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  • Pages: 163
Gilnei Barboza da Silva

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Gilnei Barboza da Silva Desmontando Sofismas

Gilnei Barboza da Silva

PELAS VEREDAS ANTIGAS | Ministério Nazareno Comunidade de Israel R. Missionário Gunar Vingrem, 1922, Nova Brasília CEP 76,908-374 Ji-Paraná, RO, Brasil – Watssap/Telegram 055 69 99267-7126 Celular (TIM 021 69 98103-1649 / Claro 041 69 99267-7126)

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Desmontando Sofismas

Gilnei Barboza da Silva

Apresentação O programa Pelas Veredas Antigas é uma iniciativa do Ministério Nazareno Comunidade de Israel sediado em Ji-Paraná, no centro do estado de Rondônia, na Região Norte do Brasil. Atendendo aos que desejam o texto de nossas palestras para investigação pessoal, ministração em grupos e células de estudo envio por correio eletrônico disponibilizo aqui o E-book da primeira temporada de “Desmontando Sofismas.” Nosso trabalho visa despertar as “ovelhas perdidas da casa de Israel,” (Matytyahu/Mt 10:6) espalhadas e espoliadas de sua verdadeira identidade israelita anunciando que em Yeshua “o reino dos céus está próximo,” (Matytyahu/Mt 10:7), que pelas “suas pisaduras fomos sarados,” (Yeshayahu/Is 53:5), que Elohim nos “ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Maschiach,” (Efésios 2:6) e que através da ruach há kodesh somos libertos da lepra enganosa do legalismo que propõe a salvação através da obediência pessoal à lei, do antinomismo que propõe uma salvação inimiga da lei, do substitucionismo ou supersessionismo que propõe a igreja ocupando o lugar de Israel e do dispensacionalismo ou separacionismo que propõe uma igreja paralela, mas não enxertada em Israel. Este trabalho combina os esforços de dezenas de horas de diligente pesquisa, edição de texto, vídeo e áudio e as despesas com aquisição e manutenção de equipamento, consumo de energia e acesso à internet, mas apesar disso chega às suas mãos gratuitamente seguindo a recomendação do Mestre: “de graça recebestes, de graça dai.” (Matytyahu/Mt 10:8) Para isso outros colaboraram, pois domos um pequeno ministério destituído de reservas financeiras, e identificado nestas palavras de Yeshua ao ordenar seus enviados a buscarem as ovelhas perdidas de Israel: Desmontando Sofismas

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Gilnei Barboza da Silva

“Não vos provereis de ouro nem de prata, nem de cobre nas vossas bolsas; nem de alforge para o caminho, nem de duas túnicas, nem de calçado, nem de bordão; pois digno é o trabalhador do seu alimento.” Matytyahu/Mt 10:9,10 Até aqui isso se tem cumprido na minha vida para o bem dos santos, mas espero poder fazer muito mais, transmitindo mais luz e conhecimento e você pode ser parte desse esforço exercendo dadivosidade conforme a recomendação de Shaul: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Elohim ama ao que dá com alegria.” 2 Coríntios 9:7 Se El Shaday mover seu coração nesse sentido use uma das contas indicadas no campo azul, da página anterior. Se não puder fazê-lo, permaneço orando por sua prosperidade. Ainda assim você pode ajudar essa obra distribuindo esse documento eletrônico, curtindo nossos vídeos, compartilhando-os e recomendando a seus amigos, e sobretudo orando para que Elohim a abençoe, pois “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.” Yakov/Tg 5:16 Com muitas preces entrego esse trabalho em vossas mãos desejando que ele resulte na honra de Yehovah, Elohim e Pai de Yeshua há Maschiach, e de todos nós, ao qual temos como único D-us sem que ninguém se assemelhe ou iguale a ele.

:‫ִשְׁראֵל | י ְׁהוָה אֱ ֹלהֵינּו י ְׁהוָה אֶ חָד‬ ָ ‫שְׁ מַע י‬ Shemah Yisrael Yehovah Eloheinu, Ouve

Israel,

o Eterno

Yehovah Echad

nosso Elohim o Eterno

é um

Roeh (Pr) Gilnei Barboza da Silva, Canal Pelas Veredas Antigas, Ji-Paraná janeiro de 2018 Desmontando Sofismas

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Gilnei Barboza da Silva

Índice Capitulo

Título

Página

Apresentação

3

01

Estamos no Tempo da Graça e Não no Tempo da Lei

7

02

A lei e os Profetas Duraram Até João

12

03

Jesus Já Cumpriu a Lei por Nós (1ª Parte – A Verdade)

16

04

Jesus Já Cumpriu a Lei por Nós (2ª Parte – O Embuste)

22

05

Jesus Tornou Puros Todos os Alimentos

28

06

Ele Veio Para os Seus, mas os Seus Não o Receberam

35

07

Fazei Tudo o que os Fariseus Vos Disserem

42

08

Mas Aquele que Perseverar até ao Fim Esse Será Salvo

52

09

Ninguém Vos Julgue Por Causa de Comida ou Bebida

60

010

Ninguém Vos Julgue por Causa dos Dias de Festa, ou da Lua Nova, ou dos Sábados

67

011

A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 1/4

81

012

A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 2/4

86

013

A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 3/4

93

014

A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 4/4

98

015

Batismo, um Rudimento Judaico 1/4

104

016

Batismo, um Rudimento Judaico 2/4

110

017

Batismo, um Rudimento Judaico 3/4

116

Desmontando Sofismas

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Gilnei Barboza da Silva

Índice - Continuação Índice CaCapitulo Títul Título o pitulo

Página

018

Se Ainda Não Celebrou Pentecostes, Você Nunca Foi Pentecostal

123

019

O Pentecostes, as Seitas Judaicas do Período do Templo e a Guerra dos Calendários

131

020

O Erro Rabínico na Contagem do Omer e na Datação do Pentecostes Claramente Exposto

138

021

Refuntando o Erro Rabínico da Contagem do Omer

145

022

Yeshua Tinha Raízes Farisaícas?

154

023 024 025 026 027 028 029 030

Desmontando Sofismas

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Gilnei Barboza da Silva

01 Estamos no Tempo da Graça e Não no Tempo da Lei Shalom e sejam bem vindos a série de estudos Desmontado Sofismas, hoje com o tema inaugural: Estamos no Tempo da Graça e Não no Tempo da Lei. Como esse e um tema inicial e a palavra principal dessa nova série são os sofismas, uma palavra pouco conhecida, embora os sofismas sejam muito mais comuns do que se imagina, e sejam usados para justificar a ideologia de gênero, a crise econômica, a origem da igreja e a celebração dos diversos festivais cristãos de origem paga começarei por definir a palavra recorrendo a uma página eletrônica: https://www.significados.com.br/sofismo/ Sofismo ou sofisma significa um pensamento ou retórica que procura induzir ao erro, apresentada com aparente lógica e sentido, mas com fundamentos contraditórios e com a intenção de enganar. Atualmente, um discurso sofista é considerado uma argumentação que supostamente apresenta a verdade, mas sua real intenção reside na ideia do erro, motivado por um comportamento capcioso, numa tentativa de enganar e ludibriar. Bem, infelizmente e exatamente isso o que ocorre com a declaração quase universal, surgida quando se proclama certos mandamentos que os cristãos não gostam de cumprir como o que proíbe o consumo da carne de porco, paca ou pintado, o que exige a abstinência temporal de fermento, ou determina a santificação do sábado. Nesse momento, mesmo cristãos que dizimam e praticam outras coisas do “Tempo da Lei” levantam um uníssono “Estamos no Tempo da Graça e Não no Tempo da Lei.” Nosso estudo visa desmontar esse sofisma. Desmontando Sofismas

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Gilnei Barboza da Silva

O argumento e utilizado como se houvesse uma seta que cortasse o tempo em duas fases distintas, o tempo da lei, quando os homens se salvavam por sua própria obediência a lei e que teria durado até a morte do Messias e o tempo da graça, inaugurado pela sua ressurreição, quando a salvação passou a não depender mais das obras. A aparente logica, e que se até o madeiro a dívida humana ainda não tinha sido paga, segue-se que os homens ainda deviam obediência a lei, mas uma vez paga a dívida a necessidade de obediência cessou. O sofisma começa a se revelar quando se descobre que a maioria esmagadora dos cristãos evangélicos recuaria horrorizada diante do furto, do sequestro, da calunia, do assassinato, da idolatria, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, do incesto ou do sexo livre, que são práticas igualmente condenadas “no tempo da lei.” Ai se descobre que o problema não e com a Lei dada pelo Eterno a Moises, cujos mandamentos que proíbem o assassinato, a homossexualidade, o incesto ou o adultério são mantidos intactos, mas com certos mandamentos que proíbem coisas das quais os cristãos gostam como a carne de porco, o trabalhar no sábado ou o abster-se temporariamente de pão fermentado. Pois só quando se chega diante desses mandamentos, então se recorre a máxima de que agora estamos no tempo da graça. E o mais curioso e que mesmo ministérios que consideram o dizimo sagrado, recorrem a isso quando esbarram com outros mandamentos. E o pior e a falta de logica da argumentação. Argumenta-se que o dizimo foi dado antes da Lei, mas se ignora a circuncisão, que também foi dada antes da lei ser promulgada no Sinai. Conclui-se que o sofisma tem por objetivo apenas induzir ao erro de que a graça e uma revelação do Novo Testamento, tanto como a lei e uma revelação do Primeiro Testamento, e que assim como a graça não vigorava no tempo da lei, quando então os homens eram salvos por sua própria obediência, a lei não mais vigora no tempo da graça, sendo os homens agora salvos apenas pelos méritos do Messias e sem a necessidade ou dever de obedecer a lei. Desmontando Sofismas

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Gilnei Barboza da Silva

O problema e que embora haja verdade que somos salvos só pelos méritos do Messias, também e verdade que isso não começou agora. O sofisma ignora o fato de que quando Adam comeu do fruto da arvore da ciência do bem e do mal, que lhe estava proibido, nesse mesmo dia ele morreu judicialmente, e sua vida deixou de ser merecida, passando a ser um ato gracioso da parte de um Elohim ou Deus misericordioso. Além disso o ensino de que no Velho Testamento o homem era salvo por obras e no Novo Testamento ele e salvo por graça revela um total desconhecimento da própria natureza da graça, e do fato de que desde os dias de Moises já se sabia que o homem e salvo não pelo que faz, mas pelo perdão de Elohim, tanto que a Torah reservava o Yom Kipur, o dia do perdão para ensinar a Israel que ele era remido pelo perdão dos seus pecados contra a lei. Shaul o apostolo lembra que David há Melech, já se sabia que o homem e salvo apenas porque o Eterno o perdoa. “Assim também David declara bem-aventurado o homem a quem Elohim imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bemaventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem Yehovah não imputa o pecado.” Romanos 4:6-8 Logo a salvação sempre dependeu do Eterno cobrir o pecado do homem. Ela jamais dependeu da obediência, ainda que o temor do Eterno e a obediência seja um dever de todo o homem como está escrito: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Elohim, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.” Kohelet/Ec 12:13 Mas o cumprimento do dever não salva ninguém, pois todos precisam de perdão. Em resumo você pode fazer seu ano bíblico e anotar cuidadosamente sua leitura a cada menção tanto da palavra “lei” como da palavra “graça” e não vai encontrar nem a expressão tempo da lei, e nem a expressão tempo da graça. Pois ambas são sofismas extra bíblicos. Desmontando Sofismas

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O sofisma de que entramos no tempo da graça depois do madeiro, que é usado apenas como desculpa para a rejeição de certos mandamentos passa por alto o fato de que embora a palavra grega charis correspondente a graça apareça 136 vezes na Brit Chadashá ou Novo Testamento Grego a palavra hebraica chem ocorre 56 vezes no Tanach Hebraico ou Primeiro Testamento. Ambas as palavras são usadas tanto para se referir ao favor divino em favor do homem como ao favor do homem em relação a seus semelhantes. E ignora igualmente que o primeiro homem a mencionar a palavra graça não e nada mais e nada menos que Moshe Rabeinu, o homem da lei, o que faz todo o sentido por que a lei foi dada para que a graça seja requerida e a graça e dada para que a lei seja cumprida. Assim Moshe se refere a Noach:

:‫וְׁנ ֹ ַח ָמצָא חֵן ְׁבעֵינֵי י ְׁהוָה‬ Noach Matza be`enei Yehovah “Noé, porém, achou graça aos olhos do Eterno.” Gênesis 6:8 Assim, o fato de que “a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens,” (Tito 2:11) nada tem a ver com o tempo da graça, já que a graça e eterna, mas apenas com a sua manifestação a cada um de nós, o que é algo temporal. Por fim, cabe uma declaração de Shaul que serve como uma pá de cal que sepulta as pretensões antinomistas de que agora vivemos no tempo da graça, a de que na verdade, recebemos graça antes dos tempos eternos, e por ela fomos salvos, da mesma maneira que Adam que comeu o fruto proibido, que Moshe que feriu a rocha quebrando o mandamento, que David que cometeu adultério e assassinato, ou que Shaul que blasfemou e participou do horrendo linchamento de Estevão. O fato é que somos cuidados por aquele que: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Yeshua há Maschiach antes dos tempos Eternos.” 2 Timóteo 1:9 Desmontando Sofismas

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Logo, a graça sempre existiu, existiu antes mesmo da Lei ser outorgada, e nossa obediência não e para a salvação, mas fruto da salvação. Nunca houve um tempo em que a lei salvou, a salvação sempre foi por graça, por graça eterna, livre, soberana, irresistível e perseverante. A obediência a lei acompanha os salvos, mas não para a sua salvação, posto que a obediência para a salvação e a do Messias, não a nossa. Assim a próxima vez que alguém lhe disser que agora não precisa guardar a lei por que agora estamos no tempo da graça, faça lembrar que nunca existiu um tempo em que a graça não existisse. Shalom e assim se vai mais um sofisma.

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A lei e os Profetas Duraram Até João A afirmação de que “A lei e os Profetas Duraram Até João” é um poderoso sofisma atribuído ao Messias e repetido sempre que um mandamento da Torah ou dos profetas, rejeitado na confissão de fé de uma determinada igreja é estudado, ensinado, recomendado, questionado ou cumprido. Hoje analisaremos, esse, que e um dos mais universais embustes da cristandade. Por favor compartilhe esse vídeo, para que seus contatos e amigos possam estar aptos a lidar com esse sofisma. O fato e que o incansável espirito antinomista, ou seja, o espirito que e contra a Torah, está sempre a postos para blindar a chamada “Igreja de Cristo” contra coisas próprias do Cristo, ou melhor do Maschiach, como abster-se de alimentos impuros, guardar o shabat ou celebrar alguma festa da Torah. Ele não hesita em distorcer as Escrituras, para manter o povo longe da parte da Torah que não desejam. De volta, pois ao título perguntamos: Mas afinal não foi o próprio Messias que disse que a lei e os profetas duraram até Joao? Bem, pelo menos e assim que a Almeida Revisada e Corrigida Fiel reza: “A lei e os profetas duraram até João.” Lucas 16:16 Se isso fosse pouco, a Almeida Revisada Imprensa Bíblica acaba de vez com a lei e com os profetas ao dizer tacitamente, e não entrelinhas que suas palavras, já não mais vigoram e não a partir de Yeshua, mas de seu predecessor: ‘A lei e os profetas vigoraram até João.” Lucas 16:16 Desmontando Sofismas

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É evidente que ambas as traduções contradizem a David que declara: “A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a verdade.” Tehilim/ Salmos 119:142 Mas mais do que isso, toda a vez que Yochanan Ben Zecharayah nasceu antes de Yeshua, a Almeida Revisada Imprensa Bíblica, parece contradizer-se a si mesma, já que noutro texto, onde fala de Yeshua, e traduzindo Shaul ela afirma que ele foi: “nascido de mulher, nascido debaixo de lei.” Gálatas 4:4 Bom, a guerra de versões, felizmente nos leva a Nova Versão Internacional, com uma mudança radical no sentido do texto, onde a lei e os profetas nem duraram e nem vigoraram até Joao, mas se pronunciaram, falaram ou foram declaradas até Joao. "A Lei e os Profetas profetizaram até João.” Lucas 16:16. Este mesmo artificio foi usado na Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada (Revisão de 2015) das testemunhas de Jeová, bastante criticada pela cristandade em geral, mas nesse caso correta, e que reza: “A Lei e os Profetas foram declarados até João. E evidente, que a NVI e a TNMBS acrescentado duas palavras que não contradizem o texto, ainda assim elas interpretaram, mais do que traduziram, enquanto a Almeida Revisada e Corrigida Fiel e a Almeida Revisada Imprensa Bíblica simplesmente corrompem o texto para atender a mesquinhez do desprezo pela autoridade da Torah e dos profetas, pelo menos quando eles dizem respeito ao regular a vida dos santos. Mas, se quero uma tradução correta, sem acréscimos e interpretações preciso recorrer a Reina Valera de 1602 que reza: “La ley y los profetas hasta Juan” Desmontando Sofismas

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O que as versões portuguesas procuram fazer e resolver um problema oriundo do Textus Receptus, que e um texto crítico do Novo Testamento Grego elaborado pelo reformador e filosofo católico Gerritszoon Desiderius Erasmus Roterodamus (1466-1536), ou simplesmente Erasmo de Roterdam que declara apenas isso: ο νομος και οι προφηται εως ιωαννου O nomos kai oi profetai eos Ioanou A lei e os profetas ate Yochanan Como se vê Yeshua quis apenas e tão somente dizer que a Torah e os profetas chegaram até Yochanan anunciando o reino de Elohim. Só que em vez de manter essa simplicidade, a agenda anti-torah e o espirito de anomia levou tradutores modernos a acrescentarem uma palavra entre profetai e Ioanou. Assim, a Almeida Revisada e Corrigida Fiel acrescentou “duraram”, dando um sentido de descontinuidade a Torah enquanto a Almeida Revisada Imprensa Bíblica fez pior, acrescentou “vigoraram” dando um sentido de abolição de seu conteúdo. Tentando melhorar o sentido, a Nova Versão Internacional acrescentou o “profetizaram,” como se a partir de Yochanan não se levantassem outros profetas entre os santos e como se em Cesárea na Síria não vivesse “Filipe, o evangelista,” que tinha “quatro filhas virgens, que profetizavam,” (Atos 21:8-9) como se naquela cidade não se tivesse apresentado vindo da “da Judéia um profeta, por nome Ágabo;” (Atos 21:10) que profetizou acertadamente e pela ruach há kodesh a prisão de Shaul em Yerushalayim, ou como se o Sefer Guilianah ou Livro do Apocalipse, escrito por Yochanan, 60 anos depois da morte de Yochanan Ben Zecharayah não fosse um livro profético escrito por um profeta. A Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada (Revisão de 2015) foi um pouco mais feliz ao dizer: “foram declarados”, posto que o texto completo fala do cumprimento das palavras da Torah e dos profetas na vida e obra de Yeshua, e seus discípulos e não de sua finalização. Desmontando Sofismas

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“A lei e os profetas até Yochanan; desde então é anunciado o reino de Elohim, e todo o homem emprega força para entrar nele. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei. Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.” Lucas 16:16-18. Não há portanto nada de a lei ter finalizado com Yochanan, mas de suas palavras, junto com a dos profetas terem sido proferidas até aos dias daquele profeta, tendo chegado agora a hora de anunciar o reino de Elohim, mas com a certeza de que e mais fácil cessar o céu e a terra do que cair um único ponto da Torah. Portanto, o sofisma de que agora não se precisa mais estudar, ensinar e menos ainda cumprir a Torah, se desfaz pelo próprio contexto. Concluo lembrando que os antinomistas não sabem onde se apoiarem para que aquela parte da lei e dos profetas que eles não amam seja considerada ab-rogada. Amiúdo recorrem a declaração de que “Cristo e o fim da lei,” mas como que meio aturdidos, esquecem que se o Maschiach e o fim da lei, logo ela não pode ter findado com Yochanan Ben Zecharayah ou Joao Batista, pois o primo de Yeshua não só nasceu antes, como também morreu antes de Yeshua. E agora irmãos a lei findou com Joao ou com os Jesus cristão? Bom, não quero concluir sem lembrar que a declaração de que a lei e os profetas duraram até Joao e inconsistente com a pratica do dizimo considerado recomendável pela maioria dos cristãos, já que vem da lei e dos profetas, e mais ainda com a pratica do batismo herdado do “ultimo profeta”, e considerado universalmente obrigatório.

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03 Jesus Já Cumpriu a Lei por Nós (1ª Parte – A Verdade) Nos ocuparemos agora do engano que se esconde atrás do bordão: “Jesus Já Cumpriu a Lei Por Nós” sendo que agora, na primeira parte nos concentraremos na parte verdadeira dessa afirmativa, deixando a parte do embuste para o próximo estudo. Bem, o curioso é que a declaração: Jesus já Cumpriu a lei ´por nós,” dificilmente é empregada para dispensar um felpudo envelope de dízimo, e ainda mais dificilmente para cancelar reunião de disciplina ao irmão caloteiro que passou um cheque sem fundo, ou a irmã que acabou de adulterar. Não me lembro jamais de ter ouvido um ministro dizer: “Irmãos, vamos cancelar essa reunião de disciplina, pois Jesus cumpriu a lei por esse pobre transgressor.” Mas basta que se mencione a necessidade de se abster de comidas impuras, a guarda do shabat, ou a comemoração de uma festa do Eterno, para que o mesmo ministro que aceitou o dízimo da Torah, que suspendeu os cargos do irmão que passa cheque sem fundo e que excluiu a irmã em Adultério, se apresse a dizer: “Querido Jesus já cumpriu a lei por nós, logo não precisamos cumpri-la de novo.” Isso me leva a pergunta: Quando a frase: “Yeshua já cumpriu a Torah por nós,” expressa a verdade e quando é mero sofisma? Recordo aqui que Jesus não é o nome verdadeiro do Messias, e que não foi para comunicar esse nome que o Malach Gavriel desceu dos céus até seus pais em Beit Lechem, a cidade de David. Primeiro houve uma corruptela de Yeshua para Iesous no grego e depois para Jesus em português. Desmontando Sofismas

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Cabe recordar que o Messias, embora seja chamado por seus discípulos por distintos nomes como Iesous, Dsus, Resus, Gesu e Jesus, nomes criados pelas nações, ele recebeu um nome dado pelo céu quando devidamente circuncidado de acordo com o pacto de Avraham o seu pai. “E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Yeshua, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.” Lucas 2:21 O altíssimo não teria enviado um anjo diretamente do mundo espiritual para comunicar o nome do Maschiach a seu seus pais, se esse nome não fosse de fundamental importância, e se ele devesse ser esquecido e apagado para sempre, sob o manto do Jesus de Roma, inimigo da Torah e desprezados do pacto. Já antes recordei que Yosef parecia egípcio até ao dia de se revelar a seus irmãos, o que é uma parábola para o tempo presente. Recordo as palavras de Shaul há Shaliach que deveriam nos fazer pensar e muito na questão do nome único e supremo de Maschiach.

“Por isso, também Elohim o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Yeshua se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Yeshua há Maschiach é Adon, para glória de Elohim o Pai.” Filipenses 2:911. Logo o Eterno não deu nomes ao Maschiach, mas um nome, um nome diante do qual, no tempo da restauração, todos se hão de curvar, e isso para a glória de Elohim o Pai. No entanto, o problema do nome não é apenas semântico, o mais importante é o que está por trás do Jesus Romano, o homem que ou violou a Torah, ou no máximo a cumpriu para que ninguém mais precise cumpri-la, e o que é pior para que a despreze no íntimo de sua alma. Bom, pelo menos isso quando o mandamento não é considerado importante, pois como já vimos antes, todas as comunidades cristãs tem uma lista de mandamentos permanentes. Desmontando Sofismas

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Assim, vamos em primeiro definir em que sentido a declaração de que “Yeshua já cumpriu a Torah por nós,” é verdadeira. Ela é verdadeira no sentido de que realmente Yeshua nasceu judeu, membro de um povo sujeito à Torah, e como tal sob condenação e censura, devido à sua perpetua infidelidade. Este povo não podia ser remido a menos que um de seus filhos desse à Torah o que ela exigia para não condená-los à morte que era a obediência perfeita. “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Elohim enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Torah, para remir os que estavam debaixo da Torah, a fim de recebermos a adoção de filhos.” Gálatas 4:4,5. Como israelita, nascido de uma mulher israelita, Yeshua estava sujeito aos pactos celebrados pelo Eterno com seu povo, desde o pacto da circuncisão celebrado com Avraham como aliança perpétua para todas as gerações, razão pela qual ele foi circuncidado ao oitavo dia, passando pelo pacto do Sinai celebrado quando seus antepassados saíram do Egito, e finalmente sob o pacto de Moabe, celebrado 40 anos depois da saída do Egito, isso é antes da entrada na terra prometida. Por este pacto Yehovah declarou: “Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles. Ani Yehovah (Eu sou o Eterno).” Vaykra/Lv 18:5. Diante desse pacto que propunha vida por obediência e morte por desobediência, os atemorizados israelitas, antes mesmo de o conhecerem se dispuseram a submeter-se a todas as suas cláusulas dizendo que as ouviriam e que fielmente as cumpririam. “Chega-te tu, e ouve tudo o que disser Yehovah eloheinu; (nosso Deus) e tu nos dirás tudo o que te disser Yehovah eloheinu, e o ouviremos, e o cumpriremos.” Devarim/Dt 5:27 Desmontando Sofismas

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Ressalta-se que não havia defeito nenhum na Torah como o próprio Yehovah declarou: “E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós? Devarim/Dt 4:8 Shaul lembrou que “a lei é santa, o mandamento santo, justo e bom,” e que “a lei é espiritual”, mas que ele era “carnal, vendido sob o pecado.” Romanos 7:12, 14 Seus termos, elaborados por Yehovah como Justo Pactuador eram perfeitos. Mas o mesmo não podia ser dito de Israel, o Pactuante, pelo que imediatamente o Pactuador fez saber a Moshe que eles falaram bem, mas não eram capazes de obedecer. “Eu ouvi as palavras deste povo, que eles te disseram; em tudo falaram bem. Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre.” Devarim/Dt 5:28,29 A vida dependia da obediência perfeita à Torah, uma obediência que Israel, sendo um povo imperfeito e manchado pelo pecado, não era capaz de oferecer. Passados 2.000 anos a situação não era diferente, mesmo para Shaul há Shaliach, renascido pela ruach há kodesh, e crente em Yeshua há Maschiach. Isso o levou a declarar: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Elohim; mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.” Romanos 7:22,23 Pelo que o pacto nos remete a Maschiach. Nele Israel foi aperfeiçoado, nele Israel cumpriu a Torah, nele as condições das alianças, tanto do Sinai como de Moabe encontraram pleno e cabal cumprimento. Graças a justiça de Maschiach Israel é justificado. Desmontando Sofismas

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“Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si.” Yeshayahu/Is 53:11 Ou seja, se por um lado Israel, quando visto separado do Maschiach realmente não cumpriu coisa nenhuma, e apenas envergonhou o nome do Altíssimo quebrando o pacto diante das nações, por outro lado, quando representado no Maschiach está completo e perfeito. E como Israel, todos os santos são vistos assim, como explica Shaul ao dizer: “E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade.” Colossenses 2:10 Graças a essa justiça do Messias, que é parte de Israel, ele pôde olhar para seu povo completamente remido por sua justiça. É nesse sentido que Yeshua declara: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim revogar, mas cumprir.” Matytyahu/Mt 5:17. Isso nos leva à conclusão da primeira parte de nosso estudo, em que sentido a declaração “Yeshua já cumpriu a Torah por nós,” é verdadeira. Ela é verdadeira no sentido de que tudo o que a Torah requeria de obediência foi cumprido, de sorte que no que diz respeito à justiça eterna, que é a que salva o homem, nada mais nos é requerido, a lei não pode acusar Israel de infidelidade quando aquele que se fez mediador do Novo Pacto cumpriu todas as disposições do Primeiro Pacto. Além disso a Torah já não pode condenar a Israel, e todos os que são nele enxertados, pois a justiça já foi satisfeita no madeiro. Assim, reconciliados pela sua morte substituta, somos salvos pela sua vida perfeita, vida de obediência, perfeita à vontade de seu pai, e não de insubordinação a Torah. Assim, em Yeshua nada mais nos falta. “Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos 5:10, Desmontando Sofismas

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Bom, esse é o lado verdadeiro da afirmação: “Yeshua já cumpriu a Torah por nós.” Em nosso próximo estudo focaremos no sofisma que se esconde por trás dessa mesma declaração.

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04 Jesus Já Cumpriu a Lei por Nós (2ª Parte – O Embuste) Hoje me ocupo do engano que se esconde atrás do bordão: “Jesus Já Cumpriu a Lei Por Nós.” Nessa segunda parte nos concentramos no embuste criado em torno dessa verdade A radiografia das Escrituras sobre a alma israelita é a pior possível. Assumindo o passivo, isso é as fraquezas de seu povo como se fosse suas, e em certo sentido o eram, os profetas afirmaram: “Pecamos, e cometemos iniqüidades, e procedemos impiamente.” (Daniel 9:5) Explicaram que certamente “não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.” (Kohelet/Ec 7:20) que à vista de El Shaday “não se achará justo nenhum vivente,” (Tehilim/Sl 143:2) e sobre a obediência do seu povo disseram: “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia.” (Yeshayahu/Is 64:6) E o que vale para Israel vale também para todos os ramos gentios do zambujeiro enxertados na oliveira através do Messias. Logo a declaração “Yeshua Já Cumpriu a Lei Por Nós,” é verdadeira no sentido de que Israel já cumpriu a Torah no Messias e que somente quando revestidos de sua justiça, que é externa e alheia a nós, somos perfeitos. Segue-se que ainda que exteriormente falando, e “segundo a justiça que há na lei,” eu fosse um israelita tão “irrepreensível,” como Paulo, eu teria que considerar a minha santidade “como escória, para que possa ganhar a Maschiach,” (Filipenses 3:6,8) e ser revestido da perfeita obediência do único que foi achado justo como Shaul explicou: “E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela confiança em Maschiach, a saber, a justiça que vem de Elohim pela Confiança.” Filipenses 3:9 Desmontando Sofismas

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Shaul os está repreendendo não por guardarem a Torah, mas por confiarem na justiça decorrente da Torah, que já conheciam, posto que queriam se circuncidar para alcançarem a justificação. Estamos quebrando paradigmas estúpidos legados por exegetas cristãos. Um deles é que a carta de Shaul aos filipenses destina-se aos gentios. Ora, os registros históricos provam que na Antiga Grécia havia sinagogas em Delos, Égide, Atenas, Corinto, Tessalônica, Beroé, Stobi e Filipos. Atos mostra que o início da obra nazarena em Filipos é uma exceção à regra de Shaul que costumava iniciar seu trabalho durante os serviços sinagogais, onde se fazia a leitura da Torah e dos profetas e quanto persuadia a judeus e gregos a crerem no Messias. Em Filipos, a obra se iniciou fora da cidade, junto a um rio, onde crentes piedosos se reuniam para orar durante o shabat. Lídia, uma mulher que já servia ao Eterno, e que procedia de Tiatira, onde havia uma sinagoga estava lá. “E dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia; e estivemos alguns dias nesta cidade. E no dia de shabat 1saímos fora das portas, para a beira do rio, onde se costumava fazer oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram. E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Elohim, nos ouvia, e o Altíssimo lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia.” Atos 16:12-14 Estes pequenos detalhes ignorados são responsáveis por uma visão surreal sobre o destinatário das cartas de Paulo, vistos como gentios, e não como judeus e gregos. A carta escrita a quatro mãos, por Shaul e por Timóteo inicia com as palavras: “Paulo e Timóteo, servos de Yeshua há Maschiach, a todos os santos em Yeshua há Maschiach que estão em Filipos, com os bispos e diáconos:” Filipenses 1:1, Desmontando Sofismas

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Dito isso voltemos ao sentido bíblico do cumprimento da Torah, que de acordo com o sofisma ora investigado é visto como de exclusiva competência de Yeshua, que a teria cumprido para que não a cumpramos mais. Isso é mais ou menos como se a lei se resumisse apenas à proibição do trabalho ao sábado e nas festas e às leis dietéticas e como se ela não proibisse igualmente ao adultério, ao roubo e ao falso testemunho. De acordo com esse sofisma o fato de Yeshua não ter trabalhado no sábado me libera para que eu trabalhe livremente no shabat, mas já o fato dele não ter adulterado, roubado, mentido ou assassinado não me libera para adulterar, furtar, dizer falso testemunho ou matar. Para desfazer esse sofisma nada melhor do que recorrer ao próprio ensino de Yeshua. “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.” Matytyahu/Mt 5:17,18. Três coisas são aqui muito evidentes. A primeira é que não era missão de Yeshua abrogar a Torah e nem os profetas. A segunda é que sua missão foi dar cumprimento, tanto ao que a Torah ordenava como ao que os profetas prediziam. A terceira é que a Torah é tão estável como o próprio universo, de sorte que enquanto houver universo a Torah continuará existindo. Isso é tremendo. Yeshua está chamando os céus como testemunhas da perpetuidade da Torah. Enquanto houver nuvens cobrindo a atmosfera, enquanto houver sol, lua e estrelas no firmamento, a Torah estará lá no trono do Altíssimo. Não podia ser diferente, a Lei é a expressão do caráter do Eterno, foi pronunciada pelo Criador, e já David, o pai de Yeshua dizia: “Para sempre, ó Yehovah, a tua palavra permanece no céu.” Tehilim/Sl 19:89 Desmontando Sofismas

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Isso já seria suficiente para eliminarmos o ensino de que uma vez que a lei foi cumprida já não preciso mais me envolver com suas exigências, até porque a lei é um todo. Yakov já nos ensina que os mandamentos são um conjunto quando fala: “Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.” Yakov/Tg 2:11 Claro, que como já foi dito, no que diz respeito à minha salvação eu não preciso guardar a Torah, Yeshua é a minha obediência, e por ela sou considerado perfeito, mas fui resgatado para imitar a Yeshua. Assim, o fato de Yeshua ter guardado o shabat, só para falar de um dos mandamentos considerado ab-rogado por sua vida, é antes um estímulo para que eu procure guarda-lo. O conselho do apostolo foi: “Sede meus imitadores, como também eu de Maschiach.” 1 Coríntios 11:1 Como já temos nos apercebido os sofismas se escondem sempre atrás de palavras e orações retiradas do contexto. E aqui é preciso recordar que o fato de Yeshua ter dito que cumpriu a Torah não nos exime da necessidade de o imitarmos, de seguir suas pisadas. Aliás Yeshua ensinou exatamente isso: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem.” Yochanan/Jo 10:27. Procurar imitar o nosso Mestre em tudo, apesar da imperfeição de nossa natureza é parte inerente da vida dos santos, e isso condiciona a minha relação com cada mandamento da Torah, não apenas aqueles que regem minha moralidade como não cometer adultério, mas também os que regem minha espiritualidade como não comer criaturas espiritualmente impuras. “Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.” Matytyahu/Mt 5:19. Desmontando Sofismas

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Mas pelo amor de Elohim, nunca digam que se uma pessoa violar um mandamento, e ensinar outros a fazerem o mesmo isso significa que automaticamente ela não vai entrar no reino. Sim, existem inimigos da Torah que não entrarão no reino, mas sobre isso falaremos depois. Na verdade a obediência que me dá direito à entrar no reino dos céus é a do Messias. Contudo, se eu violar um pequeno mandamento, e ensinar isso a outras pessoas, o meu galardão diminuirá, e eu serei o menor no reino. Se eu cumprir e ensinar, ainda que seja oi menor dos mandamentos, então o meu galardão crescerá e eu serei o maior no reino. Isso é usar a lei de forma correta e no seu devido lugar, primeiro para determinar o que é justo, e segundo para aferir nossa posição no reino. Precisamos voltar ao primeiro século e dizer com Shaul: “Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente.” 1 Timóteo 1:8 Assim, enquanto a teologia moderna busca defeitos na Torah, e diz que ela foi afastada por que nunca foi boa, a verdadeira fé, à qual estamos sendo chamados nesse tempo de restauração proclama o contrário: “E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.” Romanos 7:12 No entanto, como toda a justiça humana é imperfeita e manchada pelo pecado, a justiça que me salva permanece sendo sempre a do Messias. É por isso que Yeshua antes de lembrar que até o pensamento concupiscente ou o desejo de matar são contatos como adultério e assassinato declarou: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” Matytyahu/Mt 5:19. Desmontando Sofismas

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Que significa uma justiça maior que a dos escribas e fariseus? Alguns pensam que tenho de inventar mandamentos e leis de cerca como os rabinos do chazal1 fizeram enchendo deles o Talmud. Isso porém não valeria nada diante do céu, porque são mandamentos de homens. Para entrarmos no reino precisamos de uma obediência perfeita, retilínea e eterna. Precisamos de uma justiça irretorquível diante de Elohim e dos homens, uma justiça que não somos capazes de produzir. E essa justiça não vem da nossa guarda da lei, mas da guarda da lei prestada pelo Messias. Minha obediência não é questão de salvação, mas de galardão. Mas sobre isso falarei em nosso próximo estudo. Chazal é um acróstico para "Ḥachameinu Zichram Liv'racha" ou “Nossos sábios de abençoada memória e serve de referência para a citação dos grandes rabinos de uma era supostamente iniciada em 250 AEC quando teria iniciado a era dos rabanim ou mestres farisaicos. Evidentemente esse início é um exagero destinado a dar aos rabinos uma autoridade que ultrapassa os marcos da realidade. Na verdade o farisaísmo nasce como uma reação ao poder crescente da família dos ashmomim, os sacerdotes apelidados de macabeus, e que eram apoiados nos tsadokim ou saduceus, uma seita judaica sacerdotal que rejeitava adições à Torah. Quando os asmoneus, assumiram o controle civil além do religioso que lhes era devido, dando início a uma monarquia dinástica, os fariseus se organizaram pleiteando um rei que pertencesse à dinastia davídica. Seja como for a era é atribuída como tendo iniciado em 250 AEC em Israel e finalizado por volta de 625 DEC na Babilônia, cidade localizada a 1.448 km de Jerusalém, e para onde a Casa de Judá, composta de judeus e benjamitas tinha sido enviada a partir do ano 605 AEC. Evidentemente que as raízes do rabinismo podem ter começado bem antes, isso com os soferim, ou escribas dos dias de Yirmiahu, o profeta que viu a queda de Jerusalém no ano 587 AEC diante do exército de Nabucodonosor II (634-562 AEC). O profeta já denunciava a corrupção dos princípios da Torah por adições e comentários dos compiladores quando disse: "Como vocês podem dizer: 'Somos sábios, pois temos a Torah de Yehovah', quando na verdade a pena mentirosa dos escribas a transformou em mentira?” Yirmiahu/Jr 8:8. Esse texto lança luz sobre os perigos em se seguir aos escribas dos quais Yeshua manda que nos apartemos quando diz: "Os Fariseus e os sábios se assentam na cadeira de Moisés. Por conseguinte tudo o que ele diga fazei-o diligentemente, mas não de acordo com suas ordenanças, (takanot) e suas regras (ma‘asim), isso não façais, porque eles dizem mas não fazem.” Matytyahu/Mt 23;2-3. No entanto, é forçoso reconhecer o mérito de escribas fiéis como Ezrah Ben Serayah, o Esdras de nossas Bíblias, o qual tendo retornado da Babilônia em 457 AEC na época do Imperador da Pérsia Artarxerxes I (465-424 AEC), organizou o cânon do Tanach em todos os livros que o precederam e o qual é descrito como “escriba hábil na lei de Moshe, que Yehovah Elohim de Israel tinha dado.” Ezra/Ed 7:6 Só que há uma diferença, Ezrah Ben Serayah era Kohen ou sacerdote descendente direto de Aharon por meio de Tsadok, o sacerdote justo consagrado nos dias de David, e por tanto um homem sob a autoridade profética como se lê em Malaquias que diz: “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro de Yehovah Tzevaot (O Eterno dos Exércitos).” Malaquias 2:7 Já os escribas do chazal, um período dividido em quatro eras, zugot ou pares (140-40 DEC), tanaim ou professores (40-220 DEC), amoraim ou expositores (220-500 DEC) e savoraim ou repetidores (500-625 DEC) eram apenas usurpadores da cadeira de Moshe como Yeshua denunciou, e por conseguinte sem autoridade para legislar, e aos quais cabia apenas o ensino da Torah, na falta de sacerdotes, mas que ouraram criar uma segunda lei, para explicar, e não raro para suplantar a própria lei dada a Moisés, criando uma idolatria só comparável a gerada pelo Bispo de Roma, ao qual se considera um porta-voz do Altíssimo contrariando sua ordem: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos de Yehovah vosso Elohim, que eu vos mando. Devarim/Dt 4:2. Assim, para nós o Chazal é apenas “a era dos mestres cujos ensinos devem ser apagados.” 1

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05 Jesus Tornou Puro Todos os Alimentos 28 Agora nos ocuparemos com um sofisma que se relaciona diretamente com aquilo que colocamos à nossa mesa para nos servir de comida, o que afirma que “Jesus Tornou Puro Todos os Alimentos.” Embora milhões de cristãos ortodoxos etíopes se abstenham do consumo das carnes proibidas em Levítico 11, além deles apenas as igrejas de raiz sabatista fazem o mesmo. Isso significa que apenas 75 milhões, ou 3% dos 2,2 bilhões de cristãos se abstém da carne de quadrúpedes não ruminantes e destituídos e unhas fendidas, de aves carniceiras ou de rapina, de peixes sem escamas, de répteis, de quelônios, de moluscos, de enguias e de crustáceos. E esse número incluí 20 milhões de adventistas e 5 milhões de sabatistas de diversas seitas ou igrejas. Mas porque 97% do cristianismo, uma religião derivada do judaísmo, e que afirma ter na Bíblia a sua regra de fé e prática ignora a maior parte das leis alimentares? A resposta alegada é a narrativa de um debate entre Yeshua e os fariseus, concluída com essa lição dirigidas aos discípulos:

“Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas?” Marcos 7:18,19 Desmontando Sofismas

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Bem, como já vimos a maioria esmagadora dos crentes considera esse texto suficiente para a conclusão de que as leis de kashrut, ou seja as que definem que tipos de carne podem e não podem ser consumidas foram de fato tornadas inúteis por Yeshua há Maschiach. Logo, a expressão “ficando puras todas as comidas” atribuída a Yeshua é tida como definitiva no debate sobre as leis alimentares. Nenhuma consideração se dá ao fato de que Yeshua pediu a seus interlocutores que não pensassem ter ele vindo abolir a Torah aos profetas, ao dizer: “Não vim para abolir, mas para cumprir.” Ora, essa Torah que ele veio cumprir declara: “Não vos façais abomináveis por nenhum enxame de criaturas, nem por elas vos contaminareis, para não serdes imundos. Eu sou Yehovah, vosso Elohim; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo; e não vos contaminareis por nenhum enxame de criaturas que se arrastam sobre a terra.” Vaykrá/Lv 11:43-44. Tivesse Yeshua realmente ensinado que um israelita pode comer de tudo sem que isso o contamine em nada, poderíamos afirmar, sem sombra de dúvidas que ele falhou deploravelmente, e que ao assim fazer se tornou o menor no reino, inviabilizando-o como o Messias já que o mesmo está destinado a ser o maior de todos no Malchuto há Shamaim ou seja, no reino dos céus a ser entronizado. E isso não sou eu que digo, mas o próprio Yeshua: “Portanto, quem relaxar um dos mais mínimos desses mandamentos e ensinar os outros a fazer o mesmo, será chamado menos no reino dos céus, mas quem os faz e os ensina será chamado grande no reino dos céus.” Matytyahu/Mt 5:19. No entanto, lemos que Yeshua, “achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte do madeiro.” Filipenses 2:8. Por sua obediência à Torah foi ele engrandecido. Desmontando Sofismas

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E aqui os exegetas cristãos precisam entrar em acordo, porque as vezes parecem cegos no meio de um tiroteio, sem saberem sequer para que lado atiram. Numa hora, eis que não precisam guardar a lei por que o Messias a guardou por eles, noutra não precisam guardar por que nem mesmo o Messias a guardou, mas pelo contrário a tornou inválida. No entanto, o próprio Yeshua ensinou que o homem só pode ser o maior no Reino se cumprir a Torah e a ensinar aos homens. E bem essa tarefa ele a cumpriu fielmente. Por isso Shaul, diz que ele depois de ter obedecido em tudo, até a hora de sua morte, foi então exaltado acima de todos. “Por isso, também Elohim o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Yeshua há Maschiach é Adon, para kvod (glória) de Elohim, o Pai.” Filipenses 2:9-11 Aqui é importante ressaltar que Yeshua não era um profeta enviado às nações como Yonah aos ninivitas, ou Shaul aos gálatas, mas “ministro dos que são da circuncisão, por amor à verdade de Elohim, a fim de confirmar as promessas feitas aos patriarcas.” (Romanos 15:8) Assim, embora seja verdade que um gentio que teme ao Eterno não está obrigado, pela sua própria condição de gentio, a cumprir todas as leis de abstinência de Levítico 11, da mesma forma como não está obrigado a celebrar ceia ou a imergir em água, isso jamais se pode dizer de um israelita, a quem Yeshua veio como ministro da circuncisão. Bem, isso nos leva de volta ao tema. O que Lucas disse ao atribuir a Yeshua a conclusão de que nenhuma comida é impura? Para entender isso precisamos primeiro recorrer ao contexto, pois a maior parte dos sofismas são construídos, e o contexto nos mostra que a discussão não era sobre alimentos puros ou impuros, o que nem faria sentido entre judeus teístas, mas sobre comer sem antes lavar as mãos, o que era considerado uma violação das takanot ou tradições rabínicas, embora o ritual do netilat yadaim nem sequer seja mencionado na Torah. Desmontando Sofismas

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“E ajuntaram-se a ele os perushim (fariseus), e alguns dos soferim (escribas) que tinham vindo de Yerushalayim. E, vendo que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar, os repreendiam. Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar as mãos muitas vezes; e, quando voltam do mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal e as camas. Depois perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos por lavar?” Marcos 7:1-5 Uma simples leitura revela imediatamente que não se discutiu absolutamente nada sobre a ingestão de alimentos proibidos pela Torah. Os fariseus e escribas não estavam escandalizados por que os discípulos estavam comendo um ensopado de camarão ou um pão apresuntado, mas pura e simplesmente porque estavam comendo pão sem fazerem o netilat yadaim, ou o ritual da lavagem das mãos, o que segundo eles tornava o pão, quando tocado, impróprio para o consumo de um judeu. Todavia alguns detalhes precisam ser considerados. Algumas bíblias afirmam que os discípulos comiam com as mãos impuras. Esse não é o caso. A palavra grega empregada é koinais, e significa apenas comum, pois a palavra grega para impuro ou imundo é akathartos como adjetivo e akatharsia como substantivo. E as mãos dos discípulos não estavam em estado de impureza akatharsia, mas em estado de koinais, isso é condição comum. É que a Halachá ou tradição judaica, exige que certas condições sejam cumpridas para que um alimento possa ser considerado kasher, ou próprio. Se ele não preencher essas condições, será considerado treif, isso é impróprio, mesmo que originalmente seja tahor, ou puro. Por exemplo, se um gentio manipular o vinho antes de ser engarrafado, o vinho passa a ser considerado impróprio, especialmente nas cerimônias dos dias sagrados como shabat ou Yom Tov (Dias Festivos). Desmontando Sofismas

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Da mesma forma, se um judeu tocar o alimento com as mãos por lavar esse alimento se torna treif ou comum, o que em grego é dado pela palavra koinais. E é importante considerar que mesmo a afirmação de que os discípulos comeram sem lavar as mãos pode não ser correta. Embora a lavagem das mãos antes de comer não seja obrigatória, ela também não é proibida. O problema é que de acordo com a tradição, se você não lavar as mãos da forma ritual, elas continuarão impuras. Não é ir a torneira com um sabonete. Primeiro tem de tirar os anéis dos dedos. Depois tem de segurar um copo liso ou uma caneca com duas asas com no mínimo120 ml de água. Tem se segurar a vasilha com a mão direita enquanto a enche. Depois passa-la para a mão esquerda e com ela verter água sobre a mão direita a partir do pulso, e passar o copo para a mão direita e repetir o mesmo com a mão esquerda. Depois as mãos tem de ser erguidas, para que a água escorra dos dedos para o pulso, e finalmente tem de proferir a benção específica: “Baruch ata Adonay eloheinu melech haolam, asher kideshanu bemitzvotav vetsivanu netilat yadaim. Bendito sejas tu eterno nosso Elohim rei do universo que nos santificas com os teus mandamentos e nos ordenas lavar as nossas mãos.” Toda essa carga de cerimonialismo em si não é transgressão de nada. Todo o povo tem direito à sua cultura. Um gaúcho tem direito às suas bombachas, a seu poncho e às suas esporas. Um judeu ao lavamento das mãos. O problema é que isso é feito em nome do Eterno, como um mandamento, como se ele tivesse ordenado. Leis humanas são atribuídas ao Todo-Poderoso, cobradas e exigidas como se não cumpri-las fosse a violação de uma mitzvah, de um mandamento. Foi contra isso que Yeshua se insurgiu quando os fariseus atacaram seus discípulos e lhes disse: Desmontando Sofismas

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“Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão, porém, me honram, Ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Elohim, retendes a tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição.” Marcos 7:6-9 O debate não é sobre comer ou não um alimento proibido. Extrapolar o sentido do debate, para defender o consumo de polvo, carne suína, canina ou reptiliana é desonestidade cometida por pastores e exegetas cristãos. Isso inclusive é desnecessário, posto que gentio não está obrigado a cumprir estas leis, mas apenas a concordar com elas. Yeshua ensina ainda que nosso estômago pode neutralizar a presença de bactérias e outros agentes contaminantes. É uma lei biológica. Ensina também que nossa alma não é contaminada quando comemos sem lavar as mãos, embora possa ser contaminada com os pensamentos e emoções que a povoam e que emanam dela na forma de ações pecaminosas como adultério, assassinato, furto e soberba. “E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas? Marcos 7:19-20. Bem, aqui é importante ressaltar o contexto da declaração. Cães podem ser comida para chineses, tracajás para amazonenses e leitões à bairrada para portugueses, mas não para um israelita para quem a Torah diz: “Também o porco, porque tem unhas fendidas, e a fenda das unhas se divide em duas, mas não rumina; este vos será imundo. Das suas carnes não comereis, nem tocareis nos seus cadáveres; estes vos serão imundos.” Vaykra/Lv 11:7,8 Desmontando Sofismas

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Esclarecido que Yeshua não estava falando a gentios, mas a judeus, para quem porco, paca ou cotia não são alimentos, posto que isso lhes é proibido, é evidente que alimentos usados por israelitas não deixam de ser puros por que alguém deixou de lavar as mãos. Voltemos a Yeshua, que aponta para o coração como o centro de nossas preocupações e não com o lavamento das mãos e todas as tradições estúpidas criadas pelo rabanismo e contrárias ao mandamento do Eterno. E dizia: O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” Marcos 7:21-23. A prova insofismável de que Yeshua estava a debater não sobre as leis alimentares de Levítico 11, mas sobre o lavamento das mãos é dada em Mateus. “São estas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem.” Matytyahu/Mt 15:20. Assim desfizemos mais um sofisma, primeiro o de que Yeshua tratou de alimentos no seu debate com os fariseus, e segundo que animais impuros alguma vez tenham sido considerados alimentos para Israel de acordo com a lei do Eterno.

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06 Ele Veio Para os Seus, mas os Seus Não o Receberam Dentre os numerosos sofismas utilizados para dar sustentação ao supersessionismo, que é a doutrina da substituição de Israel pela Igreja bem como ao dispensacionalismo, que é a doutrina da separação entre Israel e a Igreja, está a declaração de que Yeshua veio de fato para o seu povo Israel, mas como este não o recebeu, então ele se voltou para salvar a judeus e gentios, ligando-os a uma nova entidade, a Igreja, que para os supersessionistas é substituta de Israel e para os dispensacionalistas é paralela a Israel, ainda que superposta a ele. Supersessionistas e dispensacionalistas acreditam que quando Yochanan diz que Yeshua “veio para o que era seu, e os seus não o receberam,” ele está dizendo que o povo judeu rejeitou o Messias. E concomitantemente, que quando ele afirma que “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Elohim, aos que creem no seu nome;” (Yochanan/Jo 1:11,12) ele está dizendo que os que receberam Maschiach formam um novo povo, chamado de Igreja, o qual opera como entidade substituta ou sobreposta a Israel, isso como se eklesia, ou igreja não fosse mais que uma reunião de pessoas. O problema básico dessa abordagem, é que ela supõe uma mudança de propósito da parte do Eterno para com seu povo Israel e a criação de uma nova identidade para o seu povo. Tudo isso esbarra contra o próprio ensino de Yeshua que diante da desesperada mãe libanesa que clamava pela libertação de sua filha diz: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.” Matytyahu/ 15:24 Desmontando Sofismas

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Ainda que estas ovelhas perdidas não sejam os judeus e benjamitas presentes em Eretz Israel, mas os descendentes das dez tribos perdidas de Israel espalhados entre as nações. Contudo, é inegável que parte do povo judeu vivendo em Jerusalém conspirou para matarem o Maschiach. E no entanto, Yeshua anunciou antecipadamente que isso deveria acontecer, e que ele seria condenado à morte pelos seus irmãos judeus e entregue aos gentios para ser executado. “Eis que nós subimos a Yerushalayim, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios.” Marcos 10:33 E isso não podia ser evitado, do contrário, o plano da salvação que exigia que Maschiach obedecesse a Torah perfeitamente e depois fosse condenado pela desobediência daqueles cujos pecados voluntariamente tomou sobre si, teria fracassado. Yeshua tornou isso claro aos seus. “Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite.” Lucas 24:7. Por essa mesma razão, quando Kefah, disse: “Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso,” Yeshua o repreendeu severamente dizendo: “Para trás de mim, Satan, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Elohim, mas só as que são dos homens.” Matytyahu/Mt 16:22,23. Logo, é importante saber que toda essa conspiração, sem a qual o plano da redenção não se completaria, e ninguém poderia ser salvo, obedeceu à infalível predestinação traçada por El Shaday antes da fundação do mundo, uma conspiração da qual participaram não só os povos de Israel, mas como Kefa explicou aos yerosolomitanos depois de sua ocorrência, também os gentios, o que faz todo o sentido, pois Yeshua foi primeiro acusado diante do Sanedrim que era o tribunal rabínico e diante dos kohanim que eram saduceus, e depois ante Pilatos. Desmontando Sofismas

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“Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Yeshua, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer.” Atos 4:27,28 Simplesmente a justiça tinha de ser cumprida e a redenção do mundo exigia a condenação daquele que tomou sobre si os seus pecados. E no entanto, Yeshua, morto pelos gentios a pedido de integrantes de seu povo, foi levantado dentre os mortos, e exaltado a Sar et Moschia, isso é a príncipe e redentor para a remissão de seu povo Israel como mostra outro discurso de Kefa. “O Elohim de nossos pais ressuscitou a Yeshua, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro. Elohim com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.” Atos 5:30,31 Logo, se há uma coisa que não faz sentido mesmo é a afirmação de que Israel foi rejeitado, ou posto de lado, em função de não ter recebido Maschiach, e substituído por um conjunto de judeus e gentios sob o pálio da igreja. No entanto, o problema levantado pela declaração de Yochanan ainda persiste e sobre ele falaremos agora. A base para o sofisma de que a igreja ocupa o lugar de Israel, ou opera a seu lado, mas superposta a ele em cuidado e privilégios é a afirmação de que Maschiach veio para os seus, mas não foi recebido. Onde os seus aqui seriam os israelitas, e mais precisamente os judeus, e os que o receberam, nesse caso, judeus e gentios seriam esse novo povo peculiar, a Igreja, a quem o Eterno passa a se manifestar. Se trata de uma abordagem bastante tendenciosa, e que naturalmente prevalece da ignorância de fatores tão simples como o da distribuição da população judaica do primeiro século, quando menos de um quinto dos judeus viviam em Israel. Desmontando Sofismas

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Segundo o historiador alemão Theodor Mommsen (1817-1903), citado pela Jewish Encyclopedia de 1906 a população judaica mundial do primeiro século era de 8.000.000 de pessoas. Alguns historiadores afirmam que destes 8.000.000 de judeus, cerca de 6.000.000 milhões viviam dentro do Império Romano, incluindo 2.000.000 em Israel e os restantes 2 milhões espalhados noutras latitudes com na Arábia, na Etiópia, no Império Parta e no Império Persa Sassanida, que incluía a babilônia, onde estiveram cativos durante 70 anos. As estimativas de Mommsen elevam a população judaica de Israel a um máximo de 25%, ou seja a um quaro do total. Mais conservador, Adolf von Harnack (1851-1930) estima o total da população judaica do primeiro século em 4.200.000, sendo 700.000 em Eretz Israel, 1.000.000 no Egito, 1.000.000 na Síria, e 1.500.000 no resto do mundo, principalmente Espanha e Babilônia, uma província Persa Sassanida dentro do atual Iraque, e de onde a maioria dos exilados da invasão babilônica jamais voltou. As estimativas de Harnack permitem concluir que menos de um quinto da população judaica morava em Israel, e para ser preciso apenas 15%. 2 Como poderia um povo, cuja grande massa vivia na diáspora ter rejeitado a Yeshua sem jamais tê-lo visto ou ouvido? Ora, não posso recusar sua visita se você passa de ônibus na rodoviária de Ji-paraná e nem ao menos me avisa de sua chegada, pois eu não moro na Rodoviária, mas na minha casa. Contudo, nem mesmo os judeus de Israel podem ser acusados de tal despropósito, posto que o próprio Maschiach ordenou a seus discípulos “que a ninguém dissessem que ele era Yeshua o Maschiach.” Mateus 16:20. Apesar disso Yeshua foi amado pelas multidões, o que contrasta com a lenda de que ele era odiado pelo povo. Por exemplo, quando ele soube da execução de Yochanan Ben Zecharayah, o João Batistas de nossas Bíblias, lemos que Yeshua: STATISTICS:, By: Joseph Jacobs, The unedited full-text of the 1906 Jewish Encyclopedia http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13992-statistics 2

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“Retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades. E, Yeshua, saindo, viu uma grande multidão, e possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus enfermos.” Mateus 14:13,14 Naquela ocasião cerca de 5.000 homens, fora mulheres e crianças, o que dá em torno de 20.000 pessoas, se acotovelavam em torno do Messias, no maior banho de multidão que qualquer rabino jamais sonhara. E no entanto Yeshua fugia se ser popularizado, ele veio muito mais para ser o Maschiach do que para anunciar que o era. Quando ressuscitou a filha do Presidente da Sinagoga, Yeshua: “Mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse.” Marcos 5:43. Logo depois da ressurreição de Lázaro, um milagre que não podia ser passado em branco, por mais que Yeshua o desejasse, as multidões que seguiam a Yeshua despertaram a inveja daqueles que traficavam com Roma, pagando suborno para se manterem em suas posições e recebendo em troca a sua proteção, se preocupavam com seu prestígio. “A multidão, pois, que estava com ele quando Elazar foi chamado da sepultura, testificava que ele o ressuscitara dentre os mortos. Por isso a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal. Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após ele.” Yochanan/Jo 12:17-19 Quando se aproximava a festa do Pessach, os líderes conspiravam para o matar, mas sabiam que o povo o amava, e decidiram não prendêlo durante a festa. “E dali a dois dias era a páscoa, e a festa dos pães ázimos; e os principais dos sacerdotes e os escribas buscavam como o prenderiam com dolo, e o matariam. Mas eles diziam: Não na festa, para que porventura não se faça alvoroço entre o povo.” Marcos 14:1,2 Desmontando Sofismas

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Logo, o conceito de que os judeus, haviam rejeitado o Messias cai diante do evangelho que mostra como Yeshua sequer se esforçou para ser reconhecido como Maschiach. Outro argumento de peso é que todos os seus apóstolos eram judeus. E se isso fosse pouco, após a sua partida estes judeus permaneceram em Jerusalém até a festa de Shavuot, ou pentecostes, uma festa ordenada na Torah, quando então receberam a ruach há kodesh. Quando Shavuot terminou centenas de judeus e prosélitos do judaísmo que tinham vindo de todas as partes do mundo para adorar em Yerushalayim abraçaram Yeshua como Messias como Luvas nos informa ao dizer: De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas.” Atos 2:41 A obra não parou por ali. Ela continuou a crescer, especialmente na capital espiritual de Israel, e pouco depois lemos um testemunho poderosíssimo, o de que a tribo de Levy, que era a tribo incumbida do ensino da Torah ao povo, tinha se voltado para o Maschiach e que a maior parte dos sacerdotes abraçara o caminho. “E crescia a palavra de Elohim, e em Yerushalayim se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé.” Atos 6:7 Isso lhe parece pouco? Então tome outro testemunho que deve reduzir a nada a argumentação de que os judeus rejeitaram a Yeshua. O testemunho retirado do segundo concílio de Yerushalayim, onde Yakov, o Nasi, ou presidente dos nazarenos, comemora também o sucesso da pregação entre os judeus, declarando a Shaul há Shaliach: “Ouvindo isso, glorificaram a Elohim e disseram a Shaul: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus abraçaram a fé sem abandonar seu zelo pela lei.” Atos 21:20 Desmontando Sofismas

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Bem, então como ficamos com o texto de Yochanan que temos vindo a discutir em seu contexto provando primeiro que a maioria dos judeus, isso é 80% deles sequer ouvira falar de Yeshua para poder rejeitálo, pois viviam no exterior, logo que as multidões amaram a Yeshua, apesar dos agitadores empregados para clamar pela sua morte durante o Pessach, e finalmente que depois da partida de Yeshua dezenas de milhares vieram a crer? A resposta está no próprio texto e não tem a ver com os judeus em particular, dos quais Yeshua se revelou a muito poucos, mas com o mundo do qual eles eram uma parte. “Era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Elohim.” Yochanan/Jo 1:9-12. Yeshua estava no mundo, que foi feito por meio dele, e o mundo não o conheceu, exceto aqueles que o Pai lhe tinha dado como ele expressa claramente naquela que é chamada de a oração sacerdotal. “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus e deste-mos e guardaram a tua palavra.“ Yochanan/Jo 17:6 Isso fica ainda mais claro nestas palavras. “Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci, e estes sabem que tu me enviaste.” João 17:25 E assim se vai mais um sofisma, o de que os judeus rejeitaram Yeshua e por causa disso nasceu um novo povo para lhe tomar o lugar ou para sobrepor-se a ele. Desmontando Sofismas

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07 Fazei Tudo o que os Fariseus Vos Disserem Bem, vivemos tempos maravilhosos. Se no passado um cidadão português que quisesse ler as sagradas escrituras precisaria saber latim e receber uma autorização especial do bispo, hoje a Bíblia é livremente distribuída, e existem dezenas de traduções na Língua Portuguesa. Evidentemente que precisamos considerar que muitas destas versões moderninhas atendem não só a interesses do mercado editorial no pais de 100 milhões de Bíblias, ou a necessidade de corrigir erros, mas também às distintas agendas de cada grupo, que geram ainda mais erros, falsificando traduções, amoldando-as às suas doutrinas e distanciando as pessoas cada vez mais da originalidade escritural. Claro que nem todos os erros da Bíblia portuguesa são propositais. Alguns são frutos da ingenuidade, e resultado direto da crença equivocada e universalmente aceita nas igrejas cristãs do Ocidente de que o Novo testamento, a começar pelo Sefer Matytyahu ou Livro de Mates foi de fato produzido em grego. Esse engano jaz a raiz de uma série de outros enganos ensinados hoje nos púlpitos modernos e proclamados através em seminários e conferências cristãs por todo o mundo. Contudo pode ser facilmente contestado. Em sua obra grega Πανάριον (Panarion) ou Baú dos Remédios, o historiador cristão Epiphanius de Salamina (315-403) afirma sobre os nazarenos: Panarion, Capítulo XXIX “9:4. Eles têm o Evangelho segundo Mateus totalmente em Hebraico, pois é claro que eles ainda preservam este como foi originalmente escrito no alfabeto hebraico.” 3 3

Leia mais: http://www.judaismonazareno.org/news/os-nazarenos-e-a-arca-de-remedios/

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Eusébio de Cesaréia (265-339) recorre ao testemunho de Papias de Hierápolis (70-163), um dos primeiros homens incluídos entre os “Pais da Igreja” e ao seu testemunho proferido no início do segundo século II para provar que Mateus foi escrito em hebraico: “Mateus compôs suas palavras no dialeto hebraico” (citado por Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, 3:39)4 Da mesma forma ele cita a Origenes de Alexandria (184-254), outro pai grego dos cristianismo já desviado da sua origem nazarena para afirmar não só que de fato Matytyahu foi o primeiro dos sifrei bessorat ou livro dos evangelhos, mas também para dizer que ele o escreveu originalmente em hebraico, e para seu próprio povo: “O primeiro Evangelho foi escrito segundo Mateus, o mesmo que era coletor de impostos, mas que se tornou emissário de Yeshua Há Maschiach; quem publicou para os crentes judeus, escrevendo-o em Hebraico” (citado por Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, 6:25).5 Este é um dado muito importante na análise das Escrituras, e estou certo de que quando as origens semíticas das Brit Chadashá forem consideradas, bem como o texto grego passe a ser um texto auxiliar e não mais o texto chefe na investigação, muita, mas muita coisa mesmo há de mudar em nossa compreensão dos fatos. Bom, mas ignorando isso, o que sabemos e que todas as traduções do Novo Testamento registram que Yeshua manda obedecer aos rabinos, não em algumas coisas, mas em tudo quanto ensinam, que é justamente o que vamos estuda hoje. Ora, o Sefer Matytyahu dedica boa parte de seu escrito a descrição e comentário dos debates havidos entre Yeshua, os fariseus, os saduceus e os herodianos, sendo que o capítulo 23 é dedicado às gravíssimas denúncias de Yeshua aos chefes daquela seita, que naquela época, antes da destruição do Terceiro Templo, só exista em Israel e que possuía segundo Yosef Matytyahu ou Flavio Josefo, cerca de 6.000 membros, o que com o agregado familiar o elevaria a um máximo de 30.000 adeptos. 4 5

Idem. Idem.

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E o início dessas denúncias aparece nesta declaração de Yeshua que transcrevo aqui a partir do texto da Almeida Corrigida e Revisada Fiel, calcado no grego como o resto das dezenas de Bíblias portuguesas. “Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observaias e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem.” Matytyahu/Mt 23:1-3 Por um lado esse texto é o pão das delícias do movimento judaico messiânico e por outro é o pesadelo dos cristãos avessos tanto ao ensino de Moshe como ao dos rabinos. Para os judeus messiânicos este pão das delícias se traduz no fato provado, e consistentemente ignorado pelos crentes, que aquele que é considerado o Messias, tanto pelos judeus messiânicos como por seus irmãos gentios cristãos está ensinando três coisas; Primeiro que os soferim ou escribas e seus aliados os perushim ou fariseus se assentam na cadeira de Moshe, o que lhes confere autoridade, e de fato há indícios de que nas sinagogas farisaicas do primeiro século havia uma cadeira onde o Nasi ou dirigente do grupo se assentava para ensinar, e que era chamada de “Cadeira de Moshe”. Segundo que seus discípulos estão obrigados a observar não apenas algumas coisas mas todas as coisas que os fariseus ensinam, o que confere à restauração um tom cada vez mais rabínico e farisaico. Terceiro que os fariseus são reprováveis não pelo que ensinam, mas pela hipocrisia que os leva a transgredir as boas coisas que ensinam. Já para os cristãos o texto adquire um tom alarmante e se converte num verdadeiro pesadelo, já que não há nada que o cristianismo mais deplore do que o ensino da Torah, que juram de pés juntos ter sido abolida por Yeshua. Desmontando Sofismas

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Ora, é evidente que se esse texto estiver correto, cada igreja deveria incluir a “cadeira de Moisés” na sua arquitetura, cada pastor deveria implorar para que uma rabino herdeiro do farisaísmo para atuar como seu professor da escola dominical ou da escola sabatina, tanto faz, e cada membro deveria observar cada um dos ensinamentos. Afinal, a frase central do texto atribui a Yeshua ter dito: “Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai.” Almeida Revisada Imprensa Bíblica. Para resolver o problema desse caroço realmente difícil de engolir por parte de uma igreja cristã que faz questão de se proclamar por um lado seguidora de Yeshua, ou melhor de Jesus, e por outro lado livre da Lei de Moisés, o dispensacionalismo apareceu com uma novidade muito interessante, uma espécie de chave que fecha qualquer porta. Jesus não falou para a Igreja, mas somente para Israel. É claro que o dispensacionalismo nem mesmo sabe o que é Israel e ignora que Yeshua foi “enviado somente às ovelhas perdidas da cada de Israel,” como ele mesmo disse em Matytyahu ou Mateus 15:24. Contudo, ele não falou diretamente a Israel, sendo essa a missão de seus discípulos, pois Israel tinha sido levado ao exilio, e suas 10 tribos tinham se tornado as ovelhas extraviadas da casa de Israel. Se os dispensacionalistas ao menos soubessem que a nova aliança é feita com “a Casa de Israel e com a Casa de Judá,” (Ivrim/Hb 8:8-11) ou seja, com as duas casas Israel, poderiam dizer que Yeshua não falou para os cristãos, o que é verdade porque eles nem mesmo existiam, mas apenas aos judeus, tendo por alvo as ovelhas da Casa de Israel, levadas ao exílio assírio por Sargão II e subvertidas entre as nações de onde nunca mais retornaram, e onde perderam a identidade até a restauração. Mas sinceramente não vejo em que isso melhoraria o problema levantado pelo texto, posto que Yeshua teria ordenado “à multidão, e aos seus discípulos,” e isso em relação aos “escribas e fariseus”, “tudo o que vos disserem, isso fazei e observai.” Matytyahu Mt 23:1-2. Dizem os dispensacionalistas, usando de sua chave que fecha qualquer porta, que os crentes em Yeshua eram judeus, e estavam sob a obrigação da Torah, coisa que não obrigaria mais à igreja a partir da sua morte. É desnecessário dizer que esse é mais um sofisma facilmente contestado. Desmontando Sofismas

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O mesmo Matytyahu recorda que Yeshua, depois de morto e ressuscitado, e quando supostamente a Lei não estaria mais em vigor: ordenou aos apóstolos ir ao mundo inteiro, fazer discípulos entre todos os povos, mas sem excluir absolutamente nada do que ele havia ensinado: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações... Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos. Amém.” Matytyahu/Mt 28:19-20 ... Alegam ainda os dispensacionalistas que a base comportamental da Igreja não é o que Jesus falou aos judeus, mas o que Paulo falou aos cristãos. Também esse é um engodo colossal. O mesmo Shaul diz: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Yeshua há Maschiach”. 1 Coríntios 3:11 Assim, se a base da igreja fossem as palavras de Paulo ela não seria a kehialh do Maschiach, mas a Eklesia ton Paulus ou a Igreja de Paulo. Mas Shaul nos ensina uma coisa completamente diferente. Ele não apela para que ninguém nos torne prisioneiro de enganos “Por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Maschiach... que é a cabeça de todo o principado e potestade.” Colossenses 2:8,10 Isso nos traz de volta ao texto que neojudaísmo tupiniquim operando sob a agenda oculta dos antimissionários e que desdenha do Novo Testamento elegeu como “ verdadeira palavra de Yeshua.” Eles o tornaram o pão-de-ló de suas homilias pregando-o a exaustão. Naturalmente ignoram os antimissionários e seus agentes disfarçados que essa redação foi produzida pela ingenuidade dos copistas, que ignoram por um lado que Mateus não escreveu seu livro em grego, mas em hebraico, e por outro lado que esse texto hebraico foi preservado e pode ser consultado, resultando dessa consulta a desmistificação do judaísmo messiânico farisaico que expõe o retorno à tradição oral como uma necessidade ordenada pelo Messias, como também da argumentação cristã que atrás já foi considerada. Desmontando Sofismas

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O livro de Mateus em hebraico foi preservado e chegou até nossos dias graças à obra de Shem Tov ben Isaac Ibn Shaprut, um erudito judeu envolvido em polêmicas em defesa da fé judaica contra os cristãos católicos. Shem Tov encontrou a versão hebraica num escrito sefardita do século XIV titulado Even Bojan. A partir daí ele o copilou lá por volta de 1385 em Rarazona de Aragón na Espanha e o trabalho existe até hoje. O que faremos agora é comparar o texto grego com o texto hebraico e demonstrar como Yeshua ensinou uma coisa, que seus discípulos obedecessem a Moshe em tudo, e os copistas gregos, por ignorância da origem semítica do texto, ou mesmo pelo choque ante a declaração de um profeta que julgavam contrário a Moshe registraram que ele ordenou obedecer aos fariseus, como se os cristãos preferissem tal obediência. Comecemos pelo texto grego: “λεγων επι της μωσεως καθεδρας εκαθισαν οι γραμματεις και οι φαρισαιοι παντα ουν οσα αν ειπωσιν υμιν τηρειν τηρειτε και ποιειτε κατα δε τα εργα αυτων μη ποιειτε λεγουσιν γαρ και ου ποιουσιν.” Legon epi tes Moiséos kathedras ekáthisan oi grammateis kai oi Farisaioi, panta oun osa eán eíposin umín poiésate kai tereite, katá de ta erga auton me poieite: légousin gar kai ou poiousin.” “Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e os fariseus. Fazei e observai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem.” Mateus 23:2,3 Agora vamos ao texto hebraico: Al kise Moshe yeshvu ha-perushim ve-hachamim. Ve-ata, kol asher yomar lachem shimru va-asu uve-takanotechem umaasechem al taasu shechem om-rim ve-enam osim. "Os Fariseus e os sábios se assentam na cadeira de Moisés. Por conseguinte tudo o que ele diga fazei-o diligentemente, mas não de acordo com suas ordenanças, (takanot) y suas regras (ma‘asim), isso não façais, porque eles dizem mas não fazem.” Desmontando Sofismas

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Então como já vimos Matytyahu registrou uma ordem dada por Yeshua a seus discípulos, isso é para que obedecessem a Moshe em tudo, apesar de que os fariseus tinham se assentado na sua cadeira, e os copistas gregos do texto hebraico subverteram a ordem em sua tradução e a fizeram uma prescrição para que os rabinos fossem obedecidos, mas não imitados. Seguindo essa mesma ingenuidade, e apesar de sua indisposição de obedecerem aos rabinos ser ainda maior do que a de obedecer a Moshe, divinamente ordenado, os cristãos depois inventaram de inventar que Jesus não falou a igreja, e que não estamos mais sob tais obrigações, o que já foi suficientemente contestado, já que os santos estão sendo “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo a principal pedra angular o próprio Yeshua há Maschiach.” Efésios 2:20 Isoladas estas palavras do texto grego, ingenuamente traduzidas por quem nem sequer imaginava o serviço que tais palavras produziriam em favor do rabinismo, elas dão a entender que Yeshua sancionou a autoridade rabínica então em formação e que mais tarde se ensenhorearia dos judeus mundo a fora. Mas a verdade ele está denunciando o rabanismo e ensinando que nunca devem ser seguidos além do que Moshe ordena, pois não eram exemplo para ninguém. “Não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem.” Matytyahu/Mt 23:3. Entre os versos 4 e 8 Yeshua condenou-lhes o atar mandamentos pesados sobre o povo e não os cumprir, o atuarem pelo prazer de serem vistos e de se destacarem sobre os outros como Rabi, ou Grande. Entre os versos 13, 14 e 23 Yeshua os denuncia como hipócritas por fechar o reino dos céus aos homens (v 13), empobrecer as viúvas (14), fazer de seus prosélitos filhos do inferno ainda mais que eles mesmos (14), dizimarem meticulosamente, mas negligenciando a caridade, a misericórdia e a fé (23). Desmontando Sofismas

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Entre os versos 24 a 29 Yeshua denuncia o farisaísmo por se ocupar das aparências do exterior, com a forma como eram vistos pelos homens enquanto mantinham a sua alma tão pútrida como o recheio dos sepulcros brancos e caídos por fora, mas cheios de corrupção e imundícia em seu interior (25), bem como por edificar os túmulos dos profetas mortos por seus antepassados sem confessar-lhes suas culpas e sem expiar seus crimes mediante um sincero arrependimento (29). Isso nos vela a questão da autoridade que nunca foi passada aos rabinos. Biblicamente falando o supremo juiz era o Kohen Ha Gadol ou sumo sacerdote de quem o Altíssimo falou ao dar essa ordem a Moshe: E vestirás com eles a Arão, teu irmão, e também seus filhos; e os ungirás e consagrarás, e os santificarás, para que me administrem o sacerdócio.” Shemot/Ex 28:41 Diante desse fato, em que Moshe recebe a Torah e consagra sacerdotes para a ministrarem dá para entender como os fariseus se assentaram na cadeira de Moshe. Eles não estavam fazendo isso por concessão de El Shaday, mas por usurpação. Esta cadeira passada aos sacerdotes, para que ensinassem a Torah, foi tomada de assalto pelos rabinos, isso é, ela foi indevidamente usurpada, sem que para isso tivessem recebido tal incumbência, e é isso que Yeshua estava censurando. Todas as causas difíceis eram para ser levadas pelo povo diretamente aos sacerdotes, no santuário. Portanto, nunca houve esta autoridade rabínica da qual Maimônides se ufana junto com o judaísmo ortodoxo. A Torah é clara. “Quando alguma coisa te for difícil demais em juízo, entre sangue e sangue, entre demanda e demanda, entre ferida e ferida, em questões de litígios nas tuas portas, então te levantarás, e subirás ao lugar que escolher Yehovah teu Elohim; e virás aos sacerdotes levitas, e ao juiz que houver naqueles dias, e inquirirás, e te anunciarão a sentença do juízo. E farás conforme ao mandado da palavra que te anunciarem ... Conforme ao mandado da lei que te ensinarem, e conforme ao juízo que te disserem, farás; da palavra que te anunciarem te não desviarás, nem para a direita nem para a esquerda.” Devarim/Dt 17:8-11. Desmontando Sofismas

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Cabia a esses sacerdotes e a ninguém mais, por direito perpétuo definido pela Torah exercer o julgamento da nação, e ensiná-la a cumprir a Torah. Essa era sua missão divinamente ordenada. E isso foi reiterado pelo profeta cujo livro fecha o cânon do Tanach lá por volta do ano 430. “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a Torah porque ele é o mensageiro de Yehovah Tzevaot”. Malachy/Ml 2;7 Malaquias registra uma séria advertência aos sacerdotes devido à sua parcialidade no julgamento do povo. Mas nunca menciona a substituição da casa de Levy pela casa de Judá, ou dos sacerdotes por rabinos, padres, pastores ou presbíteros. Pelo contrário. Diante da ruína de Levy e da casta sacerdotal seguiu-se a queda de da Casa de Judá. “Yehudah tem sido desleal, e abominação se cometeu em Israel e em Yerushalayim; porque Yehudah profanou o santuário de Adonay, o qual ele ama, e se casou com a filha de deus estranho.” Malachy/Ml 2:11. Claro que além dos sacerdotes a Torah determinou o estabelecimento da monarquia. Eles podiam ter um rei como as nações, mas não podiam escolhe-lo como elas: O mandamento foi: “Porás certamente sobre ti como rei aquele que escolher o Yehovah teu Elohim...” Devarim/Dt 17:15. E não podia ser um homem que se levantasse “sobre os seus irmãos,” (Devarim Dt 17:20) ou que julgasse em base de qualquer outra lei além da que estava escrita, além da lei dada aos levitas. “Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas.” Devarim/Dt 17:18. Não há aqui nem acenos da mitológica lei oral, pois até mesmo os reis se submetiam a uma autoridade abaixo dos sacerdotes, mas acima deles, que era a dos profetas que os ungiam. Ao dizer que o profeta “lhes falará tudo o que eu lhe ordenar,” (Devarim/Dt 18:18) Adonay mostra que só um profeta pode legislar. Desmontando Sofismas

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A prova da autoridade dos profetas sobre os reis é que Eliahu ungiu aos sucessores nos tronos de Israel e da Síria.

“E Adonay lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damsec; e, chegando lá, unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Yehu (Jeú), filho de Ninsi, ungirás rei de Israel. Melachim Alef/ 1 Rs 19:15. Esta é a cadeia de comando divinamente ordenada; primeiro os sacerdotes, logo os profetas e por último os reis. Por que a autoridade rabínica não é citada? Por que não foi ordenada por Adonay, e nem lhe subiu ao coração, mas usurpada. Eles tomaram a cadeira de Moisés e criaram suas próprias leis sem nenhuma procuração por parte do Altíssimo, sem nenhuma ordem direta. Isso exige uma palavra final com relação a ministração da Palavra, posto que quem vos fala não é rei, profeta ou sacerdote. Hoje jutamente com outros milhares de crentes israelitas ministro a palavra e ensino a Torah, mas sem a pretensão rabanita de autoridade especial sobre o povo. Nesse momento Israel se torna uma nação sacerdotal. “E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel. “ Shemot/Ex 19:6 Nessa condição, nossa autoridade tem de emanar da Palavra, e nossos ouvintes tem o dever de examinar se o que falamos corresponde exatamente ao que está escrito na Palavra. Esse é o novo sacerdócio trazido por Yeshua, o sacerdócio de Melktsedek no qual alguns podem até ser separados para o magistério da Palavra, mas como servos de todos.

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08 Mas Aquele que Perseverar até ao Fim Esse Será Salvo Quando Yeshua declarou: “mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo,” estava fazendo uma promessa de encorajamento, que foi transformada num elemento dissuasor da certeza da salvação num pilar de sustentação da teologia da incerteza. Comecemos então por analisar a declaração de Yeshua: “mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo,” mencionada por Matytyahu (10:22) e repetida por Marcos (13:13) em torno da qual se ergueram dois sofismas contra os quais devemos nos precaver. 1. O primeiro sofisma é abertamente legalista e vê a salvação como pagamento ou recompensa do Criador à crença e ao esforço de suas criaturas. De acordo com essa premissa ninguém poderá crer ou sentir que está salvo até que morra em fidelidade ou seja coroado diante do tribunal de Maschiach. 2. O segundo sofisma é semi evangélico e vê a salvação como uma transação por meio da qual o Criador a concede à criatura como direito de posse provisória, mas não como propriedade, pelo menos não até a volta de Maschiach. A salvação nesse caso é um empréstimo, que pode, e de fato será retomado caso o indivíduo não permaneça fiel até o último dia de sua vida. Comecemos pelo primeiro sofisma, que é abertamente legalista e apregoa que a salvação é uma espécie de pagamento ou recompensa do Criador às suas criaturas obedientes, uma premissa que não pode ser amparada em parte alguma das Escrituras. E mesmo os eventos comuns da história provam que ela não pode ser verdadeira. Desmontando Sofismas

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Na Torah Yehovah deixou claro que, por sua própria justiça, Israel não adquiriu sequer o direito de entrar na Terra Prometida, extirpando de sua presença os pagãos que a infestavam com suas práticas detestáveis. A invasão hebraica não se baseou nos méritos de Israel, mas sim nos deméritos dos pagãos, cuja maldade era maior que a dos israelitas. “Não é por causa da tua justiça, nem pela retitude do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela maldade destas nações... e para confirmar a palavra que Yehovah, teu Elohim, jurou a teus pais, Avraham, Ytzchak e Yakov.” Devarim/Dt 9:5 Aprendemos da própria redenção nacional de Israel, ocorrida em 1300 AEC, que sua entrada na Terra Prometida não se devia a qualquer justiça ou bondade inerente, mas unicamente ao misericordioso juramento feito aos patriarcas daquele povo obstinado e transgressor. “Sabe, portanto: não é, de forma alguma, por qualquer mérito de justiça ou porque sejas bom, que Yehovah teu Elohim te concede possuir esta boa terra, porquanto tu és um povo teimoso e desobediente!” Devarim/Dt 9:6. No entanto, a teimosia e desobediência, características do Israel que peregrinou no deserto, e foi misericordiosamente preservado para tomar posse da terra dada por juramente a seus ancestrais, não é apenas um problema israelita, mas é um problema de todos os homens, de todos os povos. “Pois não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.” Kohelet/Ec 7:20. Através de Yeshayahu, o profeta messiânico, que conhecemos por Isaías, o Altíssimo se refere a Israel nestes termos: “A esse povo que formei para mim; o meu louvor relatarão.” Yeshayahu/Is 43:21 E, no entanto, para que fique claro que isso não é uma questão de mérito do Israel de Elohim, mas de dom do Elohim de Israel, o Criador declara: Desmontando Sofismas

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“Contudo tu não me invocaste a mim, ó Jacó, mas te cansaste de mim, ó Israel. Não me trouxeste o gado miúdo dos teus holocaustos, nem me honraste com os teus sacrifícios; não te fiz servir com ofertas, nem te fatiguei com incenso. Não me compraste por dinheiro cana aromática, nem com a gordura dos teus sacrifícios me satisfizeste, mas me deste trabalho com os teus pecados, e me cansaste com as tuas iniqüidades.” Yeshayahu/Is 43:22-24 Depois desse horrendo testemunho o que encontramos é o Altíssimo recordando que Israel não era salvo nem mesmo pelo amor que o Altíssimo lhe tinha, mas em resultado do amor por seu próprio nome, empenhado em tão solene juramento feito aos patriarcas. “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro.” Yeshayahu/Is 43:25 Consequentemente a redenção não é um pagamento concedido, a fiéis redimidos, mas um dom gratuito outorgado pelo Redentor. Fosse Israel fiel à sua vocação, o que não aconteceu, o Criador, estaria em obrigação para com ele, e sua redenção não seria uma questão de dádiva, mas de direito como Shaul expõe magnificamente ao dizer: “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra.” Romanos 11:5,6 Assim como o remanescente de Israel subsiste por graça, e não por suas obras, da mesma forma desfrutamos da salvação, hoje, aqui e agora não como um galardão, mas como um dom, não como um pagamento por nossa fidelidade, mas como um presente do qual nos apoderamos através da confiança. Desmontando Sofismas

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Simplesmente a salvação não decorre de nada do que fizemos, estamos fazendo ou viremos a fazer. Ela é inteiramente graciosa, isso é completamente alheia a nossos méritos. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Elohim. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” Efésios 2:8,9 No processo da salvação Não há glória alguma para ser compartida entre o Criador e a criatura, toda a glória é de El Shaday, do princípio ao fim. Logo, a salvação dos eleitos não é uma recompensa alcançada por seus próprios méritos, mas uma recompensa ao Maschiach por sua fidelidade em favor de muitos. “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si.” Yeshayahu/Is 53:11 Esclarecido que a salvação não é conquistada por nossa própria fidelidade, embora resulte em fidelidade, já que somos “criados em Yeshua há Maschiach para as boas obras (Efésios 2:10), ainda resta explicar em que sentido Yeshua diz que os que perseverarem até o fim serão salvos. Ora o texto é parte de um discurso de conforto aos santos. Yeshua estava consolando-os de que apesar do sofrimento e perseguição e de serem odiados de todos por causa de seu nome, ainda assim eles seriam protegidos. O sofrimento futuro seria abreviado por amor daqueles que tinham sido escolhidos no passado. “E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.... E, se Yehovah não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou aqueles dias.” Marcos 13:13, 20. Desmontando Sofismas

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Esclarecido que não há sofrimento suficiente para derrubar os eleitos e separá-los do amor de Elohim, nos concentraremos agora no segundo sofisma, o que supõe que o crente, sim recebe a salvação quando crê, mas que isso não garante que ele será salvo afinal. Para esses crentes, a salvação não é um pagamento dado em recompensa pelas boas obras, mas também não é um dom, sendo antes um empréstimo a ser guardado por aquele que o recebeu. A questão que estes crentes precisam responder é que de acordo com a linguagem de Yeshua a salvação é descrita primeiro como a vida eterna concedida aos que ouvem a sua palavra e creem no Eterno que o enviou. E eu gostaria de enfatizar isso, a fé em Yehovah que enviou Maschiach é o fundamento básico da salvação. Logo, o Messias é a porta, o caminho para a casa do Pai. O segundo ponto é que Yeshua diz que quando ouvimos a ele e cremos no Pai, nós passamos da morte para a vida. “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Yochanan/Jo 5:24. Uma vez que os que creem que a salvação depende da perseverança do salvo, e que nem todos hão permanecer, mas ao contrário que “estão salvos” cairão da graça a passarão à condição de “não salvos”, somos forçados a perguntar: “Sendo que pela fé passamos já da morte para a vida, é possível que pela incredulidade façamos o caminho inverso e passemos da vida para a morte?” Bem, para responder essa pergunta farei outra: “Afinal, a salvação é um dom ou um empréstimo?” desde logo, essa é uma pergunta retórica, pois a Brit Chadashá refere diversas vezes que a vida eterna é um dom. Desmontando Sofismas

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“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Elohim é a vida eterna, por Yeshua há Maschiach nosso Adon”. Romanos 6:23 Tenha em conta que existe uma diferença essencial entre um dom e um empréstimo. Um empréstimo no entanto é concedido sob a condição de devolução. Por outro lado, um dom é concedido em base unicamente da disposição do doador, sem nenhuma condição por parte do receptor. Logo, é claro que aquele que nos deu a vida eterna não pode toma-la de volta. Contudo há um problema. Shaul nos lembra que temos “este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.” 2 Coríntios 4:7 Isso quer dizer que em nenhum momento podemos nos gloriar em nós mesmos. Logo nossa garantia deve repousar sobre uma segurança maior do que nós mesmos, a de que somos os objetos da graça, mas não a própria graça. Ora, recentemente a marca Christie's, sediada em Nova York, vendeu a Harry Winston "The Blue" o Diamante Azul. A joia de 13,22 quilates, aproximadamente 2,7 gramas, foi vendida ao fantástico preço de 24,3 milhões de dólares, e é de se esperar que seu novo dono invista não apenas num seguro milionário, mas também na proteção de sua aquisição. E se o dono de uma joia investe em sua segurança, quanto mais aquele que não nos comprou “com coisas corruptíveis, como prata ou ouro,” mas com um preço muito maior “com o precioso sangue de Maschiach,” (Kefa Alef/1 Pd 1:18-19) não investirá poderosamente em nossa segurança. Se nos perdêssemos eu asseguro de que isso seria uma perda insignificante comparada ao universo dos perdidos que serão tão numerosos como a areia do mar. Mas para o Eterno seria como perda de todo o universo, pois significaria o fracasso de sua predestinação, o erro de sua eleição, a derrota de seu propósito e a perda de sua propriedade, porque agora somos seus. Desmontando Sofismas

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Para que isso não aconteça, aquele que nos selou para o dia da redenção, no deu a vida eterna, mas a manteve em segurança junto a Yeshua, no próprio Caixa Forte do Universo. “E o testemunho é este: que Elohim nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Elohim não tem a vida.” Yochanan Alef/1 Jo 5:11,12 Yeshua de fato ensina que a salvação é um dom eterno, não um empréstimo, e que suas ovelhas estão eternamente salvas, porque aquele que nos remiu as deu a Maschiach, a quem concedeu também o mais elevado poder alguma vez dado a um homem, o de guarda-las de tal forma que ninguém as possa arrebatar, e se esse poder fosse pouco, as ovelhas repousam ainda nos braços do Pai. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.” Yochanan/Jo 10:27-29 Os maiores poderes do universo estão empenhados na nossa redenção. Precisamos ter em conta de que o Pai e o Filho estão absolutamente entregues ao plano de nossa salvação, e em garantir que não fiquemos pelo meio do caminho. E esse é o grito em uníssono de todos os shalichim ou apóstolos. É confessado por Kefa que diz que somos guardados pelo poder de Elohim até a salvação a ser revelada nos acharit há yamim: “Que mediante a fé estais guardados no poder de Elohim para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo.” Kefa Alef/1 Pd 1:5 Desmontando Sofismas

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É cantado por Shaul quando diz que o Altíssimo que iniciou em nós a boa obra nos santos a consumará em glória até o dia de Maschiach. “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Yeshua há Maschiach.” Filipenses 1:6 É enaltecido por Yehudah que termina sua breve carta dizendo que o Altíssimo é poderoso para nos guardar, e de fato o fará até ao fim, e nos apresentará imaculados diante de sua face, e para sua própria glória. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, Ao único Elohim sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre.” Amém.” Yehudah/Ju 23-24. Portanto, de fato perseveraremos até ao fim, não por nossas forças, mas na força daquele que nos guarda de tropeços. Desfaz-se assim mais um sofisma, o de que se não perseverarmos até ao fim não seremos salvos. Digamos pois como no dia em que finalizamos um dos sifrei há Torah, ou livros do Pentateuco: “Chazak, chazak, venit`chazek (força, força, e seremos fortalecidos). Amen e amen b`shem Yeshua há Maschiach.

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09 Ninguém Vos Julgue Por Causa de Comida ou Bebida Este estudo se dedicará a analisar e a desfazer o sofisma criado em torno da declaração de Shaul há shaliach, contida na sua carta aos Colossenses, e que segundo a Almeida Corrigida Revisada Fiel declara: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” Colossenses 2:16,17 Veremos como este texto escrito para encorajar os santos de Colossos a cumprirem as restrições dietéticas de Levítico 11 e a guardarem os dias sagrados de Levítico 23 sem se deixarem condenar por ninguém, já que isso faz parte do corpo do Messias, foi distorcido, descontextualizado e transformado num argumento contra a abstinência alimentar e a guarda dos dias concedidos por El Shaday a Israel onde os crentes gentios são enxertados, dando adeus ao gentilismo. Nesse estudo, tendo em conta que nas instruções iniciais do seu julgamento Shaul declarou a Marcus Antonius Felix governador romano da Judéia (52-60) que ele servia a Elohim crendo “em tudo o que está de acordo com a Lei e no que está escrito nos Profetas,” (Atos 24:14) usarei essa premissa provar que ele não operava em desacordo com a Torah. Como Κολοσσαί Colossai ou Colossus, a 15 km de Laodicéia esteve sob influência judaicas, agnóstica e pagãs isso motivou o escrito de Shaul, que não é uma carta a porto-alegrenses, paulistanos, cariocas ou brasilienses, mas aos colossenses, ainda que dela se possam extrair princípios universais, desde que seu contexto seja cuidadosamente considerado e é o que faremos em relação a Colossenses 2:16-17. Desmontando Sofismas

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O primeiro é o desejo expresso de Shaul que ninguém permitisse que outros os julgassem por comer ou beber, ou pela celebração de festas, luas novas ou sábados. O segundo é que estas coisas são sombras das coisas vindouras, para o futuro retorno do Maschiach e seu reino, logo não podem ser consideradas plenamente cumpridas ou ultrapassadas. O terceiro é que estas coisas fazem parte do corpo do Maschiach e devem ser tidas como preciosas, e não como antiquarias obsoletas e desprezíveis. Nesse estudo nos deteremos no primeiro destes três elementos. Vamos então à declaração básica recorrendo à tradução grega da Brit Chadashá ou Novo Testamento, uma declaração que diz pura e simplesmente: Μὴ οὖν τις ὑμᾶς κρινέτω ἐν βρώσει καὶ ἐν πόσει Me oun tis umas krineto en brosei kai en posei Não pois alguém vos julgue em comida e em bebida. Graças à sua agenda anti-torah, e a descontextualização gritante de uma declaração vertida contra a condenação farisaica aos não judeus que optavam por guardar a Torah e as leis de kashrut, sem antes se submeterem à brit milah ou aliança da circuncisão e à guiyur ou conversão formal a sua forma de religião judaica, os pais da igreja passaram a sustentar o desprezo por todas as regras alimentares, jogando não só Shaul contra o Concílio de Jerusalém e contra a Torah, mas inclusive criando um esquizofrênico Paulo x Paulo. Pode-se acrescentar que aos gentios não imergidos em Yeshua, o Messias Judeu, não se impõe o conjunto das regras alimentares ou o dos dias sagrados contidos em Vaykrá ou Levítico capítulos 11 e 23. Mas ainda assim, nem mesmo os gentios tementes ao Eterno estão livres para comer o que bem lhe parece, ou para desprezar os dias sagrados dados pelo Altíssimo a seu povo, donde se conclui que Shaul não está falando de um julgamento por causa do consumo de comida imprópria ou impura, mas ao contrário de um julgamento temerário feito por fariseus contra os crentes colossenses por causa da abstinência dessas comidas. Desmontando Sofismas

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Sim, porque se texto pudesse se isolado do contexto geral das Escrituras, e sendo verdade que ninguém pode ser censurado pelo que come ou pelo que bebe a primeira coisa que cai é a decisão do Concílio de Jerusalém, que sob direta supervisão da ruach há kodesh, ou seja do espírito do Santo de Israel, determinou “aos gentios que se convertem a Elohim”, a se “absterem das impurezas dos ídolos... e do sufocado,” que são os animais mortos por estrangulamento, “e do sangue.” (Atos 15:20). Logo não é verdade que ninguém pode ser censurado pelo que come ou pelo que bebe, se não comer de acordo com o determinado pelo céu. Se é verdade que a conspiração de Inácio de Antioquia preceitua que a verdadeira fé se manifesta no mais acérrimo desprezo pela Torah outorgada pelo Santo de Israel a seu povo, no que é imitado por Shaul de Tarso ensina coisa completamente diferente, a que verdadeira fé se revela através da confirmação ou estabelecimento da Torah. “Anulamos, pois, a Torah por causa da fé? De modo algum! Ao contrário, confirmamos a Torah.” Romanos 3:31. Considerando que a verdadeira fé mantém a Torah em vez de a desprezar, e a confirma em vez de a anular, o que nada tem a ver com asquerosa pregação do dispensacionalismo que diz que a lei findou em Yeshua, e que de lá para cá, o verdadeiro crente tem o dever de a desprezar cabe perguntar: Shaul estava instruindo os colossenses a comerem e a beberem como lhes aprouvesse ou ao contrário a cumprirem as leis dietéticas apesar da condenação dos fariseus que exigiam que eles de circuncidassem antes de guardarem as ordenanças da Torah? Ora lemos claramente o princípio judaico rabanita no livro de Atos, que considerava a obediência à Torah necessária para a salvação, mas precedida da circuncisão. “Mas levantaram-se alguns que tinham sido da seita dos fariseus e que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidar os gentios e mandar-lhes que observem a Lei de Moisés.” Atos 15:5 Desmontando Sofismas

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Observadas as coisas sob esse ângulo não resulta difícil concluir que os colossenses não estavam sendo julgados por comerem coisas impuras proibidas a Israel, posto que o judaísmo ensina que o não judeu temente ao Criador pode comer qualquer tipo de carne, desde que não tenha sido arrancada de um animal vivo ou contenha sangue, bem como qualquer tipo de bebida mesmo de frutos colhidos nos primeiros três anos de uma árvore ou durante o shemitah que é o sétimo ano de descanso da terra, o que é proibido a Israel, mas porque eles estavam comendo de acordo com as regras da Torah, sem serem judeus, provocando-lhes os ciúmes despertados ainda hoje quando um gentio guarda a Torah. É evidente a partir dos próprios textos de Shaul que ele jamais concedeu carta branca para que os crentes inseridos na comunidade de Israel comessem o que bem lhes parecesse. Se mesmo estrangeiros, não batizados, e denominados como gentios, estavam sob a obrigação da abstinência “das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada,” (Atos 15:29) quanto mais aqueles que eram “outrora gentios na carne,” e “separados da comunidade de Israel,” mas que graciosamente e “pelo sangue de Maschiach” tinham chegado “perto.” (Efésios 2:11,12, 13) Isso se vê claramente na carta aos crentes de Corinto sobre o seu envolvimento com as coisas do mundo, Shaul cita as mesmas palavras do profeta Yeshayahu a Israel. " Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei.” 2 Coríntios 6:17 Indicando que a lenda de que os profetas não falaram à igreja pertence ao domínio da ficção teológica Shaul recorre ao apelo contido no canto do profeta para que os israelitas, saindo de Bavel, tanto quanto os coríntios estavam sendo dela retirados. Suas palavras são: ‫סּורּו סּורּו צְׁאּו ִמשָ ם ָטמֵא ַאל תִ גָעּו‬ Suru suru, tzu misha tame al tigau Partam, partam, saiam daí, e não toquem em imundícia. Desmontando Sofismas

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Cabe salientar aqui, que o problema dos patrísticos católicos, dos reformadores protestantes e dos exegetas contemporâneos é sua presunção de poderem interpretar um judeu que cria “em tudo o que está de acordo com a Lei e no que está escrito nos Profetas,” (Atos 24:14), ignorando tanto a lei como os profetas. Como estamos trabalhando para inverter essa maré de apostasia, e uma vez que Shaul está citando o profeta Yeshayahu, por meio do qual nos chega o apelo: “tame al tigau” não toquem em imundícia, somos forçados a definir o que é imundícia de acordo com a Torah. Para isso precisamos retornar à mesma Torah, em Levítico 11:47 tanto no original hebraico como na septuaginta grega onde a classificação dos diversos tipos de criaturas que podem ou não ser usadas como alimento pelo povo de Israel recebe as seguintes designações. Tahor (‫ )טָה ֹר‬em hebraico, ou kataron (καθαρῶν) no grego, e que significa puro, e que designa os diversos tipos de peixes, aves, quadrúpedes e insetos comestíveis. Tame ‫ ָטמֵא‬em hebraico ou akatarton ἀκαθάρτων no grego e que significa impuro, e que designa os diversos tipos de peixes, aves, quadrúpedes e insetos não comestíveis, embora designe também a outros tipos de impureza sobre as quais falaremos noutra ocasião. Bem, é exatamente disso que Shaul está falando, de separar-se daquilo que a Torah hebraica chama de ‫ ָטמֵא‬tame e a septuaginta grega chama de akatarton ἀκαθάρτων. Assim, a tradução grega da mensagem de Shaul tal como aparece no textus Receptus fala da necessidade de se afastar definitivamente do akatartou, que é o mesmo tame, ou coisas impuras descritas na Torah. και ακαθαρτου μη απτεσθε καγω εισδεξομαι υμας. Kai akatartou me apteste kago eisdezomai umas. E coisa impura não toqueis e eu receberei vocês. Desmontando Sofismas

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Já entes disso, na sua primeira epístola aos coríntios Shaul havia lembrado “que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Elohim,” e que eles definitivamente não podiam ser “participantes da mesa de Adon e da mesa dos demônios,” (1 Coríntios 10:20-21) pondo assim fim ao debate quanto a questão do julgar uma pessoa pelo que come ou bebe, à luz da palavra, e não à luz do legalismo farisaico. Mais tarde, dirigindo-se à comunidade nazarena de Pérgamo, Yeshua a censura por ter entre eles os que seguiam “a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria,” (Apocalipse 2:14) uma censura que é reiterada contra a comunidade de Tiatira porque deixava a “Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar” a seus “servos, para que forniquem e comam dos sacrifícios da idolatria.” Apocalipse 2:20 O mais interessante é que enquanto guiados pela agenda antinomista criada pelos pais da igreja, exegetas cristãos sugerem que Shaul estava liberando os crentes para comerem e beberem de acordo com seus desejos a maioria das igrejas julga muito mal os crentes que ingerem vinho, cerveja e outras bebidas com teor alcoólico, mesmo que o façam moderadamente, o que pressupõem uma contradição. Para isso eles se valem da carta de Shaul aos Efésios, onde ele censura o excesso no uso do vinho dizendo: “e não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos da ruach.” (Efésios 5:18) Isso atesta um golpe mortal na própria interpretação de que Shaul estava condenando o julgamento pelo comer e pelo beber inapropriadamente. Ou seja o próprio Shaul, por meio de suas cartas exercia constante julgamento sobre o que os santos comiam e bebiam, baseado num princípio permanente. “Portanto se comeis, ou bebeis, ou fazeis qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Elohim.” 1 Coríntios 10:31 E no entanto, ele não deseja que os santos se deixem julgar pelo farisaísmo, que intentava se impor sobre os crentes do primeiro século. Desmontando Sofismas

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No entanto, em sua oposição à Torah, e movidos por uma agenda em “tudo o que está em desacordo com a Lei e no que está escrito nos Profetas,” os exegetas cristãos se dão ao trabalho de dizer que o apostolo está prevenindo os crentes para não serem julgados por não comerem de acordo com a Torah e por beberem o que lhes apraz. Um julgamento desse tipo, condenando estrangeiros por descumprirem ordenanças que de acordo com o judaísmo rabínico não lhes dizem respeito não faz o menor sentido. E de fato não é de um julgamento farisaico contra os gentios por não fazerem aquilo que a Torah ordena que Shaul está tratando, mas ao contrário de um julgamento por se atreverem a fazer o que eles julgavam pertencer somente a eles. Shaul então lembra aos discípulos de Colossos, que estavam fazendo muito bem, que estas coisas ainda apontavam para o futuro, e que eram parte do corpo do Messias. Mas sobre isso falaremos mais no próximo estudo: “Ninguém vos julgue por causa de lua nova, festa ou sábados”, onde demonstrarei que Shaul não só celebrava tudo isso, mas que encorajava aos não judeus, crentes em Yeshua a fazer a mesma coisa, evidentemente não para ser salvos, porque obras não salvam, mas por que eram salvos, e os salvos são remidos para a santidade.

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010 Ninguém Vos Julgue por Causa dos Dias de Festa, ou da Lua Nova, ou dos Sábados No estudo anterior vimos como a sentença de Shaul aos colossenses “não pois alguém vos julgue, em comida e bebida,” encorajando-os a comerem o que a Torah define como alimento sem se deixarem julgar pelo rabinismo que proíbe aos não judeus de viverem como judeus, foi transformada numa defesa para que a chamada igreja cristã consuma não apenas qualquer criatura impura, ou tame, mas também a carne de animais estrangulados, dilacerados ou o seu próprio sangue como se o que o Eterno manifestou a Moshe fosse reduzido a quase nada em Atos e como se Shaul destruísse o que restou. Esse é o resultado, não só da ignorância de que o julgamento a ser evitado não é o motivado pela desobediência, mas ao contrário o que é motivado pela obediência à Torah, um julgamento a que os novos crentes, tendo deixado a condição básica de gentios, e aderido à comunidade de Israel onde estavam enxertados eram frequentemente submetido, mas também da disposição de fazer antagonismo à Torah. E o que acontece com a alimentação, onde se ignora que Shaul era um judeu que servia ao Altíssimo “em tudo o que está de acordo com a Lei e no que está escrito nos Profetas.” (Atos 24:14) ocorre também em relação aos moedim shel Yehovah ou os tempos apontados pelo Altíssimo, as suas festas. . Logo, onde Shaul diz que ninguém julgue os crentes por cumprir as leis de pureza alimentar, por observar a lua nova, por celebrar as festas do Altíssimo ou guardar o shabat ou tê-lo como dia sagrado, foi convertido num “ninguém vos julgue por comer o que a Torah proíba, por ignorar a renovação da lua, por desprezar as festas do Altíssimo ou por quebrantar voluntariamente o shabat, porque todas estas coisas já alcançaram seu cumprimento e são alheias à igreja, o novo corpo de Cristo. Desmontando Sofismas

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Assim, veremos agora como o ensino “ninguém vos julgue... por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados,” foi arrancado de seu contexto ignorando que essas coisas “são sombras das coisas futuras, e pertencem ao corpo do Messias.” Colossenses 2:16,17 Tanto o supersessionismo católico, mais conhecido como teologia da substituição, e que ensina que a Igreja tomou o lugar de Israel, como seu afiliado como o dispensacionalismo neo-protestante, ou teologia da separação, ensinam que a Igreja começa após a morte de Yeshua e é superior a Israel em honras e privilégios, mas inferior em obrigações. Dentro desse sistema católico protestante não há espaço para a distinção entre comidas limpas e impuras e entre dias sagrados e profanos. Tudo isso pertence ao passado, e já não fazem parte do novo povo de Deus, do qual os judeus até podem participar, mas dispensados de seus antigos deveres, que já não lhes auferem nem bênçãos e nem recompensas. Contudo, basta que tomemos a Torah e os profetas, em que Shaul dizia crer em tudo, e na qual a cristandade crê só no que lhe convém para concluirmos o contrário. Assim, enquanto a cristandade alinhada a Roma diz que o shabat é um monumento do passado, a Torah o anuncia como um emblema eterno: “Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando-o nas suas gerações por aliança perpétua.” Shemot/Ex 31:16 Sendo que o shabat é qualificado como ‫ לְׁד ֹר ֹתָ ם‬ledorotam isso é para todas as gerações, e como ‫ ב ְִׁרית עֹולָם‬berit olam ou aliança perpétua, o mito criado pelos pais da igreja de que ele é passageiro e chegou ao fim com a morte do Messias, fica reduzido a pó diante do império da Palavra Lembro aqui que a Tora usa duas palavras para se referir a algo permanente. Tomaremos um tempinho para nos referir às duas. A primeira é tamid ou contínuo, que aparece em relação à chama do altar, o ‫ אֵש תָ מִיד‬esh tamid ou fogo contínuo (Vaykra/Lv 6:6) e em relação a oferta posta sobre ele diariamente a ‫ עֹלָה תָ מִיד‬olah tamid ou sacrifício contínuo (Bamidbar/Nm 28:3). Como se vê o fogo do altar e sua oferta são permanentes desde de que haja altar e sacerdote para oficiar. Desmontando Sofismas

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No entanto, o shabat, marca da aliança entre o Eterno e seu povo que vivem para sempre, recebe outra classificação a de ‫ ב ְִׁרית עֹולָם‬berit olam ou aliança perpétua (Shemot/Ex 31:16) Esta perpetuidade é atestada pelo profeta Yeshayahu que estende a celebração da festa de lua nova e a guarda do shabat ao próprio olam habá ou mundo vindouro, aos novos céus e à nova terra, a se instaurarem depois do reino milenar: “E será que desde uma lua nova até à outra, e desde um sábado até ao outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor.” Yeshayahu/Is 66:23. É evidente que a lua nova e o shabat não se cumpriram em sua totalidade, e não se cumprirão antes do novo céu e a nova terra se instaurarem. Diante destes fatos, é evidente que só uma interpretação completamente vazia do espírito dos profetas, mas completamente cheia do espírito da apostasia nascido em Antioquia, pode inferir que Shaul, tenha desprezado a lua nova, as festas e o shabat. Sua mensagem que o texto grego faz começar com Μὴ οὖν τις ὑμᾶς κρινέτω ἐν βρώσει καὶ ἐν πόσει me oun tis umas krineto en brosei kai en posei, não pois alguém vos julgue em comida e em bebida, é um chamado para que os crentes abracem a Torah sem se deixarem condenar pela religiosidade rabínica que operava e ainda opera para que não judeus se mantenham afastados da prática da verdade. O restante do texto é apenas uma extensão da mensagem de que os crentes não devem permitir que alguém os condene por observar os dias sagrados que apontam para um futuro que ainda não chegou e que são parte indissociável do corpo do Messias. ἢ ἐν μέρει ἑορτῆς ἢ νεομηνίας ἢ σαββάτων ἅ ἐστιν e en merei eortes e nesmenias e sabbaton a estin ou em respeito de festa ou lua nova ou sábado que são

σκιὰ τῶν μελλόντων; τὸ δὲ σῶμα τοῦ Χριστοῦ skia ton mellonton; to de soma tou Cristou sombras do porvir; - mas corpo do Messias Desmontando Sofismas

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A primeira palavra transcendente aqui é ἑορτῆς eortes listada na a Concordância Grega de James Strong6 sob o número 1859 com o significado de festa.7 Há de se notar que ἑορτῆς eortes é a tradução da palavra hebraica moed,8 classificada na Concordância Hebraica de James Strong sob o número 4150 e que significa festa e é citada 28 vezes no NT grego, para se referir aos tempos sagrados do Altíssimo, e dos quais Yeshua participou ativamente. 9 O teólogo metodista James Strong (1822 –1894), formado na Universidade Wesleyana e autor da Nova Concordância Exaustiva da Bíblia Strong listou todas as palavras hebraicas, aramaicas e gregas encontradas nos textos básicos das Bíblias ocidentais gerando 8674 entradas hebraicas e aramaicas e 5523 gregas. Strong publicou sua Concordância por primeira vez em 1890, quando era professor de teologia exegética no Drew Theological Seminary, uma universidade privada fundada em 1867 em Madison, Nova Jersey, e afiliada à Igreja Metodista Unida. Sua obra se tornou referência no estudo dos textos básicos da Bíblia, não tanto como léxico interpretativo, mas como um guia na localização dos verbetes, pelo que pode ser considerado um trabalho acadêmico bastante neutro, e por isso mesmo importante. Destaca-se porém que Strong listou as palavras hebraicas contidas no Tanach juntamente com as aramaicas, quando léxicos modernos contem sessões separadas para hebraico, aramaico e grego. Recordo aqui que o aramaico bíblico, antes conhecido como assírio caldaico, está presente de Ezrah ou Esdras 4:8 a -6:18, e logo entre Ezrah 7:12-26; em Yirmiahu/Jr 10:11; e em Daniel 2:4b até o 7:28. Também é muito importante considerar que as chamadas igrejas cristãs orientais tem o aramaico como língua sagrada, e adotam o cânon aramaico da Peshittah, considerando o texto grego como uma tradução, e não a sua fonte. Esta posição é sustentada por diversas igrejas orientais, inclusive de comunhão católica, mas de rito aramaico. Mar Eshai Shimun XXIII (1908-1975), patriarca da Ēdtā d-Madenḥā d-Ātorāyē ou Igreja Assíria do Oriente declara: Em referência a originalidade dos textos da Peshittah, como Patriarca e Líder da Sagrada Apostólica Igreja do oriente, gostaria de afirmar que a Igreja do Oriente recebeu as Escrituras das mãos dos próprios abençoados apóstolos no original em Aramaico, a língua falada pelo Nosso Senhor Jesus Cristo (Maran Yisho' Mshikha), e assim a Peshittah é o texto da Igreja do Oriente que veio dos tempos bíblicos sem nenhuma mudança ou revisão." Sua Santidade Mar Eshai Shimun, Catholicos Patriarca da Santa Igreja Apostólica do Oriente, 5 de abril de 1957. Originalmente havia uma diferença de cânon, e a Peshittah não incluía a Segunda Epístola de Pedro, a Segunda Epístola de João, a Terceira Epístola de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse de João. Estes livros foram traduzidos a partir do grego, e incluídos mas tarde na chamada Atiyk Peshito ou Antiga Peshittah. O Tanach, ou primeiro testamento da Peshittah é uma tradução de antigas fontes hebraicas. É evidente que Yeshua e seus apóstolos não usaram e nem escreveram em grego como fonte primária para a transmissão da mensagem, embora nalguns casos o possam ter usado para estrangeiros. 6

Strong 1859: εορτη heorte de afinidaAde incerta; n f 1) dia de festa, festival. Dicionário Bíblico Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, São Paulo 2002. 7

Strong 4150: ‫ דעומ‬mow ̀ed ou ‫ דעמ‬mo ̀ed ou (fem.) ‫ הדעומ‬mow ̀adah (2Cr 8.13) procedente de 3259; DITAT - 878b; n m, 1) lugar determinado, tempo determinado, reunião, 1a) tempo determinado, 1a1) tempo determinado (em geral). 1a2) período sagrado, festa estabelecida, período determinado, 1b) reunião determinada, 1c) lugar determinado, 1d) sinal determinado, 1e) tenda do encontro. Dicionário Bíblico Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, São Paulo 2002. 8

Em Colossenses 2:16, longe de desprezar os moedim, ou festas, como acredita a cristandade, Shaul mostra que alas apontam para o futuro, e que fazem parte do corpo do Messias do qual somos parte. Ora a expressão σῶμα τοῦ Χριστοῦ ou corpo do Messias é usada quatro vezes no texto grego, a primeira 9

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A vinculação direta da palavra grega ἑορταί eortai (festa) empregada em Colossenses com a palavra hebraica ‫ מֹועֲדֵ י‬moadey (tempos apontados) pelo Eterno é irrefutavelmente estabelecida a partir da tradução grega da septuaginta vertida a partir do texto hebraico de Vaykrá ou Levítico contido na versão massorética.10 para se referir a comunidade dos santos em “vós sois o corpo do Maschiach” (1 Coríntios 12:27), ao fortalecimento dessa comunidade em a “edificação do corpo de Maschiach” (Efésios 4:12) ao próprio Maschiach em “temos sido santificados pela oblação do corpo de Yeshua há Maschiach” (Hebreus 12:10) e ao conjunto formado pelo Messias e seus remidos em “o pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Coríntios 10:6), onde se segue que a lua nova, as festas e o shabat são inseparáveis tanto do Messias como de seu corpo, que é a comunidade dos eleitos. A separação entre o Messias e as festas chamados em hebraico de moedim, e em grego e ἑορτῆς eortes, é posterior aos apóstolos, e remonta a apostasia cristão criada por Inácio de Antioquia. Recordo que a palavra ἑορτῆς eortes corre 28 vezes no grego do NT, sendo 27 vezes relacionadas a Yeshua e seu zelo pelos moedim shel Yehovah ou festas do Eterno e 1 vez ao zelo do próprio Shaul por celebrá-las, um registro tão fatal para a teoria da descontinuidade entre a Torah e a Nova Aliança que acabou omitida na maioria das bíblias modernas. Estamos falando de Atos 18:21 onde o texto omitido reza: δει dei (é importante) με me (para mim) παντως pantos (por todos os meios) την ten (a) εορτην eoester (festa) την ten (que vem) ερχομενην epromenen (chegando) ποιησαι poiesai (manter) εις eis (em) ιεροσολυμα Ierossaluma (Yerushalaim). Alimentadas pela agenda anti-torah dos financiadores e patrocinadores da apostasia, os editores preferem excluir esse texto que explode com a teoria de descontinuidade entre a vida e pregação de Yeshua e a vida e pregação de Paulo. No entanto o vínculo das festas com o Maschiach é sobre evidente. Sobre os pais de Yeshua lemos que: “Todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa,” e sobre Yeshua lemos que “tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa.” Lucas 2:41-42. Lucas nos conta ainda que “estava, pois, perto a festa dos pães ázimos, chamada a páscoa,” e que “chegou, porém, o dia dos ázimos, em que importava sacrificar a páscoa. E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos.” Lucas 22:1, 7-8. Já Yochanan diz que “estando ele em Yerushalayim pelo Pessach, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.” Yochanan/Jo 2:23. Lemos ainda “que estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos...” e que Yeshua ordenou a seus discípulos que fossem a Yerushalayim para a celebrar dizendo: “Subi vós a esta festa; eu não subo ainda a esta festa” e que “no meio da festa subiu Yeshua ao templo, e ensinava,” e finalmente, como Sukot é um festival de sete dias, vemos que “no último dia, o grande dia da festa, Yeshua pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.” Yochanan/Jo 7:2, 8, 14, 37. Marcos nos conta como a conspiração dos sacerdotes para executarem a Yeshua alcançaria seu ponto culminante durante os festejos do Pessach. “E dali a dois dias era a páscoa, e a festa dos pães ázimos; e os principais dos sacerdotes e os escribas buscavam como o prenderiam com dolo, e o matariam.” Marcos 14:1 O texto massorético confirma não só a santidade, mas também a propriedade e perpetuidade dos moedim, ou tempos apostados do Altíssimo, mais conhecidos como festas bíblicas, ainda que a palavra específica para um festejo seja chag e não moad, que se reporta a um tempo determinado ou apontado. Estes moedim que se repetem em intervalos regulares começam com o shabat, que ao lado do Shavuot é o único moed que não depende de contagem a partir da lua. No caso do shabat a contagem começa no Éden, e independe da manifestação da lua para sua datação, sendo o mais universal dos moedim, tanto que nas asseret há Devarim ou dez palavras Yehovah anuncia a razão de sua celebração dizendo: “Porque em seis dias fez Yehovah os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.’ Shemot/Ex 20:11 Logo o shabat é um patrimônio universal para todos os que adoram ao Criador e comemoram seus grandes feitos. Quanto às demais festas, elas se destinam por um lado a perpetuar a história dos grandes feitos de Elohim em relação a Israel e por outro a anunciar o futuro, sendo como diz “Shaul sombra das coisas vindouras,”, e parte do “corpo do 10

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O próprio Shaul permaneceu aferrado a Torah. A prova disso é que depois de deixar a cidade de Corinto, onde por 18 meses pregou a cada shabat na Sinagoga, e onde Crispo, seu presidente abraçou a Yeshua ele “navegou para a Síria, e com ele Priscila e Áqüila, tendo rapado a cabeça em Cencréia, porque tinha voto.” Atos 18:18 Mas Lucas vai além, de nos contar que Shaul fez o voto de raspar a cabeça, que é regulado pela Torah em Números 6, ele narra que Shaul partiu para Éfeso, apesar da insistência dos membros da Sinagoga para “que ficasse por mais algum tempo,” e contudo “não conveio nisso.” Atos 18:20 O motivo é exposto no verso 21, onde tropeçamos com a infidelidade dos editores presos à agenda dispensacionalista e a seus financiadores. Assim NVI, fiel ao dispensacionalismo hostil à celebração das festas bíblicas por parte da chamada Igreja Cristã recorre ao texto crítico de Westcott e Hort, produzido em 1881, e enganosamente declara: “Mas, ao partir, prometeu: "Voltarei, se for da vontade de Deus". Então, embarcando, partiu de Éfeso.” Atos 18:21 Messias” (Colossenses 2:17), sendo assim, sua aplicação é específica a Israel, embora os estrangeiros, vinculados ao corpo do Messias possam participar de suas bênçãos e celebrações. Estas solenidades se dividem em duas séries, a primeira na primavera e a segunda no outono. As festas de primavera abrem com o Pessach, dia em que os hebreus colheram o maror ou erva amarga, assaram as matzot ou pães sem fermento e sacrificaram o Pessach, o cordeiro da passagem cujo sangue foi posto nos umbrais da porta. O segundo moed é chag há matzot ou a festa dos pães sem fermento, quando comeram os pães juntamente com o cordeiro e as ervas, esta festa se prolonga por sete das. O terceiro Moed é Chag há Bikurim ou Festa das Primícias, comemorada 40 anos depois, quando Israel passou o Yarden ou Jordão e colheu as primeiras espigas de Abibe ou cevada. O terceiro moed é chag há Shavuot é chag comemorado 50 dias depois de Bikurim, e inicia a colheita do trigo. Seguem-se as festas de outono, sendo a primeira delas a de Chag Yom Teruah oi Festa das Trombetas, que preanuncia o regresso de Maschiach, a segunda é a de Yom Kipur, Dia das Expiações, que ocorre dez dias e que é um moed, mas ainda não é uma festa até que os pecados de Israel sejam expiados no regresso de Maschiach, e graças aos méritos de seu sangue, a terceira é Chag há Sukot ou Festa dos Tabernáculos, e que comemora a jornada no deserto e aponta diretamente para o reino do Messias. Em conjunto são moedim o Altíssimo que as reivindica como suas, portanto, não são festas de Israel, nem festas judaicas, exceto pelo fato de que Israel sempre as praticou. O Texto hebraico não deixa dúvidas quanto a serem festas do Altíssimo, e portanto vinculativas a todos os que dele se aproximam.

‫וְָׁאמַ ְׁרת‬

‫יִש ְָׁראֵל‬

‫ְׁבנֵי‬

‫דַ בֵר אֶל‬

:‫לֵאמ ֹר‬

‫מֹשֶה‬

‫י ְׁהוָה אֶל‬

‫ַוי ְׁדַ בֵר‬

ve`amart Israel bney el daver :lemor Moshe el Yehovah Vaydaber dize-lhes e Israel de filhos aos fala :dizendo Moisés a Eterno o falou e :‫הֵם מֹו ֲע ָדי‬ ‫ק ֹדֶ ש | ֵאלֶה‬ ‫ִמק ְָׁראֵי‬ ‫ֲאשֶר תִ ק ְְׁׁראּו א ֹתָ ם‬ ‫י ְׁהוָה‬ ‫מֹועֲדֵ י‬ moadei hem ele kodesh mikeraey otam tikeru asher Yehovah moadey festas minhas são santas minhas as são eles a convocareis que Yehova de festas as O texto grego da septuaginta, traduz a frase estas são as minhas festas santas dizendo: κλητὰς ἁγίας αὗταί εἰσιν ἑορταί μου Kletas agias autai eisin eortai mou. As convocações santas, que farão são festas minhas.

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A Almeida Corrigida e Fiel, completa o texto de acordo com o Textus Receptus, precedente às novidades dispensacionalistas, mas opta por mistificar o sentido falando de uma solenidade, a fim de ocultar a real intenção do apostolo de ir a Yerushalayim para celebrar a festa e reza: “Antes se despediu deles, dizendo: É-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem em Jerusalém; mas querendo Deus, outra vez voltarei a vós. E partiu de Éfeso.” Atos 18:21

73 O Livro, melhora consideravelmente o texto mostrando que Shaul queria ir a Yerushalayim, não pela cidade em si, ou qualquer outra razão, mas para celebrar as festas que apontarem para o futuro que ainda não chegou, e pertencem ao corpo do Messias e são dele inseparáveis. “Tenho forçosamente de estar em Jerusalém para as festas, disse. No entanto, prometeu regressar mais tarde a Éfeso se Deus o permitisse. E assim continuou a viagem.” Atos 18:20,21

Era uma necessidade tão premente que lhe forçou a despedir-se de uma comunidade judaica que ansiava por sua pregação e de uma sinagoga que o recebera de braços abertos, e insistia em sua presença. Isso mostra que para Shaul, a pregação não era mais importante que participar de uma festa do Altíssimo. A sentença está presente em traduções históricas como a alemã Lutherbibel de 154511, as inglesas Bible of Geneve de 1560 de Pierre Robert Olivétan (1506-1538)12 e a King James13 de 1611, além da espanhola Biblia del Osso de 1569. 14 “Sie baten ihn aber, daß er längere Zeit bei ihnen bliebe. Und er willigte nicht ein, sondern machte seinen Abschied mit ihnen und sprach: Ich muß allerdinge das künftige Fest in Jerusalem halten; will's Gott, so will ich wieder zu euch kommen. Und fuhr weg von Ephesus.” Apostelgeschichte 18:20-21. Luther Bible, 1546. 11

But bade them farewell, saying, I must needs keep this feast that cometh, in Jerusalem: but I will return again unto you, [s]if God will. So he sailed from Ephesus. Actes 18:21, Bible de Geneve 1599. 12

When they desired him to tary longer time with them, hee consented not: “But bade them farewell, saying, I must by all meanes keepe this feast that commeth, in Hierusalem; but I will returne againe vnto you, if God will: and he sailed from Ephesus.” Actes 18:20-21, King James 1611. 13

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“Los quales rogãdole q̃ se q̃dase con ellos por mas tiempo, no ſelo concedió: Antes ſe deſpidió de ellos diziẽdo,

Es meneſter q̃ en todo caſo tẽga la Fieſta que viene en Ieruſalẽ: mas otra vez bolueré à voſotros, q̃riendo Dios: y partioſe de Epheſo.” Hechos 18:20-21. Biblia del Oso, Casiodoro de Reyna, Basilea, Suilza 1569.

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Em todos estes casos elas transmitem o fato de que Shaul comunica seu imperativo desejo de ir a Jerusalém não para ver a cidade, ou rever queridos amigos, o que de certo faria com prazer, mas para celebrar a festa do Eterno. Lamentavelmente este poderoso testemunho do zelo de Shaul pelas festas bíblicas, é atualmente omitido em muitas versões modernas, tanto das bíblias protestantes dispensacionalistas como nas bíblias católicas, empenhadas no mesmo desprezo pela Torah e pelas festas do Eterno. Contudo, está presente na Almeida de 1850, no que segue a versões anteriores.15 Para liquidar a questão quanto a originalidade do texto de Atos 18:21 omitida pela agenda dispensacionalista na maioria das Bíblias atuais, tanto protestantes como católicas recorremos ao Textus Receptus16 grego publicado em 1515 por Erasmo de Roterdam e que reza: “E rogando-lhe elles, que com ele por mais algum tempo ficasse, não conveio nisso. Antes s Antes se despedío delles, dizendo; necessário me he era todo caso terá festa que vem em Jerusalem: mis outra vez, querendo Deos, a vosotros tornarei e partio de Epheso. “ Atos 18:20-21, João Ferreira de Almeida, Sociedade Americana da Bíblia, Nova York 1850. 15

O Textus Receptus foi elaborado pelo teólogo, filósofo e humanista católico holandês Gerrit Gerritszoon Desiderius Erasmus Roterodamus (Roterdam 1466-Basiléia 1536) e foi publicado em 1516 sob o título de Novum Instrumentum Omne, isso um ano antes de Lutero deflagrar a Reforma Protestante e foi corrigido e reimpresso em 1519, 1522, 1527 e 1533. Na primeira correção de 1519 o título cambiou de para Novum Testamentus. A divisão da Bíblia em “Velho Testamento” e “Novo Testamento,” procede daí. Hoje a maioria dos cristãos acham que o que se inscreve de Mateus para cá é a Nova Aliança oposta à velha que iria de Gênesis até Malaquias tal como propunha o supersessionismo ou doutrina da substituição de Israel proposto por Inácio de Antioquia (35-107) o verdadeiro para do cristianismo. Com um abismo chama outro abismo, no século XIX John Nelson Darby (1800 – 1882), maquiou a teologia da substituição criando o dispensacionalismo, que nada mais é do que a “teologia da separação” entre Israel e a Igreja. Para os dispensacionalistas o Novo Testamento e a própria igreja começam em Atos, depois da ascensão de Yeshua, e que o que dele se aproveita para a Igreja são apenas as cartas de Paulo, o demais tem valor apenas histórico e cultural, mas sem nenhum valor para a edificação da “igreja de Cristo.” A loucura doutrinária ignora que o próprio Shaul elogia Timóteo por “desde a infância” conhecer “as sagradas escrituras”, classificadas como capazes “de proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Yeshua há Maschiach,” dizendo-lhe que “toda a Escritura é inspirada por Elohim, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Elohim se torna perfeito, capacitado para toda boa obra.” 2 Timóteo 3:15, 16-17 Nesse tempo não havia nada mais que a Torah, os Salmos e os Profetas, erroneamente chamadas de “Velho Testamento.” Logo, o que ensina, repreende, corrige e forma o homem de Elohim, habilitando-o para a boa obra, é aquilo que os dispensacionalistas, inspirados por uma força que vem de baixo desdenhosamente chamam de Velho Testamento. Bem, dito isso voltemos a obra de Erasmo também chamada de Majority Text ou Texto da Majoritário, a qual baseou-se inicialmente 16

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ἀλλὰ ἀποταξάμενος καὶ αυτοις ειπων δει με Ala apotexamenos kai autois eiton dei me E despedindo-os a eles disse é importante a mim Παντως την εορτην την ερχομενην ποιησαι Pantos ten eoester την erxomenen poiesai por todos os meios a festa que vem chegando εις ιεροσολυμα παλιν δε ανακαμψω προς υμας eis Ierossaluma palin de anakamoo pros umas em Yerushalaim novamente e voltarei para vocês του o θεου θελοντος και ανηχθη απο της εφεσου tou o teoou telontos kai anexte apo tes Efesou e o Elohim querendo e navegou para a Éfeso.

Mas ao escrever à comunidade de Corinto, Shaul vai além de dizer que ele precisava estar em Jerusalém para celebrar a festa que estava às portas. Pedindo que eles excluíssem o homem que dormia com sua madrasta fazendo o que nem entre os gentios se nomeava limpando-se do “fermento velho”, para serem uma “nova massa” assim como estavam “sem fermento” porque Mashchiach “foi sacrificado por nós”, ele apela para que limpando-se do pecado que é apontado pelo chametz presente nas nossas massas, eles celebrassem a festa dos pães sem fermento. em sete manuscritos bizantinos do século XII, preservados pela Igreja Ortodoxa Oriental, os quais pela sua semelhança basearam-se num único texto mais antigo. Robert Ettiénne (1503-1559), conhecido como Stephanus, um editor de Paris, publicou o Textus Receptus quatro vezes, (1546, 1549, 1550 e 1551), sendo a última em Genebra. Seu trabalho foi uma obra prima usando a Polyglotta Complutensis e outros 15 manuscritos gregos, dois deles dos séculos V e VII. Seu texto crítico serviu de base ao Novo Testamento das principais Bíblias desde a Tyndale Bible de 1526, a primeira Bíblia em Inglês, produzida pelo mártir protestante Willie Tyndale (1494-1536), e que serviu de base à King James Autorized publicada em 1611 por 50 estudiosos a pedido do Rei James I (1567-1603) da Inglaterra, à Bíblia Alemã de Lutero impressa em 1522, à Reina Valera de 1562 em espanhol e a portuguesa Bíblia Almeida publicada em 1681. Sem dúvida seu trabalho foi o mais poderosamente influente na formação do pensamento evangélico através do mundo. Evidentemente não foi perfeito, mas está baseado em cerca de 5.000 manuscritos, por isso se diz “Textus Majoritários” e isenta dos erros propostos pelo dispensacionalismo e baseados no The New Testament in the Original Greek publicado em 1881 por Brooke Foss Westcott (1825–1901) and Fenton John Anthony Hort (1828–1892) e mais conhecidos por WC de Westcott and Hort. Entre os diversos erros está a omissão da frase de Shaul ou Paulo: “É-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem em Jerusalém,” (Atos18:21 contida na Almeida Corrigida e Fiel calcada no Textus Receptus de Erasmos e omitida na Almeida Revisada Imprensa Bíblica calcada no texto de Westcott and Hort como também na Nova Versão Internacional e na Versão Católica.

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O texto grego começa com a sentença: “ωστε εορταζωμεν μη εν ζυμη παλαια” oste eoertazomen me en zume palaia “então podemos celebrar a festa não com o fermento velho.” A Almeida registra: “Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.” 1 Coríntios 5:7,8. É muito importante desfazer-nos do mito enganoso criado pela teologia da substituição, e que é mascarada pelo dispensacionalismo e que diz que as cartas de Shaul são dirigidas à igrejas dos gentios. Temos suficiente informação bíblica para não nos deixarmos nos enganar por tais embustes. Sabemos que a comunidade de Corinto foi fundada por Shaul com o apoio de Aquila e Priscila, um casal de judeus que tinha sido expulso de Roma por volta do ano 46, na época de Cláudio. Sabemos que Shaul, Aquila e Priscila frequentavam a sinagoga, e que a sinagoga, embora seja uma palavra derivada do grego συναγωγην sunagoguen, era apenas o prédio onde os judeus faziam suas kehilot ou reuniões, o que em grego se chama eklesia. E sabemos que judeus e gregos que frequentavam a sinagoga abraçaram a Yeshua formando uma comunidade netzari. “E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. E, achando um certo judeu por nome Áqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, e, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas. E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia a judeus e gregos.” Atos 18:1-4 E foi a estes judeus e gregos que mais tarde, através de uma carta Shaul insta para que celebrem chag há matzot ou a festa dos pães sem fermento. Desmontando Sofismas

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Portanto, fica mais que claro que quando Shaul diz aos Colossenses que não se deixassem julgar por comida ou bebida ou por observarem a lua nova, as festas e o shabat, porque estas coisas são sombras do que ainda há de vir, logo de coisas ainda não cumpridas, e portanto importantes, e coisas que pertencem ao corpo do Messias, tanto como nós pertencemos a esse corpo através da fé, tendo sido assim enxertados em Israel, ele os está prevenindo contra o julgamento rabínico por tais práticas e não pela ausência delas. Agora estamos prontos para mergulhar na lei oral rabínica que estabelece uma barreira natural entre os gentios e os judeus, que não podiam se associar plenamente para servir ao Eterno, pelo contrário, os gentios estão proibidos de aprender a Torah porque essa, segundo o judaísmo é uma herança para Israel e não para os goym.

"Um gentio que estuda a Torá é punível com a morte, como se diz:" Moisés nos ordenou a Torá como uma herança, "para nós é uma herança, e não para eles"?” Rabi Meir, Talmud Bavil, Tratado Sanhedrín 59a Rabanitas, que são a versão moderna do farisaísmo se defendem da onda de acusações de xenofobia, racismo e antigentilismo resultantes dessa declaração apontando que no mesmo tratado é dito também que “mesmo um gentio que se senta e aprende que a Torá recebe recompensa ...”, mas passam por alto que o Talmud adiciona: "Neste caso, ele está envolvido nos sete mandamentos dos Noachid." Em suma, para a halachá o gentio só pode estudar o que os rabinos dizem sobre a Torah nos tratados relativos as “shevah Torah B`nei Noach” as Sete Leis dos Filhos de Noé, que criaram para os gentios. Se ele ousar passar disso, ou se ousar guardar mandamentos próprios dos judeus como abster-se de comer porco, camarão ou peixes sem escamas, ou guardar o shabat ou outros dias sagrados ele merece a pena de morte. Desmontando Sofismas

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Segundo a halachá que é a tradição ou lei rabínica, uma vez que o Eterno ordenou que Adam comesse do suor do seu rosto, todos os dias, da sua vida, um binei Adam, que ouse descansar, qualquer dia em sete, ou mesmo em 30 estaria violando o direito divino. A Halachá declara:

"Um gentio que guarda um dia de descanso merece a morte, pois está escrito:" E um dia e uma noite eles não descansarão ". Ravinah disse: Mesmo que ele descansasse numa segunda-feira " Talmud Bavil, Sanhedrín 58b. O judaísmo rabínico, pois, considera o shabat ou qualquer outro dia de repouso como sendo de competência exclusiva do povo de Israel, e nem sequer considera o fato dos milhões de descendentes dos dispersos de Israel estarem entre as nações. Numa declaração arrasadora o Sidur declara:

"Você, nosso Adonay e Elohim, não o entregou aos gentios e não o legou, ó nosso Rei, aos idólatras. Nem o incircunciso participa no seu descanso; porque você o deu amorosamente ao seu povo Israel, à semente de Jacó, que são seus escolhidos." Sidur Rinat Yisrael , edição de Sefardic. A razão para tal postura é que segundo a mística judaica, exposta pelo Maharasha (Sinédrio 58b) Israel é o noivo e o shabat é sua noiva. Esse conceito inspirou o rabino cabalista Shlomo Halevi Alkabetz (15001576) a compor o célebre Lecháh Dodi entoado nos cultos de cabalat shabat ou recepção do sábado onde os israelitas são representados como o noivo a espera da noiva shabat. Assim, quando um gentio guarda o shabat, é como se estivesse violando uma virgem, e portanto réu de morte. O rabino espanhol Moshe Maimônides (1137-1204), mais conhecido como o Rambam afirma que um gentio pode estudar apenas sete leis, e que se ousar descansar, ainda que seja um dia da semana, qualquer que seja o dia é punível com a morte, e que se ele quiser guardar a Torah, ele primeiro precisa se converter ao judaísmo rabínico. Desmontando Sofismas

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“Um gentio que estuda a Torá é obrigado a morrer. Eles só devem estar envolvidos no estudo de suas sete mitzvot. Da mesma forma, um gentio que descansa, mesmo em um dia da semana, observando aquele dia como um sábado, é obrigado a morrer. Escusado será dizer que ele é obrigado por esse castigo se ele cria um festival para si mesmo. O princípio geral que rege estas questões é: não deve ser permitido originar uma nova religião ou criar mitzvot para si próprios com base nas suas próprias decisões. Eles podem tornar-se convertidos justos e aceitar todas as mitzvot ou manter seus estatutos sem adicioná-los ou prejudicá-los. Se um gentio estuda a Torá, faz um Sábado ou cria uma prática religiosa, um tribunal judeu deve vencê-lo, puni-lo e informá-lo de que ele é obrigado a morrer. No entanto, ele não deve ser executado.” (Hilkhot Melakhim 10.9) Segundo os rabinos, os judeus só não matam os não judeus que guardam shabat ou qualquer outro dia porque por hora sua mão está abaixada diante dos goym, mas quando na era messiânica, a mão dos yehudim se levantar então, os goym que ousarem guardar qualquer dia da semana, do primeiro ao sétimo serão executados. Para o judaísmo rabínico só um guer tsadik, ou seja um prosélito circuncidado pode guardar o shabat. Se ele, sem reunir estas condições ousar fazê-lo, é merecedor do mais severo julgamento e da mais severa punição. Assim, enquanto os rabinos que seguem a religião surgida em Israel, mas estabelecida na Babilônia, declaram que os gentios que guardam shabat são merecedores da pena de morte, o Altíssimo que nada tem a ver com tal religião jamais mencionada por Moshe ou pelos profetas convida os não israelitas a abraçarem primeiro o shabat, e só depois a aliança declarando: “E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome de Yehovah, e para serem seus servos, todos os que guardarem o shabat, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança, também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração.” Yeshayahu 56:67. Desmontando Sofismas

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Observem que aqui o Altíssimo não está falando de israelitas, ou de guerim, ou estrangeiros, que os rabinos chamam erroneamente de convertidos, mas tão simplesmente de bnei nekar ou filhos dos estrangeiros que se uniram a ele através da confiança, e aos quais ele estende o convite para a guarda do shabat, não sob a ameaça de castigos, mas sob a promessa de abundantes bênçãos e da participação nos mais elevados benefícios prometidos a seu povo Israel. Onde se vê claramente a diferença entre a religião humana e escritural. Entendido o pano de fundo podemos retornar agora ao texto inicial que empresta o pensamento de nosso título, onde Shaul mina as bases dos dogmas rabínicos que proíbem aos não judeus de observarem leis de kashrut, de descansarem no shabat, de guardarem a lua nova e de celebrarem dias de festa da Torah. “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Maschiach.” Colossenses 2:16,17 Shaul na verdade estava exortando os crentes a fugirem a religião farisaica que os privava não só do direito de celebrar as festas que apontam para o futuro, mas também de participar daquelas festas que Yeshua celebrou, e que são parte de todo o seu corpo, isso é, tanto dele próprio como daqueles que são por ele redimidos, quer judeus quer não judeus.

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011 A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 1/4 Um dos mais populares enganos da cristandade, afirma que com a morte de Yeshua a Torah, vista como uma instituição altamente prejudicial aos santos foi ab-rogada para sempre, já que não lhes proporcionava nenhum bem. Em síntese, há um rompimento total entre o “Deus do Velho Pacto” que abençoa os obedientes a o “Deus do Novo Pacto” que galardoa os transgressores. Como os defensores dessa doutrina estão convencidos de que esse é o ensino do apostolo Paulo aos colossenses e que se estende ao mundo inteiro, agora a série “Desmontando Sofismas” se ocupará do tema: “A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz.” Ora, a mensagem de Shaul é que Yeshua, não só riscou “a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária,” mas também que ele “a tirou do meio de nós, cravando-a no madeiro.” Essa mensagem foi dirigida aos nazarenos de Colossos, uma comunidade formada por judeus que abraçaram Maschiach dentro de um contexto cultural e espiritual caracterizado por maior ou menor grau de apego à Torah, por israelitas paganizados e completamente divorciados da Torah e do Elohim de seus antepassados, e por gentios egressos do paganismo e alheios à Torah. A estes três grupos unificados por meio de Maschiach Shaul proclama que a perfeição e circuncisão do Messias, operadas não num corpo pecaminoso, mas num corpo sem pecado, “E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade. No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, pela circuncisão de Maschiach.” Colossenses 2:10-11. Desmontando Sofismas

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Embora seja certo que todo o crente inicia um processo de aperfeiçoamento espiritual quando é alcançado pela chesed ou misericórdia de Elohim, Shaul não está tratando aqui desse aperfeiçoamento processual, mas daquele que é creditado em favor do pecador quando este se rende ao Criador. Um crédito concedido não em virtude do que o crente fez, faz ou fará, mas e virtude do que o Maschiach já fez. Isso quer dizer em última análise, que embora a aliança da circuncisão só seja obrigatória aos descendentes de Avraham e que a obediência à Torah só seja imposta aos filhos do pacto sinaítico, não há remido que não tenha sido tanto circuncidado no corpo do Messias como nele obedecido perfeitamente a Torah. Por isso o Mestre Shaul fala de um processo declaratório, mediante o qual o Altíssimo trata seus filhos ainda imperfeitos como se já perfeitos fossem, pois para o Altíssimo todos os eleitos foram não apenas julgados, condenados e executados mas igualmente ressuscitados e glorificados no Messias. “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Elohim, que o ressuscitou dentre os mortos.” Colossenses 2:10-12. A carta é dirigida a crentes que eram gentios por direito, embora muitos fossem descendentes das ovelhas perdidas de Israel os quais haviam sido já previamente sepultados com o Maschiach mediante a imersão nas águas, que representa a fé em sua morte, e igualmente ressuscitados mediante a emersão, que representa a fé em sua ressureição. Ora, a palavra hebraica tevilah significa imersão em água, e simboliza a purificação completa prometida por Elohim a Israel, depois que ele seja arrancado do meio das nações e levado à sua própria terra onde receberá um novo coração. Desmontando Sofismas

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“E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.” Ychezkiel/Ez 36:24-26 Os resultados desse transplante divino, pelo qual esse coração insensível à Torah será substituído por um coração submisso e pronto a obedecer são dados logo a seguir. “E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” Ychezkiel/Ez 36:27. Isso deveria ser suficiente para desmerecer o ensino de que o escrito de dívida abolido pelo Messias no madeiro seja a Torah. Na verdade Maschiach, por cujo meio Israel já é declarado justo, o lavará de sua iniquidade e o tornará justo. E é para isso que o batismo aponta. Por essa mesma razão o próprio Maschiach, como sinal de redenção para seu povo insistiu com Yochanan para que o imergisse. Nada mais natural que Yeshua, apesar de impecaminoso, imergisse como pecador, “Yehovah fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.” Yeshayahu/Is 53:6. Yochanan, para quem esse processo de transferência de culpa, segundo o qual o Eterno, em vez de simplesmente perdoar, decidiu imputar a culpa dos eleitos sobre Yeshua punindo-o em nosso lugar ainda não era claro, reage com resistência a ideia de batizar o Maschiach. É que o próprio Yochanan Ben Zecharayah se sentia carente de uma imersão mais poderosa do que aquela que ministrava aos arrependidos para o cancelamento dos seus pecados. Por isso ele estranhou e objetou o gesto de Yeshua em exigir ser batizado junto com os pecadores. Desmontando Sofismas

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“Então veio Yeshua da Galiléia ter com Yochanan, junto ao Yarden, para ser imergido por ele. Mas Yochanan opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser Imergido por ti, e vens tu a mim? Yeshua, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu.” Matytyahu/Mt 3:13-15 Depois que Yochanan o imergiu, tendo o poder de Elohim se manifestado sobre Yeshua o profeta declarou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” Yochanan/Jo 1:29 E esse mesmo cordeiro de Elohim que tira o pecado do mundo advertiu que “aquele que não nascer da água e do espírito não pode ver o reino de Elohim. ” (Yochanan 3:7). Quer dizer que não importa quem você seja, ou o que quer que faça, por mais justo que seja, sua entrada no reino exige o novo nascimento. E esse novo nascimento, essa segunda chance que não merecemos, é o resultado da vida e santidade que nos é assegurada pelos méritos de Yeshua. Como essa entrada no reino messiânico exige o nascimento da água como figura da Palavra e da ruach como figura do poder, os crentes arrependidos devem passar pela imersão que simbolicamente os lava de seus pecados e pela emersão que simbolicamente os leva à nova vida Essa lavagem, que é a própria essência da nova aliança, tem dois aspectos, o primeiro de natureza soteriológica e o segundo de natureza escatológica como veremos antes de voltar com a segunda parte. O aspecto soteriológico diz respeito ao modo de redenção de Israel e dos guerim ou estrangeiros a ele associados através da fé. E este modo é o Maschiach, que nasceu para remir a Israel, como o anjo anunciou a Miriam sua mãe ao lhe determinar que ele receba o nome de Yeshua, o nome que identifica sua missão. “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome YESHUA; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” Matytyahu/Mt 1:21 Desmontando Sofismas

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Por causa disso Yeshua precisava ser morto pelas transgressões de Israel e ressuscitado para sua justificação como mais tarde Kefah anunciou aos yerosolomitanos. “O Elohim de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro. Elohim com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.” Atos 5:30,31 Este Israel transcende os limites do judaísmo e suas ramificações e das comunidades étnicas que se apresentam como judias. Vai muito além dos grupos já identificados como israelitas como os chineses de kaifeng, os indianos de Mizoran, dos árabes misrai, os iranianois farsim, os uzbeques boukharim, os etíopes falashim, os luso-espanhóis sefaradim e dos leste-europeus askenazim. Todos esses grupos são apenas a ponta do imenso iceberg oculto entre os povos que é a nação israelita e suas dez tribos dispersas. Traços dessa nação estão entre os 2 milhões de nipo-brasileiros, entre os 21 milhões de indo-brasileiros e entre os mais de 50 milhões de afrobrasileiros e isso sem falar nos mais de 100 milhões de descendentes de luso-espanhóis com alto grau de ancestralidade judaica. É em favor de toso esse Israel que o Messias voltará a Jerusalém e ao Monte Sião. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados.” Romanos 11:26,27 O Maschiach, que em sua vinda expiou vicariamente os pecados de Israel, mas sem purificá-los em seu regresso os arrancará de sua alma. Então, as impiedades da nação hoje judicialmente afastadas serão supernaturalmente retiradas, tornando-a tão pura como Adam no paraíso. Em suma, se há algo a ser retirado não é a lei, mas o pecado, a não ser que Shaul esteja falando de outra lei, como logo veremos. Desmontando Sofismas

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012 A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz (2/4) Um dos sofismas mais universais da cristandade afirma que Yeshua tomou a lei, e a cravou na cruz, afastando-a assim, completa e eternamente do caminho de seu povo. Em nosso estudo de hoje “A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 2/4” veremos que isso passa muito fora do verdadeiro ensino de Shaul expresso nessas palavras cujo contexto analisamos no estudo anterior, e que precisam ser re-investigadas. Lemos: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a no madeiro. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” Colossenses 2:12-15.

Aqui Shaul está ensinando que apesar do passado de morte espiritual e incircuncisão na carne, os colossenses haviam passando da morte para a vida, recebendo o perdão de todas as ofensas, do passado, do presente e do futuro. Noutras palavras, eles estavam redimidos, e redimidos para sempre. Isso nos leva à declaração de que Yeshua, riscou “a cédula que era contra nós nas suas ordenanças,” e consequentemente “a tirou do meio de nós, cravando-a no madeiro.” Ora é verdade que Yeshua há Maschiach “se nos tornou da parte de Elohim sabedoria, e justiça e santificação, e redenção.” 1 Coríntios 1:30. Isso quer dizer que o que prevalece diante do tribunal do Criador é a justiça perfeita, retilínea e eterna oferecida pelo Messias em favor de todos os eleitos. Desmontando Sofismas

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Também é verdade que “se, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Elohim pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” Romanos 5:10. O que significa que se a morte de Yeshua, que é substituta garante nosso perdão, a sua vida que é perfeita garante a nossa salvação. Logo, é igualmente verdade que nada do que os crentes fizerem de bom os tornará mais salvos do que já são, e em contrapartida, que nada do que fizerem de mal os tornará menos salvos do que já são. Mas é completamente falso que o Eterno, para salvar seu povo tenha ab-rogado a Torah. Pelo contrário, a salvação só chega a nós porque no Messias a Torah foi plenamente cumprida. Ela foi cumprida, tanto no exigir obediência perfeita, que foi dada por Yeshua como no exigir a condenação do transgressor, que também se cumpriu nele. E esse não é um ensino subjetivo ou conclusivo é o ensino de Yeshua. “É, porém, mais fácil passar o céu e a terra, do que cair um til da Lei.” Lucas 16:17 O Maschiach foi mais longe ao declarar que a Torah é tão perene como o próprio universo e que enquanto ele existir, a Torah estará aqui. Assim, onde quer que você toque a terra ou contemple o céu azul estará diante do testemunho da perpetuidade da Torah. “Enquanto não passar o céu e a terra, de modo nenhum passará da lei um só yud ou um só til, sem que tudo se cumpra.” Mateus 5:18 No entanto, apesar do claro ensino do Maschiach, como que embalados nas redes de sua própria invenção, e tomados de um sonho letárgico, a maioria dos mestres cristãos tem acreditado, e assim feito acreditar que a cédula de dívida que foi riscada, e que nos era contrária em suas ordenanças sendo cravada no madeiro é a Torah inteira com suas regras alimentares, preceitos morais e dias sagrados. Tudo isso teria sido removido para sempre, como se removido fosse da memória divina. Desmontando Sofismas

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O site cristão Gospelway.com encarna essa posição, e a externa através do artigo titulado: “Leis do Antigo Testamento: Devemos Observar o Sábado Hoje?” A página afirma: "Jesus removeu as ordenanças, então não precisamos manter as leis em relação aos alimentos, aos dias sagrados ou ao sábado (Colossenses 2:16). Mas o sábado era um dos dez mandamentos. Por isso, todas as leis do Antigo Testamento foram removidas, incluindo os Dez Mandamentos e o Sábado..."Gospelway.com -" Leis do Antigo Testamento "17 No entanto é um site evangélico que acredita como a maior parte da cristandade, que ontem como hoje a mensagem a ser pregada ao mundo é: “Arrependam-se, pois, e voltem-se para Elohim, para que os seus pecados sejam cancelados.” Atos 3:19 A pergunta: como pregar arrependimento do pecado, se a lei que identifica o pecado, já foi ab-rogada, obviamente permanece sem resposta e testifica contra esse erro. Ora, Yochanan define o pecado em termos muito claros como sendo a violação de uma lei existente quando diz: “Todo aquele que pratica o pecado transgride a Torah; de fato, o pecado é a transgressão da Torah.” Yochanan Alef/1 Jo 3:4. E este é o exato pensamento do autor de Colossenses, que torna duas coisas claras, a primeira é que a lei não é pecado e a segunda é que sem ela o pecado não pode ser distinguido. Noutras palavras, sem a lei o próprio conceito de pecado desaparece como ensina Shaul há Shaliach. Old Testament Laws: Must We Observe the Sabbath Today? B. The Verses Already Studied Prove that All the Law Was Removed, Including the Ten Commands. https://www.gospelway.com/bible/old_law_today_1.php 17

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“Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” Romanos 7:7 Outro ponto ignorado é que se a lei foi abolida, só podem ser julgados os que viveram e morreram antes da tal abolição. Da mesma forma, todos os que viveram e morreram depois serão universalmente salvos. É que sem lei não há base jurídica nem para julgamento quanto mais para a condenação de quem quer que seja. No entanto, Shaul ensina que todos os que pecaram rejeitando a Torah perecerão e que todos os que pecaram reconhecendo a Torah, por ela serão julgados. ‘“Porque, para com Elohim, não há acepção de pessoas. Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.” Romanos 2:11,12 Em todos os casos ela sempre os condena, embora não da mesma forma. Por 4.000 anos a lei se levantou em juízo cumprindo eficazmente seu papel de acusar os descendentes de Adão. Como vimos e pela Torah que perecem os impenitentes e por ela são julgados os penitentes. “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Elohim.” Romanos 3:19 O discurso de Shaul se resume nisso: “O pecado não é imputado, não havendo lei,” (Romanos 5:13) mas uma vez que a lei existe, ele será sempre imputado, embora haja dois tipos de imputação, a direta que resulta em condenação, e a indireta que resulta em absolvição. Logo, a Torah sempre prevalece, condenando a todos, só que não da mesma forma. O plano da salvação previa uma saída para os filhos de Adam. Se um representante da humanidade desse à lei a justiça que ela exige, e ela o julgasse inocente, sua justiça supriria a falta dos penitentes. Desmontando Sofismas

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Este julgamento se deu a 2.000 anos quando Pilatos, examinou o Segundo Adão e em nome da Lei disse: “Não acho nesse homem crime algum.” Este inocente não podia ser condenado, a menos que lhe fosse imputada a culpa de outros, e foi o que o Eterno fez. “Porquanto, aquilo que a Lei fora incapaz de realizar por estar enfraquecida pela natureza pecaminosa, Elohim o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do ser humano pecador, como oferta pelo pecado. E, assim, condenou o pecado na carne.” Romanos 8:3. Isso quer dizer, que sendo no presente estágio, impossível alcançar a perfeição que a lei requer, o pecador penitente, isso é, aquele que reconhece a lei como justa e seu pecado como maligno pode pela fé tomar posse da obediência prestada por Yeshua como se fosse sua própria obediência. Isso é a confiança no Cordeiro de Elohim que expiou o pecado dos eleitos e os tirará do mundo no estabelecimento do seu reino. No entanto, isso nada tem de ab-rogação da Torah, mas pelo contrário, o crente, por meio de sua confiança oferece à lei, aquilo que devido à infecção de sua alma pelo pecado ele não seria capaz de oferecer, que é a obediência perfeita. Onde se pode dizer, que se há alguém que realmente cumpre a Torah é aquele que a ama, mesmo reconhecendo sua incapacidade para a plena obediência e confia na obediência à Torah que foi oferecida por Yeshua. É desta forma que Rei do Universo deixa de imputar a transgressão da Torah diretamente ao transgressor, transferindo-a à vítima inocente prefigurada nos sacrifícios e materializada em Yeshua sobre quem foram imputados os pecados dos eleitos. “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem Yehovah não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano.” Tehilim/Sl 32:1-2. Desmontando Sofismas

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Nós chamados isso de justificação, mas a justificação é um indulto que não elimina a lei como agente acusador, e nem diz que o indivíduo não é um infrator da lei, ela simplesmente anula os efeitos da peça acusatória, perdoando o transgressor e cobrindo seu pecado, que nesse caso foi transferido dele para o substituto. Logo, não foi a Lei que foi para o madeiro, mas nossos pecados acusados pela lei como o reconhece Kefah ao dizer que Yeshua levou “em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro.” Kefah Alef/1 Pd 2:24. Nesse processo, os que reconhecem sua culpa, e são iluminados pela verdade se vem forçados confessar junto com Shaul: “sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” (Romanos 7:14). O método de Elohim lidar com o pecador é o mesmo dos dias de Shlomo Ben David, perdão aos penitentes e condenação aos impenitentes. Logo, “o que encobre as suas transgressões nunca prosperará mas o que confessa e deixa alcança misericórdia.” (Pv.28:13) Por isso o Eterno não ab-roga a Torah para perdoar a transgressão, ao contrário, ele perdoa a transgressão para manter a Torah de pé. A boa notícia é que a mesma Torah que condena o impenitente silencia satisfeita diante do pecador penitente cujas culpas foram transferidas para Yeshua. É que a lei não exige duas condenações pelo mesmo pecado. Ou ele é condenado no transgressor, que nesse caso é destruído, ou em Yeshua, que nesse caso ressuscitou por ser impecaminoso. Assim, a Torah silencia não porque foi ignorada, mas porque sua ira já foi satisfeita através da morte vicária de Yeshua. Já os que ignoram a Torah estão reservados a outro destino, a condenação, não porque pecaram, mas porque ocultaram seus pecados, porque não lançaram mão do perdão. É justamente por causa disso que Yeshua dirá àqueles que em vez de reconhecerem a pureza da Torah reconhecendo suas impurezas decidiram se opor à Torah, como se o defeito estivesse nela, e não neles, que não haverá lugar para eles em seu reino, um reino que aliás será regido pela Torah, e seu pecado lhes será diretamente imputado, o que resultará em sua condenação Desmontando Sofismas

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“Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais o que é contra a Torah.” Matytyahu/Mt 7:23 Este é o inexorável fim daqueles que se opõem a Torah, seus pecados serão imputados sobre si mesmos e eles condenados para sempre. Claro, que não é a simples transgressão da Torah que acarreta tal destino, mas a transgressão qualificada por rebeldia. O texto grego deixa isso mais claro que as traduções feitas para ocultar a verdade, e mostra que serão apartados somente os que ἐργαζόμενοι τὴν ἀνομίαν ergazomenoi ten anomiam, ou os que operam na ilegalidade. Outro fato que confirma a vigência da Torah, mesmo após o sacrifício de Yeshua é a existência da morte, a grande inimiga, que ainda continua a reinar sobre todos os filhos de Adam. A razão é simples: “A alma que pecar, essa morrerá.” (Ezequiel 18:4) Assim, Shaul depois de lembrar que “a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram,” (Romanos 5:12) recorda que “o pecado não é imputado, não havendo lei.” (Romanos 5:12, 13) Ora, o crentes deve desfrutar da certeza de que a morte foi vencida por eles, na pessoa de seu substituto e representante, e no entanto, essa vitória ainda ocorreu neles, pois “o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.” 1 Coríntios 15:26 Isso significa que se a lei tivesse sido abolida pela vida de Yeshua, sua morte seria desnecessária, e que se a lei tivesse sido abolida pela sua morte, a nossa morte teria se tornado impossível. Contudo, como um escorpião infalível em seu ataque, a morte segue infectando a todos com seu aguilhão, que é o pecado, e esse aguilhão só exerce seu poder mortal por que a Lei ainda perdura. “Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.” (1 Coríntios 15:56) Logo, “a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária,” a qual Yeshua “tirou do meio de nós, cravando-a no madeiro,” não pode ser a Torah, pois isso revelaria a fragilidade de um Deus mutável corrigindo seus próprios erros. Mas que seria essa cédula? Para a resposta siga-me nos próximos dois estudos. Desmontando Sofismas

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013 A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 3/4 Em mais um episódio da série “Desmontando Sofismas” chegamos ao terceiro estudo da série “A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz,” expressão que sintetiza o pensamento cristão predominante, apesar de que a palavra lei nem mesmo seja citada por Shaul quando falou da “cédula que era contra nós” Yeshua “tirou do meio de nós, cravando-a no madeiro.” Ora, é verdade que a única obediência aceitável, diante do Eterno, pela qual somos redimidos é a de Yeshua, obediência esta que nos é graciosamente imputada através da emunah ou confiança em Elohim. Contudo, não é verdade que os crentes estejam dispensados de seu dever de amar a Torah, e de buscar a obediência por ela assinalada. Pelo contrário, um homem em verdadeira comunhão com Yehovah “não se deixa influenciar pela conduta dos transgressores,” mas ao contrário “tem seu prazer na Torah de Yehovah, e na sua Torah medita de dia e noite.” Tehilim/Sl 1:1-2. Bem, em pura perda dirão os dispensacionalistas: “Isso é coisa de David, um homem que viveu antes da graça, e que por isso amava a lei.” Um engano tão colossal só pode prevalecer diante de quem ignora a verdadeira natureza da “graça que nos foi dada em Yeshua há Maschiach, antes dos tempos eternos,” (2 Timóteo 1:9) e que nunca homem algum foi salvo senão pela graça eterna, livre e soberana. No entanto, o homem que entendeu essa verdade foi também o homem que disse: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Elohim.” Romanos 7:22 Logo, se você como David não medita na Torah, e se como Shaul seu coração não tem prazer lei do Altíssimo alguma coisa muito ruim está acontecendo com você. Significa que sua alma não está em sintonia com o espírito do Eterno. Desmontando Sofismas

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A verdade é que embora não sirvamos ao Altíssimo como meros escravos temendo os açoites, ou meros empregados em busca da recompensa somos ensinados pelo Messias que tanto transgredir como o ensinar outros a transgredirem qualquer mandamento da Torah resultará na perda de galardão, e que por outro lado tanto a nossa própria obediência como ensinar outros a obedecerem resultará em maior recompensa aos herdeiros da vida eterna. E isso é dito pelo Maschiach. “Aquele que violar um destes mínimos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado mínimo no reino dos céus; mas aquele que os observar e ensinar, esse será chamado grande no reino dos céus.” Matytyahu/Mt Mateus 5:19 Logo, a afirmação de que Yeshua cravou a Torah no madeiro desfazendo suas exigências é absolutamente falsa, se opõe a tudo o que ele mesmo ensinou e definitivamente não é disso que Shaul está falando, do contrário, seria ele um apóstata criando outro fundamento, além do próprio Maschiach, contradizendo-se a si mesmo já que ensinou: “Segundo a graça de Elohim que me foi outorgada, eu, como prudente construtor, lancei o alicerce ... Entretanto, reflita bem cada um como constrói. Porque ninguém pode colocar outro fundamento além do que está posto, o qual é Yeshua há Maschiach!” 1 Coríntios 3:10-11. Pensando nisso, cristãos sabatistas comprometidos com os Dez Mandamentos e outras leis presentes na Torah afirmam que esse escrito de dívida mencionado por Shaul não é a Torah em si, mas a culpa gerada pelo pecado, e realçada pela Torah. Essa culpa seria a nota de dívida, que nós é contrária, e que teria sido quitada através da morte de Yeshua. Esta visão partilhada por mais de 500 organizações sabatistas, de pequeno e grande porte é expressa no site da Novo Tempo, instituição adventista de rádio e tele difusão, e no canal “Na Mira da Verdade,” e pode ser considerada uma posição intermediária. Desmontando Sofismas

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“O termo grego para “escrito” de dívida encontrado em Colossenses 2:14 é “cheirographon”. Segundo o Léxico Grego de Strong (Sociedade Bíblica do Brasil), a palavra possui os seguintes significados: 1) manuscrito, o que alguém escreveu por sua própria mão; 2) nota manuscrita na qual alguém reconhece que recebeu dinheiro como depositário ou por empréstimo, e que será devolvido no tempo determinado. Desse modo, Paulo não está dizendo que a Lei de Deus foi abolida (o termo cheirographon não é sinônimo de nomos – lei. NUNCA cheirographon é traduzido por “Lei”, no grego bíblico) e sim que a o relato do pecado – que era contra nós – foi cravado na cruz. Esse relato é simbolizado por uma nota promissória que Jesus pagou, de modo que não mais estamos em débito para com Deus e Sua santa Lei. E, assim, não estamos mais destinados à morte eterna – demanda legal para todo o pecador (Romanos 6:23).18

Embora esta não seja a minha posição por motivos que explicarei ao fim dessa série, não posso deixar de reconhecer nela uma visão auspiciosa, primeiro por que mantém a Torah de pé, e segundo por que traz em seu bojo importante base para a compreensão do plano da salvação. Seria muito bom que os sabatistas no geral e os adventistas em particular acreditassem que “aquele que está morto, justificado está do pecado.” (Romanos 6:7) e que já não podemos morrer para sempre, pois nossa morte eterna foi morta na morte do Messias. Isso em si já seria um passo gigantesco e abriria espaço para uma obediência motivada por puro amor. Assim como nenhum tribunal decente no mundo abriria uma sessão para julgar mortos, o tribunal do universo não julgará os eleitos, pois estes já foram julgados, considerados culpados e executados em Yeshua, seu substituto e fiador. Com efeito o Messias diz que seu ato de fé no Criador valeu-lhes a passagem da morte para a vida. “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Yochanan/Jo 5:24 18

Qual é o “escrito de dívida” que Cristo cancelou na cruz? Colossenses 2:14

http://novotempo.com/namiradaverdade/qual-e-o-escrito-de-divida-que-cristo-cancelou-na-cruz-colossenses-214/

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Se a partir do momento em que ouvimos a palavra de Yeshua e cremos em seu pai que nos enviou, temos vida eterna já não entramos mais em condenação, resta a pergunta: Que dizer dessa declaração de Shaul há Shaliach feita aos crentes de Corinto, tanto judeus como gentios: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Maschiach, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal?” 2 Coríntios 5:10 A resposta aqui é simples. Shaul não está falando de juízo pelos pecados e contra os pecados, que resulta em condenação, e do qual estamos livres como Yeshua ensina. É que os santos já foram julgados por representação, acusados de perpetuarem a alta traição de Adam contra o Rei do Universo cedendo o senhorio a há Satan, considerados culpados, condenados e executados. Como essa sentença já foi executada eles simplesmente não podem ser condenados de novo. Aqui é preciso dizer que o juízo para a condenação derivou do pecado de Adam, tanto quanto o juízo para a vida derivou da justiça de Maschiach. “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” Romanos 5:18,19 Portanto, não são nossos atos de justiça ou obediência à Torah que garantem nossa vitória no juízo e nem nossos atos de injustiça ou desobediência à Torah que nos asseguram a condenação. O resumo da coisa é que “como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” Logo quando Shaul diz que “todos devemos comparecer ante o tribunal de Maschiach,” ele não se refere a um juízo acusativo, mas a um juízo defensivo, feito a favor dos santos, um juízo que se exercerá quando Maschiach for entronizado como o profeta Daniel falou: Desmontando Sofismas

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“Até que veio o ancião de dias, e fez justiça aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.” Daniel 7:22. E deste julgamento, que é para galardão, e que só é feito em favor dos santos, que são herdeiros naturais da salvação, que Shaul está tratando quando diz que “todos devemos comparecer ante o tribunal de Maschiach,” um juízo em que o que está em jogo não é a salvação, que não pode ser perdida, e que apesar disso podem perder recompensa. “Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” 1 Coríntios 3:14,15 Agora de volta a explicação proposta pela Novo Tempo. Apesar de explicar corretamente que a palavra cheirographon ou escrito não é sinônimo de “nomos” ou lei, e que cheirographon jamais é utilizado com o sentido de lei, o comentarista adventista ignora a natureza real do escrito que nos era contrário, que não é nem a Torah e nem a acusação gerada pela suas transgressões, embora seja certo que esta dívida foi cancelada, Shaul está falando de uma realidade que nos é contrária, que são as leis rabínicas que atuavam para manterem separados judeus e gentios inviabilizando assim a concretização do plano divino de redenção de toda a humanidade. No próximo estudo culminaremos esse importante tema e veremos que na verdade o escrito de dívida não é nem a Torah dada por Elohim por meio de Moshe, seja em seus aspectos morais, cíveis ou rituais e nem as culpas que são geradas pela nossa transgressão, mas as leis criadas pelos rabinos e outras lideranças judaicas que escravizaram o povo e levantaram barreiras para os separar dos gentios. Mas isso veremos à continuação.

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014 A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz 4/4 “Desmontando sofismas” chega agora à quarta e última parte de “A Lei foi Rasgada e Cravada na Cruz”. Quero começar essa conclusão lembrando que ao contrário dos cristãos que dividem a Torah em leis morais, cerimoniais, alimentares e civis os judeus rabínicos, que são os herdeiros dos fariseus a dividem apenas em mandamentos positivos chamados de “to asse” (para se fazer), e os negativos ou “lo asse” (para não fazer) e todos eles fazem parte da mesma lei descrita por Shaul como sendo “santa, justa e boa. “ (Romanos 7:12) E portanto, a menos que o Altíssimo quisesse pôr fim à santidade, à justiça e a bondade, tal lei não podia ser ab-rogada. Na verdade a Torah se reúne a uma só coisa a espiritualidade expressa através de mandamentos que contrastam com nossa natureza submetida ao domínio do pecado como expressa Shaul. “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” Romanos 7:14 Logo não existe a menor chance de a “cédula que era contra nós” que segundo Shaul o Messias “tirou do meio de nós, cravando-a no madeiro,” seja a qualquer parte da Torah, nem mesmo a “lei cerimonial”, porque esta prefigurando o Messias era a parte mais nobre da Torah. Sendo que toda a Torah é espiritual, logo a divisão da Torah entre lei moral e cerimonial, usado por nossos irmãos batistas do sétimo dia para defenderem a guarda do shabat e rejeitarem as festas da Torah e as leis dietéticas é surreal e o mesmo se pode dizer do recurso usado por nossos irmãos adventistas do sétimo dia para rejeitarem as festas. Desmontando Sofismas

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Para adventistas tradicionais, promessistas e reformistas, as festas seriam passageiras e pertencentes à lei cerimonial, por estarem ligadas aos sacrifícios cumpridos por Yeshua. O shabat seria permanente, e pertencente à lei moral, por estar separado dos rituais. No entanto eles ignoram que além no shabat, os sacerdotes ofereciam “dois cordeiros de um ano, sem defeito, e duas décimas de flor de farinha, misturada com azeite..., além do holocausto contínuo, e a sua libação.” Bamidbar/Nm 28:9-10. No entanto, essa era uma lei sacerdotal. Em suas casas, os israelitas não só não faziam sacrifícios como estavam proibidos de o fazer. E o que se diz do shabat se diz das outras festas. Ora, que os apóstolos também efetuaram sacrifícios, como se vê em Atos, e os profetas mostram que parte deles serão oferecidos na era messiânica. No entanto, por agora, todos os sacrifícios estão suspensos em virtude da destruição do Templo, e ausência dos sacerdotes que os consagram. Logo não existem os chamados sábados cerimoniais, mas ajuntamentos determinados pelo Altíssimo, os quais no santuário exigiam sacrifícios e nos lares apenas a sua observância por parte dos israelitas. A vigência da Torah inteira, apesar de que a salvação seja um ato gracioso da parte do Criador e não dependa das nossas obras, já foi suficientemente provada nos três estudos desta série, espero que todos analisem a fim de dissipar a ideia de que o Eterno salva os homens aparte da justiça, e sem o cumprimento da Torah. Já vimos que não é o que ocorre, pois para salvar os filhos de Adam, o segundo Adão depois de cumprir plenamente a Torah, morreu para remir seus transgressores. Ora, o rei que para salvar delinquentes revogues as leis que os condenaram, com certeza seria um monarca bondoso para os criminosos, mas não um governante justo para o resto de seus súditos. Simplesmente um reino assim passaria do império da justiça para a libertinagem da anarquia. Um rei assim, definitivamente não poderia representar o caráter do rei do universo, e jamais geraria temor em seus súditos. Desmontando Sofismas

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Diferentemente, o rei que sob certas circunstâncias concede indulto aos condenados, mas mantém a lei que rege a justiça e a paz de seu reino é um príncipe sensato. Bem, é exatamente isso que Yehovah fez, ele manteve sua Torah de pé, enviou a Yeshua para cumpri-la, e tendo ele cumprido toda a Torah, concedeu o indulto ao seus eleitos, não sem antes condená-los no Maschiach. Esta condenação vicária de Yeshua em favor de todos os eleitos de fato cancelou a dívida deles para com a Torah. Só que em Colossenses, Shaul não está falando disso, ou seja, que nossos pecados foram perdoados, e que os reclamos da Torah exigindo a vida do transgressor sob o princípio de que a alma que pecar morrerá foram satisfeitos. Shaul está tratando do cancelamento de um escrito de dívida composto de ordenanças, ou seja da ab-rogação de uma lei, que não é a lei levítica denominada pelos nossos irmãos adventistas como lei cerimonial, e muito menos a Torah inteira. Seu tema é a Torah oral que escravizava o povo judeu e o mantinha separado não só dos gentios, mas de seus próprios irmãos israelitas separados da comunidade de Israel. “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pelo madeiro reconciliar ambos com Elohim em um corpo, matando com ela as inimizades.” Efésios 2:14-16 Maschiach veio para derrubar o muro criado pelas autoridades judaicas para manterem os judeus separados do resto do mundo como se fossem párias intocáveis, separados das leis que protegem os judeus, sendo julgados aparte e não sob os mesmos direitos e proibidos sob pena de morte de guardarem os mandamentos considerados específicos para um judeu como o shabat por exemplo. Desmontando Sofismas

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Tudo isso contrariamente a ordem do Altíssimo: “amareis o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.” Devarim/Dt 10:19. Estas leis de exceção criadas pela tradição se baseiam na lenda rabínica de que o Altíssimo deu duas leis a Israel a Torah she-be-`al peh ou a lei que é narrada e a Torah she-bi-khtav ou a lei que é escrita. Estas leis embora supostamente gêmeas e complementares, na verdade são antagônicas. A Torah escrita veio do céu através de Moisés e Torah oral veio da terra através dos rabinos que criaram as mitsvot de-rabanan, os mandamentos rabínicos, chamados de χειρογραφον τοις δογμασιν (cheirografon tois dogmasim) ou escrito de dívidas na forma de dogmas, no texto grego. Estes cheirografon tois dogmasim diferem em origem, propósitos e resultados do εντολην του θεου ou mandamento de Elohim. Ora, tanto da septuaginta (AT) como no Textus Receptus (NT) a Torah ou Lei sempre é chamada de νομος nomos, e jamais de χειρογραφον cheirografon ou manuscrito, que é uma referência a mandamentos de homens, tanto que são descritos como τοις δογμασιν (tois dogmasim) ou em “forma de dogmas.” Ora a palavra dogma jamais é citada no Tanach com relação a nenhuma ordenança da Torah. Estes dogmasim não devem ser confundidos com os εντολας του θεου ou mandamentos de Elohim citados em Apocalipse 14:12 cujos observadores são elogiados pela sua fidelidade. No texto grego dos escritos nazarenos, dogamaton é um decreto ou opinião emitida por um homem ou conjunto deles, mas nunca uma ordem do Altíssimo. Assim é mencionado o δογμα dogma de Cesar Augusto “para que todo o mundo fosse recenseado (Lucas 2:1),” as δογματα dogmata ou decisões “estabelecidas pelos apóstolos” (Atos 16;4) os δογματων καισαρος dogmaton Kaiseros ou decretos de Cesar contrariados pelos crentes que diziam “que há outro rei, Yeshua.” (Atos 17:7) e finalmente os εντολων εν δογμασιν entolon en dogmasin, os “mandamentos em forma de dogmas” que Yeshua “desfez na sua carne.” (Efésios 2:15). E isso não tem nada, mas absolutamente nada a ver com os mandamentos do Altíssimo como veremos a seguir. Desmontando Sofismas

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Em todos os casos nos escritos nazarenos gregos um dogma é um decreto, opinião ou decisão humana, que contrasta com o εντολην του θεου o mandamento de Elohim que segundo Yeshua, os rabinos estavam invalidando para cumprirem sua tradição. (Marcos 7:9). O texto grego mostra Shaul falando positivamente tanto da nomos ou lei, como dos entolen ou mandamentos do Eterno como permanentes, santos, justos e bons quando diz: ωστε ο μεν νομος αγιος και η εντολη αγια Oste o men nomos ágios kai e entole agia Assim a lei é santa, o mandamento é santo, και δικαια και αγαθη kai dikaia kai agafe. e justo e bom. Assim, enquanto o texto grego mostra Shaul falando negativamente de uma χειρογραφον τοις δογμασιν (cheirografon tois dogmasim), um escrito de dívida na forma de dogmas, o qual foi riscado e cravado no madeiro, e assim completamente removido, ele ensina por meio de uma pergunta retórica que há uma lei cuja fé não pode e não deve anular, mas pelo contrário, que deve ser mantida e confirmada. Dito isso, seria de se perguntar porque um dogma rabínico era contrário ao povo, gerava uma dívida para com o Eterno e criava um muro de separação? A resposta é que quando você abandona um mandamento divino para seguir um mandamento humano você se interpõe entre ele e sua obra. Podemos entender isso muito claramente a partir de Atos 10, quando em visão Kefah ou Pedro vê o céu aberto “e um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra no qual havia de todos os animais quadrúpedes e feras e répteis da terra, e aves do céu.” (Atos 10:11,12) Logo depois ele escuta uma voz que lhe ordena: “Levanta-te, Pedro, mata e come.” (Atos 10:13) Desmontando Sofismas

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O shaliach sabe que não se tratava de uma ordem literal, porque contraria a Torah, pelo que se recusa a obedecê-la dizendo: “De modo nenhum, Yehovah, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda.” Atos 10:14 Em resposta a bat kol ou voz celestial lhe diz apenas: “Não faças tu comum ao que Elohim purificou.” Atos 10:15 E assim foi por três vezes até que o lençol com suas criaturas impuras foi recolhido de volta ao céu. Lemos a seguir que “estando Pedro duvidando entre si acerca do que seria aquela visão que tinha visto, eis que os homens que foram enviados por Cornélio pararam à porta, perguntando pela casa de Simão.” Atos 10:16-17. Estava resolvido o mistério os animais impuros estavam representando os gentios, a quem os judeus tinham por impuros, apesar de que muitos haviam sido purificados pela obra mediadora de Yeshua. Já na casa do centurião ele explica o que a visão lhe mostrara: ‘E disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostroume que a nenhum homem chame comum ou imundo.” Atos 10:28 Foi esse escrito de dívida, gerado pela tradição rabínica e seus mandamentos de feitura humana e terrena, e que era contrária a união entre judeus e gentios, e por conseguinte a formação de um povo multinacional que fosse salvo da condenação e unificado para servir ao Criador que Yeshua riscou para trazer a paz, fazendo dos dois povos um só, retirando a inimizade, e criando um novo corpo no qual gentios, israelitas e judeus se tornaram um só. Yeshua veio para abolir os dogmas humanos, recolocando a Torah no seu devido lugar. Yeshua não veio abolir o que o seu pai criou, mas o que os homens inventaram. Ele mesmo disse ao condenar os dogmas de fariseus: “Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada.” Matytyahu/Mt15:13

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015 Batismo, um Rudimento Judaico 1/4 Agora a série Desmontando Sofismas investigará uma supernova da doutrina cristã, a que ensina que o batismo é um inútil rudimento judaico, um espectro do moseísmo que assombra uma igreja superficialmente evangélica, mas intrinsecamente legalista, carregada de cerimonialismos mortos, rendida a Moisés e separada de Jesus. O fato de Yeshua não apenas ter insistido para que Yochanan o imergisse, mas tivesse ordenado a seus discípulos que pregassem o arrependimento e logo imergissem os crentes, definitivamente não tem qualquer peso sobre estes novos crentes, para quem estes atos e ensinos pertencem ao chamado Cristo da Carne, ainda preso a Moisés e não ao Cristo ressurreto, o Cristo do Espírito que teria sido revelado somente a Paulo. Esta surreal supernova cristã, será a partir de agora analisada e refutada. Na astronomia quando uma estrela envelhece e esgota a maior parte de seu combustível, ela se contrai em busca da última reserva de hidrogênio de seu núcleo. E então subitamente ela explode queimando todo o seu combustível e emitindo uma luz que pode ser tão intensa como a de cem bilhões de sóis, eclipsando o brilho de galáxias inteiras. É uma supernova que em seu ofuscante brilho se mantém por semanas ou mesmo meses, mas logo a supernova começa a se contrair sobre si mesma e sua luz diminui e diminui até apagar. O que resta é uma anã branca, uma estrela de nêutrons que já não emite luz, mas apenas um pulso eletromagnético intenso que só pode ser detectado por um radiotelescópio. A morte de uma estrela chega na forma de um buraco negro, que é quando ela implode sobre si mesma e se torna tão densa como um prédio desabado. Nesse estágio já nada mais lhe escapa, nem mesmo a luz, que é desviada dos demais corpos para ela mesma. Desmontando Sofismas

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A história de um buraco negro, que absorve toda a luz que recebe, mas não reflete nenhuma é em tudo semelhante ao de certos setores da chamada igreja cristã, que saído em busca de um maior brilho terminaram entenebrecidos por suas próprias especulações e a quem se aplicam a advertência do Messias: “Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Matytyahu/Mt 6:23. Como uma estrela que supostamente nasceu para brilhar, o dispensacionalismo vem consumindo toda a energia que emana da Palavra descartando gradativamente o que supostamente diz respeito somente a Israel e a chamada dispensação da lei até que nada mais lhe restasse além do desejo de usufruir da fazenda do pai, conquanto que não lhe prestem nenhum serviço. Como na história do filho pródigo, o dispensacionalista depois de dizer ao Rei do Universo: “Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence,” e recebido os dons, “ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.” Lucas 15:12,13. Assim é a igreja hodierna, que se proclama filha e herdeira e livre, não do pecado, mas da necessidade de obedecer e servir ao Pai de acordo com a sua lei. E é isso o que move esse ataque final a Moisés, um ataque que precisa ser enfrentado, pois não há verdadeira fé em Yeshua onde Moisés não seja verdadeiramente crido, como disse o próprio o Messias: “se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.” Yochanan/Jo 5:46. Por isso comecemos por definir as quatro posições históricas relativamente ao Elohim de Israel e à Torah, que culminaram nessa onda anti-mosaica que hoje sacode a chamada igreja cristã. 1. Marcionismo: Proposto pelo turco Marcião de Sinop (85-160), o marcionismo ensina que o Deus da Lei e dos Profetas é o Demiurgo imperfeito, criador da matéria e inspirador da Lei de Moisés, pela qual Israel foi enganado. O Pai de Jesus seria o Deus perfeito, criador do espírito, e universalmente bondoso revelado através de dez sessões de Lucas e das epístolas de Paulo, nas quais não incluía o livro de Hebreus. Desmontando Sofismas

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2. Supersessionismo: A exatos 1900 anos, o sírio Inácio de Antioquia (66-107), o verdadeiro pai do cristianismo criou o supersessionismo, ou a teologia da substituição. Para Inácio o Deus de Israel é o mesmo Pai de Jesus, mas como Israel rejeitou a Jesus, Deus o rejeitou para sempre e substituiu Israel pela igreja, a lei pela graça, o sábado pelo domingo e a circuncisão pelo batismo. As promessas a Israel se cumprem na Igreja. 3. Dispensacionalismo: Criado em 1830 pelo pregador angloirlandês John Nelson Darby (1800-1882), o dispensacionalismo nega a teologia da substituição de Israel pela Igreja, mas em seu lugar promove a teologia da separação. Israel não foi rejeitado, mas foi posto de lado durante a era da igreja iniciada no Pentecostes e a terminar no arrebatamento, quando Deus voltará a lidar com Israel como nação. A igreja é regida apenas pela Nova Aliança iniciado em Atos. 4. Hiperdispensacionalismo: Fundado pelo teólogo anglicano Ethelbert William Bullinger (1837-1913) o “Movimento da Graça”, ou Hiperdispensacionalismo ensina que era da igreja não começou no Pentecostes, uma festa mosaica acompanhada do batismo de milhares de pessoas agarradas a Moisés e ao Templo, mas com Paulo, que rejeitara o Templo, os dízimos, a apresentação de crianças, o arrependimento, os batismos, as ceias, os jejuns, os votos, as unções e as consagrações e tudo o mais que ainda ligasse a Igreja a Moisés. A novidade de sua feira de horrores é de que o batismo, apesar de ter sido inegavelmente ordenado por Yeshua e praticado pelos apóstolos foi abolido. Eles afirmam que os apóstolos batizavam por que viciam a era da transição entre a lei e a graça, entre Moisés e Jesus, e entre o Jesus da carne e o Jesus do espírito, e ainda presos às obras mortas exigidas pela lei e pelos profetas das quais a verdadeira fé cristã deve se distanciar. Esta verdadeira fé teria sido trazida por Paulo, eleito com antibatista. Desmontando Sofismas

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Assim, os hiperdispensacionalistas desprezam as cartas de Yochanan, Kefah, Yakov e Yehudah, bem como o Apocalipse como obras legalistas e inspiradas por anjos enviados para enganar os santos. Para essa nova corrente batismo terá sempre um pé fincado no judaísmo e jamais passará de uma tentativa asquerosa de conciliar Jesus com Moisés, a Lei com a Graça e a fé com as obras mortas. E essa objeção é tão enfática diante de uma aspersão feita de acordo com o rito latino e reformado, de uma infusão de acordo com o ritual metodista, de uma semi-imersão de acordo com rituais ortodoxos gregos, eslavos, egípcios ou etíopes ou de uma imersão em um tanque, rio, lago ou oceano de acordo com o ritual judaico-batista. Tudo isso seriam rudimentos inúteis, que precisam ser abandonados, e nunca mais lançados como fundamentos, de coisa alguma de acordo com essa palavra: “Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Maschiach, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Elohim. E da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. E isto faremos, se Elohim o permitir.” Ivrim/Hb 6:1-3. Este texto teria sido escrito na “era de transição”, para livrar os crentes ainda prisioneiros do “Jesus da carne”, amarrado a Moisés e ao Tempo da Lei, e oposto ao “Jesus do espírito,” amarrado à graça e Livre da Lei, e que teria se revelado apenas a Paulo. Apesar de que essa “era de transição” seja tão bíblica como um romance de Machado de Assis ou uma Sura do Alcorão, para tais sofistas Shaul teria escrito o livro de Hebreus para libertar os hebreus de seu estado sombrio de prisioneiros da lei e de suas obras mortas, e que resultam em apelos ao arrependimento, ainda pregado pelos apóstolos, e de cerimônias fúteis como o batismo e imposição de mãos. Desmontando Sofismas

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A maior evidência da insinceridade destes supostos doutores da “graça sobre graça” é que, apercebendo-se de que ficariam sem ter o que pregar se jogassem na lata do lixo todos os seis princípios da doutrina do Messias mencionados em Hebreus, decidiram eleger a imposição de mãos, o batismo e o arrependimento como montes a serem abatidos e a pregação da fé, a ressurreição dos mortos e o juízo eterno como montes a serem erguidos. É preciso destacar que o arrependimento foi sempre a porta para o reino e que ele esteve presente na mensagem dos profetas, no ensino de Yeshua e na pregação apostólica.19 Querer adentrar ao palácio do reino, saltando o muro do arrependimento é um assalto. Embora o híper dispensacionalismo ensine hoje que uma vez que os santos foram eleitos desde a fundação do mundo, e que a Lei foi abolida, a pregação do arrependimento de obras mortas seja completamente fútil, nos vemos que o arrependimento foi sempre a porta para o reino. A necessidade da pregação do arrependimento não conhece eras, povos e nem dispensações. O arrependimento é tão necessária a Israel como aos gentios. De Efraim e as dez tribos de Israel lemos: “Na verdade que, depois que me converti, tive arrependimento; e depois que fui instruído, bati na minha coxa; fiquei confuso, e também me envergonhei; porque suportei o opróbrio da minha mocidade.” Yirmiahu/Jr 31:19. Dos assírios de Nínive lemos que eles “creram em Elohim; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor...e Elohim viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Elohim se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.” Yonah/Jn 3:,5,10. A pregação do arrependimento não distingue supostas eras como dispensação da lei ou da graça. O arrependimento foi a mensagem de Yochanan Ben Zecharayah ou João o filho de Zacarias antes de Yeshua iniciar seu ministério como nos anuncia Matytyahu “E naqueles dias, apareceu Yochanan há Mbatay pregando no deserto de Yehudah, e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” Matytyahu/Mt Mateus 3:1,2 A mensagem do Cordeiro de Elohim que tira o pecado do mundo não foi diferente, pois ele “começou Yeshua a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” Mateus 4:17 Só o orgulho e a arrogância dos que aboliram a lei para não se sentirem pecadores podem construir semelhante patranha quando Yeshua declarou: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.” Lucas 5:32. Assim, antes de partir Yeshua ordenou a seus discípulos que “em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Yerushalaim.” Lucas 24:47. Definitivamente não há espaço para a verdadeira pregação onde a necessidade de arrependimento esteja ausente. Por isso a mensagem apostólica após a ascensão de Yeshua e em obediência à sua ordem foi: ”Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença de Yehovah.” Atos 3:19 O resultado dessa contínua pregação foi a constatação: “Na verdade até aos gentios deu Elohim o arrependimento para a vida.” Atos 11:18. O arrependimento foi visto por Shaul como uma obra do Criador na vida do transgressor, operando nele uma tristeza da qual jamais se arrependerá: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” 2 Coríntios 7:10 E para os sofistas que ensinam que Paulo não pregava arrependimento por que sabia que os eleitos haviam sido escolhidos antes da fundação do mundo, e que já a lei não existia para apontar pecados brandimos sua declaração que deve ser mais verdadeira que seus mitos infundados. “Antes anunciei primeiramente aos que estão em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento.” Atos 26:20 Definitivamente a doutrina que proclama a nulidade do arrependimento tem tudo de humana, carnal e diabólica e nada de divina, espiritual e sagrada. 19

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Estas incongruências e descontextualizações permeiam toda a doutrina hiperdispensacionalista. O que fazem em hebreus não fazem menos em Efésios onde enfatizam a declaração “pela graça sois salvos, por meio da fé,” suprimindo o fato de que “somos feitura sua, criados em Yeshua há Maschiach para boas obras, que de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:8,10). Para um Hiperdispensacionalismo disposto a viver apenas do que Paulo ensinou, ignorando que o mesmo Shaul servia ao Elohim de seus pais, “crendo em tudo o que está de acordo com a Lei e no que está escrito nos Profetas,” (Atos 24:14), este texto é um enorme problema, pois Shaul está estabelecendo o que o Eterno antes determinou através de Moisés e dos profetas como o caminho certo a ser seguido. É por isso mesmo que o marcionismo rejeita os profetas como pobres e enganados instrumentos do demiurgo, do deus imperfeito de Israel, e não como servos do Elohim Verdadeiro. No entanto, o Hiperdispensacionalismo acredita que o verdadeiro Elohim falou através dos patriarcas, de Moisés e dos profetas, embora rejeite a autoridade do que eles disseram falando pelo Eterno, o que os faz mais corroídos de engano do que o próprio arqui-herege. Bem esse tema prometa e nós vamos continuar com ele.

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016 Batismo, um Judaico 2/4 Nesse estudo respondemos ao engano engendrado pelo Hiperdispensacionalismo de que o batismo é um inútil rudimento judaico, coisa de quem ainda está amarrado pelos cintos à escravidão da Lei e ainda não foi conduzido à liberdade da graça expressa na Lei de Cristo. A verdade, porém, é que não há um novo padrão de boas obras, e de comportamento espiritual além do que o anteriormente anunciado pela Torah e pelos profetas, como o mostra a relação entre os apóstolos, o Messias e os profetas com o ritual da imposição de mãos. Por imposição de mãos os apóstolos, o Messias e os profetas abençoaram as crianças, curaram os enfermos e transmitiram autoridade espiritual e apostólica. 20 Alegam os ultra dispensacionalistas, que a imposição de mãos é coisa da lei, que já não brilha na graça. Estes mestres da anomia sabem que mesmo antes da Torah ser outorgada, o pai de Israel “estendeu a sua mão direita e a pôs sobre a cabeça de Efraim, que era o menor, e a sua esquerda sobre a cabeça de Menashe,” e “assim os abençoou.” Bereshit/Gn 48:14, A Torah, que aborrecem com indisfarçável desprezo mostra Moshe Ben Anram, atuando “como Yehovah lhe ordenara; porque tomou a Yehoshua, .. e perante toda a congregação; sobre ele impôs as suas mãos... como Yehovah falara por intermédio de Moshe. “ Bamidbar/Nm 27:22,23 A Brit Chadashá mostra os pais trazendo seus filhos q Yeshua, que “tomando-os nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou.” Matytyahu/Mt 10:16. Yeshua cura “enfermos, impondo-lhes as mãos.” Marcos 6:5 Esse método se repete também na cura do cego ao qual Yeshua “ impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa.” Marcos 8:23 Em atos a comunidade nazarena escolhe seus servidores, apresenta-os aos shalichim “ e estes, orando, lhes impuseram as mãos.” Atos 6:6 Dito isso vamos ao ministério de Shaul, de onde os adversários do mosaísmo supõem retirar subsídios para sua “religião espiritual.” Ora, o ministério nazareno do emissário começou dentro de uma casa em Damasco, onde Hananyah “impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Shaul, Adon Yeshua, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio da Ruach há Kodesh.” Atos 9:17. Shaul, que nunca se desconectou de Moshe e nem do que Yeshua viveu e ensinou antes de partir, o tal “Jesus da Carne” dos hiper dispensacionalistas, recorda a Timóteo, jovem judeu a quem ele mesmo circuncidou que o dom que havia nele “foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério.” 1 Timóteo 4:14 Portanto, negar a imposição das mãos é negar o dom profético, e nesse caso o douto Shlomo precisa ser chamado a depor: “Não havendo profecia, o povo perece; porém o que guarda a lei, esse é bem-aventurado.” Mishley/Pv 29:18. Mas Shaul vai além, na sua segunda carta ele apela a Timóteo: “despertes o dom de Elohim que existe em ti pela imposição das minhas mãos.” 2 Timóteo 1:6 Sua vida e escritos “contém coisas difíceis de entender” e que são torcidos por “indoutos e inconstantes... para sua própria perdição,” (Kefa Beit/2 Pd 3:16) mas nenhum desprezo ao ritual de imposição de mãos. Lemos que em Éfeso, onde encontrou judeus discípulos Yochanan, “impondo-lhes Shaul as mãos, veio sobre eles a ruach há kodesh (espírito do Santo); e falavam línguas, e profetizavam.” Atos 19:6. Ele também recorre à imposição de mãos para curar enfermos. “E aconteceu estar de cama enfermo de febre e disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver, e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele, e o curou.” Atos 28:8 Em resumo, a objeção a imposição das mãos é insustentável e se baseia apenas na aversão aos profetas. 20

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Quem quer que tenha escrito o Sefer há Ivrim ou Livro de Hebreus não está nem de perto sugerindo o abandono do arrependimento das obras mortas, da fé em Elohim, da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno, as quais descreve como os princípios da Palavra do Maschiach. Não se trata de pôr tudo isso de lado, no sentido de os abandonar, mas de pôr de lado no sentido de construir sobre esse fundamento buscando a perfeição e a maturidade da vida espiritual, à qual alguns definitivamente não chegariam por que não haviam renascido pela Palavra. 21 O autor de Hebreus fala daqueles que caem para nunca mais se levantarem. O texto tem sido usado tanto para provar que salvação de perde como para provar que alguém que viola um mandamento moral, matando ou adulterando, não pode mais ser restaurado à comunhão. Meu comentário visa estes conceitos. “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes da ruach há kodesh, e provaram a boa palavra de Elohim, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Elohim, e o expõem ao vitupério.” Ivrim/Hb 6:4-6. Em primeiro lugar tenha em conta que aqui não se fala de pecados corriqueiros da carne, mas de deliberada e contumaz rebeldia contra a chesed ou bondade do Eterno manifesta em Yeshua. De pessoas às quais a luz chegou, mas que não se tornaram “a luz do mundo.” Matytyahu/Mt 5:14. Elas apenas provaram intelectualmente o dom celestial, estudando a palavra, mas sem beberem da fonte da água da vida, pois quem bebe dela “nunca mais terá sede,” mas virá a ser “uma fonte de água a jorrar para a vida eterna". Yochanan/Jo 4:14. Provaram a palavra, mas não se alimentaram dela e por isso renegarem o sacrifício de Yeshua, expondo-o assim ao desprezo. Não se trata de um pecado da carne, ou de um enfraquecimento temporário, na fé, pois “sete vezes cairá o justo, e se levantará;” mas da ruína dos ímpios que “tropeçarão no mal.” Mishley/Pv 24:16 Assim, Kefa depois de dizer que Elohim livra “da tentação os piedosos,” adverte, que ele reserva “os injustos para o dia do juízo, para serem castigados.” Kefa Beit/2 Pd 2:9. Se trata aqui dos desprezadores dos poderes espirituais, que operam “para destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Adon Yeshua." 1 Coríntios 5:5. Estes ímpios que “andam em concupiscências de imundícia, e desprezam as potestades;” que em seus supostos exorcismos zombam de Satan e dos demônios, ”enquanto os anjos, sendo maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante de Yehovah,” são como “bestas irracionais, que seguem a natureza, feitas para serem presas e mortas, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção.” Kefa Beit/2 Pd 2:10-12 Não são ovelhas que se perderam e pereceram, pois todas as ovelhas extraviadas serão trazidas de volta por aquele que prometeu: “a perdida buscarei.” (Ychezkiel/Ez 34:16) Yeshua diz que todas as “ovelhas ouvem a sua voz... e jamais perecerão,” que o Eterno está sobre todos e que “ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai,” (Yochanan/Jo 10:3, 28, 29) mas “fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva,” e cães que voltam “ao seu próprio vômito,” e porcas lavadas que retornam “ao espojadouro de lama.” Kefa Beit/2 Pd 2:17, 22. Assim, depois de comparar os justos “à terra que embebe a chuva, ... e produz erva proveitosa,” recebendo “bênção de Elohim;” o autor compara os ímpios à terra “que produz espinhos e abrolhos,” a qual “é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.” Ivrim/Hb 6:4-8 Por isso, depois de falar dos reprovados ele se volta para os eleitos e diz: “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. Porque Elohim não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis.” Ivrim/Hb 6:9-10. Quanto aos crentes genuínos, embora sua luta pela santificação interior ainda não tenha cessado, e eles ainda estejam a ser santificados, quanto ao exterior, isso é à obra mediadora, a missão está cumprida para sempre e não pode ser obstruída. “Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados.” Ivrim/Hb 10:14 Logo apelo a todo o crente renascido para que confie ‘que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Yeshua há Maschiach.” Filipenses 1:6 21

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Para estes hiperdispensacionalistas, o verdadeiro batismo do cristão uma vez liberto da pobreza rudimentar imposta pela lei, pelos profetas e pelo próprio Yeshua tem de ser apenas espiritual. e destituído de qualquer cerimonialismo de origem judaica, lavando apenas pela lavagem da palavra. No entanto, embora seja verdade que Yeshua morreu pela sua kehialh, que é Israel, e pelos gentios nela enxertados, “para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,” (Efésios 5:26) não é verdade que a água da imersão, que representa a purificação tornada efetiva através da Davar de Yehovah, que nos declara limpos deva estar ausente de nossa vida espiritual, pois temos hoje o tesouro do espírito em vasos de barro, que são os nossos corpos. Volto a insistir que não é objetivo do autor de Hebreus fazer com que as pessoas abandonem nenhuma das doutrinas peculiares da fé israelita, tal como sugere a Almeida Corrigida e Fiel ao traduzir erroneamente o texto ao dizer: “Por isso, deixando a doutrina dos princípios elementares de Cristo.” Recordo que a palavra para rudimentos, coisas básicas, ou princípios elementares da filosofia grega é stokeyon. O texto é traduzido mais corretamente pela Tradução do Novo Mundo (Revisão de 2015) como: “Portanto, agora que deixamos para trás a doutrina básica a respeito do Cristo, avancemos à madureza, não lançando novamente um alicerce, a saber, o arrependimento de obras mortas e a fé em Deus, o ensinamento sobre batismos e a imposição das mãos, a ressurreição dos mortos e o julgamento eterno. E isso faremos, se Deus permitir.” Ivrim/Hb 6:1-3. Estivesse o autor de Hebreus promovendo o desprezo a coisas tão importantes como o arrependimento, a fé, os batismos, a imposição de mãos, a ressurreição e o juízo eterno, ele estaria gerando apostasia, criando uma nova religião descomprometida com qualquer seriedade, santidade e justiça, e entrando em contradição com todos os apóstolos, e inclusive com Shaul, artificialmente reputado com o autor da epístola. Desmontando Sofismas

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Embora a tradição por pura conveniência tente atribuir autoria da Carta aos Hebreus a Shaul, esta autoria nunca foi comprovada, pelo contrário, existem quatro elementos de peso que depõem contra essa teoria. Estes elementos são: 1. A falta de saudação: Shaul inicia todas as cartas identificando-se pessoalmente, enquanto o autor de Hebreus opta pelo anonimato não se dando a conhecer a seus destinatários, os hebreus. 2. Estilo sofisticado: Shaul usa vocabulário simples para ser entendido por todos (1 Coríntios 1:17; 2:1; 2 Coríntios 11:6), o autor de Hebreus recorre a linguagem sofisticada alheia a seu estilo. 3. Uso da septuaginta: Shaul em suas cartas recorre ao texto hebraico massorético. O autor de Hebreus prefere o Tanach a partir de seu targum grego, isso é a septuaginta, a versão dos Setenta. 4. Instrução: Shaul não recebeu instrução de homem algum, mas diretamente do Maschiach (1 Coríntios 11:23; Gálatas 1:12), mas o autor de Hebreus recebeu ensino dos apóstolos (Hebreus 2:3). Os que reivindicam a autoria de Hebreus para Shaul, afirmam que há a saudação χαρις υμιν και ειρηνη απο θεου charis umin kai eirene apo teou (paz e graça seja com vocês da parte de Elohim) presente no texto grego, e que é comum à todas as epístolas paulinas, (Hebreus 1:3) prova que a pena por trás desse pergaminho é a de Shaul há Shaliach. Contudo, isso não se constitui elemento de prova, posto que todos os shalichim ou apóstolos receberam essa ordem da parte do Maschiach: “Assim que entrardes numa casa, dizei em primeiro lugar: ‘Paz seja para esta casa!’ Matytyahu/Mt 10:5. O autor de Hebreus faz o mesmo que Yochanan que saúda seus leitores com: “Graça, misericórdia e paz, da parte de Elohim Pai e da do Adon Yeshua há Maschiach.” Yochanan Beit/2 Jo 1:3. E o mesmo que Kefa que diz: “Graça e paz vos sejam multiplicadas.” Kefa Beit/2 Pd 1:2. Desmontando Sofismas

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Assim, Yochanan, Kefa. Shaul e o autor de Hebreus, fazem apenas o que Yeshua manda. Como a salvação com base na graça e a justificação pela fé é patê da pregação de Shaul, parte essencial da epístola, a possibilidade de a carta ter sido escrita por um de seus colaboradores como Apolo como pensava Lutero, ou mesmo Timóteo que é citado em Hebreus 13:23 existe, mas não pode ser provada. Dito isso retornemos as primeiras oito palavras de Hebreus 6 onde a tradução grega reza: διο Dio Por isso

αφεντες τον της αρχης του χριστου λογον adelfos ton tes arxes tou Cristou logon deixando-nos a dos princípios - Cristo palavra

Em bom português: “Por isso deixemos as coisas básicas da palavra do Messias.” Onde tudo o que o autor deseja é que os crentes hebreus deixem as coisas básicas da Palavra de Yeshua, não no sentido de as desprezarem ou abandonarem sua prática e ensino, mas no sentido de não se deterem apenas nelas, mas de crescerem, de avançarem a partir delas como indica seu apelo: “prossigamos até à perfeição.” Supondo que Shaul escreveu mesmo a epístola, o que já foi evidenciado como falso, ainda assim é bom lembrar que Shaul permaneceu preso a cada princípio da palavra do Messias, e isso, tanto por convicção como por prática, e até o fim de seus dias. Ele se arrependeu e pregou o arrependimento, creu em Elohim e levou outros a crerem, foi imergido e imergiu a outros, recebeu o apostolado por imposição de mãos e transmitiu o apostolado mediante a imposição de suas próprias mãos, creu no ressurgir dos mortos e pregou a ressurreição e por último creu no julgamento divino e pregou o juízo eterno. É verdade que o batismo de Yeshua nos é imputado, isso é, posto sobre nós e a nosso crédito, junto com todos os ativos de sua vida perfeita, e que é o único batismo aceitável para salvação é o de um justo, por isso Yeshua insistiu com Yochanan para que o imergisse dizendo: "deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça." (Matytyahu/Mt 3:15) Logo a imersão é um ato de justiça. Desmontando Sofismas

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Por esse e outros atos de justiça do Messias somos “justificados gratuitamente ... mediante a redenção que há Maschiach Yeshua.” Romanos 3:24. Só somos aceitáveis a Elohim, quando revestidos pela justiça de Maschiach. A prova dessa aceitação foi dada através da bat kol ou voz celestial que aprovou audivelmente a imersão de Yeshua dizendo: "este é o meu Filho amado, em quem me agrado." Matytyahu/Mt 3: 17. Em sua obediência Israel foi agradavelmente aceito e justificado, e através de suas feridas foi ele curado de seus pecados. Por isso, quando cremos nele, a sua condenação passa a ser a nossa condenação e a sua justiça passa a ser a nossa justiça. “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Elohim.” Yochanan/Jo 3:18 Sua santificação, seu batismo, sua circuncisão ao 8º dia, seu cumprimento de todos os moedim ou festas de Yehovah, sua obediência às restrições alimentares contidas nas leis de kashrut, sua submissão às leis higiênicas de taharot e enfim sua ahaváh ou amor ao próximo manifesto na obediência a todas as leis de ordem moral nos pertencem. Mas isso não significa essa santidade imputada em base de uma obra que não fizemos, seja adversa a nossa própria “santificação, sem a qual ninguém verá Yehovah.” Ivrim/Hb 12:14 Para o crente, a imersão de Yeshua, da qual a sua própria imersão é apenas uma pálida imitação se reveste de especial significado. Sabe o crente que o batismo é um símbolo do sepultamento na morte de Yeshua como bem ensina Shaul há Shaliach. “De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Maschiach foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” Romanos 6:4 Desmontando Sofismas

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017 O Batismo, um Rudimento Judaico 3/4 Shaul, a quem os ultradispensacionalistas falsamente acusam de antibatista resoluto, e isso em base de mirabolantes e falsas interpretações da epístola de Hebreus, que nem foi escrita por ele e nem contém uma censura o ato batismal, conta que sua entrega à Yeshua como Maschiach foi testificada em Damasco por meio de imersão tal como ordenada por Hananiah que lhe disse: “E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.” Atos 22:16 Este mesmo Shaul que foi batizado, também ordenou aos judeus e prosélitos de Éfeso, que imergissem em nome de Yeshua a fim de receberem o poder da ruach há kodesh. Note que em Éfeso havia uma imensa sinagoga, e de onde saíram os primeiros crentes da congregação nazarena, os quais se compunham tanto de judeus como de gentios. É importante ressaltar que as pessoas a quem Shaul ordena fazer a tevilah em nome de Yeshua, haviam sido previamente imergidas no batismo de Yochanan. Logo depois Shaul impôs as mãos sobre estes crentes netzarim para que fossem visitados pelo poder do céu. “Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de Yochanan. Mas Shaul disse: Certamente Yochanan batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Yeshua há Maschiach. E os que ouviram foram batizados em nome de Adon Yeshua.” E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.” Atos 19:3-6 Desmontando Sofismas

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Lembro que a imposição de mãos é outra prática eleita pelo “movimento da graça” como rudimento judaico e inútil. Definitivamente alguma coisa está errada com o discernimento daqueles que sabendo que Shaul imergiu e foi imergido, e que apelou por seis vezes para que os crentes o imitasse (1 Cor 4;16, 11:1, 1 Tes 1:6, 2 Tes 3:7, 9), usem erroneamente dos mesmos escritos de Shaul para combaterem coisas por ele praticadas como batismo, consagração de crianças e imposição de mãos. Estamos diante de uma esquizofrenia teológica que causaria espanto não fosse essa uma geração distante do espírito dos bereanos que “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim,” (Atos 17:11), uma geração que se inclina a qualquer fábula conquanto que a leve a servir cada vez menos a El Shaday e os distancie cada vez mais do chamado Velho Testamento. No entanto, os próprios dispensacionalistas reconhecem que o chamado Novo Testamento ainda não havia sido formado e que o Tanach, erroneamente apelidado de Velho Testamento era a única Escritura conhecida pelos apostolos. Apesar disso não há nada que os ultradispensacionalistas desprezem com mais notável aversão como seguir as pisadas de Yeshua, a quem apelidaram fraudulentamente de “Cristo da Carne” para que assim, em nome do Jesus de Bullinger ignorarem seus ensinos. Eles simplesmente puderam de lado o fato de que somos santificados pela mesma ruach ou espírito que operou em Yeshua e que “se alguém não tem a ruach ou espírito de Maschiach, esse tal não é dele.” Romanos 8:9. Precisamos definir se estamos nele, imitando-o, ou pelo menos aprovando o que ele aprova, ou se somos “cristãos sem espírito”, separados da mente de Maschiach. Resumidamente o Messias se santificou por nós, o que é uma obra acabada e certa, para que nós também sejamos santificados na verdade, o que é uma obra ainda inacabada, embora igualmente certa, porque é Elohim que nos santifica. Isso pode ser resumido na oração de Maschiach: Desmontando Sofismas

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“E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.” Yochanan/Jo 17:19. A consoladora certeza de nossa vitória é expressa nestas palavras: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Yeshua há Maschiach.” Filipenses 1:6 Logo, objetivamente fomos escolhidos no Messias “antes da fundação do mundo,” mas essa escolha, feita por um Elohim, a qual não pode falhar, não se restringe à mera esfera judicial e penal pela qual recebemos um indulto de todas as nossas transgressões havidas e por haver, ou seja, não se resume apenas em salvar-nos da condenação, mas também de nossos pecados, pois fomos escolhidos “para sermos santos e irrepreensíveis.” Efesios 1:4. Então voltemos agora à argumentação de que uma vez que o Messias se batizou conforme o rito de Moisés e dos profetas, os crentes estão dispensados de o fazer. Isso é tão verdade como dizer que uma vez que Yeshua adorou somente ao Pai, estamos livres para adorar qualquer divindade, e que uma vez que ele orou por nós nunca mais precisamos orar. Discípulos são chamados a seguir o mestre acerca do qual lemos: “Então Yeshua veio da Galil ao Yarden para ser batizado por Yochanan. Yochanan, porém, tentou impedi-lo, dizendo: "Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? " Respondeu Yeshua: "Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça". E Yochanan concordou. Assim que Yeshua foi batizado, saiu da água. ". Matytyahu/Mt 3:13-16. Concluído o inusitado ato de justiça, em que o santo imergiu como transgressor, cumprindo a mitzvah que simboliza o ressurgimento para uma nova vida, El Shaday manifestou sua aprovação fazendo o poder da ruach há kodesh repousar sobre ele na forma visível de uma pomba. Desmontando Sofismas

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Não podia haver prova mais clara da aceitação. E se fosse pouco Yeshua ensinaria a Nakadimon a necessidade de nascer da água e do espírito. “Yeshua respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Elohim.” Yochanan/Jo 3:5 Ora a água é símbolo da palavra que que renova e vivifica o crente, e o espírito, é o poder que o capacita a viver em harmonia com o reino, discernindo e aprovando o que é justo, e percebendo e condenação o que é injusto. Estas palavras de Yeshua não são mais do que a extensão do que antes fora falado pelo profeta Ychezkiel. “E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.” Ychezkiel/Ez 36:24-26 Israel não tomará posse de sua terra sem a repetição do mesmo batismo de purificação coletiva que antecipou a sua entrada na terra santa, e no qual foram batizados no mar através de Moshe. Esse Israel é a kehialh ou comunidade de Yehovah, a qual bebeu da pedra espiritual que os seguia, ou seja, Yeshua há Maschiach através de quem os gentios são enxertados. Lembre-se que Israel, o Israel dos dias de Moshe Rabeinu não viveu menos no Messias e do Messias do que nós, mesmo não tendo ainda consciência do fato, e quem diz isso é o próprio Shaul. “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados por Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de uma mesma comida espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Maschiach.” 1 Coríntios 10:1-4 Desmontando Sofismas

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Israel foi batizado por Moshe, na nuvem que graciosamente os protegia do sol escaldante durante o dia e da escuridão assustadora durante a noite. Isso deveria nos fazer repensar todos os postulados dispensacionalistas que afirmam que Israel não faz parte do corpo do Messias, quando na verdade é a sua parte principal, batizado através de Moisés, e cobertos pela mesma Rocha levantada para nossa salvação, que é Yeshua. Antes mesmo de dizer que Israel foi batizado através de Moshe, Shaul lembrou aos Coríntios, então envolvidos na mesma polêmica que os ultradispensacionalismo deseja reviver, a de uma igreja conectada apenas com Paulo, que nenhum deles havia sido batizado em nome de Shaul. “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Shaul, e eu de Apolo, e eu de Kefah, e eu de Maschiach. Está Maschiach dividido? foi Shaul posto no madeiro por vós? ou fostes vós batizados em nome de Shaul?” 1 Coríntios 1:11-13 Os dispensacionalistas dizem que Shaul desprezou o batismo, quando na verdade ele o enalteceu lembrando que não tinham sido batizados em nome dele, mas em Yeshua. Ele batizou a poucos apenas para evitar a facciosidade e o partidarismo que acabou levando os coríntios à divisão onde uns se diziam de Kefa, outros de Apolo, alguns de Shaul e outros do próprio Maschiach em cujo nome foram imersos. “Dou graças a Elohim, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio, para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. E batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro. Porque Maschiach enviou-me, não para batizar, mas para pregar as boas novas; não em sabedoria de palavras, para que o madeiro de Maschiach se não faça vão.” 1 Coríntios 1:14-17 Desmontando Sofismas

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Note que Shaul não está dizendo que a imersão, tornava vão o madeiro, mas que a sabedoria das palavras poderia levar a isso. Ele indica claramente o valor da imersão, a qual por vezes ele mesmo fazia, apesar de ter recebido a incumbência de pregar as boas novas, e não de imergir, embora é claro, não estivesse proibido de o fazer. De todas as formas ele preferia sempre fazer-se acompanhar de um colaborador. Pode-se desprender que Shaul ordena que as pessoas façam o batismo, mas entrega o ato de imergir a seus colaboradores. Escrevendo aos coríntios ele mesmo diz: “Eu plantei, Apolo regou, mas Elohim é quem fazia crescer.”1 Coríntios 3:6. Ele faz isso sem jamais desmerecer o ato de imergir os crentes em nome de Yeshua da mesma forma como ele havia sido imergido. Isso fica claro quando ele diz: “pois os que em Maschiach foram batizados, de Maschiach se revestiram.” Gálatas 3:27 A prova de que valorizava a imersão foi o batismo dos coríntios Crispo e Gaio, bem como da família de Estéfanas. Shaul não lembra a quem mais batizou, pois evitava batizar ele mesmo os novos crentes, apenas para que não se considerassem seus discípulos. No caso dos efésios lemos que “ouvindo isso, eles foram batizados no nome de Adon Yeshua.” Atos 19:5. De onde se conclui que a graça e a nova vida adquirida por meio de Yeshua não cancelam a necessidade da imersão como testemunho da fé na morte vicária de Yeshua, e símbolo da purificação dos pecados que cometemos. Claro que assim como a filiação de uma criança não depende de um registro de nascimento, embora o registro testifique de seu direito à herança, a imersão não nos qualifica como herdeiros, mas testemunha que somos membros da família de Elohim, da qual Yeshua é nosso irmão maior. E se você perguntasse: Mas não basta crer no coração e com a boca confessar para justiça? Respondo que para a certeza da salvação basta apenas a fé confiante, já que a própria confissão já é uma ação, uma obra e obras não nos salvam, e contudo, não existe essa fé sem obras criada pelo neopentecostalíssimo. Toda a fé verdadeira trará consigo as obras, que a validam diante de nosso semelhante. Desmontando Sofismas

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É exatamente ai que entra o batismo como testemunho público de nossa confiança na redenção e purificação. Ora Naaman o sírio poderia ser salvo da lepra que o acometia, e que o levou a Israel em busca de salvação sem descer às águas do Yarden, mas seus servos o exortaram a fazê-lo por que o profeta Eliasha havia ordenado que o fizessem. Da mesma forma o cego de nascença poderia ter sido curado sem descer às águas, mas Yeshua ordenou que ele se banhasse nas águas de Siloé. Donde se concluí que símbolo e realidade se encontram como parte da providência de Elohim. Isso explica porque Yeshua foi batizado e mandou batizar, e porque os seguidores de Yeshua seguindo a ordem de marcha de seu Capitão, seguiram seu exemplo, tanto em serem imergidos como em imergir a outros como veremos mais apropriadamente no próximo estudo.

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018 Se Ainda Não Celebrou Pentecostes, Você Nunca Foi Pentecostal Em 2018 o judaísmo rabínico e o cristianismo católico celebraram o Pentecostes no mesmo dia, isso é no domingo 20 de maio, enquanto o judaísmo caraíta e algumas comunidades israelitas netzarim celebraram o Shavuot uma semana depois, no domingo 27 de maio, mas a maioria dos cristãos protestantes ignorou ambas as datas. Isso me inspirou a dar o seguinte título a esse estudo: “Se Ainda Não Celebrou Pentecostes, Você Nunca Foi Pentecostal.” O título é de fato chocante, e eu prefiro chocá-los com a verdade que contestá-los com um sofisma. Contudo, meu objetivo, longe de tripudiar sobre meus irmãos cristãos, que se identificam como pentecostais e aos quais amo como parte da família de El Shaday, é leva-los à uma séria reflexão sobre sua verdadeira identidade e sobre a autoridade de sua reinvindicação, e dessa reflexão para a Teshuva mais intensa ao Eterno e sua Palavra e para um mergulho na importância das festas bíblicas. A causa dessa guerra de será analisada em estudos sucessivos, sendo esse o primeiro, dedicado mais exclusivamente aos cristãos ainda não integrados a qualquer ministério de restauração das raízes hebraicas. Apesar disso parecer um debate distante da realidade cristã, nada deveria ser mais próximo do que a festa do Pentecostes. Afinal 280 milhões de pessoas ao redor do mundo estão unidas a alguma igreja identificada com o culto ruidoso iniciado em 1904 em Los Angeles no chamado “Avivamento da Rua Azuza”, 24 milhões só no Brasil. Há ainda outros 220 milhões de cristãos carismáticos de comunhão católica romana, o que mostra os chamados dons espirituais não se restringem a uma maior ou menor percepção da graça e da verdade revelada através dos mandamentos, mas sobre isso falaremos depois. Desmontando Sofismas

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Seja como for a maioria dos carismáticos acredita firmemente que a Igreja Cristã nasceu a pouco menos de 2.000 anos, em Jerusalém, e como uma igreja pentecostal, e que a palavra pentecostal deriva da palavra grega πεντηκοστης pentecostes citada por primeira vez no texto grego da Brit Chadashá ou Aliança Renovada na sentença que diz συμπληρουσθαι την ημεραν της πεντηκοστης “sumpleroustai em emeran tes pentecostes” (cumprindo-se o dia de Pentecostes).” Lucas mostra que cumprindo-se o dia de Pentecostes “estavam todos reunidos num só lugar,” celebrando a festa bíblica de Shavuot, quando “ficaram cheios do Espírito do Santo e começaram a falar noutras línguas.” Atos 2:1,4. Nada poderia ser mais claro para demonstrar que o Altíssimo aprovou a celebração da festa em Yerushalayim, centro espiritual. do povo israelita, e onde Yeshua ordenou que eles ficassem até receber poder do alto. Poder que permitiu aos crentes levar a mensagem do nazareno a judeus e prosélitos de todas as partes ali reunidos de acordo com a ordem divina. “Três vezes no ano me celebrareis festa.... A festa dos pães ázimos guardarás... E a festa da sega dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo... e a festa da colheita, à virada do ano, quando tiveres colhido do campo o teu trabalho. Três vezes no ano todos os teus homens aparecerão diante de Yehovah Elohim.” Shemot/Ex 23:14, 15, 16 e 17. Yeshua estava simplesmente ratificando a Torah que exigia que os filhos de Israel e seus estrangeiros comparecessem diante de Yehovah por três vezes anualmente, na festa dos pães sem fermento, na festa da colheita ou Shavuot e na Chag há Sukot ou Festa dos tabernáculos como se lê na Palavra. Diante disso relato de Lucas de que “em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu,” (Atos 2:5) passa a ter sentido. Os enviados de Yeshua receberam a ruach há kodesh enquanto cumpriam a ordem divina. Logo, nada mais enganoso do que ensinar podemos ser envolvidos nos dons desprezando a Torah e as festas bíblicas. Desmontando Sofismas

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O inverso é que é verdadeiro pois o “que desvia o ouvido para não ouvir a Lei, até mesmo sua oração se torna abominável.” Mishley/Pv 28:9. É por isso que Yeshua advertiu a seus discípulos não terem por verdadeiro qualquer milagreiro ainda que profetize em seu nome, tenha o poder de fazer saltar demônios e de realizar os mais estrepitosos sinais, se ele despreza a Torah. “Muitos dirão a mim naquele dia: ‘Senhor, Senhor! Não temos nós profetizado em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios? E, em teu nome, não realizamos muitos milagres?’ Então lhes declararei: Nunca os conheci. Afastai-vos da minha presença, vós que praticais o que é contra a Torah.” Deveria ser portanto muito claro que na Rua Azuza foi forjada uma nova identidade pentecostal, uma identidade que pretende saborear o filé dos dons desprezando o esqueleto da verdade que os sustentam. Que pretende a raiz numa festa bíblica que é simplesmente igonarada, quando não desprezada. Isso explica por que, em virtude tanto da falta de luz, como de conhecimento, nem sequer um culto especial é proclamado em memória do dia em que supostamente a igreja nasceu e quando crentes reunidos segundo essa palavra estavam guardando um dia para El Shaday. “Também guardarás Chag há Shavuot (a festa das semanas), que é a festa das primícias da sega do trigo.” Shemot/Ex 34:22. Portanto, é hora de uma inflexão, hora de um retorno à Palavra para que o que até aqui tem sido um pentecostalismo sem pentecostes pode e deverá ser um pentecostalismo genuinamente pentecostal aferrado à palavra, mais que a tradição e a obediência mais que à emoção. Assim apelo a cada crente e a cada líder da chamada igreja pentecostal a um retorno genuíno à palavra. O altíssimo que não leva em conta o que fizemos em nossa ignorância nos chama a todos a andar pelas veredas antigas. Desmontando Sofismas

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Havendo este verdadeiro pentecostalismo, manifesto na celebração do Pentecostes, e nas demais festas que o acompanham, a forma de culto pode ser repensada e o genuíno dom de línguas voltará a estar presente não para um show de palavras incompreensíveis, mas para que povos ainda não alcançados pela verdade ouçam a Palavra em sua própria língua, coisa que até aqui está ausente ou raramente se vê. É hora de repensar nossa identidade pentecostal. Declarar-se pentecostal e não guardar Pentecostes é o mesmo que ser adventista do sétimo dia e não honrar o shabat, ser patriota e não honrar a bandeira e ser carnavalesco e não apreciar o carnaval. Se existe uma coisa que os cristãos precisam entender é que a qualidade da fé se manifesta através das obras, bem pelo menos isso é que ensinou o apostolo quando disse: “Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostrame a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Yakov/Tg 2:18 E uma das obras motivadas pela fé é a celebração das festas que segundo Paulo são sombras das coisas futuras. Assim é urgente que voltemos a celebrar Pentecostes, do grego cinquenta porque se dá no 50º dia depois de uma contagem que dura 7 semanas ou 49 dias iniciada no primeiro domingo após o Pessach como o fazem os judeus caraítas, ainda que os católicos iniciem a contagem no chamado domingo de Páscoa e os judeus rabínicos, ainda mais distanciados da Torah, pois começam sua contagem do omer no dia seguinte ao Pessach. Tudo isso abre uma verdadeira guerra de calendários iniciada lá atrás, ainda em Israel, entre as seitas judaicas surgidas 200 anos antes do fim do Terceiro Templo, e cuja análise começamos agora e concluímos nos próximos estudos. Evidentemente que não vamos entender a guerra judaica dos calendários se não formos capazes de entender e recusar a forma cristã de contar os 50 dias que antecedem o Pentecostes. Desmontando Sofismas

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Assim, iniciamos a análise dessa guerra dos calendários pelo Domingo de Pentecostes cristão que cai 50 dias depois do Domingo de Páscoa lembrando que nossos irmãos católicos fazem uma salada russa com as festas bíblicas, invertendo a ordem mensal e semanal dos dias de festa, sendo seguidos mais ou menos de perto pelos ortodoxos e reformados. Com a base de cálculo é o Pessach lemos na Torah. “Porém no mês primeiro, aos catorze dias do mês, é o Pessach de Yehovah.” Bamidbar/Nm 28:16. Isso quer dizer que o Pessach é uma festa fixa em relação ao dia do mês e móvel em relação ao dia da semana. No entanto, o cristianismo pós-niceno ao criar sua páscoa a tornou fixa em relação ao dia da semana e móvel em relação ao dia do mês. Uma decisão tomada depois da controvérsia assim narrada por Eusébio de Cesaréia (263-340). “Surgiu, nessa época, considerável discussão, em conseqüência de uma diferença de opinião a respeito da observância do período da Páscoa. As igrejas de toda a Ásia, dirigidas por uma tradição remota, supunham que deviam guardar o décimo quarto dia da lua para a festa da páscoa do Salvador, em cujo dia os judeus tinham ordens de matar o cordeiro pascal; e eles eram incumbidos, todas as vezes de encerrar o jejum naquele dia, qualquer que fosse o dia da semana e, que recaísse. Mas não era costume celebrá-lo dessa maneira nas igrejas do restante do mundo.”22 Eusébio mostra claramente que as congregações cristãs da Ásia, ainda cleberavam o pouco que lhes restada da Páscoa Bíblica, na mesma data ordenada pelas Escrituras, e numa época tão remota como o quarto século, apesar de que no resto do mundo, isso é no Ocidente e no Egito, já não se seguisse essa ordenança, mas apenas uma tradição artificialmente atribuída aos apostolos. Eusébio de Cesaréia, História Eclesiásticas, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, 4 edição, 2003, página 191. 22

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Ele nos conta que Policrates, bispo da Ásia que celebrava a páscoa conforme o rito a ale transmitido por seus pais argumentou em defesa da manutenção do 14º dia, que os mártires se mantiveram fiéis a tradição deixada por Felipe, um dos doze e por suas filhas virgens, além de todos os santos da primitiva igreja guardando o Pessach no dia em que os filhos de Israel tiram o fermento de suas casas, isso é no 14º dia. “Todos estes celebraram como dia da Páscoa o da décima quarta lua, conforme o Evangelho, e não transgrediram, mas seguiam a regra da fé. E eu mesmo, Polícrates, o menor de todos vós, (faço) conforme a tradição de meus parentes, alguns dos quais segui de perto. Sete parentes meus foram bispos, e eu sou o oitavo, e sempre meus parentes celebraram o dia quando o povo tirava o fermento.” 23 Apesar desse poderoso testemunho de Policrates, a tradição se impôs contra as Escrituras, pois o cristianismo queria varrer os últimos vestígios de judaísmo bíblico que ainda houvesse em suas fileiras. Eusébio narra como o concilio, aviltando a ordem divina fez a mudança. “Para tratar deste ponto houve sínodos e reuniões de bispos, e todos unânimes, por meio de cartas, formularam para os fiéis de todas as partes um decreto eclesiástico: que nunca se celebre o mistério da ressurreição do Senhor de entre os mortos em outro dia que não no domingo, e que somente nesse dia guardemos o fim dos jejuns pascais.”24. Depois dessa decisão que incorporava a doutrina supersessionista de Inácio de Antioquia, ou teologia da substituição, a Igreja de Constantinopla dominou todo o Império Bizantino formulou essa horrível confissão de fé a ser lida por cada judeu convertido ao Messias cristão: Eusébio de Cesaréia, História Eclesiásticas, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, 4 edição, 2003, página 192, 193. 24 Eusébio de Cesaréia, História Eclesiásticas, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, 4 edição, 2003, página 191. 23

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“ Renuncio a todos os costumes, ritos, legalismos, pão ázimo e sacrifícios de cordeiros dos hebreus, e a todas as demais celebrações hebraicas, preces, aspersões, purificações, santificações, jejuns, luas novas, shabats, ...hinos, cantos,... abstinência de alimentos e bebidas dos hebreus; numa palavra renuncio tudo que é judaico, absolutamente tudo, a todas as leis, ritos e costumes... e se mais tarde quiser renegar e voltar à superstição judaica, ou for surpreendido fazendo uma refeição com os judeus, ou celebrando suas festas, ou conversando secretamente e condenando a religião cristã em vez de rejeitá-las abertamente e condenar sua fé vazia, que o tremor de Caim e a lepra de Gehazi se apoderem de mim, assim como os castigos legais a que me reconheço sujeito. E que eu seja um anátema no mundo que há de vir, e que satanás e os demônios se apoderem de minha alma.”25 Em resumo, após o concílio de Nicéia, e para não mais celebrarem a Páscoa em data coincidente com a dos judeus, o catolicismo abriu mão das Escrituras que ordenam o Pessach para o 14º dia da lua nova do 1º mês, transferindo-a para o primeiro domingo de lua cheia após o equinócio. A festa dos pães sem fermento que cai no dia 15 de Abobe foi simplesmente anulada. Já a festa das primícias da cevada, que deve cair no primeiro domingo após o Pessach e iniciar a contagem dos 50 dias para o Shavuot foi ignorada, ainda que a própria contagem tenha sido marcada para iniciar no chamado “domingo de páscoa”, que a rigor não existe nas Escrituras. Tudo isso contraria frontalmente as Escrituras que preceituam: “Depois para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias; então oferecereis nova oferta de alimentos ao Senhor.” Levítico 23:15,16 Profissão de fé da Igreja de Constantinopla: de Assemi, cod. Lit., p. 105, citado em David Stern pag.49 – Livro O manifesto Judeu Messiânico- 1989- Editora Comunidade Emanuel. 25

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A Torah é clara. A contagem dos 49 dias do omer, que totalizam 7 semanas completas, e que separam Bikurim que é o dia do movimento do molho das primícias da cevada diante de Yehovah do dia de Shavuot que é o dia do oferecimento das primícias do trigo começa sempre no Yom Rishon ou domingo imediato ao Pessach. Assim tanto o Bikurim (Primícias) como o Shavuot (Pentecostes) que são separados por 50 dias são fixos em relação ao dia da semana, caindo sempre em Yom Rishon ou domingo como pretendem os cristãos, apesar de partirem do domingo errado. Por outro lado o Pessach que é a Páscoa bíblica é fixa em relação ao mês, caindo sempre no 14º dia a partir da lua nova, mas móvel em relação à semana, podendo cair em qualquer dia de domingo a sábado. Assim, o Pessach de Yehovah que é marcado pelo surgimento da primeira unha visível da lua nova, nada tem a ver com o Pessach cristão inventado no concílio de Nicéia, e que cai sempre no primeiro domingo de lua cheia após o equinócio de primavera. No entanto, o judaísmo rabanita também fez das suas para que os tempos de El Shaday sejam movidos de seu lugar. O espírito da ponta pequena atua em todas as frentes, judaica, cristã e muçulmana. Dele o anjo falou a Daniel dizendo: “E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei.” Daniel 7:25. Em consequência a comunidade judaica rabanita erra tanto em fazer Primícias e Pentecostes circularem livremente pelos dias da semana como em fazer deles festas fixas em relação ao mês marcando Bikurim sempre para o dia 16 de Nisan como Shavuot sempre para o dia 6 de Sivan anulando o princípio da contagem dos cinquenta dias. Mas sobre isso falaremos mais nos próximos estudos.

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019 O Pentecostes, as Seitas Judaicas do Período do Templo e a Guerra dos Calendários Judeus rabínicos, cristãos católicos, judeus caraítas e israelitas netzarim chegam ao Shavuot ou Pentecostes através de uma contagem de 50 dias. Só que enquanto os judeus rabínicos começam a conta no dia 16 de Nisan, cristãos católicos começam no domingo de páscoa e caraítas e netzarim no primeiro domingo após o Pessach. Isso quer dizer cada um destes grupos estabelecem uma conexão direta ou indireta com esta ordem do Altíssimo: “Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias.” Vaykra/Lv 23:16. Antes de definirmos a data correta de forma definitiva, o que fica para o próximo estudo, “O Erro Rabínico da Contagem do Omer Claramente Exposto,” nos concentraremos agora em responder: como um único mandamento desperta tanta controvérsia? Ora a raiz da divergência entre judeus rabínicos e judeus caraítas, que se arrasta por 1300 anos com o surgimento do caraísmo começa em Israel. Já a divergência entre cristãos e netzarim começa na Síria com Inácio de Antioquia que rebelando-se contra os líderes judeus e seus sucessores que desde Jerusalém presidiram as assembleias nazarenas de todo o mundo separou os crentes da Torah. Graças à mão forte do império, a doutrina de Inácio triunfou sobre toda a cristandade. E sobre isso já falamos no estudo anterior. Então vamos as origens divergência judaica que começa 200 anos do Templo ser derrubado, e quando o judaísmo israelense começou a se dividir, resultado em dezenas de seitas, das quais fariseus, betusianos, saduceus e essênios foram as primeiras. Estas seitas, surgiram na chamada “era do silêncio”, quando a voz dos profetas não mais se ouvia, quando não havia governante divinamente inspirado e nem sacerdote legitimamente incumbido para levar o urim e o tumim e para instruir o povo nos caminhos da Torah. Desmontando Sofismas

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Em certo sentido a época dominada pelos últimos reis selêucidas, quando a Judéia não era uma nação soberana, pode ser descrita por uma fase nada auspiciosa surgida após a conquista da terra santa e a morte de Kalev Ben Yefuneh da qual se diz: “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos.” Shofetim/Jz 17:6 Como na época dos juízes, os últimos anos da era selêucida também foram marcados pela queda da autoridade sacerdotal, que de acordo com o profeta tinham recebido a missão de expor e explicar a Torah ao povo de Israel. “Os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca os demais seres humanos devem procurar a instrução da Torá, Lei, porque ele é o mensageiro de Yehovah, o Soberano dos Exércitos.” Malachy/Ml 2:7. No entanto, os kohanim não foram fiéis a seu comedido. Em vez de proclamar a aliança do Altíssimo para o povo eles mesmos a quebraram, e ensinaram a transgressão recebendo como punição o desprezo da nação. “Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes a aliança de Levi, diz Yehovah dos Exércitos. Por isso também eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas na lei.” Malachy/Ml 2:8,9 Estas previsões se aceleraram a partir de 175 AEC, quando o ímpio e helenizante sacerdote Yeshua, tendo mudado seu nome para Yasan (175-171), subornou o rei selêucida Antioco IV para que o nomeasse sumo-sacerdote em lugar de seu irmão, o justo Ḥōniyyō, o Onias III. Ḥōniyyō e Yasan eram descendentes de Tsadok, a única casa sacerdotal autorizada assumir o cargo supremo. Desmontando Sofismas

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Quatro anos depois a autoridade dessa casa incumbida de cuidar do Templo chegou ao fim graças à maldade do próprio Yasan. Quando em 171 AEC Yasan encarregou a Menelau, seu lugar tenente de ir até Antioco pagar o prometido suborno. Foi o suficiente para que Menelau, que era benjamitas, e não pertencia a classe sacerdotal traísse ao traidor e ao Criador ao mesmo tempo Menelau convenceu o rei a nomeá-lo sumo-sacerdote prometendo-lhe um suborno ainda maior. Antioco que não só queria um sacerdote que o ajudasse a erradicar as práticas da Torah como a guarda do sábado, das festas combater o judaísmo e as práticas da Torah não hesitou em acatar a promessa de um suborno maior, e num ato de verdadeira aberração, Menelau, que não era nem Aronita e nem Levita foi nomeado Kohen há Gadol, apesar de que só levitas, e ainda da casa de Tsadok podiam ocupar tal posto. Pouco depois temendo o prestígio de Onias III, o sumo-sacerdote legítimo deposto por Yasan, mandou assassinar. Onias IV, filho de Onias III foi levado para o Egito onde cresceu e se tornou sumo-sacerdote do Templo de Leantrópolis, construído com o apoio do rei egípcio Ptolemeu Filómetor. Pouco se sabe sobre a seita judaica de Leantrópolis, exceto que era conduzida por sacerdotes legítimos, que foi edificado no ano 170 e que sobreviveu ao próprio Templo de Jerusalém, tendo sido destruído no ano 73 por ordens do Imperador César Titus Flavius Vespasiānus Augustus (69-79) que temia uma revolta judaica no Egito. O templo caiu depois de 243 anos de serviço à comunidade judaica-egípcia. O paradoxal era que o Templo de Jerusalém localizado em Israel e edificado num lugar legítimo era servido por sumo-sacerdotes ilegítimos enquanto o Templo de Leantrópolis localizado no Egito e edificado num lugar ilegítimo era servido por um sacerdote legítimo da seita da Cada de Tsadok. Essa vazio do prestígio e da autoridade sacerdotal, graças aos kohanim que haviam corrompido o próprio sacerdócio praticando simonia, ou venda de favores divinos, e toda a sorte de maldades favoreceu o surgimento das seitas que pretendiam fazer o que antes só os kohanim faziam que era instruir o povo nos caminhos da Torah. Desmontando Sofismas

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É bom que nos lembremos que o perfil destas seitas não era idêntico como veremos agora: 1. Fariseus: Seita altamente proselitista composta principalmente por judeus e benjamitas. Reconheciam o Templo e os sacerdotes só no que diz respeito aos rituais. Quanto ao ensino da Torah, criaram suas próprias escolas alegando terem recebido a chave secreta para a guarda da lei, a chamada Lei Oral. Apesar das perdas tremendas resultantes da Primeira Revolta Judaica contra Roma e da destruição do Templo, os fariseus sobreviveram, a isso e graças a uma aliança com o Império Romano se impuseram sobre as demais seitas. 2. Betusianos ou herodianos: Seita dominada por sacerdotes helenizados ligados à família de Herodes, e corrompidos pela aliança com Roma. Apesar disso eram externamente apegados à letra da Torah, ou seja à lei escrita, rejeitando as interpretações farisaicas. Os betusianos desapareceram com o fim do Templo. 3. Essênios: Seita liderada por sacerdotes que contestavam a autoridade do Sumo-sacerdote, mas que cooptavam judeus e benjamitas para o seu seio. Considerando os sacerdotes do Templo como ímpios nomeados por Roma, e rejeitando os sumo-sacerdotes por que não pertenciam a Casa de Tsadok, eles não assistiam aos serviços do Templo de Jerusalém, e se fixaram em Qunram às margens do Mar Morto. Como os fariseus eles criaram muitas regras para explicar a Torah. A seita foi destruída pelos romanos, mas seu legado persiste até hoje. 4. Saduceus: Seita liderada principalmente por sacerdotes que mantinham o domínio sobre os serviços do Templo. Apesar de helenizados e bastante materialistas, os saduceus rejeitavam a lei oral dos fariseus e eram apegados à lei escrita. A seita desapareceu com a destruição do Terceiro Templo e a matança dos sacerdotes. Sua visão, já bastante depurada do helenismo ressurgiu no século VIII através dos ananitas, mais tarde chamados de caraítas, quando com o apoio do Império Islâmico os fariseus se impuseram sobre toda a comunidade judaica. Desmontando Sofismas

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Sobre estas seitas, Yeshua Há Notzry, o Messias e líder dos nazarenos advertiu-nos para que nos guardemos dos betusianos quando disse: “guardai-vos... do fermento de Herodes.” (Marcos 8:15) Noutra oportunidade pediu que nos precavamos contra a doutrina dos fariseus e saduceus simultaneamente quando declarou: “Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus? Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?” Mateus 16:11. Estamos aqui mencionando especificamente os fariseus porque depois da destruição do Terceiro Templo e graças a uma aliança com as autoridades enviadas pelo Império Romano para reocupar Israel, eles se impuseram sobre os sobreviventes do betusianismo, do saduceísmo, do essenismo e inclusive dos zelotismo, a mais radical das seitas, e que era de caráter mais político do que religioso assimilando os sobreviventes destas seitas. No meio desse conflito sectário estavam os nazarenos, perseguidos por fariseus e saduceus, uma seita surgida, mais tarde e a partir da ascensão de Yeshua há Maschiach ao Pai e cujos discípulos receberam a seguinte lição antes da partida de seu mestre. "Os Fariseus e os sábios se assentam na cadeira de Moisés. Por conseguinte tudo o que ele diga fazei-o diligentemente, mas não de acordo com suas ordenanças, (takanot) y suas regras (ma‘asim), isso não façais, porque eles dizem mas não fazem.” Matytyahu/Mt 23:1-2 Observe que esse é o texto traduzido de acordo com o texto hebraico de Shem Tov cujo manuscrito do século XIV chegou até nós, e no qual Yeshua nos ensina a seguir a Moisés e a ignorar os escribas e fariseus, diferentemente do que propõe a Almeida Corrigida. Para melhor compreensão desse texto recorra ao estudo número 7 da série Desmontando Sofismas. “Fazei Tudo o que os Fariseus Vos Disserem.” O conhecimento destes fatos mostra que não há uma seita judaica da era do Terceiro Templo que sirva de modelo para os crentes em Yeshua, embora cada uma delas possuísse algo da verdade, o que vale também para a datação do Shavuot. Desmontando Sofismas

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E nesse particular essas seitas levantaram um debate sobre o significado da expressão: “Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias.” Vaykra/Lv 23:16. Cada uma destas três seitas entendia que havia um shabat associado à festa dos pães sem fermento e ao início da contagem do omer, mas não se entendiam nem quanto ao significado desse shabat e nem quanto a qual shabat a Torah se referia. Os fariseus criam que o omer devia ser movido no dia seguinte ao início da festa dos pães sem fermento, que cai a 15º dia de Abibe. Isso fazia do 16 de Abibe o primeiro dos 50 dias da contagem farisaica do omer, independentemente do dia da semana. Em consequência, o Shavuot farisaico caia no dia 5, 6 ou 7 do 3º mês, a depender da extensão do 1º e do 2º mês. Mais tarde, em seu calendário perpétuo o Rabino Hillel II determinou que o Shavuot rabanita ocorresse sempre a 6 de Sivan, nome rabínico do terceiro mês trazido da Babilônia para onde transferiram suas principais academias religiosas a partir de 220 DEC. Já os saduceus que eram a seita sacerdotal moviam o omer no santuário no primeiro domingo após o Pessach, ou seja, no dia seguinte ao shabat que encerrava a semana em que caia o Pessach. E também nesse dia iniciavam a contagem dos 50 dias que os levaria a Shavuot. Consequentemente o Shavuot saduceico acontecia sempre num domingo do terceiro mês, independentemente do dia do mês. Isso fazia com que o Shavuot saduceico flutuasse livremente entre os dia 6 a 11 do terceiro mês, a depender do dia em que caísse a festa do Pessach. Os essênios cuja fantástica biblioteca chegou até nós depois de ultrapassar quase 2.000 anos escondida nas grutas de Qunram junto ao Mar Morto, possuíam um calendário distinto ao lunissolar dos saduceus e fariseus. Adotaram um ano solar de 364 dias que começava sempre na quarta-feira marcada pelo equinócio de primavera. A partir daí contavam 12 meses de 30 dias, independentes do ciclo lunar, e no final do ciclo acrescentavam mais 4 dias intercalares. Apesar disso, os essênios concordavam com os saduceus que o primeiro molho de cevada e a contagem do omer tinha de começar num domingo, mas, empenhados em forjar a sua própria identidade e marca dentro de sua comunidade eles discordavam quanto ao sábado precedente a esse primeiro dia da semana, que para eles era o sábado seguinte a festa dos pães asmos. Desmontando Sofismas

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Como resultado, os essênios sempre começaram a contar o omer no 26º dia do primeiro mês hebraico e dessa forma o Shavuot dos essênios caia sempre no 15º dia do 3º mês hebraico. Conhecidas as divergências sectárias judaicas com relação à contagem do omer, cabe apenas concluir com a ordem da Torah para que se faça a Sefirot há `Omer ou a conta do omer, lançando as bases de nosso próximo estudo, que espero que vocês acompanhem e que se titulará: “O Erro Rabínico da Contagem do Omer Claramente Exposto.” Por agora a Torah: “E não comereis pão, nem trigo tostado, nem espigas verdes, até aquele mesmo dia em que trouxerdes a oferta do vosso Deus; estatuto perpétuo é por vossas gerações, em todas as vossas habitações. Depois para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias; então oferecereis nova oferta de alimentos ao Senhor.” Vaykra/Lv 23:14-16 Onde três coisas são claras. A primeira é que a partir de Pessach o povo de Israel não podia comer da nova safra de cereais antes de fazer a sua oferta de cereais ao Eterno. A segunda essa oferta deveria ser feita no dia seguinte ao shabat, ou seja, no domingo. A terceira é que a partir desse domingo os israelitas deveriam contar mais cinquenta dias antes de fazerem sua nova oferta de cereais a Yehovah, o que naturalmente exige que tanto o Bikurim ou dia das primícias da cevada como Shavuot ou Pentecostes que é o dia das primícias do trigo caíam sempre num domingo. Mas sobre isso veremos mais no próximo estudo.

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020 O Erro Rabínico da Contagem do Omer e Datação do Pentecostes Claramente Exposto Ao tratar do Erro Rabínico da Contagem do Omer e Datação do Pentecostes Claramente Exposto é preciso ter em conta antes de tudo que tal como o cristianismo, o judaísmo é uma religião dividida em segmentos que incluem ultra ortodoxos, ortodoxos, chassidicos, conservadores, reformados, reconstrucionistas, caraítas, messiânicos e seculares, os quais por sua vez se subdividem em centenas de seitas tanto dinásticas como não dinásticas separadas por convicções e práticas, e contudo na sua maior parte influenciadas pelo rabinismo farisaico dos dias de Yeshua. Para uns poucos só existe uma Torah inspirada pelo Todo Poderoso, que é a lei escrita. Para outros há duas leis que regem a vida do povo judeu, a escrita por Moisés e oral deixada pelos rabinos. Para a maioria judaísmo é um povo e uma cultura e a Torah, o Talmud e o Sidur são parte de um folclore sem inspiração divina ou ente supremo que realmente intervenha nos assuntos humanos ou se importe de fato com suas escolhas alimentares, dias de repouso ou opções sexuais. E digo isso para calar o vislumbramento daqueles que dividem o mundo entre cristãos e judeus, como se os transgressores de ambos os lados não procedessem do mesmo barro e os justos de ambas as fronteiras não estivessem sob o influxo do mesmo espírito santificador. No entanto apesar de toda essa diversidade 99% dos judeus, sejam eles religiosos, moderados, seculares ou messiânicos celebram as festas de acordo com um mesmo calendário, e nos mesmos dias. E um exemplo disso é a contagem dos 50 dias que precedem a Chag ha Shavuot ou Festa das Semanas, popularmente conhecida como Pentecostes. Desmontando Sofismas

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No mundo judaico essa contagem começa no dia seguinte à festa dos pães sem fermento, que os judeus rabínicos denominam de Pessach, e que ocorre a 16 de Nisan, seu 1º mês. Assim a contagem do omer começa no dia 16 de Nisan e termina a 6 de Sivan, que é o seu 3º terceiro mês, e sempre no mesmo dia da semana em que a contagem rabínica teve início. Lembro aqui que a necessidade de todo o cristão aferrado à Bíblia de celebrar o Pentecostes bem com o equívoco de contar os 50 dias para esse dia a partir do chamado “Domingo de Páscoa” já foi suficientemente analisada no primeiro estudo dessa trilogia publicado sob o título: "Se Você Não Celebrou Pentecostes Nunca Foi Pentecostal." Não deixe de o assistir, pois ele encerra importante mensagem para o público cristão em geral e para meus irmãos pentecostais em particular. Retornando ao mundo judaico a exceção na datação do Pentecostes fica por conta dos caraítas, seita judaica surgida no século VIII como reação a decisão dos rabinos de imporem seu exarcado e suas leis contidas no Talmude criado na Babilônia sobre toda a comunidade judaica. Tal como os netzarim hoje, os caraítas rejeitam um calendário fixo e seguem um calendário de observação baseado na manifestação mensal da lua nova e no amadurecimento anula da cevada. Os caraítas contam o omer a partir do 1º domingo após o Pessach, e por isso celebraram Pentecostes, no domingo seguinte ao dos rabinos, ou seja 27 de maio. E olhe que só a cada 7 anos os rabinos marcam o Shavuot para o dia certo, o domingo, embora em 2018 o domingo escolhido não tenha sido o correto. Aproveito para dar crédito ao sábio judeu caraíta norte-americano Nehemia Gordon e a seu artigo “The Truth About Shavuot” (A Verdade Sobre Pentecostes) recentemente publicado em sua página oficial. Ele me forneceu importantes subsídios para a elaboração desse estudo e do anterior: “O Pentecostes, as Seitas Judaicas do Período do Templo e a Guerra dos Calendários.” 26 26

The Truth About Shavuot, Nehemia Gordon. https://www.nehemiaswall.com/truth-shavuot

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Advirto que não sou caraíta e nem pretendo ser, pois conservo fortemente o testemunho de Yeshua em minha vida, mas eu não seria justo para com Gordon e nem para com vocês que me escutam se não o mencionasse. O estudo de sua página The Karaite Korner, me levou a abandonar a contagem rabínica do omer ainda seguida pelos messiânicos e a celebrar o Pentecostes na mesma data dos caraítas. Prevaleceu o princípio: “Examinai tudo. Retende o bem.” 1 Tessalonicenses 5:21. Ora, Shavuot ou Semanas, que é o plural de shavuah (semana) é o quarto moed ou tempo apontado pelo Criador e a segunda chagim regalim ou festa de peregrinação nas quais todo o Israel era convocado a ir ao local do Templo, que por último repousou em Jerusalém até ser destruído no ano 70. A festa das “semanas” mencionada em Levítico 23:15-16, 21, e conhecida entre os cristãos pela sua designação grega Pentecostes é assim chamada em virtude de que acontece cinquenta dias depois do início de uma contagem de sete semanas ou 49 dias. Esta contagem inicia sempre no primeiro domingo após o Pessach, que é o dia em que o cordeiro é sacrificado, e que cai no dia 14 de Abibe ou mês da cevada madura como será demonstrado ao final do estudo. Recordo aqui que além de Shavuot ou Semanas, o Pentecostes também é chamado de Chag Ha-Katzir ou Festa da Colheita (Êxodo 23:16) e de Yom Ha-Bikurim ou Dia das Primícias (Números 28:26). Tradicionalmente os rabinos associam Shavuot como o dia da outorga da Torah mencionado em Shemot/Ex 19:1, embora não haja nas Escrituras uma indicação de que a Torah de fato tenha sido outorgada em Shavuot, permanecendo o motivo da sua celebração envolto na névoa da interpretação exegética. Por isso é temerário associar o Shavuot com os eventos ocorridos no Har Sinai e com a aliança do Eterno com Israel é biblicamente insustentável. É mais lógico supor que Shavuot foi ordenada para comemorar a primeira colheita de trigo proporcionada pelo Altíssimo a Israel, depois dele ter cruzando o Yarden e entrado na terra santa. Desmontando Sofismas

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No entanto, há dois fatores que diferenciam Shavuot das demais festas. O primeiro é ter sido ordenada no deserto para ser guardado após a entrada na Terra Santa. O segundo é que Shavuot a única festa que não tem dia fixo do mês para ser celebrada, mas só dia da semana. Isto posto, a contagem para Shavuot começa sempre no primeiro domingo após o Pessach, que cai a 14 de Abibe, e que é assim chamado em virtude de ser o dia em que se imola o cordeiro Pascal que é comido durante a noite do primeiro dia Chag há Matzot, a Festa dos Pães Sem Fermento, ou seja a partir do pôr-do-sol do dia 14 para o dia 15 de Abibe. Logo, Shavuot pode cair em qualquer primeiro dia da semana entre o 4º e o 12º dia do 3º mês, já que os 49 dias começam a ser contados num domingo. Para que a festa aconteça no 6º dia do terceiro mês como querem os rabinos é preciso a confluência de três fatores que são raros. 1. Primeiro: É preciso que o Pessach caia num Shabat para que o domingo imediato dê início à contagem do omer. 2. Segundo: É preciso que Abibe, o primeiro mês tenha 29 dias para que nele se conte os primeiros 15 dias do omer. 3. Terceiro: É igualmente preciso que o segundo mês tenha outros 29 dias, para que se alcancem os 44 dias, que somados a mais 6 dias do terceiro mês resulte em 50 dias. Mas isso raramente acontece. Assim, os rabinos da era do chazal, criaram um calendário baseado em cálculos, especulações e manipulações para que o 1º mês, que chamam de Nisan tenha sempre 30 dias e o 2º mês que chamam de Yiar tenha sempre 29 dias. É graças a esse malabarismo que conseguem a proeza de “saber” com centenas de anos de antecipação, em que dia do calendário gregoriano cairá o Shavuot do ano 2.500, por exemplo. Claro que isso é um exercício de “pura adivinhação”, pois se ninguém pode saber quando sairá a próxima lua nova, quanto mais uma lua nova daqui a 2.482 anos. Desmontando Sofismas

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Tome-se o caso de Sivan, o terceiro mês rabínico correspondente ao ano 2018, cujo rosh chodesh ou início do mês foi marcado no calendário judaico como devendo ocorrer na terça-feira 15 de maio. Isso exigia que o sinal da lua nova aparecesse sobre a cidade santa até o pôrdo-sol de segunda-feira, 14 de maio. No entanto como em inúmeras outras vezes, os cálculos, aproximações e manipulações rabínicas falharam redondamente. A lua nova só foi avistada a 16 de maio as 19:40, apenas 6 minutos antes do pôr-do-sol. Isso fez com que o verdadeiro Rosh Chodesh ou cabeça do mês iniciasse ao anoitecer de quarta-feira para quinta-feira, 17 de maio, dois dias depois da data rabínica. 27 Mas se o mês judaico começou 2 dias adiantado, o gregoriano começou 17 dias atrasado. Logo, a profecia que fala que o poder da ponta pequena “proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei,” (Daniel 7:25) envolve não apenas o cristianismo, mas também o judaísmo, embora numa proporção ligeiramente menor, já que manteve o shabat semanal no dia certo. Mas de resto, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo ignoraram os marcadores de tempo do Altíssimo, que são o sol, a lua e os campos de cevada para marcar o início de seus dias, de seus meses e deu seus anis a seu bel prazer. Agora, sendo que o primeiro dia do terceiro mês caiu na quinta-feira 17 de maio e não na terça-feira 15 de maio, segue-se que o rabinismo ao celebrar Shavuot no domingo 20 de maio, estava na verdade celebrando Shavuot no 4º dia do 3º mês, e não no 6º dia como preceituam suas próprias takanot ou tradições, que permanecem intocáveis, mesmo quando seu erro é evidente. Dessa maneira se cumpre esta palavra: “Ele apanha os sábios nas próprias artimanhas deles”. 1 Coríntios 3:19. O avistamente da lua nova sobre Jerusalém as 19:40 de quarta-feira dia 16 de maio, dia em que o sol se pôs as 19:46 naquela localidade, foi testificado por Devorah Gordon, Becca Biderman, Harold Tarter, Cari Tarter e Gil Ashendorf foi anunciado por Mark Harris na página When is The New Moonsó (Quando É Lua Nova). Pagina visitada em 2 de junho de 2018. http://whenisthenewmoon.com/ 27

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Não que seja errado celebrar Shavuot no 4º dia real do 3º mês, o que de fato acontece periodicamente, já que o verdadeiro Shavuot é móvel em relação ao dia do mês e fixo em relação ao dia da semana. Fazer do Shavuot uma festa fixa em relação ao mês e móvel relação a semana foi apenas a ação do mesmo poder mundano que sempre cuidou em “mudar os tempos e a lei.” Biblicamente falando, no entanto, a contagem dos 49 dias que separam o Shavuot, que é a festa da colheita do trigo de Chag há Matzot que ocorre próxima à colheita da cevada começa sempre num primeiro dia da semana. Isso exige a soma de 7 semanas completas iniciadas num domingo e concluídas num shabat. Assim o 50º dia cairá no domingo seguinte ao shabat da contagem como indica o Sefer Vaykra ou Levítico. “Depois para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias; então oferecereis nova oferta de alimentos a Yehovah.” Levítico 23:15,16. O texto hebraico não deixa dúvidas quanto a isso, a contagem do omer não inicia no dia seguinte ao dia festivo como errônea e tendenciosamente interpreta a Torah publicada pela Sefer, mas no dia que se segue ao shabat como lemos ‫שבָת‬ ַ ‫ ּו ְׁספ ְַׁרתֶ ם ָלכֶם ִמ ָמח ֳַרת ַה‬usefartem lachem mi`macharat há`shabat (contareis desde o dia seguinte ao sábado).” A Torah amarra as pontas tão completamente que o simples fato dos rabinos iniciarem a contagem do omer em qualquer dia que não seja o domingo imediato ao Pessach se torna reprovável, e que o terminarem a contagem dos 50 dias num dia que não seja aquele que se segue ao shabat, ou seja, o domingo, se torna imperdoável. O mandamento concluí dizendo: ‫שבִי ִעת תִ ְׁספְׁרּו ֲח ִמשִ ים יֹום‬ ְׁ ‫שבָת ַה‬ ַ ‫ עַד ִמ ָמח ֳַרת ַה‬ad mimacharat há`shabat há`shabat há`shevit tseferu chamishiym yom (até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias).” Desmontando Sofismas

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Como a Torah manda iniciar a contagem no dia seguinte ao sábado, saduceus e essênios, e mais tarde os samaritanos, concordaram que a contagem dos 50 dias que levava de Bikurim até Shavuot que significa Semanas, ou Pentecostes no grego começasse sempre no domingo. A discordância é quanto à qual seria esse domingo. Para os saduceus esse domingo é o dia imediato ao Pessach, para os essênios, que tinham seu próprio calendário e do qual já falamos, esse domingo era o Yom Rishon imediato ao fim da festa dos pães sem fermento. Este método de cálculo foi adotado pelos samaritanos, que também tem um calendário perpétuo, mas que iniciam a contagem para o Shavuot sempre no domingo imediato ao fim da festa dos pães asmos. Mas fariseus e seus herdeiros do judaísmo rabanita decidiram interpretar a palavra shabat ai mencionada como sendo o dia festivo dos pães sem fermento, um sábado anual, e não o sábado semanal. Para isso prevalecem do fato de que a Torah realmente proíbe trabalho servil, tanto no primeiro como no sétimo dia da festa dos pães sem fermento. Contudo, apesar da proibição do trabalho servil tanto no 1º como no s7º dia Chag Há Matzot, o que tecnicamente os converte em sábados, nem esses dias e nem qualquer outra festa bíblica são chamados de Shabatot na Torah, porque neles se permitem coisas proibidas num shabat pleno como por lenha no fogão, acendê-la ou cozinhar. Mas mesmo considerando o primeiro dia de Chag há Matzot como sábado, ainda que não como o shabat semanal ou o Yom Kipur, onde se proíbe todo o tipo de trabalho, isso em nada resolve a doutrina farisaicorabanita. Ela continua tropeçando diante dessa ordem: “Até o dia seguinte do sétimo sábado você contará cinquenta dias.” Vaykra/Lv 23:16 Isso é tão claro como o sol do meio dia. A Torah exige que a contagem dos 50 dias termine após o 7º sábado, e não existem 7 sábados festivos entre o 16 de Nisã e o 6 de Sivan, o que indica que a Torah definitivamente não está se referindo a sábado festivo, mas a sábado semanal. Este tema não se esgota aqui por isso continuaremos com a segunda parte. Desmontando Sofismas

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021 Refutando o Erro Rabínico da Contagem do Omer

Há mais de 2.000 anos o farisaísmo se envolveu numa disputa com as demais seitas judaicas alegando serem os detentores dos mistérios da Lei Oral, que teria sido ensinada a Moisés, e por ele transmitida a Yehoshua ben Num, que a teria transmitido aos sábios da “Grande Assembleia” dos quais os rabinos se jactavam ser os legítimos sucessores e sem os quais a Torah Escrita não poderia ser compreendida e muito menos cumprida. Com o passar dos anos, os perushim ou fariseus, graças à sua aliança com as nações que os dominavam, primeiro Roma e depois a Arábia, se impuseram sobre a comunidade judaica subvertendo muitas das ordens da Torah. Nesse estudo nos concentraremos em responder a pretensão rabínica de que a sefirot há omer, ou seja, a contagem dos cinquenta dias que separam Bikurim, que é festa das primícias da cevada de Shavuot ou Pentecostes, que é festa das semanas e das primícias do trigo deve começar no dia 16 de Nisan e terminar no dia 6 de Sivan. Como os dias dos meses hebraicos são regidos pela lua, eles circulam livremente pela semana, o que faz com que num ciclo de sete anos o calendário rabínico inicie a contagem do omer também em sete dias semanais diferentes. No entanto, o que muitos não sabem é que essa é uma contagem definida nas salas dos tribunais rabínicos às expensas do que é ordenado na Torah que diz: “para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado sete semanas inteiras,” o que indica que só um dia em que se pode começar a contagem das sete semanas, e esse dia é o domingo. E se isso fosse pouco a Torah diz ainda: “até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias.” Vaykra/Lv 23:15. Desmontando Sofismas

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As contas são simples e claras. Passado o primeiro shabat do contexto, que é o que se segue ao Pessach, ou seja no domingo imediato ao Pessach inicia-se uma contagem de 7 semanas que culminam sempre no shabat, e que resultam em 49 dias. Quando essa contagem termina ao pôr do sol do sétimo shabat, chega-se ao 8º domingo da contagem, que é o 50 dia, o dia de Shavuot. Uma vez que estes 50 dias são concluídos sempre após o sétimo sábado, isso é num domingo, isso desqualifica o método rabínico de contar os 50 dias do omer a partir de 16 de Nisan, começando em qualquer dia da semana para terminar no mesmo dia, ao começo oito semanas depois. A contagem de Shavuot começa num domingo e termina também num domingo. Aproveito para lembrar que antigamente não havia a palavra domingo para referir ao dia depois do shabat. Na Mikrah ou Bíblia Hebraica este dia era chamado simplesmente de ‫ יֹום אֶ חָד‬Yom Echad ou “dia um” para se referir ao começo da semana (Gênesis 1:5) ou como ‫ּיֹום‬ ‫ ִראשֹון‬Yom Rishon para se referir ao “primeiro dia” dos pães sem fermento (Êxodo 12:15). No texto grego do mal chamado Novo Testamento, o dia seguinte ao sábado é simplesmente o πρωι της μιας σαββατων proi tes mias sabbaton ou primeiro dia da semana (Marcos 16:2). A verdade é que a palavra domingo que deriva de Domine, ou senhor, é a forma católica de legitimar a santificação do primeiro dia da semana que na Roma Imperial era o Dies Solis, assim chamado em honra ao deus Sol Invictus. A divindade suprema do panteão romano mais tarde associada a Júpiter foi adorada na Grécia como Zeus, em Israel como Baal, no Egito como Horus, na Pérsia como Mitra e na Babilônia como Tamuz. Todas estas divindades tinham seu aniversário natalício comemorado após o solstício de inverno, quando o sol ressurge. E é por isso que o Jesus Cristo da Igreja Católica nasce a dia 25 de dezembro. A escolha da data foi para tornar familiar aos pagãos a nova divindade que lhes era oferecida pela igreja, uma divindade assimilada aos diversos cultos pagãos Desmontando Sofismas

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Voltando a questão que nos ocupa, ocasionalmente, uma vez a cada sete anos, o calendário rabínico assinala Bikurim que é o dia da oferta do molho de cevada, e do início da própria contagem dos 50 dias do omer para um domingo, em resultado de que também a festa do Shavuot, que é a das primícias do trigo vem a calhar num domingo, depois de 7 semanas inteiras, e depois do 7º sábado como ordena a Torah. E esse quase foi o caso desse 2018, quando tanto Bikurim quanto Shavuot caíram num domingo, ainda que não no domingo correto como agora explico. É que o ano judaico de 5.778 iniciado a 15 de setembro de 2017marcou o Pessach rabínico marcado para 15 de Nisan correspondeu ao shabat do dia 31 de março iniciando a contagem do omer no domingo 1º de abril, o seu 16 de Nisan e encerrou essa contagem no domingo 20 de maio, correspondente a 6 de Sivan, e passados 7 sábados. O calendário rabínico quase acertou, e acertaria em cheio se a lua nova do 1º mês tivesse realmente surgido no sábado 17 de março de 2018, só que não, pois na realidade a lua só foi avistada sobre Jerusalém no pôr do sol do domingo para segunda-feira 19 de abril. Assim, o Erev Pessach assinalo pelos rabinos para sexta-feira dia 30 de março, caiu de fato dois dias depois, isso é no domingo 1º de Abril. E como Pessach cai na véspera da festa dos pães sem fermento, essa caiu na segunda-feira 2 de abril. Assim foi necessário esperar 7 dias completos, isso é, até domingo 8 de Abril para iniciar a verdadeira contagem do omer. Assim, como a contagem do omer começou no domingo 8 de abril ela se encerrou no domingo 27 de maio. Por isso caraítas e nazarenos comemoraram o Pentecostes 7 dias depois. Lembro que antes do calendário de Hillel, uma vez a cada sete anos os fariseus celebravam Shavuot na data certa, junto com os saduceus e betusianos, mas isso quando observavam a lua nova crescente e antes de adotarem um calendário que hoje encaixa com a lua oculta. Desmontando Sofismas

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Mas como podemos ter certeza de que o dia seguinte ao sábado é o domingo após o Pessach e não o domingo após o sétimo dia da festa dos pães sem fermento como contavam os essênios e os samaritanos hoje? E como responder a argumentação rabínica de que a contagem começa a 16 de Nisan, no dia seguinte ao Pessach? A resposta está na narrativa da entrada na Terra Prometida sob a liderança de Yehoshua Ben Nun que diz que os filhos de Israel entraram em Eretz Israel num dia de Pessach, isso é num 14º dia do primeiro mês e que no dia seguinte, o 15º dia, que é primeiro dos pães sem fermento, já estavam comendo dos grãos da terra e do pão preparado com eles. “Estando, pois, os filhos de Israel acampados em Gilgal, celebraram a páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó. E, no dia seguinte ao do Pessach, nesse mesmo dia, comeram, do fruto da terra, pães ázimos e espigas tostadas.” Yehoshua/Jo 5:10,11 A partir desse dia depois de 40 anos, o maná deixou de cair do céu. “E cessou o maná no dia seguinte, depois que comeram do fruto da terra, e os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano comeram dos frutos da terra de Canaã.” Yehoshua/Js 5:12. O Significado dessa narrativa, crucial para determinarmos o início da contagem do omer, fica mais claro quando voltamos atrás na Torah e vemos que os filhos de Israel não podiam comer pão, grãos tostados ou mesmo espigas verdes, antes de oferecer o primeiro molho ou omer de cevada diante do Altíssimo como lemos a seguir. “E não comereis pão, nem grãos tostados, nem espigas verdes, até aquele mesmo dia em que trouxerdes a oferta do vosso Elohim; estatuto perpétuo é por vossas gerações, em todas as vossas habitações.” Vaykrá/Lv 23:14. Desmontando Sofismas

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Logo sabendo que os filhos de Israel “celebraram o Pessach no dia catorze do mês,” e se “no dia seguinte ao Pessach,” isso no quinze eles “comeram, do fruto da terra, pães ázimos e espigas tostadas,” (Yehoshua/Js 5:11) e, que eles não podiam comer “pão, nem grãos tostados, nem espigas verdes, até aquele mesmo dia” em que trouxessem “a oferta” diante de Elohim (Vaykra/Lv 23:14), é lógico concluir que eles nem comeram os cereais e nem com eles elaboraram pães antes do mover o molho, coisa que só podia acontecer no dia seguinte ao shabat. Isso desfaz o argumento rabínico de que a oferta do omer, e o início da contagem das 7 semanas se dá no dia 16, uma vez que o dia seguinte ao Pessach nunca foi 16, mas sim o dia 15, que é o próprio dia da festa. Contudo, como um erro não subsiste sozinho, se você tomar o calendário rabínico, verá que ele marca o dia 14 de Nisan como Erev Pessach, ou entardecer do Pessach, e o dia 15 como sendo o dia de Pessach. Isso é feito para empurrar o rebanho na trilha dos rabinos, que tomando de assalto a cadeira de Moshe, substituíram a investigação pessoal pelos ditos dos sábios. No entanto a sequência ditada pela Torah é a seguinte: 1) Pessach ou Passagem, que é o dia do sacrifício do cordeiro cai no 14º dia. 2) Primeiro dia de Chag há Matzot ou Festa dos Pães Sem Fermento cai no 15º dia. 3) Bikurim ou primícias, dia da oferta do molho da cevada e início da contagem do omer, e começa no sábado imediato ao dia 14. Isto posto, ao contrário dos decretos rabínicos, e de acordo com a Torah a ordem dos três moedim do primeiro mês, que é o mês de Abibe, ou mês da cevada madura pode ser separada, sequencial ou coincidente. 1. São equidistantes, quando o Pessach, (14 de Abibe) cai por exemplo num domingo. Assim, Pães Sem Fermento cairá na segunda, 15 de Abibe e as Primícias no domingo, 21 de Abibe). Desmontando Sofismas

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2. São sequencias quando o Pessach (14 de Abibe) cair numa sexta-feira. Assim, Pães Sem Fermento cairá no Shabat (15 de Abibe) e Bikurim no domingo (16 de Abibe). 3. São coincidentes quando o Pessach, (14 de Abibe) cai num shabat, o que faz do domingo seguinte, (15 de Abibe) tanto o dia dos pães sem fermento como o das Primícias. Assim, embora na atualidade a comunidade judaica chame o primeiro dia da festa dos pães sem fermento de Pessach, isso não é Torah. O cordeiro que dá nome a esse dia foi morto na tarde do 14º dia, foi comido após o pôr do sol desse dia, isso é já na noite do 15º dia. Isso é sustentado na Torah que declara que Israel saiu o Egito no 15º dia, o dia seguinte ao Pessach, que por suposto é o 14º dia: “E eles viajaram de Ramesses no primeiro mês no décimo quinto dia do mês; no dia seguinte da Páscoa, os filhos de Israel saíram com a mão alta aos olhos de todo o Egito. ” Bamidbar/Nm 33: 3 Através de Yehoshua fica claro que os israelitas entraram na terra prometida num Pessach, dia 14 de Abibe, e que coincidiu com o Shabat, e que no domingo dia 15 eles comeram o cordeiro, fizeram sua oferta de cereais e iniciaram a conta do omer. Naquele ano a festa dos Pães Sem Fermento e a Festa das Primícias, quando se move o molho da cevada, se comem os novos grãos, e se inicia a conta do omer foram coincidentes. Nehemia Gordon, o sábio caraíta a quem mais uma vez credito o mérito por parte considerável das informações técnicas aqui apresentadas, lembra em seu artigo que Ibn Ezra, o grande exegeta judeu menciona um sábio romano que usou o texto de Yehoshua ou Josué 5:12 para provar o ponto de vista farisaico. O tal rabino afirmou que uma vez que a Páscoa cai no dia 15 de Nisan, o dia imediato, quando os israelitas comeram o cereal da terra prometida teria de ser o 16, e que Josué 5:11 prova que os fariseus estavam certos em seu debate com os saduceus no que respeita a contagem do omer. Desmontando Sofismas

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Os israelitas teriam comido o grão novo no dia certo, o dia seguinte ao Pessach. Isso leva Gordon a se perguntar: Seria essa a bala de prata do judaísmo rabínico? Na verdade nem tanto. Ibn Ezra considerou esse argumento desastroso e declarou. “[O rabino romano] não sabia que isso lhe custou a vida, pois a Páscoa é no dia 14 e a manhã é a décima quinta, e assim está escrito:“ E eles viajaram de Ramessés no primeiro mês, etc. ” (Números 33: 3). Comer grãos ressecados é proibido até a ondulação do Omer ”. 28 Só que ao desfazer o argumento do rabino romano, sob o um argumento razoável, Ibn Ezra não resolve a dificuldade rabínica já que outros rabinos sempre entenderam que naquele ano os israelitas comeram o novo grão, colhido na terra, o que é claro só pode ser feito depois da oferta do omer de acordo com Levítico 23:14. E o texto de Josué prova que eles comeram o grão no dia seguinte ao Pessach, ou seja, eles o comeram no dia 15, não no dia 16. Ora, é preciso que se entenda que assim que o cereal está maduro os agricultores iniciam a colheita e o armazenamento do novo grão, o que pode acontecer antes das festas. O que está proibido é comer o novo grão. Assim, os primeiros pães sem fermento assados no dia 14 são feitos com grãos velhos estocados do ano anterior. Isso quer dizer que naquele ano específico o povo assou os pães sem fermento no dia 14, como hoje se faz, pois não havia grãos em estoque. Daí a pressa em fazer no 15. Bem voltemos então à solução proposta pelo rabino romano de que os israelitas ofereceram o omer dia certo, os 16 depois do Pessach rabínico, solução considerada falaciosa por Ibn Ezra que argumenta que a manhã seguinte ao Pessach é de fato o dia 15, não o 16. Ibn Ezra tenta contornar o incômodo texto que sempre favoreceu aos saduceus e depois aos caraítas recorrendo a uma engenhosidade incrível. The Truth About Shavuot, Nehemia Gordon. https://www.nehemiaswall.com/truth-shavuot 28

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Ele afirma que os israelitas, simplesmente comeram grãos velhos de seus estoques no dia 15 que se segue ao Pessach, e que isso nada tinha a ver com o movimento do omer, que só fizeram no dia seguinte, isso é, o no dia 16. Isso influenciou não só a visão judaica sobre os eventos, mas as traduções cristãs. Auxiliados por rabinos judeus, que ensinaram aos tradutores cristãos da King James Version que a palavra hebraica gavur, significa “grão velho,” eles traduziram assim em inglês: E comeram do milho velho da terra no dia seguinte ao Passover, embrulharam bolos e ressecaram milho no mesmo dia.” Yehoshua/Jo 5:11. Atualmente a maioria dos tradutores evita o truque de Ibn Ezra, pois sabem que gavur não significa grão seco, envelhecido ou estocado, mas simplesmente grão. E isso vale para versões cristãs ou judaicas. Nova Versão Internacional: “No dia seguinte à Páscoa, naquele mesmo dia, comeram parte da produção da terra: pão sem fermento e grãos torrados.” Bíblia Judaica Completa (Inglês): “No dia seguinte a Pessach eles comeram o que a terra produzia, Matza e assaram espigas de grão naquele dia. Imprensa Judaica (Inglês): “E eles comeram do grão da terra no dia seguinte da Páscoa, bolos ázimos e grão ressequido neste mesmo dia.” Ibn Ezra simplesmente fez o que diz que deve ser feito, que as regras de linguagem devem ser ignoradas para apoiar as interpretações rabínicas, posto que ele mesmo diz em resposta ao rabino romano que “Comer grão ressequido é proibido até a ondulação do Omer”. Ou seja não se pode comer novos cereais antes de oferecer as primícias. Desmontando Sofismas

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Ora, o grão ressequido, que em hebraico é chamado de kali, e o grão ainda não maduro, colhido ainda úmido e posto no forno para ser tostado, e comido, o que não pode ser feito antes da oferta do omer, que só pode ser feita no dia das Primícias que cai sempre no domingo seguinte ao Pessach. Conclusivamente a Torah deixa claro que os filhos de Israel devem Preparar o Pessach com os pães sem fermento e as ervas amargas no dia 14 para os comerem no dia 15, e que a partir do pôr do sol do dia 14 devem esperar até o dia seguinte ao shabat, ou seja, para o primeiro domingo, o que pode tardar de um até sete dias, como de fato aconteceu agora em maio de 2018 já seja para moverem o omer e celebrarem a festa das primícias, havendo templo, ou simplesmente para iniciarem a contagem dos 50 dias do omer na ausência do Templo, a fim de celebrarem o Shavuot ou Pentecostes no oitavo domingo após Bikurim. Ou faremos isso ou diremos que as Escrituras só devem ser respeitadas quando os homens digam sim, e que a eles compete a autoridade e alterar o que saiu dos lábios de Yehovah, quando somos advertidos em sentido contrário. “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos de Yehovah vosso Elohim, que eu vos mando.” Devarim/Dt 4:2

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022 Yeshua Tinha Raízes Farisaicas? É cada vez maior o número de pessoas que se identificam com judaísmo messiânico e aludem às supostas raízes farisaicas de Yeshua há Notzry, conhecido como Jesus Nazareno afirmando que seus ensinos e práticas são um espelho dos discursos de Hillel HaBavli, o Babilônico (110 AEC-10 DEC) e de Shamai há Zaken, o Velho (50 AEC – 30 DEC).29 Estes rabinos dividiam a Presidência do Sanhedrín, o supremo tribunal rabínico no final da Era Zugot, que corresponde à vida de Yeshua. Eles lançaram as bases da Mishnah ou Repetição, um conjunto de tratados farisaicos que formam parte do Talmud Ierusalami elaborado em Israel e do Talmud Bavil, elaborado na Babilônia. Demonstrarei que Yeshua não foi fariseu, não sofreu influência farisaica, e jamais tolerou o farisaísmo, e que só a ignorância das Escrituras permite fazer dele um fariseu. 29

Yeshua (3 AEC-28 DEC) viveu justamente na época em que a Mishnah, que significa estudo por repetição, se consolidava. A era mishnaica é suposto ter começado com os mestres Yosef ben Yoezer e Yosef ben Yochanan, líderes dos chassidim, um movimento de oposição aos sacerdotes e ao saduceísmo a seita dominada pelos levitas. Os chassidim são os antepassados diretos do farisaísmo que por sua vez são a base do judaísmo ortodoxo moderno. Esta lei oral é chamada de ‫ הרות לעבש הפ‬Torah Shebeal Pe ou Lei que é Falada, e está dividida em duas partes. A primeira é a ‫ מָ נְׁ שִה‬Mishnah cuja maior parte foi escrita em hebraico e que foi concluída no séc. III por volta de 220 DES. A segunda é a Guemará escrita em aramaico e concluída no séc. V. As duas partes formam o Talmud, que contém 525 tratados produzido em três eras farisaicas que se prolongaram por quase 700 anos. O primeiro período é o ‫ הֹו גּוּזַת‬ha zugot que significa os pares. Se inicia durante a luta contra os gregos pelos macabeus da seita dos saduceus ligada aos levitas que então dominaram a nação. Em resposta os judeus criaram a seita dos fariseus extensiva a todos os praticantes da fé de Israel, inclusive prosélitos. Nessa época foi criado o Beit Din HaGadol ou Grande Tribunal Rabínico primeiro por Hillel e Shamai, pais de duas escolas opostas do farisaísmo. Estas duas escolas inimigas se reconciliariam na Babilônia. O período zugot ou pares, cobre a revolta dos macabeus, a dinastia asmoneana, a derrubada do Segundo Templo e edificação do Terceiro e se estende de 175 AEC até 30 DEC. O segundo período é o dos ‫ תשאים‬tanaim que significa repetições. O alto preço dos pergaminhos obrigava os alunos a ser repetidores da Lei Oral. A era cobre o nascimento de Yeshua, a primeira revolta judaica contra Roma e a destruição do Terceiro Templo e a segunda e terceira revolta finalizadas com a destruição completa de Yerushalaim. No período Tanaim Mishnah, que é a primeira parte do Talmud, alcançou sua redação final sob a direção de Yehudah HaNasi ou Judá o Príncipe. (135-219) No Tanaim predominam rabinos de Israel e o período se estende do ano 1 até o 210. Estes ensinos estarão presentes sobretudo no Talmud Yerusalami. O terceiro período é o dos ‫םיארומא‬ amoraim, do aramaico, aqueles que dizem. Inicia com o Aba Arikka (175-247), discípulo de Yehudah haNasi que se mudou para a Babilônia e fundou a Academia de Sura, que como a Academia de Pumbedita funcionará ate ano 1.000. As sete gerações de amoraim reunem 767 rabinos, 367 de Israel e 394 da Babilônia. Seus comentários formam a Guemarah, a segunda parte do Talmud que é redigida na Babilônia por Ravina I, Ravina II e Rav Ashi e por isso se chamará Talmud Bavil. O período vai de 220 a 500 DEC.

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Ao fazer isso o faço com oração e denuncio essa nova onda perigosa sem nutrir aversão aos que a seguem. É que na maior parte das vezes isso é defendido por pessoas que admiram a pessoa de Yeshua, tanto como antes admiravam a figura de Jesus, mas que nunca estudaram as Bessorat há arbaim ou quatro evangelhos, por si mesmas, e por isso passam agora do personagem romano chamado Jesus para o personagem neojudaico chamado Yeshua, mas contemplando-o sob a ótica da interpretação pró-farisaica, e não sob a ótica da investigação pessoal e do conhecimento escriturístico experimental daquele que diz: “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Elohim verdadeiro, e a Yeshua há Maschiach, a quem enviaste.” Yochanan/Jo 17:3 Ignorando as Escrituras, a Igreja Romana transformou Yeshua há Notzry, um judeu descendente de David, nascido em Beit Lechem durante a festa de Sukot, enviado para obedecer a Torah e remir Israel da condenação da lei e reinar no trono de David e sobre a Casa de Yakov, na figura do menino Jesus nascido a 25 de dezembro numa manjedoura, autor da nova aliança que substitui Israel pela Igreja, a lei pela graça, a circuncisão pelo batismo, o sábado pelo domingo, a comida kasher pela alimentação irrestrita, as festas de Elohim pelas festas pagãs e destinado a reinar num céu distante e sobre o “Novo Israel”, que é a Igreja. Mas essa visão desfocada que seduziu o mundo cristão e o levou a prostrar-se diante de uma figura mitológica não é a única e nem a última. Mas recentemente o neojudaísmo vem customizando a Yeshua como um perush que celebrava Pentecostes de acordo com a data dos fariseus, guardava o Shabat segundo suas intermináveis restrições, lavava as mãos e objetos como um deles, orava em pé nas sinagogas tendo uma caixinha de couro presa à sua testa e o braço envolto num tefilim de couro. Yeshua virou um rabino fariseu defensor das halachot farisaicas atribuídas a Moisés, das takanot creditadas a Moshe e a Yehoshua, das gezerot decretadas pelo Sanedrim e das Hilkot Medinah (Estatutos do País) ditadas pela Halachá ou tradição. Desmontando Sofismas

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Calouros da restauração ignoram que por trás dessa customização que transforma artificialmente o Maschiach num fariseu estão os mesmos antimissionários que minam a fé em Yeshua Meshiheinu ou Yeshua o nosso Messias. A experiência acumulada por mim em mais de 15 anos de restauração é que a primeira fase da desconstrução de Yeshua é sua transformação em fariseu. Essa é a fase preparatória para levar o crente messiânico do firme alicerce da Palavra que nega qualquer vínculo entre Yeshua e o farisaísmo para as areias movediça da especulação. Antes porém de demonstrar isso eu gostaria de dizer que o povo judeu não deve ser confundido com nenhuma seita, e que a denúncia de um sistema religioso ligado aos judeus não significa de forma alguma que o firme propósito do Altíssimo para com os judeus não será alcançado ou que eles hajam sido rejeitados como povo. Ao contrário, o que se espera é que o Altíssimo renove a sua aliança com as duas casas de seu povo conforme diz a profecia. “Eis que dias vêm, diz Yehovah, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Yehudah.” Yirmiahu/Jr 31:31 É evidente que este texto é uma espada de dois gumes. Por um lado ele garante que a casa de Judá, não foi e não será rejeitada, mas por outro lado garante, que a nova aliança será estabelecida primeiro com a Casa de Israel. Isso quer dizer que o Altíssimo está tão comprometido com as dez tribos perdidas da casa de Efraim como a Casa de Judá, naturalmente acompanhada pela tribo de Benjamim. Isso significa que o privilégio que assiste aos judeus como parte do povo eleito que é Israel, depende unicamente do fato de descenderem de Yehudah Ben Yakov ou Judá o Filho de Jacó. E este privilégio é em certo sentido maior que o das demais tribos, posto que Yeshua Meshiheinu não é rubenita, levita ou gadita, mas judeu. Esta é a razão de Yeshua ter dito à mulher samaritana: “Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.” Yochanan/Jo 4:22. Desmontando Sofismas

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Logo a razão de ser de nossas denúncias contra o farisaísmo que era apenas uma das 28 seitas do judaísmo do primeiro século, não deve ser confundida com algum tipo de antissemitismo, embora nossos detratores tanto se esforcem em nos classificar como tais, posto que confessamos a origem semítica de Yeshua. Além disso, posto que Maschiach era judeu assim como judeus eram cada um de seus enviados confessamos igualmente que a fé nazarena é de origem judaica. Isso foi claramente exposto por Shaul que indagou “qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?” para logo responder: “Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Elohim lhe foram confiadas.” Romanos 3:1,2 No entanto embora o judaísmo do primeiro século contivesse o farisaísmo como uma de suas expressões de fé, o farisaísmo não continha o judaísmo que era composto ainda de betusianos, essênios, saduceus, nazarenos e zelotes, pelo que confundir farisaísmo com judaísmo e judaísmo com moseísmo são vícios contra os quais precisamos estar suficientemente prevenidos. Ora, a origem das seitas judaicas da época de Yeshua remonta ao ano 175 quando Antíoco IV Epifânio (215-162 AEC) administrava a Judéia como província vassala do Império Seleucida sediado na Síria. Antioco decidiu afastar a Ḥōniyyō Ben Shimon do serviço do templo que ocupou entre 185 e 175 AEC e dar o sumo sacerdócio a seu irmão Yeshua, que abdicou de seu nome hebraico e adotou o nome grego de Iasan, prometendo-o helenizar o país e dar-lhe um rico suborno em ouro. Sua ímpia usurpação, porém durou pouco. Em 172, ao enviar seu secretário Menelau, que era benjamita, para pagar o prometido suborno este convenceu o monarca a fazer dele o novo Sumo Sacerdote. Isso era mais do que os levitas e o próprio povo podiam suportar. Os sacerdotes entraram em efervescência reivindicando seus direitos, e fundaram a seita tsadokim ou justos. O nome alude aos filhos de Tsadok Ben Achitube, legítimos herdeiros do sumo-sacerdócio que Menelau exerceu ilegitimamente por 11 anos, isso é, até o ano 162 AEC. Desmontando Sofismas

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O problema é que, embora o cargo sacerdotal pudesse ser exercido por qualquer Aronita, isso é, por qualquer descendente de Aharon, o cargo supremo pertencia somente aos descendentes de Tsadok (Ychezkiel/Ez 43:19 44:15) porque não compactuaram com a idolatria que levou a destruição do Primeiro Templo. Mas não foi o que aconteceu. A partir do domínio grego, o cargo passou a ser ocupado por barganha, e a legitimidade foi posta de lado, especialmente após a morte de Onias III, considerado o último sumo-sacerdote legítimo da história de Israel e ocorrida por volta do ano 170. Além disso, os sacerdotes reivindicaram também o trono fundando a dinastia dos asmoneus sob protestos dos judeus que reivindicavam o trono para um descendente de David. Esse desejo levou ao surgimento da seita dos chassidim ou piedosos, que mais tarde assumiu o nome de perushim ou fariseus. Em contrapartida, os essenim ou essênios julgaram todo o sacerdócio como corrupto por ser liderado por kohanim ilegítimos e cujos assentos eram comprados com ouro, muitas vezes retirado do Templo, e então foram para o deserto. Os judeus do Egito, construíram então o Templo de Leantrópolis conduzido por Onias IV, um legítimo sumo-sacerdote, filho de Onias III e que havia fugido para o país vizinho. Isso enquanto o Templo de Jerusalém era presidido por sacerdotes ilegítimos. Na sua luta pelo poder fariseus e saduceus iniciaram uma guerra civil que se prolongou por quase um século e que resultou na morte de mais de 100 mil judeus, levitas e benjamitas e na sucumbência do reino asmoneu diante de Roma que impôs a Herodes como rei da Judéia. Os sacerdotes que apoiavam a Herodes fundaram a seita dos betusianos, mais tarde conhecida como os herodianos, e que certamente tinha o apoio dos idumeus convertidos a força ao judaísmo. Rejeitando a tudo isso os zelotes fundaram uma seita nacionalista que rejeitava qualquer negociação com potências estrangeiras e que teve um papel preponderante na Primeira Revolta Judaica que resultou na destruição parcial de Jerusalém e na derrubada do Templo de Herodes ocorrida no ano 70. Desmontando Sofismas

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Foi nesse cenário que Yeshua nasceu e fundou a seita dos nazarenos, uma seita que avançou rapidamente dentro da comunidade levítica, embora não dentro do alto clero, vendido que era aos interesses de Roma com os quais traficava. O movimento nazareno muito se fortaleceu na capital como Lucas nos conta: “E crescia a palavra de Elohim, e em Yerushalayim se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé.” Atos 6:7 Além disso, por toda a Judéia o número de membros da seita dos nazarenos, que nada teve a ver com a seita cristã fundada na Síria por Inácio de Antioquia se multiplicou rapidamente com dezenas de milhares de crentes em Yeshua e zelosos cumpridores da Torah como indicou Yakov ou Tiago ao discursar para a multidão de crentes reunidos em Yerushalayim na presença de Shaul como Lucas nos conta. “E, ouvindo-o eles, glorificaram a Yehovah, e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantas dezenas milhares de judeus há que crêem, e todos são zeladores da Torah.” Atos 21:20 É justamente porque o nazarenismo histórico zelava pela Torah, diferentemente do cristianismo moderno que os enviados de Yeshua jamais apontaram para qualquer tipo de judaísmo sistêmico de sua época como modelo. Saduceísmo, farisaísmo, betusianismo, essenismo e zelotismo eram simples sistemas humanos a serem evitados conforme a Palavra profética: “Deixai-vos do homem cujo fôlego está nas suas narinas; pois em que se deve ele estimar?” Yeshayahu/Is 2:22. Isso levanta um dilema para o neojudaísmo que faz do farisaísmo um modelo de fé, e transforma Yeshua num fariseu. Esse dilema é maior quando sabem que Yeshua não só jamais apoiou ao farisaísmo ou ao herodismo, como se opôs aos dois sistemas e pediu a seus discípulos que se mantivessem distante da doutrina de ambos. “Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.” Marcos 8:15 Desmontando Sofismas

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Isso nos leva a perguntar: Como podem manter o testemunho de Yeshua, aqueles que rasgam seda diante do farisaísmo, classificando os rabinos do período chazal como “sábios de abençoada memória,” e transformam Yeshua num fariseu, quando sabem que os fariseus da abriram seus lábios impuros para acusar Yeshua de ser um satanista dizendo: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios?” Matytyahu/Mt 12:24. A julgar pelas Escrituras que chegaram até nós, torna-se claro que embora Yeshua jamais tenha criticado ou elogiado aos essênios e zelotes, ele criticou a doutrina dos saduceus e dos fariseus, e foi particularmente duro em relação aos fariseus aos quais jamais elogiou, pelo contrário os denunciou como uma estirpe perversa quando lhes respondeu a essa acusação perversa dizendo: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.” Matytyahu/Mt 12:34. Eu faço aqui um apelo a todo o restaurador genuinamente comprometido com Yeshua, e que não opera segundo uma agenda oculta para promover secretamente o rico negócio das conversões a se negarem a promover como saudável o modelo de fé dos fariseus classificados por nosso mestre como “uma geração má e adúltera” (Matytyahu/Mt 12:39) que dele se aproximou dizendo: “por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos,” recebendo como resposta a pergunta acusativa: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Elohim pela vossa tradição?” (Matytyahu/Mt 15:2,3) Onde se indica claramente que o farisaísmo não foi criado para enaltecer a Torah, e nem para ensinar os homens a serem zelosos pela Palavra escrita, mas para os distanciar da Torah e para fazê-los escravos das takanot e decretos rabínicos que tomaram o lugar da Torah e se transformaram a guia suprema em matéria de fé. Desmontando Sofismas

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Aqui é importante contextualizar o debate que opôs Yeshua e os apóstolos e que nada teve a ver com o tipo de comida ingerida, posto que os apóstolos não ingeriam alimentos impuros, mas com a forma de comer sem fazer o netilat yadaim, o ritual rabínico da lavagem das mãos. Os perushim ou fariseus jamais comiam sem lavar as mãos alegando que o Eterno que os santificara com seus mandamentos havia exigido tal rigor e ascetismo. Esta alegação se perpetua ainda hoje, apesar de que não exista tal mandamento para o povo contido na sagrada Torah. Por isso Yeshua disse claramente que “comer sem lavar as mãos... não contamina o homem.” (Matytyahu/Mt 15:20) O bosque de mandamentos rabanitas estava sendo cortado pela raiz, enquanto Yeshua aconselhava seus discípulos a abandonarem os guias cegos. “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem. Então, acercando-se dele os seus discípulos, disseram-lhe: Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram? Ele, porém, respondendo, disse: Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada. Deixai-os; são cegos condutores de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.” Matytyahu/Mt 15:11-14 Da mesma forma, apesar de que o saduceísmo liderado pela elite sacerdotal fosse mais apegada às Escrituras como o é hoje o caraísmo, herdeiro daquela seita sacerdotal, Yeshua não os considerou mais meritórios que os fariseus, mas ordenou a seus ouvintes manterem-se afastados de ambas as doutrinas. “Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus.” Matytyahu/Mt 16:6 Como crentes na restauração nos restam duas opções, ou nos rendemos a Yeshua como o mestre da Torah ou ao Talmude, o bezerro de ouro produzido pelos rabinos na Babilônia e posto no lugar da Torah e dos Profetas. Desmontando Sofismas

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E se fizermos isso de certo terminaremos rejeitando a Brit Chadashá, como muitos tem feito depois de transformar Yeshua num fariseu, o que é a própria antítese do ensino de Yeshua que proibiu a seus enviados de reivindicarem até mesmo o título de Rav ou grande para si mesmos, indicando com isso sua decidida oposição ao rabinismo. “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Maschiach, e todos vós sois irmãos.” Matytyahu/Mt 23:8. A verdade é que há dois mil anos atrás Yeshua classificou o farisaísmo como um sistema de hipocrisia, baseado numa ajustiça aparente, mas distante da verdadeira piedade. Não creio que se ele falasse hoje aos herdeiros do farisaísmo usaria de discurso menos contundente. Acho que é especialmente transcendente essa declaração: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.” Matytyahu/Mt 23:15. Simplesmente fazer de Yeshua um rabino fariseu, moldado pelos mestres da Mishnah e influenciado por fortes raízes rabínicas é manifestação de completa ignorância das Escrituras ou de uma cegueira tão grande como a dos guias fariseus. Portanto resgatemos as raízes judaicas de Yeshua, digamos que ele é o Leão da tribo de Judá, proclamemos que ele será rei em Jerusalém, que se assentará no trono de David, que governará como judeu e sobre judeus, mas não o confundamos com o farisaísmo sob pena de estarmos criando um Messias à imagem de nossas fantasias.

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023 Paulo Rejeitou Todas as Obras Ordenadas Pela Lei Um dos sofismas mais universalmente aceitos diz que Shaul há Shaliach, ou o apostolo Paulo cujo nome paterno nos 163

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