"0 CAPITAL": UMA LEITURA POPULAR
Em uma carta enderecada a Carlo Cafiero,
Marx elogiava
"a grande superioridade" do trabalho do italiano em rela cao
aos
servio
trabalhos
analogos
realizados
ingles.
ate
a
e
E
hoje
sintese
naqueles do
Livro
anos
em
I
"O
de
Capital", que tern constituido para numerosas geracoes de trabalhadores e estudantes uma das aproximacoes obriga.
.
t6rias
ao
marxismo,
mantem
o primado
da
simplicidade
didatica, Notando que a dificuldade de "O Capital" tornava o texto acessivel
a
prefacio,
que "e
balhar. meira,
uma
E essa
minoria
para outro
gente
composta
·de
se
pelos
estudiosos, tipo
de
divide em
afirma,
gente
tres
trabalhadores
que
em
seu
devo
tra
categorias: inteligentes
a e
pri com
alguma instrucao; a segunda, pelos jovens nascidos na bur· guesia, m a s q u e lutam pela causa dos trabalhadores ( . . . ) ; a . terceira, finalmente, e essa mocada de escola, crianca, dar
que �e pode comparar com
bons
picio".
frutos,
se
transplantada
ainda quase
uma arvore que pode para
um
terreno
pro·
"O CAPITAL": u m a leitura p o p u l a r
CARLO C A F I E R O
''O CAPITAL'':
uma leitura popular treduciio:
Mario Curvello
editora polis
1981
Tltulo do original: Compendio de/ Capita/e.
Capa: LUCIO YUT AKA KUME
I 1981 LIVRARIA E ED ITO RA POLIS LTDA. 04138 - R. Caramuru, 1 1 9 6 - Fone: 275-7586 Sao Paulo
"O operario fez tudo; e o operdrio pode destruir tudo, porque pode fazer tudo de novo. "
Ind ice
Ao leitor
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Prefacio do autor Capitulo I:
pital
a primeira
Mercadoria,
edicao
. . . . . . . . . . .
dinheiro,
Como nasce o capital
. . . . . . . . . . . .
Capltulo III: A jornada de trabalho
V:
Cooperacao
Capltulo
VI:
Capitulo
VII:
Capltulo
VIII:
30
. . . . . . . . . . .
37
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
43
trabalho
e manufatura
Maquina e grande indiistria
0 salario
21
47
. . . .
55
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
77
Acumulacao do capital
. . . . . . . . .
87
A acumulacao primitiva
. . . . . . . . .
117
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
139
Capltulo IX: Capitulo X:
Conclusao
Divisao do
15
. . . . . . . . . .
Capltulo IV: A mais-valia relativa Capltulo
11
riqueza e ca-
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Capltulo II:
9
Anexos: Carta de Cafiero a Marx
. . . . . . . . . . . .
Resposta de Marx a Cafiero Sob re Carlo Cafiero
143
. . . . . . . . .
145
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
14 7
Ao leitor
Esta versao do livro de Carlo Cafiero, aqui sob o titulo
de
O
Capital:
tende
ser uma
uma
versao
leitura popular,
definitiva,
mas
nem
nao
pre
por
isso
entregamos ao leitor apenas um texto provis6rio. Ela cristaliza
uma
etapa
no
trabalho
de
divulgacao
e
popularizacao da obra de Karl Marx; faz parte deste trabalho
a
elaboracao
de
um
texto
imediatamente
acessivel e, ao mesmo tempo, capaz de suscitar interesse pela obra original. 0 Compendio def Capitale de Carlo Cafiero tern essa dupla qualidade.
Eis o nosso
texto-base, ja escrito em 1 8 7 9 . D e l e fizemos diferentes versoes, ate chegarmos mais
proxima
possivel
a
escolha de uma que fosse a
do
livro
de
Cafiero,
mas
ja
tomando a liberdade de modernizar expressoes e passagens,
no
sentido
do
leitor
brasileiro
de
hoje.
No
trabalho com o original de Cafiero, vinha-nos a ideia de cortes e acrescimos, sobretudo estes, quando pen savamos em cobrir a aparente lacuna a que Marx faz referencia em sua resposta a Cafiero. Mas nao: faze-lo seria
nao
registrar
uma
concepcao
de
leitura
de
O
9
(;
Capital; dizendo mais cruamente,
em
nome
de
Marx.
Preferimos,
seria trair Cafiero
portanto,
manter a
fidelidade a esta valiosa obra de divulgacao do pensa mento
socialista
e,
ao
mesmo
tempo,
lembrar
aos
leitores o homem revolucionario e singular na historia do movimento operario internacional: Antes relacao leitor
a
de
apontarmos
presente
para
uma
edicao,
traducao
Cafiero, publicada em
algumas
Carlo Cafiero.
observacoes
chamamos brasileira
1960,
em
a
atencao
do
do
resumo
de
dentro da Colecao "Bi
blioteca de Au tores Celebres",
das
Edicoes e Publi
cacoes Brasil, sob o titulo: Karl Marx - 0 Capital; pode ser util para o leitor avaliar as modificacoes que aqui introduzimos. Para \
aspas
nao
que
paginas
sobrecarregar o texto,
demarcam
citadas
no
os
trechos
rodape
de
remetem
eliminamos O
o
Capital.
leitor
as As
para
a
edicao brasileira de O Capital, traducao de Reginaldo Sant' Anna,
Ed.
Civilizacao
Brasileira.
Observamos
que, no en tan to, nem sempre transcrevemos a referida traducao, preferindo uma traducao propria, direta do texto de Cafiero. No mais,
e
aguardar as sugestoes, as criticas dos
leitores de quern esperamos uma participacao ativa no aprimoramento desse nosso projeto de "leitura cole tiva de O Capital".
Todas as cartas serao bem rece
bidas.
Mario Curve/lo
10
Pref6cio do autor
a
primeira ediciio
Italia, marco de 1878.
Sentia uma tristeza profunda, pital,
estudando O Ca
ao pensar que este livro era e e,
sabe-se la ate
quando, inteiramente desconhecido na Italia. Mas mesmo, situacao.
se
nao
as
coisas
devo
Mas,
estao
nesse
poupar esforcos
o que fazer?
Uma
pe,
dizia
para
a
mim
mudar essa
traducao?
Droga!
Isso nao adiantaria nada. Aqueles que estao em con dicoes de compreender a obra de Marx, escreveu,
conhecem
certamente
o
como ele
frances
e
a
podem
perfeitamente usar a bela traducao de J. Roy, inteira mente revista pelo proprio Marx e que ele recomendou mesmo para os que dominam o idioma alemao.
E
para
outro tipo de gente que devo trabalhar. E essa gente se divide em tres categorias: a primeira, composta pelos trabalhadores inteligentes e com alguma instrucao: a segunda, pelos jovens nascidos na burguesia, mas que lutam pela causa dos trabalhadores e nao tern ainda a suficiente Iorrnacao,
nem o desenvolvimento
intelec-
11
tual para compreender O Capital; mente,
e
a terceira,
final
essa mocada de escola, ainda quase crianca,
que se pode comparar com uma arvore que pode dar hons frutos, picio.
se
transplantada para um
Meu trabalho
deve ser,
terreno pro
portanto,
um resumo
Iacil e curto do livro de Marx. O Capital de Marx que
arrasou
e
e
dispersou
demolidor: ao
secular de erros e mentiras. Uma guerra gloriosa
pela
vento
e
a verdade nova
todo
um
castelo
Uma verdadeira guerra! forca
do
inimigo,
e pela
forca ainda maior do comandante que a empreendeu com uma imensa quantidade de novissimas armas, ins trumentos e maquinas de todo o tipo, que o seu genio sou be extrair de toda a ciencia moderna. Incomparavelmente muito mais modesta nha
missao.
voluntaries
Devo
apenas
conduzir
ardorosos por uma
uma
estrada
e
a mi
tropa
mais
de
facil
e
rapida para o templo do capital e destruir esse deus, para
que todos
toquem com
as
o vejam pr6prias
com
os
maos
pr6prios
olhos
nos elementos
e
o
que �
compoem. Arrancaremos as vestes dos seus sacerdotes para
que
todos
possam
ver
as
manchas
de
sangue
humano que escondiam e as armas cruels que usam para sacrificar um
mimero
sempre
crescente
de
vi
timas.
E com estes propositos que me ponho a trabalhar. Possa Marx cumprir a sua promessa, dando-nos o segundo volume de O Capital, que tratara da circu lacao e das diferentes formas que o capital assume no
12
r
seu desenvolvimento, e tambem o terceiro volume que tratara da hist6ria da teoria.
O primeiro volume de O Capital foi escrito
em
alemao e logo depois traduzido para o russo e o fran. ces. Resumo-o agora em italiano para aqueles que se interessam pela causa do trabalho.
Os trabalhadores
devem ler este livro e maduramente refletir sobre ele, porque nele esta nao somente a hist6ria do desenvol vimento
da
producao
capitalista,
mas
tambem
e
o
Martirologio do Trabalhador. E,
finalmente,
dirijo-rne
muito interessada no destino
tambem
a uma
da acumulacao
classe capita
lista: a classe dos pequenos proprietaries. Como expli car essa classe, outrora tao. numerosa na Italia e hoje cada vez mais
reduzida?
A
razao
e
muito
simples.
Porque a Italia, desde 1860, percorre a todo vapor o caminho que todas as nacoes modernas precisam ne cessariamente percorrer: mulacao
capitalista.
E
o caminho essa
que
a
leva
acu
acumulacao
capitalista
teve na Inglaterra aquela forma classica,
da qual se
aproximam tanto a Italia como os demais paises mo dernos. Se os pequenos proprietaries meditarem sobre a hist6ria livro,
se
da
Inglaterra,
meditarem
sobre
referida
nas
paginas
a acurnulacao
desse
capitalista,
agravada na Italia pela usurpacao dos hens eclesias ticos e dos hens publicos, se sacudirem essa apatia que oprime a sua mente e o seu coracao, se convencerao, de uma vez por todas, que a sua causa trabalhadores,
porque para eles
lacao capitalista nao deixou
e
a causa dos
a moderna
mais
do
que
acumu
essa triste
13
condicao:
ou
se
vender por um
desaparecer para
sempre
salario
na densa
de
massa
fome do
ou
prole
tariado.
Carlo Cafiero
14
I
Mercadoria, dinheiro, riqueza e capital
A mercadoria valor:
valor
de
e
uso
um
objeto
e valor
propriamente dito.
de
que
tern
troca,
que
um
e
Se tenho, por exemplo,
duplo
o
valor
20 quilos
de cafe, eu posso tanto consumi-los para meu pr6prio uso quanto troca-los por 20 metros de tecido, por uma roupa, ou por 250 gramas de prata, se, em vez de cafe, eu
precisar
de
uma
dessas
tres
outras
mercadorias.
O valor de uso da mercadoria se baseia na quali dade propria da mercadoria: se ela comer, ou
para
divertir.
e
para beber, para
Portanto,
essa
qualidade
e
determinada para satisfazer uma determinada neces,
sidade nossa e nao
qualquer outra
de
nossas
sidades. 0 valor de uso dos 20 quilos de cafe nas propriedades
que
dades sao tais que prestam coisa.
para
o cafe possui
nos
fazer
dao
uma
e estas
a bebida cafe,
roupa
ou
E por isso que s6 podemos
e
baseado proprie mas
qualquer
tirar
neces
nao
outra
proveito
do
valor de uso dos 20 quilos de cafe se sentimos a neces sidade de beber cafe. Mas, se, ao contrario, eu preci sasse de uma camisa e nao dos 20 quilos de cafe que
15
tenho em maos?
0 que fazer?
Nao saberiamos,
se a
mercadoria nao tivesse tambem, junto com o valor de uso, o valor de troca. Encontramos agora uma pessoa que tern uma camisa,
da qual nao tern necessidade,
mas que precisa do cafe.
Entao fazemos uma troca.
Eu lhe dou os 20 quilos de cafe e ela me da a camisa . . . Mas, dades
tao
como
podem
diferentes
as
entre
mercadorias si,
serem
de
proprie
trocadas
umas
pelas outras em determinadas proporcoes? Porque a mercadoria, alem do valor de uso, tern tambem o valor de troca. .Isso ja sabemos. 0 que nao sabiamos era que a base do valor de troca, propriamente
dito,
para se produzir produzida humano
e
pelo
e
o trabalho
humano
essas mercadorias. trabalhador.
da existencia
a
necessario
A mercadoria
Portanto,
a substancia procriadora;
do valor
e
o
e
trabalho
o trabalho que
mercadoria, Em sua essencia, embora
de propriedades tao diversas entre si, todas as merca dorias sao a mesma coisa, perfeitamente iguais,
por
que, filhas de um mesmissimo pai, tern todas o mes missimo sangue em suas veias.
Se trocamos 20 quilos
de cafe por uma camisa ou por 20 metros de pano,
e
porque para se produzir 20 quilos de cafe, precisou-se de tan to trabalho humano quanto para a producao de uma camisa ou de 20 metros de tecido. Trocou-se uma camisa por tanto
de trabalho humano materializado
nos vinte quilos de cafe, ou trocararn-se os vinte quilos de cafe por tanto
de trabalho humano materializado
em uma camisa. Ou seja, trocou-se trabalho por tra balho.
16
A substancia do valor da mercadoria esta
no
trabalho humano e a grandeza desse valor e determi nada pela grandeza do trabalho humano.
Ora,
se
a
substancia de valor e a mesma em todas as mercado rias e isto quer dizer que todas as mercadorias como veiculo do valor sao todas iguais e trocaveis entre si, o
que
nos
resta,
portanto,
e
comparar
o
tamanho
dessa grandeza, medi-la. A
grandeza
trabalho;
do
valor
depende
da
grandeza
e qual e a medida do trabalho?
do
0 tempo:
hora, dia, semana, mes, etc. Em 12 horas de trabalho se produz um valor duas vezes maior do que se produ ziria
em
6
horas.
Dai,
alguem
poderia
dizer
que
quanto mais lento fosse um trabalhador, quer por ina bilidade, quer por preguica, mais valor produziria. Na da mais falso do que esta afirrnacao, pois o trabalho de que estamos falando e que da substancia ao valor, nao e o trabalho trabalho medic,
de
Pedro ou
de
Paulo,
e
sim
um
que e sempre igual e que e propria
mente chamado de trabalho social: E o trabalho que, em
um
determinado
centro
de
producao,
pode
ser
feito em media por um operario, o qual trabalha com uma habilidade media e uma intensidade media. Conhecido o duplo carater da mercadoria, isto e, de ser valor de uso e valor de troca, que
a mercadoria
s6
pode
nascer
compreendemos
por
balho, e de um trabalho util a todos.
obra
do
tra
Por exemplo, o
ar, os prados naturais, a terra virgem, e t c . , sao uteis ao homem,
mas nao constituem nenhum valor,
por
que nao sao produtos de seu trabalho e, consequente mente, nao sao mercadorias. Tambem podemos fabri-
17
car objetos para o nosso proprio uso,
mas
que
nao
podem ser iiteis a outros; nesse caso nao produzimos mercadorias; cadoria,
do mesmo modo nao produzimos mer
quando
trabalhamos
com
coisas
tern nenhuma utilidade nem para nos,
que
nein
nao
para os
outros. As mercadorias, pois, sao trocadas entre si; uma se apresenta como equivalente da outra. facilidade
das
trocas,
comeca-se
a
Para maior
empregar
uma
determinada mercadoria como equivalente para todas as outras. Esta mercadoria se destaca do conjunto de todas
as outras
para
equivalente geral,
se
colocar
frente
a elas
isto e, como dinheiro.
como
Por isso,
o
dinheiro e aquela mercadoria que, pelo costume e por determinacao legal, lente geral. Assim,
monopolizou o posto de equiva o dinheiro,
nos atraves da prata.
a moeda,
Enquanto
antes,
chegou ate
20
quilos
de
cafe, uma camisa, 20 metros de tecido e 250 gramas de prata eram entre si que
20
quatro mercadorias
indistintamente, quilos
de
cafe,
hoje,
ao
que
se
trocavam
contrario,
uma camisa e 20
tem-se
metros
de
tecido sao tres mercadorias que valem, cada uma, 250 gramas de prata, por exemplo, 500 cruzeiros. Mas,
seja atraves das mercadorias
diretamente,
seja atraves do dinheiro, a lei de trocas permanece .a mesma, sempre. Uma mercadoria so pode ser trocada por outra se o seu valor de troca for igual.
Isto quer
dizer que se uma mercadoria nao tiver o mesmo tempo de trabalho que a outra, nao ha troca. Esta so aeon tece entre trabalhos iguais. E tudo o que vamos dizer
18
de agora em diante
e
baseado nela, nessa lei de troca
de mercadorias. Com a chegada do dinheiro, da moeda, as trocas diretas
ou
imediatas
de
uma
mercadoria
por
outra
desapareceram. Agora todas as trocas devem ser feitas atraves do dinheiro. Desse modo,
qualquer mercado
ria que queira se transformar em outra, deve, antes de mais nada,
como mercadoria,
transforrnar-se em di
nheiro, e depois, como dinheiro, retransforrnar-se em mercadoria. Portanto, o esquema das trocas nao sera mais
uma
cadeia
de
mercadorias
-
uma
ab6bora
X uma melancia X um pao - e sim, uma cadeia de mercadoria e dinheiro. Ei-Ia:
mercadoria - dinheiro - mercadoria - dinheiro
M
D
M
D
Ora, se nesta formula assinalamos os giros que a mercadoria realizou, assinalamos tarnbern os giros do dinheiro.
Como veremos,
e
desta formula
que
sai
a
formula do capital. Quando temos em nossas rnaos uma certa quanti dade de mercadorias ou de dinheiro,
o que
no caso.
vem a dar no mesmo, somos possuidores de uma certa riqueza.
Se
corpo, que
e
a gente pudesse
dar
a esta
riqueza
um
um organismo que se desenvolve, que se
alimenta, entao teriamos o capital. Ter um corpo ou organismo capaz de se desenvolver significa nascer e crescer.
E nesse
desenvolvimento
que
a
origem
do
19
capital parece desaparecer, na natureza possivelmente fecunda do dinheiro. Mas de que maneira nasce o capital? Naquela formula que assinala os giros da merca doria e do dinheiro, vamos acrescentar ao dinheiro um numero que indica seu aumento progressivo:
dinheiro - mercadoria - dinheiro
1
- mercadoria
- dinheiro 2 - mercadoria - dinheiro 3 . . .
Ee
D
-
exatamente essa a formula do capital:
M
-
Dl
Como vimos,
-
M
-
D2
-
M
-
D3 . . .
a resposta ao problema ( encontrar
um metodo de fazer nascer o capital) estava contida · na resolucao de um outro problema: formula
de
fazer
aumentar
encontrar uma
progressivamente
o
di
nheiro. E como o capitalista consegue proxirno capitulo.
20
isso?
E
o
nosso
II
Como nasce o capital
Observando atentamente aquela formula do capi tal (D - M- Dl - M - D2), chega-se
a
conclusao
de que a questao da origem do capital se resolve, em iiltima
analise,
nesta outra
questao:
encontrar
uma
mercadoria que de mais dinheiro do que se gastou em sua compra. Em outras palavras, encontrar uma mer cadoria
que,
em
nossas
maos,
possa
aumentar
de
valor, de tal modo que, vendendo-a, se possa ganhar mais
dinheiro.
Portanto,
bastante elastica para valor,
deve
ser
ser capaz
a sua grandeza de valor.
de
uma
mercadoria
aumentar o seu
Esta mercadoria tao
singular existe: e a forca de trabalho. Ai esta. 0 homem do dinheiro acumulou riqueza e quer dessa riqueza criar um capital.
Ele
chega
ao
mercado com o endereco certo: comprar Iorca de tra balho. Vamos segui-lo! Ele anda pelo mercado e da de cara com vender
o operario,
sua
unica
que
esta
mercadoria:
ali
exatamente
a forca
de
para
trabalho.
Mas o operario nao vende a sua mercadoria de uma s6 vez e para sempre. Ele vende a sua forca de trabalho
21
em parte, por um dado tempo, um dia, um mes, etc. Se o operario vendesse sua Iorca,
sua capacidade de
trabalho inteiramente, nao seria mais um mercador e se transformaria ele mesmo,
sua pessoa,
em
merca
doria; nao seria mais um assalariado, mas um escravo do seu patrao. O preco da forca
de trabalho
se calcula
da
se
guinte maneira: tomam-se os precos dos alimentos, da roupa, da habitacao, enfim, de tudo que e necessario ao trabalhador para manter a sua forca de trabalho durante o ano e sempre em seu estado normal. Acres centa-se, a esta primeira soma, o preco de tudo que e necessario ao trabalhador para procriar, educar seus filhos,
alimentar e
segundo sua condicao:
depois di
vide-se o total pelos dias do ano - 365 - , e se sabera quanta, por dia, e necessario para manter a forca de trabalho,
0
seu preco diario, que e
O
salario diario do
operario, 0 que o trabalhador precisa para procriar, alimentar e educar os seus filhos entra neste calculo, porque os filhos do trabalhador representam a conti nuacao
da forca
vendesse
por
apenas ele,
de
inteiro
trabalho. a
sua
Assim,
forca
de
se
o
operario
trabalho,
nao
mas tambem seus filhos seriam escravos
do seu patrao,
eles seriam tambem
mercadoria.
Po
rem, como assalariado, ele tern o direito de conservar todo o resto,
que se encontra parte nele e parte
nos
seus filhos. Com aquele calculo obtivemos o preco exato da forca de
trabalho.
capitulo anterior,
22
A lei
das
trocas,
como vimos
no
diz que uma mercadoria nao pode
ser trocada por outra se nao tiverem o mesmo valor; isto e, se o trabalho que se requer para produzir uma nao for igual ao trabalho que se requer para ducao
da
outra.
Ora,
o trabalho
produzir o que e necessario
ao
que
se
a pro
exige
trabalhador
para
e,
por
tanto, o valor das coisas necessarias ao trabalhador e igual ao valor de sua forca de trabalho; se o trabalho necessita de 100 cruzeiros por dia para comprar to das
as
coisas
que
lhe
sao
necessarias,
logicamente
100 cruzeiros sera o preco diario de sua forca de tra balho. Pois bem. Sem alterar em nada o que falamos ate aqui, podemos supor que o salario diario de um opera rio alcance os 100 cruzeiros. Suponhamos, ainda, que em 6 horas de trabalho sejam produzidos de
prata,
que
equivalem
aos
100
15 gramas
cruzeiros.
Agora,
voltemos ao mercado. La, enquanto isso, o homem do dinheiro fez um contrato
com
o
proprietario
da
forca
de
trabalho,
pagando por ela o seu justo preco de 100 cruzeiros. Ele e
um
burgues
muito
honesto
e,
alem
disso,
muito
religioso, incapaz de especular com a mercadoria do operario.
operario
N
ern
e
necessario
s6 vai ser pago no
dizer
fim
acontece
tarnbem
e
do
t
que ele recebe o
salario
e
salario,
, por exemplo, o
arrendamento
de
do
rabalhou, depois
com outras mercadorias,
se realiza no uso, como casa ou
o
do dia, ou da semana,
ou do m e s. Enfim , s6 depois que ele que ele produziu,
que
uma
E
cujo
o que valor
aso de uma
c
terra,
cujo
preco
precisa ser pago de acordo com o prazo estabelecido.
23
Estes sao os tres elementos
do
processo
do
tra
balho:
1 ?)
forca de trabalho;
2?)
materia-prima;
3?)
os meios de trabalho.
Bern, voltando ao nosso homem do dinheiro: pois de comprar a forca de trabalho, bem a materia-prima, no caso, trabalho, isto condicoes
e,
comprou
algodao;
OS
de
tam
meios de
a fabrica com todos os instrumentos e
de trabalho ja
estao
perfeitamente
prepa
rados. E agora, diz ele, saindo apressado do mercado: -
a obra!
Maos
Uma certa transforrnacao parece ter-se dado na fisionomia
dos
personagens
do
nosso
mem do dinheiro toma a dianteira, capitalista; gue-o,
o
como
proprietario seu
da
trabalhador.
Iorca
drama.
0
ho
na qualidade de de
Aguele,
trabalho com
a
se
apa
rencia honrada, satisfeita e atarefada; o outro, timido, hesitante,
com a sensacao de quern vendeu a propria
pele no mercado e que agora nao pode esperar outra 1
coisa senao . . . ser esfolado. Enfim, chegam
a
fabrica. 0 capitalista se apressa
em botar o seu operario para trabalhar, lhe dez quilos de algodao, esse operario
(1)
e
Antes que eu me esqueca,
fiandeiro, produz fios de algodao,
Karl Marx,
0 Capital,
zacao Brasileira, 1968, p. 197.
24
entregando
trad.
de Reginaldo Sant'Anna,
Civili
E consumindo os seus tres elementos: a forca de trabalho, a materia-prima e os meios de trabalho, que o trabalho se realiza. O consumo dos meios de trabalho calcula-se do seguinte modo: da soma do valor de todos os meios de trabalho - o predio, suas instalacoes, as ferramentas, o oleo, o carvao,
etc. - subtrai-se a soma do valor dos
meios de trabalho consumida no processo de trabalho; dividindo o resultado desta subtracao pelo mimero de dias que os meios de trabalho possam durar, temos o consumo diario dos meios de trabalho. Parece
complicado,
nao?
Vamos
repetir
isso,
exemplificando com mimeros: Suponhamos que os meios de trabalho (a fabrica com
suas
instalacoes,
maquinas,
ferramentas,
devam durar 10 anos ou 3 650 dias. meios
de
trabalho,
o
capitalista
etc.)
Par todos
esses
desembolsou,
por
exemplo, CrS 1 4 6 0 000 , 00 ; dividindo essa quantia par 3 650
dias,
temos
CrS
400,00,
que
corresponde
ao
consumo diario dos meios de producao. O nosso
operario
trabalhou
durante
toda
uma
jornada de 12 horas. Ao final dessa jornada ele trans formou os 10 quilos de algodao bruto em 10 quilos de fio;
entregou-os
ao
patrao e
deixa
a
fabrica,
retor
nando para casa. No caminho, coma todo o operario, ele
vai fazendo
as
contas,
para
saber quanta
o
seu
patrao podera ganhar com aqueles dez quilos de fio. -
Nao sei exatamente quanta custa o fio - vai
dizendo para si mesmo - , mas, de qualquer modo, a conta esta praticamente feita. 0 algodao cru, eu mes-
25
mo vi quando por quilo.
ele
comprou
no
mercado:
CrS 300,00
Todas as suas ferramentas podem ter um
consumo, digamos de CrS 400,00 por dia. Bern:
10 quilos de algodao
. . . . . . . . . . .
CrS 3 000,00
desgaste diario dos meios de producao
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
meu trabalho de hoje
. . . . . . . . . .
Total dos 10 quilos de fio
. . . . . . .
CrS
400, 00
CrS
100,00
CrS 3 500,00
Ora, certamente, sobre o algodao ele nao ganhou nada:
pagou
o seu justo
preco,
nem
um
centavo
a
mais, nem um centavo a menos; do mesmo modo ele comprou
a
minha
forca
de
trabalho,
pagando
seu
justo preco de CrS 100,00 por dia, Entao, continua pensando o nosso fiandeiro, ele so pode ganhar vendendo o fio acima do seu valor. Nao pode vir de outra coisa;
ele nunca perderia tempo e
energia, gastando 3 500 cruzeiros, para depois de tudo receber os
mesmissimos
3 500
cruzeiros.
Oh!
Como
sao os patroesl A nos, trabalhadores, traquejados no mercado,
ele nao tern
como
disfarcar . . .
E esses pa
trees tern ainda a mania de bancarem os honestos na frente
dos
trabalhadores...
mas
e
um
roubo
uma mercadoria por mais do que ela vale;
e
vender
vende-la
com peso falso, um quilo de novecentos gramas. Isto proibido por lei. fechar
suas
E
roubo! As autoridades vao ter que
fabricas.
construiremos
Vai
grandes
ser
born!
fabricas
Em
publicas,
seu
lugar,
onde
produziremos as mercadorias de que precisamos.
26
e
nos
Assim,
fantasiando,
o operario
chega em
casa.
Apos jantar, se enfia na cama e adormece profunda mente, sonhando com o desaparecimento dos capita listas
da
face
da
terra
e
com
as
grandes
fabricas
piiblicas. Dorme,
pobre amigo,
dorms,
enquanto te resta
uma esperanca. Dorme em paz, que os dias de desen gano nao tardarao a chegar. Mais cedo do que pensas, vais en tender por que os capitalistas podem perfeita mente vender
sua
mercadoria
com
lucro,
sem
para
isso precisar enganar a ninguern. Ele mesmo te mos trara como pode
se
tornar capitalista
e
mesmo
um
grande capitalista, sem perder um fio de honorabili dade. Entao, o teu sono nao sera mais tao tranquilo assim.
Veras,
em
tuas
noites,
o
capital,
como
um
pesadelo, que te oprime e ameaca sufocar-te. Com os olhos aterrorizados, vais ve-lo crescer, como um mons tro com cem dentes de vampiro penetrando nos poros de
teu
corpo,
para chupar o teu
sangue.
Tomando
proporcoes desmesuradas e gigantescas, de sombrio e terrivel aspecto, com olhos e boca de fogo, transformando suas
garras
em
vais ve-lo
uma enorme tromba
aspirante em que vao desaparecendo milhares de seres humanos: homens, mulheres, criancas. De tua fronte corre agora um suor de morte, porque o monstro esta se aproximando, para agarrar a ti, tua mulher e teus filhos. Mas teu ultimo gemido sera abafado pelo riso apavorante do monstro, satisfeito em sua gula. Quan ta mais prospero, mais desumano . . . Voltemos ao nosso homem do dinheiro.
27
Este burgues, modelo de exatidao e ordem, acer tou todas as suas contas do dia;
vejam como ele cal
culou o preco dos seus dez quilos de fio:
10 quilos de algodao a 300 cruzeiros o quilo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CrS 3 000, 00
o consumo das ferramentas de trabalho
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CrS
400, 00
Mas, quanto ao terceiro elemento, que entrou na forrnacao de sua mercadoria, que operario,
ele
nada
assinalou,
e
isso
O
salario pago ao
porque
conhece
muito bem a diferenca que ha entre o preco da forca de trabalho e o preco do produto da forca de trabalho. O salario de uma jornada representa o necessario para manter o operario em 24 horas, mas nao representa de fato o que o operario produziu
em
uma jornada
de
trabalho. 0 nosso homem do dinheiro sabe perfeita mente que os
100
cruzeiros
de
salario
que ele
paga
representam a manutencao de seu operario por vinte e quatro horas e nao o que este produziu nas doze horas de trabalho em sua fabrica. Ele sabe tudo isso, exata mente como o agricultor sabe a diferenca que existe entre o que currais,
e
a manutencao
alimentacao,
etc.,
e
de O
uma vaca com
seus
que essa vaca produz
em termos de leite, queijo, manteiga, etc. A forca de trabalho tern a propriedade singular de render mais do que custa e
e
por isso que o homem
do dinheiro foi busca-la no mercado. E o operario nao pode reclamar,
28
porque ele pagou o justo
preco pela
sua
mercadoria.
A
observada. Alem meter
no
uso
lei
do
que
das
que,
trocas
foi
o operario
o comprador
rigorosamente
nao tern
Iara
de
sua
que
se
merca
doria, do mesmo modo que o dono do arrnazem nada tern a Ver com O USO que Seu fregues da as mercadorias que vende. Paginas trabalho
se
atras,
supusemos
produzem
lentes a 100 cruzeiros.
15
que
gramas
Ora,
em
de
6
horas
prata,
de
equiva
se em 6 horas a forca de
trabalho produz um valor de 100 cruzeiros, em 12 horas produzira,
portanto,
um valor de 200 cruzeiros.
As
sim, o valor dos 10 quilos de fio passa a ser calculado desse modo:
pelos 10 quilos de
algodao cru,
300 cruzeiros por quilo pelo
consumo
dos
a
. . . . . . . . .
meios
de
CrS 3 000,00
tra-
CrS
400, 00
pelas 12 horas da Iorca de trabalho
CrS
200,00 · ..
Total
CrS 3 600,00
balho
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
'
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O homem do dinheiro,
depois de ter gasto 3 500
cruzeiros, obteve uma mercadoria que vale 3 600 cru zeiros. Conseguiu, portanto, O
seu
dinheiro
deu
cria;
embolsar
pronto,
100 cruzeiros.
resolvemos
o
pro
hlema: o capital acaba de nascer.
29
Ill
A jornada de trabalho
Nern hem nasceu,
o capital sente a necessidade
imediata de alimento para se desenvolver. E o capita lista, que vive somente para a vida do capital, cupa-se atentamente com
as necessidades
preo
deste
ser,
tornando-se o seu coracao e sua alma, sabendo como alimenta-lo. O primeiro meio empregado pelo capitalista em beneficio do seu capital
e
o prolongamento da jornada
de trabalho. Obviamente, a jornada de trabalho tern os seus pr6prios limites. Antes de mais nada, um dia nao tern mais do que 24 horas. Dessas vinte e quatro horas ja
se
tern
que
eliminar
umas
tantas,
pois
o
operario precisa satisf azer suas necessidades fisicas e espirituais: dormir, comer, descansar para criar nova forca, ler, passear, etc. Fala, Marx: Mas estes limites sao, por si mesmos, muito elas ticos e deixam
muito espaco para
manobra.
Assim,
encontramosjornadas de trabalho de 6, 10, 12, 14, 16 e 18 horas,
ou seia,
das mais variadas
duracoes
e o
capitalista comprou a forca de trabalho pelo seu valor
30
diario. Com isto, ele adquiriu o direito de fazer traba lhar, durante todo um dia,
o trabalhador que esta a
seu service. Mas, o que e afinal um dia de trabalho? Em todos os casos, Mas,
de
quanto?
e menor do que um dia natural. 0
capitalista
tern
a
sua
propria
maneira de ver a questao sobre o limite necessario da jornada de trabalho. 0 tempo durante o qual o ope rario trabalha, e o tempo durante o qual o capitalista consome
a
forca
de
trabalho,
operario.
Se o assalariado consome o tempo que tern
disponivel para si mesmo,
que
ele
comprou
do
ele esta roubando o capi
talista. 0 capitalista nao se apoia em outra nao seja a lei das trocas das mercadorias.
coisa que Ele,
como
todo comprador, procura tirar da mercadoria, do seu valor de uso, o maior beneficio possivel. Mas, eis que o operario levanta a voz e diz: A mercadoria que te vendi se distingue de todas as outras mercadorias, porque o seu uso cria valor, e um valor maior do que o seu proprio custo.
E e por
isso que a compraste. 0 que para ti parece ser cresci mento de capital, para m i m e excesso de trabalho. Tu e eu nao conhecemos outra lei, que nao seja a da troca das mercadorias, 0 consumo da mercadoria nao per tence ao vendedor, que a aliena, mas ao comprador, que a adquire. 0 uso de minha forca de trabalho te pertence, pois. Mas com o preco diario de sua venda, eu devo todos os dias poder reproduzi-la, para vende la de novo. Tirando a idade e outras causas naturais de desgaste,
preciso arnanha estar tao
forte e capaz
como hoje, para retomar o meu trabalho com a mes-
31
inissima forca. Tu me pregas constantemente o evan gelho da "economia" e da ser um mizar
Tai!
Quero
administrador sabio e inteligente para
econo
a
balho;
minha
devo
jamento. mento,
iinica
fortuna:
abster-me,
Quero,
po-la
a
"abstinencia".
a
minha
portanto,
diariamente, trabalhar,
de
forca
qualquer
coloca-la
enfim,
de
esban
em
gasta-la
tra
movi apenas
quando for compativel com sua duracao normal e seu desenvolvimento natural.
Alern
longamento na jornada de dia
mobilizar
uma
do
que,
trabalho,
quantidade
tao
com
um
pro
podes em um s6
grande
de
minha
forca de trabalho que nao vou poder repo-la nem com tres jornadas. 0 que ganhas em trabalho, eu perco em substancia. Presta, pois, muita atencao: o emprego da minha
Iorca
coisas rio,
distintas,
vivo
em
trabalho muito
media
30
e
o
seu
distintas. anos,
desfrute
Se
eu,
sao
como
trabalhando
duas
opera
num
ritmo
razoavel, e tu consomes a minha forca de tra
medic balho
de
em
dez
anos,
tu
nao
terco do seu valor diario: todos os dias,
dois
pagas
me
portanto,
mais
roubas
que de
um
mim ,
tercos de minha mercadoria. Exijo,
pois , uma j ornada de trabalho de
duracao normal, e a
exijo sem apelar para seu
coracao porque em neg6cios
nao
Tu
poe
se
modelo; mais e,
Pouco
sentimento.
ainda
aos
nada normal,
um
Sociedade Protetora
o
que
interesses porque
representas. do
meu
Es
coracao.
burgues dos
Ani
inteiramente
Exijo a jor
quero o valor da minha
doria como qualquer outro vendedor.
32
ser
por cima, exalar cheiros de santidade . . .
importa
estranho
a
ate pertencer
podes
merca
Como se ve, estamos entre limites muito elasticos e· a
natureza
limite seu
a
jornada
direito
longar
mesma
como
a jornada
de
da
troca
trabalho.
comprador, de
trabalho
nao
impoe
nenhum
0 capitalista
mantem
quando o
procura
maximo
pro- ·
possivel
e
tentando fazer de dois dias um s6. Por outro lado,
a
natureza especial da mercadoria vendida exige que o seu consumo pelo comprador nao seja ilimitado, trabalhador
mantem
o
seu
direito
como
e o
vendedor,
quando quer restringir a duracao da jornada de tra balho a uma duracao normalmente determinada. Di reito contra direito,
entre o capitalista e o trabalha
dor, de acordo com a lei de troca das mercadorias, ha um empate. E, o que decide entre dois direitos iguais? A forca.'
Como se emprega essa forca,
que hoje
e
toda do
capital e para o capital, nos dirao os fatos que agora exporemos. 0 que vamos contar neste livro sao quase todos epis6dios do capital na lnglaterra. Em primeiro lugar porque foi la o pais em que a producao capita lista chegou ao maximo em
seu
desenvolvimento;
e,
em segundo lugar, porque somente na lnglaterra en contramos um material adequado de documentos, fa lando das condicoes de trabalho e recolhidos por obra de
comissoes
governamentais,
instituidas
para
este
fim. Os modestos limites deste manual nao nos permi tem, entretanto, reproduzir mais do que uma peque-
(2)
0 Capital, p. 265.
33
nissima parte do rico material recolhido
na obra de
Marx. Eis aqui alguns dados de uma pesquisa feita em 1860 e 1863, na indiistria de ceramica: W. Wood, de
nove
anos,
tinha
7
anos e meio
quando comecou
a
trabalhar. Wood trabalhava todos os dias da semana, das 6 da manha ate as 9 da noite, ou seja, 15 horas por dia. J. Murray, de 12 anos, trabalhava numa fabrica, trazendo as formas e girando uma roda. Ele cornecava a trabalhar as seis da manha, as vezes, as quatro; seu trabalho
era
prolongado
de
tal
modo,
que
muitas
vezes entrava pela manha seguinte a dentro. E isto em companhia de outros 8 ou 9 meninos que tados
do
mesmo
modo
que
ele.
0
eram
medico
tra
Charles
Parsons assim escreveu a um comissario do governo: "Falo com base nas minhas observacoes pessoais e . nao
sobre
dados
estatisticos.
Nao
posso
esconder
minha revolta ao ver o estado destas pobres criancas, cuja saude e sacrificada por um
trabalho
para satisfazer a cobica dos seus
pais
excessivo,
e de
seus pa
troes." Ele conclui
enumera a relacao
ainda com
varies
a causa
casos
de
doencas
principal:
as
e
/ongas
horas de trabalho.
Nas Iabricas de f6sforos, a metade dos trabalha dores eram criancas com menos de 13 anos
e adoles
centes com menos de 18. Somente a parte mais pobre da populacao cede os seus filhos a esta indiistria tao insalubre
e
imunda.
Entre
as
vitimas
interrogadas
pelo Comissario White, 270 nao tinham mais que
34
18
anos; 40 tinham menos de dez anos; 12 de oito anos de idade e 5 de apenas seis anos. A jornada de trabalho nessas fabricas variava entre 12, trabalhavam incertas,
durante
a
noite
14 e 15 horas.
e
comiam
em
Eles
horas
quase sempre no mesmo local de producao,
tudo empestado pelo f6sforo. Nas
fabricas
de
tapete,
nas
epocas
de
grande
movimento, como nos meses que antecedem o Natal, o trabalho durava,
quase sem interrupcao,
das seis da
manha ate as dez da noite; as vezes, tambem ate altas horas da noite. No inverno de 1862, de 19 meninas, 6 contrairam doencas por causa do excesso de trabalho. Para mante-Ias acordadas durante o trabalho era ne cessario estar sempre gritando e sacudindo-as. As me ninas viviam tao cansadas que nao podiam manter os olhos abertos. Um operario depos a Comissao de In querito nestes termos: "Este meu garoto, quando tinha 7 anos de idade, eu o levava as costas, por causa da neve, da casa para a fabrica,
da fabrica para casa.
lhava normalmente tive
de me
ajoelhar
estava na maquina,
16
Meu
horas por
para
dia.
alimenta-lo,
garoto
traba
Muitas vezes, enquanto
ele
porque nem podia abandona-la,
nem desliga-la." Pelos fins de junho de 1863, osjornais de Londres destacavam em suas manchetes a morte de uma mo dista de 20 anos, por excesso de trabalho. Ela morrera nas dependencias da manufatura em que trabalhava. A jornada
de
trabalho
horas e meia por dia.
nessa
manufatura era
Entretanto,
por
causa
de
16
de um
35
baile
no
palacio
do
governo,
para
quern
a empresa
executava as encomendas, suas operarias tiveram que trabalhar 26 horas e meia, sem parar. Eram cerca de 60 mocas
que
trabalhavam
em
pessimas
condicoes,
espremidas no reduzido espaco da oficina. A modista das manchetes do dia seguinte, alem disso, dormia em um quarto muito estreito e sem ventilacao. rera
antes
de
concluir
sua jornada
de
Ela mor 0
trabalho.
medico chegou tarde demais. Em seu laudo, alern de observar
as
condicoes
de
trabalho
das
costureiras,
assinalou acauxa mortis: excesso de trabalho. Em uma das regioes mais populosas de Londres, morriam, anualmente, 31 entre cada 1 000 serralhei ros. E o que pode ter a natureza humana contra essa profissao? Nada! M a s o excesso de trabalho tornou-a destrutiva para o homem. Assim, o capital tortura o trabalho, pois de muito sofrer,
procura,
se.
se
Os
Estado
trabalhadores determine
trabalho.
E o que
uma se
finalmente,
organizam duracao
pode
o qual,
esperar
defender
e exigem
para
que
a jornada
disso?
de
o de
Resposta
facil, considerando que a lei e feita e aplicada pelos mesmos capitalistas: os operarios deverao estar sem pre atentos as medidas tomadas pelos patroes e unidos para protegerem as suas vidas.
36
IV
A mais-valia relativa
A forca de trabalho, produzindo um valor maior do que ela vale, isto e, uma mais-valia, gerou o capi . tal; aumentando ainda esta mais-valia atraves do pro longamento da jornada de trabalho, conseguiu o capi tal o alimento suficiente para a sua primeira idade. O capital vai crescendo e a mais-valia precisa ir aumentando dade.
Mas,
para
satisfazer
aumento de
essa
crescente
mais-valia,
necessi
como vimos
ate
agora, nao quer dizer outra coisa que prolongamento da jornada de trabalho. E claro que essa jornada tern o seu limite natural, por mais elastica que seja a sua duracao, Por mais reduzido o tempo que o capitalista
deixa ao
trabalhador para
que ele
mais prementes necessidades,
satisfaca
a jornada de
as
suas
trabalho
sera sempre menor do que 24 horas. Portanto, a jor nada de trabalho tern um limite natural, e a mais-valia, por
conseguinte,
encontra
um
obstaculo
intranspo
nivel. lndiquemos a jornada de trabalho com a linha AB:
A---- D ----C-------- B
37
A letra A nos
indica o principio,
e B o fim,
o
limite natural que nao se pode ultrapassar. Seja AC a parte da jornada na qual o operario produz o valor do salario recebido e CB operario produz
a parte
da jornada em
a mais-valia.
Como vimos,
que
o
o nosso
fiandeiro recebendo 100 cruzeiros de salario, com uma metade de sua jornada reproduzia o valor de seu sala rio, e com a outra metade produzia mais-valia. valor
do
0 trabalho AC,
salario,
chama-se
100 cruzeiros de
com o qual se produz o trabalho
necessario,
en
quanto o trabalho CB, que produz a mais-valia, cha ma-se trabalho excedente ou sobretrabalho. 0 capita lista esta interessado no sobretrabalho, que
cria
jornada
a de
mais-valia. trabalho,
0 a
porque e ele
sobretrabalho
qual
encontra
prolonga
o
seu
a
limite
natural B, representando um obstaculo intransponivel para o sobretrabalho e para a mais - valia. E agora,
o
que fazer? 0 capitalista encontra logo o rernedio. Ele observa que o sobretrabalho tern dais limites, um B o fim da jornada de trabalho; o outro e C - quando acaba o tempo de trabalho necessario, irremovivel:
0 limite
B
e
o capitalista nao pode criar um dia com
mais de 24 horas. M a s o mesmo nao acontece com o limite C. Diminuindo o tempo de trabalho necessario C,
recuando-o
ate
o
ponto
D,
o
sobretrabalho
CB
aumenta a sua extensao no mesmo tanto representado em DC, que corresponde exatamente
a
diminuicao do
trabalho necessario AC. A mais-valia encontra, assi m, uma forma de continuar crescendo;
agora,
nao
mais
de modo absoluto, isto e , simplesmente pro l o ng an d o a
38
jornada de trabalho. A partir desse momento, a mais valia cresce em relacao ao aumento do sobretrabalho e
a
correspondente
diminuicao
do
tempo
de
trabalho
necessario. No primeiro tipo de exploracao, que cha mamos
de
mais-valia
absoluta,
o patrao
esticava
a
jornada de trabalho de 10 para 12 horas; no segundo tipo de exploracao, que chamamos de mais-valia rela tiva, o capitalista a embolsa, diminuindo o tempo de trabalho necessario. O fundamento
da
mais-valia
nuicao do trabalho necessario. balho
necessario
salario;
se
relativa
e
a
dimi
A diminuicao do tra
fundamenta
na
diminuicao
a diminuicao do salario se fundamenta,
do por
sua vez, na diminuicao do preco dos produtos neces sarios
e
ao trabalhador; portanto, a mais-valia relativa
fundamentada
no ,
barateamento
das
mercadorias
.
que servem ao operano. Alguern esta se perguntando agora, se nao have ria um jeito mais simples para o capitalista arrancar a mais-valia relativa, se ele, por exemplo, ao comprar a mercadoria do trabalhador, ou seja, a sua Iorca de trabalho, cabe;
isto
lhe
e,
pagasse nao
lhe
um
salario
pagasse
menor
o justo
do
preco
que
lhe
de
sua
mercadoria. De
fato,
esse
expediente
e
muito
usado.
Mas,
aqui, s6 vamos considerar a lei de trocas em toda a sua pureza: todas as mercadorias - incluindo a forca de trabalho - devem ser vendidas e compradas pelo seu justo valor.
E,
alern
disso,
o nosso
capitalista
e
um
39
burgues absolutamente honesto, jamais usara de qual quer meio para fazer crescer o seu capital que nao seja inteiramente digno dele. Suponhamos que em uma jornada de trabalho de 12
horas
um
operario
produza
6
unidades
de
uma
mercadoria. 0 capitalista vende essas 6 uoidades pelo preco de CrS 75,00, porque no valor desta mercadoria entram CrS 15,00 gastos em materia-prima e meios de trabalho e mais CrS 60,00: CrS 30,00 pelo salario de 12 horas de trabalho e CrS 30,00
de
mais-valia;
em
cada mercadoria, ele tira CrS 5 , 00 de mais-valia, por que ele desembolsou,
por cada uma,
CrS
7 ,50,
ven
dendo depois a CrS 1 2 , 50 por unidade. Agora, supo nhamos que, gracas a um novo sistema de trabalho ou simplesmente
com
o
aperfeicoamento
do
antigo,
a
producao se duplique: em vez de 6 unidades por dia, o capitalista recebe
12.
Se
antes,
em
6
unidades,
ele
desembolsava CrS 15,00 em materia-prima e meios de trabalho, em 12 unidades serao necessaries CrS 30,00 ou CrS 2,50 por cada uma. Estes CrS 30,00 sao acres centados aos CrS 60,00, produto da forca de trabalho em 12 horas, totalizando, portanto, CrS 90,00, que preco dos 12
artigos,
vendidos
ao
preco unitario
e
o
de
CrS 7,50. No mercado de hoje, portanto, o capitalista pre cisa de um espaco maior para vender o dobro de sua mercadoria, o que ele consegue vendendo-a um pouco mais barato. Em outras palavras, o capitalista tern a necessidade de
encontrar uma razao pela
qual
mercadorias possam ser vendidas em quantidade
40
suas duas
vezes
maior
do
que
antes;
e
a
razao
ele
encontra,
logico, na baixa de preco. Ele vendera os seus artigos a um preco menor do que CrS 12,50, que era o seu preco anterior, mas mais caro do que CrS 7 ,SO que
e o valor
de hoje de cada um.
Digamos que o venda a CrS 10,00 e ja tera assegurado o dobro: CrS 60 , 00 - foi quanto lucrou com a venda de seus produtos - dos quais 30 cruzeiros sao de mais valia e os outros 30 ele conseguiu da diferenca entre o seu valor
real e o preco
Como veem, tirando
grande
pelo
qual
o capitalista nao
proveito
Todos os capitalistas
do
sao
foram
vendidos.
dorme
aumento
altamente
da
no
ponto,
producao.
interessados em
aumentar a producao de suas indiistrias, como aeon tece hoje
em
dia em
quase
todos
os
ramos
da
pro
ducao. Mas aquele lucro extra que ele retirava da dife renca entre o valor da
mercadoria e o seu
preco
de
venda dura pouco; o novo ou aperfeicoado sistema de producao passa a ser adotado, necessariamente, pelos outros capitalistas.
Resultado: o valor da mercadoria
cai para a metade. Antes, cada artigo valia CrS 12,50 e agora vale CrS 6 , 25 . M a s o capitalista continua tendo
o mesmo lucro, apenas dobrando a producao, Antes, 30
cruzeiros
de
mais-valia
em
mesma mais-valia, CrS 30,00,
6
unidades;
entretanto em
hoje,
a
12 uni
dades. Mas como os 12 artigos foram produzidos no mesmo tempo em que eram produzidos os 6 artigos, isto
e,
em
12 horas
de
trabalho,
tem-se
sempre
30
cruzeiros de mais-valia em uma jornada de 12 horas, mas o dobro da producao.
41
-=-
Quando esse aumento de producao atinge os pro dutos necessaries ao trabalhador e sua familia,
cai o
preco da forca de trabalho e com isso diminui tambem o tempo de trabalho necessario, aumentando o sobre trabalho, que constitui a mais-valia relativa.
42
v Cooperaciio
Vamos deixar um pouco de lado o nosso capita lista, a estas alturas pr6spero e rico. Vamos para sua fabrica e la teremos o prazer o
fiandeiro.
Venham
aqui,
de
rever nosso
juntos.
Pronto,
amigo, ja
en
tramos. Puuuu . . .
quanto
operariol
Nao
e
somente
um,
mas muitos e em pleno trabalho. Todos em silencio e ordenados, assim como se fossem soldados. Parecendo oficiais, la estao apontadores e chefes que passeiam no meio deles,
dando ordens e vigiando o · cumprimento
fiel do trabalho. Do capitalista, nem sombra. Ei! Es pere! Estao abrindo aquela porta de vidro! Quern sabe
e
o patrao . . .
Vamos
mesmo muita figura, o patrao, nao dinados ouvern
se as
e
dar
e
espiada.
0
tipo
tern
muito serio tambem, mas nao
o capitalista. Pssiu . . .
aproximam suas
uma
ordens
do
homem;
com
a
e
(Alguns subor todos
maxima
solicitos, atencao.)
Trimm! Triim! Telefone! A secretaria atendeu e agora esta comunicando ao
senhor
diretor
que
chama imediatamente para uma reuniao.
o patrao Bern,
o
mas
43
onde esta o fiandeiro,
nosso velho conhecido? Como
encontra-lo no meio de tantos operarios? Ah! la esta ele! ali no canto, inteiramente concen trado
no
seu
trabalho.
Nossa!
coma
emagreceu!
E
vejam coma esta palido! E que tristeza e aquela? Nern parece
o
mesmo
homem
que
tratar,
de igual para igual,
vimos
no
a venda de sua
trabalho com o homem do dinheiro . . . corniseracoes! qualquer.
Hoje
Como
ele
e
muitos
um
de
mercado
Mas,
operario
forca
de
nada de
coma
seus colegas,
a
ele
outro
e opri
mido par uma jornada de trabalho cavalar, enquanto o homem do dinheiro tornou-se um grande capitalista e vive agora coma um deus, la no alto de seu Olimpo, de onde manda suas ordens atraves de um verdadeiro sequito de intermediaries. Mas,
afinal,
o
que
aconteceu?
Nada
mais
sim
ples. 0 capitalista prosperou, teve sucesso. 0 capital cresceu e muito. E, para satisfazer as suas novas ne cessidades, o capitalista estabeleceu o trabalho coope rativo,
que
e
o
trabalho
realizado
com
a uniao
de
muitas forcas. Naquela fabrica, que antes empregava uma s6 Iorca de trabalho, hoje atuam muitas forcas de trabalho em cooperacao. 0 capital saiu de sua infan cia e se apresenta, pela primeira vez, com o seu verdadeiro aspecto. E que
.
vantagens o capital
Pelo menos quatro:
leva
na cooperacao?
primeira vantagem,
na coo
peracao, o capital tern a vantagem de realizar a verda deira
forca
de
trabalho
social.
Ja
vimos:
forca
de
trabalho social e a forca media entre um mimero de
44
operarios, trabalhando com grau media de habilidade e
intensidade,
ducao.
em
um
determinado
centro
de
pro
Um operario sozinho pode ser mais habil ou
menos habil
do
que
a
forca
de
trabalho
media
ou
social, e esta so pode ser medida juntando na fabrica um grande mimero de forcas de trabalho, trabalhando em cooperacao, uma com as outras. A segunda vantagem esta na economia
dos meios
de trabalho. 0 mesmo predio, as mesmas instalacoes, etc., que antes serviam apenas a um, hoje servem para muitos operarios. A terceira vantagem da cooperacao e o aumento da forca de trabalho: O poder de ataque de um esquadrao de cavalaria ou o poder de resistencia de um regimento de infan taria
difere
essencialmente
da
viduais de cada cavalariano ou
soma de
de
cada
forcas
indi
infante.
Do
mesmo modo, a soma de forcas mecanicas dos traba lhadores isolados difere da forca social que se desen volve quando muitas maos agem simultaneamente, na mesma
operacao
indivisa,
por
exemplo,
quando
e
necessario levantar uma carga, girar uma pesada mani vela ou remover um obstaculo,
3
A quarta vantagem e a possibilidade de combinar a uniao
de
forcas
de
trabalho
para
a execucao
de
trabalhos que uma forca isolada jamais conseguiria, e se o tentasse o faria de modo muito imperfeito. Quern ainda
(3)
nao
viu
coma
SO
operarios,
em
apenas
uma
0 Capital, p. 374.
45
hora,
podem
transportar
uma
carga
enorme,
en
quanto uma unica forca de trabalho nao conseguiria, nem mesmo em 50 horas,
mover um milesimo dessa
carga? Quern nao viu ainda, numa construcao, como 12 operarios dispostos em hora uma quantidade
fila transportam
de tijolos
em uma
imensamente
maior
do que um s6 operario conseguiria em 12 horas? Quern nao sabe que 20 pedreiros fazem em um dia o trabalho que um trabalhador isolado A cooperacao capitalista."
eo
46
faria
em
20
dias?
modo fundamental da producao
Conclui Marx, encerrando mais este ca
pitulo.
(4)
nao
0 Capital, p. 38..C:,.
VI Divisio do trabalho e manufatura
Quando um capitalista reiine na sua fabrica os operarios e cada um executa as diferentes operacoes que criam a mercadoria, ele da um carater todo especial:
a
cooperacao simples
ele estabelece a divisao do
trabalho e a manufatura. A manufatura nada mais
e
do que um mecanismo de producao cujos orgaos sao os seres humanos. Embora a manufatura se baseie sempre na divi sao do trabalho, ela tern uma dupla origem: em alguns casos, a manufatura reuniu na mesma fabrica os di versos oficios necessaries
a
producao de uma merca
doria; estes oficios estavam antes, como todas as ativi dades artesanais,
separados e divididos entre si.
Em
outros casos, a manufatura dividiu as diferentes ope racoes de um trabalho que antes formavam um todo
na producao de uma mercadoria, e juntou-as na mes ma fabrica. Por exemplo, uma carruagem, dessas que a gente ve no cinema, era o produto global dos trabalhos de numerosos
artesaos
independentes
como
o
carpin-
47
teiro,
o estofador,
o costureiro,
o serralheiro,
o tor
neiro, o passamenteiro, o vidraceiro, o pintor, o enver nizador, o dourador, etc. A manufatura de carruagens reuniu
todos
fabrica, rando
esses
onde
um
diferentes
trabalham
com
o
outro.
artifices
numa
simultaneamente, Nao
se
carruagem antes de estar pronta;
pode se,
mesma colabo
dourar
porem,
uma
muitas
carruagens sao feitas ao mesmo tempo, umas podem ser douradas enquanto outras se encontram em outra fase do processo de producao. A fabricacao da agulha, por exempo, foi dividida pela manufatura em mais de vinte operacoes
parciais,
que
agora
processo de Iabricacao total dessa
fazem
agulha.
parte
do
A manu
fatura, portanto, ora reuniu varies oficios em um s6, ora dividiu um mesmo oficio em muitos.
5
A forca e os instrumentos de trabalho foram tam bem multiplicados pela manufatura, nou
terrivelmente
reduzidos
a
uma
mas ela os tor
tecnicos
e
iinica
invariavel
e
simples
porque
foram
operacao
ele
mentar. Sao grandes as vantagens que o capital realiza na manufatura ao determinar essas tarefas elementares e repetitivas para diferentes forcas de trabalho,
pois a
forca de trabalho ganha muito em intensidade e pre cisao,
Todos aqueles poros,
aqueles pequenos
inter
valos entre as diferentes fases de elaboracao de uma mercadoria isolado,
(S)
48
que
a
gente
desaparecem,
0 Capital, p. 386-387.
encontrava
quando,
no
agora,
trabalhador esse
mesmo
trabalhador
executa
sempre
a
mesma
operacao.
0
trabalhador daqui pra frente nao precisa mais passar anos a fio, aprendendo um oficio; o que ele precisa
e
saber executar apenas uma das muitas operacoes que formam todo um oficio e essa operacao ele aprende em muito pouco tempo. tempo rias
e
ao
Esta diminuicao de custos e de
tambem uma diminuicao de coisas necessa trabalhador,
ou
seja,
uma
tempo de trabalho necessario e um
diminuicao aumento
de
corres
pondente de sobretrabalho e mais-valia. 0 capitalista, pois, verdadeiro parasita, as custas do trabalho alheio, cada vez mais rico e o trabalhador, por isso, sofrendo cada vez mais. Enquanto a cooperacao
simples,
em
geral,
nao
modifica o modo de trabalhar do individuo, a manu fatura
o
revoluciona
inteiramente
e
se
apodera
da
forca individual de trabalho em suas raizes. Deforma monstruosamente o trabalhador, levando-o artificial mente a desenvolver uma habilidade parcial, as custas da repressao de um mundo de instintos e capacidades produtivas, lembrando aquela pratica das regioes pla tinas onde se mata um animal apenas para tirar-lhe a pele e o sebo. Nao
s6
e
o trabalho
dividido
e
suas
diferentes
fracoes distribuidas entre os individuos, mas o proprio individuo
e
mutilado e transformado em instrumento
automatico de um trabalho parcial, tornando-se reali dade,
assim,
a
fabula
Menennius Agrippa,
absurda
em
que
do
patricio
romano
o ser
humano
aparece
representado por um iinico fragmento de seu pr6prio
49
corpo, o estomago.
Dugald Stewart chama os traba
lhadores de manufatura automates vivas, empregados na fracao de um trabalho. Originariamente, o trabalhador vendia sua forca de trabalho ao capital por lhe faltarem os meios mate riais para produzir uma mercadoria. Agora, sua forca individual
de
trabalho
· vendida ao capital;
nao
funciona
se
nao
para poder funcionar,
estiver
ela neces
sita daquele centro social que s6 existe na fabrica do capitalista.
0 povo eleito trazia escrito na testa
que
era propriedade de Jeova: do mesmo modo, a divisao do trabalho ferreteia o trabalhador com a marca seu proprietario: o capital. que domina um oficio
Storch dizia:
completo pode
de
"o operario
trabalhar por
toda parte para se manter; o outro, o da manufatura,
e
apenas um acess6rio e, separado de seus colegas de
trabalho,
nao
tern
nem
capacidade,
nem
indepen
dencia, sendo forcado a aceitar a norma que lhe que rem impor". As forcas
intelectuais
da producao
- continua
Marx - se tornam bitoladas , ao se desenvolverem em apenas
um
sentido,
tolhidas
em
tudo
que
nao
se
enquadre em sua unilateralidade. 0 que esses traba lhadores parciais perdem, se concentra no capital que com eles se confronta.
As forcas intelectuais da pro
ducao material, com a divisao manufatureira do tra balho,
aparecem
ao
operario coma
propriedades
de
outros e coma poder que os domina. Esse processo de dissociacao ja comeca com a cooperacao simples, em que o capitalista representa para o trabalhador iso-
50
lado a unidade e a vontade do trabalhador
coletivo.
Na manufatura, esse processo se desenvolve e mutila o trabalhador a ponto de reduzi-lo a uma particula de si
mesmo.
Na
indiistria
moderna,
temos
o processo
completo, perfeito, que faz da ciencia uma forca pro dutiva independente do trabalho e que a recruta para servir ao capital. Na manufatura,
o enriquecimento
dor coletivo e, por isso,
do
trabalha
do capital, em Iorcas produ
tivas sociais, realiza-se as custas
do empobrecimento
em forca produtiva do trabalhador individual. "A ignorancia", diz Ferguson, tria como o
e
da supersticao.
"e mae da indiis
0 raciocinio e a imagi
nacao estao sujeitos a erros; mas o habito de mover o pe ou a mao nao depende nem de um, nem da outra.
Por
isso,
as
manufaturas
requer menos inteligencia,
prosperam de
modo
mais
que,
onde
se
nao tendo
necessidade de forcas intelectuais, a fabrica pode ser considerada como uma maquina cujas pecas sao seres humanos. "
Marx, para ilustrar o caso desse trabalhador mu tilado, nos fala de algumas manufaturas que, em mea
dos do seculo XV II I , empregavam de preferencia indi viduos meio idiotas, em certas operacoes simples, mas que eram segredos de fabricacao. Smith disse sobre a imbecilidade do trabalhador parcial: " a inteligencia da maior parte dos homens se forma necessariamente no decorrer de sua ocupacao do
dia - a - dia .
Um
h omem,
que
passa toda
a vida
a
executar um pequeno mimero de operacoes simples,
51
nao tern nenhuma condicao de desenvolver a sua inte ligencia, nem de exercitar a sua imaginacao . . . Ele se torna, em geral, tao estupido e ignorante quanta uma criatura humana pode vir a se-lo". E, continua Adam Smith: rompe
"A
uniformidade
naturalmente
o
da
vida
animo
estacionaria
desse
cor
trabalhador . . .
·Chega mesmo a destruir a energia de seu corpo,
tor
nando-o incapaz de empregar suas forcas com vigor e perseveranca em qualquer outra tarefa que nao
seja
aquela para que foi adestrado. Assim, sua habilidade em seu oficio particular parece adquirida com o sacri ficio de suas virtudes intelectuais, sociais e guerreiras, E em toda sociedade desenvolvida e civilizada, esta condicao pobres
a que
que
ficam
necessariamente
trabalham,
isto
e,
a
e
reduzidos
grande
massa
a
os do
povo". Para
remediar
resulta da divisao
esta
degeneracao
do trabalho,
A.
completa
Smith
que
receita em
doses prudentemente horneopaticas o ensino popular pago pelo Estado.
Essa ideia de Smith,
que
era um
ingles, foi combatida com coerencia pelo seu tradutor e comentador frances,
G.
Garnier,
que,
no primeiro
imperio frances, encontrou as condicoes naturais para se transformar em instrucao
popular
senador.
e
trabalho e adota-la todo o nosso
Segundo
contraria
as
leis
seria o mesmo
sistema
esse da
que
social.
Vejam
outras
divisoes
sujeito, divisao
acabar
como
ele
a do
com
se ex
pressou: "Como que
52
existe
todas
entre
o
as
trabalho
do
mecanico
e
trabalho, o
a
trabalho
intelectual se torna mais acentuada e mais evidente
a
medida que a sociedade ( e esse Garnier chama 'socie dade' o Estado com a propriedade de terra, o capital, etc.) se torna mais rica. Como qualquer outra divisao do
trabalho,
sados
e
esta
e causa
de
consequencia
progressos
de
progressos
futuros . . .
Deve
pas
en tao
o
governo contrariar essa divisao e retardar sua marcha natural? Deve empregar uma parte da receita piiblica para confundir e misturar
duas especies
de
trabalho .
que tendem por si mesmas a se separar?" "A arte de pensar, num tempo em que tudo esta separado,
pode
mesmo
se
constituir em
um
oficio
a
parte", escreveu Ferguson. Certa deforrnacao fisica e espiritual mesmo
da
divisao
do
trabalho
na
e
inseparavel
sociedade.
Mas,
como o periodo manufatureiro leva muito mais longe a divisao social do trabalho e, com sua divisao peculiar, ataca o individuo em suas raizes vitais, que primeiro fornece patologia
industrial.
o material e Ramazzini,
o
e
esse periodo
impulso
professor
para
de
a
medi
cina pratica em Padua, Italia, publicou em 1 7 1 3 a sua obra De saos. foi,
morbis artificum ,
A sua lista
naturalmente,
moderna, ram
de
sobre
doencas
que
doencas entre atingem
o operario
muito aumentada com a indiistria
como o demonstram os escritores
depois
dele:
arte
Dr.
A.
L.
Fonterel,
que vie
Paris,
1858;
Eduardo Reich, Erlangen, 1868 e outros, alem de uma pesquisa muito importante encomendada pela
Socie
dade de Artes e Oficios, em 1854, na lnglaterra, sobre a saude piiblica.
' '
"Subdividir um homem pena
de
morte;
e
e
executa-lo, se merece a
assassina-lo
e
subdivisao do trabalho
se
nao
a
merece.
A
o assassinato de um povo",
afirmou D . Urquhart, em 1855. Hegel, um dos grandes pensadores na hist6ria da filosofia, tinha opinioes muito hieraticas, muito idea listas,
sabre a divisao
do
trabalho.
Vejam
como ele
colocou o problema em sua obra, Filosofia do Direito: "Por homem aquele
que
e
culto
entendemos,
capaz
de
fazer
em
tudo
primeiro lugar, o
que
os
outros
Iazem". Botando
as
coisas
no
chao,
na
sua
realidade,
vamos concluir mais este capitulo, com essas palavras de Marx: A divisao do trabalho, em sua forma capitalista,
nao
e
mais do que um metodo particular de produzir
a mais-valia relativa, ou de fazer aumentar, as custas do operario, os lucros do capital -
e
o que chamam
de riqueza nacional. As custas do trabalhador, desen volve-se a Iorca coletiva do trabalho em prol do capi talista.
Criam-se
novas
condicoes
para
assegurar
a
dominacao do capital sabre o trabalho. Essa forma de divisao do trabalho
e uma
economica da sociedade,
fase necessaria na Iormacao
e
um meio civilizado e refi
6
nado de exploracaol
r
(6)
54
0 Capital, p. 4 1 7 - 4 1 8 .
VII Maquina e grande industria
Em
seu livro,
Princlpios de Economia Politica,
John Stuart Mill escreveu:
"Resta ainda saber se
as
invencoes mecanicas realizadas ate agora aliviaram
O
trabalho diario de algum ser humano". Besteira desse
Mill.
Em
primeiro
lugar,
nao
e
essa a intencao do capital, quando emprega uma ma quina. Como qualquer outro desenvolvimento da for ca produtiva
do
trabalho,
a maquina,
na
producao
capitalista, tem por fim baratear as mercadorias, en curtar a parte do dia de trabalho na qual o operario trabalha para si mesmo e, com isso, prolongar a outra parte da jornada de trabalho que ele da gratuitamente para o capitalista. A maquina e um metodo de fabri car a mais-valia relativa. Em segundo lugar,
ainda em relacao
a
frase de
Mill, ele deveria ter dito: "de algum ser humano . . . que nao viva
do trabalho
alheio".
As
maquinas
aumen
taram, com certeza, o mimero dos ricos ociosos. Mas, lhador?
quern e que pensa alguma
Se o capitalista
S"
vez
preocupa com
no ele,
traba e so-
55
mente para estudar uma forma melhor de suga-lo. 0 operario vende sua forca de trabalho e o capitalista a compra, coma a iinica mercadoria que, criando mais valia, faz nascer e crescer o capital. 0 capitalista, par outro lado,
s6
se
ocupa em
fabricar
sempre mais
e
mais mais-valia. Depois de ele ter exaurido a fonte de mais-valia absoluta,
encontrou a mais-valia
relativa.
Agora ele sabe: com as maquinas, ele pode obter, ao mesmo tempo, um produto duas, quatro, dez, muitis simas vezes maior do que antes.
E o que
e
moco religioso, honesto e, ainda par cima, tecnologia avancada pode fazer? para os seus trabalhadores! fatura,
se
transforma
amigo da
lmpor as maquinas
A cooperacao,
assim
que esse
na
grande
moderna e as suas oficinas na Iabrica,
a manu indiistria
propriamente
dita. Depois de ter mutilado e estropiado o trabalha dor com a divisao do trabalho; depois de te-lo limitado a uma unica e
macante
agora nos oferecer um
operacao,
espetaculo
o
capitalista
mais
triste
vai
ainda.
Ele arrancou das maos do trabalhador as ferramentas · que lhe restavam, liquidando, assim, dacoes de seu antigo oficio, homem completo,
as unicas recor
de seu antigo estado
e o amarra
a
maquina.
Agora,
de o
operario virou escravo da maquina, exatamente coma o capitalista precisa dele. Com a introducao da maquina, o capitalista tern imediatamente um
enorme lucro;
dissemos da mais-valia relativa,
recordando o que
a gente compreende
logo o par que, Mas com a generalizacao do sistema
56
r
de producao mecanica, aquele lucro extra acaba, res tando
apenas
o
aumento
da
producao,
resultado geral dessa generalizacao,
que,
como
diminui o valor
das mercadorias necessarias ao trabalhador, o tempo de trabalho necessario e tambem os salaries. aumenta
e
o sobretrabalho e,
com ele,
0
que
a mais-valia.
O capital se compoe de uma parte constante e de uma parte variavel,
Chamamos de
capital
constante
•
aquela parte que
e
representada pelos meios de
tra-
balho e pelo material de trabalho (rnateria-prima). 0 predio da fabrica, suas instalacoes, os instrumentos de trabalho,
mesmo
os
uniformes,
com
capacetes
de
seguranca e tudo; o material auxiliar como a graxa, o carvao,
o oleo,
a energia eletrica,
etc.;
a materia de
trabalho, como o ferro, o algodao, a seda, a prata, a madeira, o plastico, e t c . , sao coisas que fazem parte do capital constante. O capital variavel salario, isto meiro
e
e,
e
aquela parte representada no
no preco da forca de trabalho.
chamado constante porque o seu valor,
entra no preco da mercadoria, nao se altera, nece constante. 0 segundo porque
0 pri
o seu
valor
e
que
perma
chamado capital variavel
aumenta,
e
esse
aumento
entra
tambern no valor da mercadoria. E s6 o capital varia vel que cria mais-va/ia. E a maquina, como nao pode
deixar de ser, faz parte do capital constante. Do mesmo modo que o capitalista lucrou de uma massa de forcas naturais, ele se propoe, na indiistria moderna, a lucrar de uma massa enorme de trabalho
57
morto e de
graca.
Mas,
para
alcancar seu
necessita ter todo um mecanismo,
objetivo,
que se compora de
materia mais ou menos custosa e que sempre absor vera uma certa quantidade de trabalho. Certamente, o capitalista
nao
cornprara
a
forca
do
vapor,
ar;
claro
propriedade motriz
da
agua e do
que
as
descobertas
nao
comprara
e
sua
nem
a
tambem aplicacao
mecanica, nem as invencoes e o aperfeicoarnento dos instrumentos de um oficio. Isso ele pode usar quanto quiser,
sempre
Agora,
o
que
que o
quiser,
capitalista
sem
a
precisa
menor
e
despesa.
encontrar
um
mecanismo capaz de aproveitar tudo isso. A maquina entra entao
como
meio
de
trabalho,
como parte
do
capital constante; ela passa a entrar no valor da mer cadoria em uma proporcao que esta em razao direta com
o seu
proprio
materias auxiliares,
desgaste como
e
do
carvao,
consumo graxa,
razao inversa ao valor da mercadoria.
de
etc.,
suas e em
Isto quer dizer
que, na producao de uma mercadoria, quando mais se Iaca USO da
maquina e de
maior
e
doria:
enquanto
a parte
de que,
seu ao
SUaS
valor
materias que
contrario,
auxiliares,
passa quanto
a
merca
maior
o
valor da mercadoria para a qual a maquina trabalha, menor ,
e
a parte de valor que advern do consumo da
.
maquma. Voces ja imaginaram o valor que o desgaste e o consumo de carvao, e t c . , de um mastodonte como um martelo-pilao gigante passaria para uma mercadoria, se ele fosse empregado para bater preguinhos?
Pois
bem: uma tal maquina distribui um valor muito redu-
58
r
zido pela enorme quantidade de ferro martelado que ela produz diariamente. Quando, na
grande
7
em razao da generalizacao
industria,
a maquina
deixa
do
de
direta cle lucro extra para o capitalista,
sistema
ser
fonte
ele encontra
outros meios pelos quais pode continuar a bombear do operario urua enorme quantidade de mais-valia rela tiva, atraves do emprego da maquina. Mulheres! primeiras
Criancas!
palavras
Ao
trabalho!
de ordem
meca a empregar maquinas,
do
Sao
capital
Este
essas
quando
meio poderoso
as co de
diminuir o trabalho do homem, torna-se logo um meio de aumentar o mirnero de assalariados. sob o regime capitalista, de
uma familia,
sem
A maquina,
subrnete todos os membros
distincao
de
sexo
e
idade,
ao
chicote do capital. 0 trabalho comandado pelo capital rouba o lugar dos jogos infantis e do trabalho livre no lar; e, justamente, esse trabalho domestico era o sus 8
tentaculo econornico da moral da familia. Anteriormente, o valor da forca de trabalho era determinado pelas despesas necessarias do
operario e de
sua
familia.
a
Jogando
manutencao a familia no
mercado, distribuindo assim, entre diversas forcas de trabalho o valor de uma so, a maquina deprecia essa Iorca de trabalho. Pode ser que as quatro forcas, por exemplo, que uma familia operaria vende, mais
do
que
dava
antes
(7)
0 Capital, p. 443.
(8)
0 Capital, p. 450.
a
forca
unica
do
lhe deem chefe
da
59
famiha,
mas,
ao
mesmo
tempo,
quatro jornadas
de
trabalho entraram no lugar de uma s6; portanto, seu
e
preco
rebaixado em proporcao ao excesso de sobre
trabalho de quatro sobre o trabalho de apenas uma. Resumindo,
o
capitalista
tinha
a
antes
apenas uma jornada de trabalho,
disposicao,
agora tern quatro.
Quatro pessoas devem agora fornecer nao apenas tra balho, mas ainda sobretrabalho ao capital, uma
so
familia
possa
viver.
E
assim,
para que
pois,
que
a
maquina, aumentando a rnateria humana exploravel, mulheres e criancas,
aumenta,
ao
mesmo
tempo,
o
grau de exploracao, O emprego capitalista da maquina revolucionou em suas bases o contrato, no qual a primeira condicao era que capitalista e operario devessem se apresentar face a face como pessoas livres, um
possuidor
de
dinheiro
e
mercadores os dois,
meios
de
producao,
o
outro possuidor da forca de trabalho. Mas agora, sob o ponto de vista juridico,
o capitalista compra seres
dependentes ou parcialmente dependentes.
0 opera
rio que antes vendia sua propria forca de trabalho, da qual podia dispor livremente,
vende agora mulher e
filhos. Virou um traficante de escravos. Se a maquina
e
o meio mais poderoso de aumen
tar a produtividade do trabalho, isto
e,
de diminuir o
tempo
de
mercadorias,
necessario para
a producao
como sustentaculo do capital, ela roso
de
prolongar
a jornada
de
e
o meio mais pode
trabalho,
alem
todos os limites naturais. 0 meio de trabalho, transformado
60
em
rnaquina,
nao
esta
mais
de
agora
subordi-
r
nado ao trabalhador; tornou-se independente. Uma so paixao toma conta do capitalista: reduzir ao minimo a resistencia que lhe opoe essa barreira natural, flexivel, que
e
o homem. Nesta obra de escravizacao ajudam
no a aparente leveza do trabalho junto as maquinas e tambem
o emprego
de elementos
mais
submissos
e
maleaveis, como as criancas e as mulheres. O desgaste senta sob uso,
um
como,
material
duplo
por
de uma
aspecto.
exemplo,
maquina
Um,
uma
em
nota
se
razao ou
apre- ·
de
seu
moeda
de
CrS 10,00 passando de mao em mao; outro, por ina .;ao,
por
permanecerem
sem
funcionar,
como
uma
espada inativa que se enferruja na bainha. Neste ulti mo caso, a acao de elementos naturais a desgastam. No primeiro caso, quanto maior for o uso da maquina, mais rapido sera o seu desgaste; razao
e
no segundo caso, . a
inversa, ou seja, quanto mais a maquina ficar
parada maior sera o seu desgaste. Mas a maquina sofre, alem do material, um des gaste que podemos chamar de
moral.
Esse
desgaste
moral ocorre quando uma maquina vai perdendo va lor, pois maquinas do mesmo tipo vao sendo reprodu zidas
a precos
mais
baixos
ou
na
medida
em
que
maquinas mais aperfeicoadas passam a lhe fazer con correncia.
9
Para remediar esse prejuizo, a
necessidade
de
fazer
a sua
o capitalista sente
maquina
trabalhar
o
maximo possivel, e comeca antes de mais nada com o
(9)
0 Capital, p. 461-462.
61
prolongamento do trabalho diario, introduzindo o tra balho noturno e o trabalho de turma, turno, que como o nome mesmo indica, balho
e
e
o sistema em
que
um
tra
executado por duas equipes de trabalhadores,
se revezando em cada doze horas ou por tres equipes se
revezando
trabalho
em
segue,
cada
oito
horas,
sem interrupcao,
de
modo
durante
que
as vinte
o e
quatro horas do dia. Esse sistema tao lucrativo para o capital foi adotado imediatamente com o surgimento das maquinas, lista em
tirar
para satisfazer a ganancia do capita-· a maior
quantidade
possivel
de
lucro
extra, que, com a propagacao da maquinaria, nao vai poder mais obter. O capitalista, portanto,' com a introducao de ma quinas,
acaba
com
todos
os
obstaculos
de
tempo,
todos os limites da jornada que durante o periodo da manufatura eram impostos ao trabalho. E quando ele alcanca o limite da jornada natural, absorvendo todas as 24 horas do dia, ele encontra um modo de fazer, de apenas um dia, dois, tres, quatro e mais dias, intensi ficando o trabalho em duas, tres, quatro e mais vezes. De fato, se em uma jornada de trabalho o operario obrigado a fazer um trabalho duas vezes, quatro vezes, etc., maior do que antes,
e
tres vezes,
e claro
que a an
tiga jornada de trabalho correspondera a duas,
tres,
quatro ou mais jornadas de trabalho. Tornando o tra balho mais intensivo,
comprimindo,
em outras pala
vras, em uma unica jornada o trabalho de varias jornadas, o capitalista consegue, gracas car seus objetivos.
62
a
maquina, alcan-
'
O aperfeicoarnento da maquina a vapor aumen tou
a velocidade
economia
de
de
seus
energia,
pistoes
que,
movimenta
com
agora
grande
um
meca
nismo mais volumoso com o mesmo motor, mantendo O
mesmo
consumo
nuindo esse
de
consumo
carvao de
e,
as vezes,
combustivel;
ate
dimi
diminuindo
o
atrito no mecanismo de transmissao, reduzindo o dia metro e o peso dos grandes e pequenos eixos do motor, dos discos de cilindro, e t c . , cada vez mais, alcanca-se . transmitir com muito mais rapidez a acrescida forca de impulsao do motor a toda a rede de mecanismos da operacao. 0 pr6prio mecanismo foi aperfeicoado. As dimensoes da maquina-ferramenta foram
reduzidas,
enquanto sua mobilidade e sua precisao aumentaram, como no
moderno
tear
a vapor;
ou
o
tamanho
e
a
quantidade de ferramentas crescem com as dimensoes da maquina, como e o caso da maquina de fiar.
En
fim, esses instrumentos sofrem incessantes modifica coes de detalhes,
como aquelas
que
ha
mais
de um
seculo atras, na decada de 1850, conseguiram aumen tar em fiar.
1/5 a velocidade dos
fusos
das
maquinas
de
10
Ja em 1836, declarava um industrial ingles: "O
trabalho
que
hoje
se
executa
nas
Iabricas
aumentou muito, comparado com o de antigamente, em virtude da maior atencao e atividade exigidas do trabalhador devido ao grande aumento da velocidade das maquinas."
(10)
0 Capital, p. 470.
63
E,
em
"O
1844,
trabalho
ouviu-se nas
maior do que antes,
na
Camara
fabricas
de
dos
e
hoje
Comuns: tres
vezes
quando se iniciou este genero de
operacoes. Sem diivida, a maquina tern realizado tare fas que exigiriam a forca de milhoes de homens, mas multiplicou
assustadoramente
o
trabalho
daqueles
que sao governados pelos seus terriveis movimentos." Na fabrlca, a virtuosidade
ao trabalhar com uma
ferramenta passa do operario para a maquina: a efica cia da ferramenta nao depende mais do trabalhador e sim da maquina.
A classificacao
fundamental
se
da
entre os trabalhadores que estao diretamente ocupa dos
com
os
instrumentos
trabalhadores
da
encarregados
maquina de
(inclusive
abastece-la
com
combustive! necessario) e seus manobristas ( que quase
exclusivamente
criancas).
Entre
esses
os o
sao
mano
bristas estao aqueles que alimentam a maquina com a materia-prima a ser trabalhada. Ao lado dessas duas classes principais,
ha
um
pessoal
que se ocupa com o controle de toda repara continuamente,
como os
nicos, marceneiros, etc. Esta trabalhadores,
uns
e
pouco
numeroso,
a maquinaria e a
engenheiros,
meca
uma classe superior de
possuindo
forrnacao
cientifica,
outros dominando um oficio; estao fora do circulo dos trabalhadores de fabrica,
es tan do apen as re uni dos a
eles. Qualquer crianca aprende com muita facilidade a adaptar os seus movimentos ao movimento continuo e uniforme de uma maquina. A rapidez com a qual uma crianca .aprende a
64
dominar
um
trabalho
mecanico,
suprime radicalmente a necessidade de converter esse trabalho em oficio exclusivo de uma classe particular de trabalhadores.
A especialidade em
manejar eter
namente um unico instrumento, se torna a especiali dade de servir por toda a vida uma maquina parcial. Abusam da maquinaria para fazer do operario, desde a infancia, uma peca de maquina, que e, por sua vez, apenas uma parte de um complexo mecanico. Nao s6 diminuiu consideravelmente o custo para a reprodu �ao desse operario, mas a sua dependencia da Iabrica, portanto do capital, tornou-se absoluta. Na
manufatura e no
usava sua ferramenta; maquina.
La,
artesanato,
na Iabrica,
o
ele
e
trabalhador usado
o movimento da ferramenta era
pela dado
por ele; na Iabrica, ele nao faz outra coisa senao seguir o movimento imposto pela maquina, pelo instrumen tal
de
trabalho.
Na
manufatura,
os
trabalhadore s
eram membros de um organismo vivo; na fabrica, os operarios
sao incorporados a um
mecanismo
morto,
que existe independente deles. A pr6pria facilidade do trabalho torna-se tortura, pois a maquina nao liberta o operario do trabalho, mas sim liquida todo o inte resse que poderia haver no trabalho. de trabalho agora
e
0 instrumental
um automate que se coloca frente
ao operario no processo de trabalho, trabalho morto, de capital,
sob a forma de
que domina e suga a sua
Iorca viva. Na grande industria moderna se completa, final mente, a separacao entre o trabalho manual e o tra balho intelectual da producao, separacao que se trans-
65
forma em poder do capital sobre o trabalho. Ao opera rio, sua habilidade parece ridicula frente aos milagres da ciencia, frente as imensas forcas da natureza, frente a grandeza do trabalho social, na maquina e que
constitui
humano,
o poder
do
incorporado patrao.
Na
cabeca desse capitalista, desse patrao, o seu monopolio sobre as maquinas se confunde com a existencia das maquinas mesmo. Assim, como se ele pr6prio as tivesse parido. E,
como disse Friedrich Engels - e nao vamos
confundi-lo com os escritores burgueses citados neste livro;
Friedrich Engels,
como
estas
suas
palavras
o
demonstram, concordava inteiramente com Marx e foi seu a m i g o - , pois bem, como dizia Engels, o capita lista, ao entrar em conflito com seus operarios, tern a mania
de lhes
atirar
na cara palavras
humilhantes,
comoessas: "Os
operarios
nao
deviam
se
esquecer
de
que
fazem um trabalho inferior e que nao ha outro mais Iacil de se aprender e melhor pago, tendo em vista a sua qualidade; basta um tempo minimo e um aprendizado minimo para adquirir toda habilidade exigida. A nossa maquinaria desempenha um papel muito mais impor tante do que o trabalho e a habilidade
de
trabalho,
formado
por
individuos
de
ambos os sexos e de todas as idades, criam uma ferrea
66
disciplina de caserna, que e a do regime de fabrica. Por isso,
como ja diziamos,
la na fabrica,
supervisao se desenvolve plenamente, trabalhadores em
trabalhadores
o trabalho
de
dividindo-se os
manuais
e
supervi
sores de trabalho, em soldados rasos e em suboficiais do exercito da indiistria. Ure, que ao contrario de Marx e de Engels, s6 via belezas no sistema fabril, escreveu isso: ''A
dificuldade principal na fabrica era encontrar
a disciplina necessaria para que seres humanos renun ciassem a seus habitos
irrregulares
de
trabalho
e se
identificassem com a invariavel regularidade das gran des maquinas.
Inventar esse regulamento disciplinar
adequado as necessidades e a velocidade autornatico e aplica-lo com sucesso foi,
do
sistema
sem
duvida,
uma empresa digna de Hercules." Deixando de lado a divisao dos poderes e o sistema representativo, tao decantados pela burguesia, o capi talista elabora como bem entende toda uma legislacao privada, em que exerce o seu poder autocratico,
dita
torial sobre os seus operarios atraves do regulamento da fabrica. A chibata do feitor de escravos foi substi tuida por um livro de punicoes em que tudo se resolve naturalmente, com multas e descontos no salario,
Oucam estas palavras de Engels: "A escravidao do proletariado a burguesia mostra
a sua verdadeira cara no regulamento da fabrica. A qui, · nao
ha
nenhuma
liberdade,
nem
de
fato,
nem
de
direito . . . As cinco e meia da manha o operario deve estar na fabrica: se chegar dois minutos atrasado,
la
67
vem uma multa; se o atraso e de dez minutos,
nao o
deixam entrar senao depois do almoco e com isso perde uma boa parte do seu salario diario. 0 industrial e o legislador absoluto:
dita os regulamentos como
bem
entende, modifica e amplia seu codigo a seu bel-prazer e,
se
e acometido
do
tribunais respondem
mais extravagante aos
trabalhadores:
arbitrio,
os
se o senhor
aceitou voluntariamente este contrato, deve a ele obe decer . . . E os operarios es tao condenados a viver, dos 9 anos ate
a
morte sob essa tortura espiritual e fisica."
11
Tomemos dois exemplos do que "dizem os tribu nais":
1866,
uma cidade inglesa chamada Sheffield.
Um metahirgico fez la um contrato de dois anos com a fabrica. Por causa de uma divergencia com o patrao, abandonou a fabrica e declarou que, de modo nenhum, trabalharia mais para ele. Acusado de romper o con trato, foi condenado a dois meses de cadeia. (Ora, se fosse o patrao quern violasse o contrato teria apenas que se apresentar ao tribunal civil, expondo-se apenas ao
risco
de
pagar
uma
pequena
multa.)
Pois
bem.
Decorridos os dois meses de cadeia, o mesmo patrao exigiu que o operario voltasse
a
fabrica, sob as mesmas
bases do antigo contrato. 0 metahirgico se recusou e, alern do mais, ja havia cumprido a pena pela ruptura do contrato. 0 patrao processou-o de novo e a justica voltou a condena-lo. (Um dos juizes denunciou a sen tenca, publicamente,
(11)
68
como monstruosidade juridica,
OCapital, p. 486-487(nota 189).
pelo fato de condenar em periodos sucessivos, repeti damente, o mesmo homem pela mesma ofensa ou pelo mesmo crime.) E vejam
bem,
pronunciada por um tribunal
essa sentenca nao foi
qualquer, mas por uma
das mais altas cortes dejustica, em Londres! Um segundo caso ocorreu em Wiltshire, tambem na lnglaterra, em fins de novembro
de 1863.
Cerca de trinta mulheres trabalhavam num tear a vapor, empregadas por um certo Harrupp, fabricante de toalhas; decidiram fazer uma greve, porter o patrao o agradavel costume de reduzir-lhes,
da forma mais
descarada possivel, o salario por cada atraso matinal. Por dois minutos de atraso, ele descontava
10 cruzei
ros; por tres minutos, 20 cruzeiros. A 200 cruzeiros por hora, as multas chegavam a 2 000 cruzeiros, quando o salario medic semanal nao
ultrapassava os 450
cru
zeiros. Mas esse Harrupp tinha outras veleidades. Para marcar o inicio do trabalho, ele botou um apito na boca de um garoto. 0 garoto,
muitas vezes,
apitava antes
das seis da manha e, depois desse apito, ninguem mais entrava. Quern ficava do lado de fora era multado. As infelizes operarias ficavam
a
merce do jovem guardiao
do tempo, comandado por Harrupp, e a Iabrica conti nuava sem relogio.
As maes
de
familia e mocas em
greve declararam que s6 voltariam ao trabalho, depois que fosse colocado um relogio, substituindo o apito do garoto e quando fosse introduzido um sistema - dia bos! - pelo menos mais racional de multasl Harrupp, revoltado, deu entrada a uma acao judicial contra 19 empregadas, por ruptura de contrato. Elas foram con-
69
denadas
a pagar uma
multa e mais
as
despesas
do
processo, o que provocou a indignacao geral do audi t6rio que acompanhava o julgamento. Harrupp, ao sair do tribunal, foi vaiado estrondosamente pela multidao .
que o seguia. Os operarios
nunca ignoraram
quencias da fabrica e da grande
as
tristes conse
industria,
como de
monstra a acolhida que deram as primeiras maquinas, Pelo seculo XVII, em quase toda a Europa, ocor reram revoltas de trabalhadores contra uma maquina de tecer fitas e galoes, inventada na Alemanha, chama daBandmiihle ouMiihlenstuhl. 0 abade italiano Lan
celotti, num relato de 1636, con ta-nos que "ha cerca de SO anos um certo Anton Muller viu em Dantzig uma
maquina muito engenhosa que fabricava 4 a 6 tecidos, ao mesmo tempo. 0 Conselho da cidade, com receio de que a invencao jogasse a miseria grande quantidade de trabalhadores, proibiu o emprego da invencao e man dou secretamente estrangular ou enforcar o inventor". Em
1629,
essa mesma
maquina
foi
empregada
pela primeira vez em Leida, onde as revoltas dos tece loes forcaram as autoridades municipais a proibi-la. "Ha cerca de vinte anos inventaram nesta cidade um instrumento para tecer, por meio do qual um s6 traba lhador podia fazer, no mesmo tempo que varies tece loes manuais, uma quantidade muito maior de tecidos e de forma muito mais Iacil. Dai surgiram agitacoes e protestos dos teceloes, ate que as autoridades munici pais proibiram o emprego desse instrumento." E o que nos con ta um outro testemunho da epoca.
70
Depois
de
uma
serie
de
editos
mais
ou
menos
proibitivos em 1623, 1639, etc., os Estados Gerais da Holanda permitiram finalmente o emprego desse tear mecanico, sob certas condicoes, com o edito de 15 de dezembro de 1 6 6 1 . A mesma maquina foi proibida em Colonia, 1676,
enquanto
a
sua
introducao
na
em
a
lnglaterra,
mesma epoca, provocava uma serie de rebelioes entre os teceloes. Na Alemanha, um edito imperial, de 19 de fevereiro de 1685, proibia o seu uso em toda a nacao: por ordem das autoridades municipais, em Hamburgo, o invento foi queimado publicamente. Carlos VI reno vou
em 9
de
fevereiro
de
1719
o edito
de
1685
e
a
Saxonia eleitoral s6 autorizou o seu emprego em 1765. A Bandstuhl, que agitou a Europa, foi a precur sora
das
maquinas
de
fiar
e
tecer
e,
portanto,
da
Revolucao Industrial do seculo XVIII. Ela capacitava umjovem sem qualquer experiencia de tecelagem a por em movimento, empurrando e puxando uma biela, um tear inteiro com todas as suas lancadeiras, e que produ zia, em sua forma aperfeicoada, 40 a 50 pecas de uma ,
so vez. Nas primeiras decadas do seculo XVII, um levante popular destruiu uma serraria movida a vento,
cons
truida por um holandes nas proximidades de Londres. Ainda no corneco do seculo XVIII, com muita dificul dade, as maquinas de serrar movidas a agua consegui ram dobrar a resistencia popular protegida pelo Par lamento.
Quando Everet,
em
1758,
construiu
a pri
meira maquina a agua para tosquiar la, esse invento foi
71
jogado
a
fogueira por 100 000 pessoas que ficaram sem
trabalho. Cinqiienta
mil
trabalhadores
que
ganhavam
a
vida cardando a la reivindicaram ao Parlamento o fim das maquinas de cardar,
inventadas
por Arkwright.
(Cardar e o trabalho de desembaracar a la, o canhamo ou qualquer fibra textil com um instrumento especial chamado carda.) A destruicao de numerosas maquinas nos distritos manufatureiros ingleses, durante os pri meiros quinze anos do governo para
as
mais
seculo XIX, reacionarias
deu pretexto medidas
de
ao
vio
lencia. Como voces estao vendo,
foi necessario tempo e
experiencia ate que os operarios aprendessem a distin guir entre a maquina e o emprego capitalista da ma quina, e pudessem, entao, lutar, nao contra os meios materiais de producao, mas contra o seu modo social de 12
exploracao,
E e assim, portanto, que temos que enxergar as conseqiiencias
da maquina
para os trabalhadores.
e
da
industria
Antes de mais nada,
moderna eles sao
enxotados da fabrica em grande rnimero e as maquinas vao
substitui-los.
Os poucos
que
la
permaneceram,
sofreram: a) a humilhacao de se verem espoliados de seu ultimo instrumento de trabalho e de serem redu zidos
a condicao
de escravos da maquina: b) o peso de
umajornada de trabalho extraordinariamente prolon-
(12)
72
0 Capital, p. 490-491.
gada; c) a rernincia
a
mulher e aos filhos,
bem escravos do capital; e, finalmente,
agora tam
d) sofreram o
indescritivel martirio, produto da tortura de um tra balho cada vez mais intensificado pela insaciavel gana do capitalista por mais-valia.
tambern os seus te6logos
Mas o deus capital tern
que
tudo
explicam
e justi
ficam com suas leis eternas. Ao grito desesperado dos
operarios esfomeados pela maquina, pregam a ridicula lei da compensacao. Um bando deeconomistas burgueses, como James Mill, Mac Culloch, Torrens, Senior, J. Stuart Mill, e t c . , etc. de
,juram
seus
que as maquinas, ao afastarem os operarios
postos,
liberam
por
isso
mesmo
um
capital
destinado a empregar de novo, em outras ocupacoes, os mesmos operarios. Vamos ver: Suponhamos
que em uma fabrica de
empregue um capital de Cr$ 6 000 000 , 00 , metade
e
adiantada
em
rnateria-prima
tapetes
se
do qual
(nao
a
vamos
levar em conta aqui, predio, instalacoes, e t c . ) , e a outra metade corresponde ao pagamento de cem operarios, cada um recebendo um salario anual de
Cr$ 30 000,00.
Em um dado momento o capitalista despede 50 ope
rarios, substituindo-os por uma maquina que custou CrS 1 5 00 000 , 00 . Sera que algum capital
e
liberado por essa ope
racao? Vejamos. Originariamente, a soma total de CrS 6 000 000,00 se dividia em um capital constante de CrS 3 000 000,00 e
um
essa
capital soma
variavel
consiste
de
em
CrS 3 000 000 , 00 .
um
capital
Agora,
constante
de
73
CrS 4 500 000 , 00 - sendo
CrS 3 000 000,00 pela ma
teria-prima e CrS 1 5 00 000 , 00 pela rnaquina -, e um capital variavel de CrS 1 5 00 000 , 00 para pagar os SO
operarios, 0 elemento variavel caiu de metade para 1/ 4 do capital total.
Ao contrario de se
ter liberado um
capital de CrS 1 5 00 000 , 00 , este agora esta empregado sob uma forma em que nao pode ser trocado par Iorca de trabalho; constante.
ou seja,
De
agora
de variavel em
diante,
se o
transformou em capital
total
de
CrS 6 000 000 , 00 nao ocupara mais do que SO operarios e cada vez menos,
com os aperfeicoarnentos
da ma
quma. Agora, cao,
para
agradar
OS
te6ricos
suponhamos que o preco
da
da
compensa
maquina seja me
nor que a soma dos salaries acima. 0 capitalista pagou CrS 1 000 000 , 00 par ela, em vez dos CrS 1 5 00 000 , 00 . Em nossos novas calculos, o capital de CrS 1 5 00 000 , 00 ,
.
anteriormente pago em salaries,
se
divide agora assim: CrS 1 000 000 , 00 empregados sob a forma de maquina e CrS 500 000,00 liberados de seu emprego na fabrica de tapetes e que passam a funcio nar coma nova capital. Se o salario permanece o mes mo, ha, portanto, um fundo que poderia ocupar cerca de 16 operarios ( dividindo os 500 mil cruzeiros par 30 mil cruzeiros, que enquanto SO
e
e
o salario anual de cada operario),
o mimero de desempregados. Mas, na
verdade, sao muito menos do que dezesseis os traba lhadores
a
serem
empregados
pelo
nova
capital
-
CrS 500 000,00 -, porque, para que ele se transforme em capital, parte dele deve ser gasto em instrumentos,
74
e
materiais, etc.; em uma palavra, parte dele constante, Mas,
elemento
que nao pode se transformar em salaries. supondo
ainda
nova maquina ocupe
que
grande
a construcao mimero
de
de
uma
mecanicos,
qual seria a compensacao para os tapeceiros atirados rua?
Em
menos
qualquer
caso,
trabalhadores
na
a
nova
sua
maquina
montagem,
mimero de trabalhadores que dispensa, cacao.
Portanto,
a
ocupara
do
que
o
em sua apli
a soma de CrS 1 5 00 000 , 00 que re
presentava apenas os salaries dos trabalhadores des pedidos, passa agora a representar no proprio corpo da maquina:
1 ?)
o valor dos meios de producao necessaries
a
feitura da maquina: 2?)
os
salaries
dos
mecanicos
empregados
em
sua construcao: 3?)
a mais-valia que vai para o bolso do patrao.
Alem disso, depois de pronta, a maquina s6 pre cisa ser renovada depois que se estraga. Par isso, para manter um mimero adicional de mecanicos, sario
que
os
fabricantes,
par exemplo,
e
dessas
neces tape
carias, despecam os seus empregados, um ap6s o ou tro, substituindo-os par maquinas. Mas nao
e
isso 6 que esses doutrinarios da com
pensacao veem.
Para eles,
o importante
tencia dos operarios despedidos. 50
operarios
de
seu
salario
de
e
Privando
a subsis os
nossos
CrS 1 5 00 000 , 00 ,
maquinas os impedem de consumir esses
as .
75
CrS 1 5 00 000,00
em
meios
de
subsistencia,
Eis
um
fato em sua triste realidade! Deixar o operario morrer de fome
significa,
para esses cavalheiros
de barriga
cheia, fazer dos alimentos disponlveis ao operario, um novo fundo Como
de
emprego
voces veem,
exprimir.
Doura-se
tudo a
para
uma
depende
realidade
outra
da com
indiistria.
maneira palavras.
de
se
Ou,
dizendo o mesmo para os que gostam de expressoes latinas:
Nominibus mo/lire licet ma/a.
(13)
76
0 Capital, p. 504.
13
VIII
O salirio
Nada impede de se encobrir os males com pala vras. E outra maneira de se traduzir o proverbio latino do nosso ultimo capitulo. Salario tambem e uma pala vra e nos vamos procurar entende-la no seu verdadeiro significado, dentro do modo de producao capitalista. Os defensores desse modo de producao dizem que o salario e o pagamento do trabalho, e a mais-valia e produto do capital. Mas o que querem eles dizer com esse pagamento do
trabalho,
ou,
em
outros
termos,
com
valor
do
trabalho? O trabalho, ou se encontra ainda no trabalhador, ou ja existe materializado. 0 que quero dizer e que o trabalho, ou e a Iorca, a capacidade de fazer alguma coisa, ou e a coisa mesma ja feita.
Em suma,
o tra
balho, ou e a forca de trabalho ou e a mercadoria. 0 operario nao pode vender o trabalho ja saido dele, ja produzido pelo seu organismo, a mercadoria, porque esta pertence ao capitalista e nao a ele.
Porque,
pu
desse o trabalhador vender o trabalho ja saido dele, a
77
mercadoria que ele produz, teria que ter os meios de trabalho e o material de trabalho, e seria, entao, mer cador da mercadoria por ele produzida. Mas ele nao possui nada, precisa
vender
resta, que forca
e
de
e
um proletario, ao
capitalista
que, o
para
unico
sobreviver,
bem
que
lhe
a sua potencia ou forca para trabalhar, a
trabalho.
0
capitalista
nao
pode
comprar
dele mais do que a forca de trabalho, que, como todas as outras mercadorias, tern um valor de uso e um valor de troca.
0 capitalista paga
propriamente dito, que
e
ao
trabalhador o valor
o valor de troca, pela merca
doria que este lhe vende. Mas a forca de trabalho tern tarnbem um valor de uso e este pertence ao capitalista, pois ele a comprou. Ora, o valor de uso dessa merca doria tao singular tern dupla qualidade. Uma
e
aquela
que ela tern em comum com o valor de uso de todas as outras mercadorias: a de satisfazer uma determinada necessidade; ela pertence,
a segunda, que
e
e
a de
qualidade
criar valor,
que e
e
somente
a
isso
a
que
distingue de todas as outras mercadorias. Respondendo, agora,
aqueles defensores do mo
do de producao capitalista, dizemos que o salario nao pode representar outra coisa que nao seja o preco da forca de trabalho. E a mais-valia nao pode
ser
de
produto do capital, porque o capital
e
modo
nenhum
materia morta;
a quantidade de valor que o capital poe na mercadoria permanece sempre a mesma. E rnateria que nao tern vida nenhuma e que,
por si s6,
sem
a Iorca
do
tra
balho, jamais existiria. E a Iorca de trabalho, somente
78
ela, que produz mais-valia.
E
ela quern traz o primeiro
germe de vida ao capital. E e ela que sustenta toda a vida do capital. senao
sugar,
finalmente,
Este,
depois
sempre
de
inicio,
nao
absorver por forte,
extrair
faz outra coisa
todos
os
mais-valia
poros do
e,
tra
balho. As duas principais formas de salario sao: salario por tempo e salario por peca, por producao, por em preitada, etc. O salario por tempo e aquele que e pago por um determinado tempo: uma hora, um dia, uma semana ou um mes, etc.,
de trabalho. 0 salario nada mais e
do que uma forma transformada do preco da forca de trabalho.
Em lugar de dizer:
o operario vendeu
sua
Iorca de trabalho de um dia por CrS 100,00, diz-se: o operario foi trabalhar por um
salario
de
CrS 100,00
por dia. O salario
de CrS 100,00 por
dia e,
portanto,
o
preco da forca de trabalho por uma jornada. Mas essa jornada pode ser mais ou menos longa. horas,
por
exemplo,
a
Iorca
de
Se e de
trabalho
e
dez
paga
a
CrS 10,00 por hora, ao passo que, s e e de doze horas, a Iorca de trabalho e paga a 8 cruzeiros e poucos cen tavos por hora. Logo, ao prolongar a jornada de tra balho, preco
o
capitalista
esta
pagando
ao
operario
um
menor por sua Iorca de trabalho. 0 capitalista
pode ate aumentar o salario e mesmo assim continuar pagando mesmo
ao operario,
preco
de
por
antes,
e
sua
Iorca
ate
menos.
patrao aurnenta o salario do operario
de
trabalho,
Como? de
Se
o o
CrS 100,00
79
por dia para CrS 120,00 e, ao mesmo tempo, prolonga a jornada de 10 para 12 horas,
ele,
ainda que tenha
aumentado o salario diario em CrS 20,00 continuara pagando os mesmos CrS 10,00 ao operario, pela hora de sua forca de trabalho.
Se o capitalista rnantem o
mesmo aumento - de CrS 100,00 para CrS 120,00 mas, ao mesmo tempo, prolonga a jornada de 10 para 15 horas, embora aumentando o salario diario, pagara ao
operario
antes,
pela
sua
forca
de
trabalho
CrS 6 , 60 em vez dos CrS
ou seja,
menos
que
10,00 ante
riores. 0 mesmo resultado o capitalista obtem quan do,
em
lugar
de
prolongar
a jornada
de
trabalho,
aumenta a intensidade deste trabalho, que e o que ele faz
ao
utilizar-se
suma,
de
o capitalista,
honestamente
ao
maquinas,
como ja vimos.
aumentando
operario.
o
E pode
trabalho, faze-lo
Em
rouba
ate
ban
cando o generoso, aumentando o salario diario de seus '
.
operanos.
Quando o capitalista paga o operario por hora, tambern ai encontra um modo de lhe passar a perna, aumentando ou diminuindo o trabalho,
mas sempre
pagando honestamente o mesmo preco por cada hora de trabalho. Digamos que CrS 10,00 seja o salario de uma hora de trabalho. Se o capitalista faz o operario trabalhar 8 horas, em vez de 12, ele pagara CrS 80,00 e
nao
CrS 120,00.
Com
isso,
o
trabalhador
perde
CrS 40,00, que corresponde a um terco de suas neces sidades diarias.
Se,
ao contrario,
o capitalista faz
o
operario trabalhar por 14 ou 16 horas, em vez de 12, mesmo pagando CrS 1 1 , 60 ou CrS 13,30 no lugar dos
80
CrS 1 0 , 00 , tira do operario 2 ou 4 horas por um preco menor do que valem, pois
de trabalho
e
claro
que,
depois de 12 horas de trabalho, a Iorca do operario ja sofreu um grande desgaste, e as outras 2 ou 4 horas a mais de trabalho lhe custam meiras horas.
Esta
mais do que as
argumentacao
operarios foi aceita,
de fato,
em
12 pri
apresentada
diversas
pelos
indiistrias,
onde se pagam as horas extras por um preco maior do que o estabelecido para a chamada hora normal. Uma lei do modo de producao capitalista: quanto menor
e
o preco da forca de trabalho por tempo (hora,
dia, mes, etc.), representado no salario, tanto maior a duracao do tempo de trabalho. salario
e
e
E isto
claro.
e
Se o
de CrS 10,00 por hora, em vez de CrS 1 2 , 00 , o
operario tern que fazer uma jornada de 12 horas - e nao de 10, para conseguir os CrS 120,00 diariamente necessaries para a sua sobrevivencia, salario
diario
trabalhar
e
tres
de
CrS 80,00,
dias,
para
satisfazer
as
dias.
E o outro dia,
se
o
o trabalhador precisa
tres jornadas,
suas
Portanto,
em
necessidades
para onde vai?
vez
de
de
duas,
apenas
dois
Nos ja sabemos:
para a vida do capital, cada vez mais robusto, empan turrando de mais-valia o bolso do capitalista. Assim,
a diminuicao
do salario
faz
aumentar
o
trabalho; mas pode acontecer tarnbem que o aumento de trabalho Iaca diminuir o salario. Com a introducao da maquina, por exemplo, o operario passa a produzir o dobro que antes e o capitalista diminui o mimero de braces. Conseqiientemente, cresce a oferta de forca de trabalho no mercado e os salaries caem.
81
Os outros tipos preitada,
de salario - por peca,
por producao,
etc.,
nao
sao
por em
mais
do
que
modalidades do salario por tempo, que agora aparece transformado em salario por peca, salario por emprei tada,
salario
verdade apenas
que nas
por se
producao,
etc.,
costuma usar
diversas
etc.
Tanto
isso
indiferentemente,
industrias
e
mesmo
ate
e
nao
numa
mesma industria, essas duas formas de salario. Dizer que um operario trabalha 12 horas por dia e recebe um salario de Cr$ 120,00 e produz um valor de Cr$ 240,00, da no mesmo que dizer que o operario produz,
nas primeiras seis horas de seu trabalho,
os
120 cruzeiros do seu salario, e, nas outras seis horas, os Cr$ 120,00 da mais-valia.
0 que equivale
a dizer
que o operario produz, em toda a primeira meia-hora, 1 / 1 2 de seu salario e, em toda a segunda meia-hora, produz 1 / 1 2 da mais-valia. Por isso mesmo, se o ope rario
produz
24
pecas
em
12
horas,
recebendo
por
cada peca um salario de Cr$ 5 , 00 , teriamos os mesmos Cr$ 120,00 que lhe tocam como pagamento. Com to dos esses cruzeiros, eu diria o mesmo se dissesse: o ope rario produziu doze pecas para reproduzir os cento e vinte cruzeiros como seu pagamento e outras doze pe cas para produzir os cento e vinte cruzeiros de mais valia. Enfim, do que o operario produziu, em cada hora de trabalho, uma peca foi para o seu pagamento, e a outra peca foi para o bolso de seu patrao. No salario por peca,
a qualidade
do
trabalho
e
controlada pela propria obra, que deve ter a qualidade media
82
exigida.
Deste
modo,
o
salario
por
peca
se
torna uma fonte inesgotavel de pretextos para se fazer descontos sabre o salario do operario. mesmo
tempo,
ao
capitalista,
intensidade do trabalho. que
conta
mesmo,
como
e pago,
a
E fornece,
medida
ao
exata
da
0 unico tempo de trabalho
socialmente e o tempo
necessario
em
que
e,
por
isso
esse trabalho
se
materializou em uma massa de produtos determinada e estabelecida com a experiencia.
E tao verdade isso
que, nas grandes oficinas de confeccoes em Landres, uma peca, por exemplo, o colete, e chamada de "uma hora",
uma outra peca e chamada de "meia hora",
e t c . , e t c . , e e paga a x Ii bras cada uma; sabe-se pela pratica
quanta
se
produz
em
media
durante
uma
hora. Quando aparece uma nova moda, ocorre sempre uma discussao entre o patrao e o operario, se tal peca equivale
OU
nao
a uma
hora,
ate
que
a experiencia
decide. 0 mesmo se da nas fabricas de m6veis, etc. Se o operario nao possui essa capacidade media de exe cucao, se ele nao consegue um certo mlnimo de pecas durante a jornada, e despedido. Assim sendo, a propria forma de salario assegura a qualidade e a intensidade do trabalho e uma grande parte
do
service
de
entao, desnecessaria, todo o sistema
de
controle
E
e
supervisao
se
torna,
em cima disso que e montado
opressao
e exploracao,
hierarqui
camente constituido. 0 salario por peca facilita,
por
outro lado, a intrornissao de outros parasitas, alem do capitalista. Assim se da, por exemplo, com o chamado trabalho moderno a domicilio, como e o caso do tra balho das costureiras, que costuram "para fora", para
83
as
indiistrias
mas
quern
de
lhes
confeccao.
Elas
recebem
paga e o atravessador.
por
peca,
0 lucro
dos
intermediaries sai da diferenca entre o preco do tra balho, tal qual o capitalista o paga, e a porcao desse preco que eles pagam ao trabalhador. Por outro lado, o
salario
por
peca
permite
ao
capitalista
fazer
um
contrato de tanto por peca com o operario principal, chefe, empreiteiro, etc. Este chefe de grupo de opera rios ou operario principal,
que nas minas e o mine
rador propriamente dito e nas fabricas e o que tern o comando das maquinas, se encarrega, pelo preco esta- · belecido, de ele mesmo encontrar os seus ajudantes e paga-los, A exploracao dos trabalhadores pelo capital se torna, nesse caso,
um meio de exploracao do tra
balhador pelo trabalhador. Estabelecido o salario por peca, soal atica o operario
a empenhar
ao
o interesse pes maximo
a sua
forca, e isto permite ao capitalista elevar facilmente o grau de intensidade do trabalho.
Se bem que se che
gue a esse mesmo resultado tambem por meios artifi ciais,
como
bem
disse
Dunning,
secretario
de
uma
Sociedade de Resistencia. Vejam, ele nos conta como se da, em Londres, esse artificio, essa manha da revo lucao industrial: "O
capitalista
escolhe
para
chefe
de
um
certo
mirnero de operarios um homem de forca fisica supe rior e com mais habilidade no trabalho do que a media dos outros trabalhadores do grupo.
Todos os trimes
tres, ou dentro do periodo combinado, o chefe recebe um 'salario suplementar'
84
sob
a condicao
de
que ele
Iaca todo o possivel para incrementar a concorrencia entre os seus comandados."
14
O operario esta obviamente interessado em pro longar ajornada de trabalho, como meio de aumentar O
Seu salario diario
OU
semanal: as consequencias Sao
as mesmas do salario por tempo,
sem
contar
que
o
prolongamento dajornada, quando o salario por peca permanece constante, implica em si mesmo no rebai xamento do preco do trabalho. O regime
salario
por
capitalista,
pe,;a,
e
um
forma
mais
adequada
dos principais
recursos
sistema de pagar o trabalhador por hora, capitalista
se
empenhe
em
ocupa-lo
ao do
sem que o
regularmente
durante a jornada ou a semana. Nos estabelecimentos submetidos aos Factories Acts (leis sobre as fabricas), que
e
a lei que limitou,
na lnglaterra,
a jornada
de
trabalho a um determinado mimero de horas, o sala rio por peca se tornou regra geral,
pois o capitalista
nao tern outro recurso para aumentar o trabalho dia rio senao apelando para a intensidade. O aumento da producao
e
seguido pela diminui
cao proporcional do salario. Quando o operario pro duzia 12 pecas em 12 horas, o capitalista lhe pagava, por exemplo, um salario de CrS 5 , 00 por peca, Com a producao lugar de
duplicada, o operario produz 24 pecas, em 12,
e o capitalista baixa o salario pela me,
tade, pagando agora apenas CrS 2,50 por peca.
(14)
0 Capital, p. 644.
85
,
Esta variacao
de
salario,
ainda
que
puramente
nominal, provoca uma luta continua entre o patrao e o trabalhador por varies motivos: seja porque o capita lista cria um pretexto para diminuir realmente o preco do trabalho, dade
do
seja porque um
trabalho
aumento
acompanha
um
intensidade, ou porque o operario, que
e
da produtivi
aumento
de
sua
levando a serio o
apenas uma aparencia criada pelo salario por
peca - isto trabalho
e,
que
que esta
eO
seu produto e nao a sua forca de
sendo paga
uma reducao
de
salario,
a
uma reducao
proporcional
-,
qual
se
nao
nos precos
revolta
contra
corresponde de venda
a
das
mercadorias. O capital, justamente com base na natureza do salario, refuta tais reivindicacoes como grosseiramen te erroneas,
Ele as qualifica de usurpacao,
que ten
dem a barrar o progresso da indiistria e conclui, bru talmente,
que a produtividade
do
trabalho
absolutamente nada a v e r com o operario."
(15}
86
0 Capital, p. 645-646.
nao
tern
IX
Acumulacao do capital
Acumular
significa
juntar,
ajuntar,
amontoar,
e
amontoar riquezas, fazer fortuna. Tudo isso so sivel
a
pos
acumulacao do capital se ele se nutrir sempre
mais e mais de mais-valia.
Sem se apropriar do tra
balho alheio, o capital nem existiria. Mas, aqui esta mos comecando um novo capitulo: Quando observamos a formula do capital, preendemos facilmente que a sua conservacao
com
e
toda
baseada em sua sucessiva e continua reproducao. O capital,
como ja sabemos,
partes: constante e variavel,
divide-se
em
duas
0 capital constante,
re
presentado pelos meios de producao e pelo material de trabalho, sofre um continuo desgaste durante o pro cesso de trabalho. Os instrumentos se consomem,
as
maquinas se consomem, o oleo, etc., enfim, o proprio predio se consome.
Ao mesmo tempo, 1torem,
que o
trabalho vai consumindo todo esse capital constante, vai tambem reproduzindo-o na mesma proporcao em que o consome. 0 capital constante encontra-se, pois, reproduzido na mercadoria na mesma proporcao em
7
que foi consumido durante a sua fabricacao. 0 valor consumido prima
e
pelos
meios
de trabalho e pela
materia
sempre exatamente reproduzido no valor da
mercadoria. Do
mesmo
modo
o
capital
variavel,
0
capital
variavel, representado pelo valor da forca de trabalho, isto e, pelo salario,
se reproduz tambem exatamente
no valor da mercadoria.
Tambern ja sabemos
que
o
operario, na primeira parte de seu trabalho, produz o seu salario, e, na segunda, a mais-valia. Como o ope rario s6 recebe seu salario ao final do trabalho, este s6 lhe
e
pago depois que ele ja reproduziu o equivalente
na mercadoria do capitalista. Os tanto,
salaries
pagos
reproduzidos
proprios
aos
inteira
trabalhadores.
trabalhadores e
Esta
sao,
incessantemente incessante
por pelos
reproducao
do fundo dos salaries perpetua a submissao do traba lhador ao capitalista. Quando o proletario vende a sua forca de trabalho no mercado, ele ocupa o posto que lhe
e
assinalado pelo modo de producao capitalista e,
contribui para a producao social com a parte de tra balho que lhe cabe, retirando para a sua manutencao aquela parte do fundo de salaries, que devera, antes, reproduzir com o seu trabalho.
E sempre, sempre, o eterno vinculo da sujeicao humana, quer seja sob a forma de escravidao, quer seja sob
a forma
de
servidao,
quer seja
sob
a forma
de
salario. Quern ve as coisas superficialmente, pensa que o escravo trabalhava gratuitamente.
88
Ele
nao ve
que
o
escravo devia,
antes
de
mais
nada,
devolver
ao
seu
senhor tudo quanto este gastou para a sua manuten cao.
E,
vejam bem,
muitas vezes
a manutencao
do
escravo era mais cara do que a do assalariado, pois o seu senhor estava altamente interessado em sua con servacao, como estava na conservacao de uma parte de seu proprio capital. 0 servo do sistema feudal, junta mente com a terra, senhor;
para
o
a
qual esta preso, pertence ao seu
mesmo
observador
superficial,
este
servo fez progressos em relacao ao escravo, pois se ve claramente que ele entrega somente uma parte ao seu senhor, enquanto a outra parte de seu trabalho ele o
e
emprega na pouca terra que lhe
determinada para
ganhar o seu sustento. E o assalariado aparece a esse mesmo tipo de observador como um individuo muito mais
evoluido,
em
comparacao
ao
porque o trabalhador lhe parece
servo
da
gleba,
inteiramente
livre,
recebendo o valor do pr6prio trabalho. ·Doce
Se
ilusaol
o trabalhador
pudesse
realizar
por si mesmo o valor do proprio trabalho, se ele nao precisasse vender a sua Iorca de trabalho, o modo de producao capitalista nem poderia existir. mos por que.
0
trabalhador
nao
pode
E ja
sabe
obter
outra
coisa que nao seja o valor de sua forca de trabalho, que
e
bem
a iinica coisa que pode vender, porque que possui
pertence salario, que
ao
isto
no
mundo.
capitalista,
e,
o pedaco
o
0 produto
qual
paga
a sua manutencao, de
terra,
o
tempo
necessaries para trabalha-la,
que
Do e
O
os
do
ao
e
o uni co
trabalho
operario
mesmo
o
modo
instrumentos
senhor deixa por
89
conta do servo,
sao a soma dos
meios
que este
tern
para se manter, enquanto deve trabalhar todo o resto do tempo para o seu senhor. O escravo, o servo e o operario trabalham todos os tres, uma parte para produzir a sua manutencao e outra parte absolutamente para o lucro de seu patrao. Representam,
pois,
tres
formas
diversas
do
mesmo
vinculo de sujeicao e exploracao humana. E sempre a sujeicao do homem privado de qualquer acumulacao primitiva (isto e, dos meios de producao,
que sao os
meios de vida) ao homem que possui uma acumulacao primitiva,
os
meios
de
producao,
a
fonte
da
vida.
A conservacao do capital, a reproducao do capi tal, e, conseqiientemente, no modo de producao capi talista,
a
conservacao
deste
vinculo
de
opressao
e
exploracao humana. Mas o trabalho nao somente reproduz o capital, mas tambem produz mais-valia, de
renda
mente, sua
do
capital.
Quando
que muitos chamam o
capitalista,
anual
acrescenta ao seu capital uma parte ou
renda,
temos
uma
acumulacao
de
capital,
toda que
crescera progressivamente. Com a reproducao simples o trabalho conserva o capital;
com a acumulacao de
mais-valia, o trabalho faz o capital crescer. Quando
essa
capital, parte dela
renda
se
junta,
e empregada
se
funde
com
o
em meios de trabalho,
parte em materia-prima e parte em forca de trabalho.
E agora que o sobretrabalho passado, o trabalho pas sado nao pago, vai fazer crescer o volume do capital. Uma parte do trabalho nao pago do ano passado serve
90
para pagar o trabalho necessario deste ano.
e
E
isso
que faz o sucesso do capitalista, gracas ao engenhoso mecanismo da producao moderna. U ma
vez
aceito
este
sistema
da
moderna
pro
ducao, todo ele baseado na propriedade individual e no salario, nada se encontra a dizer cuja consequencia nao seja derivada da acumulacao capitalista.
0
que
importa ao operario Antonio se ao CrS 100,00 que lhe pagam de salario representam o trabalho nao pago do operario Pedro? 0 que ele tern direito de saber
e
se os
CrS 100,00 sao o justo preco da sua forca de trabalho, quer dizer, se sao o exato equivalente das coisas que lhe sao necessarias em um dia; em uma palavra, se a lei de troca foi rigorosamente observada. Quando o capitalista comeca a acumular capital, '
se desenvolve nele uma nova virtude,
toda sua:
a tal
virtude da abstinencia, que consiste em limitar a pro pria despesa, para empregar uma maior parte de sua renda na acumulacao. A vontade do capitalista e a sua consciencia refle tem
as
necessidades
do
capital
que
ele
representa;
a ssi m, o capitalista ve no seu proprio consumo pessoal uma especie de fu rto , feito
a
ou pelo menos de emprestimo
acumulacao. Ali a s, bas t a olhar em certos livros
de contabilidade as despesas pessoais lancadas contra o ca pita l ,
ao lado das contas a pagar do capitalista.
Acum ular,
s ocia l,
en f im,
ampliar
e
con q uis t ar o mundo
a sua
esfera
de
da riqueza
dominacao
pessoal,
aumentar o rnirnero de siiditos, ou seja, sacrificar-se a
uma ambicao insaciavel.
91
Lutero
mostra
muito
bem,
com
o
exemplo
do
'
usurario ( esse tipo imortal de capitalista fora de moda), que o desejo de dominar
e
o motor do enriqueci
mento: "A simples inteligencia levou os pagaos a consi derarem o usurario como um assassino e quatro vezes ladrao.
Mas
honra,
nos,
cristaos,
o
tratamos
com
toda
a
quase o adoramos por causa de seu dinheiro.
e
Quern extrai, rouba e furta o alimento de outro homicida
moral,
como
o
que
fome ou a arruina totalmente. E
mata
eo
uma
um
pessoa
de
'
que faz o usurario.
Entretanto, senta-se tranquilamente em sua cadeira, quando
deveria
estar,
devorado por tantos zeiros
por
grande
ele
justamente,
urubus
roubados,
quantidade
na
quantos
se
tivesse
de urubus.
Mas
forca,
sendo
fossem os carne
cru
para
hoje em
tao
dia
s6
prendemos e enforcamos pequenos ladroes . . . enquan to isso, os grandes ladroes vao se pavoneando em ouro e seda . . . Depois do diabo, o maior inimigo do homem na terra
e
o avarento,
dominando sores,
os
todos
hereges
os
e
o usurario, pois quer ser Deus
homens.
turcos,
os
Os
soldados,
ditadores
sao
os
inva
tambem
homens maus, todavia, tern de deixar os outros vive rem e confessam que sao maus e inimigos. Podem, as vezes
sao
obrigados
a
se
apiedarem
de
e
algumas
pessoas. Mas o usurario, com sua avareza, quer que o · mundo se mate e morra, de fome e de sede, de luto e de miseria:
ele mesmo o faria,
se pudesse,
para que
tudo fosse dele, assim todos se curvariam diante dele, como seus eternos escravos. Ostenta elegancia e apa-
92
renta uma limpeza impecavel para ser vista lado como um homem honrado e bondoso... usurario
e
um monstro enorme e devorador,
e bada Mas
o
pior do
que Satanas, Ja que prendemos e matamos um ladrao de rua, os assassinos e os assaltantes, do mesmo modo deveriamos prender, matar e decapitar todos os usu rarios, "
16
Eis ai, de Lutero,
reformador religioso,
um dis
curso violento contra os usurarios, Continuemos com a violencia capitalista, propriamente dita: A acumulacao capitalista exige um aumento
de
bracos, 0 rnirnero de trabalhadores deve ser aumen tado quando se quer converter uma parte da renda em capital variavel. capitalista
e
0 organismo mesmo da reproducao
de tal modo que o trabalhador conserva
a sua forca de trabalho na geracao seguinte, da qual o capital arregimenta nova forca de trabalho, para conti nuar o seu incessante processo de reproducao. M a s o trabalho que o capital exige hoje exigia
antes e,
conseqiientemente,
e
superior ao
o seu preco
subir. E aumentariam de fato os salaries, pria acumulacao do capital nao
que deve
se na pro
se encontrasse uma
razao para faze-los baixar.
E
verdade que a renda deve ser convertida, parte
em capital constante e parte em capital variavel;
e,
parte
em
meios
de
trabalho
parte em forca de trabalho, mas
(16)
e
e
isto
materia-prima,
e
preciso considerar a
0Capita/,p.689(nota34).
93
acumulacao
do
capital
com
o
aperfeicoamento
dos
velhos sistemas de producao, com os novos sistemas de producao e a maquina: tudo coisas que fazem aumen tar a producao e diminuir o preco balho,
o
que
ja
sabemos.
da forca
A medida que
de
tra
cresce
a
acumulacao do capital, a sua parte variavel diminui, enquanto
sua parte constante
aumenta.
e,
Isto
au
mentam as Iabricas e instalacoes, a rnaquina com suas materias auxiliares, mas, ao mesmo tempo, e na pro porcao deste aumento, com a acumulacao do capital, diminui a necessidade de mao-de-obra, a necessidade de
forca
de
trabalho.
Diminuindo
a necessidade
de
rnao-de-obra, diminui a procura e finalmente diminui o preco. Nestes termos, portanto, quanto mais progride a acumulacao
do
capital,
mais
os
salaries
sao
rebai
xados. A acumulacao coes
atraves
da
do capital ganha vastas
concorrencia
e
O credito leva espontaneamente de capitais, ou cada um
a fusiio
A
atraves
a fusao
do
propor credito.
de uma massa
de um capital mais forte do que
concorrencia,
ao
contrario,
guerra que todos os capitais fazem entre si,
e
e
a
a sua
luta pela existencia, da qual os mais fortes saem muito mais fortes do que antes. A acumulacao do capital inutiliza, portanto, um grande mimero de braces, isto
e,
cria um excedente de
trabalhadores. Mas
se
a
acumulacao
produz
necessariamente
uma superpopulacao operaria, esta se torna, por sua
94
vez,
a
alavanca
mais
potente
da
acumulacao,
uma
condicao de existencia da producao capitalista,
inte
grada na sua lei de desenvolvimento. populacional operario forma um
Esse excedente
exercito de reserva
industrial, que pertence ao capital, assim de um modo absoluto, como se fosse seu gado, por ele alimentado e disciplinado. Essa populacao excedente fornece a ma teria humana sempre exploravel e disponivel
para
a
fabricacao de mais-valia. E somente sob o regime da grande industria que a producao de um superfluo da populacao se torna uma mola regular da producao de •
17
nqueza. Este exercito de reserva industrial, esta superpo pulacao operaria se divide em diversas categorias. primeira
delas
e
melhor
paga,
sofre
menos
A
com
o
desemprego e ainda executa um trabalho menos pe noso; a ultima dessas categorias, ao contrario, posta
de trabalhadores
que
contram uma ocupacao,
s6
que
e
e
com
esporadicamente sempre um
en
trabalho
pesado e vii, pago pelo mais baixo preco a que possa chegar o trabalho humano. Esta ultima categoria
e
a mais numerosa, nao s6
pelo grande contingente criado anualmente pelo pro gresso
industrial,
mas
sobretudo porque ela
e
com
posta de gente mais prolifera, com maior rnimero
de
filhos, como os proprios fatos comprovam. "A pobreza parece favorecer
(17)
a
procriacao",
es-
0 Capital, p. 733- 734.
95
eveu
Adam
Smith.
E,
segundo
espirito galante e perspicaz, sicao
da
tencas:
providencia
"Deus
o
e
esta
abade
uma sabia dispo
divina.
Eis
que os
homens
dispos
Galiani,
uma
de
suas
que
sen
fazem
os
trabalhos mais uteis nascessem em abundancia". Com dados estatisticos
a
mao, Laing demonstrou
que "a miseria, no seu grau mais extrema de fame e epidemia,
em
crescimento todos
os
modas,
vez
da
seres
de
frear,
aumenta
mais
acrescentando
populacao",
humanos
ainda
vivessem
em
o
que
"se
condicoes
co
o mundo em pouco tempo estaria despovoa
do". Abaixo dessa categoria de trabalhadores circuns tanciais, resta o ultimo residua desse exercito indus trial
de
reserva
e
que
vive
no
inferno
da
pobreza.
Pando de lado os vagabundos, os criminosos, as pros titutas, mada
enfim,
social
preende
os
o rebotalho do
tern
tres
operarios
proletariado,
categorias. capazes
de
A
essa
primeira
trabalhar.
ca
com
0
seu
mirnero aumenta em todas as crises e diminui quando os
negocios
se
reanimam.
Basta,
olhar as estatisticas referentes
a
os 6rfaos e os filhos dos pobres, tencia publica.
Eles
tambern
para
comprovar,
pobreza. A segunda, que vivem da assis
sao
candidatos
da
re
serva industrial e, nas epocas de grande prosperidade, en tram em massa no service ativo. A terceira categoria pertence aos miseraveis; antes de tudo, o operario e a operaria jogados ao esgoto do desenvolvimento social, por sua incapacidade de adaptacao
a
nova divisao do
trabalho; ha ainda os que, desgracados, passaram da
96
idade normal do assalariado; e, finalmente, as vitimas diretas
da
indiistria:
os
tropiados,
as viuvas,
etc.,
ta
com
as
maquinas
aleijados, etc.,
os
cujo
perigosas,
com
doentes,
os
es
mimero aumen as
minas,
com
as indiistrias quimicas, etc. A miseria
e
o asilo dos invalidos do exercito ativo
dos trabalhadores e peso morto do exercito industrial de
reserva.
quela
A
sua
do. exercito
necessidade
producao de
deste.
esta
reserva,
a
compreendida
sua
na
necessidade
A pobreza forma com
na
a superpo
pulacao uma condicao de existencia da riqueza capi talista. Compreende-se,
portanto,
toda
a
estupidez
da
sabedoria economica que nao para de pregar aos tra balhadores gente,
a
a
sua
necessidade populacao,
de
as
adaptar
o
seu
necessidades
do
contin capital,
como se o mecanismo do capital nao realizasse conti nuamente esse desejado ajustamento. lavra
desse
ajustamento
e:
criacao
A primeira pa de
exercito
um
industrial de reserva; e a iiltima: miseria nas camadas sempre crescentes do exercito ativo dos trabalhadores, peso morto da po b re z a . A
lei
na
uma massa mobiliza
a
sempre
capitalista,
crescente
progressivamente
menor de maior
sociedade
Iorca
de
uma
trabalho,
produtividade
do
de
segundo
meios
de
dizer
trabalho,
qual
producao
quantidade
quer
a
sempre
que
tanto
quanto
maior
a
pressao dos trabalhadores sobre os seus empregos e, portanto,
tanto
mais
precaria sua condicao
de
exis
tencia, ou seja, as condicoes para a venda da propria
97
forca para aumentar a riqueza alheia ou a expansao do capital. A analise da mais-valia relativa levou-nos a este resultado: todos os metodos para multiplicar a produ tividade do trabalhador coletivo sao aplicados as cus tas
do
trabalhador
individual;
todos
os
meios
desenvolver a producao se transformaram de dominar e explorar o produtor, fragmento de ser humano, peca
de
maquina.
meios
que se torna um
um mutilado,
Esse modo
em
para
uma
mera
de producao opoe
trabalhador as forcas cientificas da producao,
ao
como
uma das tantas forcas inimigas; a atratividade do tra balho
e
substituida
pelo
tormento
do
trabalho;
as
condicoes de trabalho sao desfiguradas e o trabalha dor ve todas as horas de sua vida transformadas em horas de trabalho e sua mulher e seus filhos sao Ian 18
cados ao rolo compres sor do capital. Mas todos os metodos que ajudam a producao de mais-valia favorecem igualmente a acumulacao e todo aumento
na
acumulacao
torna-se,
reciprocamente,
meio de desenvolver aqueles metodos, o que quer dizer que,
qualquer que seja o nivel
dos
salaries,
alto
ou
baixo, a condicao do trabalhador deve piorar, n a m e dida em que o capital se acumula. A lei que mantem a superpopulacao relativa ou o exercito industrial
de reserva
no
nivel
adequado
as
necessidades da acumulacao, acorrenta o trabalhador
(18)
98
OCapital, p. 746-747.
ao capital mais firmemente do que as cadeias com que Vulcano acorrentou Prometeu ao Caucaso, E esta a lei que estabelece uma correlacao
fatal entre
lacao do capital e a acumulacao modo
que
a
acumulacao
significa acumulacao ignorancia,
de
da miseria.
riqueza
de pobreza,
de embrutecimento,
a acumu
de
de
em
De
um
tal
polo,"
sofrimento,
degradacao
de
mo
ral, de escravidao no polo oposto, onde se encontra a classe que produz o proprio capital. No seculo XVIII,�,O. Ortes, um monge veneziano, um economista notavel de sua epoca,
via no antago
nismo da producao capitalista uma lei natural e geral .da riqueza social: "Numa nacao, mantem-se
sempre
os em
hens
e
os
males
economicos
equilibrio:
a
hens para uns corresponde sempre
a
outros.
significa privacao
Grande riqueza para uns,
abundancia
de
falta deles para
absoluta do necessario para muitos outros. A riqueza de uma nacao esta em correspondencia com sua popu lacao,
e
sua
miseria
em
correspondencia
a
riqueza. 0 trabalho de uns leva outros Os pobres e os ociosos
com
sua
ociosidade.
sao conseqiiencia
necessaria
dos ricos e dos trabalhadores." Ao ficou
contrario
imaginando
desse
monge
projetos
inteligente,
imiteis
para
a
que
nao
felicidade
dos povos, e que se deu ao trabalho de investigar as causas
da
infelicidade
Townsend louvava, condicao
necessaria
em
que
vivem,
grosseiramente, para
a
o
reverendo
a pobreza como
riqueza.
Vejam
a
sua
piada:
99
"A obrigacao legal do trabalho exige grande dose de
aborrecimentos,
violencia e barulho,
enquanto
a
fome e uma pressao pacifica, silenciosa e incessante, e que, como o estimulo mais natural para a indiistria e para o trabalho, nos fazem mais esforcados."
Mas o
reverendo continua essa piada
assim:
de
mau
gosto
"Parece uma lei natural que os pobres sejam ate certo ponto precipitados" - tao precipitados que che gam ao mundo sem antes terem garantido um berco de ouro - , "o que proporciona a existencia de indivi duos para os trabalhos
mais
servis,
mais
s6rdidos e
mais ignobeis da comunidade. 0 cabedal da felicidade humana e ampliado, quando os mais delicados ficam livres do trabalho grosseiro e podem realizar sua voca,
c;ao superior sem interrupcoes . . . " E vejam essa chave de onro, essa j6ia de conclusao: "A lei de assistencia aos pobres tende a destruir a harmonia e a beleza,
a
simetria e a ordem desse sistema que Deus e a natu reza criaram no mundo". Bern,
ai esta.
Mas,
no
fundo,
reverendo era protestar contra
as
a
questao
leis
desse
inglesas,
que
davam aos pobres o direito de se socorrerem nas par6.
quias.
"O progresso da riqueza social gera aquela classe util da sociedade . . .
que
realiza
as
tarefas
didas, mais enfadonhas e repugnantes,
mais
s6r
em suma,
se
sobrecarrega com tudo o que a vida oferece de desa gradavel e de servil, classes
lazer,
proporcion'ando assim as outras
alegria
espiritual
convencional de carater."
100
e
aquela
dignidade
"Que b o rn ! " , anotou Marx no final dessas pala vras de Storch. E Storch ve na sociedade capitalista, com sua miseria e degradacao das massas, comparada com a barbarie, uma grande vantagem: a segurancal Finalmente, Destutt de Tracy, o fleumatico dou trinador burgues, diz abertamente: "Nas nacoes pobres o povo vive como quer, e, nas nacoes ricas, vive geralmente na pobreza." Vejamos
agora
quais
sao
os
efeitos
da
acumu
lacao do capital. E, mais uma vez, s6 podemos contar uma parte
minima
de
todo
o material
recolhido
na
obra de Marx e que toma os exemplos da lnglaterra, pais por excelencia da acumulacao capitalista,
cami
nho de todas as nacoes modernas. Em 1863, o Conselho Privado mandou fazer um inquerito sobre a situacao da parte mais mal nutrida da classe operaria. 0 doutor Simon foi o medico ofi c i al .
Essas
pesquisas se estenderam , de um lado, aos
trabalhadores seda,
as
pelica,
agricolas,
de
meias,
Ex cluindo - se
teceloes
de
meias,
os
aos
gacao foi
a
de
teceloes
de
trabalhadores
todas
exclusivamente urbanas.
mais
do outro,
teceloes
de
costureiras, aos luveiros que trabalham com
teceloes
teiros.
e,
as
demais
Uma
luvas
e
agricolas
categorias
das normas da
sapa e
os
eram
investi
escolher em cada categoria as familias
sadias e em
situacao
relativamente melhor. 19
O
resultado
(19)
geral
foi o
seguinte:
OCapita/, p. 760-761.
101
"So numa das categorias investigadas dos traba lhadores urbanos, o suprimento de azoto ultrapassou um
pouco
o padrao
minimo
necessario
para
evitar
doencas de subnutricao; em duas categorias observou se carencia no suprimento, tanto de azoto quanto de carbono, familias
e
numa
dos
delas
carencia
trabalhadores
muito
agricolas
grave.
Das
investigadas,
mais de 1/5 tinha alimentacao com teor de carbono . inferior ao
indispensavel;
mais
de
1/3,
alimentacao
com teor de azoto inferior ao indispensavel. condados,
Berkshire,
Oxfordshire
e
Em tres
Somersetshire,
verificou-se carencia de azoto na dieta media local." Entre os trabalhadores agricolas mais mal nutri dos, figuravam os da lnglaterra, a parte mais rica do Reino
Unido. A subnutricao, entre os trabalhadores,
incidia principalmente sobre as mulheres e as criancas, pois "o homem tern de balho".
comer para fazer o seu
Pemiria ainda maior
investigadas
de
trabalhadores
assolava as urbanos.
tra
categorias
"Estao
tao
mal alimentados que tern de haver entre eles muitos casos
de privacoes
cruels e ruinosas para
( consequencia do" espirito de remincia"
a saude"
do capitalis
ta, isto e, sua remincia a pagar a seus trabalhadores o que estes precisam apenas para vegetar).
20
"Todo aquele que esta familiarizado com
nica de indigentes ou dos hospitais pode
com
•
a cli
as enfermarias e clinicas
confirmar
que
sao numerosos os
casos em que a dieta deficiente produz e agrava doen-
(20)
102
OCapital, p. 765.
\
cas . . . Mas, temos de acrescentar a isto um conjunto muito importante de condicoes sanitarias . . . Devemos lembrar que a privacao de alimentos
e dificil
de supor
tar e que em regra uma dieta carente s6 ocorre depois deter havido muitas privacoes anteriores. Muito antes de a insuficiencia alimentar ter importancia do ponto de vista da higiene, muito antes de o fisi6logo pensar em contar os graos de azoto e carbono que marcam a diferenca entre a vida e a morte pela fome, o lar ja tera sido despojado de todo o conforto material. 0 vestua rio e o aquecimento terao se tornado ainda mais escas sos do que
os
alimentos.
Nao
havera mais
contra as inclernencias do tempo, ficado
tao
doencas:
reduzidos
quase
nada
m6veis de casa;
que
os aposentos terao
produzirao
mais
restara
a limpeza se
protecao
ou
dos
agravarao
utensilios
e
tera tornado extrema
mente custosa e dificil. E, se se procura mante-la, por um
sentido
novos
de
dignidade,
tormentos
de fome.
esse
esforco
representara
0 lar tera de
se
instalar
onde o teto for mais barato, em bairros onde a fiscali zacao sanitaria
e
menos eficaz,
ciencia de esgotos, onde
a
agua
e
de
limpeza,
escassa
e
da
onde ha maior maiores
pior
defi
imundicies,
qualidade,
cidades onde ha maior carencia de luz e de estes os perigos sanitaries a que se expoe
e
nas
ar.
Sao
inevitavel
mente a pobreza quando esta se acompanha
da min
gua de alimentos. Se a soma
tremendo fardo
alimentos
e
para a vida,
a simples falta
em si mesma horrenda . . .
de
Estas reflexoes
sao dolorosas, principalmente quando verificamos que
103
a pobreza de que se trata nao e a pobreza merecida dos
ociosos.
E
trabalhadores!
Alem
disso, com relacao aos trabalhadores urbanos,
o tra
balho com
que
a
pobreza
compram
dos
sua escassa
alimentacao
e
em regra excessivamente prolongado. S6 num sentido muito
limitado
pode-se
supor
que
esse
trabalho
de
para viver. . . Vista numa escala bem ampla, esse sus tento nominal pelo trabalho nao passa de um rodeio mais ou menos curto para se cair na pobreza." Qualquer
observador
desinteressado
ve
que
quanta maior a concentracao dos meios de producao, mais os trabalhadores
se
aglomeram
em
um
espaco
restrito; mais rapida a acumulacao, mais miseraveis se tornam a habitacao dos operarios. E evidente que os melhoramentos e o embelezamento da cidade, conse qiiencia do crescimento da riqueza, coma a dernolicao dos
quarteiroes
luxuosos mento
mal
predios
das
ruas
construidos,
para bancos,
a
lojas,
para o trafego
construcao etc.,
comercial
o e
de
alarga para
os
veiculos de luxo, o estabelecimento de linhas de trans portes coletivos,
desalojam os pobres,
expulsando-os
para os recantos cada vez piores e mais abarrotados de gente. Aqui
uma
observacao
geral
do
doutor
Simon:
"Embora oficialmente fale apenas coma medico, o sentimento elementar de humanidade nao me per mite
ignorar o
outro
lado
do
problema.
Quando
o
abarrotamento das habitacoes ultrapassa certos limi tes, determina quase necessariamente uma eliminacao de
104
todas
as
delicadezas,
uma
confusao
imunda
de
corpos e de funcoes fisiol6gicas, uma crua nudez ani mal
e sexual,
Ficar
sujeito
que
nao
a essas
uma intensidade
sao
humanas,
e
influencias
tanto
mais
mas
bestiais.
degradar-se,
profunda
com
quanto
mais
elas continuarem atuando. As criancas, nascidas sob essa maldicao, recebem o batismo da infamia, E ultra passa as raias da esperanca o desejo de ver pessoas, colocadas nessas circunstancias, atmosfera
de
civilizacao
cuja
lutarem
essencia
por
e
a
aquela
limpeza
fisica e moral." Os ciganos, crutados grande
no
os nomades do proletariado sao re
campo,
parte
mas
industriais.
as
suas
ocupacoes
sao
em
E a "infantaria ligeira
do
capital", como diz Marx, jogada, segundo as necessi dades do momento, ora aqui, ora ali.
Em geral,
tra
balham nas construcoes , na limpeza de terrenos, nas olarias, etc .
C
nas
oluna
camin h o
sao
ceramicas,
m6vel
da
nas
construcoes
pestilencia,
os
de estradas,
rastros
de
seu
a variola, o tifo, a c6lera, a si f ilis, a febre
escarlatina, e t c . , etc. Q
uando a em p resa envolve um gasto enorme de
ca p ital, como nas etc.,
o
exercito
p
r6prio
a
patrao
habitacao,
es p eluncas , ou v
construcoes
e
ou
quern seja,
construcoes
fornece
barracos
se m el h antes,
erdadeiras aldeias improvisadas,
tario
nen h um, sem controle de
mas
altamente
f
de estradas ,
orma,
rendosas
p
ara
q
Ch
errovias,
para de
o
seu
madeira,
que formam
sem cuidado
sani
ualquer autoridade ,
o
patrao
e xp lora duas vezes o trabal h ador :
pregado e como inquilino.
f
que,
d
esta
como em
ega - se a pagar dois ,
tres
105
mil cruzeiros de aluguel por um barraco, dependendo de sua localizacao e acornodacoes. Peguemos mais um exemplo do relatorio do doutor Simon: "Em setembro de
1864,
de Fiscalizacao Sanitaria dirigiu ao
Ministro
do
o presidente do Comite
da par6quia
Interior,
de
Sevenoaks
Sir George
Gray,
a
seguinte demincia: Nesta parcquia, ha um ano, mente desconhecida.
a variola era total
Ate que se iniciaram
os
lhos da estrada de ferro Lewisham-Tunbridge.
traba Esco
lheram esta paroquia para o deposito central de todo o empreendimento, cujos trabalhos principais sao reali zados nas vizinhancas desta cidade.
Um grande
nu
mero de pessoas foi empregado. Sendo impossivel alo jar tantas pessoas em casas,
o empreiteiro,
mandou construir barracos destinados
a
Mr.
Jay,
habitacao dos
trabalhadores, em diversos pontos ao longo do tracado da linha ferrea. Esses barracos nao tern ventilacao nem fossa ou
esgoto
e,
alern
disso,
ficaram
abarrotados,
porque cada locatario foi obrigado a compartilhar seu barraco com outras pessoas, por mais numerosa que fosse
sua
propria
familia
e
embora
a
habitacao
so
tivesse dois comodos. Segundo o relatorio medico que recebemos, esses pobres abrigados, disso,
tern
sufocacao,
de
sofrer
todas
as
em consequencia
noites
as
torturas
para se protegerem das emanacoes
da
pesti
lentas das aguas estagnadas e imundas e das latrinas colocadas logo abaixo das janelas. Por fim, chegaram ao nosso Comite queixas formuladas por um medico que teve oportunidade de visitar esses barracos. Falou
106
sobre a situacao deles nos termos mais severos e mani festou o receio das graves consequencias que haveria, se nao fossem tomadas certas providencias sanitarias.
Ha
quase um ano,
o referido Jay comprometeu-se
construir uma casa onde lados
seus
empregados
doenca infecciosa.
seriam que
imediatamente
fossem
acometidos
Repetiu essa promessa no
fim
a
iso de de
julho passado, mas nao deu o menor passo para cum pri-la, embora desde entao tenham ocorrido em seus barracos diversos casos de variola e, em consequencia, duas mortes. A 9 de setembro, o doutor Kelson infor mou-me de novas casos de variola nos mesmos barra cos, descrevendo sua horrivel situacao, Para sua infor macao
(do
Ministro),
devo
acrescentar
que
nossa
paroquia possui uma casa de isolamento,
o lazareto
onde
contraiam
sao
cuidados
doencas infecciosas.
os
paroquianos
que
Ha
muitos meses que o lazareto
esta continuamente superlotado de pacientes.
Numa
unica familia, cinco criancas morreram de variola ou de febre. De 1? de abril a 1? de set embro
desse ano,
ocorreram nada menos que dez obitos por variola, sen do quatro nos referidos barracos, o foco de infeccao. E impossivel
dar o mimero
dos
atacados
por
doencas
infecciosas, pois as familias atingidas procuram man ter o maior
segredo possivel
em
torno
do
assunto."
Vejamos agora os efeitos da crise sobre melhor paga da classe operaria,
a parte
da sua aristocracia.
Um jornalista do Morning Star nos descreve a situa cao em uma das principais localidades atingidas pela crise industrial, de janeiro de 1867:
107
"A oeste de Londres, ha pelo menos 15 000 traba lhadores com suas respectivas familias literalmente
a
mingua, Dentre eles ha mais de 3 000 operarios quali ficados. Suas poupancas estao esgotadas, pois ha seis ou oito
meses
que
estao
desempregados.
Uma
mul
tidao faminta assediava a Casa do Trabalho, a espera do vale do pao. Tive dificuldade para chegar ao portao do asilo.
Nao havia chegado ainda a hora
buicao dos vales. 0 patio do asilo
e
da
distri
um imenso qua
drado com um telheiro que corre em volta dos muros. Ha via pequenos espacos limitados por cercas de vime, como currais de ovelhas,
onde os homens trabalham
quando o tempo esta born. No dia da minha visita, o tempo estava tao ruim que ninguem podia trabalhar neles.
Mas,
assim
pedras debaixo do
mesmo,
alguns
telheiro.
homens britavam
Trabalhavam
cruzeiros ao dia e um vale de pao.
por trinta
Noutra parte
do
patio havia uma casa, onde os homens, para se man terem aquecidos, esfregavam-se ombro a ombro. Des fiavam estopa e competiam para ver qual deles pode ria trabalhar mais com um rninimo de comida, pois a resistencia era para eles ponto de honra. S6 neste asilo eram
acolhidos
7 000
trabalhadores,
entre
os
quais
muitas centenas deles recebiam, ha 6 ou 8 meses, mais
altos
salaries
qualificado.
Se
nao
pagos
neste
houvesse
as
pais
a um
casas
operario
de penhor,
seu mimero seria o dobro. Deixando o asilo, fui de um operario de indiistria
os
a
o
casa
sidenirgica, desemprega
do ha 27 semanas. 0 homem estava sentado com toda a
sua
108
familia
num
pequeno
quarto
aos
fundos.
0
quarto nao estava ainda despojado de todos os m6veis e dentro dele ardia ainda um fogo, para nao enregelar os pes das criancas, pois o frio estava terrivel.
Frente
ao fogo havia uma certa quantidade de estopa
que
a
mulher e as criancas desfiavam para ganhar o pao do asilo.
0 homem britava pedras no asilo, por um vale
de pao
e trinta cruzeiros por -dia.
Com
muita
fome,
dizia com um sorriso amargo, chegando agora para o almoco: alguns pedacos de pao com gordura derretida e uma xicara de cha sem leite . . . A proxima porta onde batemos
foi
aberta
por
uma
senhora
de
meia-idade
que, sem dizer uma palavra, levou-nos a um pequeno quarto nos fundos, lia,
onde estava sentada toda a fami
de olhos pregados num fogo
guindo rapidamente.
Nao desejo ver mais uma
como a que presenciei, desespero,
que estava se extin
aquela
consternacao,
cena
aquele
que transparecia no rosto daquela gente e
dominava o pequeno aposento.
Ha 26 semanas,
disse
a senhora, apontando para seus rapazes, que eles nao conseguem ganhar nada, embora,
e todo o nosso
dinheiro foi
todo o dinheiro que eu e o pai conseguimos
guardar nos melhores tempos, pensando que nos seria util quando parassernos de trabalhar. Vejal, gritou ela selvagemente,
mostrando
sua
caderneta
bancar ia
e,
assim, pudemos ver como a pequena fortuna crescera do
primeiro
deposito
de
100
cruzeiros ate
atingir
50
mil cruzeiros e depois comecou a cair, tostao a tostao, ate
que
aquela
caderneta
como um pedaco
de
papel
ficasse em
sem
branco.
valor
algum,
Essa
familia
recebia diariamente uma escassa refeicao do asilo . . . A
109
a
outra visita nos levou lhava
nos
estaleiros
casa de um irlandes que traba
navais.
A
sua
mulher
estava
doente por inanicao, estendida com suas roupas sobre um colchao, pobremente coberta corn um pedaco de tapete, pois toda a roupa de cama tinha sido penho rada.
Suas
criancas
em
estado
miseravel
cuidavam
dela e precisavam elas mesmas do cuidado materno. Contou-nos a hist6ria do seu passado
miseravel,
ge
mendo como se tivesse perdido todas as esperancas . . . Dezenove semanas
de ociosidade forcada haviam re
duzido a familia a esse estado de extrema necessidade. Chamado a outra casa, vi uma senhora e duas lindas criancas,
um
punhado
quarto frio e vazio;
de
cautelas
era tudo o que
de penhor e
um
tinha para mos
trar." Entre os capitalistas ingleses era moda apresentar a Belgica como o paraiso do trabalhador, pois la nao ha via limitacoes o mesmo,
a
a
"liberdade do trabalho" ou, o que
"liberdade do capital".
o despotismo
ignominioso
dos
La
nao havia nem
sindicatos,
nem
grupo opressivo de comissarios de fabrica. algumas
palavrinhas
sobre
a
e
"felicidade"
esse
Vamos do
a
traba
lhador belga. Nao ha ninguem, por certo, mais fami liarizado com os misterios dessa felicidade que o f ale cido Ducpetiaux, pronunciem como quiserem, o nome desse
inspetor-geral
das
prisoes
belgas
e
das
insti
tuicoes de beneficencia e membro da Comissao Cen tral
da estatistica
belga.
Abramos
a sua
obra
"Ba
lanco econornico da classe operaria na Belgica", blicada em
110
Bruxelas,
em
1855.
Entre
outras
pu
coisas,
encontramos ai uma familia
operaria belga normar,
cujas receitas e despesas estao calculadas na base de dados
exatos
e
cujas
condicoes
de
alimentacao
sao
comparadas com as dos soldados, marinheiros e peni tenciarios, A familia e constituida de pai, mae e qua tro filhos; dessa familia,
quatro podem trabalhar co
ma assalariados durante o ano inteiro. Imagina-se que nao ha doentes e incapazes, nem poupancas em ban cos ou em caixas de aposentadoria. Nenhuma despesa superflua,
nenhum
luxo.
Apenas
uma
contribuicao
para o culto. 0 pai e o filho mais velho fumam e aos domingos vao ate o boteco,
gastando sernanalmente
nessas
de
distracoes
um
total
CrS 200,00.
Toda
a
receita da familia, exatamente calculada, chega anual mente a CrS 106 800,00.
Eis
o balance
anual
da fa
milia:
o pai, 300 dias a
CrS 1 5 6 , 00 . .
CrS
46 800,00
a mae, 300 dias a
CrS
89,00 . .
CrS
26 700,00
o filho, 300 dias a
CrS
5 6 , 00 . .
CrS
16 800,00
a filha, 300 dias a CrS
55,00 . .
CrS
16 500,00
Total anual
CrS 106 800,00
Na hipotese de que o operario tivesse a alimen tacao:
do
marinheiro,
a CrS 182 800,00
teria
CrS 76 000,00
de deficit;
111
do
soldado,
a CrS 147 300,00 teria CrS 40500,00
de
deficit; do prisioneiro, a CrS 1 1 1 200,00 teria CrS 4 400,00 de deficit.
Voltemos a Londres, foi feita,
em
1863,
dos condenados,
onde uma pesquisa oficial
sobre a alimentacao e o trabalho
seja a deportacao,
seja ao trabalho
forcado. Ei-la:
a
"Uma comparacao cuidadosa entre
dieta
dos
condenados as prisoes na Inglaterra, de um lado, e a dieta dos pobres nos asilos e dos trabalhadores agri colas livres, do outro, mostra, sem sombra de duvida, que
os primeiros
sao
muito
melhor
alimentados
do
que qualquer elemento das duas outras categorias . . . Alem disso, a quantidade de trabalho exigida de um condenado a trabalhos forcados e quase
a
rnetade da
que executa ordinariamente o trabalhador agricola." Um inquerito
sobre
a saiide piiblica,
em
por ocasiao de uma epidemia numa area rural,
1865, cita,
entre outros, o seguinte fato: " Um menino doente de febre dormia a noite
no
mesmo quarto com seu pai, mais um filho ilegitimo, mais dois irrnaos, mais duas irmas, cada uma com um bastardo,
ao todo
10 p essoas.
Ha
algumas
semanas
eram 1 3 que dormiam no mesmo a p osento. " Pelas proporcoes
deste
manual,
nao
·
poderemos
transcrever, com os detalhes e a precisao de Marx, situacao rural.
112
miseravel
Mas
em
que
encerraremos
foi jogado este
a
o trabalhador
capitulo,
falando
de
uma calamidade toda especial entre os trabalhadores agricolas
ingleses,
provocada
pela
acumulacao
do
capital. O excedente
da populacao rural leva
ao
rebai
xamento dos salaries, em certas epocas do ano, quan do os trabalhos na agricultura tern de ser realizados em
determinado
colheita,
tempo,
exige-se
necessidades satisfeit .....
do
com
um
por
exemplo,
mimero
capital
nao
a populacao
maior sao
na de
epoca
da
braces:
as
quantitativamente
agricola.
Conseqiiente
mente, recorre-se a um grande mimero de mulheres e criancas para suprir essa necessidade momentanea do capital; cumprida essa funcao, essa gente vai aumen tar a superpopulacao rural. Este fato produziu entre os trabalhadores rurais ingleses o sistema de bandos ambulantes, os volantes. Um grupo de volantes
e
formado de 10 a 40 ou 50
pessoas, mulheres, jovens de ambos os sexos entre 13 e 18 anos, embora os rapazes de 13 anos sejam em geral excluidos,
e finalmente
entre
13
6
agricola
e
anos.
comum,
0
criancas seu
chefe
geralmente
de
e
ambos
os
sexos
um
trabalhador
velhaco,
debochado,
boernio, bebedo, mas com certo espirito de iniciativa e muito esperto. 0 grupo que ele recruta trabalha sob suas ordens e nao sob as do arrendatario, com quern acerta o trabalho por empreitada. 0 seu ganho nao
e
muito maior do que um trabalhador agricola com um e depende
de
sua
habilidade
para
fazer
o
seu
bando
realizar a tarefa contratada, no menor tempo possivel. Os arrendatarios descobriram que as rnulheres s6 tra-
113
balham com regularidade sob a ditadura masculina, e que
elas
e
as
criancas,
uma
empregam impetuosamente
vez
suas
iniciada forcas,
a
tarefa,
enquanto o
homem adulto, malandramente, procura poupar-se o maxima possivel no trabalho. O chefe do grupo vai de uma fazenda para outra, ocupando seus elementos durante 6 a 8 meses por ano. Por isso,
e
muito mais rendoso e mais seguro para as
familias dos trabalhadores servir com ele do que tratar seu trabalho
diretamente com o arrendatario, que s6
ocasionalmente emprega criancas, Esta circunstancia lhe da uma influencia tao grande que, em certos po voados,
as criancas,
em regra,
intermedio,
Ele
s6 podem consegue
ser empre
gadas por
seu
um
ganho
adicional,
atravessando as criancas individualmente,
sem a familia, para os arrendatarios, O lado sombrio do sistema de grupos ambulan tes: o trabalho excessivo das criancas e dos jovens, as longas marchas diarias para as fazendas, muitas vezes •
a leguas de distancia e, finalmente, a desmoralizacao do bando. 0 chefe, conhecido em alguns lugares como arreio, s6 excepcionalmente recorre embora a tenha
a
sua
disposicao,
a
violencia, muito
E um
imperador
dernocratico, procurando exercer uma atracao, como o gerente de um circa. Precisa da popularidade entre os seus dependentes e os vida cigana
que
seduz corn
promove.
os
atrativos
Licenciosidade
da
grosseira,
dissolucao alegre e a mais obscena falta de pudor dao asas ao bando.
Em geral,
paga os seus comandados
num bar, e ao sair cambaleante, vai, apoiado de cada
114
a
lado por uma mulher robusta,
frente do bando, e as
criancas e os jovens acompanham-no fazendo a maior algazarra e
entoando
graficas, Nao
e
cantigas
zombeteiras
raro as meninas de 1 3 ,
e
porno
14 anos engra
vidarem de rapazes da mesma idade. Os povoados que fornecem em
os contingentes
do
bando,
transformam-se
Sodomas e Gomorras, e a taxa de
filhos
ilegitimos
e
o
dobro
da
nascimento
observada
em
de
outras
regioes do pais. Alem
de
vemos, ha sicao
e
forma
classica,
tal
coma
ainda os bandos particulares.
a mesma
pessoas, nomo,
sua
nao
mas
do bando
sendo por
comum,
comandados
um
velho
descre
Sua compo
mas
tern
por um
criado
o
menos
chefe
para
o
auto
qual
o
arrendatario nao achou melhor ocupacao. Nestes ban dos, o humor cigano desaparece, mas de acordo com o que dizem todas as testemunhas, pioram o pagamento e o tratamento das criancas, Este ultimas
sistema
decadas
de e
bandos
nao
continua
existe
para
O
crescendo
nas
prazer
seu
de
chefe. Existe para enriquecer os grandes arrendatarios e,
indiretamente,
os
donas
das
te r ras .
Os
pequenos
arrendatarios nao em p regam esses bandos e nem terr as pouco ferteis.
Frente prietario,
a uma
as
21
Comissao
apavorado
com
de
uma
Inquerito, possive l
um
pro
reducao
de
seus ganhos , vociferou :
(21)
0 Capital, p. 807-809.
115
"Por que se faz tanto caso?
Eu sei,
e porque
nome do sistema soa mal. Em vez de 'bando', mos
dizer
'Associacao
Industrial-Agricola
o
pode
Coopera
tiva e Autarquica da Juventude' e tudo estaria b e m . " Um antigo chefe de bando declarou: "O trabalho dos bandos e mais barato do que
qualquer outro,
e
esta e a razao por que e utilizado". De
um
arrendatario:
"O
sistema
de
bandos
e,
sem duvida, mais barato para o arrendatario e o mais nocivo para as criancas". Para
OS
arrendatarios nao ha metodo mais enge
nhoso para manter os trabalhadores muito abaixo do nivel normal - deixando sempre suplemento de bracos
para
as
a
sua disposicao um
necessidades
dinarias - para obter muito trabalho com
extraor a menor
despesa possivel e para tornar superfluo o trabalhador adulto.
Sob
o pretexto
de
que
ha
falta
de
mao-de
obra, reclamam como necessario o sistema de bandos.
116
x A acumulaeao primitiva
E
estamos
chegando
ao
fim
do
nosso
drama.
Um dia encontramos o trabalhador no mercado, vendendo sua Iorca de trabalho, ciando-a pau-a-pau
com
como vimos,
o homem
do
nego
dinheiro.
Ele
nao sabia ainda como seria duro o caminho do Calva rio que teria que enfrentar, nem tinha experimentado ainda o calice amargo do
qual teria que beber ate a
ultima gota. 0 homem do dinheiro nao era ainda um capitalista,
mas
quena riqueza,
modesto timido
proprietario
e incerto
em
de
sua
uma
nova
pe
cami
nhada, na qual empregava toda a sua fortuna. Vimos como a cena mudou. O operario,
(T
depois de ter gerado
o capital
com
seu primeiro sobretrabalho, foi oprimido por um tra balho excessivo de uma jornada extraordinariamente prolongada. 0 tempo de trabalho necessario para sua manutencao
foi
encurtado
pela
mais-valia
relativa,
enquanto o sobretrabalho foi prolongado para nutrir sempre
mais
abundantemente
o
capital.
Na
coope
racao simples, vimos que o operario submetido a uma
117
disciplina de caserna, preso a uma corrente de conca tenacao de Iorcas de trabalho,
a extenuar-se
mais
mais, para alimentar o sempre crescente capital.
e
Vi
mos o operario rnutilado, aviltado e oprimido ao ma ximo pela divisao do trabalho, na manufatura. Vimo lo
sofrer
causadas
as
indescritiveis
pela
dores
introducao
da
materiais
maquina,
e
morais,
na
grande
industria, Expropriado da ultima parcela de sua vir tude artesanal, vimo-lo reduzido a um mero servo da maquina, nismo
transformado,
vivo,
nismo,
em
um
torturado
de
vulgar
pelo
membro apendice
trabalho
de de
um um
orga meca
vertiginosamente
in
tensificado da maquina, que a cada momento ameaca '
arrancar um pedaco de sua carne ou tritura-Io com pletamente
entre
suas
como se nao bastasse, ridos
filhos
se
monstruosas
engrenagens
e,
vimos sua mulher e seus que
tornarem
escravos
do
capital.
E,
no
entanto, o capitalista, imensamente enriquecido,
pa
gando-lhe
seu
um
salario
que
ele
pode
diminuir
a
prazer, embora dando mostras de conserva-lo no mes mo nivel anterior e ate mesmo de aumenta-lo.
Final
mente , vimos o operario, temporariamente inutilizado pela acumulacao do capital,
passar do exercito ativo
industrial p a ra a reserva, e entao, desta, descer para sempre ao inferno da pobreza.
Todo
o sacrificio
foi
consumado . Mas como foi possivel acontecer tudo isso ? De um modo muito simples !
0 operario
era ,
na
verdade , proprietario de sua forca de trabalho, com a qual poderia produzir tanto quanto necessitasse para
118
\
si e sua familia,
mas a quern faltavam os .outros ele
mentos indispensaveis ao trabalho, ou seja, os meios e a materia de trabalho. Desprovido, portanto, de qual quer riqueza, o operario foi obrigado, para ganhar a vida, a vender seu unico bem, sua forca de trabalho, ao homem do dinheiro, propriedade
individual
que
tirou
o seu
e o salario,
proveito.
fundamentos
A do
sistema de producao capitalista, sao a causa primeira de tanta dor.
e
Mas isto
injusto! E criminoso! E quern deu ao
homem o direito
a
propriedade individual?!
E,
alem
disso, como foi que o homem do dinheiro se apossou dessa riqueza, dessa acumulacao primitiva, origem de tanta infamia? Uma voz
terrivel
Capital e grita: "tudo
levanta-se
e justo,
do
templo
do
deus
porque tudo esta escrito
no livro das leis eternas. De ha muito se foi o tempo em
que o homem vagava ainda livre e igual sobre
Terra.
Poucos deles foram laboriosos,
nomicos: riosos
e
todos
os
esbanjadores.
primeiros e o vicio, conseguiram dentes)
outros
da
virtude
sobrios e eco
preguicosos, fez
a
de
gozar (eles
virtuosamente
luxu
riqueza
a miseria dos outros.
o direito riqueza
A
foram
a
dos
Os poucos
e seus
descen
acumulada;
en
quanto os muitos (eles e seus descendentes) sao obri gados pela sua miseria a se venderem aos ricos, foram condenados
a
servirem
eternamente
a
estes
e
seus
descendentes". Eis como certos amigos da ordem burguesa veem as coisas. E essas insipidas ingenuidades continuam a
119
I
circular.
Thiers,
por exemplo,
com a faixa de presi
dente da repiiblica francesa, apresentou sua estupidez a seus concidadaos escrevendo um livro, no qual pre tendeu ter aniquilado os ataques sacrileges do socia lismo contra a propriedade. Se vina,
a origem
da acumulacao
primitiva fosse
a teoria que dela deriva seria tao justa quanto
aquela do pecado original e da predestinacao, foi preguicoso e beberrao, Um
e
o filho
pobre,
sobre
0 pai
sofrera a miseria,
filho de um rico, esta predestinado a ser feliz,
e
forte, instruido, civilizado, etc.; o outro
rante,
di
esta
predestinado
bruto, uma
imoral,
tal
lei
a
etc.
deve,
ser
infeliz,
Uma
filho de um debil,
sociedade
certamente,
igno
fundada
acabar,
como
acabaram tantas outras sociedades menos barbara e menos hipocrita, tantas religioes e deuses, a comecar pelo cristianismo,
em cujas leis se encontram
exem
plos similares de justica, Aqui poderiamos botar um ponto final em nosso trabalho, burguesa.
se
fosse
possivel
levar
Mas o
nosso
drama
desse espetaculo,
como
logo
a
tern
serio um
veremos,
essa
tolice
final
digno
assistindo
ao
seu ultimo ato. Abramos a hist6ria,
aquela hist6ria escrita pela
burguesia, e para uso e consumo da burguesia; quemos nela a origem
da
acumulacao
bus
primitiva e
e
isso o que encontramos. Em epocas mais antigas,
grupos de homens no
mades vieram a se estabelecer nas localidades melhor , situadas e mais favorecidas pela natureza. Ali funda-
120
I
I
ram cidades, cultivaram a terra e fizeram tudo quanto e necessario para a propria prosperidade. Mas eis que se encontram e se guerreiam pela sua sobrevivencia. Dai as guerras, mortes, incendios, rapinagens e devas tacoes. Tudo o que era do vencido se torna proprie dade do vencedor,
inclusive os sobreviventes,
que
se
tornam todos escravos. Ai
esta
a
origem
da
acumulacao
primitiva
na
antiguidade. Vejamos agora, na Idade Media. Nesta segunda epoca da hist6ria, s6 encontramos invasoes de povos aos paises de outros povos mais ricos e mais favorecidos pela natureza, e sempre o mesmo refrao de matancas, rapinagens, incendios, etc. Tudo o que era dos vencidos passa para as maos do vence dor, com a diferenca de que os sobreviventes nao se tornam mais escravos,
como na epoca anterior,
mas
servos, e passam, juntamente com a terra a que esta vam presos, para o poder de seu senhor. Portanto, nem mesmo na epoca medieval encon tramos o menor traco da idilica laboriosidade, sobrie dade e economia decantada por uma
certa
doutrina
burguesa sobre a origem da acurnulacao primitiva. E e born que se diga que a Idade Media
e
a epoca para
qual nossos ilustres possuidores de riqueza podem se reportar em busca de suas origens, de seus ancestrais. Passemos, finalmente, para a epoca moderna. A
revolucao
burguesa
transformou a servidao
em
destruiu salario.
o
feudalismo
Mas,
ao
e
mesmo
tempo, retirou dos trabalhadores OS pOUCOS meios de existencia,
que o estado de servidao lhes assegurava.
121
Ainda que devesse trabalhar a maior parte do tempo para seu senhor, o servo se assegurava com um pedaco de terra, com os instrumentos e o tempo de cultiva-Ias, para ganhar sua propria vida.
A burguesia
destruiu
tudo isso e fez do servo um trabalhador "livre", o qual nao
tern
outro
jeito
senao
se
deixar
explorar
pelo
primeiro capitalista que o captura ou morrer de fame. Como o trabalhador
e
explorado, nos ja vimos.
Bern, deixemos agora essas observacoes gerais e passemos para um caso particular. Peguemos a histo ria de um povo e vejamos coma
e
feita a expropriacao
da populacao agricola e a formacao daquela massa de operarios, destinada a fornecer sua forca de trabalho .indiistria moderna. Para variar, retornemos
a
a
historia
da lnglaterra, onde todas essas doencas por nos estu dadas
se
desenvolveram
mais
cedo,
oferecendo-nos
um born posto para observacao pratica, Nos fins do seculo XIV,
a servidao
tinha prati
camente desaparecido da lnglaterra. A imensa maio ria da populacao se compunha agora, e mais comple tamente ainda no seculo XV, de camponeses livres que cultivavam
sua propria terra,
qualquer
que
fosse
o
titulo feudal que lhe garantisse o direito de posse. Nos grandes dominios senhoriais o antigo bailiff, um ser vo, foi substituido pelo arrendatario livre. riados rurais
eram,
em
parte,
Os assala
camponeses
que,
du
rante o tempo em que nao precisavam trabalhar em sua propria terra, contratavam trabalhos com os gran des proprietaries: e, em parte, uma classe particular e pouco numerosa de assalariados propriamente ditos.
122
Mas estes eram,
ao
mesmo
tempo,
lavradores
inde
pendentes, pois, alern do salario, recebiam uma habi tacao e uma terra de 4 ou mais acres para lavrar. Alem disso, juntos com os camponeses propriamente ditos, usufruiam das terras comuns, onde pastavam seu ga do e de onde retiravam a lenha, a turf a, e t c . , para seu aquecimento. A revolucao que criou os primeiros fundamentos do modo de producao capitalista, teve o seu preludio nos ultimas anos do seculo XV e nas primeiras deca das do seculo X V I . Em todos os paises da Europa, producao
feudal
se
caracterizou
pela
reparticao
a
de
terras entre o maior mirnero possivel de camponeses. O poder do senhor feudal, como o dos soberanos, nao dependia do tamanho de suas rendas, mas do mimero de seus suditos, ou melhor, do mirnero de camponeses trabalhando
em
seus
dominios.
Repentinamente,
a
liberacao dos numerosos sequitos senhoriais lancou no mercado de trabalho uma massa eira ,
nem
beira.
E ssa
massa
de
proletarios
cresceu
sem
considera v el
mente por meio da usurpacao dos bens comunais dos camponeses, bens estes instituidos pelas leis feudais, nas quais os grandes senhores nem pensaram . 0 flo rescimento da manufatura de l a , aumento
dos
precos
essas violencias na
da
l a,
com o conseqiiente
motivaram
l n g laterra.
diretamente
T ransformar
as terras
de lavoura em pasta g ens, era o grito de guerra.
(22)
22
OCapital, p. 8 3 1 - 8 3 2 .
123
"Mas
que
importa
aos
nossos
grandes
usurpa
dores? As casas e choupanas dos camponeses e traba lhadores foram violentamente demolidas ou abando
a
nadas
ruina
total.
Quando
consultamos
inventarios de alguma residencia
os
senhorial,
velhos
verifica
mos que inumeras casas e pequenas lavouras desapa receram, que a terra alimenta um numero bem menor de pessoas, bora
que muitas cidades
prosperem
algumas
desapareceram,
novas . . .
Poderia
em
falar
de
cidades e aldeias que se transformaram em pastas de ovelhas e onde apenas se encontram
as
mansoes
se
nhoriais." Velhas cronicas, ram as queixas, sao
dos
coma esta de Harrison,
exage
mas traduzem exatamente a impres
conternporaneos
que
testemunharam
revolucao das condicoes de producao.
essa
,
No seculo X V I , com a Reforma e o imenso saque aos
bens
da
lgreja
que
a
acompanhou,
o
violento
processo de expropriacao do povo recebeu um nova e terrivel impulso.
A Igreja Cat61ica era,
nesta
epoca,
proprietaria feudal de grande parte do solo ingles.
A
extincao dos conventos, e t c . , enxotou os habitantes de suas terras,
engrossando
ainda
mais
o proletariado.
Os bens eclesiasticos foram amplamente
doados
aos
vorazes favoritos da Corte ou ·vendidos a precos ridi culos a especuladores, agricultores ou burgueses que expulsaram em
massa os
antigos
moradores
heredi
tarios e fundiram as suas propriedades. 0 direito dos pobres
a
propriedade
de
uma parte
dos
dizimos
Igreja foi tacitamente confiscado. Nessa epoca,
124
da
a rai-
nha Elizabeth fez uma viagem pela lnglaterra. per
ubique jacet",
espantou-se
ela,
em
"Pau
latim,
logo
apos cumprido o seu itinerario. 0 que ela quis dizer em portugues,
e
que "o pobre esta na miseria por toda
a parte", tanto assim que o seu governo foi obrigado a reconhecer
oficialmente
a
pobreza,
introduzindo
o
imposto de assistencia aos pobres. Os au tores dessa lei se envergonharam de explicar-lhe os motivos e, sem os preambulos de praxe,
a afixaram.
Sob o reinado
de
Carlos I , o Parlamento a declarou definitiva e s6 veio a ser
modificada
em
1834.
Ao
inves
indenizacao a que tinham direito,
de
receberem
a
deram aos pobres
mais pobreza e mais castigos. Ainda no tempo de Elizabeth,
alguns proprieta
rios de terras e alguns ricos arrendatarios do lnglaterra
se
reuniram
para
estudar
a lei
sul
da
sobre
os
pobres recentemente promulgada. Um celebre jurista da epoca foi encarregado de ler e dar seu parecer sobre o anteprojeto dos proprietaries. "Alguns
dos
ricos
arrendatarios
da
paroquia
imaginaram um plano muito engenhoso para afastar todas as confusoes que ocorrem na aplicacao da lei. Eles propuseram a construcao de uma cadeia na pa roquia. Sera negada qualquer ajuda ao pobre que nela nao se deixe encarcerar.
Avisar-se-a por toda a vizi
nhanca que qualquer pessoa que deseje alugar os po bres dessa paroquia deve apresentar propostas lacra das,
num
dia
determinado,
pelo
qual
ficaria
com
eles.
fixando Os
o
autores
menor
preco
deste
plano
supoern existirem nos condados vizinhos, pessoas que
125
gostariam de viver sem trabalhar, m a s q u e nao podem realizar seu desejo por nao disporem de recursos
ou
creditos suficientes para arrendar terras ou conseguir um barco.
Estas pessoas estariam inclinadas a fazer
a
propostas vantajosas
par6quia. Se os pobres morre
rem aos cuidados do contratante, a culpa recaira so bre ele,
uma vez
que
a
par6quia ja
tera
cumprido
todos os seus deveres em relacao a eles. Tememos que a lei de que tratamos nao permita medidas prudentes como
a
que
imaginamos.
Informamos-lhes,
entre
tanto, que os demais proprietaries alodiais desse con dado e dos adjacentes se juntarao a nos para levar seus representantes na Camara dos Comuns a propor uma lei que permita o encarceramento e o trabalho com pulsorio dos p obres, de modo que ficara sem direito a qualquer auxilio aquele que se opuser ao encarcera mento. Isso , es p eramos , impedira os miseraveis de ter necessidade de assistencia." No
seculo
XVIII,
a lei
mesma
se
torna
instru
mento de espoliacao. A forma parlamentar do roubo de terras comunais das
terras
decretos
e
aquela
comunais ,
com
os
das
publicas,
quais
os
leis
de
Sao,
cercamento
na
proprietaries
de
realidade, terras
se
fazem eles mesmos donos dos bens comunais, decretos de
expropriacao
do
povo.
Um
tal
Sir
F.
M.
Eden
chega a apresentar a propriedade comunal como uma propriedade p rivada ,
embora ainda indivisa, mas ele
mesmo se contradiz em sua vergonhosa argumentacao j ur i dica,
ao propor ao Parlamento uma lei geral p ara
cercar as terras comuns. E , nao satisfeito ainda de ter
126
confessado a necessidade de um golpe de Estado para acambarcar os bens comunais, ele insiste em se con tradizer, ao pedir ao legislador uma indenizacao para os pobres expropriados.
e
nao seriam,
Se nao fossem expropriados,
6bvio, pessoas a serem indenizadas.
F. M. Eden, coma vimos, cobica
das
coisas
alheias,
e
Sir
um poco de disparates e
mas
nao
perde
a
"filan
tropia". "Em Northamptonshire e Lincolnshire, cercaram as terras comuns na mais ampla escala e a maior parte das
novas
propriedades
dai
surgidas
madas em pastagens; por isso,
estao
transfor
muitos senhorios nao
tern SO acres arados onde antes existiam 1 5 00 . . . nas de casas,
celeiros,
estabulos,
vestigios dos antigos habitantes.
etc.,
sao
os
Rui
unicos
Em muitos lugares,
centenas de casas e familias foram reduzidas a 8 ou 10. Na maior parte das regioes atingidas pelo cerca mento, ha 15 ou 20 anos, os proprietaries de terras sao hoje em mimero bem menor em relacao ao que existia antes. Nao
e
raro ver 4 ou 5 ricos criadores que recen
temente usurparam e cercaram terras que se
encon
travam em maos de 20 a 30 lavradores arrendatarios e outros tantos pequenos proprietaries e colonos. Esses lavradores e suas familias foram enxotados dos bens im6veis que possuiam, juntamente com muitas outras familias que empregavam e mantinham." Marx transcreveu este trecho de uma "Pesquisa sabre as razoes contrarias ou favoraveis ao cercamento de campos abertos",
publicado em
1772,
pelo Reve
rendo Addington.
127
Os
lordes
latifundiarios
(landlords)
anexaram
nao somente a terra inculta mas tambem a cultivada em comum ou mediante arrendamento sob
o
pretexto
de
cercamento.
do
cercamento
a
comunidade,
Oucamos
o
doutor
Price: "Falo aqui
dos
campos
e terras
abertos que ja estao cultivados. Ate os defensores do cercamento admitem,
nesse
caso,
que
o cercamento
diminui o cultivo das terras, eleva os precos dos meios de subsistencia e produz o despovoamento . . . e mesmo o cercamento de terras incultas, pratica,
rouba
aos
pobres
como atualmente se
parte
de
seus
meios
de
subsistencia e amplia as areas arrendadas que ja sao grandes demais. Se todas as terras cairem nas maos de alguns poucos grandes arrendatarios, os pequenos la vradores
( que
ele
define
assim:
'uma
multidao
de
pequenos proprietaries e arrendatarios que se mantern e sustentam suas familias com o produto da terra que cultivam,
com
as
ovelhas,
aves,
porcos,
etc.,
que
criam nas terras comuns, precisando poucas vezes de comprar meios de subsistencia') serao transformados em pessoas que terao de ganhar a vida para os
outros
e forcadas
a
irem
ao
trabalhando
mercado
para
comprar tudo que precisam . . . Havers talvez mais tra balho,
pois
a coacao
sera
maior . . .
Aumentarao
as
cidades e as manufaturas, pois mais gente afluira para elas procurando emprego. Este e o sentido em
que o
acambarcamento das terras naturalmente atua e em que,
ha
reino."
128
muitos
anos,
tern
realmente
atuado
neste
De
fato,
revolucao sentida
a
usurpacao
agricola
pelos
que
a
dos
bens
seguiu
trabalhadores
foi
rurais
comunais tao
e
a
duramente
que,
segundo
o
mesmo Eden, de 1765 a 1780 o salario comecou a cair abaixo do minimo e teve de ser completado pela assis tencia oficial. "O salario do trabalhador rural ja nao e mais suficiente nem para as primeiras necessidades da vida", disse ele. No seculo XIX desaparecia, enfim,
a lembranca
daquele sentimento que unia o homem do campo ao solo comunal. Que indenizacao, cebeu a populacao rural, foi espoliada com
os
em
quais,
quando entre
3 5 1 1 770
atraves
perguntariamos,
do
acres
de
re
1810 e 1831,
terras
Parlamento,
os
comuns, landlords
presen tearam os landlords? E isso sem con tar a ex ten sao de terras roubadas em tempos
mais
pr6ximos . . .
Finalmente, o ultimo grande processo de expro priacao
dos
camponeses
propriedades, huma:nos.
a
chamada
limpeza
das
que consiste em varrer destas os seres
Todos
culminaram
e
metodos
OS
nessa
camponeses para
ate
"limpeza".
serem
agora
Nao
enxotados,
observados
havendo
mais
a limpeza
pros
segue demolindo as choupanas, e t c . , ate que os traba lhadores rurais, nesse processo de modernizacao, nao encontrassem mais na terra em que trabalham o espaco necessario para a sua pr6pria habitacao,
Um
depoi
mento sobre esse processo na Esc6cia: "Os como
se
grandes fossem
da
ervas
Esc6cia
expropriam
daninhas,
tratando
familias aldeias
e
seus habitantes como indianos enraivecidos que ata-
129
cam
as feras
mano
vale
carneiro,
acuadas
uma
ou
pele
em de
menos
seus
refugios . . .
carneiro
ainda...
ou
0
uma
Quando
se
ser
hu
perna
de
invadiu
o
norte da China, o Grande Conselho dos Mongols dis cutia a necessidade
de
exterminar
seus
converter suas terras em pastagens.
habitantes
Muitos
e
proprie
tarios escoceses nao vacilaram em executar essa pro posta em seu pr6prio pais, contra seus proprios con
terraneos." Mas vamos dar a mao a quern merece. A inicia tiva
mais
mong6lica
Sutherland.
Esta
tomou as redeas
foi
senhora,
tomada de
pela
boa
da administracao,
duquesa
escola,
logo
recorreu
de que
a medi
das radicais e converteu em pasto todo o condado;
a
populacao, que ja ha via sofrido experiencias analogas, mas nao em tao grandes proporcoes, ja estava reduzida a 15 000 habitantes. individuos,
que
Entre
formavam
1 8 1 4 e 1820, cerca
de
3
estes
mil
foram barbaramente expulsos. Todas as
15 000
familias,
suas
aldeias
foram destruidas e incendiadas e seus campos conver tidos em pastos. Os soldados, enviados para essa mis sao,
desceram o
pau
nos
habitantes,
sem
piedade.
Uma velhinha morreu queimada entre as chamas
de
sua choupana, da qual se negou a sair. E assim, a nob re dama se assenhoreou de 794 000 acres de terra que per tenciam
a
comunidade desde tempos imemoriais.
(Burgueses!
Vos que reclamais do uso revolucio
nario do petroleo, limpai as orelhas! 0 fogo desde ha muito
e
usado contra o proletariado! E a vossa hist6ria
que fala.)
130
Voltando
a
duquesa.
Aos camponeses expulsos,
ela mandou que se localizassem em 6 000 acres na orla maritima a 2 acres por familia. Esses 6 000 acres eram inteiramente
incultos
ate
entao,
e nao
proporciona
vam qualquer renda. A duquesa nao faltou a "fidal guia"
de cobrar uma renda razoavel por acre,
a ser
paga pelos membros da comunidade, que, ha seculos, deram seu sangue a servico dos Sutherland. Ela divi diu
toda
a
terra
roubada
em
29
grandes
arrenda
mentos para a criacao de ovelhas, cada um habitado apenas por uma
familia,
em
geral
oriunda
da
cria
dagem dos arrendatarios ingleses. Em 1825, os 15 000 aborigenes gaelicos estavam substituidos por 1 3 1 000 ovelhas.
Os
procuraram
que viver
foram da
lancados
pesca.
na
orla
maritima
Transformaram-se
em
anfibios e, na expressao de um escritor ingles, viviam uma meia vida de duas partes, uma em agua e outra em terra. Mas a brava gente gaelica devia pagar ainda mais caro pela idolatria que seu romantismo serrano dedi cava aos
"grandes homens"
do seu cla.
0 cheiro de
peixe chegou ao nariz dos grandes homens. Farejaram algo lucrativo atras dele e arrendaram a orla maritima aos grandes mercadores de peixe de Londres. Os gae licos foram enxotados pela segunda vez.
23
Por fim, uma parte das pastagens se transformou em reserva de caca. 0 professor Leone Levi, em abril
(23)
0 Capital, p. 845-848.
131
de 1866, na Sociedade de Artes, rencia sobre
O
disse em sua confe
problema:
"O despovoamento do pais e a transformacao das lavouras em meros pastos ofereceram os meios cornodos para uma renda sem despesas . . . moda,
depois,
transformar os
pastos em
mais
Tornou-se campos
de
caca, As ovelhas sao expulsas pelos animais de caca, do mesmo modo que os seres humanos foram tados para dar lugar as ovelhas . . . figuravam
Imensas areas que
nas estatisticas da Escocia como pastagens
de excepcional fertilidade e extensao vadas,
enxo
nem melhoradas,
estando
nao
sao
reservadas
culti
exclusi
vamente para algumas pessoas terem o prazer da caca em periodo curto e determinado do ano." No .dizia:
final
"Uma
de
maio
das
Sutherlandshire,
de
1866,
um
jornal
melhores pastagens pela qual se
de
ofereceu
escoces
ovelhas
de
recentemente
uma renda anual de centenas de libras, sera transfor mada em reserva de caca". Outros jornais da mesma epoca falaram sobre esses instintos feudais, mais
crescentes
na
lnglaterra;
alguns
cada vez
deles
podem
concluir, com dados e mimeros, que tal fato nao havia diminuido em nada a riqueza nacional. A criacao desse era mais
rapida
do
proletariado que
sem
sua utilizacao
direito nas
algum
manufa
turas nascentes. Alem disso, brutalmente arrancados das
suas condicoes
habituais
de existencia,
nao
po
diam enquadrar-se, da noite para o dia, na disciplina exigida pela
nova
ordem
social.
Muitos
se
transfor
maram em mendigos, ladroes, vagabundos, em parte
132
por inclinacao, mas, na maioria dos casos,
por forca
das circunstancias. Dai ter surgido em toda a Europa ocidental, no fim do seculo XV e no decurso do XVI uma
legislacao
sanguinaria
contra
a
vadiagem.
Os
ancestrais da c/asse operaria atual foram punidos ini cialmente
por
se
transformarem
em
vagabundos
e
indigentes, transformacao esta que lhes foi imposta. A legislacao os
tratava como
delinqiientes voluntaries,
como se dependesse deles prosseguirem
trabalhando
nas velhas condicoes e que nao mais existiam. Na Inglaterra, esta legislacao comecou sob o rei nado de Henrique V I I . Henrique V I I I , 1530: velhos e incapacitados para trabalhar obtern
o
direito
blica, ou seja, esmolar;
de
apelar
a
caridade
pu
os sadios que vagabundeiam
sao presos e chicoteados ate sangrar; e, alem disso, de acordo
com
devem jurar
a lei
posta em
a
que voltarao
vigor,
esses
terra
rratal
vagabundos OU
a
cidade
onde viveram nos ultimos tres anos para, como diz a lei, "se porem a trabalhar". Que ironia cruel! E essa lei e modificada para ser ainda
mais
inexoravel,
ainda
no
mesmo
governo:
o
vagabundo reincidente, alern de chicoteado, tera a me tade da orelha cortada, segunda
reincidencia
isso na primeira,
era
condenado
a
porque na
forca,
como
criminoso irrecuperavel e inimigo do Estado. Eduardo V I , 1547, primeiro a n o d e seu governo: uma lei condena aquele que nao quer trabalhar a ser escravo
de
quern
o denunciou
como
vadio.
(Assim,
para lucrar com o trabalho de um pobre diabo,
bas-
133
tava denuncia-lo como vadio.) Segundo a lei,
o dono
deve sustentar seu escravo a pao e agua, bebidas fra cas e restos de carne, como achar conveniente; a chi cote e a ferros tern o direito de obriga-lo a executar qualquer trabalho, por mais repugnante que seja, Se o escravo nado
desaparecer por duas
a
escravidao
perpetua
semanas,
e
sera
marcado
a
conde
ferro,
na
testa e nas costas, com a letra S (de "slave": escravo, em ingles): se escapar pela terceira vez sera enforcado como
traidor.
aluga-lo,
0
como
dono
pode
vende-lo,
qualquer bem
presentea-lo,
m6vel ou
gado.
Se
o
escravo tentar qualquer coisa contra seu senhor, sera tambem enforcado. mados,
devem
dos acusados.
Os juizes de paz,
imediatamente
quando
providenciar
a
infor busca
Se se verifica que um vagabundo esta
vadiando ha tres dias, sera ele levado
a
sua terra natal,
marcado com ferro em brasa no peito com a letra V e la posto a trabalhar a ferros, na rua ou em
qualquer
outro servico. Se informar falsamente o lugar de nasci mento,
sera
condenado
a ser escravo vitalicio
desse
lugar, dos seus habitantes ou da comunidade, e mar cado com S. Todas as pessoas tern o direito de tomar os filhos de vagabundos e mante-los como aprendizes: os rapazes ate a idade de 24 anos e as rnocas ate 20. Se fugirem,
tornar-se-ao,
ate
essa · idade,
escravos
do
mestre, que pode po-los a ferro, acoita-los, e t c . , con forme quiser. 0 dono pode colocar um anel de ferro no pescoco, nos bracos ou nas pernas de seu escravo, para reconhece-lo mais facilmente e ficar mais seguro dele. Por fim, a ultima parte da lei preve que certos
134
indigentes ou
podem
pessoas
comer
e
que
de
ser
empregados
tenham
beber
e
de
Chamados de rondsmen
a
por
intencao
comunidades
de
arranjar-lhes (rondantes), ,
lhes
um
dar
de
trabalho.
essa especie
escravos de par6quia subsistiu por muito tempo,
de
che
gando ate o seculo X I X . Elizabeth, mais
de
orelhas
14
anos
serao
torna-Ios
ninguem
mendigos
serao
por
a
mais de
serao
se
anos;
18 anos,
e
com
e
suas
ninguem
em
caso
de
quiser reinci
serao enforcados,
a servico
enforcados,
licenca
severamente
ferro,
dois
quiser torna-los vez
sem
acoitados
marcadas
a servico
dencia, se tern
terceira
1572:
por
sem
dois
anos;
apelacao,
se na
como
traidores do Estado. Vagabundos
foram
enforcados
em
massa,
dis
postos em longas filas. Nao havia um ano em que 300 OU
4oo·vagabundos nao fossem levados
a
forca.
Num
unico ano, s6 em Somersetshire, foram enforcadas 40 pessoas,
35
ferreteadas,
37
acoitadas
e
postos
em
l i be r dade 183 criminosos incorrigiveis, E, no entanto, diz S t ry pe nos seus A nais , esse s dados :
" Este
a
onde
grande mimero
c o mpr ee n d e nem um
gracas
de
foram de
recolhidos
acusados
nao
quinto de todos os crimi n osos ,
negligencia do juiz de paz e da estupida com
paixao do povo". Acrescenta: "O s demais condados da l n g laterra nao estao em melhor situacao que Somerset shire e muitos ate pelo contrario".
.
J aime I : quern perambule e mendi gu e sera decla rado
vadi o
e vagabundo.
Os juizes
de
pa z,
em
suas
sessoes, estao autorizados a mandar acoita-lo e encar-
135
cera-lo por 6 meses, na primeira vez, e por 2 anos, na segunda. quantas
Na
prisao,
os juizes
de
receberao paz
tantas
acharem
chicotadas
adequadas...
Os
vagabundos incorrigiveis e perigosos serao ferreteados com um R sobre o ombro esquerdo trabalhos
forcados;
didos mendigando,
se,
novamente,
e condenados forem
a
surpreen
serao enforcados sem clernencia.
Estes estatutos s6 foram abolidos em 1 7 1 4 . Nas paginas 41 e 42 de seu famoso livro Utopia, Tomas Morus escreveu: "Homens,
mulheres,
esposos,
esposas,
orfaos,
viuvas, maes infelizes amamentando seus bebes, fami lias inteiras, pobres de recursos,
mas muitos bracos,
porque a lavoura exigia muitos braces.
Pobres,
sim
ples, desventuradas almas! Carregando seus haveres, vao deixando os campos conhecidos e amados e, adi ante,
nao
encontram
acaso, sem destino,
onde
repousar.
Atirados
ao
vao vendendo seus humildes ob
jetos por uma ninharia, premidos pelas necessidades. S e m o ultimo tostao, ao relento, o que lhes resta fazer? Roubar
e
entao,
oh,
Deus!,
serem
enforcados
com
todas as formalidades juridicas ou pedir esmola. Mas, se mendigarem, eles serao presos como vadios,
vaga
bundeando sem trabalho; eles, a quern ninguem quer dar trabalho por mais que implorem! Toda essa mise ria, por que? Porque um agiota avarento e insaciavel, peste
de
seu
torrao
natal,
tramou
e
conseguiu
por
meio de fraudes, violencia e tormentos e roubos de mi lhares de alqueires, que ele cercou de estacas e de valas e
expulsou
136
os
lavradores
de
suas
proprias
terras."
Conterraneo
destes
desgracados vagabundos
reinado de Henrique V I I I ,
de
1509
a
1547,
do
quando
foram enforcados mais de 72 000 vadios, Tomas Ma rus nos contou
como
esses
ex-lavradores
eram
obri
gados a se tornarem ladroes. E ai esta: a acumulacao primitiva e sua origem! E com essa violencia e de todo esse sangue dos
expro
priados camponeses que nasce aquela classe operaria, destinada
a servir
de
pasta
a
toda
a
indiistria
mo
derna! 0 mais e idilio, conversa fiada . . . Assim, ambiente
a
fogo
e
necessario
espada, para
o
capital
empregar
preparou
uma
massa
o de
forca humana destinada a nutri-lo. E, hoje, se nao e a espada, se nao e o fogo, e a fome: um meio muito mais cruel e terrivel. lacao
levou
A crescente
a essa
necessidade
gloriosa,
moderna
de
acumu
conquista
da
burguesia, que e a fome. Um meio que e mesmo parte necessaria para o funcionamento da producao capita lista como um todo; enfim, por si mesma, agindo sem grandes escandalos, sem grandes barulhos,
e a fome
um meio civilizado e honesto do mundo capitalista. E para quern se rebela contra a fome,
ha sempre mais
espada e fogo. Nao nos sobram paginas para falarmos aqui dos her6is do capital nos paises colonizados. os
nossos
leitores
a
historia
das
Remetemos
descobertas,
come
cando com a de Cristovao Colombo e de toda a coloni zacao: citemos apenas um texto de um homem "reco nhecido por seu fervor cristao", W. Howitt: "As
terriveis
atrocidades
praticadas
pelas
cha-
137
madas nacoes cristas, em todas as regioes do mundo e contra todos os povos que elas conseguem
submeter,
nao encontram paralelo em nenhum periodo da hist6ria universal, em nenhuma raca, por mais feroz, igno rante, cruel e cinica que se tenha revelado." Se,
como
disse
Augier,
jornalista
frances,
"o
dinheiro vem ao mundo com uma de suas faces man chada de sangue", o capital - conclui Marx - vem transbordando sangue e lama por todos os seus poros, dos pes 3. cabeca.
24
E essa, burgues,
e
a vossa hist6ria, triste e sangui
naria hist6ria que merece ser bem Iida e refletida por v6s,
que em vossa virtude concebeis um santo horror
pela violencia
dos
revolucionarios
burgues,
que
s6
exclusivo
dos meios
permitis
morais,
minados.
(24)
138
aos
0 Capital, p. 878-879.
de
hoje;
por
trabalhadores
por
v6s
mesmos
o
v6s, uso
deter
Conclusiio
O mal e radical e os trabalhadores ja sabem disso ha
muito
tempo.
apropriados,
a
E
estao
dispostos,
destrui-lo.
Muito
com
os
meios
trabalhadores
ja
sabem: 1?)
que a propriedade privada e a fonte primeira
de toda a opressao e exploracao humana; 2?) cipacao va
que a emancipacao do trabalhadores (a eman humana)
dorninacao
nao
de
pode
classe,
fundar-se
mas
no
fim
em de
uma
no
todos
os
privilegios e monop6lios de classe, e sabre a igualdade dos direitos e dos deveres; 3?)
que a causa do trabalho,
causa da humani
dade, nao tern fronteiras; 4?)
que
a emancipacao
dos
trabalhadores
deve
ser obra dos pr6prios trabalhadores. Trabalhadores
de
todo
o
Niio mais direitos sem deveres,
mundo,
unamo-nos!
niio mais deveres sem
direitos! Revoluciio!
Mas a revolucao perseguida pelos trabalhadores '
139
nao e a revolucao de pretexto, nao e
O
meio pratico de
um momento, para se lograr um objetivo dissimulado. Tambem
a
invocou um
burguesia, dia
como
a revolucao:
tantas mas
outras
tao
somente para
derrotar a nobreza e substituir o sistema servidao
por esse
mais
classes,
refinado e cruel
feudal
que
e
o
de do
trabalho assalariado. E a isso chamam de progresso e civilizacaol Todos os dias assistimos ao ridiculo espe
taculo dos burgueses que vao balbuciando a palavra revolucao,
com o unico objetivo de
poder chegar
ao
topo da montanha e usurpar o poder. A revolucao dos trabalhadores e a revolucao pela revolucaol A palavra revolucao,
no
seu
mais
amplo e ver
dadeiro sentido, significa mudar, transformar, Como
tal,
a revolucao e a alma
de
toda
a
girar.
materia
infinita. De fato, na natureza tudo se transforma, mas nada se cria ou se destr6i, como nos prova a quimica. A
materia
mantendo
sempre
a
mesma
quantidade,
pode mudar infinitamente as suas formas. A materia, quando perde sua antiga forma e adquire uma nova forma, essa passa da anti{a vida, na qual morre, para a nova vida, na qual nasce. Quando o nosso fiandeiro transformou os dez quilos de algodao em dez quilos de fios,
nao
ocorreu
a morte
de
dez
quilos
de
materia
sob a forma algodao e o seu nascimento sob a forma de
fios?
E quando
o tecelao
transforma
os
fios
em
tecido, nao ocorreu a mesma coisa que sucedera com a vida do algodao e a vida do fio? girando
de
uma
vida
para
Portanto,
outra,
vive
a materia
sempre
dando, se transformando, se revolucionando . . .
140
mu
Ora, se a transformacao o
todo,
deve
tambem
humanidade,
e
que
e
a lei da natureza, que
necessariamente
parte.
ser
a
lei
da
Mas sabre a terra ha
um
punhado de homens que nao pensam assim, ou, lhor,
que tapam os olhos para nao ver e os
e
me
ouvidos
para nada escutar. Agora, ouco um burgues que me grita:
e
"Sim,
verdade,
voce reclama, manas.
e
a lei natural,
a revolucao
que
a reguladora absoluta das acoes hu
A culpa
de
todas
as opressoes,
de
todas
as
exploracoes, de todas as lagrimas e mortes que delas derivam,
devem
que se impoe
a
ser
atribuidas
a
revolucao,
a essa
inexoravel
lei
transforrnacao continua: a
luta pela sobrevivencia, a vit6ria dos mais fortes sabre os mais fracas,
enfim ,
o
da
sacrificio
especie
menos
perfeita para o desenvolvimento da mais perfeita. c
Se
entenas de trabalhadores se sacrificam para o bem
estar de um s6 culpa , desse
ao
contrario,
decreto,
Q
burgues,
da
esta
iinica
nao
tern a menor
aflito e desolado por causa lei
natu r al,
da
revolucao."
uando os burgueses falam desse modo e os tra
balhadores resolvem n
0 burgues
atural que quer a
cia e a
revolucao,
tambem
invocar a
transformacao,
forca
dessa lei
a luta pela
eles se preparam
existen
ustamente
j
para
serem os mais fortes, sacrificando toda a planta para sita e monstruosa, para o
c
ompleto e pr6spero
d
esen
volvimento da plan ta homem, belo, completo, perfeito, c
omo deve ser
humano. sao
E
em
toda a profundidade do seu
o que fazem os burgueses?
carater
s burgueses
O
muito temerosos e devotos para poder apelar
a
lei
141
natural da revolucao, Em alguns momentos de velei dade, eles podem ate invoca-la; mas, depois, voltando a si, feitas as contas, chegam ao resultado de que tudo se desenvolve perfeitamente bem, no melhor dos mun dos, para eles; e entao passam a gritar, torturando os nossos timpanos: ordem, religiao, tradicao, familia e propriedade!
Assim,
depois
de
conquistarem
com
mortes, incendios e roubos o lugar de dominadores e exploradores da especie humana, pensam poder bre car os passos da revolucao.
Mas eles nao sabem,
na
sua estupidez, que seus esforcos nada podem fazer do que levar a humanidade e, uma
terrivel
catastrofe:
narias exploradas
por
portanto,
assim,
eles
as
de
eles
forcas
um
modo
mesmos
a
revolucio irracional,
imprevisivelmente explodem. Eliminados os obstaculos materiais que nham
a revolucao,
se opu
agora livre no seu curso, bastara por
si s6 para criar entre os homens o mais perfeito equili brio,
a ordem,
a paz e a felicidade
mais
completa,
porque os homens, no seu livre desenvolvimento, nao procedem como animais,
mas
como
seres
humanos,
eminentemente racionais e civilizados, que compreen dem que nenhum homem pode
ser verdadeiramente
livre e feliz a nao ser na liberdade e felicidade comum a toda humanidade. Niio mais direitos sem
deveres,
niio mais deveres sem direitos, Nao mais, portanto, a
luta pela mem, com
mas
um
luta pela existencia
a natureza,
naturais
142
sobrevivencia entre
para
a
aproveitando vantagem
de
de
homem todos
o possivel toda
a
e os
um
ho
homens
das
forcas
humanidade.
Conhecida a doenca,
o rernedio
e
facil:
a revo
lucao pela revolucao. Mas como podem os trabalhadores restabelecer o curso da revolucao?
Aqui nao
e
o lugar para desen
volver um programa revolucionario, ja ha muito ela borado e publicado em outros livros. Concluindo, me limito a repetir as palavras de um operario, que sao a epigrafe deste volume:
"O OPERARIO FEZ TUDO; E O OPERARIO PODE
DESTRUIR
TUDO,
PORQUE
PODE
FA
ZER TUDO DE N O V O . "
143
Anexos
CART A DE CAFIERO A MARX
Les Molieres, 23 dejulho de 1879.
Estimado Senhor:
Aqui seguem dois exemplares de um resumo que escrevi
de
vossa
obra
O
Capital.
Era
enviar-vos este resumo ha mais tempo, me Joi posslvel receber a/guns
meu
desejo
mas s6 agora
exemplares,
gracas
a
gentileza do amigo que o publicou. Se eu mesmo, por minha propria conta,
o tivesse
editado, seria o meu desejo, submeter o manuscrito a vossa apreciaciio, antes de entregar o livro ao publico. Mas, o temor de me ver es capar uma ocasiiio favordvel, apressou-me
a
consentir
a publicaciio proposta.
E,
somente agora, recorro a v6s para vos pedir o favor de me
dizer,
se,
no
meu
estudo,
consegui
entender
e
comunicar a exata concepciio de seu autor. Com todo respeito e consideraciio, subscrevo-me,
atenciosamente,
Carlo Cafiero
144
RESPOST A DE MARX A CAFIERO
Prezado Senhor:
Agradeco sinceramente pelos dois exemplares do trabalho!
VOSSO
Ha
livros semelhantes, ingles
(publicado
falharam, forma riam,
um
nos
em
mesmo
do
tempo lingua
Estados
ao se prenderem,
cientifica ao
a/gum
atrds,
eslava,
Unidos );
dois
outro
mas
em
ambos
muito pedantemente,
desenvolvimento,
tempo,
recebi
dar
um
quando
resumo
a
que
sucinto
e
popular do Capital. Assim, essas duas tentativas pare ceram-me fracassar em seu principal objetivo: desper tar o interesse do publico para destinados.iE VOSSO
e
quern os
livros
eram
ai que esta a enorme superioridade do
trabalho.
No que se refere, portanto, ao conceito, laciio do objeto trabalhado,
a formu
acredito niio me enganar
considerando as palavras do vosso prefacio,
ao
atri
buir uma aparente lacuna, ou seja, a prova de que as condiciies
materiais
proletariado
siio
necessarias
a
espontaneamente
emancipaciio produzidas
do
pelo
desenvolvimento da exploraciio capitalista.
145
No mais,
concordo
tendi o vosso prefticio regar o espirito
de
inteiramente
-
quern
- se
hem
en
que niio se deve sobrecar quer se educar.
Nada
vos
impedira, no momento oportuno, quando retornardes a est a tare/a de fazer salientar,
com maior destaque
ainda, a base materialista do capital. Renovando
os
meus
agradecimentos,
subscre
vo-me,
atenciosamente,
Kar/Marx
146
Sohre Carlo Cafiero
Em
algumas
novecentos grita:
e
cenas
setenta,
de
"Metelo",
setenta
e
.filme
poucos,
a
de
mil
multidao
Viva Cafiero! Na crise de 1968, organizacoes de
operarios e estudantes reimprimem no mime6grafo o opusculo Rivoluzione per la rivoluzione de Carlo Ca fiero. Ha muito o Compendio de/ Capitale
e
conhecido
nos circulos internacionais da classe operaria, A hist6ria de Carlo Cafiero no movimento operario internacional comecou por volta de 1870 quando desis tiu da carreira de diplomata e viaja para Londres, apes conhecer Paris. La conheceu alguns membros do Con selho
Geral
da
Internacional,
especialmente
Karl
Marx. De familia abastada, Carlo Cafiero nasceu em Barletta, cidade do antigo reino de Napoles, perto do Adriatico, em setembro de liano
1846.
comecava a engatinhar na
0 proletariado ita hist6ria
contempo
ranea do capitalismo. Ao retornar de Londres a repug nancia que Cafiero experimentara pela burguesia flo rentina, tornou-se politica. Atraido pelas agitacoes dos camponeses e operarios, logo a figura de Carlo Cafiero ganha destaque entre revolucionarios anarquistas, so-
147
cialistas,
comunistas.
toda dedicada •
Sua vida,
dai
em
diante,
sera
a causa revolucionaria.
Retorna de Londres como correspondente da sec �ao de Napoles da Internacional, fundada em 1868. Em
a
1 8 7 1 um decreto ministerial deu ordem
policia para
fecha-la. Mas logo foi reconstruida por ativistas como Giuseppe
Fanelli,
Erico
Malatesta,
Emilio
Covelli,
Carmelo Palladino. Ao lado deles Cafiero lutara. Enquanto correspondente do Conselho Geral de Londres,
Cafiero
trocou
muitas
cartas
com
o
entao
secretario do Conselho Geral para Italia e Espanha, Friedrich
Engels.
Ate
que
vieram
as
lutas
internas
dentro da Internacional. Em um primeiro momento, no congresso de Haia, impoe-se a autoridade do Con selho Geral, ano 1872. Os internacionalistas italianos negaram-se a enviar delegados aquele congresso, mas la estava Cafiero como espectador independente. Em
agosto
de
1872,
funda-se
no
congresso
de
Rimini, presidido por Carlo Cafiero, a Federacao Ita liana
da
Internacional,
Geral de
Londres
que
rompe
e reafirma
sua
com
o
Conselho
solidariedade
com
todos os trabalhadores. Em marco do ano seguinte, Cafiero e preso junto com Malatesta, Costa, Faggioli e outros anarquistas. Em junho de 1874, segue para Sao Petersburgo, onde se casa com a revolucionaria 1875
esta
em
Milao,
Olympia
empregado
enquanto sua companheira volta car-se
a propaganda
um
Em
fot6grafo,
Russia para dedi
socialista, mas em 1881 ela e presa
e desterrada para a Siberia.
148
a
de
Kutuzof.
Toda
a
fortuna
que
herdara
do
pai,
Cafiero
gastou na construcao da famosa "La Baronata", uma mansao
perto
de
Locarno
e
que
deveria
abrigar
os
revolucionarios proscritos pelos governos. Alguns rus sos como Bakunin e outros comunistas e anarco-comu nistas la encontraram asilo. nata"
0 projeto da "La Baro
fracassou e Cafiero ja estava pr6ximo a ruina
financeira. 0 que restava de sua fortuna empregou nos preparativos das insurreicoes
italianas
divulgacao das ideias socialistas.
de
1874
Preso varias
e na
vezes,
Cafiero percorre a Italia, participa de insurreicoes e de congressos
clandestinos,
Marx,
en tao
ate
divulga
desconhecido
O na
Capital
Italia,
de
Karl
escreve . . .
Os ultimos anos de sua vida foram um martirio. Acometido de loucura, nada adiantaram os esforcos da familia.
Em
1886,
a companheira Olympia
Kutuzof
estava ao seu lado, apos fugir da Siberia. Carlo Cafiero morreu em Nocera, 1892. "Suportou sua triste situacao sem nunca proferir um a queixa." James Guillaume, quern mais escreveu sobre ele,
compilou de uma das
cartas do medico de Cafiero: "Sempre que lhe pergun tava como se sentia - escreve o medico - ,
me res
pondia invariavelmente com sua tranquila docura: Nao sofro, doutor".
Mario Curve/lo
149
D'AG
LTDA.
impnmru R.
Silverio
Tel.:
Goncalves, 266-3219
287