e foco de luz. Geralmente a fonte de luz fica estável e imóvel, exceto em casos particulares, ela é colocada atrás da tela e afastada da mesma de maneira a não incomodar a visão do espectador. Através de diversos modos de manuseio das luzes, podem-se obter muitos efeitos visuais e provocar sensações e emoções. A cultura ocidental acrescentou um recurso ao teatro de sombras: o plano frente de tela, o que fez crescer as possibilidades de experimentações com as imagens das sombras. O plano de fundo é onde se obtém a bidimensionalidade enquanto o plano de frente trabalha-se com as três dimensões dos volumes dos objetos.

4.7 O Ator: É tradicional o ator ocidental “encarnar” um individuo, enquanto o oriental faz a encarnação dele mesmo. E mesmo utilizando técnicas diferenciadas, eles utilizam uma linguagem que trabalha o diálogo que aconteceu dentro do mundo da alucinação visual, dos sonhos, que as sombras envolvem os seus apreciadores. E com tantas técnicas existentes a disposição para serem exploradas e com uso da criatividade e de efeitos visuais é possível fazer um teatro de sombras enriquecedor, desde que a dramaturgia seja fator determinante da criação e produção deste texto. A dramaturgia poderia-se dizer que é o fator mais importante do teatro de sombras.

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Figura 18: Cena do espetáculo “Tecno-Shadow”, criação Cia. Karagöz. Foto: Junho/2007 (Fabiana)

Figura 19: Cena do espetáculo “Albertinho, menino voador”, criação: Cia. Luzes e Lendas. Foto: Julho/2007 (Fabiana)

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5 Valter Valverde – Cia. Luzes e Lendas

Um dia, como curiosidade e busca do aprimoramento pessoal, Valter Valverde (figura 20) inscreveu-se em um curso de teatro, pegou gosto pela “coisa”, fez um curso profissionalizante de ator no Teatro Macunaíma e tirou sua DRT.

Figura 20: Valter Valverde, diretor da Cia. Luzes e Lendas. Foto: Abril/2007 (Giuseppe)

Atuou em espetáculos com muito texto cuja matéria prima eram sua voz e seu corpo. Fez paralelamente cursos de mímica, canto, clown e incorporou a arte em seu cotidiano. Descobriu como aluno de um curso ministrado na Oficina Cultural Oswald de Andrade, pertencente a Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, a vertente da animação: teatro de sombras. Há oito anos trabalha com teatro de sombras e hoje é um dos poucos e conceituados artistas do gênero que atuam em São Paulo. Valter Valverde também prestou assessorias no quesito sombras a outros grupos de teatro de animação: Cia Articularte e Cia de Teatro Por Um Triz. Criou a Cia. Luzes e Lendas onde desenvolve seus trabalhos utilizando objetos e bonecos para brincar com a luz (ou a sombra?). Através de historias como ele mesmo diz: “busco na luz e sombra

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possibilidades de ampliar a imaginação”. A Cia. Luzes e Lendas o longo de sua trajetória, fazendo uso da técnica do Teatro de Sombras vem contando histórias para o público infantil através dos espetáculos: “A Ponte Quebrada”, (figura 21) história clássica do teatro de sombras escrita pelo francês Seraphin no século XVIII na qual um menino conserta uma ponte sobre um rio, impedindo a passagem de um viajante para o outro lado. O menino não faz nada para ajudar o viajante e ainda por cima zomba dele. O viajante termina dando uma lição ao menino levado;

Figura 21: Personagens do espetáculo A Ponte Quebrada. Criação: Teatro Seraphin no século XVIII. Adaptação: Cia. Luzes e Lendas. Foto: Abril/2007 (Giuseppe)

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“Os Três Porquinhos”, (figura 22) uma adaptação da conhecida história para a linguagem do teatro de sombras, ressalta valores como amizade, companheirismo e responsabilidade para buscar uma proximidade com a criança, tanto na leveza do texto como nas ações, onde o conflito entre o lobo e os porquinhos é apenas uma diversão saudável.

Figura 22: Personagem “Três porquinhos”. Adaptação: Cia. Luzes e Lendas. Foto:Abril/2007 (Giuseppe)

“O Pescador”, (figura 23) uma historia em que um homem sai para pescar em seu barco num local que parece poluído, pois somente sujeira vem ao seu anzol e conseqüentemente isso o faz desistir da pesca. A historia procura trazer para o publico, uma reflexão a respeito da importância de não se degradar o meio ambiente e que o lixo nosso de cada dia não deve ser jogado em qualquer lugar.

Figura 23: Personagem da historia “O Pescador”. Criação: Cia. Luzes e Lendas. Foto:Abril/2007 (Fabiana)

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O mais recente espetáculo produzido pela Cia. Luzes e Lendas: “Albertinho, o Menino Voador”, apresenta trechos de algumas histórias do escritor Julio Verne e da evolução das invenções que o homem vem criando para poder voar e as aventuras de Albertinho, inspiradas nas histórias de Santos Dumont começando pela sua infância quando já pensava em construir uma maquina voadora até o momento em que realizou o primeiro vôo com o “14 – BIS”. O espetáculo mistura vários elementos: teatro de sombras com figuras recortadas, a interpretação dos atores com textos e o teatro de animação com bonecos e objetos. (figura 24)

Figura 24 Cena do espetáculo “Albertinho, menino voador”. Criação: Cia. Luzes e Lendas. Foto:Julho/2007 (Tânia)

Entre outras produções da Cia. Luzes e Lendas que ao longo de sua existência apresentou espetáculos em teatros como “Arthur Azevedo”, “Martins Pena Mesquita” em São Paulo, Casas de Cultura da Prefeitura da Cidade de São Paulo e teatros situados em outras cidades, além de participar do “Programa Recreio no Parque” projeto da Prefeitura de São Paulo e de Festivais de teatro de animação. Na entrevista, Valter Valverde nos fala sobre os seus trabalhos de experimentações e criações dentro do mundo “luz e sombra”, descreve as técnicas de manipulação, da confecção de silhuetas, da utilização de objetos para projetar imagens e da interpretação de ator. Ainda comenta que a arte milenar do teatro de sombra é importante para as pessoas: ”Vejo que o mundo precisa de histórias para se entender, para se comunicar com o outro e para melhorar o mundo. Hoje ponho a

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mão na massa: papelão, idéias, estilete, livros e, sobretudo, pessoas. Acredito nessa dinâmica: historias, ilustração, objetos, material, imaterial, luz e sombra...” (figura 25)

Figura 25: Valter Valverde montando o mini-teatro com tela. Foto: Abril/2007 (Giuseppe)

A seguir os melhores trechos da entrevista de Valter Valverde, ator, sombrista e diretor do núcleo Cia. Luzes e Lendas, falando a respeito do seu trabalho com o mundo da luz e sombra destacando suas opiniões e experiências e falando sobre a importância e o poder que esta arte milenar do Oriente possui de tentar melhorar o mundo.

5.1 Entrevista com Valter Valverde Atualmente no Brasil, o Teatro de Sombras é bem difundido? V.V - Agora o interesse está aumentado, antes era muito raro encontrar pessoas ou grupos que se interessassem por esta linguagem, de um tempo para cá, vem crescendo.

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Qual a reação das crianças, quando entram em contato com a linguagem? V.V - Elas ficam fascinadas, querem participar de todo jeito, e quando atuam se soltam com mais facilidade do que no teatro tradicional, elas gostam muito de imagens. E os adultos que as acompanham, como reagem? V.V - Eles também ficam encantados, e acabam participando na criação de histórias e manipulação dos bonecos. Como é melhor se apresentar, em grupo ou individualmente? V.V - Bem! Em grupo fica mais emocionante, os diálogos dão maior empolgação; individualmente, é legal mais dessa forma fica mais próximo da contação de história. Vocês participam de vários eventos, não só apresentando peças, mas também oficinas? Cite alguns deles. V.V - Iniciamos as atividades do grupo participando de festas infantis, daí partimos em apresentações

de teatros

como Arthur

de Azevedo,

Martins

Pena,

Mesquita, entre outros, inclusive fora da cidade de São Paulo. Participamos também do Programa Recreio no Parque da Prefeitura da Cidade de São Paulo, Eventos em Casas Culturais, Centro Cultural de São Paulo e Festivais de teatro de animação. Como é a recepção nas escolas? V.V - Com as crianças tudo vira festa e um mundo de alegria, pois elas são muito receptivas e adoram participar. Com as pessoas envolvidas na área educacional encontramos dificuldades, pois muitas desconhecem a linguagem. Como é para você atuar? V.V - É uma brincadeira fascinante, luz, sombra e objetos e cenário; tudo vai se encaixando como num passo de mágicas é incrível, a todo instante estamos criando. Em cada momento que trabalho, ou brinco, com a sombra, vejo que é ela que me impulsiona a desvendar as infinitas variáveis da arte.

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No inicio você se apresentava apenas com objetos? V.V -

Não, já fazia apresentações com sombras em festas infantis, fiz outras

experiências introduzindo os objetos e reparando que ampliavam muito as possibilidades de criação, inclusive com efeitos incríveis conseguidos através de seus movimentos. O que lhe proporciona mais prazer, a sombra tradicional ou a alternativa, criada por vocês? V.V -

Tudo! Os bonecos coloridos lembram desenho animado; os objetos são

experimentos, instigam nossa imaginação. A sombra tradicional, devido à ampliação possibilita maior alternativa de experimentos, mais fonte de luz, mais objetos. Quanto tempo por dia, vocês se dedicam ao espetáculo? V.V - Depende, quando estamos atuando, ou seja, em cartaz, requer maior tempo de dedicação. Quando estamos na entre safra, nos dedicamos à criação de peças e a produção dos bonecos, o que também leva um bom tempo. Vocês só trabalham com histórias consagradas, conhecidas ou também criam suas próprias histórias? V.V - Os dois, trabalhamos com histórias conhecidas e também criamos nossas histórias, ligadas a vários temas como: “meio ambiente, “fatos Históricos”, e etc.” O que mais te fascina na Sombra? V.V - Tudo me encanta, mas os efeitos são impressionantes e a cada movimento nos surpreendemos com eles. A sombra cativa-me sobremaneira e ainda procuro aperfeiçoar-me neste mundo luz e sombra. Nós estamos observando peças coloridas e peças em preto, quais as diferenças entre elas? V.V - As coloridas nos lembram desenhos animados, as negras, no contraste com a tela, nos remete a algo mais antigo, com a TV preta e branca.

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Os materiais, também são diferentes, não? V.V - Sim! Os coloridos são de PVC Rígido e as negras de papel couro e varetas de bambu. Existe algum material alternativo? V.V - Sim! Antes usávamos o acetato para os transparentes, mas além de ser bem mais caro, também é menos resistente. Também pode se utilizar, papel cartão ou vários outros materiais, dependendo da finalidade. E o cenário, como é constituído? V.V -

Bem o cenário como vocês estão observando, além desse material (PVC

rígido e papel couro), também podemos usar alguns objetos que façam parte do enredo, como no caso: plantas artificiais, barcos e etc. Qual a razão de alguns bonecos, estarem pintados dos dois lados? V.V - Mais uma vez entra em questão o movimento, estando pintados dos dois lados, pode virá-los, dando nos maiores possibilidades de movimentos e efeitos. As maiorias das varetas estão fixas na cabeça e nas mãos, mas existem algumas fixas em outras partes. Por quê? V.V - A forma clássica é esta, mãos e cabeças (figura 26) reparem que com movimento dos braços, apesar das bocas não se moverem, dá impressão que estão falando. Os outros casos dependem da história, da necessidade do personagem de se movimentar como queremos, então alternamos os locais de fixação das varetas como: cabeças, pés, mãos, peito e etc.

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Figura 26: Valter Valverde demonstrando técnica de manipulação. Foto: Abril/2007 (Fabiana)

Às vezes a imagem fica mais nítida e também altera seu tamanho. Por quê? V.V - Depende da fonte de luz, de sua potência e também da proximidade dos personagens da tela. (figura 27)

Figura 27: Bonecos de sombra. Criação: Valter Valverde. Foto: Abril/2007 (Fabiana)

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6 Marcello Santos - Cia. Karagöz K Marcello Santos é ator, iluminador, compositor e produtor artístico, dedica-se há 22 anos às pesquisas relacionadas com a arte milenar do teatro de sombras. Especializou-se em teatro de sombras pelo Instituto Del Teatro de Sevilha na Espanha em 1986 com Jean-Pierre Lescot. Criou em Curitiba – PR a Cia Karagöz onde desenvolve os equipamentos de luz e projeção de imagens. Entre as criações da Cia. destacam-se o “Show Rock na Praia” com a banda Barão Vermelho em 1988 na cidade de Florianópolis – SC, criação e execução de cenário animado para o Show do Jô Soares em 2001 no teatro Guaíra de Curitiba-PR, criação do cenário de sombras no show “O Gigante da Floresta” de Helio Ziskind apresentado no Teatro Anchieta do Sesc Consolação em São Paulo, a criação do espetáculo “Kumbu, O Menino da Floresta Sagrada” (figura 28) de Rogério Andrade Barbosa em 2004 baseado nos contos de tradição oral africanos narrando as aventuras fantásticas do menino Kumbu em terras africanas.

Figura 28: Cenas do espetáculo “Kumbu, O Menino da Floresta Sagrada” Criação: Karagöz K.

Atualmente encena o espetáculo “Tecno-Shadow” que é resultado de 19 anos de pesquisa, um áudio visual sem texto, cujas imagens são produzidas por recortes e objetos projetados em uma tela criando ambientes urbanos e surrealistas, o enredo é composto por cenas do cotidiano que retratam o medo, o amor, a solidão e a beleza humana em uma trajetória de perseguição, indicado para adolescentes e adultos, mas que também encanta as crianças.

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6.1 Entrevista Marcello Santos Seus espetáculos atraem mais adolescentes e adultos, do que crianças, não? Marcello: Sim! É um espetáculo preparado para esta faixa etária, mas as crianças também se interessam. Como é a produção atrás da tela? Marcello: É uma luta contra o tempo, um corre, corre incrível, objetos, luzes e efeitos. Tudo é feito em tempo real, portanto temos que estar bem ensaiados, e agir com sincronismo. O Karagoz – K, no momento tem três componentes, é o número limite? Marcello: Não! Em nossos planos pretendemos chegar a um quarto componente, com Banda, Baixo, batera e contra-baixo. (Risos) Porque o nome Karagoz? Está relacionado com a lenda de Karagoz (em nossa pesquisa consta na pagina 30) do teatro de sombras da Turquia? Marcello: Sim! Estava em Buenos Aires , Argentina e encontrei um livro que trazia esta lenda, me interessei, gostei do nome e o adotei para o grupo. Porque Karagoz – K? Uma vez que na lenda é citado apenas Karagoz? Marcello: É pura superstição! Foi sugestão dada por minha avó, a qual me disse que traria mais sorte ao grupo. Pelo que notamos, os materiais utilizados por vocês é bem alternativo. Quais são? Marcello: Sim, os materiais são alternativos. Usamos papel Paraná, papelão, (figura 29) radiografias velhas, papelão couro, além do próprio corpo humano.

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Figura 29: Bonecos do espetáculo TecnoShadow. Criação: Cia. Karagöz K. Foto: Junho/2007 (Fabiana)

A sua tela nos remete a idéia de cinema, devido suas grandes dimensões. Quais materiais foram utilizados em sua confecção? Marcello: A estrutura foi idealizada pelo grupo e mandamos fazer a estrutura em alumínio na serralheria, e a tela é de tecido sintético, mas poderia ser usado um outro tipo de tecido também, como uma malha.

Notamos várias cores nos efeitos das sombras, como elas são obtidas? Marcello: Usamos várias fontes, e as variadas cores (figura 30) são obtidas com gelatinas (películas de celofane) de colorações diferentes.

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Figura 30: Cenas do espetáculo Tecno-Shadow. Destaque para as variações de cores. Criação: Cia. Karagöz K. Foto: Junho/2007 (Fabiana)

Quando começaram as atividades do grupo Karagoz K? Marcello: Em 1985, iniciamos no teatro estudantil em Itajaí-SC. Notamos em seu espetáculo grande quantidade de instrumentos e caixas metálicas com fontes de luz, (figura 31) em seus interiores uns carrinhos, para que eles servem? Marcello: A mesa de som foi criada pelo próprio grupo, os carrinhos também são idéias nossas, com eles movimentamos as lâmpadas. Estes recursos nos possibilitam maiores opções de efeitos e nas araras deixamos os materiais a serem utilizados, já em ordem de apresentação.

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Figura 31: Suporte para máscara produção do Tecno-Shadow. Criação: Cia. Karagöz K. Foto: Junho/2007 (Fabiana)

O trabalho de vocês é bem complexo, pelo que estamos notando. Requer muito tempo de preparo? Marcello: Sim! Tem que haver um sincronismo perfeito entre nós, pois como disse, nos apresentamos em tempo real e qualquer problema será percebido pelo expectador, seja, falha de manuseio dos objetos, ou falha de movimento dos próprios dançarinos. O grupo tem alguma experiência no sistema educacional brasileiro? Marcello: Sim! Participamos de um projeto de Educação em Curitiba-PR, onde desenvolvemos oficinas e realizamos espetáculos. E como foi a experiência? Marcello: Foi muito legal, houve interesse pelos alunos, eles se soltaram e participaram com afinco, criando novos efeitos, inventando histórias e personagens.

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Dia 18/06/2007, haverá uma oficina no Núcleo de Teatro de Animação coordenada pelo grupo. Qual objetivo deste evento? Marcello: Queremos mostrar nossas experiências com iluminação, produção de silhuetas e montagem de cenários, demonstrar técnicas de como se obter alguns efeitos e também passar dicas de como se explorar sombras do próprio corpo. No espetáculo que assistimos Tecno-Shadow, notamos a presença de uma sombra branca. Como ela é produzida? E o nome é este?Marcello: Sim! É este o nome! Ela é obtida com a utilização de luz branca que passa por uma máscara vazada no formato da imagem desejada. E a mixagem de imagens com cores diferentes. Como é obtida? Marcello: É um processo semelhante ao da sombra branca, só que com gelatinas de cores diferentes, as imagens são sobrepostas. Comparando o trabalho de vocês com o da Cia. Luzes e Lendas, notamos muitas diferenças. Quais são elas na sua opinião? Marcello: Sim! Nosso trabalho é mais..., como posso lhe explicar...nossas personagens não possuem um acabamento detalhado, como o deles, que são perfeitos, eu faço uma comparação aos personagens com as silhuetas da arte milenar do teatro de sombras oriental. Nossos objetos e sombras corporais são dispostas mais distantes da tela, enquanto em seus personagens deles a posição é bem mais próxima. E devido ao tamanho da tela, trabalhamos com grande variedade de instrumentos, performance corporal, e dança. Pelo tempo que vocês estão no mercado, devem conhecer vários grupos internacionais. Algun(s) lhe chamam a atenção? Marcello: Sim! Vários, entre os quais: “Senhor Z”, grupo francês que trabalha com vários manipuladores; “Teatro Gioco Vita”, grupo italiano conceituadíssimo e que revolucionou as técnicas tradicionais do teatro de sombras, ele possui vários manipuladores e um grupo espanhol que faz um trabalho semelhante ao nosso chamado “As Lacônicas”.

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É claro que vocês já conheceram o trabalho da Cia. Luzes e Lendas e pelo que notamos o grupo está presente hoje prestigiando o espetáculo Tecno-Shadow. Comente esse intercâmbio. Marcello: Sim, nos conhecemos há um bom tempo, e temos um bom relacionamento, isto entre os grupos é comum, assim fazemos intercâmbio de idéias, relacionadas às técnicas e atuações, mesmo sendo de temáticas e público de faixa etárias diferentes.

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Workshop - Cia. Karagöz-K. O workshop ministrado pela Cia. Karagöz-K de Curitiba, no dia 18 de junho de 2007, no Centro de Estudos e Práticas do Teatro de Animação, com sede na Biblioteca Municipal Monteiro Lobato em São Paulo foi muito interessante e proveitoso; Marcello dos Santos, diretor da Cia., iniciou a oficina contando um pouco de sua história e fez uma retrospectiva da carreira da Cia. Karagoz-K em sua passagem pelo Brasil afora e exterior. Falou um pouco sobre a história do Teatro de sombras, as suas origens no Oriente e a grande trajetória que essa linguagem percorreu para chegar até o Ocidente. Marcello demonstrou na prática as suas técnicas como: a construção de uma caixa

de luz (figura 32) comum e outra com suporte para máscaras, a confecção da tela e demonstrou algumas de suas produções e em cada uma delas comentou a respeito dos materiais alternativos, os preços de alguns deles, e em quais locais poderiam ser encontrados, uma vez que no Brasil não existe nenhuma loja especifica para esta linguagem artística.

Figura 32: Marcello demonstrando a construção do suporte de luz. Oficina dia 18/06/07. Criação: Cia. Karagöz K. Foto: Junho/2007 (Giuseppe)

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Em seguida Marcello explicou e demonstrou técnicas relacionadas com movimentos corporais, manipulação de luzes, mixagem de imagens e de cores, aproximação, afastamento das sombras e como produzir a sombra branca ou luz branca dirigida. Aproveitou o ensejo para nos mostrar o outro lado do espetáculo, os bastidores, tudo acontece do outro lado da tela, fazendo explicações de como montar os materiais de trabalho. Mostrou os processos de fabricação de alguns artefatos, como: mesa de som, carrinhos para movimentar focos de luz. Demonstrou a utilização de alguns objetos, a confecção de máscaras, cenários, personagens e etc. Explicou o funcionamento de todos os elementos que costuma utilizar nos espetáculos, salientou a necessidade de concentração e sincronismo entre os atores-manipuladores. Depois de passar pelas teorias, os participantes da oficina, a grande maioria atores de teatro e grupos de teatro de animação, tiveram seu momento de experimentar a prática de explorar as luzes e sombras. Baseado no espetáculo Tecno-Shadow da Cia. Karagöz-K, Marcello ia relembrando parte das cenas e ao mesmo tempo propunha aos participantes que representassem em grupo algumas delas. Valter Valverde, da Cia. Luzes e Lendas esteve presente participando da oficina, e levou algumas de suas silhuetas, explicando rapidamente como elas foram confeccionadas. Em conseqüência disso houve uma comparação e análise dos dois trabalhos, que apesar de utilizarem a mesma linguagem, o teatro de sombras, são bem distintos em vários sentidos, como a dimensão dos materiais, as técnicas utilizadas, a faixa etária do público. Fazendo um paralelo, Valter Valverde produz as silhuetas a partir de figuras recortadas e utilização de objetos e seu publico, que ele mesmo classifica, destinado ao público infantil. Enquanto Marcello dos Santos explora no “Tecno-Shadow” as sombras do corpo de dançarinos que realizam performances atrás da tela, de objetos e figuras recortadas, além de fazer mixagem dos focos de luz, fazendo do espetáculo, um conjunto de cenas construídas com imagens, sons e cenas sem textos falados, que provavelmente atrairá um publico de jovens e adultos. Acreditamos que a oficina foi uma experiência enriquecedora. Conhecemos através da prática, técnicas, processos criativos e possibilidades existentes dentro do teatro de sombras que poderemos utilizar para experimentar com os alunos em sala de aula.

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8 TECNICAS SUGERIDAS PARA A AREA PEDAGOGICA Neste capítulo apresentamos técnicas sugeridas pela educadora e autora Idalina Ladeira (1993) que julgamos interessante para trabalhar com educandos em sala de aula. 8.1 Teatro com tela A confecção do teatro com tela envolve a instalação de fonte luminosa, de tela que podem ser lençol, papel manteiga, etc e confecção de silhuetas para serem projetadas na tela. As lâmpadas utilizadas não devem ser leitosas, pois estas não possibilitam a projeção, ou seja, a formação de sombras na tela. O espote, por projetar luz muito forte, também não é aconselhado. O mais indicado é utilizar lâmpadas transparentes, de 40 ou 60 watts, colocadas dentro de latas, para possibilitar a concentração de luz. Existe a possibilidade de confeccionar figuras coloridas, em que se pode cobrir as latas com papel celofane na cor desejada ou construir silhueta com elementos vazados em papel celofane colorido. A tela pode ser um tecido branco, não transparente. Duas lâmpadas ficarão acesas do lado de dentro do palco, uma de cada lado. As figuras movimentadas atrás do tecido ou papel, por pessoas escondidas atrás do palco e da luz irão projetar a sombra. 8.2 Mini teatro com tela Outra opção é confeccionar o mini teatro com tela utilizando papelão, papel manteiga ou tecido branco e abajur ou lanterna. Aproveitando uma caixa de papelão, tamanho médio, mais ou menos 50 x 40 cm, recortando seu fundo, deixando moldura, será colado ou grampeado papel manteiga, tecido branco fino e etc., e as molduras externas decoradas, as silhuetas ou bonecos serão com menores dimensões. A área operacional do palco é escondida com uma cortina, ou qualquer tecido, o foco de luz é direcionado para dentro da caixa, e as silhuetas são movimentadas com as mãos ou manipuladas como marionetes, ou utilizando varas, etc.

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8.3 Palco Dobrável Existe a possibilidade de trabalhar o teatro de sombras com palco dobrável. Utilizando madeira, papel manteiga ou tecido branco e abajur ou lanterna. O palco é feito de madeira em três partes, uma central com a abertura do palco na parte superior e duas laterais presas a outra parte com dobradiças, funcionando como paredes, os atores-manipuladores ficam escondidos, manipulando as silhuetas ou bonecos de baixo para cima, diretamente com as mãos ou auxilio de alguns instrumentos. O teatro poderá ser decorado externamente com criatividade, usando tinta preta e fazendo colagens. 8.4 Luz direta na parede Bem mais simples é apagar as luzes, vedar a entrada de luz externa e direcionar uma lâmpada para a parede que servirá de tela. Na falta da lâmpada, pode se utilizar velas. Com imaginação e com bom posicionamento a apresentação tem inicio, as silhuetas podem ser confeccionadas, ou utilizar o próprio corpo, parcial ou total para projetar a sombra. 8.5 Tipos de figuras/ fantoches Inúmeros são os tipos de figuras/ fantoches que são utilizados nesse gênero, como por exemplo as sombras feitas com as mãos, elas são projetadas na parede durante o dia. É preciso preparar o ambiente: fechar as janelas e ascender lâmpadas ou velas, com as próprias mãos, (figuras 33 e 34) faz figuras de animais abrindo e fechando a boca, mexendo as orelhas e etc

Figura 33 e 34: Livro: Sombras feitas com as mãos:

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Já os fantoches manipulados com as mãos feitos de tecidos ou outros materiais em seu interior auxilia com as mãos, onde serve para dar movimentos de pernas. braços, cabeças , etc. Temos os fantoches de vara que são recortados em cartão, cartolina ou papel grosso ou qualquer outro objeto. Também podemos fazê-los de copinhos, onde são feitos de copos de papeis ou plásticos, cortados ao meio vertical, vaze os olhos nariz boca, o chapéu pode ser feito com outro copo, as vestes podem ser colocadas junto a vara, ex.: uma fita, vira gravata e etc. ou ainda de cone onde preparamos um cone de cartolina ou aproveitamos um cone de linha vazio, revista ou com papel ou tecido. A cabeça do boneco é fixada em uma haste, faça suas roupas e braços com retalhos de tecidos, as mãos podem ser de feltro ou cartolina, papelão etc.; passe a vareta por dentro do cone, cole a roupa com flexibilidade na parte mais larga do cone. Os movimentos do boneco são dirigidos pela vareta, puxando, elevando, virando para os lados. As marionetes com tubos de papel higiênico usam-se um tubo o qual forma o corpo, e com os outros quatro os braços e as pernas. Prende-os com um fio ou cordão. A cabeça pode ser de papelão, cartolina e etc., prenda cada membro com fio a uma madeira de comando e manipula-os através dos fios. Pode-se utilizar também retrós de linhas. 8.6 Materiais utilizados para confecção dos bonecos Dentre eles estão os mais variados papéis, tecidos, plásticos, madeiras, recursos naturais, sucatas, fios, fitas e Cia., tintas, etc. Os papéis são utilizados não apenas para confecção das cabeças e membros, como também das vestimentas. Podem ser utilizados jornais, papel de embrulho ou de anuncio, revistas, invólucro de balas, bombons ou presentes, guardanapo, coador de papel e etc. Quanto mais variado o tipo de papel, melhor. Cartolina e papelão de diversas espessuras, também podem ser aproveitados. Já os tecidos usam-se os retalhos de tecidos como: chita, algodão, morim, veludo, filó, seda, cetim, feltro, tapeçaria, renda, estopa, lenços e guardanapos. Pode-se costurar ou colar. Com os plásticos podemos aproveitar garrafas, copos, pratos, talheres, caixas, canudos, cones, isopor, espuma e etc. Podem ser colados com fitas adesivas ou colas. E na madeira os bonecos são mais difíceis de serem confeccionados, exigem o uso de instrumentos especiais como serras, formões, grampos, parafusos, pregos etc. usar colheres de pau, dão bom resultado.

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Ainda pode se usar palito ou pazinha de sorvete, palito de dente, vareta de bambu, cabo de vassoura, tocos leves, serragem e etc. As vestimentas podem ser de tecido ou papel. Os recursos naturais como os galhos, folhas, flores secos ou não, raízes, conchas, pedras e pedregulhos, terra, areia, argila, grãos, sementes, caroços, algodão, paina, palha, réstia de cebola e alho, casca de ovo, frutas e etc. Já as sucatas desde que não sejam deterioráveis, podem ser utilizados em sala de aula, como por exemplo: roupas velhas e acessórias (chapéus, bijuterias, maquiagens, chalés e etc.), além de revistas, garrafas, tampinhas, caixas. Com criatividade podem se transformar em lindos bonecos. Os fios e cia. para dar movimento as marionetes usa-se o cordonê escuro na falta dele podem utilizar fios de náilon, barbante, cordão e linhas. Na confecção de cabelos e vestimentas, empregamos fios, rendas, fitas, cadarços, botões, contas, lãs, algodão, franjas, penas, peles, sianinha, vieses, cordonês, sutaches, elásticos e etc. As tintas podem ser usadas variedades de tintas, isto vários tipos, como exemplo o látex que é o que mais rende. Guache, anilina, esmalte, pó de pintor, canetas coloridas e esferográficas, pincéis atômicos, carvão, maquiagens diversas e etc. O uso do pincel atômico ou caneta hidrocor é desaconselhado, por possuírem substâncias tóxicas em suas composições. O teatro de sombra dá mais importância à forma, do que ao acabamento, então é imprescindível uma pintura básica se necessário, formas bem definidas e elementos interiores vazados (bocas, olhos, narizes e etc.). 8.7 Sonoplastia É de suma importância trabalhar os mais diversos sons, levando os expectadores a perceberem os ruídos de seu universo sonoro, a ouvir a maior quantidade de sons possível e a identificar os objetos que os emitem. Ela deve manipular e ouvir sons de diferentes instrumentos de percussão, de corda e sopro. Isso se faz necessário para que ela consiga reproduzir os sons determinados pela encenação. Com o auxilio de diversos materiais os alunos podem emitir sons adequados para encenação, como por exemplo: panelas, regadores para imitar a chuva, apitos, sapatos, imitação de sons de cachorros, gatos, galinhas e etc. Tudo pode ser acompanhado por uma boa música, tocado ou cantado pelos educandos.

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9 A IMPORTÂNCIA DO TEATRO DE SOMBRAS NA EDUCAÇÃO Este capítulo revela as interpretações e adaptações para o Teatro de Sombras que fizemos a partir de livros de estudiosos e praticantes de teatro dentro da sala de aula. O material reunido procurou explanar a partir das características técnicas, as habilidades que os alunos poderão desenvolver experimentando Teatro de Sombras. 9.1 O teatro na escola Quando os alunos se unem para formar um grupo de teatro, um grande passo é dado, pois é um sinal de que existe vontade de dizer algo, refletir sobre alguma coisa, de criticar, de melhorar, de conscientizar sobre a manutenção e conservação da escola, pode ser o início de uma pratica de construção da cidadania. Segundo Tiche Vianna e Márcia Strazzacapa (2001), “o teatro na escola deve partir do interesse do aluno, deve ter um objetivo concreto, se deve saber como fazer e por que fazer.” As escolas têm vários problemas dos quais os alunos, muitas vezes não entendem, ou eles mesmos como os próprios causadores não têm consciência da existência deles. Teatro é um trabalho de responsabilidade, e não deve ser levado como brincadeira, mesmo que seja uma comedia, ele tem que ser sério na sua elaboração, na mensagem. Por exemplo, a peça Lisistrata8 é uma comedia que faz rir do começo ao fim, tem um conteúdo sério para fazer com que o povo, assistindo-a reflita sobre a situação do país. O teatro na escola tem importância fundamental na educação, ele possibilita ao aluno uma enorme aprendizagem como a socialização, a criatividade, a coordenação, a memorização, o vocabulário entre outras práticas importantes para o desenvolvimento do aluno. As escolas quando oferecem uma vivência teatral, proporcionam um aprendizado através da representação, que faz o aluno se expor e confrontar seu mundo com o mundo que os rodeia. O teatro pode aproximá-lo de sua cultura e se for bem realizado torna-se estimulante e poderá trazer outros aprendizados como a vivência em grupo, a criação coletiva, e o ato de compartilhar diversos pontos de vista.

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As mulheres de Atenas e Esparta resolvidas a não se entregar aos belicosos maridos até que finalmente estejam prontos a fazer a paz.

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O objetivo do teatro na escola, não é formar ator, mas proporcionar ao aluno a vivência dessa linguagem artística para que possa conhecê-la e ter subsídios suficientes para integrá-lo a seu universo cultural. Através do teatro, o professor pode perceber traços da personalidade do aluno, observar seu comportamento individual e em grupo, os traços do seu desenvolvimento, e também permite ao professor um melhor direcionamento para a aplicação do seu trabalho pedagógico. O ouvinte de uma historia ao tentar compreendê-la em seus detalhes, empreende uma atitude interpretativa, que faz nascer o pensamento critico. Ao confrontar-se com a própria vida, no exercício de compreensão da obra, o espectador revê e reflete sobre aspectos de sua historia, do seu passado, estando em condições de efetivar transformações em seu presente. O espectador envolve-se num processo contínuo de sua autonomia critica e criativa, ao assumir a sua própria historia, tornando-se capaz de redesenhar um projeto para seu futuro. 9.2 Os objetivos do teatro de sombras na educação: Ao jogarem com os colegas, ao inventarem diálogos, exprimindo-se, os educandos alcançam os principais objetivos do teatro de sombras na educação, ou seja, desenvolvem as percepções visuais, auditivas e táteis. A linguagem do teatro de sombras possibilita aos alunos espaço para escolherem, manusearem materiais; criarem diálogos; trabalhar a percepção da seqüência de fatos; ganhar noções do espaço temporal; desenvolver a coordenação de movimentos ao articularem os bonecos animando-os com graça; dar expressões gestuais; orais e plásticas; trabalhar a criatividade, na invenção de personagens, cenários e diálogos; aguçar a imaginação; desenvolver a memória, a socialização, enriquecendo muito seu vocabulário. Por prender a atenção dos alunos, proporcionando distração, entretenimento, o teatro de sombras pode ser um excelente auxiliar para trabalhos interdisciplinares, deixando claro que não é conveniente que os bonecos substituam o professor, repetindo simplesmente o conteúdo das matérias. Devem-se desenvolver atividades onde os bonecos estejam presentes para discutir tais conteúdos, em diversas situações de dramatização. Os educandos desenvolvem várias habilidades quando ocorre o contato direto com o material, confeccionando os bonecos, criando diálogos e histórias e encenando as peças.

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9.3 A confecção dos bonecos: É recomendável o professor não deve usar todo material de uma só vez, e sim planejar as atividades de forma a privilegiar o desenvolvimento de alguns aspectos da inteligência do educando, pois todo o processo é importante. Também deve racionalizar a quantidade de objetos empregados para promover um intercâmbio de materiais entre as salas para que todos se beneficiem e dessa forma possibilitar maior diversificação e maiores horizontes de aprendizagem. Durante o manuseio com o material, o diálogo professor-aluno, poderá estimular os alunos a enriquecer seus conhecimentos, orientando-os e fazendo-os perceber e vivenciar, por exemplo, o sentido do tato quando estiverem em contato com uma superfície, dandolhes dicas, instigando sua curiosidade. Ao manuseá-las os educandos poderão perceber como são constituídas as superfícies: ásperas, lisas, duras, moles, lixadas, escorregadias, pastosas, líquidas e etc. Quanto às formas, podemos separar os materiais semelhantes, agrupando as iguais, propondo para os alunos a atividade de reconhecer e identificar algumas formas mais usuais como: quadrado, retângulo, triângulo, círculos e etc, e assim ir construindo o conhecimento de novas formas. Na construção, no esquema corporal, na montagem dos bonecos, é necessário nomear-se as partes do corpo, como: braços, pernas, olhos, bocas, nariz e etc. Podemos brincar com as cores, dando lhes alternativas para escolherem entre uma ou várias, que podem ser privilegiadas durante as atividades, como por exemplo, o verde, o laranja e etc.; desenvolver-se temas correspondentes à faixa etária do educando, como: Cores primárias, secundárias, monocromia, policromia, cores da bandeira brasileira, de times de futebol e etc. Quanto à espessura, podemos instigá-los a perceber com o contato e manuseio do material, se são grossas, finas, iguais, diferentes, mais grossas, mais finas e etc. Também a altura, pode ser trabalhada fisicamente, possibilitando aos alunos a tarefa de distinguir entre alto, baixo, médio, mais alto, mais baixo, nem alto e nem baixo e etc. Os tamanhos, também serão trabalhados e identificados pelos educandos com algumas indagações entre: grande, pequeno, comprido, curto, maior e menor. Ao trabalharmos a distância na colocação dos acessórios, como: olhos, nariz etc., o aluno ganha noção de espaço e identifica: longe e perto, próximo e distante, mais longe, mais perto, muito longe, muito próximo e etc.

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Quanto a localização e lateralidade, na montagem dos bonecos tomam ciência de posições como: de atrás, na frente, ao lado, em cima, em baixo, dentro e fora; bem como esquerda e direita. Ao trabalharem estes aspectos, os alunos fazem associações que integram as funções motoras, visuais, bem como as auditivas e táteis. 9.4 A criação de textos: Ao criarem os textos os alunos poderão aguçar sua criatividade, tornando-os naturalmente mais espontâneos, encorajando-os a terem iniciativa e poder de decisão, enriquecendo e ampliando seu vocabulário. Segundo Idalina Ladeira (1993) “existem dois tipos de jogos dramáticos: o jogo pessoal e o jogo projetado, praticado com auxilio de objetos”. As crianças não precisam decorar papéis elas criam cenas e as apresentam com palavras e manipulações próprias, dando vida às personagens, identificam-se com as mesmas, vivem seus sentimentos, suas emoções, reproduzem o que sentem ou o que viram ao observar outras crianças fazerem; encenam com facilidade e sentem prazer em reproduzir histórias ou situações para elas encantadoras. Dessa forma as crianças sentem que estão brincando ao mesmo tempo em que aprendem. Já entre os maiores, pode haver a dramatização formal, após a espontânea. Esta sim é ensaiada e pode ser compostas por criações livres, feitas pelos alunos, com orientação do professor, se necessário, ou ser uma reprodução de histórias ouvidas ou lidas, ou ainda, a apresentação de um texto escolhido pelos alunos ou sugerido pelo professor. 9.5 Encenação de peças: Uma dramatização formal respeita as seguintes fases: planejamento, execução e avaliação. O planejamento deve ser feito pelos alunos e pelo professor, conjuntamente, compreendendo desde a escolha do tema, das personagens, a caracterização dos mesmos, bem como a escolha do local para a apresentação, sempre orientados e supervisionados pelo mestre para que não fujam do exercício proposto. A caracterização das personagens deve ser simples. O importante é deixar que o aluno descubra por si só qual a melhor maneira de vestir os bonecos, e decida qual a roupa

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mais adequada e mais fácil de confeccionar, de acordo com o texto. O importante é dar ao aluno o poder de liberdade de escolha para que ele possa demonstrar seu poder de iniciativa e decisão. Nos ensaios, as histórias são estudadas quanto ao enredo; cada um decora a parte da personagem que vai representar. Os ensaios devem ser de preferência, executados na própria sala, com a presença de todos os alunos para que estes aprendam as suas técnicas. O professor pode repetir o ensaio fazendo um rodízio com as crianças, para que todos participem e se integrem. No que diz respeito a apresentação da dramatização já pronta e ensaiada, onde o aluno desenvolve seu papel e passa a ser “vidraça”, é importante orienta-lo para alguns tropeços, preparando-o para improvisações caso seja necessário. A avaliação deve ser considerada como incentivo ao educando. A observação do professor é muito importante, com a experiência, os alunos aprendem a conviver uns com os outros e revelam muito do seu eu. O professor tem a oportunidade de averiguar habilidades, analisar atitudes, observar comportamentos, aprender a conhecer seus alunos, o que muito o auxiliará no processo educativo. O esperado da avaliação é a constatação das mudanças de comportamento da criança, seu crescimento integral ao longo do processo educativo, não somente a partir do resultado final de um trabalho, mas levando – se em consideração o desempenho da criança durante todo o decorrer da atividade, ou seja, a avaliação deve ser contínua.

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10 Como trabalhar o teatro de bonecos: O educador primeiro precisa verificar o nível de desenvolvimento em que os alunos se encontram. Pode-se fazer isso através da manipulação de vários materiais e bonecos prontos oferecidos às crianças, com a organização de atividades desafiadoras, que valorizem a capacidade de descoberta de cada um em relação ao seu boneco. Os materiais devem estar de acordo com o desenvolvimento psicológico da criança, ser desafiante e proporcionar prazer durante a atividade. É importante que o educador faça sugestões e indagações estimulantes à criança no decorrer do processo, estimular o diálogo sem fazer correções, apenas observar e perceber se os trabalhos estão de acordo com o nível em que as crianças se encontram. Essa atitude não significa que tudo deve ser permitido e aceito. O professor deve interferir questionando a criança sobre o trabalho, levando a tomar consciência de sua ação e refletir sobre ela. Questionar significa ouvir a opinião da criança, valorizando-a e respeitando-a. O teatro de bonecos, mesmo profissional, costuma ser altamente participativo e questionador. Às vezes, trabalha-se apenas com um personagem, que conta histórias, canta, dança, aborda o público e conversa com ele. Um de seus objetivos na escola são a criação e recreação.

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11 As características de uma história: Para se construir uma história, devemos partir de: Introdução: Fase em que se apresentam as personagens, locais e época em que se passa a história. O local e a época podem ser descritos por um narrador ou representado pelo cenário. Os personagens podem ser da vida real, de contos, ou criados pelos alunos. Enredo: Refere-se às ações de cada personagem, ao desenrolar dos fatos. Clímax: É a parte culminante da história, que leva rapidamente à conclusão. Conclusão: É o desfecho, deve ser, dentro do possível, inesperado, surpreendente ou engraçado. Saber narrar histórias é uma arte. Elas divertem, dão prazer, desenvolvem a criatividade, a memória, despertam todos os nossos sentimentos. Um dos elementos mais importantes para que o jogo do teatro de bonecos alcance seus objetivos é a paciência do professor.

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12 Os PCN e o Teatro: Os Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte no Ensino Fundamental, Partes 1 e 2 da linguagem do Teatro, traz as seguintes orientações: Com a sanção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394, em 20 de dezembro de 1996, após muita luta debates, manifestações de educadores, a atual legislação educacional brasileira reconhece a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens, com sua inclusão como componente curricular obrigatório da educação básica, em seus diversos níveis. (artigo 26, parágrafo 2º). No ensino fundamental a Arte passa a vigorar como área de conhecimento e trabalho e visa à formação artística e estética dos educandos. A área de Arte refere-se às linguagens artísticas: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. Ao fazer, conhecer, apreciar produções artísticas, o aluno desenvolve sua cultura; ações estas que integram o perceber, o pensar, o aprender, o recordar, o imaginar, o sentir, o expressar, o comunicar. A realização de seus próprios trabalhos, assim como apreciação destes, dos seus colegas, e a produção de artistas, se dá mediante a elaboração de idéias, sensações, hipóteses e esquemas pessoais, tudo estruturado e transformado com a interação, com os diversos conteúdos de arte manifestada nesse processo dialógico. Os objetivos gerais do teatro ao longo dos terceiro e quarto ciclos, são os seguintes: Conhecer as dimensões artísticas, históricas, estéticas, sociais e antropológicas do teatro; Conhecer organização dos papéis sociais e contexto da construção da linguagem teatral; Improvisar com elementos da linguagem teatral com recursos disponíveis na escola e na comunidade; Apreciação com vocabulário apropriado dos próprios trabalhos, dos colegas e de diferentes profissionais; Identificar os momentos históricos do teatro, estéticas predominantes, tradição dos estilos e sua presença no teatro contemporâneo; Conhecer acervo histórico do teatro e seus profissionais; Acompanhar e registrar produção teatral da escola, da comunidade, pela mídia e as criticas sobre essas produções; Manter relação de respeito com seu próprio trabalho e o de seus colegas; Tomar conhecimento de profissões, aspectos artísticos, técnicos e éticos, do teatro e sobre seus profissionais. Reconhecer a pratica teatral como coletiva e solidária.

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Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio, Parte II, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – orientações. Através da produção e apreciação artística o aluno apropria – se de saberes culturais e

estéticos, fundamentais na formação social do cidadão. No Ensino Médio oferecer a continuação deste aprendizado pode levar o educando a trabalhar com arte ao longo de sua vida; quer seja música, artes visuais, dança, teatro ou outras manifestações, provenientes da ampliação dos saberes. Com o intuito de auxiliar o professor do ensino médio a melhor compreender a disciplina, o sentido do ensino aprendizagem de linguagens artísticas, sua relação com a área de linguagens, Códigos e suas Tecnologias, algumas das competências gerais que possam ser desenvolvidas com o educando. É fundamental a continuidade do aprendizado de arte no Ensino Médio, pois assim estará aplicando seus saberes sobre produção, apreciação e história expressas em música, artes visuais, dança, teatro e artes audiovisuais. Os assuntos e atividades a serem desenvolvidos no Ensino Médio devem ser escolhidos com intuito de possibilitar o exercício de colaboração artística e estética com os outros, com sua cultura e patrimônio artístico da humanidade, capacitando os estudantes a se humanizarem melhor como cidadãos com ética e respeito pela diversidade.

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14 EXPERIENCIAS PRÁTICAS EM SALA DE AULA Demonstraremos a seguir nossas experiências vivenciada na Escola Estadual Professor Wolny de Carvalho Ramos com alunos das 7º séries, interdisciplinarmente com as disciplinas de Leitura e Língua Portuguesa, conforme cronograma abaixo:

14.1 Cronograma Aulas:

Atividades:

1ª, 2ª e 3ª

Histórico, explicação, contos de lendas.

4ª,

Encenação de história e manipulação pelos alunos.

5ª, 6ª e 7ª

Produção de histórias pelos grupos.



Explicação de técnicas para confecção dos personagens e cenários.



Levantamento dos personagens, cenários e técnicas de sonoplastia.

10ª , 11ª e l2ª

Confecção dos personagens e cenários pelos grupos.

13ª, 14ª e 15ª

Ensaios gerais.

16ª, 17ª e 18ª

Apresentações dos espetáculos.

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14.2 Experiência prática (figura 35) interdisciplinar: A seguir descrição de todas as etapas, aula a aula:

Figura 35: Mapa rizomatico para o projeto ação. Foto: Agosto/2007 (Giuseppe)

1ª aula Dia: 22/08/07 Introdução histórica. Falamos inicialmente sobre o tema com uma apresentação geral dos conteúdos. No inicio os alunos imaginavam que o teatro de sombras tratava-se somente das brincadeiras de sombras que se faz com as mãos. Muitos ficaram surpresos quando falamos que as sombras poderiam ser obtidas com figuras chapadas e serem manipuladas por detrás de uma tela, onde está um foco luminoso refletindo luz. Apresentamos para os alunos o histórico geral do material que reunimos e interpretamos na pesquisa deste projeto.

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2ª aula Dia: 24/08/07 Explicação sobre história. Realização de apresentação mais detalhada da história do Teatro de Sombras em diversos países Orientais. Falamos e mostramos imagens a respeito das produções artísticas contemporâneas da Europa, como J. Pierre-Lescot e o grupo Gioco-Vita. Foi realizada a exibição de um DVD que filmamos e editamos de uma encenação de Teatro de Sombras apresentada por Valter Valverde da Cia Luzes e Lendas – São Paulo/SP , durante entrevista que nos concedeu. Também mostramos as fotos desta entrevista e de outra que fizemos com Marcello Santos da Cia Karagöz K – Curitiba/PR. Os alunos gostaram muito das idéias dos grupos teatrais e vislumbraram possibilidade de suas próprias criações. A maioria deles que gostam de desenhos e se identificaram mais com os bonecos articuláveis de sombra criados por Valter Valverde. Enquanto que os outros que aparentemente são mais desinibidos e que acham que não sabem desenhar gostaram da mistura de expressões corporais, dos trabalhos variados de iluminação e bonecos das criações da Cia Karagöz K. Notamos nos alunos manifestação para começar a produção de histórias, fazendo uso da imaginação, da pratica da criação e apresentando sugestões e soluções para as técnicas do Teatro de Sombras.

3ª aula Dia: 29/08/07 Contos das lendas: “A bailarina” da China e “Karagöz e Hadjeivat” da Turquia Contamos detalhadamente as lendas da China e da Turquia que dão uma explicação para o surgimento do Teatro de Sombras. O tema parece ter estimulado os alunos, eles realizaram voluntariamente uma pesquisa sobre a história do Teatro de Sombras Oriental e encontraram na Internet as lendas oriundas do Oriente. Alguns alunos e nós também nos surpreendemos ao constatar a coincidências de encontrar as mesmas lendas. Então durante a aula houve uma discussão, troca de opiniões, de informações. Foi um momento muito interativo, uma ótima relação professor aluno.

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4ª aula Dia: 31/08/07 Encenação da historia de moral: “A cobra e o vaga-lume” Encenamos com técnicas do Teatro de Sombras, para os alunos uma história de moral chamada “A cobra e o vaga-lume”. Ficamos contentes com a reação dos espectadores que demonstraram entusiasmo e aplaudiram muito. Os alunos mais extrovertidos arriscaram uma manipulação das personagens da “cobra e vaga-lume”, improvisando outras histórias. Os mais tímidos criaram coragem ao observarem os colegas , saíram de suas carteiras e também participavam fazendo pequenas encenações.

5ª aula Dia: 05/09/07 Início da produção das histórias. A 5ª, 6ª e 7ª aulas foram destinadas para os primeiros contatos dos alunos com a elaboração ou escolha da história para produção do Teatro de Sombras, consideramos estas aulas muito importantes, foram destinadas ao planejamento, à criação da idéia principal,que fará nascer a produção teatral dos alunos. A maioria dos grupos tinha idéias pré-definidas para as suas criações literárias. Eles apresentavam os argumentos, os temas das histórias e nós conversamos a respeito de possibilidades de criação dos elementos dos textos: diálogos, ações dos personagens, entre outras. Para os grupos que escolheram uma história montada achamos necessário verificar o conjunto: bonecos de sombras, encenação e adaptação do texto para o ritmo do Teatro de Sombras que é diferente das outras vertentes do teatro. Tivemos um momento para refletir num contexto geral a escolha dos principais materiais a serem utilizados na construção do espetáculo; dar estimativa de tempo de produção e ensaios e duração das apresentações finais. Em todos os momentos das aulas deixamos os alunos conduzirem o processo criativo, porém eles solicitaram a nossa opinião para as suas escolhas. Nós demos acessórias como sugestões, mas no final a decisão deles é que dava definição às histórias.

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6ª aula Dia: 12/09/07 Produção das histórias Aqui descrevemos um diálogo do momento em sala de aula: Victor:

Professor. A nossa história não tem diálogo, só ruídos

Ricardo:

A gente vai fazer como história em quadrinhos, desenhos!

Thales:É melhor a gente escrever e desenhar! Natália:

Professor lê a nossa história vê se ta boa?

Ohana:Entendi! A gente vai aumentar! Alexander:

Profesor! Você empresta o lobo pra gente?

Henrique:

É que a gente quer fazer um em movimento, correndo!

Caio:

É da hora! O lobo como atleta!

7ª aula Dia: 14/09/07 Produção de histórias pelos grupos. A maioria dos grupos já está em fase final das histórias, alunos que aparentavam ser desligados, estão mais antenados e produzindo! Novos diálogos: Rafael:

A nossa história, o final é surpresa, a gente não vai te mostrar antes!

Victor: É , se não, perde a graça! Lucas: Professor! Lê a nossa? Eu leio pra você, porque é rascunho! Alessandro:

Sim! Nós estamos bolando!

Leonardo:

Qualquer nome?

Amanda:

Professor! Ó, eles não estão ajudando!

Cainã: Não professor! É que a gente tem outra idéia! Carlos:Elas não querem ouvir a gente! Stéphanie:

Não professor! A gente vai entrar num acordo!

Nesse diálogo, percebemos que o trabalho em grupo ajuda nas socialização de idéias e tarefas.

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8ª aula Dia: 19/09/07 Explicação de técnicas para confecção dos personagens e cenários. Durante as 8ª e 9ª aulas nós fizemos uma apresentação das características técnicas do Teatro de Sombras, como escolha da estética e estilo das silhuetas e cenografias; dos tipos de articulações; uso do corpo ou não; os elementos sonoros (ao vivo ou gravação); sonoplastias; quantidade de silhuetas e cenários; duração de cada cena. Passamos para os alunos uma lista com estes elementos e explicamos cada um dos itens. (figura 36) Distribuímos estas listas para tentar otimizar o tempo e organizar as tarefas sem qualquer intenção de impor regras ou prazos rigorosos.

Figura 36 : Explicação das técnicas do teatro de sombras. Foto: Setembro/2007 (Fabiana)

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9ª aula Dia 21/09/07 Levantamento dos personagens, cenários e técnicas de sonoplastia. Neste encontro trabalhamos com mais detalhes as características técnicas do teatro de sombras: estética e estilo da criação e construção das silhuetas das personagens, cenários, e técnicas de sonorização que inclui a sonoplastia e trilha sonora. Considerando a duração de cada cena, a partir do roteiro da história foi realizado um levantamento de quantidades de personagens e cenários. As silhuetas seriam confeccionadas com papel ondulado extraído de caixa de papelão ou papel cartão, ou ainda com outro papel mais rígido e resistente. Os alunos escolheriam dentre estas opções, o material mais acessível. Partindo de um contexto geral do espetáculo, os alunos foram imaginando e registrando

as

idéias

de

sonorização

do

espetáculo.

Sugerimos

que

fizessem

esquematicamente o desenho de cada cena do espetáculo incluindo as falas das personagens. Os alunos estariam então produzindo um storyboard. Acreditamos que dessa forma os alunos conseguiriam visualizar e organizar melhor a produção do espetáculo. Com o storyboard elaborado, os alunos conseguiram idealizar mais claramente os efeitos sonoros necessários para compor a encenação. Cada grupo registrou para cada cena as sonoplastias enumerando os materiais preferencialmente os reutilizáveis, de pouco custo, para produzir os sons desejados. Ao chegar no final desta etapa, a 9a. aula, os alunos haviam concluído o planejamento para a construção da história e estavam cientes dos materiais necessários para levar para os próximos encontros. 10ª aula

Dia: 26/09/07

Confecção dos personagens e cenários pelos grupos. As 10a,

11a e 12a. aulas foram muito produtivas; os principais momentos de

construção dos elementos do espetáculo. Pudemos observar e até interagir no envolvimento dos alunos com a linguagem do teatro de sombras. Os alunos começaram a construir as silhuetas da cenografia. Para isso desenharam os cenários no papel e os experimentaram na tela de 60 x 30cm, coletiva com o foco de luz

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ligado. Isso possibilitou verificar a projeção da sombra do cenário e fazer correções necessárias. A preocupação maior deles, fundamental para obter um bom efeito visual no teatro de sombras foi a estética gráfica do espetáculo, e o tamanho dos cenários. A proporção deles dará espaço para a sombra refletida das figuras chapadas. Um cenário grande ocupará muito espaço visual da tela e poderá comprometer a animação das personagens. Recomendamos para que os alunos não construíssem figuras excessivamente incrementadas, com recortes complicados pois isto poderá enfraquecer a estrutura e a estética. Terminados os cenários, os alunos iniciariam a construção das personagens. Primeiro fizeram os protótipos desenhando em folha sulfite os bonecos de sombra. Todas as figuras iniciais foram testadas na tela para fazer se necessárias correções quanto à proporção entre cenário e personagem e também quanto à utilização de espaço visual na tela. A ação que o personagem faz em cena é o principal fator que define a construção, tamanho, articulações das figuras de sombras. Os alunos concordaram que peças móveis e articulações facilitam e divertem a manipulação. A maioria da classe optou por mostrar ações simples com as sombras que necessitavam somente de silhuetas simples, montar cenas curtas e dar ênfase à manipulação e improvisação. A etapa seguinte foi compor a sonoplastia e escolher a composição da trilha sonora. Notamos que os alunos sentiram mais dificuldades em trabalhar com esta técnica, do que com instrumentos ou acessórios para obter os sons desejados. Este foi um processo investigativo, existiam muitas idéias e possibilidades de produzir um som. A percepção auditiva foi uma habilidade muito explorada nesta fase de experimentação. O som e a trilha sonora são importantes para dar pontos de tensão às cenas, para criar por exemplo clima de suspense, alegria, tristeza e etc, dependendo da sensação que se deseja causar no espectador. Os alunos foram descobrindo que podem produzir efeitos sonoros com objetos, percussão corporal ou utilizar sons gravados.

11ª aula

Dia: 28/09/07

Confecção dos personagens e cenários pelos grupos. (figura 37) Apesar das dificuldades com a sonoplastia, essa aula foi produtiva e demonstram interesse, como mostra o diálogo.

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Gabriela;

Nossa sonoplastia está quase resolvida!

Thayna

A nossa ainda temos dúvidas. Nós vamos poder ler o texto ou temos que decorar!

Willian:

Professor! Como a gente fixa aqui ó?

Tamires:

Assim é melhor! Fica mais firme!

Alessandro:

Nós não estamos com muitas idéias da sonoplastia.

Alex:

É sim professor! Ajuda a gente!

Figura 37: Alunos confeccionando personagens. Foto: Setembro/2007 (Giuseppe)

12ª aula

Dia: 03/10/07

Confecção dos personagens e cenários pelos grupos. (figura 38) A maioria dos grupos continua finalizando a confecção dos personagens; mas um grupo já terminou e pede para ensaiar; como deu um problema com a fonte de luz (fio solto), ensaiaram só com a tela.

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Figura 38: Alunos confeccionando personagens. Foto: Outubro/2007 (Giuseppe)

13ª aula

Dia: 05/10/07

Ensaios gerais. (figura 39) Os ensaios da 13ª., 14ª.e 15ª. aulas foram experiências para verificar se os alunos estavam satisfeitos com os elementos que produziram nas aulas anteriores. Nesses testes utilizamos um recurso que os alunos gostaram muito. Na frente da tela colocamos um espelho que mostrava todo o espaço visual do espetáculo. Dessa maneira os alunos conseguiam ver as ações das silhuetas e em cada teste de manipulação eles treinavam a percepção visual. Ao

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mesmo tempo eles descobriam as diferenças estéticas e dramáticas ao variar os modos de movimentar as silhuetas. Muitos descobriram que ações simples, bem definidas, econômicas e objetivas tornavam as informações que desejavam transmitir, mais claras. E poucos efeitos proporcionavam sensação de mistério e magia às projeções das sombras. Acreditamos que os ensaios contribuíram para a realização de ajustes finais às produções teatrais e dar mais confiança aos alunos.

Figura 39: Alunos ensaiando o espetaculo. Foto: Outubro/2007 (Giuseppe)

14ª aula

Dia: 10/10/07

Ensaios gerais. (figura 40) Os grupos que ensaiaram nesta aula saíram-se bem, pois mesclaram alunos extrovertidos com introvertidos, com exceção de um grupo que desde o inicio foi problema, os outros dois, com pequenas correções, ficaram prontos para se apresentarem.

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Figura 40: Alunas ensaiando o espetaculo. Foto: Outubro/2007 (Giuseppe)

15ª aula

Dia: 17/10/07

Ensaios gerais. (figura 41) Os grupos que não se saíram bem nos ensaios repetiram os exercícios para aprimoramento.

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Figura 41: Alunos ensaiando o espetaculo. Foto: Outubro/2007 (Giuseppe)

16ª aula

Dia: 19/10/07

Apresentações (figura 42) Os grupos que se apresentam neste dia tiveram bom desempenho durante o trabalho e se saíram muito bem. O grupo da Amanda, Flavio, Stéphanie, Carlos e Cainã, no inicio deu algum trabalho mas depois seguiram e deixaram os demais para trás e com as pequenas correções dos ensaios se saíram muito bem com a história: “O grande mentiroso”. O grupo do Lucas, Lucas Henrique, Ricardo, Thales e Victor Stefan.,

após

pequenos reparos, se saíram muito bem com a história “Pediu tem que aguentar“, produziram vários sons com objetos, chocalhos artesanais e as próprias mãos. Alexander, Caio, Henrique, Rafael e Vitor, com a história: “O sonho dos Panamericanos”, inspirados pelo evento realizado em nosso país neste ano se saíram muito

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bem criando os melhores personagens em termos de articulação e com pequenos reparos deram um show de técnica e sonoplastia.

Figura 42: Alunas apresentando o espetáculo. Foto: Outubro/2007 (Giuseppe)

17ª aula

Dia: 24/10/07

Apresentações (figura 43) O grupo da Jéssica, Luana, Marcus, Paula e Natália, com a história: “Fazenda, fazendinha”, também conforme era esperado se saíram bem, fazendo os pequenos reparos necessários e improvisando quando preciso. O grupo da Luana, Mariana, Natália, Ohana e Tamires, após alguns problemas resolvidos internamente no grupo, melhoraram e se saíram dentro do esperado. A dupla Aline e Jacqueline, que com a nova constituição passou a ser um trio, se saiu muito bem em sua apresentação e não tiveram seu desempenho atrapalhado pela nova integrante, muito pelo contrário, contribuiu muito, pois estavam sobre-carregadas na apresentação.

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Figura 43 : Detalhe de apresentação do espetáculo. Criação dos alunos. Foto: Outubro/2007 (Giuseppe)

18ª aula

Dia: 26/10/07

Apresentações (figura 44) Os grupos que se apresentaram por último, apesar de terem dado trabalho durante as atividades, se saíram dentro do esperado, pois também tiveram as outras apresentações como exemplo. O grupo do Alessandro, Alex, Jair, Leonardo e Lucas, após várias interferências proveitosas se apresentaram e também se saíram bem, improvisando quando necessário e criando uma sonoplastia com a boca muito engraçada, fazendo a todos rirem. O grupo da Érika, Tamiris e Thayna, como já era esperado se saíram bem, após os reajustes necessários de confecção de personagens, cenário e sonoplastia; depois que se “ligaram” melhoraram muito seu desempenho.

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O grupo da Amanda Pontes., Claudia, Gabriela e Paloma, deu um pouco de trabalho na parte final de preparação, mas no final com a história:”Tempestade na ilha“ acabou se superando e se saíram muito bem com os ajustes e reestruturação feita.

Figura 44: Alunos apresentando espetáculo. Foto: Outubro/2007 (Giuseppe)

15 CONCLUSÃO

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O teatro de sombras é uma arte milenar oriental, nasce da mistura da matéria com a projeção da luz, sua imagem projetada em plano revela um sinal oculto e nos remete a um ambiente flutuante. Sabe-se que o teatro de sombras já era praticado na pré-história quando o homem projetava imagens de sombras nas paredes das cavernas. A linguagem das sombras em nossa interpretação é um mergulho não intencional na essência das coisas. É uma arte do irreal transformado em realidade. Ela nos fez refletir sobre outras possibilidades diferentes do teatro objetivo e imediato, real ou racional. Ela explora o imaginário algo além do que vemos com os “olhos da razão”. O teatro de sombras faz parte do teatro de formas animadas que está ligado a rituais primitivos devido as suas características animistas, objetos sagrados e visual incorporado de simbologias. Este teatro está ligado ao mundo da fantasia infantil e pensamento poético do adulto. Trabalhar com a linguagem de sombras é exercitar-se em gêneros que são diferentes do teatro convencional. É desenvolver formas mais abstratas, mais visuais que exploram a sensibilidade, os meios de expressão, da comunicação interna e externa. Propor o desafio de realizar um espetáculo teatral é dar ao aluno um exercício de comunicação em que ele precisará se expressar e encontrar meios de se fazer entender. Através das atividades deste projeto cada aluno teve um encontro com um espaço para expressar a si mesmo e uma cultura diferenciada como o teatro de sombras. Na experiência prática notamos nos alunos envolvimento num processo de aprendizagem que desenvolveu habilidades como a socialização, a criatividade, a coordenação, a memorização, vocabulário, o pensamento crítico entre outras importantes para a formação de um individuo. As atividades proporcionaram uma vivência com a linguagem do teatro de sombras que possivelmente ampliou o universo cultural do aluno. Este projeto nos trouxe um entusiasmo de trilhar um caminho desconhecido. Descobrimos técnicas diferentes, sensações inéditas, dificuldades novas. E proporcionar aos alunos uma vivência de algo estranho à cultura brasileira foi um desafio porque tínhamos poucas referências e também prazeroso pela tentativa de experimentar. Consideramos esta experiência uma tentativa de resgatar o primitivo do ser humano. Percebemos que não existe o certo ou errado, o importante é conseguir estimular a curiosidade, a vontade de fazer e se arriscar sem medo de errar, incorporar a experiência como uma brincadeira que diverte. Cada aluno passou e recebeu um significado das encenações de todos os seus elementos: nos personagens, nas formas das projeções das sombras, nas manipulações dos bonecos, nas experimentações das projeções, na criação das histórias, nas

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manipulações das luzes, na encenação ator-manipulador. Acreditamos que os alunos tiveram seu momento de artesão oriental: construir bonecos delicados que transmitam uma força sobrenatural imensa, capazes de expressar a sentimentalidade e delicadeza do atormanipulador.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: •

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AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas animadas – Máscaras, bonecos e objetos. 3a Ed. São Paulo: Editora USP, 1996.



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BADIOU, Maryse. As marionetes – A duplicidade do ser e não ser. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 17-24 – Florianópolis: UDESC, 2005.



BELTRAME, Valmor. O ator no teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.). Teatro de Sombras: técnica e linguagem, p.41-56 – Florianópolis: UDESC, 2005.



BERTHOLD, Margot. Historia mundial do teatro. [ tradução Maria Paula V. Zurawski, J. J. Guinsburg, Sergio Coelho e Clóvis Garcia ] – São Paulo: Perspectiva, 2001.



BRASIL/MEC - PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - ARTE (1ª a 4ª), Brasília, 1997.



BRASIL/MEC - PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – ARTE (3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental). Brasília, 1998.



BRASIL/MEC - PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – ARTE (Ensino Médio, Parte II – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias). Brasília, 1998.



LADEIRA , Idalina; CALDAS, Sarah; Fantoche & Cia. 2 a Ed. São Paulo: Editora Scipione, 1993.

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LESCOT, Jean Pierre. Poesia e amor no teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.). Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 9-11 – Florianópolis: UDESC, 2005.



LESCOT, Jean Pierre. Da projeção da luz misturada à matéria, nasce o teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 13-16 – Florianópolis: UDESC, 2005.



MONTECCHIO, Fabrizio. Viagem pelo reino da sombra. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 25-30 – Florianópolis: UDESC, 2005.



PAULO, Eder da Costa. A dramaturgia no teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 85-91 – Florianópolis: UDESC, 2005.



REINIGER, Lotte. Filme/Películas. Insituto Goethe. Editora Mayr – Miesbach. Munich, 1999.



VIANNA, Tiche; STRAZZACAPA Márcia. O teatro na sala de aula. In: S. Ferreira (org). O ensino das artes: - construindo caminhos, p.115-139. Papirus 4ª. Edição (coleção Ágere) Campinas – SP: 2001.

OUTRAS REFERÊNCIAS: •

GIRAMUNDO TEATRO DE BONECOS. Boneco de sombra. Disponível em: http://www.giramundo.org/tecnica/sombra.htm - Acesso : em 12 mar.2007.



KARAGOZ K. Um pouco de história sombras “chinesas”. Disponível em: http://www.marcello.pro.br/sombras.htm Acesso em: 12 mar. 2007



MINHA CHINA. Pi Ying-o Show de Sombra. Disponível em: http://www.minhachina.com/chinaarte.htm - Acesso em: 12 mar.2007.

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PROJETOS DE PESQUISA – ARTES CENICAS. CEART – Universidade do Estado de Santa Catarina. Disponível em: http://www.ceart.udesc.br/projetos/artescenicas/Teatrodesombras.php - Acesso em: 12 mar.2007.



SOMBRA, Clube da. Ensaio – Sombras sobre o corpo, Adriana Donato – Artista Visual. Disponível em: http://www.clubedasombra.com.br/artigos_full.php?id=29 Acesso em:13 abr.2007.

CRÉDITO DAS IMAGENS: •

Figura 1:

BERTHOLD, Margot. Historia mundial do teatro. [ tradução Maria Paula V. Zurawski, J. J. Guinsburg, Sergio Coelho e Clóvis Garcia ] – São Paulo: Perspectiva, 2001, p 15 •

Figuras 2, 8 e 10:

WARD, Keeler. Javanese Puppets •

Figuras 3, 6, 7, 9, 12, 33 e 34:

Teathres D’Ombres – Tradition et Modernite •

Figuras 4, 5, 18 a 27, 29 a 32 e da 35 a 44:

Fotografias tiradas pelo grupo de autores. •

Figura 11:

AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas animadas – Máscaras, bonecos e objetos. 3a Ed. São Paulo: Editora USP, 1996, p 81 •

Figuras 13 e 17:

DVD the art of Lotte Reiniger (Criação de um filme de silhuetas), 1969.

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14 a 16:

REINIGER, Lotte. Filme/Películas. Insituto Goethe. Editora Mayr – Miesbach. Munich, 1999, p 25, 30 e 32 respectivamente. •

Figura 28:

Disponível em: http://www.marcello.pro.br/sombras.htm Acesso em: 12 mar. 2007

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