Tenda Do Suor

  • June 2020
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Jornal Frater nº 2 - junho 2002 Revista Viva Melhor Especial - 2002

Xamanismo - Um Caminho de Vida Por Tony Paixão Eu acredito que nós somos os Espíritos de Deus e os Espíritos de Deus esta dentro de tudo aquilo que vive. Para entender o conceito do povo nativo, você deve redefinir a Medicina. Medicina é qualquer coisa que melhore sua conexão com o Espírito de Deus, com o Grande Mistério da vida, e com toda a vida. (Lin Ekstam) O Xamã em culturas tribais é a pessoa que vê o mundo sagrado. Através de rituais, o xamã traz as visões do mundo dos espíritos antigos e animais de poder. Por este processo ritualístico, mais semelhante a uma oração, imagem e arte, o xamã se cura, assim como aos outros e a terra. Tendo as visões de cura e fazendo rituais sagrados, o xamã faz as visões dele se tornarem realidade. O xamã manifesta a realidade do mundo visionário no mundo exterior. Foi assim que o Criador fez todas as coisas. Nós somos toda a visão do Criador. Existe uma senda predeterminada a ser trilhada para se tornar um Xamã ou Pajé. É preciso nascer com poder, herdá-lo ou recebê-lo por transmissão direta. Então vem o chamado. A maioria dos Curandeiros descende de pais, avôs, bisavós ou tataravôs curadores. Conclui-se que o poder e a estrutura psíquica para tal são transmitidos geneticamente. Mas nascer com esses dons não basta para converter seu possuidor num Curandeiro Nativo. Ninguém acorda um dia e diz, hoje serei um xamã, não é assim que acontece, o caminho é bastante íngreme. Existem etapas e provações cósmicas predelineadas a serem cumpridas à risca, e não se aprende a desenvolver estes dons ou prepara-se numa faculdade. Este estudo difere grandemente dos estudos e práticas dos homens brancos. É preciso vencer todos os testes e provações. Muitas vezes, exclusivamente por meio da dor, do sofrimento, da doença e da própria morte. Através dela é que o curador adquire o acesso ao universo das realidades extraordinárias. Este aprendizado pode levar anos ou décadas dependendo da tradição e do objetivo que se quer chegar. A meu ver os xamãs são uma espécie em extinção, em muitas tribos, o seu papel e função já não existe mais. Como cita fantasticamente Alix de Montal em seu livro O XAMANISMO "um faquir, tirador de sorte, mago, curandeiro sarcerdote-adivinho, poeta, feiticeiro de Deus”? O Xamã é tudo isso. Mas um curandeiro indígena ou australiano não é necessariamente um xamã... caminhar sobre brasas, matar a distância, imolar animais, predizer o futuro ou voar em sonho - nada disso é ser xamã. Afirmá-lo seria tão absurdo quanto dizer que bater um prego é ser marceneiro. O que é, então, o xamã? “É o espaço ao redor do prego, é a pequenina sombra que corre na erva, o olhar de fogo do coiote no meio da noite...” Sagrada Mãe-Terra, as árvores e a natureza, são testemunhas dos teus intentos e dos teus feitos. (provérbio Winnebago)

Hoje, os noviços não querem mais esperar para conquistar e ter seu mérito com os anciões. Muitos não querem mais saber deste velho código; outros são atraídos pelo enorme crescimento deste costume primitivo, que faz de alguma maneira crescer o velho fogo. Conseqüentemente vivemos em uma "era" de conquistas rápidas, onde o velho código de ética de aprendizado lento dos xamãs parece não se encaixar (ao meu ver como podemos resgatar tal poder, se paciência não temos) estamos levantando o legado dos velhos xamãs que outrora viveram aqui, mais seus códigos de ética moral, familiar, amizade, lealdade e comprometimento ficaram no passado? creio que não. Normalmente quando os aprendizes começam os estudos de uma determinada tradição tem que esquecer de outra, se não estará preso a conceitos antigos. Este aprendizado pode levar dois anos ou até mesmo décadas. Normalmente cada tradição tem um modo especifico de realizar certas cerimônias. Fica aqui um cuidado em especial em não misturar tradições em cerimônias, pois isto acabaria em descaracterizar seu fundamento xamânico. Para a cerimônia de Medicina, Sweat Lodge (tenda do Suor) chega até 20 anos para que a pessoa esteja realmente preparada. "Não importa o que se faz, mas como se faz". "Nossos poderes provêm de nossas afinidades com a natureza, que é nossa conselheira e aliada... Somos os Guardiões da Terra, possuímos o conhecimento milenar..." (Charles Thom - Curandeiro e Mestre-de-Cerimônia Karuk).

O modo de vida nativo diz que a cada nascer do sol e cada noite antes de dormir devemos agradecer pela nossa vida e pela vida no planeta. Tratar todas as pessoas com respeito. Respeito especial deveria ser dado aos anciões, pais e professores. Nunca falar indelicadamente com outras pessoas. Não tocar em nada que pertença á outra pessoa. Respeitar a privacidade de todo mundo. Nunca caminhar entre pessoas quando elas estiverem conversando. Nunca interromper as pessoas que estão conversando ou rezando. Falar em voz baixa. Nunca falar a menos que seja convidado a fazê-lo. Não falar de outros de modo negativo. Tratar a Terra como sua Mãe. Respeitar as crenças dos outros. Escutar com cortesia quando os outros falarem. Respeitar a sabedoria das pessoas em cerimônias. Honrar o que se aprende. Xamãs são freqüentemente chamados de "Curadores Feridos", e isto é parte do que é necessário no processo de iniciação, "curar a si mesmo". Toda nossa ação, esta em um nível acessível, poder e coragem, Somos de certo modo os feridos, e somos capazes de subir a um nível quântico, através das práticas xamânicas. Semelhante ao passado, o xamã moderno, se assim posso chamar, deve ser um exemplo para o resto da sociedade. Um visionário, cuidadoso com ética moral e respeito com a natureza, assim em lugar de ver o xamã como um vestígio do mundo selvagem e primitivo, em verdade eles são os precursores da evolução futura da humanidade.

Hoje estamos com necessidade de visionários, indivíduos que podem pressentir um possível futuro, até mesmo nas grandes empresas. Não o futuro provável de poluição, holocausto nuclear, falta de energia mas sim o que é possível para nosso crescimento. Alberto Villoldo, PHD fala em uma entrevista para Olhar para a terra como uma única comunidade, tendo consciência que tudo é sagrado; as árvores, os rios, as montanhas, os desfiladeiros, assim como também o espaço sideral. Que podemos comungar e ter acesso com o todo sem estar fora da força da vida, separados de nosso próprio poder pessoal. A palavra animismo é uma palavra interessante. Animismo vem de anima, a alma, o feminino, e recorre a um tempo em que o mundo estava encantado. Quando árvores e nuvens tinham espíritos e você podia falar com eles, você podia dialogar e poderia interagir. Por causa da nossa revolução científica e educação que tivemos, criamos um mundo que já não está mais encantado, isso para escapar de nossos medos e poderes psíquicos, em lugar de confrontá-los, que é verdadeiramente um ato xamânico. O cérebro humano evoluiu para um lugar onde já não precisamos da superstição dos antepassados. Antes havia um grande temor ao qual fomos expostos. Nós estamos agora na posição de reconhecer a magia do planeta e de nossas próprias vidas. Assim a tarefa aqui é olhar para estas tradições, não com as lentes de nossa cultura, mas sim com uma realidade onde qualquer coisa é possível. E tudo é possível. "Tudo que você faz ao outro refletirá em você. Estamos todos ligados". Muitas vezes, olhamos para nossos amigos animais só como provedores e entretenimento. Nós os mantemos para acariciar. Os visitamos em parques e jardins zoológicos, e os insetos, nós às vezes vemos como amolações. Se levarmos um tempo para realmente conseguir saber porque estão ao nosso lado, porque existem os quadrúpedes, os rastejantes, irmãos natatórios e irmãs; como eles vivem; como eles se adaptam e sobrevivem; nós podemos aplicar estas lições em nossas vidas. Isto é de grande benefício para nós. O Búfalo é considerado por muitas tribos como um símbolo de abundância: sua carne alimentou as pessoas, peles eram usadas para cobrir e vestir, com os ossos e tendão foram feitas ferramentas de sobrevivência. De acordo com tradição de Lakota, Mulher Novilho de Búfalo Branco lhes deu o Cachimbo Sagrado, abundância promissora, contanto que eles rezassem ao Grande Espírito e honrassem todas Suas Relações, isso é, todas as outras criações da natureza. Penas de Águia estão no mundo inteiro e são usadas como instrumentos cerimoniais. São consideradas as ferramentas de cura mais sagradas, é um símbolo de poder, cura e sabedoria. Águia representa um estado de graça que é alcançada por um trabalho interno, compreensão e transcurso dos testes de iniciação que é o resultado do nosso poder pessoal. Geralmente para ter uma pena de Águia você tem que fazer por merecer, fazer algo honrável, para a sociedade ou tribo, algo grandioso e respeitável. O Lobo lembra que sua lealdade sempre devera ser a você, para sua própria verdade. Ele lembra que respeitando e se avaliando você estará a serviço de pode dar algo verdadeiramente. Uma pesquisa científica mostrou que a borboleta é o único ser vivo capaz de mudar completamente sua estrutura genética durante o processo de transformação: o DNA da lagarta é totalmente diferente do da borboleta. Assim, é o símbolo de transformação total. Quando estudamos xamanismo, estudamos um sistema de conhecimento que antecede todo o seu condicionamento familiar, social e cultural. Estamos retornando a um sistema simples e direto de perceber o mundo sem teologias e dogmas, ao contrário dos seres humanos primitivos, você tem o benefício das incríveis descobertas da física e da bioquímica para avaliar sua experiência.

Para o xamã, a imaginação inclui mais do que apenas uma atividade cerebral. Veículo vital e essencial, a imaginação nos liga com a rede de poder e o espírito de todas as coisas. Provavelmente você ouviu dizer muitas vezes que suas crenças o limitam e que você só pode ter aquilo que imagina-se capaz de ter. O xamã eleva o nível da pessoa ter, fazer e ser. A capacidade de imaginar eleva nossa capacidade de ter, fortalecer e alongar a imaginação. Isso requer exercícios e tempo. Na América do norte o Xamanismo aparece com os "pele-vermelhas", vindos da Ásia há alguns milênios, sendo assim os primeiros povoadores do Canadá e dos Estados Unidos. Dentre as diversas práticas e tradições, o nativo americano sempre esteve em contato direto com suas crenças e divindades, surgindo assim um conjunto de práticas religiosas. Entre elas destacamos aqui o Sweat Lodge (Tenda do Suor) e a cerimônia da Tipi (tenda nativa) As leis do Criador eram normalmente ensinadas e reafirmadas pelos Povos Nativos em rituais, danças sagradas e cerimônias em Tipy. Muitas vezes os povos nativos usam das Casas de Vapor ou Tendas de Suor para purificar mente, corpo e alma. Esta cerimônia traz um contato direto com as forças naturais que nos mantém vivos; água, terra, fogo e ar. Com estes elementos, nós seres humanos, estamos estruturados para viver em harmonia. Há dois elementos pessoais e essenciais para qualquer humano alcançar integridade e ao chegar ao centro estes dois elementos são achados: Pai Céu e Mãe Terra. O Sweat Lodge possibilita este contato. O Sweat Lodge (Tenda do Suor) é uma cerimônia de purificação, muito usada antes de grandes acontecimentos, cerimônias importantes e para cura, tendo como simbolismo á conexão com o feminino e a Mãe Terra. A cerimônia de medicina nas tipis (tenda nativa) começou mais ou menos por volta de 1870, com o contato entre os índios americanos do norte e mexicanos, ajudando assim a espalhar para o norte a cerimônia. Foi durante este período de tempo que os últimos índios livres das planícies estavam agrupados nas reservas. Os poucos índios que tinham sobrevivido ao caos do homem branco, passavam fome e não tinham absolutamente nenhuma esperança, nenhum futuro. Estavam totalmente a mercê dos opressores. Eram como escravos não desejados em suas próprias terras. Os Cheyenne começaram a usar a medicina nativa em cerimônias na Tipi no final de 1800. Em 1884 foram visitados por Quananh Parker (um mestiço, chefe Comanche), que realizou muitas cerimônias para eles. Neste mesmo ano, ou um pouco mais tarde, Leonard Tylor e John Turtle (cheyennes) foram para as terras Kiowa e aprenderam a cerimônia à moda deles. Anos mais tarde surgiu a primeira Native American Church, que integrou várias tribos, tendo como local de cerimônia as tipis. Esta cerimônia se destacou por usar orações, canções e propagar a paz. Atualmente alguns líderes ainda mantêm esta cerimônia viva. Na tradição Cheyenne é o Road Man e Chefe Nelson Turtle.

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