CARTAS DE GUERRA Um soldado vendo que a censura lhe cortava quase tudo o que dizia nas suas longas missivas para a mulher, resolveu escrever-lhe uma carta nos seguintes termos: "Em Campanha, França 1918 Querida Zéfa Como muitas vezes não tenho tempo para te escrever. venho alembrar-te, que d'aqui por diente, quando a carta que te mandar, levar uma crus, quer dizer que estou bem graças a Deus Nosso Senhor; duas que estou ferido; três que já tive alta e quatro que estiquei as canelas. Teu Francisco" Os soldados portugueses (na sua maioria semi-analfabetos) ficaram conhecidos por "aprender francês em três horas", sendo que "pas compris" era a primeira expressão a utilizar para logo desprezarem os frascos de pickles ingleses que usavam como moeda de troca, surpreenderem-se perante a visão de uma cerveja, algo que desconheciam, e desdenharem a "vaca metida dentro da lata", o afamado "cornedbeef" que constituía a ração de todos os dias. Assim, muitos deles dedicaram-se a enviar orgulhosas cartas à família dando mostras das novidades através dos recentes conhecimentos linguísticos. Esta, guardou-a um censor: France, 2-2-1918 Ma chère frère Te participe que muá parlè le franciú. Há bocu mademuaseles joli. Mangê tujur corno-bife ê une cigarrete à jour. Camones tré simpatiques, muá achetè a um anglé um par de palhetes até ô genú aveque cordos è mua donê al ui une garrafe de picles. Muá éme agore um mademuasele ê apré la guerre fini partir portugal aveque muá fiancé. Les mules du Parque bone santé. Bocú de sovenires de ta frére José Papagaio En franciú Josefe Pero-quê Sold. 27 Parque do B.I. do C.E.P. P.S. Desculpa ir tan poco, mas esta foi escrita à preça." Fonte: Revista Indy
Armistício da I Guerra Mundial "(...) em 11 de Novembro de 1918, o clarim do armistício anunciou o fim da primeira guerra mundial. (...) O princípio das nacionalidades conheceu a sua hora de triunfo tão impressionante como o das tropas que no Ocidente, sob o comando supremo do marechal Foch, haviam varrido o orgulhoso exército alemão. O Kaiser, símbolo do imperialismo, fugira para a Holanda e escapara ao julgamento que Loyd George lhe prometera e devia ser seguido de enforcamento que se transformou, por fim, numa velhice tranquila de rachador de lenha nas horas vagas. A carta da Europa ficara irreconhecível. (...) O espectáculo das cidades destruídas, das herdades incendiadas, das aldeias saqueadas, estava patente no território da França que fora, mais uma vez, campo de batalha para dirimir a rivalidade das grandes potências. (...) Todos os testemunhos atestam a explosão de louca alegria com que foi recebida a notícia de armistício de 1918. Nas diversas capitais europeias, os sentimentos das populações, longos anos represados, exteriorizaram-se sem peias. Em Paris, o espectáculo teve proporções de loucura." Fonte: Vida Mundial, nº 1483, 10 de Novembro 1967.
Portugal na 1.ª Guerra Mundial "A teoria tradicional, cuja genealogia remonta à primeira linha do discurso legitimador da versão política oficial da época, desenvolve-se, depois, na historiografia de entre guerras e prolonga-se em certas correntes até aos nossos dias. A sua explicação baseia-se, essencialmente, na tese colonial: Portugal entrou na guerra para salvar as colónias. Não há a esse respeito qualquer dúvida. As colónias portuguesas em África eram objecto de interesse económico e estratégico por parte das grandes potências: a França, a Inglaterra e a Alemanha. Mas, mais do que isso, eram susceptíveis de funcionar, e funcionaram, realmente e mais do que uma vez, como mecanismo de compensação e moeda de troca na balança de poderes do equilíbrio europeu. Por duas vezes antes da guerra, em 1898 e em 1912-13, a Inglaterra e a Alemanha negociaram, entre si, secretamente a partilha das colónias portuguesas. Durante a guerra, várias potências se interessaram pelo destino eventual das colónias portuguesas: a França, a Bélgica e a própria Itália. Mas, como é obvio, mais do que todas elas, a Alemanha e a Inglaterra: a primeira, que as atacou directa e militarmente e sublevou as populações indígenas contra a soberania portuguesa; a segunda, que utilizou estrategicamente os portos e o território para apoio logístico, desembarque e passagem de tropas para condução da guerra no teatro africano. Mas, para além disso, a resistência inglesa à entrada de Portugal na guerra não foi alheia à vontade política do Gabinete britânico não só de evitar eventuais pretensões territoriais portuguesas no quadro colonial do pós-guerra, mas sobretudo evitar quaisquer compromissos e guardar «mão-livre» sobre essas mesmas colónias, para poder jogá-las sobre a mesa de negociações, caso o desfecho do conflito a isso obrigasse." Fonte: História do Século XX, Alfa.