TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL
BOLETIM Nº5 FEVEREIRO DE 2009
- QUE ORGANIZAÇÃO ECOLOGISTA? - ELES NÂO AMAM A VIDA - O PODER DE DESTRUIR, O PODER DE CRIAR - A PROPÓSITO DAS ECO-ESCOLAS E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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QUE ORGANIZAÇÃO ECOLOGISTA? Quanto a nós, não temos qualquer dúvida que é o capitalismo, seja ele liberal ou de estado, o responsável pela crise global que afecta todos os habitantes do Planeta. Por isso, defendemos que com a manutenção da sociedade actual não conseguiremos acabar com a “mercantilização da natureza” pelo que devemos apostar na educação do ser humano de modo a que numa sociedade futura haja uma diferente relação entre as diferentes espécies (incluindo a humana) e a natureza. As principais organizações de ambiente, no nosso país, (sobre) vivem totalmente dependentes de apoios estatais ou das empresas, cada vez mais funcionam com base em pessoal contratado, acabando o voluntariado por constituir um recurso marginal, e as decisões são tomadas de cima para baixo, ao invés de contarem com o contributo dos Não poderemos estar de acordo - o que não
activistas.
significa que não devamos agir, pontualmente, em
Nos Açores, a situação não é muito diversa,
conjunto - com as propostas apresentadas pelas
parecendo-nos que, quando se trata de capacidade
principais correntes do movimento ambientalista,
de decisão, por vezes, não existem colectivos mas
como a conservacionista e a ambientalista, que é
sim pessoas singulares. No que diz respeito ao
onde se inserem as principais organizações
financiamento, não temos dúvida que, enquanto o
existentes nos Açores (1). Com efeito, qualquer
das empresas não existe ou é residual, o estatal é o
uma das correntes defende que com pequenas
que ainda mantém algumas associações.
alterações ao modelo de sociedade actual é possível ultrapassar os problemas ambientais
Se queremos criar uma organização e novo tipo,
actuais, uns acreditando que o “capitalismo de
devemos basear a sua organização interna, entre
mercado” está em condições de regular tudo e
outros, nos seguintes princípios:
outros
defendendo
que com
uma limitada
intervenção estatal tudo entraria nos eixos.
1- A
organização
autónoma,
2
em
ecologista relação
deve às
ser
outras
instituições, nomeadamente ao Estado, aos
qualquer momento. Ninguém se pode
partidos
petrificar em nenhuma função.
políticos,
aos
sindicatos
burocratizados, às igrejas, às empresas, etc. . 2- O processo de tomada de decisões tem de ser ágil. Embora consideremos que o consenso deva ser procurado, dado que o mesmo
poderá
ser
pouco
eficiente,
defendemos que, após o devido debate, as deliberações devam ser tomadas por maioria; 3- A democracia directa deve ser o método de tomada de decisões, isto é, todos os membros devem participar, de forma igualitária, no processo de tomada de decisões; 4- Cada
membro
deverá
agir
com
responsabilidade, isto é, deve ter iniciativa e assumir as tarefas e cumpri-las, evitando que poucos fiquem sobrecarregados; 5- Os activistas devem agir com ética de modo
a
que
sejam
fomentadas
a
cooperação, a solidariedade e o apoio mútuo. 6- No caso de representação da organização, o mandato dos representantes deve ser
(1) Achamos insuficiente, também, o ambientalismo “mudança de estilo de vida” ou a educação ambiental que é feita, sobretudo pelas Ecotecas, que pouco mais é do que ensino da biologia, sensibilização para a valorização do património natural ou doutrinação para a alteração de comportamentos, já que não reflecte nem põe em causa os responsáveis pelos problemas nem aponta verdadeiros caminhos para a sua superação.
imperativo, ou seja, as posições daqueles são as discutidas previamente no colectivo e não as suas. Para além disso, e da obrigação
de
prestarem
contas
à
organização, os mandatos devem ser revogáveis a qualquer momento (2); 7- Os membros dos órgãos sociais das organizações também devem ter mandatos temporários, rotativos e revogáveis a
3
(2) . 'ão é isto o que se passa na “democracia representativa”. Ser dirigente/ representante de uma organização é para muitos um rentável modo de exposição pública, um trampolim para um emprego, um governo ou parlamento, etc.
Teófilo Braga
ELES NÃO AMAM A VIDA
A busca de uma saída para a crise económico-
Na verdade, se houvesse um mínimo de bom
financeira mundial está cercada de riscos. O
senso, a solução do cataclismo económico e dos
primeiro é que os países ricos busquem soluções
principais
que resolvam seus problemas, esquecendo do
humanidade seria encontrada. Basta proceder a
carácter interdependente de todas as economias. A
um amplo e geral desarmamento já que não há
inclusão dos paises emergentes pouco significou,
confrontos entre potências militares. A construção
pois suas propostas mal foram consideradas.
de armas, propiciada pelo complexo industrial-
Prevaleceu ainda a lógica neo-liberal que garante
militar, é a segunda maior fonte de lucro do
a parte leonina aos ricos. O segundo é perder de
capital. O orçamento militar mundial é da ordem
vista as demais crises, a ecológica, a climática, a
de um trilhão e cem bilhões de dólares/ano. Já se
energética e a alimentar. Concentrar-se apenas na
gastaram só no Iraque dois trilhões de dólares.
questão económica, sem considerar as outras, é
Para este ano,
jogar com a insustentabilidade a médio prazo.
encomendou armas no valor de um trilhão e meio
Cabe recordar o que diz a Carta da Terra:”nossos
de dólares.
desafios ambientais, económicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar
soluções
includentes”(Preâmbulo).
O
terceiro risco, mais grave, consiste em apenas melhorar as regulações existentes em vez de buscar alternativas, com a ilusão de que o velho paradigma neoliberal teria ainda a capacidade de tornar criativo o caos actual. O problema não é a Terra. Ela pode continuar sem nós e continuará. A magna quaesto, a questão maior, é o ser humano voraz e irresponsável que ama mais a morte que a vida, mais o lucro que a cooperação, mais seu bem estar individual que o bem geral de toda a comunidade de vida. Se os responsáveis
pelas
decisões
globais
não
considerarem a inter-retro-dependência de todas estas questões e não forjarem uma coalizão de forças capaz de equacioná-las aí sim estaremos literalmente perdidos.
4
problemas
o
infra-estruturais
governo
da
norte-americano
o desarmamento não é ingenuidade, é ser racional e garantir a vida que ama a vida e que foge da morte. Aqui se ama a morte.
Só este fato mostra que a actual humanidade é feita, em grande parte, por gente irracional, violenta, obtusa, inimiga da vida e de si mesma. A natureza
da
guerra
moderna
mudou
substancialmente. Outrora “morria quem ia para a guerra”. Agora não, as principais vitimas são civis. De cada 100 mortos em guerra, 7 são soldados, 93 são civis, dos quais 34, crianças. Na guerra do Iraque já morreram 650.00 civis e apenas cerca de 3.000 soldados aliados. Hoje assistimos algo, absolutamente inédito e de extrema irracionalidade: a guerra contra a Terra. Estudos de organismos de paz revelaram que com
Sempre se faziam guerras entre exércitos, povos e
24 bilhões de dólares/ano – apenas 2,6% do
nações.
orçamento militar total - poder-se-ia reduzir pela metade a fome do mundo. Com 12 bilhões – 1,3%
Agora, todos unidos, fazemos guerra contra Gaia:
do referido orçamento – poder-se-ia garantir a
não deixamos um momento sem agredi-la,
saúde reprodutiva de todas as mulheres da Terra.
explorá-la até entregar todo seu sangue. E ainda invocamos a legitimação divina para o nosso
Com grande coragem, o actual Presidente da
crime, pois cumprimos o mandato:”multiplicai-
Assembleia da ONU, o padre nicaraguense
vos, enchei e subjugai a Terra”(Gn 1,28). Se assim
Miguel d’Escoto, denunciava em seu discurso
é, para onde vamos? Não para o reino da vida.
inaugural em meados de Outubro: existem aproximadamente 31.000 ogivas nucleares em
Leonardo Boff
depósitos, 13.000 distribuídas em vários lugares
Teólogo
no mundo e 4.600 em estado de alerta máximo, quer dizer, prontas para serem lançadas em poucos
Extraído
minutos. A força destrutiva destas armas é
http://vivemosjuntos.blogspot.com/2008/12/eles-
aproximadamente de 5.000 megatons, força que é
no-amam-vida-de-leonardo-boff.html
200.000 vezes mais avassaladora que a bomba lançada sobre Hiroshima. Somadas com as armas químicas e biológicas, pode-se destruir por 25 formas diferentes toda a espécie humana. Postular
5
de:
O PODER DE DESTRUIR, O PODER DE CRIAR vastas cinturas urbanas com concentrações densas O poder que esta sociedade tem para destruir atingiu uma escala sem precedentes na história da humanidade - e este poder está a ser usado, quase sistematicamente, para causar uma destruição insensata em todo o mundo da vida natural e nas suas bases materiais.
as águas poluídas, o solo está a ser levado pela água, a terra foi drenada e a vida natural destruída. As áreas costeiras e mesmo as profundezas do mar não são imunes ao alastramento da poluição. Com maior significância no fim de contas, os ciclos biológicos básicos, tais como o ciclo do carbono e do nitrogénio, dos quais todas as coisas vivas os
humanos)
inteiras; o aumento de ruído ambiente; as pressões criadas pela congestão, pela aglomeração e manipulação das massas; as imensas acumulações de lixo, refugo, dejectos e desperdícios industriais; o congestionamento do trânsito nas auto-estradas e
Em quase todas as regiões, o ar está a ser viciado,
(incluindo
de populações comparáveis em tamanho a nações
dependem
para
a
manutenção e renovação da vida, estão a ser
nas ruas citadinas; a destruição pródiga de preciosos metais em bruto; a cicatrização da terra feita pelos especuladores da propriedade, os barões das indústrias mineira e da madeira, os burocratas da construção de auto-estradas. Todos eles fizeram tais estragos numa simples geração, que excede os que foram feitos em milhares de anos pela habitação humana no seu planeta. Se tivermos em mente este ritmo de destruição, é aterrador reflectir acerca do que acontecerá no futuro, à geração vindoura.
alterados até um ponto irreversível.
A essência da crise ecológica do nosso tempo é que esta sociedade - mais do que qualquer outra no passado - está a desfazer literalmente o trabalho da evolução orgânica. É um axioma dizer que a humanidade faz parte do edifício da vida. É talvez mais importante, nesta fase tardia, sublinhar que a humanidade depende perigosamente da complexidade e variedade da vida, e que o bemestar e a sobrevivência humanas assentam sobre uma longa evolução de organismos em formas desperdícios
crescentemente complexas e interdependentes. O
radioactivos, pesticidas de longa actividade,
desenvolvimento da vida num tecido complexo, a
resíduos de chumbo e milhares de produtos
criação dos animais e plantas primordiais em
químicos tóxicos ou potencialmente tóxicos na
formas altamente variadas, tem sido a condição
comida, água e ar; a expansão das cidades em
prévia para a evolução e sobrevivência da própria
A
6
introdução
arbitrária
dos
humanidade e para uma relação harmónica entre a
paleolítica, foi acima de tudo uma revolução
humanidade e a natureza.
tecnológica. Foi este período que trouxe à humanidade as artes da agricultura, tecelagem,
Tecnologia e População
cerâmica, da domesticação dos animais, a
Uma vez que a geração passada tem testemunhado a espoliação do planeta, que ultrapassa todos os estragos feitos pelas gerações primitivas, pouco mais do que uma geração poderá restar antes que a destruição do meio ambiente se torne irreversível. Por esta razão, devemos debruçar-nos sobre as origens da crise ecológica com honestidade implacável. O tempo corre precipitadamente e as décadas que restam do século XX podem bem ser a última oportunidade que teremos para restaurar
descoberta da roda e muitos outros melhoramentos básicos. É verdade que existem técnicas e atitudes tecnológicas que são inteiramente destruidoras do equilíbrio entre a humanidade e a natureza. É responsabilidade nossa separar a promessa da tecnologia - o potencial criativo - da capacidade da tecnologia para destruir. Na verdade, não existe tal palavra como "tecnologia" que presida a todas as condições e relações sociais. Existem sim, diferentes tecnologias e atitudes para com a tecnologia, algumas das quais são indispensáveis
o equilíbrio entre a humanidade e a natureza.
para restaurar o equilíbrio, e outras que têm Assentarão as origens da crise ecológica no
contribuído profundamente para a sua destruição.
desenvolvimento da tecnologia? A tecnologia
Do que a humanidade necessita não é rejeitar em
tem-se tornado um alvo fácil para aqueles que
grande escala as tecnologias avançadas, mas sim
querem evitar encarar as condições sociais
peneira-las, necessita realmente de um maior
profundamente
desenvolvimento da tecnologia a par com os
marcadas
por
máquinas
e
processos técnicos perigosos.
princípios ecológicos, o que contribuirá para uma nova harmonização da sociedade e do mundo natural. Será o crescimento da população, a origem da crise ecológica? Esta tese é a mais inquietante, e de muitas maneiras a mais sinistra, a ser formulada pelos movimentos ecológicos activos nos E.U.A. Neste sentido, um efeito chamado "crescimento populacional" embaralhado na base de
7
estatísticas
e
projecções
superficiais,
É tão conveniente esquecer que a tecnologia tem
transforma-se
servido não só para subverter o meio ambiente
supremacia a um problema de proporções
como também para o melhorar. A Revolução
secundárias no momento presente, obscurecendo
Neolítica, a qual produziu o período mais
as razões fundamentais da crise ecológica. De
harmonioso entre a natureza e a humanidade pós-
fato, se as actuais condições económicas, políticas
numa
causa.
É
dada
assim
e sociais prevalecerem, a humanidade irá com o
Isto é claro: quando grandes reservas de mão-de-
tempo superpovoar o planeta, e pelo puro peso dos
obra foram necessárias durante a Revolução
números transformar-se-á num flagelo no seu
Industrial dos princípios do século XIX para
próprio habitat global. Há qualquer coisa de
equipar as fábricas e diminuir os salários, o
obsceno, contudo, acerca do fato de que a um
crescimento
efeito "crescimento populacional", é concedida
entusiasticamente pela nova burguesia industrial.
supremacia na crise ecológica por uma nação que
E o crescimento populacional ocorreu apesar do
tem pouco mais do que 7% da população mundial
fato que, devido ao pesado horário de trabalho e às
mas que consome prodigamente mais de 50% dos
cidades altamente superpovoadas, a tuberculose,
recursos mundiais, e que está actualmente
cólera e outras doenças eram epidemias na Europa
ocupada no despovoamento de um povo do
e nos Estados Unidos. Se as taxas de nascimento
Oriente, que tem vivido à séculos em equilíbrio
excederam as da morte nessa altura, não foi
apurado com o seu meio ambiente.
porque os progressos feitos ao nível de cuidados
populacional
foi
saudado
médicos e sanitários tenham produzido qualquer Devemos fazer uma pausa para examinar o problema populacional tão amplamente observado pelas raças brancas da América do Norte e da Europa - raças que têm explorado arbitrariamente os povos da Ásia, África, América Latina e do Pacífico
Sul.
Os
explorados
têm
exposto
delicadamente aos seus exploradores que, do que eles
necessitam
não
são
dispositivos
anticoncepcionais, nem "libertadores" armados, nem do Prof. R. Ehrlich para resolverem os seus problemas populacionais; precisam antes, de uma devolução justa dos imensos recursos que foram roubados das suas terras, pela América do Norte e pela Europa. Equilibrar estas contas é mais premente no momento, do que equilibrar as taxas de nascimentos e mortes. Os povos da Ásia, África, América Latina e do Pacífico Sul podem justamente apontar que os seus "conselheiros" Americanos têm mostrado ao mundo como espoliar um continente virgem em menos de um século e têm acrescentado ao vocabulário da humanidade precoce".
8
palavras
como
"esgotamento
declínio dramático na mortalidade humana; antes, o excesso de nascimentos em relação às mortes pode ser explicado pela destruição das formas da família pré-industrial, instituições de vila, ajuda mútua e padrões de vida estáveis e tradicionais, às mãos da "empresa" capitalista. O declínio da moral social introduzido pelos horrores do sistema fabril, o aviltamento das populações agrárias tradicionais
transformadas
moradores
urbanos,
produziu
uma
em
proletários
brutalmente
atitude
e
explorados,
concomitantemente
responsável para com a família e a procriação. A sexualidade tornou-se um refúgio de uma vida de trabalho duro, bem como o consumo do gin barato; o novo proletariado gerou crianças (muitas das quais nunca sobreviveram até a idade adulta), tão inconscientemente como foi levado ao alcoolismo. É muito semelhante o caso ocorrido quando as vilas Africanas, Asiáticas e LatinoAmericanas foram sacrificadas ao santo altar do imperialismo.
Hoje a burguesia "vê" as coisas de uma forma
directamente às origens sociais da actual crise
diferente. Os anos dourados da "livre empresa" e
ecológica, ou seremos logrados por uma era de
do "trabalho livre" declinam perante uma era de
totalitarismo.
monopólio, cartéis, economias controladas pelo estado, formas institucionalizadas de mobilização
Ecologia e Sociedade
operária (sindicatos), e de máquinas automáticas ou cibernéticas. Largas reservas de mão-de-obra desempregada não são já necessárias para ir ao encontro das necessidades de expansão do capital, e os salários são em grande parte mais negociados do que deixados à livre actuação do mercado de trabalho. Anteriormente necessárias, as reservas de mão-de-obra inútil acabaram por tornar-se numa ameaça à estabilidade de uma economia burguesa manipulada. A lógica desta nova "perspectiva" encontrou a sua mais aterradora
A concepção básica de que a humanidade deve
expressão no fascismo alemão. Para os nazis, a
dominar e explorar a natureza, provém da
Europa estava já "superpovoada" nos anos trinta e
dominação e exploração do homem pelo homem.
o "problema populacional" foi "resolvido" nas
Na verdade, esta concepção vem de tempos
câmaras de gás de Auschwitz. A mesma lógica
remotos em que o homem começou a dominar e
está implícita em muitos dos argumentos neo-
explorar as mulheres dentro da família patriarcal.
Malthusianos que se mascaram hoje como
Desde essa altura os seres humanos foram
ecologia. Que não haja dúvida quanto a esta
olhados, cada vez mais, como meros recursos,
conclusão.
como objectos em vez de sujeitos. As hierarquias,
Mais tarde ou mais cedo a proliferação descuidada de seres humanos terá de ser detida, mas, ou o controle populacional terá de ser feito por meio de "controles sociais" (métodos autoritários ou racistas e, no fim, ser um genocídio sistemático), ou por uma sociedade libertária, ecologicamente orientada (uma sociedade que desenvolva um novo equilíbrio com a natureza). A sociedade moderna encontra-se perante estas alternativas mutuamente restritas e deve fazer uma escolha sem
dissimulação.
fundamentalmente
9
A acção
acção social.
ecológica Ou
é
vamos
classes, sistemas de propriedade e instituições políticas que emergiram com o domínio social foram transferidas conceitualmente para a relação entre a humanidade e a natureza. Esta, também foi cada vez mais olhada como mero recurso, um objecto, uma matéria bruta a ser explorada tão implacavelmente como escravos num latifúndio. Esta "visão do mundo" impregnou não só a cultura oficial da sociedade hierárquica; tornou-se na maneira como os escravos, servos, trabalhadores da indústria e as mulheres de todas as classes sociais se começaram a considerar a eles mesmos.
Contida na "ética do trabalho", na moralidade
condições e dentro da sua própria estrutura. Quase
baseada na recusa e na renúncia, num modo de
desde o berço temos sido socializados pela
comportamento baseado na sublimação dos
família, instituições religiosas, escolas e pelo
desejos eróticos e noutros aspectos mundanos
próprio trabalho, aceitando a hierarquia, renúncia
(sejam eles Europeus ou Asiáticos), os escravos,
e sistemas políticos, como premissas sobre as
servos, trabalhadores e metade das mulheres da
quais todo o pensamento deve apoiar-se. Sem
humanidade foram ensinadas a vigiarem-se a si
esclarecer essas premissas, todas as discussões,
próprios, a talharem as suas próprias cadeias, a
sobre o equilíbrio ecológico permanecerão meros
fechar as portas das suas prisões.
paliativos e serão contraproducentes. Em virtude da sua excepcional bagagem cultural, a sociedade moderna - sociedade burguesa orientada para os lucros - tende a exacerbar o conflito entre a humanidade e a natureza, de uma forma mais crítica do que as sociedades préindustriais do passado. Na sociedade burguesa, os humanos não só se transformam em objectos mas também em mercadorias; em objectos claramente destinados a serem vendidos no mercado. A competição entre os seres humanos, como
10
Se a "visão do mundo" da sociedade hierárquica
mercadorias, torna-se um fim em si, em conjunto
começa hoje a declinar é especialmente porque a
com a produção de artigos totalmente inúteis. A
enorme produtividade da moderna tecnologia
qualidade transformou-se em quantidade, a cultura
abriu uma nova visão: a possibilidade de
individual em cultura de massas, a comunicação
abundância material, um fim à escassez de uma
pessoal em comunicação de massas. O meio
era de tempos livres (o chamado "lazer") com um
ambiente
mínimo de trabalho duro. A nossa sociedade está a
gigantesca e a cidade num imenso mercado: tudo,
ser impregnada por uma tensão entre "o que é" e
desde uma floresta Redwood ao corpo de uma
"o que poderia ser", uma tensão exacerbada pela
mulher tem "um preço". É tudo equacionado em
exploração e destruição irracional e desumana da
dólares, seja uma catedral consagrada ou a honra
terra e dos seus habitantes. O maior obstáculo que
individual. A tecnologia deixa de ser uma
dificulta a solução desta tensão é a extensão até à
extensão da tecnologia. A máquina não amplia o
qual a sociedade hierárquica ainda modela os
poder do trabalhador; é o trabalhador que amplia o
novos pontos de vista e as nossas acções. É mais
poder da máquina e na verdade ele mesmo se
fácil refugiarmo-nos nas críticas à tecnologia e ao
torna numa simples parte da máquina. É assim tão
crescimento populacional; tratar com um sistema
surpreendente que esta sociedade exploradora,
social arcaico, destrutivo sobre as suas próprias
degradante e quantificada oponha a humanidade a
natural
tornou-se
numa
fábrica
si própria e à natureza, numa escala mais
ditadas pelos meios de comunicação. Temos que
assombrosa do que qualquer outra no passado?
restaurar a escala humana no nosso ambiente e nas nossas relações pessoais, substituto medianeiro
Sim,
necessitamos
mudar,
mas
mudar tão
fundamentalmente e em tão grande escala que mesmo os conceitos de revolução e liberdade devem ser ampliados para além de todos os primitivos horizontes. Não é já suficiente falar das novas técnicas para a conservação e promoção do ambiente
natural;
devemos
tratar
a
terra
comunalmente, como uma colectividade humana, sem aquelas peias da propriedade privada, que têm distorcido a visão da vida e da natureza da humanidade, desde a ruptura da sociedade tribal.
das relações pessoais diretas na gestão da sociedade. Finalmente, todas as formas de domínio - social ou pessoal - devem ser banidas das nossas concepções, de nós próprios, dos nossos
semelhantes
e
da
natureza.
A
administração dos humanos deve ser substituída pela administração das coisas. A revolução que pretendemos deve envolver não só as instituições políticas e as relações económicas, mas também a consciência, o estilo de vida, os desejos eróticos e a nossa interpretação do significado da vida.
Devemos eliminar não só a hierarquia burguesa mas a hierarquia como tal; não só a família patriarcal, mas também todas as formas de domínio familiar e sexual; não só a classe burguesa e o sistema de propriedade, mas sim todas as classes sociais e a propriedade. A Humanidade deve tomar posse de si própria, individual e colectivamente, para que todos os seres humanos obtenham o controlo de suas vidas diárias.
As
nossas
descentralizadas
em
cidades
devem
comunidades
ou
ser eco
comunidades talhadas, fina e habilidosamente, para
11
o
aproveitamento
da
capacidade
dos
ecossistemas nos quais elas estão localizadas. As
O balanço aqui, é o espírito antiquado e os
nossas tecnologias devem ser readaptadas e
sistemas de domínio e repressão que não só
formuladas
e
opuseram o homem ao homem, mas a humanidade
inteligentemente adaptadas para usarem as fontes
à natureza. O conflito entre estas é uma extensão
de energia local e os materiais, com um mínimo
do conflito entre o ser humano. A não ser que o
ou sem poluição do ambiente. Necessitamos
movimento ecológico envolva o problema do
recuperar um novo
sentimento das nossas
domínio em todos os seus aspectos, ele não
necessidades - necessidades que fomentem uma
contribuirá em nada para a eliminação da origem
vida saudável e que exprimam as nossas
das causas da crise ecológica do nosso tempo. Se
inclinações individuais, não as "necessidades"
o movimento ecológico se detém em simples
em
ecotecnologias,
fina
reformas de controlo da poluição e conservação,
Esta ordem social joga connosco. Ela concede
sem tratar radicalmente da necessidade de
reformas
ampliação de um conceito de revolução, ele
dolorosamente inadequadas, a fim de desviar os
servirá
de
nossos esforços e atenção de actos destruidores
segurança do sistema existente da exploração
ainda mais vastos. Em certo sentido, é-nos
humana e natural.
oferecido um pedaço de terreno da floresta
meramente
como
uma
válvula
a
longo
prazo,
aos
poucos
e
Redwood em troca das Cascades. Visto numa Objectivos
maior perspectiva, esta tentativa para reduzir a
Sobre certos aspectos o movimento ecológico de hoje está a mover uma ação tardia, contra a destruição desenfreada do ambiente. Noutros aspectos os seus elementos mais conscientes estão envolvidos num movimento criativo, pronto a
ecologia a uma relação de permuta não salva nada; é um modus operandi barato de negociar a maior parte do planeta por umas quantas ilhas desertas, por parques de bolso num mundo devastado de betão.
revolucionar totalmente as relações sociais dos indivíduos para com os outros e da humanidade para com a natureza. Embora elas se interpenetrem intimamente, os dois esforços devem distinguir-se um do outro. A Ação Ecológica Leste apoia qualquer esforço para a conservação do ambiente: preservar a água e o ar puros; limitar o uso dos pesticidas e adubos químicos nos alimentos; reduzir o trânsito de veículos nas ruas e auto-estradas; tornar as cidades mais saudáveis fisicamente; impedir que os desperdícios radioactivos penetram no ambiente; proteger e aumentar as áreas desertas e os territórios para a vida selvagem; e defender as espécies animais da depredação humana.
principais: um é incrementar no movimento revolucionário,
o
conhecimento
de
que
a
consequência mais urgente e destrutiva da nossa sociedade exploradora e alienante é a crise ambiental,
e
que
a
verdadeira
sociedade
Mas a Acção Ecológica Leste não se ilude a si
revolucionária deve ser construída de acordo com
própria
tardias
preceitos ecológicos; o outro objectivo é provocar
conflito
na mente de milhões de Americanos que estão
fundamental que existe entre a actual ordem social
preocupados com a destruição do nosso ambiente,
e o mundo natural. Nem tão pouco que estas ações
uma tomada de consciência de que os princípios
tardias possam deter o ímpeto esmagador de
da ecologia, levados até ao final lógico, exigem
pensando
constituem
uma
que
estas
solução
ações
para
destruição existente nesta sociedade.
12
A Acção Ecológica Leste tem dois objectivos
o
mudanças radicais na nossa sociedade e no nosso modo de olhar o mundo. A Acção Ecológica Leste fundamenta-se na revolução do estilo de vida que, no máximo, pretende experiência
uma e
consciência de
liberdade
aumentada humanas.
de Nós
pretendemos a libertação das mulheres, das crianças, dos homossexuais, dos povos negros e colonizados, dos trabalhadores de todas as profissões, como parte da crescente luta social contra as tradições e instituições que têm tão destruidoramente
modelado
a
atitude
da
humanidade para com o mundo natural. Nós apoiamos comunidades libertárias e lutas pela liberdade aonde quer que surjam; apoiamos também qualquer esforço para promover o autodesenvolvimento espontâneo dos jovens; opomonos a qualquer esforço para reprimir a sexualidade humana e negar à humanidade a experiência do erótico em todas as suas formas. Unimos todos os esforços para fomentar um artifício feliz, na vida e
Em
resumo,
nós
temos
esperanças
numa
revolução que produza comunidades politicamente independentes cujas fronteiras e populações sejam definidas por uma nova consciência ecológica; comunidades cujos habitantes determinarão por si mesmos,
dentro
da
estrutura
desta
nova
consciência, a natureza e o nível das suas tecnologias, as formas tomadas pelas suas estruturas sociais, visões do mundo, estilos de vida, artes expressivas e todos os outros aspectos das suas vidas diárias.
no trabalho: a promoção dos ofícios e da
Mas nós não nos iludimos a nós mesmos de que
qualidade de produção; o panejamento de novas
este mundo orientado para a vida possa ser
ecocomunidades e ecotecnologias; o direito à
desenvolvido,
experiência, numa base diária da beleza do mundo
parcialmente
natural, o prazer aberto, espontâneo e sensual que
sociedade orientada para a morte. A sociedade
os humanos podem oferecer uns aos outros, o
Americana como hoje está constituída, está
respeito crescente pelo mundo da vida.
penetrada de racismo e ergue-se no topo do
inteiramente conseguido,
ou
através
mesmo de
uma
mundo inteiro não só como consumidora de sua riqueza e recursos, mas como um obstáculo a todas as tentativas de auto-determinação no interior e no estrangeiro. Os seus objectivos inerentes são a produção pela produção, a manutenção da hierarquia e do trabalho árduo à escala mundial, manipulação das massas e controle por meio de instituições políticas
13
centralizadas. Este tipo de sociedade contrapõe-se
dono
ou
a
dona
da
sua
própria
sorte.
inalteravelmente a um mundo orientado para a vida. Se o movimento ecológico não tira estas conclusões dos seus esforços para conservar o ambiente natural, então a conservação torna-se um mero obscurantismo. Se o movimento ecológico não dirige os seus esforços principais para uma revolução em todos os aspectos da vida - social bem como natural - então o movimento tornar-seá gradualmente numa válvula de segurança para a ordem estabelecida. A nossa esperança está em que os grupos como nós, brotarão através do país,
As grandes cisões que dividiram os humanos dos
organizados como nós próprios numa base
humanos, a humanidade da natureza, o indivíduo
humanista e libertária, empenhada na ação
da sociedade, a cidade do campo, a atividade
conjunta e com um espírito de cooperação
mental da física, a razão da emoção e geração de
baseado no apoio mútuo. É também esperança
geração devem ser agora ultrapassadas. O
nossa que eles tentem fomentar uma nova atitude
cumprimento da luta antiquada pela sobrevivência
ecológica, não só para com a natureza mas
e segurança material num mundo de escassez foi
também para com os humanos: uma concepção de
uma vez olhado como a condição prévia para a
relações espontâneas variegadas dentro e entre
liberdade e para uma vida inteiramente humana.
grupos, dentro da sociedade e entre os indivíduos.
Para viver nós tivemos que sobreviver. Como Brecht disse: "Primeiro a alimentação e depois a
Nós esperamos que os grupos ecológicos evitem
moralidade".
todos os apelos aos "chefes de governo" e às instituições estatais nacionais e internacionais, os
A situação começou agora a modificar-se. A crise
verdadeiros corpos criminosos e políticos que têm
ecológica
contribuído materialmente para a crise ecológica
inverteu esta máxima tradicional. Hoje, se nós
do nosso tempo. Cremos que os apelos devem ser
temos que sobreviver, devemos começar por
feitos ao povo e à sua capacidade para a acção
viver. As nossas soluções devem ser proporcionais
directa, que lhe possa permitir tomar o controlo
ao nível do problema, ou então a natureza vingar-
das suas próprias vidas e destinos. Porque só desta
se-á, terrivelmente, da humanidade.
do
nosso
tempo,
crescentemente,
maneira pode emergir a sociedade sem hierarquia e domínio, a sociedade na qual cada indivíduo é o
Acção Ecológica Leste, EUA, 1969 http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/ecos ocial/06destruir.htm
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A PROPÓSITO DAS ECO-ESCOLAS E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL anos com o apoio e incentivo de alguns directores das ecotecas;
2-O apoio que aqueles têm tido da tutela do ambiente contrasta com as dificuldades que têm sido levantadas pela Secretaria Regional da Educação. A prova disto, são os entraves que ao longo dos anos têm sido colocados à participação dos professores nas formações anuais, de tal modo que algumas se têm realizado aos fins-de-semana.
3-Em algumas escolas o projecto não é assumido pelos Conselhos Executivos, não passando de um No passado dia 10 de Janeiro, num texto
projecto marginal desenvolvido por um ou dois
publicado no jornal diário Açoriano Oriental, o
professores e envolvendo apenas uma ou outra
jornalista Luís Pedro Silva, abordava o facto do
turma;
projecto Eco- Escolas atingir nos Açores a maior taxa de implementação do programa em Portugal
4-O galardão “Bandeira Verde” está banalizado, já
e uma das mais elevadas na União Europeia.
que é atribuído a “qualquer” escola que faça uma ou duas actividades e que apresente um relatório
Para nós, não só este projecto bem como a
final. Quanto a nós, para que tal acontecesse seria
educação ambiental que se faz nos Açores
necessário
mereciam uma reflexão aprofundada da parte de
significativo na escola e que alguns parâmetros do
todos os interessados, professores e educadores,
seu desempenho fossem alterados, como redução
associações de defesa do ambiente e tutela da área
do consumo de energia, de papel ou de água,
do ambiente, nos Açores.
limpeza dos espaços interiores e exteriores, etc. A
que
houvesse
um
envolvimento
título de exemplo, no final do ano passado estava Por falta de disponibilidade de tempo, a seguir,
a passar junto a um estabelecimento de ensino de
apenas apresentamos as seguintes notas:
Ponta Delgada que tinha hasteada a Bandeira Verde e cujos jardins exteriores pareciam um
1-A projecção do Eco-escolas, nos Açores, resulta
matagal. Uma situação destas nunca deveria
sobretudo do trabalho voluntário de alguns
ocorrer.
professores e educadores que contou nos últimos
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5-Em relação à Educação Ambiental, desde o início
existiu
algum
voluntarismo
na
sua
a. Depois de anunciada a sua abertura para o
implementação, mas nunca houve uma reflexão
primeiro trimestre de 1998 (ver “Ecológico
séria sobre o que se pretende com ela, e nunca se
nº1,Fev/Mar de 1998), a primeira Ecoteca
pensou na criação e implementação de uma
que estava prevista para Santa Maria,
Estratégia Regional de Educação Ambiental. O
acabou por ser implantada no Pico em
único documento que conhecemos, é um “Plano
1999. Razões para esta alteração são
Estratégico” publicado no boletim Ecológico, nº
desconhecidas.
10, de Setembro/Outubro de 1999, assinado por Eduarda Goulart
(1)
, que não foi suficientemente
b. Nunca houve qualquer explicação ou
divulgado e nunca foi alvo de qualquer discussão
justificação aceitável para a instalação da
pública.
Ecoteca da Lagoa. Com efeito, o concelho da Lagoa, pela sua dimensão, pelo número de crianças em idade escolar, pela sua proximidade a Ponta Delgada não deveria ser uma prioridade. Pelo contrário, já existindo o Centro de Interpretação do Priôlo no Nordeste fazia todo o sentido que a terceira ecoteca em São Miguel, depois da da Ribeira Grande e da de Ponta Delgada, ficasse instalada em Vila Franca do Campo ou na Povoação.
6-A própria Rede Regional de Ecotecas tem sido criada sem estar sujeita a um plano devidamente
(1)
Na altura, Directora Regional do Ambiente e expresidente da ONGA, com sede no Faial, “Azórica”
pensado que tenha em conta as necessidades das populações-alvo. Vejamos dois exemplos: T. B.
WWW.TERRALIVREACORES.BLOGSPOT.COM
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