Textos Sobre Alquimia

  • June 2020
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Textos sobre Alquimia Labirintos

A obra de sublimação é uma queste, como a dos antigos cavaleiros do Graal e a aventura dessa busca pode ser representada como o caminhar pelos circulos de um labirinto, o labirinto da vida, o labirinto do mundo. A gravura reza o seguinte: "Não se atinge o Uno com um salto; e tampouco sem andar às voltas"

Alquimia e Misticismo

Houve um tempo em que estudar ou aludir a estas matérias herméticas não era bem visto. Não se considerava que fossem dignas de estudo. Jung foi pioneiro na defesa da importância do discurso alquímico como discurso arquetípico, matricial, de uma consciência ou de um imaginário colectivo em que se desvendava o permanente pulsar do Universo criado e da sua Manifestação. No fundo, a experiência alquímica era uma experiência da alma em transformação, uma experiência mística, daí o discurso ser a-lógico, intuitivo, mais facilmente expresso por imagens do que por elaborados raciocínios. Os raciocínios, quando existiam, e a dada altura existiram com alguma abundância (no século XVIII e seguintes) serviam mais para perder o fio de Ariadne do que para o encontrar, e inclusivé punham a descoberto a dificuldade do próprio, adepto ou apenas curioso, se entender a si mesmo e ao que pretendia dizer. O discurso alquímico é mais para ver do que outra coisa, é mais para ser assimilado como revelação, a ser ou não posteriormente transmitida. Vem isto a propósito de uma pequena edição da Taschen, que no New York Times Book Review é apreciada nestes termos: " ...a fast food, high-energy fix on the topic at hand". Trata-se de facto de um pequeno guia, um pequeno dicionário de imagens alquímicas, com os comentários necessários para que o leitor fique esclarecido sobre a evolução dessa arte, dessa filosofia de iniciação cristalizada desde os tempos mais antigos e de que modernamente a Maçonaria, nos seus rituais, também se constituiu herdeira. Se é certo que a doutrina dos 4 elementos remonta a Empédocles, que os define como " as quatro raizes de todas as coisas" não é menos certo que a terra, a água, o fogo e o ar (suas oposições, conjunções, transformações) continuaram ao longo dos tempos a habitar o imaginário colectivo de múltiplas culturas, a Oriente e a Ocidente. Aristóteles afina estes conceito, como nos diz Alexander Roob na introdução, cunhando a ideia de uma prima materia comum a todos os elementos, e será esta hyle ou matéria primeira que mais interessará os alquimistas, que a definem como o seu "caos", a sua

matéria negra", entre várias outras designações, - desde que apontem para algo de informe, indefinido, carecendo de sublimação. Na sublimação dessa matéria consistirá a Obra, a Magnum Opus.

Théatre d'Amour

Encontramos nesta belíssima edição da Taschen uma igualmente bela prova de amor: a selecção de 143 gravuras de emblemas de amor coloridos à mão por um coleccionador francês do século XVII. Os emblemas são de inspiração mitológica, alegórica e erótica, muito ao gosto da época. O fac-simile é notável, tendo na folha ímpar do texto as versões necessárias ao leitor: original francês e tradução inglesa. Os 27 folios que constituem este teatro de amor, onde Cupido é o Hermes condutor, revelam na escolha das situações e dos pormenores um profundo conhecimento dos segredos alquímicos: estão presentes os quatro elementos fundamentais da Obra e o processo de trabalho; estão presentes os animais emblemáticos, desde o cão ao leão, ao veado; e nem falta a reprodução de uma das gravuras que mais encontramos nos tratados medievais, alusiva à nigredo, sem a qual nenhuma transformação se verificará: sobre o cadáver de um velho estendido no chão ( em Basilio Valentino é mesmo um esqueleto) está pousado um mocho, emblema da sabedoria. Igualmente interessantes são os espaços e os objectos, na maior parte já conhecidos por outras obras anteriores ou mesmo do século XVII, como as de Michael Maier. Lareiras, fogões, colmeias (a pedra dá o mel às abelhas, no Rosário dos Filósofos)), troncos de velhas árvores, todos os cenários, embora referidos às situações amorosas, podem ter dupla leitura, também hermética. posted by Yvette Centeno at 4:55 AM 6 comments

O Ovo filosofal

Em Junho, mês de transição, encontramos o rebis hermafrodita com o ovo filosofal. Veja-se como em Julho a obra progride: sobre o vaso hermético o carro de Mercúrio, puxado por galos, anuncia a aurora: o esplendôr da renovação.

Papageno I

I Nas primeiras cenas do Acto I adquirem especial importância Tamino, a serpente que o persegue, as damas de negro que o salvam e Papageno, o passarinheiro, coberto de penas como se ele mesmo fosse uma criatura mais próxima do reino animal do que do reino dos humanos.O cenário é descrito como uma paisagem rochosa, onde há grutas e árvores, vendo-se ao longe um templo de forma circular: duas esferas, a natural, primitiva, em parte por isso assustadora, e a religiosa ou espiritual, ao longe ainda, na representação do templo. Mas já estão presentes ambos os cenários, ambas as esferas, a natural e a espiritual.Os autores não querem deixar nada ao acaso. No diálogo que se estabelece entre Tamino, o príncipe, e Papageno que fingirá ter sido o seu salvador, torcendo o pescoço da serpente, terá uma das deixas mais importantes. Quando o príncipe lhe pergunta "quem és tu?", este responde: Wer ich bin? Dumme Frage! Ein Mensch, wie du. Quem sou eu?Que pergunta mais tola! Um homem, como tu. Por ser um homem, poderá Papageno acompanhar o príncipe na aventura de redenção da princesa Pamina, ainda que as suas provações, por ele ser mais imperfeito (estar mais dependente dos seus instintos naturais, a fome, a sede, o sexo)durem mais tempo, até ele ter direito à sua Papagena, o seu contraponto feminino desejado. Se com os príncipes se realiza a Obra no seu grau mais sublime, com os Papagenos a Obra realiza-se num grau abaixo, por assim dizer, mais perto da realidade da res humana. Do ponto de vista alquímico, no entanto, ambos atingem a completude que a Conjunção representa. A Rainha da Noite, para além de ser um símbolo da nigredo alquímica, é neste contexto da ópera de Mozart algo mais, de mais remoto, mais ancestral, primitivo. Daí o seu fascínio, desde logo sobre o príncipe, que aparentemente tinha sido atraído ao seu reino:

Sternflammende Koenigin!-Wenn es etwa gar die maechtige/Herrscherin der Nacht waere! A rainha de estrelas flamejantes!Se fosse mesmo a poderosa/Senhora da Noite! Adiante, pela descrição do atemorizado Papageno, que nunca a vira, só às damas de negro, o príncipe aluda ao facto de o seu pai lhe ter mencionado uma rainha assim, tão poderosa: Nun ist's klar; es ist/ eben diese naechtliche Koenigin, von der mein/ Vater mir so oft erzaehlte. É óbvio, trata-se mesmo/dessa rainha da noite de quem o meu pai/ tantas vezes me falou. O que o príncipe não percebe, como diz a seguir, nem os autores nos explicam, é por que razão o príncipe ali se encontra, ali é perseguido por uma grande serpente e salvo pelas damas de negro da rainha. O fascínio das damas pelo príncipe é idêntico ao que ele sente pela poderosa Senhora. Os diálogos deixam no ar uma certa ambiguidade: tanto quando as damas o contemplam, desmaiado no chão, desejando, cada uma delas, ficar ali a guardá-lo enquanto as outras vão chamar a rainha, como quando ele, já bem desperto, ainda que algo confuso sobre o que lhe está a acontecer, se vê perante um pedido da rainha: que seja o salvador da sua filha Pamina, raptada por Sarastro, nestas cenas ainda apresentado como espírito do mal. É importante o momento em que a terceira dama entrega ao príncipe o retrato da princesa. A primeira sedução é exercida pela imagem, que ele contempla emudecido e que parece hipnotizá-lo. A incumbência de a salvar parece-lhe um imperativo a que não pode nem quer furtar-se. Assim começará a sua grande aventura. Falámos da importância do negro, do 3 ( 3 damas , 3 bocados da serpente) da flauta que é dada ao príncipe, fazendo dele um segundo Orfeu, e da dimensão cósmica que a rainha assume, ao aparecer num trono rodeado de estrelas brilhantes (Acto I, cena seis). Podemos evocar Hecate, deusa dos infernos, como faz van den Berk, mas prefiro pensar em Cybele, e os ritos sacrificiais de Attis (de que o príncipe poderia ter sido vítima, ou ainda Sarastro, no segundo acto, quando a rainha entrega a Pamina um punhal para o matar); ou talvez ainda melhor a grande prostituta do Apocalipse de João, descrita também ela como mulher carregada de pérolas e pedras preciosas, simbolizando a decadente Babilónia, a Grande Cidade que reinava sobre os reis da terra. De qualquer modo estes são cultos e figuras que terão o seu fim com a época das Luzes, celebrada na ópera. O que se pode depreender, do simbolismo do negro feminino, é que diz respeito à matéria social ou humana decaída, e que é necessário opôr-lhe, para redenção social ou humana também ela, um complemento espiritual masculino (entenda-se, luminoso, racional). Qualquer destas figurações o que faz é remeter-nos para uma memória ancestral, aterradora, que é preciso sublimar, pois a espessura da matéria negra carece de tal espiritualização - quer se trate da sociedade humana e sua condição (como no caso da ópera de Mozart)-quer se trate de algum processo alquímico de trabalho da Pedra Filosofal (como também a interpretação da ópera permite). No tocante à alquimia haverá sempre duas leituras: a da alquimia verdadeira ( do ouro espiritual) e a da falsa, que todos os filósofos herméticos condenam, sem excepção, como lembra Dom Pernety no seu dicionário Mito-Hermético. As cenas iniciais em que Papageno mente, fingido ser o salvador do príncipe são exemplo de um processo imperfeito (porque mentiroso ) da tal falsa alquimia. O seu pão e vinho são transformados em água e pedra, lembrando-

lhe, ainda que ele não o entenda logo, que se trata da Pedra verdadeira dos filósofos e não da mentira e do fingimento da aparência. Também a regra do silêncio é ali apontada, quando as damas lhe põem um cadeado na boca. Como se verá adiante na ópera, o Caminho exige privações e provações a que será preciso resistir: Tamino resiste a todas: do silêncio, desde logo, da água, do fogo, do ar (neste caso representado pelos jovens que atravessam os céus); Papageno tem mais dificuldades, mas a sua imperfeição é perdoada no momento em que, arrependido, tenta enforcar-se. E lembremo-nos que, para a leitura alquímica, o elemento terra já fora apresentado no início, com a paisagem rochosa e com a serpente que as damas mataram com as suas lanças. Terra e nigredo estão na ópera muitopróximas; depois, com Papageno, o das penas coloridas, se alude à fase da cauda pavonis, interessante porque anuncia um bom progresso na Obra. A côr,tal como os números, os princípios e os elementos, vai anunciando a evolução do caminho.Tudo o que é suposto estar presente tem de ser figurado, de uma ou outra maneira, para que se veja a Obra na sua completude: nigredo, albedo, rubedo - e entre elas a cauda pavonis, multicolor.

Papageno II

Embora as personagens nobres sejam o príncipe e a princesa, como é natural nos contos de fadas, é por Papageno que sinto especial carinho: o seu estado ainda meio selvagem, de primitiva inocência e espontaneidade, faz dele um ser (volúvel, vai mudando de opinião ainda que um pouco forçado...) volátil, no sentido mesmo que os alquimistas lhe dariam: um ser que, ligado ao vôo dos pássaros que é sua missão"apanhar" e "prender em gaiolas" , será ele mesmo "fixado", preso ao dever que lhe impõem de seguir e servir o príncipe, cumprindo ao fim e ao cabo todos os rituais necessários. Na cena 8 o coro das damas com Papageno e o príncipe estabelece o que vai ser a norma do comportamento:

Statt Hass, Verleumdung, schwarzer Galle/ Bestuende Lieb und Bruderbund. Em vez de ódio,difamação, negra bílis/que vivam o amor e a fraternidade. Ainda estamos no Acto I e já alguns, para não dizer muitos, sinais nos foram dados: da simbólica alquímica, sem dúvida, mas dos ideais maçónicos e dos seus códigos, cada vez menos secretos, também. Uma das causas apontadas para o corte de relações entre Mozart e um dos libretistas, Giesecke, parece ter sido o facto de serem revelados na ópera demasiados segredos. Também consta da lenda tecida em torno da morte de Mozart que, por inveja ou outro sentimento menos nobre,os amigos alquimistas o terão lentamente envenenado com mercúrio - uma das matérias da química secreta. Mas voltando a Papageno e à felicidade risonha que o acompanha sempre: Há algo de mozartiano na sua alegria, como no seu terror, na sua expansividade comunicativa, como no desgosto de quem descobre que errou e, acima de tudo, no modo como a ideia e a realidade do amor o seduzem e encantam e finalmente o levam a aceitar o seu destino. Destino que, vendo bem, não é pior do que o do príncipe, ainda que o possamos considerar mais terreal...mas Papageno é aquela materia prima, a Pedra que tem de ser fixada, tem de ser terreal para depois se sublimar, algures, noutro tempo, noutra fase. É mais humano, por isso mais verdadeiro. Não disse ele logo ao príncipe que era "um homem" como ele ? Considerando a pergunta do príncipe algo tola? É no dueto de Papageno e Pamina que, curiosamente, poderemos encontrar a mais sentida expressão do motivo do amor. Na cena XIV, ainda do Acto I, temos um dueto famoso pela origem que se lhe atribui (rosacruz, do Casamento Químico de Christian Rosencreutz..., da autoria de Johann Valentin Andreae, e ainda pela utilização dos mesmos versos por Goethe, em carta a Madame von Stein) : Pamina Bei maennern, welche Liebe fuehlen, Aos homens que sentem amor fehlt auch ein gutes Herz nicht. não falta um bom coração. Papageno Die suessen Triebe mitzufuehlen, Corresponder à doce atracção Ist dann der Weibe erste Pflicht. é pois da mulher o primeiro dever. Beide/Ambos Wir wollen uns der Liebe freu'n, Queremos do amor sentir a alegria Wir leben durch die Lieb allein. só pelo amor conseguimos viver. Pamina Die Lieb' versuesset jede Plage, O amor adoça todo o sofrimento Ihr opfert jede Kreatur. a ele se sacrificam todas as criaturas. Papageno Sie wuerzet unsre Lebenstage,

É ele que tempera os nossos dias Sie wirkt im Kreise der Natur. influencia a esfera natural. Beide Ihr hoher Zweck zeigt deutlich an, O seu fim último indica claramente Nichts edlers sei, als Weib und Mann. nada há de mais nobre do que mulher e homem. Mann und Weib, und Weib und Mann, Homem e mulher, e mulher e homem, Reichen an die Goetter an. alcançam a divindade. É na cena seguinte que o cenário se transforma num bosque aprazível onde se ergue um Templo com a seguinte inscrição: Templo da Sabedoria. Este divide-se, ao longo de um corredor de colunas, em dois outros templos: à direita o Templo da Razão; à esquerda o Templo da Natureza. É Tamino quem surge, guiado pelos três jovens, que seguram na mão um ramo prateado de palmeira e lhe dizem ser este o caminho procurado e as leis que o devem reger: ser firme, paciente e guardar silêncio! ( Sei standhaft, duldsam und verschwiegen!) Tamino quer entrar no templo, e desenrola-se um diálogo, também codificado, de perguntas e respostas rituais com o sacerdote que o guarda, antes que a entrada lhe seja permitida. Monostatos fará ainda uma tentativa de prender Pamina e Papageno, na cena 17, mas este, com as campainhas mágicas que as damas da rainha da noite lhe tinham dado para sua protecção, conseguirá encantá-lo, a ele e aos escravos e a cena será interrompida pelo anúncio da chegada de Sarastro. É impossível não relacionar esta cena, de composição divertida, humilhando as forças do mal, com a cena, no Fausto II, em que os Anjos distraem e seduzem Mefisto, metendo-o a ridículo do mesmo modo, não com campainhas, mas com abundância de pétalas de rosa.No caso de Fausto a simbólica seria a da rosa alquímica, que dá o mel (da sabedoria) às abelhas... Neste final de acto anunciara-se a albedo, a passagem ao branco, com os ramos prateados dos jovens guias.Mas eles pairam no ar, o que significa que ainda falta um tempo, uma fase, para que o branco da prata desça à terra e nela se fixe, com raiz. No acto II a descrição do cenário já indica, na primeira cena, que o espaço se transmutou e o mesmo vai acontecer aos intervenientes deste processo alquímico: " A cena é um bosque de palmeiras; todas as árvores são de prata com folhas de ouro;há 18 assentos de folhas;em cada um uma pirâmide, e um chifre negro preso com ouro; no meio ergue-se a pirâmide maior e também as árvores mais altas; Sarastro, com outros sacerdotes, entram em passo festivo, cada qual com um ramo de palmeira na mão.Um conjunto de instrumentos de sopro acompanha cortejo " (Acto II, cena 1). Aqui entramos verdadeiramente na descrição do que seria um processo iniciático numa Loja maçónica, que bem poderia ter sido a de Mozart. Mas prefiro demorar um pouco mais no motivo do amor, tal como foi entendido pelos rosacruz, fazendo depois o seu caminho em doutrinas posteriores.

Papageno III

Papageno, na seguna cena do Acto I, apresenta-se coberto de penas, como um pássaro e canta alegremente aquilo que é: um passarinheiro, uma caçador de pássaros, feliz com a sua condição humilde (ele nunca tinha tido o privilégio, muito menos a ideia aterradora de ver a Rainha da Noite, até se encontrar ali com o príncipe Tamino). Apenas sente a falta de uma jovem companheira a quem dedicar o seu amor. Na aria da edição de 1791, Papageno tem direito a duas estrifes, de que vou apenas resumir o sentido: "Sim, sou um passarinheiro, sempre contente, e conhecido de todos, jovens e velhos.Sei usar a minha rede, sei tocar a minha flauta, e assim apanho os pássaros que quero. Mas de verdade o meu desejo é prender uma jovem, e guardá-la agarrrada a mim". Na edição de 1795 a Aria tem mais uma estrofe, como anota van den Berk, em que se acentua o desejo de ter alguém a quem amar; resumindo: "Se todas as jovens do mundo fossem minhas eu escolheria uma para beijar e abraçar, ela seria a minha mulher, eu o seu homem, ela dormiria a meu lado, comigo a embalá-la como se fosse uma criança". Já se vê, neste acto, que haverá um par natural, por assim dizer, em complemento do par espiritual que formarão Tamino e Pamina. Referi nos outros posts a mais que provável influência do texto de Johann Valentin Andreae, As Bodas Químcas de Christian Rosenkreutz, anno 1459. Este pequeno tratado alquímico pertence a um conjunto mais conhecido como Bíblia dos Rosacruz e foi estudado por Rudolf Stein e por Bernard Gorceix, entre outros eruditos, que nos dão, simultâneamente, a versão francesa do texto. No Segundo Dia da viagem a caminho do encontro misterioso que aguardava Christian, este, já na floresta, encantado com o canto dos pássaros que o rodeiam, entoa o seguinte hino: Caro passarinho, alegra-te glorificando o teu criador: lança o trinado claro e puro a Deus que está no alto, preparando o alimento que a seu tempo será dado. Contenta-te com isso. Não fiques aborrecido, não leves a mal que Deus te tenha criado pássaro.

Não perturbes a tua cabecinha, só porque ele não te fez homem. Silêncio, a sua escolha foi a mais ponderada. Contenta-te com ela. Pobre verme sobre a terra, que fazer? ... Homem, aprende a contentar-te. Não te lamentes por Deus não te ter feito imperador, talvez nessa altura desprezasses o seu nome. O seu acto foi ponderado. Os olhos divinos são mais penetrantes, Deus penetra no teu coração, a ele não o podes enganar. No fundo, a lição aqui dada é a da simplicidade e aceitação do que se é na vida, sem mais.A cada um seu lugar, a cada um aquilo para que foi talhado, na esfera da cadeia universal. Papageno pertence a esta linhagem dos pássaros, que no fundo são criaturas como os homens, criadas por Deus para o servirem.E a lição, é claro, é para que os homens, neste caso Christian, o herói, a entendam e aceitem. Mais adiante, no Quinto Dia, (o número 5 já sublinha a quintaessência) surge então o hino ao amor, de que Mozart e Goethe farão eco, cada qual a seu modo, em diferentes momentos. I Nada na terra é melhor do que o belo e nobre amor. Para que nos torne iguais a Deus e para que tudo fique claro cantemos ao rei este hino, que penetre o mar inteiro, nós perguntaremos e vós respondereis. II Quem nos deu a vida? O amor. Quem nos devolveu a graça? O amor. Qual é a nossa origem? O amor. Como cair em desgraça? Sem amor. III Quem nos gerou? O amor. Por que nos alimentaram? Por amor. Que devemos aos nossos pais? Amor. Como explicar a sua paciência? Por amor. IV Quem consegue que nos dominemos?

O amor. Também é possível encontrar o amor? Pelo amor. Onde revela ele as suas boas obras? No amor. Quem pode ainda unir dois espíritos? O amor. V Cantemos todos então em coro e bem alto em homenagem ao amor, que ele se digne crescer nas nossas Altezas reais, o seu corpo está longe, a sua alma também. VI Se ainda estivermos vivos, Deus concederá, pela sua graça, pelo amor e generosidade com que foram separados, que os possamos reunir através das chamas do amor. VII Esta dôr em profunda alegria, mesmo que façam falta milhares de gerações, se transformará eternamente. Bernard Gorceix observa que o cântico pode ser dividido em duas partes: de I a IV, descrição do amor primitivo e criador; de V a VII, a referência aos corpos dos reis separados ainda, aguardando o momento da conjunção final, a Boda Química, que dá o título à obra de V.Andreae. Tratar-se-á, ao fim e ao cabo, como na ópera de Mozart, de reunir cada par com o seu oposto complementar, o que na alquimia significa unir corpo e alma, ou razão e coração, ou mais quimicamente fundir enxofre e mercúrio, pela mediação do sal. Nas primeiras cenas da ópera poderíamos hesitar no sentido a atribuir a Papageno: pássaro simbólico ele mesmo,colorida cauda pavonis, materia necessitando de ser fixada, para sair do estado volátil em que se encontra, é óbvio que temos de o considerar como um dos "pares" da obra, e não apenas como mediador.. É verdade que ele medeia o encontro do príncipe com Pamina. Mas também ele, na sua esfera própria, de súbdito inferior, se se quiser, cumpre os rituais de iniciação e encontra a sua Papagena, celebrando então com ela o canto do amor e anunciando, com a sua juvenil alegria os muitos papagenos que poderão fazer juntos. (Aqui um hermetista falaria da "multiplicação" da Pedra; mas não é preciso ir tão longe, basta ficar pela conjunção, objectivo supremo e alcançado tanto por Tamino/Pamina, como por Papageno/Papagena). Já citei a obra de van den Berk; acrescento, para a relação da movimento Rosacruz com a Maçonaria, a obra de Paul Arnold,La Rose-Croix Et Ses Rapports Avec la Franc-Maçonnerie, Paris,1970 e para a Bíblia dos Rosa-Cruz, onde se encontrarão os textos fundadores, o estudo e tradução de Bernard Gorceix, La Bible Des Rose-Croix,1970

van den Berk, A Flauta Mágica

No blog de Cultura Visual escrevi um pouco sobre este estudo de van den Berk, recomendado por uma amiga, conhecedora da minha paixão pela Flauta Mágica de Mozart e o seu simbolismo hermético, que eu pessoalmente considero de dois pontos de vista, o alquímico e o maçónico, sabendo-se que grande parte do imaginário maçónico enraiza nas doutrinas alquímicas e rosacruz divulgadas na Europa culta dos séculos

XVII-XVIII e influenciando ainda artistas posteriores, como se vê no caso de Richard Wagner. M.F.M. van den Berk (1938) é doutorado em Teologia e ensina na Universidade Católica de Utrecht, na Holanda.Tem obra publicada sobre as relações entre a religião e a arte. Neste volume de quase 700 páginas, se contarmos bibliografia e ilustrações, apresenta a sua leitura alquímica da obra de Mozart e seus libretistas, dos quais Emanuel Schikaneder é o mais conhecido. Para o autor a ópera de Mozart é, ao longo dos seus dois actos, uma representação fiel da Grande Obra alquímica,conduzindo ao Casamento Químico de que Jung se ocupou extensamente no Mysterium Coniunctionis, retomando, como faz van den Berk, o estudo dos grande tratados de alquimia conhecidos, sobretudo o Rosarium Philosoph0rum (de 1550). Deste tratado há uma tradução francesa feita a partir da edição latina, da autoria de um grande pensador alquimista, E.Perrot,Le Rosaire des Philosophes, ed.Librairie de Médicis, Paris, 1973. Refiro a sua existência porque van den Berk, entre muitas outras gravuras, como as de Michael Maier, escolhe também várias deste tratado, que são explícitas em relação ao fenómeno do casamento químico, representado "fisicamente" também pela união ou fusão corporal dos elementos masculino e feminino, enxofre e mercúrio e, no caso da ópera, o príncipe e a princesa, Tamino e Pamina. Mas passemos à obra, antes de passarmos à ópera propriamente dita: M.F.M. van den Berk, The Magic Flute,Die Zauberfloete,an Alchemical Allegory, ed. Brill,Leiden-Boston,2004. O Índice abre com uma introdução geral sobre Hermes, a figura emblemática, condutora, e que o autor relacionará com Papageno, o passarinheiro da Rainha da Noite. De facto, Hermes é o "Pai" da alquimia, e é útil conhecer as doutrinas que lhe são atribuídas, desde logo no Corpus Hermeticum, revelado ao Ocidente pelos Humanistas dos séculos XV-XVI. Segue-se a descrição da Flauta Mágica como alegoria alquímica,ou seja, um conto de transformação em que todos os intervenientes são submetidos a uma estrutura simbólica, iniciática, que os conduz a um grau superior de realização e espiritualidade: nos opostos que se confrontam, luz e sombra, negro e branco, mal e bem, sairão vencedores os representantes de uma humanidade regida pelos princípios em que imperam o Belo, o Bom, a Verdade da Razão Iluminada (como se dizia ao tempo, no século XVIII). Depois da Introdução Geral,van den Berk desenvolve o Background histórico em que a obra se insere. Descreve a Viena do tempo, o gosto pela maçonaria, os grupos de "Iluministas" (os racionalistas, da escola francesa) e os Iluminados (os que bebiam na tradição dos grupos místicos de tipo pietista, como os que influenciaram, a dada altura, o próprio Goethe). Ainda neste capítulo é estudado o movimento rosacruz, e a influência que teve, na Alemanha como neste caso em Viena de Áustria, desde o seculo XVII. O propagador das doutrinas, Johann Valentin Andreae, conseguiu durante bastante tempo, ocultar a sua identidade sob o nome de Christian Rosenkreutz,suposto autor e herói das Bodas Químicas de cujo influência simbólica teremos exemplos em Goethe e em Mozart (ou nos seus libretistas : aqui todo o processo se desenvolve em torno do conceito do Amor como raiz e fundamento da criação do mundo, da natureza e da condição humana. van den Berk encaminha-nos depois para outro cenário: o background mitológicco subjacente sobretudo ao caso da Rainha da Noite, Grande-Mãe decaída, evocando os cultos tenebrosos da primitiva Isis, Cybele, ou Hecate, ou Astarté, ou outra das figuras arcaicas ligadas ao culto da natureza e da Mãe-Terra que se lhe possam assemelhar. Neste caso Isis é a melhor escolha, pois do templo de Osiris se tratará com Sarastro

(cujo nome inclui já a palavra astro) e o par de opostos em questão é precisamente Isis/Osiris (como poderia ser a lua/o sol). Esta é uma Isis negra, daí que tivesse de ser vencida. E Tamino, identificado a Orfeu, será o domador desses instintos perversos, que no culto de Cybele, por exemplo, levavam à imolação de Attis, o filho/amante perfeito. Pamina, neste caso, será a força luminosa que, contrariando a Isis negra, ajudará Tamino - Orfeu ou mesmo Horus, se quisermos avançar um pouco mais nesta simbólica - a recuperar, ou a manter, o seu estatuto superior de futuro herdeiro das funções de Sarastro: o condutor que se guia pela suprema Razão Iluminada. Passamos então, no volumosos estudo, ao capítulo que se ocupa da Estrutura Alquímica (primeiro nas definições gerais, depois já na análise concreta da ópera).As fases são descritas com fidelidade às doutrinas e tratados mais conhecidos, que me dispenso agora de citar. Não se esquece a nigredo, a cauda pavonis, a albedo, a arubedo - tal e qual como apontei no meu estudo do Conto da Serpente Verde de Goethe, em que encontro muitas semelhanças com a ópera de Mozart( Goethe, entusiasmado quando a viu, pretendeu fazer-lhe uma continuação, que ficou incompleta e não admira, pois o que já é perfeito em si mesmo não pode ter continuação...). van den Berk analisa ainda os motivos, na inspiração musical e os esboços feitos para a cena, em que também se verificam, na sua opinião muitas marcas herméticas. E continuamos, finalmente, com os autores da Flauta Mágica, suas vidas e obras, seu percurso, com tão abundantes e detalhadas informações que tudo se lê como num livro de aventuras, com o desejo de não mais acabar. Os libretistas são Emanuel Schikaneder (1751-1812) e Karl Giesecke (1761-1831). Sguem-se Apêndices e Ilustrações, num conjunto precioso, como tudo o resto, para os apaixonados e estudiosos. Não há paixão, na alquimia, sem muito estudo: Ora, Lege, Lege, Lege, Relege, Labora et Invenies! A edição vem acompanhada de um cd/audio com a ópera completa, segundo o libreto de que van den Berk também nos dá, no livro, em apêndice, a transcrição do texto de 1791. Que mais se pode desejar? Da sua leitura me ocuparei noutro post.

O Negro

Um haiku do poeta David Rodrigues, a que fiz referencia no outro blog, de Literatura e Arte, fez-me pensar em como a marca do negro é importante. Mais importante do que qualquer outra, talvez, não digo num puro processo poético, mas simplesmente no campo da filosofia hermética. O haiku, já de si uma forma condensada de imagem e sentimento, ou pensamento, como as que encontramos nas gravuras que ilustram os tratados antigos, é propício a que o seu leitor empreenda através dele o seu próprio caminho, ou caminhos vários e outros que lhe surjam, sem que necessariamente se tenha de fixar em nenhum deles. Deixei, no blog de Literatura e Arte, um conjunto de Meditações a esse respeito que poderão ser lidas. Mas aqui é mesmo sobre a marca do negro, da nigredo, que desejo falar. Pelo negro se começa, muito antes de sabermos se tal experiência nos conduzirá a algum lado. Na maior parte

das vezes não conduzirá a nada, pois nem todos, antes pelo contrário,têm a força íntima necessária para o caminho dos místicos e santos, ou mesmo só iluminados pela graça da uma determinada energia criadora especial. Carl Gustav Jung, o maior estudioso conhecido da alquimia,

que fez dessa arte, desde a década de

cinquenta, pelo menos, o modelo de análise do mundo arquetipal que nos envolve e suporta, ainda que pouco ou nada possamos saber dele, dizia, na sua autobiografia, que é no meio da vida, propenso em todos nós a crises de depressão, que a nigredo, o negro da alma (a melancolia saturniana já descrita desde tempos antigo) mais se fazia sentir, podendo até pôr em risco a vida do doente depressivo: pois a depressão pode facilmente conduzir ao suicídio. Jung irá comparar o processo de cura, lento, lentíssimo, exigindo paciência e dedicação, ao processo alquímico, cuja regra mais explícita é a do Mutus Liber (1677) de que o estudioso brasileiro José Jorge de Carvalho fez uma bela edição, comentada:

"Ora, Lege, Lege, Lege, Relege,

Labora et Invenies", isto é, reza, lê, lê, lê, relê, trabalha e descobrirás.Na fase final de tanto e moroso trabalho receberá o adepto (o paciente) a iluminação (a cura ): diz a legenda: Oculatus abis, partes munido de olhos. E vemos na gravura o espírito do adepto erguido aos céus, coroado por dois anjos, enquanto o seu corpo em terra é ilustrado, significativamentem pelo sol e pels lua, o par em conjunção. Ficamos pois a saber que se trata, na obra como na vida, de conciliar as tensões dos opostos que tanto podem ser as da rotina quotidiana, família, amores, profissão, perda de inspiração, no caso de artistas criadores, ou outras; como no caso dos verdadeiros alquimistas da alma a dificuldade de sair deste primeiro estágio, da nigredo. Nem todos sairão, e os tratadistas muito avisam contra

essa dificuldade, aconselhando a que se hesite, antes de embarcar em tais aventura. A alma é um precipício,ou uma água profunda, há que estar preparado antes do vôo sem asas, ou do mergulho sem garrafa de oxigénio. Voltando ao negro. José Jorge de Carvalho, cuja obra, por estar em português, tornará estas matérias de acesso mais fácil aos meus leitores de Portugal ou do Brasil, escreve o seguinte: "Nigredo-

o

mesmo

que

opus

nigrum;

obra

em

negro,primeiro estágio da opus alquímica: o composto da matéria prima é submetido às operações e aodrece, assumido o negrume característico. Também designada por putrafactio (putrefacção) caput corvi ( cabeça de corvo), ou cabeça de morto,ou ainda negro mais negro que o negro. Quando alquimista se depara com a nigredo, sabe que a obra não tarda a realizar-se". (

in

O

Livro

Mudo

da

Alquimia,

Ensaio

Introdutório,Comentários e Notas por José Jorge de Carvalho, ed Attar, São Paulo, 1995). No dicionário de Dom Pernety, alquimista do século XVIII, o Negro mais negro do que o Negro é definido, como ele gosta de fazer, pelo recurso à memória das fábulas antigas. E por aí se vê como estas matérias pertencem de facto,

como

Jung

sublinha,

ao

nosso

imaginário

arquetípico, oriundo do inconsciente colectivo e não de qualquer memória individual própria. A matéria colectiva é comum à espécie, e é desse ponto de vista que melhor pode ser abordada. Citando Dom Pernety: "Nas fábulas o negro indica sempre essa putrefacção, tal como o luto, a tristeza, muitas vezes a morte.Thétis, indo apresentar-se a Júpiter para pedir que protegesse Aquiles,

foi vestida com um trajo mais negro do que o negro, como diz Homero. Quando Iris se foi encontrar com ela a mando de Jupiter,...encontrou-a vestida de negro no fundo da sua gruta marinha. Esta putrefacção é sempre indicada por algo de negro nas obras dos Filósofos. Tanto é a cabeça do corvo como o vestido tenebroso, o melro de João, ou as trevas; tanto é a noite como o eclipse do sol e da lua, o horror do túmulo, o inferno ou a morte. Chamam ainda à matéria negra da obra 'o seu chumbo, o seu Saturno, a sua cabeça de Mouro...Chama-lhe ainda a chave da obra, e o primeiro sinal, como diz Flamel, pois se não vier o negro não virá o branco, e será necessário recomeçar". Pela variedade das designações e das imagens que sugerem se pode ver como serão variadas, no caso das interpretações dos sonhos, ou antes disso na criação poética em que as imagens surgem (sem que se saiba muito bem porquê) que tudo, no nosso imaginário, e desde sempre, tem raiz e razão, ainda que possa estar oculta. O

psicólogo

alquimista

saberá

onde

encontrar

fundamento. Não é por acaso (nada é por acaso, mas aqui entraríamos num outro conceito, de que não me vou ocupar, de sincronicidade) Melancolia,

tem

que

a

célebre

desafiado

o

gravura tempo

e

de os

Durer, olhares

interpretativos. Está lá o negro, como está lá a Pedra da alma, que tem de ser polida (sublimada). E o Anjo (andrógino?) parece estar cansado pela demora. Jung cita, no tratado de Psicologia e Alquimia, o exemplo de um clérigo que nas suas orações pede a Deus: Horridas nostrae mentis purga tenebras,accende lumen sensibus! o mesmo que faria um filósofo hermético, na nigredo da sua Obra. O caminho que ambos procuram é o da iluminação que permite o conhecimento de si mesmo (processo de individuação, na terminologia Junguiana) do mundo e de

Deus, na ambição alquímica, no fundo mística mais do que filosófica. Antes

de

continuar,

remeto

o

leitor

para

outros

posts antigos, deste blog, em que dou como alguns exemplos de nigredo textos de Fernando Pessoa, talvez, além de Antero de Quental, o poeta que mais viveu e sofreu de melancolia permanente, sem encontrar a luz da transformação que desejava. Em breve falarei do seu Fausto, exemplo maior de que ainda não me ocupei.

posted by Yvette Centeno at 12:38 PM 1 comments

Saturday, January 10, 2009

Georg von Welling

Pela primeira vez acessível a um público alargado, em tradução inglesa, esta obra que foi a fonte principal dos conhecimentos ocultistas de Goethe.

Aqui se inspirou para muitos dos assuntos que o interessaram

ao

longo

da

vida,

e

o

ajudaram

a

caracterizar os seu heróis, como foi o caso de Fausto, e do seu discípulo Wagner, na primeira e na segunda partes da tragédia ( não esqueçamos que é este Wagner, de início algo simplório, quem acaba por conseguir fazer, no laboratório, o Homunculus, o ser híbrido, andrógino, que o conduzirá ao Belo eterno, na segunda noite de Walpurgis, como uma espécie de antecipação do Fausto redimido por Margarida, já no fim): o Homunculus aspirando a ser ( ser vivo, material) a alma de Fausto aspirando à sublimação espiritual etérea. A obra de von Welling contém um pouco de toda a sabedoria que se buscava ao tempo de Goethe e do seu século, nestas matérias mais filosóficas do que científicas, pretendendo abarcar todas as esferas do conhecimento, do mundo mineral ao vegetal, animal e humano. Nascido na Baviera em 1655, veio a falecer em Franckfurt em 1725. A sua obra está igualmente na origem das doutrinas da Golden Dawn, a Aurora Dourada, de que fez parte, entre outros, o célebre mago Crowley. A Opus Mago-Cabbalisticum está dividida em três partes, cada uma dedicada a um dos três princípios: o Sal, àcerca da criação, com uma doutrina sobre Adão e Eva e a origem da vida; o Enxofre, matéria do universo como a vemos ainda hoje; e por fim o Mercúrio, como via do profetismo, do porvir, incluindo o Apocalipse. Para este autor a alquimia era um modo de conhecimento, sobretudo do mundo material, na sua relação com o resto do universo. O alquimista contempla e interroga, pretende conhecer mais do que dominar o mundo à sua volta. Deste ponto de vista difere do herói goetheano.

http://simbologiaealquimia.blogspot.com/2009_06_01_arc hive.html

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