COMO CONTRATAR PROJETOS COMPLEMENTARES POR GISELE C. CICHINELLI Com exceção da etapa de concepção e do estudo de viabilidade, a contratação de serviços complementares e consultorias tem se tornado prática comum entre os escritórios de arquitetura. "Costumamos recorrer a parceiros arquitetos quando não conseguimos atender à demanda de projetos ou quando sabemos que ele já teve experiência com alguma especificidade de projeto com a qual não temos tanta experiência", explica Artur Jorge de Deus Lé, diretor-administrativo do escritório Anastassiadis Arquitetos. Entretanto, alguns cuidados são importantes para que o compromisso estabelecido com o cliente final, a identidade do projeto, e as responsabilidades inerentes ao serviço contratado não sejam abandonados no meio do caminho. "Já trabalhamos como gerenciadora: a responsabilidade dos projetos complementares, além dos de arquitetura, caía sobre nós, incluindo erros e acertos dos parceiros", conta Marta da Silva Ardito, arquiteta sócia-diretora do escritório Agres Arquitetura, que complementa: "Isso traz uma responsabilidade a mais para o escritório de arquitetura pois demanda a checagem minuciosa do trabalho dos parceiros. E para isso é necessário qualificar o escritório para um trabalho a mais". Confira as principais dicas de arquitetos e advogados para evitar problemas durante essa etapa. Quando contratar Algumas obras envolvem diferentes especialidades e, dependendo da necessidade e do escopo solicitado pelo cliente, os escritórios de arquitetura deverão se responsabilizar por uma série de projetos complementares. Os mais comuns são os de elétrica, hidráulica, estrutura, conforto térmico e acústico, luminotécnica e paisagismo. "O mais usual é terceirizarmos ou contratarmos um outro escritório para as fases de projeto executivo e detalhamento", explica Artur Lé, do Anastassiadis Arquitetos. "Muitas vezes nosso cliente não sabe que terceirizamos alguma fase de produção, mas não vemos problemas em falar, se for conveniente." Especialistas Os projetos complementares freqüentemente desdobram-se em outros. O projeto de elétrica, por exemplo, pode incluir itens como telefonia, dados, voz, aterramento, proteção contra raios, redes estabilizadas e automação. Os de hidráulica incluem reúso de água, pressurização, redes de hidrantes, sprinklers, água quente e energia solar para aquecimento de água, enquanto um projeto de estrutura pode abranger fundações, reforço estrutural, estrutura mista, fôrma-laje (steel deck), steel frame, estrutura metálica etc. "Há cada vez mais especialistas envolvidos nos projetos", ressalta Fernando Pinheiro, arquiteto titular da Lima Pinheiro Arquitetos e vicepresidente da AsBEA. Entretanto, vale lembrar: o gerenciamento desses projetistas e as devidas compatibilizações serão feitas pelo escritório principal. Terceirização de projetos Outro recurso adotado pelos escritórios de arquitetura é recorrer à terceirização de parte da produção do projeto. A contratação de projetistas para desenvolver maquetes eletrônicas, detalhamentos construtivos e para aprovação de projetos em órgãos públicos, entre outras demandas, é uma boa solução para diminuir custos fixos, agilizar processos e aumentar a produtividade e a qualidade final. "Costumamos terceirizar as fases de projeto executivo e de detalhamento", conta Artur Jorge de Deus Lé. Mas, independentemente de qual fase de desenvolvimento do projeto for terceirizada, o ideal é buscar parcerias capazes de manter os mesmos padrões de qualidade dos serviços prestados pelo escritório. Referência
Confiança e competência são dois quesitos fundamentais na hora de contratar os serviços de um projetista. Uma dica importante é contar com profissionais referenciados por outros contratantes. O ideal é conhecer bem a especialidade dos escritórios a serem contratados e os projetos já executados por essas empresas. A afinidade entre arquitetos e projetistas é um dos ingredientes principais para uma parceria duradoura. "Já contratamos profissionais indicados pelo próprio cliente, mas, em geral, isso dificulta o controle sobre o trabalho", revela Artur Lé. Definição do escopo Definida a contratação dos projetos complementares, o próximo passo será estabelecer claramente o escopo dos serviços que serão prestados pelos contratados. Os itens de projetos, número de desenhos, escalas de detalhamento, nível de especificação exigido, padrões, normas e legislação que devem ser respeitados, além dos compromissos e prazos a serem cumpridos deverão ser muito bem esclarecidos entre as partes envolvidas. Outra dica valiosa para que a parceria seja bem-sucedida é definir claramente a hierarquia a ser seguida - tanto dentro do escritório contratante, quanto em relação ao cliente final. Contratos Elaborar contratos, de preferência com a orientação e revisão de um escritório de advocacia, é uma maneira segura de evitar futuros problemas. Os contratos devem trazer os pontos principais, como escopo e responsabilidades definidas; abrangência do contrato quanto ao número de revisões; valores e critérios dos extras de projeto; forma de pagamento e vínculo de pagamentos a entregas de fases de projeto; critérios de rescisão de contrato e a fixação de prazos coerentes, entre outros itens. Especificações técnicas De acordo com Márcia Martins e Helson de Castro, sócios do escritório Paradeda Castro Duarte Martins Advogados, é recomendado que o contrato preveja que as especificações técnicas constem no caderno de especificações - o que inclui todas as condições de execução e padrões utilizados para o desenvolvimento do projeto. "Podendo as partes acordar que sua validade também dependerá da aprovação expressa do cliente", lembram os advogados. Também é importante que o gerenciamento e as especificações técnicas sejam detalhados ao máximo no contrato, de modo a delimitar as responsabilidades e competências de cada profissional. "Caso não estejam compreendidas no preço do projeto, o ideal é que se determine um valor adicional para as atividades que extrapolarem os limites contratuais", conclui Márcia. Gerenciamento de informações O dia-a-dia de um projeto tende a ser bem melhor quando há boas relações de trabalho. Por isso, é importante deixar claro desde o início quais são as expectativas em relação ao serviço a ser contratado. Outro ponto crucial, segundo a arquiteta Marta da Silva Ardito, sócia-diretora do escritório Agres Arquitetura, é garantir o bom fluxo de informações com um eficiente gerenciamento de arquivos de desenho, atas e relatórios. "Os documentos devem ser disponibilizados para todos os envolvidos no projeto", ressalta a arquiteta.
Prazos e preços Na hora de fechar a parceria, é bom certificar-se de que os prazos serão atendidos. "O mercado atual está muito aquecido e, nessa condição, não só os valores dos projetos elevaram-se, como
os prazos de entrega foram esticados", conta Artur Lé. Uma boa dica para mensurar se o contratante será ou não capaz de cumpri-los é conhecer a estrutura oferecida pelo escritório. Antes de bater o martelo, recomenda-se sempre comparar os preços dos projetos. "Desconfie de ofertas muito baixas", alerta o arquiteto. Evite a pressa Em geral, a pressa é uma das maiores inimigas do bom projeto. A urgência implicará abandono dos critérios corretos de contratação. Além disso, prazos curtos exigem a liberação dos projetos para os contratados com muitas indefinições, gerando retrabalho e prejudicando o cronograma previsto. Alterações Caso não estejam previamente previstas, as modificações de projetos certamente serão uma das principais causas de divergências entre o arquiteto e o colaborador. Problemas com prazos de entrega ou com cobranças extras em função de alterações de projeto são muito comuns. De acordo com Fernando Pinheiro, uma maneira de evitá-los é determinar um índice de remuneração por metro quadrado de projeto a ser modificado, por prancha de desenho, por arquivo de projeto ou, o mais indicado, por valor de hora técnica. Como uma orquestra Grandes erros podem ser cometidos se o escopo não estiver claro, o prazo e as condições de remuneração, bem estabelecidos e os procedimentos para possíveis modificações de projeto, bem definidos. Detalhe importante: o papel do arquiteto principal é semelhante ao do regente de uma orquestra. Caberá a ele proporcionar uma boa interação entre a equipe, acompanhando de perto o desenvolvimento do contratado para garantir o resultado frente às necessidades do cliente final.
Dicas importantes Mantenha uma atualização dos documentos relacionados entre os envolvidos; Elabore contratos revisados por escritórios de advocacia; Estabeleça um cronograma de entregas entre as partes Fonte: Marta da Silva Ardito, arquiteta sócia-diretora do escritório Agres Arquitetura Certifique-se de que a proposta foi perfeitamente compreendida pelo projetista; Faça um checklist, verifique e valide cada entrega feita pelos projetistas contratados;