Ccv 01 - Cobalto - Willian Harrison.pdf

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  • Words: 18,791
  • Pages: 92
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SÉRIE: CÍRCULO VERMELHO VOLUME: 1 TÍTULO: OPERAÇÃO COBALTO AUTOR: WILLIAN HARRISON DESENHO DA CAPA: EDITORA: CEDIBRA ANO DE PUBLICAÇÃO: 1972 PREÇO: CR$ PÁGINAS: 128

SCANS E TRATAMENTO: RÔMULO RANGEL [email protected] DISPONIBILIZAÇÃO BOLSILIVRO-CLUB.BLOGSPOT.COM.BR [email protected]

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COLEÇÃO CÍRCULO VERMELHO Próximo lançamento: AS NOIVAS DO DIABO - William Harrison Título publicado: 1. OPERAÇÃO COBALTO - William Harrison.

Você pode adquirir os números seguintes desta coleção nas bancas ou pedir uma assinatura pelo Reembolso Postal à Cedibra — Caixa Postal 20.095 — Rio. Filomena Nunes, 162-20.000-Rio de Janeiro-ZC 22-GB.

Copyright (C) 1972 by Cedibra - Cia. Editora Brasileira Distribuição exclusiva: DISBRA S.A. Filomena Nunes, 162-20.000-Rio de Janeiro-ZC 22GB. Composto e impresso pela Cia. Editora Americana Rua Visconde de Maranguape, 15 - Rio - GB. O texto deste livro não pode ser, no todo ou em parte, nem registrado, nem reproduzido, nem retransmitido por qualquer meio mecânico, sem a expressa autorização do detentor do Copyright.

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OPERAÇÃO COBALTO Willian Harrison

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ONDE UM COLT É O MELHOR ARGUMENTO Toda a crueza e violência do Velho Oeste, narradas pelos melhores autores do gênero, em nossas emocionantes coleções:

CORISCO TERRA BRAVA LEI DO OESTE XERIFE MUSTANG CACTUS TERRA BRUTA DESAFIO FÚRIA TRIGGER OESTE SELVAGEM COLORADO OESTE BRAVIO NEBRASKA BRAVO OESTE GUN-MAN CALIFÓRNIA

KANSAS PRADARIA CORCEL WINCHESTER VINGADORES OESTE LEGENDÁRIO KID-BEN OESTE HEROICO CALIBRE VAQUEIRO RIFLE RANCHO RIO BRAVO VALENTES LAÇO CARAVANA

Mensalmente em todos os jornaleiros, ou pedidos pelo Reembolso Postal à Cedibra - Filomena Nunes, 162 ZC 22 - GB.

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CAPÍTULO 1 A pesada porta de aço rolou silenciosamente sobre os trilhos e uma mulher loura e magra entrou na enorme sala. Lá a aguardava uma senhora alta e séria, aparentando uns sessenta anos de idade, talvez menos, mas que trazia no rosto os traços de uma beleza não muito distante. A loura entrou, parou perto dela e falou mansamente para não perturbar o raciocínio de Mrs. Doyle. — Ela já está aí. Mrs. Doyle saiu do seu mundo de sonhos e abriu um sorriso. — Isto é ótimo. Se ela veio rapidamente é porque está interessada. Mande-a entrar. E não deixe que ninguém venha interromper a nossa entrevista até que a tenhamos terminado. Do outro lado da parede, Eva Brooklyn tomava conhecimento com aquele lugar fantástico. Nunca em sua vida conhecera um esquema de segurança tão perfeito —7 —

portas automáticas controladas por computadores, circuito de TV colorida que acompanhava o movimento de todas as pessoas, guardas com armas químicas, um mundo subterrâneo e assustador. Quando recebeu o telefonema de Mrs. Doyle, a agente 069 nunca imaginara o que pudesse ser aquilo. A veneranda senhora era conhecida no mundo inteiro por seus artigos pela emancipação feminina, e Eva não conseguia ligar uma jornalista com aquele aparato bélico. — Você pode entrar. Mostre seu cartão de identificação para a câmera de TV e a porta se abrirá automaticamente. Eva fez o que lhe ordenava a loura, e a porta rolou sem um ruído sequer. Do outro lado, Mrs. Doyle a esperava de braços abertos. — Que bom que você veio, Eva. Cheguei a temer por este nosso encontro. — Onde é que eu estou? — Perdão, querida. Não podemos revelar a localização exata do nosso Centro de Operações. Eu sei que é muito desagradável viajar duas horas com os olhos vendados, mas... — Nós não viajamos para lugar nenhum. Taparam meus olhos mas não meus ouvidos. E, se eu ouvi bem, nós não saímos de Nova York. É provável que isto seja um subterrâneo. Mrs. Doyle olhou um pouco embaraçada para a bela mulher que estava parada na sua frente, desafiando-a com seu nariz empinado, os penetrantes olhos azuis e o corpo cheio, mas esbelto e firme. — Você é bem esperta. Antes assim. — Mas o que é isso? C.I.A.? Um abrigo antiaéreo? — Calma, menina, calma. Vamos tomar um café e depois conversar. —8 —

Sentaram-se as duas de frente para um painel branco. As luzes se apagaram e um aparelho embutido passou a projetar um filme. Mrs. Doyle abriu um armário e serviu duas xícaras de um café forte e espesso. — Esta senhora que você está vendo chama-se Evelyn Saint-Bell. Ela foi uma das mulheres mais ricas deste continente. Aos cinquenta e cinco anos de idade, solteira e sem parentes, resolveu dedicar a sua vida a um projeto grandioso que a tirasse da rotina de mulher rica e inútil. Fundou um clube feminino em Nova Orleans, baseado na Maçonaria. A organização se expandiu rapidamente, pois era a primeira vez que mulheres se reuniam para discutir e resolver seus próprios problemas. Com a adesão de senhoras da alta sociedade, viúvas, solteiras ou mesmo divorciadas, a organização cresceu enormemente. Isto foi em 1927, e hoje somos tão eficientes quanto qualquer serviço secreto. E sabe por quê? Eva balançou a cabeça — Porque nos dedicamos a serviços extra-oficiais, que parecem inúteis, mas que podem decidir o destino de uma nação ou mesmo de um continente. Trabalhamos com a OSS durante a guerra, mas não fomos reconhecidas pelo Governo. — A velha e tradicional discriminação... — Não neste caso. Era mais interessante permanecer no anonimato. Agora vamos ver a organização no presente. E seguiu-se uma sequência de imagens com computadores, salas de treino para tiro, judô, datiloscopia, microfilmagem, miniaturização, disfarces, laboratório eletrônico de línguas, uma fazenda no Texas, prédios em todas as grandes cidades do mundo. — Como você pode ver, a maioria dos nossos agentes são mulheres. Nós somos tão eficientes quanto qualquer —9 —

membro da melhor rede de espionagem do mundo. Não é raro a C.I.A. se interessar pelos nossos métodos. Mas preferimos manter as aparências e nada dizemos. — E o que tenho com tudo isso? — Surgiu um problema na nossa sucursal de Bonn. Contrabando de material radioativo. Uma agente nossa foi assassinada por elementos desconhecidos. E temos que intervir rapidamente. — O governo alemão sabe desses problemas? — Ele não sabe é que estamos trabalhando nisso. Nem pode saber. — Eu até agora não entendi onde entro na brincadeira. — Você é uma mulher maravilhosa. Inteligente, raciocínio rápido, ágil de corpo e de... cama. Sabemos tudo sobre você. Quer ver? Mrs. Doyle abriu uma gaveta e retirou uma pasta preta. Abriu-a e começou a ler: — Eva Brooklyn. Nascida em Nova York em 17 de outubro de 1951. Filha de James e Jennifer Brooklyn. Entrou na Our Lady of Mercy School, de onde saiu para trabalhar, aos dezoito anos, na International Insurance Corporation. Promovida a chefe de seção seis meses depois, formou-se pelo F.B.I. em acidentes simulados, roubos e fraudes, passando a agente perita em seguros. Largou o emprego por problemas pessoais não revelados. É exímia atiradora com pistola automática, e sabe matar. Eva estava assombrada. Acendeu um cigarro e esperou a conclusão de Mrs. Doyle. — Nós precisamos de você. Não temos ninguém capacitado para enviar a Bonn. — E se eu não aceitar?

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— Será hipnotizada com o auxílio do pentotal-sódio, e será apagada da sua memória qualquer lembrança do nosso encontro. Eva pensou alguns minutos. Estava atordoada com aquelas transas todas. Passou a mão nos cabelos negros e viu que Mrs. Doyle estava sorrindo. — Você está pensando na possibilidade. Já é um bom sinal. É lógico que você não vai trabalhar de graça. Por este serviço nós pagaremos dez mil dólares, livres de despesas ou impostos. Dez mil dólares! Era o salário de quatro meses. Este argumento convenceu definitivamente a agente 069. — Aceito, Mrs. Doyle. Quando começo? — Você embarca amanhã de manhã para Bonn. Algum problema? — Não, mas té que... bem, não importa. — De hoje em diante seu nome de guerra será Poppy. Não se esqueça. — A senhora sabe quem é Poppy? — Sei sim. A sua cadelinha que morreu quando você tinha nove anos. — Estou quase acreditando que a senhora é uma cigana... Uma luz vermelha se acendeu no painel ao lado da mesa de Mrs. Doyle. Ela ligou o interfone e a telefonista avisou: — Mrs. Doyle, Mrs. Diane Cell precisa falar com a senhora. — Eu já terminei. Mande-a entrar. A porta de aço rolou maciçamente e entrou uma loura maravilhosa, de seios fartos e ancas largas, que andava com a voluptuosidade de um tigre. Seus olhos faiscaram quando viu Eva, e sua boca carnuda torceu- se toda para falar:

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— Mas que maravilha de amiguinha, Maggie.. . Você está velha, mas ainda consegue coisas finas... — Não seja maldosa, Diane. Esta é a nossa nova agente, Poppy. — É um imenso prazer conhecê-la. Eva sentiu a mão da mulher apertar a sua com sensualidade. Os olhos de Diane correram seu corpo de cima a baixo. Aquela mulher tinha um charme selvagem, como se transpirasse sexo por todos os poros. — O prazer é meu, Mrs. Diane. — Chame-me de Diane... ou Dy... fica mais íntimo. — Se quiser... — Onde você vai começar? Mrs. Doyle respondeu rapidamente: — Ela vai a Bonn substituir Lena. — Ah, sim. Bonn é uma cidade encantadora. Como um assassinato. Com licença, eu vim só dizer adeus a Maggie. Embarco amanhã para Londres. Vou dar uma espiada nas meninas da ilha. Quem sabe a agente pode se encontrar na Europa? — Serviço é serviço, Dy — Mrs. Doyle estava séria. — Eu estava brincando, Maggie. Ficou com ciúmes? Disse isso e saiu da sala como entrou, mexendo sensualmente com as cadeiras, mostrando ao mundo que ela, Diane, era maravilhosa. — Não ligue para ela. É uma atriz frustrada. Mas é também uma mulher dinâmica e organizada. É a Gerente Administrativa da L.E.S.B. — O que é isso? — A sigla de Lady Evelyn Saint-Bell. O nome da nossa organização. — Há um duplo sentido, não?

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— As meninas dizem que sim. Eu não tenho nada contra o que se possa pensar a respeito. Muito pelo contrário... Eva, aliás Poppy, sorriu com a evasiva de Mrs. Doyle. — Vamos dar um passeio pela organização. Você precisa aprender umas tantas coisas. E saíram as duas de braços dados, percorrendo as instalações subterrâneas da L.E.S.B. Poppy conheceu então o Sistema de Processamento de Dados, que dirigia todos os movimentos das pessoas da organização. Viu a Sala de Radares e Rastreamento, com um enorme painel assinalando todas as bases de mísseis atômicos intercontinentais, aviões e esquadrilhas de ação, submarinos com mísseis Polaris mar-terra e outros engenhos mortais. Duas horas depois, voltavam à sala. — Você conhece coisas que muito pouca gente viu. Vá agora fazer suas malas. Não tente falar conosco. Nós estaremos sempre olhando você. Se precisar de qualquer coisa em especial, nossos contatos farão o que você pedir. Eva chegou em casa, depois de duas horas de viagem com os olhos vendados. O prédio azul-claro subia majestoso no meio de Coney Island, uma das melhores ilhas que cercam Nova York. Eva subiu até a cobertura e entrou em casa confusa cessão de acontecimentos. Quando abriu a portinha de correspondência, encontrou um grande envelope pardo, que continha dois mil e quinhentos dólares, o seu passaporte pronto para viajar, um bilhete de Mrs. Doyle e um relatório completo da situação em Bonn. Eva tomou um banho de banheira, que durou quase duas horas. Depois esticou-se nua na cama para ler o relatório. Seu corpo macio se esfregava na colcha, e ela quase não — 13 —

tinha cabeça para compreender o que lia. Levantou-se, abriu a janela e respirou profundamente. 069 era assim. Uma mulher extremamente sensual que queria viver. Não sabia ficar sozinha e seu ditado predileto era “melhor que um homem na cama só dois.” Lembrou-se com saudade de Mel Trevor, um homem maravilhoso que conhecera em Los. Angeles, no Paradise Casino. Passaram juntos três dias de fogo, três dias inesquecíveis, quando só saíam da cama para comer. Depois ele voltou para o Tenessee e nunca mais se viram. Os imbecis do seu serviço viviam com cantadas malfeitas e insinuações, quando seria mais fácil chegar e dizer logo qual era a deles. Mas eles estavam naquela de ter uma mulherzinha que ficasse em casa, esperando o marido chegar do trabalho como um cachorrinho. Exatamente como Ferguson, aquela careta que pensara mandar em sua vida só porque ela caíra na besteira de dormir com ele. Eva deitou-se novamente e concentrou-se no assunto. Depois arrumou as roupas na mala — era uma mulher prática — e estava tudo em ordem. Deitou-se, ligou o ar refrigerado e sonhou a noite toda com uma ilha no Pacífico, onde todas as pessoas se amavam e mostravam isso com os corpos.

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CAPÍTULO 2 Eva acordou com a aeromoça sorrindo por cima do espaldar da poltrona. Desculpe incomodar, mas o lanche vai ser servido agora. — Não tem problema, eu estava mesmo com fome. A aeromoça serviu um desjejum digno de reis. Eva comeu até se fartar, e depois abriu um livro. Mas não conseguiu se prender no enredo. Lembrava-se a toda hora que estava voando para o perigo. — A senhorita precisa de alguma coisa? Era a aeromoça outra vez, debruçada sobre a poltrona, com os olhos fixos nas pernas de 069. — Talvez mais um travesseiro... Quando a aeromoça ajeitou os travesseiros, roçou a mão no rosto macio de Eva. Parou bem perto dela, de modo que

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os outros passageiros não a vissem, e colocou a ponta da língua para fora dos lábios finos e sensuais. Eva não se grilou, e colocou sua língua para fora também. A aeromoça sorriu e voltou para a cauda do avião. Quando voltou, passou um bilhete à passageira. “Vou ficar no Hotel Reno. Se você quiser me ver...” Mara. Eva guardou o bilhete dentro da sua valise e pensou nas possibilidades. Ela nunca dizia não sem pensar direito do que se tratava. Deixou para pensar naquilo mais tarde e se ligou no serviço. Maggie lhe entregara uma valise cheia de truques. Mas o que realmente importava era uma Lugger, automática, nova, com dez pentes de balas. Dera-lhe também um nome. Felix. Seria o contato dela em Bonn. O nome do Hotel era Vermont, e ficava na grande Burgostrasse, um dos pontos nevrálgicos da cidade. Eva abriu o mapa da cidade e começou a se familiarizar com as principais ruas. Ela conhecia quase toda a Europa, mas a Alemanha nunca lhe despertou grande interesse. O Centro Europeu de Pesquisas ficava na zona Oeste da cidade. Era de lá que o cobalto estava sendo roubado. Era um bairro industrial, com características comuns a todos os bairros industriais. O nome do homem que podia dar-lhe alguma dica era o Dr. Karl Hennings, jovem cientista que estava começando a carreira no Centro. Por outro lado, tinha que ter cuidado com os empregados do hotel. Em geral todos eles aceitavam gorjetas para vasculharem quartos de hóspedes.

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O avião pousou no Aeroporto Internacional de Bonn às treze horas em ponto. Eva pediu ao chofer do táxi para dar umas voltas pela cidade antes de levá-la ao hotel. Havia três pontos importantes que ela queria gravar. Primeiro, o Centro. Era um prédio atarracado e feio, que ficara na parte mais suja de Neuger o antigo bairro industrial de Bonn. Tinha duas entradas, vigiadas constantemente. Depois, o Hotel Reno, que ficava bem perto do começo da Burgostrasse, numa rua chamada Markt, que desembocava num supermercado com características norteamericanas. Por fim, o seu próprio hotel. O chofer cobrou o dobro da corrida. Eva pagou sem chiar. Já que a Organização é rica, vamos gastar. Mal entrou no seu quarto, o telefone tocou. — Poppy? Ainda bem que você chegou. É Felix quem fala. — Onde está você? — Aqui em baixo, na portaria. Sou o único homem que não usa terno e gravata neste país. — Vou descer já. Poppy tomou um banho rápido e vestiu uma roupa leve. Colocou a Lugger na bolsa e desceu. Num relance ela reconheceu Felix. Um rapaz alourado, alto e forte, com a típica cara sardenta dos americanos quando jovens. — Meu Deus, a L.E.S.B. está cada vez melhor... — Você é Felix? — Todo seu. — Maggie me disse que... — Maggie fala muito — cortou ele. Vamos sair daqui. Eu preciso entregar-lhe algo rapidamente. — 17 —

— Aonde vamos? — perguntou ela, desconfiada. — Ao meu apartamento. — Vamos com calma, sim? — Onde você quer que eu lhe dê microfilmes? Em plena Burgostrasse? Lena não se cuidou e jogaram-na em baixo de um trem. “Acidente” disse a polícia. Poppy deu-lhe razão e saíram os dois. Entraram num táxi ele mandou seguir para a Zona Leste — Jungstrasse. O carro andou uns vinte minutos até que eles chegaram. Era um conjunto residencial, com vários blocos de apartamentos. Felix e Poppy subiram até o terceiro andar e caminharam um pouco no escuro. — Como você foi se meter nisso? — Sempre gostei de emoções fortes — disse ele com um meio sorriso. — E pagam muito bem. Entraram no pequeno apartamento, e Felix se apressou em fechar as cortinas. Poppy sentou-se no sofá enquanto o rapaz abria uma gaveta e retirava um livro. Desmontou cuidadosamente a capa de couro e retirou um rolinho de filmes. — Essas fotos eu consegui nem sei como. Instalei uma câmara na frente da sala de Radioisótopos uma noite em que havia interceptado uma conversa telefônica. O homem que falava alertava o outro sobre os perigos do transporte de cobalto. Poppy improvisou um visor para os microfilmes com uma lupa. Felix foi ajudá-la e roçou com seu braço forte nos seios rijos da agente 069. — Calma, gatinho, calma. — Foi sem querer. Olhe quem está abrindo a sala. O próprio chefe da segurança, Heinrich Schreiber. É ele quem sai com o cobalto do Centro. — E esses dois que estão com ele? — 18 —

— O louro de bigodes é um funcionário burocrático. Chama-se Ferdinand. O outro não consegui reconhecer. Ele não ficou de frente em nenhuma das fotos. Felix estava sentado bem perto de Poppy, sentindo o cheiro dela, sentindo aquele corpo maravilhoso a seu lado. — Mas o que há de errado? É só prender os culpados. — Acontece que a quantidade de cobalto roubada não dá para nada. É muito pouco. A cápsula é grande, como você pode ver, mas quando vão fazer a repesagem no dia seguinte, a diferença é mínima. — De grão em grão. . . — ... a galinha não vai encher o papo nunca. — O que é que você acha? — Não acho nada. Nem sei por onde começar. O que você quer beber? — Uísque puro. Felix levantou-se e foi até o bar. Olhou ostensivamente para as pernas dela. Ela sorriu e cruzou-as um pouco mais. Ele ficou vermelho e disfarçou. “É um homem bonito, sem dúvida”, pensou ela. — E você, como foi se meter nisso? — Uma agente não sabe nada sobre si mesma. — Está bem, está bem. Vamos descansar um pouco. Você não terá tempo de ir ao Centro hoje. São quase seis horas da tarde. — Fica para amanhã. — Você é como as outras agentes? — Como assim? — a conversa estava se tornando interessante. Pelo menos para ela. — Não sou nenhum ser repelente. Mas nunca consegui nada com o pessoal da L.E.S.B. — Não me diga...

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— Você está encarnando em mim? Cansei de cercar o pessoal aqui e nada. Fiquei até desconfiado que a sigla tem alguma coisa a ver com isso. — Eu gosto muito de homem. De mulher não sei ainda. — Já é um bom princípio — Felix aproximou- se mais dela. — Nós estamos em serviço, gatinho... — Agora não. Disse isso e passou a mão pela barriga de Eva, que se ouriçou toda. — Ai, gatinho, você me arrepia... Felix desceu o fecho do vestido de Eva, enquanto ia mordendo o seu pescoço, passando a língua naquela pele macia. — Você é muito atirado, não é? — Você é maravilhosa... Poppy levantou-se e virou-se de frente para o rapaz. Fez um gesto sensual para ele e começou a tirar o vestido lentamente. Primeiro surgiram os seios, com os bicos duros e levantados, depois o ventre, liso, que decaía para dentro de uma pequena calcinha azul. Aproximou-se de Felix e deixou que ele a acariciasse por todas as partes com seu corpo. Depois, ela afastou-o e começou a despi-lo, passando a língua por todos os lugares que encontrava. Felix gemia baixinho e ela se mostrava incansável. — Calma, gatinho, calma... Felix; tentou agarrá-la, mas ela fugiu, com um golpe de gata. Mandou que ele se deitasse de barriga para cima e o arranhou com as unhas maravilhosas que possuía. A mão dele entrou entre as pernas dela, e foi a vez de Poppy gemer.

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Felix então aproximou sua boca e, com os dentes, tirou a calcinhas de Poppy. Os dois se abraçaram, mordendo-se furiosamente. Felix corria a mão entre as coxas dela, que estava longe, com os olhos fechados, imaginando-se na ilha do Pacífico. Poppy fez uma negaça com o corpo e prendeu as mãos do americano entre as pernas. Começou então a mordê-lo, a língua descendo pela barriga, aos poucos, devagar, fazendo Felix gemer e pedir que ela chegasse logo com a boca no lugar desejado. Quando a barriga acabou, Felix esperou que o prazer maior viesse logo, mas o que veio foi uma rajada de metralhadora que arrebentou a porta. Os dois pularam para o chão, enquanto uma segunda rajada destroçava os vidros da sala. Felix chutou o abajour e apanhou um trinta e oito na gaveta, enquanto Poppy rolava para trás do sofá e apanhava a bolsa. Fez-se silêncio. O relógio da sala era o único barulho que se ouvia. A porta caiu de repente e entraram dois homens atirando, um com a metralhadora, o outro com um canocurto, a conhecida arma de repetição, meio rifle, meio revólver. Felix e Poppy deixaram que eles entrassem para abrir fogo. A agente 069 descarregou sua arma no peito do homem da metralhadora, que foi batendo nas paredes à medida que as balas iam atingindo-o. Felix tentou trocar tiros com o homem do rifle e foi atingido na barriga. Mesmo cuspindo sangue, atirou três vezes. O homem bateu na amurada da janela, rodopiou e caiu para fora, sem um grito, sem nada. Felix dobrou-se para frente, segurando o abdômen, chamando o nome da agente:

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— Poppy... Poppy... tire os microfilmes daqui... o homem que me pegou... era. . . o louro da foto... As palavras foram ficando cada vez mais difíceis de se entender. Poppy colocou a cabeça de Felix no seu colo nu e alisou seu cabelo. — Calma, você não deve falar. Mas ela estava ali só esperando a morte dele, como fazem os corvos. Poppy sabia que calibre 44 no abdômen é sinônimo de morte lenta e dolorosa. E assim foi. Felix esvaiu-se em sangue até morrer. Poppy vestiu-se, limpou-se do sangue dele e saiu do prédio antes que a polícia chegasse.

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CAPÍTULO 3 Os jornais da manhã traziam em destaque notícias do massacre da Jungstrasse. Fotos dos corpos na pequena sala, testemunho de vizinhos, cabeçalhos gritantes. . . e nada sobre ela. Eva jogou a pilha de jornais para o lado e pulou da cama. Era nove horas da manhã e o dia estava lindo. Pediu o café à portaria, enquanto se arrumava para ir ao Centro. Àquela altura, a notícia dos mortos no apartamento de Felix já teria espantado Heinrich Schreiber - ou não? Saiu do quarto, tomando o cuidado de passar uma pequena linha branca no fecho da sua mala e da sua valise. Se alguém mexesse nelas, deixaria traços evidentes. As dez e meia ela entrava pelo portão principal do Centro Europeu de Pesquisas. Pediu para falar com o Dr. Karl Hennings e deu um nome falso: Margareth Simpson, jornalista.

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Um funcionário idoso levou-a por um corredor comprido até uma sala muito bem iluminada. Aguardou alguns instantes e quem entrou foi Heinrich Schreiber. — Sou o Chefe da Segurança deste centro — disse ele rispidamente. — Muito prazer. — Cabe a mim evitar qualquer tipo de aborrecimentos ao nosso pessoal. O que a senhorita deseja com o Dr. Karl? — O senhor me considera um aborrecimento? — perguntou Poppy, maliciosamente. — Um par de pernas bonitas pode se transformar em centro de discórdias. Seu nome é Margareth Simpson, não? Ele não consta da lista de jornalistas credenciados aqui. Portanto, obrigado, obrigado pela visita e passe bem. — Espere! — gritou Poppy quando viu Schreiber levantar-se da mesinha para ir embora. Ela sentiu que não adiantaria usar charme com aquele homem. Ele era frio como uma porta de aço. — Você tem mais alguma coisa a declarar? — Eu achei um rolo de microfilmes hoje de manhã. Schreiber parou e olhou para a bolsa de Poppy. Era um homem extremamente forte, com um rosto macilento e duro. Poppy pensou que ele fosse voar na sua bolsa. — O que eu tenho com os microfilmes? O que tem o Dr. Karl com eles? — São fotografias do senhor abrindo uma porta de aço e retirando uma cápsula preta. Eu não sei do que se trata. Só reconheci o Centro porque um dos homens tinha o uniforme daqui. — Muito obrigado pela notícia. São algumas experiências que estamos fazendo com a Segurança. Se quiser me dar os filmes agora, eu ficaria agradecido.

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— Eles não estão comigo. Encontrei-os por acaso na calçada da Burgostrasse, ontem à tarde. — Srta. Simpson, nós estamos muito atarefados. Se a senhorita leu os jornais, viu que um dos nossos homens foi assassinado em circunstâncias muito estranhas. Agora, se quiser fazer o favor de dar este microfilme, que eu sei estar na sua bolsa, talvez possa arranjar uma gratificação pela devolução. Quem sabe cem dólares? Disse isso e avançou para Poppy. A agente recuou e esperou que ele chegasse mais perto. — Vamos, moça, eu não tenho muito tempo... Quando Schreiber estendeu a mão, Poppy agarrou-a, torceu-a e jogou o corpo do homem contra a parede. Antes que ele pudesse se refazer, Poppy chutou a sua boca, quebrando três dentes. Schreiber conseguiu levantar-se, mas Poppy já estava com a cadeira nas mãos. Quando ele se jogou em cima dela, a cadeira espatifou-se na sua cabeça. A porta da saleta abriu-se e entrou o Dr. Karl Hennings, seguido de três guardas. — O que está havendo aqui? Poppy sentou-se no chão e começou a chorar, fingindo ter uma crise histérica. Schreiber estava estonteado do 'outro lado da sala. — O que você fez com essa moça, Schreiber? — O que foi que ela fez comigo, isto é o que você deveria perguntar. Olhe para a minha boca... — O que foi que houve, senhorita? — Esse monstro tentou me agarrar... — Mas eu... — berrou Schreiber. — Cale a boca — cortou o Dr. Karl — Retire- se daqui imediatamente. Se uma cena dessas se repetir, você será demitido. — 25 —

O físico olhou para as pernas de Poppy e ajudou-a a se levantar, passando o braço por seus ombros. — Calma, senhorita, calma. Vamos até meu escritório, para tomar alguma coisa. A senhorita está muito nervosa. Durante dez minutos o físico sentiu-se o homem mais forte do mundo, protegendo aquela pombinha imaculada... — Vamos, entre aqui. Entraram os dois num escritório luxuosamente equipado. Poppy recostou-se num sofá, enquanto o Dr. Karl foi buscar dois refrescos. Quando voltou, já se deparou com mais da metade das pernas dela aparecendo do vestido curto. Sentou-se ao seu lado e perguntou: — Mas o que foi que houve? — O senhor é o Dr. Karl? Foi maravilhoso o senhor chegar. Meu nome é Margareth Simpson. Sou jornalista. O físico continuava amparando a pobrezinha, que tremia um pouco ainda. . . — Eu achei um rolo de microfilmes ontem e, quando fui ver, eram microfilmes aqui do Centro. O físico estava sério. — Eu queria entregá-los diretamente ao senhor, que é um dos diretores do Centro, mas aquele monstro lá em baixo — disse isso e deu um pequeno soluço — tentou me agarrar para tomá-lo ale mim... — Não fique nervosa, agora tudo está bem. Os filmes estão com você? — Estão na minha bolsa. O físico levantou-se e apanhou a bolsa de Poppy. — Não, por favor, não abra. Eu tenho algumas coisas... — Oh, perdão, eu me esqueci que não se abre bolsas de senhoritas. Poppy pegou a bolsa e empurrou a arma para o fundo. Apanhou o rolo de microfilmes e entregou a ele. — 26 —

— Não se vá ainda, você tem que descansar mais um pouco. Poppy já sabia o que ele desejava, e achou que era uma excelente oportunidade para saber de algumas coisas sobre o Centro. — O senhor não vai demorar... — Não me chame de senhor. Karl é bem curto e prático. E eu vou chamá-la de Margareth. — O senhor é tão bondoso... Poppy levantou-se para apanhar uma caneta que caíra no chão e Karl pôde então admirar todo o seu corpo. Ela abaixou-se e deixou à mostra um sensacional par de coxas. — Você é americana? — Sim. Nasci em Nova York. — A América é um lugar maravilhoso. Disse isso e colocou suas grandes mãos sobre as de Poppy, que fez cara de colegial inocente. — Eu gosto muito de lá. Estou na Europa fazendo umas reportagens para a National Geographic Magazine. Karl começou a acariciar as mãos de Poppy. Esta olhouo com um ar inocente e desabotoou sua camisa. — Você é forte, Karl... Os dois se beijaram docemente a princípio, mas a língua dele entrou vibrante na boca de Poppy. Ela se dobrou para trás e Karl abraçou-a com volúpia. — O que nós estamos fazendo, meu amor... — Estamos nos amando — disse ele, acariciando as pernas de Poppy. Ela abriu as coxas e deixou as mãos dele subirem até o meio das pernas. Deu um grito de prazer e unhou as costas do físico. Este mordeu o seu pescoço e depois colocou a língua no ouvido dela.

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Poppy despiu a parte de cima do vestido e deixou que ele brincasse com seus seios até quase o orgasmo. Karl estava vermelho e suado, e Poppy começou a beijá-lo todo. — Mein lieb Doktor... — Meg liebchen... A roupa dos dois caiu no chão. O jovem físico curtiu então o físico jovem e majestoso de Poppy. Beijou-a toda, até que ela ouriçou e pediu que a possuísse de vez. Karl não se fez de rogado, e os dois fizeram amor durante uma eternidade. Cinco vezes ele e ela explodiram numa tempestade de prazer e quase dor. Horas mais tarde, estavam os dois no sofá, cansados e satisfeitos. — Ainda bem que você trouxe os microfilmes, Margareth. Eles são muito importantes para umas experiências que estamos fazendo. — Sim? — ela sentiu que o físico caíra na esparrela. — São problemas relacionados com a desintegração do átomo. Bem, mas isso não deve importar muito a você. “Então ele está metido nisso também. Maggie me largou no maior rabo.” — Mas você não viu o filme ainda, como sabe se é o mesmo? — Pelo que você falou para o Schreiber. Eu estava na escuta o tempo todo. Fui eu mesmo quem mandou que ele investigasse. — Quer dizer então... — Não, meu amor, a culpa não foi minha. Foi ele quem exorbitou das funções. Mas nas fotografias aparecem três pessoas: Schreiber, Ferdinand, que foi encontrado morto ontem, e eu. “Então o terceiro homem é você, seu cretino.” — Parece que a sorte de nos encontrarmos foi mútua. — 28 —

Karl deu-lhe um pequeno beijo na boca e saiu do sofá. Mas deu um pequeno esbarrão na bolsa de Poppy e esta caiu no chão. Rolaram vários objetos femininos e apareceu o cano da Lugger. O físico olhou para o chão e tentou apanhar a arma. A agente deu-lhe um chute entre as pernas e ele rolou no chão, contorcendo-se em dores. Quando se levantou, a arma já estava na mão de Poppy. — Isso não vai adiantar nada. Você não pode sair daqui. — Você e Schreiber são os ladrões de cobalto. Por quê? — Descubra você mesma. — É melhor você falar. Eu não quero estragar sua cara bonita. Disse isso e bateu com o cano do revólver no nariz de Karl. Este deu um urro e tentou alcançar Poppy, mas ela bateu com o revólver no seu estômago. Karl caiu no chão e ficou ofegante. — Para que vocês estavam roubando cobalto? Karl resmungou qualquer coisa e Poppy chutou seu rosto. O sangue já começava a manchar o tapete. A agente 069 abriu a bolsa e retirou um cano silenciador. — É uma pena, mas vou fechar você. — Espere, espere, eu falo. Poppy fingiu que não escutou e continuou a colocar o silenciador no revólver. — Eu trabalho para Schreiber. E ’ele que dá fim no cobalto roubado. Nós sabíamos que havia gente investigando o roubo; por isso deixamos que Felix fotografasse a porta da sala de Radioisótopos, só para fisgar o peixe. Mas percebi que poderia ser uma mulher e aí você chegou. — Quem matou Lena? — Quem? — 29 —

Poppy deu-lhe outro pontapé. — Eu não sei de quem você está falando... Poppy desencapou o fio de um abajour, ligou na tomada e chegou bem perto de Karl. — Quem matou Lena? — Eu não sei... Poppy encostou os dois fios no nariz de Karl. Este gritou de dor e Poppy bateu-lhe na boca. — Não grite! Quem matou Lena? — Foi Ferdinand! Ele descobriu que ela era da C.I.A. e resolveu acabar com a festa. Lena vinha dormindo com ele constantemente e descobriu tudo. Poppy sorriu. As meninas da L.E.S.B. sabiam transar. — Para onde vai o cobalto? — Para lugar nenhum. Fica aqui no Centro mesmo, em uma outra sala. Poppy aproximou-se com os fios outra vez. — Eu juro! Posso lhe mostrar! — E por que vocês simulam o roubo? Se você mentir de novo vou lhe enfiar este fio onde você sabe onde. — É para derrubar o Diretor Geral. Com o Centro em nossas mãos, poderemos controlar a distribuição de cobalto para o mundo. Lena não era da C.I.A. Nem ela. Mas não fazia mal nenhum que ele acreditasse na estória. — Eu não acredito numa só palavra do que você disse. A porta da sala abriu-se e entrou Schreiber com uma arma na mão. Poppy foi mais rápida e acertou dois tecos na sua cabeça. Schreiber caiu para a frente, mas Karl agarrouse nas suas pernas, arranhando-as, mordendo-as. A pistola voou da mão da agente, e ela caiu por cima de Karl, que mordia um dos seus seios. Poppy agarrou o fio e

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passou-o em torno do pescoço de Karl que, quando percebeu a manobra, nada mais podia fazer. — Eu vou enforcá-lo, seu cachorro... E a mão dela não afrouxou um segundo sequer o fio, apesar da dor que sentia no seio esquerdo. Quando cessou a resistência de Karl, ela soltou a mão. O corpo dele tombou para a frente, pesadamente. Ela se levantou, limpou o sangue que escorria do seio e foi ver Schreiber, que jazia numa lagoa vermelha. Poppy vestiu-se rapidamente, fechou a porta da sala e deixou o microfilme na portaria, para ser entregue ao Diretor Geral. Telefonou da rua para a polícia e indicou a ocorrência. Mas ficaram vários furos na estória: para quem estaria sendo roubado o cobalto? Poppy não acreditava que fosse plano só de Karl e Schreiber. Havia mais coisa por trás de tudo aquilo. Se o plano fosse derrubar o Diretor Geral do Centro, não precisavam ter matado Felix e Lana. Quando chegou no hotel, conferiu as malas; haviam sido revistadas. Poppy tinha certeza que aquilo aconteceria. Virou-se para a janela e viu um homem atirando com um revólver de pressão. Uma pequena seta cravou-se em seu peito e ele imediatamente perdeu os sentidos.

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CAPÍTULO 4 O tempo é uma incógnita. E quem faz com que ele se escoe mais rapidamente ou não, somos nós mesmos. Não existe nada que defina com maior ou menor precisão este conceito. Quando Poppy acordou, poderia ser dez anos depois. Ou mesmo cinco minutos. Mas a realidade era intermediária: eram sete horas da noite. A cabeça da agente doía e rodava. Sua boca tinha um gosto ruim, e ela cuspiu para o lado. Tentou se mover, mas estava solidamente amarrada a uma mesa. Seus pulsos estavam presos com correias de couro, seus tornozelos também, as pernas abertas em cima do plano horizontal da mesa. Poppy sentiu-se como uma parturiente. Só que não sabia o que iria nascer. Quando olhava para cima, só conseguia divisar um globo de luz branca e forte, que incomodava a vista. Não — 32 —

adiantava fechar os olhos. A luz infiltrava-se pelas suas pálpebras até a retina. Não dava para virar de lado. O pescoço estava preso por uma espécie de argola de aço. O que ela pôde sacar da sala era que não havia móveis. Pensou em gritar para chamar alguém. Mas lembrou-se de que enquanto pensassem que ela ainda dormia, teria mais tempo de vida. Mas não estavam a fim de matá-la. Se quisessem, já o teriam feito. E de uma maneira indolor. Era só colocar um veneno na seta e pronto. Onde estaria? Apurou os ouvidos mas as paredes não permitiam que ruído algum passasse. O remédio era esperar. A cabeça de Poppy rodou de novo e ela entrou numa semi-inconsciência, calma e tranquila, onde não sentia seu corpo; era só a mente voando sem rumo. Foi despertada bruscamente com um grito. — Acorde! Olhou em volta e não viu ninguém. Devia ser um altofalante. — Você tem trinta segundos para responder a cada pergunta. Se acharmos que é mentira você vai pagar caro. Entendeu? E para reforçar o que a voz dizia, a argola de aço apertou um pouco o seu diâmetro. Poppy sentiu a garganta doer, o ar faltar, mas logo depois a argola afrouxou outra vez. — Seu nome! — Margareth Simpson. A argola apertou com violência. Poppy tossiu e tentou se torcer. Não havia como escapar. — Seu nome! A argola afrouxou e ela respondeu rapidamente. — 33 —

— Eva Brooklyn. — Procedência! — Nova York. — Organização! — O quê? Poppy tentava ganhar tempo, mas não havia jeito. A resposta da voz foi um aperto da argola, agora um pouquinho mais demorado, quase desesperante, quase mortal. Quando a argola afrouxou, ela estava extenuada. A luz em cima da sua cabeça começou a brilhar com mais intensidade. — Organização! — L.E.S.B. — Traduza! — Lady Evelyn Saint-Bell. Fez-se uma pausa de cinco minutos. A voz retornou com mais violência. — Não tem registro! Explique-se! C.I.A. ou NKVD? — Nenhum dos dois. É L.E.S.B. — Origem e localização! — Nova York. — Oficial? — Não. Particular. — Especifique localização. — Não sei. — Você tem trinta segundos para se lembrar. O mais importante era continuar viva. Poppy mentiu um pouco para ver se a voz acreditava. — Não sei. Nossa memória é apagada para que não nos lembremos, nem do lugar, nem do prédio. A voz fez silêncio total. Abriu-se uma portinhola e saiu um negro, com roupa de enfermeiro, com uma seringa na mão. — 34 —

— O que é isso? O negro não respondeu. Aplicou a injeção e se retirou com entrara. Dez minutos depois, a cabeça de Poppy começou a rodar. Parecia que havia abandonado seu corpo, e que estava vagando pela sala. Não sentia mais apertos na garganta e, na verdade, tudo estava em paz. — Eva? — Sim? Era a voz outra vez, só que macia, suave, tranquila. — Você está me ouvindo bem? — Estou, meu anjo. Pode falar. — Que bom que você quer falar comigo, não é? — É ótimo a gente conversar. Eu converso com todas as pessoas. — Eu sei disso. — Eu gosto muito de pessoas, sabe? O mundo estava cor-de-rosa. Ela não tinha com o que se preocupar. A voz só queria levar um papo. — Para quem você trabalha, Eva? — Agora eu trabalho para a L.E.S.B. — O que é isso, Eva? E Poppy contou tudo o que sabia sobre a organização. Falou de Maggie, de Diane, de Karl, de Felix. A voz entrava docetas, só perguntas. Quando terminou a conversa, Poppy adormeceu outra vez. E sonhou com uma voz que lhe dizia coisas tranqüilas e deliciosas. Acordou num quarto totalmente escuro. Estava no chão outra vez. Tinha perfeito conhecimento de que havia falado tudo para a voz, mas não houve possibilidade de resistência. — Você já acordou?

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Poppy reconheceu a voz outra vez. Só que agora ela não tinha o timbre metálico do alto-falante. Ela estava ao seu lado. Uma pequena luz se acendeu, e depois de uns instantes de ofuscamento, ela reconheceu quem falava. — Mara! — Ainda bem que você cooperou. Temi pela sua segurança todo o tempo. Mara sentou-se ao seu lado na cama, e só então Poppy percebeu que estava completamente nua. — O que foi que fizeram com você? — Mara acariciou o mamilo machucado de Poppy. — Karl Hennings me mordeu. Ele tentou matar-me. — E você o enforcou, não é? A sua posição é delicada, meu anjo. Você é uma assassina maravilhosa. E perigosa. Não podemos deixar você solta por aí. Poppy resolveu tentar um último trunfo. Agarrou freneticamente as mãos de Mara e trouxe-a para perto de si. — Estou grilada, Mara.... Não sabia que iria enfrentar isso tudo... Pensei que fosse um simples serviço de investigação. — Agora você já está por dentro e não pode sair. A melhor maneira de evitar problemas é ficar do lado certo. — E qual é o lado certo? — O nosso. Somos a Frente de Libertação da Cortina de Ferro. Vamos derrubar todos os governos despóticos que destruíram nossas pátrias. — Que bom que você me entendeu... Eva disse isso e beijou Mara de leve nos lábios. A aeromoça não resistiu mais. Trouxe o rosto de Eva para junto ide si e beijou seus olhos, nariz, boca, num frenesi desesperado. Eva enviou a mão dentro da blusa dela e acariciou os mamilos, que já estavam duros de excitação.

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Mara debruçou-se sobre a outra e deixou que 069 enfiasse a mão entre suas pernas. Ficaram as duas curtindo durante alguns instantes, até que Mara tirou a roupa toda. As duas mulheres ficaram frente a frente, se admirando, se acariciando, loucas de vontade de ter prazer. Os seios se chocaram num abraço louco e rolaram as duas na cama. Eva descobriu então que estava realmente excitada, e que não tinha o menor grilo por causa disso. Entregou-se furiosamente às transas que a outra propunha, fosse com a boca, fosse com as mãos, fosse com os seios, fosse o que fosse. A calcinha de Mara estava atirada a um canto e Eva abriu as pernas para que a outra a beijasse até o fim, enquanto sua mão ia se esticando até apanhar a peça da outra. Quando ia alcançar a calcinha, seu corpo explodiu num desvario de prazer. — Você foi, meu amor? Você foi? Eu também quero ir... Eva passou por entre as pernas de Mara e a beijou a princípio cuidadosamente, depois com raiva. Mara gritava e gemia. A mão da agente 069 segurou finalmente a calcinha e quando Mara estava quase atingindo o êxtase, num pulo de gata Eva tapou-lhe a boca e o nariz. Mara tentou reagir, mas a agente golpeou sua nuca com violento murro, desacordando-a. Eva rasgou o lençol, fez quatro tiras, e com elas amarrou Mara. Arrastou-a para debaixo da cama, depois de tirar-lhe a roupa.

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Havia uma pia no quarto e ela lavou o rosto antes de sair. Vestiu-se com a roupa de Mara, abriu a porta vagarosamente, e viu um corredor comprido, bem iluminado, completamente vazio. Quando ia sair, olhou para o chão e viu que na porta havia uma célula fotoelétrica. Se saísse, dispararia um alarme. Passou por baixo do jato de luz cuidadosamente, para não interromper o fluxo de energia, pois era isso que determinava o disparo do alarme. Cinco minutos mais tarde estava fora de alcance. Caminhou com passo felino pelo corredor até uma porta de aço. O sistema era igual ao da L.E.S.B. Procurou o cartão nos bolsos da roupa de Mara, esperando que ele não tivesse caído durante a curtição na cama. Achou-o e mostrou-o à câmera de televisão. Imediatamente a porta se abriu e ela entrou confiante na sala seguinte. Onde quer que estivesse, precisava sair dali no pinote. Poderia enganar o computador, mas nunca as pessoas. Viu uma clarabóia no teto, e sentiu então que era a única solução. A porta dera passagem a um outro corredor, também vazio. Havia uma escada de incêndio e Eva subiu-a rapidamente. Levantou a tampa da claraboia e esgueirou-se para fora. Era o terraço de um prédio. Eva quase desmaiou de susto quando descobriu que estava em plena Burgostrasse, diante de seu hotel. Estava sendo vigiada todo o tempo. Abriu uma porta na parede e descobriu um pequeno arsenal, com metralhadoras portáteis, rifles de repetição, pistolas. Apanhou uma Lugger igual à sua e meteu-a dentro do avental branco de Mara. Pegou também uma pequena

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metralhadora. Carregou-a com um pente cheio e voltou para o terraço. Só havia um meio de escapar — passando para o prédio ao lado. Correu para a outra ponta do terraço, rodeando a casa de máquinas do elevador, e deparou-se com dois guardas. Poppy não parou para perguntar. Abriu fogo com a pequena metralhadora. Os guardas executaram uma macabra dança à medida que os projéteis iam se alojando no seu corpo, com gritos e gemidos angustiados. Eva subiu na mureta e viu que havia um espaço de dois metros entre um prédio e outro. Ouviu passos às suas costas e já virou- se atirando, para encontrar Mara, com rosto assustado, vomitando sangue. Um guarda ainda levantou os braços, mas Eva foi impiedosa e o abateu com uma rajada no peito. Não esperou mais. Atirou-se em direção ao prédio seguinte com toda a sua vontade de viver. Pendurou-se num aparelho de ar condicionado, enquanto duas balas arrebentavam a janela de vidro. Era a morte ou quase. Eva rodou e se atirou para dentro da janela. Não havia ninguém no apartamento, e ela continuou rodando até estar a salvo das balas. Abriu a porta da quarto e saiu do apartamento, descendo as escadas correndo. Chegou à portaria com a Lugger na mão, mas não havia ninguém esperando. O remédio agora era fugir o mais rápido possível. Bonn era uma cidade mortal e linda. Como um assassinato.

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CAPÍTULO 5 — Estou perdida, Maggie. Preciso imediatamente de umas informações. O telefone deu um clique metálico e a voz do outro lado aguardou um pouco antes de responder. — Onde você está? —Na Central Telefônica de Bonn. Comprei algumas roupas e troquei de vestimentas na própria cabine da loja. Não há possibilidade de retornar ao hotel. — Vou ligar para você dentro de dez minutos. Temos que localizar a Frente de Libertação da Cortina de Ferro nos nossos arquivos. Mas receio que não tenhamos muita coisa. — Por favor, Maggie, ande depressa. Não tenho muito tempo. — Como você nos localizou? —O seu nome consta na lista telefônica de Nova York. Quem atendeu na sua casa foi uma empregada, e eu

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implorei para que ela lhe desse o recado. Parece mentira, mas vocês me deixaram... — Não foi isso, Poppy. Tínhamos que ver como você se saía. Bem, aguarde um pouco. Poppy saiu da cabine e sentou-se num dos numerosos bancos da Central Telefônica de Bonn. Eram onze horas da noite e estava exausta. Suas mãos tremiam um pouco, e ela acendeu outro cigarro, para não dormir sentada. Dez minutos depois, o alto-falante a chamou na cabine 15. — Não vou perder tempo com detalhes, Poppy. A Frente era especializada em atravessar gente de um lado para o outro do muro. Depois uniu-se a um grupo de terroristas japoneses e sumiu de vista. Os dados mais recentes sobre a organização foi você mesma quem deu. Agora escute bem. Saia de Bonn agora mesmo. Você está marcada. Há uma pequena cidade na estrada que leva ao Autódromo de Zustweg. Chama-se Leidenschaft. Lá mora um grande amigo nosso, Anthony Simon. Hospede-se na casa dele até que as coisas tenham serenado. Depois mandaremos instruções. Poppy desligou o telefone e saiu rapidamente da Central. Passou numa das várias lojas Hertz e alugou um carro, já que não tinha confiança nos táxis. Antes de abandonar a cidade, deu uma pequena perambulação pelas lojas de objetos de camping. Bonn à noite assemelhava-se a qualquer grande capital europeia. Mas era uma cidade triste, onde as pessoas se escondiam atrás de um formalismo que chegava a ser rude. À meia-noite e quinze, Eva entrou na auto-estrada que levava para Zustweg. De acordo com o mapa, eram noventa e seis quilômetros até Leidenschaft. Em menos de uma hora estaria lá. — 41 —

A viagem decorreu tranquila, e Poppy chegou à cidade a uma hora e dez minutos da madrugada. Estava tudo apagado, mas ela descobriu um posto telefônico e ligou para a casa de Anthony Simon, depois de procurar no catálogo de assinantes. — Mr. Anthony Simon? Aqui fala uma amiga de Maggie. — É um prazer ouvir uma amiga de... A voz do homem foi cortada por dois estampidos abafados. Do outro lado da linha, Eva ouviu gemidos, e depois o fone caindo ao chão. Desligou o telefone e raciocinou rapidamente: ‘‘Eles já estão aqui. Ainda bem que fiz as minhas compras. Pulou para o carro e desapareceu da cidade. Entrou por uma pequena estrada de terra batida e andou uns dez minutos. Dobrou numa outra estrada à esquerda e parou. Estava exausta, os braços dormentes, a cabeça rodando. Saltou do carro, abriu o porta-malas e retirou uma sleepingbag. Abriu-a no chão, não antes de tomar três goles numa garrafinha com conhaque. E dormiu como se tivesse tomado uma dose mortal de soporíferos. Quando abriu os olhos na manhã seguinte, um odor estranho invadiu seu nariz. Que cheiro era aquele? Poppy abriu os olhos lentamente e viu que estava cercada de barracas. Havia parado perto de um agrupamento qualquer. E o cheiro ela reconheceu pouco depois: era marijuana. Duas moças e um rapaz estavam sentados perto dela, olhando-a com interesse. Um cigarro corria de mão em mão, e Poppy olhou firme para eles. — Começar o dia assim não deve ser muito saudável. — Começar? É meio-dia, boneca. — Onde estou? — 42 —

— Acampamento Vishnu. Este é o refúgio dos que sofrem na cidade, e querem um pouco de paz. Poppy olhou intrigada para os jovens. Nenhum deles aparentava ter mais de vinte anos, mas todos tinham um aspecto cansado. — Você veio em busca de paz, também? — Pode-se dizer que sim. — Então entre na nossa. Poppy levantou-se e passeou pelo acampamento. Todos estavam ocupados em alguma coisa, e eram poucos os que ficavam deitados ao sol, sem nada fazer. Crianças brincavam nuas na relva, e como o acampamento estava localizado perto de um rio, volta e meia uma delas buscava um balde com água. Poppy sentiu fome, e foi até seu carro apanhar os alimentos congelados que comprara. Quando estava arrumando gravetos para fazer uma fogueira, viu que uma menina loura, muito bonita e muito magra, estava olhando para ela. — Quantos anos você tem, meu amor? — Dezesseis — respondeu. — Você quer comer comigo? — Não como essas drogas enlatadas. — O que você come? — Coisas que não façam mal ao meu corpo. Macrobiótica. — Você não está muito corada... — Primeiro, o seu conceito de beleza é imbecil. Carne não é sinônimo de saúde nem vitalidade. Segundo, sou homem. Poppy olhou de novo. Era garoto ou garota? Não tinha nenhum pelo no rosto, nem nos braços. O cabelo era liso e

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louro, e descia até os ombros. Os olhos azuis e fundos eram um pouco opacos. Parecia um anjo. — Como é seu nome? — Aphrodite. — Mas é um nome de mulher... — E daí? Aposto que você está cheia de preconceitos. Poppy caminhou até o garoto e beijou-o na boca. Ele não se moveu. Deu um sorriso cansado para a agente, e depois foi embora. Poppy ficou olhando-o desaparecer no meio das barracas. Achou que a melhor maneira de se esconder era ali. Ninguém desconfiaria que uma agente estaria escondida num acampamento hippie. Por precaução, escondeu o carro perto dum bosque. Vestiu uma calça comprida, passou uma fita na testa, e se enturmou com o grupo. Passaram-se três dias, e ela ficou ocupada em coisas simples como lavar as roupas, fazer comida, dormir bem e descansar. Naquela noite, Aphrodite veio procurá-la. Com seu jeito descansado de falar, puxou assunto. — Por que você está aqui? — Cansei-me da vida que levava. Resolvi viajar; e caí no meio de vocês. Ninguém me incomodou, nem pediu que me retirasse. Então resolvi ir ficando. — Tenho sonhado com você esses dias. Não vim falar antes porque fiquei com medo que não me entendesse. — Falar o quê? — Eu quero dormir com você. Poppy virou-se para o garoto. A luz do fogo dava-lhe uma certa inconstância de traços; ele parecia uma projeção de uma milenar figura grega. — Você é a mulher mais bonita que já conheci. — 44 —

— Eu também tive vontade de dormir com você. Mas achei-o muito novo. — Qual é o grilo? Adolescente não tem sexo? Poppy não queria discutir aquele tipo de coisa. Na verdade, estava doidona para agarrar o garoto, mas até então a coisa lhe parecia proibida. — E então... — Você está a fim e não o faz. Por quê? Poppy não pensou mais. Caminhou até Aphrodite e acariciou seu pescoço. — Vamos sair daqui — disse eia, pegando-o pela mão. Caminharam até o bosque próximo. Estenderam-se numa pequena montanha de folhas secas e ficaram olhando para cima. — A vida na cidade mata a gente. Poppy não respondeu. Sua cabeça estava tumultuada, ela não sabia que papo levar com o garoto. A mão magra e ossuda de Aphrodite acariciou seu rosto. Ela beijou-lhe as mãos, enquanto ele soltava os longos cabelos da agente. — Você quer mesmo...? Poppy trouxe o garoto para junto de si, e mordeu seus lábios finos e sensuais. A língua de Aphrodite acariciou a dela, num gesto envolvente de carinho. Poppy se ouriçou. A mão dele desabotoou a blusa da agente, deixando que os seios ficassem rijos, duros, prontos para serem tomados. Mas ele não o fez. Poppy gemia baixinho, mas Aphrodite não tinha a menor pressa. O garoto não era nada otário. A agente 069 tirou a camisa dele e percorreu com a boca o peito magro do guri. Os corpos dos dois se esbarraram ligeiramente, num movimento acompanhado pela ramagem — 45 —

das árvores. A noite estava muito clara, e os dois amantes se viam inteiros. Aphrodite começou então a beijar maciamente os seios de Poppy. A agente estava ofegante, quase louca de prazer. À medida que o garoto ia aumentando a intensidade dos beijos, ela gemia mais e mais, murmurando entre dentes o nome dele. — Amor... amor... Poppy desabotoou o fecho das calças dele e ele fez o mesmo com as dela. Os dois se despiram sem as mãos, num ritual estranho e bonito, as pernas se entrelaçando, os pés segurando as barras. Eles se abraçaram de frente, e se morderam nos lábios, nos ouvidos, no pescoço, se entredevorando. Aphrodite acariciava o sexo de Poppy, que se torcia como uma leoa no cio. Abraçou a cintura dele e veio beijando tudo o que encontrava pela frente, até que ele deu um gemido de prazer mais longo. — Calma, amor, não vá ainda, eu quero ir com você... Os dois rolaram na cama de folhas e Poppy descobriu então que a ilha do Pacífico poderia ser em qualquer lugar da Terra. O problema era estar com as pessoas certas e Aphrodite era uma delas. O garoto abriu as pernas da agente e passou para cima dela. Poppy quase desmaiou quando ele veio, e o ritmo dos seus movimentos foi ficando cada vez mais frenético, até explodirem juntos. Não descansaram. O garoto era um gênio em malabarismos e novas táticas. Poppy estava encantada coma capacidade dele em aceitar coisas novas.

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Brincou com ele durante uns cinco minutos antes de começarem tudo outra vez. O garoto era esguio e criava com* o corpo formas novas de se fazer amor. Poppy sentou-se numa pedra, enquanto ele ficava embaixo, beijando suas pernas, seu ventre, seu sexo. Ela atingiu o orgasmo e, depois, ele ficou em pé, entrando e saindo, numa brincadeira de gato e rato, que deixou a agente baratinada. Abraçaram-se de novo em cima da cama de folhas, e dessa vez não pararam. Emendaram quatro vezes seus prazeres, até ficarem extenuados. — Você trouxe cigarros? — Não, vou lá em baixo buscar. — Traga dos meus, não dos seus — disse ela, rindo. Quando ficou sozinha, Poppy pensou na sua vida toda. Parecia que havia encontrado o lugar ideal para viver eternamente. E Aphrodite era uma pessoa maravilhosa. Apurou os ouvidos para escutar melhor o barulho das matas ao redor. E ouviu o matraquear de uma metralhadora. Vestiu-se rapidamente e desceu para o acampamento. De cima pôde ver as barracas em chamas e correu até o carro para apanhar a Lugger. O carro estava todo quebrado, os pneus furados, vidros partidos, os bancos rasgados no chão. Ela apanhou a pistola no porta-luvas e veio se escondendo por trás das árvores. Partiam gritos e gemidos do acampamento. Ela lembrou-se de Aphrodite. Provavelmente a Frente havia descoberto seu carro e atacara o acampamento. Os garotos não tinham nada com aquilo. Eram todos gente simples e pacata. Ouviu passos e gritos. Escondeu-se bem a tempo de ver passar dois homens com metralhadoras, com um grupo de

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moças. Elas foram encostadas numa pedra grande, e revistadas. — Não é nenhuma delas! — Então acabe com estas porqueiras! Só fazem empestar o mundo! As duas metralhadoras funcionaram em uníssono, e as seis meninas tombaram sem vida. Eva não aguentou mais. Matou os dois homens pelas costas, da mesma maneira que se abate um porco. Um tiro na nuca de cada um, e era pouco. Voltou correndo para o acampamento, mas só encontrou cinzas. Os assaltantes já haviam se retirado. A agente passeou entre os escombros, mas só encontrou cadáveres. Ouviu um gemido mais forte, e voltou-se. Era Aphrodite, caído num canto formado por duas pedras, sangrando pela boca e pelo peito. — Você... trouxe... a cidade... contra nós... — Não tive culpa, amor... não tive culpa... Ele olhou a pistola fumegante na mão dela, deu um sorriso apagado e terminou falando: — A violência. . . está em você... não na cidade... Poppy jogou longe a pistola, mas ele já havia morrido. Ela chorou copiosamente. Mas levantou- se, enxugou as lágrimas, e passou a noite enterrando os cadáveres que encontrava. O sol encontrou-a de pé, com a mão cheia de calos. Fizera uma vala única para todos eles, com exceção de Aphrodite, que enterrou sob a cama de folhas no bosque. Agora ela tinha uma dívida pessoal com a Frente. Não descansaria enquanto não exterminasse com eles da face da Terra. Olho por olho, bala por bala, morte por morte. — 48 —

O mundo que se danasse. Mas ninguém matava os amores de Eva Brooklyn impunemente. Apanhou a pistola e caminhou para a estrada.

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CAPÍTULO 6 A Frente de Libertação da Cortina de Ferro massacrara vinte e sete pessoas. E eles eram duros — destroçavam tudo aquilo que se impusesse entre eles e seus objetivos. Tinha sido assim com o acampamento perto de Leidenschaft. A violência de seus ataques começou a aparecer por todas as partes. Mas Poppy não se importou mais com a possibilidade de morrer. Abandonou toda e qualquer ideia sobre a organização e dedicou-se exclusivamente ao seu projeto de vingança pessoal. Voltou a Bonn depois de quatro dias de descanso numa pequena hospedaria à beira da estrada de Zustweg. Tinha duas possibilidades: sabia a localização da Central da Frente, e seus amigos da América poderiam enviar reforços e... Mas não. Poppy sabia que Maggie jamais aprovaria aqueles planos loucos.

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Pintou seus cabelos de louro, e passou a se maquilar para que não fosse reconhecida facilmente. O diabo eram seus olhos azuis; todo mundo se impressionava com eles. Em Bonn se hospedou numa pensão barata. O dinheiro estava acabando e não poderia voltar para Vermonnt. A mulher da portaria não fez perguntas e aceitou o dinheiro. O quarto era realmente horroroso. Meia hora depois que havia deitado para descansar, bateram à porta. Eva pulou da cama com a Lugger na mão e se encostou na parede. — Quem é? — Polly Sinfield. Se tivesse respondido que era a Rainha da Inglaterra, Poppy continuaria na mesma. — O que você quer? — Sou amiga de Maggie. Eva pensou duas vezes. A Frente já sabia de tudo sobre a L.E.S.B., mas podia ser que Maggie enviasse alguém. Tinha que correr o risco. — Eu vou abrir a porta. Entre com as mãos para cima. Abriu a porta vagarosamente, e Polly entrou com as mãos displicentemente para cima. — Já acredita em mim? — Não. Como você me achou? — Desde que você saiu de Bonn está sendo seguida. — Então sabem de tudo... até que mataram Simper. Polly balançou a cabeça e falou num tom grave. — Você se deixou envolver pelo serviço. Isso é mal. — Eles mataram vinte e sete pessoas inocentes como... — Cale a boca! Não comece com chiliques! Muito mais gente está morrendo todo dia e você não se preocupa! Mas quando fuzilaram o seu garoto, você se transformou na paladina da justiça e quer acabar com a maldade no mundo! — 51 —

— Mas eles são... — Nós sabemos o que eles são. Mas não vai ser desta maneira que vamos pegá-los. — E vamos pegá-los? — Poppy abriu um meio sorriso. — É lógico. Foi para isso que Maggie me mandou. Vamos trabalhar juntas, Poppy. A Frente está assaltando todos os depósitos de cobalto da Europa. Nossa função é deixar tudo bem claro para a polícia alemã. — Estou começando a acreditar em você, Polly. — É bom que acredite logo. Não temos muito tempo. Polly correu os olhos pelo quarto. Torceu o nariz e falou com desprezo. — Lugarzinho nojento... Isto é moradia? — O dinheiro estava acabando. E eu queria ficar incógnita. Não havia jeito de retornar ao hotel. — Vamos sair daqui. Estou num apartamento na Gortestrasse. Sabe onde é? — Não. — Fica perto dos campos. Um pedaço da Alemanha que está acabado aos poucos. — De quem é a casa? — De Maggie, ora. De quem mais poderia ser? Poppy não se convencera ainda. Faltava que Polly desse um toque especial. — Tenho um recado. Dy mandou avisar que está esperando você em Londres. Quando a missão acabar... Poppy baixou a arma. Riu para Polly e descansou. A outra era uma mulher magra, de formas bem-feitas, morena, olhos castanhos, que fumava cigarros sucessivos o dia inteiro. Partiram meia hora depois. O carro de Polly era um Mercury 1956, antiquíssimo. Atravessaram a cidade na

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direção sudeste. Bonn, pela tarde, parecia ser o centro nervoso do universo. Chegaram às duas e meia à casa de Polly. Era um pequeno edifício de três andares, e em volta só havia casas. Antes de entrarem, Polly falou qualquer coisa para um homem que estava aparando grama. Depois entraram e subiram as escadas. Quando Polly abriu a porta do terceiro andar, deparou-se com um apartamento pequeno, mas muito bem decorado. O ar condicionado mantinha a temperatura sempre a vinte graus, e o bar estava sempre aparelhado. Poppy jogou-se numa poltrona de pele de zebra e descansou pela primeira vez em cinco dias. Imediatamente seus centros nervosos se desligaram e um incrível cansaço se apoderou de seu corpo... — Polly... — Eu sei. Venha comigo que lhe mostrarei o quarto. A morena levou Poppy pelo braço até um pequeno quarto. Deitou-a na cama e tirou sua roupa. Poppy, na modorra do sono, sentiu um imenso carinho por aquela mulher que cuidava dela. Depois foi o sono, um enorme e profundo lago, e Poppy mergulhou até as profundezas de si mesma. Às dez horas da noite ela acordou. Polly entrou no quarto com uma bandeja com o jantar. As duas comeram juntas e conversaram sobre coisas simples e sem importância. Falaram de si mesmas e da vida que levavam. — Sou amiga de Maggie há muitos anos. Ela cuidou de mim quando minha família morreu num desastre de avião. E não tinha mais ninguém, e ela era uma grande amiga da família. — Quantos anos você tem? — Vinte e Bete. — 53 —

Poppy olhou para ela e sorriu. As duas estavam se entendendo muito bem. Passaram para a sala e enquanto Polly preparou drinques, Poppy tomou um banho. Vestiu um roupão e quando voltou para a sala, a amiga estava deitada no chão, em cima do tapete de pele de búfalo. Passaram a noite conversando. Às quatro da madrugada, Polly sentiu sono. — Venha conhecer o meu quarto. As duas entraram num pequeno aposento, todo forrado de veludo, com uma cama de casal. — Por que de casal? — Eu morava com um amigo. Mas ele se mandou depois de uma discussão. E Polly não quis falar mais. Poppy passeou pelo quarto, admirando os pequenos detalhes. Quando virou-se para Polly, estava arfante, com o rosto um pouco corado. — Não vá... — Eu ia pedir para ficar. Polly estendeu a mão e acariciou o rosto de Poppy. A outra beijou-lhe a palma das mãos e as duas se abraçaram. — Eu estava com vontade de abraçá-la desde que a vi. — E por que não o fez, bobinha? — Poppy deu um sorriso. — Eu não sabia que você queria... — As pessoas deviam se abrir logo. A gente se esconde por trás de uma máscara e fica com medo de se mostrar. — Vem... Polly abriu a boca e deixou que a língua de Poppy entrasse. Prendeu-a com os dentes, enquanto a sua língua fazia carinhos na boca da amiga.

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A mão de Poppy passeava pelas costas de Polly, arranhando, acariciando, descendo até as nádegas para subir num pulo rápido. Polly desabotoou o roupão de Poppy e começou a beijar seus seios. Poppy fechou os olhos e se entregou à boca daquela mulher, que naquele instante se transformara em amante e amada. Poppy tirou a blusa da amiga. Seus seios eram miúdos e macios. Deixou a mão escorrer entre eles, e Polly gemia junto ao seu ouvido. Deitaram na cama, as pernas enlaçadas, as bocas unidas e em movimento, as línguas céleres e constantes. — Ai, amor, você me mata... Em três movimento rápidos, Polly ficou só de calcinhas. Seu corpo magro se estendia em convulsões de prazer, e Poppy mordeu seus dois ossos do ilíaco, proeminentes e sensuais. Polly abriu as pernas de Poppy e beijou-a então. A outra rodopiou na cama e abriu as pernas da amiga também. E ficaram as duas durante algum tempo como loucas, gemendo e suspirando, até que explodissem quase que simultaneamente. Mas não era tudo. Poppy e Polly tinham muito para se dar. Eram duas pessoas normais que se amavam, que se queriam, que se desejavam. Seus corpos belos e sensuais existiam para dar prazer. E eles não se negavam nada. A mão de Polly acariciou o sexo de Poppy, que estava em chamas. Poppy mordeu o pescoço da amiga e beijou-a no ouvido, a língua entrando e saindo, os gemidos cortando a noite. E quando o sol nasceu, encontrou as duas mulheres abraçadas, dormindo o sono do cansaço, depois de uma noite inteira de amor. — 55 —

Acordaram tarde. Almoçaram tranquilamente na varanda e passearam de mãos dadas pelos jardins da propriedade. Polly levou-a para conhecer a criação de pássaros do jardineiro. Atrás de um viveiro estava um barracão. Polly levou-a lá dentro. — Helmut! O jardineiro apareceu. Era um homem forte, de rosto marcado e frio. — Esta é a senhorita Poppy. Trabalha conosco. O homem fez uma reverência. Depois, acendeu o cigarro que estava apagado no canto da boca e esperou ordens. — Vamos ver o material. Saíram os três para uma cisterna, que ficava ao lado do barracão. Helmut levantou a tampa, e desceram por uma escada. Era um depósito de armas e munições. No fundo, um rádio de longo alcance. — Não estamos desprevenidas. Tenho certeza que a Frente está no seu alcance. Eles não desistem facilmente. E, se vierem, temos com que recebê-los. Helmut, leve armas para casa. E venha dormir no edifício. Estamos em guerra. Passaram a tarde cercando o prédio com dispositivos de segurança. Em cada quarto havia uma metralhadora portátil, granadas de mão e pistolas. Tudo era pago com dinheiro da L.E.S.B. Poppy passou o tempo todo numa alegria feroz. Suas retinas ainda traziam as cenas do massacre do acampamento. Ela iria se vingar. A noite chegou de mansinho e Helmuth ligou quatro holofotes que iluminavam a estrada e a entrada do prédio. Estava tudo pronto. Faltava chegar o outro lado. — 56 —

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CAPÍTULO 7 Às dez horas da noite, as luzes do prédio se apagaram. Helmut apanhou então três lanternas de longo alcance, e ficaram todos na sacada do segundo andar, cobrindo a única entrada do prédio. Passaram-se quinze minutos. Vinte. Meia hora. Nenhum movimento ou barulho. — Onde estão? Helmut deu uma risadinha fria. Polly fumava com a mão em concha para que não vissem a brasa do cigarro. Houve um clarão na portaria e a mureta que protegia os jardins caiu, seguindo-se uma terrível explosão. Fragmentos de pedra caíram sobre os três. Havia muito pó e a visão de todos ficou prejudicada. Quando a poeira assentou, puderam perceber movimentos no barraco do outro lado da estrada.

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— Só atire quando eles estiverem em cima. Não podemos perder munição. Quem está cercado está sempre em desvantagem. Helmut falava pouco mas era direto. — Quantos serão? Não houve tempo de responder. Animados com o silêncio na casa, os assaltantes vieram se aproximando mais. Poppy cobriu o lado esquerdo da sacada, Helmut ficou no meio e Polly ficou do outro lado. Eles vieram rastejando, com fuzis e metralhas, grudados ao solo como num campo de batalha. Não dava para ver os rostos, mas ouviam-se as vozes. Quando estavam a dez metros da entrada, Helmut deu início ao concerto. As rajadas incessantes destroçaram as linhas inimigas. Os homens morriam agarrados ao solo, sem tempo de reagir. Os que corriam para trás eram impiedosamente derrubados pela metralha de Polly e Poppy. Os poucos tiros que foram disparados contra a casa, não chegaram a ameaçar os três. Quando se fez silêncio, Helmut passeou a lanterna pela frente da casa. Quatro corpos jaziam visíveis. Havia sangue em abundância no calçamento. Havia um quinto homem gemendo perto da mureta destroçada. — Acabe com aquilo logo, Helmut — Polly falou com os dentes trincados. — Mas... — Poppy tentou falar. — Você já viu onde ele está ferido? Nos pulmões. Faça o que disse, Helmut. A metralhadora cantou mais uma vez, cortado o abdômen, o peito e a cabeça do ferido. Ele se moveu violentamente enquanto as balas o atingiam, mas depois sossegou. — 59 —

— Vamos esperar. Poppy suava a cântaros. Sua mão, agarrada na arma, estava escorregadia. Ela própria havia matado dois. Vira bem quando os homens estavam bem na mira de sua arma. Apertara o gatilho com ódio, com raiva, e podia imaginar as balas penetrando na carne macia e quente, os rombos disformes, o sangue escorrendo, os gritos, a dor. Quando os outros começaram a retroceder, ela e Polly fizeram um fogo cruzado magnífico. Havia mais gente morta. Mas deviam ter caído longe do alcance da lanterna. O fogo cruzado é a mais terrível das combinações de tiro. O corpo é perfurado de dois lados, e não há possibilidade de um órgão vital não ser atingido. Passou-se mais algum tempo. De repente, do lado do prédio, surgiu um fogo. Aumentou de intensidade, e começou a chamuscar a beirada da sacada. — Lança-chamas! — gritou Heimut. Imediatamente Polly apanhou duas granadas, destravou-as e atirou-as para baixo. As duas explosões foram quase simultâneas, e o lança-chamas apagou-se. Mas os assaltantes conseguiram o que queriam — tempo para se entrincheirarem mais perto do prédio. Uma saraivada de disparos atingiu a sacada e os três ficaram deitados, esperando uma folga. Helmut correu para o terceiro andar e ficou de cima, tentando localizar os assaltantes. De uma porta da esquerda correram dois homens tentando alcançar a porta. Helmut deu quatro rajadas curtas e os homens foram atirados ao solo. O jardineiro atirou mais duas vezes em cada um para se certificar de que estavam mortos e desceu para o segundo andar. — Eles estão do lado esquerdo. Ainda não tem espaço para atirar granadas, mas temos que detê-los. — 60 —

— Como? Não temos nenhuma arma de longo alcance. E esses desgraçados estão até com lança-chamas... Uma saraivada de balas se abateu sobre a sacada. Os homens estavam chegando cada vez mais perto. Helmut debruçou-se cada vez mais e varreu a frente do prédio. Polly puxou-o pelas pernas. — Não faça isso! Não podemos nos dar ao luxo de morrer. — Mas eu... — Cale-se! Não sei como vamos sair dessa, mas não vai ser mostrando a cara para eles que vamos conseguir. Escutaram ruídos na porta. Eles haviam conseguido escapar da mira da metralha e já estavam dentro do prédio. Poppy correu para a porta e se pendurou no corrimão da escada. Quando viu a primeira sombra, começou a metralhar. Mas eles eram muitos, e ela teve que recuar. — Abaixe-se! - gritou Helmut. Voaram duas granadas de mão e os ouvidos de Poppy se tamparam com a explosão. Polly se escondeu atrás do bar enquanto Poppy colava-se à parede. Dois homens ensanguentados entraram na sala, e Poppy metralhou-os cara a cara, sentindo o hálito deles, o sangue espirrando na sua roupa. Quando o terceiro homem entrou, Helmut abateu-o com uma coronhada e fuzilou-o a sangue frio, com uma rápida rajada na cabeça. Pedaços do crânio voaram e bateram nos braços de Poppy. Ninguém mais entrou. Polly voltou para a sacada, mas não havia mais movimento. — Terminou? — Poppy estava ofegante. — Não acredito. — Helmut estava sorridente, parecia um açougueiro trabalhando, com manchas de sangue na roupa. — 61 —

Houve uma outra pausa. Poppy e Polly beberam uísque na garrafa. Helmut não quis beber. Quarenta minutos depois, ouviram um ruído que vinha se aproximando lentamente. Era um motor seguro e frio. A eficiência das máquinas de matar. Helmut olhou triste para as duas mulheres e revelou: — Helicóptero. Havia acertado em cheio. Um helicóptero aproximavase do prédio lentamente. Deus duas voltas largas antes de se chegar de vez. Passou com as portas abertas, com uma metralhadora .50 vomitando balas mortais. Os três se colaram na parede bem a tempo, e os móveis da sala efetuaram uma dança macabra sob o impacto das balas. Afastou-se e reiniciou a volta. — Eles não vão errar dessa vez. Helmut apanhou duas granadas e trincou os dentes. O ruído das hélices ia aumentando o ritmo e Helmut destravou as granadas. Contou até cinco, e quando o helicóptero estava bem em frente à escada, ele levantou-se. As balas da metralhadora cortaram seu corpo ao meio, mas o impulso que ele dera fora grande, e as duas granadas explodiram dentro da cabine do piloto. A máquina voadora desgovernou-se e, diante dos olhares apavorados das duas mulheres, precipitou-se ao solo e explodiu violentamente. As labaredas começaram a atingir o prédio, e as duas mulheres se beijaram. Helmut gemia no chão. Polly aproximou-se dele e colocou a mão na sua boca. — Eu... derrubei... ele? — Derrubou, Helmut, derrubou. Você nos salvou. — Eu gosto... muito da senhora. . .

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Polly colocou os dedos sobre a boca de Helmut, que vomitou sangue violentamente. — Está um... pouco tarde... para dizer..., mas... eu te amo. Polly ficou junto dele até que morresse. A vida do jardineiro se apagou de repente, sem um lamento. Poppy falou baixinho: — Vamos. O prédio está se incendiando. Escutaram tiros do lado de fora. Havia mais alguém do lado deles. — Maggie deve ter avisado a polícia. Mas eles chegaram um pouco tarde. — Como Maggie soube? — Ela faz uma transmissão todos os dias às duas horas da manhã. Se não obtém resposta, combinamos chamar a polícia. Desceram as escadas, e saíram por uma janela lateral. O cheiro de queimado era horroroso, e Poppy sentia-se extremamente infeliz. Matara muitos homens. Mas a lembrança do acampamento não saía da sua cabeça. Era como dizia Aphrodite — a violência estava dentro dela, não fora.

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CAPÍTULO 8 Londres é uma festa. Mas isto agora, depois que as novas gerações explodiram com a capa conservadora da cidade. E o ranço de tradicionalismo que restou, serve para dar um colorido diferente ao ambiente. Poppy acordou na suíte do Kin George Hotel. Espreguiçou-se sensualmente e olhou as horas: dez da manhã. Cutucou Polly, que se remexeu e acordou. — O que é? — Temos um encontro com Dy. Deixe de ser preguiçosa. Poppy pulou da cama e telefonou, pedindo o café. Correu para o banheiro e tomou uma chuveirada revitalizante. Estava feliz a lua-de-mel com Polly era agradabilíssima, e ela conseguira esquecer as duas últimas semanas. Passearam juntas pelos pontos mais bonitos da cidade, Trafalgar Equare, o Palácio de Buckinghan, a

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Catedral de Westminster, foram ao Hyde Park e passaram a tarde alimentando esquilos e pombos. Dy estava hospedada num castelo medieval que pertencera a nobres normandos. Acabou na mão da L.E.S.B. por um contrato de conservação das partes históricas. Ficava dezessete milhas depois de Liverpool, num campo verde e extenso. Poppy e Polly foram recebidas pela Adminitradora da organização. Dy estava maravilhosa, corada, cheia de vida. — A vida aqui é outra coisa. Não é aquele tumulto exasperante de Nova York. Eu já deveria ter voltado, tendo compromissos sérios me esperando, mas quem consegue largar isso aqui? Almoçaram ao ar livre, numa enorme mesa de carvalho, sob a folhagem de um cipreste. Depois do almoço, passearam pelos bosques que circundavam o castelo. — Eu estou maravilhada, Dy — Poppy não conseguia esconder sua admiração. — Temos até fosso ao redor... Dy contou então a história do castelo. Na guerra fora um dos centros mais importantes da contra-espionagem dos aliados. — Temos fantasma também? — Polly deu uma risada. — Se existem, nunca se manifestaram. Por que vocês não se mudam para cá? — Temos que retomar depois de amanhã para a América. — Você vai também, Polly? — Vou. Estou com saudades da terrinha. Seis anos de Europa é muito.

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— É isso mesmo, ou outra coisa? Seguiu-se um silêncio embaraçante. — Não fique assim, querida — Dy estava sendo verdadeira. Poppy e Polly se entreolharam. — Todas nós temos nossas fraquezas. Pode ser um vestido, um gato... ou outra mulher. Vocês duas formam um casal maravilhoso. Sejam felizes. Disse isso e virou-se para ir embora. Dy voltou-se lentamente. — Não existe nada me prendendo a ninguém. Eu e Polly somos boas amigas. Isso é maravilhoso. Mas não estou casada com ela. Eu sei que você quer me dizer muitas coisas. E por que não dizê-las? Por que sou amiga de Polly? Isso não faz sentido, Dy. Pensei que você fosse mais aberta. Polly abriu a boca para dizer algo, mas calou-se, diante do rompante da amiga. — Eu não sou ladra — Dy estava amarga. — Ladra? Ladra de quê? Não existe nada para ser roubado. Eu não pertenço a Polly. Polly virou; o rosto para que não a vissem chorar. — Por que vocês são tão possessivas? Eu sou algum objeto para pertencer a vocês? As três voltaram para casa caiadas, guardando no fundo do peito as tristezas. A noite, reuniram-se em torno da lareira. Dy começou a contar o que acontecera depois que Poppy e Polly fugiram do prédio. — A polícia cercou a Central na Burgostrasse e prendeu todo o pessoal burocrático. Os que não morreram foram encarcerados. Havia um plano monstro para dominar o comércio mundial de cobalto. Mas os roubos no Centro do Dr. Karl Hennings eram só para constar. — 66 —

— Como assim? — Deixaram que Felix fotografasse os roubos. Era a única maneira de descobrir quem estava interferindo nos planos deles. Quando tentaram eliminá-los, não deram sorte. — Você sabe do massacre do acampamento? — Sei, sim. São homens que passaram por grandes dificuldades na vida. Acham que a única maneira de resolver os problemas é a força. E quando não descobriram você no meio dos hippies, perderam a cabeça. Explodiu então um ressentimento contra os garotos que procuravam a paz que eles nunca conheceram. — Foi horrível... — Foi sim. Mas de uma coisa você não sabe. Aphrodite era filho de um deles. E informante. — Não! — Vou mostrar-lhe umas fotos. Dy abriu uma gaveta e tirou um envelope pardo com várias fotos. — Eis uma foto da família dele fugindo de Budapeste quando da invasão em 1956. Aqui ele está com os dois grandes chefes da organização. Aqui uma foto dele com quinze anos cantando num conjunto. Poppy pegou a foto com carinho. Aphrodite estava com microfone na mão, executando um passo de dança, o cabelo esvoaçante. — Ele usava o disfarce de hippie para ter mais liberdade de movimentos. Transmitia à organização todos os movimentos das tropas aliadas estacionadas na Alemanha, pois os soldados achavam os hippies inofensivos e deixavam que eles chegassem bem perto. — Eu não acredito...

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— Você precisa começar a acreditar. O mundo é bem mais sujo do que a gente pensa. Caíram a três num silêncio incômodo. Poppy olhava para o fogo. Polly dormitava em cima de uma cadeira. Dy fumava, perdida em pensamentos. Resolveram ir dormir. Poppy e Polly dividiam o mesmo quarto. Deitaram-se na cama e ficaram até tarde acordadas. — O que é que há? — perguntou Polly. — Dy está sabendo demais. Nós nunca lhe falamos nada sobre o acampamento ou o massacre. E quando eu perguntei se ela sabia sobre tudo aquilo, a resposta foi categórica. — E daí? — Polly, não havia ninguém da L.E.S.B. por perto. Num quarto do terceiro andar, Dy escutava a conversa das duas por um pequeno rádio. Seus olhos estavam fechados e ela balançava as pernas compassadamente na poltrona. — Você anda desconfiando de todo mundo. — É como ela diz: o mundo é bem mais sujo que se pensa. Quando levantaram no dia seguinte, estavam sozinhas no castelo. Chamaram os empregados, mas não mais havia ninguém por lá. — Que foi que houve? — Uma debandada geral. — Não há nenhum carro na garagem. Parece que partiram todos de repente. Correram todas as dependências do castelo, mas era como se nunca houvesse morado ninguém ali. — Vamos nós também.

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Saíram a pé, caminhando pela pequena estrada do interior, cumprimentando aqui e ali um camponês, ou uma criança. — Polly, sempre foi muito fácil para a Frente me achar. Estranho não? — Eles tinham um excelente serviço de informações. Agora não sei mais. — Somente quem sabia dos meus passos era Maggie, você e Dy. Vamos por eliminação? — Você me vigiou o tempo todo. Sabe que... — Eu não sei de nada — atalhou a outra. — Você está paranoica. — É provável. Mas acho que tem gente programando o meu fim. — Você está com mania de perseguição. — Polly, eu tenho certeza que Dy está por trás disso.

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CAPÍTULO 9 Há momentos em que a vida transforma- se num nó, e as mais diversas situações se entroncam numa só. E Eva Brooklyn estava diante disso. Depois que começara a trabalhar para a L.E.S.B., sua vida se transformou numa sucessão violenta e rápida de acontecimentos. Quando ela amava, era com fúria. Quando matava, era com ódio. Ela se entregava a todas as atividades diárias com a disposição de quem tem urgência de viver o presente. A volta para casa foi tranquila. Eva só se sentiu realmente segura quando pisou em solo americano. Dirigiuse imediatamente do aeroporto para sua casa em Coney Island, e correu para abrir as janelas. O vento macio da tarde correu pela sala e Eva sentiu-se satisfeita. Polly seguira numa conexão para Los Angeles, e ficara de telefonar qualquer dia. Era o fim de uma amizade. Maggie veio visitá-la à noite. As duas conversaram durante várias horas, bebendo drinques suaves. — 70 —

— Você conseguiu resolver o problema. Descobriu a autoria dos roubos, o porquê, enrugou a Frente à polícia, e saiu incólume. — Incólume? Como você tem coragem de falar isso? Estou com a cabeça destroçada de lembranças e mortes... Todas as pessoas de quem me aproximei morreram. — É um preço meio caro realmente. — Eu estou extremamente cansada, Maggie. E ficaram as duas olhando o céu de Nova York em silêncio. — Ainda não acabou, Poppy. Os sentidos da agente ficaram em alerta. — A polícia alemã não conseguiu prender os chefes da Frente. — Era querer muito... — Acontece que as ordens partiam aqui da América. Poppy estava a pique de falar de Dy, mas conteve-se. Não acreditava que Maggie fosse dar-lhe ouvidos. — Mas a sua parte já terminou. Eis aqui o seu pagamento. Acrescido de uma bonificação de dois mil dólares. O conselho da L.E.S.B. faz questão que você aceite este prêmio pela excelente atuação no caso do cobalto... — Eu me considero muito bem paga. Obrigado, Maggie. — Não desapareça. Quando quiser, ligue para este número e o carro virá apanhá-la. Gosto muito de você, Poppy. Disse isso e beijou a agente no rosto. Depois que ela saiu, Poppy ficou olhando o envelope com o dinheiro. Os dias passaram arrastados em Nova York. A vida já não tinha a mesma excitação da Europa, e mesmo os programas mais divertidos não conseguiam entreter Eva.

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Numa manhã de quarta-feira, quando voltava do cabeleireiro, onde fora descolorar os cabelos, Eva notou que a janela do quarto estava aberta. Se havia alguma coisa que ela não fazia, era sair e deixar a casa aberta. Passou na garagem e abriu o porta-luvas do carro. Lá estava ela, a Lugger velha de guerra. Subiu pelas escadas e colou-se na porta. Abriu-a lentamente e deu uma batida em regra na casa. Não havia nada. Desse d'ia em diante não dormiu mais tranquila. Voltou a andar com a arma, e uma certa alegria feroz invadiu seu espírito. Seus amigos, que a achavam estranha depois da “viagem de passeio pela Europa”, repararam nisso. Inclusive encarnaram nela. Lucky Drum, baterista de rock, uma nova conquista de Poppy, disse que ela estava ficando mais corada. Ela ria e desconversava, mas sentia-se realmente melhor. Seu apetite por amor aumentou. Ela conseguiu virar noites seguidas em paixões desefreadas. As coisas estavam voltando à normalidade. Mas ela sabia que lá no fundo o nó ainda persistia. Combinou com amigos um passeio de lancha até um pequeno golfo perto do estuário do Potomac. Partiram no domingo pela manhã, ela, Lucky Drum, e duas amigas dele. O baterista era um excelente piloto, conhecia bem as rotas, e em uma hora já haviam chegado. Armaram uma pequena tenda na praia, que era cercada de pedras por todos os lados. Nadaram e mergulharam toda a manhã, só parando para fazer o almoço. Depois deitaram-se à sombra de umas pequenas árvores e dormiram um pouco. Lucky, um rapaz forte e moreno, com um cabelo imenso e despenteado, aproximou-se de Poppy. — 72 —

— O seu corpo está cada vez mais joia. — Calma, Lucky, não vá enciumar sua amiga. Dois tiros interromperam a transa. Eva rolou para o lado e gritou para os amigos: — Corram para debaixo daquelas pedras! Mas o atirador foi mais rápido. Antes que todos alcançassem o abrigo, ele alojou uma bala no peito de uma das meninas. Ela caiu de borco, e a areia encharcou-se com um sangue escuro e grosso. — Ninguém sai daqui! Poppy lembrou-se então que sua arma ficara na lancha. E aprendeu de uma vez por todas que uma pistola é sinônimo de coração para uma agente - só se perde quando se morre. Não havia possibilidade de retornar ao barco. O atirador estava colocado de tal forma que cobria a pequena extensão da praia na sua totalidade. Mais dois tiros foram disparados, só para assustar. — O que é isso, Eva, o que é isso? A outra menina chorava histericamente. Poppy bateulhe no rosto. — Cale a boca! Não está vendo que você só pode complicar as coisas? Lucky estava em silêncio. Olhava por uma fresta das rochas para o barranco e chamou Poppy. — Olhe aquilo. Era um reflexo. Podia ser um carro ou o cano da arma. — Você é rápida de ação. O que foi fazer na Europa? — Não seja intrometido, Lucky. — Quando transportava as coisas para o barco, deixei a sua maleta cair e vi uma pistola.

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— Talvez você se interesse em saber que coloquei a arma na cesta do lanche. E ela está ali, a dez metros da gente. Eva agarrou Lucky e beijou-o na boca. — Você é maravilhoso. Mas não havia possibilidade de sair dali. Teriam que esperar a noite. Mas o atirador poderia descer e exterminar com eles sem resistência. Lucky percebeu isso e adiantou: — Podemos tentar uma coisa. Eu corro para um lado e você para o outro. — É loucura. — Se ficarmos aqui será pior. A sede e a fome vão nos empurrar para mira dele. Se falharmos, morreremos de qualquer forma. E arrematou: — Vamos fazer o seguinte. Você corre para aquelas pedras ali — apontou um pequeno amontoado de rochedos sete metros mais à frente — e eu conto até três e corro para a cesta. — Estou me sentindo herói de livros de espionagem. — Volte inteiro, meu amor. Não deixe aquele cachorro pegá-lo. Lucky, riu para ela, apoiou-se na pedra e partiu. Dois tiros acompanharam seus passos, mas não o atingiram. Poppy correu para o outro lado, agarrou a cesta e rolou para trás do tronco da árvore. Uma saraivada de balas chegou um pouco atrasada. — Lucky? — Estou aqui! Poppy respirou aliviada. Apanhou a Lugger e conferiu o pente, tinha seis tiros. Não podia se dar ao luxo de desperdiçar balas.

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O sol foi caindo aos poucos. Quando anoiteceu, Lucky e Poppy voltaram para junto da menina, que dormia encostada na pedra. — Maravilha de fim de semana. . . — Emoção e sal no golfo da morte. — E agora? Mal Poppy perguntara isso, uma luz cortou a escuridão da praia, iluminando um enorme pedaço de areia. Parou sobre o corpo da menina morta, e depois seguiu os passos na areia, até se deter sobre as rochas. — Atenção! Atenção! Lucky acordou sobressaltado. — Saiam já de mãos para cima! Não há possibilidade de escapar! Poppy reconheceu o timbre daquela voz de algum lugar. Tentou se lembrar, mas foi em vão. — Se vocês saírem agora, não sofrerão mal algum! A outra mulher ficou agitada. — Estão vendo?! Eles não vão fazer nada. Foi um engano! E antes que Poppy ou Lucky pudessem detê-la, pulou para fora do abrigo. O facho de luz alcançou-a de corpo inteiro, e ela foi impiedosamente baleada, até que seu corpo parou com as convulsões da agonia da morte. — Cachorros! Miseráveis! Lucky estava quase histérico. Poppy segurou-o pelo braço. — Isso não adianta! Fique quieto! Tentaram um último ardil. A lancha estava mais ou menos perto da praia. Se conseguissem quebrar o holofote, havia uma possibilidade de fuga.

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Lucky atirou uma pedra grande na direção das árvores. O holofote correu atrás do barulho, e Poppy pulou para frente. Esgueirou-se até um outro abrigo no barranco e ficou mais perto da luz. Podia ver bem os assaltantes. Usavam um holofote manual de médio alcance, provavelmente ligado em bateria de automóvel. A luz voltou e passou perigosamente perto dela. Conforme o combinado, Lucky jogou outra pedra. O holofote correu outra vez, e Poppy apoiou o braço contra a rocha, segurando a pistola. Suas mãos tremiam um pouco devido ao frio, pois quando a noite chegou trouxe uma brisa meio gelada. Estava de biquíni, e nada tinha para se cobrir. Poppy atirou uma vez só e quebrou o holofote. Pulou para trás, enquanto várias chamas amareladas varavam o breu da noite. — Corra, Lucky, corra! As balas se enterravam na areia e levantavam pequenos chuveiros. As metralhas cantaram muito tempo desordenadamente. Poppy e Lucky entraram na água em silêncio. Repentinamente, um outro holofote se acendeu. Iluminou o monte de pedras, e mostrou os passos dos dois para a água. Percorreu a baía e surpreendeu-os a meio caminho. Uma chuva de balas alcançou a água, mas eles já estavam longe. Os assaltantes desceram para a praia e continuaram disparando. Mas Poppy e Lucky já haviam alcançado o barco. Ligaram o motor e dispararam para fora da baía. Poppy agarrou-se no rádio chamando desesperadamente a polícia. Não podia deixar escapar àqueles assassinos. O barco deu uma guinada para esquerda e quase virou. — 76 —

— Abaixe-se! Uma lancha quase nos apanhou! Ouviram-se tiros. Ripas de madeira pularam para fora. Eles tinham uma pequena metralhadora a bordo. — Poppy, fugimos na hora exata. Mais cinco minutos, e teriam desembarcado na praia! — Não estamos livres ainda... A perseguição estava começando. Lucky acelerou o motor ao máximo e consultou o tanque de gasolina. Tinha mais de meio reservatório cheio. Poppy começou a chamar a guarda costeira. Freneticamente. Quando responderam, pediram a localização. Lucky não sabia onde estava. Deu as coordenadas da bala e explicou que era o único ponto de referência que tinha. E a lancha dos assaltantes estava se aproximando de uma distância de tiro. Lucky acelerou e viu o combustível sumindo. — Onde você veio parar... — Um pouquinho de emoção ajuda a manter o coração em dia. — Lucky estava o próprio corsário. — Não se meta nos meus assuntos. Você vai arranjar complicações para si próprio. — Não sei do que você está falando, mas dou-lhe toda razão. Havia quinze minutos que estavam correndo. Lucky divisou o farol de Santa Cecília e berrou para Poppy: — Diga a- eles que estaremos em volta do farol de Santa Cecília! Poppy acionou o rádio e informou rapidamente. — E agora? — Vamos brincar de roleta marinha... Os dois ficaram se perseguindo em torno da ilhota, e Lucky foi cada vez mais diminuindo o circulo. Quando os — 77 —

assaltantes começaram a atirar, ele abaixou-se e dirigiu a lancha quase que deitado. — Poppy esses caras não vão chegar a tempo nunca! — O que vai fazer? — Vou tentar um truque antigo, se colar, ótimo. Se não, eu te amo. E adeus. Lucky apertou mais ainda o círculo em torno da ilha. As rajadas começaram a destroçar as partes laterais do barco. Poppy sentia-se nua sem a pistola, que se molhara quando foram parar o barco. Mas o que poderia fazer? Repentinamente, Lucky diminuiu a velocidade do barco. Embicou para uma ponta da ilha e foi fechando. O outro barco avançou em alta velocidade, e quando estava próximo, Lucky arrancou com a lancha. Houve um ruído de madeira esmagada, um estrondo forte, e o outro barco arrebentou-se de encontro às pedras. Ficou só com a parte trazeira com a metralhadora intacta. Neste instante chegaram duas lanchas da Costeira, que com rajadas rápidas acabaram com a resistência que ainda existia. Dois marinheiros passaram para a lancha de Lucky armados com fuzis. — Vamos apanhar dois corpos na praia da baía. Não acredito que os assaltantes ainda estejam lá. — Foram todos presos pelo exército, senhor. — Apanharam todos? — Sim. — Conseguimos, Lucky! — Você pode levar o barco? Não quero saber de lancha nos próximos dois anos — Lucky sentou-se no chão e acendeu um cigarro.

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CAPÍTULO 10 — Eram todos de descendência eslava. Planejavam um retorno triunfal à pátria, fosse qual fosse o meio empregado. Maggie estava espichada na cadeira rotativa. — E o mais impressionante é que tinham somas espantosas de dinheiro para gastar. Vinham acumulando economias e as entregavam à Frente. Se tivessem conseguido o controle da distribuição de cobalto, ficariam com o comércio mundial à sua mercê. — Um plano inteligente, mas mal organizado. Havia mil outras formas de despistar a repressão. Atraí-la para uma isca falsa foi sinônimo de suicídio. Eva acendeu um outro cigarro. O ar condicionado da sala de Maggie dava-lhe arrepios. — O movimento não foi totalmente destruído. O ódio de um povo no exílio é realmente difícil de se conter. Não posso deixar de dar uma certa razão a eles. Mas não há de

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ser destruindo tudo o que encontram pela frente que vão conseguir o que querem. — São assassinos, Maggie. Simples assassinos. — Cometem-se muitos crimes em nome da justiça. — Eu mesma matei muita gente em nome de uma série de coisas. — Você matou muita gente porque Aphrodite... — Não coloque o nome dele no meio. Não sei o que Polly ou Dy lhe disseram, mas... — Não me disseram nada. Polly seguiu direto para sua casa em Los Angeles. Dy desapareceu em Londres. Poppy esteve para dizer que a vira lá, mas caiou-se outra vez. — Como você soube então? — Nós somos muito bem informados. Bem mais do que você possa imaginar. — Então me responda uma coisa. Aphrodite era agente da Frente? — Poppy estava desconfiada. — Maggie olhou-a firmemente nos olhos. Poppy deixara transparecer toda a sua angústia naquela pergunta. — Do que vai adiantar saber? Ele já está morto mesmo... — Por favor, é muito importante para mim. — Aphrodite era filho de refugiados húngaros. Mas seus pais nunca tiveram qualquer ligação com a Frente. Poppy fingiu respirar aliviada. — Ele era um hippie. Só isso. — É ótimo saber disso. — Está bem. Vou dar-lhe um presente. Maggie abriu uma gaveta e retirou uma foto. Era Aphrodite com grupo, a mesma foto que Dy lhe mostrara. — Maggie, quem mais tem essa foto?

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— Que eu saiba ninguém. Ela foi tirada da máquina dos pais dele quando morreram. — Como morreram? — Há duas semanas atrás, num escapamento de gás. Dy nos contou pelo telefone que você... ei, o que é isso? Poppy estava com uma pistola apontada contra o peito de Maggie. — Não se mexa, Dy. Acabou a farsa. — Você está louca... — Eu falei para você não se mexer. — Mas Poppy... A mão dela estendeu-se para um interruptor, mas antes que o alcançasse, Poppy acertou-lhe os dedos com o cano. — Fique mansinha, Dy. Eu estava desconfiada de você desde que conversamos aquela noite no castelo. O seu sumiço foi a prova mais evidente que algo andava muito mal. A outra mulher estava inquieta. — Todas as vezes que eu precisei do auxílio da LESB, ele chegou tarde. Não fossem Polly e Helmut eu já estaria morta. E a cena que você fez nos bosques do palácio foi maravilhosa. Mandar-me para Simpson foi ótimo. Mas mataram-no antes que eu chegasse. — Agora é tarde. Eu mando aqui. Dy revelou-se então. Tirou a peruca grisalha e soltou o corpete que apertava seu corpo. A maquilagem era perfeita. — O que você fez com Maggie? — Morreu. — Então você vai morrer também. Peguei-a em dois lugares. Você disse que não havia falado com Dy e depois entrou em contradição. Contou coisas da vida de Aphrodite que só Dy sabia. Provavelmente matou os pais de Aphrodite também. — 81 —

— Eu queria acabar com você de qualquer jeito. — Mentira, Dy. Você queria favorecer a Frente. Preparou tudo para mim. Mara, a tortura, teve até o desplante de falar pelos alto-falantes quando estávamos cercados na praia. — E o que você pensa que vai fazer? — Não sei. Mas garanto que... — Você não garante nada, Eva Brooklin. Você não pode nem sair daqui sem minha autorização. — Eu vou devolver as coisas que você me fez. Cuidado, se você apertar este botão, iremos para o inferno juntas. Se bem que eu acho que você merece coisa melhor, ou pior. Não sei. Dy era uma pantera pronta a dar o bote. — Levante-se lentamente, com as mãos para cima. A mulher obedeceu. — Agora, devagar, vá andando até a poltrona. Isso. Sente-se. Poppy apanhou um abajour e retirou a parte de cima. Apagou algumas luzes da sala, e colocou a lâmpada acesa bem perto dos olhos de Dy. — Onde está Maggie? — Morreu. E ficaram nisso vinte minutos. Gotas de suor brotaram na testa de Dy. Seus olhos ardiam e lacrimejavam. — Vamos mudar de estilo. É uma pena que eu não tenha aqui pentotal-sódio. Poppy bateu firme no rosto de Dy. Esta olhou-a espantada. — É isto mesmo, meu amor. Tortura. E bateu quatro vezes em seguida. A boca já sangrava. — Onde está ;Maggie?

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Mas Dy não respondia. Poppy bateu-lhe então com o cano do revólver. A outra mulher abaixou a cabeça e chorou de dor. Poppy bateu de novo e seu nariz explodiu em sangue. Poppy parava de vinte em vinte minutos para que Dy se refizesse. — Fale logo. Vai ser menos doloroso. Mas Dy trincava os dentes e nada dizia. — Vamos, cada minuto que passa eu vou aumentar a violência. O rosto de Dy era uma massa disforme de carne e sangue. —Você nunca mais será bonita, sua cadela. A porta de aço rolou e Dy se atirou em Poppy. — Cuidado! Poppy pulou para o lado e Dy caiu no chão. Na porta estava Polly, com um revólver na mão. — O que está havendo aqui? — Essa vampira quer me matar! — Dy estava patética no chão. — Não acredite nela, Polly, acabei de descobrir tudo. — Ela quer roubar meu lugar aqui! Enlouqueceu! Polly estava confusa. Olhou para uma e para outra e não conseguia se decidir. — Ela tem substituído Maggie todo o tempo. — Mentira! — Eu estava interrogando-a. — E usou os métodos mais eficientes, não é? — perguntou Polly olhando para o rosto de Dy. — Ela quase me matou! — Essa mulher nunca mais será a mesma. Dê-me essa arma, Poppy.

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— Mas Polly, foi ela quem preparou caminho para a Frente! — Você está nervosa, querida. Dê-me essa arma. — Vai ter que tomá-la de mim, Polly. Nesse instante, dois guardas armados assomaram à porta. — Ninguém entra ou eu atiro! — Você está nervosa, Poppy — repetiu Polly. — Pergunte a eles quem foi que entrou aqui hoje pela manhã. — Vocês viram alguma coisa? — Mrs. Doyle entrou aqui e não saiu — disse um deles. Polly olhou para Dy. Ela estava completamente ensanguentada. — Onde está Maggie, Dy? — Ainda bem que você entendeu — disse Poppy. Dy agarrou as pernas de Poppy, mas esta empurrou-a. — Chega de farsa. Responda logo. — Está na minha casa, amarrada. — Onde você mora? — Newhood 17, Sokeley. — É bom que seja verdade. Neste instante Dy rolou para o lado e tentou fugir pela porta. Poppy e Polly dispararam ao mesmo tempo. Dy, mortalmente atingida, tombou de lado. Levou as mãos ao peito ferido, sorriu amargamente e morreu.

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CAPÍTULO 11 O carro negro brilhou na estrada e entrou numa variante à esquerda. Atravessou uma estreita ponte de madeira e entrou numa fazenda de estilo texano. Numa cerca, assistindo cavalos serem domados, estavam Poppy e Polly. O carro parou e saltou Maggie. — Alô, meninas! — Você já chegou? Pensei que só viesse no fim de semana. — Estava sentindo saudades do ar do campo. Como vão as coisas por aqui? — Como sempre. A tranquilidade rural cura as feridas mais profundas. — Polly estava um pouquinho mais gorda. — Vocês se entendem bem, não é? Isto é ótimo. A fazenda da LESB era imensa. Seu uso exclusivo era para descanso do pessoal da ação. Dirigiram-se as três para a piscina, e quiseram obrigar Maggie a colocar um maiô. — 85 —

— Ora onde já se viu... sou uma velha. — Não disfarce, Maggie. Você vai nadar de qualquer jeito. — Antes que eu me esqueça, Poppy, eu queria lhe agradecer. Ainda não tive oportunidade de dizê-lo pessoalmente. — Agradeça a Polly também. Ela chegou na hora exata. — Eu jurei que você estava com mania de perseguição e havia escolhido Dy como mártir. Só acreditei no que você dizia depois que perguntei ao guarda. — Dy nos usou todo o tempo. Seu nome verdadeiro era Marya. Tcheca de nascimento, naturalizada americana aos três anos de idade. O resto vocês sabem. — Foi tudo muito difícil. — Eu trouxe uma surpresa para você, Poppy. — O que é? — Ora, uma surpresa. A noite chegou mansa. As três jantaram na varanda, e depois Maggie retirou-se. — Poppy e Polly, desculpem-me mas vou dormir. Por que vocês não dão uma volta pelo gramado. As duas aceitaram a sugestão e saíram para passear. De repente surgiu uma sombra detrás de uma árvore. — Cuidado! — gritou Poppy. — Calma, meninas, não vou fazer nada. Era Lucky Drum. — Lucky! O que você faz aqui? — Sou a surpresa de Maggie. — Polly, você conhece Lucky? É maravilhoso e... Polly havia virado as cotas. — O que há? Vai dar uma cena de ciúmes? Mas Polly não respondeu. Poppy agarrou-a pelo braço e virou-a. — 86 —

— Eu te amo, Polly. Ela abraçou-a e beijou-a na boca. — E gosto muito de Lucky também. Olhe para ele. O que há de repelente? Nada. É um homem maravilhoso, forte, inteligente e completamente aberto. — Tenho medo de perder você. — Ninguém perde nada de graça. A gente mesma é que se tranca. E se perde para os outros. Lucky aproximou-se dela. Olhou-a dentro dos olhos e falou suave: — Se você não quer... Polly hesitou um pouco. Depois passou a mão pela cintura de Lucky e beijou-o. Polly recuou. — Você não vai me machucar? — Não meu anjo, não vou. — Disse isso e acariciou os seios de Polly. Esta fechou os olhos e se entregou passivamente. — Assim não, amor. Você tem que querer também. Polly decidiu-se então. Unhou as costas de Lucky por baixo da camisa. Deitaram-se ali mesmo e Lucky tirou a roupa dela com carinho. Poppy sentou-se na grama e olhou os dois. “Que bom. Não sinto ciúmes.” — Poppy? — Que é, Polly? — Você não vem? — Vou já. E abraçaram-se os três, numa tempestade de sensações, Poppy beijando e mordendo Polly, que estava agarrada a Lucky. Brincaram os três com seus corpos e estavam ali, felizes, sabendo que o futuro era incerto, e que só o presente valia a pena ser vivido.

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Maggie fechou a cortina da janela e riu. As meninas estavam ficando impossíveis. Elas eram maravilhosas. Deitou-se e sentiu uma pontada no peito. Estranhou, pois sua constituição física era excelente. “Deve ser velhice.” Mas sentiu outra no coração. E mais outra na cabeça. E dezenas de pontadas que cortavam a sua respiração. Ficou inconsciente. A oitenta quilômetros dali um boneco passava de mão em mão. No centro de uma sala escura, ardia uma fogueira. Em volta estavam oito mulheres, desgrenhadas, sujas, com os olhos fixos nas labaredas. O boneco estava crivado de alfinetes. Depois que todas o espetaram, ele foi atirado ao fogo. — Aí meu amor, eu morro de prazer... — no jardim a transa prosseguia. Poppy estava abraçada a Polly, que estremecia com os movimentos de Lucky. — Mais, Lucky, faz mais... Ele mudou de lado e passou para Poppy. Esta recebeuo morta de excitação, enquanto dava os seios para Polly brincar. As mulheres levantaram-se. Usavam diademas de pérolas negras, incrustradas em platina. Uma delas aproximou-se da mais nova e mordeu seu pescoço. Um filete de sangue escorreu da ferida. As outras todas uivaram de prazer. Poppy gritou. Atingira o ponto máximo pela terceira vez, e aquela dor fininha nas suas entranhas fazia-a ter espasmos. Lucky estava incansável. Virava-se de uma para a outra com presteza e exatidão. — 88 —

Maggie abriu os olhos. As dores haviam passado. Mas por que ela não tinha mais corpo? Se tivesse, sentiria. Não\é assim que ensinam no colégio? Corpo e alma? Olhou em volta e viu as mulheres. Sorrisos de escárnio surgiram em todas as bocas. Era um pesadelo. Ou não? — Eu te amo, Lucky — Polly estava corada. — Não é tão difícil, é? Poppy sorriu insistentemente. Ela sabia como era bom deitar-se com um homem. E com uma mulher. Mas o melhor ainda era com ambos. Maggie estava desorientada. Aquelas mulheres, o que faziam no seu quarto? E a fogueira? Tentou perguntar, mas, se não tinha corpo, não tinha voz. As mulheres riram da sua inútil tentativa. Maggie olhou para baixo e viu os restos do boneco queimado no chão. — Esperávamos você, Mrs. Doyle. Maggie estava tonta. Uma faca levantou- se no meio da roda e cravou-se no centro do seu peito. Mas ela não tinha mais corpo. E enquanto a vida seguia no jardim, nas relações de três pessoas que se amavam, Maggie Doyle começou a sua fantástica luta contra as Noivas do Diabo. FIM

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PROBLEMAS? E quem não os tem, afinal? Há pessoas que gostariam muito de vencer a timidez. Outras têm problemas com a memória. Alguns ficariam muito satisfeitos se pudessem interpretar seus próprios sonhos. E há por agente que ainda não sabe jogar xadrez. Quantas pessoas não gostariam de preencher suas horas de lazer dedicando-se ao artesanato? Todo mundo tem seus problemas. E foi para resolver esses pequeninos problemas que nós criamos a BIBLIOTECA BÁSICA CEDIBRA: livros que se constituirão não só em valiosos auxiliares da sua promoção pessoal, como irão mostrar a você mil e uma formas de utilizar de modo mais agradável — e quem sabe lucrativo — as suas horas de lazer. Agora conheça alguns dos nossos títulos. E resolva todos os seus problemas adquirindo seus exemplares da BIBLIOTECA BASICA CEDIBRA. A MEMÓRIA O XADREZ INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS A ASTROLOGIA INFLUI EM SUA VIDA A VIDA CONJUGAL COMO VENCER A TIMIDEZ JOGOS DE CARTAS INDÚSTRIAS CASEIRAS APRENDA A DEFENDER-SE CONHEÇA-SE A SI MESMO Em todas as bancas e livrarias, ou pelo Reembolso Postal: Cedibra - Caixa Postal 20.095 - 20.000 - Rio de Janeiro - ZC 22 GB.

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LEVE EVA BROOKLIN PARA DORMIR COM VOCÊ

É isso aí, amizade. Você leu e gostou. Fez de CÍRCULO Vermelho o seu livro de cabeceira, não dorme sem dar uma lida na Eva Brooklin e coisa e tal. Mas você anda meio grilado. Nem sempre o jornaleiro tem Eva Brooklin para você. É, tem gente por aí que é muito viva, gente que acorda mais cedo e compra primeiro. E você sempre correndo o risco de ficar será sua leitura preferida. É um grilo, um tremendo grilo. Mas nada disso vai acontecer mais. Nada de sair por aí desesperado atrás da Eva Brooklin, amizade. A CEDIBRA está ligada em você e, como não quer ninguém grilado, montou um serviço de Reembolso Postal só para você ter Eva Brooklin em casa todo mês. Preencha o cupom existente no verso desta página, bicho, e não durma sem ter a Agente da LESB com você.

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