Terra_da_gente

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para a Europa. Mas na exportação para a Ásia não resistiram: embarcadas por mais tempo em navios, não isolavam a umidade do ar e esta empedrava o produto. O enorme prejuízo obrigou a empresa a encontrar outra solução. Por enquanto, a embalagem é de polietileno comum, porém reciclável e impresso com tintas que não prejudicam o meio ambiente. A experiência amarga serviu de alerta sobre as dificuldades colocadas diante da empresa na busca pela embalagem sustentável. Mas não foi um ponto final. Até porque esta é uma forte tendência seguida por indústrias em todo o mundo. Apesar de a maioria das embalagens ser descartada ao chegar às mãos do consumidor, não há como tirá-las de

TERR A DA GENTE

M

ais uma carga de açúcar orgânico chegava ao destino sem condições de consumo. O gerente de produtos da Native, Fernando Alonso, lembra a sequência de prejuízos causada pela menina dos olhos da Usina São Francisco: a embalagem que recebeu um dos maiores prêmios de sustentabilidade da indústria paulista ‘naufragava’ nas viagens de exportação para a Ásia. Feita com papel-cartão e tintas biodegradáveis, era bonita pela simplicidade e transmitia a mensagem de respeito ao meio ambiente. No comércio interno, funcionou muito bem. As caixinhas receberam o prêmio Ecodesign da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No comércio internacional, suportaram até as viagens

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lixo reduzido

MANAUS

T E R R A D A G E N T E | u s o su s t en tável

A redução de 2 gramas em cada tampinha de Coca-Cola pode parecer insignificante quando vista isoladamente, mas no cômputo total do mercado brasileiro significa reduzir o uso de plástico em 240 toneladas por ano. Isso é equivalente ao material usado para produzir 120 milhões de garrafas de 2 litros, que, enfileiradas, cobririam 12.000 quilômetros, completando a distância entre todas as capitais dos Estados localizados entre Santa Catarina e Amazonas.

GAR12.00 RAF 0 km AS D am E eno s

FLORIANÓPOLIS

Plástico de cana Por enquanto, o PHB serve apenas para embalagens rígidas, como frascos de xampu, mas a expectativa é de produzir filmes flexíveis, recicláveis e biodegradáveis.

longa vida Sem poder reduzir matérias-primas, devido aos padrões rígidos de qualidade das embalagens de alimento, a Tetra Pak investiu pesado na tecnologia de reciclagem.

as v i t icia eis

v r á t n e gera t s u s em a podeconomi In

Apesar deste último ‘R’ ser motivo de muitas campanhas, no Brasil apenas 8% das embalagens descartadas voltam à indústria. O índice baixo torna o primeiro ‘R’ – reduzir

ção. Quem tem mais de 20 anos de idade recorda das primeiras embalagens plásticas de refrigerantes: tinham uma base colorida para a garrafa parar em pé. Um bom design aliado a um novo processo de moldagem eliminou esse resíduo extra e reduziu o volume de PET empregado. A evolução é contínua e mesmo detalhes quase insignificantes em uma embalagem podem representar grandes avanços no cômputo geral. Em 2008, a Coca-Cola adotou tampinhas 4 mi-

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circulação. “Os consumidores são muito numerosos e estão longe dos locais de produção”, observa Luciana Pellegrino, diretora da Associação Brasileira de Embalagens (Abre). “Cada região se especializou em um produto, que precisa estar acessível a todos. Sem uma boa embalagem isso é impossível”. E qualidade, aqui, não significa apenas proteção do conteúdo. Para não entupir os aterros, é preciso seguir à risca a regra dos 3 Rs – reduzir, reutilizar e reciclar.

a matéria-prima – ainda mais importante. Tarefa que depende de desenhos e projetos inteligentes e do desenvolvimento de materiais. Recentemente, diversos produtos adotaram embalagens de plástico biorientado. O material permite a fabricação de folhas bem finas e flexíveis com boa capacidade de proteção. Este tipo de plástico – que tem invadido as prateleiras de chocolates, biscoitos e até de sabonetes – é derivado de petróleo. Sua vantagem ambiental está na redução da espessura, que pode ser 40% menor que a do produto tradicional, reduzindo o volume final descartado. José Ricardo Roriz, presidente da Associação Brasileira de Filmes Biorientados, observa que este material se tornou viável somente com o desenvolvimento de máquinas capazes de fazer filmes cada vez mais finos em larga escala. Elas esticam as lâminas de plástico várias vezes, nos 2 sentidos, comprimento e largura (daí o nome biorientado = orientado em dois sentidos). A redução do volume de plástico é fundamental, segundo Roriz, pois é o material mais usado em embalagens no Brasil. Representa 36% do total, seguido pelo papel, metais e vidro, sendo este bem reduzido. Nos últimos 18 anos, o uso de alumínio em embalagens cresceu mais de 900%; o de plástico, 270% e o de papelão, 150%. Enquanto isso, o vidro teve um crescimento de apenas 16%. Tal índice preocupa, principalmente no setor de bebidas, pois o vidro retornável é substituído por alumínio e PET (sigla em inglês de politereftalato de estireno). Mas aí também há esforços para a redu-

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límetros mais curtas, uma redução em 2 gramas por garrafa. A implantação é gradativa, porém, até 2012, só esta medida passará a evitar a fabricação de 120 milhões de garrafas PET por ano no País. “Essa operação, que também é positiva para a economia financeira da empresa, é um sinal de como as iniciativas de sustentabilidade podem ser viáveis para o negócio”, comenta o diretor de meio ambiente da Coca-Cola, José Mauro Moraes. O tipo de material usado também é um desafio. Em especial quando se procuram fontes renováveis para produção em escala industrial. No Brasil, algumas empresas fabricam plástico derivado da cana, por enquanto, em escala experimental. Uma delas é a própria Native Produtos Orgânicos, cujo ramo principal de atuação é o de alimentos. A aposta é no PHB (polihidroxibutirato), um plástico reciclável e biodegradável processado por microorganismos. Com o trabalho das bactérias, cada 3 quilos de biomassa de cana resultam em 1 kg de plástico. O processo de produção também é limpo, os efluentes são basicamente água e matéria orgânica, esta usada como fertilizante. E a sobra de bagaço da cana é usada para produzir energia. O resultado é um plástico rígido moldável. Não dá para embalar o açúcar orgânico, por ser rígido demais, mas serve para frascos de cosméticos, iogurtes e sorvete, entre outras aplicações. Segundo Sylvio Ortega, diretor executivo da divisão

responsável pelo plástico – cujo nome comercial é Biocycle – o lançamento no mercado deve acontecer em 2011. As embalagens de alimentos sempre exigem atenção especial por envolver a saúde da população. As regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária não permitem, por exemplo, o uso de papel reciclado. Fibras contaminadas podem comprometer a qualidade do produto. Pelo mesmo motivo, a re-

dução de matéria-prima também exige cuidado extra. O que não deve ser empecilho para a busca de soluções. “Esta é uma exigência da sociedade”, diz o diretor de meio ambiente da Tetra Pak, Fernando von Zuben. “Hoje, investir em sustentabilidade é fator de sobrevivência para a empresa”. Nas embalagens tipo longa vida, nos últimos 15 anos a quantidade de alumínio por unidade caiu 20%. E se a redução é um trabalho complexo, a reciclagem não fica atrás. Para aprender a o separtã -ca, o l e O pap da) çã e ÇÃ de squerportaela d gem a e ex a p l e l QUA alae (a dara atituídiclávedáve b ADE m v p s c a A eNati ada i subém reodegr a d adequio, foambta bi in nav no, t tin porlietilea com popress im rar o alumínio do plástico, usado na parte interna das caixas, foram gastos R$ 17 milhões. O investimento gerou uma nova tecnologia e

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t i vo para reduzir: diminuir os impactos da extração de matérias-primas e manter metais, derivados de petróleo, papelão e outros materiais no mercado p o r

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z a f m m é b tam balage l a emstentáve su

trabalho escravo”, alerta. Sustentabilidade é um compromisso que deve permitir às próximas gerações o mesmo acesso que nós temos hoje aos recursos naturais. Quando falamos em produtos descartáveis, como as embalagens, é ainda mais importante pensar desta forma. E tal postura deve ser adotada por todos, não apenas por quem deseja ocupar um espaço no nicho de mercado ecológico.

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permitiu construir um centro de reciclagem, viabilizando a recuperação tanto do plástico separado do alumínio e do papel, que é a camada externa das caixas, como o uso do alumínio fundido ao plástico, uma boa opção para a fabricação de telhas, por exemplo. A possibilidade de separar os três materiais aumentou em 25% o valor das caixinhas descartadas. E o índice de reciclagem vem subindo, tendo atingido 26,6% no ano passado. Além de aliviar os aterros sanitários, sa há outro - N iba o mo htt site ma p:/ da /em des is: ig b

mais tempo. Eles foram selecionados pela viabilidade comercial e eficácia na proteção de produtos, que é o principal objetivo das embalagens. “É ingenuidade achar que embalagem sustentável é feita só de materiais orgânicos e naturais”, afirma o designer inglês, Martin Bunce. Para ele, a eficiência do processo está nos caminhos de retorno desses produtos. Isso precisa estar bem definido e pode acontecer de diversas formas. Para algumas embalagens, o melhor é a reciclagem; para outras, é a limpeza e a reutilização. E a geração de energia através da incineração também deve ser considerada, como acontece em vários países. Este é o destino de 52% dos resíduos sólidos da Suécia, por exemplo. Bunce diz ainda que a educação do consumidor é fundamental para se ter embalagens verdadeiramente sustentáveis. O uso e a destinação inadequados das embalagens podem comprometer toda a busca por sustentabilidade, mesmo se a fabricação seguir à risca todas as regras ambientais. A conscientização também ajuda o consumidor a reconhecer o que é realmente sustentável. Na onda ecológica, é comum encontrar produtos classificados como greenwashing (lavagem verde). De acordo com a designer brasileira Elisa Quartim Barbosa, o termo pejorativo se aplica a produtos apenas com a aparência de sustentáveis, mas que, na verdade, não incorporam valores ambientais. Ela ainda observa que precisamos ter responsabilidade econômica, ambiental e social. “Não adianta manter árvores em pé e explorar

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