Cafiero, Carlo. O Capital - Uma Leitura Popular.pdf

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  • Pages: 149
"0 CAPITAL": UMA LEITURA POPULAR

Em uma carta enderecada a Carlo Cafiero,

Marx elogiava

"a grande superioridade" do trabalho do italiano em rela­ cao

aos

servio

trabalhos

analogos

realizados

ingles.

ate

a

e

E

hoje

sintese

naqueles do

Livro

anos

em

I

"O

de

Capital", que tern constituido para numerosas geracoes de trabalhadores e estudantes uma das aproximacoes obriga.

.

t6rias

ao

marxismo,

mantem

o primado

da

simplicidade

didatica, Notando que a dificuldade de "O Capital" tornava o texto acessivel

a

prefacio,

que "e

balhar. meira,

uma

E essa

minoria

para outro

gente

composta

·de

se

pelos

estudiosos, tipo

de

divide em

afirma,

gente

tres

trabalhadores

que

em

seu

devo

tra­

categorias: inteligentes

a e

pri­ com

alguma instrucao; a segunda, pelos jovens nascidos na bur· guesia, m a s q u e lutam pela causa dos trabalhadores ( . . . ) ; a . terceira, finalmente, e essa mocada de escola, crianca, dar

que �e pode comparar com

bons

picio".

frutos,

se

transplantada

ainda quase

uma arvore que pode para

um

terreno

pro·

"O CAPITAL": u m a leitura p o p u l a r

CARLO C A F I E R O

''O CAPITAL'':

uma leitura popular treduciio:

Mario Curvello

editora polis

1981

Tltulo do original: Compendio de/ Capita/e.

Capa: LUCIO YUT AKA KUME

I 1981 LIVRARIA E ED ITO RA POLIS LTDA. 04138 - R. Caramuru, 1 1 9 6 - Fone: 275-7586 Sao Paulo

"O operario fez tudo; e o operdrio pode destruir tudo, porque pode fazer tudo de novo. "

Ind ice

Ao leitor

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Prefacio do autor Capitulo I:

pital

a primeira

Mercadoria,

edicao

. . . . . . . . . . .

dinheiro,

Como nasce o capital

. . . . . . . . . . . .

Capltulo III: A jornada de trabalho

V:

Cooperacao

Capltulo

VI:

Capitulo

VII:

Capltulo

VIII:

30

. . . . . . . . . . .

37

. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

43

trabalho

e manufatura

Maquina e grande indiistria

0 salario

21

47

. . . .

55

. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

77

Acumulacao do capital

. . . . . . . . .

87

A acumulacao primitiva

. . . . . . . . .

117

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

139

Capltulo IX: Capitulo X:

Conclusao

Divisao do

15

. . . . . . . . . .

Capltulo IV: A mais-valia relativa Capltulo

11

riqueza e ca-

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Capltulo II:

9

Anexos: Carta de Cafiero a Marx

. . . . . . . . . . . .

Resposta de Marx a Cafiero Sob re Carlo Cafiero

143

. . . . . . . . .

145

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

14 7

Ao leitor

Esta versao do livro de Carlo Cafiero, aqui sob o titulo

de

O

Capital:

tende

ser uma

uma

versao

leitura popular,

definitiva,

mas

nem

nao

pre­

por

isso

entregamos ao leitor apenas um texto provis6rio. Ela cristaliza

uma

etapa

no

trabalho

de

divulgacao

e

popularizacao da obra de Karl Marx; faz parte deste trabalho

a

elaboracao

de

um

texto

imediatamente

acessivel e, ao mesmo tempo, capaz de suscitar interesse pela obra original. 0 Compendio def Capitale de Carlo Cafiero tern essa dupla qualidade.

Eis o nosso

texto-base, ja escrito em 1 8 7 9 . D e l e fizemos diferentes versoes, ate chegarmos mais

proxima

possivel

a

escolha de uma que fosse a

do

livro

de

Cafiero,

mas

ja

tomando a liberdade de modernizar expressoes e passagens,

no

sentido

do

leitor

brasileiro

de

hoje.

No

trabalho com o original de Cafiero, vinha-nos a ideia de cortes e acrescimos, sobretudo estes, quando pen­ savamos em cobrir a aparente lacuna a que Marx faz referencia em sua resposta a Cafiero. Mas nao: faze-lo seria

nao

registrar

uma

concepcao

de

leitura

de

O

9

(;

Capital; dizendo mais cruamente,

em

nome

de

Marx.

Preferimos,

seria trair Cafiero

portanto,

manter a

fidelidade a esta valiosa obra de divulgacao do pensa­ mento

socialista

e,

ao

mesmo

tempo,

lembrar

aos

leitores o homem revolucionario e singular na historia do movimento operario internacional: Antes relacao leitor

a

de

apontarmos

presente

para

uma

edicao,

traducao

Cafiero, publicada em

algumas

Carlo Cafiero.

observacoes

chamamos brasileira

1960,

em

a

atencao

do

do

resumo

de

dentro da Colecao "Bi­

blioteca de Au tores Celebres",

das

Edicoes e Publi­

cacoes Brasil, sob o titulo: Karl Marx - 0 Capital; pode ser util para o leitor avaliar as modificacoes que aqui introduzimos. Para \

aspas

nao

que

paginas

sobrecarregar o texto,

demarcam

citadas

no

os

trechos

rodape

de

remetem

eliminamos O

o

Capital.

leitor

as As

para

a

edicao brasileira de O Capital, traducao de Reginaldo Sant' Anna,

Ed.

Civilizacao

Brasileira.

Observamos

que, no en tan to, nem sempre transcrevemos a referida traducao, preferindo uma traducao propria, direta do texto de Cafiero. No mais,

e

aguardar as sugestoes, as criticas dos

leitores de quern esperamos uma participacao ativa no aprimoramento desse nosso projeto de "leitura cole­ tiva de O Capital".

Todas as cartas serao bem rece­

bidas.

Mario Curve/lo

10

Pref6cio do autor

a

primeira ediciio

Italia, marco de 1878.

Sentia uma tristeza profunda, pital,

estudando O Ca­

ao pensar que este livro era e e,

sabe-se la ate

quando, inteiramente desconhecido na Italia. Mas mesmo, situacao.

se

nao

as

coisas

devo

Mas,

estao

nesse

poupar esforcos

o que fazer?

Uma

pe,

dizia

para

a

mim

mudar essa

traducao?

Droga!

Isso nao adiantaria nada. Aqueles que estao em con­ dicoes de compreender a obra de Marx, escreveu,

conhecem

certamente

o

como ele

frances

e

a

podem

perfeitamente usar a bela traducao de J. Roy, inteira­ mente revista pelo proprio Marx e que ele recomendou mesmo para os que dominam o idioma alemao.

E

para

outro tipo de gente que devo trabalhar. E essa gente se divide em tres categorias: a primeira, composta pelos trabalhadores inteligentes e com alguma instrucao: a segunda, pelos jovens nascidos na burguesia, mas que lutam pela causa dos trabalhadores e nao tern ainda a suficiente Iorrnacao,

nem o desenvolvimento

intelec-

11

tual para compreender O Capital; mente,

e

a terceira,

final­

essa mocada de escola, ainda quase crianca,

que se pode comparar com uma arvore que pode dar hons frutos, picio.

se

transplantada para um

Meu trabalho

deve ser,

terreno pro­

portanto,

um resumo

Iacil e curto do livro de Marx. O Capital de Marx que

arrasou

e

e

dispersou

demolidor: ao

secular de erros e mentiras. Uma guerra gloriosa

pela

vento

e

a verdade nova

todo

um

castelo

Uma verdadeira guerra! forca

do

inimigo,

e pela

forca ainda maior do comandante que a empreendeu com uma imensa quantidade de novissimas armas, ins­ trumentos e maquinas de todo o tipo, que o seu genio sou be extrair de toda a ciencia moderna. Incomparavelmente muito mais modesta nha

missao.

voluntaries

Devo

apenas

conduzir

ardorosos por uma

uma

estrada

e

a mi­

tropa

mais

de

facil

e

rapida para o templo do capital e destruir esse deus, para

que todos

toquem com

as

o vejam pr6prias

com

os

maos

pr6prios

olhos

nos elementos

e

o

que �

compoem. Arrancaremos as vestes dos seus sacerdotes para

que

todos

possam

ver

as

manchas

de

sangue

humano que escondiam e as armas cruels que usam para sacrificar um

mimero

sempre

crescente

de

vi­

timas.

E com estes propositos que me ponho a trabalhar. Possa Marx cumprir a sua promessa, dando-nos o segundo volume de O Capital, que tratara da circu­ lacao e das diferentes formas que o capital assume no

12

r

seu desenvolvimento, e tambem o terceiro volume que tratara da hist6ria da teoria.

O primeiro volume de O Capital foi escrito

em

alemao e logo depois traduzido para o russo e o fran. ces. Resumo-o agora em italiano para aqueles que se interessam pela causa do trabalho.

Os trabalhadores

devem ler este livro e maduramente refletir sobre ele, porque nele esta nao somente a hist6ria do desenvol­ vimento

da

producao

capitalista,

mas

tambem

e

o

Martirologio do Trabalhador. E,

finalmente,

dirijo-rne

muito interessada no destino

tambem

a uma

da acumulacao

classe capita­

lista: a classe dos pequenos proprietaries. Como expli­ car essa classe, outrora tao. numerosa na Italia e hoje cada vez mais

reduzida?

A

razao

e

muito

simples.

Porque a Italia, desde 1860, percorre a todo vapor o caminho que todas as nacoes modernas precisam ne­ cessariamente percorrer: mulacao

capitalista.

E

o caminho essa

que

a

leva

acu­

acumulacao

capitalista

teve na Inglaterra aquela forma classica,

da qual se

aproximam tanto a Italia como os demais paises mo­ dernos. Se os pequenos proprietaries meditarem sobre a hist6ria livro,

se

da

Inglaterra,

meditarem

sobre

referida

nas

paginas

a acurnulacao

desse

capitalista,

agravada na Italia pela usurpacao dos hens eclesias­ ticos e dos hens publicos, se sacudirem essa apatia que oprime a sua mente e o seu coracao, se convencerao, de uma vez por todas, que a sua causa trabalhadores,

porque para eles

lacao capitalista nao deixou

e

a causa dos

a moderna

mais

do

que

acumu­

essa triste

13

condicao:

ou

se

vender por um

desaparecer para

sempre

salario

na densa

de

massa

fome do

ou

prole­

tariado.

Carlo Cafiero

14

I

Mercadoria, dinheiro, riqueza e capital

A mercadoria valor:

valor

de

e

uso

um

objeto

e valor

propriamente dito.

de

que

tern

troca,

que

um

e

Se tenho, por exemplo,

duplo

o

valor

20 quilos

de cafe, eu posso tanto consumi-los para meu pr6prio uso quanto troca-los por 20 metros de tecido, por uma roupa, ou por 250 gramas de prata, se, em vez de cafe, eu

precisar

de

uma

dessas

tres

outras

mercadorias.

O valor de uso da mercadoria se baseia na quali­ dade propria da mercadoria: se ela comer, ou

para

divertir.

e

para beber, para

Portanto,

essa

qualidade

e

determinada para satisfazer uma determinada neces,

sidade nossa e nao

qualquer outra

de

nossas

sidades. 0 valor de uso dos 20 quilos de cafe nas propriedades

que

dades sao tais que prestam coisa.

para

o cafe possui

nos

fazer

dao

uma

e estas

a bebida cafe,

roupa

ou

E por isso que s6 podemos

e

baseado proprie­ mas

qualquer

tirar

neces­

nao

outra

proveito

do

valor de uso dos 20 quilos de cafe se sentimos a neces­ sidade de beber cafe. Mas, se, ao contrario, eu preci­ sasse de uma camisa e nao dos 20 quilos de cafe que

15

tenho em maos?

0 que fazer?

Nao saberiamos,

se a

mercadoria nao tivesse tambem, junto com o valor de uso, o valor de troca. Encontramos agora uma pessoa que tern uma camisa,

da qual nao tern necessidade,

mas que precisa do cafe.

Entao fazemos uma troca.

Eu lhe dou os 20 quilos de cafe e ela me da a camisa . . . Mas, dades

tao

como

podem

diferentes

as

entre

mercadorias si,

serem

de

proprie­

trocadas

umas

pelas outras em determinadas proporcoes? Porque a mercadoria, alem do valor de uso, tern tambem o valor de troca. .Isso ja sabemos. 0 que nao sabiamos era que a base do valor de troca, propriamente

dito,

para se produzir produzida humano

e

pelo

e

o trabalho

humano

essas mercadorias. trabalhador.

da existencia

a

necessario

A mercadoria

Portanto,

a substancia procriadora;

do valor

e

o

e

trabalho

o trabalho que

mercadoria, Em sua essencia, embora

de propriedades tao diversas entre si, todas as merca­ dorias sao a mesma coisa, perfeitamente iguais,

por­

que, filhas de um mesmissimo pai, tern todas o mes­ missimo sangue em suas veias.

Se trocamos 20 quilos

de cafe por uma camisa ou por 20 metros de pano,

e

porque para se produzir 20 quilos de cafe, precisou-se de tan to trabalho humano quanto para a producao de uma camisa ou de 20 metros de tecido. Trocou-se uma camisa por tanto

de trabalho humano materializado

nos vinte quilos de cafe, ou trocararn-se os vinte quilos de cafe por tanto

de trabalho humano materializado

em uma camisa. Ou seja, trocou-se trabalho por tra­ balho.

16

A substancia do valor da mercadoria esta

no

trabalho humano e a grandeza desse valor e determi­ nada pela grandeza do trabalho humano.

Ora,

se

a

substancia de valor e a mesma em todas as mercado­ rias e isto quer dizer que todas as mercadorias como veiculo do valor sao todas iguais e trocaveis entre si, o

que

nos

resta,

portanto,

e

comparar

o

tamanho

dessa grandeza, medi-la. A

grandeza

trabalho;

do

valor

depende

da

grandeza

e qual e a medida do trabalho?

do

0 tempo:

hora, dia, semana, mes, etc. Em 12 horas de trabalho se produz um valor duas vezes maior do que se produ­ ziria

em

6

horas.

Dai,

alguem

poderia

dizer

que

quanto mais lento fosse um trabalhador, quer por ina­ bilidade, quer por preguica, mais valor produziria. Na­ da mais falso do que esta afirrnacao, pois o trabalho de que estamos falando e que da substancia ao valor, nao e o trabalho trabalho medic,

de

Pedro ou

de

Paulo,

e

sim

um

que e sempre igual e que e propria­

mente chamado de trabalho social: E o trabalho que, em

um

determinado

centro

de

producao,

pode

ser

feito em media por um operario, o qual trabalha com uma habilidade media e uma intensidade media. Conhecido o duplo carater da mercadoria, isto e, de ser valor de uso e valor de troca, que

a mercadoria

s6

pode

nascer

compreendemos

por

balho, e de um trabalho util a todos.

obra

do

tra­

Por exemplo, o

ar, os prados naturais, a terra virgem, e t c . , sao uteis ao homem,

mas nao constituem nenhum valor,

por­

que nao sao produtos de seu trabalho e, consequente­ mente, nao sao mercadorias. Tambem podemos fabri-

17

car objetos para o nosso proprio uso,

mas

que

nao

podem ser iiteis a outros; nesse caso nao produzimos mercadorias; cadoria,

do mesmo modo nao produzimos mer­

quando

trabalhamos

com

coisas

tern nenhuma utilidade nem para nos,

que

nein

nao

para os

outros. As mercadorias, pois, sao trocadas entre si; uma se apresenta como equivalente da outra. facilidade

das

trocas,

comeca-se

a

Para maior

empregar

uma

determinada mercadoria como equivalente para todas as outras. Esta mercadoria se destaca do conjunto de todas

as outras

para

equivalente geral,

se

colocar

frente

a elas

isto e, como dinheiro.

como

Por isso,

o

dinheiro e aquela mercadoria que, pelo costume e por determinacao legal, lente geral. Assim,

monopolizou o posto de equiva­ o dinheiro,

nos atraves da prata.

a moeda,

Enquanto

antes,

chegou ate

20

quilos

de

cafe, uma camisa, 20 metros de tecido e 250 gramas de prata eram entre si que

20

quatro mercadorias

indistintamente, quilos

de

cafe,

hoje,

ao

que

se

trocavam

contrario,

uma camisa e 20

tem-se

metros

de

tecido sao tres mercadorias que valem, cada uma, 250 gramas de prata, por exemplo, 500 cruzeiros. Mas,

seja atraves das mercadorias

diretamente,

seja atraves do dinheiro, a lei de trocas permanece .a mesma, sempre. Uma mercadoria so pode ser trocada por outra se o seu valor de troca for igual.

Isto quer

dizer que se uma mercadoria nao tiver o mesmo tempo de trabalho que a outra, nao ha troca. Esta so aeon­ tece entre trabalhos iguais. E tudo o que vamos dizer

18

de agora em diante

e

baseado nela, nessa lei de troca

de mercadorias. Com a chegada do dinheiro, da moeda, as trocas diretas

ou

imediatas

de

uma

mercadoria

por

outra

desapareceram. Agora todas as trocas devem ser feitas atraves do dinheiro. Desse modo,

qualquer mercado­

ria que queira se transformar em outra, deve, antes de mais nada,

como mercadoria,

transforrnar-se em di­

nheiro, e depois, como dinheiro, retransforrnar-se em mercadoria. Portanto, o esquema das trocas nao sera mais

uma

cadeia

de

mercadorias

-

uma

ab6bora

X uma melancia X um pao - e sim, uma cadeia de mercadoria e dinheiro. Ei-Ia:

mercadoria - dinheiro - mercadoria - dinheiro

M

D

M

D

Ora, se nesta formula assinalamos os giros que a mercadoria realizou, assinalamos tarnbern os giros do dinheiro.

Como veremos,

e

desta formula

que

sai

a

formula do capital. Quando temos em nossas rnaos uma certa quanti­ dade de mercadorias ou de dinheiro,

o que

no caso.

vem a dar no mesmo, somos possuidores de uma certa riqueza.

Se

corpo, que

e

a gente pudesse

dar

a esta

riqueza

um

um organismo que se desenvolve, que se

alimenta, entao teriamos o capital. Ter um corpo ou organismo capaz de se desenvolver significa nascer e crescer.

E nesse

desenvolvimento

que

a

origem

do

19

capital parece desaparecer, na natureza possivelmente fecunda do dinheiro. Mas de que maneira nasce o capital? Naquela formula que assinala os giros da merca­ doria e do dinheiro, vamos acrescentar ao dinheiro um numero que indica seu aumento progressivo:

dinheiro - mercadoria - dinheiro

1

- mercadoria

- dinheiro 2 - mercadoria - dinheiro 3 . . .

Ee

D

-

exatamente essa a formula do capital:

M

-

Dl

Como vimos,

-

M

-

D2

-

M

-

D3 . . .

a resposta ao problema ( encontrar

um metodo de fazer nascer o capital) estava contida · na resolucao de um outro problema: formula

de

fazer

aumentar

encontrar uma

progressivamente

o

di­

nheiro. E como o capitalista consegue proxirno capitulo.

20

isso?

E

o

nosso

II

Como nasce o capital

Observando atentamente aquela formula do capi­ tal (D - M- Dl - M - D2), chega-se

a

conclusao

de que a questao da origem do capital se resolve, em iiltima

analise,

nesta outra

questao:

encontrar

uma

mercadoria que de mais dinheiro do que se gastou em sua compra. Em outras palavras, encontrar uma mer­ cadoria

que,

em

nossas

maos,

possa

aumentar

de

valor, de tal modo que, vendendo-a, se possa ganhar mais

dinheiro.

Portanto,

bastante elastica para valor,

deve

ser

ser capaz

a sua grandeza de valor.

de

uma

mercadoria

aumentar o seu

Esta mercadoria tao

singular existe: e a forca de trabalho. Ai esta. 0 homem do dinheiro acumulou riqueza e quer dessa riqueza criar um capital.

Ele

chega

ao

mercado com o endereco certo: comprar Iorca de tra­ balho. Vamos segui-lo! Ele anda pelo mercado e da de cara com vender

o operario,

sua

unica

que

esta

mercadoria:

ali

exatamente

a forca

de

para

trabalho.

Mas o operario nao vende a sua mercadoria de uma s6 vez e para sempre. Ele vende a sua forca de trabalho

21

em parte, por um dado tempo, um dia, um mes, etc. Se o operario vendesse sua Iorca,

sua capacidade de

trabalho inteiramente, nao seria mais um mercador e se transformaria ele mesmo,

sua pessoa,

em

merca­

doria; nao seria mais um assalariado, mas um escravo do seu patrao. O preco da forca

de trabalho

se calcula

da

se­

guinte maneira: tomam-se os precos dos alimentos, da roupa, da habitacao, enfim, de tudo que e necessario ao trabalhador para manter a sua forca de trabalho durante o ano e sempre em seu estado normal. Acres­ centa-se, a esta primeira soma, o preco de tudo que e necessario ao trabalhador para procriar, educar seus filhos,

alimentar e

segundo sua condicao:

depois di­

vide-se o total pelos dias do ano - 365 - , e se sabera quanta, por dia, e necessario para manter a forca de trabalho,

0

seu preco diario, que e

O

salario diario do

operario, 0 que o trabalhador precisa para procriar, alimentar e educar os seus filhos entra neste calculo, porque os filhos do trabalhador representam a conti­ nuacao

da forca

vendesse

por

apenas ele,

de

inteiro

trabalho. a

sua

Assim,

forca

de

se

o

operario

trabalho,

nao

mas tambem seus filhos seriam escravos

do seu patrao,

eles seriam tambem

mercadoria.

Po­

rem, como assalariado, ele tern o direito de conservar todo o resto,

que se encontra parte nele e parte

nos

seus filhos. Com aquele calculo obtivemos o preco exato da forca de

trabalho.

capitulo anterior,

22

A lei

das

trocas,

como vimos

no

diz que uma mercadoria nao pode

ser trocada por outra se nao tiverem o mesmo valor; isto e, se o trabalho que se requer para produzir uma nao for igual ao trabalho que se requer para ducao

da

outra.

Ora,

o trabalho

produzir o que e necessario

ao

que

se

a pro­

exige

trabalhador

para

e,

por­

tanto, o valor das coisas necessarias ao trabalhador e igual ao valor de sua forca de trabalho; se o trabalho necessita de 100 cruzeiros por dia para comprar to­ das

as

coisas

que

lhe

sao

necessarias,

logicamente

100 cruzeiros sera o preco diario de sua forca de tra­ balho. Pois bem. Sem alterar em nada o que falamos ate aqui, podemos supor que o salario diario de um opera­ rio alcance os 100 cruzeiros. Suponhamos, ainda, que em 6 horas de trabalho sejam produzidos de

prata,

que

equivalem

aos

100

15 gramas

cruzeiros.

Agora,

voltemos ao mercado. La, enquanto isso, o homem do dinheiro fez um contrato

com

o

proprietario

da

forca

de

trabalho,

pagando por ela o seu justo preco de 100 cruzeiros. Ele e

um

burgues

muito

honesto

e,

alem

disso,

muito

religioso, incapaz de especular com a mercadoria do operario.

operario

N

ern

e

necessario

s6 vai ser pago no

dizer

fim

acontece

tarnbem

e

do

t

que ele recebe o

salario

e

salario,

, por exemplo, o

arrendamento

de

do

rabalhou, depois

com outras mercadorias,

se realiza no uso, como casa ou

o

do dia, ou da semana,

ou do m e s. Enfim , s6 depois que ele que ele produziu,

que

uma

E

cujo

o que valor

aso de uma

c

terra,

cujo

preco

precisa ser pago de acordo com o prazo estabelecido.

23

Estes sao os tres elementos

do

processo

do

tra­

balho:

1 ?)

forca de trabalho;

2?)

materia-prima;

3?)

os meios de trabalho.

Bern, voltando ao nosso homem do dinheiro: pois de comprar a forca de trabalho, bem a materia-prima, no caso, trabalho, isto condicoes

e,

comprou

algodao;

OS

de­

tam­

meios de

a fabrica com todos os instrumentos e

de trabalho ja

estao

perfeitamente

prepa­

rados. E agora, diz ele, saindo apressado do mercado: -

a obra!

Maos

Uma certa transforrnacao parece ter-se dado na fisionomia

dos

personagens

do

nosso

mem do dinheiro toma a dianteira, capitalista; gue-o,

o

como

proprietario seu

da

trabalhador.

Iorca

drama.

0

ho­

na qualidade de de

Aguele,

trabalho com

a

se­

apa­

rencia honrada, satisfeita e atarefada; o outro, timido, hesitante,

com a sensacao de quern vendeu a propria

pele no mercado e que agora nao pode esperar outra 1

coisa senao . . . ser esfolado. Enfim, chegam

a

fabrica. 0 capitalista se apressa

em botar o seu operario para trabalhar, lhe dez quilos de algodao, esse operario

(1)

e

Antes que eu me esqueca,

fiandeiro, produz fios de algodao,

Karl Marx,

0 Capital,

zacao Brasileira, 1968, p. 197.

24

entregando­

trad.

de Reginaldo Sant'Anna,

Civili­

E consumindo os seus tres elementos: a forca de trabalho, a materia-prima e os meios de trabalho, que o trabalho se realiza. O consumo dos meios de trabalho calcula-se do seguinte modo: da soma do valor de todos os meios de trabalho - o predio, suas instalacoes, as ferramentas, o oleo, o carvao,

etc. - subtrai-se a soma do valor dos

meios de trabalho consumida no processo de trabalho; dividindo o resultado desta subtracao pelo mimero de dias que os meios de trabalho possam durar, temos o consumo diario dos meios de trabalho. Parece

complicado,

nao?

Vamos

repetir

isso,

exemplificando com mimeros: Suponhamos que os meios de trabalho (a fabrica com

suas

instalacoes,

maquinas,

ferramentas,

devam durar 10 anos ou 3 650 dias. meios

de

trabalho,

o

capitalista

etc.)

Par todos

esses

desembolsou,

por

exemplo, CrS 1 4 6 0 000 , 00 ; dividindo essa quantia par 3 650

dias,

temos

CrS

400,00,

que

corresponde

ao

consumo diario dos meios de producao. O nosso

operario

trabalhou

durante

toda

uma

jornada de 12 horas. Ao final dessa jornada ele trans­ formou os 10 quilos de algodao bruto em 10 quilos de fio;

entregou-os

ao

patrao e

deixa

a

fabrica,

retor­

nando para casa. No caminho, coma todo o operario, ele

vai fazendo

as

contas,

para

saber quanta

o

seu

patrao podera ganhar com aqueles dez quilos de fio. -

Nao sei exatamente quanta custa o fio - vai

dizendo para si mesmo - , mas, de qualquer modo, a conta esta praticamente feita. 0 algodao cru, eu mes-

25

mo vi quando por quilo.

ele

comprou

no

mercado:

CrS 300,00

Todas as suas ferramentas podem ter um

consumo, digamos de CrS 400,00 por dia. Bern:

10 quilos de algodao

. . . . . . . . . . .

CrS 3 000,00

desgaste diario dos meios de producao

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

meu trabalho de hoje

. . . . . . . . . .

Total dos 10 quilos de fio

. . . . . . .

CrS

400, 00

CrS

100,00

CrS 3 500,00

Ora, certamente, sobre o algodao ele nao ganhou nada:

pagou

o seu justo

preco,

nem

um

centavo

a

mais, nem um centavo a menos; do mesmo modo ele comprou

a

minha

forca

de

trabalho,

pagando

seu

justo preco de CrS 100,00 por dia, Entao, continua pensando o nosso fiandeiro, ele so pode ganhar vendendo o fio acima do seu valor. Nao pode vir de outra coisa;

ele nunca perderia tempo e

energia, gastando 3 500 cruzeiros, para depois de tudo receber os

mesmissimos

3 500

cruzeiros.

Oh!

Como

sao os patroesl A nos, trabalhadores, traquejados no mercado,

ele nao tern

como

disfarcar . . .

E esses pa­

trees tern ainda a mania de bancarem os honestos na frente

dos

trabalhadores...

mas

e

um

roubo

uma mercadoria por mais do que ela vale;

e

vender

vende-la

com peso falso, um quilo de novecentos gramas. Isto proibido por lei. fechar

suas

E

roubo! As autoridades vao ter que

fabricas.

construiremos

Vai

grandes

ser

born!

fabricas

Em

publicas,

seu

lugar,

onde

produziremos as mercadorias de que precisamos.

26

e

nos

Assim,

fantasiando,

o operario

chega em

casa.

Apos jantar, se enfia na cama e adormece profunda­ mente, sonhando com o desaparecimento dos capita­ listas

da

face

da

terra

e

com

as

grandes

fabricas

piiblicas. Dorme,

pobre amigo,

dorms,

enquanto te resta

uma esperanca. Dorme em paz, que os dias de desen­ gano nao tardarao a chegar. Mais cedo do que pensas, vais en tender por que os capitalistas podem perfeita­ mente vender

sua

mercadoria

com

lucro,

sem

para

isso precisar enganar a ninguern. Ele mesmo te mos­ trara como pode

se

tornar capitalista

e

mesmo

um

grande capitalista, sem perder um fio de honorabili­ dade. Entao, o teu sono nao sera mais tao tranquilo assim.

Veras,

em

tuas

noites,

o

capital,

como

um

pesadelo, que te oprime e ameaca sufocar-te. Com os olhos aterrorizados, vais ve-lo crescer, como um mons­ tro com cem dentes de vampiro penetrando nos poros de

teu

corpo,

para chupar o teu

sangue.

Tomando

proporcoes desmesuradas e gigantescas, de sombrio e terrivel aspecto, com olhos e boca de fogo, transformando suas

garras

em

vais ve-lo

uma enorme tromba

aspirante em que vao desaparecendo milhares de seres humanos: homens, mulheres, criancas. De tua fronte corre agora um suor de morte, porque o monstro esta se aproximando, para agarrar a ti, tua mulher e teus filhos. Mas teu ultimo gemido sera abafado pelo riso apavorante do monstro, satisfeito em sua gula. Quan­ ta mais prospero, mais desumano . . . Voltemos ao nosso homem do dinheiro.

27

Este burgues, modelo de exatidao e ordem, acer­ tou todas as suas contas do dia;

vejam como ele cal­

culou o preco dos seus dez quilos de fio:

10 quilos de algodao a 300 cruzeiros o quilo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

CrS 3 000, 00

o consumo das ferramentas de trabalho

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

CrS

400, 00

Mas, quanto ao terceiro elemento, que entrou na forrnacao de sua mercadoria, que operario,

ele

nada

assinalou,

e

isso

O

salario pago ao

porque

conhece

muito bem a diferenca que ha entre o preco da forca de trabalho e o preco do produto da forca de trabalho. O salario de uma jornada representa o necessario para manter o operario em 24 horas, mas nao representa de fato o que o operario produziu

em

uma jornada

de

trabalho. 0 nosso homem do dinheiro sabe perfeita­ mente que os

100

cruzeiros

de

salario

que ele

paga

representam a manutencao de seu operario por vinte e quatro horas e nao o que este produziu nas doze horas de trabalho em sua fabrica. Ele sabe tudo isso, exata­ mente como o agricultor sabe a diferenca que existe entre o que currais,

e

a manutencao

alimentacao,

etc.,

e

de O

uma vaca com

seus

que essa vaca produz

em termos de leite, queijo, manteiga, etc. A forca de trabalho tern a propriedade singular de render mais do que custa e

e

por isso que o homem

do dinheiro foi busca-la no mercado. E o operario nao pode reclamar,

28

porque ele pagou o justo

preco pela

sua

mercadoria.

A

observada. Alem meter

no

uso

lei

do

que

das

que,

trocas

foi

o operario

o comprador

rigorosamente

nao tern

Iara

de

sua

que

se

merca­

doria, do mesmo modo que o dono do arrnazem nada tern a Ver com O USO que Seu fregues da as mercadorias que vende. Paginas trabalho

se

atras,

supusemos

produzem

lentes a 100 cruzeiros.

15

que

gramas

Ora,

em

de

6

horas

prata,

de

equiva­

se em 6 horas a forca de

trabalho produz um valor de 100 cruzeiros, em 12 horas produzira,

portanto,

um valor de 200 cruzeiros.

As­

sim, o valor dos 10 quilos de fio passa a ser calculado desse modo:

pelos 10 quilos de

algodao cru,

300 cruzeiros por quilo pelo

consumo

dos

a

. . . . . . . . .

meios

de

CrS 3 000,00

tra-

CrS

400, 00

pelas 12 horas da Iorca de trabalho

CrS

200,00 · ..

Total

CrS 3 600,00

balho

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

'

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O homem do dinheiro,

depois de ter gasto 3 500

cruzeiros, obteve uma mercadoria que vale 3 600 cru­ zeiros. Conseguiu, portanto, O

seu

dinheiro

deu

cria;

embolsar

pronto,

100 cruzeiros.

resolvemos

o

pro­

hlema: o capital acaba de nascer.

29

Ill

A jornada de trabalho

Nern hem nasceu,

o capital sente a necessidade

imediata de alimento para se desenvolver. E o capita­ lista, que vive somente para a vida do capital, cupa-se atentamente com

as necessidades

preo­

deste

ser,

tornando-se o seu coracao e sua alma, sabendo como alimenta-lo. O primeiro meio empregado pelo capitalista em beneficio do seu capital

e

o prolongamento da jornada

de trabalho. Obviamente, a jornada de trabalho tern os seus pr6prios limites. Antes de mais nada, um dia nao tern mais do que 24 horas. Dessas vinte e quatro horas ja

se

tern

que

eliminar

umas

tantas,

pois

o

operario precisa satisf azer suas necessidades fisicas e espirituais: dormir, comer, descansar para criar nova forca, ler, passear, etc. Fala, Marx: Mas estes limites sao, por si mesmos, muito elas­ ticos e deixam

muito espaco para

manobra.

Assim,

encontramosjornadas de trabalho de 6, 10, 12, 14, 16 e 18 horas,

ou seia,

das mais variadas

duracoes

e o

capitalista comprou a forca de trabalho pelo seu valor

30

diario. Com isto, ele adquiriu o direito de fazer traba­ lhar, durante todo um dia,

o trabalhador que esta a

seu service. Mas, o que e afinal um dia de trabalho? Em todos os casos, Mas,

de

quanto?

e menor do que um dia natural. 0

capitalista

tern

a

sua

propria

maneira de ver a questao sobre o limite necessario da jornada de trabalho. 0 tempo durante o qual o ope­ rario trabalha, e o tempo durante o qual o capitalista consome

a

forca

de

trabalho,

operario.

Se o assalariado consome o tempo que tern

disponivel para si mesmo,

que

ele

comprou

do

ele esta roubando o capi­

talista. 0 capitalista nao se apoia em outra nao seja a lei das trocas das mercadorias.

coisa que Ele,

como

todo comprador, procura tirar da mercadoria, do seu valor de uso, o maior beneficio possivel. Mas, eis que o operario levanta a voz e diz: A mercadoria que te vendi se distingue de todas as outras mercadorias, porque o seu uso cria valor, e um valor maior do que o seu proprio custo.

E e por

isso que a compraste. 0 que para ti parece ser cresci­ mento de capital, para m i m e excesso de trabalho. Tu e eu nao conhecemos outra lei, que nao seja a da troca das mercadorias, 0 consumo da mercadoria nao per­ tence ao vendedor, que a aliena, mas ao comprador, que a adquire. 0 uso de minha forca de trabalho te pertence, pois. Mas com o preco diario de sua venda, eu devo todos os dias poder reproduzi-la, para vende­ la de novo. Tirando a idade e outras causas naturais de desgaste,

preciso arnanha estar tao

forte e capaz

como hoje, para retomar o meu trabalho com a mes-

31

inissima forca. Tu me pregas constantemente o evan­ gelho da "economia" e da ser um mizar

Tai!

Quero

administrador sabio e inteligente para

econo­

a

balho;

minha

devo

jamento. mento,

iinica

fortuna:

abster-me,

Quero,

po-la

a

"abstinencia".

a

minha

portanto,

diariamente, trabalhar,

de

forca

qualquer

coloca-la

enfim,

de

esban­

em

gasta-la

tra­

movi­ apenas

quando for compativel com sua duracao normal e seu desenvolvimento natural.

Alern

longamento na jornada de dia

mobilizar

uma

do

que,

trabalho,

quantidade

tao

com

um

pro­

podes em um s6

grande

de

minha

forca de trabalho que nao vou poder repo-la nem com tres jornadas. 0 que ganhas em trabalho, eu perco em substancia. Presta, pois, muita atencao: o emprego da minha

Iorca

coisas rio,

distintas,

vivo

em

trabalho muito

media

30

e

o

seu

distintas. anos,

desfrute

Se

eu,

sao

como

trabalhando

duas

opera­

num

ritmo

razoavel, e tu consomes a minha forca de tra­

medic balho

de

em

dez

anos,

tu

nao

terco do seu valor diario: todos os dias,

dois

pagas

me

portanto,

mais

roubas

que de

um

mim ,

tercos de minha mercadoria. Exijo,

pois , uma j ornada de trabalho de

duracao normal, e a

exijo sem apelar para seu

coracao porque em neg6cios

nao

Tu

poe

se

modelo; mais e,

Pouco

sentimento.

ainda

aos

nada normal,

um

Sociedade Protetora

o

que

interesses porque

representas. do

meu

Es

coracao.

burgues dos

Ani­

inteiramente

Exijo a jor­

quero o valor da minha

doria como qualquer outro vendedor.

32

ser

por cima, exalar cheiros de santidade . . .

importa

estranho

a

ate pertencer

podes

merca­

Como se ve, estamos entre limites muito elasticos e· a

natureza

limite seu

a

jornada

direito

longar

mesma

como

a jornada

de

da

troca

trabalho.

comprador, de

trabalho

nao

impoe

nenhum

0 capitalista

mantem

quando o

procura

maximo

pro- ·

possivel

e

tentando fazer de dois dias um s6. Por outro lado,

a

natureza especial da mercadoria vendida exige que o seu consumo pelo comprador nao seja ilimitado, trabalhador

mantem

o

seu

direito

como

e o

vendedor,

quando quer restringir a duracao da jornada de tra­ balho a uma duracao normalmente determinada. Di­ reito contra direito,

entre o capitalista e o trabalha­

dor, de acordo com a lei de troca das mercadorias, ha um empate. E, o que decide entre dois direitos iguais? A forca.'

Como se emprega essa forca,

que hoje

e

toda do

capital e para o capital, nos dirao os fatos que agora exporemos. 0 que vamos contar neste livro sao quase todos epis6dios do capital na lnglaterra. Em primeiro lugar porque foi la o pais em que a producao capita­ lista chegou ao maximo em

seu

desenvolvimento;

e,

em segundo lugar, porque somente na lnglaterra en­ contramos um material adequado de documentos, fa­ lando das condicoes de trabalho e recolhidos por obra de

comissoes

governamentais,

instituidas

para

este

fim. Os modestos limites deste manual nao nos permi­ tem, entretanto, reproduzir mais do que uma peque-

(2)

0 Capital, p. 265.

33

nissima parte do rico material recolhido

na obra de

Marx. Eis aqui alguns dados de uma pesquisa feita em 1860 e 1863, na indiistria de ceramica: W. Wood, de

nove

anos,

tinha

7

anos e meio

quando comecou

a

trabalhar. Wood trabalhava todos os dias da semana, das 6 da manha ate as 9 da noite, ou seja, 15 horas por dia. J. Murray, de 12 anos, trabalhava numa fabrica, trazendo as formas e girando uma roda. Ele cornecava a trabalhar as seis da manha, as vezes, as quatro; seu trabalho

era

prolongado

de

tal

modo,

que

muitas

vezes entrava pela manha seguinte a dentro. E isto em companhia de outros 8 ou 9 meninos que tados

do

mesmo

modo

que

ele.

0

eram

medico

tra­

Charles

Parsons assim escreveu a um comissario do governo: "Falo com base nas minhas observacoes pessoais e . nao

sobre

dados

estatisticos.

Nao

posso

esconder

minha revolta ao ver o estado destas pobres criancas, cuja saude e sacrificada por um

trabalho

para satisfazer a cobica dos seus

pais

excessivo,

e de

seus pa­

troes." Ele conclui

enumera a relacao

ainda com

varies

a causa

casos

de

doencas

principal:

as

e

/ongas

horas de trabalho.

Nas Iabricas de f6sforos, a metade dos trabalha­ dores eram criancas com menos de 13 anos

e adoles­

centes com menos de 18. Somente a parte mais pobre da populacao cede os seus filhos a esta indiistria tao insalubre

e

imunda.

Entre

as

vitimas

interrogadas

pelo Comissario White, 270 nao tinham mais que

34

18

anos; 40 tinham menos de dez anos; 12 de oito anos de idade e 5 de apenas seis anos. A jornada de trabalho nessas fabricas variava entre 12, trabalhavam incertas,

durante

a

noite

14 e 15 horas.

e

comiam

em

Eles

horas

quase sempre no mesmo local de producao,

tudo empestado pelo f6sforo. Nas

fabricas

de

tapete,

nas

epocas

de

grande

movimento, como nos meses que antecedem o Natal, o trabalho durava,

quase sem interrupcao,

das seis da

manha ate as dez da noite; as vezes, tambem ate altas horas da noite. No inverno de 1862, de 19 meninas, 6 contrairam doencas por causa do excesso de trabalho. Para mante-Ias acordadas durante o trabalho era ne­ cessario estar sempre gritando e sacudindo-as. As me­ ninas viviam tao cansadas que nao podiam manter os olhos abertos. Um operario depos a Comissao de In­ querito nestes termos: "Este meu garoto, quando tinha 7 anos de idade, eu o levava as costas, por causa da neve, da casa para a fabrica,

da fabrica para casa.

lhava normalmente tive

de me

ajoelhar

estava na maquina,

16

Meu

horas por

para

dia.

alimenta-lo,

garoto

traba­

Muitas vezes, enquanto

ele

porque nem podia abandona-la,

nem desliga-la." Pelos fins de junho de 1863, osjornais de Londres destacavam em suas manchetes a morte de uma mo­ dista de 20 anos, por excesso de trabalho. Ela morrera nas dependencias da manufatura em que trabalhava. A jornada

de

trabalho

horas e meia por dia.

nessa

manufatura era

Entretanto,

por

causa

de

16

de um

35

baile

no

palacio

do

governo,

para

quern

a empresa

executava as encomendas, suas operarias tiveram que trabalhar 26 horas e meia, sem parar. Eram cerca de 60 mocas

que

trabalhavam

em

pessimas

condicoes,

espremidas no reduzido espaco da oficina. A modista das manchetes do dia seguinte, alem disso, dormia em um quarto muito estreito e sem ventilacao. rera

antes

de

concluir

sua jornada

de

Ela mor­ 0

trabalho.

medico chegou tarde demais. Em seu laudo, alern de observar

as

condicoes

de

trabalho

das

costureiras,

assinalou acauxa mortis: excesso de trabalho. Em uma das regioes mais populosas de Londres, morriam, anualmente, 31 entre cada 1 000 serralhei­ ros. E o que pode ter a natureza humana contra essa profissao? Nada! M a s o excesso de trabalho tornou-a destrutiva para o homem. Assim, o capital tortura o trabalho, pois de muito sofrer,

procura,

se.

se

Os

Estado

trabalhadores determine

trabalho.

E o que

uma se

finalmente,

organizam duracao

pode

o qual,

esperar

defender­

e exigem

para

que

a jornada

disso?

de­

o de

Resposta

facil, considerando que a lei e feita e aplicada pelos mesmos capitalistas: os operarios deverao estar sem­ pre atentos as medidas tomadas pelos patroes e unidos para protegerem as suas vidas.

36

IV

A mais-valia relativa

A forca de trabalho, produzindo um valor maior do que ela vale, isto e, uma mais-valia, gerou o capi­ . tal; aumentando ainda esta mais-valia atraves do pro­ longamento da jornada de trabalho, conseguiu o capi­ tal o alimento suficiente para a sua primeira idade. O capital vai crescendo e a mais-valia precisa ir aumentando dade.

Mas,

para

satisfazer

aumento de

essa

crescente

mais-valia,

necessi­

como vimos

ate

agora, nao quer dizer outra coisa que prolongamento da jornada de trabalho. E claro que essa jornada tern o seu limite natural, por mais elastica que seja a sua duracao, Por mais reduzido o tempo que o capitalista

deixa ao

trabalhador para

que ele

mais prementes necessidades,

satisfaca

a jornada de

as

suas

trabalho

sera sempre menor do que 24 horas. Portanto, a jor­ nada de trabalho tern um limite natural, e a mais-valia, por

conseguinte,

encontra

um

obstaculo

intranspo­

nivel. lndiquemos a jornada de trabalho com a linha AB:

A---- D ----C-------- B

37

A letra A nos

indica o principio,

e B o fim,

o

limite natural que nao se pode ultrapassar. Seja AC a parte da jornada na qual o operario produz o valor do salario recebido e CB operario produz

a parte

da jornada em

a mais-valia.

Como vimos,

que

o

o nosso

fiandeiro recebendo 100 cruzeiros de salario, com uma metade de sua jornada reproduzia o valor de seu sala­ rio, e com a outra metade produzia mais-valia. valor

do

0 trabalho AC,

salario,

chama-se

100 cruzeiros de

com o qual se produz o trabalho

necessario,

en­

quanto o trabalho CB, que produz a mais-valia, cha­ ma-se trabalho excedente ou sobretrabalho. 0 capita­ lista esta interessado no sobretrabalho, que

cria

jornada

a de

mais-valia. trabalho,

0 a

porque e ele

sobretrabalho

qual

encontra

prolonga

o

seu

a

limite

natural B, representando um obstaculo intransponivel para o sobretrabalho e para a mais - valia. E agora,

o

que fazer? 0 capitalista encontra logo o rernedio. Ele observa que o sobretrabalho tern dais limites, um B o fim da jornada de trabalho; o outro e C - quando acaba o tempo de trabalho necessario, irremovivel:

0 limite

B

e

o capitalista nao pode criar um dia com

mais de 24 horas. M a s o mesmo nao acontece com o limite C. Diminuindo o tempo de trabalho necessario C,

recuando-o

ate

o

ponto

D,

o

sobretrabalho

CB

aumenta a sua extensao no mesmo tanto representado em DC, que corresponde exatamente

a

diminuicao do

trabalho necessario AC. A mais-valia encontra, assi m, uma forma de continuar crescendo;

agora,

nao

mais

de modo absoluto, isto e , simplesmente pro l o ng an d o a

38

jornada de trabalho. A partir desse momento, a mais­ valia cresce em relacao ao aumento do sobretrabalho e

a

correspondente

diminuicao

do

tempo

de

trabalho

necessario. No primeiro tipo de exploracao, que cha­ mamos

de

mais-valia

absoluta,

o patrao

esticava

a

jornada de trabalho de 10 para 12 horas; no segundo tipo de exploracao, que chamamos de mais-valia rela­ tiva, o capitalista a embolsa, diminuindo o tempo de trabalho necessario. O fundamento

da

mais-valia

nuicao do trabalho necessario. balho

necessario

salario;

se

relativa

e

a

dimi­

A diminuicao do tra­

fundamenta

na

diminuicao

a diminuicao do salario se fundamenta,

do por

sua vez, na diminuicao do preco dos produtos neces­ sarios

e

ao trabalhador; portanto, a mais-valia relativa

fundamentada

no ,

barateamento

das

mercadorias

.

que servem ao operano. Alguern esta se perguntando agora, se nao have­ ria um jeito mais simples para o capitalista arrancar a mais-valia relativa, se ele, por exemplo, ao comprar a mercadoria do trabalhador, ou seja, a sua Iorca de trabalho, cabe;

isto

lhe

e,

pagasse nao

lhe

um

salario

pagasse

menor

o justo

do

preco

que

lhe

de

sua

mercadoria. De

fato,

esse

expediente

e

muito

usado.

Mas,

aqui, s6 vamos considerar a lei de trocas em toda a sua pureza: todas as mercadorias - incluindo a forca de trabalho - devem ser vendidas e compradas pelo seu justo valor.

E,

alern

disso,

o nosso

capitalista

e

um

39

burgues absolutamente honesto, jamais usara de qual­ quer meio para fazer crescer o seu capital que nao seja inteiramente digno dele. Suponhamos que em uma jornada de trabalho de 12

horas

um

operario

produza

6

unidades

de

uma

mercadoria. 0 capitalista vende essas 6 uoidades pelo preco de CrS 75,00, porque no valor desta mercadoria entram CrS 15,00 gastos em materia-prima e meios de trabalho e mais CrS 60,00: CrS 30,00 pelo salario de 12 horas de trabalho e CrS 30,00

de

mais-valia;

em

cada mercadoria, ele tira CrS 5 , 00 de mais-valia, por­ que ele desembolsou,

por cada uma,

CrS

7 ,50,

ven­

dendo depois a CrS 1 2 , 50 por unidade. Agora, supo­ nhamos que, gracas a um novo sistema de trabalho ou simplesmente

com

o

aperfeicoamento

do

antigo,

a

producao se duplique: em vez de 6 unidades por dia, o capitalista recebe

12.

Se

antes,

em

6

unidades,

ele

desembolsava CrS 15,00 em materia-prima e meios de trabalho, em 12 unidades serao necessaries CrS 30,00 ou CrS 2,50 por cada uma. Estes CrS 30,00 sao acres­ centados aos CrS 60,00, produto da forca de trabalho em 12 horas, totalizando, portanto, CrS 90,00, que preco dos 12

artigos,

vendidos

ao

preco unitario

e

o

de

CrS 7,50. No mercado de hoje, portanto, o capitalista pre­ cisa de um espaco maior para vender o dobro de sua mercadoria, o que ele consegue vendendo-a um pouco mais barato. Em outras palavras, o capitalista tern a necessidade de

encontrar uma razao pela

qual

mercadorias possam ser vendidas em quantidade

40

suas duas

vezes

maior

do

que

antes;

e

a

razao

ele

encontra,

logico, na baixa de preco. Ele vendera os seus artigos a um preco menor do que CrS 12,50, que era o seu preco anterior, mas mais caro do que CrS 7 ,SO que

e o valor

de hoje de cada um.

Digamos que o venda a CrS 10,00 e ja tera assegurado o dobro: CrS 60 , 00 - foi quanto lucrou com a venda de seus produtos - dos quais 30 cruzeiros sao de mais­ valia e os outros 30 ele conseguiu da diferenca entre o seu valor

real e o preco

Como veem, tirando

grande

pelo

qual

o capitalista nao

proveito

Todos os capitalistas

do

sao

foram

vendidos.

dorme

aumento

altamente

da

no

ponto,

producao.

interessados em

aumentar a producao de suas indiistrias, como aeon­ tece hoje

em

dia em

quase

todos

os

ramos

da

pro­

ducao. Mas aquele lucro extra que ele retirava da dife­ renca entre o valor da

mercadoria e o seu

preco

de

venda dura pouco; o novo ou aperfeicoado sistema de producao passa a ser adotado, necessariamente, pelos outros capitalistas.

Resultado: o valor da mercadoria

cai para a metade. Antes, cada artigo valia CrS 12,50 e agora vale CrS 6 , 25 . M a s o capitalista continua tendo

o mesmo lucro, apenas dobrando a producao, Antes, 30

cruzeiros

de

mais-valia

em

mesma mais-valia, CrS 30,00,

6

unidades;

entretanto em

hoje,

a

12 uni­

dades. Mas como os 12 artigos foram produzidos no mesmo tempo em que eram produzidos os 6 artigos, isto

e,

em

12 horas

de

trabalho,

tem-se

sempre

30

cruzeiros de mais-valia em uma jornada de 12 horas, mas o dobro da producao.

41

-=-

Quando esse aumento de producao atinge os pro­ dutos necessaries ao trabalhador e sua familia,

cai o

preco da forca de trabalho e com isso diminui tambem o tempo de trabalho necessario, aumentando o sobre­ trabalho, que constitui a mais-valia relativa.

42

v Cooperaciio

Vamos deixar um pouco de lado o nosso capita­ lista, a estas alturas pr6spero e rico. Vamos para sua fabrica e la teremos o prazer o

fiandeiro.

Venham

aqui,

de

rever nosso

juntos.

Pronto,

amigo, ja

en­

tramos. Puuuu . . .

quanto

operariol

Nao

e

somente

um,

mas muitos e em pleno trabalho. Todos em silencio e ordenados, assim como se fossem soldados. Parecendo oficiais, la estao apontadores e chefes que passeiam no meio deles,

dando ordens e vigiando o · cumprimento

fiel do trabalho. Do capitalista, nem sombra. Ei! Es­ pere! Estao abrindo aquela porta de vidro! Quern sabe

e

o patrao . . .

Vamos

mesmo muita figura, o patrao, nao dinados ouvern

se as

e

dar

e

espiada.

0

tipo

tern

muito serio tambem, mas nao

o capitalista. Pssiu . . .

aproximam suas

uma

ordens

do

homem;

com

a

e

(Alguns subor­ todos

maxima

solicitos, atencao.)

Trimm! Triim! Telefone! A secretaria atendeu e agora esta comunicando ao

senhor

diretor

que

chama imediatamente para uma reuniao.

o patrao Bern,

o

mas

43

onde esta o fiandeiro,

nosso velho conhecido? Como

encontra-lo no meio de tantos operarios? Ah! la esta ele! ali no canto, inteiramente concen­ trado

no

seu

trabalho.

Nossa!

coma

emagreceu!

E

vejam coma esta palido! E que tristeza e aquela? Nern parece

o

mesmo

homem

que

tratar,

de igual para igual,

vimos

no

a venda de sua

trabalho com o homem do dinheiro . . . corniseracoes! qualquer.

Hoje

Como

ele

e

muitos

um

de

mercado

Mas,

operario

forca

de

nada de

coma

seus colegas,

a

ele

outro

e opri­

mido par uma jornada de trabalho cavalar, enquanto o homem do dinheiro tornou-se um grande capitalista e vive agora coma um deus, la no alto de seu Olimpo, de onde manda suas ordens atraves de um verdadeiro sequito de intermediaries. Mas,

afinal,

o

que

aconteceu?

Nada

mais

sim­

ples. 0 capitalista prosperou, teve sucesso. 0 capital cresceu e muito. E, para satisfazer as suas novas ne­ cessidades, o capitalista estabeleceu o trabalho coope­ rativo,

que

e

o

trabalho

realizado

com

a uniao

de

muitas forcas. Naquela fabrica, que antes empregava uma s6 Iorca de trabalho, hoje atuam muitas forcas de trabalho em cooperacao. 0 capital saiu de sua infan­ cia e se apresenta, pela primeira vez, com o seu verdadeiro aspecto. E que

.

vantagens o capital

Pelo menos quatro:

leva

na cooperacao?

primeira vantagem,

na coo­

peracao, o capital tern a vantagem de realizar a verda­ deira

forca

de

trabalho

social.

Ja

vimos:

forca

de

trabalho social e a forca media entre um mimero de

44

operarios, trabalhando com grau media de habilidade e

intensidade,

ducao.

em

um

determinado

centro

de

pro­

Um operario sozinho pode ser mais habil ou

menos habil

do

que

a

forca

de

trabalho

media

ou

social, e esta so pode ser medida juntando na fabrica um grande mimero de forcas de trabalho, trabalhando em cooperacao, uma com as outras. A segunda vantagem esta na economia

dos meios

de trabalho. 0 mesmo predio, as mesmas instalacoes, etc., que antes serviam apenas a um, hoje servem para muitos operarios. A terceira vantagem da cooperacao e o aumento da forca de trabalho: O poder de ataque de um esquadrao de cavalaria ou o poder de resistencia de um regimento de infan­ taria

difere

essencialmente

da

viduais de cada cavalariano ou

soma de

de

cada

forcas

indi­

infante.

Do

mesmo modo, a soma de forcas mecanicas dos traba­ lhadores isolados difere da forca social que se desen­ volve quando muitas maos agem simultaneamente, na mesma

operacao

indivisa,

por

exemplo,

quando

e

necessario levantar uma carga, girar uma pesada mani­ vela ou remover um obstaculo,

3

A quarta vantagem e a possibilidade de combinar a uniao

de

forcas

de

trabalho

para

a execucao

de

trabalhos que uma forca isolada jamais conseguiria, e se o tentasse o faria de modo muito imperfeito. Quern ainda

(3)

nao

viu

coma

SO

operarios,

em

apenas

uma

0 Capital, p. 374.

45

hora,

podem

transportar

uma

carga

enorme,

en­

quanto uma unica forca de trabalho nao conseguiria, nem mesmo em 50 horas,

mover um milesimo dessa

carga? Quern nao viu ainda, numa construcao, como 12 operarios dispostos em hora uma quantidade

fila transportam

de tijolos

em uma

imensamente

maior

do que um s6 operario conseguiria em 12 horas? Quern nao sabe que 20 pedreiros fazem em um dia o trabalho que um trabalhador isolado A cooperacao capitalista."

eo

46

faria

em

20

dias?

modo fundamental da producao

Conclui Marx, encerrando mais este ca­

pitulo.

(4)

nao

0 Capital, p. 38..C:,.

VI Divisio do trabalho e manufatura

Quando um capitalista reiine na sua fabrica os operarios e cada um executa as diferentes operacoes que criam a mercadoria, ele da um carater todo especial:

a

cooperacao simples

ele estabelece a divisao do

trabalho e a manufatura. A manufatura nada mais

e

do que um mecanismo de producao cujos orgaos sao os seres humanos. Embora a manufatura se baseie sempre na divi­ sao do trabalho, ela tern uma dupla origem: em alguns casos, a manufatura reuniu na mesma fabrica os di­ versos oficios necessaries

a

producao de uma merca­

doria; estes oficios estavam antes, como todas as ativi­ dades artesanais,

separados e divididos entre si.

Em

outros casos, a manufatura dividiu as diferentes ope­ racoes de um trabalho que antes formavam um todo

na producao de uma mercadoria, e juntou-as na mes­ ma fabrica. Por exemplo, uma carruagem, dessas que a gente ve no cinema, era o produto global dos trabalhos de numerosos

artesaos

independentes

como

o

carpin-

47

teiro,

o estofador,

o costureiro,

o serralheiro,

o tor­

neiro, o passamenteiro, o vidraceiro, o pintor, o enver­ nizador, o dourador, etc. A manufatura de carruagens reuniu

todos

fabrica, rando

esses

onde

um

diferentes

trabalham

com

o

outro.

artifices

numa

simultaneamente, Nao

se

carruagem antes de estar pronta;

pode se,

mesma colabo­

dourar

porem,

uma

muitas

carruagens sao feitas ao mesmo tempo, umas podem ser douradas enquanto outras se encontram em outra fase do processo de producao. A fabricacao da agulha, por exempo, foi dividida pela manufatura em mais de vinte operacoes

parciais,

que

agora

processo de Iabricacao total dessa

fazem

agulha.

parte

do

A manu­

fatura, portanto, ora reuniu varies oficios em um s6, ora dividiu um mesmo oficio em muitos.

5

A forca e os instrumentos de trabalho foram tam­ bem multiplicados pela manufatura, nou

terrivelmente

reduzidos

a

uma

mas ela os tor­

tecnicos

e

iinica

invariavel

e

simples

porque

foram

operacao

ele­

mentar. Sao grandes as vantagens que o capital realiza na manufatura ao determinar essas tarefas elementares e repetitivas para diferentes forcas de trabalho,

pois a

forca de trabalho ganha muito em intensidade e pre­ cisao,

Todos aqueles poros,

aqueles pequenos

inter­

valos entre as diferentes fases de elaboracao de uma mercadoria isolado,

(S)

48

que

a

gente

desaparecem,

0 Capital, p. 386-387.

encontrava

quando,

no

agora,

trabalhador esse

mesmo

trabalhador

executa

sempre

a

mesma

operacao.

0

trabalhador daqui pra frente nao precisa mais passar anos a fio, aprendendo um oficio; o que ele precisa

e

saber executar apenas uma das muitas operacoes que formam todo um oficio e essa operacao ele aprende em muito pouco tempo. tempo rias

e

ao

Esta diminuicao de custos e de

tambem uma diminuicao de coisas necessa­ trabalhador,

ou

seja,

uma

tempo de trabalho necessario e um

diminuicao aumento

de

corres­

pondente de sobretrabalho e mais-valia. 0 capitalista, pois, verdadeiro parasita, as custas do trabalho alheio, cada vez mais rico e o trabalhador, por isso, sofrendo cada vez mais. Enquanto a cooperacao

simples,

em

geral,

nao

modifica o modo de trabalhar do individuo, a manu­ fatura

o

revoluciona

inteiramente

e

se

apodera

da

forca individual de trabalho em suas raizes. Deforma monstruosamente o trabalhador, levando-o artificial­ mente a desenvolver uma habilidade parcial, as custas da repressao de um mundo de instintos e capacidades produtivas, lembrando aquela pratica das regioes pla­ tinas onde se mata um animal apenas para tirar-lhe a pele e o sebo. Nao

s6

e

o trabalho

dividido

e

suas

diferentes

fracoes distribuidas entre os individuos, mas o proprio individuo

e

mutilado e transformado em instrumento

automatico de um trabalho parcial, tornando-se reali­ dade,

assim,

a

fabula

Menennius Agrippa,

absurda

em

que

do

patricio

romano

o ser

humano

aparece

representado por um iinico fragmento de seu pr6prio

49

corpo, o estomago.

Dugald Stewart chama os traba­

lhadores de manufatura automates vivas, empregados na fracao de um trabalho. Originariamente, o trabalhador vendia sua forca de trabalho ao capital por lhe faltarem os meios mate­ riais para produzir uma mercadoria. Agora, sua forca individual

de

trabalho

· vendida ao capital;

nao

funciona

se

nao

para poder funcionar,

estiver

ela neces­

sita daquele centro social que s6 existe na fabrica do capitalista.

0 povo eleito trazia escrito na testa

que

era propriedade de Jeova: do mesmo modo, a divisao do trabalho ferreteia o trabalhador com a marca seu proprietario: o capital. que domina um oficio

Storch dizia:

completo pode

de

"o operario

trabalhar por

toda parte para se manter; o outro, o da manufatura,

e

apenas um acess6rio e, separado de seus colegas de

trabalho,

nao

tern

nem

capacidade,

nem

indepen­

dencia, sendo forcado a aceitar a norma que lhe que­ rem impor". As forcas

intelectuais

da producao

- continua

Marx - se tornam bitoladas , ao se desenvolverem em apenas

um

sentido,

tolhidas

em

tudo

que

nao

se

enquadre em sua unilateralidade. 0 que esses traba­ lhadores parciais perdem, se concentra no capital que com eles se confronta.

As forcas intelectuais da pro­

ducao material, com a divisao manufatureira do tra­ balho,

aparecem

ao

operario coma

propriedades

de

outros e coma poder que os domina. Esse processo de dissociacao ja comeca com a cooperacao simples, em que o capitalista representa para o trabalhador iso-

50

lado a unidade e a vontade do trabalhador

coletivo.

Na manufatura, esse processo se desenvolve e mutila o trabalhador a ponto de reduzi-lo a uma particula de si

mesmo.

Na

indiistria

moderna,

temos

o processo

completo, perfeito, que faz da ciencia uma forca pro­ dutiva independente do trabalho e que a recruta para servir ao capital. Na manufatura,

o enriquecimento

dor coletivo e, por isso,

do

trabalha­

do capital, em Iorcas produ­

tivas sociais, realiza-se as custas

do empobrecimento

em forca produtiva do trabalhador individual. "A ignorancia", diz Ferguson, tria como o

e

da supersticao.

"e mae da indiis­

0 raciocinio e a imagi­

nacao estao sujeitos a erros; mas o habito de mover o pe ou a mao nao depende nem de um, nem da outra.

Por

isso,

as

manufaturas

requer menos inteligencia,

prosperam de

modo

mais

que,

onde

se

nao tendo

necessidade de forcas intelectuais, a fabrica pode ser considerada como uma maquina cujas pecas sao seres humanos. "

Marx, para ilustrar o caso desse trabalhador mu­ tilado, nos fala de algumas manufaturas que, em mea­

dos do seculo XV II I , empregavam de preferencia indi­ viduos meio idiotas, em certas operacoes simples, mas que eram segredos de fabricacao. Smith disse sobre a imbecilidade do trabalhador parcial: " a inteligencia da maior parte dos homens se forma necessariamente no decorrer de sua ocupacao do

dia - a - dia .

Um

h omem,

que

passa toda

a vida

a

executar um pequeno mimero de operacoes simples,

51

nao tern nenhuma condicao de desenvolver a sua inte­ ligencia, nem de exercitar a sua imaginacao . . . Ele se torna, em geral, tao estupido e ignorante quanta uma criatura humana pode vir a se-lo". E, continua Adam Smith: rompe

"A

uniformidade

naturalmente

o

da

vida

animo

estacionaria

desse

cor­

trabalhador . . .

·Chega mesmo a destruir a energia de seu corpo,

tor­

nando-o incapaz de empregar suas forcas com vigor e perseveranca em qualquer outra tarefa que nao

seja

aquela para que foi adestrado. Assim, sua habilidade em seu oficio particular parece adquirida com o sacri­ ficio de suas virtudes intelectuais, sociais e guerreiras, E em toda sociedade desenvolvida e civilizada, esta condicao pobres

a que

que

ficam

necessariamente

trabalham,

isto

e,

a

e

reduzidos

grande

massa

a

os do

povo". Para

remediar

resulta da divisao

esta

degeneracao

do trabalho,

A.

completa

Smith

que

receita em

doses prudentemente horneopaticas o ensino popular pago pelo Estado.

Essa ideia de Smith,

que

era um

ingles, foi combatida com coerencia pelo seu tradutor e comentador frances,

G.

Garnier,

que,

no primeiro

imperio frances, encontrou as condicoes naturais para se transformar em instrucao

popular

senador.

e

trabalho e adota-la todo o nosso

Segundo

contraria

as

leis

seria o mesmo

sistema

esse da

que

social.

Vejam

outras

divisoes

sujeito, divisao

acabar

como

ele

a do

com

se ex­

pressou: "Como que

52

existe

todas

entre

o

as

trabalho

do

mecanico

e

trabalho, o

a

trabalho

intelectual se torna mais acentuada e mais evidente

a

medida que a sociedade ( e esse Garnier chama 'socie­ dade' o Estado com a propriedade de terra, o capital, etc.) se torna mais rica. Como qualquer outra divisao do

trabalho,

sados

e

esta

e causa

de

consequencia

progressos

de

progressos

futuros . . .

Deve

pas­

en tao

o

governo contrariar essa divisao e retardar sua marcha natural? Deve empregar uma parte da receita piiblica para confundir e misturar

duas especies

de

trabalho .

que tendem por si mesmas a se separar?" "A arte de pensar, num tempo em que tudo esta separado,

pode

mesmo

se

constituir em

um

oficio

a

parte", escreveu Ferguson. Certa deforrnacao fisica e espiritual mesmo

da

divisao

do

trabalho

na

e

inseparavel

sociedade.

Mas,

como o periodo manufatureiro leva muito mais longe a divisao social do trabalho e, com sua divisao peculiar, ataca o individuo em suas raizes vitais, que primeiro fornece patologia

industrial.

o material e Ramazzini,

o

e

esse periodo

impulso

professor

para

de

a

medi­

cina pratica em Padua, Italia, publicou em 1 7 1 3 a sua obra De saos. foi,

morbis artificum ,

A sua lista

naturalmente,

moderna, ram

de

sobre

doencas

que

doencas entre atingem

o operario

muito aumentada com a indiistria

como o demonstram os escritores

depois

dele:

arte­

Dr.

A.

L.

Fonterel,

que vie­

Paris,

1858;

Eduardo Reich, Erlangen, 1868 e outros, alem de uma pesquisa muito importante encomendada pela

Socie­

dade de Artes e Oficios, em 1854, na lnglaterra, sobre a saude piiblica.

' '

"Subdividir um homem pena

de

morte;

e

e

executa-lo, se merece a

assassina-lo

e

subdivisao do trabalho

se

nao

a

merece.

A

o assassinato de um povo",

afirmou D . Urquhart, em 1855. Hegel, um dos grandes pensadores na hist6ria da filosofia, tinha opinioes muito hieraticas, muito idea­ listas,

sabre a divisao

do

trabalho.

Vejam

como ele

colocou o problema em sua obra, Filosofia do Direito: "Por homem aquele

que

e

culto

entendemos,

capaz

de

fazer

em

tudo

primeiro lugar, o

que

os

outros

Iazem". Botando

as

coisas

no

chao,

na

sua

realidade,

vamos concluir mais este capitulo, com essas palavras de Marx: A divisao do trabalho, em sua forma capitalista,

nao

e

mais do que um metodo particular de produzir

a mais-valia relativa, ou de fazer aumentar, as custas do operario, os lucros do capital -

e

o que chamam

de riqueza nacional. As custas do trabalhador, desen­ volve-se a Iorca coletiva do trabalho em prol do capi­ talista.

Criam-se

novas

condicoes

para

assegurar

a

dominacao do capital sabre o trabalho. Essa forma de divisao do trabalho

e uma

economica da sociedade,

fase necessaria na Iormacao

e

um meio civilizado e refi­

6

nado de exploracaol

r

(6)

54

0 Capital, p. 4 1 7 - 4 1 8 .

VII Maquina e grande industria

Em

seu livro,

Princlpios de Economia Politica,

John Stuart Mill escreveu:

"Resta ainda saber se

as

invencoes mecanicas realizadas ate agora aliviaram

O

trabalho diario de algum ser humano". Besteira desse

Mill.

Em

primeiro

lugar,

nao

e

essa a intencao do capital, quando emprega uma ma­ quina. Como qualquer outro desenvolvimento da for­ ca produtiva

do

trabalho,

a maquina,

na

producao

capitalista, tem por fim baratear as mercadorias, en­ curtar a parte do dia de trabalho na qual o operario trabalha para si mesmo e, com isso, prolongar a outra parte da jornada de trabalho que ele da gratuitamente para o capitalista. A maquina e um metodo de fabri­ car a mais-valia relativa. Em segundo lugar,

ainda em relacao

a

frase de

Mill, ele deveria ter dito: "de algum ser humano . . . que nao viva

do trabalho

alheio".

As

maquinas

aumen­

taram, com certeza, o mimero dos ricos ociosos. Mas, lhador?

quern e que pensa alguma

Se o capitalista

S"

vez

preocupa com

no ele,

traba­ e so-

55

mente para estudar uma forma melhor de suga-lo. 0 operario vende sua forca de trabalho e o capitalista a compra, coma a iinica mercadoria que, criando mais­ valia, faz nascer e crescer o capital. 0 capitalista, par outro lado,

s6

se

ocupa em

fabricar

sempre mais

e

mais mais-valia. Depois de ele ter exaurido a fonte de mais-valia absoluta,

encontrou a mais-valia

relativa.

Agora ele sabe: com as maquinas, ele pode obter, ao mesmo tempo, um produto duas, quatro, dez, muitis­ simas vezes maior do que antes.

E o que

e

moco religioso, honesto e, ainda par cima, tecnologia avancada pode fazer? para os seus trabalhadores! fatura,

se

transforma

amigo da

lmpor as maquinas

A cooperacao,

assim

que esse

na

grande

moderna e as suas oficinas na Iabrica,

a manu­ indiistria

propriamente

dita. Depois de ter mutilado e estropiado o trabalha­ dor com a divisao do trabalho; depois de te-lo limitado a uma unica e

macante

agora nos oferecer um

operacao,

espetaculo

o

capitalista

mais

triste

vai

ainda.

Ele arrancou das maos do trabalhador as ferramentas · que lhe restavam, liquidando, assim, dacoes de seu antigo oficio, homem completo,

as unicas recor­

de seu antigo estado

e o amarra

a

maquina.

Agora,

de o

operario virou escravo da maquina, exatamente coma o capitalista precisa dele. Com a introducao da maquina, o capitalista tern imediatamente um

enorme lucro;

dissemos da mais-valia relativa,

recordando o que

a gente compreende

logo o par que, Mas com a generalizacao do sistema

56

r

de producao mecanica, aquele lucro extra acaba, res­ tando

apenas

o

aumento

da

producao,

resultado geral dessa generalizacao,

que,

como

diminui o valor

das mercadorias necessarias ao trabalhador, o tempo de trabalho necessario e tambem os salaries. aumenta

e

o sobretrabalho e,

com ele,

0

que

a mais-valia.

O capital se compoe de uma parte constante e de uma parte variavel,

Chamamos de

capital

constante



aquela parte que

e

representada pelos meios de

tra-

balho e pelo material de trabalho (rnateria-prima). 0 predio da fabrica, suas instalacoes, os instrumentos de trabalho,

mesmo

os

uniformes,

com

capacetes

de

seguranca e tudo; o material auxiliar como a graxa, o carvao,

o oleo,

a energia eletrica,

etc.;

a materia de

trabalho, como o ferro, o algodao, a seda, a prata, a madeira, o plastico, e t c . , sao coisas que fazem parte do capital constante. O capital variavel salario, isto meiro

e

e,

e

aquela parte representada no

no preco da forca de trabalho.

chamado constante porque o seu valor,

entra no preco da mercadoria, nao se altera, nece constante. 0 segundo porque

0 pri­

o seu

valor

e

que

perma­

chamado capital variavel

aumenta,

e

esse

aumento

entra

tambern no valor da mercadoria. E s6 o capital varia­ vel que cria mais-va/ia. E a maquina, como nao pode

deixar de ser, faz parte do capital constante. Do mesmo modo que o capitalista lucrou de uma massa de forcas naturais, ele se propoe, na indiistria moderna, a lucrar de uma massa enorme de trabalho

57

morto e de

graca.

Mas,

para

alcancar seu

necessita ter todo um mecanismo,

objetivo,

que se compora de

materia mais ou menos custosa e que sempre absor­ vera uma certa quantidade de trabalho. Certamente, o capitalista

nao

cornprara

a

forca

do

vapor,

ar;

claro

propriedade motriz

da

agua e do

que

as

descobertas

nao

comprara

e

sua

nem

a

tambem aplicacao

mecanica, nem as invencoes e o aperfeicoarnento dos instrumentos de um oficio. Isso ele pode usar quanto quiser,

sempre

Agora,

o

que

que o

quiser,

capitalista

sem

a

precisa

menor

e

despesa.

encontrar

um

mecanismo capaz de aproveitar tudo isso. A maquina entra entao

como

meio

de

trabalho,

como parte

do

capital constante; ela passa a entrar no valor da mer­ cadoria em uma proporcao que esta em razao direta com

o seu

proprio

materias auxiliares,

desgaste como

e

do

carvao,

consumo graxa,

razao inversa ao valor da mercadoria.

de

etc.,

suas e em

Isto quer dizer

que, na producao de uma mercadoria, quando mais se Iaca USO da

maquina e de

maior

e

doria:

enquanto

a parte

de que,

seu ao

SUaS

valor

materias que

contrario,

auxiliares,

passa quanto

a

merca­

maior

o

valor da mercadoria para a qual a maquina trabalha, menor ,

e

a parte de valor que advern do consumo da

.

maquma. Voces ja imaginaram o valor que o desgaste e o consumo de carvao, e t c . , de um mastodonte como um martelo-pilao gigante passaria para uma mercadoria, se ele fosse empregado para bater preguinhos?

Pois

bem: uma tal maquina distribui um valor muito redu-

58

r

zido pela enorme quantidade de ferro martelado que ela produz diariamente. Quando, na

grande

7

em razao da generalizacao

industria,

a maquina

deixa

do

de

direta cle lucro extra para o capitalista,

sistema

ser

fonte

ele encontra

outros meios pelos quais pode continuar a bombear do operario urua enorme quantidade de mais-valia rela­ tiva, atraves do emprego da maquina. Mulheres! primeiras

Criancas!

palavras

Ao

trabalho!

de ordem

meca a empregar maquinas,

do

Sao

capital

Este

essas

quando

meio poderoso

as co­ de

diminuir o trabalho do homem, torna-se logo um meio de aumentar o mirnero de assalariados. sob o regime capitalista, de

uma familia,

sem

A maquina,

subrnete todos os membros

distincao

de

sexo

e

idade,

ao

chicote do capital. 0 trabalho comandado pelo capital rouba o lugar dos jogos infantis e do trabalho livre no lar; e, justamente, esse trabalho domestico era o sus­ 8

tentaculo econornico da moral da familia. Anteriormente, o valor da forca de trabalho era determinado pelas despesas necessarias do

operario e de

sua

familia.

a

Jogando

manutencao a familia no

mercado, distribuindo assim, entre diversas forcas de trabalho o valor de uma so, a maquina deprecia essa Iorca de trabalho. Pode ser que as quatro forcas, por exemplo, que uma familia operaria vende, mais

do

que

dava

antes

(7)

0 Capital, p. 443.

(8)

0 Capital, p. 450.

a

forca

unica

do

lhe deem chefe

da

59

famiha,

mas,

ao

mesmo

tempo,

quatro jornadas

de

trabalho entraram no lugar de uma s6; portanto, seu

e

preco

rebaixado em proporcao ao excesso de sobre­

trabalho de quatro sobre o trabalho de apenas uma. Resumindo,

o

capitalista

tinha

a

antes

apenas uma jornada de trabalho,

disposicao,

agora tern quatro.

Quatro pessoas devem agora fornecer nao apenas tra­ balho, mas ainda sobretrabalho ao capital, uma

so

familia

possa

viver.

E

assim,

para que

pois,

que

a

maquina, aumentando a rnateria humana exploravel, mulheres e criancas,

aumenta,

ao

mesmo

tempo,

o

grau de exploracao, O emprego capitalista da maquina revolucionou em suas bases o contrato, no qual a primeira condicao era que capitalista e operario devessem se apresentar face a face como pessoas livres, um

possuidor

de

dinheiro

e

mercadores os dois,

meios

de

producao,

o

outro possuidor da forca de trabalho. Mas agora, sob o ponto de vista juridico,

o capitalista compra seres

dependentes ou parcialmente dependentes.

0 opera­

rio que antes vendia sua propria forca de trabalho, da qual podia dispor livremente,

vende agora mulher e

filhos. Virou um traficante de escravos. Se a maquina

e

o meio mais poderoso de aumen­

tar a produtividade do trabalho, isto

e,

de diminuir o

tempo

de

mercadorias,

necessario para

a producao

como sustentaculo do capital, ela roso

de

prolongar

a jornada

de

e

o meio mais pode­

trabalho,

alem

todos os limites naturais. 0 meio de trabalho, transformado

60

em

rnaquina,

nao

esta

mais

de

agora

subordi-

r

nado ao trabalhador; tornou-se independente. Uma so paixao toma conta do capitalista: reduzir ao minimo a resistencia que lhe opoe essa barreira natural, flexivel, que

e

o homem. Nesta obra de escravizacao ajudam­

no a aparente leveza do trabalho junto as maquinas e tambem

o emprego

de elementos

mais

submissos

e

maleaveis, como as criancas e as mulheres. O desgaste senta sob uso,

um

como,

material

duplo

por

de uma

aspecto.

exemplo,

maquina

Um,

uma

em

nota

se

razao ou

apre- ·

de

seu

moeda

de

CrS 10,00 passando de mao em mao; outro, por ina­ .;ao,

por

permanecerem

sem

funcionar,

como

uma

espada inativa que se enferruja na bainha. Neste ulti­ mo caso, a acao de elementos naturais a desgastam. No primeiro caso, quanto maior for o uso da maquina, mais rapido sera o seu desgaste; razao

e

no segundo caso, . a

inversa, ou seja, quanto mais a maquina ficar

parada maior sera o seu desgaste. Mas a maquina sofre, alem do material, um des­ gaste que podemos chamar de

moral.

Esse

desgaste

moral ocorre quando uma maquina vai perdendo va­ lor, pois maquinas do mesmo tipo vao sendo reprodu­ zidas

a precos

mais

baixos

ou

na

medida

em

que

maquinas mais aperfeicoadas passam a lhe fazer con­ correncia.

9

Para remediar esse prejuizo, a

necessidade

de

fazer

a sua

o capitalista sente

maquina

trabalhar

o

maximo possivel, e comeca antes de mais nada com o

(9)

0 Capital, p. 461-462.

61

prolongamento do trabalho diario, introduzindo o tra­ balho noturno e o trabalho de turma, turno, que como o nome mesmo indica, balho

e

e

o sistema em

que

um

tra­

executado por duas equipes de trabalhadores,

se revezando em cada doze horas ou por tres equipes se

revezando

trabalho

em

segue,

cada

oito

horas,

sem interrupcao,

de

modo

durante

que

as vinte

o e

quatro horas do dia. Esse sistema tao lucrativo para o capital foi adotado imediatamente com o surgimento das maquinas, lista em

tirar

para satisfazer a ganancia do capita-· a maior

quantidade

possivel

de

lucro

extra, que, com a propagacao da maquinaria, nao vai poder mais obter. O capitalista, portanto,' com a introducao de ma­ quinas,

acaba

com

todos

os

obstaculos

de

tempo,

todos os limites da jornada que durante o periodo da manufatura eram impostos ao trabalho. E quando ele alcanca o limite da jornada natural, absorvendo todas as 24 horas do dia, ele encontra um modo de fazer, de apenas um dia, dois, tres, quatro e mais dias, intensi­ ficando o trabalho em duas, tres, quatro e mais vezes. De fato, se em uma jornada de trabalho o operario obrigado a fazer um trabalho duas vezes, quatro vezes, etc., maior do que antes,

e

tres vezes,

e claro

que a an­

tiga jornada de trabalho correspondera a duas,

tres,

quatro ou mais jornadas de trabalho. Tornando o tra­ balho mais intensivo,

comprimindo,

em outras pala­

vras, em uma unica jornada o trabalho de varias jornadas, o capitalista consegue, gracas car seus objetivos.

62

a

maquina, alcan-

'

O aperfeicoarnento da maquina a vapor aumen­ tou

a velocidade

economia

de

de

seus

energia,

pistoes

que,

movimenta

com

agora

grande

um

meca­

nismo mais volumoso com o mesmo motor, mantendo O

mesmo

consumo

nuindo esse

de

consumo

carvao de

e,

as vezes,

combustivel;

ate

dimi­

diminuindo

o

atrito no mecanismo de transmissao, reduzindo o dia­ metro e o peso dos grandes e pequenos eixos do motor, dos discos de cilindro, e t c . , cada vez mais, alcanca-se . transmitir com muito mais rapidez a acrescida forca de impulsao do motor a toda a rede de mecanismos da operacao. 0 pr6prio mecanismo foi aperfeicoado. As dimensoes da maquina-ferramenta foram

reduzidas,

enquanto sua mobilidade e sua precisao aumentaram, como no

moderno

tear

a vapor;

ou

o

tamanho

e

a

quantidade de ferramentas crescem com as dimensoes da maquina, como e o caso da maquina de fiar.

En­

fim, esses instrumentos sofrem incessantes modifica­ coes de detalhes,

como aquelas

que

ha

mais

de um

seculo atras, na decada de 1850, conseguiram aumen­ tar em fiar.

1/5 a velocidade dos

fusos

das

maquinas

de

10

Ja em 1836, declarava um industrial ingles: "O

trabalho

que

hoje

se

executa

nas

Iabricas

aumentou muito, comparado com o de antigamente, em virtude da maior atencao e atividade exigidas do trabalhador devido ao grande aumento da velocidade das maquinas."

(10)

0 Capital, p. 470.

63

E,

em

"O

1844,

trabalho

ouviu-se nas

maior do que antes,

na

Camara

fabricas

de

dos

e

hoje

Comuns: tres

vezes

quando se iniciou este genero de

operacoes. Sem diivida, a maquina tern realizado tare­ fas que exigiriam a forca de milhoes de homens, mas multiplicou

assustadoramente

o

trabalho

daqueles

que sao governados pelos seus terriveis movimentos." Na fabrlca, a virtuosidade

ao trabalhar com uma

ferramenta passa do operario para a maquina: a efica­ cia da ferramenta nao depende mais do trabalhador e sim da maquina.

A classificacao

fundamental

se

da

entre os trabalhadores que estao diretamente ocupa­ dos

com

os

instrumentos

trabalhadores

da

encarregados

maquina de

(inclusive

abastece-la

com

combustive! necessario) e seus manobristas ( que quase

exclusivamente

criancas).

Entre

esses

os o

sao

mano­

bristas estao aqueles que alimentam a maquina com a materia-prima a ser trabalhada. Ao lado dessas duas classes principais,

ha

um

pessoal

que se ocupa com o controle de toda repara continuamente,

como os

nicos, marceneiros, etc. Esta trabalhadores,

uns

e

pouco

numeroso,

a maquinaria e a

engenheiros,

meca­

uma classe superior de

possuindo

forrnacao

cientifica,

outros dominando um oficio; estao fora do circulo dos trabalhadores de fabrica,

es tan do apen as re uni dos a

eles. Qualquer crianca aprende com muita facilidade a adaptar os seus movimentos ao movimento continuo e uniforme de uma maquina. A rapidez com a qual uma crianca .aprende a

64

dominar

um

trabalho

mecanico,

suprime radicalmente a necessidade de converter esse trabalho em oficio exclusivo de uma classe particular de trabalhadores.

A especialidade em

manejar eter­

namente um unico instrumento, se torna a especiali­ dade de servir por toda a vida uma maquina parcial. Abusam da maquinaria para fazer do operario, desde a infancia, uma peca de maquina, que e, por sua vez, apenas uma parte de um complexo mecanico. Nao s6 diminuiu consideravelmente o custo para a reprodu­ �ao desse operario, mas a sua dependencia da Iabrica, portanto do capital, tornou-se absoluta. Na

manufatura e no

usava sua ferramenta; maquina.

La,

artesanato,

na Iabrica,

o

ele

e

trabalhador usado

o movimento da ferramenta era

pela dado

por ele; na Iabrica, ele nao faz outra coisa senao seguir o movimento imposto pela maquina, pelo instrumen­ tal

de

trabalho.

Na

manufatura,

os

trabalhadore s

eram membros de um organismo vivo; na fabrica, os operarios

sao incorporados a um

mecanismo

morto,

que existe independente deles. A pr6pria facilidade do trabalho torna-se tortura, pois a maquina nao liberta o operario do trabalho, mas sim liquida todo o inte­ resse que poderia haver no trabalho. de trabalho agora

e

0 instrumental

um automate que se coloca frente

ao operario no processo de trabalho, trabalho morto, de capital,

sob a forma de

que domina e suga a sua

Iorca viva. Na grande industria moderna se completa, final­ mente, a separacao entre o trabalho manual e o tra­ balho intelectual da producao, separacao que se trans-

65

forma em poder do capital sobre o trabalho. Ao opera­ rio, sua habilidade parece ridicula frente aos milagres da ciencia, frente as imensas forcas da natureza, frente a grandeza do trabalho social, na maquina e que

constitui

humano,

o poder

do

incorporado patrao.

Na

cabeca desse capitalista, desse patrao, o seu monopolio sobre as maquinas se confunde com a existencia das maquinas mesmo. Assim, como se ele pr6prio as tivesse parido. E,

como disse Friedrich Engels - e nao vamos

confundi-lo com os escritores burgueses citados neste livro;

Friedrich Engels,

como

estas

suas

palavras

o

demonstram, concordava inteiramente com Marx e foi seu a m i g o - , pois bem, como dizia Engels, o capita­ lista, ao entrar em conflito com seus operarios, tern a mania

de lhes

atirar

na cara palavras

humilhantes,

comoessas: "Os

operarios

nao

deviam

se

esquecer

de

que

fazem um trabalho inferior e que nao ha outro mais Iacil de se aprender e melhor pago, tendo em vista a sua qualidade; basta um tempo minimo e um aprendizado minimo para adquirir toda habilidade exigida. A nossa maquinaria desempenha um papel muito mais impor­ tante do que o trabalho e a habilidade
de

trabalho,

formado

por

individuos

de

ambos os sexos e de todas as idades, criam uma ferrea

66

disciplina de caserna, que e a do regime de fabrica. Por isso,

como ja diziamos,

la na fabrica,

supervisao se desenvolve plenamente, trabalhadores em

trabalhadores

o trabalho

de

dividindo-se os

manuais

e

supervi­

sores de trabalho, em soldados rasos e em suboficiais do exercito da indiistria. Ure, que ao contrario de Marx e de Engels, s6 via belezas no sistema fabril, escreveu isso: ''A

dificuldade principal na fabrica era encontrar

a disciplina necessaria para que seres humanos renun­ ciassem a seus habitos

irrregulares

de

trabalho

e se

identificassem com a invariavel regularidade das gran­ des maquinas.

Inventar esse regulamento disciplinar

adequado as necessidades e a velocidade autornatico e aplica-lo com sucesso foi,

do

sistema

sem

duvida,

uma empresa digna de Hercules." Deixando de lado a divisao dos poderes e o sistema representativo, tao decantados pela burguesia, o capi­ talista elabora como bem entende toda uma legislacao privada, em que exerce o seu poder autocratico,

dita­

torial sobre os seus operarios atraves do regulamento da fabrica. A chibata do feitor de escravos foi substi­ tuida por um livro de punicoes em que tudo se resolve naturalmente, com multas e descontos no salario,

Oucam estas palavras de Engels: "A escravidao do proletariado a burguesia mostra

a sua verdadeira cara no regulamento da fabrica. A qui, · nao

ha

nenhuma

liberdade,

nem

de

fato,

nem

de

direito . . . As cinco e meia da manha o operario deve estar na fabrica: se chegar dois minutos atrasado,

la

67

vem uma multa; se o atraso e de dez minutos,

nao o

deixam entrar senao depois do almoco e com isso perde uma boa parte do seu salario diario. 0 industrial e o legislador absoluto:

dita os regulamentos como

bem

entende, modifica e amplia seu codigo a seu bel-prazer e,

se

e acometido

do

tribunais respondem

mais extravagante aos

trabalhadores:

arbitrio,

os

se o senhor

aceitou voluntariamente este contrato, deve a ele obe­ decer . . . E os operarios es tao condenados a viver, dos 9 anos ate

a

morte sob essa tortura espiritual e fisica."

11

Tomemos dois exemplos do que "dizem os tribu­ nais":

1866,

uma cidade inglesa chamada Sheffield.

Um metahirgico fez la um contrato de dois anos com a fabrica. Por causa de uma divergencia com o patrao, abandonou a fabrica e declarou que, de modo nenhum, trabalharia mais para ele. Acusado de romper o con­ trato, foi condenado a dois meses de cadeia. (Ora, se fosse o patrao quern violasse o contrato teria apenas que se apresentar ao tribunal civil, expondo-se apenas ao

risco

de

pagar

uma

pequena

multa.)

Pois

bem.

Decorridos os dois meses de cadeia, o mesmo patrao exigiu que o operario voltasse

a

fabrica, sob as mesmas

bases do antigo contrato. 0 metahirgico se recusou e, alern do mais, ja havia cumprido a pena pela ruptura do contrato. 0 patrao processou-o de novo e a justica voltou a condena-lo. (Um dos juizes denunciou a sen­ tenca, publicamente,

(11)

68

como monstruosidade juridica,

OCapital, p. 486-487(nota 189).

pelo fato de condenar em periodos sucessivos, repeti­ damente, o mesmo homem pela mesma ofensa ou pelo mesmo crime.) E vejam

bem,

pronunciada por um tribunal

essa sentenca nao foi

qualquer, mas por uma

das mais altas cortes dejustica, em Londres! Um segundo caso ocorreu em Wiltshire, tambem na lnglaterra, em fins de novembro

de 1863.

Cerca de trinta mulheres trabalhavam num tear a vapor, empregadas por um certo Harrupp, fabricante de toalhas; decidiram fazer uma greve, porter o patrao o agradavel costume de reduzir-lhes,

da forma mais

descarada possivel, o salario por cada atraso matinal. Por dois minutos de atraso, ele descontava

10 cruzei­

ros; por tres minutos, 20 cruzeiros. A 200 cruzeiros por hora, as multas chegavam a 2 000 cruzeiros, quando o salario medic semanal nao

ultrapassava os 450

cru­

zeiros. Mas esse Harrupp tinha outras veleidades. Para marcar o inicio do trabalho, ele botou um apito na boca de um garoto. 0 garoto,

muitas vezes,

apitava antes

das seis da manha e, depois desse apito, ninguem mais entrava. Quern ficava do lado de fora era multado. As infelizes operarias ficavam

a

merce do jovem guardiao

do tempo, comandado por Harrupp, e a Iabrica conti­ nuava sem relogio.

As maes

de

familia e mocas em

greve declararam que s6 voltariam ao trabalho, depois que fosse colocado um relogio, substituindo o apito do garoto e quando fosse introduzido um sistema - dia­ bos! - pelo menos mais racional de multasl Harrupp, revoltado, deu entrada a uma acao judicial contra 19 empregadas, por ruptura de contrato. Elas foram con-

69

denadas

a pagar uma

multa e mais

as

despesas

do

processo, o que provocou a indignacao geral do audi­ t6rio que acompanhava o julgamento. Harrupp, ao sair do tribunal, foi vaiado estrondosamente pela multidao .

que o seguia. Os operarios

nunca ignoraram

quencias da fabrica e da grande

as

tristes conse­

industria,

como de­

monstra a acolhida que deram as primeiras maquinas, Pelo seculo XVII, em quase toda a Europa, ocor­ reram revoltas de trabalhadores contra uma maquina de tecer fitas e galoes, inventada na Alemanha, chama­ daBandmiihle ouMiihlenstuhl. 0 abade italiano Lan­

celotti, num relato de 1636, con ta-nos que "ha cerca de SO anos um certo Anton Muller viu em Dantzig uma

maquina muito engenhosa que fabricava 4 a 6 tecidos, ao mesmo tempo. 0 Conselho da cidade, com receio de que a invencao jogasse a miseria grande quantidade de trabalhadores, proibiu o emprego da invencao e man­ dou secretamente estrangular ou enforcar o inventor". Em

1629,

essa mesma

maquina

foi

empregada

pela primeira vez em Leida, onde as revoltas dos tece­ loes forcaram as autoridades municipais a proibi-la. "Ha cerca de vinte anos inventaram nesta cidade um instrumento para tecer, por meio do qual um s6 traba­ lhador podia fazer, no mesmo tempo que varies tece­ loes manuais, uma quantidade muito maior de tecidos e de forma muito mais Iacil. Dai surgiram agitacoes e protestos dos teceloes, ate que as autoridades munici­ pais proibiram o emprego desse instrumento." E o que nos con ta um outro testemunho da epoca.

70

Depois

de

uma

serie

de

editos

mais

ou

menos

proibitivos em 1623, 1639, etc., os Estados Gerais da Holanda permitiram finalmente o emprego desse tear mecanico, sob certas condicoes, com o edito de 15 de dezembro de 1 6 6 1 . A mesma maquina foi proibida em Colonia, 1676,

enquanto

a

sua

introducao

na

em

a

lnglaterra,

mesma epoca, provocava uma serie de rebelioes entre os teceloes. Na Alemanha, um edito imperial, de 19 de fevereiro de 1685, proibia o seu uso em toda a nacao: por ordem das autoridades municipais, em Hamburgo, o invento foi queimado publicamente. Carlos VI reno­ vou

em 9

de

fevereiro

de

1719

o edito

de

1685

e

a

Saxonia eleitoral s6 autorizou o seu emprego em 1765. A Bandstuhl, que agitou a Europa, foi a precur­ sora

das

maquinas

de

fiar

e

tecer

e,

portanto,

da

Revolucao Industrial do seculo XVIII. Ela capacitava umjovem sem qualquer experiencia de tecelagem a por em movimento, empurrando e puxando uma biela, um tear inteiro com todas as suas lancadeiras, e que produ­ zia, em sua forma aperfeicoada, 40 a 50 pecas de uma ,

so vez. Nas primeiras decadas do seculo XVII, um levante popular destruiu uma serraria movida a vento,

cons­

truida por um holandes nas proximidades de Londres. Ainda no corneco do seculo XVIII, com muita dificul­ dade, as maquinas de serrar movidas a agua consegui­ ram dobrar a resistencia popular protegida pelo Par­ lamento.

Quando Everet,

em

1758,

construiu

a pri­

meira maquina a agua para tosquiar la, esse invento foi

71

jogado

a

fogueira por 100 000 pessoas que ficaram sem

trabalho. Cinqiienta

mil

trabalhadores

que

ganhavam

a

vida cardando a la reivindicaram ao Parlamento o fim das maquinas de cardar,

inventadas

por Arkwright.

(Cardar e o trabalho de desembaracar a la, o canhamo ou qualquer fibra textil com um instrumento especial chamado carda.) A destruicao de numerosas maquinas nos distritos manufatureiros ingleses, durante os pri­ meiros quinze anos do governo para

as

mais

seculo XIX, reacionarias

deu pretexto medidas

de

ao

vio­

lencia. Como voces estao vendo,

foi necessario tempo e

experiencia ate que os operarios aprendessem a distin­ guir entre a maquina e o emprego capitalista da ma­ quina, e pudessem, entao, lutar, nao contra os meios materiais de producao, mas contra o seu modo social de 12

exploracao,

E e assim, portanto, que temos que enxergar as conseqiiencias

da maquina

para os trabalhadores.

e

da

industria

Antes de mais nada,

moderna eles sao

enxotados da fabrica em grande rnimero e as maquinas vao

substitui-los.

Os poucos

que

la

permaneceram,

sofreram: a) a humilhacao de se verem espoliados de seu ultimo instrumento de trabalho e de serem redu­ zidos

a condicao

de escravos da maquina: b) o peso de

umajornada de trabalho extraordinariamente prolon-

(12)

72

0 Capital, p. 490-491.

gada; c) a rernincia

a

mulher e aos filhos,

bem escravos do capital; e, finalmente,

agora tam­

d) sofreram o

indescritivel martirio, produto da tortura de um tra­ balho cada vez mais intensificado pela insaciavel gana do capitalista por mais-valia.

tambern os seus te6logos

Mas o deus capital tern

que

tudo

explicam

e justi­

ficam com suas leis eternas. Ao grito desesperado dos

operarios esfomeados pela maquina, pregam a ridicula lei da compensacao. Um bando deeconomistas burgueses, como James Mill, Mac Culloch, Torrens, Senior, J. Stuart Mill, e t c . , etc. de

,juram

seus

que as maquinas, ao afastarem os operarios

postos,

liberam

por

isso

mesmo

um

capital

destinado a empregar de novo, em outras ocupacoes, os mesmos operarios. Vamos ver: Suponhamos

que em uma fabrica de

empregue um capital de Cr$ 6 000 000 , 00 , metade

e

adiantada

em

rnateria-prima

tapetes

se

do qual

(nao

a

vamos

levar em conta aqui, predio, instalacoes, e t c . ) , e a outra metade corresponde ao pagamento de cem operarios, cada um recebendo um salario anual de

Cr$ 30 000,00.

Em um dado momento o capitalista despede 50 ope­

rarios, substituindo-os por uma maquina que custou CrS 1 5 00 000 , 00 . Sera que algum capital

e

liberado por essa ope­

racao? Vejamos. Originariamente, a soma total de CrS 6 000 000,00 se dividia em um capital constante de CrS 3 000 000,00 e

um

essa

capital soma

variavel

consiste

de

em

CrS 3 000 000 , 00 .

um

capital

Agora,

constante

de

73

CrS 4 500 000 , 00 - sendo

CrS 3 000 000,00 pela ma­

teria-prima e CrS 1 5 00 000 , 00 pela rnaquina -, e um capital variavel de CrS 1 5 00 000 , 00 para pagar os SO

operarios, 0 elemento variavel caiu de metade para 1/ 4 do capital total.

Ao contrario de se

ter liberado um

capital de CrS 1 5 00 000 , 00 , este agora esta empregado sob uma forma em que nao pode ser trocado par Iorca de trabalho; constante.

ou seja,

De

agora

de variavel em

diante,

se o

transformou em capital

total

de

CrS 6 000 000 , 00 nao ocupara mais do que SO operarios e cada vez menos,

com os aperfeicoarnentos

da ma­

quma. Agora, cao,

para

agradar

OS

te6ricos

suponhamos que o preco

da

da

compensa­

maquina seja me­

nor que a soma dos salaries acima. 0 capitalista pagou CrS 1 000 000 , 00 par ela, em vez dos CrS 1 5 00 000 , 00 . Em nossos novas calculos, o capital de CrS 1 5 00 000 , 00 ,

.

anteriormente pago em salaries,

se

divide agora assim: CrS 1 000 000 , 00 empregados sob a forma de maquina e CrS 500 000,00 liberados de seu emprego na fabrica de tapetes e que passam a funcio­ nar coma nova capital. Se o salario permanece o mes­ mo, ha, portanto, um fundo que poderia ocupar cerca de 16 operarios ( dividindo os 500 mil cruzeiros par 30 mil cruzeiros, que enquanto SO

e

e

o salario anual de cada operario),

o mimero de desempregados. Mas, na

verdade, sao muito menos do que dezesseis os traba­ lhadores

a

serem

empregados

pelo

nova

capital

-

CrS 500 000,00 -, porque, para que ele se transforme em capital, parte dele deve ser gasto em instrumentos,

74

e

materiais, etc.; em uma palavra, parte dele constante, Mas,

elemento

que nao pode se transformar em salaries. supondo

ainda

nova maquina ocupe

que

grande

a construcao mimero

de

de

uma

mecanicos,

qual seria a compensacao para os tapeceiros atirados rua?

Em

menos

qualquer

caso,

trabalhadores

na

a

nova

sua

maquina

montagem,

mimero de trabalhadores que dispensa, cacao.

Portanto,

a

ocupara

do

que

o

em sua apli­

a soma de CrS 1 5 00 000 , 00 que re­

presentava apenas os salaries dos trabalhadores des­ pedidos, passa agora a representar no proprio corpo da maquina:

1 ?)

o valor dos meios de producao necessaries

a

feitura da maquina: 2?)

os

salaries

dos

mecanicos

empregados

em

sua construcao: 3?)

a mais-valia que vai para o bolso do patrao.

Alem disso, depois de pronta, a maquina s6 pre­ cisa ser renovada depois que se estraga. Par isso, para manter um mimero adicional de mecanicos, sario

que

os

fabricantes,

par exemplo,

e

dessas

neces­ tape­

carias, despecam os seus empregados, um ap6s o ou­ tro, substituindo-os par maquinas. Mas nao

e

isso 6 que esses doutrinarios da com­

pensacao veem.

Para eles,

o importante

tencia dos operarios despedidos. 50

operarios

de

seu

salario

de

e

Privando

a subsis­ os

nossos

CrS 1 5 00 000 , 00 ,

maquinas os impedem de consumir esses

as .

75

CrS 1 5 00 000,00

em

meios

de

subsistencia,

Eis

um

fato em sua triste realidade! Deixar o operario morrer de fome

significa,

para esses cavalheiros

de barriga

cheia, fazer dos alimentos disponlveis ao operario, um novo fundo Como

de

emprego

voces veem,

exprimir.

Doura-se

tudo a

para

uma

depende

realidade

outra

da com

indiistria.

maneira palavras.

de

se

Ou,

dizendo o mesmo para os que gostam de expressoes latinas:

Nominibus mo/lire licet ma/a.

(13)

76

0 Capital, p. 504.

13

VIII

O salirio

Nada impede de se encobrir os males com pala­ vras. E outra maneira de se traduzir o proverbio latino do nosso ultimo capitulo. Salario tambem e uma pala­ vra e nos vamos procurar entende-la no seu verdadeiro significado, dentro do modo de producao capitalista. Os defensores desse modo de producao dizem que o salario e o pagamento do trabalho, e a mais-valia e produto do capital. Mas o que querem eles dizer com esse pagamento do

trabalho,

ou,

em

outros

termos,

com

valor

do

trabalho? O trabalho, ou se encontra ainda no trabalhador, ou ja existe materializado. 0 que quero dizer e que o trabalho, ou e a Iorca, a capacidade de fazer alguma coisa, ou e a coisa mesma ja feita.

Em suma,

o tra­

balho, ou e a forca de trabalho ou e a mercadoria. 0 operario nao pode vender o trabalho ja saido dele, ja produzido pelo seu organismo, a mercadoria, porque esta pertence ao capitalista e nao a ele.

Porque,

pu­

desse o trabalhador vender o trabalho ja saido dele, a

77

mercadoria que ele produz, teria que ter os meios de trabalho e o material de trabalho, e seria, entao, mer­ cador da mercadoria por ele produzida. Mas ele nao possui nada, precisa

vender

resta, que forca

e

de

e

um proletario, ao

capitalista

que, o

para

unico

sobreviver,

bem

que

lhe

a sua potencia ou forca para trabalhar, a

trabalho.

0

capitalista

nao

pode

comprar

dele mais do que a forca de trabalho, que, como todas as outras mercadorias, tern um valor de uso e um valor de troca.

0 capitalista paga

propriamente dito, que

e

ao

trabalhador o valor

o valor de troca, pela merca­

doria que este lhe vende. Mas a forca de trabalho tern tarnbem um valor de uso e este pertence ao capitalista, pois ele a comprou. Ora, o valor de uso dessa merca­ doria tao singular tern dupla qualidade. Uma

e

aquela

que ela tern em comum com o valor de uso de todas as outras mercadorias: a de satisfazer uma determinada necessidade; ela pertence,

a segunda, que

e

e

a de

qualidade

criar valor,

que e

e

somente

a

isso

a

que

distingue de todas as outras mercadorias. Respondendo, agora,

aqueles defensores do mo­

do de producao capitalista, dizemos que o salario nao pode representar outra coisa que nao seja o preco da forca de trabalho. E a mais-valia nao pode

ser

de

produto do capital, porque o capital

e

modo

nenhum

materia morta;

a quantidade de valor que o capital poe na mercadoria permanece sempre a mesma. E rnateria que nao tern vida nenhuma e que,

por si s6,

sem

a Iorca

do

tra­

balho, jamais existiria. E a Iorca de trabalho, somente

78

ela, que produz mais-valia.

E

ela quern traz o primeiro

germe de vida ao capital. E e ela que sustenta toda a vida do capital. senao

sugar,

finalmente,

Este,

depois

sempre

de

inicio,

nao

absorver por forte,

extrair

faz outra coisa

todos

os

mais-valia

poros do

e,

tra­

balho. As duas principais formas de salario sao: salario por tempo e salario por peca, por producao, por em­ preitada, etc. O salario por tempo e aquele que e pago por um determinado tempo: uma hora, um dia, uma semana ou um mes, etc.,

de trabalho. 0 salario nada mais e

do que uma forma transformada do preco da forca de trabalho.

Em lugar de dizer:

o operario vendeu

sua

Iorca de trabalho de um dia por CrS 100,00, diz-se: o operario foi trabalhar por um

salario

de

CrS 100,00

por dia. O salario

de CrS 100,00 por

dia e,

portanto,

o

preco da forca de trabalho por uma jornada. Mas essa jornada pode ser mais ou menos longa. horas,

por

exemplo,

a

Iorca

de

Se e de

trabalho

e

dez

paga

a

CrS 10,00 por hora, ao passo que, s e e de doze horas, a Iorca de trabalho e paga a 8 cruzeiros e poucos cen­ tavos por hora. Logo, ao prolongar a jornada de tra­ balho, preco

o

capitalista

esta

pagando

ao

operario

um

menor por sua Iorca de trabalho. 0 capitalista

pode ate aumentar o salario e mesmo assim continuar pagando mesmo

ao operario,

preco

de

por

antes,

e

sua

Iorca

ate

menos.

patrao aurnenta o salario do operario

de

trabalho,

Como? de

Se

o o

CrS 100,00

79

por dia para CrS 120,00 e, ao mesmo tempo, prolonga a jornada de 10 para 12 horas,

ele,

ainda que tenha

aumentado o salario diario em CrS 20,00 continuara pagando os mesmos CrS 10,00 ao operario, pela hora de sua forca de trabalho.

Se o capitalista rnantem o

mesmo aumento - de CrS 100,00 para CrS 120,00 mas, ao mesmo tempo, prolonga a jornada de 10 para 15 horas, embora aumentando o salario diario, pagara ao

operario

antes,

pela

sua

forca

de

trabalho

CrS 6 , 60 em vez dos CrS

ou seja,

menos

que

10,00 ante­

riores. 0 mesmo resultado o capitalista obtem quan­ do,

em

lugar

de

prolongar

a jornada

de

trabalho,

aumenta a intensidade deste trabalho, que e o que ele faz

ao

utilizar-se

suma,

de

o capitalista,

honestamente

ao

maquinas,

como ja vimos.

aumentando

operario.

o

E pode

trabalho, faze-lo

Em

rouba

ate

ban­

cando o generoso, aumentando o salario diario de seus '

.

operanos.

Quando o capitalista paga o operario por hora, tambern ai encontra um modo de lhe passar a perna, aumentando ou diminuindo o trabalho,

mas sempre

pagando honestamente o mesmo preco por cada hora de trabalho. Digamos que CrS 10,00 seja o salario de uma hora de trabalho. Se o capitalista faz o operario trabalhar 8 horas, em vez de 12, ele pagara CrS 80,00 e

nao

CrS 120,00.

Com

isso,

o

trabalhador

perde

CrS 40,00, que corresponde a um terco de suas neces­ sidades diarias.

Se,

ao contrario,

o capitalista faz

o

operario trabalhar por 14 ou 16 horas, em vez de 12, mesmo pagando CrS 1 1 , 60 ou CrS 13,30 no lugar dos

80

CrS 1 0 , 00 , tira do operario 2 ou 4 horas por um preco menor do que valem, pois

de trabalho

e

claro

que,

depois de 12 horas de trabalho, a Iorca do operario ja sofreu um grande desgaste, e as outras 2 ou 4 horas a mais de trabalho lhe custam meiras horas.

Esta

mais do que as

argumentacao

operarios foi aceita,

de fato,

em

12 pri­

apresentada

diversas

pelos

indiistrias,

onde se pagam as horas extras por um preco maior do que o estabelecido para a chamada hora normal. Uma lei do modo de producao capitalista: quanto menor

e

o preco da forca de trabalho por tempo (hora,

dia, mes, etc.), representado no salario, tanto maior a duracao do tempo de trabalho. salario

e

e

E isto

claro.

e

Se o

de CrS 10,00 por hora, em vez de CrS 1 2 , 00 , o

operario tern que fazer uma jornada de 12 horas - e nao de 10, para conseguir os CrS 120,00 diariamente necessaries para a sua sobrevivencia, salario

diario

trabalhar

e

tres

de

CrS 80,00,

dias,

para

satisfazer

as

dias.

E o outro dia,

se

o

o trabalhador precisa

tres jornadas,

suas

Portanto,

em

necessidades

para onde vai?

vez

de

de

duas,

apenas

dois

Nos ja sabemos:

para a vida do capital, cada vez mais robusto, empan­ turrando de mais-valia o bolso do capitalista. Assim,

a diminuicao

do salario

faz

aumentar

o

trabalho; mas pode acontecer tarnbem que o aumento de trabalho Iaca diminuir o salario. Com a introducao da maquina, por exemplo, o operario passa a produzir o dobro que antes e o capitalista diminui o mimero de braces. Conseqiientemente, cresce a oferta de forca de trabalho no mercado e os salaries caem.

81

Os outros tipos preitada,

de salario - por peca,

por producao,

etc.,

nao

sao

por em­

mais

do

que

modalidades do salario por tempo, que agora aparece transformado em salario por peca, salario por emprei­ tada,

salario

verdade apenas

que nas

por se

producao,

etc.,

costuma usar

diversas

etc.

Tanto

isso

indiferentemente,

industrias

e

mesmo

ate

e

nao

numa

mesma industria, essas duas formas de salario. Dizer que um operario trabalha 12 horas por dia e recebe um salario de Cr$ 120,00 e produz um valor de Cr$ 240,00, da no mesmo que dizer que o operario produz,

nas primeiras seis horas de seu trabalho,

os

120 cruzeiros do seu salario, e, nas outras seis horas, os Cr$ 120,00 da mais-valia.

0 que equivale

a dizer

que o operario produz, em toda a primeira meia-hora, 1 / 1 2 de seu salario e, em toda a segunda meia-hora, produz 1 / 1 2 da mais-valia. Por isso mesmo, se o ope­ rario

produz

24

pecas

em

12

horas,

recebendo

por

cada peca um salario de Cr$ 5 , 00 , teriamos os mesmos Cr$ 120,00 que lhe tocam como pagamento. Com to­ dos esses cruzeiros, eu diria o mesmo se dissesse: o ope­ rario produziu doze pecas para reproduzir os cento e vinte cruzeiros como seu pagamento e outras doze pe­ cas para produzir os cento e vinte cruzeiros de mais­ valia. Enfim, do que o operario produziu, em cada hora de trabalho, uma peca foi para o seu pagamento, e a outra peca foi para o bolso de seu patrao. No salario por peca,

a qualidade

do

trabalho

e

controlada pela propria obra, que deve ter a qualidade media

82

exigida.

Deste

modo,

o

salario

por

peca

se

torna uma fonte inesgotavel de pretextos para se fazer descontos sabre o salario do operario. mesmo

tempo,

ao

capitalista,

intensidade do trabalho. que

conta

mesmo,

como

e pago,

a

E fornece,

medida

ao

exata

da

0 unico tempo de trabalho

socialmente e o tempo

necessario

em

que

e,

por

isso

esse trabalho

se

materializou em uma massa de produtos determinada e estabelecida com a experiencia.

E tao verdade isso

que, nas grandes oficinas de confeccoes em Landres, uma peca, por exemplo, o colete, e chamada de "uma hora",

uma outra peca e chamada de "meia hora",

e t c . , e t c . , e e paga a x Ii bras cada uma; sabe-se pela pratica

quanta

se

produz

em

media

durante

uma

hora. Quando aparece uma nova moda, ocorre sempre uma discussao entre o patrao e o operario, se tal peca equivale

OU

nao

a uma

hora,

ate

que

a experiencia

decide. 0 mesmo se da nas fabricas de m6veis, etc. Se o operario nao possui essa capacidade media de exe­ cucao, se ele nao consegue um certo mlnimo de pecas durante a jornada, e despedido. Assim sendo, a propria forma de salario assegura a qualidade e a intensidade do trabalho e uma grande parte

do

service

de

entao, desnecessaria, todo o sistema

de

controle

E

e

supervisao

se

torna,

em cima disso que e montado

opressao

e exploracao,

hierarqui­

camente constituido. 0 salario por peca facilita,

por

outro lado, a intrornissao de outros parasitas, alem do capitalista. Assim se da, por exemplo, com o chamado trabalho moderno a domicilio, como e o caso do tra­ balho das costureiras, que costuram "para fora", para

83

as

indiistrias

mas

quern

de

lhes

confeccao.

Elas

recebem

paga e o atravessador.

por

peca,

0 lucro

dos

intermediaries sai da diferenca entre o preco do tra­ balho, tal qual o capitalista o paga, e a porcao desse preco que eles pagam ao trabalhador. Por outro lado, o

salario

por

peca

permite

ao

capitalista

fazer

um

contrato de tanto por peca com o operario principal, chefe, empreiteiro, etc. Este chefe de grupo de opera­ rios ou operario principal,

que nas minas e o mine­

rador propriamente dito e nas fabricas e o que tern o comando das maquinas, se encarrega, pelo preco esta- · belecido, de ele mesmo encontrar os seus ajudantes e paga-los, A exploracao dos trabalhadores pelo capital se torna, nesse caso,

um meio de exploracao do tra­

balhador pelo trabalhador. Estabelecido o salario por peca, soal atica o operario

a empenhar

ao

o interesse pes­ maximo

a sua

forca, e isto permite ao capitalista elevar facilmente o grau de intensidade do trabalho.

Se bem que se che­

gue a esse mesmo resultado tambem por meios artifi­ ciais,

como

bem

disse

Dunning,

secretario

de

uma

Sociedade de Resistencia. Vejam, ele nos conta como se da, em Londres, esse artificio, essa manha da revo­ lucao industrial: "O

capitalista

escolhe

para

chefe

de

um

certo

mirnero de operarios um homem de forca fisica supe­ rior e com mais habilidade no trabalho do que a media dos outros trabalhadores do grupo.

Todos os trimes­

tres, ou dentro do periodo combinado, o chefe recebe um 'salario suplementar'

84

sob

a condicao

de

que ele

Iaca todo o possivel para incrementar a concorrencia entre os seus comandados."

14

O operario esta obviamente interessado em pro­ longar ajornada de trabalho, como meio de aumentar O

Seu salario diario

OU

semanal: as consequencias Sao

as mesmas do salario por tempo,

sem

contar

que

o

prolongamento dajornada, quando o salario por peca permanece constante, implica em si mesmo no rebai­ xamento do preco do trabalho. O regime

salario

por

capitalista,

pe,;a,

e

um

forma

mais

adequada

dos principais

recursos

sistema de pagar o trabalhador por hora, capitalista

se

empenhe

em

ocupa-lo

ao do

sem que o

regularmente

durante a jornada ou a semana. Nos estabelecimentos submetidos aos Factories Acts (leis sobre as fabricas), que

e

a lei que limitou,

na lnglaterra,

a jornada

de

trabalho a um determinado mimero de horas, o sala­ rio por peca se tornou regra geral,

pois o capitalista

nao tern outro recurso para aumentar o trabalho dia­ rio senao apelando para a intensidade. O aumento da producao

e

seguido pela diminui­

cao proporcional do salario. Quando o operario pro­ duzia 12 pecas em 12 horas, o capitalista lhe pagava, por exemplo, um salario de CrS 5 , 00 por peca, Com a producao lugar de

duplicada, o operario produz 24 pecas, em 12,

e o capitalista baixa o salario pela me,

tade, pagando agora apenas CrS 2,50 por peca.

(14)

0 Capital, p. 644.

85

,

Esta variacao

de

salario,

ainda

que

puramente

nominal, provoca uma luta continua entre o patrao e o trabalhador por varies motivos: seja porque o capita­ lista cria um pretexto para diminuir realmente o preco do trabalho, dade

do

seja porque um

trabalho

aumento

acompanha

um

intensidade, ou porque o operario, que

e

da produtivi­

aumento

de

sua

levando a serio o

apenas uma aparencia criada pelo salario por

peca - isto trabalho

e,

que

que esta

eO

seu produto e nao a sua forca de

sendo paga

uma reducao

de

salario,

a

uma reducao

proporcional

-,

qual

se

nao

nos precos

revolta

contra

corresponde de venda

a

das

mercadorias. O capital, justamente com base na natureza do salario, refuta tais reivindicacoes como grosseiramen­ te erroneas,

Ele as qualifica de usurpacao,

que ten­

dem a barrar o progresso da indiistria e conclui, bru­ talmente,

que a produtividade

do

trabalho

absolutamente nada a v e r com o operario."

(15}

86

0 Capital, p. 645-646.

nao

tern

IX

Acumulacao do capital

Acumular

significa

juntar,

ajuntar,

amontoar,

e

amontoar riquezas, fazer fortuna. Tudo isso so sivel

a

pos­

acumulacao do capital se ele se nutrir sempre

mais e mais de mais-valia.

Sem se apropriar do tra­

balho alheio, o capital nem existiria. Mas, aqui esta­ mos comecando um novo capitulo: Quando observamos a formula do capital, preendemos facilmente que a sua conservacao

com­

e

toda

baseada em sua sucessiva e continua reproducao. O capital,

como ja sabemos,

partes: constante e variavel,

divide-se

em

duas

0 capital constante,

re­

presentado pelos meios de producao e pelo material de trabalho, sofre um continuo desgaste durante o pro­ cesso de trabalho. Os instrumentos se consomem,

as

maquinas se consomem, o oleo, etc., enfim, o proprio predio se consome.

Ao mesmo tempo, 1torem,

que o

trabalho vai consumindo todo esse capital constante, vai tambem reproduzindo-o na mesma proporcao em que o consome. 0 capital constante encontra-se, pois, reproduzido na mercadoria na mesma proporcao em

7

que foi consumido durante a sua fabricacao. 0 valor consumido prima

e

pelos

meios

de trabalho e pela

materia­

sempre exatamente reproduzido no valor da

mercadoria. Do

mesmo

modo

o

capital

variavel,

0

capital

variavel, representado pelo valor da forca de trabalho, isto e, pelo salario,

se reproduz tambem exatamente

no valor da mercadoria.

Tambern ja sabemos

que

o

operario, na primeira parte de seu trabalho, produz o seu salario, e, na segunda, a mais-valia. Como o ope­ rario s6 recebe seu salario ao final do trabalho, este s6 lhe

e

pago depois que ele ja reproduziu o equivalente

na mercadoria do capitalista. Os tanto,

salaries

pagos

reproduzidos

proprios

aos

inteira

trabalhadores.

trabalhadores e

Esta

sao,

incessantemente incessante

por­ pelos

reproducao

do fundo dos salaries perpetua a submissao do traba­ lhador ao capitalista. Quando o proletario vende a sua forca de trabalho no mercado, ele ocupa o posto que lhe

e

assinalado pelo modo de producao capitalista e,

contribui para a producao social com a parte de tra­ balho que lhe cabe, retirando para a sua manutencao aquela parte do fundo de salaries, que devera, antes, reproduzir com o seu trabalho.

E sempre, sempre, o eterno vinculo da sujeicao humana, quer seja sob a forma de escravidao, quer seja sob

a forma

de

servidao,

quer seja

sob

a forma

de

salario. Quern ve as coisas superficialmente, pensa que o escravo trabalhava gratuitamente.

88

Ele

nao ve

que

o

escravo devia,

antes

de

mais

nada,

devolver

ao

seu

senhor tudo quanto este gastou para a sua manuten­ cao.

E,

vejam bem,

muitas vezes

a manutencao

do

escravo era mais cara do que a do assalariado, pois o seu senhor estava altamente interessado em sua con­ servacao, como estava na conservacao de uma parte de seu proprio capital. 0 servo do sistema feudal, junta­ mente com a terra, senhor;

para

o

a

qual esta preso, pertence ao seu

mesmo

observador

superficial,

este

servo fez progressos em relacao ao escravo, pois se ve claramente que ele entrega somente uma parte ao seu senhor, enquanto a outra parte de seu trabalho ele o

e

emprega na pouca terra que lhe

determinada para

ganhar o seu sustento. E o assalariado aparece a esse mesmo tipo de observador como um individuo muito mais

evoluido,

em

comparacao

ao

porque o trabalhador lhe parece

servo

da

gleba,

inteiramente

livre,

recebendo o valor do pr6prio trabalho. ·Doce

Se

ilusaol

o trabalhador

pudesse

realizar

por si mesmo o valor do proprio trabalho, se ele nao precisasse vender a sua Iorca de trabalho, o modo de producao capitalista nem poderia existir. mos por que.

0

trabalhador

nao

pode

E ja

sabe­

obter

outra

coisa que nao seja o valor de sua forca de trabalho, que

e

bem

a iinica coisa que pode vender, porque que possui

pertence salario, que

ao

isto

no

mundo.

capitalista,

e,

o pedaco

o

0 produto

qual

paga

a sua manutencao, de

terra,

o

tempo

necessaries para trabalha-la,

que

Do e

O

os

do

ao

e

o uni co

trabalho

operario

mesmo

o

modo

instrumentos

senhor deixa por

89

conta do servo,

sao a soma dos

meios

que este

tern

para se manter, enquanto deve trabalhar todo o resto do tempo para o seu senhor. O escravo, o servo e o operario trabalham todos os tres, uma parte para produzir a sua manutencao e outra parte absolutamente para o lucro de seu patrao. Representam,

pois,

tres

formas

diversas

do

mesmo

vinculo de sujeicao e exploracao humana. E sempre a sujeicao do homem privado de qualquer acumulacao primitiva (isto e, dos meios de producao,

que sao os

meios de vida) ao homem que possui uma acumulacao primitiva,

os

meios

de

producao,

a

fonte

da

vida.

A conservacao do capital, a reproducao do capi­ tal, e, conseqiientemente, no modo de producao capi­ talista,

a

conservacao

deste

vinculo

de

opressao

e

exploracao humana. Mas o trabalho nao somente reproduz o capital, mas tambem produz mais-valia, de

renda

mente, sua

do

capital.

Quando

que muitos chamam o

capitalista,

anual­

acrescenta ao seu capital uma parte ou

renda,

temos

uma

acumulacao

de

capital,

toda que

crescera progressivamente. Com a reproducao simples o trabalho conserva o capital;

com a acumulacao de

mais-valia, o trabalho faz o capital crescer. Quando

essa

capital, parte dela

renda

se

junta,

e empregada

se

funde

com

o

em meios de trabalho,

parte em materia-prima e parte em forca de trabalho.

E agora que o sobretrabalho passado, o trabalho pas­ sado nao pago, vai fazer crescer o volume do capital. Uma parte do trabalho nao pago do ano passado serve

90

para pagar o trabalho necessario deste ano.

e

E

isso

que faz o sucesso do capitalista, gracas ao engenhoso mecanismo da producao moderna. U ma

vez

aceito

este

sistema

da

moderna

pro­

ducao, todo ele baseado na propriedade individual e no salario, nada se encontra a dizer cuja consequencia nao seja derivada da acumulacao capitalista.

0

que

importa ao operario Antonio se ao CrS 100,00 que lhe pagam de salario representam o trabalho nao pago do operario Pedro? 0 que ele tern direito de saber

e

se os

CrS 100,00 sao o justo preco da sua forca de trabalho, quer dizer, se sao o exato equivalente das coisas que lhe sao necessarias em um dia; em uma palavra, se a lei de troca foi rigorosamente observada. Quando o capitalista comeca a acumular capital, '

se desenvolve nele uma nova virtude,

toda sua:

a tal

virtude da abstinencia, que consiste em limitar a pro­ pria despesa, para empregar uma maior parte de sua renda na acumulacao. A vontade do capitalista e a sua consciencia refle­ tem

as

necessidades

do

capital

que

ele

representa;

a ssi m, o capitalista ve no seu proprio consumo pessoal uma especie de fu rto , feito

a

ou pelo menos de emprestimo

acumulacao. Ali a s, bas t a olhar em certos livros

de contabilidade as despesas pessoais lancadas contra o ca pita l ,

ao lado das contas a pagar do capitalista.

Acum ular,

s ocia l,

en f im,

ampliar

e

con q uis t ar o mundo

a sua

esfera

de

da riqueza

dominacao

pessoal,

aumentar o rnirnero de siiditos, ou seja, sacrificar-se a

uma ambicao insaciavel.

91

Lutero

mostra

muito

bem,

com

o

exemplo

do

'

usurario ( esse tipo imortal de capitalista fora de moda), que o desejo de dominar

e

o motor do enriqueci­

mento: "A simples inteligencia levou os pagaos a consi­ derarem o usurario como um assassino e quatro vezes ladrao.

Mas

honra,

nos,

cristaos,

o

tratamos

com

toda

a

quase o adoramos por causa de seu dinheiro.

e

Quern extrai, rouba e furta o alimento de outro homicida

moral,

como

o

que

fome ou a arruina totalmente. E

mata

eo

uma

um

pessoa

de

'

que faz o usurario.

Entretanto, senta-se tranquilamente em sua cadeira, quando

deveria

estar,

devorado por tantos zeiros

por

grande

ele

justamente,

urubus

roubados,

quantidade

na

quantos

se

tivesse

de urubus.

Mas

forca,

sendo

fossem os carne

cru­

para

hoje em

tao

dia

s6

prendemos e enforcamos pequenos ladroes . . . enquan­ to isso, os grandes ladroes vao se pavoneando em ouro e seda . . . Depois do diabo, o maior inimigo do homem na terra

e

o avarento,

dominando sores,

os

todos

hereges

os

e

o usurario, pois quer ser Deus

homens.

turcos,

os

Os

soldados,

ditadores

sao

os

inva­

tambem

homens maus, todavia, tern de deixar os outros vive­ rem e confessam que sao maus e inimigos. Podem, as vezes

sao

obrigados

a

se

apiedarem

de

e

algumas

pessoas. Mas o usurario, com sua avareza, quer que o · mundo se mate e morra, de fome e de sede, de luto e de miseria:

ele mesmo o faria,

se pudesse,

para que

tudo fosse dele, assim todos se curvariam diante dele, como seus eternos escravos. Ostenta elegancia e apa-

92

renta uma limpeza impecavel para ser vista lado como um homem honrado e bondoso... usurario

e

um monstro enorme e devorador,

e bada­ Mas

o

pior do

que Satanas, Ja que prendemos e matamos um ladrao de rua, os assassinos e os assaltantes, do mesmo modo deveriamos prender, matar e decapitar todos os usu­ rarios, "

16

Eis ai, de Lutero,

reformador religioso,

um dis­

curso violento contra os usurarios, Continuemos com a violencia capitalista, propriamente dita: A acumulacao capitalista exige um aumento

de

bracos, 0 rnirnero de trabalhadores deve ser aumen­ tado quando se quer converter uma parte da renda em capital variavel. capitalista

e

0 organismo mesmo da reproducao

de tal modo que o trabalhador conserva

a sua forca de trabalho na geracao seguinte, da qual o capital arregimenta nova forca de trabalho, para conti­ nuar o seu incessante processo de reproducao. M a s o trabalho que o capital exige hoje exigia

antes e,

conseqiientemente,

e

superior ao

o seu preco

subir. E aumentariam de fato os salaries, pria acumulacao do capital nao

que deve

se na pro­

se encontrasse uma

razao para faze-los baixar.

E

verdade que a renda deve ser convertida, parte

em capital constante e parte em capital variavel;

e,

parte

em

meios

de

trabalho

parte em forca de trabalho, mas

(16)

e

e

isto

materia-prima,

e

preciso considerar a

0Capita/,p.689(nota34).

93

acumulacao

do

capital

com

o

aperfeicoamento

dos

velhos sistemas de producao, com os novos sistemas de producao e a maquina: tudo coisas que fazem aumen­ tar a producao e diminuir o preco balho,

o

que

ja

sabemos.

da forca

A medida que

de

tra­

cresce

a

acumulacao do capital, a sua parte variavel diminui, enquanto

sua parte constante

aumenta.

e,

Isto

au­

mentam as Iabricas e instalacoes, a rnaquina com suas materias auxiliares, mas, ao mesmo tempo, e na pro­ porcao deste aumento, com a acumulacao do capital, diminui a necessidade de mao-de-obra, a necessidade de

forca

de

trabalho.

Diminuindo

a necessidade

de

rnao-de-obra, diminui a procura e finalmente diminui o preco. Nestes termos, portanto, quanto mais progride a acumulacao

do

capital,

mais

os

salaries

sao

rebai­

xados. A acumulacao coes

atraves

da

do capital ganha vastas

concorrencia

e

O credito leva espontaneamente de capitais, ou cada um

a fusiio


A

atraves

a fusao

do

propor­ credito.

de uma massa

de um capital mais forte do que

concorrencia,

ao

contrario,

guerra que todos os capitais fazem entre si,

e

e

a

a sua

luta pela existencia, da qual os mais fortes saem muito mais fortes do que antes. A acumulacao do capital inutiliza, portanto, um grande mimero de braces, isto

e,

cria um excedente de

trabalhadores. Mas

se

a

acumulacao

produz

necessariamente

uma superpopulacao operaria, esta se torna, por sua

94

vez,

a

alavanca

mais

potente

da

acumulacao,

uma

condicao de existencia da producao capitalista,

inte­

grada na sua lei de desenvolvimento. populacional operario forma um

Esse excedente

exercito de reserva

industrial, que pertence ao capital, assim de um modo absoluto, como se fosse seu gado, por ele alimentado e disciplinado. Essa populacao excedente fornece a ma­ teria humana sempre exploravel e disponivel

para

a

fabricacao de mais-valia. E somente sob o regime da grande industria que a producao de um superfluo da populacao se torna uma mola regular da producao de •

17

nqueza. Este exercito de reserva industrial, esta superpo­ pulacao operaria se divide em diversas categorias. primeira

delas

e

melhor

paga,

sofre

menos

A

com

o

desemprego e ainda executa um trabalho menos pe­ noso; a ultima dessas categorias, ao contrario, posta

de trabalhadores

que

contram uma ocupacao,

s6

que

e

e

com­

esporadicamente sempre um

en­

trabalho

pesado e vii, pago pelo mais baixo preco a que possa chegar o trabalho humano. Esta ultima categoria

e

a mais numerosa, nao s6

pelo grande contingente criado anualmente pelo pro­ gresso

industrial,

mas

sobretudo porque ela

e

com­

posta de gente mais prolifera, com maior rnimero

de

filhos, como os proprios fatos comprovam. "A pobreza parece favorecer

(17)

a

procriacao",

es-

0 Capital, p. 733- 734.

95

eveu

Adam

Smith.

E,

segundo

espirito galante e perspicaz, sicao

da

tencas:

providencia

"Deus

o

e

esta

abade

uma sabia dispo­

divina.

Eis

que os

homens

dispos

Galiani,

uma

de

suas

que

sen­

fazem

os

trabalhos mais uteis nascessem em abundancia". Com dados estatisticos

a

mao, Laing demonstrou

que "a miseria, no seu grau mais extrema de fame e epidemia,

em

crescimento todos

os

modas,

vez

da

seres

de

frear,

aumenta

mais

acrescentando

populacao",

humanos

ainda

vivessem

em

o

que

"se

condicoes

co­

o mundo em pouco tempo estaria despovoa­

do". Abaixo dessa categoria de trabalhadores circuns­ tanciais, resta o ultimo residua desse exercito indus­ trial

de

reserva

e

que

vive

no

inferno

da

pobreza.

Pando de lado os vagabundos, os criminosos, as pros­ titutas, mada

enfim,

social

preende

os

o rebotalho do

tern

tres

operarios

proletariado,

categorias. capazes

de

A

essa

primeira

trabalhar.

ca­

com­

0

seu

mirnero aumenta em todas as crises e diminui quando os

negocios

se

reanimam.

Basta,

olhar as estatisticas referentes

a

os 6rfaos e os filhos dos pobres, tencia publica.

Eles

tambern

para

comprovar,

pobreza. A segunda, que vivem da assis­

sao

candidatos

da

re­

serva industrial e, nas epocas de grande prosperidade, en tram em massa no service ativo. A terceira categoria pertence aos miseraveis; antes de tudo, o operario e a operaria jogados ao esgoto do desenvolvimento social, por sua incapacidade de adaptacao

a

nova divisao do

trabalho; ha ainda os que, desgracados, passaram da

96

idade normal do assalariado; e, finalmente, as vitimas diretas

da

indiistria:

os

tropiados,

as viuvas,

etc.,

ta

com

as

maquinas

aleijados, etc.,

os

cujo

perigosas,

com

doentes,

os

es­

mimero aumen­ as

minas,

com

as indiistrias quimicas, etc. A miseria

e

o asilo dos invalidos do exercito ativo

dos trabalhadores e peso morto do exercito industrial de

reserva.

quela

A

sua

do. exercito

necessidade

producao de

deste.

esta

reserva,

a

compreendida

sua

na­

necessidade

A pobreza forma com

na

a superpo­

pulacao uma condicao de existencia da riqueza capi­ talista. Compreende-se,

portanto,

toda

a

estupidez

da

sabedoria economica que nao para de pregar aos tra­ balhadores gente,

a

a

sua

necessidade populacao,

de

as

adaptar

o

seu

necessidades

do

contin­ capital,

como se o mecanismo do capital nao realizasse conti­ nuamente esse desejado ajustamento. lavra

desse

ajustamento

e:

criacao

A primeira pa­ de

exercito

um

industrial de reserva; e a iiltima: miseria nas camadas sempre crescentes do exercito ativo dos trabalhadores, peso morto da po b re z a . A

lei

na

uma massa mobiliza

a

sempre

capitalista,

crescente

progressivamente

menor de maior

sociedade

Iorca

de

uma

trabalho,

produtividade

do

de

segundo

meios

de

dizer

trabalho,

qual

producao

quantidade

quer

a

sempre

que

tanto

quanto

maior

a

pressao dos trabalhadores sobre os seus empregos e, portanto,

tanto

mais

precaria sua condicao

de

exis­

tencia, ou seja, as condicoes para a venda da propria

97

forca para aumentar a riqueza alheia ou a expansao do capital. A analise da mais-valia relativa levou-nos a este resultado: todos os metodos para multiplicar a produ­ tividade do trabalhador coletivo sao aplicados as cus­ tas

do

trabalhador

individual;

todos

os

meios

desenvolver a producao se transformaram de dominar e explorar o produtor, fragmento de ser humano, peca

de

maquina.

meios

que se torna um

um mutilado,

Esse modo

em

para

uma

mera

de producao opoe

trabalhador as forcas cientificas da producao,

ao

como

uma das tantas forcas inimigas; a atratividade do tra­ balho

e

substituida

pelo

tormento

do

trabalho;

as

condicoes de trabalho sao desfiguradas e o trabalha­ dor ve todas as horas de sua vida transformadas em horas de trabalho e sua mulher e seus filhos sao Ian­ 18

cados ao rolo compres sor do capital. Mas todos os metodos que ajudam a producao de mais-valia favorecem igualmente a acumulacao e todo aumento

na

acumulacao

torna-se,

reciprocamente,

meio de desenvolver aqueles metodos, o que quer dizer que,

qualquer que seja o nivel

dos

salaries,

alto

ou

baixo, a condicao do trabalhador deve piorar, n a m e ­ dida em que o capital se acumula. A lei que mantem a superpopulacao relativa ou o exercito industrial

de reserva

no

nivel

adequado

as

necessidades da acumulacao, acorrenta o trabalhador

(18)

98

OCapital, p. 746-747.

ao capital mais firmemente do que as cadeias com que Vulcano acorrentou Prometeu ao Caucaso, E esta a lei que estabelece uma correlacao

fatal entre

lacao do capital e a acumulacao modo

que

a

acumulacao

significa acumulacao ignorancia,

de

da miseria.

riqueza

de pobreza,

de embrutecimento,

a acumu­

de

de

em

De

um

tal

polo,"

sofrimento,

degradacao

de

mo­

ral, de escravidao no polo oposto, onde se encontra a classe que produz o proprio capital. No seculo XVIII,�,O. Ortes, um monge veneziano, um economista notavel de sua epoca,

via no antago­

nismo da producao capitalista uma lei natural e geral .da riqueza social: "Numa nacao, mantem-se

sempre

os em

hens

e

os

males

economicos

equilibrio:

a

hens para uns corresponde sempre

a

outros.

significa privacao

Grande riqueza para uns,

abundancia

de

falta deles para

absoluta do necessario para muitos outros. A riqueza de uma nacao esta em correspondencia com sua popu­ lacao,

e

sua

miseria

em

correspondencia

a

riqueza. 0 trabalho de uns leva outros Os pobres e os ociosos

com

sua

ociosidade.

sao conseqiiencia

necessaria

dos ricos e dos trabalhadores." Ao ficou

contrario

imaginando

desse

monge

projetos

inteligente,

imiteis

para

a

que

nao

felicidade

dos povos, e que se deu ao trabalho de investigar as causas

da

infelicidade

Townsend louvava, condicao

necessaria

em

que

vivem,

grosseiramente, para

a

o

reverendo

a pobreza como

riqueza.

Vejam

a

sua

piada:

99

"A obrigacao legal do trabalho exige grande dose de

aborrecimentos,

violencia e barulho,

enquanto

a

fome e uma pressao pacifica, silenciosa e incessante, e que, como o estimulo mais natural para a indiistria e para o trabalho, nos fazem mais esforcados."

Mas o

reverendo continua essa piada

assim:

de

mau

gosto

"Parece uma lei natural que os pobres sejam ate certo ponto precipitados" - tao precipitados que che­ gam ao mundo sem antes terem garantido um berco de ouro - , "o que proporciona a existencia de indivi­ duos para os trabalhos

mais

servis,

mais

s6rdidos e

mais ignobeis da comunidade. 0 cabedal da felicidade humana e ampliado, quando os mais delicados ficam livres do trabalho grosseiro e podem realizar sua voca,

c;ao superior sem interrupcoes . . . " E vejam essa chave de onro, essa j6ia de conclusao: "A lei de assistencia aos pobres tende a destruir a harmonia e a beleza,

a

simetria e a ordem desse sistema que Deus e a natu­ reza criaram no mundo". Bern,

ai esta.

Mas,

no

fundo,

reverendo era protestar contra

as

a

questao

leis

desse

inglesas,

que

davam aos pobres o direito de se socorrerem nas par6.

quias.

"O progresso da riqueza social gera aquela classe util da sociedade . . .

que

realiza

as

tarefas

didas, mais enfadonhas e repugnantes,

mais

s6r­

em suma,

se

sobrecarrega com tudo o que a vida oferece de desa­ gradavel e de servil, classes

lazer,

proporcion'ando assim as outras

alegria

espiritual

convencional de carater."

100

e

aquela

dignidade

"Que b o rn ! " , anotou Marx no final dessas pala­ vras de Storch. E Storch ve na sociedade capitalista, com sua miseria e degradacao das massas, comparada com a barbarie, uma grande vantagem: a segurancal Finalmente, Destutt de Tracy, o fleumatico dou­ trinador burgues, diz abertamente: "Nas nacoes pobres o povo vive como quer, e, nas nacoes ricas, vive geralmente na pobreza." Vejamos

agora

quais

sao

os

efeitos

da

acumu­

lacao do capital. E, mais uma vez, s6 podemos contar uma parte

minima

de

todo

o material

recolhido

na

obra de Marx e que toma os exemplos da lnglaterra, pais por excelencia da acumulacao capitalista,

cami­

nho de todas as nacoes modernas. Em 1863, o Conselho Privado mandou fazer um inquerito sobre a situacao da parte mais mal nutrida da classe operaria. 0 doutor Simon foi o medico ofi­ c i al .

Essas

pesquisas se estenderam , de um lado, aos

trabalhadores seda,

as

pelica,

agricolas,

de

meias,

Ex cluindo - se

teceloes

de

meias,

os

aos

gacao foi

a

de

teceloes

de

trabalhadores

todas

exclusivamente urbanas.

mais

do outro,

teceloes

de

costureiras, aos luveiros que trabalham com

teceloes

teiros.

e,

as

demais

Uma

luvas

e

agricolas

categorias

das normas da

sapa­ e

os

eram

investi­

escolher em cada categoria as familias

sadias e em

situacao

relativamente melhor. 19

O

resultado

(19)

geral

foi o

seguinte:

OCapita/, p. 760-761.

101

"So numa das categorias investigadas dos traba­ lhadores urbanos, o suprimento de azoto ultrapassou um

pouco

o padrao

minimo

necessario

para

evitar

doencas de subnutricao; em duas categorias observou­ se carencia no suprimento, tanto de azoto quanto de carbono, familias

e

numa

dos

delas

carencia

trabalhadores

muito

agricolas

grave.

Das

investigadas,

mais de 1/5 tinha alimentacao com teor de carbono . inferior ao

indispensavel;

mais

de

1/3,

alimentacao

com teor de azoto inferior ao indispensavel. condados,

Berkshire,

Oxfordshire

e

Em tres

Somersetshire,

verificou-se carencia de azoto na dieta media local." Entre os trabalhadores agricolas mais mal nutri­ dos, figuravam os da lnglaterra, a parte mais rica do Reino

Unido. A subnutricao, entre os trabalhadores,

incidia principalmente sobre as mulheres e as criancas, pois "o homem tern de balho".

comer para fazer o seu

Pemiria ainda maior

investigadas

de

trabalhadores

assolava as urbanos.

tra­

categorias

"Estao

tao

mal alimentados que tern de haver entre eles muitos casos

de privacoes

cruels e ruinosas para

( consequencia do" espirito de remincia"

a saude"

do capitalis­

ta, isto e, sua remincia a pagar a seus trabalhadores o que estes precisam apenas para vegetar).

20

"Todo aquele que esta familiarizado com

nica de indigentes ou dos hospitais pode

com



a cli­

as enfermarias e clinicas

confirmar

que

sao numerosos os

casos em que a dieta deficiente produz e agrava doen-

(20)

102

OCapital, p. 765.

\

cas . . . Mas, temos de acrescentar a isto um conjunto muito importante de condicoes sanitarias . . . Devemos lembrar que a privacao de alimentos

e dificil

de supor­

tar e que em regra uma dieta carente s6 ocorre depois deter havido muitas privacoes anteriores. Muito antes de a insuficiencia alimentar ter importancia do ponto de vista da higiene, muito antes de o fisi6logo pensar em contar os graos de azoto e carbono que marcam a diferenca entre a vida e a morte pela fome, o lar ja tera sido despojado de todo o conforto material. 0 vestua­ rio e o aquecimento terao se tornado ainda mais escas­ sos do que

os

alimentos.

Nao

havera mais

contra as inclernencias do tempo, ficado

tao

doencas:

reduzidos

quase

nada

m6veis de casa;

que

os aposentos terao

produzirao

mais

restara

a limpeza se

protecao

ou

dos

agravarao

utensilios

e

tera tornado extrema­

mente custosa e dificil. E, se se procura mante-la, por um

sentido

novos

de

dignidade,

tormentos

de fome.

esse

esforco

representara

0 lar tera de

se

instalar

onde o teto for mais barato, em bairros onde a fiscali­ zacao sanitaria

e

menos eficaz,

ciencia de esgotos, onde

a

agua

e

de

limpeza,

escassa

e

da

onde ha maior maiores

pior

defi­

imundicies,

qualidade,

cidades onde ha maior carencia de luz e de estes os perigos sanitaries a que se expoe

e

nas

ar.

Sao

inevitavel­

mente a pobreza quando esta se acompanha

da min­

gua de alimentos. Se a soma
tremendo fardo

alimentos

e

para a vida,

a simples falta

em si mesma horrenda . . .

de

Estas reflexoes

sao dolorosas, principalmente quando verificamos que

103

a pobreza de que se trata nao e a pobreza merecida dos

ociosos.

E

trabalhadores!

Alem

disso, com relacao aos trabalhadores urbanos,

o tra­

balho com

que

a

pobreza

compram

dos

sua escassa

alimentacao

e

em regra excessivamente prolongado. S6 num sentido muito

limitado

pode-se

supor

que

esse

trabalho

de

para viver. . . Vista numa escala bem ampla, esse sus­ tento nominal pelo trabalho nao passa de um rodeio mais ou menos curto para se cair na pobreza." Qualquer

observador

desinteressado

ve

que

quanta maior a concentracao dos meios de producao, mais os trabalhadores

se

aglomeram

em

um

espaco

restrito; mais rapida a acumulacao, mais miseraveis se tornam a habitacao dos operarios. E evidente que os melhoramentos e o embelezamento da cidade, conse­ qiiencia do crescimento da riqueza, coma a dernolicao dos

quarteiroes

luxuosos mento

mal

predios

das

ruas

construidos,

para bancos,

a

lojas,

para o trafego

construcao etc.,

comercial

o e

de

alarga­ para

os

veiculos de luxo, o estabelecimento de linhas de trans­ portes coletivos,

desalojam os pobres,

expulsando-os

para os recantos cada vez piores e mais abarrotados de gente. Aqui

uma

observacao

geral

do

doutor

Simon:

"Embora oficialmente fale apenas coma medico, o sentimento elementar de humanidade nao me per­ mite

ignorar o

outro

lado

do

problema.

Quando

o

abarrotamento das habitacoes ultrapassa certos limi­ tes, determina quase necessariamente uma eliminacao de

104

todas

as

delicadezas,

uma

confusao

imunda

de

corpos e de funcoes fisiol6gicas, uma crua nudez ani­ mal

e sexual,

Ficar

sujeito

que

nao

a essas

uma intensidade

sao

humanas,

e

influencias

tanto

mais

mas

bestiais.

degradar-se,

profunda

com

quanto

mais

elas continuarem atuando. As criancas, nascidas sob essa maldicao, recebem o batismo da infamia, E ultra­ passa as raias da esperanca o desejo de ver pessoas, colocadas nessas circunstancias, atmosfera

de

civilizacao

cuja

lutarem

essencia

por

e

a

aquela

limpeza

fisica e moral." Os ciganos, crutados grande

no

os nomades do proletariado sao re­

campo,

parte

mas

industriais.

as

suas

ocupacoes

sao

em

E a "infantaria ligeira

do

capital", como diz Marx, jogada, segundo as necessi­ dades do momento, ora aqui, ora ali.

Em geral,

tra­

balham nas construcoes , na limpeza de terrenos, nas olarias, etc .

C

nas

oluna

camin h o

sao

ceramicas,

m6vel

da

nas

construcoes

pestilencia,

os

de estradas,

rastros

de

seu

a variola, o tifo, a c6lera, a si f ilis, a febre

escarlatina, e t c . , etc. Q

uando a em p resa envolve um gasto enorme de

ca p ital, como nas etc.,

o

exercito

p

r6prio

a

patrao

habitacao,

es p eluncas , ou v

construcoes

e

ou

quern seja,

construcoes

fornece

barracos

se m el h antes,

erdadeiras aldeias improvisadas,

tario

nen h um, sem controle de

mas

altamente

f

de estradas ,

orma,

rendosas

p

ara

q

Ch

errovias,

para de

o

seu

madeira,

que formam

sem cuidado

sani­

ualquer autoridade ,

o

patrao

e xp lora duas vezes o trabal h ador :

pregado e como inquilino.

f

que,

d

esta

como em ­

ega - se a pagar dois ,

tres

105

mil cruzeiros de aluguel por um barraco, dependendo de sua localizacao e acornodacoes. Peguemos mais um exemplo do relatorio do doutor Simon: "Em setembro de

1864,

de Fiscalizacao Sanitaria dirigiu ao

Ministro

do

o presidente do Comite

da par6quia

Interior,

de

Sevenoaks

Sir George

Gray,

a

seguinte demincia: Nesta parcquia, ha um ano, mente desconhecida.

a variola era total­

Ate que se iniciaram

os

lhos da estrada de ferro Lewisham-Tunbridge.

traba­ Esco­

lheram esta paroquia para o deposito central de todo o empreendimento, cujos trabalhos principais sao reali­ zados nas vizinhancas desta cidade.

Um grande

nu­

mero de pessoas foi empregado. Sendo impossivel alo­ jar tantas pessoas em casas,

o empreiteiro,

mandou construir barracos destinados

a

Mr.

Jay,

habitacao dos

trabalhadores, em diversos pontos ao longo do tracado da linha ferrea. Esses barracos nao tern ventilacao nem fossa ou

esgoto

e,

alern

disso,

ficaram

abarrotados,

porque cada locatario foi obrigado a compartilhar seu barraco com outras pessoas, por mais numerosa que fosse

sua

propria

familia

e

embora

a

habitacao

so

tivesse dois comodos. Segundo o relatorio medico que recebemos, esses pobres abrigados, disso,

tern

sufocacao,

de

sofrer

todas

as

em consequencia

noites

as

torturas

para se protegerem das emanacoes

da

pesti­

lentas das aguas estagnadas e imundas e das latrinas colocadas logo abaixo das janelas. Por fim, chegaram ao nosso Comite queixas formuladas por um medico que teve oportunidade de visitar esses barracos. Falou

106

sobre a situacao deles nos termos mais severos e mani­ festou o receio das graves consequencias que haveria, se nao fossem tomadas certas providencias sanitarias.

Ha

quase um ano,

o referido Jay comprometeu-se

construir uma casa onde lados

seus

empregados

doenca infecciosa.

seriam que

imediatamente

fossem

acometidos

Repetiu essa promessa no

fim

a

iso­ de de

julho passado, mas nao deu o menor passo para cum­ pri-la, embora desde entao tenham ocorrido em seus barracos diversos casos de variola e, em consequencia, duas mortes. A 9 de setembro, o doutor Kelson infor­ mou-me de novas casos de variola nos mesmos barra­ cos, descrevendo sua horrivel situacao, Para sua infor­ macao

(do

Ministro),

devo

acrescentar

que

nossa

paroquia possui uma casa de isolamento,

o lazareto

onde

contraiam

sao

cuidados

doencas infecciosas.

os

paroquianos

que

Ha

muitos meses que o lazareto

esta continuamente superlotado de pacientes.

Numa

unica familia, cinco criancas morreram de variola ou de febre. De 1? de abril a 1? de set embro

desse ano,

ocorreram nada menos que dez obitos por variola, sen­ do quatro nos referidos barracos, o foco de infeccao. E impossivel

dar o mimero

dos

atacados

por

doencas

infecciosas, pois as familias atingidas procuram man­ ter o maior

segredo possivel

em

torno

do

assunto."

Vejamos agora os efeitos da crise sobre melhor paga da classe operaria,

a parte

da sua aristocracia.

Um jornalista do Morning Star nos descreve a situa­ cao em uma das principais localidades atingidas pela crise industrial, de janeiro de 1867:

107

"A oeste de Londres, ha pelo menos 15 000 traba­ lhadores com suas respectivas familias literalmente

a

mingua, Dentre eles ha mais de 3 000 operarios quali­ ficados. Suas poupancas estao esgotadas, pois ha seis ou oito

meses

que

estao

desempregados.

Uma

mul­

tidao faminta assediava a Casa do Trabalho, a espera do vale do pao. Tive dificuldade para chegar ao portao do asilo.

Nao havia chegado ainda a hora

buicao dos vales. 0 patio do asilo

e

da

distri­

um imenso qua­

drado com um telheiro que corre em volta dos muros. Ha via pequenos espacos limitados por cercas de vime, como currais de ovelhas,

onde os homens trabalham

quando o tempo esta born. No dia da minha visita, o tempo estava tao ruim que ninguem podia trabalhar neles.

Mas,

assim

pedras debaixo do

mesmo,

alguns

telheiro.

homens britavam

Trabalhavam

cruzeiros ao dia e um vale de pao.

por trinta

Noutra parte

do

patio havia uma casa, onde os homens, para se man­ terem aquecidos, esfregavam-se ombro a ombro. Des­ fiavam estopa e competiam para ver qual deles pode­ ria trabalhar mais com um rninimo de comida, pois a resistencia era para eles ponto de honra. S6 neste asilo eram

acolhidos

7 000

trabalhadores,

entre

os

quais

muitas centenas deles recebiam, ha 6 ou 8 meses, mais

altos

salaries

qualificado.

Se

nao

pagos

neste

houvesse

as

pais

a um

casas

operario

de penhor,

seu mimero seria o dobro. Deixando o asilo, fui de um operario de indiistria

os

a

o

casa

sidenirgica, desemprega­

do ha 27 semanas. 0 homem estava sentado com toda a

sua

108

familia

num

pequeno

quarto

aos

fundos.

0

quarto nao estava ainda despojado de todos os m6veis e dentro dele ardia ainda um fogo, para nao enregelar os pes das criancas, pois o frio estava terrivel.

Frente

ao fogo havia uma certa quantidade de estopa

que

a

mulher e as criancas desfiavam para ganhar o pao do asilo.

0 homem britava pedras no asilo, por um vale

de pao

e trinta cruzeiros por -dia.

Com

muita

fome,

dizia com um sorriso amargo, chegando agora para o almoco: alguns pedacos de pao com gordura derretida e uma xicara de cha sem leite . . . A proxima porta onde batemos

foi

aberta

por

uma

senhora

de

meia-idade

que, sem dizer uma palavra, levou-nos a um pequeno quarto nos fundos, lia,

onde estava sentada toda a fami­

de olhos pregados num fogo

guindo rapidamente.

Nao desejo ver mais uma

como a que presenciei, desespero,

que estava se extin­

aquela

consternacao,

cena

aquele

que transparecia no rosto daquela gente e

dominava o pequeno aposento.

Ha 26 semanas,

disse

a senhora, apontando para seus rapazes, que eles nao conseguem ganhar nada, embora,

e todo o nosso

dinheiro foi

todo o dinheiro que eu e o pai conseguimos

guardar nos melhores tempos, pensando que nos seria util quando parassernos de trabalhar. Vejal, gritou ela selvagemente,

mostrando

sua

caderneta

bancar ia

e,

assim, pudemos ver como a pequena fortuna crescera do

primeiro

deposito

de

100

cruzeiros ate

atingir

50

mil cruzeiros e depois comecou a cair, tostao a tostao, ate

que

aquela

caderneta

como um pedaco

de

papel

ficasse em

sem

branco.

valor

algum,

Essa

familia

recebia diariamente uma escassa refeicao do asilo . . . A

109

a

outra visita nos levou lhava

nos

estaleiros

casa de um irlandes que traba­

navais.

A

sua

mulher

estava

doente por inanicao, estendida com suas roupas sobre um colchao, pobremente coberta corn um pedaco de tapete, pois toda a roupa de cama tinha sido penho­ rada.

Suas

criancas

em

estado

miseravel

cuidavam

dela e precisavam elas mesmas do cuidado materno. Contou-nos a hist6ria do seu passado

miseravel,

ge­

mendo como se tivesse perdido todas as esperancas . . . Dezenove semanas

de ociosidade forcada haviam re­

duzido a familia a esse estado de extrema necessidade. Chamado a outra casa, vi uma senhora e duas lindas criancas,

um

punhado

quarto frio e vazio;

de

cautelas

era tudo o que

de penhor e

um

tinha para mos­

trar." Entre os capitalistas ingleses era moda apresentar a Belgica como o paraiso do trabalhador, pois la nao ha via limitacoes o mesmo,

a

a

"liberdade do trabalho" ou, o que

"liberdade do capital".

o despotismo

ignominioso

dos

La

nao havia nem

sindicatos,

nem

grupo opressivo de comissarios de fabrica. algumas

palavrinhas

sobre

a

e

"felicidade"

esse

Vamos do

a

traba­

lhador belga. Nao ha ninguem, por certo, mais fami­ liarizado com os misterios dessa felicidade que o f ale­ cido Ducpetiaux, pronunciem como quiserem, o nome desse

inspetor-geral

das

prisoes

belgas

e

das

insti­

tuicoes de beneficencia e membro da Comissao Cen­ tral

da estatistica

belga.

Abramos

a sua

obra

"Ba­

lanco econornico da classe operaria na Belgica", blicada em

110

Bruxelas,

em

1855.

Entre

outras

pu­

coisas,

encontramos ai uma familia

operaria belga normar,

cujas receitas e despesas estao calculadas na base de dados

exatos

e

cujas

condicoes

de

alimentacao

sao

comparadas com as dos soldados, marinheiros e peni­ tenciarios, A familia e constituida de pai, mae e qua­ tro filhos; dessa familia,

quatro podem trabalhar co­

ma assalariados durante o ano inteiro. Imagina-se que nao ha doentes e incapazes, nem poupancas em ban­ cos ou em caixas de aposentadoria. Nenhuma despesa superflua,

nenhum

luxo.

Apenas

uma

contribuicao

para o culto. 0 pai e o filho mais velho fumam e aos domingos vao ate o boteco,

gastando sernanalmente

nessas

de

distracoes

um

total

CrS 200,00.

Toda

a

receita da familia, exatamente calculada, chega anual­ mente a CrS 106 800,00.

Eis

o balance

anual

da fa­

milia:

o pai, 300 dias a

CrS 1 5 6 , 00 . .

CrS

46 800,00

a mae, 300 dias a

CrS

89,00 . .

CrS

26 700,00

o filho, 300 dias a

CrS

5 6 , 00 . .

CrS

16 800,00

a filha, 300 dias a CrS

55,00 . .

CrS

16 500,00

Total anual

CrS 106 800,00

Na hipotese de que o operario tivesse a alimen­ tacao:

do

marinheiro,

a CrS 182 800,00

teria

CrS 76 000,00

de deficit;

111

do

soldado,

a CrS 147 300,00 teria CrS 40500,00

de

deficit; do prisioneiro, a CrS 1 1 1 200,00 teria CrS 4 400,00 de deficit.

Voltemos a Londres, foi feita,

em

1863,

dos condenados,

onde uma pesquisa oficial

sobre a alimentacao e o trabalho

seja a deportacao,

seja ao trabalho

forcado. Ei-la:

a

"Uma comparacao cuidadosa entre

dieta

dos

condenados as prisoes na Inglaterra, de um lado, e a dieta dos pobres nos asilos e dos trabalhadores agri­ colas livres, do outro, mostra, sem sombra de duvida, que

os primeiros

sao

muito

melhor

alimentados

do

que qualquer elemento das duas outras categorias . . . Alem disso, a quantidade de trabalho exigida de um condenado a trabalhos forcados e quase

a

rnetade da

que executa ordinariamente o trabalhador agricola." Um inquerito

sobre

a saiide piiblica,

em

por ocasiao de uma epidemia numa area rural,

1865, cita,

entre outros, o seguinte fato: " Um menino doente de febre dormia a noite

no

mesmo quarto com seu pai, mais um filho ilegitimo, mais dois irrnaos, mais duas irmas, cada uma com um bastardo,

ao todo

10 p essoas.

Ha

algumas

semanas

eram 1 3 que dormiam no mesmo a p osento. " Pelas proporcoes

deste

manual,

nao

·

poderemos

transcrever, com os detalhes e a precisao de Marx, situacao rural.

112

miseravel

Mas

em

que

encerraremos

foi jogado este

a

o trabalhador

capitulo,

falando

de

uma calamidade toda especial entre os trabalhadores agricolas

ingleses,

provocada

pela

acumulacao

do

capital. O excedente

da populacao rural leva

ao

rebai­

xamento dos salaries, em certas epocas do ano, quan­ do os trabalhos na agricultura tern de ser realizados em

determinado

colheita,

tempo,

exige-se

necessidades satisfeit .....

do

com

um

por

exemplo,

mimero

capital

nao

a populacao

maior sao

na de

epoca

da

braces:

as

quantitativamente

agricola.

Conseqiiente­

mente, recorre-se a um grande mimero de mulheres e criancas para suprir essa necessidade momentanea do capital; cumprida essa funcao, essa gente vai aumen­ tar a superpopulacao rural. Este fato produziu entre os trabalhadores rurais ingleses o sistema de bandos ambulantes, os volantes. Um grupo de volantes

e

formado de 10 a 40 ou 50

pessoas, mulheres, jovens de ambos os sexos entre 13 e 18 anos, embora os rapazes de 13 anos sejam em geral excluidos,

e finalmente

entre

13

6

agricola

e

anos.

comum,

0

criancas seu

chefe

geralmente

de

e

ambos

os

sexos

um

trabalhador

velhaco,

debochado,

boernio, bebedo, mas com certo espirito de iniciativa e muito esperto. 0 grupo que ele recruta trabalha sob suas ordens e nao sob as do arrendatario, com quern acerta o trabalho por empreitada. 0 seu ganho nao

e

muito maior do que um trabalhador agricola com um e depende

de

sua

habilidade

para

fazer

o

seu

bando

realizar a tarefa contratada, no menor tempo possivel. Os arrendatarios descobriram que as rnulheres s6 tra-

113

balham com regularidade sob a ditadura masculina, e que

elas

e

as

criancas,

uma

empregam impetuosamente

vez

suas

iniciada forcas,

a

tarefa,

enquanto o

homem adulto, malandramente, procura poupar-se o maxima possivel no trabalho. O chefe do grupo vai de uma fazenda para outra, ocupando seus elementos durante 6 a 8 meses por ano. Por isso,

e

muito mais rendoso e mais seguro para as

familias dos trabalhadores servir com ele do que tratar seu trabalho

diretamente com o arrendatario, que s6

ocasionalmente emprega criancas, Esta circunstancia lhe da uma influencia tao grande que, em certos po­ voados,

as criancas,

em regra,

intermedio,

Ele

s6 podem consegue

ser empre­

gadas por

seu

um

ganho

adicional,

atravessando as criancas individualmente,

sem a familia, para os arrendatarios, O lado sombrio do sistema de grupos ambulan­ tes: o trabalho excessivo das criancas e dos jovens, as longas marchas diarias para as fazendas, muitas vezes •

a leguas de distancia e, finalmente, a desmoralizacao do bando. 0 chefe, conhecido em alguns lugares como arreio, s6 excepcionalmente recorre embora a tenha

a

sua

disposicao,

a

violencia, muito

E um

imperador

dernocratico, procurando exercer uma atracao, como o gerente de um circa. Precisa da popularidade entre os seus dependentes e os vida cigana

que

seduz corn

promove.

os

atrativos

Licenciosidade

da

grosseira,

dissolucao alegre e a mais obscena falta de pudor dao asas ao bando.

Em geral,

paga os seus comandados

num bar, e ao sair cambaleante, vai, apoiado de cada

114

a

lado por uma mulher robusta,

frente do bando, e as

criancas e os jovens acompanham-no fazendo a maior algazarra e

entoando

graficas, Nao

e

cantigas

zombeteiras

raro as meninas de 1 3 ,

e

porno­

14 anos engra­

vidarem de rapazes da mesma idade. Os povoados que fornecem em

os contingentes

do

bando,

transformam-se

Sodomas e Gomorras, e a taxa de

filhos

ilegitimos

e

o

dobro

da

nascimento

observada

em

de

outras

regioes do pais. Alem

de

vemos, ha sicao

e

forma

classica,

tal

coma

ainda os bandos particulares.

a mesma

pessoas, nomo,

sua

nao

mas

do bando

sendo por

comum,

comandados

um

velho

descre­

Sua compo­

mas

tern

por um

criado

o

menos

chefe

para

o

auto­

qual

o

arrendatario nao achou melhor ocupacao. Nestes ban­ dos, o humor cigano desaparece, mas de acordo com o que dizem todas as testemunhas, pioram o pagamento e o tratamento das criancas, Este ultimas

sistema

decadas

de e

bandos

nao

continua

existe

para

O

crescendo

nas

prazer

seu

de

chefe. Existe para enriquecer os grandes arrendatarios e,

indiretamente,

os

donas

das

te r ras .

Os

pequenos

arrendatarios nao em p regam esses bandos e nem terr as pouco ferteis.

Frente prietario,

a uma

as

21

Comissao

apavorado

com

de

uma

Inquerito, possive l

um

pro ­

reducao

de

seus ganhos , vociferou :

(21)

0 Capital, p. 807-809.

115

"Por que se faz tanto caso?

Eu sei,

e porque

nome do sistema soa mal. Em vez de 'bando', mos

dizer

'Associacao

Industrial-Agricola

o

pode­

Coopera­

tiva e Autarquica da Juventude' e tudo estaria b e m . " Um antigo chefe de bando declarou: "O trabalho dos bandos e mais barato do que

qualquer outro,

e

esta e a razao por que e utilizado". De

um

arrendatario:

"O

sistema

de

bandos

e,

sem duvida, mais barato para o arrendatario e o mais nocivo para as criancas". Para

OS

arrendatarios nao ha metodo mais enge­

nhoso para manter os trabalhadores muito abaixo do nivel normal - deixando sempre suplemento de bracos

para

as

a

sua disposicao um

necessidades

dinarias - para obter muito trabalho com

extraor­ a menor

despesa possivel e para tornar superfluo o trabalhador adulto.

Sob

o pretexto

de

que

ha

falta

de

mao-de­

obra, reclamam como necessario o sistema de bandos.

116

x A acumulaeao primitiva

E

estamos

chegando

ao

fim

do

nosso

drama.

Um dia encontramos o trabalhador no mercado, vendendo sua Iorca de trabalho, ciando-a pau-a-pau

com

como vimos,

o homem

do

nego­

dinheiro.

Ele

nao sabia ainda como seria duro o caminho do Calva­ rio que teria que enfrentar, nem tinha experimentado ainda o calice amargo do

qual teria que beber ate a

ultima gota. 0 homem do dinheiro nao era ainda um capitalista,

mas

quena riqueza,

modesto timido

proprietario

e incerto

em

de

sua

uma

nova

pe­

cami­

nhada, na qual empregava toda a sua fortuna. Vimos como a cena mudou. O operario,

(T

depois de ter gerado

o capital

com

seu primeiro sobretrabalho, foi oprimido por um tra­ balho excessivo de uma jornada extraordinariamente prolongada. 0 tempo de trabalho necessario para sua manutencao

foi

encurtado

pela

mais-valia

relativa,

enquanto o sobretrabalho foi prolongado para nutrir sempre

mais

abundantemente

o

capital.

Na

coope­

racao simples, vimos que o operario submetido a uma

117

disciplina de caserna, preso a uma corrente de conca­ tenacao de Iorcas de trabalho,

a extenuar-se

mais

mais, para alimentar o sempre crescente capital.

e

Vi­

mos o operario rnutilado, aviltado e oprimido ao ma­ ximo pela divisao do trabalho, na manufatura. Vimo­ lo

sofrer

causadas

as

indescritiveis

pela

dores

introducao

da

materiais

maquina,

e

morais,

na

grande

industria, Expropriado da ultima parcela de sua vir­ tude artesanal, vimo-lo reduzido a um mero servo da maquina, nismo

transformado,

vivo,

nismo,

em

um

torturado

de

vulgar

pelo

membro apendice

trabalho

de de

um um

orga­ meca­

vertiginosamente

in­

tensificado da maquina, que a cada momento ameaca '

arrancar um pedaco de sua carne ou tritura-Io com­ pletamente

entre

suas

como se nao bastasse, ridos

filhos

se

monstruosas

engrenagens

e,

vimos sua mulher e seus que­

tornarem

escravos

do

capital.

E,

no

entanto, o capitalista, imensamente enriquecido,

pa­

gando-lhe

seu

um

salario

que

ele

pode

diminuir

a

prazer, embora dando mostras de conserva-lo no mes­ mo nivel anterior e ate mesmo de aumenta-lo.

Final ­

mente , vimos o operario, temporariamente inutilizado pela acumulacao do capital,

passar do exercito ativo

industrial p a ra a reserva, e entao, desta, descer para sempre ao inferno da pobreza.

Todo

o sacrificio

foi

consumado . Mas como foi possivel acontecer tudo isso ? De um modo muito simples !

0 operario

era ,

na

verdade , proprietario de sua forca de trabalho, com a qual poderia produzir tanto quanto necessitasse para

118

\

si e sua familia,

mas a quern faltavam os .outros ele­

mentos indispensaveis ao trabalho, ou seja, os meios e a materia de trabalho. Desprovido, portanto, de qual­ quer riqueza, o operario foi obrigado, para ganhar a vida, a vender seu unico bem, sua forca de trabalho, ao homem do dinheiro, propriedade

individual

que

tirou

o seu

e o salario,

proveito.

fundamentos

A do

sistema de producao capitalista, sao a causa primeira de tanta dor.

e

Mas isto

injusto! E criminoso! E quern deu ao

homem o direito

a

propriedade individual?!

E,

alem

disso, como foi que o homem do dinheiro se apossou dessa riqueza, dessa acumulacao primitiva, origem de tanta infamia? Uma voz

terrivel

Capital e grita: "tudo

levanta-se

e justo,

do

templo

do

deus

porque tudo esta escrito

no livro das leis eternas. De ha muito se foi o tempo em

que o homem vagava ainda livre e igual sobre

Terra.

Poucos deles foram laboriosos,

nomicos: riosos

e

todos

os

esbanjadores.

primeiros e o vicio, conseguiram dentes)

outros

da

virtude

sobrios e eco­

preguicosos, fez

a

de

gozar (eles

virtuosamente

luxu­

riqueza

a miseria dos outros.

o direito riqueza

A

foram

a

dos

Os poucos

e seus

descen­

acumulada;

en­

quanto os muitos (eles e seus descendentes) sao obri­ gados pela sua miseria a se venderem aos ricos, foram condenados

a

servirem

eternamente

a

estes

e

seus

descendentes". Eis como certos amigos da ordem burguesa veem as coisas. E essas insipidas ingenuidades continuam a

119

I

circular.

Thiers,

por exemplo,

com a faixa de presi­

dente da repiiblica francesa, apresentou sua estupidez a seus concidadaos escrevendo um livro, no qual pre­ tendeu ter aniquilado os ataques sacrileges do socia­ lismo contra a propriedade. Se vina,

a origem

da acumulacao

primitiva fosse

a teoria que dela deriva seria tao justa quanto

aquela do pecado original e da predestinacao, foi preguicoso e beberrao, Um

e

o filho

pobre,

sobre

0 pai

sofrera a miseria,

filho de um rico, esta predestinado a ser feliz,

e

forte, instruido, civilizado, etc.; o outro

rante,

di­

esta

predestinado

bruto, uma

imoral,

tal

lei

a

etc.

deve,

ser

infeliz,

Uma

filho de um debil,

sociedade

certamente,

igno­

fundada

acabar,

como

acabaram tantas outras sociedades menos barbara e menos hipocrita, tantas religioes e deuses, a comecar pelo cristianismo,

em cujas leis se encontram

exem­

plos similares de justica, Aqui poderiamos botar um ponto final em nosso trabalho, burguesa.

se

fosse

possivel

levar

Mas o

nosso

drama

desse espetaculo,

como

logo

a

tern

serio um

veremos,

essa

tolice

final

digno

assistindo

ao

seu ultimo ato. Abramos a hist6ria,

aquela hist6ria escrita pela

burguesia, e para uso e consumo da burguesia; quemos nela a origem

da

acumulacao

bus­

primitiva e

e

isso o que encontramos. Em epocas mais antigas,

grupos de homens no­

mades vieram a se estabelecer nas localidades melhor , situadas e mais favorecidas pela natureza. Ali funda-

120

I

I

ram cidades, cultivaram a terra e fizeram tudo quanto e necessario para a propria prosperidade. Mas eis que se encontram e se guerreiam pela sua sobrevivencia. Dai as guerras, mortes, incendios, rapinagens e devas­ tacoes. Tudo o que era do vencido se torna proprie­ dade do vencedor,

inclusive os sobreviventes,

que

se

tornam todos escravos. Ai

esta

a

origem

da

acumulacao

primitiva

na

antiguidade. Vejamos agora, na Idade Media. Nesta segunda epoca da hist6ria, s6 encontramos invasoes de povos aos paises de outros povos mais ricos e mais favorecidos pela natureza, e sempre o mesmo refrao de matancas, rapinagens, incendios, etc. Tudo o que era dos vencidos passa para as maos do vence­ dor, com a diferenca de que os sobreviventes nao se tornam mais escravos,

como na epoca anterior,

mas

servos, e passam, juntamente com a terra a que esta­ vam presos, para o poder de seu senhor. Portanto, nem mesmo na epoca medieval encon­ tramos o menor traco da idilica laboriosidade, sobrie­ dade e economia decantada por uma

certa

doutrina

burguesa sobre a origem da acurnulacao primitiva. E e born que se diga que a Idade Media

e

a epoca para

qual nossos ilustres possuidores de riqueza podem se reportar em busca de suas origens, de seus ancestrais. Passemos, finalmente, para a epoca moderna. A

revolucao

burguesa

transformou a servidao

em

destruiu salario.

o

feudalismo

Mas,

ao

e

mesmo

tempo, retirou dos trabalhadores OS pOUCOS meios de existencia,

que o estado de servidao lhes assegurava.

121

Ainda que devesse trabalhar a maior parte do tempo para seu senhor, o servo se assegurava com um pedaco de terra, com os instrumentos e o tempo de cultiva-Ias, para ganhar sua propria vida.

A burguesia

destruiu

tudo isso e fez do servo um trabalhador "livre", o qual nao

tern

outro

jeito

senao

se

deixar

explorar

pelo

primeiro capitalista que o captura ou morrer de fame. Como o trabalhador

e

explorado, nos ja vimos.

Bern, deixemos agora essas observacoes gerais e passemos para um caso particular. Peguemos a histo­ ria de um povo e vejamos coma

e

feita a expropriacao

da populacao agricola e a formacao daquela massa de operarios, destinada a fornecer sua forca de trabalho .indiistria moderna. Para variar, retornemos

a

a

historia

da lnglaterra, onde todas essas doencas por nos estu­ dadas

se

desenvolveram

mais

cedo,

oferecendo-nos

um born posto para observacao pratica, Nos fins do seculo XIV,

a servidao

tinha prati­

camente desaparecido da lnglaterra. A imensa maio­ ria da populacao se compunha agora, e mais comple­ tamente ainda no seculo XV, de camponeses livres que cultivavam

sua propria terra,

qualquer

que

fosse

o

titulo feudal que lhe garantisse o direito de posse. Nos grandes dominios senhoriais o antigo bailiff, um ser­ vo, foi substituido pelo arrendatario livre. riados rurais

eram,

em

parte,

Os assala­

camponeses

que,

du­

rante o tempo em que nao precisavam trabalhar em sua propria terra, contratavam trabalhos com os gran­ des proprietaries: e, em parte, uma classe particular e pouco numerosa de assalariados propriamente ditos.

122

Mas estes eram,

ao

mesmo

tempo,

lavradores

inde­

pendentes, pois, alern do salario, recebiam uma habi­ tacao e uma terra de 4 ou mais acres para lavrar. Alem disso, juntos com os camponeses propriamente ditos, usufruiam das terras comuns, onde pastavam seu ga­ do e de onde retiravam a lenha, a turf a, e t c . , para seu aquecimento. A revolucao que criou os primeiros fundamentos do modo de producao capitalista, teve o seu preludio nos ultimas anos do seculo XV e nas primeiras deca­ das do seculo X V I . Em todos os paises da Europa, producao

feudal

se

caracterizou

pela

reparticao

a

de

terras entre o maior mirnero possivel de camponeses. O poder do senhor feudal, como o dos soberanos, nao dependia do tamanho de suas rendas, mas do mimero de seus suditos, ou melhor, do mirnero de camponeses trabalhando

em

seus

dominios.

Repentinamente,

a

liberacao dos numerosos sequitos senhoriais lancou no mercado de trabalho uma massa eira ,

nem

beira.

E ssa

massa

de

proletarios

cresceu

sem

considera v el­

mente por meio da usurpacao dos bens comunais dos camponeses, bens estes instituidos pelas leis feudais, nas quais os grandes senhores nem pensaram . 0 flo­ rescimento da manufatura de l a , aumento

dos

precos

essas violencias na

da

l a,

com o conseqiiente

motivaram

l n g laterra.

diretamente

T ransformar

as terras

de lavoura em pasta g ens, era o grito de guerra.

(22)

22

OCapital, p. 8 3 1 - 8 3 2 .

123

"Mas

que

importa

aos

nossos

grandes

usurpa­

dores? As casas e choupanas dos camponeses e traba­ lhadores foram violentamente demolidas ou abando­

a

nadas

ruina

total.

Quando

consultamos

inventarios de alguma residencia

os

senhorial,

velhos

verifica­

mos que inumeras casas e pequenas lavouras desapa­ receram, que a terra alimenta um numero bem menor de pessoas, bora

que muitas cidades

prosperem

algumas

desapareceram,

novas . . .

Poderia

em­

falar

de

cidades e aldeias que se transformaram em pastas de ovelhas e onde apenas se encontram

as

mansoes

se­

nhoriais." Velhas cronicas, ram as queixas, sao

dos

coma esta de Harrison,

exage­

mas traduzem exatamente a impres­

conternporaneos

que

testemunharam

revolucao das condicoes de producao.

essa

,

No seculo X V I , com a Reforma e o imenso saque aos

bens

da

lgreja

que

a

acompanhou,

o

violento

processo de expropriacao do povo recebeu um nova e terrivel impulso.

A Igreja Cat61ica era,

nesta

epoca,

proprietaria feudal de grande parte do solo ingles.

A

extincao dos conventos, e t c . , enxotou os habitantes de suas terras,

engrossando

ainda

mais

o proletariado.

Os bens eclesiasticos foram amplamente

doados

aos

vorazes favoritos da Corte ou ·vendidos a precos ridi­ culos a especuladores, agricultores ou burgueses que expulsaram em

massa os

antigos

moradores

heredi­

tarios e fundiram as suas propriedades. 0 direito dos pobres

a

propriedade

de

uma parte

dos

dizimos

Igreja foi tacitamente confiscado. Nessa epoca,

124

da

a rai-

nha Elizabeth fez uma viagem pela lnglaterra. per

ubique jacet",

espantou-se

ela,

em

"Pau­

latim,

logo

apos cumprido o seu itinerario. 0 que ela quis dizer em portugues,

e

que "o pobre esta na miseria por toda

a parte", tanto assim que o seu governo foi obrigado a reconhecer

oficialmente

a

pobreza,

introduzindo

o

imposto de assistencia aos pobres. Os au tores dessa lei se envergonharam de explicar-lhe os motivos e, sem os preambulos de praxe,

a afixaram.

Sob o reinado

de

Carlos I , o Parlamento a declarou definitiva e s6 veio a ser

modificada

em

1834.

Ao

inves

indenizacao a que tinham direito,

de

receberem

a

deram aos pobres

mais pobreza e mais castigos. Ainda no tempo de Elizabeth,

alguns proprieta­

rios de terras e alguns ricos arrendatarios do lnglaterra

se

reuniram

para

estudar

a lei

sul

da

sobre

os

pobres recentemente promulgada. Um celebre jurista da epoca foi encarregado de ler e dar seu parecer sobre o anteprojeto dos proprietaries. "Alguns

dos

ricos

arrendatarios

da

paroquia

imaginaram um plano muito engenhoso para afastar todas as confusoes que ocorrem na aplicacao da lei. Eles propuseram a construcao de uma cadeia na pa­ roquia. Sera negada qualquer ajuda ao pobre que nela nao se deixe encarcerar.

Avisar-se-a por toda a vizi­

nhanca que qualquer pessoa que deseje alugar os po­ bres dessa paroquia deve apresentar propostas lacra­ das,

num

dia

determinado,

pelo

qual

ficaria

com

eles.

fixando Os

o

autores

menor

preco

deste

plano

supoern existirem nos condados vizinhos, pessoas que

125

gostariam de viver sem trabalhar, m a s q u e nao podem realizar seu desejo por nao disporem de recursos

ou

creditos suficientes para arrendar terras ou conseguir um barco.

Estas pessoas estariam inclinadas a fazer

a

propostas vantajosas

par6quia. Se os pobres morre­

rem aos cuidados do contratante, a culpa recaira so­ bre ele,

uma vez

que

a

par6quia ja

tera

cumprido

todos os seus deveres em relacao a eles. Tememos que a lei de que tratamos nao permita medidas prudentes como

a

que

imaginamos.

Informamos-lhes,

entre­

tanto, que os demais proprietaries alodiais desse con­ dado e dos adjacentes se juntarao a nos para levar seus representantes na Camara dos Comuns a propor uma lei que permita o encarceramento e o trabalho com­ pulsorio dos p obres, de modo que ficara sem direito a qualquer auxilio aquele que se opuser ao encarcera­ mento. Isso , es p eramos , impedira os miseraveis de ter necessidade de assistencia." No

seculo

XVIII,

a lei

mesma

se

torna

instru­

mento de espoliacao. A forma parlamentar do roubo de terras comunais das

terras

decretos

e

aquela

comunais ,

com

os

das

publicas,

quais

os

leis

de

Sao,

cercamento

na

proprietaries

de

realidade, terras

se

fazem eles mesmos donos dos bens comunais, decretos de

expropriacao

do

povo.

Um

tal

Sir

F.

M.

Eden

chega a apresentar a propriedade comunal como uma propriedade p rivada ,

embora ainda indivisa, mas ele

mesmo se contradiz em sua vergonhosa argumentacao j ur i dica,

ao propor ao Parlamento uma lei geral p ara

cercar as terras comuns. E , nao satisfeito ainda de ter

126

confessado a necessidade de um golpe de Estado para acambarcar os bens comunais, ele insiste em se con­ tradizer, ao pedir ao legislador uma indenizacao para os pobres expropriados.

e

nao seriam,

Se nao fossem expropriados,

6bvio, pessoas a serem indenizadas.

F. M. Eden, coma vimos, cobica

das

coisas

alheias,

e

Sir

um poco de disparates e

mas

nao

perde

a

"filan­

tropia". "Em Northamptonshire e Lincolnshire, cercaram as terras comuns na mais ampla escala e a maior parte das

novas

propriedades

dai

surgidas

madas em pastagens; por isso,

estao

transfor­

muitos senhorios nao

tern SO acres arados onde antes existiam 1 5 00 . . . nas de casas,

celeiros,

estabulos,

vestigios dos antigos habitantes.

etc.,

sao

os

Rui­

unicos

Em muitos lugares,

centenas de casas e familias foram reduzidas a 8 ou 10. Na maior parte das regioes atingidas pelo cerca­ mento, ha 15 ou 20 anos, os proprietaries de terras sao hoje em mimero bem menor em relacao ao que existia antes. Nao

e

raro ver 4 ou 5 ricos criadores que recen­

temente usurparam e cercaram terras que se

encon­

travam em maos de 20 a 30 lavradores arrendatarios e outros tantos pequenos proprietaries e colonos. Esses lavradores e suas familias foram enxotados dos bens im6veis que possuiam, juntamente com muitas outras familias que empregavam e mantinham." Marx transcreveu este trecho de uma "Pesquisa sabre as razoes contrarias ou favoraveis ao cercamento de campos abertos",

publicado em

1772,

pelo Reve­

rendo Addington.

127

Os

lordes

latifundiarios

(landlords)

anexaram

nao somente a terra inculta mas tambem a cultivada em comum ou mediante arrendamento sob

o

pretexto

de

cercamento.

do

cercamento

a

comunidade,

Oucamos

o

doutor

Price: "Falo aqui

dos

campos

e terras

abertos que ja estao cultivados. Ate os defensores do cercamento admitem,

nesse

caso,

que

o cercamento

diminui o cultivo das terras, eleva os precos dos meios de subsistencia e produz o despovoamento . . . e mesmo o cercamento de terras incultas, pratica,

rouba

aos

pobres

como atualmente se

parte

de

seus

meios

de

subsistencia e amplia as areas arrendadas que ja sao grandes demais. Se todas as terras cairem nas maos de alguns poucos grandes arrendatarios, os pequenos la­ vradores

( que

ele

define

assim:

'uma

multidao

de

pequenos proprietaries e arrendatarios que se mantern e sustentam suas familias com o produto da terra que cultivam,

com

as

ovelhas,

aves,

porcos,

etc.,

que

criam nas terras comuns, precisando poucas vezes de comprar meios de subsistencia') serao transformados em pessoas que terao de ganhar a vida para os

outros

e forcadas

a

irem

ao

trabalhando

mercado

para

comprar tudo que precisam . . . Havers talvez mais tra­ balho,

pois

a coacao

sera

maior . . .

Aumentarao

as

cidades e as manufaturas, pois mais gente afluira para elas procurando emprego. Este e o sentido em

que o

acambarcamento das terras naturalmente atua e em que,

ha

reino."

128

muitos

anos,

tern

realmente

atuado

neste

De

fato,

revolucao sentida

a

usurpacao

agricola

pelos

que

a

dos

bens

seguiu

trabalhadores

foi

rurais

comunais tao

e

a

duramente

que,

segundo

o

mesmo Eden, de 1765 a 1780 o salario comecou a cair abaixo do minimo e teve de ser completado pela assis­ tencia oficial. "O salario do trabalhador rural ja nao e mais suficiente nem para as primeiras necessidades da vida", disse ele. No seculo XIX desaparecia, enfim,

a lembranca

daquele sentimento que unia o homem do campo ao solo comunal. Que indenizacao, cebeu a populacao rural, foi espoliada com

os

em

quais,

quando entre

3 5 1 1 770

atraves

perguntariamos,

do

acres

de

re­

1810 e 1831,

terras

Parlamento,

os

comuns, landlords

presen tearam os landlords? E isso sem con tar a ex ten sao de terras roubadas em tempos

mais

pr6ximos . . .

Finalmente, o ultimo grande processo de expro­ priacao

dos

camponeses

propriedades, huma:nos.

a

chamada

limpeza

das

que consiste em varrer destas os seres

Todos

culminaram

e

metodos

OS

nessa

camponeses para

ate

"limpeza".

serem

agora

Nao

enxotados,

observados

havendo

mais

a limpeza

pros­

segue demolindo as choupanas, e t c . , ate que os traba­ lhadores rurais, nesse processo de modernizacao, nao encontrassem mais na terra em que trabalham o espaco necessario para a sua pr6pria habitacao,

Um

depoi­

mento sobre esse processo na Esc6cia: "Os como

se

grandes fossem

da

ervas

Esc6cia

expropriam

daninhas,

tratando

familias aldeias

e

seus habitantes como indianos enraivecidos que ata-

129

cam

as feras

mano

vale

carneiro,

acuadas

uma

ou

pele

em de

menos

seus

refugios . . .

carneiro

ainda...

ou

0

uma

Quando

se

ser

hu­

perna

de

invadiu

o

norte da China, o Grande Conselho dos Mongols dis­ cutia a necessidade

de

exterminar

seus

converter suas terras em pastagens.

habitantes

Muitos

e

proprie­

tarios escoceses nao vacilaram em executar essa pro­ posta em seu pr6prio pais, contra seus proprios con­

terraneos." Mas vamos dar a mao a quern merece. A inicia­ tiva

mais

mong6lica

Sutherland.

Esta

tomou as redeas

foi

senhora,

tomada de

pela

boa

da administracao,

duquesa

escola,

logo

recorreu

de que

a medi­

das radicais e converteu em pasto todo o condado;

a

populacao, que ja ha via sofrido experiencias analogas, mas nao em tao grandes proporcoes, ja estava reduzida a 15 000 habitantes. individuos,

que

Entre

formavam

1 8 1 4 e 1820, cerca

de

3

estes

mil

foram barbaramente expulsos. Todas as

15 000

familias,

suas

aldeias

foram destruidas e incendiadas e seus campos conver­ tidos em pastos. Os soldados, enviados para essa mis­ sao,

desceram o

pau

nos

habitantes,

sem

piedade.

Uma velhinha morreu queimada entre as chamas

de

sua choupana, da qual se negou a sair. E assim, a nob re dama se assenhoreou de 794 000 acres de terra que per­ tenciam

a

comunidade desde tempos imemoriais.

(Burgueses!

Vos que reclamais do uso revolucio­

nario do petroleo, limpai as orelhas! 0 fogo desde ha muito

e

usado contra o proletariado! E a vossa hist6ria

que fala.)

130

Voltando

a

duquesa.

Aos camponeses expulsos,

ela mandou que se localizassem em 6 000 acres na orla maritima a 2 acres por familia. Esses 6 000 acres eram inteiramente

incultos

ate

entao,

e nao

proporciona­

vam qualquer renda. A duquesa nao faltou a "fidal­ guia"

de cobrar uma renda razoavel por acre,

a ser

paga pelos membros da comunidade, que, ha seculos, deram seu sangue a servico dos Sutherland. Ela divi­ diu

toda

a

terra

roubada

em

29

grandes

arrenda­

mentos para a criacao de ovelhas, cada um habitado apenas por uma

familia,

em

geral

oriunda

da

cria­

dagem dos arrendatarios ingleses. Em 1825, os 15 000 aborigenes gaelicos estavam substituidos por 1 3 1 000 ovelhas.

Os

procuraram

que viver

foram da

lancados

pesca.

na

orla

maritima

Transformaram-se

em

anfibios e, na expressao de um escritor ingles, viviam uma meia vida de duas partes, uma em agua e outra em terra. Mas a brava gente gaelica devia pagar ainda mais caro pela idolatria que seu romantismo serrano dedi­ cava aos

"grandes homens"

do seu cla.

0 cheiro de

peixe chegou ao nariz dos grandes homens. Farejaram algo lucrativo atras dele e arrendaram a orla maritima aos grandes mercadores de peixe de Londres. Os gae­ licos foram enxotados pela segunda vez.

23

Por fim, uma parte das pastagens se transformou em reserva de caca. 0 professor Leone Levi, em abril

(23)

0 Capital, p. 845-848.

131

de 1866, na Sociedade de Artes, rencia sobre

O

disse em sua confe­

problema:

"O despovoamento do pais e a transformacao das lavouras em meros pastos ofereceram os meios cornodos para uma renda sem despesas . . . moda,

depois,

transformar os

pastos em

mais

Tornou-se campos

de

caca, As ovelhas sao expulsas pelos animais de caca, do mesmo modo que os seres humanos foram tados para dar lugar as ovelhas . . . figuravam

Imensas areas que

nas estatisticas da Escocia como pastagens

de excepcional fertilidade e extensao vadas,

enxo­

nem melhoradas,

estando

nao

sao

reservadas

culti­

exclusi­

vamente para algumas pessoas terem o prazer da caca em periodo curto e determinado do ano." No .dizia:

final

"Uma

de

maio

das

Sutherlandshire,

de

1866,

um

jornal

melhores pastagens pela qual se

de

ofereceu

escoces

ovelhas

de

recentemente

uma renda anual de centenas de libras, sera transfor­ mada em reserva de caca". Outros jornais da mesma epoca falaram sobre esses instintos feudais, mais

crescentes

na

lnglaterra;

alguns

cada vez

deles

podem

concluir, com dados e mimeros, que tal fato nao havia diminuido em nada a riqueza nacional. A criacao desse era mais

rapida

do

proletariado que

sem

sua utilizacao

direito nas

algum

manufa­

turas nascentes. Alem disso, brutalmente arrancados das

suas condicoes

habituais

de existencia,

nao

po­

diam enquadrar-se, da noite para o dia, na disciplina exigida pela

nova

ordem

social.

Muitos

se

transfor­

maram em mendigos, ladroes, vagabundos, em parte

132

por inclinacao, mas, na maioria dos casos,

por forca

das circunstancias. Dai ter surgido em toda a Europa ocidental, no fim do seculo XV e no decurso do XVI uma

legislacao

sanguinaria

contra

a

vadiagem.

Os

ancestrais da c/asse operaria atual foram punidos ini­ cialmente

por

se

transformarem

em

vagabundos

e

indigentes, transformacao esta que lhes foi imposta. A legislacao os

tratava como

delinqiientes voluntaries,

como se dependesse deles prosseguirem

trabalhando

nas velhas condicoes e que nao mais existiam. Na Inglaterra, esta legislacao comecou sob o rei­ nado de Henrique V I I . Henrique V I I I , 1530: velhos e incapacitados para trabalhar obtern

o

direito

blica, ou seja, esmolar;

de

apelar

a

caridade

pu­

os sadios que vagabundeiam

sao presos e chicoteados ate sangrar; e, alem disso, de acordo

com

devem jurar

a lei

posta em

a

que voltarao

vigor,

esses

terra

rratal

vagabundos OU

a

cidade

onde viveram nos ultimos tres anos para, como diz a lei, "se porem a trabalhar". Que ironia cruel! E essa lei e modificada para ser ainda

mais

inexoravel,

ainda

no

mesmo

governo:

o

vagabundo reincidente, alern de chicoteado, tera a me­ tade da orelha cortada, segunda

reincidencia

isso na primeira,

era

condenado

a

porque na

forca,

como

criminoso irrecuperavel e inimigo do Estado. Eduardo V I , 1547, primeiro a n o d e seu governo: uma lei condena aquele que nao quer trabalhar a ser escravo

de

quern

o denunciou

como

vadio.

(Assim,

para lucrar com o trabalho de um pobre diabo,

bas-

133

tava denuncia-lo como vadio.) Segundo a lei,

o dono

deve sustentar seu escravo a pao e agua, bebidas fra­ cas e restos de carne, como achar conveniente; a chi­ cote e a ferros tern o direito de obriga-lo a executar qualquer trabalho, por mais repugnante que seja, Se o escravo nado

desaparecer por duas

a

escravidao

perpetua

semanas,

e

sera

marcado

a

conde­

ferro,

na

testa e nas costas, com a letra S (de "slave": escravo, em ingles): se escapar pela terceira vez sera enforcado como

traidor.

aluga-lo,

0

como

dono

pode

vende-lo,

qualquer bem

presentea-lo,

m6vel ou

gado.

Se

o

escravo tentar qualquer coisa contra seu senhor, sera tambem enforcado. mados,

devem

dos acusados.

Os juizes de paz,

imediatamente

quando

providenciar

a

infor­ busca

Se se verifica que um vagabundo esta

vadiando ha tres dias, sera ele levado

a

sua terra natal,

marcado com ferro em brasa no peito com a letra V e la posto a trabalhar a ferros, na rua ou em

qualquer

outro servico. Se informar falsamente o lugar de nasci­ mento,

sera

condenado

a ser escravo vitalicio

desse

lugar, dos seus habitantes ou da comunidade, e mar­ cado com S. Todas as pessoas tern o direito de tomar os filhos de vagabundos e mante-los como aprendizes: os rapazes ate a idade de 24 anos e as rnocas ate 20. Se fugirem,

tornar-se-ao,

ate

essa · idade,

escravos

do

mestre, que pode po-los a ferro, acoita-los, e t c . , con­ forme quiser. 0 dono pode colocar um anel de ferro no pescoco, nos bracos ou nas pernas de seu escravo, para reconhece-lo mais facilmente e ficar mais seguro dele. Por fim, a ultima parte da lei preve que certos

134

indigentes ou

podem

pessoas

comer

e

que

de

ser

empregados

tenham

beber

e

de

Chamados de rondsmen

a

por

intencao

comunidades

de

arranjar-lhes (rondantes), ,

lhes

um

dar

de

trabalho.

essa especie

escravos de par6quia subsistiu por muito tempo,

de

che­

gando ate o seculo X I X . Elizabeth, mais

de

orelhas

14

anos

serao

torna-Ios

ninguem

mendigos

serao

por

a

mais de

serao

se

anos;

18 anos,

e

com

e

suas

ninguem

em

caso

de

quiser reinci­

serao enforcados,

a servico

enforcados,

licenca

severamente

ferro,

dois

quiser torna-los vez

sem

acoitados

marcadas

a servico

dencia, se tern

terceira

1572:

por

sem

dois

anos;

apelacao,

se na

como

traidores do Estado. Vagabundos

foram

enforcados

em

massa,

dis­

postos em longas filas. Nao havia um ano em que 300 OU

4oo·vagabundos nao fossem levados

a

forca.

Num

unico ano, s6 em Somersetshire, foram enforcadas 40 pessoas,

35

ferreteadas,

37

acoitadas

e

postos

em

l i be r dade 183 criminosos incorrigiveis, E, no entanto, diz S t ry pe nos seus A nais , esse s dados :

" Este

a

onde

grande mimero

c o mpr ee n d e nem um

gracas

de

foram de

recolhidos

acusados

nao

quinto de todos os crimi n osos ,

negligencia do juiz de paz e da estupida com­

paixao do povo". Acrescenta: "O s demais condados da l n g laterra nao estao em melhor situacao que Somerset­ shire e muitos ate pelo contrario".

.

J aime I : quern perambule e mendi gu e sera decla­ rado

vadi o

e vagabundo.

Os juizes

de

pa z,

em

suas

sessoes, estao autorizados a mandar acoita-lo e encar-

135

cera-lo por 6 meses, na primeira vez, e por 2 anos, na segunda. quantas

Na

prisao,

os juizes

de

receberao paz

tantas

acharem

chicotadas

adequadas...

Os

vagabundos incorrigiveis e perigosos serao ferreteados com um R sobre o ombro esquerdo trabalhos

forcados;

didos mendigando,

se,

novamente,

e condenados forem

a

surpreen­

serao enforcados sem clernencia.

Estes estatutos s6 foram abolidos em 1 7 1 4 . Nas paginas 41 e 42 de seu famoso livro Utopia, Tomas Morus escreveu: "Homens,

mulheres,

esposos,

esposas,

orfaos,

viuvas, maes infelizes amamentando seus bebes, fami­ lias inteiras, pobres de recursos,

mas muitos bracos,

porque a lavoura exigia muitos braces.

Pobres,

sim­

ples, desventuradas almas! Carregando seus haveres, vao deixando os campos conhecidos e amados e, adi­ ante,

nao

encontram

acaso, sem destino,

onde

repousar.

Atirados

ao

vao vendendo seus humildes ob­

jetos por uma ninharia, premidos pelas necessidades. S e m o ultimo tostao, ao relento, o que lhes resta fazer? Roubar

e

entao,

oh,

Deus!,

serem

enforcados

com

todas as formalidades juridicas ou pedir esmola. Mas, se mendigarem, eles serao presos como vadios,

vaga­

bundeando sem trabalho; eles, a quern ninguem quer dar trabalho por mais que implorem! Toda essa mise­ ria, por que? Porque um agiota avarento e insaciavel, peste

de

seu

torrao

natal,

tramou

e

conseguiu

por

meio de fraudes, violencia e tormentos e roubos de mi­ lhares de alqueires, que ele cercou de estacas e de valas e

expulsou

136

os

lavradores

de

suas

proprias

terras."

Conterraneo

destes

desgracados vagabundos

reinado de Henrique V I I I ,

de

1509

a

1547,

do

quando

foram enforcados mais de 72 000 vadios, Tomas Ma­ rus nos contou

como

esses

ex-lavradores

eram

obri­

gados a se tornarem ladroes. E ai esta: a acumulacao primitiva e sua origem! E com essa violencia e de todo esse sangue dos

expro­

priados camponeses que nasce aquela classe operaria, destinada

a servir

de

pasta

a

toda

a

indiistria

mo­

derna! 0 mais e idilio, conversa fiada . . . Assim, ambiente

a

fogo

e

necessario

espada, para

o

capital

empregar

preparou

uma

massa

o de

forca humana destinada a nutri-lo. E, hoje, se nao e a espada, se nao e o fogo, e a fome: um meio muito mais cruel e terrivel. lacao

levou

A crescente

a essa

necessidade

gloriosa,

moderna

de

acumu­

conquista

da

burguesia, que e a fome. Um meio que e mesmo parte necessaria para o funcionamento da producao capita­ lista como um todo; enfim, por si mesma, agindo sem grandes escandalos, sem grandes barulhos,

e a fome

um meio civilizado e honesto do mundo capitalista. E para quern se rebela contra a fome,

ha sempre mais

espada e fogo. Nao nos sobram paginas para falarmos aqui dos her6is do capital nos paises colonizados. os

nossos

leitores

a

historia

das

Remetemos

descobertas,

come­

cando com a de Cristovao Colombo e de toda a coloni­ zacao: citemos apenas um texto de um homem "reco­ nhecido por seu fervor cristao", W. Howitt: "As

terriveis

atrocidades

praticadas

pelas

cha-

137

madas nacoes cristas, em todas as regioes do mundo e contra todos os povos que elas conseguem

submeter,

nao encontram paralelo em nenhum periodo da hist6ria universal, em nenhuma raca, por mais feroz, igno­ rante, cruel e cinica que se tenha revelado." Se,

como

disse

Augier,

jornalista

frances,

"o

dinheiro vem ao mundo com uma de suas faces man­ chada de sangue", o capital - conclui Marx - vem transbordando sangue e lama por todos os seus poros, dos pes 3. cabeca.

24

E essa, burgues,

e

a vossa hist6ria, triste e sangui­

naria hist6ria que merece ser bem Iida e refletida por v6s,

que em vossa virtude concebeis um santo horror

pela violencia

dos

revolucionarios

burgues,

que

s6

exclusivo

dos meios

permitis

morais,

minados.

(24)

138

aos

0 Capital, p. 878-879.

de

hoje;

por

trabalhadores

por

v6s

mesmos

o

v6s, uso

deter­

Conclusiio

O mal e radical e os trabalhadores ja sabem disso ha

muito

tempo.

apropriados,

a

E

estao

dispostos,

destrui-lo.

Muito

com

os

meios

trabalhadores

ja

sabem: 1?)

que a propriedade privada e a fonte primeira

de toda a opressao e exploracao humana; 2?) cipacao va

que a emancipacao do trabalhadores (a eman­ humana)

dorninacao

nao

de

pode

classe,

fundar-se

mas

no

fim

em de

uma

no­

todos

os

privilegios e monop6lios de classe, e sabre a igualdade dos direitos e dos deveres; 3?)

que a causa do trabalho,

causa da humani­

dade, nao tern fronteiras; 4?)

que

a emancipacao

dos

trabalhadores

deve

ser obra dos pr6prios trabalhadores. Trabalhadores

de

todo

o

Niio mais direitos sem deveres,

mundo,

unamo-nos!

niio mais deveres sem

direitos! Revoluciio!

Mas a revolucao perseguida pelos trabalhadores '

139

nao e a revolucao de pretexto, nao e

O

meio pratico de

um momento, para se lograr um objetivo dissimulado. Tambem

a

invocou um

burguesia, dia

como

a revolucao:

tantas mas

outras

tao

somente para

derrotar a nobreza e substituir o sistema servidao

por esse

mais

classes,

refinado e cruel

feudal

que

e

o

de do

trabalho assalariado. E a isso chamam de progresso e civilizacaol Todos os dias assistimos ao ridiculo espe­

taculo dos burgueses que vao balbuciando a palavra revolucao,

com o unico objetivo de

poder chegar

ao

topo da montanha e usurpar o poder. A revolucao dos trabalhadores e a revolucao pela revolucaol A palavra revolucao,

no

seu

mais

amplo e ver­

dadeiro sentido, significa mudar, transformar, Como

tal,

a revolucao e a alma

de

toda

a

girar.

materia

infinita. De fato, na natureza tudo se transforma, mas nada se cria ou se destr6i, como nos prova a quimica. A

materia

mantendo

sempre

a

mesma

quantidade,

pode mudar infinitamente as suas formas. A materia, quando perde sua antiga forma e adquire uma nova forma, essa passa da anti{a vida, na qual morre, para a nova vida, na qual nasce. Quando o nosso fiandeiro transformou os dez quilos de algodao em dez quilos de fios,

nao

ocorreu

a morte

de

dez

quilos

de

materia

sob a forma algodao e o seu nascimento sob a forma de

fios?

E quando

o tecelao

transforma

os

fios

em

tecido, nao ocorreu a mesma coisa que sucedera com a vida do algodao e a vida do fio? girando

de

uma

vida

para

Portanto,

outra,

vive

a materia

sempre

dando, se transformando, se revolucionando . . .

140

mu­

Ora, se a transformacao o

todo,

deve

tambem

humanidade,

e

que

e

a lei da natureza, que

necessariamente

parte.

ser

a

lei

da

Mas sabre a terra ha

um

punhado de homens que nao pensam assim, ou, lhor,

que tapam os olhos para nao ver e os

e

me­

ouvidos

para nada escutar. Agora, ouco um burgues que me grita:

e

"Sim,

verdade,

voce reclama, manas.

e

a lei natural,

a revolucao

que

a reguladora absoluta das acoes hu­

A culpa

de

todas

as opressoes,

de

todas

as

exploracoes, de todas as lagrimas e mortes que delas derivam,

devem

que se impoe

a

ser

atribuidas

a

revolucao,

a essa

inexoravel

lei

transforrnacao continua: a

luta pela sobrevivencia, a vit6ria dos mais fortes sabre os mais fracas,

enfim ,

o

da

sacrificio

especie

menos

perfeita para o desenvolvimento da mais perfeita. c

Se

entenas de trabalhadores se sacrificam para o bem­

estar de um s6 culpa , desse

ao

contrario,

decreto,

Q

burgues,

da

esta

iinica

nao

tern a menor

aflito e desolado por causa lei

natu r al,

da

revolucao."

uando os burgueses falam desse modo e os tra­

balhadores resolvem n

0 burgues

atural que quer a

cia e a

revolucao,

tambem

invocar a

transformacao,

forca

dessa lei

a luta pela

eles se preparam

existen­

ustamente

j

para

serem os mais fortes, sacrificando toda a planta para­ sita e monstruosa, para o

c

ompleto e pr6spero

d

esen­

volvimento da plan ta homem, belo, completo, perfeito, c

omo deve ser

humano. sao

E

em

toda a profundidade do seu

o que fazem os burgueses?

carater

s burgueses

O

muito temerosos e devotos para poder apelar

a

lei

141

natural da revolucao, Em alguns momentos de velei­ dade, eles podem ate invoca-la; mas, depois, voltando a si, feitas as contas, chegam ao resultado de que tudo se desenvolve perfeitamente bem, no melhor dos mun­ dos, para eles; e entao passam a gritar, torturando os nossos timpanos: ordem, religiao, tradicao, familia e propriedade!

Assim,

depois

de

conquistarem

com

mortes, incendios e roubos o lugar de dominadores e exploradores da especie humana, pensam poder bre­ car os passos da revolucao.

Mas eles nao sabem,

na

sua estupidez, que seus esforcos nada podem fazer do que levar a humanidade e, uma

terrivel

catastrofe:

narias exploradas

por

portanto,

assim,

eles

as

de

eles

forcas

um

modo

mesmos

a

revolucio­ irracional,

imprevisivelmente explodem. Eliminados os obstaculos materiais que nham

a revolucao,

se opu­

agora livre no seu curso, bastara por

si s6 para criar entre os homens o mais perfeito equili­ brio,

a ordem,

a paz e a felicidade

mais

completa,

porque os homens, no seu livre desenvolvimento, nao procedem como animais,

mas

como

seres

humanos,

eminentemente racionais e civilizados, que compreen­ dem que nenhum homem pode

ser verdadeiramente

livre e feliz a nao ser na liberdade e felicidade comum a toda humanidade. Niio mais direitos sem

deveres,

niio mais deveres sem direitos, Nao mais, portanto, a

luta pela mem, com

mas

um

luta pela existencia

a natureza,

naturais

142

sobrevivencia entre

para

a

aproveitando vantagem

de

de

homem todos

o possivel toda

a

e os

um

ho­

homens

das

forcas

humanidade.

Conhecida a doenca,

o rernedio

e

facil:

a revo­

lucao pela revolucao. Mas como podem os trabalhadores restabelecer o curso da revolucao?

Aqui nao

e

o lugar para desen­

volver um programa revolucionario, ja ha muito ela­ borado e publicado em outros livros. Concluindo, me limito a repetir as palavras de um operario, que sao a epigrafe deste volume:

"O OPERARIO FEZ TUDO; E O OPERARIO PODE

DESTRUIR

TUDO,

PORQUE

PODE

FA­

ZER TUDO DE N O V O . "

143

Anexos

CART A DE CAFIERO A MARX

Les Molieres, 23 dejulho de 1879.

Estimado Senhor:

Aqui seguem dois exemplares de um resumo que escrevi

de

vossa

obra

O

Capital.

Era

enviar-vos este resumo ha mais tempo, me Joi posslvel receber a/guns

meu

desejo

mas s6 agora

exemplares,

gracas

a

gentileza do amigo que o publicou. Se eu mesmo, por minha propria conta,

o tivesse

editado, seria o meu desejo, submeter o manuscrito a vossa apreciaciio, antes de entregar o livro ao publico. Mas, o temor de me ver es capar uma ocasiiio favordvel, apressou-me

a

consentir

a publicaciio proposta.

E,

somente agora, recorro a v6s para vos pedir o favor de me

dizer,

se,

no

meu

estudo,

consegui

entender

e

comunicar a exata concepciio de seu autor. Com todo respeito e consideraciio, subscrevo-me,

atenciosamente,

Carlo Cafiero

144

RESPOST A DE MARX A CAFIERO

Prezado Senhor:

Agradeco sinceramente pelos dois exemplares do trabalho!

VOSSO

Ha

livros semelhantes, ingles

(publicado

falharam, forma riam,

um

nos

em

mesmo

do

tempo lingua

Estados

ao se prenderem,

cientifica ao

a/gum

atrds,

eslava,

Unidos );

dois

outro

mas

em

ambos

muito pedantemente,

desenvolvimento,

tempo,

recebi

dar

um

quando

resumo

a

que­

sucinto

e

popular do Capital. Assim, essas duas tentativas pare­ ceram-me fracassar em seu principal objetivo: desper­ tar o interesse do publico para destinados.iE VOSSO

e

quern os

livros

eram

ai que esta a enorme superioridade do

trabalho.

No que se refere, portanto, ao conceito, laciio do objeto trabalhado,

a formu­

acredito niio me enganar

considerando as palavras do vosso prefacio,

ao

atri­

buir uma aparente lacuna, ou seja, a prova de que as condiciies

materiais

proletariado

siio

necessarias

a

espontaneamente

emancipaciio produzidas

do

pelo

desenvolvimento da exploraciio capitalista.

145

No mais,

concordo

tendi o vosso prefticio regar o espirito

de

inteiramente

-

quern

- se

hem

en­

que niio se deve sobrecar­ quer se educar.

Nada

vos

impedira, no momento oportuno, quando retornardes a est a tare/a de fazer salientar,

com maior destaque

ainda, a base materialista do capital. Renovando

os

meus

agradecimentos,

subscre­

vo-me,

atenciosamente,

Kar/Marx

146

Sohre Carlo Cafiero

Em

algumas

novecentos grita:

e

cenas

setenta,

de

"Metelo",

setenta

e

.filme

poucos,

a

de

mil

multidao

Viva Cafiero! Na crise de 1968, organizacoes de

operarios e estudantes reimprimem no mime6grafo o opusculo Rivoluzione per la rivoluzione de Carlo Ca­ fiero. Ha muito o Compendio de/ Capitale

e

conhecido

nos circulos internacionais da classe operaria, A hist6ria de Carlo Cafiero no movimento operario internacional comecou por volta de 1870 quando desis­ tiu da carreira de diplomata e viaja para Londres, apes conhecer Paris. La conheceu alguns membros do Con­ selho

Geral

da

Internacional,

especialmente

Karl

Marx. De familia abastada, Carlo Cafiero nasceu em Barletta, cidade do antigo reino de Napoles, perto do Adriatico, em setembro de liano

1846.

comecava a engatinhar na

0 proletariado ita­ hist6ria

contempo­

ranea do capitalismo. Ao retornar de Londres a repug­ nancia que Cafiero experimentara pela burguesia flo­ rentina, tornou-se politica. Atraido pelas agitacoes dos camponeses e operarios, logo a figura de Carlo Cafiero ganha destaque entre revolucionarios anarquistas, so-

147

cialistas,

comunistas.

toda dedicada •

Sua vida,

dai

em

diante,

sera

a causa revolucionaria.

Retorna de Londres como correspondente da sec­ �ao de Napoles da Internacional, fundada em 1868. Em

a

1 8 7 1 um decreto ministerial deu ordem

policia para

fecha-la. Mas logo foi reconstruida por ativistas como Giuseppe

Fanelli,

Erico

Malatesta,

Emilio

Covelli,

Carmelo Palladino. Ao lado deles Cafiero lutara. Enquanto correspondente do Conselho Geral de Londres,

Cafiero

trocou

muitas

cartas

com

o

entao

secretario do Conselho Geral para Italia e Espanha, Friedrich

Engels.

Ate

que

vieram

as

lutas

internas

dentro da Internacional. Em um primeiro momento, no congresso de Haia, impoe-se a autoridade do Con­ selho Geral, ano 1872. Os internacionalistas italianos negaram-se a enviar delegados aquele congresso, mas la estava Cafiero como espectador independente. Em

agosto

de

1872,

funda-se

no

congresso

de

Rimini, presidido por Carlo Cafiero, a Federacao Ita­ liana

da

Internacional,

Geral de

Londres

que

rompe

e reafirma

sua

com

o

Conselho

solidariedade

com

todos os trabalhadores. Em marco do ano seguinte, Cafiero e preso junto com Malatesta, Costa, Faggioli e outros anarquistas. Em junho de 1874, segue para Sao Petersburgo, onde se casa com a revolucionaria 1875

esta

em

Milao,

Olympia

empregado

enquanto sua companheira volta car-se

a propaganda

um

Em

fot6grafo,

Russia para dedi­

socialista, mas em 1881 ela e presa

e desterrada para a Siberia.

148

a

de

Kutuzof.

Toda

a

fortuna

que

herdara

do

pai,

Cafiero

gastou na construcao da famosa "La Baronata", uma mansao

perto

de

Locarno

e

que

deveria

abrigar

os

revolucionarios proscritos pelos governos. Alguns rus­ sos como Bakunin e outros comunistas e anarco-comu­ nistas la encontraram asilo. nata"

0 projeto da "La Baro­

fracassou e Cafiero ja estava pr6ximo a ruina

financeira. 0 que restava de sua fortuna empregou nos preparativos das insurreicoes

italianas

divulgacao das ideias socialistas.

de

1874

Preso varias

e na

vezes,

Cafiero percorre a Italia, participa de insurreicoes e de congressos

clandestinos,

Marx,

en tao

ate

divulga

desconhecido

O na

Capital

Italia,

de

Karl

escreve . . .

Os ultimos anos de sua vida foram um martirio. Acometido de loucura, nada adiantaram os esforcos da familia.

Em

1886,

a companheira Olympia

Kutuzof

estava ao seu lado, apos fugir da Siberia. Carlo Cafiero morreu em Nocera, 1892. "Suportou sua triste situacao sem nunca proferir um a queixa." James Guillaume, quern mais escreveu sobre ele,

compilou de uma das

cartas do medico de Cafiero: "Sempre que lhe pergun­ tava como se sentia - escreve o medico - ,

me res­

pondia invariavelmente com sua tranquila docura: Nao sofro, doutor".

Mario Curve/lo

149

D'AG

LTDA.

impnmru R.

Silverio

Tel.:

Goncalves, 266-3219

287

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