O Tiago tem a mania de contar histórias só com palavras começadas por vogais, ou seja, só com palavras começadas por a e i o u. Por isso todos lhe chamam o Tiago aeiou.
Quando está ao pé de uma árvore, o Tiago só pensa em histórias com
ás; quando vai ao Jardim Zoológico e vê éguas, inventa logo uma história com és; no Inverno só dá importância a aventuras com is; quando põe óculos quer ouvir contos com ós e quando come uvas só se interessa por us.
No outro dia, andava a assobiar de mãos nas algibeiras e a imaginar frases só com palavras começadas por a : anão azul adormeceu algibeira Ana ave apressada atravessou Austrália
alguém apanhou ananás amarelo De repente, teve uma excelente ideia: -Desta vez, vou inventar uma história só com palavras começadas por ás, és, is ós e us, mas todas misturadas. Deve ser muito, muitíssimo mais divertido. Sentou-se à sombra de uma amendoeira a pensar na sua nova invenção, mas como estava ao pé de uma árvore, só lhe vinham à cabeça palavras começadas por á. Então levantou-se e foi saltar ao pé-coxinho. No caminho encontrou a sua amiga Sara, que estava a jogar à bola. -Olá Sara! -disse o Tiago. Queres ajudar-me a inventar uma história só com palavras começadas por ás, és, is, ós, us, todas misturadas ? -Quero, pois! -disse logo a Sara que gosta muito de histórias. Começo eu.
Começou então a contar:
O Ursinho ia a andar e encontrou um Anão a olhar um avião.
-Olá! -Olá! Um Anão, um avião ... e o aviador onde está? -O aviador, ou está escondido ou está adormecido aí algures. Olha, ali, encostado àquela árvore, a alta... Ursinho olhou admirado. -É um embrulho e é enorme.
Alegres, Ursinho e Anão apressaram-se a abrir o embrulho. Apareceu-lhes um elefante azul e um iô-iô amarelo. O Elefante era engraçadíssimo estava a almoçar abóboras. Anão aproveitou, agarrou o iô-iô, imaginou uns ares importantes e atirou o iô-iô. Atrapalhou-se e o iô-iô enrolou-se em Anão.
Entretanto Ursinho espreitou o elefante e achou uma algibeira, onde estava um envelope escrito a encarnado. Ursinho estava admiradíssimo: -Algibeiras em elefantes ??... Aqui, a Sara resolveu interromper a história, para fazer uma proposta: -Ó Tiago, a nossa história está gira, mas não achas que podia ficar ainda mais gira, se nós também utilizássemos palavras começadas por consoantes ? O Tiago, que tem a mania do a e i o u, não gostou muito da ideia, mas depois pensou que realmente também ele estava com pouca imaginação para histórias só com ás, és, is, ós e us; então, concordaram em continuar a história com todas as palavras que lhes apetecessem, começadas por a e i o u, ou por
b
c
d
f
g
h
j
k
l
m
n
p
q
r
s
t
v
x
w
z
Desta vez, foi o Tiago quem continuou a história. Fê-lo assim: O envelope escrito a encarnado era dirigido ao Circo Kanguru. Circo Kanguru? Anão e Ursinho estavam cada vez mais curiosos e não resistiram à tentação de abrir o envelope, para ver o seu conteúdo. Lá dentro havia, nada mais nada menos, que uma carta também escrita a encarnado. Esta pessoa deve gostar muito de encarnado - pensou Ursinho. De repente, lembrou-se: Anão, não devíamos ler esta carta, ela não é para nós, é para o tal circo Kanguru. -Tens razão -disse o Anão. Mas temos de saber quem é este elefante e qual vai ser o seu destino. Não o podemos deixar aqui sózinho dentro dum caixote.
Resolveram então ler a carta, que dizia assim: Amigos do Circo Kanguru Tratem bem do meu elefante azul, ainda é pequeno mas já come muito. Ele gosta de abóboras e também de batatas e cenouras. Todas as tardes, ajudem-no a treinar o número do iô-iô amarelo. Devo chegar aí na sexta-feira. Desejo que os ensaios corram o melhor possivel. Guilherme
Ursinho e Anão estavam tão entretidos a ler a carta que nem ouviram aproximarse deles o aviador. Tinha ido procurar gasolina, pois a do avião estava quase a acabar, e ele não queria ficar a meio do caminho. Olá, quem são vocês? perguntou o aviador. Anão e Ursinho apanharam um susto. Por um momento
pensaram que o elefante azul estava a falar, o que seria muito esquisito pois os elefantes azuis não falam. -Eu sou Ursinho. -Eu sou Anão. E tu deves ser o aviador, que vinha a conduzir este avião, que levava aquele embrulho para o elefante azul e o iô-iô amarelo para o circo Kanguru. -Isso mesmo, advinhaste - disse o aviador. Mas ainda não sabem tudo. O Circo Kanguru chama-se assim, porque anda sempre aos saltos como o Kanguru; sempre a pular de uma cidade para outra e de outra para outra. Agora, durante uns meses, está num país que fica do outro lado do mar. Ainda é longe, vou mostrar-vos no mapa.
Ursinho e Anão pensaram os dois no mesmo: tinham de ir conhecer o Circo Kanguru. -Se vocês não tiverem medo de andar de avião -disse-lhes o aviador-podem vir comigo. Fazem-me companhia na viajem e vamos os três entregar o elefante azul e conhecer o circo. À hora do jantar já estamos outra vez de volta. O que é que acham ?
Anão deu pulos de alegria e exclamou: -Por mim , partimos já! Ursinho deu pulos de alegria e exclamou: -Senhor aviador, pode descolar! Meteram-se no avião e lá foram
muito
contentes até ao sítio onde estava instalado o circo, com as suas tendas e as suas roulottes.
E chegaram mesmo em boa altura, pois todos os artistas do circo iam ensaiar os seus números, tal e qual como se estivessem a fazer um espectáculo para o público.
O aviador, Anão e Ursinho, depois de terem ido levar o elefante azul a conhecer os outros elefantes do circo, sentaram-se muito quietinhos nas cadeiras da frente à espera que o espectáculo começasse. Nisto, uma música começou a tocar, apagaram-se as luzes, apenas uma ficou a iluminar o meio da pista e entrou o apresentador. -Senhoras e Senhores, bem-vindos ao Circo Kanguru. Vamos dar início ao nosso maravilhoso espectáculo com a actuação de Ema, a avestruz equilibrista.
Que grande equilibrista era a avestruz! Lá andou ela em cima do arame, de um lado para o outro, primeiro com as duas pernas, depois só com uma, sem nunca se desequilibrar.
A seguir vieram os elefantes. Eram quatro: dois elefantes e dois elefantinhos. Entraram todos em fila, cada um com a tromba enrolada na cauda do companheiro da frente.
Depois foi a vez dos divertidos palhaços.
Ursinho ficou com dores de barriga de tanto rir. Ainda houve trapezistas, leões ...
Era na realidade um circo muito original. Até incluía um coelho branco a fazer truques de ilusionismo com chapéus e cartas de jogar; além de um grupo de anões acrobatas que faziam o pino em cima uns dos outros, davam cambalhotas e saltos mortais.
Quando o ensaio acabou Ursinho estava cheio de fome. Lembrou-se logo que, em sua casa, estava quase na hora de jantar.
Hum! Já estou a imaginar uma tigela de mel à minha espera - disse Ursinho para os amigos.
Também para o aviador eram horas de partir. Já tinha entregue o elefante e já se estava a fazer escu
ro,o que tornava mais difícil pilotar o avião.
Anão gostou tanto do circo, que resolveu ficar. Queria aprender a ser acrobata como os outros anões tão pequeninos como ele.
O aviador e Ursinho despediram-se de Anão e dos artistas de circo, cheios de pena de se irem embora, mas já a pensar em voltar outra vez. Sem dúvida era o circo mais fantástico que alguma vez tinham visto. - Adeus Anão.
Adeus a todos.
- Adeus Ursinho. Vem visitar-nos sempre que quiseres.
O Tiago e a Sara acharam que este era um bom fim para a sua história, então resolveram dá-la por acabada. Além do mais, também eles estavam cheios de fome e já só queriam era ir cada um para a sua casa. - Até amanhã, Sara. Havemos de inventar mais histórias. - Até amanhã,
TIAGO AEIOU !