Nova economia do novo Roberto Mangabeira Unger Antigamente, a produção mais avançada -- a que exige mais capital, tecnologia e conhecimento e portanto mais aumenta a produtividade do trabalho -estabelecia-se somente nas economias centrais. As economias periféricas praticavavm apenas a produção mais rudimentar. Essa distribuição hierárquica das capacitações produtivas era tida como fato natural e inescapável por liberais e por marxistas. E ajudava a explicar o comércio internacional. Não mais. Estabelecem-se hoje vanguardas de produção tanto nas economias mais ricas como nas economias em desenvolvimento mais vibrantes. O que marca tais vanguardas não é apenas acúmulo de capital e de tecnologia; é nova maneira de produzir e de trabalhar, cada vez mais distante das especializações rígidas exemplificadas pela fábrica de alfinetes descrita por Adam Smith ou da linha de montagem organizada por Henry Ford. Atenua-se o contraste entre tarefas de supervisão e de execucão. As especializações, antes inflexíveis, flexibilizam-se. Misturam-se a competição e a cooperação. A inovação permanente vira diretriz do trabalho. Tais setores avançados formam rede, que começa a assumir o comando da economia mundial. Trocam diretamente entre si recursos, práticas, idéias e quadros. Mesmo nas economias mais ricas, porém, a maior parte da população continua sem acesso aos meios para aprender e manejar as práticas vanguardistas. E os antídotos tradicionais contra as desigualdades resultantes -- a difusão da pequena propriedade e as políticas sociais compensatórias -- nem de longe bastam. Ficará o novo vanguardismo produtivo restrito a elites? Ou servirá para soerguer as maiorias? Se nos contentarmos com o papel de recauchutar indústrias tradicionais, desmontadas na parte mais rica do mundo, na esperança de que aqui prosperem à custa de trabalho barato, continuaremos a vegetar na mediocridade. A escassez de empreendimentos de grande escala em nossa economia, bem como o pendor para o improviso engenhoso em nossa cultura, favorecem o alastramento entre nós do novo paradigma produtivo. Fecundaremos essas condições favoráveis se soubermos aproveitar os recursos e os poderes do Estado não para suprimir o mercado mas para democratizá-lo. Significa abrir acesso à tecnologia, ao crédito, ao conhecimento e às novas práticas de produção em favor da energia empreendedora que se dissipa, por falta de condições, no Brasil. Tarefa de resgate e de engradecimento. A ela se devem agora dedicar a nação e seu governo. 20 de fevereiro de 2007