História da América II – Profº Everaldo de Oliveira Andrade
Resenha: “Escritos Sobre Sindicato” de Leon Trotsky
Pedro Gabriel Vieira Marques / RA: 2007143873
Escritos Sobre Sindicato, de Leon Trotsky, com posfácio de Julio Turra, Editora Nova Palavra, 2ª edição, São Paulo, 2009. Leon Trotsky, nascido em Ianovka, Ucrânia, em 1879; aos 16 anos iniciou sua participação política anti-czarista, sendo preso e exilado na Sibéria dois anos depois, fugiu do exílio em 1902, indo para Londres conheceu Lênin, com quem iria estar à frente na Revolução Russa de 1917, participou ativamente da revolução de 1905 em Petersburgo sendo preso novamente, fugiu em 1907, atuando como editor e escritor durante dez anos, sendo expulso da Espanha e da França, vai viver em Nova York, EUA, onde, em 1917, recebe a notícia da queda do czar, volta imediatamente para a Rússia, unindo-se à Lênin e aos bolcheviques, derrubam o governo provisório e instituem o Estado Operário; Trotsky preza pela internacionalidade da revolução, exercendo então o cargo de Comissário do Povo para a Guerra, Trotsky mantém o pulso firme prezando pelo governo bolchevique de 1918 à 1921, em 1923 as diferenças entre ele e Stálin aprofundam-se e quando Lênin morre, em 1924, Trotsky perde a batalha contra Stálin, sendo, primeiro proibido de falar em público, depois expulso do país, continua atuando ideologicamente, sendo considerado uma ameaça para o governo stalinista, é assassinado quando vivia no México, em 1938. Trata-se de uma coletânea de textos sobre a questão sindical, escritos entre 1923 e 1938, analisa essencialmente a unidade sindical, o proletariado como classe e sua inserção no sindicato e sua (in)dependência; esses textos foram publicados pela primeira vez traduzidos no Brasil em setembro de 1978, pela livraria e editora Kairós, criada por militantes da OSI (Organização Socialista Internacionalista), que então integrava o Comitê de Organização pela Reconstrução da 4ª Internacional; atualíssimo para as questões sindicalistas da época de sua primeira publicação no Brasil, o livro "vem preencher um espaço importante no debate que ora se trava acerca dos rumos do sindicalismo em nosso país" [p. 109, nota dos editores em 1978]. Trotsky figura como uma das maiores autoridades dentro do materialismo histórico, sendo, ao lado de Lênin, considerado o grande dirigente da Revolução Russa, seus escritos falam por uma revolução internacionalista e de pulso firme. A Primeira parte do livro, "Comunismo e Sindicalismo", são, no geral, críticas ao movimento sindical francês, de grande importância para o comunismo internacional; a segunda parte, "Problemas de Estratégia e de Tática Sindical", trata dos principais conflitos dentro dos sindicatos e da relação dos sindicatos com os partidos comunistas e com os respectivos governos, centrando, geograficamente, em Grã-Bretanha, Holanda e EUA, mas estendendo-se, superficialmente, à Europa e à América Latina.
Na primeira parte do livro, "Comunismo e Sindicalismo", são textos escritos entre 1923 e 1931, em resposta ao movimento sindical na França, como especifica o autor: "Este artigo foi escrito em resposta ao camarada Louzon [...]" [p. 9] no primeiro texto, "Uma Discussão Necessária Com Nossos Camaradas Sindicalistas", onde ele critica as propostas de Robert Louzon para a independência dos sindicatos, já que segundo Louzon, os sindicatos representam "toda a classe operária" [p. 10], Trotsky afirma que poderia se supor que "o artigo foi escrito na estrela Sírio" [p. 11] e se pergunta: "De que país está se falando?" [p. 11], o autor segue então criticando a proposta de independência dos sindicatos de Louzon, onde o sindicato, de fato, seria a real representação do proletariado, Trotsky ainda afirma que na verdade, "a única possibilidade de que os atuais sindicatos franceses recuperem sua unidade e conquistem uma influência majoritária sobre as massas está na organização de seus melhores elementos como vanguarda revolucionária consciente do proletariado, ou seja, num Partido Comunista" [p. 17], isso é, basicamente o contrário do proposto por Louzon; no texto seguinte, "Outra Vez Os Preconceitos Anarco-Sindicalistas", novamente o autor se dirige à Louzon, afirmando logo de início que o "novo artigo do camarada Louzon contém mais erros que os anteriores" [p. 19] e se pergunta novamente: "Onde o camarada Louzon escreve seus artigos, na França ou na estrela Sírio?" [p. 19], admitindo que "Louzon queixa-se de que o partido tem muitos intelectuais pequeno-burgueses. Está certo" [p. 22], mas afirma também que "não conseguiremos esse fim mediante a contraditória metafísica sindicalista do camarada Louzon" [p. 22], na verdade, esse segundo texto, de maio de 1923 complementa o anterior, de março do mesmo ano; no terceiro texto, "Comunismo e Sindicalismo", escrito em outubro de 1928, o autor procura esclarecer a questão sindical e sua postura diante do Partido Comunista, afirma ele: "[...] quero propor aqui para discussão, algumas considerações sobre a questão sindical" [p. 23], e esclarece logo de início, aquilo que lhe serve de base para definir a política sindical: "O Partido Comunista é a ferramenta fundamental para a ação revolucionária do proletariado [...] sem exceção, e portanto também no campo sindical" [p. 23], nessa base, o autor expõe vinte e oito considerações ao longo do texto; no quarto texto, "Os Erros de Princípio do Sindicalismo", escrito em outubro de 1929, o autor começa relatando sua experiência com o sindicalismo francês, afirmando que quando chegou na França, em outubro de 1914, encontrou "o movimento socialista e sindical francês em um estado de profunda desmoralização chovinista" [p. 35], ele então traça o que acha de errado na política sindical francesa, e depois inglesa, tal como sua falta de unidade e sua dependência com o Estado ou sua política oportunista, ele conclui, definindo o papel de um "verdadeiro partido do proletariado", como ele mesmo define: "[...] consiste em pôr-se à frente das massas
trabalhadoras organizadas ou não nos sindicatos, para arrancar o poder das mãos da burguesia [...]" [p. 42]; o quinto texto, "Monatte Atravessa o Rubicão", escrito em dezembro de 1930, o autor expõe uma critica a Monatte, que segundo ele, de "aliado incerto passou a ser primeiro um adversário duvidoso, para logo transformar-se diretamente em inimigo" [p. 44], sua crítica baseia-se na idéia de que Monatte "reúne os que estão cansados, desiludidos, exaustos [...] O período que temos pela frente não é de crescimento da falsa neutralidade dos sindicatos" [p. 49] ainda afirma, propondo uma radicalização da revolução, certo de que ela acontecerá; no último texto dessa primeira parte, "Os Erros dos Setores de Direita da Liga Comunista Sobre a Questão Sindical", escrito em janeiro de 1931, o autor expõe vinte considerações para esclarecer o papel da Liga Comunista na questão sindical e os erros que julga acontecer nessa relação, ele define logo de início que "a política revolucionária marxista apóia-se inteiramente sobre a concepção do partido como vanguarda do proletariado" [p. 51], construindo as outras dezenove considerações nessa base. Na segunda parte do livro, "Problemas de Estratégia e de Tática Sindical", o autor, ao longo de seis textos escritos entre 1931 e 1938, o autor trata da questão sindical, sua unidade e seus desafios em diversos países, especialmente Inglaterra, França, Holanda, EUA e América Latina; no primeiro texto, "A Questão da Unidade Sindical", escrito em março de 1931, o autor começa nos avisando que a "questão sindical das organizações operárias não é passível de um solução simples, adequada para todas as formas organizativas e para todas as situações" [p. 63], analisando então as relações do sindicato com a Liga Comunista e o Partido Comunista, especialmente no que diz respeito ao caso francês, afirmando que a verdadeira política bolchevique deve "ser ao mesmo tempo flexível e firme" [p. 73]; o segundo texto, "Os Sindicatos na Grã-Bretanha", escrito em setembro de 1933, analisa a questão sindical britânica e sua independência, é alertada a importância da questão quando o autor afirma que nos velhos países capitalistas "a questão sindical continua sendo a mais importante da política proletária" [p. 75], apontando para o reformismo e o oportunismo do sindicalismo britânico, ele ainda diz que "o Partido Comunista Britânica mostrou-se incapaz" [p. 79], expondo assim essas características; no terceiro texto, "Cartas Sobre a Questão Sindical Francesa", na verdade são trechos de três cartas escritas entre dezembro de 1937 e janeiro de 1938 para o Comitê Central do Partido Operário Socialista Revolucionário em Amsterdã ou sobre o mesmo, a critica feita ao sindicalismo holandês é logo no início delineada, quando afirma que "não posso compartilhar da política do nosso partido irmão holandês [...] apoiando-se na lei da inércia" [p. 81], ele ataca Sneevliet, afirmando no início da última carta, de ampla circulação, destinada ao Secretariada Internacional, em todas as seções, ele afirma que tudo que o mesmo escreveu sobre Sneevliet e contra ele "era e continua sendo
absolutamente correto" [p. 84]; no quarto texto, "O Sindicatos na Época de Transição", de 1938, escrito quando Trotsky já estava no México, o autor formula um programa de transição, afirmando que o "sindicato não é um fim em si, mas somente um dos meios na marcha para a revolução proletária" [p. 87], isso é, ele define a posição dos sindicatos dentro da revolução comunista; o quinto texto, de setembro de 1938, é uma entrevista entre um funcionário do Congresso das Organizações Industriais dos EUA e Trotsky, apenas um trecho do que seria a entrevista na íntegra foi publicada, pela primeira vez em russo no Boletim da Oposição, assinado com um pseudônimo de Trotsky, na entrevista, eles tratam basicamente da política sindical nos EUA e, de passagem, na América Latina, tendo como base a própria massa operário, como quando o autor responde na entrevista que as "massas são melhores, mais audazes, mais decididas que os dirigentes" [p. 96]; o último texto dessa parte, "Os Sindicatos Na Época da Decadência Imperialista", o autor situa os sindicatos dentro dos tempos que julga estar vivendo, de decadência do sistema capitalista que irá, supostamente, resultar na transição para o comunismo, o autor preza então pelo papel revolucionário dos sindicatos: "Do mesmo modo que não se pode voltar ao estado democrático burguês, tampouco é possível voltar à velha democracia operária" [p. 105], o autor então, firma os pés na revolução eminente. Nas apêndices do livro foram publicados dois textos, o primeiro, "Nota dos Editores (1978)", é uma nota da editora e livraria Kairós, onde afirmam que esse livro é "desnecessário ressaltar a importância do autor e do tema ressaltado nesse livro" [p. 109], para depois traçarem a trajetória do movimento sindicalista no Brasil; o segundo texto da Apêndice, o posfácio "Os Desafios Atuais", de Julio Turra, seu objetivo com tal texto pode ser definida pela sua afirmação: "Passados 30 anos, se os princípios fixados nos textos de Trotsky permanecem de aguda atualidade, é necessário, ainda que de forma resumida, atualizar a evolução mais recente do sindicalismo no Brasil no quadro dos desafios colocados à luta dos trabalhadores em todo o mundo" [p. 117]. Como já citado (e talvez seja necessário fazê-lo de novo), o livro "vem preencher um espaço importante no debate que ora se trava acerca dos rumos do sindicalismo em nosso país" [p. 109, nota dos editores em 1978], porém, no que diz mais respeito à um estudo histórico do que à uma análise do presente, já que os textos possam parecer um tanto retrógrados atualmente, o paralelo com o tempo presente não parece tão claro quanto deve ter sido um dia, o que, de jeito nenhum, tira o mérito de Trotsky como um ilustre pensador e revolucionário dialético marxista; o posfácio "Os Desafios Atuais", de Julio Turra, procura "atualizar a evolução mais recente do sindicalismo no Brasil no quadro dos desafios
colocados à luta dos trabalhadores em todo o mundo" [p. 117], de fato, Julio Turra consegue então aproximar os pensamento de Trotsky à nossa realidade atual. Sendo o livro publicado pela primeira vez em 1978, às sombras da ditadura militar, ele provavelmente cumpriu seu objetivo em oferecer caminhos sobre o sindicalismo; hoje, ele assume um papel de reflexão que, de fato, é cumprido, ele nos questiona sobre as questões que aborda e, não menos importante, sobre as resoluções propostas pelo autor, se ele não é uma conclusão, certamente é um meio admirável de se pensar na questão sindical, regional e internacionalmente, principalmente no que diz respeito à unidade sindical.