Conto Africano Sobre A Dor

  • June 2020
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  • Pages: 2
CONTO AFRICANO PARA REFLETIR SOBRE A DOR Antigamente, quando as palmeiras ainda viajavam de um canto ao outro, dando muitos frutos e refrescando a vida dos homens na terra, não faltavam nozes para os esquilos e a relva verde cobria a terra, havia uma mulher que se chamava Inine. Inine era a mais bela mulher de sua aldeia. Adorava dançar e, portanto, tinha presença certa em quase todas as festas do povoado. Quase todas, porque em algumas ela não comparecia por estar doente. Se não era dor de cabeça, era dor de barriga, outras vezes doía a coluna e noutras o pé. Embora cometida por tantos males, ela continuava a dançar sempre que podia. Certa vez, Inine fez um delicioso prato, utara, ao meio-dia, para um sábio ancião, cujas barbas refletiam a luz do dia e em sua cabeça o brilho da lua vinha repousar. O velho homem gostou tanto da comida que, depois de se fartar, contou como poderia se livrar das doenças. O velho disse que todos os dias, ao meio-dia, as doenças saíam para passear e só retornavam depois de algumas horas. Inine precisaria preparar o mesmo prato que lhe servira, a utara, e ao meio-dia a mesa teria de estar posta, como se fosse receber convidados. Depois disso, deveria fugir para bem longe, para nunca mais voltar. Desse modo, estaria livre das doenças. Ela fez exatamente como o sábio ancião lhe dissera: ao meio-dia, quando sentiu as doenças saírem para passear, foi para bem longe, para além dos sete rios e das sete cidades, onde moravam seus parentes. Quando as doenças voltaram do passeio, não a encontraram, mas viram a mesa posta e devoraram aquela saborosa comida. Terminada a refeição, ficaram à espera da moça. A noite caiu, e vendo que Inine não retornava, as doenças resolveram fazer alguma coisa para trazê-la de volta. Aproveitaram as panelas que ela havia usado e começaram a tocar e cantar: ININEooo ININEooo Inineooo Inineooo DO LIMAMA DO Venha por favor! ININEooo ININEooo Inineooo Inineooo DO LIMAMA DO Venha por favor! ININE SURU UTARA DEBERE ORIA Inine que fez esta saborosa utara para as doenças. DO LIMAMA DO Venha por favor! ININE A NA AGBANARU ORIA N'OSO? Inine, alguém pode fugir das doenças? DO LIMAMA DO Venha por favor! ORUBURU DALU N'ALA NA ODALU NA MKPU Oruburu assusta porque parece forte, mas quando cai no chão se despedaça ONYE OMA SURU UTARA N'OSIRI NU OFEH A pessoa que fez a utara pode também ser a mesma que fez a sopa

DO LIMAMA DO Venha por favor! As doenças tocaram as panelas em ritmos afinados e cantaram tão alto que Inine escutava a música de onde estava, porém não entendia a letra. Então, saiu e começou a perguntar onde havia uma festa que nunca terminava, pois escutava a música dia e noite, cuja melodia era irresistível assim como a vontade de dançar. Ela partiu para descobrir o lugar onde estava acontecendo aquela festa e, cada vez mais, dançando, se aproximava de sua antiga aldeia e pensava: “Mal deixei meu povoado, e eles chamaram a melhor orquestra! Vou surpreendê-los. Mesmo não tendo me convidado, eu, Inine, a melhor dançarina, chegarei bailando”. Cada vez mais próxima, o ritmo da música enchia os ouvidos da moça, que a essa altura não pensava em mais nada, a não ser em dançar, dançar, dançar. Assim que tomou o caminho de sua antiga casa, as doenças a viram, dançando com toda sua elegância. Tocaram e cantaram mais alto ainda. Inine escutou seu nome e sentiu-se lisonjeada, pensando que haviam feito uma música para ela. Já na porta de sua casa, as doenças largaram as panelas e entraram correndo no corpo dela. Inine adoeceu novamente e jamais se livrou das doenças, pois elas nunca mais saíram para passear. Assim acontece quando as doenças tomam conta de uma pessoa. Texto extraído do livro: “Ulomma - A casa da beleza e outros contos”

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