Português Instrumental
Começando a conversa Objetivo Intercambiar conceitos que envolvem as estruturas dos textos e as idéias neles apresentadas, explicando não só a forma dos textos, as expressões e as palavras, como também de que modo essa forma está integrada com a construção de sentidos, aperfeiçoando, assim, a compreensão de mundo.
Conteúdo • Pensar, ler, escrever • As várias linguagens: verbal e não-verbal • As várias linguagens: funções da linguagem
Pensar, ler, escrever
Escrever é, em última análise, colocar idéias no papel de forma organizada. Ora, as idéias não surgem do nada; elas são fruto dos processos de comunicação dos quais participamos e das informações a que temos acesso vivenciando experiências, conversando (“trocando idéias”, como se diz popularmente) e lendo, lendo, lendo. Mas uma leitura sem compreensão não é leitura. Ler sem compreender é parar na primeira etapa do processo, ou seja, na etapa da decodificação do sinal gráfico. Por isso, a leitura precisa ser atenta, inteligente, uma leitura em que haja interação entre o leitor e o texto lido, um atuando sobre o outro. Ler é atribuir significado; é construir um significado para o texto lido.
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Muito se discute sobre a “fórmula mágica” que nos ensinaria a redigir um bom texto ou, como querem alguns, a produzir uma redação “nota dez”. Em primeiro lugar, gostaríamos de confessar, humildemente, que não temos (nem inventamos) a receita dessa poção mágica; em segundo, que não conhecemos ninguémque a possua. Infeliz... ou melhor, felizmente. Por outro lado, reafirmamos uma convicção: tornando-nos leitores atentos de bons textos, assumindo uma postura crítica ante os vários textos que se apresentam em nosso cotidiano, dominando alguns recursos lingüísticos básicos, refletindo sobre a realidade, é possível, ao longo do tempo, aprimorar a qualidade de nossos textos. Esclarecemos, também, que produzir um bom texto não significa produzir uma obra literária. Um texto competente, elaborado para determinados fins, acadêmicos ou profissionais, não se confunde, em hipótese alguma, com um texto literário produzido para fins artísticos.
Desta forma, saber escrever pressupõe, antes de mais nada, saber ler e pensar. O pensamento é expresso por palavras, que são registradas na escrita, que por sua vez é interpretada pela leitura. Como essas atividades estão intimamente relacionadas, podemos concluir que quem não pensa (ou pensa mal) não escreve (ou escreve mal) e quem não lê (ou lê mal) não escreve (ou escreve mal).
As várias linguagens verbal e não-verbal
Ler as letras de uma página é apenas um dos muitos disfarces da leitura. ✓ O astrônomo lendo um mapa de estrelas que não existem mais; ✓ o arquiteto japonês lendo a terra sobre a qual será erguida uma casa, de modo a protegê-la das forças malignas;
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✓ o zoólogo lendo os rastros de animais na floresta; ✓ o jogador lendo os gestos do parceiro antes de jogar a carta vencedora; ✓ a dançarina lendo as notações do coreógrafo e o público lendo os movimentos da dançarina no palco; ✓ o tecelão lendo o desenho intrincado de um tapete sendo tecido; ✓ o organista lendo várias linhas musicais simultâneas orquestradas na página; ✓ os pais lendo no rosto do bebê sinais de alegria, medo ou admiração; ✓ o adivinho chinês lendo as marcas antigas na carapaça de uma tartaruga; ✓ o amante lendo cegamente o corpo amado à noite, sob os lençóis; ✓ o psiquiatra ajudando os pacientes a ler seus sonhos perturbadores; ✓ o pescador havaiano lendo as correntes do oceano ao mergulhar a mão na água; ✓ o agricultor lendo o tempo no céu. ... todos eles compartilham com os leitores de livros a arte de decifrar e traduzir o mundo.
Damos o nome de linguagem a todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação, que nos permite dizer algo.
Podemos reconhecer uma “linguagem animal”, mas ela não se confunde com a linguagem humana. A “linguagem animal” é instintiva e não um produto cultural; não evolui, não se transforma. A comunicação animal é marcada pela invariabilidade.
Em situação absolutamente distinta, o homem produz linguagem. Daí podermos afirmar que, num sentido mais estrito, a linguagem é um fenômeno humano.
Podemos reconhecer, então, duas linguagens: . a linguagem verbal - aquela que utiliza a língua (oral ou escrita). . a linguagem não-verbal - aquela que utiliza qualquer código que não seja a palavra, como a pintura (que explora as formas e as cores, por exemplo), a mímica, a dança, a música, etc.
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As várias linguagens: funções da linguagem Quando nos comunicamos, elaboramos mensagens e, dependendo da nossa intenção, do sentido que queremos dar a elas, podemos usar a linguagem de maneiras diferentes, definindo, assim, o caráter de tais mensagens. Quer saber como? Então, vamos lá.... a) Quando você tem a intenção de destacar o assunto de sua mensagem, convém dar a ela um caráter mais informativo, como nos textos de jornais, revistas semanais e outros. Confira: O desempregado V.M. , 27 anos, foi preso ontem à tarde porque estava arrombando casas no Rio Tavares, em Florianópolis. Comissários da 2ª DP do Saco dos Limões encontraram na casa de V., na estrada geral do Rio Tavares, uma televisão furtada de T.M.
b) Já se a sua intenção é dar lugar aos seus sentimentos ou idéias, você deve usar a linguagem de forma bastante expressiva, destacando a sua emoção. Sinta: Vivi momentos de intensa beleza à noite, quando fazia passeios à proa do navio. Numa dessas noites, assisti pela primeira vez na vida a um espetáculo quase irreal, que muitos velhos marujos ainda não tiveram a felicidade de ver: um arco-íris de lua. Em plena noite de lua cheia, chovendo ao sul, um fantástico arco-íris no céu...
c) Há situações em que você é obrigado a chamar a atenção dos outros, fazendo com que eles se interessem por aquilo que você está falando. Neste caso, a linguagem deve ser “imperativa”, uma espécie de convocação. Todos os anos, você troca de carro. Freqüentemente você troca de som, de televisão, de videocassetes, de relógio, de apartamento, de móveis. Muito freqüentemente, você troca de whisky, de vinho, de vodka, de perfume. Quase todos os dias, você troca de calça, de camisa...só não troque de jornal: leia a Gazeta Mercantil.
d) Muitas vezes, não conseguimos nos comunicar porque o canal, o fio condutor de nossas mensagens “falha”: telefone celular que fica sem sinal, aparelho de vídeo que não transmite a imagem, seu amigo que fica interessado por uma garota ao invés de ouvir o que você está falando...
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Além disso, quem nunca passou por situações constrangedoras como a de entrar num elevador cheio de gente, encarando você? Nessa hora, frases típicas como: “Calor, hein!?” são a melhor solução, infalíveis para testar a abertura ou não de um canal para um bate-papo. Imagine o seguinte diálogo: -
Achei legal o panorama. Híper, não acha? Muito! A maior lua, tá entendendo? E a gente lá, é isso aí... E aí...como vai? Ela não desanima nunca...Você concorda? Não acha?... Qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar. Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar...
e) E quando a sua intenção é apenas “brincar” com as palavras; fazendo de conta que é um “poeta”? É simples, veja: O meu amor não tem importância nenhuma. Não tem o peso nem de uma rosa de espuma!
f) Finalmente, toda mensagem que serve para dar uma explicação usa uma linguagem que fala da própria linguagem, ou melhor, a mensagem tenta se auto-explicar. Confira: Um vereador de uma cidadezinha do Norte de Alagoas, Ramiro Pereira iniciou uma discussão com um colega no plenário. Argumento vai, argumento vem, o nível caiu. Lá pelas tantas, Ramiro disparou: - O sr. é um demagogo! - E o que é um demagogo? perguntou o ofendido. - Sei não. Mas deve ser um cabrinha safado assim da sua marca.
Para que você possa saber um pouco mais sobre tudo isso, não deixe de conferir as dicas a seguir... • ”O texto” – João Hilton Sayeg-Siqueira Selinunte Editora • ”Funções da Linguagem” – Samira Chalhub Ed. Ática
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• ”O que é Comunicação” – Juan E. Díaz Bordenave Ed. Brasiliense • Vídeos: “Silent movie” – Mel Brooks “O grande ditador” – Chaplin
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