A Web 3.0 E A Teoria Integral Do Conhecimento

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A WEB SEMÂNTICA E A TEORIA INTEGRAL DO CONHECIMENTO Prof. Alexandre Duarte

• Mestrado em Comunicação & Imagem • Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing

Fevereiro 2009

RESUMO: A internet, enquanto espaço público e livre de publicação e partilha de informação partiu sempre do óbvio e elementar princípio de que essa troca se faria sempre e apenas entre seres humanos. Foi dessa permissa que ela se desenvolveu ao longo dos tempos e foi também por isso que, de alguma forma, ela estagnou na sua evolução. Não que esta tenha sido lenta ou sequer sofrido algum revés, longe disso, mas ao ritmo que estávamos a ficar habituados, digamos que ela não deu o tão esperado “salto”. E talvez o maior obstáculo se deva exactamente ao facto da informação ser, ainda hoje, produzida “apenas” para consumo humano. Apesar de existirem já inúmeras bases de dados com significações bastante definidas, a verdade é que uma “máquina” não consegue ainda “navegar” na web. Independentemente da inteligência artificial, que não é agora chamada para caso, o futuro

da internet passa pelo desenvolvimento de linguagens que exprimam a informação de uma forma que as máquinas a possam “ler” e processar e organizar. Este é o princípio no qual assenta a chamada web 3.0 ou web semântica, que iremos detalhar de seguida.

Palavras-chave: internet; futuro; web semântica; comunicação: interacção; transmissão de informação; conhecimento; teoria integral; objectividade e subjectividade; quadrantes; linhas de desenvolvimento;

Introdução: Como facilmente se percebe, o tema que aqui resolvemos abordar não é pacífico. Ainda bem. “É preciso provocar sistematicamente a confusão. Isso gera Criatividade” já dizia Salvador Dali. Não é pacífico, dizíamos, desde logo porque se trata de um assunto intangível, imaterial, invisível e depois, para piorar: de um assunto do futuro. Ou seja, não apenas não se vê, não se sente, não se pode tocar, como existe apenas na base de suposições, de previsões, de tendências, de ideias imaginadas. Daqui, decorre imediatamente a questão da subjectividade vs. objectividade devido à análise e dedução pessoal, individual, e obrigatoriamente enviesada do autor, versus a interpretação,

felizmente subjectiva, e dificilmente coerente e uniforme dos vários leitores. Consequentemente, e porque a transmissão e, mais importante, a interpretação da informação nunca é, como sabemos, tarefa simples e linear, dela resultam ou emergem constantemente novas abordagens que importam aqui analisar. Depois, porque a próxima geração da internet, é chamada de “web semântica”, e sendo a Semântica a parte da linguística que estuda o  significado das palavras e a evolução do seu sentido, parece­nos particularmente  pertinente o seu estudo à luz das temáticas expostas nesta Unidade Curricular. E finalmente, como corolário desta já longa introdução, porque afinal informação é conhecimento, é à luz da Teoria Integral do Conhecimento que analisaremos esta problemática, e tentaremos levantar um pouco o manto do ignorância sobre esta matéria tão pouco consensual.

Desenvolvimento: Quando, em 2006, num artigo publicado no mundialmente famoso New York Times, o jornalista John Markoff utilizou pela primeira vez o termo Web 3.0, apesar de imediatamente compreendido e absorvido, esta expressão foi, com

igual ou pior ardor, imediatamente rejeitada pela comunidade virtual, principalmente pela blogosfera. Como refere o popular site Wikipédia: “(…) nos diários virtuais de especialistas detratores, a crítica mais comum é a de que Web 3.0 nada mais é do que a tentativa de incutir nos internautas num termo de fácil assimilação para definir algo que ainda nem existe. Aliás, críticas idênticas já se faziam à Web 2.0.(…)” Mas mais importante que a questão da nomenclatura, é o tema de fundo: afinal, o que é isso da web 3.0 ou web semântica? Para o “pai” da World Wide Web, Tim Berners­Lee, «é um modo de   descrever coisas de maneira a que um computador possa perceber». Se a web 1.0 foi a internet meramente informativa e a actual web 2.0, a internet participativa, a web 3.0  é a internet inteligente, isto é, uma forma de internet baseada numa maior capacidade dos diversos softwares disponíveis para “interpretar” os conteúdos em rede, devolvendo resultados cada vez mais objectivos e personalizados a cada nova pesquisa do utilizador. Naturalmente que o que está por trás é lógica e não compreensão. No entanto, a pergunta impõe­se: estaremos então perante uma forma de inteligência artificial mecânica, automatizada, capaz de interpretar de forma lógica as diversas informações? Para Tim Berners-Lee, novamente, a resposta, é simples: “as páginas actuais da Internet estão construídas para serem lidas pelas pessoas, mas não por máquinas.” Como consequência,

qualquer que seja a pesquisa, mais ou menos complexa, os computadores devolvem resultados, mas são as pessoas que têm sempre, em última análise, de proceder à filtragem da informação devolvida, porque só elas é que tem a capacidade para o fazer. Com a web semântica, as pessoas e os computadores passam a cooperar na exploração e atribuição de significado aos conteúdos publicados na Internet e no desenvolvimento de tecnologias e linguagens que colocam esse significado ao alcance das máquinas. (no fundo, a web 3.0 afigura­se como a melhor solução para ordenar o caos que  caracteriza actualmente a informação existente na net.) Com isso, não será de estranhar que os computadores possam, num futuro próximo, ser instruídos para pesquisar e obter resultados tão complexos como apresentar a listagem de preços das gasolineiras com mais de 8 postos de abastecimento, lavagem automática e cafetaria com Donuts recheados num raio de 5 Kms de um determinado ponto e abertos 24 horas por dia, sáo para dar um exemplo exagerado.

É aqui que entra a segunda questão: a web 3.0 agregará então todo o conhecimento? Ou dito por outras palavras, incluirá verdadeiramente tudo? Mais: assume que todos os conteúdos podem ser registados de maneira a serem compreendidos, interpretados e processados por determinadas entidades complexas de software, (capazes de actuar com um elevado grau de autonomia

para realizar tarefas em nome do seu utilizador), as quais procuram, partilham e integram a informação disponível de uma forma tão eficiente que tornam as pesquisas numa verdadeiro ouput integrado de dados com significação? E a ser assim, esse “tudo” poderia aspirar a abarcar toda a imensidão e plenitude do conceito grego de Kosmos, em todas as suas 5 dimensões: física, biológica, psicológica, teológica e mística??? Estaremos então em condições, ou seremos sequer capazes de construir esta  ponte, este paralelismo entre esta nova forma de organização do conhecimento global,  (entendido aqui sob uma forma abstrata, imaterial) e a consciência humana, com os  seus níveis ou memes de desenvolvimento?

E se sim, onde poderíamos colocar, segundo a Dinâmica da Espiral, a fase de  desenvolvimento previsível da web que aqui temos abordado? Na primeira camada,  num nível, ainda que elevado, de subsistência? Ou uma segunda? Já numa fase  superior do nível do ser e do pensamento? E em que meme? Laranja? Afinal,  podemos organizar toda a informação de uma forma perfeitamente racional, estruturá­ ­la segundo as mais elementares regras e leis da lógica, perfeitamente orientada para  os resultados, com os recursos a serem manipulados para benefício próprios (ainda  que sem qualquer julgamento ético ou reprovador), mas numa lógica de ganhos de 

eficiência, de tempo, de praticidade.  Ou será que deveríamos colocá­lo, nesta lógica de paralelismo, num meme  superior? No verde, por exemplo. Também não é menos verdade que esta forma de  organização de informação é democrática, não competitiva, harmoniosa, afinal todos  teremos acesso às mesmas informações (mais uma vez, eliminemos da equação ­ por  uma questão meramente académica ­as desigualdades sociais, o acesso à informação e  as relações de poder que, como sabemos, deturpam a verdade dos factos, e cinjamo­ ­nos à lógica abstrata do tema que aqui abordamos.) Ênfase na partilha, na troca, nos  valores, nas relações humanas. Nada aqui, neste meme, choca também com o tema.  Antes pelo contrário: pluralismo, liberdade, igualdade, anti­hierarquia.

Então mas… se a web semântica não é mais do que a criação e implantação de  padrões (standards) tecnológicos que permitem a interação e partilha dos dados de  uma maneira geral, provavelmente estaremos então num nível mais elevado da  consciência, numa segunda camada.

Ou seja: a verdade é que a web semântica é a web do conhecimento, mas num  sentido organizativo e não da produção de novos conteúdos, i.e., a web 3.0 não trará  conhecimento novo, mas antes uma nova forma de estruturação que permitirá que o 

conhecimento (explícito) nela presente seja mais bem aproveitado, não apenas por  pessoas, mas principalmente, pelas máquinas.  Se quisermos usar uma metáfora, comparemos a web a uma biblioteca repleta  de obras. Actualmente, essa biblioteca, embora cheia de livros, não tem praticamente  nenhuma forma coerente de organização – os livros estão todos espalhados, e para se  procurar algo, tem de se ler todos até se encontrar o que se quer.  Já a web semântica é uma biblioteca estruturada, onde cada obra está  organizada por assunto, autor, ano, editora, etc. Ou seja, cada livro contém um  conjunto de informações extras (as chamadas meta­informações), que não sendo  conteúdo novo, diz respeito a informações estruturadas segundo um padrão formal e  bem definido, tornando possível que as máquinas sejam capazes, por si só, de  processar seu conteúdo de forma muito mais eficaz e eficiente. Esta capacidade globalizante, transcendente, se quisermos, permite­nos então,  sem esforço, colocar a web 3.0 no patamar superior uma vez que para a sua  funcionalidade é necessária, mais que a compreensão, a utilização de todas as formas  de conhecimento até aqui experimentadas. A maioria de nós já aprendemos alguns “ truques” do Google, utilizando  expressões ou acrescentando palavras que nos permitem refinar a pesquisa, mas o que  estamos aqui a falar é completamente diferente. A web semântica pesquisa pelo  sentido (daí a semântica) das frases e não pelos termos que inserimos. 

Exemplo: como os motores de busca funcionam por indexação das palavras  que vão encontrando na web, se procurarmos, suponhamos, a palavra  “webdesign” os  resultados apresentados são diferentes daqueles que obtemos se pesquisarmos por  “web design” ou, muito mais distintos ainda se procurarmos “design de sites” quando,  no entanto,  todos estes termos têm o mesmo significado.  Resumindo: ao indexar, organizar e apresentar a informação de forma  sistematizada e inteligente a “web semântica” reconhece  a importância de todas as  formas anteriores de conhecimento, nomeadamente dos dados, sem os quais o seu  “trabalho” seria impossível. No entanto, nova dúvida se levanta: é que, aceite­se ou não, esta nova forma de  organização da informação no espaço virtual, apesar de reconhecer a importância das  anteriores, “assume­se” como o passo seguinte, o futuro, e sobreleva a sua  importância às demais. Desta forma, auto­exclui­se desta plenitude de evolução de  segunda camada que percepciona, pela sua própria definição, todos os anteriores  estádios numa visão holística. Quer dizer, continua a pensar que a sua visão é a  postura certa e correcta, tendendo mesmo a rejeitar as anteriores. Claro que mesmo na web 3.0, e mantendo esta tentativa de paralelismo com a  consciência humana (apesar de, como Ken Wilber assume nas primeiras páginas do  seu livro “Uma Teoria de Tudo”, também esta nossa tentativa, como as demais, será  sempre, obrigatoriamente marcada pelas suas diversas formas de falhar) – ainda  assim, podemos continuar a exercitar esta linha de raciocínio e imaginar que, mesmo 

na web 3.0 podemos recorrer a impulsos do vermelho, em caso de ajuda numa  situação de emergência, exigir a ordem do azul, nesta tentativa de organização plena e  interligada, da visão empreendedora do laranja, para evoluir e melhorar ou mesmo,  para a conjugação de todos estes meta­dados, dos impulsos do verde. Avançando na nossa análise, Ken Wilber defende, a páginas tantas, que “todo   o percurso de desenvolvimento humano pode ser visto como um declínio do   egocentrismo.” E que “o desenvolvimento envolve uma diminuição do narcisismo e   um aumento da consciência, ou a capacidade de ter em conta outras pessoas, lugares   e coisas e, dessa forma, estender progressivamente a sua solicitude a cada uma   delas.” Aplicando a fórmula da comparação que temos vindo a utilizar, diríamos que a  web 3.0 tem correspondência precisamente com o estádio da solicitude universal, uma  vez que grande parte da emergência deste estádio passa pela justiça e integridade  universal (ao tratar os dados e a informação de forma equilitária). 

Mas é quando tentamos aplicar esta problemática no mapa dos quadrantes,  numa prespectiva de análise integral que o tema assume toda a sua complexidade e,  por ventura, o seu encanto enquanto objecto de estudo e interpretação. Se não,  vejamos: e partindo do pressuposto de que o nosso hólon é a própria web semântica.

O quadrante superior esquerdo, correspondente ao “eu” seria o equivalente à 

“consciência” desta nova forma de interacção e de comunicação virtual, à sua  existência individual e subjectiva, no fundo, a forma como esta se identica, como se  vê, como se situa nas diversas linhas de desenvolvimento. O quadrante imediatamente ao lado, no lado superior direito do mapa,  colocaríamos a objectividade dos programas, dos softwares, dos agentes responsáveis  por essa indexação, organização e apresentação de resultados da forma até aqui  explicada. Ou seja, a parte “física”do mecanismo, o que permite a este hólon  funcionar de determinada maneira específica.

E para o mapa ser verdadeiramente integral fica a faltar­nos a parte plural, a  parte de grupo, de todo, de interação e agregação com os restantes elementos que  compoêm o mundo, quer da parte subjectiva quer objectiva. E novamente teríamos no quadrante inferior esquerdo, a que chamaremos, de  forma simplista e por uma questão e praticidade, de “cultura”, todos os elementos,  padrões, valores, práticas sistemas e conexões, enre outros, partilhados por todos  quantos se encontram intrinsecamente ligados a este sub­cultura dos meios  tecnológicos, da comunicação interactiva, da realidade virtual, da “internet” se assim  lhe podemos chamar.  No quadrante paralelo do lado direito encontramos as estruturas sociais que  permitem quer os estilos, quer o âmbito, quer as modalidades de transferências de  informação que, sendo objectivas, reflectem o lado “externo”, a 3ª pessoa, a 

“sociedade” em si onde estamos inseridos e nos “permite” ou não, aceita ou não,  comporta ou não  determinados comportamentos e atitudes genericamente aceites por  todos.

O quadrante do colectivo subjectivo é, parece­nos, o mais interessante do  ponto de vista académico de analisar no caso do hólon a que nos propusemos  interpretar: a web 3.0. E é agora o momento, já focados neste enquadramento de “cultura” e visão do  mundo, neste quadrante inferior esquerdo que devemos voltar ao início deste papper e  recapitular na linha de níveis de desenvolvimento que esboçámos, o ponto onde  situaríamos o estado de evolução da web semântica, se assim for possível.

De novo, recorrendo às correlações entre a Dinâmica da Espiral e as suas 8  ondas de desenvolvimento analisadas num esquema de visões do mundo vs. conceitos  do eu, situaríamos a web 3.0 num estádio pós­racional, e pré­integral, talvez  pluralista, situado algures entre o meme laranja e o verde, antes da segunda camada de  desenvolvimento, precisamente por entendermos que, ao “assumir­se” como o novo  paradigma da internet, a web 3.0 não consegue ainda aceitar, (apesar de as integrar)  de forma verdadeiramente holística, a importância de todas as anteriores, a que  corresponde, num plano auto­identitário, à fase individualista, embora quase 

autónoma, apesar de precisar sempre da intervenção humana no pedido ou busca  inical.

Conclusão: Se fosse possível comparar um facto abstrato, impalpável e futurista com os níveis de desenvolvimento da consciência humana teríamos, por ventura, uma interpretação muito próxima da que aqui apresentamos. Independentemente da elevada carga subjectiva inerente a uma análise deste tipo, restanos, em jeito de conclusão reforçar as 2 ideias centrais que julgamos serem as mais fortes e importantes a retirar deste papper: tal como a consciência humana, também a web evolui e avança ao longo dos diversos níveis de desenvolvimento; e, por outro lado, à luz de uma teoria integral do conhecimento, tudo pode ser analisado e interpretado, como aqui se tentou provar. Deixamos, obviamente, ao critério do leitor, concordar ou não com a nossa interpretação, sendo que, qualquer que seja a sua opinião, é desde já por nós aceite, entendida e respeitada.

Referências:

• Wilber, Ken, A Teoria de Tudo • http://www.w3.org/DesignIssues/Semantic

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_3.0 • http://www.westicon.pt/v2.1/pt/artigo.php?id_artigo=59 • http://www.tableless.com.br/a-web-semantica • www.portalwebmarketing.com/MotoresdeBusca/a_web_semantica/ta bid/436/Default.aspx • ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo5531.PDF

• www.sgmf.pt/Arquivo/Revista/Estudos%20e%20Artigos/Documents/f a355c0f1deb48b790a4b482923c1782web30.pdf • pt.wikibooks.org/wiki/Sistemas_de_Informação_Distribuídos/SID_na_ Web/Web_Semântica

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