Ccv 34 - Em Nome Da Verdade - Willian Harrison.pdf

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  • Pages: 100
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SÉRIE: CÍRCULO VERMELHO VOLUME: 34 TÍTULO: EM NOME DA VERDADE AUTOR: WILLIAN HARRISON DESENHO DA CAPA: EDITORA: CEDIBRA ANO DE PUBLICAÇÃO: 1975 PREÇO: CR$ 3,50 PÁGINAS: 125

SCANS E TRATAMENTO: RÔMULO RANGEL [email protected] DISPONIBILIZAÇÃO BOLSILIVRO-CLUB.BLOGSPOT.COM.BR [email protected]

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COLEÇÃO CÍRCULO VERMELHO Próximo lançamento: 35. HIENAS DO SINAI - William Harrison

Você pode adquirir os números seguintes desta coleção nas bancas ou pedir uma assinatura pelo Reembolso Postal à Cedibra — Caixa Postal 20.095 — Rio ZC 22 - RJ

Copyright (C) MCMLXXV by Cedibra - Cia. Editora Brasileira Ltda. Rua Filomena Nunes, 162 - 20.000 – Rio ZC 22-RJ. Distribuição exclusiva para todo o Brasil: ABRIL S/A – Cultural e Industrial. Rua Emílio Goeldi, 575 – São Paulo – SP. Composto e impresso pela Cia. Editora Fon-Fon e Seleta. Rua Pedro Alves, 60 – Rio – RJ.

O texto deste livro não pode ser, no todo ou em parte, nem registrado, nem reproduzido, nem retransmitido por qualquer meio mecânico, sem a expressa autorização do detentor do Copyright.

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EM NOME DA VERDADE Willian Harrison

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ONDE UM COLT É O MELHOR ARGUMENTO Toda a crueza e violência do Velho Oeste, narradas pelos melhores autores do gênero, em nossas emocionantes coleções: CORISCO TERRA BRAVA LEI DO OESTE XERIFE MUSTANG CACTUS TERRA BRUTA DESAFIO FÚRIA TRIGGER OESTE SELVAGEM COLORADO OESTE BRAVIO NEBRASKA BRAVO OESTE GUN-MAN CALIFÓRNIA

KANSAS PRADARIA CORCEL WINCHESTER VINGADORES OESTE LEGENDÁRIO KID-BEN OESTE HEROICO CALIBRE VAQUEIRO RIFLE RANCHO RIO BRAVO VALENTES LAÇO CARAVANA

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CAPÍTULO 1 Confortavelmente instalada no assento traseiro de seu Rolls Royce particular, Maggie Doyle se encaminhava para mais um dia de trabalho na L.E.S.B. Enquanto seu motorista se ocupava com o confuso trânsito matinal de Nova Iorque, ela examinava documentos em código de sua organização e meditava sobre as decisões a tomar naquele dia. Havia duas coisas importantes a fazer: receber uma encomenda de um novo soro da verdade, capaz de revolucionar todas as técnicas usadas em interrogatórios, e combinar com Eva Brooklin os detalhes de sua nova missão a ser desempenhada nas Caraíbas. Quanto ao resto, seriam medidas rotineiras e burocráticas, inerentes a uma organização gigantesca como a L.E.S.B., que possuía ramificações nos quatro cantos do mundo. De repente, seus pensamentos foram interrompidos por uma observação de seu fiel motorista: —7 —

— Acho que estamos sendo seguidos. Maggie Doyle não se perturbou com suas palavras. Veterana na profissão de agente secreto, havia muito tempo que perdera o hábito de reagir com impetuosidade diante de acontecimentos inesperados e incômodos. — Tem certeza, Bill? — perguntou, lentamente. — Quase absoluta. — Então, dê umas voltas por Manhattan, para ver no que vai dar. — Entendido. O motorista, durante uns vinte minutos, percorreu o labirinto de ruas e avenidas da ilha de Nova Iorque. Depois, enquanto observava o espelho retrovisor, deu o seu veredito. — É. Não tem jeito, não. Há gente de olho em nós, mesmo. O que faço agora? Maggie Doyle se manteve em silêncio por um curto momento. O que estava acontecendo não era muito comum. Geralmente, os inimigos de sua organização procuravam atingir suas agentes, que agiam sobre os fatos, atrapalhando os planos de muita gente. Ela, embora chefe suprema da L.E.S.B., em geral não funcionava como alvo de ataques. Exceto quando havia gente interessada em desmantelar a sua organização. O que, aliás, bem podia ser o objetivo de quem a estava seguindo. — Vamos direto para o escritório da “Doyle Enterprises Inc.” — decidiu ela, por fim, depois de meditar acerca das alternativas possíveis. A “Doyle Enterprises Inc”, empresa-chefe do império controlado por Maggie, ocupava todo um andar de um edifício localizado na parte sul de Manhattan. O prédio fora construído recentemente para, segundo a versão oficial, concentrar em um só ponto as empresas, departamentos e —8 —

subsidiárias do grupo financeiro de Maggie Doyle que, para todos os efeitos, não passava de uma velha milionária empenhada em obras de caridade e na direção de seus múltiplos interesses econômicos. Mas, no fundo, tudo fora apenas manobra para conseguir um moderníssimo quartelgeneral para a L.E.S.B., que ocupava todo o imenso subsolo do edifício. Maggie acendeu um cigarro, com total tranquilidade e, depois de soltar a primeira baforada de fumaça, apanhou um fone engatado em um suporte na parte lateral do carro. Apertou um botão nele e imediatamente soou uma voz feminina. — Pronto. Escritório Central à escuta. — Aqui, Maggie Doyle. Estou com um pequeno problema. Devo chegar ao nosso prédio dentro de dez minutos e há um carro me seguindo. Não sei o que pretendem fazer comigo, mas precisamos tomar providências preventivas. Destaque três agentes para me dar cobertura. Que elas fiquem na entrada do edifício, mas disfarçadas. E que ajam com discrição, caso seja preciso entrar em ação. — Entendido, Maggie. Tomarei conta do caso pessoalmente. Maggie se despediu de sua secretária e recolocou o fone no lugar. Como se nada de mais estivesse acontecido, continuou a fumar tranquilamente o seu cigarro. Bill, que além de motorista também funcionava como agente especial do quadro suplementar da L.E.S.B., não parava de observar o espelhe retrovisor. — Eles diminuíram a distância que estavam mantendo em relação a nós — informou. — Devo acelerar, também? — Não — retrucou Maggie, amassando seu cigarro no cinzeiro lateral do carro. —9 —

— Talvez eles tentem um sequestro... — Duvido muito — atalhou Maggie, meneando a cabeça. — Só um louco seria capaz de tentar uma coisa dessas, numa avenida cheia de carros, em plena luz do dia e às vistas de centenas de pessoas. — Mas acontece que o mundo anda cheio de loucos — argumentou o motorista, sem abandonar seu ponto de vista. — De qualquer maneira, continue na sua velocidade normal. Quando o Rolls Royce estacionou diante do prédio ocupado pelas empresas de Maggie, o outro carro estava praticamente colado à sua traseira. Sem demonstrar qualquer medo ou agitação, a chefe suprema da L.E.S.B. saltou de seu automóvel. Mal deu dois passos na calçada, duas moças vieram ao seu encontro e a cumprimentaram sorridentes. Quem as observasse, tão lindas e tão femininas, jamais poderia imaginar que se tratavam de especialistas em caratê e exímias atiradoras, capazes de usar com total precisão as pistolas que carregavam em suas bolsas. — Susy ficou lá na porta do edifício, para nos dar cobertura — avisou uma delas. — Ótimo — murmurou Maggie. — O carro é aquele ali... As duas agentes acompanharam o olhar de sua chefe, que focalizou rapidamente um Lincoln Continental negro parado junto à calçada. — Vamos entrar agora — disse Maggie. — E só tomem qualquer atitude em último caso. Detesto demonstrações públicas de violência. Ladeada pelas agentes, Maggie se encaminhou para a entrada do edifício. Antes de atingi-la, porém, parou e se amparou no braço de uma das moças. — 10 —

— O que aconteceu? — perguntou a agente. — Está se sentindo mal? — Não, não... — murmurou Maggie, com voz sumida. — Foi apenas uma tonteira momentânea. Mas já passou... Vamos, meninas. Assim que puseram os pés no saguão do edifício, uma das agentes olhou para trás. — O carro está indo embora — informou ela. — Estranho, não? — comentou a outra, de sobrancelhas franzidas. — O que será que eles queriam? — Na certa, perceberam a nossa presença e desistiram de tentar o que tinham em mente. — Certamente foi isso — concordou Maggie. As três entraram no elevador privativo da diretoria do conjunto de empresas. O ponteiro, no saguão, indicou que eles estavam subindo para o vigésimo andar. Mas, na verdade, ele desceu para o subsolo, onde ficava o quartelgeneral da L.E.S.B. Quando a placa de aço se abriu, Maggie se despediu das duas agentes, agradecendo a cobertura dada na rua, e se encaminhou para o seu escritório. Intrigada, constatou que não estava se sentindo bem. Uma espécie de névoa invadira sua mente, confundindo seu raciocínio, normalmente ági.1 e ligeiro. Ela passou a mão pela nuca, onde fisgadas agudas se sucediam, semelhantes à ardência provocada pela picada de um mosquito. Aliás, as fisgadas tinham começado no exato momento em que sentira a estranha tontura junto à porta do edifício. Lutando contra aquele incômodo e súbito mal-estar, ela entrou em seu escritório privativo. ***

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Eva Brooklin chegou à sede da L.E.S.B. por volta das nove e meia da manhã. Estava meia hora atrasada, com relação ao horário marcado por Maggie Doyle. Mas, para quem fora dormir depois das três da madrugada, após uma noite animada e curtida no maior embalo, até que o atraso não era dos maiores. Principalmente se tratando dela, que nunca morrera de amores por relógios e horários. Após a identificação eletrônica na entrada do subsolo, ela se encaminhou diretamente para o escritório privativo de Maggie Doyle. Lucy, a bela secretária da chefe da L.E.S.B., a cumprimentou com um sorriso nos lábios. — Já sei — assinalou Eva, erguendo a mão. — Nem precisa dizer. Estou meia hora atrasada e nossa querida chefinha detesta que a gente não obedeça a sua agenda diária. O sorriso se ampliou nos lábios de Lucy. — Pelo justo, Maggie Doyle não deveria lhe dar uma bronca hoje — explicou ela. — Nossa chefinha chegou a uns dez minutos atrás... — O quê?! — exclamou Eva, franzindo as sobrancelhas. — Você está querendo insinuar que Maggie se atrasou vinte minutos hoje?! — Exatamente. — Mas como pôde acontecer esse milagre? — Parece que andaram seguindo o carro dela — esclareceu Lucy, com às feições sérias. — Ela chegou a pedir um esquema da proteção, em emergência. Mas não aconteceu nada demais... Bem, vamos ver se ela vai atendêla agora, Eva. Lucy se comunicou com Maggie Doyle pelo interfone e recebeu ordens para mandar Eva Brooklin entrar imediatamente.

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— Sinal verde para você — brincou da, fitando a agente 069, enquanto pousava o interfone no lugar. — E vá preparando seus ouvidinhos, querida. — Quero ver se ela hoje vai ter coragem de dar bronca em mim — retrucou Eva, sorrindo. Eva ultrapassou a porta ao lado da mesa de Lucy e penetrou no luxuoso escritório de Maggie Doyle. Encontrou-a, como de hábito, sentada atrás de sua escrivaninha. Mas não viu em seu rosto a mesma expressão severa e serena de sempre. — Sente-se — murmurou Maggie, apontando com um dedo trêmulo a cadeira colocada ao lado de sua mesa. Eva obedeceu, enquanto seus olhos observavam atentamente as feições de Maggie. — O que há? — perguntou, quando viu a chefe da L.E.S.B. recostar a cabeça em sua cadeira e respirar fundo, de olhos fechados. — Está sentindo alguma coisa? — Desde que cheguei, estou meio zonza e com um peso na cabeça. — Maggie sorriu. — Acho que a velhice está me pegando para valer. — Quer que eu peça a Lucy para chamar nossa médica de plantão? — Não, não é preciso — retrucou Maggie, meneando a cabeça. — Vamos ao trabalho, garota. Aliás, você como de hábito se atrasou bastante... — Pelo que Lucy me contou se eu chegasse às nove, conforme o combinado, eu não a encontraria aqui — retrucou Eva, prontamente, com voz ferina. Um débil sorriso curvou os lábios finos de Maggie. — O que eu gosto em você é esse raciocínio rápido e preciso — comentou ela, com um toque de ironia. — Acho isso fundamental para a nossa profissão... — Ela se pôs de pé. — Bem, vamos tratar de sua próxima missão agora. — 13 —

Estão acontecendo problemas nas Caraíbas, e eu gostaria que você fosse dar uma olhada lá... Maggie fez menção de caminhar até um armário, onde guardava seus documentos mais secretos. Mal deu dois passos, porém, uma violenta vertigem invadiu sua mente e ela perdeu a firmeza sobre as pernas. Teve que se agarrar na borda de sua escrivaninha, para não cair. Eva se pôs de pé prontamente. Contornou a mesa e, passando o braço ao redor dos ombros dela, conduziu-a de volta à sua cadeira. — É melhor chamar Lucy — murmurou Eva, estendendo a mão na direção do interfone. — Espere — ordenou Maggie, com voz sumida. — Mas, você está mal! — Antes, quero lhe dizer uma coisa. Não sei o que há comigo e posso apagar de um momento para o outro... Nossa organização, porém, não pode parar. Quero lhe confiar uma pequena missão extra, mas muito importante... Com mão trêmula, ela abriu uma das gavetas de sua mesa. Retirou dela uma folha de papel e a entregou a Eva. — Aí, estão todas as especificações de uma remessa que deverá chegar esta tarde para a L.E.S.B. É um negócio muito importante e eu ia me encarregar pessoalmente de receber o pacote no aeroporto. Mas, como posso não estar em condições para dar um pulo até lá, quero que você vá... E lembre-se: isso é uma mercadoria importantíssima. Ela enfiou a mão na gaveta novamente e apanhou uma fotografia. Exibiu-a a Eva. — Veja bem esse rosto. É o homem com o qual deverá estabelecer contato hoje, quando... Maggie Doyle não chegou a completar sua frase. Sua cabeça pendeu para o lado, seus olhos se fecharam e o corpo se afundou, flácido, na cadeira. — 14 —

— Maggie! — exclamou Eva, ajoelhando-se ao seu lado. Constatando que ela desmaiara, Eva se comunicou com Lucy, pelo interfone. Instante depois, a médica de plantão na organização surgiu na sala. Examinou Maggie cuidadosamente e lhe aplicou uma injeção para arrancá-la daquele estado de inconsciência. A droga reanimadora, contudo, não surtiu o menor efeito. — Não estou entendendo — murmurou a médica, relanceando o olhar desde Eva até Lucy, que também viera ver o que estava acontecendo. — Maggie apresenta os sintomas de um desmaio comum, mas não reagiu à injeção que lhe apliquei... — O que vamos fazer, então? — perguntou Lucy, nervosa. — Acho melhor levá-la para um hospital, onde haverá meios de submetê-la a um exame mais minucioso. Lucy tomou as necessárias providências. Primeiro, pediu a presença de uma ambulância do “St. Paul Hospital”, onde normalmente as agentes da L.E.S.B. recebiam assistência médica. Depois, convocou Thelma, uma das agentes mais antigas da organização que funcionava como eventual substituta de Maggie. Thelma, embora na casa dos cinquenta anos, conservava muito da beleza que, na juventude, virara a cabeça de muito homem. Amiga antiga de Maggie, trabalhava na L.E.S.B. desde a sua fundação. Ela apareceu na sala no momento em que Eva, Lucy e a médica se preparavam para transportar Maggie para o elevador. Quando a ambulância chegasse, era preciso que os padioleiros encontrassem a velha milionária no escritório privativo de sua organização comercial. Mesmo em uma

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situação de emergência, não valia a pena colocar em risco a segurança e o anonimato do quartel-general da L.E.S.B. Thelma ficou profundamente chocada com o estado de sua amiga e crivou a médica de perguntas. Observou colocarem o corpo inanimado de Maggie em uma espécie de maca e a acompanhou de perto, quando Eva e Lucy a transportaram para o elevador. Em silêncio, o grupo subiu para o vigésimo andar do prédio. O elevador parara no interior da sala privativa da diretora da “Doyle Enterprises Inc.” Elas saltaram lá e deitaram Maggie em um longo e macio sofá. Mais uma vez, a médica da L.E.S.B. a examinou. Nada mudara em seu estado físico: fora a prolongada e inexplicável inconsciência, suas funções fisiológicas transcorriam dentro da mais total regularidade. Como nada mais era possível fazer a não ser aguardar a chegada da ambulância, Eva, Lucy, a médica e Thelma se espalharam em silêncio pelo luxuoso escritório. De repente, Thelma abandonou a cadeira onde se instalara e veio se sentar ao lado de Eva. — Parece que o dia hoje não começou bem para nós — comentou ela, respirando fundo. — Primeiro, esse mal-estar súbito de Maggie. Depois, o desaparecimento de Louise Simpsey. Eva franziu a testa e girou o rosto para fitar Thelma. — Louise desapareceu? — perguntou, lentamente. — Ao que tudo indica, sim. Estava justamente averiguando isso, quando Lucy me chamou. Desde ontem ela não dá notícias, e eu temo que lhe tenha acontecido algo grave... Louise Simpsey ocupava uma posição de destaque dentro dos quadros da L.E.S.B. Agente veterana, fora deslocada do serviço ativo, para o setor burocrático da — 16 —

organização e atualmente respondia pelas atividades do grupo de agentes operando dentro dos Estados Unidos. — Louise não veio trabalhar ontem, alegando que precisava tomar algumas providências — recomeçou Thelma, após um curto momento de silêncio. — Como não apareceu hoje também, telefonei para a sua casa. Ninguém respondeu. Mandei então uma de minhas auxiliares até lá, para averiguar. A garota me telefonou momentos antes de Lucy me chamar. Encontrou o apartamento de Louise vazio, todo desarrumado e a cama por fazer, dando a impressão de que Louise saiu às pressas, sem ter tempo para dar um jeito nas coisas... Você não acha isso estranho? Eva meneou a cabeça afirmativamente. — Muito estranho, até — murmurou, devagar. — E tudo isso que aconteceu me faz pensar em uma possibilidade tenebrosa. Maggie doente e Louise desaparecida... Não parece até que há uma ação em movimento para desmantelar a nossa organização? Thelma pousou um olhar penetrante no belo rosto da agente 069. — Então, você acredita que a doença de Maggie não é algo natural e tem alguma ligação com e aparente desaparecimento de Louise Simpsey? Eva encolheu os ombros e abriu os braços. — Eu não afirmei nada — retrucou. — Apenas levantei uma hipótese. Mas, de qualquer maneira, você há de convir que dois fatos estranhos acontecendo ao mesmo tempo têm que fazer a gente pensar no pior.

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CAPÍTULO 2 Depois que a ambulância chegou e Maggie partiu para o hospital, acompanhada por Thelma, Lucy e a médica da organização, Eva seguiu para a sua casa. Como explicou a Thelma, precisava estudar a missão que Maggie lhe confiara para aquela tarde. Assim que chegou em seu apartamento, tratou de tirar a roupa e seguiu direto para o banheiro. O dia estava muito quente e um banho bem morninho serviria não só para refrescar como também para repousar seu corpo ainda cansado das brincadeiras do dia anterior. Depois de encher a banheira e temperar a água, ela voltou ao quarto e, de sua bolsa, apanhou a folha de papel que Maggie lhe entregara antes de desfalecer. De regresso ao banheiro, mergulhou seu corpo curvilíneo na água tépida. Por um momento, entregou-se à sensação reconfortante que ela proporcionava aos seus músculos. — 18 —

Então, encostando a cabeça na parede por trás da banheira, começou a ler a folha de papel. Maggie Doyle anotara nela informações fraccionadas e rápidas, para uso pessoal. No entanto, lendo-as com cuidado, era possível fazer uma idéia clara do assunto em questão. Logo no topo da página, havia a seguinte anotação: “Voo 351, Panam, 16 horas. Portador: Enrico Mattei, da parte de Monica D’Angelo”. Mais abaixo, outra anotação em letra corrida e apressada: “Usar identificação Alpha, código 45”. Depois, vinha um lembrete, que Maggie certamente escrevera para si própria, pois era uma mulher atarefada, com mil e uma coisa« a fazer: “Mercadoria em experiência, ainda. Entregar à Dra. Chesterson, para análise química.” Eva repassou os olhos pela folha de papel. Leu os detalhes mais importantes e tratou de gravá-los na mente. Depois, estendeu a mão até uma pequena prateleira perto da banheira e apanhou uma caixa de fósforos. Acendeu um e aplicou a pequena labareda na extremidade da folha de papel, que foi imediatamente lambida pelo fogo. Quando a folha se reduziu ao mínimo e não foi mais possível segurála sem se queimar, Eva %e ajoelhou na banheira. Jogou o que restou do papel na privada e acionou a descarga. Como dizia a primeira lição que lhe haviam ensinado na L. E. S. B., documentos importantes nunca devem andar dando sopa. Ela se recostou novamente na banheira e, de olhos fechados, repassou o que lera. A julgar pelos nomes anotados, a encomenda vinha da Itália. Aliás, tinha a vaga impressão de que Monica D’Angelo fosse a representante da L.E.S.B. em Roma.

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Quanto à identificação Alpha, código 45, era óbvio que se tratava de uma senha para travar contate com o tal Enrico Mattei. Desconhecia as palavras que deveria usar, mas isso não chegava a ser problema, pois Thelma poderia fornecêlas. Não havia, portanto, dúvida algum para ela cumprir a tarefa que Maggie Doyle lhe confiara. Ficavam faltando somente esclarecimentos a respeito da tal “mercadoria em experiência.” Mas esse detalhe corria apenas por conta de sua curiosidade, pois saber ou não saber o que Enrico Mattei trazia não chegava a ser fundamentalmente importante para o desempenho daquela missão. Eva se deliciou durante mais alguns minutos com o banho e depois se levantou. Apanhou uma toalha felpuda e, lentamente, começou a se enxugar. Depois, vestiu um roupão e passou para o seu quarto. Deitou-se na cama, indecisa quanto a atender ou não a vontade de tirar um cochilo. Ainda eram onze horas e, portanto, faltava bastante tempo para o encontro com Enrico Mattei. Com os olhos fixos no teto, ela deixou que os pensamentos circulassem livremente por sua mente. Meditou acerca da súbita e estranha doença de Maggie Doyle, lembrou-se do aparente desaparecimento de Louise e tentou concluir o que tudo isso poderia significar. Não chegou a nenhuma idéia concreta, pois suas suspeitas, na verdade, não dispunham de qualquer indício real em que se basear. Não iam além de um simples palpite. Ela estendeu os braços e se espreguiçou gostosamente. Bocejou e se abandonou à lassidão que invadia seu corpo, já disposta a aproveitar aqueles momentos de tranquilidade para uma soneca. Mas, mal fechou os olhos, a campainha da porta tocou. Levantou-se e, rosnando um palavrão, abandonou o quarto. — 20 —

Atravessou a sala e se aproximou da porta. Como sempre fazia, observou primeiro pelo visor. Não sem espanto, viu através dele o rosto de Louise Simpsey. No fundo de sua mente, faiscou um sentimento difuso de suspeita. Mas ela girou a chave na fechadura. — Abra logo! — exclamou a outra agente. — Preciso muito falar com você, Eva. É urgente! Eva soltou os dois trincos de segurança e começou a abrir a porta lentamente. — O que deu em você, Louise? — perguntou, enquanto observava a outra mulher. — Thelma até pensou que a tivessem sequestrado... — Deixe-me entrar, Eva. Tenho um assunto muito sério para conversar com você — insistiu Louise, com o rosto tenso e um brilho febril nos olhos. Vendo que ela estava sozinha, a agente C69 colocou de lado seus vagos receios. Recuou um passo e escancarou a porta, para lhe dar passagens. Louise entrou rapidamente na sala. Com o olhar fixo nela, Eva começou a fechar a porta. — Por que você não avisou à nossa central que ia se demorar, Louise? Aposto que a essa hora Thelma já decretou um esquema de emergência para tentar... Antes que Eva fechasse a porta, esta foi empurrada para trás com um violento trance. Surpresa, a agente apenas recuou, para não levar uma paulada da pesada porta. E, então, viu dois sujeitos truculentos invadirem seu apartamento, cada um portando uma pistola munida de silenciador. Um pensamento ligeiro brilhou em sua mente: Louise a traíra. Tocara a campainha só para evitar suspeitas de sua parte e forçá-la a abrir a porta. Os dois gorilões

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naturalmente tinham ficado de tocaia, colados junto à parede e longe de seu olhar. O truque fora inteligente, pois conseguira desarmar suas possíveis suspeitas. Mas qual seria a finalidade daquela emboscada? E como explicar a traição de Louise? Essas perguntas, contudo, ficaram sem resposta, pois o momento não era nada propício para especulações e meditações. As duas pistolas apontadas na sua direção significavam perigo. Portanto, a hora pertencia totalmente ao seu instinto de sobrevivência. — Fique quietinha e nada lhe acontecerá — resmungou um dos sujeitos, enquanto fechava a porta. — Não viemos aqui para abotoá-la. Apenas desejamos que faça um passeio conosco. Eva girou a cabeça para fitar Louise. A agente parara a um canto da sala, completamente imóvel, e fixara o olhar em algum ponto da parede. — Qual é a sua jogada, hem? —perguntou-lhe Eva, asperamente. — Resolveu mudar de time? Na certa, estão lhe pagando muito mais, agora... — Deixe-a em paz — resmungou um dos gorilões, enterrando o cano de sua pistola na cintura de Eva. — O seu problema é conosco. Esqueça-se dela. — E o que vocês querem de mim? — perguntou Eva, em tom de desafio. O rosto rude e sombrio do sujeito se iluminou com um sorriso de deboche: — Está aí uma boa pergunta, garota. Você é tão ingênua que não sabe o que um homem pode querer de uma mulher enxuta como você? — Ele soltou uma sonora gargalhada. — Mas não precisa se assustar. Estamos com pressa e não temos tempo para brincadeiras. — Ele correu os olhos pelo corpo de Eva, totalmente oculto pelo roupão. — O que é, — 22 —

sem dúvida alguma, uma grande lástima... Mas o que se há de fazer, não? Quem nos contratou paga muito bem e não gosta de falhas. Por isso, nada me fará contrariar suas ordens... — Chega de conversa fiada, Paul! — reclamou o outro sujeito, asperamente. — Não podemos perder a manhã inteira aqui! — Está bem, está bem! — rosnou o gorilão parado diante de Eva. — Não precisa engrossar, também! — Com o cano da pistola, ele empurrou a agente 069 para trás: — Vamos até o quarto. Acho que não fica bom você sair por aí nesses trajes... Eva deu meia volta e, com o grandalhão nos seus calcanhares, entrou no quarto. Paul se sentou na beira da cama e arreganhou os dentes num sorriso feroz: — Trate de arranjar uma roupa bem bacana, tá? Detesto passear com garotas malvestidas... A agente 069 o fitou por um momento. Pelo visto, estava diante de uma montanha de músculos vidrada em sexo e sem nada na cabeça. O que, dadas as circunstâncias, poderia ser muito t>om. Ela desfez o laço que sustentava o cinto de tecido do roupão ao redor de sua cintura. Jogou-o para o lado e deslizou o roupão ao longo dos ombros. Paul se curvou ligeiramente para a frente e seus olhos quase saltaram das órbitas. — Caramba! — exclamou ele, extasiado. — Com esse material todo, você é bem capaz de matar um homem do coração, garota! Eva permitiu que o olhar ardente do gorilão cobiçasse todos os atrativos de seu belo corpo. Depois, caminhou até seu armário, onde, de uma gaveta, pescou um minúsculo biquíni que rapidamente colocou no corpo. — 23 —

Sem pressa, parou diante da parte do armário onde guardava suas roupas. Quanto mais ostentasse a sua exuberante beleza diante do grandalhão, melhor. Um homem perturbado pelos encantos de uma mulher é sempre um homem com os sentidos amortecidos. Por fim, ela apanhou num dos cabides uma blusa. Aliás, uma blusa especialmente escolhida para a ocasião. De tecido inteiriço na frente, ela era fechada por trás, através de uma fileira de pequenos botões. Eva a colocou no corpo e caminhou até a cama. Parou bem junto de Paul e girou, ficando de costas para ele. — Seja cavalheiro e feche a blusa para mim — pediu, com voz mansa. Maravilhado com sua beleza, o sujeito prontamente a atendeu. Pousou a pistola na cama, a seu lado, e estendeu as mãos até as costas de Eva. Lentamente, começou a abotoar a fileira de botões. Eva sorriu, intimamente. Mais uma vez, o estupendo apelo feminino de seu corpo estava trabalhando a seu favor. Bem podia imaginar o estado em que se encontrava o gorilão, desafiado de tão perto pela pujança de sua silhueta. Seus dedos trabalhavam nos botões, mas seus olhos certamente se banqueteavam com a visão de suas pernas roliças e de seus quadris mal contidos pelo minúsculo biquíni. Com o canto dos olhos, ela observou a posição da pistola sobre a cama. Calculou suas chances de êxito no plano que arquitetara. Eram mínimas, mas ia tentar de qualquer maneira. Se a jogada da blusa dera certo, talvez o resto funcionasse, também... Antes de chegar ao último botão da fileira, Paul sucumbiu ao desafio da feminilidade de Eva. Baixou as

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mãos e, com as pontas dos dedos, experimentou a maciez da pele de seus quadris. — Você é um caso sério, boneca — murmurou, com voz rouca. — Só lamento que tenhamos nos conhecidos nessas circunstâncias... Para Eva, sua atitude representou uma espécie de sinal de alerta. Não poderia haver melhor momento para pegá-lo desprevenido. Fixado em sua beleza, fatalmente ele iria reagir com lentidão diante de uma surpresa. Com imensa agilidade, ela girou o corpo, da cintura para cima, e plantou o cotovelo esquerdo no meio da cara de Paul, com toda a violência que seus músculos lhe permitiam. Espanto e dor se misturaram no cérebro do grandalhão, retardando qualquer atitude de sua parte. E Eva, mal lhe acertara a cotovelada, já estava curvando o corpo na direção da pistola. Como não haveria tempo de empunhá-la corretamente, segurou-a pelo cano, mesmo, com a mão direita. Saltando para trás, ela desferiu uma violenta coronhada ria parte lateral da cabeça de Paul. O cabo de aço da arma o atingiu um pouco acima da orelha e ele ficou imediatamente grogue. Isso deu tempo a Eva de empunhar a pistola direito. Quando seus dedos se fecharam ao redor do cabo e seu indicador se enganchou no gatilho, ela se sentiu mais tranquila e confiante. Acertou nova paulada na cabeça de Paul e ele se curvou para trás, desfalecido, e ficou estatelado na cama. Sem perda de tempo, Eva passou para a sala. O outro sujeito, que resolvera passar o tempo bebericando do seu uísque, virouse ligeiro, quando pressentiu a sua presença. Ao vê-la de

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arma em punho, arregalou os olhos. E o espanto o fez reagir de forma insensata. Quando Eva o viu erguer a pistola para alvejá-la, apertou prontamente o gatilho de sua arma. Foi um disparo perfeito. Houve o estalido, amortecido pelo silenciador, e um profundo berro de dor. O sujeito rodopiou no mesmo lugar, como que querendo escapulir do chumbo quente que invadira a sua carne, e despencou no chão. Na queda, largou a arma. Eva caminhou na sua direção, para desarmá-lo e se garantir de que não teria mais problemas com ele. Mesmo ferido, seria sempre uma ameaça, se sua pistola continuasse ao alcance de seus dedos. No momento em que se curvou ao seu lado, para apanhar a pistola, sentiu uma dor aguda na nuca. Seus pensamentos se embaralharam e a vista ficou turva. Ela se lembrou de Louise e se xingou por não ter se precavido de um ataque da parte dela. Mas agora era tarde demais para arrependimentos... Tudo ficou negro e ela mergulhou no pesado sono da inconsciência.

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CAPÍTULO 3 Eva voltou a si lentamente. Constatou que estava deitada de bruços no chão. O chão de sua sala, per sinal. Tentou erguer a cabeça, mas as fisgadas na nuca e fizeram mudar de idéia. Preferiu continuar deitada e imóvel por mais alguns minutos, até que a dor abrandasse. Procurou colocar os pensamentos em ordem, mas antes que a pesada névoa abandonasse sua mente, sentiu dedos fortes se fecharem ao redor de seu braço. — Vamos, sua filha da mãe! Chega de dormir! Levantese e trate de se vestir! Apesar da impressão da voz ter soado muito ao longe, ela a identificou prontamente: pertencia ao gorilão chamado Paul. Com brutalidade, ele a ergueu e a empurrou na direção da porta do quarto. Ainda zonza e incapaz de se aguentar sobre as pernas, Eva deu alguns passos e acabou caindo por cima de uma poltrona. — 27 —

Implacável, 'Paul a agarrou pelos cabelos e a fez se erguer. — De pé! — rosnou ele, cruelmente. — Não podemos perder mais tempo! Eva ganhou novo empurrão. Avançou uma curta distância e acabou despencando de joelhos no chão. Respirou fundo, tentando recuperar o controle sobre os músculos e a clareza de sua mente. Paul se aproximou ligeiro e lhe acertou um chute nas coxas. O deslumbramento que a beleza de Eva lhe causara a princípio se transformara em um sádico ódio, por causa do papel de trouxa que ela o obrigara a desempenhar. Com um curto gemido, a agente da L.E.S.B. se curvou para frente. Novamente, Paul a agarrou pelos cabelos e a forçou a se pôr de pé. À dor na nuca, veio se juntar o agudo formigamento nas raízes dos cabelos e Eva teve a impressão de que sua cabeça ia estourar. Paul a arrastou pelo quarto adentro e com extrema violência, a empurrou na direção do armário. Eva esbarrou nele e teve que se segurar na sua porta, para não cair de novo. — Vamos, vista-se de uma vez! — berrou Paul, com ferocidade. Com um supremo esforço de vontade, Eva conseguiu recuperar o domínio sobre sua mente e seu corpo. Estendeu a mão e apanhou uma saia no armário. Vestiu-a lentamente, enquanto respirava fundo seguidas vezes, para espantar em definitivo o resto de névoa que ainda toldava seu raciocínio e amortecia seus músculos. Assim que fechou o zíper da saia, virou-se para contemplar Paul. Fuzilou-o com um olhar frio e penetrante:

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— Você vai se arrepender de toda essa violência gratuita, seu macaco nojento! Não costumo perdoar esse tipo de coisas! O brutamontes contraiu o rosto numa expressão de ódio e revolta: — E eu também não costumo perdoar quem tenta me fazer de trouxa! Você até que está com sorte. Se não fossem as ordens que recebi, eu iria fazê-la se arrepender amargamente por ter tentado me ludibriar. Um sorriso irônico brotou nos lábios de Eva: — O único culpado do que aconteceu foi você mesmo. Quem mandou ser tão burro? Suas palavras aumentaram a irritação do pistoleiro. Ele deu um passo na sua direção, brandindo a pistola que empunhava: — Cale a boca, sua cadela! Se disser mais uma gracinha, quebro-lhe os dentes na mesma hora! Eva percebeu que Paul estava falando a sério e o bomsenso a aconselhou a ficar de bico fechado. Em determinadas ocasiões, excesso de valentia não passa de excesso de estupidez. Para que cutucar a fera com vara curta, se estava completamente sem condições de se defender? Com passos um tanto inseguros, ela caminhou na direção da porta do quarto, seguida de perto pelo grandalhão. Na sala, viu Louise parada a um canto. Teve vontade de descarregar sua frustração, dizendo-lhe umas verdades cabeludas, mas acabou se mantendo calada. O olhar distante da agente e a expressão vazia em seu rosto pareciam indicar que ela nem sequer ouviria os xingamentos. Estranha, a sua atitude, pensou Eva, ligeiramente ressabiada. O que estaria acontecendo com ela? — 29 —

— Quer dizer que nossa leoazinha já está pronta para sair — rosnou uma voz fraca. Eva girou o pescoço, a fim de olhar para o ponto onde ela soara. Deparou com o sujeito que alvejara levantandose de uma poltrona. Ele estava muito pálido e tinha ao redor da cintura um curativo de emergência, feito com tiras de lençol. O sujeito caminhou sem firmeza na sua direção e fechou o paletó, para cobrir O curativo. — Nós vamos sair agora — resmungou, lentamente. — Trate de se comportar direitinho. Estamos ganhando muito dinheiro para entregá-la a alguém sã e salva. Mas fique certa de uma coisa: se tentar outra gracinha, terei a imensa satisfação de mandá-la para o inferno na mesma hora! Os três se encaminharam até a porta do apartamento. De lá, Paul chamou Louise que, com passos rijos e lentos, foi se juntar a eles. Desceram pelo elevador e ganharam a rua. Quem os visse, tão tranquilos, jamais desconfiaria da verdade. Pensaria que estava observando um grupo de conhecidos e jamais que estava presenciando um sequestro. Eva atravessou a calçada com os músculos retesados, pronta para aproveitar qualquer chance de fuga. Mas o sujeito ferido não se distraiu um momento sequer. Permaneceu com os olhos cravados nela e a mão enfiada no bolso do paletó. Seria o caso de se perguntar se ele teria coragem de baleá-la em plena luz do dia, caso ela tentasse uma fuga. Mas Eva preferiu não botar à prova essa dúvida. Mansinha, entrou no carro dos sequestradores. Ficou no banco traseiro, ao lado do tipo que baleara. Paul se instalou diante do volante e Louise, ainda distante e silenciosa, se sentou ao seu lado.

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Observando o trajeto que o carro ia percorrendo, Eva concluiu que se encaminhavam para o Brooklin. Depois de atravessarem a Ponte do Brooklin, seguiram pela Quarta Avenida. Perto do Cemitério de Greenwood, tomaram uma rua secundária e, então, aconteceu o inesperado: um imenso engarrafamento de trânsito. Paul rosnou dezenas de palavrões, quando se viu imobilizado pelo mar de carros. O sujeito que viajava ao lado de Eva apontou para um ponto bem a frente. Por entre os edifícios, erguia-se um grosso rolo de fumaça negra. — Deve ter havido algum incêndio por aí — comentou. — Infernos! — rosnou Paul. — Ele disse para a gente chegar no máximo até as duas horas. Já passa de uma hora e, desse jeito, não vamos chegar lá a tempo. — Calma — recomendou o outro. — Entre na primeira rua que puder e tente contornar a zona do incêndio. — Mas não vê que os carros nem andam?! — vociferou Paul, apontando com as duas mãos as fileiras de veículos parados à frente deles. Seu comparsa se recostou no banco. Estava mais pálido ainda, mas sua resistência parecia ilimitada, pois continuava firme e bem lúcido. Girando a cabeça, ele fitou Eva: — Sei que essa parada forçada pode botar minhoquinhas na sua cabeça. Mas nem pense em tentar fugir. Antes que abrisse a porta do carro, já estaria com uma ameixa quente no corpo. Eva não disse nada. Continuou quieta e atenta a tudo. Nada, porém, estava ao seu alcance fazer. Infelizmente, e ela tinha consciência disso, só lhe restava aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Paul usou todo o seu repertório de palavrões para amaldiçoar aquele contratempo. Muito lentamente, os — 31 —

carros seguiram em frente até uma rua estreita, por onde estava sendo escoado o trânsito. Livre da arapuca provocada pelo incêndio, ele tentou desenvolver maior velocidade. Mas não foi possível, pois nas outras ruas o trânsito também estava confuso e mais lento do que o normal. Somente quando atingiram os arredores de Bensenhurst as coisas melhoraram. Então, rapidamente alcançaram o objetivo visado: uma casa de dois pavimentos, em uma rua decadente perto da Ocean Parkway. Os quatro saltaram do carro e penetraram nela rapidamente. Paul e seu comparsa conduziram Eva até uma sala no primeiro pavimento. Louise veio atrás deles, igual a uma sombra. Na sala, havia dois homens. Um, musculoso e grandalhão, escarrapachado em uma poltrona, dando toda a pinta de ser pistoleiro profissional. E outro, mais baixo, magro e de óculos, andava nervosamente de um lado para o outro. Assim que viu a chegada do grupo, ele avançou na direção dos quatro. Relanceou um olhar feroz de Paul até seu comparsa. — Isso são horas de chegar?! — berrou, com uma voz estridente, enquanto apontava para seu relógio de pulso. — Desculpe, Vernon — murmurou Paul, com muita humildade. — Fizemos todo o possível, mas aconteceram contratempos... — Estou pagando muito bem a vocês para que não haja contratempos! — berrou o sujeito, ainda mais irritado. Paul apontou para Eva: — Ela tentou reagir e baleou Karl. Por sorte, Louise intercedeu a nosso favor. Depois, enfrentamos um imenso engarrafamento de trânsito. Parece que houve um incêndio

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lá para os lados do Cemitério de Greenwood... Pode crer que fizemos todo o possível para não falhar... — Desculpas não resolvem nada! — esbravejou Vernon, ainda com o rosto retorcido numa expressão de feroz irritação. — Acontece que já passa das duas horas t, agora, não terei mais tempo de preparai ela. “Ela”, no caso, era Eva Brooklin, na direção de quem o sujeito apontou o dedo, rapidamente. Paul fez uma cara de tremendo desconsolo: — Quer dizer que foi tudo por água abaixo? — Não. Ainda nos resta uma chance. Não quis lançar mão dela porque seria uma jogada muito arriscada. Mas agora não temos mais escolha — retrucou Vernon, meneando a cabeça nervosamente. — Vamos ter que sair agora mesmo. — E ela? — perguntou Paul, apontando para Eva. Vernon, que fora apanhar uma valise e seu paletó jogados sobre uma cadeira, voltou para junto da agente da L.E.S.B. Observou-a por um momento e um curto sorriso curvou seus lábios estreitos. — Então, você é Eva Brooklin, a mais bela e a mais perigosa agente da organização de Maggie Doyle... — murmurou ele, com uma pitada de zombaria na voz. — Louise me falou muito a seu respeito. Garantiu-me que Maggie, impossibilitada de comparecer hoje ao aeroporto, fatalmente a escolheria para ir apanhar a encomenda, pois tem total confiança na sua eficiência e na sua lealdade. Eva não pôde deixar de se surpreender com as palavras de Vernon. Então, ele sabia de tudo. Louise colocara a seu serviço toda a sua argúcia e todos os seus conhecimentos acerca da L.E.S.B. Mas por que tal traição da parte dela? — Eu pretendia usá-la para apanhar a encomenda, mas... — 33 —

— Eu jamais faria uma coisa dessas! — cortou Eva, com firmeza. Vernon soltou uma gargalhada. — Não diga uma coisa dessas, minha cara! — murmurou ele depois, bem-humorado. — “Jamais” é uma palavra que não existe mais para mim. — E, dando uma palmadinha na valise que segurava na mão direita, completou: — Depois que eu consegui esse soro maravilhoso, a vontade das pessoas deixou de ser problema para mim. Você mesma iria constatar isso, mas infelizmente não dá mais tempo de prepará-la para o servicinho em que eu iria usá-la... — O que vai fazer comigo, então? Vernon analisou o belo rosto de Eva com um olhar profundo e frio. — Não me agrada riscar do rol dos vivos uma coisinha tão linda quanto você. Mas, infelizmente, não me resta outra alternativa, pois não quero ninguém atrapalhando os meus planos. Dito isso, ele se encaminhou rapidamente na direção da porta. — Lew, Louise, vamos embora — ordenou ele. E, virando-se para Paul: — Você e Karl se encarregarão dela. E vejam se dessa vez não vão falhar! — Estou com uma bala no corpo — lamuriou-se Karl. — Estou precisando ver um médico. — Então venha conosco. Rapidamente, os quatro saíram. Paul, que sacara sua pistola e ajustara o silenciador no cano, olhou para Eva com um sorriso feroz nos lábios: — Agora, boneca, vamos ter uma longa conversa, sem pressa ou horários para nos atrapalhar!

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CAPÍTULO 4 Paul enterrou o cano de sua arma na barriga de Eva e a forçou a recuar até um dos sofás da sala. — Deite-se — ordenou, então. Eva não obedeceu e ele lhe acertou uma violenta bofetada no rosto, que a fez perder o equilíbrio. Suas pernas esbarraram na borda do sofá e a agente caiu sentada nele. Paul pousou a arma em seu peito e, diante da pressão que ele exerceu em sua carne macia, Eva não teve outro recurso senão se deitar. — É assim que eu gosto — rosnou ele, satisfeito. — Muita obediência. Garotas bonitas não devem ser malcriadas... Ele se sentou na borda do sofá e pousou o cano de sua arma n° pescoço de Eva. Com a mão livre, começou a acariciar o corpo da agente. — Vernon a quer morta e não posso deixar de obedecer à ordem dele, mas nada me impede que antes tenhamos uma — 35 —

conversinha muito particular. Quando você chegar ao inferno, vai se lembrar, arrependida, de ter desafiado Paul Garfield. — Não estou vendo homem na minha frente capaz de me assustar — retrucou Eva, visando mexer com os brios de Paul e, assim, fazê-lo perder o sangue-frio. Mas ele não ligou para a sua provocação. Limitou-se a sorrir, de forma feroz: — Vá botando sua banca, boneca. Mas aposto como daqui a meia hora você estará suplicando para que eu acabe de uma vez com a sua raça. Com crueldade, ele apertou um dos seios de Eva. Ela tentou não fraquejar, mas, quando a dor se tomou insuportável, seu rosto se contraiu numa expressão de angústia. Paul aumentou a pressão dos dedos enquanto a observava fixamente. Os menores sinais de sofrimento que ela ostentava serviam para deliciar profundamente o ímpeto sádico dele. — Isso, boneca — murmurou de, lentamente — Resista bastante. Quanto mais valente, melhor. Só que no fim você vai botar a boca no mundo como todas as outras. É só uma questão de tempo. Sempre com o cano da pistola cravado no pescoço de Eva, Paul girou ligeiramente o corpo, segurou a barra da sua saia e a puxou para cima. Observou suas belas pernas e experimentou a maciez da pele bronzeada. Diante de tamanho desafio feminino, seu ímpeto sádico deu lugar a um forte desejo sexual. Ao invés de flagelar aquele belo corpo, numa espécie de desforra pelo que Eva lhe fizera, decidiu conhecer as delícias prometidas per sua imensa carga de sedução.

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Aprofundou suas carícias, por um momento, e depois se levantou. Segurando Eva pelo braço, puxou-a brutalmente do sofá, fazendo-a cair de costas no assoalho. Com os olhos fixos nela e a arma apontada na direção de seu corpo, tirou o paletó. Jogou-o para o lado e desafivelou o cinto da calça. Abriu sua braguilha e a deixou escorrer ao longo das pernas. — Agora, vamos brincar um pouco, boneca — rosnou ele, ajoelhando-se diante de Eva. — Não é todo dia que tenho ao meu alcance um material de qualidade tão magnífica. Lentamente, ele se curvou para a frente, a fim de cobrir Eva com seu corpanzil. Apoiou os cotovelos no chão, um de cada lado do corpo dela, enquanto mantinha a arma voltada na direção de sua cabeça. — Você, agora, pode escolher entre uma morte suave e uma morte longa e sofrida — murmurou ele, com um sorriso cruel nos lábios. — Se for boazinha comigo, prometo que não a deixarei sofrer. Case contrário, você se arrependerá mil vezes de ter nascido... A oferta de Paul nada tinha de atraente, pois a ninguém interessa escolher entre uma morte suave e uma morte sofrida. Eva, contudo, nada disse a esse respeito. Abandonando a expressão de nojo que ostentava no rosto, sorriu de forma doce e provocante. — Olha, eu vou ser mais do que boazinha com você — murmurou, suavemente. — Depois, quero ver se você terá coragem de me matar... — Vamos ver, vamos ver — rosnou Paul, todo animado. Sufocando sua repugnância, Eva passou os braços ao redor de pescoço de Paul e o beijou longamente. A ação de seus lábios macios deixou o sujeito completamente — 37 —

transtornado. Com a mão livre, ele passou a acariciá-la e, depois, muito impaciente, quis consumar de uma vez o objetivo a que se propunha. Ofegante, ergueu ligeiramente os quadris, para encontrar uma posição mais adequada. Com o movimento, sua mão direita girou ligeiramente e a pistola deixou de apontar para a cabeça de Eva. Ela notou isso. Sorrindo docemente, mexeu as pernas, como se pretendesse harmonizar seu corpo com o de Paul. Ele chegou a rosnar um palavrão de satisfação, diante das agradáveis perspectivas que se abriam à sua frente. Mas sua alegria durou pouco. Mais uma vez, a beleza de Eva e a certeza de raciocínio dele enrolaram as coisas para o seu lado. A agente da L.E.S.B. ergueu ligeiramente a perna direita e, num movimento brusco, acertou uma violenta canelada nos testículos de Paul. O infeliz viu estrelas. Soltou um profundo urro de dor e rolou para o lado, com o rosto vermelho e crispado em uma expressão de terrível sofrimento. Livre de seu corpanzil, Eva se pôs de pé, prontamente. Chutou sua mão direita, para obrigá-lo a largar a arma, e agarrou uma cadeira. Sua idéia inicial foi arrebentá-la na cabeça do grandalhão, para botá-lo fora de combate. Mas, após acertar-lhe a primeira paulada, não resistiu ao ímpeto de lhe acertar outra, e mais outra, outra, outra... A humilhação e o sofrimento que Paul lhe impusera tinham explodido em suas entranhas, transformando-se em um cego desejo de desforra. Quando ela finalmente jogou para o lado o que restara da cadeira e recuou ofegante, a cabeça e o rosto do grandalhão estavam transformados em uma posta de sangue. — 38 —

— Agora, você sabe que não é um bom negócio querer engrossar com Eva Brooklin — murmurou, devagar, com os olhos fixos no corpo inerte no chão. Apanhando a arma que chutara da mão de Paul, e sua carteira de dinheiro, ela se encaminhou para a porta da sala. Saiu ligeiro da casa e apanhou o primeiro táxi que apareceu. O tempo corria e era preciso fazer todo o possível para impedir que a tal encomenda caísse nas mãos de Vernon. O retomo à Manhattan foi complicado e demorado, pois o incêndio continuava a atrapalhar o trânsito. Tensa e irritada, Eva acompanhava a passagem dos minutos preciosos perdidos no trajeto. Pensou em parar em um telefone público qualquer para entrar em contato com Thelma, na sede da L.E.S.B., mas desistiu da idéia. Dificilmente, Thelma concordaria em fornecer um código ultra-secreto através do telefone. Mesmo em uma situação de emergência, ela não iria quebrar uma regra primária de segurança, O jeito, portanto, era torcer para que houvesse tempo de ir ao quartel-general da organização e chegar ao Aeroporto John Kennedy antes de Vernon. Quando o táxi parou diante do prédio da “Doyle Enterprises Inc”, já passava das três e vinte. Eva atravessou a calçada correndo e entrou no elevador privativo da diretoria das empresas da velha milionária. Desceu ao subsolo e, depois da identificação eletrônica, correu até a sala de Thelma. Ela não estava lá e foram perdidos novos minutos preciosos até que sua secretária a localizasse nas dependências do subsolo. Assim que ela apareceu em sua sala, Eva a pôs a par dos acontecimentos com rápidas palavras. Thelma a ouviu com muita atenção e, sem argumentar nada, encaminhou-se para — 39 —

o seu cofre, a fim de apanhar o volume de codificações especiais usadas pela L.E.S.B. — E Maggie? — perguntou Eva, enquanto observava, tensa da cabeça aos pés, os dedos de Thelma manipularem as esferas do segredo do cofre. — Continua mergulhada naquele estado de inconsciência. Pelo menos estava assim, quando saí do hospital há uma hora atrás, mais ou menos. Deixei-a a cargo do Doutor Rice... Você o conhece, não? — Claro. É um excelente médico, por sinal. Thelma abriu a porta do cofre embutido na parede e começou a manipular a papelada guardada no seu interior. — Ele me confessou que desconhece totalmente a possível causa do desfalecimento de Maggie — explicou ela, relanceando o olhar até Eva, que continuava parada junto à sua mesa, cheia de expectativa. — Segundo o que me disse, jamais viu um caso assim. — Estranho, não? — murmurou Eva. Quem ficou tomando conta de Maggie? — Deixei Nancy, uma de nossas agentes de minha inteira confiança — respondeu Thelma, enquanto retirava uma pasta de papelão do cofre. Ela a pousou sobre sua mesa e consultou as folhas de papel guardadas no seu interior. — Identificação Alpha, código 45 — murmurou, enquanto as manuseava. — Pronto, aqui está. Senha a ser usada: “O senhor sabe onde fica o portão de embarque 16?” Contra-senha: ‘‘Infelizmente, não sei. Estou acabando de chegar agora. Mas, acredito que fique entre os portões 15 e 17.” Resposta final: “Grata pela informação. O senhor é muito gentil.” — Thelma ergueu o olhar até Eva: — Deu para decorar?

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— Perfeitamente — resmungou Eva, meneando a cabeça. E, depois, com um sorriso de ironia nos lábios, acrescentou: — Em plena era da espionagem eletrônica, a gente ainda usa essas coisas... Maggie é muito nostálgica, mesmo. — E gozadora, também — assinalou Thelma, sorridente. — Você há de convir que essa contra-senha é uma obra-prima do sarcasmo. — É, parece que sim — concordou Eva. — Bem, agora eu vou embora. Não posso perder mais um minuto sequer. Thelma olhou para seu relógio de pulso, enquanto Eva caminhava com passadas largas até a porta. — Passa das três e trinta — assinalou Thelma. — Talvez você não chegue ao aeroporto a tempo de fazer o contato... Não acha melhor levar o endereço do hotel onde ficará o agente? Eva parou junto à porta e se virou para fitá-la: — E você tem o endereço dele? — Aqui comigo, não. Mas aposto como Maggie e anotou em seus registros. Você sabe como e.la é organizada e gosta de cuidar dos mínimos detalhes de todas as operações. — Thelma contornou sua escrivaninha e se encaminhou até uma porta lateral, que deva aceso direto ao escritório da chefe da L.E.S.B. — Vamos lá. É melhor você se prevenir, para o caso desse italiano ser impaciente e desistir de esperá-la, na hipótese de um atraso. — Acho que você não entendeu bem a situação — rebateu Eva, seguindo-a de perto. — O meu problema principal é impedir que o tal sujeito chamado Vernon se apodere da encomenda antes de mim. — De qualquer maneira, é bom você levar o endereço. Se esse tal Vernon tentar alguma coisa, não acredito que o faça dentro do aeroporto. Na certa, esperará que o italiano — 41 —

saia de lá. Por isso, acho importante você saber o rumo que ele tomará. As duas penetraram na sala de Maggie Doyle e Thelma imediatamente começou a mexer em seus papéis, à cata de uma agenda onde havia anotações dos compromissos mais recentes. — Francamente, eu não consigo imaginar qual será a jogada desse Vernon — murmurou Eva, de repente, enquanto seus olhos impacientes acompanhavam os movimentos de Thelma. — Sei que Louise se aliou a ele. Mas, segundo o que creio, nem Louise conhecia detalhes precisos da operação, tais como a identidade do agente italiano e o código a ser usado... Portanto, como ele poderá localizar Mattei? Thelma não se aventurou a formar uma hipótese para responder à difícil pergunta 56 de Eva. Folheou a agenda, até localizar o que desejava: — Aqui está — murmurou, por fim. — Dia vinte e dois de julho; reserva no “Sydney Hotel”, da Quinta Avenida, para o Sr. Giuseppe Marconti, procedente da Itália... O dia confere e esse deve ser o nome que o agente usa em sua vida normal. Você sabe onde fica esse hotel, Eva? — Sei, sim — respondeu a agente 069, afastando-se na direção da porta. — Agora, eu vou embora. Não posso mais perder um minute, sequer. Até logo, Thelma. — Até logo, Eva. E boa sorte. Qualquer coisa, ligue para mim. sim? — Perfeito. Quase correndo. Eva abandonou o escritório de Maggie Doyle. Saiu da sede da L.E.S.B. o mais rápido que pôde e atravessou a calçada correndo. Acenou nervosamente para o primeiro táxi que passou. Entrou nele e pediu ao motorista

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para seguir o mais depressa possível para o Aeroporto John Kennedy. Fez todo o percurso com os nervos tensos e cheia de ansiedade. Cada sinal luminoso que se tornava vermelho, atrasando a passagem do táxi, foi motivo para uma imprecação de irritação expelida entre dentes. Quando o táxi parou diante do imponente prédio do Aeroporto, eia pagou ao motorista com o dinheiro que apanhara na carteira de Paul e, para a imensa satisfação do sujeito, não exigiu o troco. Penetrou no prédio e correu pelo imenso saguão fervilhante de gente. Encaminhou-se para o setor de desembarque. Um relógio de parede indicava quatro e dez e ela rosnou um novo palavrão para extravasar sua inquietação. No setor de desembarque, não encontrou ninguém que se enquadrasse nas feições apresentadas na fotografia do agente italiano. Perambulou pelo setor, a fim de eliminar a possibilidade de qualquer desencontro. Depois, certa de que Enrico Mattei não se encontrava ali, dirigiu-se ao balcão da Panam. Lá ouviu a informação que temia ouvir: — O voo 351 chegou dentro do horário, senhorita. Todos os passageiros desembarcaram às dezesseis horas, conforme o previsto.

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CAPÍTULO 5 Eva Brooklin saiu do Aeroporto John Kennedy amargando uma profunda sensação de frustração. Depois de tanta correria e peripécias, a quase certeza do mais absoluto fracasso. Era bem verdade que ainda havia a chance de Enrico Mattei ter ido para o seu hotel, num rasgo de impaciência diante do atrase de contato. Mas ela não se sentia muito inclinada a acreditar nessa hipótese. Primeiro, porque seu atraso não foi tão grande assim: dez minutos normalmente nunca chegam a impacientar ninguém. Segundo porque Vernon lhe parecera muito confiante na possibilidade de interceptar a encomenda. Assim, embora nunca fosse dada a pessimismos, algo lhe dizia que falhara redondamente na missão que Maggic lhe confiara. De qualquer maneira, porém, pegou um táxi e seguiu direto para o “Sydney Hotel”. Na portaria, informaram-lhe — 44 —

que o Sr. Giuseppe Marconti havia chegado uma meia hora atrás, e que no momento se encontrava em seu quarto. Incontinenti, Eva subiu até lá. Bateu à porta do quarto indicado na portaria. Ela foi aberta devagar e apenas o suficiente para que um olho observasse o lado de fora. — Preciso falar urgentemente com você, Mattei — murmurou Eva. — Pertenço à organização de Maggie Doyle. Houve um momento de hesitação da parte do ocupante do quarto. Mas ele acabou abrindo a porta. Eva viu-se, então, diante de um sujeito alto e moreno, idêntico à fotografia que Maggie lhe mostrara na parte da manhã. Suas feições de linhas elegantes, mais seus olhos pretos e brilhosos, formavam um conjunto para mulher alguma botar defeito. Eva constatou isso imediatamente. Mas não permitiu que seu entusiasme feminino se acendesse. No momento, havia coisas mais importantes em que pensar. Ela penetrou no quarto e se virou para observar Mattei. Ele fechou a porta do cômodo e guardou em um pequeno coldre, junto à cintura, a pistola que sacara por medida de precaução. — Então, você trabalha para a L.E.S.B. — assinalou ele, aproximando-se de Eva. — Isso mesmo. E fui designada para estabelecer contato com você... — Muito interessante — retrucou o italiano, sentandose em uma poltrona, de onde a observou com um longo olhar, no qual se mesclavam admiração e desconfiança. — Por que não me esperou? — reclamou a agente da L.E.S.B. — Atrasei-me apenas dez minutos... Ou será que você sofreu o ataque de alguém?

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Os olhos negros continuavam a observá-la atentamente. Mostravam-se profundamente encantados com a sua beleza. Mas, em compensação, também não perdiam o brilho de suspeita. — Talvez fosse melhor você abrir o jogo — murmurou ele, aproximando a mão direita da pistola que carregava à cintura. — Não estou entendendo onde pretende chegar. Eva se sentou em uma cadeira, a frente do italiano, e cruzou as pernas. Por um momento, os alhos negros se concentraram na graciosa faixa de carne bronzeada que se descortinou à sua apreciação. Depois, relutantes, retomaram ao rosto da bela agente. — Maggie Doyle me encarregou de entrar em contato com você, para apanhar a encomenda que você trouxe. Ela pretendia ir pessoalmente ao aeroporto, mas um mal súbito a fez mudar os pianos... pois bem, eu devia abordá-lo no setor de desembarque e lhe perguntar: “O senhor sabe onde fica o portão de embarque 16?” Você deveria responder: “Infelizmente, não sei. Estou acabando de chegar agora. Mas acredito que fique entre os portões 15 e 17.” Eu, então, completaria: “Grata pela informação. O senhor é muito gentil.” Mattei franziu as sobrancelhas: — Estranho, muito estranho... — resmungou, pensativo. — Afinal de contas, o que aconteceu? Você foi assaltado ou ainda está com a mercadoria? — Eva se curvou ligeiramente para a frente e abriu os braços, em um gesto de profunda impaciência: — Bolas, fale logo de uma vez! O agente italiano se remexeu na poltrona, enquanto seus olhos, instintivamente, lançavam-se de novo na direção das belas pernas da agente.

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— Há algo nessa história toda que não está bem contado — resmungou ele, coçando a cabeça. — Ou você ou a outra mulher não passa de uma tremenda mentirosa. — Outra mulher? — perguntou Eva, pondo-se de pé num salto. — Exato. Estou me referindo à mulher que estabeleceu contato comigo no aeroporto, assim que desembarquei — explicou Mattei, com a testa franzida. — Ela usou a senha corretamente e eu lhe entreguei o pacote que Monica D’Angelo enviou por meu intermédio. — Oh, não! — exclamou Eva, voltando a se sentar na cadeira, dominada por profundo desânimo. — Então, ele conseguiu! — Ele, quem? — perguntou o italiano, cada vez mais confuso. — Havia um sujeito chamado Vernon de olho nessa encomenda. Ele tentou me tirar da jogada, mas escapei do pistoleiro que designou para me matar... De qualquer maneira, porém, conseguiu chegar ao aeroporto na minha frente..., mas, me diga uma coisa: como era essa mulher que estabeleceu contato com você? Mattei pousou a cabeça no encosto da poltrona e semicerrou os olhos, enquanto espremia sua memória. — Era idosa. Eu lhe daria entre cinquenta e sessenta anos, embora fosse bastante conservada e saudável. Alta, esguia e muito simpática... Parecia uma dama da velha aristocracia. Tinha gestos elegantes e muito comedimento ao falar. Seus cabelos eram grisalhos, possuía olhos claros e se vestia com grande aprumo. Aposto como o colar de pérolas que carregava no pescoço custa uma fortuna. — Estava com um vestido estampado, cheio de flores verdes e azuis?

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— Exato...— concordou Mattei. E, franzindo as sobrancelhas, acrescentou: — Você por acaso a conhece? — Por incrível que pareça, você acaba de dar uma descrição completa de Maggie Doyle, inclusive com o vestido que ela usava hoje de manhã. — E o que há de tão incrível nisso? Talvez sua chefe tenha decidido ir pessoalmente ao meu encontro... — Acontece, porém, que Maggie Doyle, desde esta manhã, está recolhida a um hospital, vítima de um profundo estado de inconsciência. Portanto, seria humanamente impossível ela comparecer ao aeroporto. — Então, o que você acha que aconteceu? — murmurou Mattei, pensativo. — Será que mandaram uma sósia dela? — E para que terem esse trabalho, se você não a conhecia pessoalmente e iria fazer o contato baseado apenas na senha e contra-senha combinadas? Eva se pôs de pé. — Não, não — prosseguiu, meneando a cabeça. — Essa hipótese não me parece muito plausível. — Então, o que você acha que aconteceu? — Sei lá! — explodiu Eva, abrindo os braços. — Está tudo tão confuso que nem consigo raciocinar direito. Ela se encaminhou para a porta e Mattei levantando-se prontamente, alcançou-a no momento em que pousava a mão na maçaneta do trinco. Eva o fitou: — Você sabe o que continha o tal pacote? — perguntou. — Monica D'Angelo me falou a respeito da encomenda por alto. Para todos os efeitos, tratava-se de um amarrado de produtos farmacêuticos comuns. Mas ela disse que as embalagens continham um poderoso soro da verdade, mais forte que o Pentotal Sódio e capaz de obscurecer por completo a vontade de uma pessoa.

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— Engraçado — murmurou Eva, prontamente, enquanto um vago pensamento flutuava em sua mente. — O que foi? — perguntou Mattei, fitando-a fixamente. — Nada, nada. Apenas uma idéia louca que me passou pela cabeça... Bem, eu agora vou embora. Preciso tomar umas providências. Quanto a você, aconselho-o a esticar sua permanência em Nova Iorque. Só deverá partir quando receber ordens nesse sentido de nossa organização. Mattei sorriu, bem-humorado. — Quer dizer que entrei para a lista dos suspeitos? — perguntou, de imediato. — No meio dessa confusão, todos são suspeitos — explicou Eva, girando a maçaneta da porta. Mattei segurou sua mão, impedindo que ela completasse o movimento. Fitou-a fixamente dentro dos olhos: — O que vai ser de mim, perdido em uma cidade tão grande quanto esta? Eva captou o sentido da pergunta de Mattei e curvou os lábios em um curto sorriso: — O que não falta em Nova Iorque são divertimentos para matar o tempo. O italiano aumentou a pressão de seus dedos quentes na mão de Eva. — Não gosto de fazer nada sozinho — lamuriou-se. com voz branda. — Por que você não banca a boa menina e se prontifica a me fazer companhia? Poderíamos ir a uns lugares bacanas, especialmente escolhidos por você. Eva observou o rosto do italiano, carregado de expectativa e desejo. Suavemente, alargou o sorriso nos lábios. — Você não é de se jogar fora. Muito pelo contrário, até — assinalou. — Em outras circunstâncias, talvez eu — 49 —

topasse esse convite. Adoro homens bonitos e desinibidos. Hoje, porém, não dá pé. Tenho muita coisa a fazer... Mattei continuou com a mão pousada sobre a sua e parado no mesmo lugar. Contemplou seu gracioso rostinho e viu nele uma expressão de firmeza irremovível. Reconhecendo sua derrota, encolheu os ombros e recuou: — Bem, já vi que não adianta mesmo insistir. Vocês, da L.E.S.B. não são ossos fáceis de se roer... Fica para a próxima, então, não é? — Claro — concordou Eva, com brandura. Ela abriu a porta e saiu. Sob um olhar cobiçoso de Mattei, que parecia seco para desvendar os encantos ocultos pela saia e pela blusa, atravessou o corredor na direção dos elevadores. Eva abandonou o hotel e tomou novo táxi. Deu ao motorista o endereço, de “St. Paul Hospital” e afundou no assento. A tentativa de botar os pensamentos em ordem, porém, mostrou-se completamente inútil. Como entender e analisar fatos tão absurdos quanto aqueles que estavam acontecendo? Ou Mattei teria pregado a maior mentira, quando afirmara ter realizado a entrega da encomenda à própria Maggie Doyle? Afinal, a hipótese de uma traição da sua parte jamais poderia ser afastada. Respirando fundo, ela decidiu colocar de lado, até segunda ordem, a análise dos acontecimentos. Primeiro, devia fazer as investigações que decidira. Depois, então, procuraria dar um sentido lógico aos fatos que se haviam amontoado ao longo do agitado dia. No hospital, subiu direto ao andar onde se encontrava Maggie. A ala em que a haviam posto era constituída de pequenos apartamentos, dotados de total conforto. Eles

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possuíam uma espécie de saleta de estar anexada ao quarto do doente. Assim que abriu a porta, Eva topou com Nancy lendo uma revista sentada em uma poltrona na ante-sala. A agente ergueu um rápido olhar na sua direção, mas sorriu alegremente, quando a reconheceu. — Olá, Eva — cumprimentou. — Veio visitar sua chefinha? — Maggie está no quarto? — perguntou Eva, atravessando a saleta. — Claro que está! — exclamou Nancy, jogando a revista para o lado e se levantando. — Ela continua inconsciente. Eva abriu a porta do quarto e viu o corpo da chefe suprema da L.E.S.B. estirado na cama e completamente imóvel. Virou o rosto na direção de Nancy: — Ela não saiu daqui um momento sequer? — perguntou. — Ora, Eva, como ela ia poder sair, nesse estado?! — E você? Afastou-se desse quarto durante algum tempo? — Não. Desde que Thelma foi embora, estou sentada nesta saleta lendo revistas. — Alguém veio ver Maggie? — Não. Ninguém. Desde que estou aqui, somente entrou uma enfermeira, para ver se estava tudo bem com Maggie..., mas por que tantas perguntas, Eva? Aconteceu alguma coisa? — Aconteceu muita coisa! — explodiu Eva, dando vazão à sua frustração. — E o pior é que não dá para entender nada! Ela caminhou até uma porta localizada em uma das paredes laterais do quarto. — 51 —

— Onde vai dar isso? — perguntou a Nancy. — É uma espécie de porta de aceso ao apartamento vizinho, para o caso de pessoas conhecidas ocuparem esses conjuntos. Mas está trancada. Nancy se aproximou da porta e apontou para a sua fechadura, onde havia uma chave. — Por medida de precaução, Thelma pediu a chave e a deixou no lugar, para eliminar a hipótese de alguém tentar entrar pelo apartamento vizinho. Com a chave enterrada na fechadura, é completamente impossível abrir a porta pelo outro lado. A própria Thelma testou isso pessoalmente. — Quer dizer que ninguém entrou aqui, com exceção da tal enfermeira — murmurou Eva, pensando em voz alta. — E a janela fica fora de cogitações, porque estamos em um décimo andar... — Afinal de contas, o que está acontecendo?! — interveio Nancy, com as sobrancelhas franzidas. — Palavra como não estou entendendo nada! Eva sorriu ligeiramente e se encaminhou para a porta: — Então, console-se comigo, minha cara, pois estou nas mesmas condições que você!

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CAPÍTULO 6 Depois de aconselhar Nancy a não se afastar um momento sequer do quarto de Maggic, Eva desceu à portaria do hospital. Recebeu duas negativas, como resposta às suas indagações: a enfermeira de plantão na ala do quarto de Maggie por volta das duas horas já fora embora e o Doutor Rice tinha ido para casa e só deveria voltar ao entardecer. Ela tentou conseguir o endereço da enfermeira, pois queria tirar umas dúvidas a limpo, mas a atendente se negou a lhe fornecer. Não insistiu no pedido, porque não via necessidade de se apressar, e abandonou o hospital. Ao invés de tomar um táxi, seguiu a pé pela calçada. No quarteirão seguinte, entrou em um prédio residencial. Subiu ao quarto andar e tocou a campainha da porta que ocupava a extremidade do corredor. Se não tinha mudado, ali morava o jovem Doutor Rice, que ficara encarregado de cuidar de Maggie Doyle, Eva o — 53 —

conhecia muito bem. Bem demais, até. Meses atrás, fora ele quem a tratara, quando ela voltara ferida de uma de suas missões no exterior. Rapaz simpático, dono de um sorriso cativante e mãos muito macias, Rice conseguira despertar o seu interesse. O simples relacionamento médico-paciente foi ampliado e Eva acabou tendo suas últimas consultas ali naquele apartamento, em meio a muito entusiasmo e ardor. A porta finalmente foi aberta. — Eva! Que surpresa! Pensei que você tivesse se enchido de mim e nunca mais quisesse me ver pela frente! — Tenho andado muito ocupada, Rice — retrucou a agente, penetrando no apartamento. Rice fechou a porta e veio se acomodar ao lado de Eva, que se sentara em um sofá. — Depois de tanto tempo, eu não tenho direito nem a um beijinho? Eva sorriu, enquanto observava o rosto simpático do médico, onde os dois olhos azuis eram perigosamente irresistíveis. — Desculpe, Rice, mas estou muito preocupada. Não posso perder tempo com essas coisas. Uma expressão de tristeza destruiu a alegria estampada no rosto do rapaz. — Quer dizer, então, que sou mesmo carta jogada fora do baralho — murmurou ele, com forte dose de decepção na voz. — Não se trata disso — retrucou a agente. — Procure entender, Rice. Há hora para tudo e, no momento, eu tenho um problema muito sério a resolver. — Problema de saúde? — Não. não se trata disso. É algo muito mais confuso... — Ela se pôs de pé. — Você guarda as bebidas no mesmo lugar, ainda? — 54 —

Rice fez que sim, com a cabeça. Ela caminhou até um armário colocado no outro lado da sala. Apanhou um copo, uma garrafa de uísque e se serviu de uma dose. Voltou para o sofá e se sentou ao lado de R:ce. Tomou um longo gole da bebida, respirou fundo e pousou a cabeça no encosto do sofá. — Eu bem que estava precisando de um pouco disso — murmurou, baixinho. — Depois de tanta confusão, faz um bem danado aos nervos. Com um olhar penetrante, Rice a analisou detidamente. Observou as longas pernas brotando da saia curta, a curva do busto altivo sob a blusa justa e os contornos graciosos de seu belo perfil. Ele sentiu uma contração na garganta e se aproximou mais da agente. — E o seu ferimento? — perguntou. — Ficou bom? Você nunca mais me procurou para eu examiná-lo. — Está tudo em ordem — murmurou Eva, tomando novo gole de uísque. — Não dói mais nada? — Nem um pouquinho — retrucou Eva, fechando os olhos para melhor usufruir o efeito reconfortante que a bebida estava exercendo em seu corpo tenso e agitado. — Nem quando aperta? — perguntou Rice, pressionando os dedos da mão direita na parte superior da coxa de Eva. — Não. A mão permaneceu no lugar onde pousara. E a pressão inicial se transformou em uma suave carícia. — Pare com isso — exigiu Eva, brandamente. Já hipnotizado pelos encantos de Eva, Rice achou que valia a pena não a obedecer. Ao invés de afastar a mão, deslizou-a pele corpo de Eva. em busca de pontos mais vulneráveis. — 55 —

— Pare, Rice — repetiu ela, com firmeza. — Não seja teimoso! O médico, porém, julgou que podia vergar a sua vontade e, muito empolgado, agarrou a bainha de sua saia. Antes que a erguesse, Eva empurrou sua mão para o lado e se pôs de pé. — Muita gente já levou bolacha pela cara, per tentar fazer isso contra a minha vontade! — reclamou ela, momentaneamente exasperada. — Não se esqueça que sou seu médico. Tenho todo o direito de examiná-la — assinalou o rapaz, meio desconcertado e querendo sair da mancada pelo recurso da galhofa. — Per favor, nada de piadinhas infames! Procure entender, Rice: tenho um sério problema a resolver e não tenho cabeça para mais nada! Dito isso, ela esvaziou o copo e foi se sentar em uma poltrona distante do sofá onde o rapaz se encontrava. Recostou-se com as pernas estendidas e o corpo bem flácido. Com satisfação, percebeu o calor do uísque se espalhar pelo corpo. Logo, sentiu-se menos tensa e em melhores condições de raciocinar sem a atrapalhação da inquietação. — O que tem Maggie Doyle? — perguntou ela, de repente, depois de um denso silêncio se arrastar por vários minutos. Rice permanecera sentado no sofá. Depois do fora que levara, preferia sufocar seus ímpetos masculinos. Pelo menos, momentaneamente. Ante a pergunta de Eva, ele se levantou e se aproximou da sua poltrona. De pé, ficou a observá-la.

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— Para lhe ser franco, ainda não sei. Ela parece estar sob o efeito de alguma droga, mas não sei qual seja, nem que antídoto lhe aplicar. Eva se levantou. Caminhou até o armário de bebidas e se serviu de nova dose de uísque. Voltou para a poltrona. Sentou-se flacidamente e ergueu o olhar até Rice, que continuava de pé no mesmo lugar. — Eu hoje soube que existe um soro da verdade muito poderoso e mais forte do que tudo que conhecemos — assinalou ela, depois de tomar um gole de uísque. — Acha que Doyle pode estar sob a ação de algo assim? — Não conheço esse soro que você mencionou, mas a hipótese é perfeitamente viável. — E, nesse caso ela poderia intercalar o estado constante de inconsciência com pequenos momentos de lucidez, durante os quais andaria e se movimentaria normalmente? Rice encolheu os ombros e abriu os braços: — É difícil responder a uma pergunta dessas, sem conhecer a droga. À primeira vista, o que você falou parece ser uma possibilidade absurda..., mas, bolas eu estou cansado de ver coisas absurdas acontecerem todos os dias! Ele se aproximou mais da poltrona onde Eva estava sentada. — Por que você não explica tudo direitinho a mim? Gostaria de poder ajudá-la... Se houvesse jeito de submeter a uma análise química essa droga que você mencionou, talvez eu encontrasse um modo de curar Maggie. — Mas o problema é que não tenho esse maldito soro, nem sei onde consegui-lo! — exclamou Eva, pondo-se de pé. Ela andou de um lado para o outro, dando vazão à súbita irritação que a invadira. De repente, parou e fitou o rapaz: — 57 —

— Sabe o que é andar numa casa às escuras, de olhos vendados? Pois é exatamente assim que me sinto! Não sei de nada, não sei o que vou fazer, não sei a quem recorrer! Francamente, acho que jamais me vi enfiada em uma situação tão louca e absurda quanto esta! Tenho suspeitas e penso em pistas, mas tudo parece levar a conclusões fantásticas, sem nenhuma condição de serem reais! Aliviada a frustração que a corroía internamente, ela voltou para a poltrona. Afundou-se nela e, praticamente de uma vez só, esvaziou o copo que tinha na mão. Pousou a cabeça no encosto da poltrona e fechou os olhos. — Sabe qual é a minha vontade, agora? Tomar o maior porre da história, para esquecer essa embrulhada toda! — Procure se acalmar — murmurou o médico, aproximando-se da poltrona. — Você está muito nervosa. — E não é para estar, com a porcaria desse problema entalado na garganta? — Nesse estado, você não conseguirá raciocinar direito. Tente relaxar os músculos e recuperar a serenidade... — É o que estou tentando fazer. Mas nem o uísque parece ter condições de dar um jeito no meu sistema nervoso. — Talvez eu possa ajudá-la — murmurou Rice, colocando-se por trás da poltrona de Eva. Ele pousou as mãos nas têmporas de Eva e passou a massageá-las suavemente. — Agora, respire fundo, procure não pensar mais nesse assunto e fique caladinha. Por um momento, Eva esteve a pique de se levantar, instigada pela certeza de que precisava fazer alguma coisa e tentar encontrar uma, solução para aquele quebra-cabeça. Mas, ela acabou mudando de idéia. Tivera um dia cheio e ninguém podia lhe negar o direito de descansar um pouco. — 58 —

Assim, ela se abandonou às brandas massagens e ao calor da bebida que continuava invadindo seus músculos. Se pudesse se desligar daquela confusão por alguns minutos, não seria nada mal. Um denso silêncio baixou na sala, enquanto os dedos experimentados de Rice continuavam pressionando ritmicamente a5 têmporas de Eva. Do ponto onde ele se encontrava, podia observar o lento movimento do busto da agente, que acompanhava sua respiração profunda. Pensamentos imperiosos circularam pela mente de Rice, mas ele não se apressou. Somente depois de vários minutos, suas mãos desceram lentamente. Passaram, então, a massagear a parte traseira do pescoço de Eva, enquanto os polegares pressionavam mansamente a sua nuca. Em dado momento, ao soltar a respiração, Eva deixou escapar um longo suspiro, que bem traduzia a sensação de tranquilidade que começara a invadi-la. As massagens de Rice, conjugadas com o efeito do uísque, estavam derrubando as últimas cidadelas de tensão e irritação no seu íntimo. Ele percebeu isso e não pôde mais conter o ímpeto que formigava ao longo de seu corpo. Agora, era tudo ou nada, disse para si mesmo, profundamente agitado. Num movimento muito discreto, suas mãos desceram pelos ombros de Eva, deslizaram ao longo dos contornos laterais dos seios da agente e, com extrema delicadeza, os aprisionaram. Apertaram-nos com lentidão, para testar sua maciez e provocar sua sensibilidade. Eva girou a cabeça para trás, a tiro de poder fitar Rice. — Isso também é massagem para relaxar a tensão? — perguntou ela, brandamente.

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Temeroso de sua reação, Rice fez menção de erguer as mãos. Ela, contudo, as segurou, impedindo que se afastassem. — Não seja bobinho — censurou. — Assim também é gostoso. Rice sentiu o sangue latejar mais rápido nas veias, ante a certeza de que vencera a oposição daquela bela mulher que tanto o perturbava. Prolongou as carícias por mais alguns instantes e, contornando a poltrona, ajoelhou-se diante de Eva. Olhou-a dentro dos olhos e viu um brilho de doce abandono que o fez estremecer no mais profundo de sua masculinidade. A sedução e a beleza de Eva simplesmente não tinham limites. Maravilhado, ele a segurou pelos ombros e a puxou na sua direção. Roçou a boca em seus lábios entreabertos, beijou-a, depois, e passou a mordiscar a pele quente e acetinada de seu pescoço. Eva se retesou ligeiramente. De seus lábios escaparam curtos suspiros e, erguendo as mães, ela arranhou carinhosamente os flancos do rapaz. Por fim, afastou-o de si. Observou-o, por um memento, analisando suas feições simpáticas agora retesadas peja expectativa. — Seu danadinho -— sussurrou, com um sorriso terno nos lábios. — É assim que você faz com todas as suas pacientes que o procuram nervosas e tensas? Rice abriu a boca para falar alguma coisa, mas Eva não permitiu. Segurou-lhe o rosto com as duas mãos e o puxou para junto do seu. Com impetuosidade, esmagou os lábios em sua boca, em um beijo ávido e ardente, que decretou o fim das carícias mansas e delicadas. A longa temporada que haviam passado sem se verem despertou a irreprimível ânsia de reviverem deliciosas sensações guardadas em suas lembranças. Depois de vários — 60 —

beijos, que os deixaram ofegantes e trêmulos, Rice se ergueu. Tomou Eva nos braços e a conduziu até seu quarto. Depositou-a na cama e e.la se virou de bruços, a fim de lhe permitir a tarefa de abrir sua blusa. Impaciente. Rice arrancou das respectivas casas a fileira de botões, o que, para ele, pareceu irritantemente interminável. Aberta a blusa, ele distribuiu uma série de beijinhos na pele macia e sedosa das espáduas de Eva, enquanto suas mãos se perdiam em contornos carnudos e ricos de sedução. Ela se contorceu, gemendo baixinho, e girou o corpo, para ficar deitada de costas. Rice acabou de lhe tirar a blusa e, sem perda de tempo, ocupou-se de sua saia. Num abrir e fechar de olhos, Eva ficou totalmente nua. Enquanto observava seu estupendo corpo, uma verdadeira sinfonia de sedução e feminilidade, ele tratou de se despir. Depois, deitou-se e puxou Eva para junto de si. Quando os dois corpos se encontraram, houve uma espécie de descarga elétrica entre ambos. O inevitável desfecho, então, precipitou-se de forma avassaladora. Rice estreitou Eva nos braços, impondo-lhe as exigências de sua masculinidade. Sentia-se vitorioso: afinal, o medo de jamais voltar a desfrutar das carícias da bela agente se convertera em uma ameaça superada. Tal constatação, fazendo-o vibrar de satisfação, tornou-o impetuoso e quase implacável. Com os olhos fechados e as unhas cravadas em suas costas, Eva não tentou conter sua explosão de desejo. Enquanto curtos suspiros morriam em sua garganta, sem alcançar seus lábios escancarados, ela se limitou a ajustar seu corpo flexível ao ritmo vertiginoso que Rice lhe impunha.

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CAPÍTULO 7 Eva girou as pernas e sentou-se na borda da cama. Percebendo seu movimento, Rice curvou-se na sua direção e a segurou pela cintura. — Não vou deixar você ir embora — murmurou, beijando-lhe a pele acetinada das costas. — Ainda é muito cedo. — Tenho muita coisa para fazer — retrucou Eva. — E eu tenho muita saudade para matar... Seus dedos deslizaram ao longo da curva macia do ventre de Eva. Mas ela não permitiu a investida perigosa. Segurou suas mãos com resolução e as afastou para o lado. Pôs-se de pé rapidamente e tratou de se afastar da cama. — Malvada! — murmurou Rice, baixinho. Eva recolheu suas peças de roupa espalhadas pelo chão e em um instante se vestiu, roubando aos olhos de Rice a visão perturbadora de sua exuberante nudez. — 62 —

— Estou precisando de um favor seu — disse ela, então, sem se aproximar da cama. — Para pessoas que me maltratam, não costumo fazer favores — brincou o rapaz, fazendo cara de sofrimento. Eva ignorou sua observação: — É fácil você conseguir o endereço de uma enfermeira do “St. Paul Hospital”? — É. Eu conheço todo o pessoal da portaria..., mas para que você quer essa informação? Afinal de contas, o que está acontecendo? — Isso eu não posso explicar — retrucou a agente. — Você terá que me ajudar sem fazer perguntas. Rice abriu os braços, enquanto meneava a cabeça: — Essa é muito boa! Você pede ajuda e ainda impõe condições... — Por favor, Rice, não é hora para brincadeiras. — Pois eu vou fazer o meu preço. Só consigo o endereço para você em troca de um beijo. — Ora, não seja criança... — Ou eu ganho um beijo, ou nada de ajuda! Vendo que Rice estava irredutível, EY3 SS aproximou da cama, onde ele se sentara. Curvou-se para a frente e, apoiando as mãos em seus ombros, pousou a boca em seus lábios. Sua intenção era lhe conceder um beijo ligeiro, mas Rice segurou seu rosto com as duas mãos e esmagou a boca na sua. Ela não protestou e o rapaz, cedendo ao desejo que ainda se agitava em seu íntimo, baixou as mãos até a sua cintura. Segurou-a com firmeza e rapidamente curvou o corpo para trás. Eva perdeu o equilíbrio e se projetou para a frente. Ou seja: caiu deitada por cima dele.

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Em silêncio, Rice desferiu um ataque impetuoso, visando os pontos mais vulneráveis do sensível corpo da agente. — Pare com isso — murmurou ela, contorcendo-se em seus braços. — Já lhe disse que estou com pressa! — E eu também, e eu também... — retrucou o médico, ofegante. Ele girou o corpo e se pôs sobre Eva, a fim de imobilizála com o seu peso. Enquanto beijava-lhe o rosto e o pescoço acetinado, subiu a mão ac longo de sua perna. Sua finalidade era vergar a vontade de Eva com carícias que atingissem fundamente a sua ardente feminilidade. — Eu já lhe disse para parar — reclamou a agente, baixinho. — Não me obrigue a tomar uma atitude... Rice nem deu bola à sua advertência. No momento, estava muito mais interessado em vencer os obstáculos de brim e ‘‘nylon’’ que impediam a ação de seus dedos. — Pela última vez, Rice... Pare com isso! No estado em que o rapaz já estava, simples palavras não resolveriam nada. Vencido pela sedução que Eva exercia sobre ele, Rice só tinha ouvidos agora para as exigências de seu instinto masculino. A agente percebeu isso e, antes que também chegasse ao ponto de perder o autodomínio, decidiu agir com firmeza. Ergueu a mão direita e lhe acertou um curto golpe na base do pescoço. O rapaz gemeu baixinho e toda a sua impetuosidade cessou. Percebendo que ele ficara meio grogue, Eva o empurrou para o lado. Deslizou o corpo pela cama e se pôs de pé. — Não é um bom negócio afrontar a vontade de uma mulher que sabe lutar caratê — assinalou ela, com um sorriso nos lábios, çnquanto1 ajeitava a saia no corpo.

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Rice se sentou na cama, ainda tonto, e começou a massagear o local atingido. Lançou um olhar carregado de frustração na direção de Eva, mas não disse nada. — Como é? — perguntou ela. — Você vai me arranjar o endereço da tal enfermeira? Pelo que pude apurar na portaria do hospital, ela se chama Çarolyn Stampford... O rapaz observou a agente da L.E.S.B. por um momento e depois balançou a cabeça. Curvou-se na direção da mesinha de cabeceira e pousou a mão. no telefone que havia lá. — Pelo visto, é melhor eu atender logo ao seu pedido — murmurou, com um sorriso curto nos lábios. — Se não, já vi que vou baixar hospital com todos os ossos do corpo quebrados. *** Eva Brooklin deu um pulo a sua casa. Trocou de roupa e colocou na bolsa que escolheu usar a sua inseparável pistola. Não fazia muita fé na idéia que tivera, mas, come as coisas sempre poderiam esquentar de uma hora para a outra, valia a pena estar prevenida para o que desse e viesse. No seu carro, ela se dirigiu para o endereço que Rice conseguira da portaria do hospital com o telefonema. Enquanto subia no elevador, procurou armar um esquema de ação, mas acabou deixando tudo à cargo da improvisação e de sua reação instintiva. Precisou tocar a campainha da porta várias vezes. Finalmente, a porta foi aberta. Mas apenas uma estreita fresta, até onde permitia a correntinha do trinco de segurança. Um olho azul a observava fixamente. — O que você deseja? — perguntou uma áspera voz feminina. — 65 —

— Você é Carolyn Stampford? — Sou. — Preciso muito falar com você. — O que você quer? Nunca a vi antes. — Estou com um sério problema e o Doutor Rice me recomendou conversar com você. Ele é muito amigo de minha família e disse que você poderá me ajudar. — Ajudar em quê? — perguntou a outra mulher, com voz ressabiada. — Deixe-me entrar. É um assunto muito pessoal. A enfermeira ficou em silêncio por um momento. Depois, superando a relutância, meneou a cabeça: — Olha, agora não dá para conversar. Eu estava dormindo. Preciso descansar, pois terei um turno de plantão esta noite. — Por favor — murmurou Eva, dando um tom de ansiedade à voz. — Trata-se de um assunto urgente. E eu lhe garanto que você não se arrependerá, se me ajudar. Novamente, a outra mulher relutou. Mas acabou erguendo a mão até o fecho de segurança. — Bem, já que você foi recomendada pelo Doutor Rice... Ela abriu a porta e deixou Eva entrar em seu apartamento. Fechou a porta e veio se sentar em um sofá. A agente se acomodou na poltrona à sua frente e analisou per um momento. Carolyn era loura e já devia ter passado da casa dos quarenta anos. Ainda era uma mulher bonita e devia atrair a atenção de muitos homens. Seu cabelo desgrenhado e o roupão colocado de qualquer maneira no corpo indicavam que ela saíra da cama, mesmo, para atender a porta. — Bem, pode contar seu problema agora... Francamente, não consigo atinar com o que se trata. Anos — 66 —

atrás, eu pensaria lego na possibilidade de um aborto. Mas, hoje em dia, com ele legalizado aqui no Estado de Nova Iorque, as coisas mudaram muito. — Ela se curvou até uma mesinha colocada junto ac sofá e apanhou um maço de cigarros e um isqueiro. — Afinal, o que você deseja? — Para quem você abriu a porta interna do quarto da paciente chamada Maggie Doyle, lá no “St. Paul Hospital”? Carolyn, que começara a aproximar a chama do isqueiro do cigarro que botara na boca, retesou-se da cabeça aos pés e desviou o olhar até o rosto de Eva. — O que foi que você disse? — perguntou, tensa. Eva, que decidira jogar na base do tudo ou nada, insistiu na sua brusca investida. Às vezes, um bom blefe ganha uma rodada: — Não se faça de desentendida — retornou, com voz seca. — Você sabe muito bem do que estou falando. Alguém entrou no quarto de Maggie Doyle hoje, por volta das duas e pouco. E só pode ter sido com a sua ajuda. A enfermeira acabou de acender o cigarro e soltou uma longa baforada. — Nem sei quem é essa tal Maggie Doyle — murmurou, evitando o olhar penetrante da agente da L.E.S.B. — Ela está na ala dos apartamentos reservados. Quarto 1011. — Esclareceu Eva. — Foi internada hoje pela manhã, vítima de um profundo estado de inconsciência. Mas alguém lhe fez uma visita, entrando pela porta lateral do quarto. Como a chave ficou na porta e apenas você entrou no quarto, a conclusão é um bocado óbvia, não? Você abriu a porta interna para esse visitante fortuito! — Acho que você está completamente louca! -— exclamou Carolyn, dando um toque de indignação à sua voz. — Por que eu iria fazer uma coisa dessas? — 67 —

— Ê justamente isso que você vai me explicar agora. A enfermeira se pôs de pé bruscamente. — Vou ser obrigada a mandá-la se retirar. Preciso dormir e não estou com a mínima vontade de perder tempo com uma conversa absurda dessas... Eva enfiou a mão na bolsa. Retirou do seu interior a pistola e a apontou na direção da outra mulher: — Sente-se — ordenou, secamente. Carolyn arregalou os olhos e, flacidamente, largou o corpo no sofá. — O qu-que você está pretendendo fazer? — balbuciou, com o olhar grudado no cano da arma. — Tudo dependerá de você. — Não acredito que você tenha coragem de me matar a sangue-frio — choramingou a mulher. — Mesmo porque, está cometendo um terrível equívoco... Não fui eu quem abriu a tal porta. — Isso é mentira. Fui informada de que apenas você entrou no quarto de Maggie Doyle. — Quem lhe disse isso, mentiu! Eva se curvou ligeiramente para a frente, ampliando no rosto a expressão ameaçadora. — Vamos lá. Carolyn. Eu não posso perder tempo. Ou você se abre comigo ou serei obrigada a tomar providências drásticas. Encolhendo-se no sofá, » mulher esfregou as palmas das mãos nas coxas. Paulatinamente, seu sistema nervoso chegava ao limite de sua resistência. — Você não pode fazer isso comigo — choramingou, balançando a cabeça. — Jamais fiz mal a alguém. — Percebendo o estado de pânico em que a mulher estava prestes a mergulhar, Eva decidiu apressar o desfecho

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daquela situação. Se ela tinha algo a ocultar, dificilmente iria resistir agora a uma pressão psicológica maior. A agente da L.E.S.B. se levantou e caminhou até o sofá, sempre com a pistola em riste. Carolyn se encolheu mais, enquanto seus olhos azuis continuavam fixos no cano da arma. Eva sentou-se ao seu lado. — Você não está sendo sensata, Carolyn — murmurou ela, com voz lenta. — Se me ajudar e contar tudo que sabe, prometo que a deixarei em paz. Não a entregarei à polícia, nem tomarei qualquer atitude contra você. Mas, se insistir nessa tola decisão de me ocultar a verdade, serei obrigada a agir de forma implacável. Dito isso, Eva estendeu a mão direita para a frente e aproximou a pistola do peito da enfermeira. O roupão, aberto na frente, deixava à mostra as curvas internas do opulento busto de Carolyn. Mansamente, Eva pousou o cano da arma no estreito vale que separava os seios volumosos. A enfermeira chegou a estremecer, quando sentiu o metal duro e frio se grudar em sua came macia. Baixou os olhos até a arma e depois fitou Eva, com uma expressão de pavor no rosto. — Pelo amor de Deus, não me mate! Não me mate! — O seu destino está em suas mãos — retrucou Eva. E, pressionando o cano da arma no corpo da mulher: — Vou contar até três. Um... dois... — Não, não! — berrou a enfermeira, pousando dedos gelados e úmidos de suor na mão direita de Eva. — Afaste isso, eu falo! Eu lhe conto tudo que sei! Mas, pelo amor de Deus, não me mate! Não me mate... Soluços violentos estrangularam sua voz na garganta e ela mergulhou em um choro convulsivo. Eva recuou a mão

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direita e por um momento permitiu sua explosão de nervosismo e tensão. Depois, segurou-lhe o braço: — Pronto, já chega de chorar. Fale logo de uma vez tudo que você sabe. O corpo da enfermeira ainda estremeceu ao compasso de violentos soluços. Depois, ela respirou fundo e se aquietou. Amassou num cinzeiro o cigarro que ainda tinha entre os dedos e enxugou as lágrimas do rosto com as mãos. — Eu fui obrigada a fazer aquilo — balbuciou, baixinho. — Não estou interessada nesses detalhes — atalhou Eva, impaciente. — Já lhe disse que não vou tomar nenhuma atitude contra você. Ninguém saberá nada do que me contar. Mas, desembuche logo de uma vez, pois não posso perder tempo! Carolyn baixou a cabeça e, com os olhos fixos no chão, começou a falar: — Eu estava me preparando para começar a visita de inspeção aos quartos, quando eles me abordaram no corredor. — Eles, quem? — Dois homens que nunca vi antes — esclareceu Carolyn. — Conduziram-me a um quarto vazio e me pediram informações sobre a ocupante do 1011. Expliqueilhes o que sabia e eles disseram que queriam entrar pela porta lateral do quarto e que, para tanto, iriam precisar da minha ajuda. Falei-lhes que não podia fazer uma coisa dessas, mas os dois não se deram por satisfeitos. Apontaram-me uma arma. Ou eu os ajudava e ainda ganhava cinco mil dólares ou iria direto para o cemitério... Ela respirou fundo, enquanto meneava a cabeça: — Fiquei apavorada e não vi outra saída senão obedecer a eles. Entrei no quarto 1011 e abri a porta lateral. Os dois — 70 —

já estavam no apartamento contíguo e penetraram logo no quarto. — E o que fizeram, então? — Isso, eu não sei, pois mandaram eu sair imediatamente. — Você se lembra de algo que possa me ajudar a localizá-los? A enfermeira relutou por um momento. Depois, respirando fundo, respondeu bem devagar: — Eles deixaram um número de telefone comigo. Disseram que eu deveria chamá-los esta noite, para receber os cinco mil dólares prometidos. Explicaram que, por causa da pressa, não tinham podido arranjar o dinheiro para leválo ao hospital. — E você já ligou para eles? A mulher fez que não, com a cabeça. — Eu estava, até com vontade de nem ligar. Não tenho a mínima vontade de apanhar esse dinheiro. Só queria sossego e distância dessa confusão toda. — Mas acontece que você vai ligar — retrucou Eva, prontamente. De imediato o rosto da enfermeira se contraiu em uma expressão de medo. — Por favor, isso não — murmurou ela, lançando um olhar de súplica até a agente da L.E.S.B. — Se eles souberem que eu os traí, serão Capazes de me matar. — Infelizmente, não há outra alternativa — retornou Eva, inflexível. — Onde está o número? Duas lágrimas brilharam nos olhos de Carolyn. Trêmulos, seus lábios chegaram a se entreabrir, naturalmente para formular nova súplica. A frieza estampada no rosto da agente da L.E.S.B. contudo,

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representava uma certeza de que não adiantaria espernear. Conformada, Carolyn se levantou. Sob o olhar atento de Eva, caminhou até o canto da sala, onde havia uma bolsa jogada. Apanhou-a, abriu-a e fez menção de enfiar a mão dentro dela. — Não, não — avisou Eva, prontamente. — Deixe que eu vejo isso. Carolyn se aproximou do grupo de poltronas e entregou a bolsa à agente. Com a mão direita em riste, Eva enfiou a esquerda na bolsa. Sua precaução se mostrou completamente inútil, pois não havia arma alguma ali. Encontrou, apenas, objetos tipicamente femininos, além de uma carteira de dinheiro. Mas a regra era essa, mesmo: sempre desconfiar, para nunca se estrepar. — É esse, o telefone? — perguntou ela, por fim, estendendo um pedaço de papel na direção da enfermeira. Carolyn o apanhou e fez que sim com a cabeça. — Então, ligue para eles — ordenou a agente. Novamente, a expressão de pavor se desenhou no rosto da mulher. — E o que vou dizer? — perguntou, com voz sumida. — Diga, apenas, que deseja receber o dinheiro e nada mais. E também procure manter uma voz normal. Nada de nervosismo ou gagueira. Carolyn se aproximou do telefone. Olhou-o como se fosse um monstro prestes a devorá-la e, depois, respirou fundo. Resignada com a única escolha que dispunha, estendeu a mão até o fone. Discou o número e ficou aguardando, com os olhos fixos em Eva, que viera se postar ao seu lado, de pistola apontada na direção de seu estômago. O diálogo foi curto. Carolyn falou pouco e isso serviu para velar a tensão contida em sua voz. Por fim, com a

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expressão de quem desperta de um pesadelo, ela. pousou o fone no lugar. — E então? — indagou Eva. — O sujeito que me atendeu marcou um encontro para daqui a vinte minutos no Central Park. Disse que estará me esperando perto do obelisco situado nos arredores do Lago Belvedere. Disse para eu ir só e aguardar que eles entrem em contato comigo.

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CAPÍTULO 8 Eva Brooklin deixou a enfermeira junto ao portão da Passagem Transversa número dois do Central Park. Fez-lhe duas recomendações: agir naturalmente e não ficar olhando para os lados e para trás, como se tivesse certeza de estar sendo seguida. — Deixe tudo por minha conta e lhe garanto que nada de mal acontecerá com você. Depois, volte para casa e se esqueça dessa confusão toda. — Se isso for possível — murmurou Carolyn, respirando fundo. Com o rosto retesado numa expressão de medo e tensão, ela penetrou no Central Park. Eva estacionou o carro, saltou e começou a segui-la de longe, com os músculos 98 em estado de alerta e a mão pronta para mergulhar na bolsa em busca de sua pistola. Ela sabia muito bem que estava jogando uma cartada arriscada. Em todos os sentidos, aliás. A sensação era — 74 —

idêntica a de alguém andando em um pântano, sem saber a localização de diversos focos de areias movediças. Em primeiro lugar, não podia confiar totalmente em Carolyn. Seu medo parecia autêntico, mas ela bem podia tomar a decisão de virar a mesa, na hora H. De repente, podia sair correndo e não comparecer ao encontro. Ou, apesar das ameaças de Eva, dar com a língua nos dentes, quando o sujeito entrasse em contato com ela. Por outro lado, era preciso não se esquecer que Vernon não parecia ser otário. Desde o início, certamente contara com a possibilidade de a enfermeira ser apertada por alguém e contar tudo o que sabia. Usá-la naturalmente fora uma medida de emergência e, como tal, passível de restrições da sua parte. Ela seguiu nela East Drive, sempre conservando uma boa distância da enfermeira. Quando a viu se aproximar do Obelisco, diminuiu o passo. Apesar da escuridão crescente, podia observar tudo, ainda, com relativa facilidade. E o número cada vez menor de transeuntes, embora lhe desse menos cobertura, em compensação garantia-lhe a possibilidade de maior mobilidade, no caso de precisar entrar em ação. Carolyn parou diante do obelisco. Abriu a bolsa e, lentamente, acendeu um cigarro. Eva, que. se sentara em um banco na curva de uma alameda, observava-a atentamente. Os vinte minutos estavam prestes a se esgotar e, se o pessoal de Vernon pretendia mesmo comparecer ao encontro marcado, seria agora ou nunca. De repente, uma mulher alta e esguia se aproximou de Carolyn. Os músculos de Eva se contraíram, quando ela a identificou: Louise em pessoa! A agente da L.E.S.B. parou ao lado da enfermeira. Cumprimentou-a e lhe passou um pacote que retirou da — 75 —

bolsa. Sem dizer mais nada, nem dar tempo a Carolyn de falar alguma coisa retirou-se com passadas rápidas, tomando o rumo justamente do loca] onde Eva ficara aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Eva a viu passar pela alameda paralela àquela onde se encontrava. Deu-lhe alguma distância de vantagem e se pôs de pé. Relanceou o olhar até a enfermeira, que continuava parada diante do Obelisco sem saber o que fazer, e começou a seguir Louise. Ela andava depressa, com passos rígidos, e em dado momento penetrou em uma estreita alameda do parque, cercada por árvores frondosas. Eva foi atrás dela e, no fundo de sua mente, seu instinto de sobrevivência deu um brado de alerta: perigo à vista. Realmente, aquele lugar ermo seria ideal para uma emboscada. Mas, como ela não tinha outra escolha, seguiu em frente. Apenas, tomou o cuidado de aproximar mais a mão direita de sua bolsa. Em dado momento, ouviu um ruído à sua retaguarda. Parou de caminhar e enfiou a mão na bolsa. Mas, antes que seus dedos se fechassem ao redor do cabo de sua pistola, sentiu a pressão dura do cano de uma arma em suas costas. — Tire a mão dessa bolsa e fique quietinha. Se tentar alguma coisa, morre agora mesmo. Engolindo sua frustração, Eva obedeceu à ordem recebida. E seguiu em frente, quando o sujeito que a mantinha colado às suas costas exigiu que continuasse a andar. Em silêncio, ambos saíram do Central Park. Eva foi conduzida até um carro estacionado nas suas imediações e não estranhou nada quando viu Louise sentada no banco da frente, ao lado do motorista. Ela e seu captor se instalaram no banco traseiro e o veículo se pôs em movimento. Tomou o rumo de um distante bairro de Queens e Já penetrou em — 76 —

uma rua deserta e de aspecto bucólico. O tipo do local onde ninguém se mete com o vizinho do lado; portanto, um ponto ideal para gente como Vernon se esconder e poder agir sem perturbações. O carro penetrou na garagem de uma casa isolada e todos os seus ocupantes saltaram. Vigiada pelo sujeito que a agarrara, Eva foi conduzida para o interior do prédio. Louise seguiu na sua frente, ao lado do motorista, sempre com seu ar distante e olhar perdido no vazio. O homem conduziu Eva até um pequeno cômodo no primeiro pavimento da casa, mandou que ela se sentasse e ficou plantado à sua frente, de arma em punho. Antes que Eva perguntasse o que pretendia fazer com ela, um vulto surgiu na porta. Relanceou o olhar até ele: Vernon. — Olá — saudou ele, com um sorriso nos lábios. — Mais uma vez, nossos caminhos se cruzam, não? Eva não disse nada. Limitou-se a observá-lo se aproximar e se sentar em uma cadeira. Sem pressa, Vernon acendeu um cigarro. Depois de soltar a primeira baforada de fumaça, pousou um olhar irônico no rosto de Eva. — Então, você quis me pegar pelo pé hem? A agente da L.E.S.B. manteve o seu silêncio. — Louise me disse que você era a agente mais esperta da organização de Maggie Doyle. Eu já estava inclinado a acreditar nisso, depois das demonstrações de argúcia e valentia que você deu. Mas, sua atuação no Central Park foi simplesmente deplorável. Deixou-se agarrar como uma principiante. — Mas você também cometeu uma mancada — retrucou Eva. irritada com ó persistente sarcasmo de Vernon. — Dar o seu telefone àquela enfermeira foi uma

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jogada muito pouco inteligente. Através dessa bobeira, bem que poderia ter se estrepado. Vernon soltou uma gostosa gargalhada: — Puro engano seu, minha cara — retrucou ele, depois. — Dar o número daquele telefone à enfermeira fazia parte de um plano meu. Digamos que foi um lance arriscado. para tornar a brincadeira mais divertida... Ou você acha que, espontaneamente, eu iria cometer tamanha estupidez? Se nem confio nas pessoas que trabalham comigo, quanto mais em uma estranha arrebanhada às pressas, em uma emergência... Não, pode crer que estava tudo planejado. — Francamente, eu não entendo — murmurou Eva, franzindo as sobrancelhas ligeiramente. — O que está acontecendo agora faz parte, em verdade, de uma velha história. Tenho velhas dívidas a acertar com a L.E.S.B. e resolvi tornar minha desforra mais divertida. Por isso, deixei aquela “pista” da enfermeira. Queria que o pessoal da L.E.S.B. viesse louco para cima de mim, crente de que ia me agarrar, para, então, eu ter o prazer de impor mais uma derrota à organização. — Isso está me parecendo idéia de um desequilibrado mental — assinalou Eva, com desprezo. — Nem tanto. Anos atrás, agentes da maldita Maggie Doyle desmantelaram um esquema de distribuição de tóxicos que montei na Jamaica e por pouco não me mandaram para o inferno. Jurei, então, que as coisas não iriam ficar assim. Pensei durante vários anos, mas agora estou de volta. E em condições de deixar todas vocês em polvorosa, amargando derreta em cima de derrota. Talvez, até, consiga desmantelar por completo sua organização! — Muitos já tentaram isso e se deram mal no final. — Comigo vai ser diferente — rebateu Vernon, com um sorriso feroz nos lábios. — Depois que tive a tremenda — 78 —

sorte de botai as mãos nessa droga miraculosa, ninguém poderá mais me deter... — Ele riu baixinho, como se tivesse se lembrado de uma piada muito engraçada. — Você não pode imaginar o quanto tenho me divertido, nesses últimos dias. Por acaso, imagina quem foi que vendeu aquele soro da verdade à. L.E.S.B.? Eva encolheu os ombros, como resposta. — Eu mesmo, minha cara! — exclamou ele, cem uma expressão de triunfo. A agente da L.E.S.B. não pôde evitai que uma expressão de espanto dominasse seu rosto. — Como disse? — murmurou. — Foi um lance magnífico! — vangloriou-se Vernon. — Por acaso, tomei conhecimento das experiências que um cientista estava fazendo na Europa, por conta própria e quase secretamente. Matei-o e me apoderei de toda a droga que ele já tinha aprontado. Entrei em contato com a representante da L.E.S.B. em Roma e lhe ofereci o soro. Depois de um teste, em que ele foi aprovado, a agente se entendeu diretamente cem Maggie. Como seria de se esperar ela topou o negócio. Pagou cem mil dólares em dinheiro vivo. Uma pequena fortuna, não acha? Sua pergunta ficou sem resposta da parte de Eva e ele prosseguiu: — Mas isso foi apenas o começo da brincadeira, para me garantir um tutu alto que pudesse financiar outros lances. Assim que fechei o negócio, voei aqui para os Estados Unidos. Mal cheguei em Nova Iorque, agarrei Louise, que tinha sido uma das agentes mais ativas na Jamaica contra a minha organização. — Um brilho cruel dominou seus olhes. —Nada pode se comparar ao prazer que tive ao lhe aplicar o soro e, dominando a sua vontade, obrigá-la a fazer tudo o que eu queria... Obtive por seu — 79 —

intermédio preciosas informações a respeito da estrutura localização do quartel-general da L.E.S.B. — E, então, partiu para o seu segundo passo, que foi atacar Maggie Doyle? — Isso foi, digamos assim, uma jogada extra, só para deixar vocês mais confusas. No momento, a minha preocupação principal era recuperar o soro da verdade que tinha vendido a vocês, a fim de faturar mais dinheiro, oferecendo-o ‘a uma outra organização de espionagem. Mas não pude me furtar à chance daquele lance ousado. Vernon sorriu. Sua satisfação estava totalmente exposta na expressão de vitória que mantinha no rosto. E, cada vez mais empolgado com suas façanhas, não parecia disposto a parar de falar sobre elas. — Como Louise me forneceu detalhes precisos sobre a vida de Maggie Doyle, pude segui-la facilmente esta manhã. Para injetar em seu corpo a primeira dose da droga, usei os serviços de um sujeito que conheci na Jamaica. Ele vem da América do Sul. É meio índio e sabe usar uma zarabatana como ninguém. A minúscula seta que ele lançou não chegou a se enterrar no pescoço de Maggie. Mas picou a pele e isso foi o suficiente para injetar um pouco da droga. Ela é extremamente forte e uma dose mínima provoca efeito por várias horas... Vernon esmagou seu cigarro em um cinzeiro e prosseguiu: — Foi até melhor a seta da zarabatana não ter se grudado na nuca de Maggie. Assim, vocês devem ter achado tudo aquilo ainda mais misterioso... Bem, deixei momentaneamente de lado meus planos de vingança e me ocupei, então, da recuperação do soro da verdade. Louise conhecia todos os detalhes da operação e me garantiu que você fatalmente seria a escolhida para substituir Maggie no — 80 —

contato a ser realizado no aeroporto. Louise só não sabia qual seria o código escolhido para a ocasião e, por isso, resolvi agarrar você... A partir daí, acho que você já conhece a história toda. — Nem tudo — retrucou Eva, lentamente. — Como foi que você usou Maggie para ir ao aeroporto? — A aplicação do soro da verdade se divide em duas etapas — explicou Vernon. — Primeiro, injeta-se na pessoa uma droga que lhe provoca um estado de inconsciência geral. É preciso que ela permaneça sob o efeito do primeiro estágio pelo menos uma hora e meia, a fim de que atinja um relaxamento completo que destruirá toda a sua resistência. Então, usa-se uma droga suplementar que a faz despertar já com a vontade passível de ser controlada. — Então, você foi ao hospital para aplicar em Maggie esse segundo estágio? — Exato. Eu queria usar você, mas, com aqueles contratempos todos, não iria dar mais tempo de aprontá-la para o contato às dezesseis horas no aeroporto. Tive, então, que optar pelo caminho difícil. Mas deu tudo certo. Foi fácil obrigar a enfermeira a nos ajudar e entramos no quarto pela porta lateral, sem que a agente da L.E.S.B. de plantão percebesse. Apliquei a segunda droga em Maggie. Ela se levantou prontamente e a levamos ao aeroporto. Ela apanhou a droga com o sujeito que a trouxe e regressamos ao hospital, onde lhe apliquei nova dose do estágio um. Ele sorriu, arreganhando os dentes de forma feroz: — Agora, é tratar de revender o soro e continuar na minha brincadeira de gato-e-rato com a L.E.S.B. Já tenho Maggie e Louise sob o meu controle. Agora, imagine sé agarro Thelma, também, e outras figuras importantes da organização... Não iria ser divertido ter a L.E.S.B. na minha

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mão, forçando-a a cometer loucuras até irritar o governo americano e levá-lo a acabar com suas atividades? — Isso é uma idéia digna de um louco, mesmo — rosnou Eva secamente. — Mas as ideias loucas, no fundo, têm muito de geniais! — rebateu Vernon, sorridente. — E quanto a mim, o que você pretende fazer? — perguntou Eva. Vernon recolheu o sorriso e ficou muito sério. Observou Eva por um longo momento. Analisou seu busto imponente contido pela malha colante e as belas pernas mal ocultas pelo vestido curto. — Você é uma mulher muito perigosa — murmurou, lentamente. — Pelo que já demonstrou, não é um páreo fácil, não. O bom senso aconselha que o melhor a fazer no seu caso seria meter uma bala na sua cabeça agora mesmo. — Um curto sorriso abrandou suas feições sombrias. — Mas acontece que sou um simples mortal de carne e osso. Nesses últimos dias. Louise vem demonstrando o quanto é delicioso a gente dispor da vontade de uma bela mulher. Você é linda e está me dando uma vontade danada de repetir a experiência... Ele lançou um último olhar carregado de crueza e intensões ao exuberante corpo de Eva e se pôs de pé. Sem dizer mais nada, retirou-se, acompanhado pelo sujeito que montara guarda o tempo todo. Eva observou a porta se fechar e uma chave girar duas vezes na fechadura. Olhou em volta e constatou que a tinham fechado em um cubículo interno, pois ele não dispunha de uma única janela. Levantou-se e perambulou de um lado para o outro, com a inquietude de uma leoa selvagem aprisionada em uma jaula. Depois, voltou a se sentar na cadeira. — 82 —

A sensação de nada poder fazer no momento não a levou ao desânimo. Continuava viva e isso era o mais importante. Se ficasse atenta e permanentemente em guarda talvez lhe surgisse uma chance de cavar a sua fuga. Lembrou-se das últimas palavras de Vernon e lutou para expulsar de sua mente as perspectivas sombrias contidas nelas. Nada de apavoramentos, disse para si mesma. Para quem já enfrentara coisas muito piores, a decisão de Vernon não chegava a ser o fim do mundo. O importante era manter a tranquilidade e o sangue-frio, fatores indispensáveis para qualquer tentativa de se livrar daquela enrascada. De repente, o encadeamento de seus pensamentos foi interrompido por algo que a fez se retesar da cabeça aos pés: uma folha de papel fora empurrada por baixo da porta Dara o interior do quarto. Levantou-se e foi apanhá-la. Havia um curto bilhete escrito nela: “Vou tentar ajudá-la. Troquei as drogas que irão aplicar em você por injeções inofensivas. Finja que ficou dopada e aguarde os acontecimentos. Depois de ler, rasgue esse papel”.

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CAPÍTULO 9 Dois homens armados de pistolas vieram buscar Eva. Através de gestos ríspidos, mandaram que ela os seguisse. A agente os acompanhou em silêncio. Nada perguntou, pois bem podia imaginar o que estava a caminho. Naturalmente, iam levá-la para a aplicação da droga em seu corpo. Lembrou-se mais uma vez do misterioso bilhete e a expectativa aumentou em seu íntimo. Os três atravessaram o corredor central do primeiro pavimento e subiram pela escada para o andar superior. Sempre de arma em riste, os dois pistoleiros conduziram Eva até um quarto, onde o próprio Vernon a aguardava. Ele a recebeu com um sorriso nos lábios, que traduzia divertimento e sadismo: — Bem, minha cara, nossa brincadeira vai continuar agora — assinalou ele. E, apontando para a cama que dominava uma das paredes: — Deite-se, por favor. — 84 —

Depois de fingir uma certa relutância, Eva obedeceu. Sob o olhar atento de seus capangas, Vernon se sentou na borda da cama. Olhou para a agente, com um misto de sarcasmo e satisfação, e estendeu a mão até a mesinha de cabeceira, onde apanhou uma seringa. Preparou-a, sem pressa e, então, ajeitou o braço de Eva na cama. — Não se aflija — murmurou, suavemente. — Garanto que não dói nada. Eva não esboçou o menor gesto de reação. Manteve-se firme e altiva, olhando para Vernon com uma expressão de desafio em seu rosto. Sentiu a picada na veia e, passados alguns instantes, Vernon recuou a mão. — Pronto — murmurou ele, esfregando um pedaço de algodão com álcool no local da fisgada. — Agora, é só aguardar alguns instantes e logo você estará sonhando’ com os anjinhos. Com uma dose dessas, o estado de inconsciência deve chegar em menos de cinco minutos. Internamente, Eva agradeceu-lhe pela informação, pois assim poderia fingir de forma correta. Isto é, se realmente a droga tivesse sido trocada, conforme fora prometido no bilhete. Os primeiros minutos se arrastaram carregados de expectativa e tensão para Eva. Mas, como não sentiu qualquer entorpecimento no corpo, ela começou a se convencer que a troca fora realizada mesmo. Isso a encheu de animação, mas procurou se conter. Qualquer falha de sua parte, agora, iria botar tudo a perder. Calculando que já se haviam passado mais de quatro minutos, ela começou a piscar lentamente, para dar a impressão de que um sono irresistível estava pesando em suas pálpebras. Vernon, que a observava atentamente, curvou os lábios em um imenso sorriso. Ela, então, fechou os olhos mansamente e deixou a cabeça pender para o lado. — 85 —

Passou a respirar em um ritmo mais lento, fingindo que mergulhara em um sono profundo. — Pronto — murmurou Vernon. Agora, é só esperar uma hora e meia e teremos mais um pouco de divertimento. Eva sentiu os dedos dele deslizarem pelo seu peito, mas não esboçou qualquer mudança no seu comportamento. — Ela é uma graça, não acham? — perguntou ele a seus capangas. — Francamente, tenho que admitir agora que foi um bom negócio ela ter escapado de Paul. Enfiar uma bala num corpinho desses, sem mais nem menos, chega a ser até um sacrilégio... Seus dedos, animados com a maciez da pele quente sob o vestido, continuaram sua lenta peregrinação. — Acho que vou até perdoar Paul. Afinal, se não fosse a sua mancada, eu não teria, agora, essa chance de ter nas mãos uma coisinha tão fofa. Além do mais, ele já levou um belo castigo pelo erro que cometeu... — A cabeça dele está com mais pontos do que um vestido de mulher — assinalou um dos pistoleiros, em tom de chacota. — Talvez, até eu dê a ele uma chance de acertar suas contas com essa mulher — continuou Vernon, com um toque de sadismo na voz. — Já imaginou o que será largála completamente dopada e sem vontade nas mãos dele? E o mais interessante é que essa droga não tira a consciência da pessoa. Durante o tempo todo, ela tem conhecimento do que está acontecendo, embora nada possa fazer... Depois de percorrerem o peito de Eva, os dedos de Vernon se afastaram. Então ela sentiu sua saia ser erguida bem alto. — Vejam só! — exclamou ele. — Isso não é uma mulher para botar qualquer um cem a cabeça virada?

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Houve um momento de silêncio e ele largou o vestido de Eva. A diminuição do peso no colchão indicou a ela que ele se levantara. — Vamos agora — disse Vernon, para seus asseclas. — : Daqui a uma hora e pouco, poderemos começar a brincadeira. — Você vai mesmo chamar Paul? — perguntou um dos pistoleiros. — Acho que sim. — Bem, se ele vai ter direito... O sujeito interrompeu a frase, mas Vernon captou o sentido de suas palavras. — Todos terão direito — garantiu ele, com frieza. — Para mim, o mais importante é humilhar ao máximo essas malditas! Cada uma que eu agarrar terá que pagar muito bem pago tudo o que sofri nas mãos dessa organização! *** Pouco depois que Vernon saiu acompanhado por seus capangas, Eva se levantou e examinou o quarto. A porta trancada e a janela gradeada fizeram-na concluir, porém, que não haveria chance alguma para uma fuga por conta própria. O jeito, portanto, era confiar no autor do bilhete anônimo. Sentada na borda da cama, esperou a lenta passagem do tempo. Para uma mulher acostumada à ação, uma inatividade tão prolongada chegava a ser irritante. Mas ela procurou não se enervar. Ocupou o período de espera com uma série de pensamentos a respeito do autor do bilhete e do desfecho que logo chegaria para aquela farsa toda. Quando ouviu movimentação do lado de fora do quarto, deitou-se rapidamente e assumiu sua expressão de alguém — 87 —

mergulhado em um profundo sono. A porta foi aberta e. a julgar pelos passos no assoalho, pelo menos três pessoas entraram no quarto. — Agora, é só aplicar o segundo estágio da droga e ela estará cm condições de participar da nossa brincadeira — assinalou uma voz, que pertencia a Vernon. Ele sentou-se na borda da cama e Eva sentiu uma nova picada no braço. Tensa da cabeça aos pés, a agente da L.E.S.B. ficou aguardando o desenrolar dos acontecimentos, quando Vernon arrancou a agulha de seu braço. Passaram-se alguns segundos e a voz dele soou lenta e persuasiva: — Pronto, minha querida. Você agora pode acordar. Temos uma longa conversa pela frente. Uma deliciosa conversa, aliás... Eva sentiu a pressão de uma mão quente em seu ventre. Abriu os olhos, piscando lentamente, e fitou o rosto de Vernon. — Tudo bem? — perguntou ele, acariciando-a devagar. A agente fez que sim, com a cabeça, enquanto relanceava o olhar em volta. Junto à cama, dois pistoleiros de Vernon a fitavam com a expressão de lobos famintos diante de um cordeiro. — Agora, vocês podem sair — ordenou ele aos dois. — Chamem Paul lá embaixo. Depois que eu terminar com ela, todo o mundo terá a sua chance de se divertir um pouco. Os dois saíram imediatamente do quarto e fecharam a porta. Vernon, então, fitou Eva dentro dos olhos. Deliciado, deslizou os dedos por suas pernas. — Você vai ser boazinha comigo, não é? — murmurou, curvando-se para a frente.

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— Tudo o que eu mandar, fará com imenso prazer. Mesmo que no fundo de sua mente não esteja com vontade de fazer, vai me obedecer... Essa é a regra do jogo. Eva raciocinou ligeiro. O autor do bilhete mandara que aguardasse os acontecimentos. Pois bem: estava sozinha com Vernon naquele quarto e havia uma pistola junto à cintura dele. Poderia haver melhor momento para entrar em ação? Antes que o sujeito pousasse os lábios em sua boca, ela curvou rijamente os dedos da mão direita e lhe acertou um violento golpe na região do plexo solar. Vernon arregalou os olhos e se imobilizou, paralisado pela dor e pelo espanto. Mais do que depressa, Eva acertou-lhe uma cutelada na carótida e outra no pomo-de-adão. O rosto dele se contorceu em uma expressão de profunda dor, enquanto a inconsciência obscurecia sua mente e lhe roubava as forças. Vernon podia ser astuto, mas fisicamente não era grande coisa. Desfalecido, deslizou da cama para o chão. Eva levantou-se de um salto. Curvou-se ao seu lado e arrancou a arma que ele carregava na cintura. O contato frio do cabo da pistola em sua mão a fez sentir um frêmito de alegria pelo corpo inteiro. Resolutamente, caminhou na direção da poria. Pousou a mão na maçaneta e respirou fundo. As vozes no corredor indicavam que iria ter uma parada dura pela frente. Mas chegara a hora da decisão: ou tudo ou nada. Girou a trinco e escancarou a porta. De arma em riste, passou para o corredor. Quando os três homens a viram, pararam de conversar e a fitaram cheios de surpresa. Um recuperando-se mais rápido do que os outros, levou a mão até o coldre sob o ombro: não sabia o que estava acontecendo, mas tivera a certeza de que algo ia mal.

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Sem a menor hesitação, Eva recheou seu corpo com uma minúscula, mas mortífera lasca de chumbo quente. Berrando de dor, ele se curvou para a frente e caiu de cara no chão. O tiro fez seus companheiros despertarem do estupor em que haviam mergulhado. Ao mesmo tempo, levaram as mãos até suas armas. Eva fuzilou um e, percebendo que o outro já empunhara a arma, jogou-se para o lado. Seu reflexo, mais uma vez, salvou-a de morte certa: não fizesse isso e teria levado um balaço em pleno peito. Agachada, fez pontaria e pressionou o gatilho. Como de hábito, foi um disparo perfeito. A bala se cravou na testa do pistoleiro e ele mergulhou para trás, já sem vida. No momento em que ia se levantar, Eva percebeu um vulto ao seu lado. Virou-se ligeiro, mas nem sua extrema rapidez adiantou alguma coisa. Recebeu um violento chute à altura do rim esquerdo. Cega de dor, perdeu o controle sobre si mesma. A visão ficou turva e um entorpecimento percorreu seus músculos, percebeu que lhe arrancavam o revólver da mão e tentou reagir. O corpo, porém, não atendeu ao comando de sua vontade. Dedos brutais se infiltraram entre seus cabelos e a puxaram para rima. Aos trambolhões, colocou-se de pé, sofrendo com as lancinantes fisgadas ao longo de todo o couro cabeludo. — Agora, vamos acertar nossas contas, boneca. Quando eu terminar com você, vão ter que costurá-la mais do que me costuraram. A voz estava carregada de um ódio insano. E pertencia a Paul. Eva percebeu, no meio da névoa que oprimia sua mente, que um destino negro a aguardava. Precisava reagir, disse para si mesma. Mas como, se as forças teimavam em abandoná-la? — 90 —

Com uma sádica violência, Paul a arremessou na direção da parede. Eva tentou se firmar sobre as pernas, mas perdeu o equilíbrio e acabou se chocando na parede de frente. Novas dores na testa e no busto aumentaram a cortina nevoenta que embrulhava seus pensamentos. Respirou fundo, procurando reagir, mas novamente os dedos firmes agarraram seus cabelos. — Gostou? — perguntou Paul, com uma insana alegria. — Pois terá mais. Muito mais... Eva sentiu a mão de Paul se retesar entre seus cabelos, pronta para arremessá-la para a frente. Mas a promessa de novas dores não se concretizou. Ecoou um disparo, no silêncio do corredor, e os dedos do grandalhão se afrouxaram e largaram os seus cabelos. Ela se apoiou na parede e relanceou o olhar para trás. Paul acabara de se estatelar no chão, estremecendo ao compasso de espasmos característicos da chegada de uma morte violenta. — Você está bem? — perguntou uma voz feminina. Eva girou mais a cabeça e deparou com uma Louise sorridente, caminhando na sua direção. Com dificuldade, respondeu que sim e se encostou na parede. Respirou fundo várias vezes, para recuperar o autodomínio, e, quando a névoa começou a abandonar sua mente, sorriu para Louise, que parara à sua frente. Quer dizer que foi você quem escreveu aquele bilhete... — murmurou, lentamente. — Exato. As doses deste soro da verdade têm uma duração incerta. Na confusão dos últimos acontecimentos, Vernon se esqueceu de renovar minha dose. Ou calculou errado a duração da anterior... Bem, o fato é que há três horas atrás, mais ou menos, recuperei minha lucidez. Mas nada pude fazer, cercada por esses gorilões todos. Botei — 91 —

aquele bilhete no seu quarto e troquei as ampolas de soro por simples injeções contra resfriado, que Vernon comprou para ele. E fiquei aguardando uma chance... — Ela sorriu, suavemente. — Acho que tivemos a idéia de entrar em ação ao mesmo tempo. Mal dominei os dois sujeitos que estavam lá embaixo e subi para cá, você já estava botando pra quebrar. — O importante é que conseguimos acabar com esse pesadelo — retrucou Eva, devagar. — Tem razão — concordou Louise. — Talvez vocês estejam um tanto equivocadas! — berrou uma voz trêmula. — Não é tão fácil assim me derrotar! Ambas giraram na cabeça e depararam com Vernon saindo do quarto onde Eva estivera presa. Ele caminhava com passos pouco firmes, trazia uma pistola na mão S seu olhar brilhava com uma expressão de quase demência. — A L.E.S.B. jamais me derrotará! — exclamou ele. — Eu é que vou destruir todas vocês! Antes que ele disparasse sua arma, Louise ergueu a mão direita e apertou o gatilho de sua pistola. Foi um disparo perfeito. Vernon estremeceu da cabeça aos pés e escorou o ombro na parede, para não cair. Baixou a mão direita, enquanto uma mancha rubra se alastrava em seu peito, e fitou Louise com uma expressão de desespero. Eva notou o rosto da agente se crispar. Novamente, Louise apertou o gatilho de sua pistola. Vernon estremeceu de novo e começou a deslizar para o chão, esfregando os ombros na parede. Louise, contudo, continuou a disparar. Observando suas feições vincadas pelo ódio, Eva compreendeu que o desejo de se vingar das humilhações sofridas a dominara por completo.

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Louise continuou atirando, mesmo depois que Vernon se estatelou no chão, totalmente imóvel. Só parou mesmo quando um estalido seco indicou que esvaziara o pente de balas de sua arma. Então, jogou a pistola para o lado e fitou o corpo ensanguentado de Vernon com um olhar de desprezo: — Esse não fará mal a mais ninguém. Nem mesmo a uma mosca.

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EPÍLOGO Depois de um longo banho, que deixou sua pele mais macia e perfumada, Eva começou a se vestir. Cuidadosamente, escolheu, uma roupa que realçava seus inúmeros encantos. Observou o resultado no espelho e, satisfeita, apanhou sua bolsa. Saiu de seu apartamento e desceu direto à garagem, onde guardava o carro. Sentia-se alegre e de bem com a vida. Naquela manhã, estivera na L.E.S.B. e pudera constatar que tudo voltara ao normal. Louise retomara às suas atividades e Maggie Doyle a recebera com a serenidade costumeira. O pesadelo que Vernon representara para a organização já começava a ser encarado como coisa do passado. Quanto ao soro da verdade, recuperado no casarão onde ele morrera com seus pistoleiros, estava guardado no cofre particular de Maggie Doyle. Sua fórmula desaparecera com a morte do cientista assassinado por Vernon e ele talvez nunca mais saísse dali. — 94 —

Aliás, conforme Maggie confessara a Eva, possivelmente iria ser destruído, dado o seu alto grau de periculosidade. Sem pressa, Eva percorreu as ruas de Nova Iorque, Estacionou junto a um edifício de apartamentos, não muito distante do “St. Paul Hospital”. Subiu no elevador até o quarto andar e se encaminhou até a porta localizada na extremidade do corredor. Tocou a campainha. Um Doutor Rice ligeiramente ressabiado a atendeu. — Não vai me convidar a entrar? — perguntou Eva, sorrindo, quando percebeu a hesitação dele. O médico a deixou entrar em seu apartamento e fechou a porta. Lentamente, então, aproximou-se da poltrona onde ela se sentou. — O que você deseja? — perguntou, parando à sua frente. Eva fez uma carinha de angústia: — Estou me sentindo tensa e nervosa. Acho que só boas massagens podem resolver o meu problema. — E, pousando a mão na parte superior da coxa, concluiu: — Aquela dor provocada pelo meu antigo ferimento também voltou a se manifestar. Rice observou suas belas pernas cruzadas e o busto ansioso em saltar por cima do amplo decote. — Não costumo atender pacientes rebeldes — murmurou, com um sorriso no canto dos lábios. — Prometo que dessa vez me comporto direitinho. Estou com o dia todo livre. — Então, nada de agressões? — Nada de agressões — garantiu Eva. meigamente. Rice contornou a poltrona e se colocou atrás dela. Estendeu as mãos e começou a massagear suas têmporas. Eva segurou seus dedos e os puxou para baixo, forçando-os a se fechar ao redor da curva de seu busto. — 95 —

— Acho que podemos deixar de lado esse estágio inicial, doutor — sussurrou, com brandura.

FIM

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