"A bênção, Servo João de Deus!" Hoje completam-se quatro anos da morte do Servo de Deus João Paulo II, "o Grande" - como se refere a ele, desde sua eleição, Sua Santidade o Papa Bento XVI. João Paulo II é o papa da minha história. Eu o "conheci" ainda à época de meu catecismo, lá pelos idos de 1980 numa cidade linda chamada Morrinhos (GO), quando de sua primeira - e triunfal! - visita ao Brasil (veja o video logo abaixo). A "professora" (ainda não conhecíamos por lá o termo catequista, ainda aprendíamos as coisas da fé no jeitão tridentino...) mandou que fizéssemos um trabalho individual de pesquisa sobre essa honrosa visita e eu, então um menino de dez anos um tanto quanto feliz ao estilo Menino Maluquinho, me lancei à tarefa. De início, sem muito afinco, folheava revistas à procura de fotos para o trabalho. Tinha um vasto material em mãos: revista Família Cristã, a multi ilustrada e já extinta revista Manchete, entre outras; todas elas, invariavelmente, empolgadíssimas com aquele homem de branco que, apesar do porte altivo e da estatura elevada, se humilhava ao beijar o chão desta Nação e se mostrava sempre com a simpatia estampada no rosto. Creio que foi aí, ao observar nas fotos seu semblante sorridente sem nunca mostrar os dentes (!), que fiquei impressionado com sua figura e passei com natural curiosidade das fotos para os textos à procura de mais informações sobre aquela tão falada pessoa: quem é um papa? De onde ele é? Como foi e como era a vida dele? Por que ele estava aqui? E, principalmente, o que tem isso a ver comigo e com a "professora"? Posso dizer, ainda hoje, que a empatia foi instantânea, vi-me mergulhado naquelas reportagens durante todo o tempo livre que um garoto possa ter, estava com as antenas sempre ligadas ao som daquele nome: TV, rádio, conversas de adultos na sala, na rua, comentários dos coleguinhas na escola... tudo sobre ele me interessava e me dava um imenso prazer tudo o que ouvia dizer dele! E essa empatia era tal que, ao ouvir sua voz pela primeira vez num português sempre (e para sempre...) macarrônico e - talvez por isso mesmo - sempre atraente, pareceu-me um timbre profundamente familiar, tal a quantidade de informações que eu carregava naquele cerebrozinho fervilhante. E parece-me ainda que foi ali mesmo que aquelas informações então foram do cérebro direto para o coração; e o ilustre visitante já era secretamente "meu melhor amigo". Digo secretamente não porque houvesse algum receio de declará-lo (naquela época, diferentemente de hoje, ser católico era normal e era bom, mesmo entre os meninos...), mas porque, confesso, queria guardar essa caríssima amizade só para mim, como se fosse me fazer falta repartir aquele carinho comentando-o com outros...
Bom, lembro-me que o trabalho era para ser entregue antes da partida do papa, mas só consegui entregá-lo depois que ele foi embora, pois aproveitei tudo o que recolhi sobre sua visita (parecia um colecionador de raridades) e o resultado foi um considerável catatau de papel ao maço com muitas gravuras e muitos textos, também. A "professora", que queria certamente me dar uma bronca pela demora, ao ver o calhamaço fez cara de espanto e perguntou quem havia me ajudado. Quando simplesmente e dando de ombros respondi que ninguém, ela não acreditou e perguntou se podia mostrar ao padre, acho que com o intuito de me constranger a dizer a verdade. Lembro-me que respondi que sim. Resultado: o trabalho, por várias semanas, ocupou todo o mural de cartazes da igreja, fui muito elogiado e... nunca mais tive notícias da minha obra-prima... O tempo passou e com ele muitas coisas vieram, muitas tribulações, aventuras e desventuras que me distanciaram da Fé e que também me retornaram a ela. Mas a minha amizade secreta com o papa "João de Deus" milagrosamente permaneceu inalterada. Li suas biografias com a mesma alegria e emoção de quem lê cartas de um velho amigo. Meus filhos nasciam e eu me lembrava de homenagear meu amigo dando alguns de seus nomes a eles: Pedro Paulo, João Paulo, José Gabriel (o nome de batismo do papa, aportuguesado, é Carlos José...). Acolhia suas encíclicas como se (digo com todo o respeito) recebesse uns bilhetes fraternais com dicas secretas de como ser feliz. Essa grande amizade dava-me segurança pelo simples fato de eu saber que aquele homem existia de verdade e não era só uma lenda. Parece estranho, mas nunca tive curiosidade de vê-lo pessoalmente, pois bastava lembrar-me de seu rosto e era como se já estivéssemos face a face (e não estou exagerando!). Certa vez, quando já adulto e cheio de responsabilidades como empregado em Goiânia, o mesmo João Paulo II visitou nossa Capital e, por conta de meu ofício, não pude vê-lo com a multidão que acorreu ao estacionamento do Serra Dourada. Claro, a princípio fiquei desapontado com meu patrão; mas, vendo flashes ao vivo pela tv, tive a impressão de que aquelas pessoas estavam vendo pela primeira vez alguém que me era já tão íntimo a ponto de poder me chamar pelo apelido... Ele foi embora, mas era como se nunca tivesse ido. De novo o tempo passou (e ele sempre passa, não é mesmo?...) e o grande papa João Paulo II chegou ao termo de sua missão também grandiosa. Senti muito. Apesar de saber que nem um gigante como aquele poderia suportar tal fardo por mais tempo, senti muito sua partida. Ainda que, em sua agonia, tudo era transmitido ao vivo quase que em tempo integral, era como se não tivessem me dado o tempo para o devido preparo. Não era um pai que morria; era um pai-melhor-amigo. Então, acho que como escape da saudade, passei a encontrá-lo em sonhos, sempre bons sonhos, onde ele me consolava, exortava, corrigia, ensinava e se divertia muito de minhas infantilidades espirituais. Até que, num dia de 2007, dadas algumas circunstâncias de perseguições espúrias que sofri, senti-me, pela primeira vez, simplesmente sozinho. E senti falta do meu amigo João de Deus. Sentia-me inseguro...
Não durou muito tudo isso, graças à Deus! Certo dia, um irmãozinho aqui de Trindade, que tem o carisma de atrair para si Relíquias verdadeiras de santos e - o que é melhor! - distribuí-las, chamou-me para conversar. Rozimar disse que havia recebido um presente e ao vê-lo, sem saber o porque, lembrou-se de mim e decidiu que aquele presente deveria ser para mim e não para ele. Então, me entregou um pequeno envelope e, ao abrílo, encantei-me com esta estampa que você vê acima, com a figura do meu amigo. E isso foi o
suficiente para eu entender que não estava sozinho, não! Demonstrei ao irmão minha felicidade, deilhe um afetuoso abraço de gratidão e preparava-me para sair com meu mais novo troféu. Mas havia mais: Rozimar segurou-me pelo braço e disse para olhar o verso da estampa. Não falo, apenas mostro: é essa imagem aí o lado... Rozimar explicou-me que um padre idoso, de nossa comum amizade, havia participado de um almoço com o Papa em Brasília à época daquela sua primeira visita, falado com ele e recebido dele essa estampa em que escreveu de próprio punho no verso: "Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo. Brasil 1980". Compreendi: o Senhor, em sua divina Providência, permitiu que meu amigo escrevesse "para mim" - já naquela ditosa época! aquele pequeno recado e Ele, que era, que É e que sempre será, por meio de Seu Vigário na Terra mostrou-me o Mistério da Unidade conspirando a favor dos que crêem. Diante de um tão singelo objeto e tão profundo sinal, me vi plenamente consolado, miraculosamente curado das graves feridas que carregava no coração amargurado e instantaneamente feliz. E ainda mais, confesso: também embasbacado... Meu amigo secreto, um dia, apresentou-me ao seu Grande Amigo e me convenceu a amá-Lo como ele próprio O amava. Apresentou-me ainda à Mãe do Céu e me convenceu a proclamar também em minha vida e para sempre o "totus Tuus" com todo o meu afeto. Revelou-me a felicidade de não apenas pertencer mas SER Igreja, principalmente neste novo Milênio. E mostrou-me a necessidade de se fazer algo pelo próximo e ser, também eu, protagonista dessa Nova Evangelização que o Santo Espírito vem realizando no mundo e da qual ele mesmo, o Papa, foi baluarte mais cintilante. É verdade que meu amigo foi embora, mas é como se nunca tivesse ido. E dado que Deus Pai nos reuniu para sempre no Amor de Cristo, já não me sinto mais sozinho, pois a memória de meu amigo me faz recordar da Voz do Cristo dizendo aos que crêem: "não tenhais medo"!... +++
Para matar a saudade: Música-tema da primeira visita do Papa João Paulo II ao Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=JTSnjv4hpXs:
Sua primeira entrevista em português ainda antes de pousar no Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=Pa4jVLPzoX4:
+++ -Postado por Demerval Júnior no Por que não dizem a verdade?... em 4/02/2009 12:01:00 AM