ESCOLA SECUNDÁRIA MANUEL CARGALEIRO Filosofia
Andreia Silva Andreia Nunes Clara Simões Diana Rocha Isa Catarino
PROFESSORA: Ana Mateus
Fogueteiro, 15 de Março de 2007
Racismo como Forma de Etnocentrismo
p. Introdução ……………………………………………………………………………... 21 Definição de Racismo e Etnocentrismo ………………………………………………..32 Etnocentrismo …………………………………………………………………...…….. 43 Multiplicidade cultural e etnocentrismo ………………………………………….…… 87 Racismo ………………………………………………………………………………... 10 9 Origens ……………………………………………………………………………….. 10 11 Antiguidade e Idade Média ………………………………………………………….... 11 12 Renascimento …………………………………………………………………...……. 11 12 Chegada dos Conquistadores Portugueses a África ………………………………..... 11 12 O Racismo no Brasil – Ameríndios e Negros ……………………………………….. 12 13 Racismo e Xenofobia ……………………………………………………………...….. 12 13 A tentativa de explicação da superioridade racial ……………...…………………….. 13 14 Nazismo ……………………………………………………………………………… 13 14 Apartheid …………………………………………………………………………...….. 13 14 Genética ……………………………………………………………………………… 15 16 Pessoas que marcaram a luta contra a discriminação racial …...…………………….. 16 17 Racismo como forma de Etnocentrismo …………………………………………… 1819 Conclusão ……………………………………………………………………………….. 22 Bibliografia ……………………………………………………………………………….23
Neste trabalho, desenvolvido no âmbito da disciplina de Filosofia, vamos abordar a temática do racismo quando inserida no problema do etnocentrismo. Este tema, embora facilmente observável no nosso quotidiano, é poucas vezes abordado e alvo de discussão por 2
Racismo como Forma de Etnocentrismo parte da sociedade, o que impossibilita que se tomem medidas contra o racismo. Tendo isto em mente, decidimos tratá-los ao longo deste trabalho. Desta forma, achámos por bem dar a conhecer a toda a população os problemas relacionados com o etnocentrismo e com o racismo, referido as suas origens e evoluções ao longo da História Mundial. Para além disso, decidimos apresentar vários argumentos que permitem justificar o facto de o racismo ser uma forma de etnocentrismo, o que o torna uma atitude discriminatória e, portanto, condenável. Para além de querermos informar a sociedade acerca desta problemática, o nosso principal objectivo é levar as pessoas a olhar com outros olhos para as pessoas com diferenças, sem que as discriminem, ou seja, pretendemos, acima de tudo, que o preconceito racial seja destruído.
È necessário definir tanto etnocentrismo como racismo para conseguir estabelecer as analogias e semelhanças que existem entre estes dois fenómenos, uma vez que o racismo é uma atitude inserida no etnocentrismo, ou seja, sempre que se é racista é-se também etnocêntrico. Etnocentrismo é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade, ou seja, tem a sua origem na tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios padrões culturais, declarando os valores da sociedade a que pertencemos como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, isto é, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas. Racismo é a atitude tida por aquele que tem algum tipo de preconceito em relação a indivíduos de outras raças, podendo esta atitude variar desde uma pequena aversão ao convívio com pessoas de determinadas raças até à crença na superioridade de uma raça sobre as outras.
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Racismo como Forma de Etnocentrismo
O Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência, pelo que todas as outras sociedades são consideradas inferiores à nossas, logo esta atitude é preconceituosa. O choque gerador de etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, deparamo-nos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não as reconhecemos como possíveis. Para além disso, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. Deste modo, a diferença é ameaçadora, porque fere a nossa própria identidade cultural. O monólogo etnocêntrico pode, pois, seguir um caminho lógico mais ou menos assim: Como aquele mundo de doidos pode funcionar? Espanto! Como é que eles fazem? Curiosidade perplexa. Eles só podem estar errados ou tudo o que eu sei está errado! Dúvida ameaçadora?! Não, a vida deles não presta, é selvagem, bárbara, primitiva! Decisão hostil. Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os factos humanos, um daqueles de mais unanimidade, contudo, na nossa sociedade, revestiu-se de um carácter activista e colonizador com os mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de outros povos. Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poli4
Racismo como Forma de Etnocentrismo gamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças. Embora o complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus, o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selvagens. Desta forma, os principais perigos do etnocentrismo residem precisamente no facto de puderem desencadear crimes, massacres e extermínios, que aliados ás ambições económicas, marcaram a nossa História Mundial. È possível entender melhor a existência de etnocentrismo entre as várias sociedades através do seguinte exemplo: “Ao receber a missão de ir pregar junto aos selvagens um pastor se preparou durante dias para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho de evangelização e catequese. Muito generoso, comprou para os selvagens contas, espelhos, pentes, etc.; modesto, comprou para si mesmo apenas um moderníssimo relógio digital capaz de acender luzes, alarmes, fazer contas, marcar segundos, cronometrar e até dizer a hora sempre absolutamente certa, infalível. Ao chegar, venceu as burocracias inevitáveis e, após alguns meses, encontrava-se em meio às sociedades tribais do Xingu distribuindo seus presentes e sua doutrinação. Tempos depois, fez-se amigo de um índio muito jovem que o acompanhava a todos os lugares de sua pregação e mostravase admirado de muitas coisas, especialmente do barulhento, colorido e estranho objecto que o pastor trazia no pulso e consultava frequentemente. Um dia, por fim, vencido por insistentes pedidos, o pastor perdeu seu relógio dando-o, meio sem jeito e a contra gosto, ao jovem índio. A surpresa maior estava, porém, por vir. Dias depois, o índio chamou-o apressadamente para mostrar-lhe, muito feliz, seu trabalho. Apontando seguidamente o galho superior de uma árvore altís-
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Racismo como Forma de Etnocentrismo sima nas cercanias da aldeia, o índio fez o pastor divisar, não sem dificuldade, um belo ornamento de penas e conta multicores, e no centro o relógio. O índio queria que o pastor compartilhasse a alegria da beleza transmitida por aquele novo e interessante objecto. Quase indistinguível em meio às penas e contas e, ainda por cima, pendurado a vários metros de altura, o relógio, agora mínimo e sem nenhuma função, contemplava o sorriso inevitavelmente amarelo no rosto do pastor. Fora-se o relógio. Passados mais alguns meses o pastor também se foi de volta para casa. Sua tarefa seguinte era entregar aos superiores seus relatórios e, naquela manhã, dar uma ultima revisada na comunicação que iria fazer em seguida a seus colegas em um congresso sobre evangelização. Seu tema: “A catequese e os selvagens”. Levantouse, deu uma olhada no relógio novo, quinze para
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dez. era hora de ir. Como que buscando uma inspiração de última hora examinou detalhadamente as paredes do seu escritório. Nelas, arcos, flechas, tacapes, bordunas, cocares, e até uma flauta formavam uma bela decoração. Rústica e sóbria ao mesmo tempo, trazia-lhe estranhas lembranças. Com o pé na porta ainda pensou e sorriu para si mesmo. Engraçado o que aquele índio fizera com o seu relógio.” Esta história, não necessariamente verdadeira, é bastante plausível, demonstrando alguns dos importantes sentidos da questão do etnocentrismo. Em primeiro lugar, neste choque de culturas, as personagens de cada uma fizeram, obviamente, a mesma coisa. Privilegiaram ambos as funções estéticas, ornamentais, decorativas de objectos que, na cultura do “outro”, desempenhavam funções que seriam principalmente técnicas. Para o pastor, o uso inusitado do seu relógio causou tanto espanto quanto causaria ao jovem índio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e flecha. Cada um “traduziu” nos termos de sua própria cultura o significado dos objectos cujo sentido original foi forjado na cultura do “outro”. Em segundo lugar, esta história representa o que se poderia chamar, se isso fosse possível, de um etnocentrismo “cordial”, já que ambos – o índio e o pastor – tiveram atitudes concretas sem maiores consequências. Por vezes, o etnocentrismo implica uma apreensão do “outro” que se reveste de uma forma bastante violenta. Como já vimos, pode colocá-lo como “primitivo”, como “algo a ser destruído”, como “atraso ao desenvolvimento”, (fórmula, aliás, muito comum e de uso geral na matança dos índios). Por exemplo, um famoso cientista do
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Racismo como Forma de Etnocentrismo início do século, Hermann von Ihering, diretor do Museu Paulista, justificava o extermínio dos índios Caingangue por serem um empecilho ao desenvolvimento e à colonização das regiões do sertão que eles habitavam. Em terceiro lugar, a história ensina ainda que o “outro” e sua cultura, da qual falamos na nossa sociedade, são apenas uma representação, uma imagem distorcida que é manipulada como bem entendemos. Por outras palavras, aqueles que são diferentes do grupo do eu – os diversos “outros” deste mundo – por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela óptica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos. Alguns livros afirmam que os índios eram incapazes de trabalhar nos engenhos de açúcar por serem indolentes e preguiçosos. Ora, como aplicar adjectivos tais como “indolente” e “preguiçoso” a alguém, um povo ou uma pessoa, que se recuse a trabalhar como escravo, numa lavoura que não é a sua, para a riqueza de um colonizador que nem sequer é seu amigo: antes, muito pelo contrário, esta recusa é, no mínimo, sinal de saúde mental. “Os índios andavam nus.” Esta situação é outra que expressa escândalo nos livros e que na verdade esconde a nossa noção absolutista do que deva ser uma roupa e o que, num corpo, ela deve mostrar e esconder. Da mesma maneira, nada garante que os índios andem nus a não ser a concepção que eles mesmos teriam de nudez e vestuário. Assim são as subtilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo. Os exemplos multiplicam-se no nosso quotidiano. A “indústria cultural” – TV, jornais, revistas, publicidade, certo tipo de cinema, rádio – está, frequentemente, a fornecer exemplos de etnocentrismo. No universo da indústria cultural é criado, sistematicamente, um enorme conjunto de “outros” que servem para reafirmar, por oposição, uma série de valores de um grupo dominante que se autopromove modelo da humanidade. A cultura industrial confunde- -se, nesta concepção, com a Cultura Popular autodenominando-se de pop. Todas as produções populares podem tornar-se produto industrializado. Assim, a Black Music norte-
-americana da década de 60 pas-
sou de movimento de resistência dos negros contra o apartheid para uma moda das discotecas. O protesto originado nos guetos, através do hip hop, tornou-se sucesso global com os rappers pops Eminem, 50 Cent, Sean Paul, Puff Dady... Desta forma difunde-se a cultura pop pelo mundo, tornando-a sinónimo e padrão daquilo que é o sucesso, pelo que
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Racismo como Forma de Etnocentrismo todas as pessoas que não a absorvem são discriminadas e postas à margem como sendo culturalmente inferiores. As nossas próprias atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos nas grandes cidades são, muitas vezes, repletas de atitudes etnocêntricas. Rotulamos e aplicamos estereótipos através dos quais nos guiamos para o confronto quotidiano com a diferença. As ideias etnocêntricas que temos sobre as “mulheres”, os “negros”, os “empregados”, os “homens das obras”, os “colunáveis”, os “doidos”, os “surfistas”, as “tias”, os “velhos”, os “caretas”, os “vagabundos”, os “gays” e todos os demais “outros” com os quais temos familiaridade, são uma espécie de “conhecimento” um “saber” baseado em formulações ideológicas, que no fundo transforma a diferença pura e simples num juízo de valor perigosamente etnocêntrico. Mas, existem ideias que se contrapõem ao etnocentrismo. Uma das mais importantes é o relativismo cultural. Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos a relativizar. Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença. A nossa sociedade já vem, há alguns séculos, construindo um conhecimento ou, se quisermos, uma ciência sobre a diferença entre os seres humanos - Antropologia Social. Diferentemente do saber de “senso comum”, o movimento da Antropologia é no sentido de ver a diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções diversas a limites existenciais comuns. Assim, a diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa. Ela não é uma hostilidade do “outro”, mas uma possibilidade que o “outro” pode abrir para o “eu”.
Multiplicidade cultural e etnocentrismo Como é de conhecimento geral existe uma grande diversidade de padrões e valores culturais que traduzem a variedade de estilos de vida e culturas dos vários povos da terra, como se exemplifica em seguida: “É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as con-
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Racismo como Forma de Etnocentrismo denam (pena de morte na Arábia Saudita). Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correcto; a maior parte das sociedades condenam esse acto. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.” A multiplicidade de culturas que se encontram num mundo onde as distâncias são cada vez menores traz assim o desafio da convivência entre os diferentes modos de vida. A relativização destes pode inviabilizar a convivência entre os diferentes grupos culturais principalmente quando ocorrem choques entre as tradições. Para evitar a intolerância ou a imposição de valores de uma cultura sobre outra, Stuart HALL (2003) propõe que as sociedades reconheçam que: 1. O universal (conceitos, regras, leis e modos de vida válidos para todos) é um espaço para negociação sem conteúdo predeterminado. Caso contrário, pode servir para legitimar a opressão contra dominados. 2. Já as culturas particulares devem estar abertas para negociação com outras culturas. Negociar significa saber abrir mão equitativamente de alguns costumes ou símbolos de uma cultura que impeçam a convivência com outras. 3. O constante encontro de diferentes modos de vida leva à hibridação cultural. Tradições, significados, estilos são misturados de forma que não se pode mais invocar uma exclusividade ou pureza cultural. 4. Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores negativos. 5. Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis. 6. O conhecimento metódico e descomplexado de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário nalguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar
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Racismo como Forma de Etnocentrismo determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com a natureza, etc. Fora o caminho da negociação, resta, segundo Hall, a etnicidade que gera conflitos entre os grupos e o subjectivismo liberal baseado nas escolhas individuas que não possibilitam a sociabilidade. O desafio, no entanto, tornar-se maior quando vivemos em sociedades marcadas pela exclusão social. Como então não ser etnocêntrico onde a própria compreensão dominante de cultura entende preconceituosamente como sinónimo de intelectualidade ou como mercadoria colocada à venda?
O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias, e determinados traços de carácter e inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré concebidas onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos. A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade.
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Racismo como Forma de Etnocentrismo
ESCALA DE MANIFESTAÇÃO INDIRETA DE PRECONCEITO (Estimulada e única, em %)
Concorda totalmente
1. Negro bom é negro de alma branca 2. Uma coisa boa do povo brasileiro é a mistura de raças 3. As únicas coisas que os negros sabem fazer bem são música e esporte 4. Toda raça tem gente boa e gente ruim, isso não depende de cor da pele 5. Negro, quando não faz besteira na entrada, faz na saída
Concorda em parte
Discorda Discorda totalmente em parte
2 pontos
1 ponto
1 ponto
zero ponto
zero ponto
1 ponto
1 ponto
2 pontos
2 pontos
1 ponto
1 ponto
zero ponto
zero ponto
1 ponto
1 ponto
2 pontos
2 pontos
1 ponto
1 ponto
zero ponto
6. Se pudessem comer bem e estudar, os negros teriam sucesso em qualquer profissão
zero ponto
1 ponto
1 ponto
2 pontos
7. Se Deus fez raças diferentes é para que elas não se misturem
2 pontos
1 ponto
1 ponto
zero ponto
ÍNDICE DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL Total
Branca
Parda
Preta
Indígena
Branca
NãoBranca
Já sofreu discriminação
7
5
6
14
12
5
9
Não sofreu
93
95
94
87
88
95
92
Já sofreu discriminação
8
5
8
18
8
5
11
Não sofreu
91
94
90
82
89
94
88
(Estimulada e única, em %) Percepção de discriminação na escola
Percepção de discriminação no trabalho
Percepção de discriminação pela polícia Já sofreu discriminação
6
4
5
15
7
4
8
Não sofreu
93
96
96
85
93
96
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Percepção de discriminação na saúde Já sofreu discriminação
3
1
3
6
3
1
4
Não sofreu
97
99
97
94
97
99
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Percepção de discriminação no lazer Já sofreu discriminação
3
1
2
8
8
1
4
Não sofreu
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99
98
92
92
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Origens As origens do racismo são bastante controversas. O fenômeno ocorre em todas as etnias e países. Um exemplo típico de racismo ocorreu quando o Japão atingiu um desenvolvimento econômico e social equivalente aos países mais adiantados econômica e tecnologicamente do mundo. O povo japonês começou então a comportar-se de forma extremamente racista em relação a outras nacionalidades, sendo que os estrangeiros em terras japonesas não eram bem-vindos. Nas Américas, em especial nos Estados Unidos da América, o racismo chega aos extremos contra os negros e contra os latinos, em especial no sul do país. Até a década de 50, nos EUA, os negros eram enforcados em árvores, sem julgamento, sem que os
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Racismo como Forma de Etnocentrismo autores destes assassinatos fossem punidos. Havia mesmo uma sociedade secreta, a Ku Klux Klan, que se propunha a perseguir e "fazer justiçar pelas próprias mãos". Antiguidade e Idade Média Na antiguidade, entre romanos, gregos, egípcios e outros povos, as relações eram sempre de vencedor e cativo. Estas existiam independentemente da raça, pois muitas vezes povos da mesma matriz racial guerreavam entre si e o vencido passava a ser cativo do vencedor, neste caso o racismo aproximava-se da xenofobia. Por muito tempo o racismo permaneceu de uma forma mais xenofóbica do que racial propriamente dita, permanecendo latente até a época de expansão das nações européias. Com o avançar das conquistas territoriais e culturais dos povos europeus, ainda na Idade Média não havia necessariamente o racismo na forma actual, o que havia era o sentimento de superioridade xenofóbico de origem religiosa. Isto ocorria devido ao poder político da igreja cristã que justificava a submissão dos povos conquistados de forma a incorporá-los na cristandade. Porém, àqueles que não se submetiam era aplicado o genocídio. Renascimento À medida em que a tecnologia foi avançando, a Europa iniciou a sua caminhada em direção à conquista econômica e tecnológica sobre o planeta. Começaram a surgir ideologias que tentavam justificavar o domínio europeu sobre as demais regiões alegando existir na Europa uma raça superior que tinha sido destinada por Deus e pela história a comandar o mundo e dominar as raças que não eram européias, portanto, consideradas inferiores. Chegada dos Conquistadores Portugueses a África Quando houve os primeiros contactos entre conquistadores portugueses e africanos, no século XV, não houve atritos de origem racial. Os negros e outros povos de África entraram em acordos comerciais com os europeus, que incluíam o comércio de escravos que, naquela época, era uma forma aceite de aumentar o número de trabalhadores numa sociedade e não uma questão racial. No entanto, quando os europeus, no século XIX, começaram a colonizar o Continente negro, encontraram justificações para impor aos povos colonizados as suas leis e formas de viver. Uma dessas justificações foi a ideia errónea de que os negros eram uma "raça" inferior e passaram a aplicar a discriminação com base racial nas suas colónias. O caso mais extremo 12
Racismo como Forma de Etnocentrismo foi a instituição do apartheid na África do Sul, em que essa discriminação foi suportada por leis decretadas pelo Estado. O Racismo no Brasil – Ameríndios e Negros O surgimento do racismo no Brasil começou no período colonial, quando os portugueses trouxeram os primeiros africanos negros, vindos principalmente da região onde atualmente se localizam a Nigéria e a Angola. Os negros foram trazidos para o Brasil para serem escravos nos engenhos de cana de açúcar, devido às dificuldades da escravização dos ameríndios. A Igreja Católica era contra a predação dos ameríndios, pois queria evangelizá-los. Em contrapartida a Igreja não se opunha à escravidão negra, pois acreditava que ao trazê-los de África para o Brasil seria mais fácil cristianizá-los - neste sentido, o papa Nicolau V, em 1455, emitiu uma bula a favor da escravização negra por portugueses. Um mito muito divulgado é o de que a Igreja negava que negros tivessem alma, o que vai contra factos como a canonização de santos negros como Santa Ifigênia e São Elesbão, que viveram na Antiguidade. Montesquieu, pensador iluminista, acreditava que os negros não tinham almas e que isto justificaria sua escravização. A abolição da escravatura brasileira foi um processo lento do qual passou por varias etapas antes sua concretização. Criaram-se leis com o intuito de retardar esse processo de abolição como a lei do ventre livre e a do sexagenário entre outras, as quais pouco favoreciam os escravos. Quando finalmente foi decretada abolição da escravatura não se realizaram projetos de assistência ou leis para a facilitação da inclusão dos negros na sociedade, fazendo com que continuassem a ser tratados como inferiores e a ter traços da sua cultura e religião marginalizados, criando danos aos afrodescendentes até os dias de hoje. Racismo e Xenofobia Muitas vezes o racismo e a xenofobia, embora fenômenos distintos, podem ser considerados paralelos e de mesma raiz. Isto ocorre quando um determinado grupo social começa a hostilizar outro por motivos torpes. Esta antipatia gera um movimento onde o grupo mais poderoso e homogêneo hostiliza o grupo mais fraco, ou diferente, pois o segundo não aceita seguir as mesmas regras e princípios ditados pelo primeiro. Muitas vezes, com a justificativa da diferença física, que acaba por tornar-se a base do comportamento racista. “O ódio do estrangeiro precede um sentimento violento de intolerância; em seguida, instala-se um senti-
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Racismo como Forma de Etnocentrismo mento de superioridade e acaba-se concluindo que ou outros não são ninguém, não prestam para nada, não fazem nada de certo. É, então, que o racismo se instala…”, segundo Georges Jean. A tentativa de explicação da superioridade racial No século XIX houve uma tentativa científica para explicar a superioridade racial através da obra do conde de Gobineau, intitulada Essai sur l'inégalité des races humaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas). Nesta obra o autor sustentou que da raça ariana nasceu a aristocracia que dominou a civilização européia e cujos descendentes eram os senhores naturais das outras raças inferiores. Nazismo Em 1899, o inglês Houston Stewart Chamberlain, chamado de O antropólogo do Kaiser, publicou na Alemanha a obra Die Grundlagen des neunzehnten Jahrhunderts (Os fundamentos do século XIX). Esta obra trouxe o mito da raça ariana novamente e identificou-a com o povo alemão. Alfred Rosenberg também criou obras que reforçaram a teoria da superioridade racial. Estas foram aproveitadas pelo programa político do nazismo visando à unificação dos alemães utilizando a identificação dos traços raciais específicos do povo dos senhores. Como a raça alemã era bastante miscigenada, isto é, não havia uma normalidade de traços fisionômicos, criaram-se então raças inimigas, fazendo desta forma surgir um sentimento de hostilidade e aversão dirigido a pessoas e coisas estrangeiras. Desta forma, os nazistas usaram a xenofobia associada ao racismo para a atribuição a indivíduos e grupos sociais de atos de discriminação para amalgamar o povo alemão contra o que era diferente. A escravização dos povos da Europa oriental e a perseguição aos judeus eram as provas pretendidas pelos nazistas da superioridade da raça ariana sobre os demais grupos diferentes e raciais também. Apartheid O apartheid foi um dos regimes de discriminação mais cruéis de que se tem notícia no mundo. Ele vigorou na África do Sul de 1948 até 1990 e durante todo esse tempo esteve ligado à política do país. A antiga Constituição sul-africana incluía artigos onde era clara a discriminação racial entre os cidadãos, mesmo os negros sendo maioria na população.
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Racismo como Forma de Etnocentrismo Após a descoberta da África do Sul, a região foi povoada por holandeses, franceses, ingleses e alemães. Os descendentes dessa minoria branca começaram a criar leis, no começo do século XX, que garantiam o seu poder sobre a população negra. Essa política de segregação racial, o apartheid, ganhou força e foi oficializada em 1948, quando o Partido Nacional, dos brancos, assumiu o poder. O apartheid, que quer dizer separação na língua africâner dos imigrantes europeus, atingia a habitação, o emprego, a educação e os serviços públicos, pois os negros não podiam ser proprietários de terras, não tinham direito de participação na política e eram obrigados a viver em zonas residenciais separadas das dos brancos. Os casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes eram ilegais. Os negros geralmente trabalhavam nas minas, comandados por capatazes brancos e viviam em guetos miseráveis e superpovoados. Para lutar contra essas injustiças, os negros acionaram o Congresso Nacional Africano - CNA, uma organização negra clandestina, que tinha como líder Nelson Mandela. Após o massacre de Sharpeville, o CNA optou pela luta armada contra o governo branco, o que fez com que Nelson Mandela fosse preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. A partir daí, o apartheid tornou-se ainda mais forte e violento, chegando ao ponto de definir territórios tribais chamados bantustões, onde os negros eram distribuídos em grupos étnicos e ficavam confinados nessas regiões. A partir de 1975, a comunidade internacional e a Organização das Nações Unidas ONU faziam pressão pelo fim da segregação racial. Em 1991, o então presidente Frederick de Klerk não teve outra saída: condenou oficialmente o apartheid e libertou líderes políticos, entre eles Nelson Mandela. A partir daí, outras conquistas foram obtidas: o Congresso Nacional Africano foi legalizado, De Klerk e Mandela receberam o Prêmio Nobel da Paz (1993), uma nova Constituição não-racial passou a vigorar, os negros adquiriram direito ao voto e em 1994 foram realizadas as primeiras eleições multirraciais na África do Sul e Nelson Mandela se tornou presidente da África do Sul.
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Racismo como Forma de Etnocentrismo
Genética Embora existam classificações raciais propostas pelas mais diversas correntes científicas, pode-se citar que a taxonomia referencia uma oscilação de cinco a duas centenas de raças humanas espalhadas pelo planeta. A separação racial torna-se completamente irracional em função das composições raciais, das miscigenações, recomposições e padronizações a nível da espécie que houve desde o início da caminhada da humanidade sobre o planeta. A genética demonstra que a variabilidade humana quanto às combinações raciais pode ser imensa. Mas as diferentes adaptações ocorridas a nível racial não alteraram a sua estrutura enquanto espécie. Todas as raças provêm de um só tronco, o Homo sapiens, portanto o patrimônio hereditário dos humanos é comum. E isto por si só não justifica o racismo, pois as raças não são nem superiores, nem inferiores, são apenas diferentes. Os trabalhos de geneticistas, antropólogos, sociólogos e outros cientistas do mundo inteiro deitaram por terra toda e qualquer possibilidade de superioridade racial, e estes estudos culminaram com a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
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Racismo como Forma de Etnocentrismo Pessoas que marcaram a luta contra a discriminação racial Martin Luther King Foi um grande líder negro americano que lutou pelos direitos civis dos cidadãos, principalmente contra a discriminação racial. Era pastor e sonhava com um mundo onde houvesse liberdade e justiça para todos. Foi assassinado a 4 de Abril de 1968, permanecendo a sua figura na História da Humanidade como símbolo da luta contra o racismo. Foi assassinado por um homem branco. Durante 14 anos, Martin Luther King lutou para acabar com a discriminação racial no seu país e nesse tempo ganhou o prêmio Nobel da Paz. Procurou sempre lembrar a todos e fazer valer o princípio fundamental da Declaração da Independência Americana que diz que "Todos os homens são iguais" e conseguiu convencer a maioria dos negros que era possível haver igualdade social. Alguns dias após a morte de Martin Luther King, o presidente Lyndon Johnson assinou uma lei acabando com a discriminação social, dando esperanças ao surgimento de uma sociedade mais justa de milhões de negros americanos. A terceira segunda-feira de janeiro é um feriado nacional em sua homenagem. Malcolm X "Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos. Lutamos por direitos humanos." Malcolm X, ou El-Hajj Malik El-Shabazz, foi outra personalidade que se sobressaiu na luta contra a discriminação racial. Ele não era tão pacífico como Luther King, que era adepto da não-violência, entretanto foram contemporâneos e seus ideais eram bem parecidos buscando a dignidade humana. Desde cedo enfrentou a discriminação e marginalização dos negros americanos, que viviam em bairros periféricos, excluídos e sem condições dignas de habitação, saúde e educação.
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Racismo como Forma de Etnocentrismo Foi nesse cenário que Malcolm X se tornou um dos grandes líderes do nosso tempo, dedicando-se à construção e organização do Movimento Islâmico nos Estados Unidos (Black Muslim), defendendo os negros e a religião do islamismo. Malcolm X foi um dos principais críticos do sistema americano. E por isso mesmo era visto pela classe dominante como uma ameaça a esse sistema. No dia 21 de fevereiro de 1965, na cidade de Nova Iorque, foi assassinado por três homens, que dispararam 16 tiros contra ele. Muitas de suas frases ficaram famosas. Veja alguns de seus pensamentos: Sobre seu nome: "Neste país o negro é tratado como animal e os animais não têm sobrenome". Sobre os americanos: "Não é o fato de sentar à sua mesa e assistir você jantar que fará de mim uma pessoa que também esteja jantando. Nascer aqui na América não faz de você um americano". Sobre a liberdade: "Você só vai conseguir a sua liberdade se deixar o seu inimigo saber que você não está fazendo nada para conquistá-la. Esta é a única maneira de conseguir a liberdade". Nelson Mandela "A luta é minha vida". A frase de Nelson Mandela, nascido em 1918, na África do Sul, resume sua existência. Mandela dedicou sua vida à luta contra a discriminação racial e as injustiças contra a população negra. Foi o fundador da Liga Jovem do Congresso Nacional Africano, em 1944, e traçou uma estratégia que foi adotada anos mais tarde pelo Congresso na luta contra o apartheid. A partir daí foi o líder do movimento de resistência a opressão da minoria branca sobre a maioria negra na África do Sul. Ainda hoje, Nelson Mandela é símbolo de resistência pelo vigor com que enfrentou os governos racistas em seu país e o apartheid, sem perder a força e a crença nos seus ideais, inclusive nos 28 anos em que esteve preso (1962-1990), acusado de sabotagem e luta armada contra o governo. Nem mesmo as propostas de redução da pena e de liberdade que recebeu de presi18
Racismo como Forma de Etnocentrismo dentes sul-africanos ele aceitou, pois o governo queria um acordo onde o movimento negro teria que ceder. Ele preferiu resistir e em 1990 foi solto. A sua liberdade foi um dos primeiros passos para uma sociedade mais democrática na África do Sul, culminando com a eleição de Nelson Mandela como presidente do país em 1994. Um facto histórico onde os negros puderam votar pela primeira vez em seu país.
Ninguém tem direito de afirmar que a sua raça é superior a outra, pois isso não é correcto, muito menos verdadeiro, trata-se de uma atitude preconceituosa e discriminatória que dá pelo nome de Racismo. O racismo é uma forma de etnocentrismo, pois quando várias culturas convivem/coabitam no mesmo espaço geográfico existe tendência para umas se valorizaram em relação às outras, provocando fenómenos de segregação social, discriminação das minorias étnicas e raciais. O racismo tem uma remonta origem e uma progressiva evolução, tendo-se originado com os Descobrimentos. Nesta altura, os exploradores achavam que a sua raça era superior às outras, que estes estavam acima dos povos estrangeiros, considerando-se, desta forma, mais evoluídos, mais instruídos e mais civilizados, entre outras coisas, como se comprova através de uma citação do livro “O Racismo contado às Crianças”: “(…) já no séc. XVI, quando no rasto de Cristóvão Colombo descobriram os habitantes das Antilhas, os Espanhóis interrogaram-se se esses “selvagens” seriam homens, na plena acepção da palavra. Devo, no entanto, acrescentar que, pelo seu lado, os ditos “selvagens” também interrogaram se os guerreiros que viam desembarcar, tão estranhamente vestidos eram criaturas humanas como eles.” Um exemplo claro desta situação foi o que ocorreu no descobrimento do Brasil, pois como é do conhecimento público o Brasil já era um país habitado, contudo os designados “exploradores” consideraram-se no direito de escravizar os já habitantes daquele país, pois
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Racismo como Forma de Etnocentrismo achavam-se superiores a estes. Deste modo, é legítimo afirmar que o racismo apareceu quase simultaneamente à aversão pelos estrangeiros (xenofobia), como afirma Georges Jean. “O ódio do estrangeiro precede um sentimento violento de intolerância; em seguida, instala-se um sentimento de superioridade e acaba-se concluindo que ou outros não são ninguém, não prestam para nada, não fazem nada de certo. É, então, que o racismo se instala…”. Condena- -se plenamente a atitude racista, pois todas as raças têm as suas peculiaridades e as suas diferenças, tendo estas de ser respeitadas, pois não existe prova alguma que demonstre a existência de superioridade racial. Por outro lado, existem diversos argumentos que comprovam precisamente esta situação, isto é, que não existe nenhuma raça superior às outras, muito pelo contrário. Inicialmente, é necessário esclarecer o significado da palavra “raça”: “agrupamento natural de indivíduos que apresentam um conjunto comum de caracteres hereditários, tais como a cor da pele, os traços do rosto, o tipo de cabelo, etc., que definem variações dentro da mesma espécie”, ou seja, segundo esta definição tirada de um dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, cada espécie é constituída por indivíduos cujas diferenças não são mais do que variações naturais da espécie, pelo que a existência de raças é algo que se deve à Natureza, não algo que seja indicativo da superioridade de uma raça em relação a outra. Esta situação pode ser observada em outras espécies animais como é o caso dos coelhos. Existem coelhos brancos, outros pretos, outros castanhos, outros malhados, e outros há com outras características, contudo, uma coisa é certa, eles não se discriminam devido às suas dissemelhanças, passando-se o mesmo entre macacos, cavalos, ratos, etc. Então questiona-se: qual é o animal que está errado nos seus juízos, será o Homem ou todas as outras espécies de seres vivos? Parece evidente que é o Homem, pois é o único ser que tem uma atitude atípica em relação à variedade intraespecífica, o que sugere que os homens, estão errados. Pode-se contra argumentar dizendo que os animais não são racionais, apenas o Homem o é, ao qual se returque dizendo que apenas supomos que os animais são irracionais, pois não se sabe o que estes pensam. Já Santo António, que era uma pessoa sábia, pregou aos peixes, pois os Homens demonstraram ser mais irracionais que os peixes, o que vem apenas reforçar a ideia de que os animais são mais “tolerantes” e “doutos” do que os homens e que a humanidade deveria aprender com os animais. Em seguida, contraria-se uma das tão utilizadas expressões racistas: “Todos os negros [quem diz negro, diz cigano, chinês, caucasiano, etc.] são criminosos.” Estas expressão revela claramente a atitude preconceituosa inerente ao racismo no que respeita à diversidade de
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Racismo como Forma de Etnocentrismo raças, isto porque, ao dizê-la, o emissor considera que apenas as pessoas de outras raças são “más”, excluindo automaticamente a sua. A frase citada pode ser facilmente refutada se considerarmos que a maldade é uma característica humana e, como tal, todos os homens, independentemente da sua raça, estão sujeitos a possuí-la. Todos sabem que existem criminosos de todas as etnias, por isso, não se pode generalizar dizendo que todos os indivíduos de raça x são criminosos, não se pode estabelecer esse tipo de estereótipo, pois caso contrário, todas as raças teriam fama de criminosas, uma vez que existem pessoas brancas tão criminosas como pessoas negras, ou de outra raça qualquer. O que se quer deixar bem claro é que a raça não é a chave da maldade, mas sim a educação, a personalidade, os princípios que se têm, entre outros factores sociais, pois “a maldade não é uma questão de raça, de cor de pele” como diz Georges Jean. Por outro lado, assiste-se a uma crescente onda de racismo, pois as pessoas culpam-se umas às outras pelos seus problemas e, hoje em dia, o bode expiatório são os emigrantes ilegais ou não, as pessoas de outras raças. A sociedade culpa estas pessoas por lhes roubar postos de trabalho ou até por terem determinadas regalias dos programas de apoio social do governo que os beneficia em detrimento dos habitantes do país. Relativamente ao emigrante ilegal, assiste-se, infelizmente, a uma dupla discriminação. A primeira deve-se ao empregador que se aproveita da situação precária da mão-de-obra ilegal, contribuindo para agravar ainda mais esta situação, paga-lhes salários baixos e confere-lhes poucas ou nenhumas condições de trabalho, originando assim a chamada neoescravatura. A segunda discriminação faz-se sentir por parte da população em geral, que se sente prejudicada em relação às oportunidades de emprego. Já no que visa a certos apoios comunitários que são dados a estas pessoas, gera-se uma onda de revolta na população, pois, como acontece em Portugal, não existe dinheiro para dar apoios às famílias portuguesas, mas, para dar ajudas aos emigrantes, estas “caem do céu”, sendo essas ajudas provenientes dos dinheiros públicos. Tendo em contas estas situações não é possível ficar indiferente à injustiça que se faz sentir em ambos os lados, sendo que os ideais anti-racistas são abalados por estas ocorrências, pois existem sempre dois lados da mesma moeda, logo ao apoiar-se um dos lados, o outro fica, automaticamente, a perder, mesmo que tenha razão. Em suma, o racismo é uma situação já bastante enraizada no nosso quotidiano, pelo que é bastante complicado ficar indiferente aos dois lados da questão, contudo, pensa-se que todas as pessoas devem ser aceites tal e qual como são, apesar das diferenças, como é defendido na “Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação
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Racismo como Forma de Etnocentrismo Racial” e na “Declaração Universal dos Direitos do Homem”. Considera-se que o etnocentrismo é tão condenável quanto o racismo e a xenofobia, pelo que devem ser combatidos da mesma forma. No entanto, considera-se que esta situação apenas pode ser ultrapassada se todos se unirem contra estas posturas discriminatórias, pois todos nós, independentemente da raça, somos Homens e, como tal, devemos aprender com as diferenças uns dos outros e viver em completa miscigenação, fazendo cumprir o mandamento do amor, por Jesus ensinado: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.”.
De acordo com a informação desenvolvida ao longo deste trabalho foi possível ficar a conhecer de perto o racismo e o etnocentrismo, tendo sido possível verificar que o racismo é uma forma de etnocentrismo, pois quando se tem uma atitude racista perante um indivíduo estamos a sobrepor os nossos valores, a nossa cultura à da outra pessoa, considerando-a inferior. Esperamos que este trabalho alerte as pessoas para as possíveis consequências do racismo e do etnocentrismo. Esperamos ainda que este trabalho tenha convencido as pessoas que é necessário mudar a nossa atitude discriminatória em relação às outras pessoas e sociedades, para que seja possível um convívio pacifico entre todos.
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