DE JOÃO DE NORONHA Nesta quinzena foram muitas as queixas sobre a banca, tanto no Reino Unido como em Portugal. Não há muito tempo eram notícia em todo Mundo os lucros fabulosos que apresentavam. Depois, num toque de magia negra, são notícia as perdas e o descalabro das mesmas, muitas à beira da falência - isto é, de Banca rota a bancarrota. Mais tarde foram notícia em todo o Mundo as fabulosas somas que arrecadaram nos cofres, vindas dos nossos bolsos, isto é, dos nossos impostos. Tudo sancionado pelos governos por esse Mundo fora. Tudo à revelia do consumidor e dos contribuintes. Tudo, dizem os políticos, para salvaguardar o nosso futuro. Sobretudo para encobrir as falcatruas e os escândalos financeiros, onde os mesmos bancos investiram o “nosso” dinheiro e o deixaram fugir, pelos “buracos” do sistema especulativo. Tudo isto porque ninguém fiscaliza ninguém. O que é preciso é demonstrar crescimento, resultados e lucros, à custa do que quer que seja, mesmo através de um esquema há muito aceite como falido, à moda da portuguesa “Dona Branca”, mas que dá frutos imediatos e demonstra lucros, mesmo quando se sabe que o capital é engolido pelos “tentáculos” da corrupção. Só que até hoje ainda não vimos ninguém preso por negligência. Que em Portugal não se fiscalize a banca, porque tem sido um campo fértil para empregar políticos, deputados e ex-ministros, ainda se entende. Agora, nos Estados Unidos... no Reino Unido... leva-nos a muitas ilações. Por fim, os bancos que receberam biliões do estado português e britânico - agora recusam-se a passar as regalias aos clientes e, ainda mais grave, a financiar as empresas, coonforme se comprometeram quando foram intervencionados pelo estado. Para além dos juros, que desceram, e que também
se recusam a passar aos clientes. Até pelo contrário - subiram a carga dos juros e das cobranças de serviços para valores inacreditáveis, tudo à pala das entidades fiscalizadoras. Um escândalo que nem os políticos podem ignorar. Numa afronta directa à necessária política global de recuperação económica.
Assim, tanto em Portugal como na GrãBretanha, os governos ameaçam com sanções aos bancos - ou cumprem ou... ninguém sabe o quê !?!?!? Aqui, sabemos que é para “inglês ver”, mas, em Portugal... Só que os governos esquecem que com o capital investido e perdido em “trocas e baldrocas” os bancos apenas recuperaram os capitais mal investidos e perdidos nos esquemas especulativos. Agora, para ajudar o “povão” vão ser precisas novas medidas = a mais milhões = a uma possível recuperação = até novo escândalo e crise financeira. Porque, como dizem importantes professores e economistas “o capitalismo sempre encontra a porta de saída”. O que é preciso saber é para onde nos levará esse novo caminho... depois da saída.
O novo cônsul geral de Portugal em Londres, José Macedo Leão, concedeu uma entrevista a um jornal da emigração, conhecido como o porta-voz da secretaria de estado das comunidades portuguesas. Nessa entrevista, para além de aceitarmos uma vontade positiva em mudar o estado em que este consulado se encontra, descortinámos várias incorrecções que gostaríamos de realçar, para que os leitores conheçam também a voz da contestação e das associações que, diariamente, defendem os interesses dos portugueses residentes no Reino Unido. Diz Macedo Leão que o consulado, em Outubro, atingiu 1500 actos consulares. Isto é, atendeu e despachou 1500 pedidos. Em 2006, o mesmo consulado atendeu e despachou, num ano, cerca de 43 mil casos consulares (fonte da SECP), isto é, mais de 3500 casos por mês. Não vejo onde está a satisfação em atender menos 2000 casos consulares por mês. Neste aspecto gostaríamos de ouvir o cônsul geral dizer que é preciso reorganizar o consulado de modo a chegar, primeiro, ao números de há dois anos e, depois, que permita que as pessoas não tenham de esperar dois meses para serem atendidas e três meses para receberem grande parte da documentação tratada. Diz Macedo Leão que somos 350 mil. E por certo somos - em Londres. Só que o consulado serve cerca de 2/3 da população portuguesa aqui residente, que são, como bem sabe, cerca de 700 mil. Já em 2004, e para isso basta ir aos arquivos consulares, numa carta dirigida à banca portuguesa na City, o consulado indicava 580 mil portugueses residentes no Reino Unido. É preciso sermos coerentes e a comunidade portuguesa precisa que as autoridades nacionais, de uma vez por todas, lhes digam
a verdade. Sabemos que em política os meios justificam os fins, mas estamos a falar de outros portugueses que aqui residem e lutam por uma vida melhor, que merecem ser respeitados. Depois, existe uma quantidade de organizações de defesa da nossa emigração que vivem ajudando consoante o que angariam das autoridades locais, em função do número que somos. E é por demais irresponsável que, por motivos políticos e sem qualquer capacidade demonstrada para apoiarem a integração da comunidade portuguesa, ponham em causa o apoio essencial para a sobrevivência de famílias em crise, onde se englobam crianças, doentes, deficientes e problemáticos. Por fim, Macedo Leão diz que estamos muito mais evoluídos administrativamente do que os ingleses. Só que se esqueceu que um cidadão inglês, em Portugal, não espera dois meses para ser atendido, nem espera dois a três meses para ter a documentação oficial nas suas mãos. Por mais argumentos que queira arranjar, é preciso que os cônsules e embaixadores no Reino Unido reconheçam a sua incapacidade para resolverem o problema de apoio à comunidade portuguesa, indipendentemente de quantos somos. O que gostaríamos de ouvir de Macedo Leão é que está disposto a reunir com as instituições de apoio à comunidade e arranjar uma plataforma, que já existiu e que foi inexplicavelmente fechada pelo último cônsul, para, de mãos dadas, defenderem os interesses e facilitarem o acesso ao consulado dos portugueses aqui residentes. Até lá, penso que seria melhor acabar com este tipo de entrevistas e propaganda, que só indispõem quem aqui luta por uma vida melhor. Porque contradiz por completo qualquer defesa do sistema existente no actual consulado. PUB.