Resenha De Machado

  • October 2019
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Goiânia, 25 de setembro de 2008. RESENHA ACADÊMICA CRÍTICA LOPEZ, Telê Porto Ancona (1974) Macunaíma: a margem e o texto (Página 3 a 23). São Paulo, HUCITEC, Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo. Resenhado por Giuliane Ferreira dos Santos- 061561 (Universidade Federal de Goiás- Faculdade de Letras)

O estudo de Telê Porto fala sobre a produção de Macunaíma de Mário de Andrade. A autora revela as influências de conhecimento do autor, que geraram a obra, seus personagens e situações, até os próprios relatos de Mário nas etapas de produção da obra, como também, depois, com os (des)sucessos de suas expectativas em relação ao público leitor e aos vanguardistas e vanguardas daquele auge do modernismo. Foi escolhida uma parte do estudo da autora para esta resenha, a qual se intitula “A Origem”. A autora esmiúça esse tema em quatro seções: A primeira,“Macunaíma et Marginália”, explica como o autor marcava, com traços, grifos e cruzes, as margens e trechos dos livros e autores, por ele, estudados e pesquisados; A segunda, “Mário de Andrade e Koch-Grünberg”, conta como Mário de Andrade teve influência de um estudo seu, sobre alguns livros do autor Koch-Grünberg, logo antes de escrever Macunaíma, de onde ele tirou alguns mitos indígenas que o inspiraram, assim como também, na mesma época, estudava os volumes 1,3 e 5 dos livros do autor Vom Roraima zum Orinoco, no qual fez algumas pesquisas de elementos musicais; A terceira,“Razões de Macunaíma”, em que a autora transcreve um trecho da carta de Mário de Andrade ao Professor Sousa da Silveira, traçando uma síntese da obra, na qual deixa claro suas intenções de criar “um poema heróicômico(...). O real e o fantástico fundidos num plano(...). Um Brasil só e um herói só.”; E por fim, a quarta seção,“Macunaíma e Antropofagia”, em que faz uma relação do movimento antropofágico com as observações do autor no interior do Brasil (que também o influenciaram na produção da obra), as quais levaram-no a perceber as características de um povo primitivo, embora, de antemão, Macunaíma não tenha sido escrito com intenções antropofágicas. Teremos, ainda, na terceira seção, quatro subdivisões intituladas: “Os mitos indígenas e a rapsódia Macunaíma”, na qual a autora mostra como 1

“Mário de Andrade faz da narração indígena um romance popular representativo da gente brasileira, faz a rapsódia”; “Macunaíma, simbolismo de brasileiro”, em que a autora mostra que, para Mário, símbolo é diferente de simbolismo, e que o “anti-herói” será apenas simbolismo de “raízes éticas e mitológicas muito antigas” brasileiras, provando que ele “não (é) como o brasileiro, mas como um brasileiro bem caracterizado pela sua incaracterística, trazendo à baila o comportamento do povo”; “Macunaíma, sátira de Brasil”, em que a autora mostra como Mário de Andrade se decepciona pela “incapacidade de análise” do povo brasileiro, que considera sua obra, uma simples “sátira” da preguiça, da mentira e da burla, quando na verdade, é um “retrato crítico, sem retoques”, e também mostra a contradição (inconsciente, pelas condições da época) do próprio Mário ao negar a civilização, abominando o mundo técnico e valorizando o primitivo, afinal, ele satiriza o que lhe agrada?; E “Nacionalizar sem regionalizar”, em que a autora expõe o quanto Mário de Andrade defendia a importância da nacionalização para o povo brasileiro ganhar força encontrando a sua identidade, podendo assim, universalizar-se, o que significa estar à altura de países prósperos, por isso, o autor sempre fez pesquisas de língua falada e regionalismos em geral, foi aí que, então, descobriu que estes só intensificavam as deficiências nacionais, e portanto, quebrou o regionalismo, com a sua chamada “desgeograficalização”, conseguindo o que queria, que era mostrar a “realidade nacional crítica” para “conscientizar” o brasileiro de que há que se formar uma boa cultura nacional ainda, esta era sua real intenção. Macunaíma deveria ser, portanto, “o romance de uma estética nacionalizante”, como mesmo afirma Telê Porto. Mas como constata o próprio Mário de Andrade ao dizer que fracassou, para muitos, o romance foi reduzido à sátira do comportamento do brasileiro. Então, em quatro seções, com quatro subdivisões em uma delas, a autora conta quem é a personagem Macunaíma: “herói civilizador e divindade dual, contraditória, teoricamente capaz de grandes feitos, os quais, na prática, reduz e apequena. É sagaz, malicioso, propenso ao menor esforço (...) personagens de pouco caráter: Kalawunseg, o mentiroso, Konewo, uma espécie de Pedro Malazarte e o cunhado prequiçoso de Etetó.”

Só que ela está dando as características dos personagens dos livros nos quais Mário de Andrade buscou inspiração. Ou seja, Macunaíma já existia. 2

Mas em “O herói sem nenhum caráter”, ele ganha uma roupagem nova: a de “síntese do Brasil”. A autora também nos revela que o que Mário de Andrade queria, construindo essa “rapsódia”, era: “pôr em prática duas teses suas: o primitivismo do povo brasileiro e a legitimidade estética da literatura popular e oral, para auxiliar a criação erudita.”

Mário de Andrade valorizava o primitivismo e o satirizava ao mesmo tempo. E tudo para conseguir a nacionalização da estética literária juntamente com a nacionalização e, conseqüente, universalização, da cultura brasileira. Uma coisa que Telê Porto não diz é que isso foi, de certo modo, eficiente enquanto o autor esteve vivo, e acima de tudo, enquanto os ideais modernistas estavam em voga. O Brasil não só não se universaliza culturalmente por essa obra (o que era de se esperar de um povo que de primitivo evoluiu para atrasado), mas também não o faz por outros meios, o que é bem claro hoje em dia, em que a nacionalização dá lugar à “globalização”, na qual os povos de todos os países do mundo tendem a ficar bem próximos em suas culturas, costumes, etc. A preocupação de Mário de Andrade em desconstruir aquele índio burguês apresentado por José de Alencar no século anterior, não foi só de que aquele índio não era compatível com a realidade, mas foi também pelo fato de que o pensamento burguês não deveria ser o simbolismo do Brasil, por isso Macunaíma vem representar o que Telê Porto chama de “retrato crítico”, ou seja, a realidade nua e crua do que realmente representa(va) a maioria dos brasileiros, que com certeza, não eram os burgueses. Hoje, na “contemporaneidade”, Macunaíma é objeto de estudo, mas continua exercendo a função de sátira, ou quase mesmo, apenas sátira. O que não vai mal, visto que é sempre “bom bater de frente” com a realidade hiperbolizada para não deixar cair no esquecimento o que continua sendo importante e muito sério. Mas a priori, quanto ao objetivo de Mário de Andrade, pode-se dizer que caiu no fracasso. “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”, como comprova Telê Porto em seu estudo, vai sempre nos recordar do que é real e “feio” na nossa sociedade, assim como também, é a prova de que alguém (se é que, nesse caso, podemos reduzir Mário de Andrade a apenas isso) tentou estabelecer uma consciência cultural no povo brasileiro que, claro, não correspondeu.

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