EDITORIAL
Visão cristã da morte
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Jaime C. Patias
o dia 2 de novembro fazemos memória dos que nos precederam, os mortos. Que sabemos nós sobre o mistério da vida e da morte? Nesta edição, Missões retrata em suas matérias, diversos sinais de vida e morte presentes na sociedade contemporânea que nos ajudam a refletir sobre a nossa missão de peregrinos nesse mundo. Criados à imagem e semelhança de Deus, carregamos em nossa realidade de humanos, traços visíveis daquele que nos criou. Deus quis estar representado na pessoa humana que, por sua vez está profundamente vinculada a Ele. Ao mesmo tempo carregamos em nosso ser necessidades, desejos, limitações, tensões... e estamos sujeitos às realidades do mundo.Um dos segredos do dinamismo do sistema capitalista moderno é a acumulação de riquezas, de mercadorias, como o único ou melhor caminho para satisfazer o desejo de ser, poder e aparecer. Acontece, porém, que o pensamento econômico não trabalha com as necessidades, o que seria limitado, mas sim com o desejo, que não tem limites e por isso, nunca consegue ser saciado. Nesse sistema, a satisfação prometida é ilusória e imediata, destinada a preencher um vazio no ser humano (consumidor) que quanto mais consome, mais vazio se sente. Dessa forma, é preciso inventar continuamente novas ofertas num processo infinito e auto-regulador. Desaparece a noção de limite para as ações humanas e surge a idéia de que “querer é poder”. Vivemos tão preocupados em ter casas, carros, fortunas, status, aparência...Vamos acumulando medo de perder, de envelhecer, de morrer... vem a insegurança, as angústias... Apesar de não estarmos completamente convencidos dos momentos de prazer que o dinheiro compra, acreditamos que possuindo alcançaremos a felicidade e viveremos neste mundo para sempre. Surge o mito da erradicação da morte. Podemos dizer que a pessoa, imagem de seu Criador, vive numa encruzilhada entre dois verbos: o “ser” e o “ter”. Mas é diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto. No final da nossa passagem por este mundo o verbo “ter” revela-se muito pobre: não nos é possível levar nada daquilo que acumulamos, consumimos ou parecemos ser ao usar este ou aquele produto de marca. Isso porque a nossa vida pertence a Deus, que no seu amor nos chamou à existência, e não ao mercado que quer dominar e nos possuir. O que conta mesmo é o verbo “ser”: o que somos de fato e o que somos na transparência do nosso interior. Na morte seremos o que fizemos de nós mesmos durante nossa vida terrena. Levo o que sou, eis o que importa. Para o mercado, a morte é dolorosa como um fim de festa. Daí todo o esforço da sua negação. Até falar da morte é proibido, virou tabu. Para o ser humano, a morte é um fim “plenitude” e um fim “meta alcançada”. Devemos sempre iluminar o mistério da morte cristã com a luz de Cristo Ressuscitado. E para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua ressurreição. A morte, sendo o fim normal, recorda-nos que temos um tempo limitado para realizar a nossa vida. Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fi 1, 21). Na pessoa de Jesus ressuscitado, Deus se revela aquele que ressuscita os mortos. Da mesma forma como ressuscitou Jesus, Deus nos ressuscitará também.
Missões - Novembro 2005
SUMÁRIO Novembro 2005/09
Eunice Rodrigues Barbosa, assistente social da Febém Tatuapé, SP. Militante do movimento negro e líder comunitária da Zona Norte de SP Foto1: Cleber Pires
Festa da homologação da Raposa Serra do Sol, Maturuca, RR Foto2: Lírio Girardi
MURAL DO LEITOR--------------------------------------04 Cartas
OPINIÃO--------------------------------------------------05 Ações afirmativas Joseph Waithaka
PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07 O "mesquinho" não realiza ninguém Rosa Clara Franzoi
VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08 Notícias do Mundo Fides / Missões
ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10 Cristo Rei, o seguimento de Jesus hoje José Roberto Garcia
CIDADANIA-----------------------------------------------12 Uma vida pela Vida Alfredo J. Gonçalves
testemunho-------------------------------------------13 Bubaque, minha vida Maria de Lourdes Pereira
testemunho-------------------------------------------14 50 anos de paz e bênção Rosa Squizatto
FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15 Evangelii Nuntiandi, 30 anos Luiz Balsan
MISSÃO HOJE-------------------------------------------19 A Eucaristia é celebração do amor Alcides Costa
DESTAQUE DO MÊS------------------------------------20 Vaticano II, embrião do movimento negro Dagoberto José Fonseca
ATUALIDADE----------------------------------------------22 Charles de Foucauld Benedito Prezia
INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24 Consciência Negra e a criança Roseane de Araújo Silva
CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25 Jesus Cristo, a face humana de Deus Edilene de Souza
ENTREVISTA CRISTÓVÃO PEREIRA--------------------26 Viver a fé no mundo neoliberal Jaime Carlos Patias
AMAZÔNIA-----------------------------------------------28 Raposa Serra do Sol, Terra generosa Lírio Girard
Volta ao Brasil---------------------------------------30 Notícias do Brasil CNBB / COMIDI Curitiba / Ética na TV / UCBC
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Mural do Leitor Ano XXXII -
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09 Novembro 2005
Diretor: Jaime Carlos Patias Editor: Maria Emerenciana Raia Equipe de Redação: Joaquim F. Gonçalves, Cristina Ribeiro Silva e Rosa Clara Franzoi Colaboradores: Alfredo J. Gonçalves, Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz Balsan, Marinei Ferrari, Roseane de Araújo Silva, Júlio César, Manoel Aparecido Monteiro Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, Pulsar, Vaticano Diagramação e Arte: Cleber P. Pires Jornalista responsável: Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Administração: Eugênio Butti Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata (CNPJ 60.915.477/0001-29) Impressão: Edições Loyola Fone: (11) 6914.1922 Colaboração anual: R$ 35,00 BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 Instituto Missões Consolata (a publicação anual de Missões é de 10 números)
Missões é produzida pelos Missionários e Missionárias da Consolata Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP (11) 6231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana)
Redação
Rua Dom Domingos de Silos, 110 02526-030 - São Paulo Fone/Fax: (11) 6256.8820 Site: www.revistamissoes.org.br E-mail:
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Revista Missões Parabéns pela beleza, qualidade das matérias e colaboração estreita de Missões com a Campanha Missionária 2005 (edição de outubro). Isso nos incentiva a crescer em parceria e colaboração sempre mais estreita e fraterna, pela causa da missão evangelizadora da Igreja, em fidelidade ao mandado de Jesus. Nesse sentido, sabemos que podemos contar com vocês, e vocês, com estas Pontifícias Obras Missionárias. Deus nos abençoe e continue a orientar nosso esforço em comum!
João Bosco Pontifícias Obras Missionárias, Brasília Sou seminarista diocesano em Santo André, São Paulo, e fico muito feliz pelo trabalho que brota do amor pela missão. Ao ler a revista Missões sinto esse amor missionário que transborda das linhas, das palavras... que bom saber que existem pessoas que, seguindo o exemplo do missionário do Pai, Jesus, doam a vida pela construção do Reino de Deus que é justiça, amor, enfim, é libertação. Continuemos sempre dispostos a partir, a sair dos nossos “mundinhos” assumindo assim a Missão universal. “É missão de todos nós, Deus chama quer ouvir a sua voz...”. Um forte abraço e parabéns a todos que contribuem com o trabalho desta revista.
Jerry Adriano V. Chacon, Via e-mail Desde 2003, acompanhamos Missões e ela tem nos possibilitado muita alegria no desempenhar de nossa missão na vida em comunidade. Moro em Campinas e sempre trabalho os temas e testemunhos que ela nos traz. Lembro-me de um encontro vocacional que promovemos e na ocasião partilhei alguns dos testemunhos missionários, de pessoas corajosas, capazes de ir ao encontro dos irmãos distantes, e com eles fazer a experiência do Evangelho da vida, concretizando o sonho de Jesus Cristo. Uma senhora nos surpreendeu com o momento da partilha. Com os olhos cheios de lágrimas dizia: “mesmo diante de um mundo feio e animalizado, ainda é possível mostrar a outra face como faz essa gente corajosa. Eles não têm medo de anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo
a todos os povos, línguas e nações”. Pedimos que o Senhor continue conduzindo o dinamismo bonito e enriquecedor que Missões nos traz.
Lenivaldo Carvalho Via e-mail
A Missão a serviço da paz A paz é um anseio profundo do coração humano. Somos promotores da paz quando em nossa missão evangelizadora somos sensíveis ao Evangelho que nos convoca a criar uma “cultura de paz” num mundo em conflitos. Não há paz sem solidariedade! Para termos paz no convívio social precisamos tomar partido dos pobres, atentos às questões sociais como fiéis defensores da vida. Da mesma forma não há paz humana, paz no coração, nem paz social, se não houver paz com a ecologia, diálogo e respeito às diferenças. Somos continuamente ofendidos em nossa dignidade, quando nos é negado o direito à cidadania básica, que garante o máximo de sobrevivência com dignidade. Apaz não acontece sozinha, mas sim no conjunto da vida, atingindo vários aspectos e dimensões. Como fiéis testemunhos da Boa Nova, queremos empenhar-nos na missão bonita de sermos agentes da paz. A nossa missão de paz não pode nunca se basear sobre uma atitude caracterizada pelo ser “contra”, mas deve nutrir-se da busca incessante do bem. Este agir em favor do bem comporta em desmascarar toda cultura de morte, violência que fere o coração humano. Somos chamados a criar uma cultura de paz a partir da solidariedade, que nos permite amor sem limites. Paz se faz a partir de nossa mística relação com Deus, conosco mesmo, com os irmãos e toda Criação, relação que nos leva à reconciliação. Evangelizar é, portanto, uma ação em favor da vida, da paz, anunciar a palavra de Deus. É missão de todos nós construir em outro mundo possível com a mística da paz, fazendo-nos solidários com os que sofrem, sempre escutando de Jesus: “bem-aventurados os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus!”
Lenivaldo Carvalho, vocacionado IMC Campinas, SP Novembro 2005 - Missões
Divulgação
- Lei nº 10.639, que obriga o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas; - ProUni (Programa Universidade para Todos). Lei nº 11.096, que possibilita o acesso de jovens de baixa renda à educação superior através de bolsas de estudo integrais e parciais. - regularização fundiária dos quilombos; - sistema de cotas para alunos negros nas universidades.
Ações afirmativas de Joseph Waithaka
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ilusória Lei Áurea assinada no dia 13 de maio de 1888 significou muito pouco para a população negra. A falta de oportunidade dada aos negros cria um circuito vicioso que hoje se expressa nos índices das estatísticas, nos quais a população negra aparece como campeã da violência, analfabetismo e com dificuldades nas áreas de moradia e saúde. As políticas afirmativas, dentre outros aspectos, visam corrigir a situação de discriminação, exclusão e desigualdade vivida pela população negra através da valorização de seu rico patrimônio cultural, preservado, em parte, pela cultura ocidental. Os afro-descendentes enfrentam políticas que cerceiam seus direitos de integração na sociedade brasileira como cidadãos. Hoje na Igreja constata-se mais consciência da realidade afro-brasileira e em alguns momentos o apoio da Pastoral Afro tem sido importante para conquistar um espaço na sociedade. A atuação pastoral na perspectiva afro tem ocorrido não só dentro da Igreja, mas também fora, como exigência da sociedade civil, solidarizando-se com as reivindicações dos movimentos populares. O termo "ações afirmativas" chegou ao Brasil carregado de uma diversidade de sentidos, o que em grande parte reflete os debates e experiências históricas dos países em que foi desenvolvido, como Estados Unidos, Índia, África do Sul, Cuba, Argentina, dentre outros. No Brasil é a luta por reparação já. A reparação é pensada como uma compensação da dívida histórica com os negros e combate às desigualdades raciais. As principais áreas contempladas são: A luta pela democratização das terras dos quilombos e pela moradia, sendo os negros as principais vítimas. O primeiro quilombo foi o de Palmares, que entre os anos de 1654 e 1695, sofreu 25 ataques da Colônia portuguesa e era a mais significativa sociedade de escravos fugitivos, abrigando aproximadamente vinte mil pessoas. Zumbi foi o último e maior líder de Palmares,
Missões - Novembro 2005
morrendo em 1695. Vários outros quilombos tiveram a mesma função de abrigar os que procuravam uma sociedade alternativa sem escravidão. A morte de Zumbi se comemora no dia 20 de novembro e por isso a data se tornou momento da consciência negra no Brasil. Os quilombos inspiram-se na necessidade de uma organização social para a comunidade negra, tendo em mente a elevação de seu nível cultural, especialmente a vida a partir da comunidade. Um outro campo em que as "ações afirmativas" se fazem presente são as iniciativas alternativas na área da educação, como os cursos pré-vestibulares para os negros carentes e a obtenção de bolsas para ingresso nas universidades. O mais conhecido é o sistema de cotas, que consiste em estabelecer um determinado número ou percentual a ser ocupado em área específica. O negro se encontra excluído no acesso à educação, impossibilitado de adentrar e concluir os ciclos formais de escolaridade desde a pré-escola até a universidade. O ensino superior tem menos de quatro por cento de estudantes negros. No Brasil, a implementação de políticas reparatórias, como por exemplo, as afirmativas, tornaram obrigatória a inclusão da disciplina História e Cultura Afro-brasileira e Africana no sistema de ensino nacional. Contempla-se ainda a inclusão dos afro-descendentes no mercado de trabalho. O mercado de trabalho apresenta grande número de postos de trabalho denominados vulneráveis. Os vulneráveis são aqueles trabalhadores que não possuem carteira assinada, sem direitos sociais. A comunidade negra é a maior vítima desta injustiça. Os trabalhadores autônomos, os agricultores, os empregados domésticos não têm amparo jurídico. Seria um ato de justiça e nobreza cristã apoiar essas ações nas paróquias, nos movimentos religiosos, com recursos e esclarecimentos. É, sem dúvida, uma forma de incluir os afro-descendentes na sociedade brasileira em vista do aprofundamento e da vivência da fé cristã para louvar a Deus e testemunhar a fraternidade de seu Reino.
Joseph Waithaka é missionário queniano, mestre em Missiologia.
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OPINIÃO
Políticas públicas:
Encontro Internacional África Brasil Fotos: Jaime C. Patias
Recomendações no campo da relação entre a mídia e a igualdade racial
Antoine de P. Chonang (Camarões) e Joyce L. Kazembi (Zimbábue).
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ntre os dias 12 e 16 de outubro, realizou-se o Encontro Internacional África Brasil, no SESC da Vila Mariana, em São Paulo, com jornalistas, lideranças da sociedade civil e educadores do Brasil e de 9 países africanos. A tônica do documento final é um estímulo às iniciativas capazes de promover a cooperação entre os países africanos e o Brasil para a realização de ações voltadas para uma efetiva igualdade racial, através da abertura da sociedade, da mídia e do sistema educativo. O texto chama a atenção para a importância das políticas públicas no setor, bem como para a necessidade de se criar mecanismos que garantam a formação de comunicadores, educadores e lideranças políticas preocupados com o tema das diferenças culturais e étnicas na sociedade contemporânea. O diálogo inédito proporcionado pelo Encontro resultou no lançamento, no final do evento, da “Declaração de São Paulo sobre igualdade racial como desafio para a mídia”. A solenidade foi presidida pelo jornalista e professor Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP e contou com a presença da jurista Eunice Prudente, professora da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da jornalista Joyce Laetitia Kazembi, do Zimbábue, representando a delegação estrangeira, de Cláudia Lago do NCE/ECA-USP e de Dilma Melo e Silva, do Mídia e Etnia. O documento retoma o caminho percorrido desde a aprovação do relatório final da Conferência Mundial contra o Racismo e a Discriminação Racial, ocorrida em Durban, em 2001, até o início da implantação de medidas reparatórias no Brasil, como a legislação que tornou obrigatória a inclusão da história da África e da cultura afro-brasileira no sistema nacional de ensino, sugerindo “a criação de um núcleo disseminador, visando sensibilizar os profissionais de comunicação da África e do Brasil para as questões cruciais com que os mesmos se deparam, em seus respectivos países, no campo da relação entre a mídia e o tema das etnias”.
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Um dos temas abordados no evento e que foi incorporado à declaração final referiu-se ao “desenvolvimento de práticas educomunicativas por instituições e comunidades educativas, assim como pela mídia, objetivando a promoção de iniciativas voltadas para o combate a toda e qualquer forma de discriminação por raça, cor, etnia, gênero, classe e crença religiosa”. O documento considera também importante a divulgação de pesquisas multidisciplinares e intercontinentais sobre o papel e a responsabilidade da mídia na promoção da igualdade dentro da diversidade racial e étnica, propondo a execução de programas de treinamento para profissionais da mídia, visando capacitá-los para a promoção da igualdade em todos os campos da ação humana, nos países da África e no Brasil. A embaixadora da África do Sul no Brasil, Lindiwe Zulu, fez um dos pronunciamentos mais aplaudidos do encontro e destacou a importância do documento final. “Ele estimula os profissionais da mídia a abandonar o tratamento estereotipado que muitas vezes dão aos negros. E faz com que todos nós, negros e brancos, paremos para pensar sobre o que a mídia pode fazer, de fato, pela igualdade racial e o que, juntos, podemos fazer para que nossa voz e vontade promovam as mudanças necessárias”. Para o secretário-adjunto da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, (SEPPIR), Douglas Martins de Souza, as recomendações do Encontro Internacional África Brasil apontam para alguns dos novos caminhos a serem trilhados. “Abrigar a diversidade humana é estratégico para as
Mesa redonda sobre etnia e desenvolvimento humano.
democracias contemporâneas. Na atualidade, a maior forma da violência é a omissão e a indiferença. O preconceito racial é a expressão disso e a grande mídia não pode continuar se prestando a esse papel”, destacou.
Matéria publicada no site
Acesso em 19 out. 2005.
Mais Informações http://www.saoluis.org/africabrasil/ onde estão armazenados os programas radiofônicos desenvolvidos via web-rádio por um grupo de 70 crianças e adolescentes do projeto Educom.rádio do NCE/USP. Novembro 2005 - Missões
pró-vocações
O "mesquinho" não realiza ninguém Jaime C Patias
Correr menos e refletir mais... mais... de Rosa Clara Franzoi
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esta página da revista Missões, há mais de um ano, estamos tentando entender sempre um pouco melhor o que seja "Vocação" para o ser humano. Destaco o ser humano, porque para os demais seres não há vocação: eles se orientam pelo instinto. Ao passo que para nós, inteligentes e livres, a busca, a descoberta e a escolha da vocação é de fundamental importância. Fomos criados para a felicidade e a realização; mas só nos realizaremos e seremos felizes quando encontrarmos o “nosso lugar”, onde pudermos concretizar o que o nosso coração mandar. Como é importante parar de vez em quando, fazer uma meditação, questionar as próprias atitudes, as próprias convicções, os próprios princípios, pois além de ajudar a nos conhecer mais em profundidade, às vezes poderíamos evitar muitas situações desagradáveis e sofrimentos inúteis. Precisamos “correr” menos e “refletir” mais. Aquelas perguntas teimosas: Que futuro estou preparando para a minha vida? Quais os meus projetos para o amanhã? são questionamentos que todo jovem faz e que exigem resposta, exigem muitas vezes uma reformulação da escala de valores. Veja esta história:
Em primeiro lugar as pedras grandes
“Um professor de Ciências queria demonstrar um conceito aos alunos. Pegou um vaso com a boca bem larga. Colocou dentro dele algumas pedras grandes e perguntou à classe:“O vaso está cheio?” Em coro, todos responderam: sim. O professor pegou então um balde de bolinhas de gude e jogou-o no vaso. As bolinhas foram se alojando nos espaços entre as pedras grandes. E o professor perguntou: “O vaso está cheio?” Os alunos ficaram um pouco receosos, mas ainda um bom número respondeu: sim. Continuando, o professor pegou uma lata de areia e fez o mesmo. A areia foi se infiltrando nos buraquinhos
Quer ser um missionário/a? Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui 02611-011 - São Paulo - SP Tel. (11) 6231-0500 - E-mail:
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Centro Missionário “José Allamano” - Pe. Manoel A. Monteiro (Néo) Rua Itá, 381 - Pedra Branca 02636-030 - São Paulo - SP Tel. (11) 6232-2383 - E-mail:
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Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 69072-970 - Manaus - AM Tel. (92) 624-3044 - E-mail:
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Missões - Novembro 2005
Vasos decorativos no palco das CEBs, Ipatinga, MG.
ainda vazios entre as pedras grandes e as bolinhas. E o professor insistia: “O vaso está cheio?” Apenas alguns arriscaram um “sim”, meio desconfiado. Então o professor mandou buscar uma jarra de água e a derramou no vaso. A água saturou a areia e foi se acomodando até à borda. O professor perguntou aos alunos o significado daquela demonstração. A resposta era um pouco difícil para eles. Então ele explicou: meus queridos jovens! Se vocês não puserem as pedras maiores em primeiro lugar no vaso de sua vida, nunca mais conseguirão fazê-lo”.
Deixar-se guiar pelo Espírito de Deus
O que seriam essas pedras grandes? São as coisas de maior importância na vida de cada pessoa. Veja a importância de se ter uma escala de valores e dar a eles o devido lugar. Por exemplo: o relacionamento com Deus, a religião, a família, os amigos, a preparação profissional, a preocupação pelos que estão à sua volta... Tudo isto tem muito a ver com o que estou sendo chamado a ser no futuro. Se continuarmos a preencher a nossa vida (o vaso) com coisas pequenas, medíocres, sem importância - bolinhas, areia, água - como: diversões, vaidades, fama... para as mais importantes jamais haverá espaço e tempo. Precisamos “sonhar alto” e não ter medo de correr atrás destes sonhos que sentimos ter no coração, pois só assim os alcançaremos. Precisamos reformular continuamente nossa escala de valores, colocando no topo tudo o que realmente vale a pena; e depois ser decididos. Ninguém pode andar com um pé em dois sapatos... Somos pessoas livres e o maravilhoso dom da liberdade que Deus nos deu é para ser usado nesses momentos que decidirão o nosso futuro. Continue a reflexão com o texto da Carta de São Paulo aos Gálatas, 5, 16-25 “Deixai-vos guiar pelo Espírito de Deus”.
Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.
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com 21%. Na América Latina e Caribe, o desemprego afeta 16% dos jovens, enquanto nos países industrializados, 13,4%. Uma das causas principais da morte juvenil é a difusão do vírus HIV. Existem hoje 10 milhões de jovens soropositivos em todo o mundo, a maior parte dos quais nos países da África sub-saariana (6,2 milhões) e da Ásia (2,2 milhões), enquanto na América Latina são 700.000 e nos países industrializados, cerca de 600.000.
Venezuela Infância Missionária e Encontro Eucarístico
VOLTA AO MUNDO
Índia Evangelização da família e leigos
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O organismo que reúne 12 regiões eclesiásticas e 122 dioceses, a Conferência dos Bispos de Rito Latino, se encontrou em outubro para a sua Assembléia anual, que programou o novo ano pastoral indicando as prioridades. Da Assembléia, composta por cerca de 70 participantes, emergiram as prioridades para o Ano Pastoral que está se iniciando: a formação do laicato e do clero, além da revitalização das celebrações litúrgicas, para que se tornem sempre mais significativas e solenes. Os bispos confirmaram que os protagonistas da ação catequética devem ser os leigos, e encorajaram a formação de pequenas comunidades, que, revivendo o espírito das comunidades dos primeiros cristãos, devem ser testemunhas autênticas dos valores do Evangelho. Um elementochave - afirmou a Assembléia - é o apostolado das famílias que devem ser seguidas e visitadas pelos sacerdotes das paróquias, para que, por sua vez, possam transformar-se em agentes de evangelização. Entre as urgências, destaca-se a evangelização do norte da Índia, área em que muitas pessoas ainda não receberam o anúncio da Boa Nova.
Suíça Relatório sobre a Juventude Mundial
O Relatório sobre a “Juventude Mundial 2005: os jovens hoje e em 2015”, elaborado pelo Departamento para Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), constata que mais de 200 milhões de jovens vivem em estado de pobreza total, 130 milhões são analfabetos, 88 milhões estão desempregados e 10 milhões são soropositivos. A pobreza, afirma o relatório, é o principal obstáculo para o desenvolvimento juvenil, sobretudo considerando que 18% da população juvenil mundial, ou seja, 209 milhões de jovens, vivem com menos de um dólar por dia, e cerca de 515 milhões sobrevivem com menos de dois. O impacto é maior no sul da Ásia, onde 84 milhões vivem com um dólar por dia, e 206 milhões com dois dólares, enquanto na Ásia sub-saariana, são respectivamente 60 milhões e 102 milhões. Na América Latina, 11 milhões de adolescentes sobrevivem com um dólar e 27 milhões, com dois. A falta de trabalho faz registrar cerca de 88 milhões de jovens desempregados em todo o mundo, sobretudo nas regiões da Ásia ocidental e da África do Norte, com 25,6% da população juvenil, e a África sub-saariana
No contexto do Ano da Eucaristia, as Pontifícias Obras Missionárias da Venezuela, através dos Secretariados diocesanos da Infância Missionária (POIM), iniciaram, em janeiro passado, uma corrente de Jornadas de Adoração Eucarística em todas as regiões do país. A iniciativa, intitulada “Cintila de Amor”, com o slogan “A caridade nunca terá fim! Está aqui, adoremo-lo!”, promoveu uma série de Jornadas de Adoração Eucarística em todas as arquidioceses, dioceses e vicariatos apostólicos da Venezuela, com o envolvimento de crianças da Infância Missionária e pessoas adultas. A iniciativa terá seu ápice com um Encontro Eucarístico Nacional que envolverá cerca de 2.500 crianças, de todas as regiões da Venezuela.
Vaticano Evangelização e promoção humana
Segundo o “Guia das Missões Católicas 2005”, atualizado em 31 de outubro de 2004, desde 1989 até hoje, foram erigidas 134 novas Circunscrições eclesiásticas, e cerca de 150 sofreram modificações. Atualmente, à Congregação para a Evangelização dos Povos são confiadas um total de 1.069 Circunscrições eclesiásticas, quase 30% de todas as Circunscrições eclesiásticas da Igreja no mundo. Destas, 180 Arquidioceses Metropolitanas, 750 Dioceses, 1 Abadia Territorial, 72 Vicariatos Apostólicos, 45 Prelazias Apostólicas, 4 Administrações Apostólicas, 11 Missões “sui iuris” e 6 Ordinariados Militares. O maior número das Circunscrições eclesiásticas se encontra na África, onde são 477; segue a Ásia, com 453; a América, com 80; a Oceania, com 45 e a Europa, com 14. Ao serviço da “Missio Ad Gentes” trabalham cerca de 85.000 sacerdotes, dos quais 52.000 pertencem ao clero diocesano; 33.000 são religiosos. Acerca da distribuição territorial, 27.000 atuam na África; 44.000 na Ásia; 6.000 na América; 5.000 na Oceania; 3.000 na Europa. Sua atividade missionária recebe o apoio, além disso, de 28.000 religiosos não sacerdotes; de 45.000 freiras e de 1.650.000 catequistas. Um último dado que emerge é a contribuição que a Congregação para a Evangelização dos povos deu na construção de inúmeras igrejas-capelas (principalmente para as pequenas comunidades espalhadas nas áreas rurais). A isso, acrescentam-se atividades educacionais (cerca de 42.000 escolas); atividades de saúde (1.600 hospitais, mais de 6.000 dispensários, 780 leprosários); atividades de recreação e sociais (12.000 iniciativas). Isso mostra que na Igreja, evangelização e promoção humana andam de mãos dadas.
Fontes: Fides, Missões. Novembro 2005 - Missões
INTENÇÃO MISSIONÁRIA José Luis Ponce de León
Pela formação permanente dos sacerdotes em territórios missionários. de Vitor Hugo Gerhard
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ive a oportunidade e a graça de percorrer vários territórios de missão, seja na América Latina, seja na África, nos rincões mais distantes daquela realidade que julgamos por bem chamar “civilização ocidental”. Foram vários países no “continente da esperança” e outros tantos no continente verde, lá onde o jovem cristianismo floresce alegremente, apesar das duras lutas. Nestes recantos, encontrei um sem número de sacerdotes, alguns já com os cabelos grisalhos e outros ainda nos albores da vida e do sacerdócio. São padres diocesanos e membros das congregações religiosas, todos eles dedicando, dia após dia, suas energias físicas, emocionais e espirituais, pelo bem da parcela do Povo de Deus que lhes foi confiada. São homens de grande valor, apesar de suas fraquezas, dedicados e incansáveis, nos trabalhos apostólicos, no magistério, na formação dos mais jovens, nas obras sociais e em tudo aquilo que, no momento e naquele lugar parece ajudar na missão do anúncio do Reino de Deus. Talvez, um dos maiores desafios encontrados nestas paragens tenha sido a formação permanente destes apóstolos da Palavra e da caridade. Aquele esforço permanente e necessário de “tirar um tempo” para si mesmo, tempo de cultivo pessoal, de crescimento humano-afetivo, de atualização teológico-pastoral e de renovação das energias do espírito, para que a fragilidade humana não esmoreça. Tempo em que o humano e o divino se mesclam, numa simbiose sempre atual e atuante, sempre necessária e oportuna, sempre verdadeira e eficaz. As dimensões intelectual e humano-afetiva, as dimensões operativa e instintiva e a dimensão transcendental, cinco áreas
Padres Joseph Mang’ongo, Thokozani Kunene e diácono Siyabonga Dubazane em Madadeni, África do Sul.
complementares do ser humano, precisam ser trabalhadas permanentemente, para que o desequilíbrio entre elas não nos leve à beira do abismo da perda da serenidade, da intranqüilidade e da dispersão, males tão modernos e tão antigos. Um padre, sobretudo em terras de missão, a gente não perde pelas idolatrias do poder, da riqueza e do prazer, mas se pode deixá-lo à margem do caminho por não ter cuidado diligentemente da sua pessoa e do seu sacerdócio, como um frágil e tenro arbusto que, por mais vigoroso que seja seu caule e sua copa, sempre precisará, de forma vital, da seiva que o alimente. Por isso, tanto os superiores maiores quanto os bispos locais não deixarão de oferecer aquelas permanentes oportunidades de encontro fraterno, de estudo esmerado, de diálogo aberto e franco e de contato com peritos em humanidade, para que os guardiães do rebanho estejam sempre prontos para o pastoreio.
Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
Ajuda às vítimas do terremoto na Ásia e do furacão na América Central Diante do terremoto que no dia 8 de outubro atingiu a região da Caxemira e da recente passagem do furacão Stan pela América Central, a Cáritas Brasileira une seus esforços à sua rede internacional para auxiliar nos serviços de apoio às vítimas. “Estamos diante de uma série de catástrofes naturais muito graves, que nos últimos dias se abateram sobre a Guatemala, El Salvador, Paquistão e Índia, deixando milhares de mortos, mais de quatro milhões de feridos e desabrigados, além de grande destruição e desolação”, afirma a presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em um comunicado intitulado Apelo à Solidariedade. Como medida concreta, a Cáritas Brasileira, seguindo o exemplo da Cáritas Internacional, abriu duas contas especiais para doações em favor das populações atingidas naqueles países. “Apresidência da CNBB endossa este gesto de solidariedade e apela para a generosidade dos cristãos e de todos os demais brasileiros, para encaminharem suas doações”, diz o comunicado. A Campanha estará aberta por dois meses,
Missões - Novembro 2005
até dia 10 de dezembro de 2005. A presidência da CNBB pede ainda que o apelo seja especialmente divulgado nas celebrações dominicais e que as coletas para atender ao pedido de ajuda sejam feitas nas comunidades, paróquias, dioceses e escolas católicas. O organismo episcopal indica que a divulgação também pode ser feita pelos meios de comunicação locais, internet, mala direta e outras formas, para que a população tenha conhecimento da Campanha. “Pedindo também a solidariedade das orações pelas pessoas atingidas pelas catástrofes, confiamos nossa ação à proteção da Virgem Maria, que invocamos como a Senhora da Conceição Aparecida, com fraterna saudação”, encerra o comunicado, assinado pelo cardeal Geraldo Majella Agnelo, presidente; por Dom Antônio Celso Queirós, vice-presidente, e por Dom Odilo Pedro Scherer, secretário-geral. As contas específicas da Cáritas Brasileira para esta Campanha são: Banco do Brasil, Agência 3475-4, C/C nº9303-3; e Banco Bradesco, Agência 0484-7 C/C nº66000-0.
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espiritualidade
Cristo Rei
o seguimento de Jesu “Vocês serão meus amigos se obedecerem aos meus mandamentos, assim como eu obedeci aos mandamentos do meu Pai e permaneci no seu amor. Eu disse isso a vocês para que minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15, 10-11).
Jaime C. Patias
tempos antigos, a pessoa do rei encarnava os próprios deuses da religião do Estado. O rei era a última instância do poder, ele era a autoridade máxima, todos o serviam e adoravam. Mas com Jesus a concepção da palavra rei não teve a mesma interpretação como acontecia na sociedade de seu tempo. Jesus nunca usou a palavra “rei” referindo-se a si mesmo. Ele simplesmente evitava associar-se a tal termo... justamente porque Ele não entendia o reinado de Deus da mesma forma, ou com as mesmas características dos reinados dos homens. O Evangelho nos diz que quando queriam fazê-lo rei em uma ocasião, Jesus afastou-se do povo para um lugar isolado (Jo 6, 15). Ele mesmo disse: o meu Reino não é desse mundo... E certo dia, reprimiu duramente seus discípulos quando discutiam entre si qual deles era o “maior” do grupo, pois já estavam pensando quem iria assumir os primeiros postos ao lado de Jesus num futuro governo! (Mateus 20, 20-28).
A cruz e a coroa
Celebração durante XLI Assembléia CRB - São Paulo. de José Roberto Garcia
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o último domingo do ano litúrgico (sempre aquele que antecede o Advento, este ano dia 20/11), celebramos a festa de Cristo Rei. Sem ter a intenção de resgatar as origens desse título dado a Jesus, vamos fazer uma reflexão sobre o significado das palavras Cristo, rei e cruz, para os discípulos de Jesus hoje.
Jesus Cristo: qual rei?
Quando ouvimos a palavra rei, imediatamente vem à nossa mente aquele sistema de governo centralizado, onde um soberano governava os seus súditos com muita força e poder. Nos
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Para nós cristãos, a fé em Jesus Cristo deve passar antes pela cruz (morte) para chegar à coroa (vida nova). A cruz é o sinal da nossa fé, o símbolo do nosso resgate, pago pelo sangue do cordeiro - Jesus - à Satanás. A cruz é o lugar onde a nossa libertação e salvação aconteceu! A cruz é a maior expressão do amor de Deus pela humanidade (Jo 3, 16-18; Jo 3, 14-15). A cruz é também o lugar da dor, do sofrimento, das perseguições, da luta do pobre que sofre exclusão; a cruz gera morte! Para os discípulos de Jesus hoje, a cruz é a maior prova de amor de Deus pelos seus filhos. Pela cruz, Deus dá ainda hoje, a possibilidade dos homens libertarem-se do reino do mal e do pecado. Basta crer no nome de Jesus; o milagre para acontecer depende também da nossa resposta de fé: “Vai, a tua fé te salvou...te libertou!” Chegar até a coroa significa vencer o mal pela raiz, assim como fez Jesus. A ressurreição de Jesus é a sua vitória sobre Satanás. A coroa de Cristo Rei significa que Deus em Jesus venceu o pecado, e é por isso mesmo que Ele é o Senhor dos vivos e dos mortos! A ressurreição é o nosso objetivo, a nossa meta final! Porém, não podemos ficar parados adorando a cruz. A cruz simplesmente é uma passagem necessária para a vida plena no Espírito de Jesus: deixemos de servir ao homem velho (Adão), e revistamo-nos do homem novo que é o próprio Cristo (Rom 5, 8). Novembro 2005 - Missões
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us hoje Os reis da sociedade hoje
Todos nós, seres humanos, queremos ser felizes. Mas não trilhamos os mesmos caminhos em busca da felicidade. Poderíamos perguntar-nos: qual é o caminho verdadeiro rumo à felicidade? Bem, aqui a resposta pode depender de muita coisa. Mas, para nós, seguidores de Jesus, essa pergunta pode ser facilmente respondida por Ele mesmo, quando um dia disse a um de seus discípulos chamado Felipe: “eu sou o caminho, a verdade (que leva) e a vida” (Jo 14, 6). E em outra ocasião: a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo (Jo 17, 3). Hoje na sociedade, vemos que a publicidade veiculada nos meios de comunicação, principalmente na televisão, procura convencer as pessoas que a felicidade está no ter ou no possuir coisas, mais que no ser. Assim, os valores morais e humanos como a verdade, sinceridade, honestidade, solidariedade, justiça, vão perdendo força interior nas atitudes e na vida das pessoas. Assim sendo, os meios de comunicação apresentam um caminho falso em busca da felicidade. Jesus nos diz que a felicidade verdadeira encontra-se somente em Deus; é Ele que dá sentido a tudo o que eu faço, à minha vida! As coisas desse mundo foram criadas por Deus e podem me ajudar a ser feliz, porém, as coisas em si não são a felicidade. Quando a TV nos diz: “compre isso, compre aquilo e você será feliz”, percebemos que a felicidade não vem das coisas... ela não mora ali! Afinal onde está a felicidade que parece escapar das mãos de tanta gente? Será que já não partimos em busca dela no caminho errado? Para o jovem que ainda não tem uma consciência crítica formada, a tentação de seguir a onda é forte: “quero ser como fulano de tal, como aquele modelo, artista, jogador de futebol etc”. Hoje a sociedade valoriza o ter, a aparência, o prestígio social, o prazer e o poder em si, independentemente de onde vem, de como chegar lá! Essas são as tentações comuns numa sociedade voltada para um ciclo vicioso do “espetáculo e do consumo”.
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Os valores do Reino de Jesus!
Jesus disse a Pilatos: “o meu Reino não é deste mundo, se o meu Reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas o meu Reino não é daqui!” (Jo 18, 36). Jesus admite ser rei, porém, não à maneira dos homens. Então, de que reino está falando Jesus? Que tipo de reinado Ele quer implantar? No seu Evangelho temos muitas passagens que respondem a essas perguntas confronte algumas (Jo 19, 11; 18, 37; Mt 19, 13-30; 20, 17-28; 20, 1-16; Mt 13). Nessas passagens, Jesus nos faz compreender que a implantação do Reino de Deus no mundo não pode seguir a lógica humana, ou seja, o nosso jeito de governar e de fazer as coisas. Por isso mesmo, Jesus renunciou a usar seus poderes em benefício próprio, evitou que o elegessem rei, recusou toda forma de glória e poder humanos que não fossem de acordo com a vontade de Deus. Ele queria somente servir a Deus seu Pai e a missão a ele confiada...tudo para a glória de Deus! Jesus não quis governar pela espada (violência) e pela força das armas. A sua única preocupação é o amor ao próximo. A sua entrega total a Deus e a sua Missão fez Dele servo de todos para salvar a todos! Daí derivam os valores do Reino de Jesus: o amor-serviço, a fraternidade, o perdão, a justiça, a paz! Quem segue Jesus rei e mestre terá dentro de si a felicidade, a paz e a vida eterna! (Jo 15, 7-14).
José Roberto Garcia é missionário e pároco da Paróquia Santa Paulina, Heliópolis, SP.
Para Refletir 1. Eu me vejo como um fiel discípulo de Jesus hoje? 2. Jesus tem alguma influência na minha maneira de ser, agir e viver? 3. As minhas obras dão testemunho de que sou cristão frente à minha família, comunidade, sociedade?
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Jamil Bittar
O projeto polêmico da transposição do Rio São Francisco cria oportunidade para se pensar em outras alternativas, como a de sua revitalização. de Alfredo J. Gonçalves
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Arquivo
odos fomos testemunhas do recente gesto profético de Dom Luís Flávio Cappio, bispo de Barras, BA. Durante onze dias (26 de setembro a 6 de outubro) manteve-se em greve de fome na cidade de Cabrobó, PE, contra o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. Nestes tempos de crise política e de corrupção generalizada, por um lado, e de perplexidade ou indignação das organizações sociais, por outro, o que nos ensina essa atitude tão franciscana quanto evangélica? A primeira lição tem a ver com a herança do pobre de Assis. Com sua vida, obras e cantos, São Francisco nos mostrou a importância do convívio dos seres humanos com as demais formas de vida da natureza. Preservar o patrimônio hídrico de toda a humanidade e combater a devastação do meio ambiente constitui hoje um imperativo para a continuidade da vida no planeta. Daí a insistência de Dom Cappio e das organizações que defendem a integridade do Velho Chico: a revitalização precede qualquer tentativa de transposição. Esta sem aquela representa a morte de um dos maiores símbolos da integração nacional. Jamil Bittar
cidadania
Uma vida pela Vida
Perguntas sem respostas
Uma segunda lição está ligada ao próprio modelo de desenvolvimento da política econômica adotada pelos últimos governos. A opção do Planalto tem sido, sistematicamente, apoiar a grande empresa, o agronegócio, os megaprojetos em vista da exportação. Desconhece-se a força e a viabilidade do pequeno e médio empreendimento e da criação de um mercado interno robusto. Por exemplo, por que acelerar as obras de transposição do São Francisco, ao mesmo tempo que se ignora completamente o projeto de construção de cisternas? A que interesses irão servir essas águas transpostas? Por que não pensar em termos de uma política pública mais ampla, envolvendo toda a região do semi-árido, levando em conta as
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iniciativas populares que já estão em curso? Por que não abrir um debate transparente com as entidades e movimentos que atuam na área: Cáritas, Pastorais Sociais, ASA, entre outras? Mais uma vez, a revitalização do rio e a participação popular nos debates precedem a pressa da transposição. Uma última lição, entretanto, vem do próprio gesto do bispo. Num momento de tantas dúvidas e interrogações no interior das forças sociais, a greve de fome abre horizontes para novas formas de resistência e de luta popular. Aliás, ao longo da história, tem sido um instrumento poderoso contra a tirania e o império. Falouse de “suicídio” e de “eutanásia”, até mesmo por parte de outros setores da Igreja e do episcopado, mas esquece-se que, desde seus primórdios mais remotos, numerosos cristãos e não-cristãos colocaram sua vida a serviço da grande causa da Vida! Poderíamos aqui enumerar centenas de pessoas que hoje são reverenciadas pela liturgia católica, mas que, quando vivas e no contexto de seu tempo, foram sinais proféticos de contradição.
Uma luz na escuridão
Dom Luís Cappio colocou em pauta um tema que governo e grande imprensa procuram encobrir. Com sua coragem, mobilizou milhares de pes soas. No meio do escuro, acendeu uma pequena luz que poderá transformar-se em estrela para as forças sociais. Seu testemunho é fermento na massa, seja na Igreja, seja na sociedade. Em termos mais específicos, ajudou a ampliar o debate da Assembléia Popular Mutirão por um Novo Brasil, realizada em Brasília, DF, de 25 a 29 de outubro, e promovida pela 4ª Semana Social Brasileira e pela Campanha Jubileu Sul.
Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz – CNBB. Novembro 2005 - Missões
Testemunho
Bubaque, minha vida Maria de Lourdes, 54, é filha de Inocêncio Teixeira e Olinda Pereira. Viúva muito jovem, com quatro filhos pequenos, a mãe enfrenta os desafios da vida. Lourdes cresce e aprende a caminhar na esperança de um mundo melhor. Orestes Asprino
de Maria de Lourdes Pereira
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s pequenos gestos de caridade, partilha e atenção aos necessitados, praticados por minha mãe, me tocavam profundamente. No entanto, jamais havia pensado tornar-me religiosa missionária. Contudo, mamãe sempre nos convidava a rezar diariamente pelas vocações. Aos 17 anos numa celebração eucarística ouvi o padre falar das missões e das situações de extrema pobreza em lugares distantes, onde não havia a presença de missionários. Senti forte e claro o chamado à vida religiosa missionária. Deste apelo surgiu a inquietação: como enfrentar o grande desafio? Encontrar caminhos para responder ao chamado? Sentia-me dividida entre a vida consagrada e a família, que tanto precisava de mim. Com a graça de Deus após um ano de trégua e discernimento, já me encontrava no Colégio de Rio do Oeste, Santa Catarina, com as irmãs missionárias da Consolata. Em 1980 parti para a Libéria, no Oeste da África. Nesta nova terra tive que enfrentar, entre tantos desafios, a aprendizagem da língua inglesa. Com grande esforço e muita ajuda, logo consegui atuar entre aquele povo amigo e acolhedor. Permaneci por seis anos trabalhando na evangelização e numa congregação religiosa local, “Holy family” recém-iniciada pelo bispo. Retornei ao Brasil para um curso e recuperação da saúde. A situação de guerra naquele país e a negação do visto de entrada como missionária no Allabama, Estados Unidos, me obrigaram a permanecer no Brasil por mais dezoito anos. Desseseis, na formação inicial das futuras missionárias da Consolata. Finalmente, parecia concretizar-se o sonho de retornar à Libéria. Passei pela Itália e neste exato momento, a guerra no país explodiu novamente, impossibilitando minha entrada. Fui para a vizinha Guiné Bissau, também, destruída pela guerra.
Na Guiné Bissau
A Guiné Bissau é um país pobre, onde o povo vive massacrado por contínua instabilidade política, econômica e social. Atualmente moro numa ilha chamada Bubaque, entre dezenas de outras ilhas do Arquipélago dos Bijagós, no Oceano Atlântico. É um local com paisagens e praias lindas. A natureza é exuberante e original. Percebe-se de um lado a imensa riqueza da cultura e do outro, costumes tradicionais que escravizam e amedrontam. A missão é muito desafiadora em todos os sentidos. O idioma oficial é o português, o falado é o crioulo e mais a língua da etnia, no meu caso, o “Bijagós”. A comunicação, transporte marítimo, saúde, educação e os meios básicos de sobrevivência são ainda muito precários. Em alguns meses do ano, para chegar às outras
Missões - Novembro 2005
ilhas ou à capital, Bissau, é necessário enfrentar as marés altas e violentas, navegando em canoas frágeis e sobrecarregadas, por horas e horas no oceano. Ver tantos doentes, adultos, jovens e crianças morrerem por falta de remédio e cuidados médicos, nos causa grande pesar. Assim, numa mudança compelta, deixei a formação para atuar na área da saúde. Quantas vidas ceifadas pelo paludismo, desnutrição e tantas outras moléstias! Não existem comunidades cristãs nas ilhas que visitamos. Portanto, procuramos ser sinal de esperança e presença do Cristo Consolador para este povo. Na convivência com essas pessoas aprendo: viver o momento presente no despojamento, crescer na fé. E na partilha de minha pobreza, acolher os pequenos gestos de solidariedade e a riqueza cultural do povo. Na voz do salmista quero cantar com o povo da Guiné Bissau: “Sinhor no Deus, Bu Nome i garandi na tudu terra”, que quer dizer: Senhor meu Deus, Teu nome é grande em toda a terra! (Sl 8,2).
Maria de Lourdes Pereira é irmã missionária na Guiné Bissau.
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Testemunho
50 Anos
de paz e bênçãos “O qüinquagésimo ano será para você um ano de júbilo” (Lv 25,11). Ano de ação de graças, de alegria, entusiasmo, de fé e de muito amor. de Rosa Squizatto
I Arquivo Pessoal
rmãs e irmãos, a minha saudação é de paz e bem! Nela tenho a oportunidade de experimentar quão gratificante é o viver e o partilhar com todos vocês a alegria dos meus 50 anos de total consagração a Deus, a serviço do seu Reino. Agradeço pelos inúmeros benefícios recebidos de bondade, fidelidade e misericórdia da Trindade Santa: Pai, Filho e Espírito Santo. Agradeço à minha família, congregação e a tantas outras pessoas que me acompanharam e participaram da minha caminhada. Celebrar o Jubileu de Ouro para mim, significa retomar e reviver o início: 2 de agosto de 1955, ano eucarístico, festa franciscana de Nossa Senhora dos Anjos. Dia feliz do meu sim, de minha entrega a Deus, sem reservas.
Fatos que marcaram a minha vida
Nesta memória há alguns fatos marcantes em minha vida: sou a quarta das filhas mulheres e a sexta dos oito filhos, de uma abençoada família. Era ainda uma menina quando, em 1951, cheguei em Rodeio, Santa Catarina. Hoje, sou grata à congregação franciscana pelo carinho e atenção recebidos. Assim, comecei o processo formativo: convivência, trabalho, oração. Tudo foi criando espaço, gosto e enriquecendo a semente batismal – a vocação a serviço do Reino no seguimento de Jesus Cristo. Bem cedo, como juvenista, com a quarta série primária, fui convidada a morar com uma irmã e ser professora da comunidade. Aí me apaixonei pela Educação. No final do ano voltei para Rodeio, fiz seis meses de postulantado e um ano de noviciado. Enfim, chegou a hora de emitir os votos temporários: assumir o compromisso no seguimento de Jesus Cristo a serviço do Reino. Partir para a missão. Fui enviada a São Miguel, em Porto União, Santa Catarina. O que mais amei? A experiência de fraternidade vivida no meio do povo e com o povo: na pobreza, simplicidade, abnegação, alegria, luta e muitos desafios. Assim, o processo da minha vida de consagração foi acontecendo. Diante das situações, circunstâncias e necessidades surgidas, fui me qualificando no modo de viver e trabalhar tanto como franciscana, quanto como irmã catequista e na vida profissional.
No itinerário dos 50 anos
Transcorri 30 anos a serviço da educação direta e 20 anos a serviço da congregação e família franciscana do Brasil. Contudo, nessa memória renovo o agradecimento muito sincero e profundo a Deus Pai-Mãe e à Maria que me abençoaram e pelos quais, em nenhum momento, me senti abandonada. Agradeço à congregação que me possibilitou, junto às irmãs e o povo, ir construindo um ideal franciscano, que busca a cada dia reconstruir-se no seguimento de Jesus Cristo, nos passos de Francisco e Clara de Assis. No meu dia-a-dia sinto o chamado: “vinde e vede”. Ofereço minha vida dizendo: “eis-me aqui Senhor, para fazer tua vontade”. Procuro “curtir” com Ele. Ler e rezar o Evangelho. Escutá-Lo no silêncio e no coração do mundo. E, na esperança de testemunhar o amor nas relações, entrar em sintonia com a realidade da vida. Coloco em Seu coração, todas as pessoas que fizeram ou fazem parte da minha história de vida, pedindo bênçãos e graças. Tenho sempre no coração o povo, os alunos, professores, amigos, irmãs das comunidades onde vivi e trabalhei. Digo com sinceridade: todos foram apoio, força, ânimo e bem-querer em todos os momentos.
Rosa Squizatto é irmã franciscana.
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A Exortação Apostólica do papa Paulo VI está completando 30 anos. Uma boa ocasião para refletirmos sobre a sua atualidade. de Luiz Balsan
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o falarmos de Evangelii Nuntiandi, estamos usando o título em latim de uma Exortação Apostólica do papa Paulo VI, escrita no ano de 1975, dirigida a toda a Igreja, sobre a evangelização do mundo contemporâneo. Hoje, constantemente se ouve dizer que vivemos um tempo de rápidas e profundas transformações. Esta realidade de certa forma está presente já nos anos em que se realiza a publicação da Evangelii Nuntiandi. São anos quentes em que, de um lado, as esperanças e, de outro, a insegurança, marcam profundamente os sentimentos e a vida da humanidade. Seguem alguns dados de contextualização quando da publicação da Exortação.
EvangeliiNuntiandi Situação sociopolítica
No palco mundial predomina a famosa Guerra Fria entre as duas grandes potências do momento: União Soviética e os demais países comunistas de um lado, e os Estados Unidos e seus aliados de outro. De um lado e de outro estão a corrida armamentista e a bomba atômica, capaz de destruir muitas vezes a vida no planeta. Em âmbito continental e nacional a esperança e a luta por mudanças sociais e políticas, como a superação do capitalismo selvagem que cria desigualdade e exclui, desemboca na violência. Na Europa, grupos de esquerda ameaçam a solidez dos Estados. Na América Latina, com o total apoio dos norte-americanos e com certa conivência da própria Igreja, na década de 60, a ditadura militar se instaura em praticamente todos os países, acompanhada por uma dura repressão que gera uma quantidade de “desaparecidos” e exilados. Em contraposição, afirmam-se os movimentos de guerrilha na tentativa de destituir os militares e implantar uma nova ordem política. São tempos sombrios de censura, de repressão e ao mesmo tempo de uma corrupção que cresce no silêncio, antes nos altos comandos, depois, em toda a sociedade. Este clima de contestação e luta por mudanças estruturais, de um lado, e repressão violenta por parte do Estado, de outro, levam os intelectuais a caracterizar este período como “anos de chumbo”.
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Renovação litúrgica
A nova visão de Igreja como Corpo de Cristo é levada para a liturgia e faz abandonar assim a idéia de que quem celebra a Eucaristia é o sacerdote (os demais apenas assistem). Considerando a assembléia como povo celebrante, o latim é esquecido e a liturgia passa a ser celebrada na língua do povo. Isto vem ao encontro da necessidade há muito sentida de que a liturgia abandonasse o peso das normas e se tornasse mais acessível e mais próxima da vida das pessoas. As compreensões e reações, nos anos que sucedem ao Concílio, são tão diversas a ponto de, a poucos metros de distância, a Eucaristia ser celebrada de maneira muito diversa: de uma parte os que, por dificuldade de aceitar estas mudanças, continua vam celebrando em latim, de costas para o povo; de outra parte a família que recebe em sua casa um grupo de amigos, entre os quais o padre, que celebra em manga de camisa, servindo-se do pão e do vinho comprados na mercearia da esquina. Sem perder a solenidade, busca-se uma liturgia mais próxima da vida das pessoas. Jaime C. Patias
A Igreja passa a ter uma atitude de diálogo com o mundo e não mais de mera condenação. Cresce a compreensão de sua secularidade, isto é, de seu ser para o mundo.
Situação religiosa e eclesial
Jaime C. Patias
Se na sociedade existe este clima efervescente, no âmbito religioso e eclesial a realidade não é diferente. A Igreja vive um de seus acontecimentos mais importantes e inovadores de toda a história: o Concílio Ecumênico Vaticano II, realizado de 1962 a 1965. As mudanças propostas pelo mesmo são grandes e as repercussões também. Ele suscita na Igreja um ar de novidade, de profundas esperanças, mas também de insegurança e de angústia. É a sensação de ter partido para uma longa viagem, trilhando caminhos incertos; viagem esta que promete muitas novidades e que parece ser sem retorno.
Dom Pedro Sbalchiero bispo de Vacaria, RS. Encontro do COMIRE - SUL 3, Porto Alegre.
Renovação teológica
XLI Assembléia Geral CRB/SP, julho 2005.
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A nível teológico, busca-se uma teologia que não apenas explicite os conteúdos da fé, mas que reflita “à sua luz os problemas da vida, da experiência humana, da história concreta, do cotidiano do homem e mulher modernos num espírito de muita liberdade e criatividade”. Esta nova teologia terá reflexos também na cristologia: Jesus Cristo passa a ser considerado sobretudo na sua humanidade – homem igual a nós em tudo, menos no pecado. Leva-se a sério o verso de Fernando Pessoa que diz: “humano assim só pode ser Deus mesmo”. Novembro 2005 - Missões
Uma nova visão do mundo
Jaime C. Patias
Com o Vaticano II, a Igreja não apenas muda a forma de ver a si mesma, mas também o mundo. De uma visão preferencialmente negativa – como se tudo o que viesse do mundo fosse mau – passa-se a uma visão prevalentemente positiva. Reconhece-se que no mundo há valores e que a Igreja não apenas pode ensinar, mas pode também aprender. A Igreja passa, assim, a ter uma atitude de diálogo com o mundo e não mais de mera condenação. Cresce a compreensão de sua secularidade, isto é, de seu ser para o mundo. A quem pensa que a Igreja se desinteresse do ser humano, Paulo VI responde, no final do Concílio, com uma frase emblemática: “nós também, mais do que ninguém, temos o culto do homem”.
“O que é que é feito, em nossos dias, daquela energia escondida da Boa Nova, suscetível de impressionar profundamente a consciência dos homens? Até que ponto e como é que essa força evangélica está em condições de transformar verdadeiramente o homem deste nosso século? Quais os métodos que hão de ser seguidos para proclamar o Evangelho de modo a que a sua potência possa ser eficaz? Tais perguntas, no fundo, exprimem o problema fundamental que a Igreja hoje põe a si mesma e que nós poderíamos equacionar assim: após o Concílio e graças ao Concílio, que foi para ela uma hora de Deus nesta viragem da história, encontrar-se-á a Igreja mais apta para anunciar o Evangelho e para o inserir no coração dos homens, com convicção, liberdade de espírito e eficácia? Sim ou não?” (EN 4).
As mudanças significativas e rápidas questionam a Igreja. Encerramento do CAM2-COMLA7, Guatemala, novembro 2003.
O empenho em anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo animados pela esperança, mas, ao mesmo tempo torturados muitas vezes pelo medo e pela angústia, é, sem dúvida alguma, um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade. É por isso que a tarefa de confirmar os irmãos, que nós recebemos do Senhor com o múnus de Sucessor de Pedro e que constitui para nós “cada dia um cuidado solícito”, um programa de vida e de atividade e um empenho fundamental do Nosso Pontificado, tal tarefa afigura-se-nos ainda mais nobre e necessária quando se trata de reconfortar os nossos irmãos da missão de evangelizadores, a fim de que, nestes tempos de incerteza e de desorientação, eles a desempenhem cada vez com mais amor, zelo e alegria (EN 1).
Expectativas e desorientação
De um lado este clima de mudanças suscita grande entusiasmo e fortes expectativas. Finalmente se vê nascer uma Igreja mais próxima das realidades do mundo. Por outro lado, mudanças tão significativas e rápidas, criam questionamentos, desorientação e crises. Sem a necessária preparação para uma vivência de fé mais centralizada na pessoa de Cristo, o povo se sente desorientado ao perceber que as imagens dos santos de sua devoção, simplesmente, desapareceram das igrejas. O clero, formado numa mentalidade diferente, teve dificuldades para adaptar-se a uma Igreja mais próxima do povo. Uma das conseqüências disto será a desistência de muitos. Entre os anos de 1963 a 1970, aproximadamente 25 mil sacerdotes abandonaram o ministério. Este número corresponde a 5% de todo o clero. José Roberto Garcia
Aplicação particular na evangelização
11º Intereclesial das CEBs, Ipatinga, MG.
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Arquivo
Questionamentos sobre a missão! Evang elii Nu ntian di “Aapres e ntação d gélica n a mensa ão é pa gem eva ra a facultati nva: é um Igreja uma co n dever q manda to do S ue lhe in tribuição enhor J cumbe homen esus, , por s po esta me ssam acredita a fim de que o r e ser s nsagem s alvo én não pod eria ser ecessária; ela s. Sim, sub éú admite indifere stituída. Assim nica e n , ela ç a acomo nem sin dação. cretism não É o, nem a s alvação que está do em cau sa; é a b s homens elez velação Celebração macroecumênica, Assembléia da CNBB Porto Seguro, BA. que ela a da Rereprese depois nta; , ela c omport uma s a abedor ia que não é d Vaticano II abre caminhos noFio condutor este mu nd Ela é c vos em relação ao ecumenisÉ neste contexto que se insere a apaz, p o. or si m e mo – esforço de aproximação Evangelii Nuntiandi. O fio condutor do sma, de a fé, um suscitar com outras Igrejas cristãs – e documento aparece já na introdução. a apóia n fé que se ao diálogo inter-religioso. Tais Paulo VI diz que ela quer ser uma palavra a potên cia de Deus. E caminhos foram, em seguida, de orientação e sobretudo de confirmanfi Verdad m, ela é a trilhados também por Paulo VI que teve ção e encorajamento num tempo que ele e. Por iss bem m erece q o, gestos e palavras particularmente significaracteriza como sendo de incerteza e ue o apóstolo lhe cons cativos. Reconhecendo o valor das outras desorientação. Para quem tem dúvidas a todo o seu tem gre religiões, a Igreja afirma que a liberdade se vale ou não a pena o empenho pela po, todas as su religiosa é um direito inalienável da pessoa evangelização, ele começa a elaborar e lhe sa as energias crifique humana. A Igreja deixa de se considerar sua resposta já no primeiro parágrafo: , se for necess ário, a sua pró como o único caminho para a salvação, “O empenho em anunciar o Evangelho pria vid a” (EN 5). afirmando que aquelas pessoas que, sem aos homens do nosso tempo... é sem
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culpa, ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam cumprir a sua vontade, conhecida através do ditame da própria consciência, podem chegar à salvação. Esta atitude respeitosa para com outras religiões, com a qual certamente nos identificamos profundamente, traz consigo um questionamento fundamental. Se as pessoas podem se salvar também de outras formas, até mesmo sem conhecerem Jesus Cristo, a missão ainda tem razão de ser? Até o Concílio Vaticano II, o grande motivo da missão era a salvação; agora a Igreja reconhece que a mesma pode ser alcançada também por outros caminhos. Disto nasce a pergunta: para que a missão?
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dúvida alguma um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como, a toda a humanidade”. Como pano de fundo da reflexão de Paulo VI está a percepção de que os tempos mudaram. “As condições da sociedade (...) obrigam-nos a rever os métodos, a recorrer, a todos os meios possíveis, e a estudar o modo de levar ao homem moderno a mensagem cristã, na qual somente ele poderá encontrar a resposta às suas interrogações e a força para a sua aplicação de solidariedade humana” (EN 3). No fundo, a grande pergunta que o papa se coloca é se, depois do Concílio, no qual reconhece uma verdadeira obra de Deus, a Igreja está ou não mais apta
para anunciar o Evangelho e para infundilo no coração dos homens e mulheres do seu tempo. Paulo VI se propõe, a partir das riquezas do Sínodo, a facilitar em toda a Igreja uma reflexão, e ao mesmo tempo, dar um impulso novo a todos, de modo particular aos que estão diretamente ligados ao anúncio do Evangelho.
Luiz Balsan é missionário, professor de Espiritualidade e doutor em Teologia. Outubro 2005 - Missões
“Se não há missão, a celebração eucarística não é autêntica; se não há Eucaristia vivida, a missão não é verdadeira” Dom Marcelo Zago. de Alcides Costa
A
Jaime C. Patias
Igreja é fruto do amor trinitário (Deus Pai, Filho e Espírito Santo) e com a missão que recebeu, deve perpetuar esse amor vivido e celebrado na Eucaristia. Por isso, é sinal e sacramento dessa corrente de amor entranhado no mundo. Sua missão torna-se autêntica, à medida que realiza esse amor, pois é única e tem uma só fonte: Cristo. Ele é, pois, o ápice, o centro, o pivô desta economia da salvação e a Eucaristia atual é a sua demonstração. Nesta visão, a Eucaristia é o sinal daqueles que conscientemente aceitam o amor de Cristo e se disponibilizam a transmiti-lo e a perpetuá-lo. A pessoa que sabe que é amada, sente a necessidade de transmitir tal amor aos outros e, assim, torna-se missionária a partir da própria vida. A Eucaristia e a missão são, sobretudo, de Cristo, mas também, da Igreja. Por um lado, a missão nasce sempre de uma comunidade que celebra a Eucaristia, nasce como exigência de comunicar aos outros o Cristo descoberto e experimentado na fração do pão. Por outro lado, os desafios que vêm da realidade nos ajudam a encontrar na Eucaristia a resposta para o agir. Por isso é ponto de chegada e ponto de partida de toda a missão que a Igreja realiza, ou seja, a missão nasce da Eucaristia e conduz à ela. A Eucaristia é talvez o mais poderoso símbolo de que dispõe a missão para expressar seus objetivos e sua mística. Ela evoca a reconciliação e a paz da humanidade. Ela oferece os espaços onde as culturas e os povos podem se encontrar, dialogar e sair enriquecidos pelo Evangelho, sem perder o que lhes é próprio. O sonho da unidade da humanidade e dos
XLI Assembléia Geral CRB/SP, julho 2005.
Missões - Outubro 2005
discípulos de Cristo, o objetivo último da missão encontra na Eucaristia sua antecipação e inspiração.
Aprendendo aos pés da Eucaristia
A Eucaristia continua sendo o mistério que mais inspira a missão porque é a fonte de onde ela nasce e o fim para o qual ela caminha: reunir a humanidade em torno da mesa do Senhor Jesus como sinal e chegada do seu Reino. Porém, para que isso se realize, é preciso uma atitude de diálogo. E um dos grandes desafios para a missão hoje, no mundo globalizado, é o diálogo de vida e de fé com o mundo, com outras denominações religiosas. Ele deve ter um espaço privilegiado no trabalho missionário, porque a Igreja não é somente a comunidade dos que procuram viver o Cristo. Ela deve ser também o sinal, o sacramento do Reino de Deus que já está presente no mundo, ultrapassando os limites da própria Igreja. Por isso, o diálogo exige contemplação que para nós significa adoração e colóquio, e que encontra seu ambiente propício aos pés da Eucaristia. Ali se encontra o equilíbrio e o aprofundamento. A missão cristã na atualidade coloca como primeiro sinal, as ações que apontam para repartir o pão da vida, promover a justiça e a inclusão social, impulsionar os processos de transformação. Estas ações são explicitamente eucarísticas na sua inspiração. Elas derivam do conceito de fraternidade e partilha que desde o início animou a comunidade cristã e as primeiras celebrações da Eucaristia (At 2, 42-47). O texto do instrumento de trabalho do Sínodo sobre a Eucaristia e a missão da Igreja contemplava as “implicações sociais da Eucaristia” e dizia que “é preciso ajudar os cristãos a compreender o que significa para a fé a relação entre o Cristo da Eucaristia e o Cristo presente em seus irmãos e irmãs, sobretudo nos pobres e marginalizados da sociedade”, porque “a solução dos problemas grandes e pequenos da humanidade está no amor que Cristo nos ensina na Eucaristia: amor que se dá, que se irradia e se sacrifica”. A Eucaristia é a memória de Jesus e o projeto da sua missão, que a Igreja continua no tempo e na história. Um projeto que se realiza numa variedade de formas e sensibilidades. O desafio para os missionários e missionárias de todos os tempos, é manter sempre unida as duas mesas, a da Palavra e a do Pão, a Missão e a Eucaristia, e colocar continuamente o avental do serviço, para que a Eucaristia e a missão apareçam sempre como ações de Cristo e da sua Igreja, sacramento da sua presença, na história e na vida das pessoas, da qual eles e elas são somente e exclusivamente servidores.
Alcides Costa é missionário comboniano.
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história Missão daHoje missão
A Eucaristia é celebração de amor
Embrião do
movimento negro de Dagoberto José Fonseca
A
o longo dos 40 anos que separam o Concílio Vaticano II dos nossos dias, a presença da população afrobrasileira vem sendo sistematicamente interrogada no interior das diversas congregações religiosas no Brasil. O questionário de 1960 - que refletia sobre a reduzida inserção dos afro-brasileiros na Vida Religiosa Católica (VR) - e, posteriormente, as análises de Hugo Fragoso interpelavam a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) com veemência, no tocante a discutir as vocações afrobrasileiras no país. Esses questionamentos representam as primeiras tentativas mais ostensivas e organizadas de alguns setores da VR no Brasil em reformular o pensamento e o sentimento de desconfiança que ainda cercavam a população afro-brasileira e a impediam de ser parte da vida consagrada no país. Essa mudança de mentalidade estava relacionada ao tormento que viviam a Igreja Católica e a Vida Religiosa, de um lado com a difusão das diversas deno-
minações protestantes e não-cristãs nos meios urbano e rural, fazendo muitos adeptos entre a população afro-brasileira e, do outro, com a diminuição das vocações “brancas” provenientes dos estados da Região Sul do país.
A Vida Religiosa pós-Concílio
Com o Vaticano II e depois dele, nas conferências latinoamericanas de bispos e de religiosos, a Igreja e a VR são convidadas a rever suas posturas teológica, moral e cultural frente aos “negros” e as “negras”, alicerçando o caminho dessa atual discussão sobre a refundação da VR, que passa a ter, como já estava proposto no Concílio, um olhar autêntico e respeitoso sobre as diversidades social e cultural dos grupos étnicos e raciais, além de firmar uma posição política e profética frente ao etnocentrismo e ao racismo imperante fora e dentro das próprias instituições católicas. Esse caminho árduo proposto às instituições católicas só era possível ser exercido e cumprido a partir da revisão da Igreja Católica e da Vida Religiosa, sobretudo através de um olhar para dentro de si, que retirasse as velhas e tristes idéias
Fotos Jaime C. Patias
Destaque do mês
Vaticano II
Participação do Movimento Negro do Fórum Social Mundial, Porto Alegre, 30 de janeiro de 2005.
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Novembro 2005 - Missões
Movimentos negros surgiram após o Concílio Vaticano II, contribuindo para a diversidade da Igreja.
Dia Nacional da Consciência Negra No dia 20 de novembro de 1695, sob o comando dos bandeirantes paulistas ocorreu a morte de Zumbi, líder do Quilombo de Palmares quase dois anos depois de destruída a capital política de Palmares, o mocambo de Macaco. No entanto, até hoje os negros no Brasil cantam: “Ei, Ei Zumbi! Você não morreu, você está em mim!” Quando a Lei Áurea foi assinada no dia 13 de maio de 1888, aproximadamente 5% apenas dos escravizados continuavam nesta situação, sendo favorecidos. A imensa maioria já havia obtido a liberdade à força, pela compra de sua alforria ou pela “bondade de seu senhor ou senhora”. Essa alforria também veio a partir da intenção dos grupos dominantes em importar a mão-de-obra dos imigrantes europeus. Ao longo dos anos os movimentos sociais rompem o silêncio: os negros gritam por oportunidades e igualdades sociais e o fim do racismo; os trabalhadores clamam por trabalho e emprego digno; as mulheres bradam por creches e contra a carestia e setores da Igreja Católica comprometidos com o povo pobre e trabalhador também suplicam aos céus e aos homens por justiça social. O dia 13 de maio tornou-se para as entidades do movimento negro, o Dia Nacional de Combate ao Racismo. Enquanto que o dia 20 de novembro tornou-se o dia de comemoração pela liberdade. Inspirados pelo militante negro gaúcho Oliveira Silveira, essas entidades elegeram esse dia como o Dia Nacional da Consciência Negra em que se recorda os ideais e os sonhos de Zumbi e de e tantos outros homens e mulheres que fazem parte dessa luta secular.
Grupo de capoeira, Ipatinga, MG.
de um povo eleito ou de um grupo dominante. Elas para serem de fato e de direito universais, prescindiram da representação e do ingresso de todos os povos no seu interior, sendo irmãos iguais em Cristo Jesus.
Surgem os Movimentos de superioridade e de inferioridade entre irmãos e irmãs, de diferentes grupos étnicos, raciais, sexuais e de credo. A Vida Religiosa feminina, de modo particular, deveria se abrir para o mundo, refazer suas constituições, seus capítulos, se inserir no mundo e ser penetrada por ele; daí de maneira definitiva as congregações deveriam aceitar mulheres afrobrasileiras com comprovada vocação como parte de seu contingente de religiosas consagradas, sem que houvesse qualquer hierarquização ou uma formação separada e diferente entre elas e as “brancas”. Esse processo teve repercussões positivas e negativas no interior dessas instituições católicas e, também, na sociedade. As congregações foram “obrigadas” a se adequarem aos interesses majoritários da Igreja e do próprio papa Paulo VI, deixando as antigas formas particularistas e as velhas formações baseadas no legado tridentino. Assim, tiveram que estabelecer novos valores a partir da Teologia, da Filosofia e da Antropologia, calcadas basicamente em pressupostos teóricos do humanismo e do culturalismo. A Igreja e a Vida Religiosa com esse impulso dado pelo Vaticano II lançaram-se decisivamente no caminho universal, a fim de construir o Reino de Deus na terra, junto aos empobrecidos e excluídos; retomando o que dissera sabiamente o apóstolo Paulo, ser uma Igreja de todos os povos, não apenas
Missões - Novembro 2005
Esse movimento alimentado pelo Concílio Vaticano II e pelas leituras acerca da Teologia da Libertação e das preocupações específicas sobre a negritude, permitiu que as(os) religiosas(os) tivessem uma maior visibilidade no seio da hierarquia católica e, inclusive, as condições de criarem dois grupos com características devocionais, sem perderem o viço sociopolítico e econômico – o Grupo União e Consciência Negra (1978) e os Agentes de Pastoral Negros (1983) e, ainda, a criação do Instituto Mariama (1990) – articulação de diáconos, padres e bispos negros; do Agbara, denominado anteriormente de CEBI-NEGRO (1994), iniciativa de formandas(os) e leigas(os) com a intenção de ler a Bíblia na perspectiva afro-brasileira; e do Grupo de Reflexão da Vida Religiosa Negra e Indígena (G.R.E.N.I.) (1992), vinculado à Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e da Pastoral Afro (1997). Com exceção do Instituto Mariama, que se afirma como um grupo especificamente masculino, os demais sempre tiveram a participação majoritária de mulheres. Esses são os principais grupos e as mais notáveis experiências que foram criadas no final do século passado e continuam presentes nos dias atuais com as velhas, mas também com as novas roupagens políticas, ideológicas, nunca esquecendo que têm em sua essência o sentimento cristão.
Dagoberto José Fonseca é professor doutor em Ciências Sociais e Coordenador Executivo do Núcleo Negro da UNESP, membro do Grupo Atabaque: Cultura Negra e Teologia.
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um profeta para nossos dias No próximo dia 13 de novembro, Charles de Foucauld será beatificado.
Fotos: Arquivo Irmãzinhas de Jesus - Roma
atualidade
Charles de Foucauld,
“Meu Deus, não sei se é possível para alguém, ver-te pobre e continuar rico como antes... Quanto a mim, não posso conceber o amor sem a necessidade, a necessidade imperiosa de identificação de semelhança e sobretudo de partilha, de todos os sofrimentos, de todas as dificuldades, de toda as durezas da vida.”
de Benedito Prezia
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o se falar em profeta pensa-se ou em alguém que anuncia o futuro ou em quem está à frente de seu tempo. Se em muitos aspectos Charles de Foucauld foi um filho de seu tempo, com as limitações próprias de sua época, por outro lado teve grandes intuições e uma vivência missionária que o fizeram um precursor do Concílio Vaticano II. Sua mensagem tem três aspectos que a tornam muito atual: a radicalidade na entrega a Deus, a Nazaré dos excluídos e o diálogo com os não-cristãos.
A radicalidade na entrega a Deus
A vida de Charles de Foucauld foi marcada por extremos. Nascido na França, em 1858, ficou órfão de pai e mãe aos seis anos. Essas mortes trouxeram-lhe um grande vazio na vida, apesar do conforto – era de família nobre – e do carinho que lhe ofereciam seus avós maternos. Ao chegar à adolescência, enveredou por um caminho de rebeldia e de libertinagem. Para fazer frente a essa situação, seu avô conseguiu que entrasse num Regimento de Cavalaria da aristocracia francesa. Depois de dois anos, foi dispensado por indisciplina. Com a morte de seus avós herdou uma pequena fortuna, que consumiu rapidamente, levando uma vida de prazer, cercada de bebidas e de amantes. Se na época houvesse drogas, certamente teria sido um usuário delas. Um fato mudou sua vida: um levante na Tunísia fez com que seu antigo batalhão fosse convocado. Vendo seus colegas arregimentados, pediu para ser readmitido. A solicitação foi aceita, sendo enviado não para a Tunísia, mas para a Argélia. Ali teve o primeiro contato com o Islã. Apesar da campanha militar, ficou impressionado com a religiosidade do povo. De volta à França, resolveu enfrentar um novo desafio: realizar uma missão geográfica no Marrocos, país totalmente fechado aos ocidentais. Disfarçado de judeu russo, viajou durante dois anos, de 1882 a 1884, fazendo um minucioso levantamento, não sem enfrentar perigos. Ao retornar à terra natal, recebeu um prêmio por esse trabalho. Tal aventura deixou-o mais próximo de Deus. “O Islã produziu em mim uma profunda comoção”, escreveria ele mais tarde. “A visão dessa fé, dessas almas vivendo continuamente na presença de Deus, fez-me antever algo maior e mais verdadeiro que as ocupações mundanas”.
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O deserto e as práticas coletivas religiosas dos muçulmanos mostravam que poderia encontrar a verdade e o caminho que tanto buscava. Durante um certo tempo hesitou entre o islamismo e o cristianismo. Na França procurou um sacerdote, amigo da família, para ter lições de religião católica. Ao invés de uma aula, recebeu ordem para se confessar. Perplexo, ajoelhou-se, confessou-se e... de repente, sentiu ser outro homem. Deus existia e o tinha encontrado. Iniciava agora outra aventura, não de um homem de ciência, mas de alguém à procura do absoluto. “No momento que descobri que havia um Deus, vi que não podia viver, a não ser para ele. Minha vocação nasce no mesmo instante que minha fé”. Depois de uma viagem à Palestina para conhecer a terra de Jesus, buscou a ordem mais rigorosa para entrar, os trapistas. Decorrido um tempo, pediu para ser transferido para um mosteiro mais pobre, na Síria. Desejava viver a radicalidade de sua opção. Foi morar num convento extremamente simples, coberto com folhas de palmeira. Mas seu radicalismo exigia mais: “Somos pobres para os ricos, mas não pobres como era Nosso Senhor, não pobres como eu era no Marrocos”. Mesmo assim, passou ali sete anos. Novembro 2005 - Missões
A Nazaré dos excluídos
Desde sua conversão, buscava concretizar uma intuição que tivera: “Tenho sede de levar a vida que entrevi, que adivinhei enquanto andava pelas ruas de Nazaré”. Primeiramente procurou a Nazaré geográfica, indo para a Palestina. Trabalhou dois anos como jardineiro, num convento de clarissas. Rezava muito e meditava. Meditava escrevendo, e por isso escreveu muito. A maior parte dos escritos dos oito volumes de meditações, hoje publicados, data dessa época. Mas Deus foi-lhe mostrando que a verdadeira Nazaré não ficava na Palestina. Ficava onde estavam os mais pobres. Lembrou-se então do Marrocos, que percorrera anos atrás. Decidiu partir para lá. Impedido de ali entrar, por ser europeu, instalou-se na fronteira, em Beni-Abbés, do lado argelino. Sonhava com uma congregação contemplativa para “através da oração e do sacrifício, converter as pessoas distantes de Jesus”. Esse sonho não se concretizou, pois um único companheiro que foi até ele, não agüentou acompanhá-lo. A realidade colonial foi lhe mostrando um outro caminho. Ficava chocado com a escravidão que ainda existia nas colônias francesas. Numa carta ao abade do seu antigo mosteiro, escrevia: “Há muita hipocrisia na França. Imprimem nos selos liberdade, igualdade e fraternidade, mas subjugam escravos; punem o roubo de uma galinha e permitem o roubo de um homem. Não temos o direito de permanecer como sentinelas adormecidas... cães mudos... É Jesus quem está nessa situação”. Assim foi entrando na outra Nazaré, o lugar social e religioso escolhido por Cristo: a Nazaré discriminada (Jo 21, 2), a Nazaré do carpinteiro e dos pobres. Sua vida foi radicalmente transformada: “Das 4h30 da manhã às 8h00 da noite não fico um minuto sem falar ou ver alguém: escravos, pobres, soldados, viajantes e curiosos”. Na busca dos mais pobres, Charles de Foucauld - agora Irmão Carlos de Jesus -, vai deixar seu conventinho de Beni-Abbés, transferindo-se para Tamanrasset, no sul da Argélia, para acompanhar os nômades tuaregues. Ali irá viver 11 anos.
SEGUIDORES DE FOUCAULD
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pós sua morte surgiram vários grupos que se propuseram concretizar sua mensagem. Hoje são cerca de 20 agrupamentos - comunidades religiosas, grupos leigos e grupos
de sacerdotes diocesanos, espalhados pelos cinco continentes. No Brasil há as Fraternidade dos Irmãos de Jesus, Irmãos do Evangelho, Irmãzinhas de Jesus, Fraternidade Jesus Cáritas, Associação Carlos de Foucauld, Fraternidade Sacerdotal, Fraternidade Secular, Fraternidade Missionária, Sodalício Carlos de Foucauld e Comunidade de Damasco. Os grupos se caracterizam pelo acolhimento, abertura para o outro, vida simples, compromisso com os excluídos, oração e adoração eucarística.
Um diálogo com o mundo tuaregue
O ardor do missionário cedeu lugar ao contemplativo que descobria o poder do exemplo silencioso. “Gritar o evangelho de cima dos telhados, não com palavras, mas com a vida”. O Irmão Carlos, bem antes do Concílio Vaticano II começava a praticar o que agora se chama de macroecumenismo. “Estou aqui não para converter os tuaregues, mas para tentar compreen dê-los. Acredito que o bom Deus acolherá no céu aqueles que forem bons e honestos. Os tuaregues são muçulmanos, mas Deus receberá a todos, se merecermos”. Os tuaregues também rezavam por ele, para que pudesse ir ao céu, embora fosse cristão... Era o desejo não só das mulheres, como o de Mussa Ag Amastane, chefe da região: “Que nos encontremos com ele no paraíso...” Interessava-se por tudo, até por atividades e vaidades femininas. Numa de suas viagens à França, aprendeu o tricô para ensiná-lo às mulheres tuaregues. Chegou a escrever à sua prima pedindo “modelos de sapatinhos de crochê para criança de um ano, e meias para crianças da mesma idade”. Em outra ocasião solicitou à sua sobrinha tintura de cabelo, pois “não faltam mulheres que vêm pedir um “remédio” para escurecer alguns cabelos brancos”. Seu grande trabalho, além dessa inculturação, foi o estudo da língua e da cultura desse povo. Elaborou várias obras: uma gramática e coletânea de textos, um dicionário tuaregue-francês-tuaregue em quatro volumes, e uma importante coletânea de poesias tuaregues, em dois volumes, todos publicados após sua morte. Pressentindo seu fim, escrevia no ano de sua morte: “Como dá trabalho esse dicionário. Desejo tanto vê-lo terminado!... Isso faz de mim um sedentário e me impede de ver as pessoas como eu desejaria”.
A medida do amor
Para imitar a Cristo, desejava morrer mártir, de forma violenta... “A semelhança é a medida do amor”, escreveu certa vez. No dia 1º de dezembro de 1916, numa emboscada de um grupo que resistia à ocupação francesa, terminou sua vida, estendido na areia do deserto, perto das hóstias consagradas, igualmente espalhadas. Os dois amigos permaneceram juntos até o fim...
Benedito Prezia é membro da Fraternidade Secular.
Contatos: Neuza Lopes Severino Tel. (11) 4787-5992 e-mail:
[email protected] Benedito Prezia Tel. (11) 3825-9569 e-mail:
[email protected]
Missões - Novembro 2005
Pe. José Bizon Tel. (11) 3884-1544 e-mail:
[email protected] Irmãzinhas de Jesus Tel: (62) 581-3711 e-mail:
[email protected]
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José Roberto Garcia
Consciência Negra e a criança Infância Missionária
“Ó que coisa bonita! Deus Pai Libertador criar negra cor Ó que coisa bonita!”
de cunho racial que permeiam as relações entre as crianças e entre adultos e crianças, favorecendo também o acolhimento ao “diferente” como sujeito. No banquete do Deus da Vida todos são convidados, porém, o banquete é ofertado para aqueles e aquelas que vivem no seu cotidiano o projeto de vida em plenitude para todos (Mt 22, 8-14).
“É Deus quem revela quem somos!” (Sl 138)
Coral Família Alcântara que reúne quatro gerações de remanescentes de quilombo em apresentação, Ipatinga, MG.
de Roseane de Araújo Silva
“Ó
que coisa bonita” relembrar neste mês o herói brasileiro Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência e de liberdade, levantando alguns pontos de reflexão em nossa página da Infância Missionária. Infelizmente ainda não é possível festejar integralmente, porque convivemos com situações de racismo e desigualdades. Hoje comemoramos no dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra fazendo memória junto às organizações comunitárias que resistiram a anos e anos de exploração. As comunidades quilombolas vêm sendo reconhecidas em passos lentos pelo governo federal após a Constituição de 1988, conservando tradições e espírito comunitário à luz da história dos antepassados que naquele chão se organizaram.
O Reino de Deus é para todos!
Diante de uma população cuja maioria é constituída por afro-descendentes, ainda ocorre na escola uma reprodução de racismo, mascarada através de atitudes de diferenciação, transmitindo valores negativos no que se refere à sua descendência, negando a história destes pequeninos. Pequenos detalhes transmitem à criança valores tais como “ser negro é ruim”, “tem o cabelo duro”, ou ainda “negro é feio e cheira mal”. Na situação de aprendiz, a criança não saberá diferenciar uma informação nova como algo pejorativo ou algo positivo, sem a reflexão primeira dos adultos que a cercam. Os animadores ou educadores que lidam com crianças em situação de aprendizagem, necessitam estar atentos às questões
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O olhar da criança não carrega nenhum preconceito, pelo contrário, ela intenciona acolher um novo amiguinho ou amiguinha, independente da cor da sua pele. Busquemos então tratar destas questões com um “novo olhar”. Um olhar anti-racista e democrático que considere a presença negra no Brasil, através da culinária, da riqueza artística expressada na dança, na música, na religiosidade, no Português falado no Brasil, enfim nos nossos sonhos, nosso sangue, nossa luta por um mundo mais justo, mais democrático para todos os povos. Passados mais de 300 anos da morte de Zumbi, mártir da resistência negra, apresentemos às nossas crianças a possibilidade de se relacionar melhor com o “diferente”, tenha ele ou ela descendência africana, asiática, indígena, européia ou tenha posição contrária à nossa. Na relação com a mulher estrangeira, Jesus acolhe o seu pedido, convidando-a a participar do Reino de Deus (Mc 7, 25-30). Como evangelizadores, procuremos “nadar na direção contrária” à lógica da sociedade que prega a divisão e a competição. Vamos construir o Reino sonhado por Deus aqui na terra? Temos um grande desafio de construí-lo com e para as nossas crianças, sem preconceitos, nem discriminação, porque “a criança missionária olha todas as pessoas com olhos de irmão e irmã” (1º Mandamento da Criança Missionária). Das crianças do mundo – sempre amigas!
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.
Você sabia?
Que por muitos anos nós brincamos e cantamos “inocentes” músicas que reproduzem uma memória negativa da nossa cultura. Dentre elas: ‘chicotinho queimado’, ‘escravos de Jó’, ‘sou pobre de marré’. Conhecemos outras brincadeiras que marginalizam os afro-descendentes? Indicações de leitura (infantis e juvenis) Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado (Ed. Melhoramentos); O menino marrom, de Ziraldo (Ed. Melhoramentos); Em boca fechada não entra mosca, de Fátima Miguez, (Ed. DCL).
Novembro 2005 - Missões
conexão jovem
Jesus cristo,
a face humana de Deus de Edilene de Souza
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eus nos mostrou coisas espantosas em Jesus de Nazaré. O mais surpreendente não foi ressuscitar Lázaro depois de quatro dias enterrado, curar leprosos, ou transfigurar-se diante de Pedro, Tiago e João. Espantoso foi Deus se importar tanto com os seres humanos a ponto de querer tornar-se um de nós, sem fazer disso um teatro, vivendo de verdade as grandes alegrias e também as dores da existência humana. Muitas pessoas aprendem que Jesus é divino, mas não prestam atenção no fato de que nos revela o lado humano de Deus. Através Dele, Deus participa de coisas muito nossas: o aconchego de uma família, a animação de nossas festas, a intimidade de alguns amigos, as brincadeiras próprias da infância, a aventura de aprender, a dor da perda de pessoas queridas (o que será que Jesus sentiu quando José morreu?) e também, é claro, experimentar o terror da tortura até à morte, fruto das ambições humanas. O Deus de Jesus toma posição diante da maneira como a vida está organizada: não quer que se perca “nenhum desses pequeninos”; diz que tudo que fazemos aos doentes, famintos, desamparados, encarcerados, é feito a Ele; afirma que os últimos deste mundo serão os primeiros no Reino. Jesus é profundamente humano, sem deixar de ser Deus, aquele cujo mistério nos ultrapassa. O importante hoje não é saber se alguém é religioso ou ateu. Importante é perceber em que tipo de Deus acredita. Muita gente, quando diz que não crê em Deus, de fato está dizendo que não acredita no Deus que lhe foi apresentado; e freqüentemente tem razão, porque há muita caricatura por aí. Por outro lado, há quem diga que crê em Deus, mas o coloca fora da vida, sentado com muita glória e pompa num trono nas alturas. Esse Deus distante pode ser um excelente pretexto para a pessoa ignorar seus semelhantes e o terreno concreto da vida, que é onde, de fato, se decide a salvação, tanto a de quem tem religião, como a dos que se declaram ateus.
Rezar e viver
Fomos acostumados só com um certo tipo de espiritualidade. Experimente olhar para os cartazes que são feitos para falar de oração ou para as ilustrações de livros de espiritualidade. Possivelmente você vai ver flores, passarinhos, campinas ver-
Missões - Novembro 2005
des, riachos de água pura, arco-íris... e coisas semelhantes. Dificilmente se fará um cartaz sobre espiritualidade mostrando a enfermeira no hospital, os jovens na escola, a água que sai da torneira da nossa casa para lavar a louça... Dias de espiritua lidade costumam ser vividos em casas chamadas “de retiro”: como o próprio nome indica, lugares para a gente se “retirar” do movimento normal de todo o dia. Fica parecendo que estamos separando direitinho o espaço de rezar e o espaço de viver, e que Deus só pode ser encontrado nos lugares onde a natureza não foi atingida pelas obras do progresso humano. Não se nega que seja revigorante poder rezar e meditar num lugar bonito, silencioso, onde o meio ambiente nos fale por si mesmo da sabedoria do nosso Criador. Porém, não se pode reduzir a oração a essas ocasiões, que nem estão ao alcance de todos. Nossa linguagem costuma ser rural. É verdade que Jesus falava de sementes, vinhas, figueiras... É claro que nunca falou de ônibus, de antena parabólica, de supermercado, de fila do INSS, de revista em quadrinhos, de criança abandonada cheirando cola. Ele falava da vida que vivia seu povo naquele José Roberto Garcia
Levemos para a oração, a espiritualidade que descobrimos na vida. Jesus Cristo nos apresentou um Pai presente na existência humana.
Acampamento da Juventude, 11º Intereclesial das CEBs.
tempo. Do que será que ele falaria hoje? Sua oração era cheia de comparações rurais: “olhai os lírios do campo...” dizia ele. O que será que Jesus nos mandaria olhar hoje? Com que inspirações encaminharia a nossa oração? Talvez dissesse: “olhem o rosto cansado desse pessoal que toma o metrô depois de um dia de trabalho... olhem a animação desses jovens que estão armando o equipamento de som para a sua festa... olhem a amargura dos desempregados... olhem que coisa fantástica é a inteligência humana que criou o computador... olhem o que significa para o povo esta notícia no jornal...” Todas essas coisas fazem parte do nosso cotidiano e devem ser parte do clima da “presença de Deus” em que todos vivemos. Senão, nossa oração e nossa espiritualidade estarão divorciadas da vida, que é onde, de fato temos que caminhar com Deus.
Edilene de Souza é coordenadora da Pastoral da Juventude em Bauru, SP.
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entrevista
Viver a fé no mundo neo O senhor costuma afirmar que seria impossível ser verdadeiro, honesto e ético vivendo sob o domínio do sistema capitalista neoliberal. O que quer dizer com isso?
Frei Cristóvão assessora o 11º Intereclesial das CEBs. Texto e fotos de Jaime Carlos Patias
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ão cada vez mais evidentes os desafios enfrentados pelo cristão que quer professar sua fé em Jesus Cristo e é, ao mesmo tempo, obrigado a viver num mundo movido pelo sistema capitalista neoliberal. No capitalismo, as relações sociais são pautadas pelo mercado, que exige das pessoas comportamentos claramente contrários à mensagem cristã. Entrevistamos frei Cristóvão Pereira, 72, OFM, membro do Movimento Fé e Política nacional, coordenador de cursos, encontros, reflexões e retiros. Natural de Pará de Minas, MG, formado em Política na capital francesa, durante o período do exílio, frei Cristóvão é representante do Serviço Interfranciscano de Justiça e Paz e Ecologia (SINFRAJUPE) e membro do Comitê Nacional dos Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco, que se opõe ao projeto de transposição do governo. Frei Cristóvão, qual deveria ser a atitude da Igreja para enfrentar os desafios atuais? A Igreja deveria enveredar por uma caminhada libertadora e um novo jeito de ser, onde a dimensão social, política, teológica e bíblica, que constitui a sua dimensão profética, seja prioritária. Isso se faz através da formação da consciência e da celebração da vida em comunidades. Os conteúdos deveriam ser a formação bíblica, moral, política e litúrgica.
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Ser cristão no mundo estruturalmente iníquo, ante o pecado estrutural, onde os gritos das diversas categorias sociais denunciam um sistema que o massifica, explora e mata, é ser herói. Por exemplo, para se viver a castidade ou a fidelidade num mundo tão erotizado é preciso que a pessoa tenha um equilíbrio afetivo muito grande. Numa sociedade de economia dominada pelo capital especulativo marcado pela virtualidade, o indivíduo tem que estar muito preparado para viver honestamente. O ser humano só vai ceder aos seus interesses na medida em que for pressionado, senão ele morre sobre seus milhões de dólares, sem partilhá-los. O cristão tem que nadar contra a maré e ser um bom nadador, caso contrário ele vai se afogar ou ganhar câimbras nas duas pernas. Por isso a Igreja, no atual momento histórico, com a credibilidade profética que ainda possui, apesar das divergências, tem o dever de orientar as pessoas. Diante do pecado estrutural, qual deveria ser a atitude do cristão que professa a fé em Jesus Cristo? Para ser cristão é preciso se agrupar, se reunir para rezar em comum e celebrar a vida numa sociedade cada vez mais individualista. Os primeiros cristãos só se batizavam quando eram adultos e estavam preparados para o martírio, que era o ideal deles. Ser cristão hoje, em primeiro lugar, implica em fazer uma opção de fé pessoal e não sociológica. Como cristão eu faço uma opção e assumo as conseqüências. A fé leva a nos reunir com os outros do lugar para refletir e celebrar a vida com tudo o que nos cerca. O cristão reunido celebra a partilha do pão e faz uma ceia eucarística que não necessariamente precisa ser uma missa. Infelizmente muitos cristãos procuram fazer celebrações de projeção social para uma filha que faz 15 anos, um casamento bonito ou um funeral, para dar satisfação à sociedade. Para muitos a missa foi esvaziada da sua mensagem profética, que é celebrar a memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. É possível viver a fé sozinho? Não, porque a fé por si mesma é um movimento de Jesus Cristo que reúne muitas pessoas. A não ser que ele opte por ser um cenobita (pessoa que vive no convento) ou um eremita. Novembro 2005 - Missões
oliberal Ser um cristão autêntico na sociedade contemporânea é ser um herói. Participantes do 11º Intereclesial das CEBs.
O cristão precisa confraternizar, vivenciar a fé em suas opções religiosas comunitariamente. Os que se retiram para orar são pessoas com vocações especiais. Pessoas profundamente evangélicas que estão em comunhão com os santos e colocam nas suas orações os sofrimentos, os gritos, as alegrias, os terrorismos da humanidade. Contudo, nem todos são chamados para ser eremita, cenobita ou contemplativo. O senhor menciona muitas vezes a espiritualidade libertadora. Como deveríamos viver hoje essa espiritualidade? Comprometida com os excluídos, com os pobres e marginalizados. É com esse compromisso que se resgata a fidelidade ao Evangelho. Do Êxodo, dos Profetas, de Isaías, dos evangelistas, como em Mateus, no capítulo 25. A espiritualidade gera movimentos de mudança inspirados na vida de Jesus que se solidariza com os mais pobres. É do povo, de baixo para cima que vem a transformação, um novo regime político e um novo sistema econômico. Nas CEBs, os cristãos que têm uma consciência crítica partem da fé e política para mudar a sociedade. É claro que eles entram em conflito até mesmo com certos setores da própria Igreja. O caminho é trabalhar pelos direitos humanos, pela democracia e pela liberdade dentro e fora da Igreja.
Quais seriam as alternativas para o pensamento único do neoliberalismo? Eu diria que o Fórum Social Mundial e os fóruns regionais já se apresentam como uma alternativa quando afirmam que um outro mundo é possível. É preciso apostar nas pequenas iniciativas, nas cooperativas, na economia solidária, no exercício da cidadania ativa através da participação efetiva nas reuniões dos vereadores, procurando conhecer com antecedência os projetos que serão votados e avaliar se eles respondem ou não aos maiores problemas da população. Outra iniciativa é unir todas as ONGs que trabalham pelos direitos humanos, direitos da natureza, dos índios, dos negros... É desse movimento que vão surgir alternativas de um mundo diferente. A mudança não vem dos EUA, nem do G-4 ou G-8 e muito menos de uma elite árabe que nada no dinheiro à custa de uma teocracia que deixa seu povo morrer de fome. Os fóruns sociais vão chegar a criar uma sociedade civil mundial organizada, contrapondo-se à ONU, que é uma organização de nações. Para finalizar, qual a maior busca do ser humano? Muitos movimentos ligados à Igreja estão desgastados. Estamos vivendo um momento em que as igrejas neo pentecostais procuram dar respostas imediatas aos problemas das pessoas. Quando encontram algo que as satisfaz no momento, elas permanecem e depois, passam adiante. Então há todo um processo de busca para entender o que é ecologia, o que é mística, espiritualidade e ética. Em qualquer lugar se você começar a abordar esses temas, as pessoas ficam interessadas porque estão sedentas. É por esse caminho que passa a evangelização e se constrói uma espiritualidade. Toda pessoa honesta, ética e solidária é profundamente evangélica, promove e defende a vida e é capaz de doar a sua em prol de todos. Imbuída desse espírito ela vai dar uma solução estrutural aos problemas do dia-a-dia, evitando as fugas nas soluções paliativas.
Frei Cristóvão nas CEBs com Neidi Paula Hech, de Santo Cristo, RS.
Missões - Novembro 2005
Jaime Carlos Patias é missionário, diretor da revista Missões e mestre em comunicação.
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amazônia
Raposa Serra do Sol
Terra generosa Com sabedoria, trabalho e perseverança os povos indígenas celebram a conquista dos seus direitos.
Texto e fotos de Lírio Girardi
E
ntre os dias 21 e 30 de setembro cinco povos indígenas do estado de Roraima celebraram a festa da homologação da Raposa Serra do Sol. Partilho um pouco do muito que vi, senti e vivi durante os dias que estive em Roraima, a convite do Conselho Indígena (CIR). Gostaria de destacar alguns fatos e sentimentos de nossos irmãos missionários e missionárias da Consolata, do novo bispo de Roraima, Dom Roque Paloschi, das lideranças indígenas e de toda a Igreja, que vive um momento importante e histórico de sua caminhada, momento marcado pela vitória da homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, e também pelo sofrimento, causado pelo incêndio da Missão Surumu.
A festa da homologação
No dia 15 de abril de 2005 o presidente da República assinou o decreto da homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, com 1.743.089 hectares, onde vivem há séculos, os povos indígenas Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Taurepang e Patamona, que somam 16.484 índios, distribuídos em 164 Comunidades. O decreto prevê, entre outras coisas, a indenização das posses, em boa fé, dos não-índios, o destino de áreas para o assentamento desses posseiros e o prazo de um ano para a saída definitiva da área, pois a Terra Indígena, segundo a Constituição brasileira, é
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de uso permanente e exclusivo dos índios. Os festejos da homologação aconteceram de forma brilhante, bem organizados, com muita alegria, acolhida dos convidados, cantos, danças típicas (Parixara, Tucui, Areruia e o Forró Caxiri na Cuia); presentes para todos os amigos de luta, caxiri e churrasco (carne para umas 6.000 pessoas). A festa começou em Maturuca - dias 21 a 24 (região das serras). Três dias de alegria, coordenados pelo grande líder macuxi Jacir José de Souza. Continuou, em seguida, na Comunidade Cantagalo - dias 26 e 27 (região do Surumu), com o líder regional Walter de Oliveira Level e foi encerrada na Comunidade Bismark - dias 29 e 30 (região da Raposa), com a coordenação de Clodomir Malheiro. A participação dos índios foi fantástica. A família indígena estava lá, inteira. Vovô, vovó, pais e mães, juventude numerosa e muita, muita criança. Quanta alegria! Quanta vibração estampada naqueles olhos brilhantes. Não faltou o futebol e até corrida de cavalo. Também muita oração, com Maruai (defumação sagrada). Nas três Comunidades da festa houve celebração eucarística, bem preparada e muito bem participada. Dom Roque Paloschi, bispo de Roraima, e Dom Aldo Mongiano, bispo emérito, presidiram em Maturuca. Os missionários e missionárias marcaram presença significativa. Foi feita a memória de muitos ausentes que deram parte de sua vida para tornar possível aquele momento histórico. Aliados dos povos indígenas, de perto e de longe, estiveram lá, numerosos. Algumas autoridades governamentais também, todas convidadas pelos índios, pessoalmente. Algumas sentiram medo e não vieram. Foi uma pena, pois perderam o testemunho de um povo que sabe lutar, com coragem e paciência; sabe celebrar, com alegria, ordem e partilha.
Saque e queima da Missão Surumu
Aconteceu no dia 17 de setembro, às 2h00, por uma quadrilha de encapuzados e alcoolizados, índios e não-índios, liderados e pagos por um grupo de arrozeiros, fazendeiros e políticos, não conformados com o decreto da homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. A Polícia Federal sabe quem é. Já prendeu Novembro 2005 - Missões
A luta de Moisés contra o faraó Padre Lírio, qual o significado da festa da homologação para os povos indígenas? Estava estampado no rosto de cada Macuxi, Wapixana, Ingaricó... A festa é elemento vital na cultura indígena: é acolhida solene dos hóspedes, índios e não-índios; comida e bebida abundantes; é ocasião para longas conversas, cantos e danças; celebração de acordos de paz, alianças com novos grupos; é evocação e comunhão com os espíritos dos antepassados; é troca de presentes e comida farta, para os hóspedes que partem... A festa tem tudo a ver com a vida e a felicidade. Celebrar era necessário. Solenemente. Durante muitos dias. A espera foi demorada. A vitória custou a chegar.Quase 30 anos de luta. Mas chegou! Quanta paciência! Um símbolo do povo Macuxi é o jabuti: devagar e sempre. “Posso não ver esta terra demarcada, mas o meu filho vai vê-la”, dizia, há mais de 15 anos, um grande líder Macuxi. Não só o filho viu. O pai também. E viu ainda a homologação. Quanto sofrimento: além da fome, a humilhação. Ameaças, calúnias, prisões, agressões físicas e na alma. Mortes. O sangue derramado dos parentes foi semente de resistência que germinou a homologação. A festa é a celebração da vida. Qual o futuro desta terra homologada? O futuro já está plantado. A semente foi lançada. O clamor do povo foi tanto que
alguém ouviu. Não somente Jawé. Moisés também... E o povo foi criando coragem. Foi se unindo. União e organização. Um feixe de varas, representando as comunidades unidas ao redor do Tuxaua (líder), tornou-se o símbolo da resistência ao invasor e da união do povo. Os vários feixes simbolizaram os Conselhos Regionais que, juntos, formaram o Conselho Indígena de Roraima (CIR). Foi o gado da fazenda que roubou a terra do índio, porque a ideologia rezava: “tem direito à terra quem tem gado”. Foi o gado do projeto “uma vaca para o índio”, da Igreja Católica, que ajudou o índio a recuperar a terra e, com ela, a sua identidade, língua, costumes, tradições... Ainda há quem afirma: “é muita terra para pouco índio”. Eu que tive o privilégio de participar, não só do calvário e do caminho da ressurreição deste povo, mas também da celebração da solene festa da homologação e conferir o extraordinário número de jovens e crianças de hoje, ouso concluir que a Terra Indígena Raposa Serra do Sol é uma terra generosa e suficientemente rica, para dar a eles um amanhã verdadeiramente feliz. Qual o papel da Igreja a partir de agora? A Igreja, nos anos 70, iluminada pelo Evangelho e pelas luzes do Concílio Vaticano II e das conferências episcopais de Medellín e Puebla, foi capaz de fazer uma leitura nova da realidade e assumiu o papel de Moisés,
diante do clamor do povo. Com coragem e determinação, fez a opção preferencial pelos índios, abraçou sua causa, investindo pra valer, em recursos humanos e financeiros (projetos de formação de lideranças, de coo perativas, de auto-sustentação e o projeto “uma vaca para o índio”). A Comunidade Indígena tornou-se prioridade e o centro das atenções. A resposta foi dupla: de um lado, os povos indígenas puseram-se de pé, começaram a caminhar rumo à terra prometida, pagando alto preço pela sua libertação... Mas venceram. A terra homologada é a prova. Por outro lado, a reação violenta do faraó: inconformado com a arrancada do povo, intensificou sua cólera e perseguição contra as lideranças, o povo e o próprio Moisés. A queima da Missão Surumu, símbolo histórico maior da presença da Igreja junto aos povos indígenas de Roraima, por um grupo de vândalos, encapuzados e bêbados, liderados por um faraó global e covarde porque pretende esconder-se atrás da imunidade parlamentar é outra prova da inconformidade de uma mente insana, diante da ação profética da Igreja. Quero crer que a Igreja, seguindo os passos do Mestre, continuará, agora, não mais à frente, como protagonista, mas, como irmã, ao lado dos povos indígenas, que saberão, com união e paciência histórica, consolidar a ocupação desta terra (Revista Missões).
1) Igreja de Surumu após ataque. 2) Dom Paloschi e Dom Aldo ao lado da planta símbolo da resistência. 3) Marinaldo - CIR.
“Queimaram as paredes, mas não destruíram o sonho”.
dois envolvidos. Mas precisa chegar aos mandantes, mesmo que aleguem imunidade parlamentar. O incêndio da Missão Surumu é um ato insano. Vandalismo. Terrorismo puro. Queimaram o Hospital São Camilo, a igreja, a casa das irmãs missionárias da Consolata, os dormitórios dos alunos, a escola indígena de segundo grau, espancaram o professor Júlio, do Senai, e incendiaram seu carro. Essa Missão faz parte da história de Roraima. Foi o primeiro trabalho dos Beneditinos, no meio dos povos indígenas. Já em 1909, os monges, fugitivos de uma forte perseguição da família Brasil, de Boa Vista, fundaram essa Missão. A malária obrigou-os a abandoná-la. Em 1950, o padre Marcos Lonatti, IMC, recomeçou a Missão, com uma pequena escola. Em seguida, padre José Maria Rubato, IMC e outros, continuaram a obra. Ela é um marco na educação e evangelização, formando centenas de lideranças, professores, catequistas e auxiliares de enfermagem. A partir dos anos 70, tornou-se também o berço da organização indígena e da luta pela conquista e garantia dos direitos dos índios, principalmente de sua terra e da sua língua.
Missões - Novembro 2005
A destruição da Missão foi um ato covarde (usaram adolescentes encapuzados e embriagados). Um ataque vil e insano contra a Igreja, aliada dos povos indígenas, contra a causa indígena, e contra os próprios índios, com a finalidade de amedrontar e reverter a situação. Foi também um golpe contra a Constituição, contra os direitos humanos, contra o povo brasileiro. Mas não serão a covardia e o terror a vencer. A paciência histórica dos índios, sua resistência, sua união e organização saberão dar a volta por cima, também neste momento. A vitória está bem expressa nesta frase pronunciada por um aluno da escola, na celebração realizada no meio das cinzas da Igreja incendiada: “Queimaram as paredes, mas não destruíram o sonho”. É o sonho da liberdade. A Missão será reconstruída, conforme decisão da diocese e da organização indígena, do jeito do índio, para responder às necessidades atuais. É uma ótima ocasião de solidariedade, partilha e colaboração.
Lírio Girardi é superior do Instituto Missões Consolata no Brasil.
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VOLTA AO BRASIL
Papa visitará o Brasil V Conferência do CELAM
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A assessoria de imprensa do Conselho Episcopal Latino-americano - CELAM - divulgou a sede e a data da V Conferência Geral do organismo: o lugar será o Santuário Mariano, em Aparecida, SP, e a data será final de abril e início de maio de 2007. A escolha foi uma decisão pessoal do papa Bento XVI. O papa recebeu em audiência, na sua residência apostólica vaticana, a cúpula do CELAM: os cardeais Dom Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo de Santiago, Chile e presidente do CELAM, Dom Pedro Rubiano Sáenz, arcebispo de Bogotá, Colômbia, Dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, Brasil, e Dom Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, Argentina. Durante esta audiência, o papa recebeu o primeiro documento preparatório dos trabalhos da V Conferência Geral do CELAM e, ao ouvir os motivos dos cardeais para que o encontro se realizasse na América Latina, o papa então comunicou-lhes a data e o lugar. O pontífice garantiu sua presença na inauguração do encontro. Bento XVI escolheu o tema da Conferência: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que os nossos povos nele tenham a vida”. Conferências gerais do CELAM: 1ª - Rio de Janeiro, 1955. 2ª - Medellín, Colômbia, 1968. 3ª - Puebla, México, 1979. 4ª - Santo Domingo, República Dominicana, 1992. 5ª - Aparecida, Brasil, 2007.
Curitiba 30 anos do COMIDI
O COMIDI (Conselho Missionário Diocesano) de Curitiba comemora 30 anos de existência. Durante todo este período muitas atividades foram realizadas. Milhares de pessoas já receberam formação e aceitaram o desafio de evangelizar além-fronteiras. Em comum, tantos religiosos(as) quanto leigos(as), dizem ter a experiência como verdadeira fonte de fortalecimento da fé. Como parte das festividades, realizou-se do dia 10 de setembro a 30 de outubro um grande Mutirão Missionário na paróquia N. Sra. do Amparo, em Rio Branco do Sul, PR, que possui 57 comunidades. Cerca de 200 missionários de 17 paróquias da arquidiocese percorreram estradas e ruas do município realizando visitas às famílias, trabalho com crianças, jovens e famílias, refletindo o tema da Eucaristia e do Batismo. Foram momentos de engrandecimento para todos e, sem dúvida, algo que resgata a importância da dimensão missionária na ação evangelizadora.
Brasília 1º Encontro de Missões Jovens
O 1º Encontro de Missões Jovens e Missões Populares, organizado pelo Setor Juventude da CNBB aconteceu de 8 a 11 de outubro e contou com participação de representantes jovens das Pastorais da Juventude e de representantes dos COMIREs, dos Regionais dos Nordestes I, II, III, IV e V. 75 jovens, assessores, padres, religiosos e leigos se reuniram no Centro Marista de Eventos, na cidade de Extremoz, Grande Natal, RN para despertar e animar a dimensão missionária no trabalho pastoral com a Juventude.
Na proposta de trabalho foi reservado tempo para partilha de experiências de Missão Jovem e Missões Populares realizados nos Regionais.
São Paulo 41ª Assembléia Geral Ordinária da UCBC
Associados da União Cristã Brasileira de Comunicação Social (UCBC) realizam a 41ª Assembléia Geral Ordinária da instituição entre os dias 12 e 15 de novembro de 2005. A Assembléia acontecerá na Casa Sagrada Família, no bairro do Ipiranga, São Paulo. A Assembléia não apenas irá eleger uma nova diretoria, como também discutirá a atuação da UCBC, apontando novos caminhos. Para auxiliar nas discussões temáticas, estão disponíveis no site da UCBC textos para serem lidos e pensados nas comunidades, nas Pascom’s e nos grupos. É muito importante a participação de todos nesse momento decisivo, e de apontamentos para o futuro da organização! A inscrição poderá ser ser feita através da página da UCBC na rede: www.ucbc.org.br. até 11 de novembro. Mais informações: email
[email protected] Tel.: (11) 5589-2050.
Dia contra a baixaria
No último dia 9 de outubro a Campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania” realizou o segundo Dia Nacional Contra a Baixaria na TV. Com o slogan “Sintonize a Ética na TV”, a Campanha programou diversos eventos para o domingo, como um programa especial que foi gerado pela TV Câmara e distribuído para diversas emissoras. Foram confirmadas: TVs Nacional, Câmara, Senado, NBR, Justiça, filiadas à ABEPEC (como TV Cultura e as TVs Educativas) e legislativas. Além destas, foram convidadas as TVs Universitárias, Telesul, TV Escola, Canal Futura, Rede Vida e Canção Nova. O Ibope fará uma pesquisa para avaliar o impacto na audiência deste ano. A proposta foi preparar uma programação especial e transmitir em rede, entre 12h00 e 13h00, um programa com três blocos de debates intercalados por Vts a respeito das principais questões relacionadas à ética na TV. A referência do interesse público foi a análise das milhares de mensagens que chegam à Campanha, coordenada pela CDHM. Movimentos sociais e organizações não-governamentais organizaram atos públicos para mobilizar as pessoas em várias cidades. Em Brasília, o ato foi na Torre de TV; em Recife, na Praia da Boa Viagem; em Goiânia, na Feira da Lua. Uma enorme rede de e-mails foi acionada para divulgar o Dia Nacional, com o suporte de materiais impressos, spots em emissoras de TV e de rádio parceiras.
Fontes: CNBB, COMIDI Curitiba, Ética na TV, UCBC. Novembro 2005 - Missões
Campanha de Reconstrução Missão Surumu, Roraima
A Diocese de Roraima lança Campanha de solidariedade e reconstrução da Missão Surumu que foi invadida, saqueada e queimada na madrugada de 17 de setembro de 2005. O ataque foi protagonizado por um grupo de pessoas contrárias a presença da Igreja Católica junto aos povos indígenas e ao direito da terra que lhes é garantido pela Constituição. A Missão Surumu, criada em 1909 é um marco histórico na educação e formação de lideranças, catequistas, professores e auxiliares de enfermagem. Do ano de 1997 para cá tem sido o berço da organização indígena e da luta pela garantia de seus direitos, tornando-se um patrimônio cultural e histórico de referência.
“Queimaram as paredes, mas não destruíram o sonho!” A Revista Missões apóia a Campanha de Reconstrução da Missão Surumu e convoca os leitores, as comunidades, paróquias, organismos e amigos das missões a participar com coletas e gestos de solidariedade para garantir a continuação da Escola Indígena e do Hospital São Camilo. ENTREGUE SUA DOAÇÃO: No Estado de Roraima: Catedral Cristo Redentor – praça do centro cívico Igreja São João Batista – Av 16 – Bairro Caranã Igreja São Francisco – na rotatória da Av. Capitão Julio Bezerra Igreja Consolata – Av. Villy Roy, próxima a rodoviária Na secretaria da Diaconia Missionária – Rua Arnaldo Nogueira Para o restante do Brasil: Faça o seu depósito na conta: Diocese de Roraima 8848 – x Agência: 2617 – 4 - Banco do Brasil 1) Hospital São Camilo
Mais informações: Tels.: (95) 3224 4109 – Boa Vista, RR. (11) 6256 7599 – São Paulo, SP. Email:
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2) Igreja São José - Missão Surumu 3) Dormitório dos alunos com estrutura para amarrar as redes para dormir.
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