Textos

  • December 2019
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  • Words: 1,118
  • Pages: 3
Completa os textos com as palavras dos quadros rente à-vontade comichão

récitas

mal

madeixas

canastrões esguias plateia desapontamento negrume

Agora entro, sento-me de perna cruzada, puxo um cigarro, e à pergunta de sempre respondo soprando o fumo: - Só a barba. Ora é de há pouco este meu diante do Mestre Ilídio Finezas. Lembro-me muito bem de como tudo se passava. Minha mãe tinha de fingir-se zangada. Eu saía de casa, à parede, sentindo que aquilo era pior que ir para a escola. Mestre Finezas puxava um banquinho para o meio da loja e enrolava-me numa enorme toalha. So me ficava a cabeça de fora. Como a tempo corria devagar! A tesoura tinia e cortava junto das minhas orelhas. Eu não podia mexer-me, não podia bocejar sequer. "Está quieto, menino", repetia Mestre Finezas segurando-me a cabeça entre as pontas duras dos dedos: "Assim, quieto!" Os pedacitos de cabelo espalhados pelo pescoço, pela cara, faziam e não me era permitido coçar. Por entre as caídas para os olhos via-lhe, no espelho, as pernas , o carão severo de magro, o corpo alto, curvado. Via-lhe os braços compridos, arqueados como duas garras sobre a minha cabeça. Lembrava uma aranha. E eu - sumido na toalha, tolhido numa posição tão incómoda que todo a corpo me doía - era para ali uma pobre criatura indefesa nas mãos de Mestre Ilídio Finezas. Nesse tempo tinha-lhe medo. Medo e admiração. O medo resultava do que acabo de contar. A admiração vinha das dos amadores dramáticos da vila. Era pelo Inverno. Jantávamos à pressa e nessas noites minha mãe penteava-me com cuidado. Calçava uns sapatos rebrilhantes e umas peúgas de seda que me enregelavam os pés. Saíamos. E, no da noite que afogava as ruas da vila, eu conhecia pela voz famílias que caminhavam na nossa frente e outras que vinham para trás. Depois, ao entrar no teatro, sentia-me perplexo no meio de tanta luz e gente silenciosa. Mas todos pareciam corados de satisfação. Daí a pouco, entrava num mundo diferente. Que coisas estranhas aconteciam! Ninguém ali falava como eu ouvia cá fora. E mesmo quando calados tinham outro aspecto; constantemente a mexerem os braços. Mestre Finezas era o que mais se destacava. E nunca, que me recorde, o pano desceu, no último acto, com Mestre Finezas ainda vivo. Quase sempre morria quando a cortina principiava a descer e, na , as senhoras soluçavam alto. Aquelas desgraças aconteciam-lhe porque era justo e tomava, de gosto, o partido dos fracos. E, para que os fracos vencessem, Mestre Finezas não tinha medo de nada nem de ninguém. Heroicamente, de peito aberto, e com grandes falas, ia ao encontro da morte. Eu arrepiava-me todo. Uma noite Mestre Finezas morreu logo no primeiro acto. Foi um . Todos criticaram pelo corredor, no intervalo. "O melhor artista morrer entra em cena! ... Não está certo! Agora vamos gramar quatro actos só com !", dizia o doutor delegado a meu pai. Mas a cena tinha sido tão viva e a sua morte tão notada durante o resto do espectáculo que, no outro dia, me surpreendi ao vê-lo caminhando em direcção à loja. Ora havia também um outro motivo para a minha admiração. Era o violino. Mestre Finezas, quando não tinha fregueses, o que era frequente durante a maior parte do dia, tocava violino. E, muita vez, aconteceu eu abandonar os companheiros e os jogos e quedar-me, suspenso, a ouvi-lo, de longe. Era bem bonito. Uma melodia suave saía da loja e enchia a vila de tristeza. Passaram anos. Um dia, parti para os estudos. Voltei homem. Mestre Finezas é ainda a mesma figura alta e seca. Somente tem os cabelos todos brancos. Manuel da Fonseca, “Mestre Finezas”, in Aldeia Nova

espingarda (x2) pé (x2) cabaça (x2) patusca (x2) bornal(x2) mansinho maticar mato ror aparato

carvalho cumes broa melro mantimentos

Lembro-me muito bem. Foi no monte. Meu avô ressonava à sombra dum , com a de andar aos coelhos encostada ao tronco morno e os cães a vaguear ao redor, impacientes, frustradíssimos. Isso do meu avô andar aos coelhos era uma conversa, era mesmo uma conversa. Que meu avô saía cedo lá de casa com a ao ombro e um de cães a ladrar festivamente, sim, é verdade; mas que regressasse com coelhos no cinturão... Nunca caçou nada, nem um . Caçar coelhos!... Creio firmemente que, do meio duma ponte, meu avo seria incapaz de acertar no rio. Caçar coelhos! ... Meu avô apreciava só o daquilo, o pumm-pum dos tiros perdidos, o au-au dos cães defraudados. Eu acompanhava-o sempre. Competia-me levar os , a saber: o com o presunto e a ea do tinto. Aquilo agradava-me, como me agradava tropeçar no , como me agradava ouvir o dos cães, como me agradava rolar olhos ávidos pelo mundo, como me agradava discutir com meu avô a possibilidade da existência de alma nos grilos. Poeta - aí está o que eu era, um poeta de nove anos; poetas - aí está, afinal, o que nós éramos. Enquanto o poeta de sessenta e quatro anos ressonava sossegadamente à sombra duma árvore, que fazia o dos nove? Afastava-se de , ante , já sem o ea (aliás vazios ...), e ei-lo a demandar alvoroçadamente os onde o horizonte é mais vasto e o vento mais impetuoso. Altino de Tojal, “Patrícia”, in Os Putos

redemoinhos

burburinho

fanfarrão

encorpado

Era um homem , escuro, cabelo em e um negro bigode de arrogância fadista, desenhado inspiradamente pelo barbeiro lá do bairro. Sentara-se com ar num dos bancos da sala, empurrando as humildes camponesas que tinham atravessado os cerros e as planícies do País para nos ouvir, a nós, magos da cidade, senhores de misteriosa sabedoria, apenas porque vivíamos numa terra em que tudo é excepcional, desde o grandioso das ruas até à suficiência e mediocridade. Àquela hora, o imenso átrio onde se apinhavam os doentes estava repleto. Fernando Namora. "O Rufia", in Retalhos da vida de um medico.

garotão penugento zinco estribo

chancas medidas

esquadra malandrete macaco estatelado empoleirado aloirado

( ... ) aquele de ontem à tarde encheu-me as . Era um engraxador , com 12 anos talvez, fato de roto nos joelhos, olhos de , pescoço e enormes, que um polícia surpreendera num eléctrico, em riscos de cair no basalto. O guarda, cara de boa pessoa, disfarçado de voz de trovão, agarrou-o pelo braço: - Seu ! Venha já comigo para a . Molemente, com a caixa do ofício ao ombro, o engraxador desceu do e, com um desafio mudo nos olhos de metal, deixou-se levar sem resistência. Logo correu muita gente faminta de dor do próximo. Os passageiros do eléctrico ergueramse ávidos de Lágrima.

José Gomes Ferreira. "O Graxa", in O Mundo dos Outros.

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