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Aulas do curso
Demonologia
A reflexão de Santo Tomás de Aquino sobre a ação demoníaca
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O grande doutor da Igreja, Tomás de Aquino, é conhecido também pela famosa alcunha de "Doutor Angélico", por empreender, em sua grandeza intelectual, o talvez mais importante estudo sobre os santos Anjos e a ação demoníaca. É justamente essa reflexão teológica o tema da presente aula.
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O grande santo da Igreja, Tomás de Aquino, é conhecido também pela alcunha de "Doutor Angélico" porque em sua grandeza intelectual, realizou talvez o mais importante estudo acerca dos Santos Anjos e sobre a ação demoníaca. Tal análise constituiu-se um marco teológico justamente por causa da coerência com o dado revelado e a consonância com a própria reflexão filosófica e metafísica dele. A meditação de Santo Tomás sobre os anjos e os demônios encontra-se na chamada Suma Teológica, sua obra prima, e pode ser localizada na parte em que se refere à Criação (exitus). Inicialmente ele se reporta aos anjos para, em seguida, falar sobre os demônios (I, q. 63 e 64). Existem outras questões importantes relacionadas ao tema em outras partes da sua vasta obra, as quais serão abordadas no decorrer do curso. A propósito dos anjos, é correto dizer que foram criados por Deus, conforme se vê na profissão de fé do IV Concílio de Latrão, citado pelo Catecismo da Igreja Católica:
Deus criou conjuntamente, do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a criatura humana, que tem algo de ambas, por compor-se de espírito e de corpo. (CIC 328).
Santo Tomás afirmou que os anjos são espíritos puros, não possuem matéria. Este entendimento é o mesmo apresentado pelo Catecismo, que assim os define: "Como criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis." (330) Na literatura católica, há quem discorde da proposição de Santo Tomás e afirme que os anjos possuem uma espécie de "corpo sutil", como São Boaventura, porém, parece prevalecer a opinião do Aquinate. Existe uma gradação na criação: os seres puramente materiais dão origem à vida vegetativa, que dá origem à vida animal, que origina a vida espiritual/racional, ainda ligada ao corpo e assim por diante. Diante disso, entre o homem e Deus está a realidade angélica. Os anjos não são puro espírito infinito, como Deus nem espírito ligado à matéria como o homem. Eles ocupam o espaço entre o homem e Deus. Além de ser lógica, a reflexão do Doutor Angélico explica o fato de que os anjos parecem não estar limitados nem pelo espaço nem pelo tempo. Eles não estão em um lugar, posto que não possuem corpo. Como explicar, então, quando se diz que "o Diabo entrou ou saiu de um corpo" ou "os anjos estão aqui"? Ora, "convém ao anjo estar em um lugar", diz Santo Tomás. Ocorre que esse estar em um lugar não deve ser entendido como quando se refere a um corpo, pois, nesse caso, o corpo pode ser dimensionado, o que não se dá com os anjos. Eles exercem influência sobre o lugar e sobre as pessoas. Deste modo, "é pela aplicação do poder angélico a um lugar, de certa maneira, que se diz que o anjo está em um lugar corpóreo"(cf. q. 52, a. 1). Entender esse ponto será deveras importante quando o estudo for sobre a ação demoníaca propriamente dita. Os anjos são puro espírito e não possuem o que os homens entendem por afeto, afetividade. Apesar disso, eles podem amar, pois o amor é um ato de vontade e requer o que eles possuem: inteligência e vontade. Para Santo Tomás, Deus criou os anjos, mas estes não O viam. Em certo momento, Deus revelou-se a eles de modo indireto e lhes deu uma escolha de amor. Alguns, num ato de amor optaram por escolher a Deus e, assim, foram admitidos à Sua presença. Desse momento em diante, ao contemplarem a visão beatífica de Deus, perderam a sua liberdade, foram irrevogavelmente atraídos para Ele. Embora não se saiba em que consistiu a prova dos anjos, é certo que alguns deles não aceitaram e incorreram em desobediência. Como os anjos são seres incorpóreos não poderiam ter cometido pecados ligados à carne, portanto, dos pecados conhecidos pelo homem somente a soberba e a inveja podem ter sido a causa de Satanás e seus demônios terem ido contra Deus. A soberba, que é o pecado principal, consistiu em querer ser igual a Deus. Ora, se um anjo é um ser inteligente, intuitivo, como é possível que ele tenha desejado ser igual a Deus? O Doutor Angélico explica que Satanás não desejou ser igual a Deus em sua natureza, pois sabia ser impossível. Mas sim, por semelhança. Isso quer dizer que Satanás preferiu ser Deus a partir de sua própria natureza, sem contar com o dom sobrenatural da graça. Movido pela soberba, procurou a autossatisfação, voltando as costas para o Criador. O Diabo é arrogante e odeia profundamente quem o criou. Além disso, vê que existem criaturas que foram destinadas a estarem com Deus, como por exemplo, os anjos que permaneceram fiéis, o que gera nele o segundo pecado: a inveja, pois "ele se entristece diante do bem do homem, e também diante da grandeza de Deus". Não podendo seduzir os anjos bons, voltaram-se contra os homens que ainda não haviam tido a visão beatífica de Deus, portanto, estavam sujeitos ao pecado. A tentação exercida pelo Diabo e seus demônios contra os homens tem autorização de Deus. "A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam", diz o Catecismo da Igreja Católica em seu número 395. É claro que Deus poderia ter fechado a porta de acesso ao homem e o motivo pelo qual não o fez constitui-se um enigma, sobretudo quando se vê na oração do Pai-Nosso uma alusão clara à tentação, o que se pode significar que Deus permite ação diabólica, mas que cabe ao homem não sucumbir a ela. Santo Tomás continua sua reflexão sobre os anjos explicando que o número daqueles que decaíram foi menor do que daqueles que permaneceram fiéis a Deus. Existem miríades e mais miríades de anjos bons, portanto, a realidade angelical é muito maior e triunfante que a diabólica. O livro do Apocalipse diz que "um terço das estrelas caíram" (cf. Ap 12,4) e disso se pode inferir que um terço dos anjos foram precipitados. Da mesma forma que existe uma hierarquia entre os Santos Anjos, existe também uma ordem de importância entre os demônios. Satanás tem preponderância sobre os demais anjos decaídos. Ele pode ser chamado por muitos nomes: Satanás, Diabo, Lúcifer, sempre significando anjo de luz, maior, mais glorioso que todos os outros. Justamente essa grandiosidade que fomentou o pecado da soberba. E foi o pecado dele que levou os outros anjos a pecarem também. Na questão de número 64, artigo 1, Santo Tomás explica que o intelecto de Satanás encontra-se obscurecido. Contudo, esse fato não faz com que ele se torne incapaz de conhecer a verdade, mas ele só consegue conhecer as coisas de forma natural. O que foi fechado a ele é o conhecimento das verdades reveladas, pois ele não vê Deus face a face e, portanto, o acesso que possui restringe-se tão somente àquilo que lhe fora revelado antes do pecado ou àquilo que ele recebeu dos anjos. Os anjos são sábios por causa do dom da Sabedoria Divina, enquanto Satanás é inteligente, mas não "sábio". Ele não está obcecado intelectualmente no sentido pleno da palavra, mas está privado das graças de Deus. No artigo 2, da mesma questão, o Doutor Angélico afirma que a vontade de Satanás é obstinada no mal, por isso, não existe arrependimento para ele. Não por uma deficiência na Misericórdia divina, pois "a misericórdia de Deus liberta do pecado os penitentes. Mas aos incapazes de fazer penitência, que aderem ao mal de maneira imutável, a misericórdia divina não os liberta." O artigo 3 fala sobre a dor existente nos demônios. Eles sofrem. Mas, como sofrem se não possuem corpo? "Enquanto paixões, o temor, a alegria, a dor e atos semelhantes não podem existir nos demônios, pois são próprios do apetite sensitivo, que é uma faculdade que supõe um órgão corporal." Santo Tomás continua explicando que:
Sabe-se que os demônios quereriam que muitas coisas que existem não existissem, e que existissem muitas coisas que não existem, pois, invejosos, quereriam a condenação dos que foram salvos. Daí se deve dizer que eles têm dor, até porque é da razão da pena ser contrária à vontade. Ademais, se os demônios estão privados da felicidade natural que podem desejar, e em muitos deles, encontra-se inibida sua vontade pecadora.
Algumas ideias são insuportáveis para os demônios, como por exemplo, o nome da Virgem Santíssima. Eles ficam desnorteados à simples menção dele e, com isso, sofrem. Este dado é importantíssimo para se entender alguns gestos e palavras proferidos durante o exorcismo. Por fim, o artigo 4 que trata do lugar da pena dos demônios. O Doutor Angélico explica que "por sua natureza, os anjos estão entre Deus e os homens" e que "há dois lugares para a pena dos demônios: um, por causa da sua culpa, que é o inferno; outro, por causa de suas ações sobre os homens, e assim lhes é devida a atmosfera tenebrosa." Ele instrui que, da mesma forma que existem anjos bons no céu servindo às almas santas, existem demônios cuja missão é atormentar ainda mais os que induziram ao mal. É possível dizer que "o lugar não é de pena para o anjo ou para alma como se os afetasse modificando-lhes a natureza, mas como se lhes afetasse a vontade, contristando-a. Tanto o anjo quanto a alma percebem que estão num lugar que não corresponde à própria vontade." Existe, portanto, uma área da criação que foi entregue por Deus aos demônios para que pudessem agir. Trata-se de um mistério da providência divina. Contudo, Jesus Cristo veio ao mundo justamente para tirar esse domínio dos demônios e verdadeiramente salvar o homem.
Nota Errata 1: No vídeo, aos 16:05, Padre Paulo Ricardo cita o nº 995 do Catecismo da Igreja Católica, porém, o número correto é 395. Errata 2: Aos 2:42, Padre Paulo Ricardo fala que o estudo sobre os Anjos encontra-se na parte referente ao reditus, porém, o correto é exitus.
Bibliografia AQUINO, Tomas de, Suma Teológica, Ed. Loyola, v. 2, 2005 "Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição
Material para download Áudio da aula Formato .mp3
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