A Indústria Bilionária Da Fabricação De Doentes - Ray Moynihan, Alan Cassels - Prevenção

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A INDÚSTRIA BILIONÁRIA DA FABRICAÇÃO DE DOENTES (Os vendedores de doenças) As estratégias da indústria farmacêutica para multiplicar lucros espalhando o medo e transformando qualquer problema banal de saúde numa "síndrome" que exige tratamento

Ray Moynihan, Alan Cassels (Tradução: Wanda Caldeira Brant, wbrant@globo. com)

H

á cerca de trinta anos, o dirigente de uma das maiores

empresas farmacêuticas do mundo fez declarações muito claras. Na época, perto da aposentadoria, o dinâmico diretor da Merck, Henry Gadsden, revelou à revista Fortune seu desespero por ver o mercado potencial de sua empresa confinado somente às doenças. Explicando preferiria ver a Merck transformada numa espécie de Wringley's – fabricante e distribuidor de gomas de mascar –, Gadsden declarou que sonhava, havia muito tempo, produzir medicamentos destinados às... pessoas saudáveis. Porque, assim, a Merck teria a possibilidade de "vender para todo mundo". Três décadas depois, o sonho entusiasta de Gadsden tornou-se realidade.

As estratégias de marketing das maiores empresas farmacêuticas almejam agora, e de maneira agressiva, as pessoas saudáveis. Os altos e baixos da vida diária tornaram-se problemas mentais. Queixas totalmente comuns são transformadas em síndromes de pânico. Pessoas normais são, cada vez mais pessoas, transformadas em doentes. Em meio a campanhas de promoção, a indústria farmacêutica, que movimenta cerca de 500 bilhões dólares por ano, explora os nossos mais profundos medos da morte, da decadência física e da doença – mudando assim literalmente o que significa ser humano. Recompensados com toda razão quando salvam vidas humanas e reduzem os sofrimentos, os gigantes farmacêuticos não se contentam mais em vender para aqueles que precisam. Pela pura e simples razão que, como bem sabe Wall Street, dá muito lucro dizer às pessoas saudáveis que estão doentes.

A fabricação das "síndromes" A maioria de habitantes dos países desenvolvidos desfruta de vidas mais longas, mais saudáveis e mais dinâmicas que as de seus ancestrais. Mas o rolo compressor das campanhas publicitárias, e das campanhas de sensibilização diretamente conduzidas, transforma as pessoas saudáveis preocupadas com a saúde em doentes preocupados. Problemas menores são descritos como muitas síndromes graves, de tal modo que a timidez tornase um "problema de ansiedade social", e a tensão prémenstrual, uma doença mental denominada "problema disfórico pré-menstrual" . O simples fato de ser um sujeito "predisposto" a desenvolver uma patologia torna-se uma doença em si. O epicentro desse tipo de vendas situa-se nos Estados Unidos, abrigo de inúmeras multinacionais farmacêuticas. Com menos de 5% da população mundial, esse país já representa cerca de 50% do mercado de medicamentos. As despesas com a saúde continuam a subir mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Cresceram quase 100% em seis anos – e isso não só porque os preços dos

medicamentos registram altas drásticas, mas também porque os médicos começaram a prescrever cada vez mais. De seu escritório situado no centro de Manhattan, Vince Parry representa o que há de melhor no marketing mundial. Especialista em publicidade, ele se dedica agora à mais sofisticada forma de venda de medicamentos: dedicase, junto com as empresas farmacêuticas, a criar novas doenças. Em um artigo impressionante intitulado "A arte de catalogar um estado de saúde", Parry revelou recentemente os artifícios utilizados por essas empresas para "favorecer a criação" dos problemas médicos [1]. Às vezes, trata-se de um estado de saúde pouco conhecido que ganha uma atenção renovada; às vezes, redefine-se uma doença conhecida há muito tempo, dando-lhe um novo nome; e outras vezes cria-se, do nada, uma nova "disfunção". Entre as preferidas de Parry encontram-se a disfunção erétil, o problema da falta de atenção entre os adultos e a síndrome disfórica pré-menstrual – uma síndrome tão controvertida, que os pesquisadores avaliam que nem existe.

Médicos orientados por marqueteiros Com uma rara franqueza, Perry explica a maneira como as empresas farmacêuticas não só catalogam e definem seus produtos com sucesso, tais como o Prozac ou o Viagra, mas definem e catalogam também as condições que criam o mercado para esses medicamentos. Sob a liderança de marqueteiros da indústria farmacêutica, médicos especialistas e gurus como Perry sentam-se em volta de uma mesa para "criar novas idéias sobre doenças e estados de saúde". O objetivo, diz ele, é fazer com que os clientes das empresas disponham, no mundo inteiro, "de uma nova maneira de pensar nessas coisas". O objetivo é, sempre, estabelecer uma ligação entre o estado de saúde e o medicamento, de maneira a otimizar as vendas. Para muitos, a idéia segundo a qual as multinacionais do setor ajudam a criar novas doenças parecerá estranha,

mas ela é moeda corrente no meio da indústria. Destinado a seus diretores, um relatório recente de Business Insight mostrou que a capacidade de "criar mercados de novas doenças" traduz-se em vendas que chegam a bilhões de dólares. Uma das estratégias de melhor resultado, segundo esse relatório, consiste em mudar a maneira como as pessoas vêem suas disfunções sem gravidade. Elas devem ser "convencidas" de que "problemas até hoje aceitos no máximo como uma indisposição" são "dignos de uma intervenção médica". Comemorando o sucesso do desenvolvimento de mercados lucrativos ligados a novos problemas da saúde, o relatório revelou grande otimismo em relação ao futuro financeiro da indústria farmacêutica: "Os próximos anos evidenciarão, de maneira privilegiada, a criação de doenças patrocinadas pela empresa". Dado o grande leque de disfunções possíveis, certamente é difícil traçar uma linha claramente definida entre as pessoas saudáveis e as doentes. As fronteiras que separam o "normal" do "anormal" são freqüentemente muito elásticas; elas podem variar drasticamente de um país para outro e evoluir ao longo do tempo. Mas o que se vê nitidamente é que, quanto mais se amplia o campo da definição de uma patologia, mais essa última atinge doentes em potencial, e mais vasto é o mercado para os fabricantes de pílulas e de cápsulas. Em certas circunstâncias, os especialistas que dão as receitas são retribuídos pela indústria farmacêutica, cujo enriquecimento está ligado à forma como as prescrições de tratamentos forem feitas. Segundo esses especialistas, 90% dos norte-americanos idosos sofrem de um problema denominado "hipertensão arterial"; praticamente quase metade das norte-americanas são afetadas por uma disfunção sexual batizada FSD (disfunção sexual feminina); e mais de 40 milhões de norte-americanos deveriam ser acompanhados devido à sua taxa de colesterol alta. Com a ajuda dos meios de comunicação em busca de grandes manchetes, a última disfunção é constantemente anunciada como presente em grande parte da população: grave, mas sobretudo tratável, graças aos medicamentos. As vias alternativas para compreender e tratar dos

problemas de saúde, ou para reduzir o número estimado de doentes, são sempre relegadas ao último plano, para satisfazer uma promoção frenética de medicamentos.

Quanto mais alienados, mais consumistas A remuneração dos especialistas pela indústria não significa necessariamente tráfico de influências. Mas, aos olhos de um grande número de observadores, médicos e indústria farmacêutica mantêm laços extremamente estreitos. As definições das doenças são ampliadas, mas as causas dessas pretensas disfunções são, ao contrário, descritas da forma mais sumária possível. No universo desse tipo de marketing, um problema maior de saúde, tal como as doenças cardiovasculares, pode ser considerado pelo foco estreito da taxa de colesterol ou da tensão arterial de uma pessoa. A prevenção das fraturas da bacia em idosos confunde-se com a obsessão pela densidade óssea das mulheres de meia-idade com boa saúde. A tristeza pessoal resulta de um desequilíbrio químico da serotonina no celebro. O fato de se concentrar em uma parte faz perder de vista as questões mais importantes, às vezes em prejuízo dos indivíduos e da comunidade. Por exemplo: se o objetivo é a melhora da saúde, alguns dos milhões investidos em caros medicamentos para baixar o colesterol em pessoas saudáveis, podem ser utilizados, de modo mais eficaz, em campanhas contra o tabagismo, ou para promover a atividade física e melhorar o equilíbrio alimentar. A venda de doenças é feita de acordo com várias técnicas de marketing, mas a mais difundida é a do medo. Para vender às mulheres o hormônio de reposição no período da menopausa, brande-se o medo da crise cardíaca. Para vender aos pais a idéia segundo a qual a menor depressão requer um tratamento pesado, alardeia-se o suicídio de jovens. Para vender os medicamentos para baixar o colesterol, fala-se da morte prematura. E, no entanto, ironicamente, os próprios medicamentos que são objeto de

publicidade exacerbada às vezes causam os problemas que deveriam evitar. O tratamento de reposição hormonal (THS) aumenta o risco de crise cardíaca entre as mulheres; os antidepressivos aparentemente aumentam o risco de pensamento suicida entre os jovens. Pelo menos, um dos famosos medicamentos para baixar o colesterol foi retirado do mercado porque havia causado a morte de "pacientes". Em um dos casos mais graves, o medicamento considerado bom para tratar problemas intestinais banais causou tamanha constipação que os pacientes morreram. No entanto, neste e em outros casos, as autoridades nacionais de regulação parecem mais interessadas em proteger os lucros das empresas farmacêuticas do que a saúde pública.

A "medicalização" interesseira da vida A flexibilização da regulação da publicidade no final dos anos 1990, nos Estados Unidos, traduziu-se em um avanço sem precedentes do marketing farmacêutico dirigido a "toda e qualquer pessoa do mundo". O público foi submetido, a partir de então, a uma média de dez ou mais mensagens publicitárias por dia. O lobby farmacêutico gostaria de impor o mesmo tipo de desregulamentaçã o em outros lugares. Há mais de trinta anos, um livre pensador de nome Ivan Illich deu o sinal de alerta, afirmando que a expansão do establishment médico estava prestes a "medicalizar" a própria vida, minando a capacidade das pessoas enfrentarem a realidade do sofrimento e da morte, e transformando um enorme número de cidadãos comuns em doentes. Ele criticava o sistema médico, "que pretende ter autoridade sobre as pessoas que ainda não estão doentes, sobre as pessoas de quem não se pode racionalmente esperar a cura, sobre as pessoas para quem os remédios receitados pelos médicos se revelam no mínimo tão eficazes quanto os oferecidos pelos tios e tias [2] ".

Mais recentemente, Lynn Payer, uma redatora médica, descreveu um processo que denominou "a venda de doenças": ou seja, o modo como os médicos e as empresas farmacêuticas ampliam sem necessidade as definições das doenças, de modo a receber mais pacientes e comercializar mais medicamentos [3]. Esses textos tornaram-se cada vez mais pertinentes, à medida que aumenta o rugido do marketing e que se consolidas as garras das multinacionais sobre o sistema de saúde.

Bibliografia complementar: * A revista médica PLoS Medecine traz, em seu número de abril de 2006, um importante dossiê sobre "A produção de doenças" – http://medicine. plosjournals. org/ * Na França, as revistas Pratiques (dirigida ao grande público) e Prescrire (destinada aos médicos) avaliam os medicamentos e trazem um olhar crítico sobre a definição das doenças. *Jörg Blech, Les inventeurs de maladies. Manœuvres et manipulations de l'industrie pharmaceutique, Arles, Actes Sud, 2005. * Philippe Pignarre, Comment la dépression est devenue une épidémie, Paris, Hachette-Litté rature, col. Pluriel, 2003. Este Artigo vem ao encontro com o que já nos foi declarado por PAUL ZANE PILZER em sua pesquisa de 6 milhões de dólares, onde denuncia a INDÚSTRIA DA DOENÇA nos EUA, em sua palestra na Extravaganza Brasil 2005. (NT) Fonte: Le Monde Diplomatique (edição maio 2006) http://diplo. uol.com.br/ 2006-05,a1302

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DENÚNCIA DO JORNAL DA BAND SOBRE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA REPORTAGEM COMPLETA

Primeira reportagem da Série: “RECEITA MARCADA ” 02 de julho de 2008 (Quarta-feira) No dia 02 de julho de 2008, o Jornal da Band apresentou uma reportagem (será apresentada uma série de reportagens sobre o tema), denunciando a indústria farmacêutica. O vídeo da reportagem pode ser visto, acessando o link abaixo: http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=92062&CN L=1 “Exclusivo, comida boa, hotéis de luxo, passeios com a família, esses são alguns dos presentes que os laboratórios distribuem em todo o país, para que médicos indiquem os seus remédios aos seus pacientes. Na primeira reportagem da série “Receita Marcada”, o Jornal da Band denuncia o prejuízo ao consumidor com esta relação entre a indústria farmacêutica e a classe médica.” “Convites para simpósios em hotéis de luxo no Brasil e no exterior com tudo pago, jantares regados a muita comida e bebida alcoólica, brindes e sorteios de eletro-eletrônicos; desde o primeiro ano da faculdade de Medicina, os alunos já são assediados por funcionários da indústria farmacêutica.” “A gente recebe uma amostra grátis aqui, faz uso de uma coisa ou outra, que, no final, o medicamento chega muito caro no mercado.” “O orçamento mensal de Dona Regina foi prejudicado, o médico da pensionista receitou um remédio que custa R$87,00 para hipertensão, e disse que ela não poderia comprar o genérico.” “Eu vou mudar de médico para ver se o outro tem a mesma opinião.” “O importante é que ele (o médico) mencione na prescrição dele, o nome do genérico, e diga ao paciente que “este é o genérico”, e existem muitas opções, e este tipo de franqueza, de informação, é uma obrigação ética do médico.” “A maioria das pessoas confia na prescrição médica”. “A marca você segue o que o médico manda.”

“É disso que os laboratórios se aproveita: do desconhecimento. Para vender os remédios, a indústria farmacêutica conta com equipes, que visitam com freqüência, os médicos nos consultórios. Além de oferecer amostras grátis, os chamados ‘propagandistas’ dão PRESENTES aos profissionais da medicina. Este homem, que é propagandista há quatro anos, conta como é a relação com os médicos: -- O que que um médico pede em troca, para prescrever os medicamentos do laboratório? -- Muitas vezes o médico pede jantares, que o laboratório pague alguns congressos e pague algumas viagens. “Esta prática é muito mais comum do que se imagina nos consultórios médicos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) 75% dos remédios prescritos não são adequados. A cada 42 minutos, uma pessoa é intoxicada, pelo uso indevido de medicamentos no Brasil; muitas vezes, o paciente nem precisa tomar remédios.” “Nossa equipe acompanhou um jantar, promovido por um laboratório, nesta churrascaria em São Paulo. Foram convidados 60 médicos, alguns deles levaram parentes.” (...) “O laboratório que organizou o jantar, não promoveu uma palestra com especialista médico, apenas apresentou um de seus produtos. Esta prática é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Depois do jantar, todos os médicos agradeceram a cortesia.” (...) “Em maio, o Laboratório Novartis, patrocinou um Congresso sobre osteoporose, de sexta a domingo, neste resorte em Florianópolis. Passagem aérea e hospedagem de graça, e um desconto especial para os acompanhantes de 50 médicos. Na manhã de sábado, eles assistiram a 4 palestras. O restante do fim de semana foi livre. Na maioria das vezes, os profissionais convidados são os que mais indicam os medicamentos do laboratório que patrocina o evento. Para verificar a venda dos produtos, e quem prescreveu, a indústria farmacêutica negocia cópias das receitas médicas com as farmácias.” (...)

“E quanto mais consumo, mais dinheiro para a indústria farmacêutica. O setor fatura por ano R$ 28 BILHÕES DE REAIS NO PAÍS, 30% são investidos em marketing.” “Em nota o Laboratório Novartis, que patrocinou o congresso em um hotel de luxo em Florianópolis, alega que o evento teve cunho científico, e que o objetivo do encontro foi atualizar os profissionais de saúde.” “E amanhã, o Jornal da Band vai mostrar como os propagandistas agem em hospitais, Universidades e farmácias. Até amostras de remédios com tarja preta, que são proibidos, portanto, são oferecidos aos médicos.” Fonte: Jornal da Band – 02/07/2008, primeira reportagem da série “Receita marcada”. Para assistir ao vídeo da reportagem, utilize o link abaixo: http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=92062&CN L=1 ---------------------------------------------

DENÚNCIA DO JORNAL DA BAND SOBRE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Segunda reportagem da Série: “RECEITA MARCADA” “LABORATÓRIOS PROMOVEM SORTEIOS PARA MEDICAÇÃO DE SEUS REMÉDIOS” O vídeo desta reportagem pode ser visto no link abaixo: http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=92261&CN L=1 03 de julho de 2008 (Quinta-feira) “Exclusivo, laboratórios sorteiam computadores, DVDs e até automóveis entre médicos, para que eles receitem seus

medicamentos para pacientes. Uma estratégia “ilegal” flagrada por nossa reportagem. Na série “Receita Marcada” você também vai ver como agem os propagandistas da indústria farmacêutica em hospitais, e até em Universidades. Amostras de remédios com tarja preta, de uso “controlado”, também são oferecidas aos médicos.” “Eles estão nos corredores dos hospitais, na porta dos consultórios, nas universidades de Medicina. É só o médico ter um intervalo, que os propagandistas dos fabricantes de remédios, aparecem com amostras grátis, panfletos e brindes de todos os tipos: rádio-relógio, livro, caneta, pen-drive e até bichinho de pelúcia. Este ortopedista, caminha pelo corredor do Hospital de Clínicas de São Paulo, o maior da América Latina, com uma caixa de medicamentos que ganhou. Esta médica sai com uma sacola cheia de presentes.” “Eu ganhei canetas, amostras (de remédios) e toalha.” “Alguns chegam a pedir de tudo em troca da prescrição: “Tem um médico que queria reformar o consultório. Ele falou: “Olha, eu queria reformar o consultório, o que o laboratório vai me dar?” “Este propagandista disse que a relação com grande parte dos médicos, é de pura troca de interesses: “Na realidade, o propagandista vê o médico como uma fonte para gerar capital de vendas para o laboratório. O médico já olha como uma fonte de interesse particular.” “Riad Younes, Diretor do Hospital Sírio Libanês, diz: “São relacionamentos, são patrocínios, são ajudas, que podem, teoricamente, influenciar a decisão do médico, e esta decisão não é mais independente e é aí que mora o problema.” “A distribuição de amostras grátis de remédios de tarja preta é ilegal, ainda assim, esta propagandista confirma que entrega medicamentos controlados aos médicos: -- “O que for liberado de amostra de tarja preta tem que constar o carimbo no protocolo e a quantidade.” -- “Então o propagandista pode levar (amostra de tarja preta)?”. -- “Pode.”

“Os funcionários do Laboratório Ápice, fizeram um vídeo para contar a rotina de trabalho; a paródia, que circula pela internet, fala da relação com os médicos.” – “O médico amigo, que pediu investimento, cobrou o patrocínio pra poder ir pro evento. A verba está regada e o cara me pediu.” Rodrigo Hidalgo (São Paulo): “Além da distribuição de brindes os laboratórios investem em sorteios de produtos caros, o que é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Fabricantes já sortearam entre os médicos que participaram de congressos e simpósios como este no país, computadores portáteis, aparelhos de TV e até carros.” “E em um evento, promovido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, em São Paulo, esta empresa definiu um estratégia para chamar a atenção dos profissionais da medicina: -- “Vai ter sorteio de que?” -- “DVDKaraokê. Amanhã faremos o último sorteio. Vocês querem preencher?” “A Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica, acredita que o desvio de conduta dos médicos não é comum: -- “O importante é que são casos que devem ser trados com focos em cima destes casos, e não se pode generalizar para a atividade de toda a indústria e de todos os profissionais médicos.” (Ciro Mortella, Presidente da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica). “Para tentar acabar com as práticas ilegais, a Anvisa vai mudar a regulamentação do setor: -- “Por exemplo, a amostra grátis, ela fica proibida de ser distribuída em congressos médicos. E o espaço previsto por lei, para receber e utilizar esta amostra grátis, é o seu consultório”. (Maria José Delgado – Gerente Fisc. Prop./ ANVISA)” “Enquanto isso, negociações proibidas continuam. Nesta farmácia, a nossa equipe conseguiu, o que devia ser confidencial, a relação de médicos que prescrevem medicamentos de tarja preta:

-- “Posso te passar, né? As receitas do dia-a-dia. Posso te passar o número do CRM, ta?” Fonte: Jornal da Band, 03 julho 2008, segunda reportagem da série “Receita Marcada”. O vídeo desta reportagem, pode ser vista no link abaixo: “Laboratórios promovem sorteios para a medicação de seus remédios”. http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=92261&CN L=1 ------------------------------------Link do vídeo da primeira reportagem da série “Receita Marcada”, abaixo: “Denúncia do Jornal da Band sobre a indústria farmacêutica”. http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=92062&CN L=1 -------------------------------------

DENÚNCIA DO JORNAL DA BAND SOBRE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Terceira reportagem da Série: “RECEITA MARCADA” “título...” 04 de julho de 2008 (Sexta-feira) ( ... ) ... procurou outra opinião médica, e descobriu que Pedro não precisa tomar o medicamento.”

“Ainda estou nesta prática, mais do amor mesmo, do carinho, da atenção.” -- Então, é o jeito dele? -- É o jeito, tem que saber entender ele. “O remédio (Ritalina) é controlado, e só pode ser vendido com este tipo de receita, de cor amarela. Mas é fácil encontrar a droga, sendo vendida livremente pela internet. No Brasil nos últimos quatro anos, houve um aumento de 930% na venda da Ritalina. Em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, 12 mil comprimidos foram vendidos por mês em 2007. Segundo o Ministério da Saúde, a cidade é uma das que mais prescrevem o medicamento.” “Eu acho que houve um excesso de rótulos, muitas crianças que não se adequavam ao comportamento em sala de aula, eram rotuladas de crianças com déficit de atenção.” (Maria do Rosário Laguna – Sec. Mun. Educação) “Segundo especialistas, o crescimento do consumo do remédio, está ligado ao marketing agressivo dos fabricantes. Cerca de 70% das crianças que tomam o remédio não tem a doença.” “A indústria farmacêutica na minha opinião, cria as doenças, para que, os sujeitos possam então consumir medicamentos, para de certa forma apaziguar, ou diminuir estes sintomas provocados por esta doença”. (Kátia Forli Bautheney – Psicanalista/USP) “Para chamar a atenção para a eficácia do produto, e induzir o tratamento, os dois laboratórios que fabricam o “Cloridrato de metilfenidato” divulgam pesquisas encomendadas e opiniões médicas sobre o assunto. Este artigo diz que uma cada três crianças com o transtorno é reprovada na escola. Quem informa, é o Laboratório Janssem-Cilag Farmacêutica, que produz o “Concerta”, concorrente da ritalina. Este é o mais novo estudo científico sobre o tema(*), produzido pelo Instituto de Psiquiatria da Univerdade Federal do Rio de Janeiro. Quem patrocinou o trabalho, foi o Laboratório Janssem-Cilag Farmacêutica. Quem toma o medicamento sem precisar, sofre com os efeitos colaterais.” “Cefaléia, alteração do sono e alteração do apetite, são relativamente comuns.” (Fábio de Nazaré – Neurologista)

“Este menino toma Ritalina de segunda a sexta-feira para se concentrar na sala de aula.” -- “E sábado e domindo? Quando você não toma, como é que você fica? (repórter) -- “Agitado”. (Pablo Barboza, 8 anos) -- “Faz o que?” -- “Fico brincando”. “Para vender mais, os laboratórios facilitam o acesso ao remédio.” “O famoso Ritalina o acesso é fácil. Você consegue em qualquer carro de representante.” “Os norte-americanos consomem 90% da produção mundial da Ritalina. Nos Estados Unidos, o assunto é tratado como uma epidemia. O governo tem promovido campanhas nas escolas, para informar que nem todas as crianças precisam tomar o medicamento. O Brasil, caminha no sentido contrário”. “Hoje em dia prevalece, na minha opinião, na indústria farmacêutica, aquilo que a gente chama brincando de “capitalismo selvagem”, a “ganância”, o “lucro a qualquer custo”. (Raul Gorayeb – Psiquiatra/ UNIFESP). “Em nota, o Laboratório Janssem-Cilag, fabricante do “Concerta”, afirmou que não interfere nos resultados das pesquisas científicas que patrocina. Já o Laboratório Novartis, do remédio Ritalina, não se pronunciou”. ___________________ (*) publicado no “Jornal Brasileiro de Psiquiatria”. Nome do artigo: “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na prática clínica”; Editor convidado: Paulo Mattos. /Patrocinador deste trabalho: Janssem-Cilag Farmacêutica. J. bras. psiquiatr. vol.56 suppl.1 Rio de Janeiro 2007 Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na prática clínica Attention deficit hiperactivity disorder (ADHD) in the clinical practice Fonte:

Jornal da Band – 04 julho 2008 – sexta-feira – Terceira reportagem da série “Receita Marcada” – Denúncia do Jornal da Band sobre a Indústria Farmacêutica.

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