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Cantor e compositor João Caetano se apresenta na cidade de Goiás para lançar disco revisionista, que tem a participação de vários convidados

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Edson Wander

O cantor e compositor João Caetano repassa a carreira hoje em show na cidade de Goiás. A apresentação, que integra a programação cultural associada à transferência simbólica do governo estadual para a antiga capital, contará com muitos músicos e cantores convidados e marca também o lançamento do novo disco do cantor: Duetos. O show será em palco montado na Praça de Eventos da cidade. Duetos é o sétimo disco de João Caetano e relê com convidados do Rio de Janeiro (onde está radicado há décadas) e de Goiás 17 faixas de seus seis álbuns anteriores, numa carreira de mais de 30 anos. Viabilizado por projeto aprovado na Lei de Incentivo à Cultura de Goiânia, o CD foi produzido pelos violonistas Luiz Chaffin e João Castilho e gravado entre o Rio de Janeiro e Goiânia. A lista de convidados é grande e pega os mais conhecidos nomes da MPB feita em Goiás e convidados cariocas ilustres, como Ivan Lins (que tocou piano e cantou com João Caetano em Nas Terras, Nos Mares) e Zé Renato (em Parece). Entre os goianos uma ampla lista (14 convidados) que vai de Maíra (em Retratos do Brasil) a Honorina Barra (Sempre no Coração), passando ainda por Pádua (em Luas), Marcelo Barra (em Meu Coração), Maria Eugênia (em Novilha), Fernando Perillo (em Triste Papel) e Juraildes da Cruz (em Ajutório). Projeto A ideia do disco, segundo João Caetano, surgiu da observação dele de assistir a muitos “cantautores” brasileiros que mostravam no palco uma mescla de trabalho autoral com canções de terceiros. Cita para exemplificar Zeca Baleiro e o gaúcho Renato Borgheti. “Eu subo num palco e canto 15, 16 faixas de minha autoria e nenhuma de terceiros. E o legal disso é que, quando canto em Goiás, boa parte dessas músicas o público reconhece, o que indica essa identidade com o lugar que muitos amigos do Rio comentam comigo. Mas ficava com aquela coisa na cabeça de fazer algo diferente”, disse, informando que esse diferente veio por sugestão de Ivan Lins, amigo de longa data de João Caetano (da época dos festivais no anos 70, quando Ivan Lins visitou muito Goiás e chegou a passar uma temporada de três meses por aqui). “Ivan me perguntou por que eu não gravava minhas coisas com cores diferentes, convidando outras pessoas”, conta João Caetano, dizendo que Ivan Lins pediu que, se fosse incluído na lista, ele gostaria de escolher a música, citando de imediato a vontade de gravar a canção registrada no álbum. Os outros convidados foram entrando, sempre segundo João Caetano, a partir de sugestões dele, da ligação e características vocais de cada intérprete em conformidade com a composição. “Ouvia Pra Minas e lembrava logo de Gustavo Veiga, que tem muito essa coisa da música mineira, assim como Pádua tem um lado forte com o Nordeste”, começa a enumerar as motivações para cada um dos convidados. “Mas procurei deixar cada um muito à vontade. Evitei abrir as canções exatamente para não influenciar na modulação da interpretação, queria que ficasse ressaltada a colaboração deles”, acrescenta. Sempre muito bem cercado de músicos acompanhantes, tanto em gravações

quanto em show, Duetos volta a reunir também uma seleção de bons instrumentistas das duas cidades. Os arranjos das 17 faixas do CD foram divididas entre três arranjadores: Luiz Chaffin, João Castilho, Ricardo Leão (outro goiano radicado no RJ) e o pianista e acordeonista Marcos Nimrichter. Entre os músicos que participaram das gravações figuram o soprista Marcelo Martins, os bateristas Marcio Bahia e Jurim Moreira e o violonista Pedro Braga (parceiro de Luiz Chaffin no duo Com a Corda Toda), todos do Rio; de Goiás, estiveram os baixistas Marcelo Maia e Bororó, o baterista Fred Valle e o percussionista Edilson Morais. Boa parte desse time subirá hoje ao palco em Vila Boa com João Caetano, assim como a maioria dos intérpretes convidados, com exceção de Fernando Perillo e Marcelo Barra – ambos justificando a ausência por compromisso assumidos anteriormente. “É que a proposta inicial era fazer no sábado (amanhã), mas fui convidado pelo pessoal do governo a antecipar a apresentação por causa da solenidade de transferência da capital”, explica João Caetano, informando que a mudança de data inviabilizou também a vinda de Ivan Lins e Zé Renato. ¤ LEIA MAIS:

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Carreira revisitada

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A lista das músicas de Duetos refaz praticamente toda a carreira de João Caetano. Estão presentes músicas que ele considera mais representativas da carreira, maioria delas feitas com o parceiro mais frequente Otavio Daher, que assina boa parte dos textos que acompanham o encarte do álbum, rico em fotos da cidade de Goiás e dos encontros com os convidados.

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Entre esses, João Caetano buscou até uma amizade de infância para incluir no disco, com a participação vocal de Orion na música Guardião. “Orion é um amigo importante na minha formação musical, foi por ele que encontrei essa coisa refinada das modinhas de Goiás, eu que era mais ligado na música sertaneja, lembro que chegamos a formar uma dupla”, lembra João Caetano. Sobre a participação de Honorina Barra, João Caetano a justifica por ser ela a principal educadora vocal dele e de boa parte dos intérpretes goianos da MPB. “Acho que com ela o canto cresceu muito em Goiás. É de fato nossa grande mestra”, diz sobre a intérprete, com que canta no disco a canção Sempre no Coração, música dele com Nasr Chaul para o título de patrimônio histórico da cidade. Sobre o show, João Caetano diz que vai praticamente respeitar a seleção do disco, alterando apenas a sequência das músicas. Além do show de hoje, no domingo ele autografa o disco em coquetel para convidados na Fundação Jaime Câmara. João Caetano informa ainda que prepara um disco de músicas inéditas a sair em 2010 sob direção musical de João Linhares, um dos arranjadores de Duetos. Segundo ele, será um disco que vai “acariocar mais um pouco minhas criações”. Algo que ele já apontou (e bem) no álbum anterior Retratos do Brasil, com as primeiras composições na área do samba-canção. Nesse futuro disco, ainda sem título e com previsão de gravação até o final do ano, João Caetano diz ainda que vão aflorar “valsas e modinhas, essas coisas que estão sempre na minha alma”.

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Revival arriscado

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Disco revisionista já é algo arriscado por princípio. Em disco revisionista com a participação de muitos convidados, o risco fica normalmente do tamanho desse número de coadjuvantes. João Caetano resolveu correr esses riscos em casa, ou em casas (Goiás e Rio Janeiro), com gente próxima a ele afetiva e musicalmente. O resultado é irregular.

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Das 17 faixas escolhidas, poucas trazem algum frescor às composições de João Caetano e seus parceiros. Nem os mais ilustres convidados salvam o disco de mais-do-mesmo, com exceção de Zé Renato (na levada bossa nova que Parece ganhou). Vai ver porque o ex-Boca Livre sempre foi de fato melhor intérprete do que Ivan Lins, que apenas cumpre tabela em Nas Terras, Nos Mares. A esse raro ponto alto do álbum, somam-se outros pouquíssimos de um disco tão longo: o dueto de Pra Minas, antiga canção com cara de toada em que a dupla João Caetano/Gustavo Veiga conseguiu ressaltar os versos precisos que traçam paralelos entre Minas e Goiás (“nos perdemos na mesma cachaça/E achamos a mesma canção”), e a canção-clichê Sempre no Coração até melhorou com acento camerístico (dos violões de Chaffin e Pedro Braga), apesar dos cacoetes líricos de Honorina Barra. Saltam bem aos ouvidos também o belo solo de oboé de Carlos Prazeres em Triste Papel, de triste participação vocal de Fernando Perillo. Apesar do bonito e farto encarte, o fã do artista não saberá o ano de criação e de que discos saíram as canções, uma falha que não deveria ser negligenciada numa ficha técnica de revival. Em suma, algumas canções de João Caetano são bonitas por si e prescindem desse disco, um trabalho menor em sua curta e bissexta discografia. (EW) Disco: Duetos Artista: João Caetano Gravadora: independente Preço sugerido: R$ 30

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