QUANDO VOCÊ ACHA QUE O MUNDO VAI ACABAR Evandro Daolio. Depois de mais um dia de trabalho, envolvido com pedreiros que me deixam maluco em uma obra que estou fazendo; colando alegremente azulejos tordos, fazendo paredes tortas, nivelando portas tortas, estragando granitos, quebrando vidraças, despencando e arrebentando caixas d´água, fixando vigas em lugar errado, indo embora cedo, não conseguindo fazer um buraco de ralo em um azulejo sem quebrar uns 30 antes e enfim, me deixando maluco, resolvi ligar a TV e assistir as últimas tragédias. Mas algo incrível e inusitado aconteceria em minha vida... Começou quando ouvi a notícia de que a Rússia colocou fim ao embargo da nossa carne. Pensei: —Bom... Muito bom... Logo em seguida o jornal comentou de uma espécie de super-herói novo do congresso, um tal de Severino, que ele tinha voltado atrás em sua decisão ridícula de subir ainda mais o altíssimo e absurdo salário dos deputados. Eu havia escutado sobre isso de manhã no rádio e fiquei revoltado, xingando sozinho, no trânsito. Mas pelo que vi, não somente eu fiquei inconformado. Eles receberam um turbilhão de mails revoltados no congresso. Ou seja, notaram que não agradariam muito uma população já cansada dessas palhaçadas e resolveram ficar quietinhos, quietinhos... pelo menos naquele dia (sei que vão tentar por outros meios). Pensei: —Bom... Muito bom... Aí vieram os comerciais e fiquei esperando as notícias ruins. O jornal volta e aparece um fiscal da prefeitura em uma fila de banco em Salvador. Aguardou 15 minutos olhando no relógio, saiu da fila e multou a agência em R$ 200,00. Na próxima, fecha a agência. Isso porque lá (e em breve isso vai se alastrar pois já ouvi muito gente comentando que gostou da idéia), foi aprovada uma lei que ninguém pode ficar mais de 15 minutos na fila do banco. Resumindo: que os banco contratem mais gente. É uma vergonha você ir ao banco, com o lucro que eles têm, e ver cinco ou seis caixas vazios. Que se virem! Pensei: —Bom... Muito bom! Finalmente! Palhaços! E para completar, fim da consumação no estado de São Paulo. Não... isso não! Aí já é notícia boa demais. Logo eu que já gastei mais de dez mil reais em consumação procurando a mulher da minha vida, quebrado a cara em bares, discotecas, festas, navios, feiras, encontros às escuras e tudo mais... Isso é bom demais!!
Mais um comercial e esperei a notícia ruim. Sei lá... quem se explodiu mais uma vez no oriente, o Bush fazendo arte, tudo como sempre. “Aprovado pelo congresso o uso das célulastronco... Severino... absteve-se blá...blá aprovando o uso dos trangênicos”, e no rabo do cometa tudo o que você imaginar de não-sei-oque-lá-gênicos também. O fato é que alguém esperto aproveitou-se da confusão dos deputados considerarem tudo o que acaba com “gênicos” a mesma coisa, colocando tudo na pauta para ser aprovado ao mesmo tempo. Na confusão aprovaram. Não era essa a intenção dos governantes, mas mesmo assim finalmente tiraram o Brasil da pré-história e salvarão milhares de vidas em conseqüência dessa aprovação. —Meu Deus do céu. Que bom!! Jesus, Maria, José... que bom... Mas de repente, senti um frio na barriga e o medo me assolou... Eram muitas notícias boas. E comecei sinceramente a ficar assustado... Por que tanta notícia boa? Que esquisito? Acho que está acontecendo alguma coisa errada... Abri a janela da sala e olhei para o céu. Estrelado! Em São Paulo, o céu nunca está estrelado! Conheço amigos meus que só viram estrelas em filmes. E a TV continuava... “tropas Sírias começam a se retirar do Líbano...” — Ai Jesus... Será que o mundo vai acabar? pensei comigo mesmo. Nunca, jamais assisti a um jornal que só tivesse notícia boa. Isso não podia estar acontecendo. Comerciais... Sentei-me em frente a TV e esperei minuto a minuto o jornal voltar. Achando tudo muito estranho. Será que um sinal? Não pode ser... O papa morrendo... ai... ai... Quando já estava pensando em pegar minha agenda para ligar para o pessoal e me despedir, vem a notícia... “Dois trens se chocam não sei lá aonde...” — Ufaaaaaaaaaaaaa! — gritei de joelhos e com os braços para cima. Desabei aliviado no sofá... De repente meu irmão telefonou e berra arrancando os cabelos: —Você viu onde os retardados cimentaram a viga da loja! Vai cedo ver amanhããã! Desliguei o telefone e pensei: — Ahhhh bom. Tudo de volta ao normal. E fui dormir feliz da vida. Que alívio! Quase achei que o mundo fosse acabar.
Politicamente Equivocado
De Henrique Szklo Não corra o risco de ofender alguém inadvertidamente. Com este pequeno dicionário eufemístico você estará sempre respeitando o próximo. Analfabeto Indivíduo carente de A a Z. Baixinho Cidadão subdimensionado. Bicha Uma mulher querendo sair e vários homens querendo entrar. Brocha Indivíduo com reduzido fluxo sanguíneo. Brega Pessoa com tremendo bom gosto mas que disfarça muito bem. Burro Portador de inteligência incubada. Careca Homem destituído de proteção encefálica. Chato Indivíduo cuja presença provoca ausência. Corno Homem de uma mulher de muitos homens. Contrabandista Comerciante que aceita encomendas para viagem. Covarde Aquele que não teme a fuga. Egoísta Aquele que até pensaria nos outros... se os outros existissem. Estelionatário Aquele que nunca paga pra ver. Estuprador Praticante de sexo não-autorizado. Feio Elemento possuidor de beleza impenetrável. Gago Pessoa dotada de eco interior. Gordo
Indivíduo hipercircunferenciado. Grosso Aquele que usa os intestinos para falar. Impaciente Aquele que só pensa no próximo. Incompetente Profissional que só erra quando tenta fazer. Invejoso Sujeito que não tem tudo o que ama, mas ama tudo o que os outros têm. Ladrão Aquele que pega emprestado para sempre. Mau-caráter Aquele que para subir, desce. Mentiroso Pessoa que não acredita na verdade. Narigudo Sujeito ávido por oxigênio. Pobre Indivíduo abandonado pelo dinheiro. Perverso Aquele que curte o mau pela raiz. Pessimista Aquele que tem sempre um problema para cada tipo de solução. Pretensioso Aquele que tem idéias sempre geniais, mas nunca originais. Puxa-saco Pessoa perseguida pela sorte de trabalhar sempre com pessoas maravilhosas. Sadomasoquista Aquele que pede para bater antes de entrar. Terrorista Pessoa que explode fácil. Trombadão Elemento cuja presença causa enorme impacto. Trombadinha Mocinho bandido. Vagabundo Elemento que só faz trabalho forçado.
"NÃO SEI" MAX GEHRINGER
Se vc ainda não sabe qual é a sua verdadeira vocação, imagine a seguinte cena: Você está olhando pela janela, não há nada de especial no céu, somente algumas nuvens aqui e ali... aí chega alguém que também não tem nada para fazer e pergunta: - Será que vai chover hoje?
Se você responder "com certeza"...a sua área é Vendas: - o pessoal de Vendas é o único que sempre tem certeza de tudo. Se a resposta for "sei lá, estou pensando em outra coisa"... então a sua área é Marketing: - o pessoal de Marketing está sempre pensando no que os outros não estão pensando. Se você responder "sim há uma boa probabilidade"...você é da área de Engenharia: - o pessoal da Engenharia está sempre disposto a transformar o universo em números. Se a resposta for "depende"...você nasceu para Recursos Humanos: - uma área em que qualquer fato sempre estará na dependência de outros fatos. Se você responder "ah, a meteorologia diz que não"...você é da área de Contabilidade: - o pessoal da Contabilidade sempre confia mais nos dados no que nos próprios olhos. Se a resposta for "sei lá, mas por via das dúvidas eu trouxe um guarda-chuvas": - então seu lugar é na área Financeira que deve estar sempre bem preparada para qualquer virada de tempo. Agora, se você responder "não sei" há uma boa chance que você tenha uma carreira de sucesso e acabe chegando à diretoria da empresa. De cada 100 pessoas, só uma tem a coragem de responder "não sei" quando não sabe. Os outros 99 sempre acham que precisam ter uma resposta pronta, seja ela qual for, para qualquer situação. "Não sei", é sempre uma resposta que economiza o tempo de todo mundo e pré dispõe os envolvidos a conseguir dados mais concretos antes de tomar uma decisão. Parece simples, mas responder "não sei" é uma das coisas mais difíceis de se aprender na vida corporativa. Por quê? Eu sinceramente "não sei".
VAMOS ENROLAR A "LÍNGUA" FÁCIL 1. Xuxa! A Sasha fez xixi no chão da sala. 2. O rato roeu a roupa do rei de Roma. A rainha com raiva resolveu remendar.
3. Três pratos de trigo para três tigres tristes. 4. O original nunca se desoriginou e nem nunca se desoriginalizará. 5. Qual é o doce que é mais doce que o doce de batata doce? Respondi que o doce que é mais doce que o doce de batata doce é o doce que é feito com o doce do doce de batata doce. MÉDIO 1. Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se somos sábios, sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores. 2. O tempo perguntou pro tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem. 3. Embaixo da pia tem um pinto que pia, quanto mais a pia pinga mais o pinto pia! 4. A sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia que o sábio não sabia que o sabiá não sabia que a sábia não sabia que o sabiá sabia assobiar. DIFÍCIL 1. Num ninho de mafagafos, cinco mafagafinhos há! Quem desmafagafizá-los, um bom desmafagafizador será. 2. O desinquivincavacador das caravelarias desinquivincavacaria as cavidades que deveriam ser desinquivincavacadas. 3. Perlustrando patética petição produzida pela postulante, prevemos possibilidade para pervencê-la porquanto perecem pressupostos primários permissíveis para propugnar pelo presente pleito pois prejulgamos pugna pretárita perfeitíssima. 4. Não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista, ornitorrinco com ornitologista, ornitologista com otorrinolaringologista, porque ornitorrinco, é ornitorrinco, ornitologista, é ornitologista, e otorrinolaringologista é otorrinolaringologista. 5. Disseram que na minha rua tem paralelepípedo feito de paralelogramos. Seis paralelogramos tem um paralelepípedo. Mil paralelepípedos tem uma paralelepipedovia. Uma paralelepipedovia tem mil paralelogramos. Então uma paralelepipedovia é uma paralelogramolândia?
RUÍDOS Você pode controlar a maioria dos ruídos do seu corpo (o espirro, o arroto, você sabe do que estou falando) mesmo que isto lhe custe algum suplicio. Mas existe um ruído absolutamente incontrolável, que nada reprime ou disfarça. É aquele barulho que faz a barriga quando menos os
que estão à sua volta ou você esperam. Geralmente - é fatal - no momento de maior silêncio no recinto. Isto já aconteceu, claro. Você está, digamos, numa sala de espera, naquele convívio forçado e constrangedor de uma sala de espera lotada, e de repente sua barriga faz "grwol". Depois "grl, grl" e logo em seguida "brliadbm". E quando tudo parece terminado, vem um Post Scriptum: "Piauiiim..." Você olha em volta sem mexer a cabeça. Será que alguém ouviu? Claro que ouviram. Na rua devem ter ouvido. O que fazer? Você pode ficar impassível, olhando para um ponto qualquer no infinito. Não foi a sua. E mesmo que tenha sido, o que tem? Pode acontecer com qualquer um. Você não tem que dar satisfações a ninguém. Só espera que o fato se perca no esquecimento. Mas sua barriga repete a seqüência. "Grwol". Depois "grl, grl". Depois "brliadbm". Silencio. Suspense. Finalmente: "Piauiiim... "Você pode sorrir para todos e sacudir a cabeça, resignado, como que desistiu de disciplinar uma criança rebelde. "Essas barrigas...". Os outros aceitarão seu convite para uma confraternização bem humorada em torno do que é, afinal, um incidente gástrico, e portanto comum, banal e profundamente humano. A desvantagem deste procedimento é que ele só dará certo uma vez. Se sua barriga voltar a manifestar, você não contará mais com a boa vontade unânime dos circundantes. Alguns farão cara de "Foi divertido, mas agora chega".E não há nada que você possa fazer. Um terceiro caminho é, no momento do barulho, olhar para a pessoa do lado com um misto de surpresa e indignação. É uma tática calhorda, mas você transferirá as suspeitas. Ou então você só tem uma saída: assumir a barriga e seu repertório. Foi a minha, sim, e tenho orgulho dela! Luis Fernando Veríssimo
RELANÇANDO MAMÃE Ricardo Freire Em primeiro lugar, Mamãe gostaria de agradecer a presença de todos nesta 1a Convenção Familiar. Mamãe sabe como foi difícil abrir um espaço nas agendas de cada um de vocês.
Papai tinha uma lavagem de carro praticamente inadiável, Júnior já tinha marcado de se trancar no quarto, Carol estava para receber pelo menos três telefonemas importantíssimos de uma hora e meia cada um. Mamãe está comovida. Muito obrigada. Bem. Conforme Mamãe já tinha mais ou menos antecipado, esta convenção é para comunicar ao público interno - Papai, Júnior e Carol - todas as modificações nos produtos e serviços da linha Mamãe. Como vocês sabem, a última vez que Mamãe passou por reformulações foi há 14 anos, com o nascimento do Júnior. De lá para cá, os hábitos e costumes, o panorama cultural, a economia e o mercado passaram por transformações radicais. Mamãe precisa acompanhar a evolução dos tempos, sob pena de ver sua marca desvalorizada. Para começar, Mamãe vai mudar a embalagem. Mamãe sabe que essa é uma decisão polêmica, mas, acreditem, é o que deve ser feito. Mamãe sai desta convenção direto para um spa, e de lá para uma clínica de cirurgia plástica. Nada assim tão radical. Vai haver pouquíssimas alterações de rótulo, vocês vão ver. Mamãe vai continuar com praticamente o mesmo formato, só que com linhas mais retas em alguns lugares e linhas mais curvas em outros. Calma, Papai. Mamãe já captou recursos no mercado. Mamãe vai ser patrocinada por uma nova marca de comida congelada. Lei Rouanet, porque Mamãe também é cultura. Junto com o lançamento da nova embalagem de Mamãe, no entanto, acontecerá o movimento mais arriscado deste plano de reposicionamento. Sinto informar, mas Mamãe vai tirar do mercado o produto Supermãe. Não, não, não adianta reclamar. Supermãe já deu o que tinha de dar. Trata-se de um produto anacrônico e superado, antieconômico e difícil de fabricar. Mamãe sabe que o fim da Supermãe vai aumentar a demanda pela linha Vovó, que disputa o mesmo segmento. Paciência. Você não pode atender todos os públicos o tempo todo. No lugar da Supermãe, Mamãe vai lançar (queriam que eu dissesse 'vai estar lançando', mas eu me recuso) novas linhas de produtos mais adequados à realidade de mercado. Vocês vão poder consumir Mamãe nas versões Active (executiva e profissional), Light (com baixos teores de pegação de pé), Classic (rígida e orientadora), Italian (superprotetora) e Do-It-Yourself (viremse, fui passear no shopping). Mas uma de cada vez, sem misturar. Ah, sim: Mamãe detesta esses nomes em inglês, mas me disseram que se não for assim não vende. Mamãe gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar seus novos canais de comunicação. De hoje em diante, em vez de sair gritando pela casa, vocês vão poder ligar para o SAC-Mamãe, um 0300 que dá direto no meu celular (apenas 27 centavos por minuto, mais impostos). Mamãe também aceita sugestões e críticas no endereço
[email protected]. Mais uma vez Mamãe agradece a presença e a atenção de todos. Aguardem: vem aí a Nova Mamãe!