Um Estranho Dentro De Mim

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  • Words: 72,457
  • Pages: 149
um estranho dentro de mim capítulo 1 a vida é muito engraçada, às vezes estamos sozinhos e sentimos a falta de alguém ao nosso lado e quando encontramos esse alguém, queremos ficar sozinhos. "a felicidade não existe, o que existe são momentos felizes", eu acreditava nesse pensamento até que um acidente me provou que a felicidade existe sim, e que nós perdemos a oportunidade de vivê-la por orgulho, bobagens da vida. se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente, agora tenho consciência de que poderia ter evitado muitas coisas e aproveitado mais. meu nome é bader, nasci em são paulo, mas fui criado em campinas, com 22 anos eu já era independente, tinha uma vida estável, morava sozinho desde os 18 anos, digamos que "sozinho" mesmo há pouco tempo, pois quando eu namorava o bruno vivíamos juntos, ele passava mais tempo na minha casa que na casa dele. eu era assumido entre todos da família e trabalho, apesar de ser gay nunca fiz nada que meus pais pudessem se envergonhar, pelo contrário, sempre fui o orgulho da família. quando passei no vestibular foi uma festa em casa, meu pai fez um churrasco e convidou todos os parentes, foi muito bom ter a família reunida, aquela tarde rimos bastante com as piadas do tio ricardo, devoramos os doces da tia cida, tomei banho de mangueira com meus primos... tenho saudade daqueles tempos. cresci em uma família de 3 irmãos, eu era o do meio, tinha o pedro que era o mais novo e o rodrigo que era o mais velho, a diferença entre cada irmão era de 5 anos, sempre tivemos de tudo, principalmente carinho, amor, disso não tenho do que reclamar, sempre fui mimado pela minha mãe, acho que isso me estragou um pouco. Éramos uma família típica de classe média, viajávamos nos feriados, almoçávamos e jantávamos com todos à mesa, passeávamos aos finais de semana, eu e meus dois irmãos íamos para a escola durante a semana, informática, inglês e natação, foi uma infância muito boa. logo depois de passar no vestibular, me mudei para são paulo, assim eu ficaria mais perto da faculdade, meu pai alugou um apartamento e mudei logo em seguida. no meu segundo ano de faculdade eu consegui um emprego na área que estava fazendo, que era publicidade. desde então, comecei a viver com meu próprio dinheiro, depois que me formei fui promovido na empresa e meu salário triplicou. minha vida estava ótima, tinha meu apartamento, meu carro e um namorado que amava demais, pelo menos era o que eu pensava. certo dia cheguei em casa e havia um bilhete sobre a mesa: "bader, desculpe por te comunicar dessa maneira, mas acho que nosso relacionamento chegou ao fim. conheci uma outra pessoa e não quero mais te enganar. desculpas sinceras. ass bruno." ser abandonado por alguém que você gosta dói, machuca, fere. comecei a chorar, liguei para minha mãe em campinas, nessas horas eu sempre procurava os conselhos da minha mãe que sempre vinham em hora certa. -alô? -mãe? -oi filho... -mãe... o bruno me deixou...

-mas por que, bader? -não sei, deixou um bilhete dizendo que encontrou outro alguém e se apaixonou... -filho, o que é seu ninguém tira, se ele te deixou é porque algo melhor e merecedor espera por você. -só você pra me entender, mãe. -acredite bader, nada em nossas vidas acontece por acaso. -será, mãe? -um dia você vai me dar razão. não fique chorando por isso meu filho, procure fazer algo para se distrair, quem sabe você encontra um sentido e um incentivo para viver algo novo? -acho que a senhora tem razão. obrigado pelas palavras. -te amo! -eu também. depois de falar com minha mãe me senti bem melhor, só ela conseguia me animar, peguei o jornal e comecei a olhar o classificado de imóveis, decidi que iria comprar um novo apartamento e vender o meu, assim eu me livraria das lembranças do bruno que marcaram aquele lugar. durante a semana eu fui trabalhar normalmente, estava abarrotado de projetos, graças a deus não me faltava trabalho, sendo assim minha vida financeira era bem tranqüila. teve um dia que estava voltando pra casa, parei no semáforo e me entregaram um panfleto de uns apartamentos recém construídos, 3 dormitórios, 2 vagas, bem amplo. fiquei interessado e no outro dia fui até o local onde os corretores estavam de plantão, visitei o apartamento decorado e me encantei, era lindo e bem confortável, fechei negócio, poderia me mudar a hora que eu quisesse. passei um mês negociando a venda do meu antigo apartamento, finalmente consegui vender, depois fui cuidar da mobília do meu novo apartamento, eu queria moveis planejados, quem fossem a minha cara, feitos pra minha casa. desenhei tudo o que eu queria e como eu queria, depois levei a loja e encomendei tudo, não queria mais nada do antigo apartamento, preferi deixar no passado o próprio passado. eu estava todo entusiasmado com meu novo apartamento, sem contar que ficava próximo ao shopping, onde eu costumava ir malhar na academia que lá tinha, me mudei em 45 dias. chegar em casa e sentir aquele cheiro de "novo" era ótimo, a dani estranhou um pouco, mas com o tempo ela ia acostumar. eu estava um pouco triste ainda pelo abandono do bruno, notei que precisava comprar algumas coisas que ficaram faltando pra casa, então decidi ir ao shopping me distrair e levei a dani comigo. uma amiga minha sempre dizia que o melhor remédio para a tristeza era fazer compras, comecei a notar que ela tinha razão, me senti muito melhor depois de ter feito compras com a dani, levei ela ao pet shop pra tosar e até comprei umas roupinhas pra ela. na volta pra casa coloquei um cd e comecei a escutar música bem alta, fui cantando e dançando, a dani subiu no meu colo e foi com a cabeça para fora da janela, o dia estava lindo, ensolarado, tudo estava se tornando perfeito até que no cruzamento da avenida angélica apareceu um cachorro na frente do meu carro, para não atropelar o cachorro eu desviei e acabei batendo no carro de outra pessoa. era bom demais para ser verdade, tinha que acontecer alguma coisa para estragar meu dia. o motorista do outro carro não sofreu nada, em compensação eu cortei meu braço, um corte na cabeça, a minha camisa que era branca estava molhada de sangue, só percebi que havia cortado a cabeça quando senti algo quente escorrendo pelos meus olhos, sai do carro para ver o estrago que a batida havia feito, o lado do passageiro do meu carro ficou destruído, a sorte era que a dani estava no meu colo. -você precisa prestar mais atenção no trânsito. -desculpa, você se machucou? -graças a deus, não. mas você está ferido. -não foi nada. -sua cabeça está ferida, você precisa de socorro urgente...

ele tirou o celular do bolso e ligou para chamar ajuda, depois disso não vi mais nada. acabei desmaiando, acordei no hospital, um pouco atordoado ainda, me lembrava vagamente do acidente, está certo que eu fechei o carro do rapaz, mas ele poderia ter evitado o acidente se não estivesse distraído falando ao celular. quando acordei ao meu lado estava o rapaz do acidente. -não tente se levantar, pode afetar sua coluna. -o que estou fazendo aqui...? -você desmaiou, tem algum parente seu para vir aqui ficar com você? -não, eu moro sozinho em são paulo. -mas você precisa de um acompanhante... vamos fazer o seguinte, eu vou buscar minha mina na faculdade e depois volto aqui pra saber como estás. -valeu pela força. -não esquenta. o cara era gente boa, diferente de muitas pessoas por ai que por qualquer coisa já arma um circo. minha cabeça estava com um curativo, meu braço tinha uma faixa e uma tipóia apoiando, às vezes doía um pouco quando eu mexia, a enfermeira me deu um remédio para aliviar a dor que me deu sono, adormeci por um bom tempo, nunca gostei de hospital, desde criança sempre tive trauma de enfermaria, depois de ter caído de bicicleta aos 7 anos e quebrado a perna. no começo da noite o rapaz do acidente voltou ao hospital, bem na hora que eu estava recebendo alta, mas necessitaria de um acompanhante para me liberarem do hospital. -a enfermeira disse que você já pode ir para casa. -É... perdi meu celular, preciso ligar para minha mãe vir me buscar. -mas você não disse que mora sozinho em são paulo? -eu moro sozinho, mas minha família também não mora tão longe assim. -de onde eles são? -eles moram em campinas. -não vá preocupar sua mãe, eu assino a responsabilidade de te acompanhar, pode ser? -eu só estou atrasando sua vida... -não se preocupe, pelo menos eu me distraio um pouco, estou precisando... -o que aconteceu? -depois te conto. -ok. a enfermeira chega para informar que eu estava de alta e já poderia sair, entregou para o rapaz assinar a responsabilidade e fui liberado do hospital. eu já não agüentava mais aquele cheiro de hospital, não via a hora sair e chegar em minha casa. -então... eu vou te levar em casa... -mas... seu carro... -É o carro da minha mãe, o meu o seguro já levou para arrumar. -entendi. fomos até o carro, ele abriu a porta para mim porque meu braço estava imobilizado, dentro do carro estava a dani, que ao me ver não parava de latir. -dani... olha o papai aqui... -eu esqueci de te avisar, sua cachorra ficou na minha casa, minha mãe adorou ela... -obrigado por ter cuidado dela pra mim. -de nada, sua cachorra é bem comportada e muito esperta, minha mãe adorou. -acho que ainda não nos apresentamos. -É verdade, meu nome é daniel. -o meu é bader. você é um cara bacana. -por quê?

-porque eu bati no seu carro e você ao invés de brigar comigo, está me ajudando... -faria a mesma coisa com qualquer outra pessoa, sou contra a violência no trânsito, porque foi assim que perdi meu pai, e também eu errei por estar falando no celular. -então é melhor mudarmos de assunto. você trabalha com o que? -sou formado em educação física, e você? -eu trabalho com publicidade e propaganda... o que foi? -nada, lembrei da minha ex-namorada apenas. -entendi. -nos separamos hoje. -puxa... que chato... -foi melhor assim, nosso relacionamento já não estava dando certo. e você, namora? -eu não, fui abandonado. quando chegamos perto de casa, ele parou o carro em frente ao edifício, onde ficamos conversando um pouco mais. -eu moro aqui... -parecem ser grandes esses apartamentos. -3 dormitórios. -tudo isso só pra você? -sim, quando vem minha família para cá eles ocupam os outros 2. -ah... então tá explicado. -daniel... eu tenho uma dívida com você. -eu já disse que o seguro vai cobrir o prejuízo... -por isso mesmo, ficarei em débito contigo. -não esquenta, você me paga uma balada e fica tudo certo. -firmeza. agora eu vou indo. -falou cara. durante aquela semana eu tive que levar o atestado médico na agência onde eu trabalhava, ganhei 3 meses de afastamento por conta do acidente, precisei também resolver alguns assuntos com o seguro por conta do acidente com meu carro, que não tinha nem 1 ano de uso. os funileiros disseram que em 20 dias meu carro estaria como novo, enquanto não ficava pronto a seguradora me forneceu um outro carro temporariamente. depois de ficar quatro dias em casa sem fazer nada, resolvi voltar para a academia, para que meu corpo não desacostumasse dos exercícios, mas como meu braço não estava totalmente curado, teria que fazer exercícios somente de pernas. eu costumava ir sempre à academia na hora de almoço ou de manhã, porque no meio da tarde e à noite eu trabalhava, mas como fui afastado por um tempo do trabalho passei a ir na parte da tarde. era meu primeiro dia no novo horário, fui até a academia caminhando, porque ficava dentro do shopping perto de casa. passei meu cartão na catraca e estava bloqueado, comuniquei a uma garota muito arrogante que estava na recepção: -por favor, meu cartão está bloqueado... -você é aluno? -não... achei essa carteirinha na rua e vim testar, que por coincidência tem meu nome...É obvio que sou aluno, meu horário é de manhã, mas por esses meses quero fazer à tarde. -então deve ser por isso... com muita má vontade ela liberou a catraca pra mim, depois que fica desempregada sai por ai chorando, dizendo que ninguém dá oportunidade... fui até o vestiário trocar de roupa, guardei a mochila no armário e fui fazer spiling, 1 hora de pedalada sem parar, fiquei logo na frente, atento ao cenário que o professor criava,

no término da aula chegou outro professor, mas como já havia feito e estava um pouco cansado, resolvi lavar o rosto e depois fazer um pouco de esteira. fui até o vestiário e quando abri a porta senti que havia batido em alguém, quando fui olhar quem era... -opa... foi mal... -você? -daniel? capítulo 2 -eu acho que você me odeia, cara... -foi mal... o que você faz aqui? -eu trabalho aqui, e você? -eu treino aqui. -se não me engano, eu havia te contado que era professor de educação física... -ah... É verdade... que coincidência... -pois é, não pense que eu esqueci da balada. -É verdade, é só marcar... -que estilo de música você curte? -eletrônica, rock... -eu adoro musica eletrônica... -eu conheço uma balada que toca umas legais. -fechado. sábado está bom pra você? -pode ser. -falou. já não me senti bem encontrando o daniel pela segunda vez dando-lhe uma pancada, desse jeito ele ia me achar um atraso de vida, se é que já não me achava. depois de pagar minha dívida com ele não pretendia vê-lo nunca mais, tamanha era a vergonha que havia ficado, o pior de tudo era que ele dava aula na mesma academia que eu malhava, pensando bem, até que faz sentido quando bati em seu carro, estávamos próximos do shopping... ele deveria estar saindo da academia na hora do acidente. na terça-feira cheguei um pouco mais cedo na academia, pois não consegui dormir com os latidos da dani por causa do gato da vizinha, ao entrar na academia notei que o daniel já estava lá, estava um pouco triste. fui até o vestiário deixar minha mochila e trocar de roupa, depois peguei minha ficha nos arquivos e fui fazer esteira, programei a esteira como sempre fazia e comecei a caminhar, o daniel se aproximou de mim para colocar presença na ficha: -bom dia! -bom dia, daniel! tudo bem com você? -humpft... estou um pouco depre... -aconteceu algo? -mano... a vida é tão cruel cara... -olha, se você precisar desabafar, quiser trocar uma idéia, pode contar comigo, belê? -você se importa se eu te alugar um pouco? -relaxa, se precisar estamos ae. -o que você vai fazer depois daqui? -vou pra casa, por quê? -está a fim de dar um rolê? -só se você dirigir... -beleza.

depois do treino, fui até o vestiário tomar um banho pra tirar o suor, passei desodorante para não ficar transpirando igual uma torneira, daniel já me esperava no estacionamento da academia, entrei no carro e seguimos sem rumo, sem destino. -alguma vez você já se sentiu culpado pela tristeza de alguém? -isso acontece às vezes... -É assim que estou me sentindo, um lixo. daniel estacionou o carro em uma vaga de zona azul e fomos conversando e caminhando pelo centro de são paulo. nenhum ser humano é livre de problemas, todos temos problemas e quando achamos que estamos livres de um, aparece outro, seguido de outro e mais outro... paramos no vale do anhangabaú e ficamos sentados conversando, em frente ao municipal. -lembra daquele namoro que eu te falei que havia terminado? -sim, lembro. -pois é, ela tentou se matar por isso. -caramba... -e o pior de tudo é que ela estava grávida, esperando um filho meu... -É complicado, mas pense que você não é culpado... -claro que sou... -claro que não, você sabia que ela estava grávida? -não, fiquei sabendo hoje. -então, você não deve se achar culpado por algo que não cometeu, se você terminou um relacionamento é porque não estava mais afim, ela teria que ser adulta o suficiente de entender isso, pra mim não passa de infantilidade. -eu fiquei triste... -eu compreendo que você tenha ficado triste, mas você não deve ficar guardando uma culpa que não é sua, ficar carregando fardo dos outros. -mas era meu filho... -sim, era uma vida inocente que pagou pela irresponsabilidade da mãe. -não agüento mais pressão em cima de mim. -você precisa se distrair, ocupar sua cabeça com outras coisas. -É... mas não tenho amigos que curtam umas loucuras... -agora você tem a mim. -da hora cara, pra onde vamos então? -agora? -demorou... -já sei. saímos do centro e fomos para um parque de diversões aqui mesmo em são paulo, fazia tempo que eu não ia a um lugar desses. não estava muito cheio, o dia estava ensolarado, ainda bem que eu estava de boné, se não iria ficar todo queimado de sol. -nossaaaaaaaaaaaaa... bader você é o cara... faz muito tempo que eu não venho num lugar desses... -então vamos aproveitar. -com cer-te-za. -vamos começar pelo skycoaster? -só se for agora. skycoaster era uma espécie de rede que era segurada por alguns cabos e erguida até o topo de uma torre, onde era dado um sinal e nós puxávamos uma corda onde liberava a descida. colocamos a rede com a ajuda dos instrutores, no começo me deu um frio na barriga, só de pensar em despencar lá do alto segurado apenas por dois cabos me deixava de perna bamba, mas o daniel me encorajou. -vamos lá... uhuuu -será que tem como voltar atrás?

-agora já não, vai ter que pular... -parem isso... -não adianta, ninguém vai ouvir, pra descer daqui só puxando essa cordinha... -ai caramba... eu to com medooooooo. -haha, segura firme na minha mão... ele pegou na minha mão e segurou forte, na tentativa de me confortar e me deixar mais à vontade, confesso que me confortou, mas não tirou meu medo totalmente. -olha isso... -não vou olhar nada... -abre o olho e olha como os carros na marginal parecem formigas... -pára que já estou quase em pânico. -no 3, hein? -ah meu deus... -1... 2... 3... uhuuuuuuuuuu -ahhhhhhhh -que demais... uhuuuuu... mais um... mais um... -chega, pelo amor de deus... -já acabou... que demais cara. -quase morri. -haha, foi da hora. -agora tem que pegar a fita do nosso sobrevôo... -É verdade, deixa descerem a gente daqui... depois de tirarmos todo o equipamento fomos buscar o certificado de coragem e pegar a fita onde gravaram nossa descida, claro que eu devo ter pagado o maior mico, pois fiquei o tempo todo de olho fechado. pegamos o certificado e a fita, depois fomos andar na montanha russa, ficamos 40 minutos na fila esperando para andar no brinquedo: -e ai, daniel, está gostando? -estou me divertindo muito, e você? -eu também... demos risada pela situação, eu estava era morrendo de medo, na verdade eu estava era traumatizado com o skycoaster, temendo os outros brinquedos. chegou nossa hora de andar no brinquedo, eu e daniel fomos um do lado do outro, à nossa frente foi um pessoal zoeira, fazendo a maior zona: -está com medo? -claro que não. -sei... haha... -pára... começamos a subir, no começo estava tranqüilo até que paramos lá no topo, respirei fundo e fechei os olhos, começamos a descer com tudo, nem consegui gritar, fiquei imóvel, o daniel só dava risada, pra ele estava sendo uma festa, pra mim estava sendo um martírio, o pior de tudo é que fui eu quem deu a idéia. -nossa cara... que demais... -É mesmo, né? comecei a concordar com ele, tive receio dele me achar um chato, nunca se sabe o que se passa pela cabeça das pessoas. deixamos a montanha russa e fomos dar uma volta pelo parque, eu estava adorando me distrair um pouco, já que há tempos eu não fazia um programa divertido desses, e o bruno nunca que iria comigo se eu pedisse, paramos um pouco para comer e conversar na lanchonete, estávamos desde a academia sem comer nada, já era hora de forrar o estômago: -vamos parar aqui? -sim, estou morrendo de fome.

-eu também... -vou pedir um suco... -nossa... bader... -o quê? -estou adorando passar essa tarde com você... -sério? -sim, estou me divertindo pra caramba. -eu também. eu nunca tive um "melhor amigo", sempre me relacionei com "melhores amigas", pois achava que garotos tinham umas brincadeiras idiotas, mas nunca fui afeminado, ninguém dizia que eu era gay ou parecesse um. mesmo com meu braço imobilizado, deu para brincar nos brinquedos, por um bom tempo esqueci dos problemas, foi ótimo. -esse suco está sem açúcar... -eu pedi com adoçante... -eu também, mas parece que não colocaram nada... -chame a garota do caixa... -deixa pra lá, não está tão ruim assim. -eu já ia atirando essa bolinha de papel nela... -você tem boa pontaria? -antes de ferir meu braço eu tinha. -haha... du-vi-do. -mas eu falo sério. -vamos ver então, topa fazer uma aposta? -que aposta? -tiro ao alvo, quem conseguir derrubar todas as latinhas da pirâmide ganha a aposta. -e o que você quer apostar? -se eu ganhar, amanhã você vai ter que ocupar meu dia assim como hoje. -tá certo, e se eu ganhar não precisarei mais pagar a balada de sábado e não precisarei olhar nunca mais pra sua cara... -hahahaha... fechado. fomos até o quiosque onde tinha o tiro ao alvo, varias latinhas empilhadas e um garoto fazendo as apostas, a cada latinha derrubada o prêmio ia ficando mais sofisticado. -começa você, bader. -tudo bem... mirei bem no meio, respirei fundo por três vezes, contei até cinco e atirei, todas as latinhas começaram a cair, mas a ultima tremeu, tremeu, e não caiu, ou seja, não derrubei todas. o que tinha a fazer agora era torcer para que o daniel não derrubasse nenhuma, porque ai eu não teria que passar o dia com ele outra vez. o problema não era passar o dia com ele, pois o daniel era uma companhia muito agradável, eu só não queria correr o risco de "acertar" o daniel mais uma vez. -agora é minha vez... ele mirou na pirâmide, ficou imóvel olhando a pilha de latas, quando eu menos esperava, ele atirou, derrubando toda a pilha de latas, foi inacreditável, mas ele conseguiu derrubar todas as latas, claro que eu não gostei muito da idéia, mas o que poderia fazer... -ganhei... terei companhia pra amanhã... uhuuuu... -pois é. depois pegamos os prêmios e seguimos para casa, não vou dizer que odiei passar o dia no parque com o daniel, pois na verdade eu adorei, fazia muito tempo que eu não me divertia assim.

-bader... muito obrigado. -pelo quê? -pela companhia, fazia muito tempo que eu não me divertia assim em uma companhia agradável... -você me deixa sem graça... -muito obrigado mesmo... -relaxa, eu também me diverti muito, pode ter certeza. -eu achei que você não gostou muito da idéia de passar o dia comigo amanhã... -mas... -cara, não vou te forçar a nada, se você não estiver afim, não tem problema, não quero te forçar a fazer o que não estiver afim. -sem problemas, vamos cumprir as promessas feitas, promessa é divida. -eu quero saber se você está afim, está? -claro. -então beleza. vou te deixar em casa agora. -firmeza. gostei do jeito que ele levou a conversa, me deixando escolher se iria ou não, só por causa disso eu decidi cumprir a promessa de passar o dia com ele, no caminho ele foi me contando sobre sua vida profissional, suas experiências em outros empregos, muito interessante e inteligente. no outro dia fomos ao parque do ibirapuera correr um pouco, andamos de bicicleta, foi muito divertido apostar uma corrida com o daniel, ele corria muito e acabei perdendo outra vez, tive que pagar um sorvete pra ele. depois de brincarmos bastante, sentamos embaixo de uma árvore e ficamos descansando, conversando, até que o daniel levou uma bolada na cabeça, atrás de nós tinha uma quadra onde haviam uns moleques jogando futebol, daniel pegou a bola, olhou feio para os garotos e disse: -quem foi que jogou? -desculpa aê mano... -desculpa o caralho, vamos ver quem é bom aqui. -devolve a bola deles, daniel. -calma... vamos fazer uma aposta, desafio vocês 6 a jogar um contra... -tá beleza. você e mais quem? -eu e meu amigo aqui, contra vocês 6. -firmeza. -mas daniel, eu não sei jogar futebol... -deixa comigo... começamos a disputar uma partida de futebol contra os garotos da quadra, acabei me arriscando no futebol que eu nem sabia jogar, até que não jogava muito mal, já o daniel jogava muito bem, deu um show, driblou três garotos e marcou um gol. os garotos não gostaram muito, o daniel veio correndo de encontro a mim e me deu um abraço de felicidade, aquele abraço mexeu comigo, aquele corpo suado sem camisa encostando no meu, fiquei sem reação, senti um arrepio, um frio na barriga. claro que eu fiquei na minha, no fim da tarde cada um foi pra sua casa, daniel me deu uma carona até em casa, ele nem quis subir pra tomar um suco, estava com pressa, pois ia buscar sua mãe na casa de uma amiga. cheguei em casa e fui tomar um banho de hidromassagem, coloquei meu discman e fechei os olhos pra relaxar um pouco, fiquei pensando naquele abraço que o daniel me deu, naquele sorriso, ele não saia da minha cabeça. capítulo 3

minha implicância com o daniel foi se tornando carinho na medida em que ia o conhecendo mais, não sei o que estava acontecendo, só sei que já não tinha mais raiva dele, somente um carinho especial. acabei adormecendo dentro da hidromassagem, quando acordei o dia já tinha amanhecido, minha pele estava toda enrugada, fui me enxugar, tomar meu café e ir pra academia que já estava na hora. depois da academia estava saindo pra trabalhar quando na saída encontrei com uma amiga dos tempos de faculdade, -bader... -juliana? -quanto tempo... -tudo bem com você? -eu to ótima, e você? -eu estou bem. e como anda lá no seu trabalho? -ai nem me fala, depois que você saiu de lá aquele lugar nunca mais foi o mesmo. -serio? -É... ah... sabe quem andou procurando por você? -quem? -aquele seu amigo que ia te buscar na faculdade... -que amigo? -aquele loirinho... -o bruno? -de nome eu não sei... pela descrição dela deveria ser o bruno que estava me procurando, o que será que ele queria comigo? ficamos conversando um pouco até que ela se foi, quando eu ia atravessando a rua escutei um assovio me chamando, era o daniel: -bader... peraê... -fala, daniel. -ta indo pra onde? -trabalhar... -bom, to indo pra perdizes... -eu vou pra pinheiros. -quer uma carona? -pode ser. vínhamos andando pelo quarteirão, pois ele havia estacionado o carro em um estacionamento na rua de trás, íamos conversando sobre as novas regras da academia, de repente eu senti alguém me empurrando, bati com tudo no poste, eram 6 caras que já chegaram nos agredindo do nada, eles jogaram o daniel no meio da rua, a intenção deles era nos imobilizar, mas eu me debatia na tentativa de escapar deles, mas ao mesmo tempo eu queria tirar o daniel dali, foi quando um deles ia dar uma garrafada na cabeça do daniel, não sei o que me deu na hora, consegui escapar dos outros dois que me seguravam e dei uma voadora no cara que ia matando o daniel, nisso um dos caras que estava me segurando veio e me deu um tapa na cara, o tapa foi tão forte que eu cai no meio da rua, o daniel ficou furioso e partiu pra cima deles. -você não vai machucar ele... -filho da puta! -não toca nele! se vocês querem briga, que briguem comigo, deixem ele em paz! corre bader! -eu não vou te deixar aqui sozinho! socorro! alguém nos ajude pelo amor de deus! comecei a gritar por socorro, eles iriam machucar o daniel se continuassem e bater nele, me joguei na frente dos carros que passavam na rua, mas nenhum parou para nos ajudar, o daniel já havia dado aula de jiu-jitsu, foi o que nos ajudou enquanto o carro da policia não chegava. eu fiquei impressionado com as pessoas

que ficaram assistindo tudo sem fazer nada, vendo nós ali pedindo ajuda e ninguém se mexeu para pelo menos chamar a polícia, eu fico indignado com o espírito humanitário de hoje em dia, se fosse eu com certeza ajudaria no que pudesse, mas ficar de braços cruzados vendo esse tipo de cena, é um absurdo, seria o primeiro passo pra acabar com a violência nessa cidade, um ajudar o outro e todos se ajudarem. fomos para a delegacia registrar a ocorrência, eu fiquei mais indignado ainda com o descaso dos policiais que anotaram o nome do daniel em uma prancheta e perguntaram se era de nosso interesse registrar uma ocorrência, como se ser agredido por quatro caras em plena luz do dia fosse a coisa mais normal do mundo. chegamos na delegacia e tivemos que contar toda a história outra vez para o escrivão e para o delegado, não agüentava mais contar a mesma história. passamos o resto da tarde e o começo da noite registrando bo e fazendo corpo de delito, eu me senti humilhado, um lixo, tamanho foi o descaso das autoridades. -muito obrigado, bader! -pelo quê? -por ter me salvado, se não fosse você eu teria morrido com a garrafada que iam me dar. -eu fiz por você o que todo mundo deveria fazer ao presenciar um tipo de situação dessas, um por todos e todos por um... você precisa passar no hospital pra ver esses ferimentos... -quanto aos ferimentos não se preocupe, muito obrigado, você se preocupou comigo como há tempos ninguém se preocupava... e você, está bem? -estou com as costas um pouco doloridas, mas estou bem. então, vamos passar lá em casa para eu fazer um curativo nesse ferimento? -tudo bem... depois de fazer o corpo de delito fomos para minha casa, eu não sabia que corpo de delito era só responder algumas perguntas e basta, pensei que ao menos o médico olharia os ferimentos. chegando em casa eu pedi pra ele aguardar na sala enquanto eu ia buscar a caixa de primeiros socorros no banheiro: -tira a camisa... -peraí. -foram só uns arranhões... -ai... tá ardendo... -calma... um homem desse tamanho com medo de remedinho... -fica zoando... -hahaha... ele era tão charmoso, me encantava cada dia mais com seu jeito de ser, meigo, sensível, nem aparentava com aquele corpo forte, mais parecido com um “bad boy”. -daniel... -fala. -por que você disse na delegacia que há muito tempo ninguém se preocupava com você? -porque é verdade. desde que meu pai morreu, eu sinto falta de alguém pra conversar, alguém que me defenda, alguém que me ouça, me dê conselhos... -mas e sua mãe? -minha mãe está pouco se importando comigo, vive viajando com as amigas, eu passo mais tempo sozinho naquela casa enorme... conversando mais com ele, percebi que o daniel era um cara carente, sensível, além de tudo, sofrido, ele deveria ser muito apegado ao pai, e a perda deve tê-lo deixado abalado. no decorrer da semana eu liguei para minha mãe e contei sobre o acidente, ela ficou um pouco preocupada, mas tratei logo de tranqüilizá-la. minha mãe era minha melhor amiga, quando eu precisava era só ligar pra ela, pelo menos três vezes na

semana nos falávamos por telefone, pois era difícil eu ir pra campinas. continuei indo à academia normalmente e sempre tomando cuidado para não dar nenhuma pancada no daniel, chega de mico. -bom dia! -fala bader, firmeza cara? -tudo legal! como estão os machucados? -nem sinto mais. É amanhã, hein... -pois é. -chamei uma mina que eu to ficando, você não se incomoda, né? -claro que não, chame mais amigos se quiser... -melhorou seu braço? -já consigo dirigir, mas não posso fazer esforço. sorte que aqueles caras não tocaram nele. -menos mal, meu carro fica pronto semana que vem. -que bom! o meu já está pronto. -da hora... ganhei um amigo num acidente de carro. estávamos dentro do vestiário masculino, eu havia acabado de chegar e fui guardar minhas coisas, o daniel parecia já estar de saída, conforme ele falava, ia tirando a roupa, eu ainda não havia reparado muito no seu corpo até aquele momento, somente no peitoral no dia do passeio no parque do ibirapuera, que foi impossível não reparar. um corpo todo definido, ele era um magro falso, usava a calça meio caída com a cuequinha à mostra, corpo com pelos serrados, pele morena, cabelo todo espetadinho com gel, topete e um sorriso perfeito, era de deixar qualquer mulher apaixonada, não era a toa que as meninas da academia pagavam um pau pra ele, as vezes eu escutava elas comentando sobre um professor, mas nunca tínhamos nos cruzado antes nas dependências da academia, mas agora eu concordo com elas que ele é tudo e mais um pouco. no sábado ele passou em casa por volta de 20h, pedi para o porteiro deixá-lo subir, quando ele entrou na sala, pedi para que ele me aguardasse enquanto iria tomar meu banho, ele sentou no sofá e ficou olhando as fotos dos porta-retratos. -e aê cara... -beleza? -firmão. já está pronto? -que nada, nem tomei banho ainda. -sem problemas, ainda está cedo. -dá um tempo aí que vou tomar um banho. -vai lá. -você não ia trazer sua mina? -a mãe dela tava meio adoentada... e também a parada hoje é só pra homem, nada de mulher pra encher o saco. -hahaha. -pô... legal essas fotos, bader. -quais? -essas aqui... -ah... essa é minha família, tiramos já faz um tempo... -É bonito ver uma família unida assim... eu tenho poucas fotos com meu pai e minha mãe juntos, eles não se davam muito bem... -deve ser muito ruim mesmo. -quem é esse do seu lado? seu irmão? -onde? -vocês estão em uma praia. -ah não, esse é meu ex-namorado. -namorado?

-É. por que o espanto? -nada não, é estranho ver um cara chamando outro cara de namorado... -você é contra um relacionamento homo? -não, tenho amigos homos, nada contra. -já é hora de jogar essa foto no lixo. peguei a foto, tirei do porta retrato e amassei, joguei no lixo, não sei nem por que aquela foto ainda estava em casa, eu me livrei de tudo que lembrava o bruno, acho que só faltou aquela foto. entrei no box e liguei o chuveiro, escutei a voz dele perguntando onde tinha água, gritei dizendo que na cozinha tinha. após meu banho fui vestir uma roupa bacana, passei meu perfume de sempre, fiz meu penteado de sempre, levei quase meia hora em frente ao espelho pra deixar o topete do jeito que eu gostava. -pronto. -até que enfim... -nem demorou tanto assim... -o que? quase dormi aqui no seu sofá. mas não tem problema, como você que vai pagar, vou beber pra caramba... -sem exageros. chegamos na balada já passava da 00h, eu dificilmente bebia, o daniel logo quando chegou foi pegar uma caipirinha, a balada estava cheia, muita gente bonita, no começo as músicas estavam chatas, ficamos no bar conversando um pouco. -faz tempo que você freqüenta aqui? -eu vinha bastante quando namorava, o bruno adorava esse lugar. -quanto tempo vocês namoraram? -três anos. -uau, bastante tempo... -sim, o conheci com 21 anos, mas como disse minha mãe: algo melhor me espera. -e você sonha com um conto de fadas? -não, só o que eu quero é ter alguém do meu lado todos os dias e para sempre. -legal isso... o engraçado é que nos tempos de hoje as meninas estão fugindo de compromisso sério e os homens estão afim... -pois é... e por que você terminou com seu relacionamento, então? -porque eu queria casar e ela não. quero ser amado, receber carinho, tenho 26 anos, já transei com todas as garotas que eu quis, beijava as que dava vontade, agora eu cansei, queria ter a certeza de que alguém me ama de verdade, me deseja... -eu sei muito bem o que é isso... -pode não parecer, mas eu só tenho aparência de “bad boy”... -mas sua aparência assusta um pouco. -não me julgue pelas aparências. -desculpa, mas é verdade. -está ouvindo essa música? -sim... adoro ela... -eu também. vamos dançar? -claro. na pista de dança ele se soltou e mostrou que sabia dançar muito, a pista estava cheia, apertada, ele me puxou para o meio da pista e ficamos dançando um de frente para o outro, o daniel era um cara muito bonito, cativante, dançando e olhando pra ele eu ficava pensando no que ele havia dito, sem que eu esperasse ele me puxou pra bem junto dele, fiquei sem reação, não foi com malícia, apenas uma empolgação, mas me deixou com vontade de beijar aquela boca carnuda, isso eu não posso negar. eu acho que estava começando a gostar dele, se isto fosse concreto

eu estaria perdido, ele gostava de mulher e eu não teria chance alguma. as músicas estavam cada vez mais legais e a vontade era de ficar na pista e não sair mais, o daniel continuava bebendo sem parar, comecei a ficar preocupado quando percebi que ele já havia ultrapassado os limites, o puxei pelo braço e avisei para irmos embora. -daniel... já chega, está na hora de ir... -agora que está ficando bom? -É necessário, você já bebeu demais. -ah... É por causa da bebida? deixa que eu pago então, seu pão duro. -não é isso, estou preocupado contigo, o que você consumiu eu pago conforme o prometido. -tá bom... -vamos. saímos de lá eram quase 4h, o daniel não estava em condições de dirigir, mal conseguiu subir as escadas, foi uma briga para convencê-lo a me deixar dirigir. -eu te deixo em casa e depois sigo para a minha. -você não está em condições de dirigir, daniel. -eu to ótimo, veja... -cuidado... você quase caiu... ele estava tão bêbado que foi fazer um “4” e quase caiu. -imagine... eu sei muito bem o que to fazendo. -ok. mas deixa que eu te levo até em casa... -e como você vai voltar para a sua? -eu pego um táxi. -nananananão. -sim e sim. joguei ele dentro do carro, travei a porta, entrei no carro, ele ficou se debatendo e gritando, travei o cinto nele e fomos para casa. -entra... -eu já disse que irei te levar... -põe o cinto e cala essa boca. onde você mora? -não vou dizer, você disse que era pra eu calar minha boca... -É assim? então vou te levar para minha casa, quando você estiver sóbrio eu deixo você ir sozinho. -socorro! socorro! -pára de gritar, está louco? -louco eu estaria se deixasse você me levar, vai que dessa vez você bate o carro em um caminhão... -engraçadinho. -hahaha. fechei o vidro do carro e o trouxe para minha casa praticamente carregado por mim, porque sozinho ele não conseguia nem dar 2 passos. precisei da ajuda dos seguranças do condomínio para carregá-lo até o elevador, com um pouco de dificuldade eu abri a porta da sala com ele apoiado em meus ombros, não falava coisa com coisa. -você precisa dormir um pouco... -dormir? nada de dormir... tá cedo... -daniel, você não está bem... -eu to ótimo... vamos conversar um pouco... -vou fazer um café pra você beber. -enquanto você faz um café, vou jogar vídeo game... -nem pensar, você precisa de um banho frio... arrastei ele até o banheiro, foi difícil convencê-lo a entrar no box, ele se debatia o

tempo todo, com muita paciência e força consegui colocá-lo em baixo do chuveiro. -venha... -eu não quero... -tira a roupa... -eu não vou tirar nada. abri o chuveiro e o empurrei para baixo da água fria com roupa e tudo, essa bebedeira tinha que passar de qualquer jeito. -ai... está gelada... tá molhando minha roupa... -você não quis tirar, eu avisei antes... pára de se debater, você está me molhando... -deixa de viadagem e entra aqui, não vou me molhar sozinho. ele me puxou para dentro do box e travou a porta. -não... -hahaha. comecei a me debater, minha raiva ia aumentando na medida em que eu não conseguia sair, já estava me irritando aquela sua bebedeira, sóbrio ele era uma outra pessoa, mas bêbado ele era impertinente, comecei a tirar sua roupa, passei xampú em seu cabelo, com muito sacrifício consegui tirar toda sua roupa, o deixando totalmente nu. -me solta... -você não pode ficar com essa roupa molhada. -eu não quero tirar... -deixa de viadagem você agora... o que você tem aí eu também tenho. -sua roupa também está molhada. -ok, depois vou tirá-la. -depois nada, vai tirar agora também. tirei minha roupa e ficamos nus, terminei de dar banho nele e fui buscar uma toalha no quarto, pois a que estava no banheiro acabei molhando. fui pegar uma toalha seca dentro do guarda-roupa, quando ia voltar para o banheiro me deparei com o daniel dentro do meu quarto, todo molhado, como era a suíte de casa o banheiro praticamente ficava dentro do quarto. -mas o que você faz aqui? eu disse para me esperar no banheiro... -até parece... -você está molhando todo o meu tapete. -judiação... amanhã eu mando importar um tapete novo do oriente pra você. -chega de bobagens e se enxugue... -não me amole... -se você não se secar, eu te seco. o daniel era muito teimoso, tive que secá-lo à força, mas ele não parava quieto, me dava até raiva. nós éramos da mesma altura, então quando eu falava com ele era próximo ao seu ouvido, o que começou a despertar nele algo diferente. -pare quieto... -nossa... não fale assim porque eu não resisto... -então se enxugue sozinho. -não vou me enxugar nada... ele pulou na minha cama todo molhado, quando eu o vi fazendo aquilo me subiu um ódio tão grande, paciência tem limite e a minha já tinha se esgotado. -caralho, você está molhando toda minha cama... sai daí agora -hahaha... eu peguei pelo braço dele e comecei a puxá-lo pra fora da cama, eu já estava a ponto de quebrar sua cara, não é possível que uma pessoa quando bebe fique tão insuportável assim, maldita foi a hora que concordei em pagar uma balada pra ele, se eu tivesse passado um cheque pra cobrir os gastos do conserto do carro teria

menos prejuízo. puxei ele por duas vezes e ele insistia em não sair da cama, quando na terceira vez ele me puxou pra cama junto com ele, eu comecei a me debater, então ele subiu em cima de mim, segurou meus braços e olhou dentro dos meus olhos, fiquei imóvel, não tive reação nenhuma. -sai da minha cama... -deita aqui... -não... -nossa... você tem uma boca tentadora... -será que você só sabe zoar? -eu to falando sério. ele segurou meu rosto e começou a me beijar, eu não sabia o que fazer, fui pego de surpresa, aquele seu corpo nu sobre o meu também nu me possuindo como se fosse uma terra desapropriada, sua mão explorava meu corpo com pegadas fortes, naquele instante eu fiquei sem fôlego. ele beijava muito bem, tinha muito fogo, mas estava bêbado, não sabia o que estava fazendo, foi quando interrompi: -pare com isso... -parar por quê? capítulo 4 -vou pegar uma roupa pra você vestir e depois vamos dormir... pegue... -não vou vestir... eu só consigo dormir pelado. -você quem sabe. vou dormir no outro quarto, tenha uma boa noite. apaguei a luz do quarto, peguei um travesseiro e fui dormir em outro quarto. não vou dizer que consegui dormir, pois mal preguei o olho, fiquei revirando na cama, pensando naquele beijo, naquele corpo, não sei o que deu nele para me agarrar, e muito menos em mim de permitir, só consegui adormecer quando o dia estava clareando. fui acordado com o telefone tocando, era minha mãe querendo saber como eu estava, disse pra ela que a recuperação do acidente estava correndo bem, seguindo as orientações médicas, pelo seu suspiro ela parecia bem mais aliviada, falamos um pouco no telefone e depois desliguei, fui até o quarto onde o daniel dormia, abri a porta cuidadosamente para não acordá-lo, sentei na beirada da cama e fiquei velando seu sono, tão tranqüilo... não demorou muito e ele acordou. -nossa... -o que foi? -o que estou fazendo aqui? por que estou sem roupa? -você bebeu demais ontem e ultrapassou dos limites... -sério? fiz você pagar mico? abusei da sua paciência? -você não se lembra de nada? -não. -nada mesmo? -nada... -você não estava em condições ontem de dar um passo sozinho, tive que trazer você pra cá, até banho eu te dei pra tentar passar um pouco a bebedeira. -caramba... desculpa. -não se preocupe, vamos esquecer tudo. agora eu vou colocar sua roupa para lavar e depois coloco na secadora. em 2 horas fica prontinha para você vestir. -beleza. fui até o banheiro e peguei sua roupa de dentro da pia, levei até a lavanderia e coloquei as roupas dentro da máquina de lavar, deixei as roupas lavando e fui até a cozinha preparar o café, deixei a cafeteira preparando e fui até o quarto.

-bom, já coloquei sua roupa para lavar e estou fazendo um café. -mas você não tinha feito café ontem? -mas café amanhecido é horrível... -É... posso tomar um banho? -claro, o banheiro é bem ali... -valeu. enquanto ele foi tomar banho eu fui pegar uma toalha, deixei no banheiro e fui até a cozinha arrumar a mesa para o café da manhã, coloquei um monte de coisas gostosas, tudo que eu costumava comer diariamente. achei estranho ele ter citado o café da noite anterior, como ele sabia que eu havia feito café, já que ele parecia não se lembrar de nada?... daniel terminou seu banho e foi até a cozinha onde eu estava, com a toalha enrolada na cintura e o corpo molhadinho, era inevitável não olhar, fiquei desconsertado, parecia que fazia de propósito só pra me provocar, ele pegou uma maçã da cesta de frutas, encostou-se ao batente da porta e começou a me fazer perguntas. -está cheiroso seu café... -obrigado. -porque você não abre o jogo? -que jogo? -sobre ontem. -mas eu já contei sobre sua bebedeira... -eu perguntei o que tinha acontecido nessa madrugada, queria saber t-u-d-o, entendeu? -não, onde você quer chegar? -por que você não falou sobre o beijo de ontem? nessa hora eu queimei meu dedo com o bule de café, daniel colocou a maçã sobre a pia e veio olhar meu dedo preocupado, ele era tão cuidadoso... -ai! -o que foi? -queimei meu dedo com o café... -deixa-me ver... não foi nada, quer um beijinho pra sarar? ele segurava meu dedo quando eu recuei a mão. -o que você quer? -por que você não me falou do nosso beijo? -qual beijo? peguei os copos e fui para a sala colocar na mesa, daniel pegou as xícaras e veio relembrando a madrugada. -aquele beijo que eu te dei... -mas você disse que... -eu menti. lembro de tudo que aconteceu, só fingi que não lembrava para ver se você seria corajoso para me contar a verdade. -o que você queria? que eu chegasse em você e dissesse: “daniel, você me beijou ontem”. -e por que, não? -porque você não é gay, há alguns dias atrás você tinha uma namorada, e para um cara como você não deve ser fácil conviver com um homossexual. tem também o fato de você poder achar que eu abusei de você por estar bêbado... -mas se fui eu que te beijei... -sim, foi você, mas você poderia muito bem dizer que eu me aproveitei da situação... olha daniel, acho melhor esquecer tudo isso e mudarmos de assunto, se não vamos acabar brigando. -eu namorava garota, sempre tive tesão por seios, marca de biquíni, jogar meu futebol com os amigos...

-eu não estou interessado em saber da sua virilidade... -tudo bem, eu só queria dizer que ontem eu senti atração por você... engasguei com o suco quando ele falou aquilo. -como assim? -É difícil pra mim ter que assumir isso, mas não sei o que me deu ontem que senti vontade de beijar você... -eu sei o que te deu, você estava bêbado. -não é isso... ele se levantou da cadeira, foi até onde eu estava, ajoelhou ao meu lado, pegou na minha mão e continuou a falar. -o seu beijo foi diferente... foi gostoso... pela primeira vez eu beijei alguém sem primeiro sentir uma atração sexual... -e você está querendo me convencer que... -não quero te convencer de nada, só quero que você saiba que eu gostei, que o fato de ter gostado de beijar você não quer dizer que eu vá me interessar por homens. -e eu sou o quê? -você é homem, mas é 1 homem, e eu senti vontade de beijar só você, não é porque eu beijei você que vou sair por ai agora beijando um monte de caras, é o seu beijo que eu gostei, é do seu beijo que eu provei. -o que você quer que eu diga? -não diga nada, apenas me beije. ele tocou meu rosto com os dedos por trás da minha orelha, com a outra mão ele segurava minha cintura, seguido de um carinho gostoso e intercalado com uns apertões, não foi um simples beijo, foi mais que um beijo, sem palavras para explicar, nos levantamos e encostamos corpo com corpo, daniel me colocou contra a parede e seu corpo me imobilizava, ficamos ali nos beijando por um longo tempo, aquela língua safada me fazia perder o juízo quando passava no meu pescoço, aqueles sussurros no meu ouvido me faziam estremecer... -acho melhor pararmos por aqui... -mas está tão bom... -o café vai esfriar, preciso colocar sua roupa dentro da secadora também... -ok, vamos terminar o café. -eu vou colocar sua roupa pra secar. -está bem. fui colocar suas roupas na secadora, depois voltei e tomamos café juntos, conversamos sobre futebol, sobre baladas, e muitas outras coisas. fiquei confuso com o fato dele ter gostado do meu beijo, mas ao mesmo tempo eu adorei a idéia, pois também havia adorado o beijo dele. depois do café ele vestiu suas roupas e nos despedimos com um longo beijo, fechei a porta e fiquei com medo que ele se arrependesse mais tarde, afinal, antes de me beijar ele só ficava com mulher. aproveitei o domingo para arrumar o guardaroupa, tirar umas roupas que já não usava mais e doar para quem precisava. quando eu era criança, minha mãe sempre nos ensinou que devemos ajudar aos necessitados, eu ia com ela e meus irmãos em orfanatos e doava nossos brinquedos que não usávamos mais, era uma satisfação para nós vermos o brilho nos olhos daquelas crianças ganhando um brinquedo, eram usados, mas não importava. na segunda feira acordei com a campainha tocando, eu odiava ser acordado com barulho, me deixava de mau humor, levantei, vesti meu roupão e fui atender a porta querendo socar o infeliz que me acordava, era o porteiro com uma linda cesta na mão. -bom dia seu bader! -fala.

-deixaram isso pro senhor hoje cedo lá na portaria. -obrigado. fechei a porta e coloquei a cesta sobre a mesa, nunca recebi nada assim e nem fazia idéia de quem havia mandado. abri o cartão que tinha preso na alça, tinha um perfume familiar naquele envelope. “bom dia! dormiu bem? como está o braço? não consegui dormir muito bem essa noite, fiquei pensando em você, no seu cheiro, na sua boca. logo irei para a academia, depois te ligo. daniel” fiquei encantado com essa atitude, ninguém nunca me tratou assim, peguei a cesta e levei para a mesa da cozinha, não conseguia parar de cheirar aquele bilhete perfumado, parecia proposital. fui tomar um banho, depois do banho fui fazer meu almoço, na verdade eu fui descongelar a comida, porque eu costumava fazer toda a comida no começo da semana e distribuir em pequenas quantidades, depois colocava no freezer e tirava quando fosse comer. tirei do freezer uma porção de batata, feijão e frango assado, coloquei o feijão e o frango no microondas, comecei a fritar as batatas e cozinhar o arroz, quando eu estava virando as batatas meu telefone tocou, baixei o fogo e fui atender: -alô? -alô! bader? -sim... -É o daniel, você está bem? -com aquela cesta que recebi hoje pela manhã, não poderia estar ruim... -que bom que você gostou. o que você está fazendo? -preparando meu almoço, você já almoçou? -ainda não, acabei de sair da academia, vou passar na praça de alimentação do shopping e comer alguma coisa... -vem almoçar comigo? -hummm... o que vai ter de bom para o almoço? -feijão, arroz, frango assado, batata frita e salada de agrião. -que delicia! vou levar a sobremesa então. -vou te aguardar ansiosamente. -em um piscar de olhos estarei aí. -beijo. -outro. desliguei o telefone e fui correndo virar as batatas no fogo, sorte que elas não tinham queimado ainda, o arroz estava quase pronto, e a dani não parava de pular na minha perna querendo comer. -calma bebê, o papai já vai te dar comida. coloquei um pouco de ração no pote dela, comecei a lavar a salada quando o interfone tocou. -diga... -o senhor daniel está na portaria. -pode deixar subir. tratei de ir arrumar a mesa rapidinho, enfeitei com algumas flores e frutas, logo a

campainha tocou, eu morava no 19º andar, mas o elevador do prédio era bem rápido. quando ouvi a campainha tocando meu coração disparou, eu não sabia o que fazer na hora, a campainha tocou mais uma vez, respirei fundo e fui abrir a porta. -oooooi. -oi daniel. nos cumprimentamos com um beijo e um abraço. -não via a hora de te encontrar outra vez... -eu também mal podia esperar. -vontade de sentir seu cheiro... sua pele... seu beijo... começamos a nos beijar e a dani começou a latir, ficamos nos beijando por quase 5 minutos... -fica quieta, dani. -deixa ela... continue me beijando... quando íamos dar outro beijo o microondas apitou, fui até a cozinha retirar a comida: -o microondas... -vamos que eu te ajudo, não é bom você pegar peso com o braço machucado se não os pontos podem abrir... -tira essa vasilha aqui... você não se importa de comer comida congelada? -estando perto de você, eu comeria até cachorro quente na esquina. -desculpa, é que não tenho tempo de cozinhar todo dia, então deixo tudo prontinho, só aquecer e comer. -por falar em aquecer, o sorvete que eu trouxe deve estar derretendo lá na sala... -meu deus... vou buscar... fui até a sala buscar o pote de sorvete, quando peguei o pote, o daniel me abraçou por trás e começou a morder meu pescoço, na hora eu me assustei, deixando cair o sorvete. -ai que susto... -desculpa gato... olha só a sujeira que fez... -a sujeira é o de menos, deixe aí que depois eu limpo, vamos almoçar se não a comida esfria. -vamos. almoçamos e conversamos por um longo tempo, sua companhia era muito agradável, ele tinha assunto pra tudo, uma pessoa muito inteligente, a cada palavra sua eu ficava mais apaixonado, era um sentimento puro, inocente, sincero. -você vai ficar em casa por quantos dias ainda? -acho que mais um mês e meio. -o que acha de fazermos uma viagem? -pra onde você me levaria? -japão! -já conheço. -sério? -sim, fui a trabalho uma vez e morei por 2 meses lá. -você já conhece a frança? -ainda não. -eu também não, o que acha de irmos conhecer? -podemos conversar sobre isso depois, você está de carro? -estou sim! -você pode me dar uma carona? pra voltar eu me viro... -e você acha que eu vou te deixar lá sozinho? te levo e trago até em casa. depois do almoço fomos até meu trabalho levar uns projetos, o daniel me esperava no carro, até queria levá-lo para conhecer o pessoal que trabalhava comigo, mas ele não encontrou vaga para estacionar o carro.

duas semanas se passaram, eu e daniel nos falávamos todos os dias por telefone, algumas vezes ele passava em casa no finalzinho da tarde para ver como eu estava, e foi em uma tarde dessas que quase morri de medo ao sair com ele. havíamos marcado de ir ao cinema em uma sexta feira à noite, à tarde ele me ligou e pediu para eu me aprontar que iria passar em minha casa para me buscar, antes do cinema tínhamos programado um jantar. À noite me arrumei, fiquei todo bonito pra ele, não demorou muito e ele ligou dizendo que já estava pegando o elevador, meu coração palpitava só de ouvir sua voz, apaguei as luzes do apartamento, fechei as portas e fiquei na sala esperando ele chegar para sairmos. a campainha tocou, fui abrir a porta e ele já entrou me agarrando, mal deu para respirar, ele sempre me tirava o fôlego, ficamos nos beijando por uns dez minutos, com ele eu perdia os sentidos, às vezes nem conseguia pensar, tamanho era o impacto que ele causava com sua presença, confundindo todos meus sentidos. -ai que boca gostosa... -mais gostoso ainda é ficar agarrado com você... -está pronto pro nosso cinema? -prontinho! -então vamos. pegamos o elevador e não demorou muito entrou o síndico do prédio. -boa noite! -boa noite! o elevador social do prédio era espelhado, não muito grande, deveria caber umas 10 pessoas aproximadamente, ficamos olhando um para a cara do outro sem ter o que dizer, é bem clima de elevador mesmo, todos ficam parados olhando pra porta sem falar nada, quando para minha surpresa o daniel me pegou e começou a me beijar, o síndico ficou constrangido, notei que nasceu uma repugnância ao presenciar uma cena de beijo, claro que o daniel fez aquilo propositalmente para testar a reação do carlos. para nossa surpresa, sua reação foi pior do que imaginávamos. -não é permitido esse tipo de cena dentro das áreas sociais desse condomínio. -desculpe, não entendi. -eu disse que não é permitido... -ele disse que não é permitido dois homens se beijarem dentro do condomínio. -não foi isso que eu quis dizer... -você sabia que isso é uma forma de discriminação? -olha aqui... -olha aqui você... tive que segurar o daniel, pois ele já queria partir pra cima do carlos, não tiro sua razão, o carlos foi muito preconceituoso e estava pegando no nosso pé pela nossa condição, se mostrando uma pessoa totalmente homofóbica. essas regras de não poder beijar nas áreas sociais do condomínio eu desconhecia, tanto é que a gloria, moradora do 16º andar vive se agarrando com os namorados dela no deck da piscina, no hall do elevador, cada semana era um diferente, e até então eu nunca vi nenhuma repressão. -vamos parar com isso, por favor. -eu vou quebrar a cara desse palhaço... -você não vai quebrar a cara de ninguém, por favor esquece isso. -só não quebro sua cara, porque o bader tá pedindo, mas a gente ainda vai se cruzar... o elevador parou no térreo, saímos do elevador e o carlos continuou sem abrir a boca, deve ter ficado com medo de apanhar do daniel, que é um homem alto e forte, e eu também fiquei com medo do daniel machucá-lo, não seria bom para nossa imagem perante o condomínio. quando chegamos no estacionamento de visitantes eu não avistei o carro dele, estranhei e perguntei onde que ele havia estacionado o

carro, ele abriu a mochila e me entregou um capacete. -onde você estacionou seu carro? -segura ai... -o que é isso? -um capacete. -eu sei que é um capacete, mas pra que você me entregou? -para você colocar na cabeça e subir na minha garupa. -mas... -sem mas, sobe logo. subi na garupa de sua moto e grudei em sua cintura, morrendo de medo, mas confiei nele. eu já deveria suspeitar que ele estava armando alguma coisa, notei quando ele desviou do caminho do shopping e começou a seguir por um caminho que eu não conhecia, passando por uma longa estrada de terra... -pra onde você está me levando? -pro paraíso. ele guardou segredo o caminho todo, me deixando curioso e com medo também, pois o caminho era um pouco escuro. ao chegar, deu pra notar que era uma casa no mato, deveria ser um sítio, no meio da escuridão dava pra ver a luz que vinha de dentro da casa, um silêncio que chegava a incomodar, quebrado pelas cigarras em volta. -chegamos... -que lugar é esse? -nosso ninho de amor... segurando na minha mão ele me levou até a casa, abriu a porta pra mim e logo em seguida já foi me abraçando, a casa era linda, bem decorada, tinha um estilo country, as cortinas iam do teto ao chão, sofás de couro, ventiladores de teto, alguns retratos na parede de um homem com alguns cavalos, deveria ser seu pai, na varanda tinha uma rede e embaixo da escada havia um bar cheio de bebidas: -aqui vamos poder esquecer por um tempo da correria da cidade... -de quem é essa casa? -da minha família... minha mãe quase nunca vem pra cá, às vezes quando me sinto sozinho eu venho refletir aqui... -linda casa... -É... mais linda ainda é a visão que temos do segundo andar. vem ver... ele pegou na minha mão e me levou até o andar superior da casa, subimos por uma escada de madeira que nos levava até um corredor cheio de portas, deveria ter umas oito portas, caminhamos até um dos quartos, era lindo, uma cama bem ampla, deveria caber umas cinco pessoas ali deitadas, o quarto tinha um estilo meio rústico, de um lado uma parede cheia de tijolinhos e do outro uma parede coberta por um armário que terminava na porta do banheiro, da varanda do quarto principal dava pra ver o céu cheio de estrelas, coisa que da cidade é quase impossível de ver por causa da poluição, uma lua linda nos iluminava e clareava aquele gramado. daniel me abraçou e me contou uma história que seu pai contava para ele quando criança: -está vendo aquelas estrelas no céu? -sim. -quando eu era pequeno, meu pai dizia que as estrelas do céu eram reis, faraós e todas as pessoas boas que viveram na terra e continuavam a reinar no céu, só que olhando e cuidando daqueles que precisam aqui na terra. -que lindo. daniel tocou no meu rosto, olhou nos meus olhos, fechou os seus e começou a me beijar, nos abraçamos e deitamos na cama, sozinhos, cercados pela natureza, trocando carinhos, carícias, sentimentos. ele parecia ser uma pessoa totalmente desligada, mas só parecia, quem o via com aquela pose de machão não conseguia

enxergar a criança carente que existia dentro dele. sussurrando no meu ouvido, ele cantava bem baixinho, bem juntinho, só pra mim: -diz pra eu ficar mudo, faz cara de mistério, tira essa bermuda que eu quero você sério... -te amo, daniel. -eu quero você, como eu quero... foi uma noite linda, impossível de esquecer, mais difícil ainda seria não me apaixonar pelo daniel, que dia após dia me conquistava mais e mais. capítulo 5 chegou o dia que iríamos viajar, decidimos ir para a frança, apesar de que eu queria também conhecer o egito, mas resolvemos ir em uma outra oportunidade. o vôo estava marcado para as 22:00, eu preferi marcar para vôo noturno porque a gente vai dormindo e quando acorda já chegou, eu sei que dormir em avião é muito desconfortável, mas pelo menos esperamos o tempo passar sem vê-lo passar. na parte da manhã fui até campinas deixar a dani na casa da minha mãe, ela cuidaria do meu “bebê” até eu voltar, pensei em deixá-la em um hotel pra cachorros, mas fiquei com receio dela ficar doente, pois ela era muito apegada a mim, já estando com minha mãe ela se distraía com a família, e também seria uma viagem curta, apenas dez dias. voltando da casa da minha mãe, eu fui até a loja de roupas de inverno comprar algumas peças, pois na época em que fomos viajar na europa era inverno e as roupas que eu tinha nem sei se me serviam mais, também fazia tanto tempo que eu não saia do país... depois das compras fui pra casa preparar minhas malas, aproveitei e deixei uma mala vazia, para trazer um monte de lembrancinhas da frança para os amigos e família, claro que pra mim também, sempre fui fã de perfumes e lá eu estaria na “nascente”. quando eram aproximadamente 19h o daniel tocou a campainha, cheio de malas também, ele deve ter colocado até roupa de esquiar dentro da mala, tamanho era o volume que aquelas três malas faziam. -nossa... -o que foi? -não acha que tem malas demais? -você disse que lá vai estar frio... -sim, mas também não vamos esquiar pela “rue de la république”, não terá montanhas de neve pelas calçadas, nós só vamos à paris e não à bariloche... deixe esse esqui aqui em casa... -tudo bem, da próxima vez avisa... -desculpe! agora vamos... -calma... e o meu beijo? -hum... chamamos um táxi para nos levar até o aeroporto, deu um trabalho enorme pra colocar aquele monte de malas dentro do carro, tivemos que deixar uma mala do daniel em casa, ele não gostou muito da idéia no começo, mas depois concordou, mas também pra que levar uma mala só com sapatos? ficamos na sala vip até a hora do embarque, tiramos algumas fotos, olhamos o mapa do local onde estariam os guias para não nos perdermos, e também um mapa de paris. no avião pedi para sentar na janela, daniel se levantou e trocou de lugar comigo, atrás de nós havia uma mulher com as outras duas poltronas vagas, pelo que deu a entender ela comprou os três lugares só pra ela, na poltrona da frente havia um casal com uma criança, que deveria ser uma pestinha, pois queria furar a poltrona do avião com um palito de sorvete, o pior de tudo era que os pais não falavam nada,

a comissária teve que intervir, os pais da criança não gostaram muito, mas deram um puxão de orelha no moleque e ele ficou quieto, ainda bem que ao nosso lado ficou uma poltrona vazia, eu e daniel pudemos viajar mais à vontade. quando o avião decolou, ele segurou na minha mão e disse olhando nos meus olhos: -está com medo? -não, e você? -um pouco, se eu disser que te amo agora, você acredita? -você está quase me convencendo. -vamos ver se com esse beijo eu te convenço... ele pegou na minha cabeça com sua mão esquerda e trouxe minha boca para junto da dele, acariciando meus lábios com os seus, suavemente, depois notei que as pessoas no avião nos olhavam um pouco assustadas, mas até então nem estávamos preocupados. o que era para ser apenas 10 dias, acabou virando 20 dias. quando chegamos no aeroporto de paris, o daniel não entendia o que os avisos diziam, mas como eu sabia falar francês fluente, pra mim não foi difícil achar o hotel e os guias. chegamos no hotel, pegamos a chave do quarto e fomos conhecê-lo, haviam duas camas de solteiro, a decoração era estilo clássico, de bom gosto e muito charmosa. colocamos as malas sobre as camas, começamos a tirar as roupas de dentro e arrumá-las nos armários. -ai que frio... -frio bom pra namorar... -ficar agarradinho... estava muito frio, a paisagem vista da janela nos enchia os olhos, aqueles jardins de folhas secas no chão formando um tapete natural, parecia um bolo “floresta negra”, haviam poucos carros na rua, bem tranqüilo o lugar. depois de arrumar tudo em nosso quarto, fomos passear pela cidade, andando pelas calçadas de paris paramos em um café, comemos um delicioso croissant acompanhado de um chocolate bem quentinho. quando batia aquele vento gelado o daniel me abraçava, era muito bom. -“bonjour”! -“bonjour! s’il vous plaît, un chocolat et un croissant”. -“oui. et vous monsieur”? -“diz pra ele que vou querer o mesmo que você”. -“aussi”. -“voilà”. o garçom foi buscar nosso pedido, reparei que na mesa ao nosso lado tinha um casal de gays que se beijavam com a maior naturalidade, era um casal jovem, deveriam ter a faixa de idade que eu e o daniel tínhamos, eram muito bonitos os rapazes, às vezes algumas pessoas olhavam disfarçadamente para os dois com uns olhares meio tortos, mas nenhuma reação homofóbica foi presenciada por nós. -o que você tanto olha para aqueles dois? -nada... -como nada? você não tira o olho... -eu estou surpreso com a atitude deles de beijar em público e das pessoas em volta que tratam com naturalidade... -e o que tem a ver beijar em público? se for o caso fazemos também. ele me puxou pra junto dele e começou a me beijar, o daniel tinha suas loucuras que me assustavam, mas tinha umas que me deixavam sem fôlego, claro que tudo que vinha dele eu adorava, quando a gente gosta de alguém temos que aprender a gostar das qualidades e defeitos, e eu gostava dele por completo. -você sabe que eu não me sinto bem... -mas o que tem de errado?

-eu sei que não tem nada de errado, mas têm pessoas que se assustam, pois não estão acostumadas... -tudo bem, nós paramos então. -mesmo assim eu continuo gostando de você... -por que você não me deixa te fazer feliz? -não entendi. -você parece ter medo de se entregar... -mas é claro, você vem de um mundo diferente do meu, talvez amanhã você acorde e vê que não é isso que quer pra sua vida... -eu sei o que eu quero pra minha vida, se eu decidi ficar com você é porque tenho certeza do que eu quero... -tudo bem, discutimos isso depois. -tá bom. depois do nosso lanche, fomos dar uma volta no parque, começamos a correr entre as árvores, até que o daniel conseguiu me pegar, mas acabamos tropeçando no banco e caímos sobre as folhas secas no chão, meu corpo ficou sobre o dele, cara a cara, demos muita risada, quase sem fôlego, até rolar um beijo, ele foi me abraçando com seus braços fortes e ficamos ali trocando carinhos, ao som dos pássaros, foi muito bom. À noite fomos passear pelas ruas da “cidade luz”, paris à noite é linda, charmosa, pegamos o metrô na estação central e ficamos passeando até ficarmos perdidos, olhei naquele mapa cheio de linhas que nos confundia, ouvimos o anúncio de que a operação estaria se encerrando em 15 minutos, corremos para pegar o último metrô para a estação central, por pouco não o perdemos, pois já estavam fechando as portas. saímos da estação central morrendo de rir, tirei uma foto pelo celular do daniel tropeçando na calçada, acho que as pessoas nos achavam loucos, mas éramos dois loucos felizes e que se amavam. voltamos para o hotel de madrugada, fomos tomar um banho bem quente juntinhos, achei a água um pouco estranha, sem contar que é muito cara, tivemos que tomar banho bem rápido. depois do banho juntamos as duas camas de solteiro e dormimos como um casal, bem agarradinhos. para o daniel tudo era novidade, eu era o primeiro homem que ele havia ficado, até então ele sabia lidar com mulheres e não com homens. naquela noite ele olhou para mim, tocou em meu rosto e olhando nos meus olhos ele disse: -É estranho... -o que é estranho? -eu amar um homem. -ainda dá tempo de se arrepender e voltar atrás. -nunca, é de você que eu gosto, é com você que quero ficar, é pelo seu amor que quero lutar. -nossa... nunca recebi uma declaração dessa... -se você me permitir te amar, te farei uma pessoa muito feliz... -É...? -sim... -e a mina que você estava ficando? -nunca mais a vi. começamos a nos beijar, ele era um cara muito carinhoso, meigo, mexia comigo dia após dia, fizemos amor à madrugada toda, em paris, foi algo mágico, inesquecível, nossos corpos suando de frio e calor ao mesmo tempo, nosso suor misturado nos fazia deslizar um sobre o corpo do outro, meu cabelo estava já molhado, o dele também, tamanha era a intensidade do nosso desejo. tremendo de frio ele deu um beijo na minha testa, encostou sua cabeça sobre meu peito e me abraçou. -está com frio?

-um pouco, mas vai passar. -deita aqui que te esquento. dormi no céu e acordei no paraíso, lá fora chovia um pouco, uma garoa chata, um ótimo pretexto para ficar dentro do quarto o dia todo abraçadinhos, deitados trocando carinhos, fazendo amor. aquela garoa durou dois dias, ficamos os dois dias dentro do quarto namorando, abraçadinhos, dormindo com aquele friozinho. no décimo dia fomos para carcassonne, ficamos na estação aguardando a partida do tgv que é um trem bem veloz na frança, dependendo do lugar a viagem sai mais cara que ir de avião. sentados na estação ficamos aguardando o anúncio, o daniel não entendia nada, ficou todo confuso: “correspondance pour carcassonne” “départ 11h29, quai nº 4, voie b.” -mas o que ele está falando? -ele disse que o trem que parte para carcassonne vai partir às 11h29, na plataforma 4, via b. -nossa... -hahaha... -pára de rir, eu só sei falar inglês... -mas eu não to rindo de você. -do que você está rindo? -da careta que você fez... dentro do trem tive que fechar a cortina, pois ele andava tão rápido que quando passava outro ao lado nos dava vários sustos e me deixava um pouco tonto, mas as paisagens eram lindas. a cada dia que passava eu gostava mais do daniel, seu jeito me cativava, sua alegria me contagiava, seu brilho nos olhos me faziam acreditar que seu sentimento era verdadeiro, ele tinha uma sensualidade inexplicável, uma magia dentro de si. meu medo era a hora que ele não me quisesse mais, o melhor a fazer era não criar expectativas, o difícil era por em prática, eu estava começando a gostar dele de verdade, já nem lembrava mais do bruno, ao lado do daniel eu me sentia seguro, mesmo assim não ia me entregar por completo e correr o risco de me machucar depois. no décimo quinto dia fomos conhecer o chateau de versailles. louis xiii em 1623, construiu em versailles uma morada para sua residência em tempo de caça, louis xiv, seu filho, conhecido como “rei sol”, aproveitou essa construção e mandou erigir um dos mais lindos palácios existentes até hoje na europa, com seus jardins e edifícios, o famoso salão dos espelhos, os luxuosos quartos do rei e da rainha, era tanta beleza que chegava até a doer os olhos. graças à sua dupla vocação, residência real e museu da história da frança, possui inúmeras obras de arte, uma mais linda que a outra, pena que não podemos tirar fotos. o lugar teve sua inscrição na lista de patrimônio mundial da organização das nações unidas para a educação, a ciência e a cultura - unesco em 1979. eu e daniel ficamos babando na beleza daquele lugar, aproveitei a oportunidade e caminhei, corri pelos corredores verdes da vegetação que cercava aqueles lindos jardins, tiramos fotos, filmamos o lugar, foi engraçado em uma hora que o daniel foi segurando a câmera e eu fui fingindo que era o rei louis xiv, desfilando pelo corredor de nariz empinado. naquele dia brincamos bastante, foi tudo muito divertido, eu caminhando na ponta dos pés com o nariz empinado, as imagens saíram um pouco tremidas, pois o daniel se matava de rir. -do que você está rindo? -nada majestade... -quer ir para o calabouço?

-não, não... depois fomos ao museu do louvre, um dos mais importantes museus do mundo. tivemos que ir com um mapa nas mãos, fomos visitando as obras expostas lá, para conhecer tudo seria necessário pelo menos 1 semana lá dentro, tamanha era a grandiosidade do lugar e quantidade de obras. construído em 1190 como um forte, foi reconstruído em 1360 para ser um palácio real. durante 4 séculos, com reis e imperadores, sofreu acréscimos e construções tendo sido transformado em museu, em 1793. o acervo está dividido em 7 departamentos por período: antiguidades orientais, gregas, romanas, egípcias e etruscas, pinturas, esculturas, objetos de arte da idade média até 1850, impressões e desenhos. eu fiquei maravilhado com a parte egípcia, pois adoro essa mitologia de faraós, aquelas múmias originais na minha frente me fizeram tremer de emoção e medo ao mesmo tempo. a coleção de tesouros do museu começou com francisco i que adquiriu muitos quadros italianos, inclusive a mona lisa, de leonardo da vinci. no louvre também está a vênus de milo, que data de século 2 a.c. são 8kms de galerias com milhares de trabalhos expostos, claro que eu e o daniel não conseguimos ver tudo, mas valeu a pena ver o que vimos. a nova entrada do louvre é uma pirâmide de vidro, de autoria de um arquiteto sino-americano, inaugurada em 1989. depois de algumas compras e um almoço próximo à basílica, descemos uma ladeira e chegamos ao moulin rouge, o bordel mais famoso do mundo, sempre tive curiosidade sobre a historia que contavam sobre esse lugar, finalmente pude conhecer o local. assistimos o famoso show com 60 dançarinas, mil fantasias e "french can can". a célebre dança parisiense nasceu neste local, que também foi imortalizado por toulouse lautrec, no quadro "bal du moulin rouge". -essas dançarinas não dançavam sem calcinha? -não acredito que você vai ficar reparando se elas usam calcinha ou não... -desculpa amor, foi só um comentário bobo. -tá bom, daniel. na volta para o hotel acabei me perdendo do daniel, com medo de me perder pela cidade resolvi voltar para o hotel e esperá-lo por lá, quando cheguei na recepção a recepcionista me parou para entregar algo: -pardon monsieur, une chose pour vous -pour moi? -oui. -qu’est-ce? -je ne sais pas. -voilà. merci beaucoup. -de rien. peguei o embrulho que esperava por mim na recepção, deixei para abrir no quarto do hotel, quando eu estava subindo as escadas comecei a sentir cólicas, aconteceu de repente, de uma hora pra outra comecei a ter diarréia, deveria ser alguma coisa que eu havia comido estragada, nem dei muita importância. após sair do “toillete” fui abrir o pacote que recebi, era um coração vermelho de pelúcia, com o perfume do daniel, no meio estava escrito “je t’aime”, que significa “te amo” em francês. não demorou muito e o daniel chegou, com um botão de rosa nas mãos. -gostou da surpresa? -e tem como não gostar das suas surpresas? -comprei isso aqui pra você guardar como recordação. -obrigado. no dia de voltarmos ao brasil, quase perdemos o avião, a culpa foi do daniel que inventou de pegar um ônibus até o aeroporto e mais uma vez ficamos perdidos. fomos os últimos a embarcar, dessa vez ele ficou na janela e eu no corredor. já era noite e todos no avião já dormiam, inclusive o daniel, sem despertar muita atenção

das pessoas me levantei e fui até o banheiro, não estava conseguindo dormir, lavei o rosto, enxuguei as mãos no papel e quando ia saindo levei um susto, ao destravar a porta o daniel já foi me empurrando com tudo pra dentro do banheiro, travou a porta e começou a me beijar. -eu sempre tive vontade de fazer amor no banheiro de avião... -mas... -vou me realizar com você... ele me fazia perder o juízo, eu ficava fora de mim quando ele vinha com aquela carinha de cachorro abandonado, bati 2 vezes a cabeça na parede tamanha era à força de suas pegadas, ele me beijava como se não me visse há anos, em menos de 5 minutos o daniel já havia tirado minha roupa e a dele também, começamos a pingar de suor, o ar condicionado não estava dando conta, transamos no canto da pia, naquele banheiro apertadinho, não podíamos gritar nem fazer muito barulho para não acordar os passageiros, nossos gemidos eram bem baixinhos, um seguido do outro, em ritmo lento e acelerado, ficamos em média meia hora fazendo amor, sexo, sacanagem. muito tesão, desejo, era uma mistura de sentimentos que me deixava louco, eu adorava essas fantasias muito malucas que ele tinha, era divertido e ao mesmo tempo dava muito tesão, a adrenalina subia a mil. deixamos o banheiro do avião discretamente, sem que fossemos notados voltamos para nossas poltronas e tentamos dormir, suados, ofegantes, exalando sexo. eu e daniel achamos em geral, as pessoas em paris, um pouco mal educadas, andam rápido e se fosse preciso passavam por cima da gente. não me senti seguro andando em paris, não sei por que, mas em várias situações nos pegamos sendo observados por pessoas estranhas, principalmente dentro de trens e metrôs. incrível, mas foi um dos lugares onde me senti mais inseguro. paris é uma cidade muito cara, fiquei impressionado, mas também pudera, paris é paris. ao desembarcarmos no aeroporto internacional de guarulhos, chamamos um táxi, daniel preferiu me acompanhar até em casa, eu estava ansioso, parecia que nunca chegávamos, não via a hora de rever minha “bebê”, ver minha mãe, meu pai... quando chegamos em casa fui logo telefonar para minha mãe: -alô? -alô... mãe? -oi meu filho, como você está? -to bem, mãe! acabei de voltar, como está minha “bebê”? -está aqui do meu lado. -põe o telefone no ouvido dela? -dani... dani... minha mãe colocou o telefone na orelha dela e comecei a chamar seu nome, ela reconheceu minha voz e começou a latir sem parar. -filho, ela chorou todas as noites olhando pela janela... -eu vou buscá-la hoje, mãe. meu braço já está curado e eu já posso dirigir. -tá bom meu filho, vou arrumar todas as coisinhas dela na malinha. -ok mãe, beijo. -outro! capítulo 6 deixei as malas em casa e desci para pegar o carro, pedi para que o daniel viesse comigo para apresentá-lo a minha família. -daniel, vou até a casa da minha mãe buscar a dani, vamos comigo? -até a casa da sua mãe? -É... quero te apresentar para minha família...

-sério? -sim, agora que eu sei que amo você... -nossa... eu vou sim, quero muito conhecer a família do meu... namorado. -do quê? -meu namorado. falei algo de errado? -estou surpreso, pois você nunca me pediu em namoro. -e precisa? você ainda tem dúvidas de que eu gosto demais de você? -não tenho mais. ele me puxou pela gola da camisa, me abraçou e começou a me beijar com muitos afagos, carinhos e calor, aquele movimento que ele fazia de me puxar pra junto do seu corpo e afastar, me fazia tremer, era difícil resistir ao charme do daniel. depois de aproximadamente dez minutos de beijos e apertões, descemos para pegar o carro. dessa vez eu fui dirigindo, meu braço já estava bem melhor. era encantador o jeito que ele me olhava, me tratava, me tocava, comecei a reparar que já não pensava mais no bruno, reparei que a ausência do daniel já era notável, estar com ele me fazia sentir bem, sem ele era como se algo faltasse em mim, principalmente quando ele me olhava com aquele olhinho de cachorro abandonado, ai eu não resistia, acho que isso se chama amor. -não vejo a hora de voltar para a academia. -você não está em condições de pegar peso ainda, mas eu posso montar para você uma série e acompanho todos os dias seu desempenho. -hum... vou adorar... -nossa... eu gosto tanto de você que às vezes chega até a doer. -eu também! -e se você me esquecer um dia? -não irei te esquecer, porque você é presente em minha vida e dela nunca mais vai sair. -você quer me fazer chorar? -veja... levei sua mão até meu coração, que palpitava só de ouvir sua voz. -nossa... por que isso? -basta ouvir sua voz para ele ficar assim... como posso esquecer de alguém se ele me lembra todo dia de você? -primeira vez que você se declara... -e também é a primeira vez que eu digo que te amo! fiquei emocionado ao ver seus olhos cheios de lágrimas, na hora seu rosto se abriu uma luz, ele não conseguia conter sua alegria e começou a gritar pela janela, com metade do corpo pra fora, os carros passavam e buzinavam, eu tentava puxá-lo pra dentro outra vez, mas ele queria dizer a todo mundo sobre nosso amor... -se você soubesse o quanto eu sonhei em ouvir isso de você... mas dizer que te amo eu já disse, agora preciso dizer a todo mundo... bader... te amo... te amo... -pára com isso, você vai cair aí... -eu já caí de amor por você há muito tempo... ele abriu o teto solar do carro e ia subindo quando eu o puxei: -chega, você já gritou o quanto você quis, senta ai e põe o cinto antes que eu leve uma multa. -desculpa, amor! liguei o rádio e começou a tocar “lá vem o alemão”, aumentei o rádio e começamos a cantar juntos, com os vidros abertos, os carros ao lado passavam por nós e dava pra ver que as pessoas gostavam e cantavam conosco, alguns buzinavam também, é incrível como existem coisas em nossas vidas que ficam marcadas para sempre, pode ser uma música, um perfume, uma peça de roupa, uma foto ou até mesmo uma data, o que importa é as boas lembranças que a vida nos trás e a

saudade que ela deixa. -subiu a serra, me deixou no boqueirão, arrancou meu coração depois desapareceu... -fiquei na merda, nas areias do destino... -olha aquele carro ali... -o que tem? -repara que eles estão cantando com a gente... -É verdade... chegamos na casa da minha mãe, buzinei na porta e escutava a dani latir sem parar, ela deve ter reconhecido meu cheiro, os cães tem esse sentido bem aguçado, incrível. minha mãe abriu a porta e a dani passou por baixo das pernas dela, pulando dentro do carro pela janela, a coitada até chorava de felicidade em me ver. -isso que é amor, hein... -estava com saudade do papai? -filho, ela olhava pra lua toda noite e ficava chorando... -ah mãe, é que eu falo sempre pra ela que se eu não estiver por perto é só olhar pra lua que eu me torno presente, a dani é muito inteligente. -vamos entrar, filho... -mãe, deixa eu te apresentar o daniel... -prazer, daniel... -prazer, vivian. espero que você faça meu filho feliz e não o faça chorar como o de antes. -se depender de mim, as lágrimas que seu filho derramar serão somente de felicidade. pelo visto, o daniel ia se dar muito bem com minha família, pois já estava se sentindo em casa, entramos para tomar um café e conversar um pouco, além de matar a saudade que eu estava de todos eles. sentamos no sofá da sala, peguei na mão do daniel e abracei a dani, ele ficou um pouco envergonhado no começo, mas depois viu que meus pais viam com naturalidade e foi se soltando. -boa noite... -boa noite. você que é o daniel? -sim. -eu sou felipe, pai do bader. -prazer, senhor felipe. -pode continuar sentado. -ok. -o que você faz da vida? -eu sou professor de educação física. nessa hora meu irmão rodrigo chegou junto com a noiva dele, a millena. o rodrigo sempre teve bom gosto para suas namoradas, tá certo que cada mês era uma que ele arrumava, mas confesso que ele sempre soube escolher mulher. ele e millena já estavam namorando há 3 anos, e noivos há 2, só a millena conseguiu segurar as rédeas do rodrigo, o que deixou minha mãe feliz da vida. ela era uma mulher muito simpática, cabelos acobreados todo repicado, fazia faculdade de fisioterapia, olhos verdes, muito inteligente, corpo muito bem cuidado, já morou fora do país, uma pessoa bonita em todos os sentidos. -boa noite... bader, quanto tempo... -millena... tudo bem? beleza rodrigo? -firmão cara... -bader me conte, como foi em paris? -foi ótimo, millena. visitamos aquele restaurante que você sugeriu perto da basílica, é maravilhoso, fomos também ao moulin rouge! -É assim rodrigo?

-desculpa amor... você sabe que só tenho olhos pra você... -depois conversamos sobre isso... -bem que você poderia dançar assim pra mim, né? -hahaha... -e versailles, você foi conhecer? -mas é claro, simplesmente linda! -estava muito frio por lá? -estava razoável, eu adorei. -quando eu fui era verão, um calor insuportável, mas não perdeu o charme daquelas cidades lindas. -deixa eu te apresentar o daniel... amor, essa é a millena, noiva do meu irmão. -prazer, millena! -prazer, sou o daniel! -você tem bom gosto, bader. parabéns. -valeu. -bader, temos uma novidade pra você... -qual? -eu e seu irmão já temos data marcada para o casamento. -que bacana, já estava na hora mesmo. -então... pensamos em chamar você e o daniel pra serem nossos padrinhos... -nós? -É... claro que terão mais, né. -o que acontece é que a millena adora o bader e morreria se ele não fosse padrinho dela. -falou tudo, amor. -por mim, beleza. -e então, bader? -eu topo também. meu pai foi buscar um espumante na cozinha e trouxe para comemorarmos, procuramos não beber muito, pois ainda íamos pegar a estrada pra voltar. enquanto todos brindavam, daniel me levou até o canto e falou no meu ouvido: -muito legal sua família, gostaria que a minha fosse assim... -eles são uma comédia... pode considerar sua também. -vamos brindar, eu e você? -pra quê? -brindar o nosso amor, quer motivo maior? começamos a nos beijar na sacada da sala, era noite de verão, na rua crianças brincavam, adultos conversavam, enquanto eu e daniel nos beijávamos no escurinho. sempre me achei um cara de sorte por ter a família que eu tinha, sempre me apoiando e me dando força quando precisava. ficamos por mais uns quarenta minutos conversando na sala, meu pai e o daniel já ficaram amigos, meu pai começou a contar sobre suas aventuras na aeronáutica, e o daniel também já serviu a aeronáutica, parece que seu pai e meu pai serviram juntos, chegaram até a jogar bola no mesmo time de várzea, assunto era o que faltava entre os dois, mas já estava ficando tarde e tive que interromper: -pai, precisamos ir. -mas já? -dorme aqui, filho. -não mãe, quero a minha cama, minha casa. -ah que pena... -mas nós voltamos outro dia, ou vocês vão nos visitar em são paulo... -mas eu vou sim bader, pode deixar. -vou te esperar millena.

nos despedimos de todos, e viemos embora, só faltou o pedro que havia ido acampar com uns amigos. na volta pra casa, fomos conversando sobre o assunto de sermos padrinhos do casamento, de início eu fiquei surpreso, mas depois passei a amar a idéia, já o daniel ficou empolgadíssimo. -adorei ter conhecido sua família... -pelo que vi, eles te adoraram também. -o que me deixou feliz foi ver que eles aceitam nosso relacionamento com muita naturalidade. -desde adolescente meus pais sabem sobre mim, nunca me trataram diferente dos outros irmãos, eles são pessoas livres de preconceito. quando contei para minha mãe que era homossexual, ela estava costurando uma camisa minha antes de eu ir pra escola, aquele segredo já estava me sufocando e cheguei pra ela já desabafando, contei que era gay e ela perguntou: e...? claro que estranhei, aí ela me sentou na cadeira da cozinha, olhou nos meus olhos e disse: homossexual não ama? não respira? não chora? não sofre? onde está a diferença? você saiu daqui de dentro, eu sofri pra ter você, passei nove meses esperando pra ver sua carinha, ouvir seu choro, esperei um ano pra ouvir você dizer “mamãe”, passava noites em claro cuidando das suas cólicas... acha mesmo que eu seria capaz de deixar de amá-lo por isso? -nossa... sua mãe é demais, pena que a minha não é assim. -o lado homossexual que é mostrado por aí não condiz com nossa realidade, ser homossexual não quer dizer que eu vá querer me vestir de mulher, usar batom, colocar peito, não é isso... -É verdade. -nós somos homens comuns, iguais a outros homens, somente temos preferência por homens, mas nada interfere em nossa personalidade ou capacidade de sermos o que somos. -É, eu sei muito bem como é, também pensava assim. a visão quando se está dentro é bem diferente da que vemos de fora. mas eu não gosto de homens, gosto só de você... parados na rua do condomínio do daniel demos um longo beijo, nos despedimos e depois segui para minha casa, cansado e com fome. ao chegar em casa a dani foi cheirar todos os cantos, coloquei as coisas dela em um dos quartos e fui desfazer minhas malas, tirei todas as roupas e coloquei sobre a cama, depois fui tomar um banho com os cosméticos que trouxe da frança, hum... cada coisa boa... após o banho, fiz uma salada de alface americana com tomate e um suco de abacaxi. peguei o prato e o copo, fui jantar na sala de frente para a tv, quando entrei na sala comecei a sentir frio, o mais estranho era que a noite estava quente, nem havia dado tempo de abrir as janelas ainda, levei a mão à testa e notei que estava com febre, tomei um remédio para baixar a febre e fui jantar. depois de jantar, fui até a cozinha e coloquei a louça dentro da lavadora, deixei-a se encarregando da lavagem enquanto fui escovar os dentes, depois vesti uma cueca samba canção e fui ver tv, fiquei deitado na sala assistindo um documentário até o telefone tocar: -alô? -alô, bader... -oi dani... -não me chame de dani, se não vou pensar que está falando com a cachorra... -hahaha... desculpa amor... -o que você está fazendo aí de bom? -eu jantei há pouco tempo e fiquei aqui vendo um pouco de tv. -você está com a voz um pouco rouca... -eu não sei o que está acontecendo, do nada fiquei com febre, agora estou ficando rouco.

-deve ser a diferença de temperatura, lá estava tão friozinho... -deve ser, e você o que estava fazendo? -eu estava passando pro computador as fotos que tiramos, ficaram lindas. -as que tirei com minha máquina eu passo amanhã, não vou trabalhar mesmo... -pode deixar que depois eu te mando em cd, me acabei de rir com o vídeo que gravamos em versailles... -hahaha... deve ter ficado engraçado. -ficou demais, amanhã eu vou até aí para supervisionar seus exercícios. -hum... vou esperar ansiosamente... -nos vemos amanhã então. -beijão. -te amo. -"moi aussi." depois de desligar o telefone, desliguei a tv e fui dormir, acabei dormindo em outro quarto, porque as roupas da viagem estavam todas sobre minha cama e acabei ficando com preguiça de tirar. durante a noite inteira eu passei mal, tive febre outra vez, levantei para ir ao banheiro e estava mais uma vez com diarréia, senti fraqueza ao levantar da cama, me olhei no espelho e me achei um pouco abatido, quando ia me deitando outra vez comecei a sentir ânsia de vômito, corri para o banheiro, ajoelhei próximo ao vaso e tentei vomitar, mas não consegui, era uma sensação horrível, meu corpo estava dolorido, um mal estar vinha me consumindo cada vez mais, a febre não baixava, troquei de roupa, desci até a garagem e peguei o carro para ir a uma farmácia 24 horas comprar outro remédio para febre e um para diarréia. só não entendi o por que disso tão de repente, será que eu comi alguma coisa que me fez mal? mas o daniel e eu comemos a mesma coisa e só em mim deu problema, o melhor a fazer era ir ao médico mesmo. capítulo 7 na manhã seguinte, acordei cedo e fui preparar o café, coloquei uma toalha branca na mesa como de costume, capuccino, brioches, pão de queijo, suco de maracujá, salada de frutas, barras de cereal, enfim, como todos os dias eu fazia. depois de tomar café, fui passar as fotos da câmera para o computador, realmente ficaram lindas, tinha uma que o daniel estava abraçado comigo no castelo de versalles, de rostinho coladinho com o meu, ficou tão linda que mandei fazer um pôster para presenteá-lo, também imprimi para colocar no porta-retrato e transformei em papel de parede do meu micro. lá pelas 9:00h o daniel chegou, como o porteiro já o conhecia permitia que ele subisse sem problemas, fui atender à porta e como sempre ele trouxe algo para me agradar, uma caixa de bombons de chocolate com licor. -bom dia, amor!p -bom dia! -trouxe isso aqui pra você... e isso também... -o que é isso? -um cd. -jura?... que é um cd eu sei, quero saber o que tem nesse cd. -coloca lá no dvd que você vai ver... coloquei a caixa de bombom sobre a mesa e fui ver o que tinha no cd que ele me trouxe, a capa do cd era nossa foto e de fundo a torre eiffel, muito linda a montagem. liguei o dvd e sentei no sofá, ele deitou no meu colo, começou a tocar uma música e um céu foi se abrindo na frente da tv, de fundo veio surgindo nossa foto, depois a foto se desfazia e vinha um poema que ele fez pra mim, só de ouvir a

música comecei a me emocionar, depois foram passando varias fotos nossas da viagem, correndo pelas ruas, provando chapeis nas bancas da rua, em frente à torre eiffel, tudo era lindo, as dedicatórias que ele fez nas fotos ficaram perfeitas, o slide terminava com uma foto onde nos beijávamos e de fundo o pôr-do-sol decorava o cenário de amor. -gostou? -amei! só você mesmo... -agora vamos lá fazer uns exercícios, afasta essa mesinha daqui e deite aí no tapete. -sim... -agora eu vou segurar seus pés, você vai cruzar os braços de forma que suas mãos fiquem no seu ombro... -assim? -perfeito. agora você vai subir e descer 30 vezes sem parar... -ok. começamos com a abdominal, daniel segurava meus pés enquanto eu me exercitava, de frente pra mim ele acompanhava a série de exercícios, a cada vez que eu subia dava um selinho nele, desse jeito eu iria querer fazer exercícios com ele todos os dias, quando completei as séries, ele segurou minha cabeça, trouxe pra junto da dele e ficamos ali na sala nos beijando por uns 5 minutos, até ele me deitar no tapete, olhar dentro dos meus olhos e deitar seu corpo coberto de músculos por cima do meu, me prendendo no tapete da sala de maneira que só sairia dali quando ele deixasse. eu ainda estava de pijama, ele estava de bermuda e regata branca, pelo que senti, ele parecia estar sem cueca, com uma bermuda vermelha estilo surfista, suas pegadas fortes exploravam meu corpo como um terreno desconhecido, ele levou sua mão por baixo da minha camiseta e ia acariciando parte por parte do meu corpo, minha pele ficava arrepiada quando sentia sua mão com calos alisar minha pele lisa, com o roçar do seu corpo no meu ele ia tirando sua bermuda, que depois de desabotoada saiu facilmente, confirmando a minha suspeita de que ele estaria sem cueca. com os dentes ele foi arrancando meu short, me deixando totalmente nu, sua respiração já estava ofegante, se misturando com a minha que seguia em ritmos desordenados, o suor que corria pelos nossos corpos era uma mistura de tesão e desejo, com uma pitada de prazer, aquelas coxas grossas com pelos serrados se esfregavam na minha, com os dois corpos totalmente nus ele me pegou no colo e me levou para o quarto, com o pé daniel fechou a porta que estava aberta e me colocou na cama, o vento soprava pela janela, confundindo com sua respiração. as mordidas na orelha que ele me dava me faziam viajar, gemidos de prazer, arranhões, lambidas na orelha, chupadas no pescoço, no mamilo, muito tesão, sussurrando no meu ouvido varias vezes "te amo"... passamos a manhã inteira no quarto, nos curtindo, nos amando, adormecemos agarradinhos, pele com pele, no lençol ficou a mistura do nosso perfume com nosso suor, foi lindo, gostoso, acho que agora eu sei o que significa "fazer amor". acordei quase 13:00h, levantei delicadamente para não acordá-lo e fui tomar banho, encostei a porta do banheiro e deixei a do box aberta, de olhos fechados eu deixava a água cair sobre meu rosto, não demorou muito e o daniel entrou no banheiro. -banho... e nem me chamou... -você estava dormindo tão gostoso... -gostoso é estar com você, sentir você, beijar você, tocar você, tomar banho com você... ele ia falando e chegando mais perto de mim, entrou no box e fechou a porta, me prendeu na parede me deixando indefeso, sob seu poder, tomando posse do meu corpo e do meu coração: -está querendo fugir de mim?

-imagine... to gostando muito de você, te amo cada dia mais... -eu também te amo. -tenho medo que esse sonho acabe... -mas não vai acabar, confie em mim. o que eu sentia pelo bruno era diferente do que o que eu sentia pelo daniel, agora eu consigo perceber que o que eu sentia pelo bruno não era amor, era apenas uma paixão, uma ilusão, sendo meu primeiro namorado, primeira paixão, acabei me iludindo, mas não me arrependo, foi importante para meu amadurecimento e crescimento como pessoa. meses se passaram, eu e daniel já íamos comemorar 6 meses de namoro, como passou rápido, a cada dia que passava mais eu o amava, parecia um sonho, nos entendíamos em todos os sentidos, nunca havíamos brigado, às vezes eu me perguntava se merecia tanto, meu único medo era que aquela história de amor por algum motivo um dia viesse acabar. conheci o daniel em uma ocasião muito louca, não sei se é obra do destino, não acreditava nessas coisas, só sei que aquele jeitinho dele me olhar fazia meu coração disparar, aquele olhar de cachorro abandonado, sorriso perfeito, lábios carnudos e safados, com seus 187 cm de altura preenchia minha cama e minha vida, tapando os buracos deixados pelo passado. no dia em que estávamos comemorando o aniversário de 6 meses de namoro havíamos marcado de jantar fora, o daniel ficou encarregado de escolher o lugar, como ele sempre teve muito bom gosto para esse tipo de ocasiões, preferi deixar por conta dele. durante o dia eu fui ao shopping comprar um presente e roupa nova para jantar com meu "petit" (era assim que ele me chamava). comprei calça, camisa, sapato, cinto, tudo novo, e de presente eu comprei um pingente de ouro branco com brilhante, era um ideograma japonês que significava "amor". antes de o daniel chegar, ele estava em seu quarto se preparando para passar em casa quando sua mãe entrou no quarto furiosa: -daniel... -fala, mãe... -quem é bader de que você tanto fala? -meu amigo, por quê? -amigo que beija na boca? -do que a senhora está falando? -estou falando dessa foto... ela jogou uma foto em que estávamos abraçados no louvre, na nossa viagem à frança, atrás havia uma dedicatória minha pra ele. -o que há de errado com essa foto? -eu não acredito, deixa de ser falso, eu não quero ter um filho bicha. -olha como a senhora fala comigo. -então olhe você as companhias com quem anda saindo. -não fale assim do bader, eu sei muito bem com quem eu saio. ela sentou na beira da cama e começou a chorar, com a mão no rosto ela lamentava: -por que isso tinha que acontecer comigo? -mas eu continuo sendo o mesmo daniel de sempre... -só falta você me dizer agora que quer meus brincos emprestados... -já chega, mãe. o fato de estar amando um homem não me faz menos homem do que qualquer outro. não tenho intenção de usar colares, pulseiras, pôr silicone e nem cortar meu pinto... -me respeite, daniel. -me respeite a senhora que chega invadindo meu quarto dessa maneira como se tivesse algum poder sobre minha vida, eu estou feliz com meu corpo, continuo sendo

o mesmo daniel de antes, só que amando um outro homem. -você acha fácil pra uma mãe abrir uma pasta no computador e encontrar um monte de fotos do único filho dela beijando outro homem? e depois encontrar uma foto com uma dedicatória de amor? -mãe... -meu sonho era ser avó, quem vai herdar os patrimônios que seu pai deixou? -eu vou herdar. -quem vai dar continuidade ao nome da família? -chega mãe, deixe de ser egoísta. o tempo todo você só pensou em você... -mas daniel... -e eu? meu coração? meus sentimentos? eu a-m-o o bader, minha vida sem ele já não tem mais sentido... -o que a sociedade vai dizer... -foda-se o que a sociedade vai dizer, eles não tem o que dizer, enquanto tivermos dinheiro para freqüentar os mesmos lugares que eles, seremos tratados como "gente deles". não tenho motivos pra esconder de ninguém os meus sentimentos. -mas meu filho, é pecado... -o que é pecado? quem disse que é pecado? -o padre disse na missa que... -ah... o padre... a igreja... a mesma igreja que no século retrasado dizia que negros não eram filhos de deus? a mesma igreja que pede dinheiro na missa? que matava as pessoas na santa inquisição? -bader... -onde que deus diz que é pecado amar? se homossexualidade não fosse coisa de deus, ninguém nasceria estéril, já que a filosofia da igreja é que o sexo só serve para procriar. mãe, eu quero que a senhora entenda uma coisa: assim como a senhora ama sua mãe eu amo o bader, e por a senhora amar sua mãe não é considerada homossexual, só porque ela é sua mãe, mas tem o mesmo sexo. -o que isso tem haver? -nada... não tem nada haver, só quis dar o exemplo de que você não pede para amar uma especifica pessoa ou sexo, isso é um preconceito social, alguém disse que isso era certo e outro alguém obedeceu. -pelo menos eu vou poder conhecer esse seu... -namorado. vou conversar com ele, o bader é um cara legal e vai gostar de conhecer a sogra dele, assim como eu adorei conhecer a minha. -você já conhece a mãe dele? -não só a mãe, mas também o pai, irmão e a cunhada, fui até convidado para ser um dos padrinhos do casamento do irmão mais velho dele. -eles sabem que vocês dois tem um caso? -não sou homem de casos, eles sabem que nós namoramos sim, e dão o maior apoio. agora estou de saída, tchau. claro que não é fácil para uma mãe saber que o filho é gay, apesar do mundo estar moderno, ainda existem pessoas conservadoras, preconceituosas, racistas, pessoas que vão passar o resto da vida com a mesma filosofia, mente fechada para as mudanças que o mundo sofre. daniel pegou a foto da mão de sua mãe, colocou em um quadro ao lado de sua cama, deu um beijo na testa dela e saiu. capítulo 8 tomei banho, passei meu perfume pra ficar cheirosinho, vesti roupa nova e fiquei na sala esperando o daniel ir me buscar, ansioso para ver aquele rostinho inocente que ele tinha. quando eram quase 21h a campainha tocou, fui atender correndo, eu

já quase nem tinha mais unha de tanto que roí, ao abrir a porta ele entrou com tudo me beijando, prendeu meu corpo junto a estante da sala, eu adorava quando ele fazia isso, seus beijos eram selvagens, quentes, mas ao mesmo tempo carinhoso, às vezes ele fazia um estilo cafajeste que me levava à loucura. -como você está cheiroso... -estou cheiroso pra você! -mas você já é cheiroso sem passar perfume... -te amo, sabia? -eu também te amo, "petit"! vamos? -sim. fui pegar minha carteira que estava no criado-mudo do meu quarto, daniel abriu a porta da sala e ficou segurando até eu sair, sempre gentil comigo e com todo mundo, isso era mais um de seus encantos. fomos até o estacionamento de visitantes do condomínio onde ele havia estacionado seu carro, entramos na caminhonete preta dele e seguimos pelas ruas de são paulo, com os vidros do carro fechado em uma noite quente, liguei o ar-condicionado: -nossa... tá muito calor, vou ligar o ar... -por favor... -sabe que eu adoro essa parte da cidade? -eu também gosto muito do centro à noite, pena que não se pode arriscar muito andando por essas ruas... -olha essa vista do municipal... -vamos tirar uma foto? -eu não estou com a câmera aqui. -deixa que eu tiro do celular... -vou parar o carro. daniel parou o carro em frente ao teatro municipal e tiramos uma foto com o teatro de fundo, apesar de ser pelo celular a resolução ficou ótima. as ruas estavam vazias e haviam alguns casais de namorados passeando de mãos dadas, deveria estar tendo algum evento no municipal, pois havia uns canhões de luz na porta, tapete vermelho e uns seguranças, às vezes batia uma brisa fresca, mas a noite continuava quente. entramos no carro e seguimos para o lugar onde iríamos comemorar nosso aniversário de namoro, deixei que ele escolhesse, não dei palpite em nada porque sabia que o daniel tinha bom gosto. chegamos ao lugar onde ele havia programado me levar, era uma espécie de bar/restaurante com música ao vivo, o lugar que ele escolheu era muito agradável, sofisticado e a comida era ótima, muita gente bonita e os funcionários bastante simpáticos. -boa noite! -boa noite. eu tenho uma mesa reservada em nome de daniel marzin. -podem me acompanhar. -obrigado. fomos acompanhando o garçom até chegar na mesa reservada para nós, caminhando entre as mesas eu ia observando o lugar, notei que o pessoal que freqüentava o local era um público jovem e bonito, a decoração era em estilo rústico/moderno, havia mesas para duas, quatro, seis e oito pessoas, a mesa que estava reservada para nós estava bem no canto, uma vela em cima da mesa que boiava sobre um recipiente com água, a música que tocava era ambiente, uma garota muito talentosa cantava “teto de vidro” da pitty. -gostou do lugar? -adorei, você sempre tem bom gosto... -e você é minha inspiração. ele tocou na minha mão e olhou no meu olho, respirei fundo e fechei os olhos, os carinhos que ele fazia na minha mão me faziam relaxar, me apaixonar, nossa relação

era aquele tipo de "amor perfeito", tudo lindo, tudo perfeito. no jantar comemos pato ao molho de manga, confesso que no começo quando ele disse "pato ao molho de manga" eu fiz uma careta, mas quando eu comi comprovei o quanto era bom, e que meu amor como sempre, acertou. no decorrer do jantar conversamos sobre nossas vidas, planos para o futuro. antes de acabar o jantar, ele se levantou e disse que voltaria logo, fiquei aguardando sentado na mesa terminando de comer meu bolo de chocolate, de repente a música parou de tocar, uma voz começou a falar no microfone e quando olhei para o palco, o daniel estava sentado no lugar da garota com um violão na mão se declarando pra mim, no telão passava nosso vídeo de paris: -já volto. -tudo bem. -boa noite a todos! bem... hoje estou comemorando 6 meses de namoro, 6 meses de felicidade e alegrias. conhecer você bader, foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida, o amor que sinto por você é tão grande que às vezes até dói, com você eu quero viver pra sempre. em nome de todo esse amor que sinto por você, eu vou cantar uma música dedicada a você. eu fiquei sem reação na hora, pra mim só iria ter o jantar, ele pegou o violão e começou a tocar olhando pra mim, às vezes fechava os olhos e parecia tirar a música do fundo do coração, cantava com a alma, uma verdadeira declaração de amor. -“eu e você. não é assim tão complicado não é difícil perceber quem de nós dois vai dizer que é impossível o amor acontecer se eu disser que já nem sinto nada que a estrada sem você é mais segura eu sei você vai rir da minha cara eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar teu sorriso é só disfarce e eu já nem preciso sinto dizer que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar entre nós dois não cabe mais nenhum segredo além do que já combinamos no vão das coisas que a gente disse não cabe mais sermos somente amigos e quando eu falo que eu já nem quero a frase fica pelo avesso meio na contramão e quando finjo que esqueço eu não esqueci nada e cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais e te perder de vista assim é ruim demais e é por isso que atravesso o teu futuro e faço das lembranças um lugar seguro não é que eu queira reviver nenhum passado nem revirar um sentimento revirado mas toda vez que eu procuro uma saída acabo entrando sem querer na tua vida eu procurei

qualquer desculpa pra não te encarar para não dizer de novo e sempre a mesma coisa falar só por falar que eu já não to nem aí pra essa conversa que a história de nós dois não me interessa se eu tento esconder meias verdades você conhece o meu sorriso lê no meu olhar meu sorriso é só disfarce por que eu já nem preciso e cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais e te perder de vista assim é ruim demais e é por isso que atravesso o teu futuro e faço das lembranças um lugar seguro não é que eu queira reviver nenhum passado nem revirar um sentimento revirado mas toda vez que eu procuro uma saída acabo entrando sem querer na tua vida.” composição: dudu falcão essa música tinha tudo haver com nossa história, acabou virando “nossa” música, o ambiente todo começou a cantar junto com ele, os casais se abraçavam e trocavam carícias, enquanto isso eu tentava conter minhas lágrimas, mas foi impossível não se emocionar, só vivendo uma situação assim para saber como é a sensação de receber uma declaração de amor em público, pra se fazer algo assim tem que amar muito a outra pessoa, pois eu achei uma verdadeira loucura. depois de cantar a música ele foi aplaudido de pé por todos, pelo visto todos adoraram, até o pessoal da cozinha foi ouvir ele cantar, meu coração disparou quando o vi se dirigindo até a mesa onde eu estava, havia uma garota na mesa ao lado da nossa que estava com seu namorado que olhou pra mim e disse: -parabéns pelo namoro e pelo namorado... -obrigado. o daniel parou na minha frente, pediu para que eu fechasse os olhos e colocou uma venda em meus olhos, pegou pela minha mão e foi me conduzindo, no começo fiquei com medo, não sabia o que ele iria fazer colocando aquela venda nos meus olhos, mas confiei nele e permiti, fui caminhando de mãos dadas com ele até o carro, eu perguntei onde estávamos indo e ele falou que era segredo. fiquei um bom tempo andando de carro sem ver nada, quando já estava quase tirando a venda senti o carro parar, ele segurou minha mão e pediu para que eu não estragasse a surpresa que ele havia preparado pra mim tirando a venda, então acabei deixando a venda onde estava e ele foi me conduzindo, deixei o carro, o local tinha eco, deveria ser uma garagem, subi alguns degraus tropeçando, depois um silêncio tomou conta do ambiente que foi quebrado por um barulho de porta sendo fechada, foi quando ele disse para eu tirar a venda: -já pode tirar... -mas está escuro... estava tudo escuro, quando ele acendeu a luz meus olhos brilharam, eu estava dentro de um quarto de motel, sobre a cama havia um urso de pelúcia enorme branco com um laço vermelho no pescoço, era maior que eu, havia espalhado por todos os cantos pétalas de rosas vermelhas, no chão, na cama, até no banheiro,

dentro da banheira havia algumas velas aromáticas boiando na água e pétalas de rosas vermelhas misturadas com amarelas, aquele ambiente um pouco escuro, apenas iluminado pelas velas que decoravam o lugar e algumas luzes decorativas, um quarto bem sofisticado, a cama era enorme, lençóis brancos, quatro travesseiros, no banheiro tinha dois roupões de banho, chinelo, escova de dente e outros produtos de higiene pessoal. -gostou? -nossa... adorei... -você que fez tudo isso? -não, mas contratei alguém para deixar do jeito que eu queria... -ficou lindo. -lindo é você. começamos a nos beijar, abraçados eu já podia sentir as batidas do seu coração, seu braço atravessou minhas costas aproximando mais ainda meu corpo do seu, sobre aqueles lençóis brancos em contraste com o vermelho das pétalas nos deitamos. -petit, eu te amo tanto que às vezes chega até a doer meu peito. -só de pensar em ficar longe de você um dia eu tremo, não consigo mais viver minha vida sem você, meu futuro é você comigo. deitamos naquela cama já em brasa, o clima foi esquentando, de corpos nus tocávamos calor humano, já não conseguíamos distinguir o que era gemido de dor e de prazer, pois os dois se fundiram tornando-se uma coisa só, um corpo apenas, um repasse de energias que se transformavam em combustível que aumentava nosso tesão, seu corpo gelado e suado se arrepiava quando sentia minha língua explorá-lo, aquela sua mão grande puxava meu cabelo com cuidado para não me machucar, em movimentos desordenados, às vezes ele tremia quando sentia uma “fisgada”, fizemos amor gostoso, sexo selvagem, seu corpo coberto de pelos serrados esfregava no meu corpo liso, transamos na cama, no chão, na hidromassagem, sem intervalos até o amanhecer. o daniel tinha muito fogo, se deixasse ele conseguia seis, sete em uma noite, além de fogoso ele era gostoso, por sermos jovens acho que contribuía muito, juntando seu fogo com o meu nos tornávamos uma fogueira impossível de apagar. capítulo 9 no começo da manhã, abraçado junto a mim ele me contou que sua mãe havia descoberto tudo sobre nós: -tenho uma coisa pra te contar... -o quê? -minha mãe descobriu tudo sobre nós ontem... -mas como? -ela abriu uma pasta no computador onde eu tinha guardado nossas fotos e... -viu a foto do nosso beijo. -É... depois ela foi vasculhar minhas coisas e encontrou uma foto nossa onde você fez uma dedicatória para mim. -caramba... e agora? -tive que contar a verdade, ela chorou no começo, mas depois teve que respeitar. -será que ela aceitou numa boa? -se aceitou eu não sei, ninguém é obrigado a aceitar a homossexualidade, mas é uma obrigação respeitar. -isso é verdade. -ela disse que quer te conhecer...

-quê? ta louco? -eu? no caso quem está louca é ela... o melhor disso tudo, é que agora eu não vou precisar mais me esconder de ninguém. -espero que ela tenha mesmo entendido numa boa. -hoje eu te levo lá pra conhecê-la. -tá bom. saímos de lá em direção a casa dele, eu estava com um pouco de receio em conhecer a minha sogra, e se ela não gostasse de mim? fiquei com receio do que estava por vir, nem toda família encara uma situação dessa como a minha encarou, o medo se remoia dentro de mim, quando ele disse: -chegamos. pronto, fiquei com o coração quase saltando pela boca, minhas pernas tremiam, meus lábios secaram, saímos do carro e paramos em frente a casa, era uma casa bonita, moderna, 3 andares, ficava dentro de um condomínio de luxo na zona sul de são paulo, o daniel parecia mesmo ter vindo de uma família de classe média alta. entramos na casa que por sinal era linda, na sala havia muitos retratos espalhados pela parede de paisagens, viagens de família, uma estante de madeira cobria um lado inteiro da parede, uma mesa de vidro, um tapete chinês enorme cobria todo o chão da sala, tudo decorado com muito bom gosto, principalmente uma cristaleira que tinha na sala de jantar com um espelho enorme. -sente aí no sofá que vou chamá-la... -ok! sentei no sofá e avistei a mãe dele descendo as escadas, era uma senhora de nariz empinado, cabelos presos, lisos e pretos, com pose de superior, olhos verdes, parecia olhar as pessoas "de cima", porém era uma mulher muito elegante e viajada. -então você é o bader... -sim, prazer. -marisa. meu filho me falou muito de você... -sério? -É... desejo felicidades a vocês, espero que volte mais vezes. sentados no sofá, daniel me abraçou, notei que sua mãe não gostou nem um pouco de presenciar aquela cena, eu fiquei um pouco constrangido ao ver à reação dela. -voltarei sim, pode deixar. -daniel é meu filho único, quero a felicidade dele. -disso não tenho dúvidas. -eu disse a você que minha mãe era uma pessoa legal... -pare com isso, daniel. você aceita um café, bader? -não bebo café. -um suco? -pode ser. -luana... traga um suco para o rapaz. luana era a empregada da casa, uma mulher um pouco tímida, deveria ter em média 168cm, branquinha, parecia ser uma boa pessoa. -você trabalha com o que, bader? -eu trabalho com publicidade e propaganda. -meu sonho era ver o daniel na aeronáutica como o pai dele, e não entendo essa vidinha de academia que ele leva. -não fale assim, mãe. eu faço o que eu gosto. -você mora com seus pais, bader? -não, moramos eu e minha cachorra dani. conversamos bastante aquele dia, almoçamos juntos e depois o daniel me levou para casa. a mãe dele até que era uma pessoa legal, tinha lá seus defeitos, mas

quem sou eu para julgar. cheguei em casa e fui dar comida pra dani, me olhei no espelho e achei meus olhos um pouco fundos, subi na balança que tinha no lavabo e vi que tinha emagrecido 4 quilos, era estranho porque eu havia voltado à rotina de sempre, será que eu estava com anemia? não dei muita importância e fui colocar algumas roupas na máquina pra lavar, programei a lavadora e fui beber um copo d'água, quando levei a mão na testa notei que estava com febre, será que foi a comida daquele restaurante? lembro que há 6 meses atrás aconteceu a mesma coisa, fui para o banheiro e comecei a tirar a roupa para tomar um banho frio, passei a ter cólicas e diarréia, dessa vez eu estava evacuando com sangue. fiquei preocupado, terminei meu banho e fui até o hospital, muito preocupado com o que estava acontecendo. quando aconteceu da primeira vez eu fiquei de ir ao médico e acabei deixando passar, agora voltou a acontecer, eu devo ser alérgico a algum tempero ou tipo de comida. cheguei na recepção do pronto socorro e não havia ninguém na sala de espera, a recepcionista pegou minha carteirinha de titular junto com o rg e pediu para eu aguardar na sala de espera, não demorou muito e ela foi me devolver os documentos. fiquei vendo tv na sala de espera até ouvir o médico me chamar, entrei na sala com um pouco de receio, sempre tive receio de hospital, aquele cheiro de álcool, iodo, barulho de ambulância... -pode se sentar... o que acontece, bader? expliquei o que tinha acontecido para o médico, em uma folha com letras verdes ele ia anotando tudo, depois me fez uma série de perguntas íntimas que eu não gostei muito, mas respondi, depois ele se levantou, puxou um papel para cobrir a maca e pediu para que eu deitasse de lado para me examinar. -pode baixar a calça, cueca e deitar na maca pra eu examinar... vou buscar uma luva e já volto. enquanto ele saiu eu deitei na maca do jeito que ele pediu, dava pra escutar alguém chorando no andar de cima, não consegui distinguir se era uma criança ou uma mulher, às vezes parava, e voltava outra vez. o médico entrou na sala e trancou a porta, pediu para eu ficar em uma posição que desse para ele examinar. -eu já sei o que é... -o que é? capítulo 10 -pode se vestir... você está com hpv. quando ele disse que eu estava com hpv minhas pernas tremeram, comecei a tremer todo, ranger os dentes, como eu peguei esse tal de hpv? eu e daniel nunca transamos sem preservativo, antes dele eu só me relacionei com o bruno... será que... não pode ser. -o que é hpv, doutor? - hpv é a abreviatura de "human papilomavírus", o que significa papilomavírus humano. os papilomavírus possuem predileção por tecidos de revestimento, no caso a pele e mucosas, e provocam na região infectada alterações localizadas que resultam no aparecimento de lesões decorrentes do crescimento celular irregular. estas lesões são denominadas verrugas ou vulgarmente conhecidas como "crista de galo". conhecida desde a antiguidade, as infecções genitais pelo hpv chamaram atenção a partir da década de 80, quando se identificou a correlação destas lesões como câncer de colo uterino. mais de 100 tipos até o momento foram identificados, dos quais apenas 30 tipos podem infectar a região anugenital feminina e masculina. meu medo era de que aquela lesão se transformasse em um câncer, parecia um pesadelo, na hora sua cabeça só pensa em besteira, meu corpo parecia não estar dentro daquela

sala, fiquei anestesiado, em choque. o papilomavírus humano é um vírus universal, que não tem preferências, quer seja quanto ao sexo, idade, raça, localização. pode se instalar em qualquer região do corpo, bastando haver uma porta de entrada através de micro-traumas da pele ou mucosa. já se detectou o vírus não só na região genital, mas também extragenital como olho, boca, faringe, vias respiratórias, ânus, reto e uretra. sua presença foi encontrada ainda no líquido amniótico, aquele líquido que envolve o feto na vida intra-uterina. -meu deus... quais são as formas de se adquirir esse vírus, doutor? -em relações sexuais. estudos comprovam que mais de 40% dos adultos sexualmente ativos, incluindo 10 a 40% das mulheres sexualmente ativas, principalmente as mais jovens, são infectados por um ou mais tipos de hpv. porém, a maioria das infecções é transitória. não sei se esse era o meu caso, pois na maioria das vezes, o sistema imune consegue combater de maneira eficiente esta infecção, alcançando a cura, com eliminação completa do vírus, principalmente entre as pessoas mais jovens, coisa que comigo persistia. -não pode ser... eu tinha um relacionamento fixo... -você se prevenia? -eu confiava nele... -confiança não é o bastante. por mais que você confie em alguém tem que se prevenir, sexo é muito gostoso, mas também é muito perigoso. -isso tem cura? -os tratamentos existentes hoje em dia, têm o objetivo de reduzir, remover ou destruir as lesões proporcionadas pelo hpv. são eles: químicos, cirúrgicos e estimuladores da imunidade. no seu caso terá que ser cirúrgico. -o quê? É tão grave assim? -não, quando eu disse cirúrgico não quer dizer que você será internado, é uma cauterização simples, o cirurgião vai dar uma queimadinha na lesão e pronto. não leva mais que 10 minutos. -faz muito tempo que eu não transo sem preservativo... -só o fato de encostar-se ao local contaminado você já pode se contaminar também, portando aquelas “brincadeiras” preliminares ha uma necessidade de se usar preservativo. esse vírus pode ficar um tempo sem se manifestar, pode ser que você o tenha há um ou dois anos e ele só veio se manifestar agora... claro que eu não ia chorar na frente do médico, me contive o máximo que pude, minha preocupação era com o daniel, e se eu tivesse passado para ele? nunca fizemos nada sem preservativo, apesar de que hpv é transmissível mesmo usando preservativo, por isso todo cuidado é pouco na hora da relação sexual, devemos escolher muito bem com quem vamos sair e mesmo assim tomar todas as precauções. -então a única maneira de evitar esse vírus é a camisinha? -a camisinha não evita o contágio por completo, você pode transar com uma pessoa que tem o vírus usando preservativo e contrair o mesmo, mas o preservativo ajuda a dificultar a contaminação... foi aí que meu medo começou aflorar, o daniel poderia estar contaminado com o vírus, se eu passasse alguma doença pra ele não iria me perdoar, ele não merecia e além de tudo ele iria me odiar. -bader, vou te passar o encaminhamento de alguns exames que devem ser feitos... -exames de quê? -hepatite a, b e c, hiv 1 e 2. quando ele falou hiv tive vontade de pular da janela, eu queria que o chão se

abrisse e me engolisse, em todo momento eu pensava no daniel, jamais me perdoaria se passasse algo para ele. eu não conseguia mais raciocinar, só pensava que iria morrer, era uma mistura de medo, angústia, desespero, raiva, tristeza, meus olhos começaram a lacrimejar, em meu pensamento veio a figura do daniel, aquela gargalhada que ele dava quando estávamos juntos... -quais são os sintomas do hiv, doutor? -eu não vou dizer quais são, porque você pode ficar com raiva e sair por ai querendo se vingar passando pra outras pessoas. -que absurdo... eu nunca faria isso. -aguarde o resultado que vai ser melhor. -está bem, obrigado. -espere... -o quê? -pense que você é especial, não merece qualquer pessoa, merece alguém especial como você... -já sei, o que você está pensando agora é o que todo mundo pensa: que todo homossexual faz parte do "grupo de risco". -mas você sabe que isso não é verdade, homossexualidade não tem nada haver com grupo de risco, esse "folclore" que inventaram em cima da homossexualidade foi para criar uma rejeição à homossexualidade, mas ser humano nenhum está livre de adquiri-la. -ok! -você é muito jovem. se cuide... -está bem. -desejo boa sorte a você e juízo. o pior de tudo foi a cara que o médico fez, os olhos dele estavam cheios de lágrimas, parecia que ele estava com pena de mim, foi muito ruim, horrível, mantive a postura e o controle enquanto estava naquele hospital, mas quando saí não consegui segurar, entrei no carro e chorava como uma criança perdida, comecei achar que minha vida estava acabada. e agora o que eu faço? e o daniel? contar a ele que eu estava com hpv? que o médico me pediu exame de hiv, pois achava que eu tive um passado promíscuo? ele nunca iria me perdoar, liguei o carro e fui andar pela cidade, passei a noite toda rodando pelas ruas pensando, decidindo o que iria fazer da minha vida. logo no começo da manhã eu passei no shopping, fui fazer umas compras, para esquecer dos problemas, das preocupações e tudo mais. estourei o limite do meu cartão de crédito, quase não conseguia andar com tantas sacolas, o shopping não estava muito cheio, talvez pelo fato de estar cedo ainda, comprei o que precisava e o que não precisava, acumulou tantos pacotes que precisei pedir ajuda do segurança do estacionamento para colocar tudo dentro do carro. saindo do shopping fui direto para a casa do bruno, minha fúria era enorme, se eu o encontrasse na minha frente seria capaz de matá-lo de tanta pancada, na verdade minha intenção era essa. chegando na porta de sua casa buzinei 3 vezes, mas não aparecia ninguém até a vizinha da casa ao lado sair na janela e me informar sobre a família. -você está procurando a terezinha? -estou "caçando" o bruno. -ah... eles não moram mais aí... -obrigado. sai arrancando com o carro, nervoso, furioso, irado, quase bati no portão do condomínio, deixei as compras dentro do carro e subi até meu apartamento para telefonar pro maldito do bruno, pois meu celular havia acabado a bateria, fiquei com um ódio tão grande dele que se conseguisse encontrá-lo nem sei do que eu seria capaz, mas com certeza ele não sairia ileso nessa história. peguei o telefone e

comecei a discar, na primeira tentativa deu caixa postal, na segunda atendeu uma pessoa dizendo que o aparelho já não pertencia mais ao bruno, minha ultima opção era enviar um e-mail, digitei uma carta no word de 8 páginas contando tudo, todos os detalhes do que estava ocorrendo, e pedi para ele retornar assim que recebesse o e-mail. desliguei o computador, liguei na portaria pedindo para um segurança do condomínio buscar minhas compras no carro e trazer até meu apartamento, pois estava exausto pra descer até o s1. fui tomar outro banho, no chuveiro fiquei pensando na situação e no constrangimento passado naquela sala do médico, me senti humilhado de certa forma, as palavras do médico não saiam da minha cabeça... “juízo garoto...” me envolver com o bruno foi a pior coisa que fiz na vida. após o banho, liguei para a central de consultas do meu plano médico e agendei a coleta de sangue para os exames, aproveitei e agendei a cauterização e a consulta com o infectologista. enquanto eu tomava banho meu celular tocou, mas eu não havia escutado pois o deixei sobre o sofá da sala, depois do banho fui ver quem era e o visor mostrava o número do daniel, não demorou muito e começou a tocar outra vez, o aparelho estava na minha mão, mas não tive coragem de atender, tocou por 6 vezes e parou, depois começou a tocar o telefone de casa, levei um susto quando deu o primeiro toque, com certeza deveria ser o daniel, acabei não atendendo ao telefone, me faltava coragem de falar com ele, ouvir sua voz gostosa, preferi evitar. no outro dia pela manhã eu acordei bem cedo e fui pesquisar na internet sobre o hpv, encontrei várias coisas falando a respeito que me deixaram ainda mais assustado, algumas fotos me impressionaram demais, me senti um pouco enjoado e desliguei o computador. tomei um banho rapidinho antes de sair e fui para o ponto de ônibus, já que meu carro não poderia sair por conta do rodízio naquele dia, a manhã estava um pouco fria, já estávamos no outono, aquela neblina da manhã cobrindo o horizonte, o cheiro do orvalho nas folhas das árvores... fiquei quase uma hora dentro do ônibus até chegar no laboratório em moema, quando entrei na recepção não havia nenhum paciente aguardando, eu deveria ser o primeiro do dia. -bom dia! -bom dia! -o senhor está em jejum? -não entendi. -o senhor está em jejum por no mínimo 8 horas? -ah... estou. -É só aguardar até a enfermeira chamar. -obrigado. entreguei a guia para o recepcionista e sentei no sofá azul de camurça para aguardar ser chamado, peguei uma revista que falava sobre um naufrágio recém descoberto os destroços no fundo do mar, depois peguei outra e fiquei folhando as páginas que falavam sobre a guerra no iraque, na verdade eu nem prestei atenção nas matérias, eu estava ansioso, trêmulo, só pensava nesse exame e no meu petit. quando escutei alguém chamando pelo meu nome meu coração quase saiu pela boca, com o susto acabei rasgando uma pagina da revista, andei pelo corredor do laboratório até encontrar a sala onde iria fazer a coleta, fui atendido por uma enfermeira super simpática, era uma sala simples, alta, falante, morena escura, bem humorada. na sala havia um armário de vidro com alguns materiais, uma cadeira adaptada com um apoio pro braço para fazer coleta de sangue, um balcão com gavetas todo branco, no teto a luminária tinha uma lâmpada queimada entre as três fluorescentes, tinha até uma maca no canto com um biombo branco, sobre a mesa tinha um freegobar, enquanto ela preparava os tubos e a seringa eu engolia a saliva a seco e morrendo de medo, é claro. -estique o braço e fecha a mão.

-assim? -você tem medo de injeção? -tenho. -então vira o rosto para o outro lado, é rapidinho... -tudo bem. em poucos minutos ela coletou o sangue e me liberou, colocou um tampão no orifício e pediu para eu segurar por 2 horas. -em quanto tempo sai o resultado? -deixa-me ver... daqui uma semana você já pode vim buscar. procure não fazer esforço com esse braço. -onde eu pego um atestado médico? -pede na recepção que eles fornecem pra você. -obrigado. fui até a recepção pegar um atestado, chegando na recepção o garoto não estava, fiquei esperando por quase cinco minutos quando o vejo vindo pelo corredor com um copo de café na mão. -desculpe pela demora... -tudo bem, eu preciso de um atestado comprovando que eu compareci aqui no dia de hoje. -ah tudo bem, aguarde só um instante... o rapaz era muito atrapalhado, o balcão da recepção era grande, havia três computadores de ultima geração, uma impressora enorme que tinha mil e uma utilidades, o recepcionista ainda não sabia mexer direito no equipamento, tendo eu que perguntar se queria ajuda: -o que acontece? -a impressora não está pegando o papel... será que está com problema? -você abasteceu com papel? -sim, fiz hoje de manhã... -deixa-me dar uma olhada... os papéis devem ser nessa bandeja. o cara acabou colocando papel na bandeja errada, por isso não conseguia imprimir nada. depois de resolver o problema com a impressão deixei o local, saindo de lá eu dei uma passada na produtora onde trabalhava e entreguei o atestado, notei que havia muito trabalho a se fazer, estava uma correria só, mas eu infelizmente não estava com cabeça pra pensar em trabalho, apenas entreguei meu atestado e saí da produtora. dali em diante começou minha tortura, eu não conseguia pensar em outra coisa, a não ser no resultado daquele exame. chegando em casa havia mais de cinco recados do daniel na secretária eletrônica, apaguei todos sem escutar, me tranquei no quarto e passei todo meu dia chorando, deitado de pijama, por mais que o telefone tocava, eu não me movia para atender, naquele momento eu queria ficar sozinho, isolado, esquecer de tudo e todos, fiquei abraçado com a dani e assim adormecemos. minha preocupação era de como seria minha vida dali pra frente, meu futuro com o amor da minha vida, estava perfeito demais pra ser verdade. capítulo 11 dois dias depois fui trabalhar normalmente, quando cheguei na minha sala e vi minha mesa com um monte de projetos quase pirei, tínhamos que escolher uma das propostas para usar como tema para nossa propaganda publicitária, estava cheio de tarefas, tudo para ser terminado aquele dia, mergulhei de cabeça no trabalho, não consegui parar um minuto se quer, almocei no escritório mesmo, fiz dois projetos de propaganda, gravei um piloto para uma empresa, fiz teste com modelos... pensei que meu dia não iria terminar. quando saí da produtora já passava das 23h, cheguei

em casa quase 00h, morto de cansado, só fui tomar um banho, dei a comida da dani e me joguei na cama. como é bom você chegar na sua casa depois de um longo dia de trabalho, tomar um banho bem quentinho e deitar na sua cama de casal todinha só pra você, com o lençol cheirosinho... o meu quarto era o lugar onde eu me sentia melhor, relaxava, descansava, onde eu mais gostava de ficar, por isso quando mudei pra esse novo apartamento eu fiz a decoração do ambiente tudo planejado, a cama era 2m x 2m, não muito alta, um estilo moderno que desenhei especialmente pra mim e mandei fazer, em frente a minha cama tinha um armário, dentro desse armário tinha uma televisão de 51', era enorme, dava a impressão que eu estava em um cinema fechado só pra mim. no outro dia tive que acordar mais cedo, havia ficado alguns trabalhos pendentes e os acumulados do dia, não saí de casa, fiz tudo no meu computador, o bom é que ocupariam minha mente e eu não teria tempo para pensar nos problemas. trabalhar faz bem, ocupa nosso tempo nos impedindo de pensar bobagens, fiz meu trabalho até o começo da tarde, depois fui até a cozinha dar o almoço da dani, enquanto ela comia eu bati um suco de maracujá pra mim, abri o armário, peguei uma pipoca de queijo e coloquei no microondas. depois do suco e a pipoca prontos, fui pro meu quarto, fechei a janela que havia aberto pela manhã, apaguei a luz, fechei a porta e coloquei um dvd pra assistir abraçadinho com a dani embaixo do edredom, assistimos moulin rouge, eu adorava esse filme, as vezes me vinha as lembranças de paris e conseqüentemente o daniel. eu e a dani passamos a tarde toda vendo dvd, vimos uns três ou quatro filmes, comendo pipoca e bebendo suco de maracujá. chegou o dia de ir ao hospital fazer a cauterização na lesão, estava marcado para o período da tarde, cheguei ao hospital com uma hora de antecedência, tamanha era minha ansiedade e desejo em me livrar logo daquele maldito hpv. não demorou muito e fui atendido pelo médico, era um senhor muito simpático que me deixou bem descontraído. após a cirurgia um de meus problemas estavam resolvidos, só me faltava pegar o resultado dos exames que havia feito para acabar com minha angústia. durante aquela semana me afundei no trabalho, não atendi as ligações do daniel, saía de manhã e voltava à noite, sumi do mundo literalmente, às vezes eu ligava pra minha mãe para contar como estavam as coisas por aqui, mas eu queria mesmo era fugir do daniel. no dia de buscar o resultado do exame, mal podia me agüentar de ansiedade, foram momentos inesquecíveis, a semana mais longa da minha vida. dormi pouco na noite que antecedeu, pela manhã tomei um banho rápido e fui buscar o resultado, o caminho inteiro eu fui pensando na vida que eu teria dali pra frente, aquele resultado iria decidir minha vida, meu futuro. cheguei no ambulatório e entreguei o recibo para retirada, a recepcionista começou a imprimir os resultados na minha frente, foi no mesmo laboratório onde coletei a amostra, até achei que quem estaria na recepção era aquele rapaz atrapalhado... eu me retorcia para tentar ver se conseguia ler o resultado, mas não consegui, ela pegou as folhas, dobrou e colocou dentro de um envelope e me entregou. saí do laboratório aflito, segui em direção ao hospital que ficava ao lado, no caminho eu parei embaixo de uma árvore para abrir o envelope, consegui abri-lo, pois o adesivo que ela colou era bem frágil e descolou com facilidade, sem nenhum esforço, mas não tive coragem de ler, acabei fechando novamente. entrei no pronto socorro do hospital para passar com o médico sem precisar marcar consulta e saber de uma vez por todas o resultado do meu exame. -bom dia! -bom dia, eu quero passar com o clínico geral. -sua carteirinha e rg por gentileza? -tá aqui. -o que o senhor está sentindo?

-medo. -não entendi... -dor muscular. -ok, é só aguardar. -obrigado. não sei por que ficar perguntando o que você está sentindo pra colocar na ficha, se dentro da sala o médico pergunta outra vez e nem dá importância para o que está escrito no papel verde, onde elas colavam um adesivo impresso todos meus dados e pediam pra eu assinar. sentei no sofá da recepção e fiquei aguardando ser chamado, recepção de hospital é tudo igual, as horas parecem nunca passar naquelas salas, é um silêncio que chega até a incomodar, as pessoas ficam olhando umas para as outras sem dar uma palavra, algumas cochicham no ouvido da outra para fazer algum comentário, outras ficam observando um quadro sem graça que fica na parede, mas o maldito silêncio só é quebrado com a voz do médico chamando o nome do paciente: -bader pires. quando ouvi o médico chamar meu nome eu gelei, minha barriga já estava doendo de ansiedade, entrei na sala e fechei a porta, eu tremia muito, sentei de frente para o médico quase chorando e entreguei o envelope para ele. -então você é o bader... -sou, o senhor já me conhecia? -não... olhei aqui na ficha. -hahaha, entendi. além de comunicativo ele fazia umas palhaçadas e por alguns momentos eu esquecia dos problemas. -o que te trouxe aqui, bader? -as pernas... -hahaha... 1 x 1. -hahaha... preciso saber o resultado desses exames... -vamos ver... mas antes me diga uma coisa, por que o médico pediu esses exames pra você? -porque eu adquiri hpv e ele disse que por ser uma “dst” era bom eu fazer outros exames também. -hum... -e então? -hepatite não reagente. -o que quer dizer? -que você não possui hepatite. -ufa... que alivio. e o hiv? -hiv... bom... -fala logo doutor. -hiv não é algo tão absurdo como as pessoas acham... eu já comecei a me desesperar, ele estava vindo com aquela conversinha para fugir do assunto e não me contar o resultado dos exames, notei que seus olhos estavam lacrimejando, com certeza era mais um com pena de mim. -chega de mentir, não tente me esconder doutor, eu tenho hiv? capítulo 12 -se acalme, sente-se e beba uma água. -eu não quero porra de água nenhuma, me fala doutor, eu tenho hiv? essa frase foi o suficiente para me deixar em pânico, pra mim foi uma sentença de

morte, e agora? como eu iria contar ao daniel que eu era aidético? ele iria me odiar, corria o risco dele ter pegado talvez, eu até suportaria viver sem o daniel, mas viver com ele me odiando eu não suportaria, não saberia olhar em seus olhos e ouvir ele dizer que me odiava. -você é portador do vírus... -o quê?... eu vou morrer... eu vou morrer... -calma... -como calma? não é você o aidético na história.... -bader... um sistema imunológico saudável tem de 600 a 1200 células de cd4 por milímetro cúbico de sangue. considera-se que o paciente tem aids quando esse número é inferior a 200. o seu resultado está acima de 200, então você não é considerado um aidético, apenas portador do vírus hiv. -eu não quero morrer, doutor... -mas quem disse que você vai morrer? aids quer dizer “acquired immune deficiency syndrome” e é causado por um vírus que ataca o sistema imunológico, quer dizer, as próprias "fábricas" encarregadas de fazer as "armas" com as quais os seres humanos se defendem das infecções e que também servem para controlar o desenvolvimento de cânceres. no brasil ela é conhecida como sida, síndrome da imunodeficiência adquirida, causada pelo vírus hiv, que destrói os mecanismos de defesa do corpo humano provocando a perda da imunidade natural que possuímos, permitindo o aparecimento de várias outras doenças oportunistas. -eu vou emagrecer... ficar feio... -não necessariamente, bader. para se reproduzir, o hiv entra dentro do linfócito t4, auxiliado pela proteína chamada cd4, que é um tipo de glóbulo branco, que se encontra em volta da célula. esta proteína cd4 abre a passagem para o hiv entrar no linfócito, depois que entrou no linfócito o hiv transforma-o em fábrica de novos vírus, e em seguida, os linfócitos são destruídos e os vírus são liberados, indo atacar outros linfócitos. quanto mais o hiv se multiplica no organismo, mais a carga viral se eleva, níveis altos indicam um risco de evolução da infecção pelo hiv e baixa do cd4. durante o processo, as células cd4 acabam morrendo por razões ainda não totalmente conhecidas. com a redução do número desses glóbulos brancos, o organismo começa a perder a capacidade de combater doenças até atingir o ponto crítico que caracteriza a aids. há pessoas que tem o vírus do hiv, mas não desenvolvem a doença, essas pessoas são chamadas de soropositivos, que seria o meu caso até então. das pessoas contaminadas somente uma minoria vai desenvolver a forma mais grave de infecção, que é a aids. -mas doutor, como vou evitar o enfraquecimento do meu organismo?... eu vou me privar de tudo? isso eu não quero... -você vai precisar de um acompanhamento médico... o acompanhamento médico e os tratamentos anti-hiv tem por finalidade evitar o enfraquecimento do sistema imunológico e impedir o desenvolvimento de doenças oportunistas, permitindo que a pessoa conserve boa saúde. -então, no próximo mês eu espero você aqui para iniciar o tratamento e acompanhamento. -humpft. -tem uma lista de coisas que você deve evitar e outras que você deve controlar... -como o que, por exemplo? -sexo sem preservativo. -mas e se a outra pessoa também for portadora do hiv? -mesmo assim deve se usar preservativo. a todos os indivíduos infectados, com ou sem sintomas, devem ser considerados propagadores da aids. toda pessoa infectada desenvolve após a infecção com o vírus

hiv, que na sigla inglês que dizer: "vírus imunodeficiência humana", uma resposta imunológica com a produção de anticorpos. com o tempo há uma diminuição nessa resposta e os anticorpos neutralizantes não são protetores, por isso o uso de preservativo é necessário nas relações sexuais entre dois soropositivos, pois uma outra carga de vírus é injetada no parceiro, fazendo com que sua situação se agrave ainda mais. deixei o centro médico arrasado, por mais que o médico tenha tentado me fazer entender que eu levaria uma vida normal, eu já me via com um pé na cova, magro, doente, vegetando em cima de uma cama, a minha maior preocupação agora era com o daniel, com que cara eu ia contar a verdade pra ele? claro que ele não ia entender e me odiaria por isso, minha vontade era de me matar, acabar com tudo isso logo e me livrar desse sofrimento. fiquei aguardando o ônibus no ponto da avenida ibirapuera, enquanto o ônibus não passava fiquei olhando o movimento dos carros e ônibus que passavam por ali, ao mesmo tempo eu tinha vontade de me jogar na frente de um deles, com o resultado do exame na minha mão eu chorava sem parar, eu estava de óculos escuros que dava pra disfarçar um pouco, mas não evitava alguns olhares curiosos das pessoas. entrei dentro do ônibus decidido a me matar, fui pensando em como eu faria isso o caminho todo, não sei se era a coisa certa a fazer, nessas horas a gente nem pensa, alias, só pensa que vai morrer, mas no ato do desespero eu não sabia mais o que era certo ou errado, só pensava no jeito mais fácil de acabar com os problemas. quando cheguei no condomínio o porteiro queria me dizer algo, mas uma moradora o interrompeu fazendo algumas perguntas, eu nem dei importância, passei direto e o elevador já estava parado no térreo, abri a porta da sala cabisbaixo, triste, a dani estava sentadinha no sofá abanando o rabo, ao lado dela estava o daniel me aguardando, na hora eu gelei, fiquei ali na porta paralisado. -o que você faz aqui? -como assim o que eu faço aqui? te liguei a semana inteira, mandei e-mail, torpedo, te procurei no serviço e na academia, mas nada de te encontrar. você está fugindo de mim? ele veio se aproximando na tentativa de me beijar, meu coração doeu, minhas pernas amoleceram, era tudo o que eu queria, beijar aquela boca gostosa, tocar naquele braço musculoso, mas na hora em que ele ia me abraçar eu desviei. -precisamos conversar sério... -o que está havendo? -nosso namoro termina aqui. (jogando a chave em cima da mesa) seus olhos começaram a lacrimejar, eu também não consegui conter a emoção, olhando para seu rosto era obrigado a por um fim em uma linda história de amor, que eu o amava demais eu não tinha dúvida, o meu medo era passar essa maldita doença pra ele, isso eu não queria, e aquele dia ele estava tão bonito... barba por fazer, baby look branca, perfumado, calça jeans meio caída mostrando a cuequinha, carinhoso como sempre... -mas terminar como? por quê? claro que eu não ia contar para ele a verdade, se ele fosse me odiar, era melhor ele pensar que eu não o amava mais, pelo menos depois de um tempo ele me esquecia e tudo bem, mas por dentro eu estava gritando, eu o amava muito, não seria fácil dizer ao homem da minha vida que queria terminar o relacionamento, por amá-lo demais eu tomei essa decisão. -mas como você não me ama mais se a última vez que nos vimos você me jurou amor eterno? -eu pensei bem e mudei de idéia. dentro de mim eu dizia que o queria, o desejava, que ele era tudo pra mim. -mentira... olhe nos meus olhos e diga que você não me ama mais.

pegando pelo meu braço e encostando aquela boca carnuda próxima da minha eu quase não resisti, eu já não sabia se tremia de nervoso ou por sentir sua pele encostar-se à minha. -por favor, me deixe em paz, some da minha vida, me esquece. -como posso esquecer de todos os momentos que passamos juntos? nosso amor... diga-me como eu posso viver sem você? -vai ser melhor se você me tirar da sua cabeça... -não posso tirar da cabeça o que está no coração. -por favor, não insista... -eu te amo como nunca amei ninguém em toda minha vida, é a primeira pessoa que me fez e me faz feliz em todos os momentos, que me completa, que me satisfaz em todos os sentidos, não faz isso comigo... -desculpa... desculpa... -eu te conheço, bader. você está escondendo alguma coisa... -eu não estou escondendo nada... -você está mentindo... assustei-me quando ele deu um soco na parede. -mas tudo bem. eu vou embora, mas vou te levar comigo dentro do meu peito... vou esperar até você mudar de idéia, nosso amor é muito bonito pra acabar assim... nem que eu passe a vida toda esperando por mais um beijo seu... ele batia no peito e as lágrimas desciam como um rio de encontro ao mar, chorávamos juntos, mas seria loucura naquele momento contar a verdade. -daniel... -porque o que eu sinto por você é verdadeiro e forte. ele saiu chorando de casa batendo a porta, me abaixei no canto da parede e chorava demais, minha vida estava sendo destruída, minha felicidade havia chegado ao fim. muitas e muitas vezes eu me imaginei vivendo ao lado do daniel para sempre, sonhava em como seria nós dois velhinhos, dividindo a mesma casa, cuidando um do outro, vivendo um para o outro, mas esse sonho foi quebrado por uma alma pobre, uma pessoa maldita que havia me passado uma doença e se quer teve a dignidade de me encarar, acabei entrando em depressão. vários estudos têm sugerido que nos pacientes com aids, a solidão e isolamento aumentam a morbidade psiquiátrica, particularmente a depressão. a prevalência de depressão é maior na população hiv positiva é em torno de dez vezes maior do que na população geral e está dentro da variação encontrada em outras doenças crônicas 5 a 8%. eu já não tinha mais vontade de viver, só chorava, minha vida se tornou um pesadelo, tinha dores no corpo, me sentia carente com muita freqüência, não tinha fome, não saia de casa e muito menos atendia telefone. passei um mês em casa, isolado do mundo e da realidade. Às vezes eu conectava a internet para limpar a caixa de e-mail e fazer algumas pesquisas sobre o vírus do hiv, por mais que as pesquisas diziam que um portador sadio pode viver o resto da vida sem a doença se manifestar eu ainda me sentia um doente, apesar de somente ser portador do vírus e não ter a doença manifestada. capítulo 13 um dia levantei para enviar um e-mail pra produtora, quando olhei minha caixa de e-mail lotada havia um que me chamou atenção, foi um e-mail que conseguiu resgatar minha vida outra vez. em uma manhã ensolarada, acordei muito mal, triste, carente, havia passado a madrugada inteira em claro, sem vontade de fazer nada, às vezes dava aquela vontade de chorar, tive até febre.

fui limpar minha caixa de e-mail e fui excluindo todos, exceto um que me chamou atenção, era um texto onde dizia que tudo dependia só de mim: tudo depende sÓ de mim hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a deus por ter teto para morar. posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. o dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. e aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. tudo depende só de mim. (charles chaplin) e por que eu teria que ficar trancado em casa lamentando? será que isso me ajudaria? resolveria meu problema? só dependia de mim, foi pensando assim que desliguei o computador, fui tomar um banho bem gostoso como eu fazia antes, enchi a banheira com sais que havia trazido da frança, passei uma hora tomando banho de espuma e ouvindo minhas músicas favoritas, depois arrumei minha mochila para voltar pra academia, mas antes de sair de casa eu dei comida pra dani, liguei na produtora onde eu trabalhava e avisei que no outro dia estaria voltando com toda força, o bom de trabalhar naquela produtora era que eu ganhava pelo que eu produzia, tinha vezes que eu ficava meses sem trabalhar, pois cada trabalho publicitário que eu fechava me rendia no mínimo cinqüenta mil, quando era com grandes empresas eu chegava a ganhar duzentos mil em média, sendo assim eu trabalhava quando eu queria. peguei o elevador e desci até o s1, joguei a mochila no banco de trás do carro, abri o porta-luva, peguei meu estojo de cd’s, escolhi um e fui escutando e cantando no trânsito, claro que dessa vez eu tomei o cuidado pra não bater no carro de mais ninguém. cheguei na academia e não havia muita gente, as televisões em frente à esteira estavam ligadas, cinco televisões, cada uma em um canal diferente, pra variar havia esquecido minhas luvas para levantar peso, segui em direção ao vestiário, quando olhei pra esquerda avistei o daniel auxiliando uma senhora na esteira, meu coração disparou, eu estava de óculos escuros por causa das olheiras e também havia chorado a semana inteira. passei por ele e o cumprimentei com um “bom dia”, na hora reparei que ele ficou desconsertado e ao mesmo tempo surpreso por me ver ali, já que por um mês eu sumi do mundo. fui até o vestiário e deixei minha mochila no armário 08 como sempre fazia, voltei para a sala de treino e fui fazer um pouco de esteira, comecei a caminhar devagar, somente para fazer circular o sangue, o daniel veio até mim para colocar presença na minha ficha:

-tudo bem com você? -na medida do possível sim, e com você? -eu poderia estar melhor se estivesse ao seu lado... -e sua mãe, como está? -está bem, amanhã ela volta de londres, foi passear na casa da minha tia. -que legal, to pensando em conhecer londres. -eu adoraria te acompanhar... ele ia falando e se aproximando de mim como se fosse me beijar, eu ia aumentando a velocidade da esteira na tentativa de dificultar sua aproximação, mas ele vinha se aproximando cada vez mais, tentei me esquivar com a esteira ligada e acabei me desequilibrando, quando ia caindo da esteira o daniel me segurou com um abraço bem apertado, trazendo meu corpo pra junto do seu, ficamos ali olhando um para o outro com a respiração ofegante, olho no olho, o desejo e a vontade de tê-lo novamente era mais forte que eu, aos poucos nossas bocas iam se aproximando e quando íamos nos beijar, eu me afastei. -melhor não. -não faz isso comigo... volta pra mim, vai? -prefiro não entrar nesse assunto... -eu só queria entender o por quê? -porque eu não te amo mais. -É mentira... você não consegue falar isso olhando nos meus olhos... saí de perto dele e fui pro vestiário, tremendo, nervoso, se ele continuasse com aquela conversa eu acabaria não resistindo, entrei no vestiário e encostei a porta, eu estava suando, tirei a camisa, respirei fundo, deitei no banco de madeira que ficava no centro do vestiário e fiquei olhando pro teto, em meio àquele silêncio, só se ouvia o barulho de um chuveiro pingando, provavelmente alguém não havia fechado direito, logo em seguida o daniel entrou abrindo a porta com tudo, o barulho me assustou fazendo com que me levantasse, fiquei olhando ele trancar a porta e ir até mim, pegando pelo meu braço, encostou na parede, abriu suas pernas e me puxou pra junto dele, colando barriga com barriga, minhas pernas entre as dele fizeram o encaixe perfeito, seu braço direito passou por baixo da minha axila cruzando minhas costas até sua mão encostar no meu ombro direito, sem que eu pudesse impedir ele começou a me beijar à força, meu coração disparou, fui pego de surpresa, tentei resistir no começo, me debati, o empurrei, mas foi inútil resistir àquele braço forte laçando meu corpo semi nu, sentindo novamente sua pele junto da minha, me deixei envolver pelo clima de amor que pairava sobre nós, era um beijo selvagem, caloroso, um beijo que matava a saudade dos velhos tempos, sentir sua mão na minha nuca outra vez, o ritmo da sua respiração fungando na minha orelha, as batidas do seu coração que palpitava a cada carícia minha, naquele momento eu fui feliz, sendo possuído pelo amor da minha vida, entregue de corpo e alma à paixão, ele me beijava e perguntava com carinho: -e agora... você ainda insiste em dizer que não me ama? -pára... nesse momento eu recebia suas chupadas em meu pescoço. -por que parar, se podemos ser felizes juntos como sempre fomos? -É melhor cada um pro seu lado... -chega. eu quero você e vou ficar com você. -eu te amo! -repete... -te amo... -hum... deixa eu sentir novamente esse corpo junto ao meu... -chega. -agora não... olha o estado que você me deixou?

realmente, o volume que ficou era notável à distância, até eu ficaria com vergonha de sair dali naquele estado, pensei duas vezes se deveria “ajudá-lo”, mas pensando bem era melhor não cair em tentação. -desculpa, mas você que provocou. -volta pra mim? -me dê um tempo? -um tempo pra quê? -pra pensar, ver se é isso mesmo que eu quero pra mim... -tudo bem, eu espero, por você eu espero a vida toda. mais um pouco que ele insistisse eu não teria resistido e me entregaria à paixão, não é fácil resistir quando se ama alguém como eu amava o daniel. a dor que eu sentia no meu coração era enorme, sem ele minha vida se tornou vazia, sem sentido, eu estava vivendo somente por viver, enganando a mim mesmo quando dizia que não o amava, na verdade eu queria olhar em seus olhos e dizer que ele era tudo pra mim, queria dormir e acordar ao lado dele, tê-lo pra sempre comigo. capítulo 14 dias se passaram e depois de muito sofrimento, rejeição, minha vida voltou ao normal, acordava cedo, tomava meu banho de 30 minutos, dava comida para a dani, tomava meu café da manhã com tudo que eu gostava e ia pra academia, depois tomava outro banho e ia trabalhar. sofri demais quando fiquei sabendo que era portador do hiv, achei que minha vida iria acabar, entrei em depressão, pensei até em suicídio, mas depois eu percebi que estava perdendo tempo ao invés de viver e curtir minha vida, eu era muito jovem e tinha muito que aproveitar ainda. naquela mesma semana eu fui ao médico para fazer os exames de rotina, todo portador do vírus tem que ir fazer exames de nível de cd4 para manter boa saúde e o tratamento correr bem. tirei quatro tubos de sangue, com muita paciência a enfermeira me convenceu a deixá-la coletar, eu morria de medo de agulha. -olá bader! -tudo bem com a senhora? -tudo ótimo, você parece um pouco abatido. não tem se alimentado direito? -acabei me descuidando um pouco, mas agora vou me cuidar mais. -É assim que se fala, pense que você é jovem e tem muito que curtir. -com certeza. agora nós vamos nos encontrar sempre por aqui... -segure o algodão pra parar de sangrar. -tudo bem. -dia 1 você pode vir buscar o resultado. -obrigado. saí do laboratório e atravessei a rua, passei na farmácia para comprar um bandaid e coloquei no lugar do algodão, porque não ia dar pra dirigir e segurar o algodão que ela colocou para impedir o sangramento. depois fui trabalhar normalmente, todo mundo me perguntava por que eu havia sumido, inventei uma desculpa dizendo que tive problemas familiares, nunca gostei de ficar dando detalhes da minha vida para os outros, existem pessoas muito indiscretas e curiosas que invadem sua vida sem o menor senso de ética, eu odiava quando isso acontecia. comecei a fazer muitas mudanças na minha vida, começando pela minha sala na produtora, segui algumas dicas do “feng-shui” para atrair energias boas e sorte, eu precisava de mais harmonia, paz, mudei alguns móveis também, além de elaborar alguns projetos de marketing. aquela semana foi corrida pra mim, fechei contrato com uma empresa para produzir uma propaganda em “outdoor”, cuidei das mudanças no escritório, acabei nem indo para a academia. no dia de buscar o resultado de sangue acordei

mais cedo, fui correr no parque do ibirapuera, de lá segui para o laboratório que ficava próximo do parque para pegar o resultado de sangue. no caminho parei no semáforo na avenida ibirapuera, onde havia algumas crianças vendendo chicletes no farol, uma delas me abordou e me ofereceu sua mercadoria, eu por curiosidade perguntei o que ela fazia com o dinheiro que ela ganhava: -tio... poderia me ajudar comprando essas maçãs do amor? -hum... eu adoro maçã do amor. quando custa? -r$ 1.50 cada uma. -você tem quantos anos? -tenho 6. -nossa... tão novinho e já ajuda em casa? -É... -e sua mãe? -eu não tenho mãe? -você mora com quem? -eu moro no lar do céu. -o que é "lar do céu?" -minha casa. fiquei emocionado quando li no papel que vinha junto com a maçã do amor que o dinheiro era pra ajudar nas despesas de uma entidade que cuidava de crianças com hiv. -nossa... você mora... quero levar toda essa cestinha sua, quanto custa? -r$ 50.00... -toma aqui r$ 100.00. -brigado tio. ele saiu pulando de alegria por ter conseguido r$ 100,00, lágrimas começaram a descer dos meus olhos, não achei certo uma criança vender maçã do amor no farol pra ajudar uma instituição a arrecadar fundos, mas acredito que não foi obra do acaso, peguei o endereço do lugar para visitar assim que possível. cheguei na clínica para buscar meu resultado e havia duas pessoas na fila, entreguei o recibo para a recepcionista e fiquei aguardando ser chamado: -bom dia! -bom dia. -aguarde um momento que já está imprimindo. -tudo bem... sentei no sofá e fiquei folhando uma revista, cruzava a perna de um lado para o outro por conta do nervosismo, um ventilador de teto tentava diminuir o calor que estava dentro do ambiente, mas meus pensamentos estavam naquela criança do farol, na instituição que ela ajudava, nas crianças que lá abrigavam... eu não ficaria em paz enquanto não visitasse. -senhor bader... estão aqui... -obrigado! -por nada. peguei o envelope e levei para o centro médico ao lado, dessa vez eu estava tranqüilo, calmo, mais à vontade para me expressar diante do médico. na sala de espera fiquei assistindo um pedaço da novela até ser chamado pelo médico. -e aí bader, como foi esse mês? -nem me fale, entrei em depressão... -entendo... você procurou um psicólogo? -não, nem saí de casa. -você deu uma emagrecida, não tem se alimentado direito? -estive me desanimando um pouco. -você sabe que tem que ter um cuidado redobrado com sua saúde.

-eu sei... -uma boa alimentação é fundamental para ter uma boa saúde. -humpft. -deixa-me ver o resultado do seu exame... o fato de entrar em depressão fez com que eu me descuidasse da alimentação, eu tenho ciência que agora meu organismo está vulnerável, mas enquanto eu sofria deprimido nem pensava nisso, agora tenho ciência de que meu organismo foi prejudicado. -bader, a sua taxa de cd4 está abaixo de 200. -isso quer dizer que...? -quer dizer que você vai precisar tomar remédio para equilibrar isso. portador do hiv é qualquer pessoa que foi infectado pelo vírus e que na grande maioria das vezes está totalmente saudável. ter aids significa a fase da infecção aonde surgem várias doenças e infecções oportunistas que surgem pela deficiência do sistema imunológico da pessoa, que foi provocado pela ação do vírus. -humpft... eu vou ter que tomar por quanto tempo... a vida inteira? -não necessariamente, vai depender de como seu organismo vai reagir e dos cuidados com a saúde que você vai tomar. -entendi. -sempre estaremos fazendo exame de sangue para acompanhar a evolução da sua taxa de cd4, é preciso que seja equilibrado esse nível para manter boas condições de vida, vou te receitar o remédio e você terá que tomar rigorosamente como eu prescrever na dieta. -humpft... tudo bem. capítulo 15 saindo da clínica passei na farmácia e comprei o remédio que o médico receitou, guardei no porta-luva do carro e fui visitar a entidade que cuidava de crianças com hiv. procurei pelo endereço do papel e não conseguia encontrar, parei uma senhora que passava na rua e perguntei: -por favor, a senhora sabe se por aqui tem alguma instituição chamada "lar do céu"? -"lar do céu"? fica naquela rua, uma casa azul... -obrigado! -você pretende ir lá? -sim, por quê? -não vá, é perigoso... -por quê? -você pode se contaminar, é um lugar que cuida de crianças com aids... tenho medo até de passar em frente... -eu não tenho medo, meu único medo é pegar a doença que a senhora tem. -que doença? -o preconceito. É a pior doença de todas que já existem. arranquei com o carro e deixei ela falando sozinha, é um absurdo como as pessoas olham com maus olhos outras pessoas que são portadoras do hiv, é mais que comprovado que não se adquire isso tendo contato social, além de sofrer por conta da doença, os infectados sofrem com o preconceito, rejeição, em pessoas com situação financeira desfavorecida a coisa piora, pois junta-se dois preconceitos ao mesmo tempo, pobreza e doença, e isso vai se tornando um círculo vicioso difícil de se quebrar, se não fosse o preconceito que se presencia quando se diz ter hiv, com certeza viveríamos muito melhor.

chegando em frente à casa eu pude notar que eles enfrentavam certas dificuldades financeiras, havia duas crianças na porta, estacionei o carro em frente, empurrei um pequeno portão enferrujado que rangia ao abrir, no quintal da frente ao lado esquerdo tinha uma pequena horta que deveria ser cultivada para consumo próprio do local, era uma casa simples, um pouco antiga, a pintura era um azul meio apagado, a porta era de ferro e no lugar do vidro tinha algumas folhas de papelão cobrindo o buraco, bati na porta e logo apareceu uma senhora na fresta da janela: -quem é? -desculpe, comprei um produto de algumas crianças que vendem no farol para ajudar... -ah sim, você foi o rapaz que comprou a cesta inteira? -sou. ela deu um grito para uma outra menina abrir a porta: -vânia... abre a porta aí pro rapaz. ela já vai abrir. -tudo bem, obrigado. escutei a porta ser destrancada, pelo barulho tinha mais de três trancas, fiquei esperando a vânia abrir a porta, a casa não tinha estrutura nenhuma para abrigar as crianças, logo na sala haviam uns brinquedos caídos no chão que era feito de cerâmica vermelha, uma televisão antiga e um bocal com os fios aparecendo no teto, eu escutava um choro bem baixinho que vinha de algum cômodo da casa, a parede interna estava um pouco descascada e era possível ver os tijolos, havia uns rabiscos feitos de giz de cera perto da porta, provavelmente alguma traquinagem das crianças: -pode se sentar... -estou bem assim, obrigado. -a roberta já vem. -quem é roberta? -É aquela mulher que te atendeu pela janela. -ah... tudo bem. a vânia era uma garota que aparentava não ter mais que 17 anos, baixinha e moreninha, corpo miudinho, já a roberta era uma mulher um pouco mais baixa que eu, gorda, branca, cabelo preso meio crespo, parecia ser evangélica, avental na cintura e um jaleco bordado o nome da instituição. -desculpa pela demora... -sem problema... eu vim conhecer a casa. -vem comigo... -vocês recebem algum incentivo do governo? -nenhum, aqui vivemos de doações, da boa vontade “das pessoa” que se “comove” e nos “ajuda”, tem também o dinheirinho que os “menino ganha” no farol vendendo doce... conversando com a roberta deu pra notar que ela era um pouco ignorante, não conciliava singular e plural nas palavras, talvez ela não tenha tido uma oportunidade de terminar os estudos, um jeito meio bruto também. -mas o que vocês ganham é suficiente para manter esse lugar? -claro que não, “passamo” muitas “dificuldade”, tem dias que as “criança” só “pode” comer uma vez no dia, porque se comerem “duas vez” vai faltar pro outro dia. -que absurdo. -É mesmo, só a gente que “convivemos” pra saber como é difícil cuidar de crianças assim... -eu sei muito bem como é... -só quem passa por isso pode saber, doutor. -eu sou portador do vírus, eu sei o que passei e estou passando.

-o senhor? tão chique e bonito desse jeito? ela ficou abismada ao saber que eu também era portador, realmente as aparências enganam, ninguém que me visse na rua poderia dizer: “aquele tem aids”. geralmente as pessoas julgam as outras pelas aparências, do tipo: “foda-se o conteúdo, to mais a fim da embalagem”. É aí que mora o perigo, onde você arrisca sua vida porque aquela pessoa é bonitinha, cheirosinha, gostosinha, não está escrito na testa de ninguém "tenho aids", por isso o uso de preservativo é de extrema importância, correr esse risco pode levar a um caminho sem volta. fui até um dos quartos onde havia uma criança deitadinha em um berço, bem magrinha, com os olhinhos fundos, peguei aquele bebê no colo e comecei a chorar, aquele bebê molinho, indefeso, as fraldas eram tamanho p e estavam enormes para ele, vida injusta, governo injusto, ver um adulto sofrendo é até compreensível, mas uma criança que veio ao mundo já contaminada e condenada não é fácil, é revoltante. -e esse bebê? -ah... ele já está em fase terminal... -o quê? -tadinho... a mãe dele morreu faz quatro dias, logo ele vai também. -mas o que ele tem? -o bichinho ta com pneumonia... -e por que não está no hospital? -eu ia levar hoje... -essa criança vai morrer aqui se nada for feito... eu não vou deixar isso acontecer... -mas moço... -É por falta de dinheiro? -também... coloquei o bebê de volta no berço, tirei a carteira do bolso e assinei um cheque, entreguei para a roberta uma importância de dez mil, ela quando olhou quase caiu de costas, era o mínimo que eu poderia fazer: -toma aqui esse cheque... interne essa criança o mais rápido possível. -deus misericordioso... -eu quero essa criança internada agora, esse dinheiro tem que salvar a vida desse inocente, se for preciso eu ajudo com mais, mas por favor salvem a vida dessa criança. -com esse dinheiro vai ajudar muito, você caiu do céu. entrou uma criança dentro do quarto chamando pela roberta, era um garotinho moreno, falante, ele queria tomar sorvete, pois na rua passava um vendedor de picolé e ele ficou com vontade. -tia ro... -fala neguinho? -hoje eu posso tomar um pouquinho de sorvete? -hoje você não pode... -quando eu vou poder? -só quando você melhorar... abaixei-me na frente dele, segurei sua pequena mão e comecei a conversar com aquela criança, era um menino tão meigo, inteligente, esperto e comunicativo: -tudo bem com você? -eu to bem e você? -eu to ótimo, qual seu nome? -eu me chamo rodrigo. -que nome bonito, meu irmão se chama rodrigo também. -e o seu nome, como é? -meu nome é bader.

-bader? -É... você ta com vontade de tomar sorvete? -aham... mas eu não posso. -por que você não pode? -porque eu tenho um bichinho dentro de mim que não gosta... É nessas horas que ficamos comovidos com a inocência de uma criança, comecei a ficar emocionado, ele falava de uma maneira como se fosse algo normal, tal como uma gripe, catapora, seus olhinhos brilhavam quando falava em sorvete, eu fiquei imaginando em como essa criança deveria sofrer, passar vontades e não poder consumir para não atrapalhar no tratamento... -tio... -fala... -você sabe como faz pra tirar esse bichinho de dentro de mim? -oh meu anjo... levantei e corri até a sala pra ele não me ver chorando, que absurdo, crueldade, a criança me perguntando como fazer para tirar aquele “bichinho” de dentro dela, o que eu ia dizer? aquilo mexeu comigo, comecei a chorar descontroladamente, encostado na parede de frente para a janela eu observava o movimento da rua, aliviando também o cheiro de bolor que havia no interior da casa com a brisa que entrava pela janela. -o senhor quer uma água? -por favor... -vânia... vá buscar uma água pro doutor... o senhor não quer se sentar? -desculpa, mas eu não consegui conter a emoção... -eu entendo... eu já to acostumada... cadê a água do doutor, vânia? -já to indo... aqui sua água. bebi a água em um gole só, as duas ficaram olhando pra mim imóveis, no vão que ficou entre o corpo das duas eu vi o rodrigo encostado no batente da porta olhando pra mim, com a mãozinha encostada na porta escondendo metade do rosto, olhar tímido, interrogativo. estava na hora de ir, eu precisava fazer outras coisas ainda, isso é, se eu conseguisse. -dona roberta, preciso ir agora... -você parece não estar bem. -e não estou. eu voltarei aqui outras vezes, precisamos conversar mais sobre a situação dessas crianças. -tudo bem. -tchau tio... -tchau rodrigo, fica com deus. deixei aquele lugar chorando, com aperto no coração em ver a situação precária que as crianças viviam, fiquei impressionado, mas ao mesmo tempo feliz por poder ter condições de ajudar uma criança que estava necessitada. na verdade isso é responsabilidade do governo, mas pelo que eu notei indo ao "lar do céu" o governo não tinha vínculo algum com o lugar, por ficar praticamente dentro de uma favela era um trabalho comunitário, os moradores se reuniam em um trabalho voluntário, claro que na intenção de ajudar as crianças e suas mães, embora eu acredite que o governo não tinha ciência disso, eu não iria sossegar enquanto não visse aquele bebê andando e falando, ainda tinha muito que ajudar. saindo de lá fui pra academia, eu precisava retomar meus exercícios outra vez, deixar a vida sedentária, no caminho eu tomei uma decisão, eu ia contar toda a verdade ao daniel, coisa que já deveria ter sido feito há muito tempo e se ele me aceitasse, reataria nosso namoro e nunca mais o deixaria escapar.

capítulo 16 cheguei feliz da vida no estacionamento e comecei a procurar uma vaga para estacionar meu carro, finalmente encontrei uma no g1, quando ia estacionar eu vi o daniel saindo com seu carro, no banco do passageiro havia um rapaz com ele, a sensação que tive foi como se uma bomba atômica se destruísse dentro de mim, seria um egoísmo meu achar que o daniel deveria esperar por mim a vida inteira eu sei, ele era jovem e tinha o direito de curtir com quem ele quisesse, mas doeu fundo dentro de mim vendo ele com outra pessoa, não é fácil ver alguém que você ama junto de outra pessoa, por mais que você diga que não, no fundo no fundo bate aquele sentimento de angústia, de perda, aquela cena ficou na minha cabeça me torturando, corroendo meu coração. dei meia volta no carro e fui pra casa, chorando, triste, minha alma gritava, eu estava morrendo de ciúme, ainda mais vendo que ele estava mais bonito ainda, a cada dia que passava ele ficava mais bonito e meu amor por ele ainda maior. saí pelas ruas igual a um louco, pensando em tudo que já havíamos vivido, é nessas horas que nós aprendemos a dar valor às pessoas, é preciso perder pra aprender a valorizar. chegando em casa sentei no sofá chorando de soluçar, a sensação que eu tinha era de ter perdido algo muito importante na minha vida, e de certa forma eu havia mesmo, quem já passou por isso sabe como o coração aperta, o peito dói, era horrível. peguei o telefone e liguei para o daniel, nem sei o por quê eu fiz isso, o medo de perdê-lo talvez, na hora de discar o número eu tremia, no segundo toque ele atendeu, no visor de seu celular ele identificou meu número, quando ouvi sua voz falando novamente comigo meu coração disparou, ouvindo sua voz tão doce, eu travei, não conseguia falar nada: -oi amor!... alô?... petit?... bad?... alô? não consegui falar, travei, desliguei o telefone e liguei pra minha mãe, pedir um consolo, um colo, eu sempre recorria a ela quando estava triste, pois ela sempre tinha o que me dizer na hora certa: -alô, mãe? -oi filho! -eu quero morrer... -o que houve, bader? -hoje eu vi o daniel com outro... -humpft... mas meu filho, você terminou seu namoro com ele, agora é cada um pro seu lado, seguindo sua vida. -eu sei mãe, mas se eu contasse para ele que estou com hiv, ele me odiaria por isso... -É muito mais digno você ser odiado por uma verdade, do que fingir uma situação que não existe, além do que você não pode ter certeza que ele te odiaria, isso você supôs. conte logo a verdade pra ele, se o que ele sente por você é amor de verdade, ele vai entender e te perdoar. -humpft... não sei... vou pensar, depois te ligo. -tudo bem, pense bem no que você está fazendo com sua vida, um beijo meu filho. desliguei o telefone, fiquei pensando no que minha mãe havia dito, realmente eu não tinha certeza que ele me odiaria sabendo que eu tinha hiv, mas o medo disso acontecer foi tão grande que nem pensei nessa hipótese. lembrei que o remédio havia ficado no porta-luva do carro, peguei a chave em cima da mesa e fui buscar o remédio, entrei no elevador e apertei o s1, eu já não chorava mais, estava apenas triste. no 9º andar ele parou e a dona lídia entrou. a dona lídia era uma velha muito fofoqueira, costumava usar o cabelo amarrado, não tirava aquela sandália preta, cuidava da vida de todos os condôminos, eu sempre evitava cruzar com ela pelo prédio, mas para minha infelicidade ela entrou no elevador bem na hora que eu

descia: -oi bader. -oi dona lídia. -nossa, como você está abatido... você está doente? -sim, peguei uma doença que se chama “síndrome do leva e trás.” -que horror, é contagiosa? -muito, ela pode até matar. -misericórdia... bom, vou descer aqui no 2º andar e descer o resto de escada, o médico pediu pra eu fazer exercícios... -sim, claro... -tchau. -vai com deus. foi muito engraçado ver a cara de espanto que ela fez, claro que ela não tinha exercício nenhum pra fazer, apenas ficou com medo de pegar a “síndrome do leva e trás”, do jeito que ela era com certeza iria ao médico no outro dia pra saber se não havia adquirido a tal doença. chegando na garagem do prédio, destravei o carro, abri o porta-luva e peguei o remédio, quando ia fechando a porta reparei que o presente que o daniel havia me dado de aniversário de namoro ainda estava dentro do portamalas, tirei o urso de lá e travei o carro, com o gigantesco urso e a sacola da farmácia voltei para o elevador. quando entrei no elevador, uma moradora me olhou meio estranho e se afastou um pouco, provavelmente a dona lídia já havia contado pro prédio todo sobre “minha doença”. ao abrir a porta de casa eu senti uma tristeza muito profunda, um vazio dentro do meu peito me corroia, olhei para o urso gigante que ele me deu, olhei para o sofá e relembrei os momentos em que havia passado com o daniel naquela sala, cada canto daquela casa havia uma história diferente, doeu meu coração, as lembranças que vieram à tona, só de imaginar o daniel com outra pessoa me corroía a alma. deixei o remédio sobre a mesa de jantar e fui ao banheiro, comecei a encher a banheira de água, sentei no apoio e fiquei com a mão dentro da água, ao mesmo tempo fiquei relembrando do dia em que ele havia bebido bastante e fez uma bagunça no meu banheiro, fiquei muito puto, revivi aquele momento onde tudo começou, naquele mesmo banheiro onde ainda continha seu cheiro, seu calor. com a banheira toda cheia, entrei dentro de roupa e tudo, minha vida já não tinha mais sentido sem o daniel, mergulhei meu corpo todo, vi minha vida passar como um filme na tela de um cinema sobre meus olhos, meu pulmão começou a doer e pouco tempo depois eu desmaiei. naquela hora que eu liguei pro daniel e não falei nada ele me retornou a ligação, o telefone estava ocupado porque eu falava com minha mãe, ele retornou a ligação mais uma vez e só chamou, foi naquela hora que eu havia ido buscar o remédio no carro, acabei o deixando preocupado, teimoso como ele era não iria deixar passar e foi até meu apartamento. ao chegar ele tocou a campainha por três vezes, vendo que eu não abria ele começou a bater na porta, mesmo assim eu não abri, então ele estranhou os latidos agoniados da dani, começou a chamar pelo meu nome, vendo que eu não respondia ele abriu a porta com sua chave e começou a procurar por mim, em cada canto da casa, quando chegou no banheiro do meu quarto ele notou que a torneira da banheira estava aberta e inundando o banheiro, ele se dirigiu até lá e me viu boiando na banheira, num ato de desespero ele me pegou no colo e me colocou sobre o tapete, chorando e preocupado ele tirou minha roupa molhada e fez respiração boca a boca até eu regurgitar toda a água que havia engolido, comecei a chamar pelo seu nome, com muito carinho ele pegou uma toalha e começou a me enxugar repetindo varias vezes que me amava, depois me colocou na cama, vestiu em mim um pijama e depois me cobriu com um cobertor, enquanto eu delirava. -daniel... daniel... -estou aqui amor...

-te amo... não me deixa sozinho... -eu também te amo... não vou te deixar sozinho meu amor... ele me abraçou para me aquecer com o calor de seu corpo, preocupado comigo ele chorava em me ver naquele estado, ele beijava minha testa e encostava minha cabeça sobre seu peito, repetindo varias vezes que me amava: -petit eu te amo tanto... se eu te perdesse ficaria louco... foi coisa do destino, ele chegou bem a tempo de me salvar e me impedir de fazer uma besteira, mais um pouco eu teria morrido afogado e graças a ele isso não aconteceu. fiquei na cama descansando, enquanto o daniel fazia um chá de maçã pra mim, naquele momento eu tinha que contar pra ele toda a verdade, já estava na hora, ele não merecia mais ser enganado, acho que minha mãe tinha razão, com certeza ele iria me entender, chamei por ele que estava na cozinha: -daniel... -oi petit... já estou indo... Á caminho do meu quarto ele viu o remédio que deixei sobre a mesa da sala, o remédio é bem conhecido e ele como professor de educação física tem um conhecimento, pouca coisa, mas tem, quando o vi entrando no meu quarto com o frasco de remédio na mão eu fiquei pálido, não sabia o que dizer, ele acabou descobrindo tudo e o que era pior, não foi pela minha boca. -o que é isso, bader? capítulo 17 -eu ia te falar agora... -era isso que você escondia de mim? -petit... -por que você não me falou que tinha hiv? -fiquei com medo de você não gostar mais de mim... -medo? você não confiou em mim, deveria ter se aberto comigo e não ficar dando desculpas mentirosas e me fazendo de idiota, você tem idéia do tanto que eu sofri? -mas daniel... -e as noites que eu passei em claro pensando em alguma idéia pra reconquistar você, achando que você não me amava mais? -amor me perdoa? -você foi egoísta, só pensou em você... -não meu amor, eu pensei em nós... -pára bader, chega de mentiras... -não grite daniel, você vai acordar os vizinhos... -foda-se os vizinhos, estou pouco preocupado com o que eles vão achar... -daniel me escuta pelo amor de deus? -que ódio. (dando socos na parede) -amor... me escuta? -tudo bem, fale. -quando eu soube do resultado eu fiquei muito mal, a todo momento eu pensava em você, em como você iria reagir quando soubesse e principalmente na sua segurança. eu amo você, jamais me perdoaria se em algum acidente contaminasse você... -sempre usamos camisinha, bader. -eu sei, mesmo assim eu tive medo de que você contraísse... -eu odeio ser enganado. -entenda meu lado... -me deixe, bader.

ele começou a chorar de decepção, e eu de arrependimento, eu não deveria tê-lo enganado ocultando a verdade, deveria ter aberto o jogo e assim deixar que ele decidisse nosso destino, afinal eu não tive culpa nenhuma, eu fui vítima tanto quanto ele, mas a burrice já havia sido cometida, por mais que eu tentasse consertar, argumentar, foi inútil. inconformado com a situação, ele jogou o frasco sobre a cama e saiu de casa batendo a porta, eu corri atrás dele, mas a porta do elevador já havia se fechado, peguei o telefone e fui ligar para ele, mas o celular deu caixa postal, corri para a sacada da sala e o vi dobrando a esquina, quase capotou o carro. naquele momento eu tive a certeza que definitivamente eu perdi o amor da minha vida. algumas situações nós podemos evitar que aconteça, no meu caso eu fui egoísta em não contar a verdade para ele forjando uma mentira, talvez se eu tivesse contado a verdade teria sido tudo diferente, mas já era tarde demais, a verdade veio à tona de uma forma traumática. ter hiv não significa que obrigatoriamente eu deva contar para meu parceiro que sou portador, contar é uma opção minha, mas eu tenho que ter a consciência de que se eu quiser guardar isso só pra mim terei que tomar todo o cuidado pra não passar pra outra pessoa, sempre atento. no outro dia, fui pra academia na esperança de encontrá-lo e poder conversar melhor, não via a hora de chegar lá e tentar tê-lo de volta só pra mim, ao chegar na academia minhas pernas tremiam, minha boca secou, comecei a procurá-lo, mas não o encontrei, meu coração apertou quando perguntei a uma aluna se ela havia o visto e ela disse que não, ele não foi na academia naquele dia, perguntei por ele na recepção e a garota me disse que ele já não trabalhava mais lá, ouvindo ela dizer aquilo era como se eu visse minha felicidade partindo no horizonte sem rumo, sem volta. chorar não iria adiantar, o que eu deveria fazer era seguir minha vida normalmente, recomeçar tudo outra vez. saindo da academia fui trabalhar, é a melhor coisa que fazemos para nos esquecermos dos problemas, o dia foi muito corrido, eu estava envolvido em um projeto grandioso, era uma propaganda publicitária que me renderia uma estabilidade financeira pro resto da vida. passei a tarde inteira gravando piloto para o comercial de uma concessionária de carro, era um cliente muito exigente, mas que paga muito bem. mais um dia se passou, eu tentava seguir minha vida normal, focando apenas meu trabalho como prioridade, aquela era a hora, pois minha carreira deu uma alavancada extraordinária. pela manhã acordei cedo e nem tomei café direito, sai de casa e passei no shopping, comprei alguns brinquedos educativos, saí cheio de sacolas e fui até a entidade das crianças com hiv visitá-las e levar os brinquedos. quando cheguei a roberta estava lavando o quintal da frente, com uma mangueira verde que mais parecia uma peneira, pois a água se perdia tanto pelos buracos que quando chegava na ponta já saia fraca. ao me ver ali ela ficou toda feliz, largou a mangueira no chão, fechou a torneira e veio até mim enxugando suas mãos no avental branco que ela não tirava, praticamente já estava amarelo: -bom dia, doutor! -bom dia, roberta. tudo bem? -tudo ótimo. sem que eu esperasse ela deu um berro: -vâniaaaaaaaaaaaaaa... abre o portão pro doutor. -já vou... -entre doutor, fique à vontade. -obrigado. -o senhor quer um café? -eu não bebo café. -ah... não te ofereço um suco porque não tem...

-não se preocupe, não vim aqui pra comer. -sente aí. o que te trás aqui, seu bader? -vim visitar essas crianças que tanto necessitam, e o bebê, como está? -tá no hospital, olha doutor seu dinheiro caiu do céu, salvou a vida do bichinho... sentei em um banquinho de madeira um pouco roído por cupim, deixei os brinquedos no carro e não falei nada, reparei que na casa havia mais duas mulheres cuidando das crianças, de principio eu achei que elas não haviam ido muito com minha cara, pois me olharam meio torto, talvez estranhando um rapaz de aparência fora do comum na qual elas estavam acostumadas a ver, pois sempre me vesti com roupas caras e de marca, perfumes importados e visual impecável, às vezes um pouco relaxado. -roberta, essa casa não tem estrutura para abrigar essas crianças... -eu sei... mas se não ficarem aqui, pra onde elas vão? -quantas crianças têm aqui? -tem 20 criança... -eu trouxe umas lembrancinhas pra elas... -mas doutor não precisava... -pára de me chamar de doutor que já está me irritando. -desculpa. -hahaha... tudo bem, me ajude aqui com as sacolas... -nossa... que peso... fomos até o carro pegar os pacotes que eu havia comprado, deixamos as sacolas no canto da sala, não eram muitos brinquedos, mas faziam bastante volume, a roberta pediu para a vânia trazer as crianças, junto com elas vieram aquelas mulheres que me olharam diferente, quando o rodrigo me viu ele veio correndo me dar um abraço, eu me abaixei e o esperei de braços abertos, foi um abraço tão sincero... carinhoso, por isso que eu gosto de crianças, porque são sinceras, inocentes, e não mentem. -tio... -oi rodrigo, tudo bem com você? -tudo. -olha o que o tio trouxe pra você... -o que é isso? -abre... com uma ansiedade sem igual, ele foi rasgando o pacote da caixa com um olhar curioso: -um vídeo game! -você gostou? -eu gostei! -ah que lindo, isso deve ser caro doutor... quer dizer... seu... -bader. -isso... -tia posso jogar? -agora não, rodrigo. a televisão tá no conserto. -eles não tem televisão, roberta? -tinha uma velha, mas acabou queimando... -não tem problema, em casa tenho 3 televisores, mando trazer um pra cá. -ai seu bader, o senhor é tão bondoso... -brigado tio... -vem aqui me dar outro abraço... ai que gostoso... ao ver os olhinhos do rodrigo e de todas aquelas crianças brilharem de felicidade por ganhar pela primeira vez um brinquedo novo eu fiquei emocionado, tudo bem que não são aqueles brinquedos muito sofisticados, coisas simples. a roberta foi

distribuindo os brinquedos um por um, na casa haviam 6 recém nascidos, o resto tinha em média de 3 a 8 anos. aquelas crianças viviam com dificuldade, passavam necessidades, era a primeira vez que eles ganhavam um brinquedo novo, pelo que vi da última vez que fui lá seus brinquedos estavam quebrados, correndo o risco de se machucarem. eu que sempre tive de tudo não me conformo que uma criança tenha que trabalhar ao invés de estudar e brincar, o governo parece não dar muita importância para isso, tantas rebeliões na febem, as escolas públicas praticamente sucateadas, um descaso total com a educação e formação de nossas crianças que são o futuro do país. a infância é a melhor fase de nossas vidas, uma vez perdida nunca mais é recuperada, e naquele ambiente elas estavam perdendo a melhor fase. com o dinheiro do último contrato que fechei com a empresa, eu tinha a possibilidade de tirar aquelas crianças dali e ajudá-las a terem uma vida melhor, digna e feliz como todas as crianças do mundo deveriam ser. -roberta, preciso falar com você... -pode dizer, seu bader. -prefiro conversar em um lugar reservado. -entendi... vem comigo... -eu quero ajudar vocês com essas crianças, dar condições dignas de sobrevivência pra elas... -como doutor? -quero tirar essas crianças daqui... esse lugar funciona legalmente? -humpft... não... -eu não ficarei em paz enquanto não ver essas crianças do jeito que eu quero, fazendo cinco refeições por dia, brincando, estudando... -se deus quiser... -ah doutor, ia me esquecendo... já tem uma família interessada em adotar o bebê... -sério? -sim, é um casal de médico lá do hospital. -que noticia boa. agora eu preciso ir, espero ter ajudado essas crianças... -ajudou muito doutor, obrigado mesmo. -tchau rodrigo! -já vai, tio? -preciso ir... -e quando você volta? -não sei... que carinha é essa? -to com fome. -o que você comeu hoje de bom? -pão... -como assim, só pão? -pois é seu bader, hoje não tinha comida pra dar pra eles... -mas como pode? essa criança tem mãe? -não sabemos, ele foi deixado aqui na porta quando era bebê... era uma judiação uma criança não ter o que comer, a fome é uma das piores situações que um ser humano pode passar, dormir com fome, acordar com fome, ver pessoas comendo na sua frente e não ter o que comer, é triste, cruel, dói na alma de quem passa por isso, graças a deus nunca havia passado por isso e se dependesse de mim nunca mais essas crianças iriam passar. -rodrigo... -o que? -você gostaria de passear um pouco agora à tarde? -obaaaaaaaaaaaa... -posso levá-lo, roberta?

-ai doutor... -fique tranqüila, trago ele ainda hoje... -só se a vânia for junto. -então vamos. no começo ela ficou com um pouco de receio em deixar eu sair com o rodrigo, talvez por me conhecer pouco e ter pouca confiança em mim e por isso mandou a vânia junto, mas minhas intenções sempre foram de dar uma condição de viver melhor para aquelas crianças, e aos poucos ela foi percebendo isso. abri a porta do carro e o rodrigo já pulou pra dentro, seguimos em direção do shopping mais perto, dentro do carro coloquei um cd e fomos cantando o caminho todo... -poeira... poeira... chegamos no shopping, deixei o carro no estacionamento, peguei na mão da vânia e do rodrigo, um pouco assustados com o barulho de carros em um ambiente fechado e o cheiro de combustível. -onde a gente está, tio? -aqui é um estacionamento. -pra que serve um estacionamento? -serve pra guardar o carro. -ah... bom... a vânia quase não abria a boca, já o rodrigo perguntava tudo, ele estava mesmo na idade das perguntas, e nessa idade as crianças começam a descobrir as verdades do mundo real, deixando o mundo da fantasia, e nós devemos ser sinceros, dizer sempre a verdade com jeitinho, tomando cuidado com as palavras e a forma de contar. andávamos pelo corredor do shopping olhando as vitrines, eles seguravam na minha mão admirados com tudo, pra eles era novidade aquele ambiente, um monte de pessoas juntas, muitas luzes, barulho. logo na entrada havia um chafariz onde o rodrigo queria chegar perto e molhar a mão, criança é muito curiosa, eu disse pra ele que não podia, por ele ser um garoto inteligente e obediente acabou entendendo e não reclamou, a vânia também estava maravilhada com o lugar, acho que eles nunca haviam ido ao shopping, na verdade eu acho que eles nunca haviam saído do "lar do céu". quando fomos subir a escada rolante foi um problema enorme, a vânia ficou com medo, parecia um bicho do mato, não sabia se subia ou não, deve ter ficado com medo de ser engolida pela escada rolante, eu e rodrigo acabamos subindo e ela ficou lá embaixo, as pessoas ficavam olhando, algumas até achavam graça, o rodrigo gritava pra ela subir, eu falei várias vezes, mas a coitada ficava com medo até que a empurraram com a movimentação de pessoas no local, por fim ela conseguiu chegar ao segundo piso, peguei pela sua mão e continuamos andando pelos corredores do shopping. -ai... que troço horrível... -hahaha... quase você ia ficando lá sozinha. quando passamos pela praça principal do shopping o rodrigo apontou para os elevadores que cruzavam no alto do poço, espelhados e iluminados: -o que é aquilo, tio? -aquilo é um elevador. -pra que serve? -ele serve pra levar uma pessoa de um andar para o outro... -e ele não cai? -não, está bem preso naqueles cabos ali... você nunca andou em um? -não. -e você, vânia? -deus me livre. -hahaha... então vamos andar agora... -obaaaaaaaaaa!

-ai não... -deixa de bobagem vânia, não precisa ter medo. apertei o botão e ficamos aguardando junto com um casal de namorados, não demorou muito e o elevador chegou, esperamos todas as pessoas descerem antes de entrar, por último saiu uma mulher com um carrinho de bebê, nem bem entramos e o rodrigo foi lá pro fundo espiar a vista do alto, pois o elevador era todo de vidro, pra ele era tudo novidade, a descoberta de um mundo fora do que ele vivia, um mundo cheio de cores, pessoas, luzes, e bem maior do que o que ele vivia, ao mesmo tempo em que ele tinha curiosidade também tinha medo, mas fiz de tudo para deixá-los à vontade e proporcioná-los um dia de muita diversão: -ui... -o que foi? -minha barriga... -hahaha... deu um frio na barriga? -É... -normal, acontece. -ah seu bader... eu vou morrer... -hahaha... calma vânia, já vai parar... o casal que estava junto conosco dentro do elevador se matou de rir, eu também dei risada da reação deles, foi uma cena muito engraçada, os dois pensando que iam morrer por causa de um frio na barriga ao subir de elevador. chegamos no 5º andar e fomos para a praça de alimentação, estava vazia, pouco barulho, muitas opções de restaurantes e uma variação de comidas, fomos andando e vendo se encontrávamos algum lugar para nós, a vânia não desgrudava do meu braço, mas eu compreendo que por ser uma descoberta nova, um mundo que ela não conhecia, causa esse tipo de reação. -o que é aqui, tio? -aqui é uma praça de alimentação. -o que é isso? -É um lugar onde as pessoas param pra comer e conversar. -e a gente vai comer? -vamos sim. -e vamos conversar também? -claro... o que você quer comer? -deixa eu pensar... -e você, vânia? -eu quero comer hambúrguer. -eu quero comer pizza... -então vamos comer pizza e hambúrguer. -ebaaaaaaaaaaaaaaaaa! paramos em um dos “fast-food” para almoçarmos, compramos hambúrguer, batata frita, refrigerante, pizza, torta de maçã. notei que eles estavam com muita fome pela maneira que eles comiam, um pouco rápido demais, a satisfação em ver os olhinhos deles brilhando deslumbrados com o que eu estava proporcionando foi meu pagamento, ganhei meu dia, e eles ganharam um dia de sonho. -estão gostando? -uhum... -muito bom seu bader. -tio... -fala meu anjo. -depois eu posso tomar sorvete? -ele já melhorou da gripe, vânia? -ele ta melhorzinho sim...

-só se você prometer comer tudo. -obaaaaaaa! depois de almoçar fomos tomar um sorvete, o rodrigo quis um com muita cobertura de morango, fez uma mistureba total, matou sua vontade pelo ano inteiro, mas depois fiquei com um pouco de receio em deixá-lo tomar todo aquele sorvete, pois ele estava meio adoentado da primeira vez que fui visitar o orfanato, mas assim que ele terminou de tomar o sorvete eu fiz com que ele bebesse água em seguida. terminando de encher as três barrigas nós fomos andar um pouco mais pelo shopping, passamos em frente uma loja de roupa infantil, entramos para dar uma olhada em um tênis que o rodrigo havia gostado, acabei comprando várias roupas pra ele, pois as que ele vestia estavam muito judiadas, velhas e gastas. já estava passando da hora, então os levei de volta para o abrigo e fui trabalhar. capítulo 18 cheguei na produtora já passava das 16h, subi as escadas e encontrei com a eduarda no corredor: -bader, tem uma pilha de papeis sobre sua mesa... -do que se tratam? -da gravação de amanhã, parece que o cliente quer assistir as filmagens. -sem problemas, você já contatou a prefeitura sobre a interdição do espaço pra filmagem? -já, a autorização já foi dada. -vem até minha sala que preciso falar algumas coisas com você. -já to indo, vou pegar um café e já volto. entrei dentro da sala, coloquei meu casaco na cadeira e liguei o computador e comecei a imprimir os roteiros de gravação do outro dia. -cheguei... -sente aí. -o que você está imprimindo? -o roteiro pra gravação de amanhã. você tem que chegar no local antes das 10h, às 14h vamos começar as gravações e eu preciso que os equipamentos já estejam posicionados. -vou passar isso pro henrique, ele quem está cuidando dessa parte. -quem está cuidando dos figurinos? -a vanessa e o gilberto. -leva esses desenhos pra eles, quero as roupas iguais a essas dos desenhos. -lindas... e a trilha sonora, já foi escolhida? -o glauber quem está cuidando disso. -e seu namoro, como está? -não está mais, estou solteiro. -não creio... -pois é, mas vamos mudar de assunto. -ok, desculpa. teve alguém procurando por você um dia desses... -quem? -não sei, a vanessa que disse. não fazia idéia de quem seria, o daniel não poderia ser, pois se fosse ele a vanessa viria correndo me contar, de qualquer forma não dei muita importância a isso. -deixou algum recado pelo menos? -parece que não. -bom, se for algo de importante vão me procurar outra vez.

-com certeza. no outro dia começaram as gravações do comercial, acordei bem cedo, comi um pedaço de pão integral com cream cheese e um copo de suco de goiaba, tomei meu banho bem rapidinho e segui pra praça ramos, onde iríamos gravar a propaganda. cheguei lá e havia muita correria, uma movimentação de pessoas pra lá e pra cá carregando equipamentos, parecia estar tudo atrasado. -bom dia! -bom dia, bader. -o que aconteceu que não está tudo pronto ainda? -ai bader, estava tendo um protesto de sindicato aqui, atrapalhou tudo, só pudemos começar agora. -espere aí... tira aquele canhão de luz dali e coloque perto daquela marquise... ei você, já vestiu os atores? cadê as câmeras? -calma bader... você está muito nervoso. -como calma? se essa publicidade não ficar pronta hoje você tem idéia do prejuízo que vamos ter? -mas não é culpa nossa... -não interessa de quem é a culpa, é seu emprego que está em jogo. -galera vamos apressar essa montagem de equipamentos aí... -você viu a vanessa? -está vestindo os atores. -e a kelly, já está aí? -está sim, acho que já começou a maquiá-los também. -Ótimo. em meia hora quero ver tudo pronto. -pode deixar, bader. -eduarda, eu disse que não era pra ninguém circular pelo cercado sem crachá, não disse? -sim. -avise aquele rapaz, por favor. -ok. eu adorava meu trabalho, mas às vezes ele era estressante, principalmente em gravações externas que exigiam mais tempo, se fosse em estúdio seria mais rápido e fácil. -bader, tenho uma má notícia... -humpft... o que é, eduarda? -o cliente chegou pra assistir a gravação. -o quê!? -e agora, o que eu faço? -dê um jeito de distraí-lo, enquanto eu arrumo uma maneira de fazer um milagre aqui. -tudo bem. consegui deixar tudo pronto em quinze minutos e demos início à gravação, passamos a tarde inteira gravando as externas no centro de são paulo. não é fácil filmar em externa, dá muito trabalho, foi necessário fechar um quarteirão inteiro, cercar o local, a equipe técnica que levamos era enorme, cerca de vinte pessoas, foram armadas cinco tendas para abrigar equipamentos, figurinos, atores e produção. muitas pessoas pararam para acompanhar as filmagens, começamos com a parte mais difícil que era o beijo do casal em frente ao municipal, no meio da gravação tivemos que interromper por causa de uma chuva repentina, ficamos em média quarenta minutos esperando a chuva forte passar, depois retomamos normalmente as filmagens. uma produção como essa leva horas para ficar pronta, é necessário gravar várias vezes a mesma cena, nem sempre conseguimos o resultado que queremos na primeira filmagem, temos que achar a posição certa da câmera,

ajustar a luz de acordo com a claridade do dia, e uma infinidade de detalhes que contam muito para que saia um trabalho de boa qualidade. terminamos as gravações quando já era noite, o cliente acompanhou as filmagens do início ao fim, pela cara dele parecia ter gostado: -bader? -eu. -parabéns, a idéia foi sua? -foi... -nossa... muito talentoso você... -obrigado. -não é à toa que ele é destaque na produtora por ter essas idéias criativas. -vocês estão me deixando sem graça... -bom, preciso ir... -sem problemas, obrigado pela presença. -obrigado você pelo bom trabalho que desempenhou para nossa empresa, em nome de todos agradeço. -mais uma vez, obrigado! fiquei muito feliz em receber pessoalmente um elogio do representante da empresa, melhor ainda era saber que ele havia ficado satisfeito com meu trabalho, sinal de que eu estava seguindo o caminho certo. depois que ele foi embora não demorou muito e eu fui também, mas antes tive que passar na produtora para deixar alguns equipamentos antes de ir pra casa, não via a hora de tomar meu banho, deitar na minha cama quentinha abraçado com a dani e ver um filme na tv, pois o dia havia sido exaustivo. fui dirigindo e pensando em como seria meu outro dia, na edição das imagens das gravações, sonoplastia, enfim. o bom de ficar ocupado assim é que você esquece um pouco de seus problemas, focando somente naquela tarefa que você está desempenhando no momento, chega cansado em casa e não tem tempo para nada. parei em frente ao condomínio, pois havia esquecido o controle que abria o portão automático, buzinei para que o porteiro abrisse para mim. chovia e trovejava demais, manobrei o carro na garagem e acabei estacionando o carro de qualquer jeito, pois o cansaço era tanto que não via a hora de dormir, subi para meu apartamento morrendo de saudade da dani e louco pra cair na cama, minhas pernas estavam doloridas, começou a me dar dor de cabeça e minha garganta doer, quando coloquei a chave na fechadura, já percebi que ela estava ali cheirando por baixo, mal abri a porta e ela começou a pular nas minhas pernas. -oi bebê... papai chegou... deixei as bolsas no meu quarto, fui até a cozinha, tirei alguns congelados do freezer e coloquei para aquecer no microondas, dei a comida da dani e fui tomar um banho bem quente para tirar o stress. minha mãe dizia que não é recomendável tomar banho enquanto estivesse relampeando, tratei de não demorar muito, passei meu óleo de amêndoas no corpo todo para dormir melhor, enrolei a toalha na minha cintura e fui preparar um suco, tirei a polpa de fruta do freezer, coloquei no liquidificador com água e açúcar, depois bati até ficar cremoso. o microondas começou apitar indicando que a comida ficou pronta, coloquei no prato e fui coar o suco quando a campainha tocou, eu já até previa quem era, por ter estacionado o carro de qualquer jeito já seria um pretexto pro carlos ir bater na minha porta pra me encher o saco, já que ele costumava pegar um pouco no meu pé, deixei o que estava fazendo e fui abrir a porta antes de jantar, já estava preparado pra descer os cachorros em cima dele, não estava nos meus melhores dias pra escutar desaforos: -já estou indo... quando abri a porta levei um susto, eu esperava que fosse qualquer pessoa, menos que fosse o daniel, estava lindo como nunca, perfumado, bem vestido, com

uma bermuda tipo surfista azul e preta com a "barraca" meio armada, camiseta amarela e tênis sem meia, tive que me segurar para não cair, meu coração foi a mil, minha boca secou, não conseguia pensar, ao mesmo tempo em que fiquei feliz por vê-lo, também fiquei com medo, depois de descobrir que eu estava com hiv por um descuido meu, coisa boa ele não haveria de querer ali, minha voz custou a sair, com um olhar sério ele me encarava calado, imóvel, aquilo estava me incomodando, minha única atitude foi pedir mais uma vez desculpas. capítulo 19 -oi petit... desculpe, daniel. eu entendo que você esteja furioso comigo... -você não confiou em mim... -não é isso amor... -chega. -por favor, me deixe explicar... -você não vai explicar nada, cala essa boca e me beija logo, caramba. ele me jogou no sofá e foi me beijando como nos velhos tempos, minhas pernas amoleceram, meu coração quase saiu pela boca, nos seus braços eu me entreguei, à vontade que eu tinha de estar com ele era enorme, não tinha explicação, com seu corpo deitado sobre o meu, ele puxou minha toalha me deixando nu, ali na sala mesmo começamos a nos amar, em meu ouvido ele sussurrava palavras de amor. -como eu senti falta desse corpo... desse cheiro... dessa pele... -me perdoa? -jamais eu te abandonaria, não me importa se você tem hiv ou não, o importante é que eu te amo mais que tudo nessa vida. vem comigo... ele pegou pelo meu braço e me puxou, peguei a toalha do chão e me enrolei, fui arrastado até o quarto onde ele trancou a porta, me jogou na cama e começou a tirar sua roupa já de "barraca" armada. -petit... -psiu... não fale nada, vamos matar nossa saudade fazendo o que nós sabemos fazer de melhor... apenas coberto pela toalha eu me deitei na cama, ainda com a luz acesa olhei ele tirar sua bermuda sem cueca, na sala mesmo ele já havia tirado sua camiseta então foi só alegria, ele foi olhando nos meus olhos e se aproximando, com seu corpo nu e bronzeado, com aquela mão enorme ele tocou meu rosto e se deitou ao meu lado, no quarto se fez silêncio, nossos corpos pelados deitados sobre minha cama, sua pele se arrepiava só de tocar na minha, aquele movimento de vai-vem que ele fazia era incomparável, eu delirava com sua performance na cama, o jeito delicado e ao mesmo tempo selvagem que ele chupava meu mamilo me deixava anestesiado, a forma com que ele me abraçava, se encaixava perfeitamente em meu corpo aqueles braços fortes, aquele cheiro de pele misturado com o cheiro da sua respiração completaram o sexo safado. fizemos amor gostoso, deixei suas costas um pouco arranhadas e ele deixou uma chupada enorme no meu peito, ainda bem que não foi no pescoço. -nossa... -o que? -fazia tanto tempo que eu não gozava assim... -nem eu. -quase quebramos a cama... -hahaha... por uma causa justa... -te amo, sabia? -eu também te amo, você nem imagina o quanto...

-depois daquele dia eu fui ao médico fazer os exames... na hora que ele falou aquilo minha barriga gelou, me afastei um pouco, quase comecei a chorar, relembrei todo aquele sofrimento que havia passado quando também fiz os exames: -e aí? -não tenho nada, tudo negativo. -ufa. -mas isso já era certeza... -eu sei, mas... -tirei todas as minhas duvidas com o médico, e sei que posso viver eternamente ao seu lado sem correr nenhum risco, tomando os cuidados necessários... -então... -então eu voltei pra junto de ti, pra ficar com você pro resto da vida. vem comigo... -pra onde? ele vestiu sua bermuda, pegou pela minha mão e me levou até a sala, eu já havia vestido uma cueca, ele abriu a porta e no corredor haviam algumas malas, cujo motivo eu não tinha entendido. -de quem são essas malas? -minhas, me ajude a guardá-las... -para que você trouxe isso? -porque a partir de hoje nós vamos viver como um casal, por isso estou me mudando pra cá. -sério? -sim... só faltou o maik -quem é maik? -meu cachorro. -você tem cachorro? -sim, um pittbull. mas aqui não tem espaço pra ele, também tem a dani... -morro de medo dessa raça... -mas o maik é mansinho, olha ele aqui... no seu ombro direito tinha a tatuagem do cachorro dele, eu nunca havia reparado naquela tatuagem, talvez seja porque ficava atrás do ombro e as camisas tampavam, ou também por distração mesmo. -nossa... nunca havia reparado nessa sua tatuagem... e olha que eu te dei banho uma vez... -É porque ela é recente, fiz há pouco tempo, logo farei uma sua. -nem pense nisso. -e por que não? -por que não. -ah... pára com viadagem, me ajuda aqui... pegamos as malas e trouxemos pra dentro da sala, a partir daquele dia começamos a morar juntos, como um casal de verdade, todos os dias eu dormia e acordava com ele ao meu lado, eu não jantava sem ele chegar e banho só tomávamos juntos. eu tive muita sorte na vida quando encontrei o daniel, a vida nos colocou à prova algumas vezes e ele só mostrou o quanto era grande o seu amor por mim. finalmente minha vida voltou a ser como era antes, durante a semana tive duas gravações para fazer, pegamos sol e chuva, foi uma semana cansativa, trabalhei dezoito horas por dia, só fui descansar no sábado e domingo, que por conta da correria e descuido acabei pegando uma gripe. deitado na cama vendo tv, daniel cuidava de mim com muitos paparicos, levando comida na cama, fazia chá de maçã que era o meu preferido, mudava a tv de canal quando eu pedia e até me dava

banho, claro que ele também entrava na água, nossa rotina parecia um sonho, eu não pretendia acordar nunca mais. -petit... tá pronto seu chá. -obrigado amor. -oh meu bebê, você precisa se cuidar mais, seu organismo agora é frágil... -humpft... eu sei amor, desculpe. ficamos de pijama deitados na cama comendo pipoca e vendo tv quando de repente começou a passar a propaganda que eu tinha produzido: -olha lá, daniel... -o quê? -esse comercial foi eu que produzi... -deixa-me ver... nossa amor... da hora... -será que o público vai aderir? -com certeza. depois de ver a propaganda decidimos ver um dvd de suspense que o “petit” tinha alugado, o filme dava cada susto... eu aproveitava pra pegar em sua mão, abraçálo... era muito bom naquele tempo frio, ficamos ali abraçadinhos o dia todo, embaixo do edredom. -É tão bom ficar abraçadinho com você... -sim... demais. -se eu pudesse ficar assim com você eternamente... -prometo que nunca dormiremos separados. -promete? -sim, aconteça o que acontecer, sempre estaremos juntos. -te amo petit. -moi aussi. lá fora chovia muito, adormecemos com a tv ligada, durante a madrugada eu tive um sonho horrível, sonhava que chovia muito e eu corria por uma rua sem fim, eu chorava sem parar, estava perdido em uma rua onde nunca encontrava a saída, por mais que eu tentasse falar era inútil, a voz não saia, eu estava acuado. acordei assustado, suando, o daniel acordou preocupado, eu chorava de medo. -o que foi, petit? -tive um pesadelo... me abraça petit. -vem aqui... não se preocupe, está tudo bem... já passou, eu to aqui pra cuidar de você... não vou deixar ninguém te machucar. deitado em seus braços não consegui dormir, o sonho que tive me deixou assustado. levantei para preparar o café da manhã, tomei meu capuccino bem quentinho e fiquei vendo o noticiário na tv, a previsão do tempo era chuva forte a semana inteira. -bom dia petit! -bom dia amor... já tem café pronto na cozinha, pão no armário, leite na geladeira, geléia, frutas, suco... -tá bom, tá bom. ele foi para a cozinha preparar seu café, mas continuamos conversando: -semana que vem é o casamento do seu irmão... -É verdade... nem compramos o presente... -e nós somos um dos padrinhos... -o que você acha de dar uma passagem de lua de mel para os dois em um cruzeiro pela costa brasileira? -seria uma boa idéia. -a propósito, você pediu demissão na academia? outro dia eu te vi com um outro cara no carro... -ah é... eu ia te fazer uma surpresa, mas já que você tocou no assunto... aquele

cara que você viu comigo é o meu sócio. -que sócio? -saí daquela academia do shopping e montei a minha própria academia. -ah que bárbaro. espero que dê tudo certo, petit. -vai dar, com você ao meu lado minha vida tende a dar certo. -você preenche minha alma quando fala assim... -e você preenche meu coração quando está comigo capítulo 20 na manhã seguinte o daniel acordou primeiro que eu, tomou banho, colocou uns pães de queijo para assar no forno e foi arrumando a mesa do café, enquanto isso eu dormia até ser acordado pelo barulho de seu celular tocando: -alô? daqui a pouco eu to chegando... não esquece de pegar a nota fiscal... falou. -bom dia! -bom dia, meu gato. ele veio de encontro a mim e me deu um beijo melado, gostoso e safado, como só ele sabia fazer. -você vai sair? -vou, compramos equipamentos novos para a academia e preciso estar lá na hora da entrega, quero conferir tudo de perto. -ah tá. -mas eu volto logo, vou de moto. -tome cuidado, petit. -pode deixar. agora preciso ir, mas antes quero outro beijo do meu gatinho. -você volta tarde? -não, volto pra almoçar com você. -hum... então vou fazer um almoço bem gostoso... -mais gostoso que você? impossível. vem aqui... demos um selinho bem molhado, um abraço quentinho, seu olho entregava sua vontade de me consumir como o pão que assava no forno, aquela boca dando um sorriso safado de canto de boca me fazia perder a cabeça, eu não conseguia resistir, que homem era aquele que me fazia esquecer até meu nome? -te amo! -eu também. -até mais tarde. ele saiu pra resolver os problemas da academia, eu fiquei na cozinha de olho nos pães de queijo no forno, enquanto eles não ficavam prontos eu abri o armário atrás de mim, peguei uma caixa de chá de camomila que ainda estava fechada, eu tinha uma raiva de ficar abrindo aqueles plásticos que embalavam as caixas de chá, não tinha paciência, me dava aflição, então eu peguei uma faca para rasgar aquele plástico estúpido quando por um descuido acabei cortando meu dedo, na hora eu nem senti, consegui abrir a caixa e tirar um sache de chá, guardei a caixa de volta no armário e coloquei o sache dentro de uma xícara com água e deixei esquentar por 1 minuto no microondas, enquanto isso, peguei o pote com os biscoitos amanteigados e levei até a mesa da sala, fui tirar os pães de queijo do forno e o chá do microondas, levei os dois para a mesa quando notei que o pote de biscoitos estava sujo de sangue, foi aí que reparei o corte no meu dedo, começou a sangrar muito e eu entrei em pânico, corri para o banheiro tapando o corte com a outra mão para não pingar nenhuma gota de sangue na casa. abri a torneira da pia e deixei o dedo embaixo da água até lavar todo o sangue, depois passei sabão, limpei com papel e passei um remédio para não infeccionar, fiz um curativo com esparadrapo e voltei tomar meu café.

depois que eu soube da minha doença meus cuidados foram redobrados, o medo de contaminar outra pessoa era constante, quando eu via sangue já entrava em pânico, o que eu não queria pra mim eu não desejava aos outros, se alguém se contaminasse por causa do contato com meu sangue eu ficaria louco, me sentiria culpado pra vida toda. sentei na mesa e tomei meu café da manhã, com biscoitos amanteigados de vários tipos, com goiabada, chocolate, côco, um mais gostoso que o outro, também tinha os pães de queijo, o chá de camomila, torradas e muitas outras mais. enquanto eu comia a dani ficava sentada ao meu lado esperando eu dar algo pra ela, a coitada ainda não havia comido nada, mas também nem estava na hora dela comer, ia ter que esperar a hora certa pra não ficar mal acostumada. -você está com fome, bebê? papai já vai dar seu papá. terminei de tomar meu café tranqüilamente, ainda com o dedo doendo um pouco fui dar comida para a dani se não ela ia me deixar maluco, mal coloquei a comida no pote e ela já foi devorando, parecia que ela não comia há meses, voltei para a sala e comecei a arrumar a mesa, coloquei toda a louça pra lavar na máquina, guardei os biscoitos que sobraram, mas antes limpei com álcool o sangue que havia sujado. eu sempre tive mania de encher a mesa com um monte de coisas gostosas, desde criança sempre fui comilão, adorava doces e detestava verduras, conforme eu fui crescendo passei a gostar de vegetais, mas continuava preferindo um bom pedaço de bolo de chocolate. depois de tudo limpo e arrumado fui vestir uma roupa, pois desde a hora que havia acordado fiquei de samba canção, mas antes de vestir uma roupa eu tomei um banho bem quentinho, fiquei com o dedo machucado pra fora da água, pois estava doendo ainda e eu havia acabado de passar remédio, com o rádio do quarto ligado eu acompanhava a música do chuveiro, eu adorava cantar e dançar no chuveiro, eu sempre achei que o banho é muito importante pra todo mundo, pois é em contato com a água caindo sobre nós que renovamos nossas energias e mandamos o stress embora. saindo do banho, enrolei a toalha na cintura e fui escovar os dentes, abri a tampa da pasta com o dente pra não machucar meu dedo, mais do que já estava. no rádio as músicas ainda tocavam, em frente ao espelho da pia eu escovava os dentes e dançava seguindo o ritmo da música até ouvir o telefone tocar, deveria estar tocando há algum tempo já, ainda com a boca cheia de espuma enxagüei rapidamente e corri para atender: -alô? -petit... -oi... -vou chegar um pouco tarde em casa... -por quê? -porque roubaram minha moto. -o quê? como foi isso? -eu acho que os caras já estavam de olho nela há algum tempo, pois logo quando parei em frente à academia fui abordado por dois caras armados... -caramba... mas você está bem? -eu to, mas minha moto já era... -você não tinha seguro? -da moto não, só do carro... -puts... -agora eu to aqui na delegacia registrando ocorrência, não sei que horas vou sair daqui... -quer que eu vá até aí? -não, fica aí mesmo, não quero você nesse ambiente de delegacia. -amor, eu to preocupado...

-fica tranqüilo, eu vou ficar bem, daqui a pouco eu to em casa. -humpft. -te amo! -eu também. desliguei o telefone com o coração apertado, ainda bem que não aconteceu nada com o meu petit, a violência parecia ter fugido do controle, eu já não me sentia mais seguro andando sozinho pelas ruas de são paulo, mas não adiantava eu querer culpar só são paulo, pois esse tipo de coisas acontecia no mundo inteiro, e a tendência era piorar. voltei até o banheiro e terminei de escovar os dentes, aproveitei e fiz a barba também que já estava me incomodando. fui até o quarto vestir uma roupa, voltei ao banheiro e procurei pelo meu relógio de pulso, mas não encontrei, comecei a vasculhar o criado mudo quando em um amontoado de papeis deixei cair a carteirinha de vacinação da dani, eu havia esquecido completamente que faltava ela tomar uma vacina e já estava atrasada. coloquei um tênis, passei um pouco de gel no cabelo e fui até a cozinha buscar a coleira da dani que ficava dentro da última gaveta do armário, no caminho lembrei que havia deixado o relógio sobre a mesa da sala. -dani... dani... vamos passear com o papai... coloquei a coleira nela, peguei o celular, coloquei os óculos escuros e saímos pela área de serviço, pois não podia andar com animais nas áreas sociais do condomínio. quando chegamos na portaria o porteiro estava recebendo um pacote dos correios, mas aquela mula esqueceu que o portão era automático e trancava ao bater e acabou ficando pro lado de fora. -bom dia seu bader! -bom dia, douglas. -seu bader, faz um favor pra mim? -qual? -abra o portão que acabou trancando? -hahaha... onde que abre? -tem um botão verde ao lado do teclado dentro da guarita... sobrou pra mim, tive que abrir o portão para poder sair e ele entrar, até que foi uma cena engraçada, mas eu ia expor isso na reunião de condomínio, pois era a segurança dos condôminos que estava em jogo, se fosse um ladrão teriam-no abordado e entrado no condomínio com muita facilidade. eu e a dani vínhamos caminhando tranqüilamente pela calçada até que um gato vira-lata passou em nossa frente, a dani começou a querer correr atrás do gato e eu tentando segurá-la, a fúria dela era tanta que não demorou muito e a coleira se desprendeu de seu corpo, e eu com o dedo machucado não consegui segurá-la, nunca vi a dani correr tanto na minha vida, eu também nunca havia corrido tanto até então, o gato cinza conseguiu escapar sem nenhum arranhão, subindo na árvore da calçada, eu já não agüentava mais correr, comecei a sentir falta de ar e mal estar, o gato eu consegui achar, mas a dani eu a perdi de vista quando ela dobrou a esquina. comecei a entrar em pânico, não era possível que um basset ia sumir assim tão fácil, corri pela avenida higienópolis quase morrendo sem ar e quando cheguei no cruzamento com a avenida angélica avistei o daniel atravessando a rua, vindo de encontro a mim com a dani em seu colo, de calça jeans com uns detalhes rasgados, meia caidinha aparecendo a cuequinha como eu gostava, camisa baby look preta, óculos escuros e cabelo todo espetadinho, um tesão de homem: -ela tá fugindo de você? hahaha... cansou do bader, dani...? -ai que sustou você me deu... -eu? -a dani. você também.

-o que aconteceu pra ela sair correndo desse jeito? -ela viu um gato correndo na rua e começou a correr atrás... -mas você deixou ela andar solta pela rua? -claro que não, você não está vendo ela de coleira arrebentada? -calma amor, eu to vendo... -desculpa, é que fiquei nervoso... comecei a chorar e tremer, o medo de perder minha companheira de tanto tempo me fez perder o controle, e os sarros do daniel me deixaram mais puto ainda. -pega ela aqui... -você nunca mais faça isso com o papai. -petit... você reparou que foi nesse cruzamento que nos conhecemos? -É verdade... -pra onde você estava indo? -vou levar a dani pra tomar vacina na veterinária... -eu vou com você. fomos caminhando e conversando até a veterinária que ficava ali perto, levei a dani no colo para não correr o risco dela escapar outra vez, no caminho eu e o daniel íamos conversando. -daniel, fiquei preocupado com aquela história de assalto... -ah... deixa pra lá... -amor, você me deixou com o coração apertado. -mas eu to aqui, perto de você, te amando como sempre... -hum... você fez o boletim de ocorrência? -fiz, mas tenho quase certeza que não vai dar em nada. -por quê? -você acha que vão encontrar minha moto? a uma hora dessas ela deve estar em outra cidade, estado... -e por que você não colocou no seguro? -não tinha grana pra isso, agora que montei a academia tive que economizar ao máximo, dei preferência ao carro que custa mais... -e por que você não me pediu? -não acho justo... -se estamos juntos, é também para dividir os problemas... um deve ajudar o outro. -desculpa amor... e também como eu ia saber que você tinha grana? -se perguntasse saberia... -que mal lhe pergunte, mas quanto você ganha, bader? -eu não tenho salário fixo, eu ganho por contrato... -como assim? -eu não tenho uma renda fixa, eu fecho um contrato com uma empresa para produzir a publicidade dela e ganho um valor pelo trabalho, pode durar um mês ou um ano, não tem tempo estipulado. -e isso equivale a quanto? -meu último contrato eu fechei em 800 mil... -quê? -sim... -caralho... também queria um emprego desse... ganhar 800 pau por mês. -não é por mês, é por contrato. fechei o contrato por dois anos com essa empresa e vou ganhar 800 mil por esses dois anos... -ah... mesmo assim, é muita grana... -nada vale ter todo esse dinheiro e não ter você ao meu lado. -se você soubesse o quanto minha vida mudou depois que te conheci... -mudou em que sentido?

-em todos... você tem uma maneira de me fazer feliz que ninguém tem, um encanto no olhar, uma sedução oculta... -pare com isso... capítulo 21 passei a semana me tratando daquela gripe chata, não agüentava mais ficar de repouso sem poder fazer as coisas que eu gostava, eu também nem conseguia, acabava fazendo tudo mesmo contra a vontade dos médicos. na véspera do casamento eu já estava melhor, meu dedo também já havia cicatrizado, fui visitar os noivos em campinas e entregar o meu presente e o do daniel. -oh de casa... -bader... -oi mãe! -oi bader... -tudo bem, millena? -eu to ótima. -entre meu filho... -cadê o pai? -ta tomando banho, sente aí que logo ele termina... -ok, e o rodrigo? -saiu com os amigos. -vem cá, ele não trabalha não? -trabalha... -ele só dá trabalho, é diferente... -hahaha... só você mesmo, millena. passei o dia com eles, minha mãe tinha acabado de fazer o almoço, acabei não resistindo e sentando à mesa pra almoçar com eles, eu sentia muita falta daquela comidinha caseira de mãe. logo depois o rodrigo chegou, todo sujo, parecia estar voltando de uma pelada, era visível a ansiedade dos noivos para o casamento, a millena provou 14 vestidos antes de decidir qual iria usar, foi muito engraçado ver minha mãe contando, disse que a vendedora da loja quase ficou louca, mas no lugar dela até eu teria ficado, imagine guardar aquele monte de vestidos depois, as duas disseram que escolheram o melhor vestido da loja e o mais bonito, isso eu só iria comprovar no dia da cerimônia. -bom, eu preciso ir agora... -tá cedo, bader. -não millena, ainda tenho que passar na tinturaria pra pegar minha roupa e a do daniel. -filho, fiz um pudim de leite condensado, você quer levar? -isso é pergunta que se faça? mas é claro que eu quero. -espere um pouco que vou embrulhar pra você... -tudo bem. -bader... -fala, pai. -o cristiano tá precisando fazer um trabalho de escola que fala dessas coisas de comercial... -sei... -ele veio me perguntar se você poderia dar uma ajuda pra ele. -claro, do que ele precisa exatamente? -parece que precisa vender água em pó. -hahaha... pode deixar, vou pensar em um argumento bem bacana, passa meu telefone pra ele...

-tudo bem filho. -aqui está o pudim, filho. -obrigado mãe. -vai com deus. -já falei que não gosto que a senhora fala assim, parece que eu morri. -desculpe, deus te acompanhe. -agora sim. fiquem com ele. -obrigado pela visita, bader. -espero que curtam bastante a viagem de lua de mel. -você não faz idéia de como vamos nos divertir... -opa, lua de mel? vai ser o dia todo... -rodrigo? respeite seus pais... -ah... finja que nem to aqui... -hahaha, só você mesmo, pai. beijo pra vocês e até amanhã. cristiano era o filho caçula do amigo do meu pai, deveria ter uns 12 anos, morava na mesma rua que meus pais, o pai dele e meu pai cresceram juntos, eu lembro que nas festas de fim de ano nossas famílias se reuniam e passavam todas juntas, pois minha avó era comadre da avó do cristiano. adorei ter passado um começo de tarde tão gostoso com eles, sempre que ia pra lá eu me divertia, pois eles eram uma verdadeira comédia, também tinha os doces que minha mãe fazia que eu não resistia, um mais gostoso que o outro, principalmente o bolo de chocolate com três camadas de creme que ela sabia fazer como ninguém, bem macio e molhadinho, tinha também o vidro de doce de leite e chocolate, eu adorava esse, o de chocolate e de laranja em caldas eram ótimos também, eu me lambuzava e no final eu deixava a dani lamber o pote com o que sobrava. na volta pra são paulo estava passando pelo centro quando vi um terreno cheio de entulhos, com uma placa de vende-se, fiquei interessado no local e anotei o número do telefone, encostei o carro e na mesma hora liguei do meu celular para consultar o preço, a localização era boa, pois bem no centro de são paulo com metrô perto, fácil acesso, seria um ótimo lugar para construir uma instituição para as crianças com hiv. marquei de encontrar com o dono na próxima semana, a minha intenção era comprar aquele terreno e construir ali uma ong para crianças com hiv. depois fui até a tinturaria para pegar minha roupa para o casamento, aproveitei e peguei a do daniel também. quando cheguei em casa o daniel já estava fazendo o jantar, coloquei a chave sobre a mesa, dei-lhe um beijo e fui colocar as roupas no cabide do quarto para não amassar. -hum... que cheirinho bom... -boa noite petit... já trouxe as roupas? -estão aqui, vou lá colocar no cabide para não amassarem. -tudo bem. -o que você está fazendo de bom? -pene ao sugo. -hum... casei-me com um chefe de cozinha e não sabia?... -tem muita coisa ainda que você não sabe sobre mim... -uau... e como é que eu faço para descobrir mais sobre você? -assim... ele colocou a colher sobre a pia, tirou o avental e me abraçou, olhando pros meus lábios com olhos de desejo, pouco a pouco ele foi me beijando e tocando minha pele por baixo da roupa. -amor... -fala gato. -agora eu vou tomar um banho, ficar bem gostosinho pra você... -como assim vocÊ vai? nós vamos tomar banho juntos.

na cozinha mesmo ele começou a tirar nossas roupas, aquela vontade de me ter parecia nunca terminar, se ele ficasse um dia sem sentir minha pele colada à sua ele ficava louco, fomos nos amando e nos despindo no caminho e quando chegamos no banheiro já não vestíamos mais nada, com os dois corpos nus abri o chuveiro enquanto o daniel ascendia a luz. -ascende a luz pra mim... -peraí... hum... -não... pára... tá gelada... -hahaha... -ai... vem aqui também... -não... petit... hahaha... -viu só... -sabe o que isso me lembra? -o quê? -o dia em que nós ficamos pela primeira vez... o dia que eu me interessei por você... -foi só naquele dia que você se interessou por mim? -naquele dia eu comecei a me interessar por você. deve ser por que eu estava bêbado. dei um empurrão nele: -ah é? -to brincando, amor. e você? -eu o quê? -desde quando você passou a sentir um interesse por mim? passando xampú em seu cabelo: -não vou falar... -fala, vai?... -não faz essa carinha que eu não resisto, vai... você começou a dominar meus pensamentos desde quando me abraçou no ibirapuera pra comemorar seu gol... -nossa... -pois é, mas deixa isso pra lá. -deixa pra lá, é? ele me deu um abraço e começou a me beijar, nossa... já estávamos de barraca armada, o daniel quando ficava assim era meio descontrolado, acabamos "terminando o trabalho" ali mesmo, no chuveiro. depois do nosso "banho" fomos jantar, abrimos um vinho tinto e brindamos nosso amor, a comida que o daniel preparou estava ótima, ele sabia cozinhar muito bem, além de ser tudo o que uma pessoa sonhou ter na vida. -sente aí que vou te servir. -tudo bem... -você vai provar agora uma especialidade do daniel... -sem contar aquela que acabamos de fazer, né? -além daquela. -hum... o aroma está ótimo. a comida estava tudo de bom, o vinho era um dos melhores também, naquela noite fomos dormir mais cedo, quer dizer, fomos deitar, pois dormir mesmo demorou um pouco, pois tivemos a idéia de continuar fazendo o que havíamos começado no banho. no outro dia logo pela manhã eu levantei mais cedo e fui fazer limpeza de pele, arrumar o cabelo, precisava cuidar da minha aparência, pois era um dia especial, não que eu largasse mão de me cuidar, sempre fui bem vaidoso, mas aquele dia eu tinha que ir a fundo. -bom dia, cláu! -oi bader, tudo bem?

-tudo ótimo, vim fazer uma hidratação... -espere aí que eu já te atendo. -tudo bem. -pode sentar no lavatório... -está cheio aqui hoje... -de sábado é sempre assim. o salão de cabeleireiro que eu costuma ir ficava dentro do shopping, haviam vários profissionais, mas eu só deixava o cláu mexer no meu cabelo, acho que era o costume, pois desde a primeira vez que fui até lá era ele que me atendia. -seu cabelo tá tão bonito, o que você tem feito nele? -nada, só uso aqueles xampús que você recomendou e a pomada pra modelar. -mas seu cabelo já é bonito. vamos começar lavando com xampu especial. -tudo bem. depois de arrumar o cabelo eu subi no andar de cima e fiz a limpeza de pele, passei quase a manhã toda no salão, cheguei em casa 10h, o daniel já estava pronto me esperando, perfumado, impecável como sempre, jogando vídeo game. o casamento estava marcado para as 11h, no caminho fomos conversando sobre o abrigo das crianças que eu havia conhecido, o daniel quem foi dirigindo meu carro, pois o dele estava no mecânico fazendo revisão. -eu já te falei que você está muito bonito hoje? -ainda não. -o que você acha de aproveitarmos a ocasião e pedirmos para o padre casar a gente também? -seria ótimo, daniel. -já comprou as alianças? -ainda não. -então vamos comprar agora... -compramos depois, não devemos atrasar o casamento, só a noiva pode fazer isso. -É verdade. -daniel... -diga... -quando voltarmos pra são paulo, quero que você conheça um lugar que me apaixonei... -que lugar? -É uma entidade que cuida de crianças com hiv... -sério? -É, fui conhecer e fiquei apaixonado por uma das crianças. -sério? -vou te levar lá e você vai ver, assim como gostei você também vai gostar. capítulo 22 chegamos em frente à igreja, haviam muitos carros parados na rua, muita movimentação de pessoas, da rua mesmo conseguíamos ouvir um toque de piano que vinha de dentro da igreja, a decoração começava já na calçada, com um tapete vermelho no meio de um corredor de flores. deixamos o carro com o manobrista, parado na calçada ajeitei minha roupa que havia ficado meio amassada: -olha como minha roupa está... -o que houve? -tá amassada? -não... -meu perfume ainda está cheirando?

-to sentindo daqui. -minha roupa está bem? -você ta lindo, petit. Íamos caminhando em sentido à porta quando encontrei minha mãe, que estava arrasando com seu vestido, junto com ela estava o rodrigo recebendo os convidados na porta, também haviam alguns seguranças bem altos com rádio na mão se comunicando, cumprimentamos o meu irmão que estava muito ansioso. -bader... -oi mãe, estamos atrasados? -não, a noiva que está. -parabéns, rodrigo! -valeu cara. -parabéns, rodrigo! -valeu, daniel. -gente, vamos entrar que logo a noiva está chegando. minha mãe nos levou para dentro da igreja e nos mostrou onde teríamos que ficar, a igreja estava linda, enfeitada com lírios amarelos e orquídeas brancas que formavam uma cascata pelo corredor principal, havia um pianista tocando no altar, o tapete vermelho estava coberto com pétalas de rosas amarelas, brancas e vermelhas, dando um contraste muito bonito. toda cerimônia de casamento é emocionante, por mais simples que seja, mas minha família caprichou, aquela decoração deve ter custado muito dinheiro, estavam presentes muitas pessoas importantes, convidados do pai da millena que era muito bem de vida e influente em campinas, com certeza foi ele quem bancou toda aquela decoração. o coroinha já estava acendendo as velas decorativas, estávamos eu de um lado do altar e o daniel do outro, comecei a sentir um gosto ruim na boca, achei que fosse alguma afta que tivesse me saindo naquela hora, do nada meu nariz começou a escorrer, não era possível que justo aquela hora meu nariz iria começar a escorrer, eu achava ridículo ficar chupando ou assoando o nariz em ambientes com muita gente, em lugares fechados é pior ainda, todo mundo pára o que está fazendo pra olhar de onde vem aquele barulho bizarro. levei a mão no nariz com um lenço para limpar o catarro, quando ia guardando o lenço no bolso percebi que o que escorria pelo meu nariz não era catarro, era sangue. discretamente eu sai do altar e fui até a sacristia, tomei cuidado para não chamar atenção das pessoas, fechei a porta e desesperadamente comecei a lavar o nariz para estancar o sangue, a torneira saia pouca água, aquela sacristia cheirava a mofo, um amontoado de papéis ao lado esquerdo da pia, no canto da porta haviam uma pilha de caixas com alimentos, provavelmente eram doações para pessoas carentes. por mais que eu lavasse o nariz ele não parava de sangrar, eu já comecei a entrar em pânico, pois sangue pra mim já era sinônimo de perigo, o daniel entrou na sacristia logo depois para ver o que estava acontecendo, preocupado com meu sumiço repentino. -eu vi você entrando aqui com a mão no nariz. o que está acontecendo? minha mãe também entrou logo em seguida preocupada. -meu filho, o que tá acontecendo? por que você saiu do altar? -não sei, meu nariz começou a sangrar do nada... -deixa-me ver... minha mãe já ia tocando no meu nariz, quando eu dei um grito e os assustei: -não toque em mim. -calma... -limpa o sangue com isso, bader... daniel pegou um lenço umedecido e me deu para ficar segurando, eu não sentia dor nenhuma, o nariz apenas sangrava sem motivo, talvez tivesse estourado alguma veia e ocasionado o sangramento, fiquei com o lenço no nariz por cerca de cinco

minutos, esperando o sangue parar de escorrer, enquanto isso minha mãe estava de olho na porta para não correr o risco de chegar alguém e nos surpreender. -ah... e agora, como vou voltar pro palco assim? comecei a chorar, entrei em desespero: -calma petit... -calma filho, não precisa entrar em pânico. -eu não posso chegar lá com o nariz escorrendo sangue... -deixa eu dar uma olhada em como está? -só não ponha a mão. -tudo bem, tira pra eu ver... já não sangra mais... -deixa eu ver no espelho... É... acho que parou... -meninos, a noiva chegou, precisamos voltar... -tudo bem, vamos... -vamos. voltamos para o altar sem que fôssemos percebidos, saímos um de cada vez para não despertar a atenção das pessoas, primeiro saiu minha mãe, depois o daniel e por último eu. posicionados no altar esperamos as portas serem abertas, o pianista começou a tocar outra música que a millena havia escolhido especialmente para a cerimônia, era uma música que ela adorava ouvir quando estava triste. as portas se abriram e o coro começou a acompanhar, a millena começou a entrar na igreja acompanhada de seu pai, do alto caiam pétalas de rosas brancas, atrás dela vinha sua priminha segurando a cauda de seu vestido, deveria ter uns dois metros de cauda, seu bouquet era uma cascata de orquídeas que chegava quase no joelho, aqueles cabelos dourados com longos cachos intercalados com pequenas flores davam luz à sua face, ela entrava na igreja emocionada, eram muitos flashs, sua mãe não se conteve e chorava como um bezerro desmamado, o irmãozinho dela estava segurando as alianças logo atrás de sua prima. minha mãe também estava emocionada, ela sempre ficava assim em casamentos, realmente a cerimônia estava impecável, muito bom gosto tiveram quando escolheram a decoração. após a cerimônia, fomos para a festa de casamento, eu e daniel fomos em nosso carro seguindo os outros carros que iam buzinando na frente: -lindo o casamento... -É... a millena também está linda... -eu já tive vontade de casar assim... -a é? -É... -eu não... -imagino... -pois é, nunca tive dúvidas do que eu sentia, então sabia que casar em um cerimonial assim não seria possível. -antes eu tinha essa vontade, mas se eu disser que hoje tenho essa vontade estarei mentindo. -por quê? -porque não preciso me casar com alguém pra ser feliz, basta você ficar ao meu lado pra sempre. a festa foi em um sítio ali perto, o lugar era muito bonito, em frente à casa havia uma piscina enorme em formato de "l" com uma cascata de pedras, atrás da casa tinha uma cachoeira enorme que descia em meio a árvores e pedras. comecei a me sentir cansado, pedi para o daniel arrumar uma mesa para sentarmos e descansar: -petit... estou cansado... -bader você está pálido... -eu não to agüentando mais. -você está se sentindo mal?

-sim. -o que você está sentindo? -um mal estar horrível. -vamos sentar naquela mesa, vem... o daniel me abraçou pela cintura, com todo carinho e paciência ele foi me ajudando a andar até a mesa, toda hora passava os garçons pelas mesas servindo comidas, bebidas, doces. a millena havia convidado uma banda pra tocar na festa do casamento, era a mesma banda que o irmão dela fazia parte, eles tocavam de tudo um pouco, as músicas eram mais puxadas para o rock, mas quando começaram a tocar anos 80 o povo pegou fogo. -você viu como isso aqui está cheio? -demais... olha aquela velha gorda como dança? -hahaha... está com as costas toda molhada de suor. -credo. -também, embaixo desse sol quente... as mesas dos convidados ficavam embaixo de tendas brancas decoradas com flores e trigo, havia uma tenda enorme abrigando uma mesa do buffet, a comida era farta, serviço de primeira qualidade, havia uma equipe próxima à piscina cuidando do churrasco, o cheiro que vinha até nossa mesa estava me dando ânsia, enjôo: -petit... pegue... -para que essa água? -estou preocupado com você... olha só como você está pálido... a millena se aproximou da nossa mesa: -vocês estão gostando da festa? -está linda, millena... parabéns. -bader, você está passando bem?... você está muito pálido... -estou um pouco enjoado, mas logo passa. -eu já falei pra ele beber essa água pra ver se alivia um pouco... -você quer um suco? -quero... -vou chamar o garçom aqui pra servir vocês. -você fica tão bonitinho quando faz essa carinha de medo... -eu fico preocupado com você, petit. -te amo, sabia? -É? -sim! -eu também te amo, você não faz idéia do quanto. ficamos ali na mesa conversando, todos sabiam sobre nosso relacionamento e nos respeitavam, pelo menos na nossa frente, minha mãe se aproximou da nossa mesa para saber se estávamos gostando da festa: -está gostando da festa, filho? -estou sim, mãe. -você está pálido, algum problema? -já está passando, eu estava com um pouco de enjôo, mas agora já passou. -filho você tem seguido o tratamento com os médicos? -sim mãe, é normal isso acontecer, são os efeitos que o remédio provoca... ela me deu um beijo na testa. -te amo, filho. -eu também, mãe. faz um favor pra mim? -claro. -chame a millena aqui, por favor? -vou chamar. -obrigado.

dando um gole no suco de goiaba que o garçom havia trazido pra mim escutava o daniel fazendo perguntas: -petit, você já está melhor? -estou sim... -quer comer alguma coisa? -daqui a pouco eu como. a millena chegou à nossa mesa: -bader, sua mãe disse que você havia me chamado... -chamei sim, vem comigo... já volto, daniel. -ok. saí de perto da mesa onde estávamos sentados e levei a millena até um canto onde tinham poucas pessoas: -fale, bader. -eu quero fazer uma surpresa pro meu amor... -que surpresa? -quero cantar uma música pra ele, é possível os músicos acompanhar? -mas é claro, bader. qual música você quer cantar? -"sous le vent." -eu amo essa música... -quer cantar comigo? -eu posso? -claro. -Ótimo, vou parar a banda agora. capítulo 23 ela pegou pela minha mão com a mão esquerda e com a mão direita ela segurava a cauda do vestido, fomos andando assim até o palco onde os músicos estavam tocando, esperamos eles terminarem a música, foi até o ouvido dos músicos e cochichou com eles, todos fizeram sinal de sim com a cabeça, ela pegou o microfone e anunciou sobre a música que nós dois iríamos cantar: -aham... agora eu quero pedir a atenção de todos os convidados, antes de jogar o bouquet eu e o bader vamos cantar uma música, eu vou oferecer essa música ao rodrigo, agora meu esposo e o homem mais importante da minha vida... não precisa fazer essa cara pai, eu também amo você. o bader vai oferecer para... ela colocou o microfone na minha boca: -essa música vou oferecer para o daniel, que também é o homem mais importante da minha vida depois do meu pai. -podemos começar? os músicos começaram a tocar a melodia: (eu) et si tu crois que j'ai eu peur c'est faux je donne des vacances à mon coeur un peu de repôs et si tu crois que j'ai eu tort attends respire un peu le souffle d'or qui me pousse en avant et...

fais comme si j'avais pris la mer j'ai sortit la grand voile et j'ai glissé sous le vent fais comme si je quittais la terre j'ai trouvé mon étoile je l'ai suivie un instant sous le vent... (coro) (millena) et si tu crois que c'est fini jamais c'est juste une pause, un répit après les dangers et si tu crois que je t'oublie Écoute ouvre ton corps aux vents de la nuit et ferme les yeux et... fais comme si j'avais pris la mer j'ai sortis la grand voile et j'ai glissé sous le vent fais comme si je quittais la terre j'ai trouvé mon étoile je l'ai suivie un instant sous le vent... (coro) (eu) et si tu crois que c'est fini jamais c'est juste une pause un répit après les dangers fais comme si j'avais pris la mer (eu e millena) j'ai sortit la grand voile j'ai glissé sous le vent (j'ai glissé sous le vent - coro) fais comme si je quittais la terre (eu e millena) j'ai trouvé mon étoile je l'ai suivie un instant (suivi un instant - coro) fais comme si j'avais pris la mer (eu e millena)

j'ai sortit la grand voile et j'ai glissé sous le vent (j'ai glissé sous le vent - coro) fait comme si je quittais la terre (eu e millena) j'ai trouvé mon étoile je l'ai suivie un instant (suivi un instant - coro) sous le vent (millena) sous le vent (eu e millena) composição: paroles et musique: jacques veneruso 2000 "seul" todo mundo da festa começou a aplaudir, do palco eu olhei pro daniel que derramava lágrimas de emoção, eu também me emocionava toda vez que escutava essa música interpretada por "garou e celine dion", depois da música a millena dominou outra vez o microfone e anunciou que iria jogar o bouquet: -obrigado... agora chegou a hora mais esperada por todos, a hora de jogar o bouquet... a mãe dela levou o bouquet pra ela no palco, eu me juntei a multidão que ficou embaixo louca pra pegar o bouquet e desencalhar: -no 3, hein... ela se virou de costas, tapou os olhos com a mão esquerda e começou a ameaçar de jogar, até os músicos desceram do palco pra tentar pegar o bouquet: -1... 2... 3... jogou, aquele monte de gente se contorcendo pra pegar aquele bouquet que segundo minha mãe custou mais de dois mil, quando eu vi ele vindo na minha direção eu dei um pulo tão alto que nem acreditei, mas junto comigo pulou também a carla, uma garota que meu irmão pedro estava ficando, acabamos pegando o bouquet juntos: -peguei... -eu que peguei... -esse bouquet custou muito caro pra ser repartido ao meio. -vamos tirar no par ou impar então. -par... -Ímpar... -ganhei... hahaha... -ah... -não fica assim, eu dou ele pra você, pegue. -obrigado, gato! -mas fique sabendo que eu caso primeiro que você... -hahaha... então trate de casar logo, pois eu serei a próxima. -hahaha... voltei pra mesa e dei um selinho no daniel que olhando nos meus olhos com seus olhos cheios de lágrimas me agradeceu pela música dedicada a ele: -gostou? -amei... (tocando na minha mão) você sabe como me conquistar... -não sei de nada... -sabe sim, você sabe como me fazer ficar cada vez mais apaixonado por você, como me vencer, como me conquistar, conhece meus pontos fracos... -eu somente te amo. -e eu simplesmente também te amo. demos um longo beijo, discreto, tímido, molhado e sexy, mas só dei esse beijo

nele porque minha boca já não tinha mais resíduo de sangue algum e nenhum corte também. a festa estava ótima, passamos a tarde toda comendo, rindo, depois que meu enjôo passou eu comecei a comer descontroladamente, deixando o daniel preocupado, de certa maneira ele tinha razão, eu precisava mesmo controlar mais minhas loucuras, era minha saúde que estava em risco e eu precisava tomar cuidado com ela, moderar minhas ansiedades conforme o conselho do médico. deixamos a festa no começo da noite, quando saímos ainda estava cheia, tumultuada, mas eu e o daniel precisávamos pegar a estrada de volta para casa, e também eu já estava um pouco cansado. nos despedimos de todos os convidados da festa, a millena já estava até com a maquiagem borrada de tanto que tinha dançado, ela junto com minha mãe nos acompanharam até o local onde meu carro estava estacionado. -tchau bader, muito obrigado por ter vindo... -eu é que agradeço, millena. -tchau meu filho... -tchau mãe... -se cuide... -tchau daniel... -tchau dona vivian, tchau millena. -tchau daniel, obrigado pela presença e por ter aceitado o convite... -tchau daniel, cuide do bader por mim. -pode deixar, eu estou colocando esse moleque nos eixos... -querem parar com isso? parece que estão falando de uma criança... -mas você é meu bebê... -e meu também, filho. -ah... eu já ia esquecendo... -o quê? -as lembrancinhas do meu casamento... mas que burrice a minha... já volto... -hahaha... ela foi até uma mesa que estava bem no portão de saída dos carros, pegou dois pacotes e voltou com eles em uma mão e segurando a cauda do vestido na outra: -ai que cabeça a minha... estão aqui... -obrigado... capítulo 24 dentro do pacote havia um jardim zen, com areia, pedrinhas e garfo pra espalhar a areia, muito bonitinho e de bom gosto, aposto que foi idéia da millena, ela que adorava essas coisas, nisso tínhamos em comum, gosto por coisas orientais. no caminho o daniel foi dirigindo, eu fui dormindo no banco do passageiro, pois estava muito cansado e com um pouco de dor de cabeça, quando acordei já estávamos no estacionamento do prédio, nem vi o tempo passar. deixamos o carro na garagem e subimos. -não via a hora de chegar em casa... -eu também... -beijar essa sua boca... tocar nesse corpo gostoso... fomos nos beijando ali na sala mesmo, era tão bom quando isso acontecia, o daniel tinha um fogo insaciável, uma vontade de sexo que despertava com um simples toque na perna, uma piscada de olho, até mesmo com o aroma do perfume. ele me abraçou e foi me beijando, ao mesmo tempo caminhando de encontro à parede me tornando seu refém, me arrepiei quando minhas costas peladas encostaram-se àquela parede gelada, ele adorava me prender na parede com seu corpo definido e pesado. suas mãos passavam pelo meu corpo como um trem sobre

trilhos, beijos ardentes, calorosos, selvagens, em pouco tempo já estávamos nus na sala, completamente despidos, ele me pegou no colo e me levou para o quarto onde demos continuidade de onde havíamos parado. o daniel era muito paciente, carinhoso e muito bom de cama, fazia sexo como ninguém, todas as noites que estávamos juntos nós fazíamos, à tarde, de manhã, não tinha hora para nos amarmos, mas o mais importante disso tudo era o amor que sentíamos um pelo outro. antes de ir tomar banho vesti uma cueca, fui até a área de serviço ver a dani, estranhei que ela não havia ido até a sala me ver quando eu e daniel chegamos. acendi a luz da cozinha e vi que o chão estava todo vomitado, passei pela cozinha na ponta dos pés e fui até a caminha da dani, notei que ela estava deitadinha com a língua pra fora e respirando com dificuldade, na hora gritei pelo daniel que veio correndo ver o que estava acontecendo, nunca vi ela daquele jeito, já comecei a chorar de desespero e medo de perder minha melhor amiga: -daniel... daniel... corre aqui... -o que foi, bader? -olha a dani... o que ela tem? -ela está estranha... -dani... fala com o papai... dani, olha pra mim... ela não olha pra mim, daniel... dani... não faz isso comigo dani, não morre filha... reage dani... -calma bader... -ela está morrendo, daniel... -vou vestir uma calça e uma camisa, pega ela e vai descendo até o carro, vamos levá-la até um veterinário... -a essa hora? -eu tenho um amigo veterinário, vamos até a casa dele... -vou colocar uma roupa, não posso sair só de cueca. corri até o quarto e vesti uma roupa, na verdade eu vesti qualquer coisa que vi na frente, não queria perder tempo com detalhes, pois era a vida da minha cachorra que estava em risco. descemos até o estacionamento, eu segurava a dani nos braços e chorava de medo de perdê-la, ela estava molinha, cabeça um pouco caída, respirando muito pouco, um pouco suja de vômito, o daniel abriu a porta de trás do carro pra mim, entrei no carro e fui no banco de trás mesmo, com a dani deitadinha no meu colo, às vezes ela gemia e aí eu já ficava histérico. -calma bebê... papai vai cuidar de você... agüenta mais um pouco... já ta chegando? -estamos quase. -não faz isso comigo, dani... teve uma hora que ela virou a cabecinha e olhou pra mim, um lágrima desceu de seu olhinho e eu comecei a armar um "berreiro" dentro do carro, pensei que estava perdendo minha cachorra. -não... não morre dani... papai te ama... não faz isso comigo pelo amor de deus... -chegamos, bader. chegamos na casa do amigo do daniel, estava tudo escuro pelo que pude ver de dentro do carro, o rapaz deveria estar dormindo, mas veio nos atender com a maior boa vontade, ele era muito educado e atencioso, estava de pijama sem camisa, entramos dentro de sua casa, ele levou a dani até a cozinha, sobre a mesa ele forrou uma toalha e a deitou, eu não agüentei e fiquei na sala, pois não agüentei ver minha bebê sofrendo daquele jeito, junto comigo ficou sua esposa tentando me acalmar, uma mulher muito simpática e bonita. não demorou muito e o rapaz veio até a sala conversar comigo: -você deu alguma coisa estragada pra ela? -não... ela só come ração... -ela sofreu um envenenamento, eu já dei uma medicação pra ela e logo vai

melhorar, vou te receitar um remédio pra ela e recomendo que você leve-a ao veterinário que ela costuma passar. -mas ela vai ficar bem? -vai sim, a quantidade de veneno não foi suficiente pra matar rapidamente, mas se você não trouxesse logo ela poderia morrer agonizando... -muito obrigado, doutor. quanto é? -que isso, o daniel é meu amigo, fiz isso pela nossa amizade... fique tranqüilo. -muito obrigado. -valeu cara. -falou, daniel. só de saber que minha cachorra não iria morrer me deixou bem melhor, fiquei mais calmo, fui o caminho todo pra casa abraçado com ela, notei que sua respiração já havia voltado ao normal e seu olhinho já brilhava mais. quando chegamos em casa fui correndo dar um banho na dani, enquanto isso o daniel limpava o chão da cozinha que estava sujo de vômito, depois de tomar seu banho troquei o cobertor dela e coloquei sua caminha ao lado da minha no meu quarto, pra poder vigiá-la o tempo todo, só assim conseguiria dormir. -calma que o papai já está acabando... -terminei de limpar o chão da cozinha. viu como ela já está melhor? -É... mas ainda continua um pouco debilitada. -sim, vai ter que repousar por uns dias... como será que ela se envenenou assim? você usa veneno pra matar barata aqui? -não, aqui dentro não tem barata nem rato, sempre faço de tudo pra manter esse apartamento limpo, desde que mudei pra cá não contratei empregada pra limpar, fiz tudo sozinho... -muito estranho. -demais. agora que ela já está pronta pra dormir eu vou tomar meu banho e depois cair na cama, estou muito cansado, morrendo de sono. -então vamos. o tratamento anti-hiv que eu estava fazendo me causavam alguns efeitos colaterais, eu sentia enjôo com freqüência, manchas roxas apareciam em meu corpo, às vezes uma ou outra unha aparecia preta, sentia também muita falta de ar, foi assim que acordei em uma linda manhã ensolarada de maio. o daniel ainda dormia, levantei e fui preparar o café da manhã, mas antes fui vesti um roupão, pois estava pelado na hora que levantei. abri a geladeira e peguei uma caixinha de suco de soja, comecei a beber enquanto abria um pacote de torradas que tinha no armário, tirei um saco de pão de queijo do freezer e coloquei para assar, eu adorava pão de queijo bem quentinho com manteiga no meio, era tudo de bom. comecei a montar a mesa na sala, procurei o pote de patê e não encontrei, olhei atrás das garrafas, olhei dentro das gavetas, mas não achei, o daniel adorava patê com torrada e deveria ter comido tudo. -bom dia, amore! -já acordou? -está mais que na hora... ele veio e me abraçou, seguido do abraço recebi um delicioso beijo de bom dia, até deixei cair a caixa de suco que segurava na mão esquerda, na melhor parte fomos interrompidos pelo celular dele tocando. -seu celular está tocando. -vou lá atender... cadê... inferno... -o que foi? -cadê ele? -não está no quarto? -É mesmo...

enquanto ele foi atender o celular eu passei o café da cafeteira para a garrafa térmica e coloquei sobre a mesa, levei também a cesta com frutas frescas. -nossa... -o que foi? -o caio me ligou agora. -quem é caio? -É um colega meu, ele disse que pintou uma luta aí... -que luta? -de jiu-jitsu, eu disputava campeonato, já fui campeão paulista de jiu-jitsu... -e por que você não vai disputar dessa vez? -sei lá, faz muito tempo que eu não luto. -nada que um treino não resolva... -É... vou falar com meu antigo treinador. já está pronto o café? -quase tudo pronto, só falta terminar de assar o pão de queijo, você vai querer salada de frutas? -não, quero só um suco de laranja, depois vou aproveitar o tempo bom e tomar um banho de piscina, estou precisando pegar uma cor. -tem biscoitos amanteigados dentro do vidro no armário. -pega uma faca pra mim? -calma, deixa eu tirar o pão de queijo do forno antes que queime... hum... -o cheiro está bom... -quer um? -depois eu pego, cadê a faca? -a é... tá aqui... sentei na mesa ao seu lado, colocando caldo de laranja na salada de frutas acabei derrubando na toalha branca da mesa, eu sempre fui um pouco estabanado mesmo, principalmente na hora de comer, sempre acabava derrubando alguma coisa, claro que em jantar de negócios eu tomava o maior cuidado para que isso não acontecesse. -eeeeeeeeeee... -que droga... hahaha... -vou descer até a piscina, você vem? -depois eu vou, deixa eu terminar meu café. -tá bom. ele foi até o quarto, vestiu uma sunga preta que eu adorava vê-lo usar, era um fetiche ver ele com aquela sunga escrito na frente: "entra sem bater", era realmente ousada e safada, o volume que fazia também era de tirar o fôlego. com um vidro de bronzeador na mão direita, óculos escuros na testa e uma toalha na mão esquerda ele passou pela sala, abriu a porta quando eu o interrompi: -estou descendo... -petit, vá pelo elevador de serviço... -por quê? -porque você está com traje de banho, não pode descer pelo elevador social... -mas que putaria é essa? -são normas do condomínio, portando animais, trajes de banho, entre outros deve usar o elevador de serviço. -tudo bem, te espero lá embaixo. enquanto isso eu fui tomando meu café da manhã, graças a deus meu enjôo e a dor de cabeça já tinham passado, então eu comi bastante, abusei dos doces. depois do café eu fui até meu quarto, espiei como a dani estava, suspirei fundo quando vi ela dormindo tranqüilinha, peguei minha sunga branca escrito "paulista" atrás e fui vestir no banheiro, depois peguei meus óculos escuros, passei um protetor solar fator 35 no corpo inteiro, peguei uma toalha branca e segui para o hall de serviço,

fechei a porta e fiquei aguardando o elevador chegar. desde que me mudei para o novo apartamento em higienópolis eu ainda não tinha utilizado quase nada da área de lazer, seria a primeira vez que eu ia entrar na piscina. quando entrei no elevador havia um aviso bem de frente para a porta: "não é permitido atos obscenos dentro deste local". com certeza aquele aviso foi colocado pelo síndico depois da confusão que ele armou comigo e com o daniel quando presenciou nosso beijo no elevador, só não entendi o por que do "obsceno" no aviso, será que ele considerava um beijo carinhoso como obsceno? ou o fato de ser dois homens se beijando seria obsceno? atitude totalmente ridícula, preconceituosa, o que ele queria era encher o saco. quando o elevador parou no térreo cruzei com dona lídia no térreo, na mão direita ela segurava um jornal e na esquerda estava com um carrinho cheio de coisas, deveria estar voltando da feira. -bom dia, bader! -bom dia, dona lídia. -vai passear? -pois é, vou no velório de um amigo. -mas trajado assim? -É que ele era naturista. tenha um bom dia. deixei ela falando, nunca vi uma pessoa tão fofoqueira e curiosa como ela, adorava cuidar da vida dos outros, é obvio que me vendo de sunga, chinelo, óculos e toalha na mão imagina-se que vou no mínimo tomar sol na piscina, mas a intenção dela era querer puxar assunto e saber mais da minha vida, já cortei logo de início. saindo do hall do elevador, tinha um corredor que saia em uma sala, onde haviam três portas, uma que dava para a sauna a vapor, uma outra “bate-volta” que dava acesso à academia e uma porta de vidro vasculante que dava acesso à piscina. quando cheguei no final do corredor eu vi o flavio, filho do síndico, olhando através da porta pra piscina, pelo jeito ele parecia estar ali há um bom tempo. -por que você não põe uma bermuda e vem tomar sol? -ai que susto... -nossa... desculpa, é que te vi olhando com tanto desejo pela porta que achei você interessado em alguma coisa lá fora... -não, não estou afim de tomar sol. -se o seu interesse lá fora não é pelo sol... cheguei próximo da porta e vi que só tinha o daniel tomando sol no deck da piscina deitado em uma das cadeiras. -não acredito... -o que foi? -você estava espiando o daniel tomando sol?... capítulo 25 -eu? tá louco? -o louco aqui é você que fica dando uma bandeira dessas, tudo bem que quem está do lado de fora não consegue ver aqui dentro porque o vidro é espelhado, mas se no meu lugar viesse seu pai e te pegasse aqui, aliás, ele sabe que você é gay? -tá tirando? -algum problema aqui? -nenhum, o flavio estava... -estava tirando umas dúvidas sobre aquele trabalho de inglês... -tá certo, estou indo até a feira, avise sua mãe quando ela acordar. -tudo bem. -vai querer pastel?

-sim, de calabresa com queijo. -ok. o flávio era um garoto até que bonito, não parecia ter mais que 20 anos, loirinho, algumas marcas de acne no rosto, magrinho, usava uns óculos de nerd, estatura média. acho que se ele não tivesse me interrompido eu teria contado para seu pai que ele espiava o meu namorado pela porta da piscina, eu queria ver só a cara do carlos ao saber que seu filho era gay, mas isso era pra pagar sua língua cumprida, cuidou tanto da minha vida com a do daniel que esqueceu de olhar o que tinha dentro de casa. -bom, o convite ainda está de pé, se você quiser vir tomar sol comigo e com meu namorado, fique à vontade. -deixe pra uma outra oportunidade. -você que sabe. -mas agradeço pelo convite e muito obrigado por não ter contado nada pro meu pai. -não tem do que agradecer, mas tome mais cuidado da próxima vez que quiser espiar um homem seminu. -pode deixar. É melhor eu correr e apagar o histórico do meu computador antes que meu pai volte. tchau. -falou. cheguei na piscina, forrei a toalha na cadeira ao lado do daniel e me deitei pra tomar sol. -demorou, hein... -É que tive um contratempo no caminho... -o que aconteceu? -peguei o flávio espiando você tomar sol... -quem é flávio? -o filho do carlos. -sério? hahaha... -pois é, o coitado ficou morrendo de medo que eu contasse pro pai dele. -mas você ia contar? -não sei, acho que se ele não tivesse me interrompido eu teria contado sim. -deixa aquele bosta do pai dele vim me aloprar que ele vai ver só. naquela época do ano em são paulo chovia muito e fazia frio, eu já estava quase curado da gripe, voltei a trabalhar na produtora e retomei meus treinos na academia. na segunda feira acordei cedo pra trabalhar, resolvi ir de manhã para ter a tarde livre, já o daniel só iria trabalhar à tarde, pois seu sócio ficava cuidando da academia na parte da manhã. separei uns projetos que estavam parados em casa para levar e apresentar para o pessoal, não era muita coisa, três ou quatro idéias de outdoors para as próximas temporadas que estavam pra entrar. dei um beijo no daniel que ainda estava deitado e saí apressado. quando cheguei no s1 notei que havia esquecido a chave do carro em cima da mesa da sala, mas a porta do elevador já havia fechado e eu não ia ficar esperando ele descer se não iria acabar me atrasando para a reunião, resolvi subir os 19 andares de escada mesmo. elas ficavam no corredor atrás do elevador social, no mesmo corredor que tinha o elevador de serviço, que estava ocupado com um novo morador que estava transportando sua mobília até o 28º andar. comecei a subir as escadas, quando cheguei no 3º andar o pessoal da limpeza estava recolhendo os sacos de lixo que ficava no espaço entre as duas portas corta-fogo, eram vários sacos pretos enormes que estavam dentro de duas grandes lixeiras. com as duas portas abertas consegui ver que o elevador estava descendo, pois a porta do elevador social tinha um detalhe em vidro no puxador que dava pra ver quando ele parava no andar ou passava, como eu já estava cansado de ter subido aqueles andares de escada decidi esperar o elevador

subir e pegar uma carona, afinal ainda faltavam 16 andares pra subir. pedi licença para os dois faxineiros que recolhiam os sacos de lixo e apertei o botão de subir, enquanto eu fiquei ali esperando o elevador escutava algumas gargalhadas vindo da casa do carlos, que morava no apartamento 33, também notei alguns comentários dos faxineiros se referindo ao próprio carlos, em tom de gozação: -esse carlos é foda... -qualquer hora ele vai arrumar pra cabeça dele. -eu acho que ele pegou pesado com veneno... quando eles falaram em "veneno" o assunto me interessou, será que o carlos mandou dedetizar o prédio e acabou envenenando a dani? resolvi discretamente perguntar o que acontecia: -vocês também já estão sabendo da história do veneno? -qual? ah... que o carlos colocou veneno em um biscoito e deu pro cachorro de um viado lá do 19?... -isso... -ficamos sabendo agora... ele tá se divertindo... -ah é? joguei um verde e colhi maduro, aliás, colhi um podre. eles estavam falando de mim sem saber quem era eu, deveriam achar que o viado que o carlos pegava no pé era visível à distância, cheio de frescuras e trejeitos, mas se enganaram, nem de longe eu aparentava ser gay. naquela hora meu sangue subiu, mexeu com a dani mexeu comigo, escutei o carlos e o flávio se matando de rir, claro que rindo da minha cara achando que tinham conseguido me tirar uma das coisas mais importantes da minha vida. eu não entendo o que se passava pela sua cabeça, não entendia o por que me odiava tanto, mas motivo nenhum lhe dava o direito de tirar a vida de um inocente. sem pensar duas vezes eu fui falar com ele, toquei a campainha mas ele não atendia, fiquei muito puto e comecei a dar vários socos na porta: -carlos, abre essa porta... anda seu filho da puta... não tem coragem de me enfrentar?... eu ainda te cato, aí vamos resolver nossas diferenças. o elevador chegou no 3º andar e eu subi pra casa, se ele tivesse aberto a porta naquela hora eu teria quebrado a cara dele, aí eu queria ver quem era o viadinho do condomínio, como ele costumava falar pelas minhas costas. cheguei em casa e puto da vida, bati a porta da sala assustando o daniel que estava usando o computador no nosso quarto, na mesma hora ele veio correndo ver o que acontecia: -mas o que foi isso?... por que bateu a porta desse jeito? -porque estou puto, querendo quebrar a cara do primeiro que aparecer. -mas o que aconteceu? -eu estava subindo e escutei um ti-ti-ti... -lá vai você dar atenção pra fofocas. -pois é, só que a fofoca dessa vez foi que o carlos quem deu veneno pra dani... -o quê? esse cara é louco? -eu tentei falar com ele, mas o covarde não abriu a porta. -mas como ele conseguiu envenenar a dani? -parece que passou um biscoito por baixo da porta com alguma substância tóxica, se aproveitando da situação enquanto ficamos fora... fui até o quarto ver como a dani estava, pois havia saído com o coração apertado, me abaixei diante da caminha dela quando escutei a porta da sala bater, corri até lá e o daniel não estava, na hora imaginei que ele teria ido tirar satisfações com o carlos, e quando cheguei no 3º andar comprovei que estava certo. enquanto eu fui até o quarto o daniel não conseguiu se segurar, pegou o elevador e foi até o 3º andar, chegando lá o flávio estava saindo de casa para ir ao curso de inglês, o daniel o empurrou com tudo fazendo ele cair com os livros no chão, quando a porta ia

fechando o daniel deu um chute que chamou atenção do carlos, fazendo com que ele fosse ver o que estava acontecendo. capítulo 26 -mas que barulho foi esse? -barulho? você vai ouvir um barulho sim, mas vai ser dos seus ossos quebrando... -você não vai bater no meu pai. -tira a mão de mim moleque, se não vai sobrar pra você... -deixa meu filho quieto... -a parada aqui é entre eu e você. -o que você quer? -sai aqui fora e me enfrenta como homem... ou você não é homem? -tá tirando? -está com medo? ou você sai aqui, ou vou te buscar aí dentro... -você não vai bater no meu pai. -cala sua boca, viadinho. -olha como você fala do meu filho... -você não contou pro papai? -cala a boca. -contou o quê? -ah você não está sabendo? seu filho estava me espiando tomando sol outro dia... -isso é verdade, flávio? -mentira, pai... -bom, depois vocês discutem assuntos familiares sobre sexualidade, agora vou quebrar sua cara... o daniel voou em cima do carlos, dando-lhe logo um soco em sua boca, ele caiu no chão batendo o braço na quina da mesa, se rastejando no chão e implorando por desculpas não foi o suficiente para fazer o daniel parar, de dentro do elevador dava pra escutar os gritos que despertaram a atenção do prédio todo, segurando o carlos pelo colarinho e olhando em seus olhos o daniel dizia: -agora a gente pode falar de homem pra homem... -larga ele... -chame a policia, flávio... -isso, chama lá a policia que vamos contar a boa ação da semana que seu pai fez, envenenando os animais de estimação do prédio todo... claro que o daniel foi errado de ter batido nele daquele jeito, mas no momento de raiva eu também queria ter quebrado sua cara, mas o covarde se escondeu. não vou dizer que fiquei com dó dele, pois foi ele mesmo que procurou pra cabeça dele, se cuidasse somente de sua vida teríamos evitado muitos problemas. quando cheguei lá o carlos estava com o rosto cheio de sangue, tive que tirar o daniel de cima dele antes que ele o matasse de tanto bater. -chega daniel... -chega o caralho, esse filho da puta vai ter que apanhar muito ainda. -não, ele já apanhou o bastante. -tira a mão do meu pai... -você fica quieta aí sua bichinha de armário. -eu não sou viado, você é. -pelos menos não fico espiando os vivinhos seminus na piscina e nem passando as tardes vendo fotos de homens pelado na internet. -pare pelo amor de deus, você vai me matar... -essa é minha vontade... antes de você mexer com alguém tome muito cuidado, e a partir de hoje passe longe do bader e da dani, se você insistir aí sim eu volto aqui

e acabo com a tua raça. -já chega daniel, por favor vamos embora. eu tive que praticamente arrastar o daniel pra casa, pensei que ele tinha matado o carlos de tanto bater, se eu não tivesse chegado a tempo isso certamente teria acontecido. o que o carlos fez com a dani foi pura maldade, ele quis descontar no animal o ódio que sentia por mim, eu nunca entendi o motivo pelo qual ele me odiava tanto, talvez ele tivesse inveja da vida tranqüila que eu levava, não sei ao certo, mas algo em mim o incomodava, pode ser que fosse o fato de viver sem ter vergonha de ser o que era, ou também que ele tivesse vontade de ser como eu mas nunca pode ou faltou-lhe coragem, tornando-se uma pessoa recalcada e amargurada. na sexta-feira resolvi fazer uma surpresa para o petit e fui buscá-lo em sua academia, ele iria adorar, pois quase sempre quem fazia as surpresas era ele. estacionei o carro em frente à academia, logo quando entrei na recepção o avistei com a mochila nas costas conversando com uma garota que trabalhava na recepção, ao me ver ele abriu um sorriso e ficou todo feliz, seus olhinhos brilharam de felicidade. dei um beijo nele e fui apresentado a suzy, recepcionista da academia. não demorou muito e chegou um aluno da academia, era um rapaz bonito, tinha o cabelo com franja caída de lado, óculos escuros, apesar de já ser noite, regata branca, tênis sem meia, bermuda vermelha, seu visual era de alguém bem posto socialmente, o que me deixou pasmo foi sua cara de pau, já chegou se jogando pra cima do meu namorado igual galinha no milho, como se o daniel estivesse disponível no mercado. -boa noite! -boa noite! -dani, quero que você renove minha carga hoje, já fiz as 26 sessões... -“dani”? que intimidade é essa? -desculpa alexandre, mas agora estou de saída, pede para o cláudio te ajudar. -ah não, só você me dá atenção aqui... -ah é assim?... bem se nota que você é uma pessoa que necessita de muita atenção, com essa cara de retardado... -quem você é pra falar assim comigo? -agora eu não sou mais nada. tenham uma boa noite! -bader espere aí... deixei aquele lugar chorando, acabei perdendo o controle, fiquei nervoso, corri até o carro e o daniel veio atrás de mim, coloquei algumas revistas que segurava nas mãos sobre o capô do carro para abrir a porta, antes de entrar no carro o daniel me segurou, quando abri a porta ele bateu e entrou na frente. -calma... por que você ficou assim?... por que você está chorando? -porque estou comovido com a atenção que você costuma dar pro fulano... -mas eu trato todos meus alunos igual... -daniel, me deixa sozinho um pouco? -não... amor, está bravo comigo? -por favor, não me perturbe... tentando me abraçar e acariciando meu rosto ele dizia: -você ficou com ciúme, é isso? -posso te pedir um favor? -claro. -some da minha frente. capítulo 27 empurrei ele da porta do meu carro e saí arrancando, as revistas que estavam no

capô acabaram voando pela rua, sai sem rumo pelas ruas de são paulo, aquela cena não saia da minha cabeça, o que me deixou mais magoado é que o daniel permitiu que aquele cara o chamasse de dani, meu medo maior era ele se interessar por outra pessoa e deixar de gostar de mim, me tornei uma pessoa muito insegura depois de saber que possuía hiv, tinha medo que o daniel chegasse um dia e dissesse que não me amava mais. parei no parque do ibirapuera e deitei na grama, olhando para o céu estrelado eu fiquei relembrando nossos momentos, não é fácil viver com essa insegurança a vida inteira, lembrei do acidente que nos aproximou, a compreensão dele comigo quando descobriu que eu estava com hiv, quando o apresentei para minha família... fiquei triste, magoado, mas sabia que ele não tinha culpa, eu confiava no petit, mas o orgulho falava mais alto. quando cheguei em casa o daniel estava no banho, entrei no quarto e comecei a tirar minha roupa, fiquei só de cueca esperando ele sair do banho para eu entrar, enquanto isso fui até a cozinha e peguei uma maçã, escutei o barulho da água parar de cair do chuveiro, enxugando o cabelo e uma toalha branca enrolada na cintura, ele saiu do banheiro. -petit, a gente precisa conversar... -eu não quero falar sobre isso agora... -por favor, me ouça... -tira a mão de mim. entrei no banheiro e fui tomar meu banho antes de dormir, confesso que senti falta dele esfregando minhas costas, passando xampú no meu cabelo, tomei banho chorando, mas chorando por dentro. só eu sabia o quanto o amava, e por amá-lo loucamente sentia ciúme, insegurança por conta da minha doença, não só eu como qualquer outro ser humano que ama. fiquei quase uma hora no banho, quando terminei fui para o quarto, ele já estava deitado na cama, eu sei que ele não estava dormindo, deitei ao seu lado, a luz do quarto ficou apagada o tempo todo, eu notei que ele estava chorando, minha vontade era de abraçá-lo e pedir perdão, eu sei que ele não tem culpa de ser assediado, mas na hora a gente nem pensa. eu acho que todo ser humano deveria saber controlar a dose de amor, alguns amam demais, outros nem amam, pela primeira vez eu soube o que era amar e ser amado, o daniel me ensinou a amar de verdade, a viver, ter com quem se preocupar, ter com quem dividir suas alegrias e tristezas, sair do trabalho e ter a certeza que quando chegar em casa terá alguém a sua espera, tudo isso eu tinha, porque eu tinha o meu daniel. ficamos a semana inteira conversando somente o necessário, eu já nem tinha mais raiva dele, o orgulho falava mais alto que a vontade de ser dele outra vez. comecei a sentir saudade dos momentos felizes, uma vez eu li em algum lugar que a felicidade não existe, o que existe são momentos felizes, de certa forma é verdade, podemos ter momentos de felicidade, mas ninguém vive feliz eternamente. resolvi usar esse pensamento na nova propaganda que eu iria começar a produzir, teria que ser algo chocante, minha intenção era criar mania nacional e pelos comentários dos meus colegas de trabalho isso não seria difícil acontecer. trabalhamos sem parar a semana inteira na produtora, nos primeiros 2 dias eu fiz a seleção dos modelos, foi difícil encontrar um casal de modelo que agradasse o cliente, mas acabei encontrando, no restante dos dias foram ensaios, gravações e produção. na quarta feira eu fui até o lar do céu levar a televisão pro rodrigo jogar seu vídeo game, pois eu havia prometido que daria uma tv pra eles, dei uma breve passada, pois estava com pressa e não poderia demorar muito, na produtora eu estava abarrotado de trabalho, mal me sobrava tempo pra dormir. -bom dia, seu bader! -bom dia, roberta... bom dia, vânia... bom dia rodrigo! -oi tio!

-olha o que eu trouxe aqui... -o que é isso? -uma televisão pra você assistir seus desenhos... -obaaaaaaaaaaaaa! vou poder jogar o vídeo game que você me deu também? -claro, vai poder assistir dvd também... -seu bader, nem sei como agradecer o senhor. -não precisa me agradecer, roberta. só quero que você cuide bem dessas crianças por mim. -mas isso eu já faço. -então continue fazendo. -tio, como faço pra jogar? -assim... pra ligar você aperta aqui... coloca o cd dentro e aperta aqui... -olha que bonito tia ro... -eu to vendo... -olha lá... você vai querer ser qual jogador? -o de azul... -então eu vou ser o de verde. -tá bom... ai... -opa... vou marcar... -não vai não... eu vou... -caramba... -vai rodrigo... vai... -goooooooooooooooooooooooooooool!!!! -joga com a vânia agora que o tio bader precisa ir. -mas já seu bader? -eu preciso, roberta... estou cheio de trabalho, vim só pra deixar a tv mesmo. -tudo bem, eu te acompanho até a porta. -obrigado, roberta. -obrigado o senhor. deixei o lar do céu com o corpo mais leve, feliz por ver um sorriso no rostinho daquela criança que me ganhou logo quando a vi, acabei me apegando demais ao rodrigo, como pai e filho. no fim da semana terminamos a publicidade, foi cansativo, trabalhoso, mas eu não me queixo, eu faço o que eu gosto e dou o melhor de mim, acho que se todo mundo fizesse a mesma coisa, dedicando-se ao máximo ao trabalho que gosta, conseguiríamos viver bem melhor. voltando para casa eu escutava música dentro do carro, com os vidros todos fechados eu estava ansioso para chegar em casa, teria o final de semana todo para descansar, depois de ter trabalhado 18 horas por dia durante uma semana. antes de entrar no túnel ayrton senna meu celular tocou, era por volta de 21h, não tinha como eu atender naquele momento, pois eu estava no trânsito, não estava com o viva-voz e por entrar no túnel perderia o sinal. peguei o aparelho para ver quem era que estava ligando, o número não estava na minha agenda, parecia vir de um telefone público, coloquei o celular novamente no banco do passageiro, quando saí do túnel meu telefone voltou a tocar, atendi e pedi um momento para encostar o carro e assim poder falar sem colocar a vida de ninguém em risco. -só um instante que vou encostar o carro... pronto. -quem está falando? -espere, você liga para meu celular e ainda pergunta quem está falando? -desculpa, é o bader? -sou eu, quem é você? -sou eu bader, o bruno. mal pude acreditar quando ele disse quem era, depois de ter tentado de todas as maneiras falar com ele sem sucesso, acabei desistindo, e agora ele reaparece do

nada me procurando com um propósito que eu desconhecia. -eu quero falar com você. -nós precisamos mesmo conversar. -mas tem que ser agora. -agora? -sim. -onde você está? anotei o endereço na última folha da minha agenda e fui ao encontro dele, o caminho era meio sombrio, suspeito, umas ruas escuras na periferia da zona sul, cheguei em uma rua onde ele estava à minha espera, na rua havia pouca iluminação, fiquei morrendo de medo de passar por ali, o bruno estava parado logo na esquina, fiz sinal pra ele com o farol do carro, parei bem depressa e assim que ele entrou tratei de sair rapidamente. fomos para um shopping próximo à avenida paulista, o bruno estava diferente, barbudo, cabelo comprido, mal vestido, um pouco sujo, talvez não tomasse banho ha uns dois ou três dias, mas continuava bonito. -você está bem? -estou ótimo, e você? -poderia estar muito melhor se estivesse contigo. -pensasse nisso antes de me abandonar. -eu fiz uma idiotice quando te abandonei... -posso ser franco? -claro, amor! -você me fez um favor quando foi embora. estacionei o carro no estacionamento do shopping, fomos até a praça de alimentação para conversar tranqüilamente: -vamos comer comida chinesa? -to sem grana... -pelo que to vendo você não mudou nada... eu estou te convidando. -tudo bem... você sempre gostou de comida chinesa... -sempre... vamos direto ao assunto, para que você me procurou? -porque eu estava com saudade... -já matou sua saudade, não precisa me procurar nunca mais agora. -tenho saudade do seu cheiro, seu beijo... -ah... entendi... nesse caso não poderei te ajudar. -você não vai me perdoar nunca, não é? -não tenho do que te perdoar, foi como eu disse, você fez sua escolha e me fez um favor quando foi embora. -nossa, não precisava humilhar assim... eu ainda te amo. -você deveria ter escrito isso no bilhete, pelo que eu li me lembro que você tinha dito que não me amava mais... se é que um dia me amou de verdade. -eu estava iludido. -e se desiludiu agora? -percebi que não era aquilo que eu pensava... -eu te procurei como um louco, sabia? -É... eu li o e-mail. -não respondeu por quê? -vamos deixar o passado de lado e pensar no futuro, meu gato. -meu futuro está comprometido. -por quê? -há algum tempo atrás eu descobri que tenho hiv. -então você já sabe... -sei... você já procurou um médico? -eu tenho medo... você deve me odiar por isso...

-fique tranqüilo, não te odeio, mas eu peço para que você procure um médico e use sempre preservativo, não é justo você sair por ai contaminando pessoas inocentes... -desculpa... -tudo bem, já estou infectado, só preserve outras pessoas com quem você for sair. -nossa... você é tão compreensivo. -nem tanto, quando eu descobri, minha vontade era de te matar, mas te matando não me livraria desse mal. -se você soubesse como eu me arrependo de ter te deixado... -agora é tarde, quase um ano se passou e minha vida já está reconstruída. -você está namorando? -praticamente casado. -ah... tenho tanta saudade dos momentos felizes que passamos... com certeza você nunca vai encontrar alguém que te proporcione o que eu te proporcionei. -eu não tenho saudade de nada que vivi com você, não posso me queixar, foram ótimos momentos, eu acreditava que você me amava e pensava que te amava, mas depois acordei. eu nunca amei ninguém como amo o daniel, nada se compara ao que eu vivi e vivo hoje, sou muito feliz com a vida de casado que estou levando agora, não vai ser você que vai atrapalhar. deixe de ser convencido, porque você não é tudo isso... agora eu preciso ir, está ficando tarde e eu tenho dois amores em casa me esperando. -nossa... -tenha uma boa noite. deixei o shopping e fui direto para casa, no carro eu fui pensando na cara de pau do bruno em me procurar outra vez, depois de quase um ano que ele me abandonou tem o descaramento de me procurar pra dizer que ainda me amava, achando que eu iria acreditar naquelas juras de amor ultrapassadas. cheguei em casa e o daniel ainda não havia chegado, fui até o quarto olhar como a dani estava, depois fui até a cozinha e coloquei a comida no microondas, liguei o rádio e fui tomar meu banho, nem notei quando o daniel chegou, só percebi quando me virei para pegar o xampú e o vi espiando pela porta que estava entreaberta, me partiu o coração ver aquela carinha de cachorro abandonado que ele fazia, eu quase nunca resistia ao ver aquele olhinho baixo de tristeza, quase fui até ele e o agarrei. vesti meu roupão branco e fui jantar, dei boa noite ao daniel, morrendo de vontade de dar um beijo naquela boca molhada, mas me controlei, depois da janta vesti uma cueca e fui me deitar, eu estava morrendo de cansaço e sono, deitei na cama e fiquei pensando no bruno, não que eu ainda gostasse dele, mas fiquei abismado com sua decadência, ele era tão vaidoso, as vezes até mais que eu, coisa que me irritava, sempre andava perfumado, bonito, mas quando eu o encontrei ele estava mal vestido, barbudo, cabeludo, não parecia ser aquele bruno que um dia eu me apaixonei, ou pensei que estava apaixonado. o daniel entrou no quarto e foi tomar seu banho, fiquei deitado de olhos fechados ouvindo o barulho da água cair do chuveiro, meus pensamentos estavam longe, viajei em uma reflexão pelo que é viver de verdade e fingir que vive. as vezes paramos para pensar e notamos que esse mundo dá muitas voltas, hoje você é rei, amanhã você pode ser plebeu. no auge dos meus pensamentos, fui interrompido pela entrada do daniel no quarto, ele levantou o edredom e deitou na cama, conforme ele se virou acabou esbarrando no meu braço. -desculpa. -tudo bem... não foi nada. ficamos calados por um tempo, até ele levemente ir tocando na minha mão outra vez, mas agora era proposital, ainda calados permiti que ele tocasse na minha mão, o que era apenas um tocar acabou virando carícias e logo estávamos de dedos

entrelaçados, meu coração disparou, minha barriga gelou, sua outra mão tocou minha cintura, subiu um frio pela espinha e um arrepio na pele, sua mão junto com a minha iam se apertando, se acariciando, com a outra mão eu toquei em seu braço, sua pegada firme me deixava louco, ele tocou no meu rosto e trouxe junto ao seu, começamos a nos beijar como se fosse a primeira vez, algo selvagem, gostoso, beijos desesperados intercalados com chupadas no pescoço, lambidas pelo peito, leves puxões de cabelo, em pouco tempo estávamos nos amando outra vez. o bom das brigas de casal é que quando fazemos as pazes, a relação volta muito mais gostosa. capítulo 28 -nossa bader, você está tão gostoso... o que aconteceu? -o desejo de estar com você fez meu feromônio triplicar... -você não sabe como eu senti sua falta, petit. -eu também senti... -você já não tem mais raiva? -nunca tive, foi o orgulho que não permitiu te dizer mais uma vez que você é tudo na minha vida, que eu vivo pra você, com você. te amo! -eu também te amo muito, bader. quando você não está comigo eu fico muito mal. -vem aqui... levei ele até a janela do quarto, abri a cortina e lhe mostrei a lua dizendo: -eu sempre disse isso para a dani, agora eu digo para você. toda vez que eu não estiver presente e você sentir minha falta, olhe para a lua, tenha a certeza que assim estarei perto de você. -que lindo, petit... nos abraçamos e continuamos a nos beijar, passamos a noite fazendo amor, foi romântico, gostoso, selvagem, lindo demais. na manhã seguinte acordei me sentindo no céu, abraçado pelo amor da minha vida, pelo meu anjo da guarda. quando a gente ama, qualquer bobagem se torna algo grandioso, fabuloso, nosso amor era coisa de novela, parecia não existir, parecia um sonho, não sei o que eu fiz para merecer isso, mas agradecia a deus todas as noites por tê-lo colocado em minha vida. ficamos a manhã inteira juntinhos no quarto, fazendo planos para o futuro, fazendo amor, depois tomamos banho juntos como nos velhos tempos. -essa semana foi tão sem graça ter que tomar banho sozinho, já estou acostumado dividir o chuveiro com você... -eu também senti muita falta... -É?... (jogando água na minha cara) -pára... hahaha... -parar?... hahaha... -você quer me matar afogado? -quero te matar de amor... -então eu já morri por você há muito tempo... -olha o que você fez. -o quê? -derrubou o sabonete... -pega... -hahaha... pega você. saímos do banho, nos vestimos e almoçamos juntos, há tempos não fazíamos isso. era um costume nosso ao sair do banho, um enxugar o outro, mas antes de nos enxugarmos, nós passávamos óleo pós-banho um no corpo do outro, eu usava óleo

de amêndoas, já o daniel gostava de óleo de maracujá, enquanto ele passava óleo em meu corpo eu recebia uma deliciosa massagem, despejando óleo no meu corpo e com seu corpo ele ia espalhando no meu. -daniel... -hum... -quero te levar pra conhecer o "lar do céu”. -quando? -hoje. -tudo bem. o dia estava lindo, ensolarado, quase sem trânsito, mais lindo ainda estava o daniel, lindo como sempre. saímos de casa e seguimos para o abrigo das crianças, eu queria que o daniel conhecesse o lugar onde eu me apaixonei pelas crianças que lá viviam e me propus a ajudá-las. paramos na porta, na rua tinham crianças brincando com bola, pulando corda, algumas senhoras sentadas na calçada conversando, na porta do lar do céu havia um caminhão retirando uma máquina de lavar roupa: -que lugar é esse, bader? -É o abrigo que cuida de crianças com vírus hiv que havia te falado. vamos lá ver o que está acontecendo... quando entramos a vânia estava em pé na porta da cozinha abraçada com uma das crianças, olhando o eletrodoméstico ser retirado, pareciam um pouco assustados, a roberta estava no quintal dos fundos conversando com um homem uniformizado, provavelmente era ele quem estava retirando a máquina de lavar da casa. -olá vânia, o que se passa aqui? -ai seu bader... estão levando nossa máquina de lavar a roupa das criança embora... -mas por quê? -porque a gente não tinha mais como pagar a prestação... -cadê a roberta? -tá lá no fundo... -eu vou falar com ela... fui até os fundos encontrar a roberta, o daniel estava um pouco assustado com a situação precária que se encontravam aquelas crianças, assim como eu também fiquei da primeira vez que fui lá, é algo revoltante, chocante, por isso eu prometi a mim mesmo que aquelas crianças não iriam mais passar necessidade, pois eu iria cuidar delas. aquele cheiro de creolina estava irritando meu nariz, comecei a espirrar, eu havia comprado aquele terreno no centro e já tinha dado início ao projeto, mas guardei segredo até então, já haviam iniciado a construção de um novo lar para as crianças, com as dependências todas adaptadas para elas, com uma sala de aula, jardim todo gramado com brinquedos, uma cozinha com equipamentos de higiene necessários, piscina, foi feito tudo pensado para que aquelas crianças tivessem uma vida melhor e confortável. -roberta, o que acontece aqui? -seu bader... estão levando nossa máquina de lavar roupa embora... ela me abraçou e começou a chorar, eu fiquei com o coração partido, é claro. o daniel foi caminhando pela casa e observando o ambiente, quando a vânia puxa assunto com ele: -quem é o senhor? -eu? -sim. -sou namorado do bader. -namorado?

-É... -que estranho... -o que é estranho? -porque homem tem que namorar mulher. -nem sempre. você come verduras todos os dias? -eca, não gosto de verdura. -então, mas dizem que o certo é comer verduras, frutas e legumes todos os dias. viu como a gente não consegue seguir algumas regras impostas pela sociedade? -por quê? -porque você tem vontade própria, sentimentos, e cada ser humano tem o seu. de repente o que está bom pra você está ruim pro outro. -ah... -o que você está fazendo, daniel? -conversando um pouco com essa menina inteligente aqui... -deixa eu te apresentar à roberta... esse é meu namorado... -prazer, daniel. -prazer, sou a roberta. -roberta, onde está o rodrigo? -deve estar no quarto brincando com o vídeo game. -eu vou lá e já volto. -tudo bem. deixei o daniel conversando com a roberta na sala e fui até o quarto ver o rodrigo, eu me identifiquei com esse menino logo quando o conheci, as crianças têm uma mágica que encanta os adultos, o rodrigo era uma criança inteligente, esperta, falante pra caramba, parecia eu quando criança, minha mãe dizia que eu era bem falante quando tinha essa idade, parecia um papagaio. entrei no quarto e vi o rodrigo sentadinho na cama brincando com o vídeo game: -rodrigo... -pai? -você me chamou de quê? -desculpa tio bader. -não meu anjo, repete, por favor? -eu te chamei de pai... -por quê você me chamou de pai?... você não tem pai? -não... eu queria que você fosse meu pai... ele veio e me deu um abraço que me deixou todo comovido, sempre fui uma "manteiga derretida", pra mim foi muito bom ouvir ele me chamando de pai, eu me senti tão útil naquele momento que olhei pra ele e perguntei: -você quer mesmo ser meu filho de verdade? -eu quero! -então eu vou adotar você. nessa hora o daniel e a roberta entraram no quarto, me viram abraçado com o rodrigo e o daniel perguntou quem era aquela criança: -quem é esse menino? -É uma das crianças que cuidamos... -veja amor... esse é o rodrigo. -oi. -e aê rodrigo, beleza? -sim, como você chama? -eu sou o daniel. -roberta, quem tem a guarda do rodrigo? -eu tenho provisoriamente, por quê? -porque eu quero adotar essa criança.

a roberta e o daniel fizeram cara de espanto quando eu disse que queria adotar o rodrigo, claro que o daniel ficou surpreso, mas gostou da idéia, já a roberta eu notei um certo preconceito em sua face, em seus olhos eu pude enxergar o preconceito da sociedade que não aceitava um homossexual adotar uma criança, já não me senti confortável quando disse a ela que eu e daniel éramos namorados, por mais que a pessoa disfarce você consegue notar em seu olhar o constrangimento e o preconceito. -como assim, adotar essa criança amor? -eu quero que o rodrigo seja meu filho. né rodrigo? -sim pai. fomos até a sala para conversamos sobre o projeto do novo lar para as crianças, levei fotos de como ela iria ficar depois de pronta e expliquei todos os procedimentos para que se tornasse legalmente uma ong em pró daquelas crianças. -roberta, preciso falar com você. -vamos até a sala seu bader. -já volto, rodrigo. -tá bom. -eu trouxe aqui o projeto da estrutura que está sendo construída... veja... -mas que coisa linda... -esse é o espaço das crianças onde pretendo que elas vivam confortavelmente. -parece um sonho seu bader... o que é aqui? -aqui é o refeitório... o espaço não terá escada que é pra evitar acidentes, é tudo pensado para a segurança das crianças, os banheiros também estão adaptados para elas com tudo proporcional. existe dois dormitórios, um para os meninos e outro para as meninas, cada um tem trinta camas que abrigam crianças até 10 anos. -que gracinha... mas deve ter custado muito caro... -nem tanto, consegui doações e não gastei muito. o refeitório tem todos os equipamentos para esterilização dos objetos, na casa terá também uma enfermaria equipada com uma mini farmácia, aparelhos de emergência e uma enfermeira de plantão. -até parece um sonho. -mas é um sonho, essas crianças precisam sonhar. no mesmo corredor dos quartos tem uma brinquedoteca, com mobília adequada para suas idades, televisor, dvd, vários livros didáticos, brinquedos pedagógicos, e uma infinidade de outras coisas. -nem sei como te agradecer, seu bader. -sabe sim, cuidando bem dessas crianças por mim, enquanto a nova casa delas não fica pronta... -pode deixar! -quanto à adoção do rodrigo, preciso conversar com um advogado para ver os tramites da adoção. -vou torcer pelo senhor, seu bader. -obrigado. agora precisamos ir... -tchau roberta. -tchau seu... -daniel. -isso... -até logo, roberta. -deus o acompanhe seu bader. -tchau rodrigo... -já vai, tio? -sim... não faz essa carinha... não chore... -coitado, ele parece gostar muito de você, bader.

-eu também gosto muito dele... roberta, posso levá-lo pra passar esse fim de semana em casa? -mas... -você já me conhece e sabe que pode confiar em mim. -tudo bem... vou fazer uma malinha com as roupas dele... -iupiiiiiiiiiiiiii! -ficou feliz? -sim... o daniel olhava e dava risada, o rodrigo pulava de alegria, ele ficou todo feliz, pois a vez que saímos juntos nos divertimos bastante, eu acho que a roberta não havia gostado muito da idéia, mas acabou liberando. -tá aqui a malinha dele... -obrigado, roberta. -de nada... doutor... -fala... -cuide bem dele, por favor. -pode deixar. abri a porta de trás do carro e o rodrigo já pulou pra dentro, deixei a mochila dele no banco de trás, travei a porta e entrei no carro, quem iria dirigir era o daniel. -rodrigo... -oi... -põe o cinto de segurança... -eu não sei pôr... -deixa que eu te ajudo... pronto... -pra que serve isso, tio? -pra você não bater a cabeça no banco da frente se o carro der uma freada brusca. -o que é "freada brusca?”. -É quando o carro pára muito rápido. -ele está na idade dos "por quês". -sim... liguei o rádio do carro e estava tocando “detonautas - outro lugar”. -pra onde vamos, bader? -vamos almoçar no shopping primeiro. -obaaaaaaaaaaaa! capítulo 29 seguimos em direção ao shopping para almoçar, no carro o rodrigo foi olhando pela janela e perguntando sobre tudo que lhe causava curiosidade, o daniel morria de rir no volante e eu sempre explicando o que era e pra que servia tudo que ele me perguntava. chegamos no shopping e fomos para a praça de alimentação que por sinal estava lotada. era impressionante como o rodrigo tinha boa memória, já de início ele se lembrou de quando a vânia ficou com medo de subir na escada rolante: -pai, lembra que a vânia ficou com medo de subir a escada? -lembro... -hahaha... que burra... eu segurava em um lado de sua mão e o daniel do outro, na hora de subir na escada levantamos ele, que começou a gargalhar: -opaaaaaa!! -hahaha... -que risada gostosa ele tem, né bader? -sim...

chegamos na praça de alimentação e quase não conseguíamos andar: -daniel, acho melhor procurarmos um lugar pra ficar antes de fazer pedido... -procure você e o rodrigo enquanto eu busco a comida de vocês. o que vocês vão querer comer? -eu vou querer yakisoba. -e você, rodrigo? -eu quero sanduíche. -tá bom. enquanto o daniel foi comprar nossa comida eu e o rodrigo fomos procurar uma mesa, demos duas voltas na praça de alimentação até encontrar uma mesa pra quatro pessoas: -olha ali uma mesa, pai. -vamos lá. sentamos à mesa e ficamos esperando o daniel chegar com a comida, ele ficou um pouco perdido com as bandejas e procurando por nós, quando o rodrigo começou a gritar por ele: -aqui... daniel... -hahaha... ele já nos viu. -caramba, que lugar cheio... -deixa o daniel sentar aí rodrigo, vem aqui do meu lado. almoçamos como uma família, o rodrigo mordia seu sanduíche com tanta vontade que parecia que o sanduíche iria escapar da caixa. eu comi yakisoba e o daniel pegou o mesmo que o rodrigo, eu não gostava muito desse sanduíche com batata frita dessa rede de fast-food, os lanches vinham mornos, além de serem caros. depois que terminamos de comer fomos dar uma volta pelo shopping. -pra onde vamos agora? -vamos ao parque de diversão? -obaaaaaaaaaaaaaaa!! -que parque? -aqui dentro tem um parque no subterrâneo... levamos o rodrigo até o parque dentro do shopping, era um parque infantil de uma turma de personagem de desenho animado brasileiro muito famoso, os brinquedos eram todos feitos para as crianças, mas nem por isso eu e o daniel deixamos de nos divertir. -olha que bonito, pai? -to vendo... -o que é aquilo? -É uma piscina de bolinhas... quer brincar lá dentro? -não posso me molhar, se não eu fico doente... -hahaha... -hahaha... você não vai se molhar, só tem bolinhas de plástico na piscina, não tem água. -então eu quero! -vamos lá. depois de termos passado o dia inteiro com o rodrigo no parque brincando, fomos pra casa descansar, pois o dia foi muito agitado para todos. chegamos no estacionamento do prédio, o daniel estacionou na minha vaga da garagem, desci do carro e abri a porta de trás, tirei o cinto de segurança do rodrigo, peguei sua mochila cheia de roupas e dei a mão pra ele: -chegamos... -o que é aqui, pai? -aqui é o estacionamento do prédio que eu e o daniel moramos. -ah...

-daniel, você pegou a chave de casa dentro do porta-luvas? -tá aqui no bolso. conforme o daniel andava a chave ia fazendo barulho, dentro do bolso traseiro de sua bermuda tipo surfista que ele adorava usar com camisa regata e tênis sem meia, sem contar a cuequinha aparecendo. -pra onde a gente vai agora, pai? -vamos pra casa... -que casa? -a nossa... segura na minha mão... -quer que eu leve a mochila, bader? -não precisa, está leve. paramos em frente à porta do elevador, o daniel apertou o botão e ficamos aguardando ele descer: -o que a gente tá esperando, pai? -estamos esperando o elevador. -igual aquele do "chópis"? -hahaha... sim... o elevador chegou, o daniel abriu a porta para nós, segurando o rodrigo e sua mochila entrei no elevador, logo em seguida o daniel também entrou, apertou o 19º e começamos a subir. -ui... -o que foi? -senti um frio na barriga... -hahaha... chegamos em casa, eu já estava exausto de tanto andar aquele dia pelo shopping, mas muito feliz por ter tido a companhia do meu namorado e do meu futuro filho. -enfim chegamos. -petit, olha quem está aqui... -dani... você já está melhor? -o que é "petí", pai? -"petit" quer dizer "pequeno" em francês. -mas você não é pequeno, eu que sou pequeno. -eu sei, mas esse "pequeno" que o daniel se referiu não é de tamanho, foi só uma forma carinhosa de se referir a mim. entendeu? -entendi. -dani... vem aqui com o papai... -por que você chamou ela de dani? -porque ela se chama dani. -você é pai dela também? -sou pai de coração, igual você. -vou levar essas roupas para um dos quartos vagos, bader. -prepara a cama pro rodrigo dormir, dentro dos armários tem lençol, cobertor, travesseiro e edredom... -pode deixar. -o que o daniel é da dani? -pai. -e o que ele é meu? -pai também. -mas não é você que é meu pai? -sou, mas o daniel também vai ser seu papai. -eu vou ter dois "pai"? -sim... -e quem é minha mãe?

-eu não conheço sua mãe... não faz essa carinha... -eu queria ter uma mãe... -mas você tem duas mães, uma delas é a roberta que cuida de você há muito tempo, a outra eu não conheço. -ah... que pena... -mas pra compensar, papai do céu te deu dois papais, eu e o daniel. -obaaaaaaaaa! -agora você tem o papai bader e o papai daniel. -bader, já arrumei tudo lá no quarto. -obrigado amor. você já está com sono, rodrigo? -não. -nem eu. -e nem eu. -que horas são? -20h15. vamos jogar vídeo game então? -vamooooooooo! -agora não, antes você vai tomar um banho... -mas tinha que ser o bader mesmo pra estragar o clima... nisso o daniel pegou uma almofada e atirou em mim, peguei a almofada e joguei de volta, o rodrigo pegou uma almofada e atirou em mim também, joguei uma almofada nele e acabou virando uma guerra de almofadas: -É guerra... -hahaha! pára! -hahaha! -ah é? toma! -ai! hahaha! caímos os três no sofá e começamos a fazer cócegas um no outro, quase tive uma overdose de risos, o rodrigo pulava em cima de nós fazendo cócegas também, parecíamos três crianças, o clima que pairou em nosso lar naquele momento foi de muita alegria, uma paz que brotava de todos os cantos, o rodrigo acabou levando a alegria que faltava para nossa casa, até a dani entrou na brincadeira. -já chega... depois a gente joga uma partida de vídeo game, mas antes o rodrigo vai precisar tomar um banho e vestir uma roupa limpa. -tá bom... -enquanto eu dou banho nele, daniel, vai até a locadora alugar algum filme pra nós? -eeeeeeee... mas é folgado mesmo, hein. -por favor, amor?... -pedindo assim eu vou, né... onde está a carteirinha? -vê se está na gaveta do armário da cozinha, se não estiver lá, está na minha carteira. -firmeza. capítulo 30 levei o rodrigo até o banheiro, abri a porta de vidro do box, quando ele viu a banheira do lado direito ficou deslumbrado, parecia ter descoberto um outro mundo. -papai bader... -oi. -o que é isso? -É uma banheira. -pra que serve? -pra você tomar banho bem quentinho dentro d'água. você nunca tinha visto?

-grande assim não, só de bebê... -quer tomar banho nela? -não... eu me afogo. -hahaha... eu deixo a água bem rasinha. -então eu quero. -vai tirando a roupa enquanto eu encho a banheira. -sim. enquanto ele foi tirando a roupa eu coloquei a banheira para encher, com água bem quentinha e muita espuma. -uia... -o que foi? -quanta espuma... -legal, né? -É... peguei ele no colo e coloquei dentro da banheira, peguei alguns brinquedos que eram meus quando criança e joguei dentro da água pra ele brincar, enquanto isso eu fui até o quarto pegar toalha e roupa: -rodrigo, o papai já volta, vou buscar toalha e roupa pra você vestir. -tá bom. enquanto eu fui até o quarto, o rodrigo ficou brincando com um aviãozinho de plástico e um barquinho, do quarto eu conseguia ouvir ele brincar com os brinquedos, simulando o barulho de avião. -prontinho... -olha como ele voa, papai? -nossa... ele voa alto, né? -É... olha... -vamos passar xampú no cabelo? -vamo. enquanto eu passava xampú em seu cabelo sentado na beirada da banheira ele continuava a brincar com o barquinho e o avião. -fecha os olhos pra não cair espuma do xampú. -assim? -isso... -tá... já posso abrir? -ainda não... -e agora? -pronto. o telefone tocou, peguei o aparelho do meu quarto que era sem fio e fui falar no banheiro supervisionando o rodrigo brincando na banheira: -alô? -alô, filho? -oi pai, tudo bem com o senhor? -eu to ótimo e você? -eu estou bem também. -filho, você fez aquele trabalho pro cristiano sobre comercial? -ah... fiz sim, ele vai precisar pra quando? -parece que pra depois de amanhã. -vamos fazer assim, eu te mando por e-mail daqui a pouco, pode ser? -tudo bem então, filho! -e a mãe, como está? -ela está bem, te mandou um beijo. -mande outro pra ela. -tchau filho!

-tchau pai. -olha... já ia esquecendo... -o que? -o rodrigo e a millena telefonaram hoje e disseram que estão adorando seu presente... -hahaha... quem bom! -beijão, bader. -outro, pai. -mande um abraço pro daniel. -pode deixar. desliguei o telefone e coloquei em cima da pia, peguei a toalha aberta e comecei a enxugar o rodrigo: -levanta e fica paradinho aqui pra eu te enxugar. -assim? -isso... tirei ele de dentro da banheira e coloquei em cima do tapete, continuei enxugando suas pernas e o cabelo, pois o corpo já se enxugou com o enrolar da toalha. -pronto, agora você já está limpinho. -eu to com frio... -levanta os bracinhos pra eu colocar a blusa em você. -assim? -isso... agora coloca a perna dentro da calça... agora a outra... -assim? -bom menino. agora você já está de pijama, cheirosinho e pronto pra dormir. -to perfumado, né papai? -tá sim... olha que menino cheiroso... hummm... enquanto penteava seu cabelo em frente ao espelho, escutei a porta da sala se fechando, era o daniel que acabava de voltar da locadora com os dvds: -petit?... -estou aqui no banheiro... -já fui lá e aluguei dois filmes. -quais? -procurando nemo e olhos famintos 2. -vamos ver desenho, rodrigo? -sim! -vão indo pra sala que eu já vou. -tudo bem. vamos apostar uma corrida? -eu ganho de você. -ganha nada... saiu o daniel e o rodrigo correndo, apostando corrida pelo corredor do apartamento, às vezes o daniel parecia ser mais criança que o rodrigo. peguei o telefone de cima da pia e fui colocar de volta na base do quarto, depois voltei até o banheiro para esvaziar a banheira. com os dois brincando na sala, reparei que o daniel daria um ótimo pai, pelo jeito que ele lidava com uma criança, o carinho com que ele tratava. enquanto eles brincavam no sofá eu fui até a cozinha, coloquei um pacote de pipoca de bacon no microondas e deixei estourando, enquanto a pipoca estourava eu abri a geladeira, peguei uma garrafa de guaraná e coloquei refrigerante em três copos, um deles era de plástico com canudinho pro rodrigo. -daniel... -fala... -vem aqui me ajudar? -já vou... peraê que eu já volto. -tá bom.

-fala? -leva esses copos lá pra sala que eu vou levar a pipoca. -beleza... está sem gelo esse refrigerante no copo de plástico... -porque esse é pro rodrigo. -ah tá. colocamos os copos sobre a mesa da sala e sentamos no sofá que era reclinável, apaguei todas as luzes do apartamento, liguei o home theater e fechei as cortinas, deixando tudo escuro em clima de cinema. eu fiquei no lado direito, o daniel do lado esquerdo e o rodrigo no meio com a tigela de pipoca no colo. assistíamos procurando nemo, parecíamos estar dentro de um cinema, o rodrigo não tirava o olho da tela admirado com o desenho. -quer mais pipoca, papai daniel? -eu quero! -e você, papai bader? -não ro, obrigado. quando o desenho chegou ao fim o rodrigo já estava dormindo no sofá, com a cabeça caída sobre meu ombro. -petit... -psiu... fale baixo para não acordar o rodrigo... -foi mal. -amor, leve ele para dormir na cama... o daniel com todo carinho, pegou o rodrigo no colo e levou até o quarto, o deitou na cama e cobriu com o edredom, pois a noite estava um pouco fria. apaguei a luz do quarto, liguei o abajur e a luz que vinha do corredor iluminava sua cama, encostado no batente da porta com os braços cruzados comentei com o daniel: -ele estava bem cansadinho... -também, depois de um dia agitado como o de hoje... -não só ele se cansou, mas eu também. -vamos tomar nosso banho e depois dormir? -antes preciso limpar as pipocas espalhadas na sala. -amanhã você faz isso. -tá bom. fechei a porta do quarto e seguimos para o banheiro, já sem camisa o daniel me abraçou com aquele peitoral estufado e quentinho, começamos a nos beijar antes mesmo de tirar nossas roupas, sem interromper os beijos ele foi tirando minha bermuda, seguida de fortes pegadas, comecei a tirar a dele também até ficarmos completamente nus, depois entramos no box e tomamos nosso banho juntos como sempre fazíamos. aquela cara de safado que ele fazia quando olhava pra mim com a respiração ofegante era de matar qualquer um, só de olhar já me dava arrepio. no outro dia acordei cedo, fui até a cozinha preparar o café enquanto o daniel e o rodrigo dormiam, esquentei leite, coloquei pra assar croissant, fiz suco de laranja, abri um pote de geléia de morango, torradas, arrumei tudo na mesa e esperei os dois acordarem para tomarmos café os três juntos como uma família. enquanto eles não acordavam eu fui até a sala recolher as pipocas espalhadas pelo chão que ficaram da noite anterior. ficaram algumas migalhas espalhadas no canto do sofá, fui até a área de serviço, peguei o aspirador de pó e voltei pra sala, passei aspirador em todos os cantos, não demorou muito e o rodrigo acordou: -o que você está fazendo, papai bader? -já acordou, ro?... eu to limpando a sala. -e o que é isso barulhento? -isso é um aspirador de pó. -pra que serve? -ele suga toda a sujeira que está espalhada pelo chão... você já está com fome?

-to... -sente aí na mesa que vou tirar os croissants do forno. -o que é "croassam"? -É um pão recheado muito gostoso. -e você vai me dar um? -claro. -obaaaaaaaaa! -o que mais você quer, leite? -sim... -com chocolate? -sim! -vou buscar pra você. enquanto eu fui até a cozinha buscar um leite com chocolate pro rodrigo o daniel acordou, veio até a cozinha só de bermuda, coçando o lado direito daquele peitoral definido e peludo, acabava me deixando louco. -bom dia, gato! -bom dia petit! -o que você está fazendo? -um achocolatado pro rodrigo. tira o croissant do forno pra mim, antes que queime? -peraê... onde eu coloco? -põe aqui dentro da cesta... -ta quente... opa... -obrigado amor. levei os croissants dentro da cesta e o chocolate com leite pro rodrigo até a sala, sentamos os três na mesa para tomarmos nosso café da manhã, o rodrigo parecia estar adorando o croissant de presunto e queijo, pra ele era novidade. -tá gostando, ro? -to sim. -estou com vontade de comer bolo de chocolate. -eu também, papai bader. -você quer comer bolo? -eu quero. -e você, daniel? -eu também quero. podemos ir à feirinha da república comer, o que acha? -boa idéia... gostou do croissant, ro? -sim... -quer um pouco de salada de fruta? -não... capítulo 31 depois de tomarmos café da manhã, fomos até a feirinha da praça da república comer aquela variedade de comidas gostosas, levei a dani com a gente para passear, pois como morávamos ali perto, fomos caminhando pelas calçadas tranqüilas de higienópolis até chegar na praça da república, que estava lotada: -petit, eu vou querer yakisoba. -o que você vai querer, rodrigo? -eu quero "soba" também. -3 yakisobas, por favor. -grande ou médio? -2 médios e 1 pequeno. sentamos nas mesinhas que tinham lá e comemos nosso yakisoba, ao meu lado

estava a dani sentadinha com a língua pra fora esperando eu dar alguma coisa pra ela comer, eu e o daniel usávamos rashi para comer, o rodrigo tentou usar também, mas não conseguiu, se atrapalhou todo com os pauzinhos, foi uma tremenda comédia. -por que você tá comendo com essa vareta de churrasco? -não é vareta de churrasco, é um rashi. -o que é rashi? -É uma espécie de talher que os orientais usam. -mas esse garoto é curioso... -até demais... hahaha... -eu também era assim quando criança. -pior que eu também. -É coisa de criança mesmo. -papai... não agüento mais... -já está satisfeito? -sim... -você já pagou, daniel? -vou lá pagar... -ok. enquanto o daniel foi pagar a conta eu deixei a dani lamber o pratinho de isopor com o caldo do yakisoba que sobrou. deixamos a barraca de comida chinesa e fomos para a barraca de doces: -agora eu quero comer um pedaço de pavê... -"pavê"? -É... -o que é isso? -É uma espécie de bolo com creme bem gostoso. -e eu posso comer um pedacinho também? -claro, mon ange. -o que é "monange"? -"mon ange" quer dizer "meu anjo" em francês. -bader, você vai querer pavê de quê? -tem "sonho de valsa?” -acho que sim... tem pavê sonho de valsa?... tem sim, você vai querer? -vou. -e o rodrigo? -ele come comigo. -tá bom. passamos a manhã inteira na feirinha comendo, comprando algumas tranqueiras e tirando fotos. o rodrigo estava adorando o passeio, ficou curioso quando viu o lago da praça da republica e começou a me questionar sobre os peixes da água: -olha a água, papai?... -estou vendo, você viu que bonito o chafariz? -o que é chafariz? -É esse jato de água que você está vendo pulando... -ah... olha quanta água... -vamos tirar uma foto? -vamooooooooooos! juntamos nossos rostos de maneira que o rodrigo ficasse no meio e de fundo o lago com o chafariz pulando, batemos a foto que por sinal ficou linda, os três sorrindo como uma família feliz. -pronto... depois a gente tira mais. -papai... por que a água daqui é verde?

-porque está suja. -e tem peixe lá dentro? -não tem peixinho... -por quê? -porque se a água está suja eles não tem oxigênio pra respirar... -que peninha... -É uma pena mesmo. -vamos tirar outra foto, bader! -ok. -pega o rodrigo no colo que eu bato a foto de vocês dois. batemos fotos, comemos doces, comidas, rimos, brincamos, caminhamos, foi um passeio muito agradável e divertido, fazia muito tempo que eu não sentia aquela sensação de alegria que senti com os dois, pra mim aquela se tornou a minha família, minha linda e querida família. voltamos para casa comentando sobre as comidas da feira, o rodrigo dizia que havia adorado e até pediu para levar um pedaço pra roberta, acabei comprando 4 pedaços de bolo pra ele levar para o lar do céu. quando passamos da porta do condomínio o rodrigo viu a quadra de esportes, com uma bola na mão que o daniel havia comprado pra ele na feirinha ficou todo animado querendo brincar na quadra: -uia... um campo... -É uma quadra de esportes... -vamos bater um "fut", rodrigo? -obaaaaaaaaaaaaaaaaaa! -enquanto vocês brincam ai, eu vou levar esses pedaços de bolo lá pra cima e por na geladeira para não derreter. -tudo bem. -vamos ver quem chega primeiro na quadra? -eu vou chegar primeiro. -1... 2... 3... enquanto eles saíram correndo em direção à quadra eu fui até em casa colocar os bolos na geladeira e deixar a dani. fui até o corredor que dava acesso ao elevador de serviço, pois como eu estava com a dani, não poderia subir pelo elevador social. entrei pela porta que dava acesso à piscina e acabei batendo de cara com o flávio que estava ali parado na porta, foquei meu olhar pra piscina e haviam dois rapazes muito bonitos tomando sol no deck, aí que eu fui entender o motivo pelo qual ele estava ali parado olhando para a piscina. passei direto por ele e peguei o elevador que já estava parado no térreo, e subi para o 19º andar, morrendo de rir da cena que acabara de presenciar, e o pai dele põe a mão no fogo pelo filho achando que ele não é gay. abri a porta da área de serviço que dava acesso para a cozinha e tirei a coleira da dani que saiu cheirando o chão até a sala, já na cozinha eu abri a porta da geladeira e guardei os pedaços de bolo quando escutei a dani latindo, de início nem dei muita importância achando que fosse alguma bobagem, uma barata talvez, mas ela continuava insistindo em latir parecendo que queria chamar minha atenção, fui até a sala e vi um porta retrato com uma foto minha junto com o daniel caído no chão e o vidro quebrado, peguei do chão e coloquei de volta sobre a mesa de canto, a dani ainda latia e cheirava o chão por baixo da porta da sala, cheguei próximo à porta e reparei que ela estava aberta, era estranho porque antes de sairmos de casa o daniel havia trancado a porta. alguma coisa de errado estava acontecendo, fui até meu quarto e a dani foi pulando na minha perna e latindo ao mesmo tempo, pra mim parecia tudo normal até ela começar a cheirar a porta do guarda-roupa, corri até a cozinha e peguei uma faca para me proteger caso alguém estivesse lá dentro, tremendo e com um pouco de receio me aproximei com cuidado e abri a porta com

tudo, respirei aliviado quando vi que era alarme falso, não tinha ninguém dentro do armário, fechei a porta e me virei de frente para a cama e vi meu criado-mudo aberto e todo revirado, parecia que alguém procurou alguma coisa ali dentro. larguei a faca em cima da cama e cheguei próximo ao criado-mudo, notei que uma foto minha havia sumido de dentro de um álbum, alguém havia entrado no meu apartamento e mexido em minhas coisas procurando sabe-se lá o quê. seja quem fosse que tivesse entrado em casa deveria ter passado pela portaria, resolvi ir perguntar ao porteiro, peguei a faca de cima da cama e levei até a cozinha, tranquei a porta da área de serviço e saí pela porta da sala pra pegar o elevador social, enquanto esperava o elevador subir uma vizinha saía de sua casa e me perguntou: -boa tarde, bader! -boa tarde! -teve um rapaz te procurando hoje... -me procurando? -É... eu estava voltando da feira quando ele perguntou se era aí que morava o bader... -e a senhora disse o quê? -eu confirmei... -humpft... como ele era? -ah... não me lembro muito bem... -tudo bem, obrigado. -por nada. se eu fosse depender daquela imbecil me fazer um retrato falado da pessoa que procurava por mim estaria perdido, descemos no mesmo elevador sem dar mais nenhuma palavra, fiquei pensando no que eu teria em casa para chamar a atenção de algum ladrão, já que dinheiro eu não mantinha em casa e coisas de valor eu não tinha muitas. ao certo eu não sei o que procuravam, mas o fato de alguém ter entrado em minha casa sem dificuldade nenhuma me deixou apavorado. saí do elevador e fui direto até a portaria perguntar ao porteiro se apareceu alguém procurando por mim naquela manhã: -boa tarde, seu bader! -boa tarde, por acaso esteve alguém aqui procurando por mim hoje? -esteve sim... -quem? -não sei dizer, ele disse que conhecia o senhor e pediu para eu deixá-lo entrar... -e você deixou? -eu deixei... -mas como?... você sabe o risco que minha família correu? -mas seu bader, ele disse que te conhecia... -então quer dizer que se qualquer um chegar aqui dizendo que me conhece você vai deixar entrar? -acontece... -acontece que você é um incompetente, que só presta pra ficar espiando as meninas de biquíni na piscina. o circuito interno de tv estava ligado? -estava sim... -eu quero a fita de hoje pela manhã... -não vai ter como, o gravador quebrou... -humpft... e por que não arrumaram ainda? -isso tem que perguntar ao carlos... -não vou deixar isso barato, você e o carlos vão se ver comigo. era inacreditável que uma coisa dessas poderia acontecer em um condomínio de luxo daqueles, onde só moravam pessoas de alto poder aquisitivo não poderia ter

esse tipo de falha tão estúpida cometida por um porteiro despreparado, se fosse uma quadrilha especializada em assalto a condomínio teria feito a festa em casa. deixei a portaria bufando de raiva, era um cúmulo um porteiro permitir que qualquer um que pergunte por mim entre no condomínio sem se identificar. fui até a quadra procurar pelo daniel que brincava com o rodrigo de jogar futebol, no caminho fui pensando em qual providência iria tomar quanto a isso, claro que não deixaria passar esse erro gravíssimo sem mais nem menos, no mínimo aquele porteiro imbecil seria demitido. -daniel... -já volto, ro... -tá bom... ele veio correndo até mim com aquele sorriso gostoso no rosto: -fala, amor? -você trancou a porta da sala quando saímos hoje pela manhã? -tranquei sim, por quê? -porque quando cheguei ela estava apenas encostada, havia algumas coisas reviradas em casa e uma foto sumiu... -mas como? -eu não sei, só sei que estou com medo... ele me abraçou e pediu para que eu não me preocupasse: -vamos levar o rodrigo de volta para o lar do céu e depois resolvemos isso. -tá bom. -rodrigo... -oi? -por hoje chega, vamos arrumar suas coisas que está na hora de voltar para o lar do céu... -ah... subimos até o apartamento e fui direto pro quarto do rodrigo arrumar sua malinha: -eu vou poder voltar outra hora, papai bader? -vai sim, ro... em breve você vai estar aqui morando comigo e com o daniel... -obaaaaaaaaaaaaaaa! -bader, eu vou descendo e te espero no carro. -tudo bem. -rodrigo, você pegou a sua bola? -peguei. -então vamos... capítulo 32 descemos até o estacionamento, dentro do carro o daniel já nos esperava, abri a porta de trás e coloquei a mochila do rodrigo no canto do banco e depois ele entrou, prendi nele o cinto de segurança e travei a porta, entrei dentro do carro e seguimos para o lar do céu. no caminho liguei do celular do daniel para o um chaveiro ir trocar as trancas da porta, pois eu não me sentia mais seguro dentro da minha própria casa. enquanto isso o rodrigo foi brincando com o aviãozinho que eu havia dado pra ele, enquanto eu e o daniel conversávamos sobre o ocorrido: -falou com o chaveiro? -sim, dentro de uma hora mais ou menos ele passa lá em casa pra trocar as fechaduras e colocar mais duas para reforçar. -que absurdo... -você acredita que eu não posso saber quem entrou no meu apartamento porque o circuito interno de segurança não tem gravador? -e por que não providenciaram ainda?

-eu também gostaria de saber. o que o carlos faz com o dinheiro dos condôminos já que não investe no condomínio?... paramos no farol e ao lado do daniel havia uma loja de autos, que tinha uma moto mais linda que a outra, apaixonado por motos como ele era ficou de olho em uma verde muito bonita, muito cara também: -olha aquela moto... -bonita... -demais... mas olha só o preço? -caramba... -É a moto dos meus sonhos... -pelo preço também, né? -acho que vou vender o meu carro... -pra quê? -olha o preço dela? não tenho esse dinheiro à vista... -compre a prestações... -prefiro vender o carro e comprar à vista... no momento não poderei pagar uma prestação de moto que no mínimo vai sair mais de dois mil. -o farol abriu... chegamos no lar do céu e não havia nenhuma criança na rua, tudo parecia estar na santa paz, abri o portão e bati na porta, não demorou muito e veio a roberta atender a porta: -seu bader... que prazer... -boa tarde, roberta! vim devolver o rodrigo pra você... entregando a mochila para ela: -oi ro... -oi tiaaaaaaaaaaaa! -como foi lá na casa do bader? -muito legal... comi bolo, "sopa", fui no "xopis", joguei bola, fui no parquinho... -roberta, cadê as crianças? -estão tudo lá no quarto vendo tv... -bom, preciso voltar agora, adorei ter passado esses dias com o rodrigo... -muito obrigado, seu bader! -eu é que agradeço, roberta. tchau rodrigo... -tchau papai bader... tchau papai daniel... -tchau. deixamos o rodrigo aos cuidados da roberta e voltamos para casa, quando cheguei fui direto tomar um banho pra tirar o estresse, do banheiro escutei o interfone tocando, logo depois o daniel foi até o banheiro me avisar que o chaveiro havia chegado: -bader, o porteiro interfonou dizendo que o chaveiro está lá na portaria, eu vou descer lá pra checar e subo com ele. -tudo bem, eu já estou terminando aqui... -já volto. enquanto ele foi buscar o chaveiro eu sai do banho e fui me vestir, coloquei uma bermuda sem cueca mesmo, uma camiseta de manga e um chinelo de dedo, sentei no sofá da sala e fiquei aguardando o daniel junto com o chaveiro. não demorou muito e a porta se abriu, os dois entraram na sala e assim eu expliquei o que havia acontecido: -boa tarde! -boa tarde! -o que aconteceu com a fechadura? -não sei o que houve de fato, alguém conseguiu abrir e entrar aqui dentro de casa.

-vamos ver... ela foi aberta com algum material de ponta... um canivete, grampo... -por favor, eu quero que troque e adicione mais duas trancas nessa porta e na da área de serviço também. -tudo bem... acompanhei as trocas das trancas, fiz questão de guardar as velhas para mostrar para o carlos depois, porque com certeza era ele quem iria pagar pelos gastos que eu estava tendo: -já está pronto. -Ótimo, quanto é? -r$ 150,00... -vou buscar, você pode me dar um recibo? -claro... -obrigado. enquanto o daniel acompanhou o chaveiro até a portaria eu desci até o 3º andar e fui falar com o carlos, toquei a campainha e o flávio quem atendeu a porta: -oi bader. -quero falar com seu pai. -ele não está, viajou com minha mãe... -quando eles voltam? -acho que a semana que vem... -foram pra tão longe assim? -sim... foram para o maranhão e ilhéus... -engraçado, com o salário que ele ganha não dá pra viajar assim... tudo bem que isso não é da minha conta, mas se for o que eu estou pensando é muito além da minha conta, é caso de policia. -do que você está falando? -de nada, entregue isso aqui pro seu pai e diga que preciso falar com ele o quanto antes. -tudo bem... -antes que eu me esqueça... sabe quem estava descendo no elevador junto comigo? -quem? -aquele rapaz que vive desfilando sem camisa por ae, eu acho que ele estava descendo pra piscina, dê uma passada lá depois... -valeu... -hahaha... divirta-se. entreguei as fechaduras retiradas da porta junto com o recibo do chaveiro para o flávio e voltei pro elevador. chegando em casa o daniel estava na cozinha comendo iogurte, tranquei a porta da sala e deixei a chave em cima da mesa: -petit, vou tomar banho... vem comigo? -eu acabei de tomar... -não tem problema, você toma outro. -hummm... ele jogou o pote vazio no lixo, olhou pra mim com aquela cara de safado, deixou a colher dentro da pia e veio me abraçando e me beijando, no meio de seus braços eu me rendi a seus encantos, assim fomos até o banheiro, onde tiramos nossas roupas e fizemos amor antes de ligar o chuveiro. tomamos banho gostoso como sempre fazíamos, depois fomos para o quarto dormir abraçadinhos. no outro dia fui acordado pelo daniel quebrando um copo, levantei e fui até a cozinha ver o que tinha acontecido, lá estava ele varrendo os cacos do chão: -te acordei, petit? -uhum...

-desculpa... -tudo bem, já está quase na hora de trabalhar. -quer um pouco de leite de soja? -eu quero, está quente? -não, mas eu esquento no microondas pra você. -obrigado. sentei na mesa da cozinha e ficamos ali conversando um pouco: -acredita que ontem fui falar com o carlos e ele não estava? o salafrário foi viajar... -e...? -e... que eu desconfio que o dinheiro que ele está gastando viajando pelo brasil é o dos moradores do prédio. -será? -com certeza, ele e o zelador são muito amigos, deve estar rolando uma parceria brava entre os dois, eles devem arrecadar por mês do prédio todo uns 150 mil... -caralho... -cada morador pagando em média 2 mil de condomínio... você já viu o carro da mulher do zelador? -não... -depois te mostro, não custa menos que 40 mil. -caramba... -mas vou investigar mais a fundo, deixa ele voltar... pega uma laranja pra mim? -toma... -obrigado. -já colocou comida pra dani? -ainda não. -não deixe ela sem comer, tadinha... -vou colocar agora. -eu liguei para a doutora eliete e marquei uma consulta pra dani. -ainda não levou ela na veterinária? -não tive tempo, daniel... -você fica tão gostoso quando faz essa carinha de bravo... -pára... -olha que tesão... chupando a laranja deixei que o caldo vazasse pelo canto da boca: -hum... -deixa eu te ajudar a chupar essa laranja... ele se aproximou de mim e tirou a laranja da minha boca, segurando na minha mão ele foi beijando minha boca, lambendo meus lábios, quando me dei conta já estávamos em pé encostados na parede nos amando ali na cozinha mesmo: -ah... eu não resisto quando vejo você... (mordendo minha orelha) -não me provoque, daniel... -você que fica me provocando com essa cara de safado... -não quero chegar atrasado na produtora... fomos para o quarto, o daniel trancou a porta e acendeu a luz, só de bermuda sem cueca e sem camisa, se aproximou de mim e encostou seu corpo no meu de uma tal forma que quase gozei naquela hora, eu consegui sentir que sua barraca estava armada juntamente com a minha. -você me deixa louco, bader... -ai daniel... eu vou me atrasar... ele tapou minha boca com sua boca, não permitindo que eu falasse mais nada, apenas me entregasse ao clima de amor que envolveu nós dois dentro daquele quarto, o que começou com uma simples brincadeira terminou em um orgasmo

profundo: -daniel... -o quê? -olha que horas são? corri pro banheiro, tomei um banho bem rápido e me arrumei: -você pode me dar uma carona até a produtora? -claro... no caminho fomos conversando sobre seu aniversário que estava próximo, a cada vez que ele trocava de marcha ele dava uma passada de mão na minha perna e me olhava com cara de desejo. -meu aniversário está chegando, vamos viajar pra comemorar? -pra onde você quer ir? -podemos ir pra fernando de noronha... ilha bela... angra dos reis... -faz muito calor, você sabe que eu detesto o calor. -pra onde você quer ir então? -poderíamos pensar nisso depois, quem sabe para campos de jordão que nessa época é bem frio... -hum... fazer amor em frente a uma lareira... -já pensou? -Ótima idéia. cheguei na produtora, me despedi do daniel com um beijo e entrei no prédio, mas antes de subir fiquei olhando ele sair com o carro, ele ficava um tesão dirigindo com aqueles óculos escuros e boné vermelho virado pra trás. eu já era bem grandinho para ficar paparicando tanto aquele marmanjo, mas o que eu poderia fazer? não adiantava, eu iria paparicá-lo todos os dias, todas as horas, porque ele era o sonho que todo mundo gostaria de viver, o homem que toda mulher gostaria de ter. eu estava na minha sala selecionando algumas modelos através dos book’s para uma nova propaganda, sobre minha mesa havia um amontoado de fotos de várias modelos, uma mais linda que a outra, mas nenhuma tinha a beleza de que eu precisava. enquanto parei pra beber uma água, recebi um telefone de uma multinacional querendo que eu fizesse uma publicidade de impressionar o país, o representante disse que fui indicado por um colega que havia adorado o meu trabalho, fiquei todo feliz e marcamos uma reunião para aquele dia mesmo. À tarde o gerente de marketing da empresa foi até a produtora para acertarmos o contrato e expor as idéias de que se poderia fazer com a propaganda do produto. conversei com o gerente de marketing e dei a idéia de como poderíamos criar uma mania nacional, o jingle era muito importante, pois dele que surgiria todo o resto, o gerente adorou a idéia, ele só não adorou como fez um contrato de um ano comigo. eu mal pude acreditar, minha carreira estava tomando um rumo fabuloso, não via a hora de chegar em casa e contar a novidade para o daniel. nessas horas é muito bom estar namorando, ter alguém para dividir seus momentos de felicidade, era ótimo. cheguei em casa todo feliz, as luzes estavam apagadas, sinal que o daniel ainda não havia chegado, fui tomar um banho bem rapidinho pra tirar o suor, coloquei a comida no microondas para ir aquecendo enquanto ele não chegava. deitei no sofá depois do banho e fiquei vendo tv, acabei adormecendo, acordei com o barulho da televisão quando passava um comercial, levantei para ver que horas eram, já passava das 3h, o daniel ainda não havia chegado, meu coração começou a ficar apertado, angustiado, liguei para o celular dele, deu caixa postal, liguei para a casa de sua mãe, mas ele não havia passado por lá, então liguei para o sócio do daniel, ele me disse que o daniel não havia ido trabalhar aquele dia. comecei a me preocupar, saí pela rua o procurando desesperado, não era possível que ele tinha sumido sem que ninguém soubesse onde ele estaria, rodei com o carro pelo bairro, mas não encontrei nada.

o desespero tomou conta de mim, fui até a delegacia dar queixa sobre o desaparecimento dele, mas como ainda não tinha feito 24 horas, pediram pra eu esperar. eu sentia que algo de errado havia acontecido, já que a policia ainda não podia me ajudar, fui procurá-lo por conta própria, comecei pelos hospitais, corri por vários na cidade, mas não o encontrei, então fui procurá-lo no iml, já eram quase 11 horas, passei as características do daniel, o legista disse que havia um corpo com as descrições dele, na hora eu gelei, comecei a chorar, acompanhei um funcionário até uma sala fria, cheia de gavetas, algumas moscas, cheirava mal, no meio havia uma pia de inox e sobre a pia tinha o corpo de uma mulher, fiquei impressionado ao ver aquela cena, uma mulher tão bonita aberta do pescoço ao umbigo, costurada como uma calça jeans, foi horrível, eu sabia que uma necropsia abria o corpo, mas entre saber e ver eu preferia ficar só sabendo, porque ver é realmente traumatizante. quando o rapaz abriu uma gaveta e puxou um corpo dizendo que era o suspeito eu travei, minhas pernas amoleceram, comecei a tremer, pensei 2 vezes se ia olhar o cadáver. -o corpo é esse aqui... você vem ver ou não? -estou tentando... cheguei até a gaveta, a pessoa já havia passado pela autopsia, ele parecia com o meu daniel, mas não era graças a deus. saí daquele lugar aliviado por não ter encontrado meu amor naquela situação, mas ao mesmo tempo eu estava preocupado, sem qualquer pista de onde estaria o meu petit. eu havia ficado sem dormir a noite inteira, procurei pelo daniel na cidade inteira, já havia feito 24 horas que ele foi visto pela última vez, segui até a delegacia e prestei queixa, não fui muito bem atendido pelo delegado, mas pelo menos ele disse que iria cuidar do caso desde então. meus olhos estavam ardendo de sono, fui para casa descansar um pouco, quando cheguei havia um recado na secretaria eletrônica, era a mãe do daniel perguntando por ele, mas o que eu iria dizer? “dona marisa, seu filho sumiu.” eu não poderia fazer isso, preferi aguardar a policia investigar o caso ao invés de me precipitar. continuei minha rotina de sempre, mas a minha cabeça estava longe, o tempo todo pensando no daniel, já havia se passado 3 dias e nenhum sinal dele, meu coração estava partido, todos os dias quando chegava do trabalho eu pegava nossas fotos e ficava olhando, matando a saudade, rezava por ele todas as noites, ficava tentando imaginar onde ele estaria, será que estava dormindo? se alimentando bem? e se estivesse passando frio? com sede? seu desaparecimento estava me deixando louco, eu já não dormia direito, tinha pesadelos, chorava ao relembrar nossos momentos de alegria. na manhã do 4º dia, acordei com o telefone tocando, levantei correndo para atender na esperança de ser o meu daniel, com o coração quase pulando pela boca, corri até a sala esbarrando em tudo que cruzava no caminho. -alô? -alô, eu quero falar com a carla... -aqui não tem ninguém com esse nome. -desculpe, foi engano. -tudo bem. desliguei o telefone decepcionado, esperava que fosse o daniel ligando para dar noticias, mas infelizmente não era, voltei pro quarto triste, decepcionado, deitei na cama, abracei o travesseiro de encontro ao peito, as lágrimas insistiam em descer dos meus olhos, aproximei os joelhos da cabeça e fiquei assim por um bom tempo, até ser interrompido novamente pelo telefone tocando, achei que o rapaz que ligou por engano estava insistindo outra vez, fui atender o telefone puto da vida: -alô... -bom dia, senhor bader?

-sou eu, quem é? -aqui é o delegado valter. -bom dia, alguma notícia do daniel, doutor? -por enquanto não temos noticia do senhor daniel, mas temos uma pista... -graças a deus, qual? -encontramos o carro dele em um terreno baldio na zona sul, estava todo aberto e intacto... -mas e o daniel? -do carro não levaram nada, mas o daniel, nem pistas... tudo indica que seu amigo daniel foi seqüestrado capítulo 33 -não diga uma coisa dessas... -o senhor pode passar aqui na delegacia para pegar alguns pertences que estavam no carro? -sim, claro. -o carro foi para perícia, vamos aguardar para ver se deixaram alguma pista que possa nos levar a um esclarecimento do caso... não era possível que alguém pudesse sumir assim sem deixar nenhuma pista, como se fosse tragado pela terra, eu sabia que aquele sumiço repentino não partiria do daniel, meu coração me dizia que alguma coisa estava errada, e naquela hora eu tive a certeza. corri até o quarto, vesti uma roupa e fui até a delegacia, chegando lá o delegado estava atendendo um caso de violência doméstica, sentei no banco de concreto e fiquei aguardando ele registrar o caso junto com o escrivão. -desculpe por fazê-lo esperar, seu bader... -vim buscar as coisas do daniel. -vou pedir para trazerem pra você. É incrível a diferença de tratamento que eu tive quando fui na delegacia registrar a agressão sofrida junto com o daniel e na hora em que registrei o seu desaparecimento, por isso que eu dizia sempre que você só é gente nesse mundo se você tem dinheiro, caso contrário você é apenas mais 1 número nas estatísticas da violência urbana, claro que a minha aparência de quando fui procurar o daniel demonstrava que eu era uma pessoa bem posicionada financeiramente, diferente daquela vez que fui registrar queixa sobre agressão, no qual fomos de bermuda e regata. peguei os pertences do daniel tais como a carteira, cds, celular, um casaco ainda com seu perfume e a chave do carro, dentro de sua carteira havia r$ 200,00 intactos. era estranho alguém querer seqüestrar somente a pessoa e não ligar para pedir um resgate, tudo bem que r$ 200,00 não é muita coisa, mas também não é um valor que se passa despercebido. acabei nem indo trabalhar, voltei para casa triste, chorando muito, estacionei o carro na garagem e fiquei ali por um tempo com a cabeça sobre o volante, pensando, até criar coragem e entrar em casa, abri a porta, joguei a chave sobre a mesa e segui em direção ao quarto quando o telefone tocou, sem vontade nenhuma de manter contato com o mundo eu comecei a entrar em depressão outra vez, mesmo assim fui atender ao telefone. -alô? -alô, bader? -sim. -É o bruno... como se já não bastasse o seqüestro do meu namorado, ainda tinha o bruno que não parava de me perseguir, será que ele não se tocava que eu não queria mais nada com ele? -o que você quer, bruno?

-preciso te ver... falar com você... -não tenho mais nada pra falar com você, se possível não me procure mais, por favor. -mas eu tenho, você não vai se arrepender... -tudo que eu quero é ver você feliz e vivendo bem, mas longe de mim. -então vamos nos ver pela última vez, está bem? -depois você promete me deixar em paz? -ok. -me encontre no café da haddock lobo... pedi para ele me encontrar em um café na rua haddock lobo, onde sempre costumávamos ir quando morávamos juntos. era só o que faltava agora, um exnamorado que um dia me abandonou sem nenhuma consideração comigo, agora ficar no meu pé seguindo meus passos, dando uma de cachorro arrependido. À noite fui encontrá-lo, sem a mínima vontade de olhar para sua cara de pau, sua voz já me causava nojo e seu perfume ânsia de vômito. o bruno nunca foi pontual, sempre atrasou em nossos encontros e me deixava irritado, um pouco relaxado, mas naquele dia eu fiquei surpreso, pois no horário certo ele estava lá me esperando, pontual. quando cheguei ele já estava sentado na mesa tomando uma cerveja, todo perfumado, limpinho, igual quando o conheci, exceto aquele cabelo lambido que ele estava usando que pra mim não combinou nada com ele. na época em que eu conheci o bruno, eu morava há pouco tempo na cidade, não conhecia quase nada, certa vez estava voltando da faculdade e no ponto de ônibus o vi pela primeira vez, notei que ele me dava umas olhadas suspeitas mas nem liguei muito, acabamos pegando o mesmo ônibus e os olhares vindos dele continuavam, um pouco deslocalizado acabei me perdendo e descendo no ponto errado. fiquei procurando a faculdade pelas ruas movimentadas do jardins, pois era meu primeiro dia e eu não conhecia são paulo até então, quando eu ia atravessar a rua, levei um susto, dei de frente com aquele garoto que me paquerava dentro do ônibus, ele havia descido no ponto seguinte para me procurar e entregar um bilhete com seu nome e telefone. na hora fiquei sem reação quando fui abordado por ele na esquina da república do líbano tentando me entregar o bilhete. ele se ofereceu para me acompanhar até a faculdade, pois ele sabia onde ficava e dois meses depois já estávamos namorando. -boa noite... -boa... viu como hoje fui pontual? -pois é. -quer beber alguma coisa? -quero uma água tônica. -você está tão bonito... -obrigado. -não precisa agradecer, você sabe que é lindo. -bruno, não foi para elogiar minha beleza que você quis me encontrar, certo? -isso é verdade. -vamos direto ao assunto? -eu quero... -você quer o quê? -te pedir perdão e voltar a viver com você como antes. -mas que cara de pau a sua, foi você mesmo que me abandonou deixando aquele bilhete sobre a mesa, dizendo que não queria mais nada, lembra-se? -eu já estou arrependido, te pedi perdão e te quero outra vez. -bruno, um dia eu pensei que estava amando você, mas quando você me deixou eu vi que não era amor. -me dê mais uma chance, bader?

-não bruno, eu já estou em outro relacionamento. -com o daniel... -É. -você gosta muito dele? -eu amo ele. -e por que não está com ele agora? -porque ele sumiu, foi seqüestrado. -ah que pena... -pare com essas ironias. -o que é isso, amor? não pense mal de mim, por favor... eu posso te ajudar a trazer o daniel de volta. -não me venha com suas lorotas. -eu sei como encontrá-lo... -humpft... como? -eu tenho uns amigos da pesada ae... -imagino que você tenha se juntado com um pessoal não muito correto... -pois é, eu posso te ajudar com a ajuda deles. -como? -eu sei onde o daniel está. -como você sabe? foram seus amigos que seqüestraram ele? -eu sei tudo sobre vocês, bader. claro que pra te ajudar eu vou querer algo em troca... -o que você quer? dinheiro? um carro? uma moto? -eu quero você, apenas. -o que você sabe sobre minha vida? -faz algum tempo já que eu venho observando a rotina de vocês... quase voei no pescoço dele quando o maldito confessou que seqüestrou o meu amor, será que eu nunca teria um momento de paz em minha vida? quando tudo estava indo bem no meu relacionamento sempre aparecia alguém para atrapalhar. -então foi você que entrou no meu apartamento e revirou minhas coisas... -umhum. -por que você fez isso? eu vou na policia agora... ele segurou minha mão e disse bravo olhando nos meus olhos: -se eu fosse você não faria isso, esqueceu que ele está comigo? -não o machuque, por favor. -só vai depender de você, meu amor... -o que você quer de mim? uma viagem? um carro? uma moto? diga logo, peça o que você quiser que eu te dou, mas não faça mal ao meu daniel. -eu já disse que quero você... já disse que sua felicidade é comigo, gato... se você voltar pra mim eu mando soltá-lo. -por que você está fazendo isso? -desculpa amor, na verdade nem não era pra seqüestrar ele, e sim você. -o quê? -É verdade, eu ia seqüestrar você e te levar pra morar comigo em um paraíso que minha mãe montou, uma pousada em porto seguro... mas um dos comparsas acabou confundindo vocês e seqüestrou o cara errado, quando eu vi a cagada que ele havia feito já era tarde, não poderia soltá-lo porque corríamos o risco de ser cagüetados, a única alternativa foi essa, mano... -não me chame de "mano"... eu não acredito que você foi capaz de tanto... -eu digo e repito, se você voltar pra mim eu solto ele. vamos viver juntinhos pra sempre, só eu e você? -isso não. -calma amor, não precisa responder agora. você tem até o fim da semana para

me dar a resposta. pense com carinho, tá? deixei aquele lugar correndo, indignado com tamanha audácia do bruno, como ele foi capaz de chegar a esse ponto, eu reparei que ele estava mesmo um pouco descontrolado, mas nunca imaginaria que ele teria o atrevimento de seqüestrar a mim ou ao daniel. fui chorando o caminho inteiro, parei o carro na porta da delegacia, mas na hora fiquei com medo de denunciar e algo de ruim acontecesse com meu daniel, o bruno estava muito esquisito, eu não fazia idéia do que ele seria capaz de fazer com o amor da minha vida. Àquelas alturas, a mãe do daniel já estava sabendo do seqüestro, pois de dentro do carro mesmo eu liguei pra ela e contei o que havia acontecido. claro que eu seria capaz de dar tudo o que já tinha conquistado financeiramente para ver o daniel livre outra vez, deitado na minha cama sorrindo só de bermuda sem camisa e me chamando de "petit", mas o preço que o bruno estava pedindo era alto demais. eu me lembro que um pouco antes do bruno sumir, ele começou a se misturar com umas pessoas suspeitas, usando drogas, foi andando no meio "das bocas" que ele contraiu aquelas doenças e acabou passando pra mim. ele não necessitaria entrar nessa vida, sempre teve de tudo, veio de família de classe média alta, tradicional, falava inglês fluente, cursou até o 2º ano de administração e largou tudo depois que se juntou com esses "amigos". não sei o que se passava pela cabeça dessas pessoas que têm de tudo na vida e optam pelo caminho errado. cheguei em casa triste, chorando, fechei a porta da sala e logo o telefone tocou. -alô? -oi meu amor... -o que você quer, bruno? -você sabe muito bem o que eu quero. -por favor, solte o daniel?... -É como eu disse, só depende de você. -deixa eu falar com ele, por favor? -eu não resisto a um pedido seu, bader. -petit... quando eu ouvi sua voz comecei a chorar, senti meu corpo flutuar no espaço, meu coração acelerou como o motor de um carro importado, eu sentia em sua voz um certo medo, ele estava em pânico, e não demorou muito eu entrei também. -daniel... você está bem? -pelo amor de deus petit... me ajude... por favor... -eu vou tirar você daí amor... -chega dessa ladainha. e então amor, já decidiu? -por que você está fazendo isso comigo? -porque eu te amo, bader. comecei a ouvir gritos de fundo: -o que é isso? por que o daniel está gritando desse jeito? -seu namorado é um pouco teimoso, só dando uma pequena lição para ele aprender quem é que manda aqui. -por favor, bruno, não o machuque... -gato, eu já disse, só depende de você... -fala logo o que eu preciso para você soltá-lo? -muito simples, eu liberto o seu amor e você fica no lugar dele, mas é claro que você terá tratamento 5 estrelas. eu não agüentei quando ouvi os gritos do daniel ao fundo, não era justo que ele ficasse pagando por algo que não tinha nada a ver com ele, eu o amava mais que tudo e a última coisa que eu queria na vida era vê-lo sofrer, mesmo que para isso eu tivesse que ficar em seu lugar. -está bem, como faremos?

-muito simples, eu solto ele e você foge comigo... -como vou ter a certeza que você o soltou mesmo? -eu liberto ele na sua frente, se for da sua preferência. -ok. quando? onde? que horas? combinamos tudo pelo telefone, mas eu não ficaria em paz enquanto o daniel estivesse em cativeiro. marcamos a libertação dele para o dia seguinte, tive que manter a policia longe do caso por exigência dele, com certeza havia mais pessoas por trás disso, jamais o bruno conseguiria fazer tudo sozinho, com certeza era por influência deles que o bruno seqüestrou o daniel, uma idéia dessas não sairia daquela cabeça oca. no outro dia liguei para a mãe do daniel e contei tudo sobre sua libertação, pedi para que ela ficasse despreocupada que naquele dia mesmo ela teria seu filho de volta. depois de falar com ela, fui até o quarto e me despedi da dani, peguei a chave do carro e segui para o local combinado. estacionei o carro na rua de trás, o lugar era um terreno baldio com uma construção abandonada, à medida que eu ia caminhando rebatia um eco nos cômodos mal acabados da obra, aquele piso de terra vermelha misturado ao entulho e lixo me faziam espirrar, comecei a sentir tontura por falta de alimentação, fazia dias que eu não me alimentava direito, os remédios então... fiquei esperando ansiosamente por eles que demoravam a chegar, o lugar estava um pouco escuro, motivo pelo qual me deixava com mais medo. encostei em uma pilastra aguardando um sinal deles, o tempo estava se fechando, senti umas gotas d’água começarem a cair, quando me esquivei para baixo de uma marquise escutei um assovio, era o bruno e junto com ele estava o daniel sob a mira de uma arma, comecei a chorar quando o vi abatido daquele jeito, um pouco mais magro, barba por fazer... -petit... -amor, o que fizeram com você?... como o combinado, estou aqui. -muito bem, gato. sempre pontual... -agora cumpra com sua palavra e solte ele. -tudo bem. ele jogou o meu daniel no chão fazendo com que ele caísse e batesse a cabeça, causando um desmaio, da forma que ele caiu parecia estar um pouco fraco, deveria ter ficado todo esse tempo sem comer: -não... daniel?... -não repita mais o nome desse cara. agora você é meu. -por que você fez isso com ele?... eu chorava muito naquela hora, chorava por tudo, pelo amor que eu estava perdendo, pela minha vida que se tornaria uma desgraça, pelo sofrimento do daniel... seguia em direção ao bruno quando dois carros fecharam o cerco, era a policia, mas como ela havia ficado sabendo? eu fiz como o bruno havia pedido, não comuniquei a ninguém, exceto a mãe do daniel... só poderia ser ela que havia acionado a policia, quando tudo parecia estar correndo bem algo acontece para atrapalhar. aos gritos o bruno dizia: -eu não te falei que não queria policia envolvida? -mas eu não chamei policia nenhuma... -você me traiu... você me traiu... eu vou matar o infeliz que roubou meu amor de você. -não faz isso. capítulo 34 a policia deu ordem de prisão, o bruno apontou a arma para o daniel e naquela hora o tempo parou, eu não conseguia ver mais nada, não consegui me mover, um

silêncio tomou conta do local, sendo quebrado pelo barulho da arma sendo disparada na direção do meu petit. eu queria ter me jogado na frente do daniel para que nada de ruim lhe acontecesse, mas não consegui, me ajoelhei no chão e pedi a deus que o protegesse, só respirei aliviado quando a arma falhou e o tiro não saiu. eu tremia descontroladamente, fiquei caído no chão de terra vermelha, mesmo sem arma o bruno não se rendeu, ficou atrás do carro resistindo, um policial pegou o daniel e o levou para um local seguro, o bruno estava muito nervoso, chorava demais, gritava que me amava e me odiava ao mesmo tempo, a chuva começou a cair forte, eu ali caído no chão tomando chuva dentro de uma poça de lama até ser amparado por um policial, eu já não tinha forças pra nada, o bruno conseguiu entrar dentro do carro e arrancar como um louco, 2 dos 3 carros de policia que estavam no local foram atrás dele, fui carregado até um camburão onde o daniel estava deitado. fui me aproximando do daniel, chovia muito naquela hora, olhei pelo vidro e o daniel estava deitado de olhos fechados, mas já estava consciente, quando me aproximei dele eu vi seu olho se abrindo, um sorriso em seu rosto ao me ver, quando abri a porta do carro ele se levantou: -continue deitado, amor... -petit... você está bem? -estou bem, meu amor... já passou o pesadelo... -olha como você está molhado... você pode ficar doente, entre aqui... entrei dentro da ronda. -por que você se arriscou assim? você é louco? -sou... louco por você... louco porque te amo... louco porque sem você eu não tenho mais vida... por você eu mato e morro. ele ficou emocionado, me deu um beijo na mão, um abraço bem apertado e disse que me amava. aparentemente todo o "pesadelo" parecia ter acabado, meu petit já estava de volta para meus braços. enquanto isso, a policia perseguia o bruno que fugia no carro de sua mãe, já eram 4 carros da policia que o perseguiam pelas ruas de são paulo. posso dizer que o bruno dirigia muito bem, desde criança ele competia em cart, o sonho dele era ser um piloto profissional, seu ídolo era o senna, ele colecionava várias fotos, tinha vídeos das corridas, mas depois que seu pai morreu ele entrou em depressão e teve até síndrome do pânico. sua mãe me contou uma vez que foram necessários 2 anos de tratamento, mas ainda assim ele às vezes tinha umas crises de loucura, ele deveria estar em um desses momentos quando seqüestrou meu daniel. a chuva não parava de cair, acompanhei o daniel o tempo todo até o hospital, onde sua mãe já o esperava, colocaram-no em uma maca e levaram para a enfermaria, tentei acompanhá-lo mas fui barrado na porta, só foi permitida a entrada de sua mãe. fiquei aguardando na sala de espera, todo molhado, sujo de lama, tremendo, com frio e febre, um pouco fraco, mas não sairia de lá enquanto não tivesse notícias do meu namorado. adormeci naqueles bancos duros e gelados da recepção, até que no começo da noite ele recebeu alta, pra mim era o fim de um pesadelo horrível, iríamos voltar a viver juntos como antes, um casal feliz, mas sua mãe preferiu levá-lo para a casa dela, pelo menos por uma semana para cuidar dele, eu entendi que era uma preocupação de mãe e concordei, o daniel não queria aceitar muito, acabamos discutindo e por fim entramos em um acordo: -bader? -eu. -o daniel recebeu alta e já pode deixar o hospital. -sério, petit? -sim... -mas eu queria que ele fosse agora pra minha casa, pelo menos por essa semana enquanto ele está um pouco debilitado...

-humpft... entendo... por mim não tem problema, embora vou morrer de saudade... -mas eu não quero ir, quero voltar pra nossa casa, pra nossa cama e ter nossa vida de antes. -filho, eu estou preocupada com você... -entenda sua mãe, daniel... (tossindo bastante) ela só quer seu bem... -mas você não está bem, petit... preciso estar lá pra cuidar de você... -quem está necessitando de cuidados aqui é você, daniel. -olha como você está tremendo... tossindo... -logo vai passar. eu tinha a consciência de que minha saúde era frágil, uma simples gripe poderia me levar à morte, o daniel também sabia disso e por saber disso que sua preocupação comigo era constante. acompanhei-no até a casa de sua mãe onde ele iria ficar por 2 dias, depois voltaria para nossa casa e continuaríamos com a nossa vida de antes, com muito amor, carinho. ele já estava bem, só um pouco fraco por ter ficado sem se alimentar por alguns dias, mas logo iria se recuperar com uma boa alimentação. já em sua antiga casa, deitado em sua antiga cama, dei um beijo em sua testa e puxei o edredom para cobri-lo. -amor... você está todo molhado... vai tirar essa roupa e vestir uma minha, seca... -não precisa... eu vou pra casa daqui a pouco. -nada disso, então eu vou com você... -fique repousando, é o desejo de sua mãe cuidar de você, vamos respeitar. -mãe... manhê... sua mãe entrou no quarto com uma cesta cheia de roupas na mão: -me chamou, daniel? -sim, arrume uma roupa seca para o petit vestir, por favor. -que “petit”? -o bader, ele é meu petit. -humpft... vem comigo, bader. -não vá embora sem antes me dar um beijo, amor... -eu já volto, mon bijou. -te amo. -eu também. fechei a porta do quarto e acompanhei sua mãe até a sala, até achei que o fato de ter me levado até a sala era por educação, mas me enganei quando pensei que sua mãe fosse tão "compreensiva" como se mostrava da primeira vez que a conheci: -você gosta do meu filho de verdade? -claro, eu amo o daniel. -ele também ama você, claro que contra a minha vontade... -por que a senhora está me falando essas coisas? -o sonho do pai dele era ver um monte de netos correndo pela casa, casado com uma moça de família... -eu não estou entendendo... onde a senhora quer chegar? -você que não quer entender, garoto. mas eu vou te fazer entender, aguarde um momento que eu já volto. enquanto ela subiu as escadas fiquei pensando em qual seria a real intenção dela quando veio com aquela conversinha de que o pai do daniel queria isso ou aquilo para o filho deles. fiquei em pé na sala olhando aqueles quadros de família que não eram muitos, pelas fotos o pai do daniel parecia ser um cara do bem, não acreditava que ele interferisse tanto assim como a mãe dele havia citado. não demorou muito e ela desceu as escadas com uma bolsa na mão, sentou no sofá e abriu a bolsa: -vamos ver se agora você entende o mesmo idioma que eu... -o que há de errado?...

-fale logo... quanto você quer? -quê? tirando um talão de cheques da bolsa e uma caneta: -deixa de bobagem garoto, eu já conheço tipinhos como você, fala logo quanto você quer para sair da vida do meu filho? -a senhora está louca? -todo mundo tem um preço, faça logo o seu... -a senhora é uma louca, mal amada, se pensa que vou me vender por qualquer mixaria se enganou, eu amo o daniel e meu amor não tem preço... -como não tem preço? tudo na vida tem um preço, meu querido. -dona marisa, dinheiro pra mim não é problema, apesar de ser necessário na vida de todo mundo, mas se eu quiser parar de trabalhar hoje, eu passo o resto da minha vida vivendo confortavelmente bem. desde meus 18 anos eu vivo com meu próprio dinheiro, moro sozinho, conquistei tudo às custas do meu esforço, hoje me orgulho de tudo que tenho e consegui, pois não foi fácil pra eu chegar aonde cheguei. -fiquei comovida com sua história... (ironicamente falando) -o daniel é muito diferente da senhora, pelo menos ele tem dignidade, deve ter puxado o pai dele, porque a mãe não vale uma caixa de fósforos. -você não é para meu filho, some da vida dele. -isso quem tem que decidir é o daniel. eu vou embora da sua casa, espero nunca mais ter que encontrá-la. saí daquela casa chorando de nervoso, como poderiam existir pessoas assim? que não conseguem enxergar a felicidade, somente dinheiro. chovia muito e quase não se via nada à frente, acabei lembrando que deixei a chave do meu carro sobre a mesa ao lado da cama do daniel, àquelas alturas eu estava pouco me importando pro carro, desci a rua da consolação a pé embaixo da chuva, estava frio e ventava demais, parecia aquele sonho que eu tive uma vez. por que será que algumas pessoas não entendem nossa forma de amar? não escolhemos a quem vamos amar, quem pode dizer o que é certo ou errado? amar ao próximo é errado? eu não faço guerra, eu faço amor. meu celular começou a tocar, o tirei do bolso e atendi: -bader... a policia está me perseguindo... eles vão me prender... não deixa, bader... -foda-se... nunca mais me procure... esqueça que eu existo... suma da minha vida... vá pro inferno. atirei o celular bem longe, no meio da pista onde os carros passavam e me molhavam ao passar nas poças de água das guias. cheguei na portaria do prédio e o porteiro ficou me olhando assustado ao me ver daquele jeito, eu parecia estar hipnotizado, dei pouca importância para as regras do condomínio e fui para o hall social pegar o elevador, quando ele parou o térreo a dona lídia infelizmente estava subindo do s1 e já começou me aloprar: -nossa... o que houve com você, bader? -por que você não cuida da sua vida e deixa a minha em paz? -mas... -não te interessa o que me aconteceu, ao invés de ficar cuidando da vida dos moradores, vá fazer uma panela de sopa e distribuir aos que estão passando fome nas ruas, ocupe seu tempo com coisas úteis, sua desocupada. ela me olhou assustada e não abriu mais a boca, há tempos que eu deveria ter falado aquilo pra ela, quem sabe assim ela se tocava. abri a porta da sala e fiquei ali parado por um instante, com o olhar perdido, relembrando momentos inesquecíveis que tive ali junto com o daniel, era como se a cena se repetisse, eu conseguia ouvir sua voz, sentir seu perfume. É incrível como existem pessoas em nossas vidas que entram e deixam uma marca em nosso coração, tornando-se inesquecíveis em nossa

história, na minha vida o daniel teve um papel fundamental. deixei a chave na fechadura mesmo e fui direto tomar um banho, tirei toda a roupa e notei uma mancha roxa na minha pele um pouco abaixo da costela, meu corpo estava dolorido, minha cabeça parecia que iria explodir, entrei no box e abri o chuveiro, sentei no chão e deixei a água cair sobre minha nuca, fechei meus olhos e fiquei pensando na minha vida, comecei a chorar como uma criança, foi um momento depressivo que acabei tendo com aquele episódio da mãe do daniel querer me comprar. o fato de ter abandonado o tratamento anti-hiv também foi fundamental para que isso ocorresse. no banheiro eu tocava aquelas paredes onde serviram de cenário das nossas noites de amor, uma história que se registrava a cada azulejo daquele ambiente. saí do banho e vesti um roupão, fui para a cozinha preparar um chá de canela que eu adorava, fui até a área de serviço e fechei o vidro da janela, pois estava entrando um vento frio, minha tosse voltou a atacar mais forte e seca. tirei a xícara de dentro do microondas e a campainha tocou, a deixei sobre a mesa e fui atender a porta, espirrando e tossindo, olhei pelo olho mágico e não consegui ver quem era, mas quando abri a porta para minha surpresa era o daniel. capítulo 35 -daniel? -por que você veio embora sem se despedir de mim, bader? -você precisava descansar... -não me enrole, fale a verdade. -a uma hora dessas você deveria estar descansando, na casa da sua mãe. -junto com você... eu briguei com a minha mãe hoje. -por quê? -porque eu a vi te oferecendo dinheiro para se afastar de mim, fiquei com tanto medo de você aceitar... mas tive orgulho de você quando você recusou... por que você não me contou a verdade? -porque eu não quero ver você brigando com a sua mãe, jamais faria algo para colocar você contra a dona marisa. -e prefere assumir a culpa? -humpft... a verdade sempre aparece. -por isso que eu te amo. -e o que você vai fazer agora? -eu já fiz, voltei pra junto de você para nunca mais sair. -te amo, petit. -eu também, “mon petit”. me dê um beijo? -claro. eu e o daniel parecíamos nos conhecer de outras vidas, era um relacionamento diferente, tínhamos uma cumplicidade, telepatia, algo inexplicável que fortalecia nosso amor. demos um longo beijo ali na porta mesmo, ao mesmo tempo em que ele me beijava sua mão entrou pelo meu roupão e ia explorando todo meu peitoral, meus ombros e costas, naquele momento eu me senti completo. -como eu senti falta dessa pele perfumada... -eu também senti sua falta... muita falta... -eu pensava em você o tempo todo... -eu também, petit. (tossindo) -você está tossindo... -logo vai passar, eu fiz um chá pra aquecer o corpo... -como você veio embora? -vim caminhando. -não acredito. por que você não veio com seu carro?

-porque havia deixado a chave no seu quarto e não queria voltar lá pra pegar... -eu vim dirigindo ele, deixei no estacionamento... -obrigado. -agora vai tomar seu chá pra não pegar uma gripe. enquanto isso eu vou tomar um banho... -tá bom. enquanto ele foi tomar banho, me deu vontade de escrever alguma coisa, eu não sabia o que era, apenas tinha vontade de escrever. peguei a xícara de chá e senteise à mesa do meu computador no quarto, peguei um papel, caneta e deixei que fluísse algum rabisco, meu coração estava apertado, minha tosse só aumentava, depois de escrever um monte de bobagens guardei o papel dentro da gaveta e fui escovar os dentes antes de dormir abraçadinho com o meu amor. não tem nada melhor do que passar a noite inteira abraçado com quem você gosta, se sentindo protegido, na posição que nós mais gostávamos, que era conchinha. no outro dia acordei recebendo vários beijinhos de bom dia, do quarto eu sentia o cheirinho de pão de queijo assando, o daniel já havia preparado o nosso café da manhã com tudo que eu mais gostava, como sempre ele fazia tudo para me agradar, nem precisava fazer muito, pois o pouco que ele fazia já era o suficiente. levantei e fui escovar os dentes, enquanto isso o daniel me esperava sentado na mesa da sala, onde tomamos café e depois fomos tomar banho juntos: -gostou? -do quê? -do que preparei para você. -e tem como não gostar do que você faz? -e tem como não se apaixonar por você? -te amo. -vamos tomar banho? -hum... convite irresistível. -então vamos... ele cuidava de mim com tanto carinho, zelo, era como uma mãe cuidando de um filho, o tempo todo ele ficava preocupado com minha saúde, se não fosse por ele eu não sei o que seria, mas com ele pegando no meu pé eu seguia as recomendações e dietas, mesmo assim minha tosse não passava e minha preocupação aumentava, era uma tosse seca que estava me incomodando, como se não bastasse comecei também a sentir dor nas costas. -o que você tem, petit? -estou com um pouco de dor nas costas... -deite aqui pra eu te fazer uma massagem... -hum... assim ela vai passar rapidinho... as massagens que ele me fazia eram ótimas, ele tinha uma mão ótima pra isso também, tudo bem que as massagens começavam sérias e iam se tornando cada vez mais safadas até terminarmos nus na cama. alguns dias se passaram e nossa vida estava indo muito bem, pura felicidade, chamego, amor, essa era uma das vantagens de amar e ser correspondido, não tem preço que pague a satisfação que você sente quando está nos braços que quem ama, ouvindo no pé do ouvido sussurros de amor. foi nos braços do daniel que eu acordei em pânico em uma madrugada muito fria, sem mais nem menos acordei assustado, pois não conseguia respirar porque minha respiração havia travado, o daniel acordou com minha agonia, pensei que naquela hora eu iria morrer, parecia que eu estava submerso dentro de uma piscina, na hora se passam tantas coisas pela cabeça que você perde todos os sentidos, graças a ele eu consegui respirar novamente, mais um pouco eu teria morrido. naquela mesma hora o daniel se levantou, vestiu uma roupa e me levou até o médico:

-que susto você me deu... -eu não sei o que aconteceu... -se arrume que vou te levar ao médico pra ver isso. quando eram por volta de 4h da manhã estávamos chegando ao pronto socorro, eu estava de pijama, pálido e sem forças, de tanto que eu tossia minha barriga estava doendo e meu peito apertado. na recepção só havia a recepcionista, nenhum paciente esperando para ser atendido. -bom dia! -bom dia, ele vai passar com o clínico geral. -o que ele tem? -dor nas costas e falta de ar. -a carteirinha dele e rg, por favor? -estão aqui. -obrigada, podem aguardar que o médico já chama. -obrigado. ele sentou ao meu lado no banco da recepção e junto comigo ficou aguardando o médico me chamar, eu não estava bem, meu corpo doía, sentia sono, falta de ar, deitei no seu ombro e assim permaneci até ouvir meu nome: -bader pires. -vamos, petit... -bom dia! -bom dia! -você que é o bader? -não, o bader é ele. -ah... tudo bem, bader? -não muito... -você está sentindo dor nas costas e falta de ar... -acordei com a respiração travada, quase morri sufocado. enquanto eu ia falando ele escrevia um relatório em uma folha verde com uma etiqueta contendo todos os meus dados: -sente-se na maca pra eu te examinar... -tudo bem. -levante um pouco a camisa... agora respire fundo... mais uma vez... -humpft. -ok... -vou te pedir um raio-x do pulmão agora e assim que terminar você volta aqui comigo. -agora? -sim... entregue esse papel na recepção e depois me traga o resultado aqui. -tudo bem. deixamos a sala do médico e fomos até a recepção entregar a guia do médico solicitando o raio-x, enquanto o daniel conversava com a recepcionista eu esperava sentado no sofá da recepção, pois de repente passei a sentir tontura, ainda tinha a tosse que não parava... -petit, vem comigo... -espere... -o que você tem? -estou sentindo tontura. -olha como você está pálido... quer um copo d'água? -não precisa... segurando minha mão o tempo todo ele esperou com a maior paciência eu melhorar um pouco, assim que me senti melhor fomos até a sala de raio-x tirar uma chapa do pulmão.

-você é o bader pires? -sou... -muito bem, e você quem é? -sou o daniel. -o que você é dele? -eu sou namorado dele. -ah... chegou uma hora em que o daniel já não escondia mais de ninguém seus sentimentos por mim, coisa que pra uma pessoa que estava tendo sua primeira experiência homossexual não era fácil, para os próprios homossexuais que são assumidos é difícil ver andando de mãos dadas com o namorado ou assumindo em público que ama outro homem, na maioria das vezes se comportam como amigos em público e só expressam seus sentimentos em lugares destinados ao público glbt. sempre achei isso uma idiotice, pois andar de mãos dadas não é crime, não agride ninguém, apenas demonstra uma atitude de carinho, raramente eu via dois garotos andando de mãos dadas, até para mim foi surpresa, acho que é por não ser tão comum ver cenas assim. -eu vou pedir ao senhor que aguarde lá fora... -por quê? -por causa da radiação dentro da sala... -ah... tudo bem... enquanto eu tirava o raio-x do pulmão o daniel me aguardou na porta, creio que não demorou mais que cinco minutos, voltamos para a recepção e aguardamos o resultado ficar pronto. já não estávamos mais sozinhos na sala de espera, ficamos sentados no sofá de mãos dadas, apoiei minha cabeça no ombro do daniel e adormeci. eu tinha que dar graças a deus por ter colocado essa pessoa maravilhosa em minha vida, às vezes eu me perguntava se ele existia mesmo ou era um sonho, todo mundo tem um pouquinho de "daniel" dentro de si, só o que falta é expor esse sentimento que fica oculto dentro de você mesmo. ele ficou ao meu lado o tempo todo, me acompanhava até no banheiro, o coitado nem dormiu preocupado o tempo inteiro comigo. -bader pires... -sim? -você é o bader? -não, ele está sentado na sala de espera, eu estou junto com ele. -ah, tudo bem... está aqui a radiografia... pode levar direto pro médico na sala dele. -ok... obrigado. -ficou pronta? -já sim, amor... vamos lá levar pro médico? -vamos. as pessoas estranharam a forma que nós nos tratávamos e principalmente como o daniel me tratava, só faltou me pegar no colo, eu ainda me sentia um pouco fraco, estava pálido, com febre, tossia muito, algumas pessoas daquela sala davam umas olhadas, estranhando, algumas tentavam olhar disfarçadamente, era até engraçado, eu sei que não é comum dois homens abraçados daquela forma demonstrando um afeto matrimonial, mas também não é algo anormal que possa traumatizar alguém, talvez tenham agido assim por não verem cenas como essa com freqüência, o fato é que o mundo está em constante mudança e nós temos que ter mente aberta para nos adaptarmos a elas, a terra não pára de girar. entrei na sala do médico de mão dada com o daniel: -fez o raio-x, bader? -fiz, está com o daniel...

-ele está um pouco fraco, doutor... -você não tem se alimentado direito? -tive alguns problemas e descuidei um pouco da saúde. -fez mal... muito mal... acabou pegando uma pneumonia. capítulo 36 a pneumonia é historicamente uma das maiores causas de morte entre os portadores de hiv, mas agora já pode ser tratada e prevenida com medicamentos. a doença costuma atingir os pulmões, também pode afetar os nódulos linfáticos, o baço, o fígado e a medula. geralmente ocorre nos casos de contagem de cd4 inferior a 200 que era o meu caso. eu já estava com uma gripe forte, antes dela se curar por completo eu tomei aquela chuva forte quando deixei a casa da mãe do daniel, a gripe acabou evoluindo para uma pneumonia, agora eu precisava mesmo me cuidar. -vou te receitar uns medicamentos e você tem que tomar direitinho... -pode deixar, doutor... eu estando perto dele não vai ter como escapar de tomar os remédios. -cuide bem dele, daniel. -claro, ele é minha vida. deixamos o centro médico e voltamos para casa, o dia já estava começando a amanhecer, no caminho de volta passamos na farmácia e compramos os remédios prescritos pelo médico, era a única farmácia 24 horas da região. quando chegamos em casa fomos direto dormir, eu estava exausto e o daniel deveria estar cansado também, dava pra ver no seu rosto a tristeza em me ver daquele jeito, deitado na cama eu chorava calado, achando que só dava trabalho para ele, coitado. durante a semana eu não pude sair para trabalhar por recomendação do médico, mas acabei trabalhando em casa mesmo, eu não conseguia ficar parado sem fazer nada, minha cabeça pirava se eu não tivesse com o que me distrair, durante aqueles dias fiz alguns projetos e enviava para a produtora através de e-mails e da eduarda: -oi bader... -oi eduarda! -eu vim aqui pra saber como você está... -estou indo, né... -você precisa se cuidar mais, amigo... -eu sei duda, mas eu fiquei muito mal por causa do seqüestro do petit... eu fiz alguns trabalhos aqui pra você levar para a produtora. -claro! -vou precisar de um favor seu, também. -qual? -eu ainda estou muito fraco e proibido de sair de casa, não posso dirigir ainda... -nem se atreva, você está com pneumonia bader, com saúde não se brinca... -eu sei, mas eu preciso comprar o presente do daniel, ele vai fazer aniversário essa semana... -se você quiser eu compro pra você. -não... eu quero que você me leve até a loja para eu comprar... -mas bader... -sem mais, eu vou me vestir e vamos até a loja que fica perto daqui, mas ele não pode saber que eu saí de casa. entendido? -tudo bem. desliguei o computador, fui até o quarto e me vesti rapidinho, coloquei uma jaqueta de couro, uma calça jeans, algo bem básico, pois eu precisava voltar antes que o daniel chegasse, então não poderia demorar. peguei minha carteira, talão de cheque e a chave do carro:

-pronto, podemos ir... tranquei a porta da sala e descemos até o estacionamento de visitantes: -pra onde vamos? -vamos para uma loja de motos que tem na rua de baixo... -hã? -vou dar uma moto de presente pra ele... quando chegamos na loja eu já sabia o que ia querer, quando o vendedor se aproximou de nós eu já apontei a moto que eu queria: -boa tarde! -boa tarde, eu quero levar aquela moto... -seria para o senhor mesmo? -não, é presente para o meu namorado. mais um que me olhou sem graça ao ouvir que era um presente para o meu namorado, pra mim já era tão comum que eu não sentia vergonha alguma, tornouse tão natural quanto dizer “bom dia”: -qual seria a forma de pagamento, senhor? -À vista. a eduarda fez uma cara de espanto quando disse que pagaria a vista os 25 mil que a moto custava, eu não me importava de pagar tudo isso por um presente para meu namorado, pagaria até mais se fosse necessário para vê-lo feliz. saí da loja mais feliz que pinto no lixo, acabava de comprar a moto dos sonhos do meu amor, ele iria ficar muito feliz com o presente, sem dúvida nenhuma. cheguei em casa e tratei de tirar a roupa correndo antes que ele chegasse em casa e me surpreendesse, pois pelo horário ele já deveria estar chegando e se me visse andando pra lá e pra cá com certeza brigaria comigo. finalmente chegou o dia de seu aniversário, nem assim ele deixou de trabalhar, acordou cedo e foi pra academia, quando acordei ele já não estava mais. tomei meu café da manhã, dei a comida da dani e fui navegar um pouco na internet, não demorou muito e o interfone tocou: -fala. -seu bader, tem um pessoal aqui dizendo que tem uma entrega pro senhor. -pede para eles aguardarem um momento que eu já estou descendo. -sim senhor. eram os entregadores da loja que foram entregar o presente do meu petit, tirei o pijama, vesti um moletom e desci até a portaria para receber o presente do meu namorado. -bom dia! -bom dia! -seu bader pires? -isso... -assine aqui, por favor? -sim... -onde o senhor quer que estacione ela? -na garagem... abre o portão da garagem, por favor. -sim seu bader... o porteiro abriu a portão do estacionamento e um dos entregadores foi levando a moto até a vaga que eu indiquei na garagem. -pode deixar aqui mesmo... obrigado. -de nada. subi para casa e quando abri a porta o telefone estava tocando, deixei a chave na porta e corri pra atender, mas já tinham desligado. coloquei o telefone de volta na base e fui fechar a porta que havia deixado aberta, depois voltei para frente do computador e comecei a mexer com algumas imagens. fui até a cozinha pegar um

copo de suco de abacaxi, voltei para frente do computador e continuei editando algumas fotos de paisagem, minha intenção era fazer uma montagem para a próxima propaganda, algo bem criativo e ainda não visto em outdoors, não demorou muito e o telefone tocou outra vez: -alô... -petit? -oi mon ange... -se arrume que hoje vamos jantar fora para comemorarmos meu aniversário... -hum... para onde você vai me levar? -É surpresa... -quê? não acredito que você vai me deixar na curiosidade... -Às 20h eu to chegando... já esteja pronto. -humpft... está bem. lá vinha o daniel com suas surpresas que só ele sabia fazer, mal sabia ele que eu também tinha uma surpresa esperando a hora certa pra revelar. fiquei tentando adivinhar em qual restaurante ele me levaria, mas como o daniel era imprevisível acabei desistindo. continuei terminando meu trabalho nas paisagens pra enviar para a produtora. no fim da tarde fui tomar meu banho, depois dei comida pra dani que ficava pulando na minha perna, peguei uma maçã dentro da geladeira e sentei no sofá da sala enquanto o daniel não chegava, quando já era quase 20h vesti uma roupa bem bonita para sair com meu namorado, passei aquele perfume que ele adorava e fiquei na sala o aguardando ansiosamente. Às 20h em ponto ele chegou, como sempre pontual e um ar misterioso. -boa noite meu amor! -boa noite petit! -já está pronto? -sempre estou pronto quando você me pede. -então vamos... -aonde você vai me levar? -segredo... eu estava morrendo de curiosidade para saber onde iríamos jantar, mas o daniel fez segredo o tempo todo, quando chegamos no estacionamento ele foi em direção ao seu carro até eu pedir a atenção: -petit... -oi amor... -antes de qualquer coisa quero te desejar um feliz aniversário, que nós possamos comemorar muitas e muitas vezes mais essa data... -claro, vamos comemorar muitas e muitas vezes mais... ele me deu um abraço e selamos com um delicioso beijo melado: -olha que moto linda, petit? -caralho... igual àquela da... -É mesmo. -sabe que eu estou um pouco triste... -por que, amor? -hoje passei em frente à loja e a moto não estava mais lá... -sério? -alguém comprou... -deve ser a mesma pessoa que estacionou ela na minha vaga de garagem. -É... hei... peraê... -sim petit, eu comprei a moto pra você... É sua. -quê?... você é louco? -não era, fiquei depois que te conheci... seu amor me enlouqueceu... seus olhos brilhavam como dois diamantes refletindo o brilho do sol, ele se

aproximou da moto tocava nela como um objeto proibido, deslumbrado com o presente que acabara de ganhar: -obrigado, petit... -obrigado nada, quero um beijo... -até dois... demos um longo beijo na boca, daqueles que só ele sabia dar, seguido de pegadas fortes e leves mordidas nos lábios, depois entrei em seu carro e seguimos para o lugar desconhecido, claro que eu fui o caminho inteiro me corroendo de curiosidade, as ruas estavam movimentadas naquela noite, são paulo não pára, é 24 horas movimentada. chegamos em um restaurante na alameda santos, o daniel entregou o carro para o manobrista e entramos no local muito bem escolhido, o garçom nos acompanhou até a mesa que o daniel havia previamente reservado para nós dois. o restaurante era de primeira classe, o serviço era personalizado, atrás da nossa mesa havia um aquário lindo com enormes peixes, logo na entrada tinha um corredor de plantas que se destacavam em um caminho de pedras brancas e uma iluminação que vinha de baixo davam um toque especial. a comida estava maravilhosa, o cardápio era bem variado, sobre a mesa havia vários talheres, uma rosa vermelha em um vaso de vidro bem fino com algumas pedras coloridas. -está gostando? -eu adorei, mas não entendi o motivo desse mistério todo só pra me trazer em um restaurante... -ué... foi para dar um toque a mais... -ah... então tá bom... -mas hoje é diferente, quis apenas proporcionar uma noite agradável para nós. -eu sei... adorei o jantar amor... -depois eu quero um beijo. -eu te dou quantos você quiser... ele ficou olhando pra mim com um sorriso de canto de boca, eu fiquei com a pulga atrás da orelha, quando ele vinha com aquela cara safada alguma coisa ele queria aprontar. depois que terminei de mastigar perguntei pra ele: -por que você está me olhando assim? -eu menti. -por quê? -não falei a verdade quando disse o motivo pelo qual te trouxe aqui... -e qual é o real motivo, então? -É simples... esse é o motivo. ele tirou do bolso uma caixinha preta aveludada e me entregou, quando eu abri levei um susto, era uma linda aliança de outro branco, toda trabalhada, dentro estava gravado nossos nomes e a data daquele dia. -mas... mas... -mas agora nós somos noivos... esse é o maior presente de aniversário que eu poderia ganhar... você! capítulo 37 -estou sem palavras, petit. -por que, não gostou? -se gostei? eu adorei! -que bom, olha a minha aqui... -eu nem tinha reparado na sua aliança... -É que eu soube esconder. a partir de hoje, nós estamos noivos... somos um casal feliz.

-petit... o novo abrigo para as crianças está quase pronto, ainda essa semana eu quero ir até o local ver como estão os términos da obra. -eu vou com você, amor. -quero aproveitar também e passar no escritório da audrey... -quem é audrey? -É a advogada da família, quero dar entrada ao processo de adoção do rodrigo. -ah... -enquanto isso vou fazer uma reforma naquele quarto, para quando o rodrigo chegar, encontrar um quarto todo preparado para recebê-lo. -e assim tornarmos uma família de verdade... selamos nosso compromisso de noivado com um beijo, interrompido pelo garçom que trouxe em seus braços um ramo de flores vermelhas, eram lindas. voltamos para casa de madrugada, eu estava muito feliz com a aliança e o noivado, só não liguei para minha mãe dando a notícia porque já era tarde, mas mandei um torpedo em seu celular contando a novidade. o daniel abriu a porta de casa, entrei segurando as flores que havia ganhado dele, eu estava muito feliz por estar noivo do amor da minha vida, parecia um sonho. quando a gente gosta de alguém e recebe qualquer coisa da outra pessoa é muito satisfatório, mesmo que for um grão de arroz, não importa, tudo se torna especial quando vem de quem você gosta. o daniel fechou a porta da sala, pegou as flores da minha mão e colocou sobre a mesa, puxou pelo meu braço e me pegou no colo, fomos nos beijando até o quarto, língua tocando língua, aquele cheiro da sua respiração parecia ser o combustível para me deixar louco, com todo carinho ele me colocou na cama, apagou a luz e deitou junto comigo, nos abraçamos forte, peito com peito, pele com pele, eu adorava sentir as batidas do seu coração com meu peito encostado no dele, sua mão esquerda tocou meu rosto, sussurrando nos meus ouvidos ele dizia: -eu acho que gosto mais de você do que de mim mesmo... -hahaha... deixa de ser bobo... -É verdade, acho que se você me abandonar algum dia eu fico louco. -nunca vou te abandonar. -promete? -prometo! -e nossa promessa de todas as noites dormirmos juntos, ainda está de pé? -claro. -então me beija... a luz da lua entrava pela fresta da cortina, o daniel acariciava minha nuca de uma forma que me deixava maluco, eu mordia a pontinha de sua orelha do jeito que ele gostava, sua mão delicadamente entrou por baixo da minha camisa e foi alisando minha pele, desprendendo os botões até tirá-la por completo, suas pegadas foram ficando cada vez mais fortes, o desejo estava aumentando, o sangue em nossas veias corria com adrenalina, meu cabelo já estava molhado de suor, lá fora o céu estava lindo, com estrelas piscando para nós e dentro do nosso quarto fazíamos amor, sexo, realizamos fantasias, desejos, muitos gemidos, gritos, lambidas, mordidas, sussurros, foi maravilhoso, sua língua lambia meu pescoço fazendo com que o tesão triplicasse, nos fazendo ter orgasmos triplos. foi nossa melhor noite de amor até então, a noite perfeita, jamais iremos esquecer. antes de dormir o daniel me deu um beijo na testa e disse: -amanhã eu desmarquei todos meus compromissos para passarmos o dia juntos... -mas e seu futebol com a galera da academia? -desmarquei também. -nada disso, vá se divertir e depois passamos o dia juntos, afinal, enquanto você joga seu futebol estarei dormindo mesmo... -então tá bom... vamos sair para passear, almoçar, fazer compras, estrear minha

moto nova... -hum... vou adorar passar um dia todo ao seu lado, com sua atenção só pra mim. ele me abraçou e cruzou suas mãos em minha cintura, suspirou olhando pra mim e disse que me amava, demos um longo beijo molhado e assim adormecemos, nariz coladinho com nariz. a preocupação do daniel comigo era como se fosse com ele mesmo, às vezes ele deixava de trabalhar e fazer as coisas que gostava só para cuidar de mim, cuidar do "petit" que ele tanto amava, eu sei que isso era uma prova de amor, mas tinha dias que eu me sentia mal com isso, pois ele se sacrificava muito por mim, às vezes eu passava mal sozinho e não contava pra ele, para não preocupá-lo ainda mais. no outro dia o daniel acordou cedo para ir jogar seu futebol com os amigos, antes de sair ele deixou cair no quarto o frasco do desodorante, acabei acordando com o barulho: -acordei você, amor? -humpft... já estava na hora mesmo... -você parece não estar muito bem... -logo vou levantar... -fica deitadinho... quer que eu fique aqui com você? -não precisa, vai lá se divertir um pouco com seus colegas que eu vou deitar mais um pouco... fui até o banheiro escovar os dentes, depois fui beber um copo d’água na cozinha, o daniel veio até mim, me deu um beijo tão diferente, parecia se despedir pra sempre, antes de sair ele piscou pra mim e disse que me amava. -estou com receio de ir e te deixar aqui sozinho... -sem problemas meu amor... eu vou deitar e dormir mais um pouco até você chegar. -tudo bem... então vou indo, deixa que na volta eu passo no mercado e compro algumas coisas que estão faltando pro almoço... -tudo bem... -tchau... te amo... -também te amo! -vou levar minha chave, caso você esteja dormindo quando eu voltar... -tá bom. o acompanhei até a porta, depois fui pro meu quarto e deitado na cama peguei o telefone e liguei pra minha mãe: -alô... -bader? -oi pai, a mãe está aí? -está sim filho, vou chamar... -obrigado. -oi filho... -oi mãe, recebeu meu torpedo? -recebi, fiquei muito feliz por você bader. -eu também estou muito feliz, a senhora não imagina como. -filho, sua voz está um pouco cansada... você está bem? -humpft... não estou muito bem, mãe. -o que você tem, meu filho? -não sei, meu corpo está estranho... -estranho como, bader? -não sei explicar, só sei que não estou muito bem, mãe... meu peito está apertado, estou angustiado... -você quer que eu vá pra são paulo ficar com você? -não precisa, mãe.

-o daniel está cuidando de você? -está sim, mas eu não contei pra ele, pois não quero trazer mais preocupações pra sua cabeça... -filho... meu coração está apertado, ainda comentei com seu pai... -nossa... sem querer te cortar, a senhora não teria aí algumas roupas que não está usando mais? -para que, bader? -pra eu levar para o lar do céu. -o que é isso? -É um abrigo que cuida de crianças com hiv. -eu acho que tem algumas aqui sim, serve as suas de quando era criança? -serve sim. -nossa, filho... você é tão bom... sempre ajudando a quem precisa... mamãe tem tanto orgulho de você... -pare com isso, tudo que sou hoje aprendi com a senhora. -vou dar uma separada pra você e te levo ainda essa semana. -a senhora vem pra cá? -vou sim. -tudo bem, então quando a senhora chegar aqui a gente conversa mais. -te amo, meu filho. -eu também te amo muito mãe. desliguei o telefone e voltei pra cama novamente, não demorou muito e peguei no sono. na volta pra casa o daniel passou no mercado e comprou algumas coisas que estavam faltando pro almoço, pois ele queria fazer um almoço especial para nós dois aquele dia, algo bem romântico. ao chegar em casa ele foi guardar as compras no armário, colocou leite no fogo pra esquentar, ligou a cafeteira e depois deu comida para a dani, enquanto eu dormia, ele preparou a mesa do café da manhã cheia de coisas gostosas, bem farta. quando tudo já estava pronto e arrumado na mesa ele foi até o quarto, deitou ao meu lado, colou nariz com nariz, ficou ali me olhando e fazendo carinho no meu cabelo, com aquela carinha de cachorro abandonado que ele tinha, me deu um selinho de bom dia e começou a me chamar: -petit... vamos tomar nosso café?... vendo que eu não acordava ele insistiu mais uma vez: -amor... acorda que nosso café já está pronto... oh garoto preguiçoso viu, acorda se não o pão vai ficar ruim... eu continuava na mesma posição de quando me deitei, sem me mover, o que começou a deixá-lo preocupado, quando viu que eu não respondia o daniel começou a entrar em pânico, me chacoalhando desesperadamente. -petit... bader... acorda que nosso café está pronto... bader, fale comigo, por favor... ele colocou seu rosto à frente do meu nariz e percebeu que eu não estava respirando, imediatamente ele começou a gritar por socorro: -bader pelo amor de deus, o que você tem?... não faz isso comigo, não me deixe, por favor... socorro... seus gritos de desespero chamou atenção do vizinho ao lado que assustado foi ver o que acontecia: -o que está acontecendo? -por favor, me ajude, o bader não está bem... -o que ele tem? -eu não sei... ele não responde quando eu chamo... -deixa-me ver... nossa... ele parece estar morto... -cala essa boca, você não sabe o que está falando... -desculpa... eu vou chamar socorro...

enquanto o vizinho foi chamar uma ambulância para me socorrer o daniel segurava minha mão sentado na beirada da cama, chorando descontroladamente, ele não sabia, mas eu havia acabado de entrar em coma. não demorou muito a ambulância chegou, os médicos entraram no quarto e viram o daniel abraçado comigo, chorando bastante, educadamente os médicos pediram para ele se afastar que iriam me levar para o hospital, inconformado com meu estado ele causou emoção a todos que estavam no quarto: -É necessário que o senhor o solte para podermos levá-lo... -o que ele tem, doutor? -aparentemente ele está em coma, precisa ser removido logo... -mas como? ele vai passear comigo, doutor... nosso café já está prontinho na mesa... -ele necessita urgente de cuidados especiais, precisa ser removido imediatamente. -bader... fala pra eles que nós vamos passar o dia juntos hoje... fala... bader... pelo amor de deus fala comigo... fui colocado em uma padiola e levado para a santa casa, no caminho o daniel foi segurando minha mão sentado do meu lado esquerdo na ambulância, enquanto isso um médico fazia o procedimento necessário até chegar ao hospital. a pneumonia costuma atingir os pulmões, também podendo afetar os nódulos linfáticos, o baço, o fígado e a medula. geralmente ocorre nos casos de contagem de cd4 inferior a 200, no meu caso a situação já havia se agravado e evoluído para algo pior. chegando no hospital me colocaram em uma outra maca, eu conseguia ouvir tudo o que eles diziam, os gritos dos médicos, o choro do daniel, a sirene da ambulância... doía meu coração aquela situação, eu queria gritar e não podia, eu queria dizer que amava o daniel e não conseguia, nada adiantava, só o que eu poderia fazer era deixar que o meu destino fosse cumprido. deitado naquela maca fria eu vi minha vida se desfazendo como uma torre de baralhos ao vento, sendo levado por um longo corredor que parecia não ter mais fim. o daniel foi segurando minha mão e me acompanhando o tempo todo até ser interrompido por um dos médicos, pois a área que eu seria levado era restrita: -petit... você vai ficar bom... amanhã a gente vai estar rindo disso tudo, você vai ver... -a partir de agora o senhor não pode entrar. -como não? -ele vai ser levado para o c.t.i, não é permitido a entrada de acompanhantes... a maca passou pela área restrita, pelo vidro da porta o daniel me olhava, chorando, vendo eu sendo afastando de si cada vez mais, por fora eu continuava imóvel, mas por dentro eu gritava e me debatia. não sei bem explicar como eu me sentia, mas era como se eu estivesse oco por dentro, eu não sentia dor, não conseguia me mover, só ouvia vozes. fui colocado dentro de uma sala fria, com um vidro na parede do lado esquerdo, por dentro tinha uma cortina que os médicos só abriam para a família ver. naquele mesmo dia o daniel avisou minha família em campinas que na mesma hora vieram pra são paulo, ao chegar no hospital minha mãe já não estava bem, sua pressão havia baixado e ela quase desmaiou, ao encontrar com o daniel no corredor a emoção tomou conta dos dois que se abraçaram e juntos choravam: -daniel?... -dona vivian... -cadê meu filho?... -levaram ele pra uma sala e não me deixaram entrar. -o que aconteceu com ele, daniel? -hoje pela manhã eu fui jogar uma pelada com uns camaradas da academia e

antes de sair dei um beijo nele, eu até perguntei se ele queria que eu ficasse, mas ele disse pra eu ir e me divertir com meus amigos... -eu falei com ele hoje pela manhã e ele me tratou tão diferente... parecia se despedir de mim... -quando eu cheguei em casa e fui acordá-lo para tomar café ele já não respondia... -onde ele está agora? -levaram ele pro c.t.i... tiraram ele de mim, dona vivian... levaram meu petit... -calma filho... -ele está em coma... enquanto minha mãe e a millena ficavam juntas com o daniel, meu pai e meu irmão rodrigo foram buscar informações sobre onde eu estava: -por favor, eu quero saber onde está internado o paciente bader pires. -o senhor é o que dele? -sou pai. -um momento que vou verificar. -obrigado. fiquei em um local de isolamento por causa da minha doença, no quarto só havia eu e uma enfermeira que ficava me vigiando o tempo todo, somente depois de dois dias internado foi liberada a visita: -acompanhante de bader pires? todos que estavam na sala de espera se levantaram, o daniel tomou a frente e o médico informou: -aqui... -o que o senhor é dele? -sou o noivo do bader. -eu sou a mãe dele. -o paciente bader pires se encontra em um quadro estável, sua situação é grave... -por favor, doutor, ajude meu filho... -se acalme, senhora... a visita pode ser liberada para apenas uma pessoa subir por dez minutos... -vá a senhora, dona vivian... -você não se incomoda, daniel? -claro que não, a senhora é a mãe... -obrigado. -dona vivian... diga a ele que eu o amo. -pode deixar. enquanto todos ficaram na sala de espera minha mãe acompanhou o médico até a unidade onde eu estava, minha mãe não pode entrar na sala, teve que se contentar em me ver através de um vidro como um bebê de berçário, com a testa apoiada no vidro juntamente com as mãos, ela chorava relembrando nossos momentos juntos e rezava por mim: -meu filho... meu menino... o que fizeram com você? "mamãe... cadê meu tênis azul escuro?" "bader, não corre assim que você vai cair, meu filho..." "papai eu te amo!" "que cara é essa, filho? passei no vestibular"

"alô... mãe? oi filho... mãe... o bruno me deixou..." -deus... eu entrego meu filho em suas mãos... não o abandone agora, por favor. deitado naquela cama eu conseguia ler seus pensamentos, tamanha era a força deles, junto com ela eu também chorava, mas chorava por dentro, minha alma chorava, pois meu corpo permanecia indiferente. o tempo se passou rapidamente, logo minha mãe teve que voltar e a cortina foi fechada, emocionada ela chegou na recepção onde todos esperavam ansiosamente por uma notícia minha: -e ai, mãe? -ele está tão pálido... cheio de aparelhos... parece que está dormindo, rostinho sereno... abraçada com a millena, minha mãe tentava tomar um copo d'água que meu pai segurava nas mãos, o daniel se abaixou no chão e encostou-se à parede, fechou seus olhos e passou a relembrar os momentos em que vivemos juntos. -daniel... você não quer ir até em casa descansar um pouco? -não, rodrigo. enquanto meu petit não sair daqui eu também não saio... -mas faz dois dias que você está sem dormir, sem comer... -eu sei millena, mas não importa. vou ficar aqui com meu noivo até ele melhorar. -a dona vivian está precisando descansar um pouco, rodrigo. -levem ela lá pra casa, toma a chave... -eu vou trazer então umas roupas para você. -obrigado, millena... cuide da dani também que deve estar com fome e saudade do meu petit... -pode deixar. não é fácil pra ninguém ver uma pessoa que você ama naquelas situações em que eu me encontrava, enquanto eles sofriam eu também sofria junto. todo esse tempo eu sonhava que estava dentro de um corredor muito escuro, no final havia uma luz muito forte que estava me sugando, como se eu estivesse sobre uma esteira, mas ao mesmo tempo em que eu ia me aproximando da luz eu era impedido por uma força maior que me puxava de volta. capítulo 38 já havia se passado quinze dias e meu estado continuava estável, a todo tempo o daniel permaneceu no hospital aguardando uma oportunidade pra poder me ver, até que ela surgiu: -senhor daniel? -eu? -o senhor pode subir para ver o paciente bader... -sério? -sim, mas antes o senhor terá que vestir uma roupa especial para não levar nenhuma bactéria pra dentro da unidade. -tudo bem. acompanhando a enfermeira ele ia olhando atento para cada canto daquele longo corredor, ao chegar na porta do leito onde eu estava ele respirou fundo, a enfermeira abriu a porta, assim que ele entrou, ela fechou e nos deixou as sós. com lágrimas descendo de seus olhos e uma máscara que cobria seu nariz e boca ele foi se aproximando de mim lentamente, parado ao meu lado esquerdo com sua mão quentinha ele tocou na minha gelada. -amor... sou eu, daniel... ao ouvir sua voz e sentir que ele estava do meu lado eu fui feliz, não tem como

explicar qual foi a sensação, me senti mais leve, só de ouvir meu amor falar comigo. -sabe petit, ontem foi entregue a mobília no novo lar do céu, o lugar ficou lindo, a roberta foi conhecer e adorou, está toda feliz. sua mãe e a millena foram conhecer o lar do céu, nem preciso dizer que elas se apaixonaram pelo rodrigo, né? ontem à tarde meu ex-treinador me ligou marcando uma luta pro mês que vem, eu só disse que aceitaria se você melhorasse, claro que até lá você já vai estar de volta... tudo que ele falava eu podia ouvir, mas permanecia calado, sem poder me mover, mas emocionado relembrando nossos momentos. -petit... todas as noites eu rezo para que você saia logo desse lugar, volte para nossa casinha com nossa rotina de sempre. estou morrendo de saudade de dormir abraçadinho com você, ganhar seu beijinho de boa noite, de bom dia, petit... eu sei que você está me ouvindo, lembra da nossa promessa? todas as noites que tem lua eu olho para ela e consigo sentir seu cheiro, só falta você comigo. petit, eu te amo!... no fundo do meu coração eu sentia que não conseguiria mais resistir por muito tempo, foi quando eu reuni todas as minhas forças, não sei como eu consegui, mas abri levemente meu olho, eu queria olhar pela ultima vez o cara que me fez muito feliz em vida, ao abrir o olho eu o vi de cabeça baixa, lindo como sempre, um pouco abatido, mas continuava aquele gatinho que sempre foi, aquele meigo rapaz que me fez apaixonar, o único cara que amei em toda minha vida. na intenção de sentir seu calor pela última vez eu dei um aperto em sua mão, não sei de onde tirei forças, acho que do amor e do laço que nos unia eternamente nesse amor inexplicável, segurei forte em sua mão por pouco tempo, mas foi o suficiente para registrar em minha memória aquela lembrança, em seguida eu parti. -bader? você mexeu o dedo? o aparelho que registrava os meus batimentos cardíacos começou a apitar, imediatamente os enfermeiros entraram dentro do leito, deixando o daniel preocupado: -petit... o que é isso... o que está acontecendo?... -por favor, o senhor precisa se retirar imediatamente. -mas o que ele tem? petit... -por favor, senhor. uma das enfermeiras acompanhou o daniel até a porta e logo em seguida a fechou. assustado com todo aquele apavoro dentro da unidade o daniel desceu até a sala de espera, meu pai estava encostado na porta fumando um cigarro, sentado no banco estava o rodrigo com a cabeça deitada para trás dormindo um pouco, passar todo aquele tempo no hospital havia os deixado cansados. ao verem o daniel descendo as escadas apavorado perceberam que algo de errado estava acontecendo: -daniel... o que aconteceu? -meu petit não está bem... os médicos me tiraram de lá muito rápido... nessa hora o rodrigo pegou o celular e ligou pra casa, onde estavam a millena e minha mãe, ao informar as duas sobre o ocorrido elas se dirigiram para o hospital imediatamente. -o que aconteceu com o meu filho? -calma mãe, ainda não sabemos... -amor, sua mãe não está passando bem, no carro eu notei que ela estava um pouco debilitada... -eu vou falar com meu pai. todos esperavam por uma noticia que não chegava, uma hora se passou, meu pai quase fez um buraco no chão andando de um lado pro outro, quando a angústia parecia não terminar mais o médico apareceu: -quem são os familiares de bader pires? -aqui... -humpft...

-o que aconteceu com o meu filho, doutor? -o bader sendo um portador do vírus hiv se fragilizou muito ao se descuidar de sua saúde, chegando ao ponto de se tornar aidético. acabou pegando uma simples gripe que evoluiu para uma pneumonia por falta de cuidados. eu não sei se é do conhecimento de vocês que o bader adquiriu tuberculose. -o quê? muitas pessoas são portadoras das bactérias causadora da tuberculose, mas apenas uma parcela desenvolve a doença. entre os portadores do hiv, porém, o número de casos de tuberculose é 30 vezes maior. a tuberculose ataca inicialmente os pulmões. posteriormente pode atingir também os nódulos linfáticos e o cérebro. os sintomas são: tosse severa, muitas vezes com sangue, dor no peito, fatiga, perda de peso, febre e suores noturnos. -o organismo do bader estava muito comprometido, nossa equipe médica fez tudo que estava ao nosso alcance... -o que você quer dizer com isso, doutor? -não é fácil pra mim ter que dar essa notícia, mas faz parte. -que noticia?... fale logo... -o paciente bader pires faleceu. -não... É mentira... meu petit não... -ah meu deus... meu filho não... -calma mãe. -diga que é mentira, seu felipe?... -você vai ter que ser forte, daniel... -não pode ser verdade, ele não ia fazer isso comigo, não ia... -calma daniel, quer um copo d'água? -eu quero o meu noivo de volta... meu petit... não só minha família, mas os médicos e enfermeiros ficaram todos comovidos em ver o sofrimento do daniel ao receber a triste noticia, inconformado ele correu pelo corredor do c.t.i procurando por mim, ao encontrar a sala foi impedido de entrar, pois os enfermeiros estavam tirando os aparelhos do meu corpo, sendo assim o daniel só pode me ver através do vidro, com suas duas mãos abertas e a testa encostada no vidro ele chorava desesperadamente, seus olhinhos estavam pequenos e inchados, na mão direita ele conservava nossa aliança de noivado, seu coração apertou ao me ver deitado sobre aquela maca, sozinho, sendo coberto por um lençol branco. “-É surpresa... -quê? não acredito que você vai me deixar na curiosidade...” “-mas... mas... -mas agora nós somos noivos... esse é o maior presente de aniversário que eu poderia ganhar... você!” “-amanhã eu desmarquei todos meus compromissos para passarmos o dia juntos... -mas e seu futebol com a galera da academia? -desmarquei também.” Ás 16h38 eu entrei em óbito, deixando as pessoas que mais amava até então, parti levando eles em minha memória para sempre, junto de mim, onde vão permanecer em meu coração por toda eternidade. agora eu tenho a consciência das bobagens que fiz em vida, daquelas brigas bobas que tive com as pessoas que amava, às vezes até sem motivo, mas que na hora nem pensamos. cada vez que ficamos um tempo sem falar com quem amamos, é um tempo que não vamos recuperar depois, vai se perdendo no caminho e só se pode perceber quando já não da mais tempo de pedir desculpas.

naquele mesmo dia minha mãe foi até o lar do céu dar a noticia, acompanhada da millena ela chegou e foi recepcionada pela roberta: -dona vivian? -olá roberta. -que bons ventos a trazem? -infelizmente a noticia não é muito boa. -o que aconteceu? sem conseguir dar uma palavra, a millena teve que intervir: -o bader faleceu hoje, roberta. nessa hora o rodrigo entrou na sala: -o que você tem, tia? -a titia tá triste, ro... -por quê? -porque o papai bader foi pro céu. -e quando é que ele volta? -ele não vai mais voltar... o que parecia ser um simples entendimento, acabou se tornando triste quando o rodrigo começou a chorar: -eu quero meu papai bader... ele saiu correndo pro quarto e deitou em sua caminha chorando, talvez ele nem estava entendendo muito bem o que acontecia, mas saber que nunca mais voltaria a ver o “papai bader” já foi o suficiente para entristecê-lo. no começo da madrugada levaram meu corpo para velar, toda minha família já estava no local aguardando minha chegada, sob efeito de calmantes o daniel descansava deitado no colo da minha mãe, aquele mesmo colo que servia de consolo para meus momentos de tristezas, medos e carência. quando o carro funerário chegou no local começou uma movimentação fazendo com que o daniel acordasse: -o que está acontecendo? -o corpo chegou? bastou o zelador do local dizer “o corpo” que o daniel entrou em pânico, a milena já começou a chorar, minha mãe abraçou o daniel para tentar confortá-lo, embora ela também estivesse chorando muito, já meu pai foi forte, conteve a emoção de ver seu filho chegando dentro de um caixão carregado por pessoas nunca vistas na vida: -dona vivian... não é verdade... -calma, filho. -você não quer ir pra casa, daniel? -não seu felipe, não posso deixar meu petit aqui sozinho. o daniel passou a madrugada inteira sem dormir, perto de mim, às vezes ele ia tomar uma água e voltava, só deixava a sala do velório para ir ao banheiro, de hora em hora ele se aproximava do caixão e conversava comigo, mas impedido de me tocar, pois o caixão foi lacrado, sendo assim ele só conseguia me ver através de um pequeno vidro que só mostrava meu rosto. -amor... por que você me deixou? você tinha me prometido que nunca me deixaria... o que vai ser da minha vida sem você? -vem tomar um café para se acalmar... -eu não quero café nenhum, eu quero o meu petit de volta... petit... volta pra casa... “-namorado? -É. por que o espanto? -nada não, é estranho ver um cara chamando outro cara de namorado...”

-eu e a dani estamos sentindo sua falta... a gente ficou noivo, precisamos dar uma festa... “-É necessário, você já bebeu demais. -ah... É por causa da bebida? deixa que eu pago então, seu pão duro.” -petit... fala comigo amor... por que separaram a gente com esse vidro?... “-petit, eu te amo tanto que às vezes chega até a doer meu peito. -só de pensar em ficar longe de você um dia eu tremo, não consigo mais viver minha vida sem você, meu futuro é você comigo.” a pior hora foi quando vieram fechar a tampa, o daniel abraçou o caixão de uma tal maneira que ninguém conseguia tirá-lo de cima. -É hora de fechar o caixão. -não... não... não levem ele de mim, por favor... “-está vendo aquelas estrelas no céu? -sim. -quando eu era pequeno, meu pai dizia que as estrelas do céu eram reis, faraós e todas as pessoas boas que viveram na terra e continuavam a reinar no céu, só que olhando e cuidando daqueles que precisam aqui na terra.” -daniel, por favor, deixe... “-nossa... nunca recebi uma declaração dessa... -se você me permitir te amar, te farei uma pessoa muito feliz...” -eles querem tirar o único amor da minha vida... bader... “-diz pra eu ficar mudo, faz cara de mistério, tira essa bermuda que eu quero você sério... -te amo, daniel.” -bad... o rodrigo, a dani e eu estamos esperando você melhorar pra morarmos juntos como uma família de verdade... “-nossa... -o que foi? -não acha que tem malas demais? -você disse que lá vai estar frio...” -por favor, senhor, precisamos levá-lo... “-do que você está rindo? -nada majestade... -quer ir para o calabouço? -não, não...” dando socos no caixão o daniel gritava: -você prometeu que nunca iria me deixar... e agora você me abandona... por quê? o que vai ser de mim sem você agora? -por favor, daniel, deixe eles fecharem o caixão.

-mas rodrigo, meu petit não pode ir assim... não é justo... “-essas dançarinas não dançavam sem calcinha? -não acredito que você vai ficar reparando se elas usam calcinha ou não... -desculpa amor, foi só um comentário bobo.” -deus, por que o senhor fez isso comigo? petit... bader... minha mãe desmaiou, meu pai e a millena a levaram para fora da sala, meu pai preferiu nem ver seu filho partindo pra sempre, meu irmão teve que segurar o daniel, pois ele não queria deixar que os agentes funeráreos o fizessem, acabou causando um tumulto no local. todos que estavam presentes ficaram comovidos, pois o daniel queria me tirar do caixão à força. -me larga... me solta... por favor, petit diga pra eles que você só está dormindo... vocês não podem fazer isso comigo... bader... vocês vão machucá-lo, tirem a mão dele... amor, não me deixa sozinho, me leve com você... bader... você prometeu nunca me deixar... com a ajuda de três homens conseguiram afastar o daniel de perto do caixão, possibilitando assim colocar a tampa, e ali se fechou o ciclo da vida. um ano se passou, nesse período após algumas investigações do daniel, descobriram que o carlos, síndico do prédio junto com o zelador estavam desviando o dinheiro do condomínio, os dois passaram 6 meses presos e estão respondendo processo na justiça. nunca mais tive noticias do bruno, a última vez que falei com ele foi antes de atirar o telefone no meio da rua, provavelmente ele deve estar à uma hora dessas se metendo em confusão, preso ou até morto, pelo rumo que sua vida estava tomando... o daniel deu continuidade aos projetos que eu tinha iniciado, um deles foi o antigo lar do céu, hoje se tornou a “fundação bader pires”, cujo nome foi escolhido pelo próprio daniel em homenagem a mim, que hoje cuida de 60 crianças soropositivos entre 0 e 15 anos. minha mãe se mudou para são paulo e ajuda o daniel na administração do dinheiro que deixei e da fundação. a adoção do rodrigo está quase saindo, em breve o daniel se tornará legalmente pai do rodrigo, no apartamento onde eu morava o quarto dele já está pronto, cheio de brinquedos só esperando ele chegar. depois daquele episódio com sua mãe, daniel nunca mais a viu, evitando sempre de falar nela, pois até hoje acha que ela foi a maior culpada de eu ter adoecido tomando chuva forte. semana passada a millena ligou para minha mãe dando a notícia de que estava grávida, foi uma festa em campinas, tamanha era a alegria daquela casa com a chegada de um novo membro, nem preciso contar que o rodrigo tomou um porre com os amigos, mas era por uma causa nobre. depois que parti, o daniel demorou para se envolver com alguém, rolou um “affair” com a débora, psicóloga que cuida das crianças da fundação bader pires, ela é uma mulher muito bonita, morena de olhos verdes, cabelos lisos repicado... minha mãe torcia pelos dois, pois faziam um lindo casal, mas o namoro não durou muito tempo, eu ainda estava presente nas lembranças do daniel, mesmo separados pelo destino ele ainda continuava me amando cada vez mais, embora o relacionamento não tenha dado certo eles continuam amigos e trabalhando juntos em prol das crianças. todos os dias o daniel assiste os vídeos que fizemos em paris, as fotos que tiramos no decorrer do nosso relacionamento e chora ao ver nossas lembranças tão vivas em suas mãos e pensamentos, além dessas deixamos mais uma marca de nosso amor, é um coração e dentro dele nossas iniciais desenhadas em uma árvore

no parque do ibirapuera, todas essas lembranças que levamos em nossa memória são algo que ninguém nunca poderá nos tirar. as flores que ele me deu na noite de noivado continuam vivas, decorando a mesa da sala, eu cuido delas todos os dias e não as deixo murchar. sinto muita saudade de todos, principalmente do meu petit, mas de vez em quando nós matamos a saudade no sonho, onde nos encontramos e aproveitamos os poucos momentos que nos dão, embora ele não se lembre depois que acorda. quanto à promessa que havia feito ao daniel estou cumprindo, todas as noites quando ele se deita pra dormir eu me deito ao seu lado, como o prometido ainda em vida, junto comigo eu trouxe a aliança que ele me deu, como prova de nosso amor eterno. ontem, arrumando as gavetas o daniel encontrou um papel com algumas coisas que eu havia escrito na semana em que adoeci, mas na verdade não era uma simples bobagem, e sim um pressentimento do que iria acontecer. a saudade aumenta a cada dia, mas o nosso amor permanece eterno. “se um dia eu chorei não foi porque perdi, mas sim porque amei.” bader pires

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