2000.08.15 - Br-381, Entre A Euforia E O Medo - Estado De Minas

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GERAIS/URBANISMO

ESTADO DE MINAS Página 28

15 de agosto de 2000 Terça-feira

BR-381, entre a euforia e o medo ▲

Rodovia é aprovada pelos usuários, mas o traçado perigoso, falta de acostamento e buracos causam temor

CARLA BERALDO E EVALDO SERGIO

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A

duplicação da BR381 do trevo de Três Corações a Belo Horizonte foi uma benção para os usuários da rodovia, mas muitos ainda não estão satisfeitos. Queixam-se, principalmente, dos pontos negros, onde aproveitou-se o traçado anterior, mantendo as características antigas: curvas perigosas, buracos e falta de acostamento. “De três Corações até Perdões é preciso redobrar a atenção. Alí a estrada não foi recapiada. Fizeram uma operação tapa-buraco que não resolveu o problema. Os buracos brotam de uma hora para outra aumentando o risco de acidentes principalmente para os veículos de passeio. Uma saída de pista pode ser fatal”, alerta o caminhoneiro Osmair Ferreira de Oliveira, 39 anos. Osmair fala isso com o conhecimento de causa de um usuário contínuo da rodovia. Pelo menos quatro vezes por semana ele faz o trajeto Três Corações/Perdões, isto há 15 anos. Mas o motorista também reconhece as melhorias alcançadas com a duplicação da BR-381. “Pelo menos acabaram com as trepidações e colocaram sinalização. Uma pena que tenham deixado tantas curvas”, salienta. Muitos comparam a rodovia a um pista de corrida, onde o risco aumenta nos dias de chuva. Os próprios policiais rodoviários confirmam o perigo. “Em muitos trechos a chuva forma lâminas de água que acabam sendo fatais. É o caso do quilômetro 594, próximo a Perdões. Alí, quando chove, é de três a quatro acidentes por dia”, explica o inspetor Pinheiro. Viajando no sentido oposto, de Três Corações até São Paulo, a situação é bem diferente. Menos da metade do percurso é feito em pista duplicada, o que exige mais atenção dos usuários. “Os trechos que não estão duplicados são muito perigosos. Falta acostamento e quase não dá para andar. Isso sem contar que é um desvio atrás do outro numa pista cheia de trepidação que nos obriga a diminuir a velocidade bruscamente. A Fernão Dias é uma das piores rodovias que conheço”, afirma Gaspar de Carvalho, natural de Candelária (RS), que pelo menos uma vez por mês corta a estrada com sua Scânia carregada de arroz.

Pista única Viajar para Belo Horizonte ficou mais fácil com a conclusão da obra de duplicação da Fernão Dias, a partir do km 742, no município de Três Corações.

TONY BASÍLIO

AS CURVAS acentuadas e muito perigosas são um eterno pesadelo dos motoristas que percorrem a Fernão Dias no trecho que liga Três Coração à Extrema

TONY BASÍLIO

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MEIA PISTA e trechos em obras confundem motoristas quenão são alertados por causa da falta de sinalização. Cruzes na estrada são as marcas dos acidentes Apesar dos três quilômetros ainda em pista única, um carro de passeio pode fazer o trajeto em menos de quatro horas, respeitando velocidade permitida pela nova legislação. “Pena que nem todos respeitem o limite de velocidade. Por conta disso o número de acidentes aumentou em 10%”, lementa o inspetor Pinheiro, da Polícia Rodoviária Federal

de Perdões. Mais uma vez ele lembra que em muitos trechos o traçado é o mesmo da pista antiga, com curvas acentuadas. Pinheiro lembra que a maioria dos acidentes acontece durante os finais de semana prolongados e feriados e aponta como causa principal a velocidade incompatível com o local. “Aqui até agora estamos tolerando a

velocidade de 110 para carro, 90 para ônibus e 80 para moto e caminhão, mas se o DNER decidir deixar as placas de sinalização indicando 80 quilômetros, vamos começar a multar. Estou apenas aguardando uma resposta do órgão”, explicou. Sinalização é o que não falta no trecho que liga Três Corações a Belo Horizonte, embora algu-

mas placas indicativas estejam encobertas pelo mato que cresce no acostamento e no canteiro central. Mas parece que isso é por pouco tempo. Durante a viagem a equipe do Estado de Minas teve a sorte de encontrar com o pessoal do DNER providenciando o corte do mato, que com a geada ficou seco, tornando-se um combustível para as

queimadas. Faltam sim muretas divisórias e guard-rail que poderiam ser úteis no combate aos acidentes e sobram curvas em aclives e declives. Para quem não conhece a estrada vale redobrar a atenção nos trechos próximo a Carmo da Cachoeira, Perdões, e Itaguara, onde são registrados grande parte dos acidentes da BR-381, sentido BH.

Imprudência Novas obras atrasam duplicação lidera causa de acidentes Dos acidentes mais dramáticos na Fernão Dias, muitos ocorrem na Serra do Canguava, um trecho de cerca de cinco quilômetros de curvas fechadas e descida acentuada para quem vem no sentido São Paulo/Belo Horizonte. A serra, que fica entre os municípios de Cambuí e Camanducaia, é o pesadelo dos caminhoneiros. “Ali tem muita curva e o trecho é bravo para caminhão. Se perder o freio é desastre na certa”, comenta Mauro Roberto Panarine, de Atibaia, que transporta latas de alumínio de Pouso Alegre para Jacareí(SP). O perigo também está nas curvas mais acentuadas, existentes entre Camanducaia e Itapeva, e no trecho de pista de mão dupla perto de Extrema. “Quem não conhece a pista é que se acidenta. Nesse trecho aqui, tem muita imprudência

dos motoristas”, conta o caminhoneiro Lúcio Mauro Morais, 28 anos, que transporta peças automotivas, de Extrema para São Paulo. Segundo ele, é comum as ultrapassagens em faixas contínuas no percurso da Fernão Dias em Extrema, que está entre as cidades campeãs de acidentes. A imprudência é apontada como principal causa de acidentes nessa rodovia pelo inspetor Costa, da PRF de Pouso Alegre. “Se o motorista sai para viajar numa estrada perigosa, tem que ir com cuidado. Na Serra do Canguava, por exemplo, com sol ou com chuva tem caminhões e carretas que descem a 80 quilômetros por hora, sendo que o máximo deveria ser de 40 a 50”, coloca. Para ele, a duplicação melhorou as condições da pista e permitiu a diminuição dos acidentes, “mesmo assim ainda dá muito acidente”.

A primeira etapa das obras, entre o trecho de Contagem e o acesso a Nepomuceno, no Sul de Minas, foi inaugurada em março de 1998. O investimento nessa etapa, até abril de 2000, foi de R$282 milhões, sendo R$147,2 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), R$59,7 milhões do governo federal e R$75 milhões do governo estadual, de acordo com o DER-MG. Já na segunda etapa da duplicação, de Nepomuceno até o final do trecho mineiro da rodovia, as obras, que começaram no final de 1997, consumiram, até abril de 2000, R$331,8 milhões. Foram R$173,3 milhões investidos pelo BID, R$65,4 milhões pelo governo federal e R$56 milhões pelo governo mineiro. Além desses, houve o empréstimo de R$37,1 milhões do Japan Bank for International Cooperation, que entrou no programa financiando a contrapartida nacional, passando os governos federal, paulista e mineiro a não aplicar mais recursos nas obras. Nessa segunda etapa, de acordo com o DER-MG, um

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OBRA INACABADA ajuda a aumentar o alto índice de acidentes fatais na BR 381 imprevisto fez com que o projeto original de duplicação sofresse alterações de custos, o que certamente deve ter afetado o cronograma. As quantidades previstas em projeto para remoção de solo mole ou saturado, nas baixadas, após o município de Campanha, para a

construção do pavimento, estavam aquém do necessário para fazer a estabilização para os aterros. Isso provocou alterações de custos de terraplenagem em vários lotes, segundo o DER. A conseqüência direta dessa modificação foi a abertura de

nova licitação, da ordem de R$160 milhões, para incluir os ítens de pavimentação e obras de arte, que foram retirados da licitação anterior. O DER estima que, até a conlusão das obras da segunda etapa, serão gastos cerca de R$530 milhões na Fernão Dias.

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