TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL
BOLETIM Nº4 JANEIRO DE 2009
- AMBIENTE NOS AÇORES EM 2008, OS MEUS DESTAQUES - UMA PLANTA INVASORA EM S. MIGUEL - ECOLOGIA SOCIAL - SOBRE OS MOVIMENTOS DE PROTECÇÃO DO AMBIENTE
AMBIENTE NOS AÇORES EM 2008, OS MEUS DESTAQUES Pretender fazer um balanço de 2008, em termos
endémica da ilha da Madeira Clectra arbórea ou
ambientais, não é tarefa fácil nem cabe no espaço
do Pico e S. Miguel, pelo incenso. No que respeita
que nos foi disponibilizado. Por esse motivo,
a animais exóticos invasores salienta-se o caso dos
optamos por abordar, ainda que superficialmente,
ratos e da térmita (Cryptotermes brevis) que muito
a
a
provavelmente será, por muitos anos, a praga
a
urbana mais grave nos Açores.
questão
das
disponibilização
espécies de
invasoras,
informação
sobre
biodiversidade e o associativismo ambiental,
No que diz respeito às plantas invasoras, apesar de
através de uma referência ao contributo de
existir o “Plano Regional de Erradicação e
Veríssimo Borges.
Controlo de Espécies de Flora Invasora em Áreas
1-A Incapacidade de controlar o avanço das espécies invasoras
Sensíveis” que termina no final de 2008, os objectivos pretendidos, como a melhoria do estado de conservação dos habitats naturais e populações de espécies prioritárias e a consciencialização para a problemática das espécies invasoras e da introdução de novas espécies de flora no arquipélago dos Açores, estão muito longe de serem alcançados. Relativamente às térmitas, também se verificou a incapacidade do seu controlo. No início de 2008, a
As ilhas macaronésicas (Canárias, Madeira e Açores),
conjuntamente
com
a
zona
Mediterrânica, por possuírem um elevado número
praga continuava a não ter uma monitorização adequada e a legislação existente é claramente insuficiente.
de espécies endémicas fazem parte de um dos 26 “Hotspots” de Biodiversidade do planeta. Mas,
esta
biodiversidade
está
1- Uma iniciativa ímpar: o Portal da Biodiversidade
fortemente
ameaçada devido a profundas alterações que têm ocorrido nos ecossistemas açorianos. De entre os processos promotores das alterações referidas destacamos a introdução de espécies exóticas que têm criado nos Açores problemas ecológicos
2
sérios. Como exemplos de situações graves,
O
destacaríamos a invasão da Zona de Protecção
insuficientemente conhecido pelos açorianos, daí
Especial (ZPE) do Pico da Vara pela espécie
que tudo o que seja feito para dar a conhecer a sua
património
natural
dos
Açores
é
riqueza merece uma palavra de elogio. É o caso do
Veríssimo Borges que foi membro de várias
Portal da Biodiversidade que foi desenvolvido no
associações ambientalistas, entre elas os Amigos
âmbito
B
dos Açores, e activista do movimento SOS-
“BIONATURA”
Lagoas, foi o primeiro presidente do Núcleo de
(2007-2008) cujos parceiros nos Açores foram
São Miguel da Quercus. Aquele núcleo foi
respectivamente
do
fundado a 16 de Junho de 1994, pouco tempo
Ambiente e do Mar e a Agência Regional da
depois de ter ocorrido um jantar nas Furnas,
Energia e Ambiente – ARENA que, ao contrário
realizado no âmbito da Presidência Aberta do
de outros projectos, não pode desaparecer quando
Ambiente e da Qualidade de Vida (4 a 21 de
terminarem os apoios comunitários, merecendo
Abril), iniciativa do Dr. Mário Soares, onde foi
ser visitado por todos nós.
por mim apresentado ao Prof. Viriato Soromenho
Para além da distribuição detalhada de uma
Marques, então presidente da Direcção Nacional
espécie no arquipélago e da possibilidade de se
daquela associação.
obter a sua cartografia com base na literatura, é
Embora não estivesse sempre de acordo com o
possível visualizar imagens de algumas delas,
que defendia, ou melhor, mais vezes com o modo
estando neste momento disponíveis cerca de 3914
como defendia as suas ideias, reconheço que o
imagens de 1639 das 5000 espécies terrestres dos
falecimento do Veríssimo constitui uma perda
Açores.
dificilmente substituível. A prova é que o Núcleo
Outra característica importante do projecto é que,
de São Miguel da Quercus, que esteve quase
para além da colaboração de especialistas, está
sempre dependente da sua disponibilidade, tem-se
aberto à colaboração do cidadão comum através
mantido em silêncio desde o seu falecimento no
da indicação de locais onde as espécies ocorrem
dia 8 de Outubro.
presentemente e na cedência de imagens para o
Mas não é só à Quercus que o Veríssimo está a
completamento do respectivo registo.
fazer falta, é a todo o quase apático movimento
dos
“Atlântico”
Projectos (2003-2005)
a
INTERREG e
Direcção
III
Regional
2- Uma enorme perda: o falecimento de
ambientalista nos Açores. Com efeito, foi ele que durante muitos anos promoveu encontros anuais
Veríssimo Borges
entre as várias associações dos Açores, sem nunca se deixar encantar pelo canto da sereia dos que achavam que a solução para muitos dos problemas ambientais dos Açores passava pela criação de uma federação de associações, numa altura em Se
2007
se
tinha
despedido
com
o
que estas pouco mais eram do que uma “ficção”.
desaparecimento do Sr. Dalberto Pombo, um dos maiores naturalistas dos Açores, 2008 roubou-nos Veríssimo Borges.
3
Teófilo Braga
PLANTA INVASORA EM SÃO MIGUEL No Sábado, 15 de Novembro, realizei, com os “Amigos dos Açores”, o percurso pedestre
Esta ‘Madressilva dos Himalaias’ é oriunda
entre o Monte Escuro e a Lagoa do Congro,
da mesma região do globo da mais agressiva
com passagem pela Lagoa do Areeiro.
invasora
da
vegetação
micaelense,
a
Conteira (Hedychium gardnerianum). Conheço a área em causa desde 1993, ano em que realizei para a RTP a série de
A Leycesteria formosa atinge dois metros de
documentários “Madeira e São Miguel à Luz
altura, é bastante popular nos jardins
da Geografia”, tendo ali voltado mais
ingleses e deve ter sido importada como
algumas vezes, a última das quais em Abril
planta ornamental. Possui flores pequenas e
de 2003.
brancas,
envolvidas
avermelhadas, No intervalo de 5 anos que mediou as
por
dispostas
em
brácteas cachos
pendentes bastante atractivos.
últimas duas visitas, a flora daquela área sofreu uma preocupante alteração devido à
Em São Miguel floresce muito bem no Verão
invasão duma espécie arbustiva de folha
e frutifica abundantemente. Os frutos são
caduca, a Leycesteria formosa, da família
bagas purpúreas quando maduras, com 1 cm
Caprifoliaceae, que em São Miguel ainda não
de diâmetro, doces e muito apreciadas pelos
tem nome popular, mas que na literatura
pássaros, que dispersam as sementes, que
inglesa da especialidade é referenciada
germinam muito facilmente em locais com
como
boa exposição solar ou meia sombra. É uma
‘Purple
Honeysucke’.
Rain’
ou
‘Hymalayan
espécie de crescimento rápido, muito rústica quanto a solos e que suporta ventos fortes desde que não sejam carregados de sal.
Segundo testemunho de alguns amigos, que com frequência visitam a Lagoa do Congro, foi especialmente nos últimos dois anos que a espécie invadiu os taludes e as bermas dos caminhos, chegando a ocultar as hortênsias (Hidrangea macrophylla). Leycesteria formosa
4
invasoras, mas não faz qualquer referência à Leycesteria formosa, o que leva a crer que há 25 anos não passaria duma planta de jardim, com uma presença muito discreta na paisagem micaelense. A Leycesteria formosa nos últimos dois anos cobriu as bermas dos caminhos que envolvem a Lagoa do Congro, chegando
a
ocultar
as
Hortênsias
(Hydrangea
macrophylla)
Em 2002, no livro “Flora of the Azores – a Field Guide”, Hanno Schäfer já refere a Leycesteria formosa como uma planta que
Na Segunda-feira, 17 de Novembro, ao longo da estrada entre as Caldeiras da Ribeira Grande e as Lombadas, detectei a presença da Leycesteria formosa, embora em muito menor densidade.
tinha escapado ao cultivo ornamental e que se tornara comum em taludes e beiras de estradas. Informava, ainda, que as sementes desta invasora recente eram importante alimento do Priôlo (Pyrrhula murina).
Na Terça-feira, 18 de Novembro, voltei a encontrar aquele arbusto dos Himalaias nas matas à volta da Lagoa das Furnas.
É importante referir que a Leycesteria
Os caminhos de acesso à Lagoa do Areeiro estão literalmente invadidos pela Leycesteria formosa
formosa não faz parte da longa lista de plantas
invasoras
à
escala
mundial,
Pelo que tive oportunidade de observar, e
integrantes do livro de Quentin Cronk e
pelos relatos de amigos que têm percorrido
Janice Fuller, “Plant Invaders”, publicado
a pé a ilha de São Miguel, as populações de
em 1995, com o apoio de da UNESCO e do
Leycesteria formosa têm crescido muito
WWF.
rapidamente nos últimos anos. Atendendo ao impacto
desta
invasora
nas
formações
Posteriormente tem vindo a ser referenciada
vegetais da maior ilha do arquipélago dos
como espécie invasora na Nova Zelândia e na
Açores,
Austrália
urgentemente, delinear uma estratégia para
o
Governo
Regional
deve,
a sua erradicação antes que se torne O botânico sueco Erik Sjögren, no livro
irreversível
“Açores – Flores”, publicado em 1984, trata
gardnerianum.
como
o
Hedychium
o Hedychium gardnerianum, o Solanum mauritianum, a Gunnera tinctoria e o Pittosporum
5
undulatum
como
espécies
Raimundo Quintal
ECOLOGIA SOCIAL Cada vez faz menos sentido tratar as questões
O custo humano da crise ecológica e económica já
ecológicas e sociais de forma independente, tanto
é muito alto. Sem dúvida, são as próprias
a nível político como reivindicativo. Não podemos
condições de existência humana sobre a Terra que
aceitar esse tipo de raciocínio, pois além do
são qualitativamente fragilizados.
homem ser parte da natureza e dela depender sua vida,
criaremos
desenvolver
contradições
medidas
intrínsecas
díspares,
entre
ao
Os efeitos sociais da crise ecológica.
as
necessidades ecológicas e sociais.
Os efeitos sociais da crise ecológica, há muito são
O objectivo é combinar acções que sejam
percebidos em todos os países. As populações do
coerentes, e isso deve ser abarcado pelo plano
terceiro mundo são as mais afectadas, o que não
teórico; a ecologia não pode ser considerada um
significa que as populações do chamado mundo
capítulo a parte da própria transformação social
desenvolvido não sintam seus efeitos, mesmo que
que traz em seu bojo.
em escala menor. Os efeitos são perceptíveis pela poluição das águas, das terras, do ar, dos alimentos e de serviços básicos pelas políticas de privatizações do sector (transporte urbano, energia eléctrica, sistema de saúde, etc.). A crise ecológica contribui, de diversas formas, para ampliar as desigualdades entre ricos e pobres dentro de todos os países. Por isso, é necessário tratá-la para resolver os problemas do presente e do futuro. A articulação da crise ecológica e social é tal, que
A crise global.
torna-se sem sentido querer estabelecer um O desenvolvimento económico actual, produz
distanciamento entre eles. Devem ser tratados
crises ecológicas a nível local e também a nível
conjuntamente.
global (a produção pela produção), a globalização neo-liberal
em
desregulamentações, panorama.
curso, tende
a
com
suas
agravar
esse
Uma luta central para a sociedade.
A ecologia analisa as relações entre a sociedade humana e seu meio ambiente, a biosfera.
6
Mas,
se
a
origem
da
crise
ecológica
actuais, sejam desarticuladas e percam sua
contemporânea está no produtivismo, ou seja, a
importância.
produção pela produção, as respostas exigem uma
O encontro do ecológico e do social participa
modificação no processo de funcionamento das
plenamente nesta questão actual: gerar novas
sociedades humanas.
"solidariedades", comunidades, bioregionalismos,
A luta ecológica se alia a luta pela transformação
expressar
social. Não é uma esfera separada, que está
resistência,
protegida dos contrastes sociais e das relações de
solidariedades e a articulação de resistências
poder. A crítica ecológica afecta a lógica do actual
locais,
a
convergência dar
um
dos
conteúdo
bioregionais
e
campos
de
renovado
às
globais.
sistema de produção e distribuição, como também questão questiona alguns desses pilares (agroindústrias,
indústria
petrolífera,
nuclear,
transportes, química, etc.), que podemos chamar de gigantes de manejo ambiental. Dessa maneira, o combate ecológico não escapa das tensões, pressões sociais. Para contribuir de forma positiva à transformação necessária de nossas sociedades, é necessária uma integração colectiva maior.
Uma questão chave: a união dos campos de luta.
Questionamento dos Activistas Ecológicos.
A afirmação das solidariedades sempre foi uma
Uma questão de fundo está aberta aos activistas
dimensão essencial do combate progressista, mas
ecológicos. Serão eles capazes de integrar
adquiriu um significado essencial neste momento
efectivamente o problema ecológico e a todos os
de globalização neo-liberal.
níveis de sua reflexão e acção?
Vivemos um sistema único de instituições
Apesar do tempo perdido, um certo progresso se
internacionais e de pólos de poder, que se estende
manifesta neste domínio, mas há muito o que
por todos os continentes e em todos os domínios
fazer e são muitos os obstáculos. Seremos capazes
dos políticos ultra liberais, atendendo uma parcela
de pensar a transformação ecológica e social e
mínima da sociedade.
desta retirar suas consequências políticas e
Por outra parte, em diversos países, incluindo o
reivindicatórias?
nosso, a capacidade do estado de estabelecer compromissos sociais é hoje em dia restrito, o que faz com que os espaços nos quais as cidadanias
7
sobre a organização do tempo de trabalho,
Articulação das lutas.
especialmente por sua variação ao longo do ano. A crise ecológica e a crise social, são em grande
Os salários, as condições de trabalho e as normas
medida alimentadas por mecanismos idênticos.
de segurança são totalmente colocadas em
Interesses
de
segundo plano, em nome da rentabilidade
ditaduras
dos
grandes
lobbies
económicos, mundial
competitiva. As necessidades sociais (transportes
comandada pelo FMI, OMC, BM, G8 etc. ,
públicos baratos, uma rede capilarizada, normas
contribuem tanto para o esgotamento dos seres
de trabalho e salários aceitáveis) e ecológicas
humanos, como da natureza. Factores comuns
(redução dos meios de transportes mais poluentes,
actuam nas crises ecológicas e económicas
os que mais destroem fisicamente e os mais
actuais, remédios comuns podem e devem ser
custosos desde o ponto de vista energético),
desenvolvidos: é preciso quebrar o cerco do
impõem a necessidade do desenvolvimento de
"liberalismo económico", colocando no centro das
transportes colectivos sob a lógica de serviços
eleições que atendem as necessidades humanas e
públicos,
as
maximização do lucro.
necessidades
mercados,
ecológicas.
ordem
Daí
surge
a
que
não
tenha
por
objectivo
a
convergência imediata que encontramos entre o ecológico e o social. Sem dúvida, quando nos restringimos aos pontos básicos dessa questão (água e clima), surgem novos questionamentos de reavaliações mais amplas. Exemplo: O sistema de transportes mostra como a lógica do serviço público
é
necessária
para
responder
às
necessidades ecológicas e sociais. A lógica neoliberal exige redução da rede ferroviária e formas exclusivas de linhas "rentáveis", favorecendo em contrapartida ao crescimento de rodovias. Essa lógica também alimenta uma competição selvagem
entre
as
formas
de
transporte
A luta contra a poluição.
(ferroviário, rodoviário, aéreo e fluvial) que
8
produz eleições irracionais desde o ponto de vista
Cada vez mais temos consciência dos custos
ecológico e social. O domínio absoluto do
humanos com relação a saúde, alta dos preços
caminhão de transportes de mercadorias se deu
naturais (biodiversidade aniquilada), assim como
graças à enorme expansão da rede de estradas e
participam diversos interesses económicos em seu
responde às exigências de produção em fluxo
agravamento:
descontínuo, "just in time". A produção em fluxo
poluição atmosférica, preponderância da agro-
descontínuo exerce uma considerável pressão
indústria, a brutal poluição das águas, a difícil
A
supremacia
do
automóvel,
reversão
dos
lençóis
freáticos
poluídos,
a
as lógicas económicas dominantes, que super
supremacia de grandes interesses privados e a
exploram
poluição
água
desemprego. Isso fica óbvio no caso da agro-
potável. Em cada uma dessas áreas, combate
indústria que desertifica os espaços através da
ecológico e social, exigem uma lógica alternativa
drástica redução das variedades de paisagens e da
que se oponha a dos grupos económicos
biodiversidade e sua consequente redução de
dominantes. A gravidade dos problemas de
emprego rural, promovendo o êxodo rural.
poluição, são factores activos para a evolução das
Esse também é o caso da indústria automobilística
consciências. Não faz sentido apresentar a questão
que despede massivamente, ao mesmo tempo que
ecológica
como
aumenta sua capacidade produtiva e impõe a sua
preocupação elitista. A crise da vaca-louca
ditadura sobre formas de transportes, de ocupação
demonstrou intrinsecamente que o modo de
do território e desenvolvimento urbano.
produção da agro-indústria é perverso, em
Lógicas
biodiversidade,
alternativas, permitem definir um modo de
insuportável
como
socialmente
estranho
em
ao
da
social,
segurança social
e em
a
natureza,
ecológicas
são
e
criadoras
de
socioeconómicas
produtividade.
produção menos predatório em relação a natureza
O combate contra e poluição, questiona em
e a qualidade de vida e mais rica em empregos.
conjunto o modelo produtivo, possui implicações
Ter em mente as múltiplas possibilidades da
profundas para a política de ocupação de território
questão ecológica aumenta a variedade de
e apresenta diversas questões sobre a investigação
trabalhos. A ecologia se inscreve no esforço
científica e suas relações privadas.
conjunto de redução do desemprego e da sua redistribuição das actividades e da riqueza sobre o território.
Abolir o sistema de dívida.
O desenvolvimento através do endividamento, impulsionado
pelas
potências
financeiras,
produziu um sistema de controlo da política económica
dos
países
devedores
e
o
fortalecimento de órgãos como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, tem consequências dramáticas para as sociedades humanas (destruição das A necessária defesa do emprego.
protecções sociais, impulso ao sistema produtivo exportador, destruindo os recursos naturais para
Uma política de protecção ambiental é geradora de empregos em diversos sectores. E afirmo que
9
exportação. Ex: Exportação de produtos primários e minerais brutos. Os mecanismos fundamentais
desse
sistema
de
dominação
devem
ser
concepção de planificação, porque esta deve
combatidos sob o ângulo ecológico social.
incorporar uma série de preocupações e objectivos
As regras comerciais da OMC reforçam a
ambientais (fluxo de energia, pressão sobre os
dominação das grandes multinacionais, impondo
recursos naturais, os objectos depositados no
uma abertura dos mercados locais que acentuam
ambiente, preservação da biodiversidade e da
as dependências, incrementam as desigualdades
diversidade
sociais e aumentam irracionalmente intercâmbios
desvios criados na biosfera etc.).
de
ecossistemas,
correcção
dos
internacionais, alimentando a crise energética e ecológica. Os ritmos da natureza possuem tempos muito diferentes e em geral mais longos do que aqueles do Mercado Financeiro, que em geral são curtos e utilizam a tecnologia da informação para reduzi-lo ainda mais. O mercado financeiro não conhece o sentido de solidariedade, cooperativismo e é autofágico
em
sua
essência.
Inumeráveis
necessidades sociais (saúde, educação, transporte, saneamento básico, etc.) exigem para serem correctamente desenvolvidos, um tempo maior que o "rei mercado", o que faz com que uma das principais razões que esses serviços sejam públicos.
Danos
ecológicos
e
necessidades
humanas exigem conjuntamente que as políticas alternativas integrem dimensões de tempo maior, solidariedade desta geração para com ela mesma e pelas que hão-de vir. A ecologia, além das defesas da necessidades sociais, dá um novo espectro,
Um processo em movimento. O
atraso
no
sociedade/natureza
debate está
das
relações
acumulado
e
será
necessário tempo para superá-lo. Sobre tudo se entendermos por isso um pensamento colectivo, elaborado por grupos, movimentos, comunidades e organizações que sejam capazes de actuar tanto em nível educacional quanto político.
legitimidade e planificação de bairros, municípios, Abraços a todos,
bioregiões e assim consecutivamente.
Vermonter.
A ecologia política, enriquece a reflexão sobre democracia e especialmente entre solidariedades, cooperativismos
e
responsabilidades,
entre
presente e futuro, entre diversos níveis de espaço territoriais. A ecologia política revaloriza a política na redefinição de opções produtivas e renova a
10
Texto extraído de : http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/1 2/340747.shtml
SOBRE OS MOVIMENTOS DE PROTECÇÃO DO AMBIENTE
Hoje, com tantos movimentos ambientalistas
que quem o está matando pode estar fazendo isto
activos, ainda continuamos com os problemas
por um salário, pela sua necessidade de dinheiro
ambientais se agravando cada vez mais. Isso se dá,
para sobreviver, portanto há alguém o explorando
logicamente, pela força das empresas, porém
e há todo um sistema de exploração montado que
também pelo caráter destes movimentos, pois a
explora a natureza com um todo, seja um animal
maioria não tem uma visão mais centrada sobre o
como uma baleia ou uma tartaruga, seja o
funcionamento do mundo moderno, ou seja, uma
trabalhador que é obrigado a matar estes animais
reflexão conceitual que permita compreender a
para ter sua remuneração que trocará por comida,
realidade em suas relações mais profundas, no que
roupas e outras necessidades básicas. Não estou
podemos considerar por essência da realidade,
querendo justificar a caça a estes animais, fato que
num nível de análise diferente da aparência mais
repudio e que creio que se deva sempre lutar
superficial.
contra, porém, estou mostrando que a briga é muito mais ampla. Brigar contra os navios
Tais movimentos, se pretendem realmente uma
baleeiros é válido desde que se brigue também
transformação no modo como a humanidade se
contra todo o modo de produção que gera a caça
porta em relação ao resto da natureza, necessitam
de animais em nome da acumulação de capital
primeiramente acabar com esta divisão homem-
sem se preocupar com os danos causados ao meio
natureza, que, como vimos, é uma falsa visão que
ambiente ou à vida destes seres sensíveis: o modo
serve como meio de alienar o ser humano do que
de produção capitalista.
necessita para sua sobrevivência, além de ser uma alienação de cunho ideológico que não permite que se perceba com facilidade o modo como a exploração da natureza ocorre com a finalidade de servir àqueles cujo interesse é o acumulo de capital.
Além disso, cabe aos movimentos ambientalistas sempre lembrar que quando se briga por algo
11
específico não se deve esquecer o todo que gerou
Neste momento cabe fazer uma pequena ressalva:
este problema. Por exemplo, quando se briga pelo
é lógico que em modos de produção não
massacre de algum animal, não se deve esquecer
capitalistas também pode haver massacre de
animais e destruição ambiental, mas o que tento
algo meio obscuro, pois no discurso destes
mostrar é que enquanto houver Capitalismo, cujo
movimentos (geralmente na forma de ONGs) a
objectivo é o acúmulo de capital baseado na
natureza
exploração da natureza (inclui-se aí o ser humano
despersonalizado e abstrato. Não se percebe (ou
enquanto força de trabalho), não será possível uma
ao menos não se revela) que o que existe são
real transformação no modo como a humanidade
homens concretos que são também explorados
se relaciona com o resto da natureza. O
pelo mesmo interesse que se explora o meio
Capitalismo não irá deixar de explorá-la, pois a
ambiente. Esses movimentos acabam por apoiar o
exploração é a espinha dorsal do Capitalismo.
modo de produção capitalista (por isto são
é
destruída
por
um
homem
apoiados por ele), pois fazem com que seja conservada a matéria-prima para as indústrias e ao mesmo tempo são escondidas as relações cruéis contra os próprios homens, não se protestando contra o modo de produção como um todo. Esses movimentos podem ser chamados de "Capitalismo verde", e são, infelizmente, a esmagadora maioria dos
movimentos
ditos
"ambientalistas"
ou
"ecológicos" que possuem acesso ao grande público, principalmente no que diz respeito à veiculação de suas ideias nas grandes mídias, com Grande parte dos movimentos ecológicos actuais
o apoio financeiro da iniciativa privada ou do
não é contra o modo capitalista de produção, e
próprio governo estatal que, logicamente, também
muitos são até parceiros, tendo apoio da chamada
possui seus interesses capitalistas na exploração
iniciativa
de seu território e de seus habitantes.
privada,
ou
seja,
as
empresas
capitalistas. Isso se dá pois a principal luta deles é a conservação dos recursos que o homem destrói e
Autor: Dennis Zagha Bluwol, Geógrafo
que servem de matéria-prima para estas indústrias. Natureza para estes movimentos e indústrias é
Extraído de:
apenas uma fornecedora de matéria-prima e,
http://www.guiavegano.com/ecologia/reflexoes3.h
portanto, deve-se conservá-la. Com isso, cria-se
tm ,
WWW.TERRALIVREACORES.BLOGSPOT.COM
[email protected]
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