Curso De Filosofia (mirela)

  • November 2019
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Curso de Filosofia - Régis Jolivet PRIMEIRA PARTE LÓGICA FORMAL 1) A Lógica formal estabelece as condições de conformidade do pensamento consigo mesmo. Não visa, então, às operações intelectuais do pontode-vista de sua natureza: isto compete à Psicologia, mas do ponto-de-vista de sua validade intrínseca, quer dizer, de sua forma. Ora, todo raciocínio se compõe de juízos, e todo juízo, de idéias: há lugar, pois, para distinguir três operações intelectuais especificamente diferentes: 1.

Apreender, isto é, conceber uma idéia.

2.

Julgar, isto é, afirmar ou negar uma relação entre duas idéias.

3. Raciocinar, isto é, de vários juízos dados tirar um outro juízo que destes decorre necessariamente. A Lógica estuda estas três operações em si mesmas, a saber, enquanto elas são atos do espírito, e nas suas expressões verbais, que são: para a apreensão, o termo; — para o juízo, a proposição; — para o raciocínio, o argumento. Todos os princípios e todas as regras válidas das operações do espírito o são também e da mesma maneira de suas expressões verbais. Capítulo Primeiro A APREENSÃO Ε O TERMO ART.

I.

DEFINIÇÕES

1. Apreender significa apanhar, tomar, e a apreensão do ponto-de-vista lógico é o ato pelo qual o espírito concebe uma idéia, nem nada afirmar ou negar. A apreensão difere então do juízo, que, veremos, consiste em afirmar ou negar uma coisa de uma outra. 2. A idéia, ou conceito, é a simples representação intelectual de um objeto. Difere essencialmente da imagem, que é a representação determinada de um objeto sensível. 3. O termo é a expressão verbal da idéia. Do ponto-de-vista lógico, é necessário distinguir o termo da palavra. O termo pode de fato comportar várias

palavras (por exemplo: o bom Deus, alguns homens, uma ação de estrondo), que, entretanto, constituem uma única idéia lógica. ART.

II.

COMPREENSÃO Ε EXTENSÃO

Pode-se considerar uma idéia, e assim também um termo, do ponto-devista da compreensão e do ponto-de-vista da extensão. Esta distinção é de importância capital para toda a lógica formal. 1. A compreensão é o conteúdo de uma idéia, isto é, o conjunto de elementos de que uma idéia se compõe. Assim, a compreensão d,a idéia de homem implica os elementos seguintes: ser, vivente, sensível, racional. 2, A extensão é o conjunto de sujeitos a que a idéia convém. É assim que idéia do homem convém aos canadenses, aos franceses, aos negros, aos brancos, a Pedro, a Tiago etc. .3.

Relação da compreensão e da extensão.

a) A compreensão de uma idéia está na razão inversa de sua extensão. A idéia de ser, que é a menos rica de todas, é também a mais universal; a idéia de homem, implicando elementos mais numerosos, não se aplica senão a uma parte dos seres; a idéia de francês, que acrescenta à idéia de homem novos elementos, é ainda mais restrita; enfim, a idéia, de tal indivíduo Pedro, Paulo, de que a compreensão é a mais rica, é também a mais limitada quanto à extensão. b) O gênero e a espécie. É assim possível ordenar as idéias o, portanto, os seres que elas representam, segundo uma hierarquia baseada em sua extensão. A idéia superior em extensão se chama gênero em relação à idéia inferior, e esta espécie em relação à primeira. E!m princípio, chama-se gênero toda idéia que contém em si outras idéias gerais (animal em relação a homem, pássaro, peixe etc), e espécie toda idéia que não contém senão indivíduos. ART. 12.

III.

CLASSIFICAÇÃO DAS IDÉIAS Ε DOS TERMOS

Podemos colocar-nos de vários pontos-de-vista para classificar as

idéias. 1.

Do ponto-de-vista de sua perfeição.

a) A idéia é adequada desde que represente no espírito todos os elementos do objeto. É inadequada no caso contrário. b) A idéia é clara desde que seja suficiente para fazer reconhecer seu objeto entre todos os outros objetos, e obscura no caso contrário.

c) A idéia é distinta ou confusa conforme faça conhecer οι ι não os elementos que compõem seu objeto. Uma idéia clara pode não ser distinta: um jardineiro tem uma idéia clara, mas não distinta (no contrário do botanista) das flores que cultiva. Pelo contrário, uma idéia distinta é necessariamente clara. 2.

Do ponto-de-vista de sua compreensão e de sua extensão.

a) Quanto à compreensão, uma idéia é simples ou composta, conforme compreenda um ou mais elementos. A ideia de ser (o que é) é simples; a idéia de homem (animal racional) é composta b)

Quanto à extensão, devemos distinguir :

A idéia singular: a que só pode aplicar-se a um único indivíduo Pedro, esta árvore, este livro. A idéia particular: a que se aplica de maneira indeterminada a uma parte somente de uma espécie ou de uma classe dadas. Ela é marcada geralmente pelo adjetivo indefinido algum. A idéia universal: a que convém a todos os indivíduos de um gênero ou de uma espécie dados: o homem, o círculo, o animal, a mesa etc. A idéia singular equivale a uma idéia universal, porque, se ela se restringe a um único indivíduo, esgota ao mesmo tempo toda a sua extensão. 3. Do ponto-de-vista de suas relações mútuas. — As idéias poder ser entre si: a) Contraditórias, quando uma é exclusiva da outra sem que haja intermediário possível entre uma e outra. Por exemplo: ser e não ser; estar em Paris e não estar em Paris; ser avarento e não ser avarento. b) Contrárias, quando exprimem as notas mais opostas num gênero dado, de tal sorte que haja um intermediário entre eles: branco e preto; avarento e pródigo; estar em Paris e estar em Roma. ART.

IV.

REGRA FORMAL DAS IDÉIAS Ε DOS TERMOS

1. Em si mesma, uma idéia não é nem verdadeira, nem falsa, porque não contém nenhuma afirmação. Ela é o que é e nada mais. 2. Uma idéia pode ser contraditória, isto é, compreender elementos que se excluem mutuamente. Seja a idéia de círculo quadrado.

As idéias contraditórias só podem ser idéias confusas, porque é impossível conceber claramente e distintamente uma idéia realmente contraditória (que é, em realidade, um vazio de idéia), ι É necessário, então, agir de maneira que nossas idéias não contenham elementos contraditórios. Ora, como a contradição nas idéias provém sempre de sua confusão, é necessário dissipar esta confusão analisando-as, isto é, é necessário defini-las e dividi-las. Art.

V.

A DEFINIÇÃO

14 1. Noção. — Definir, segundo o sentido etimológico, é delimitar. A definição lógica consiste de fato em circunscrever exatamente a compreensão de um objeto, ou, em outros termos, em dizer o que uma coisa é. 2.

Divisão. — Distingue-se:

a) A definição nominal, que exprime o sentido de uma palavra. Assim, dizer que a palavra "definir" significa "delimitar" é dar definição nominal. b) A definição real, que exprime a natureza da coisa mesma. A definição real pode ser: Essencial. É a que se faz pelo gênero próximo e a diferença específica. Define-se, assim, o homem: um animal racional, animal sendo o gênero próximo, isto é, a idéia imediatamente superior, quanto à extensão, a idéia de homem, e racional sendo a diferença específica, isto é, a qualidade que, acrescentada a um gênero, constitui uma espécie, distinta como tal de todas as espécies do mesmo gênero. Descritiva. Ê a que, à falta dos caracteres essenciais (gênero próximo e diferença específica), enumera os caracteres exteriores mais marcantes de uma coisa, para permitir distingui-la de todas as outras. (O carneiro é um animal ruminante de cabeça alongada, de nariz recurvado, olho terno etc.) É a definição em uso nas ciências naturais. 3.

Regras da definição. — Existem duas:

a) A definição deve ser mais clara do que o definido. Portanto, é necessário que ela não contenha o termo a definir, — que não seja normalmente negativa, pois dizer que o homem não é um anjo, não é esclarecer a questão da natureza do homem, — enfim, que seja breve. b) A definição deve convir a todo o definido e apenas ao definido. Quer dizer que ela não deve ser nem muito sumária (o homem é um animal racional do cor branca), nem muito ampla (o homem é um animal).

A APREENSÃO E O TERMO ARΤ.

VI.

A DIVISÃO

A divisão de idéias em seus elementos é uma das mais necessárias para obter uma boa definição. 1. Definição. —Dividir é distribuir um todo em suas partes. Há, então, tantas modalidades de divisões quantas de todos. 2. Espécies. Chama-se iodo o que pode ser subdividido fisicamente, ou ao menos idealmente, em muitos elementos. Donde três modalidades de todo: físico, lógico e moral. a) Físico. O todo físico é aquele cujas partes são realmente distintas. Este todo pode ser: quantitativo, enquanto composto de partes homogêneas: um bloco de mármore, — essencial, enquanto formando uma essência completa: o homem, — potencial, enquanto composto de diferentes faculdades: a alma humana como composto de inteligência e de vontade, — acidental, enquanto composto de partes unidas pelo exterior: uma mesa, um monte de seixos. b) Lógico (ou metafísico). O todo lógico é aquele em que as partes se distinguem apenas pela razão. Exprime-se por uma noção universal, que contém outras a título de partes subjetivas. Assim, o gênero contém suas espécies: tal idéia de metal em relação nos diferentes metais (ferro, estanho, cobre, zinco etc.) ou ainda a idéia de animal em relação a animal racional (homem) e a animal não racional (bruto). c) Moral. O todo moral é aquele cujas partes, atualmente distintas e separadas, são unidas pelo elo moral de um mesmo fim: uma nação, um exército, uma escola, uma família, dois amigos etc. É expresso por um conceito coletivo. 3.

Regras. — Uma divisão, para ser boa, deve ser:

a) Completa ou adequada, isto é, enumerar todos os elementos de que o todo se compõe. b) Irredutível, isto é, não enumerar mais do que os elementos verdadeiramente distintos entre si, de maneira que nenhum esteja compreendido no outro. A divisão seguinte: o homem se compõe de um corpo, de uma alma e de uma inteligência, peca contra esta regra, pois a alma humana compreende a inteligência. c) Fundada no mesmo princípio, e, portanto, servir-se de membros verdadeiramente opostos entre si. A divisão seguinte: minha biblioteca se compõe

de livros de Filosofia e de livros de formato in-8°, peca contra esta regra, porque formato in 8.° não se opõe a Filosofia.

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