Trab Final Do Livro De Eulalia

  • June 2020
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Publicada em 1997, a obra sociolingüística de Marcos Bagno, A Língua de Eulália, procura mostrar que o uso de uma linguagem 'diferente', nem sempre pode ser considerado um "erro de português". O modo estranho das pessoas falarem pode ser explicado por algumas ciências como a lingüística, a história, a sociologia e até mesmo a psicologia. O livro de Marcos Bagno conta a história de três professoras e estudantes universitárias que visitam a tia de uma delas, chamada Irene. Esta mora em uma fazenda em Atibaia e é professora universitária já aposentada, de Língua Portuguesa e Lingüística. No capítulo "Que língua é essa?", Irene dá aulas de Língua Portuguesa para as estudantes. Segundo essa personagem, existe o "mito de unidade lingüística do Brasil", que aprendemos nas escolas, de que no Brasil só se fala o português. Essa idéia é falsa, sem correspondência na realidade, já que, mesmo sendo a minoria da população, existem outras línguas que são faladas por nações indígenas espalhadas em diversas partes do país e por imigrantes estrangeiros que mantém viva a língua de seus ancestrais. Não existe nenhuma língua que seja uma só. O que chamamos de "português" não é um bloco compacto, sólido, e sim um conjunto de coisas chamadas de variedades, diz Irene. Também compara o modo de falar do português com o modo de falar do brasileiro e suas diferenças fonéticas, sintáticas, lexicais, semânticas e no uso da língua. Outras diferenças também existem em grau menor entre o português falado no Norte-Nordeste e o falado no Centro-Sul. Além das variedades geográficas, existem as variedades de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais, etc. Se quisermos ser mais exatos na hora de dar nome a uma língua, teríamos que levar em conta todas essas variáveis. É como se cada pessoa falasse uma língua. Afirma Irene, ainda, que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo (diacrônica) e varia no espaço (diatópica). Muda com o tempo, porque a língua que falamos hoje no Brasil não é a mesma do início da colonização e provavelmente também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos. E é por isso que não existe a língua portuguesa: o que existe é a norma-padrão, que é aquele modelo ideal de língua que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas, aquela que deve ser ensinada e aprendida na escola. Essa norma, ao longo do tempo, se torna objeto de um grande investimento. No processo de cristalização da norma-padrão, a língua é analisada pelos gramáticos; definida pelos dicionários; imposta por decretolei pela Academia de Letras e divulgada pelos autores de livros didáticos. Por isso é que a norma-padrão parece ser mais rica, mais complexa que as demais variedades. Mas se esse investimento fosse aplicado a qualquer uma das variedades faladas no país, ela também enriqueceria e se tornaria o que se costuma chamar de "língua culta". Irene continua explicando que, no momento que se estabelece uma norma padrão, ela ganha tanta importância que todas as demais variedades são consideradas "impróprias", "erradas" e "feias". Os motivos que levam determinada variedade a servir de base para o padrão não tem nada a ver com as qualidades intrínsecas, internas, lingüísticas dessas variedades e sim por motivos históricos, econômicos e culturais.

Irene afirma, então, que existe um português padrão (PP) que é usado para a literatura, nas escolas, etc; e um português não-padrão (PNP) que é falado pela grande maioria de pobres e pelos analfabetos. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais marginalizadas e oprimidas pelas injustiças sociais que impera no Brasil, o PNP é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. A criança que chega à escola falando o PNP é considerada uma "deficiente" lingüística, como se sua bagagem lingüística refletisse conseqüentemente uma inferioridade mental. Isso cria um sentimento de rejeição, levando o aluno a considerar-se incapaz de aprender qualquer coisa. O domínio da norma-padrão é uma forma que esse falante de PNP tem de ter acesso aos bens econômicos, políticos e culturais reservados à elites dominantes. Como podemos ver, trata-se de um problema amplo e complexo que passa pela transformação radical do tipo de sociedade em que vivemos. Se conhecêssemos melhor o português não-padrão, talvez conseguíssemos identificar as diferenças que o distinguem do português padrão. Irene diz que o PNP deve ser encarado como aquilo que ele realmente é: uma língua bem organizada, coerente e funcional. Irene comenta que na tentativa diária da aceitação das diferenças, devemos incluir também uma língua diferente da nossa, sendo humildes e tentando ver o que os falantes do PNP têm a nos ensinar sobre nós mesmos. Ensina ainda que a noção de "erro" deve ser reservada para problemas individuais. Se alguém, ao invés de dizer cavalo diz cafalo estará cometendo um erro, porque essa palavra não faz parte do registro de variedade do português do Brasil. Porém, se disser pranta no lugar de planta não é um erro, esse é um fenômeno chamado de rotacismo, que acontece em diversas regiões do país e que participou da formação da língua portuguesa padrão ao longo dos séculos. Para chegar a tal constatação deve-se: comparar o PNP com outras línguas e mostrar que nelas também ocorreram fenômenos semelhantes; buscar na história da própria norma-padrão as explicações para determinar características que aparentemente são exclusivas do PNP. Da mesma maneira que o latim se transformou lentamente nas diversas línguas românicas hoje existentes, também cada uma delas continua se transformando. Irene afirma que a diferença do português-padrão para o português não-padrão é que este é: natural, transmitido, apreendido, funcional, inovador, tem tradição oral, estigmatizado, marginal, tem tendências livres e é falado pelas classes dominadas. Já o português padrão é: arbitrário, adquirido, aprendido, redundante, conservador, tem uma tradição escrita, é prestigiado, é oficial, tem tendências refreadas e é falado pela classe dominante. Segundo Irene, existem muito mais semelhanças do que diferenças entre as variedades, porém as pessoas escolarizadas não enfatizam as diferenças lingüísticas, mas sim as diferenças sociais. Daí nasce o preconceito lingüístico. Finalmente, Irene diz que por mais que sejam refreadas, as forças de mudanças internas da língua nunca param de agir; e conta que foi do latim vulgar que surgiu, com o passar do tempo, todas as línguas românicas. No Brasil, de um modo geral, temos definição nas regiões Sudeste e Sul, que têm um nível cultural, econômico e político mais elevado e, por essa razão, usam a norma-

padrão. Na região Nordeste, onde encontramos estados econômica e culturalmente pobres, sua fala é vista como "engraçada", "divertida"e "pitoresca", sendo muitas vezes desprezada, pelos falantes do Sudeste. Mas, se formos para o interior do estado do Rio de Janeiro, poderemos observar essa variedade peculiar da população pobre e marginalizada. Assim como no interior dos estados de São Paulo e Minas Gerais encontramos os caipiras tão ridicularizados, pelos moradores das grandes cidades. No interior do Rio Grande do Sul, vamos encontrar a fala do imigrante italiano e alemão, no Norte do país, a fala do índio, que são variedades significativas da língua portuguesa falada no Brasil. CONCLUSÃO Feita a leitura do capítulo que essas variedades geográficas, culturais, urbanas, etc. estão intimamente atreladas ao poder socioeconômico. É culto e importante quem sabe a norma-padrão, sem se levar em conta a bagagem de conhecimento e sabedoria, que muitas vezes são abafadas pelo preconceito. Por esses falantes da variedade serem desconsiderados, por não terem seus direitos lingüísticos reconhecidos e sendo obrigados a assimilar uma variedade que é estranha a eles, por nossa escola não conhecer uma multiplicidade de variedades do português e tentar impor a norma-padrão para todos os alunos, sem procurar saber em que medida ela é na prática uma "língua estrangeira", cabe a todos o professores, já que se servem da língua como meio de transmissão dos conteúdos, a transformação do modo de olhar as variedades não-padrão em todos os campos da educação, sendo tarefa de todos e não apenas dos professores de língua portuguesa.

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