ESCOLA BÁSICA 2,3 DE AZEITÃO CURSO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS – EFA NS
Sociedade, Tecnologia e Ciência (STC) Unidade de Formação de Curta Duração (UFCD) - 3: SAÚDE - Comportamentos e instituições.
Texto de Apoio 8
Edward Jenner e a Descoberta da Vacina da Varíola A descoberta da vacinação como meio efectivo de prevenir a emergência de doenças graves, como a varíola, inteiramente erradicada a nível mundial há já alguns anos é um bom exemplo do poder do chamado método hipotético hipotético-dedutivo, dedutivo, que alguns chegam a identificar como a principal metodologia científica. Esquematicamente, o método consiste em: Fazer azer observações; Organizar as observações em hipóteses; Testar estar essas hipóteses com observações ulteriores; Modificar as hipóteses, se assim se fizer necessário; necessário Fazer previsões baseadas nas hipóteses originais ou nas suas versões modificadas; Projectar e efectuar experiências com o objectivo de testar as previsões.
Edward Jenner (1741 - 1823), médico dico e naturalista inglês, imortalizado pela sua descoberta da vacinação contra a varíola, foi autor de várias e importantes contribuições médicas, como a de que o endurecimento das artérias estava relacionado com ataques cardíacos.
Jenner desenvolveu a sua prática médica no interior da Inglaterra (recusou-se (recusou a ficar em Londres, justamente para poder dar seguimento as suas ideias), onde teve oportunidade de lidar com pessoas afectadas por uma doença benigna, transmitida pelas vacas, mas quee apresentava algumas semelhanças com a varíola varíola.
Acreditava-se, naquela região, que quem tivesse contraído a tal doença passava a ficar imune à varíola, uma das mais temidas daqueles tempos. Apesar dessa crença popular, havia casos conhecidos de algumas pessoas que haviam contraído a varíola, mesmo após terem sido infectadas por aquela doença. Daí que a medicina da época não levasse em conta aquela crença popular. Apesar disso, Jenner decidiu contrariar os seus colegas e investigar a fundo aquela questão.
A doença das vacas era transmitida através do manuseio destas últimas, como, por exemplo, pessoas que se dedicassem à ordenha e que tivessem cortes ou arranhões nas mãos apareciam com bolhas nas mãos, alem de alguma febre e dores generalizadas, todos esses sintomas desaparecendo por completo após apenas alguns dias. Essa doença surgia, por vezes, sob a forma epidérmica em vacarias dedicadas a produção de leite, podendo desaparecer inteiramente durante vários anos seguidos. Por outro lado, a varíola era uma doença desse tempo, minada pelo mundo inteiro, altamente contagiosa e frequentemente fatal e muitas das vítimas não fatais ficavam severamente desfiguradas, cegas e/ou loucas. No século anterior ao tralho de Jenner, a varíola havia atingido fatalmente mais de 20 milhões de vítimas só na Europa, sendo que, na Inglaterra, quase que um terço das crianças com idades inferiores a três anos sucumbiam à chamada “Morte Vermelha”.
A unica medida preventiva conhecida à época consistia na inoculação proposital, utilizando material recolhido de pústulas activas da varíola, prática essa que, podendo dar lugar a uma forma menos severa da doença e a uma futura imunidade a mesma, frequentemente, produzia um caso severo de infecção, com todas as suas terríveis consequências. Pior ainda, mesmo que a pessoas inoculada acabasse por sair-se bem, ela facilmente constituía um vector da doença, mas agora com toda a sua virulência. Aliás, na Rússia, uma epidemia de varíola havia tido inicio dessa forma.
Jenner começou a investigar sistematicamente a tal doença das vacas - coisa que ninguém fizera ate então - decidindo, desde logo, efectuar cuidadosas observações e manter anotações pormenorizadas das mesmas. Durante anos seguidos, Jenner continuou a sua pesquisa, através da sua observação directa, como de entrevistas com pessoas afectadas no passado. Começou, também, a fazer um estudo sistemático tanto daqueles casos nos quais as pessoas haviam adquirido imunidade à varíola, após contraírem a doença benigna, como daqueles outros em que isso não se dera. É claro que a Medicina da época acreditava ser pura perda de tempo tentar associar, seja de que modo fosse, a doença das vacas com a varíola.
Através das suas cuidadosas anotações, Jenner veio a perceber que diferentes sintomas apareciam em diferentes vítimas da doença das vacas, ou seja, que esta não admitia apenas uma única manifestação fixa, fosse em pessoas, fosse em vacas. Jenner concluiu que o que havia, desde sempre, sido identificado como uma única doença eram, de facto, mais do que uma. Essa primeira conclusão permitiu-lhe, de imediato, resolver o enigma com que defrontara durante anos, sendo que apenas uma daquelas doenças conferia imunidade à varíola. A partir dessa ideia, Jenner partiu para a distinção dos sintomas das diversas versões, coisa que as suas minuciosas observações de cinco anos lhe permitiram fazer, chegando ele a identificar qual a versão que conferia imunidade à varíola.
Surgiu, então, uma situação que parecia vir contrariar, por completo, todas as suas conclusões. Numa das vacarias apareceu um surto da doença que Jenner havia identificado como conferindo imunidade à varíola, tendo alguns dos trabalhadores apanhado essa doença, mesmo após terem sido infectadas com a tal versão benigna. Jenner investiu mais alguns anos, tentando perceber porque, em alguns casos, a tal versão não conferia imunidade, que era conseguida em vários outros casos. É, então, que Jenner conseguiu o salto definitivo. Observando duas vacas em diferentes estágios da doença ele se deu conta do factor que lhe escapara durante tanto tempo: a doença e, em particular, o aparecimento das pústulas, intensificava-se durante alguns poucos dias, passando, a partir dai, a declinar. Apesar de se ter apercebido disso há muito tempo, Jenner levantou uma nova hipótese dinâmica, quer dizer, entra em jogo o factor tempo: a virulência da matéria que punha as pústulas, responsável pela transmissão da doença, deveria crescer até um máximo, a partir do qual decrescia até desaparecer e essa matéria só conferia imunidade contra a varíola quando a sua virulência estivesse próxima do seu máximo. Compulsando as suas anotações, Jenner verificou que elas eram consistentes com a sua nova hipótese, pois todos os trabalhadores atingidos pela varíola haviam sido infectados durante a fase inicial da doença das vacas. Jenner deu, então, início a testes que pudessem verificar as suas novas ideias dinâmicas. Em Maio de 1796, ele extraiu material de uma pústula de uma das mãos de uma trabalhadora de uma vacaria e que havia contraído a doença na sua pior fase, condições essas ideais para a experiencia de Jenner, que consistiu em infectar um rapaz de nome James Phipps. Após a doença ter seguido o seu curso, Jenner inoculou-o com matéria infecciosa de varíola em Julho daquele ano e esperou pelo desenrolar dos acontecimentos. James Phipps não desenvolveu quaisquer sintomas de varíola. A experiencia fora bem sucedida.
A historia de Jenner não terminou aí, porem, tendo-lhe sido extraordinariamente difícil convencer a comunidade medica e o público em geral que o seu método de vacinação (do latim vacina, f. de vaccinus, "de vaca") efectivamente conferia imunidade contra a varíola. O caso complicou-se devido à interferência de pessoas inescrupulosas e incompetentes, chegando a haver gente que deu início a uma epidemia por ter lançado mão de processos inteiramente errados. Jenner conseguiu, eventualmente, demonstrar que a sua vacina, além de eficaz, era segura, chegando, ainda, em vida, a receber inúmeros prémios e distinções.
Um estudo iniciado na Tailândia em 2000 (Science 299, 1278 (2000)) vem-nos trazer um exemplo recente de uma associação de duas doenças, uma delas epidémica e fatal, a SIDA, e a outra uma doença localizada geograficamente e usualmente não excessivamente perigosa, o tifo arbustivo (scrub typhus), associação que poderá vir a dar lugar a produção de uma vacina contra o HIV1. Tem-se, pois, aqui, um outro exemplo recente de uma associação de patógenos - um vírus e um bacilo - que faz com que a forma mais perigosa seja atenuada pela outra, o que poderá, eventualmente a produção de vacinas contra a primeira.
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Dados preliminares apontam para anti-corpos contra aquele tipo de febre tifóide, que, por razões até agora desconhecidas, parecem também actuar contra o HIV.