Bem

  • April 2020
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  • Words: 552
  • Pages: 2
Bem, aqui estou eu, escrevendo um email para um amigo por meio do Word. O método pode parecer meio estranho, e talvez seja, acontece que me sinto menos pressionado pelo excesso de informação do hotmail... Não há “silêncio visual” ali. Sim, preciso desse “silêncio visual”, já nos introduzimos nesse assunto, não? O ano começou de forma torta, mais perdas, menos conquistas, menos pessoas, menos músicas, menos respeito, menos confiança... e sempre estou eu lá, atrás de alguma má intenção, sendo a sombra dos meus “erros”. Mesmo assim estou certo de que certas coisas que fiz e faço não se justificam, por simplesmente não haver necessidade de ter uma justificativa... O mundo nos engole a todos, certos, errados, coerentes, incoerentes... essa necessidade de sentir, é antes uma necessidade de ser indigesto, de ser algo mais... tentativa louvável, mas insuficiente. Estou passando pela vida, meu amigo, e sinceramente, não vejo mais muito sentido nisso tudo, não me vejo mais em certas coisas. Me apaixonar, tocar, ler, escrever, assistir, conversar... A futilidade é redentora, traz alegria, exorciza a angústia de ser... estou sendo chamado a ser fútil, entende? Não ser mais nada para nada e para ninguém. O outro não existe teoricamente, ou melhor, as pessoas serão sempre assim, visíveis apenas para necessidades de circunstâncias. Elas “são” apenas para ajudar a compor o quadro de nosso cotidiano, boas ou más, elas estarão lá à nossa disposição. Pintei cenários para um próximo encontro, escolhi a trilha sonora e escrevi sua fala. Nele você conta sobre seus projetos que estão engrenados, sobre outros que estão em andamento; há uma pausa para o café, nessa pausa falamos sobre o tempo que começa a esfriar, pego a caneca verde para mim, você fica com o copo americano. Sentamos no sofá, puxo o violão, te mostro minha última canção, não quer dizer que seja nova, mas é a única que me conforta e diz, de certa forma, que ainda consigo fazer algo que valha a pena. Você ri, pensa no turbilhão de cosias que combinamos de fazer, todas estacionadas nas frestas de nossas potencialidades criativas... todas com cheiro de umidade,,, Você me olha e pergunta a respeito de minhas falas, em que parte do roteiro elas se encontram que você ainda não as viu. “Bem”, digo, “nunca segui um roteiro, sempre fui dado ao improviso, sempre arquei com as conseqüências dúbias desse estado de espírito”. Então você abaixa a cabeça, olha para o roteiro e diz, “você não é o único a arcar com as conseqüências desse seu improviso”. Sinto o frio se apoderar de minha espinha, da mesma maneira que me acontece quando li seu primeiro email, mas agora é diferente, você está aqui, na minha frente e honestamente, não me lembro de ter escrito isso... você sorri, percebeu que acabei de descobrir, você também é de improvisar...

Os dias estão passando, passando sobre nós. Me perdoe a demora em te responder. Sabe a importância que me tem, nosso fraternal amor não se construiu por simples referências, é algo maior. Entrei em sua vida sem bater na porta, pois achei a porta aberta. Minha clausura, começo a perceber, é voluntária, não sei bem com quem me envolvo, começo a ter receio de conversar com as pessoas... coisas minhas. Fico por aqui, peço novamente que entenda a demora. Amo você.

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