Querida Amiga

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A maravilhosa história de Pedro Voador Nilza Amaral,ficcionista brasileira

È noite de Sexta-feira dia 13. No céu o brilho da lua cheia é tão forte que parece dia claro. Aquela bola redonda e prateada no céu, a noite quente, o silêncio, sem ao menos um barulho de brisa, faz daquela noite uma noite especial, uma noite mágica. E naquele momento especial um bebê nasce numa maternidade em São Paulo. O recém-nascido descansa calmo, deitado de bruços em seu berço, somente de fraldas por causa do calor. 1

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De repente, sem vento algum, a janela se abre. Uma grande mariposa entra no quarto e pousa gentilmente nas costas do bebê. E ali permanece como uma marca. . Os médicos não conseguem explicar o fato. Primeiro dizem que pode ser um feitiço da lua. Mas essas palavras não combinam com a medicina. Então resolvem dizer aos aflitos pais do bebê que a mancha é um nevus o nome que a ciência dá a essas manchas. Há nevus com várias formas.Alguns

desaparecem

espontaneamente.Outros

precisam

de

tratamentos, como a cirurgia plástica. Começam então um tratamento tentando eliminar o nevus das costas do bebê. Tentam todos os remédios possíveis. Todos são inúteis. A grande mancha do formato das asas da mariposa não desaparece. Finalmente desistem. A mariposa brilhante e colorida permanece gravada nas costas do recém-nascido. _ Até quando ? perguntam os pais ansiosos. _ Para sempre, respondem os médicos desapontados…Ou até que um dia ele desapareça como apareceu.Do nada. Um amigo da família que é poeta compara a mancha nas costas do bebê a uma bandeira tremulante por causa da variedade de cores. O recém-nascido recebe o nome do pai: Pedro

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E o poeta lhe dá um apelido : Voador. . Pedro vai crescendo. Suas costas vão se cobrindo várias camadas douradas formada de milhões de pontos dourados . Dá a impressão que uma fada despejou purpurina em suas costas. Pedro Voador tem nas costas um arco-íris colorido em formato de asas de mariposa. Pedro é agora um esbelto garotinho e seu corpo magro parece o corpo da mariposa. Seu cabelo é preto como a asa da graúna, sua pele é cor de jambo, e seus olhos são verdes como os oceanos brasileiros. É um garoto muito bonito e especial com aquela mariposa desenhada nas costas. Pedro vive em São Paulo. Próximo à sua casa há um grande parque: _o parque Ibirapuera.. Seus pais permitem que ele brinque no parque às segundas-feiras porque nos fins de semana o parque é muito freqüentado e eles não querem expor Pedro Voador a olhares curiosos. Têm receio de que o filho possa sofrer algum tipo de preconceito por causa da mancha em forma de mariposa em suas costas.

. Pedro Voador começa a freqüentar a escola.

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Seus pais avisam a professora para não permitir que Pedro Voador brinque com as outras crianças. Afinal ele é diferente. Não querem que ele sofra com as insinuações das crianças sobre seu nevus em forma de asa de borboleta Então na hora do recreio ele toma seu lanche na biblioteca da escola. Logo ele se torna um garoto solitário. Mas não é infeliz..

Apesar da sua marca

continua vivendo sua vidinha, não sem se

preocupar com ela.Mas se esquecendo dela por alguns momentos. Seu pai compra-lhe um computador e vários programas de enciclopédias . Logo aprende tudo sobre borboletas e mariposas. Sabe que algumas mariposas recolhem suas asas à luz do sol, e que outras adoram o rei solar. Como ele é proibido de fazer o que as outras crianças fazem como nadar, jogar futebol, correr ao vento sem camisa, passa longo tempo olhando os animais, em dicionários e surfando no seu computador. Pesquisa a vida dos insetos, principalmente a das borboletas. As crianças sabem ser cruéis e os colegas de escola dão-lhe apelidos: garoto borboleta, o grande mancha, e outros nomes que deixam Pedro Voador muito triste. Algumas meninas cantam:

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Voa, minha linda borboleta… Pedro Voador sofre . Porém dentro de seu coração alguma coisa lhe diz que ser diferente não é assustador. Agüenta firme as crueldades.Algumas crianças menos agressivas perguntam-lhe: __ O que aconteceu com as suas costas? A reposta depende de quem perguntas.Se fosse uma linda menina loira, ou uma adorável moreninha, a resposta seria: __ No dia em que nasci as fadas estavam voando ao redor da maternidade e me presentearam com essas asas de borboletas. __ E você pode voar? __ Não, ainda não, elas precisam crescer. __ e como você vai fazer? As asas não vão caber em suas camisetas. __ O tempo dirá.Para tudo tem um tempo certo. As meninas davam-se por satisfeitas, mas não deixavam de comentar: __ Pedro tem asas de borboleta nas costas, e um dia vai poder voar. Porém, os meninos não se dão por contentes e entre meninos as coisas são diversas. Ser diferente incomoda, e se às vezes essa diferença atrai as meninas, então entra a rivalidade, e as coisas são tiradas a limpo.

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__ Que história é essa de voar, Pedro? __ Não é história, é promessa. __ De quem, de Deus? __ Não, de minha fada madrinha. __ Conta outra, Pedro, só faltava essa, ter fada madrinha! __ É só para quem acredita, provoca Pedro. __ Não, é só para impressionar as meninas, você tem, é uma bruta mancha horrível nas costas. __ É verdade, admite Pedro, mas gosto de me enganar. __ E enganar os colegas. __ Quem sabe um dia a lenda vira realidade, não é Pedro? __ Quem sabe?, responde Pedro. __ Bem chega de idiotices, dizem os colegas, qualquer dia vamos lhe dar uma surra para você aprender a fazer gozação com os seus amigos. __ Ah, não sabia que vocês eram meus amigos,então vou contar a verdade, essa mancha é de nascença e eu não gosto dela. __ Ah, agora sim, você está sendo honesto.Conta isso para as meninas. __ Contem vocês.

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__ Em nós elas não vão acreditar. __ Então não tenho culpa.Cada um acredita no que quer. Os colegas se vão, mas Pedro tem que enfrentar essa luta todos os dias. Portanto, já se acostumou.

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Numa segunda-feira ele está sozinho no parque. Então tira a camiseta. Naquele momento uma brisa começa a soprar suavemente. De repente a brisa transforma-se num furacão. As árvores balançam seus galhos, as flores são arrancadas de seus caules, a poeira forma enormes espirais transparentes. Mas do mesmo modo que começou, o furacão amansa de novo na brisa suave. Pedro está assustado e maravilhado. A ventania transformou a grama e a terra do parque em um belo tapete de folhas e flores. Mas o medo de Pedro Voador é tanto que ele não consegue dar um passo. Não consegue sair do lugar. E ali permanece. Assim que a fúria do vento cessa a brisa retorna, o sol está no céu novamente, as flores voltam aos galhos das árvores. Nesse instante Pedro Voador ouve um estranho ruído! Levanta os olhos e o que vê ? Como saindo do nada, um esquadrão de borboletas e mariposas começa a voar em torno dele. O menino está surpreso e maravilhado com a beleza do movimento dos insetos ao seu redor.

Lentamente levanta-se e senta-se no verde tapete de folhas para apreciar melhor o bater das asas das mariposas e borboletas.

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E nesse momento pensa em como deve ser bom saber voar! E vocês nem imaginam o que acontece __ esse é o primeiro milagre __ as asas nas costas de Pedro Voador abrem-se e recebem vida! São asas tão grandes que cobrem o pequeno corpo do garoto com um como um manto de muitas cores. Pedro Voador permanece sob elas enrolado como um bebê recém nascido com o coração batendo de ansiedade. Ele não sabe o que poderá acontecer em seguida. Então lembra-se de que algumas espécies de mariposas voam somente à noite. E está longe de anoitecer. Sem saber o que fazer tira um cochilo e parece que os insetos resolvem fazer o mesmo . As árvores ficam cobertas de insetos multicores. Quando a lua prateada aparece no céu, uma voz fala em seu interior, como se viesse do fundo de seu coração. _ Pedro Voador, hoje vamos dar um grande passeio sobre o Brasil. Em seguida as asas começam a bater e ele sente-se transportado ao espaço infinito. Se alguém olhasse para o céu naquela noite poderia ver um esquadrão enorme de mariposas atravessando a lua. E jamais desconfiaria que um daqueles insetos era um garoto chamado Pedro Voador. As asas se fecham para um descanso sobre uma enorme nuvem azul. Pedro pergunta à líder do esquadrão : _ Para onde vamos indo, alguém pode me dizer? _ A um seminário de borboletas e mariposas. Quem respondeu a Pedro Voador foi a voz em seu coração. 9

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_ Por que estamos indo para lá? _ Porque decidimos cortar as suas asas. Na verdade, atualmente você não é nem um garoto nem uma borboleta. Quando você nasceu uma de nós deixou as asas em suas costas . Agora decidimos ajeitar as coisas. Pedro Voador está assustado. _ De que maneira ? Vocês por acaso sabem o que os médicos disseram sobre ajeitar as coisas? _ Médicos não sabem tudo, responde a vozinha lá dentro de Pedro Voador, _ a mãe Natureza decide melhor as coisas.

Naquele momento a voz interior de Pedro Voador emudece. O garoto está maravilhado com o que vê : o sol está nascendo lá atrás de um belo arco-íris. As borboletas estão entrando na paisagem. Parece uma cena de filme colorido. Animais grandes e pequenos correm de cá-pra-lá. Ele sabe que jamais esquecerá essa cena enquanto viver. _ Tempo de dormir, retorna a sua voz interior. Que gozado! Pensa Pedro Voador. Essa voz que sai de dentro de mim deve ser a voz da borboleta dona das asas das minhas costas. Mas não quer pensar muito nisso, senão vai ficar assustado e perder o melhor da festa. _ Mas você Pedro Voador pode passear pela floresta. Assim que a voz emudeceu as asas de Pedro Voador se recolheram 10

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e voltaram a ser apenas a mancha nas costas. Pedro Voador está no Pantanal, uma vasta região do Brasil que é chamada de santuário dos animais. A caça e a pesca são proibidas sem autorização. É uma imensa região. Tem 140.000 quilômetros, a temperatura é por volta de 24 graus centígrados, há muitos rios, muita vegetação. O por e o nascer do sol são maravilhosos. Pedro Voador vai aproveitar o seu dia. Começa seu passeio. Milhões de vaga-lumes iluminam a noite. Há inúmeras arvores frondosas, uma das mais frondosas é a Jati. Os colibris estão sugando o mel das flores da árvore. Pedro Voador está com fome e portanto, vai fazer o mesmo que os beija-flores. Estica seus lábios como se fosse uma borboleta esticando seu tubo, e delicia-se com o doce sabor. Aparece um pássaro saído do nada assim sem mais nem menos. É alto tem as penas brancas como a neve, pernas longas e finas. A ave perguntalhe: _ O que você está fazendo aqui? Afinal que bicho é você? Uma mariposa ou uma borboleta. Hum…mariposa não pode ser, está um dia muito claro de sol. _ Sou apenas um garoto passeando na floresta, procurando o que comer, responde Pedro Voador.

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_ Hum… que pena, pensei que fosse o Chapeuzinho Vermelho… Mas você precisa comer, está mesmo muito magrinho, daqui a pouco não vai nem poder carregar essas asas… _ O Chapeuzinho Vermelho é uma menina, e essas asas não são pesadas. Além disso você não se enxerga, olha as suas pernas finas, meu… ( esse pássaro é metidinho), pensa Pedro Voador. _ Ah, é? E por acaso você sabe se eu sou macho ou fêmea ? _ Agora você me pegou… _ Mas venha cá, meu filho, suba nas minhas costas vamos dar um giro por esse mundo afora. Vou levar você para uma vista aérea do Pantanal. _ Mas me diga aqui em segredo. Você é meio borboleta, não é? _ `E que no dia em que eu nasci a mãe Natureza estava meio distraída, e deu isso. _ E agora, meu filho, vai ser sempre assim, nem lá, nem cá? _ Depende do que acontecer hoje por aqui. É um mistério! _ Hum, hum…Bem então suba aqui, vamos passear. E lá vai Pedro Voador desta vez nas asas do pássaro. _ Dona Cegonha, desculpe chamar a senhora de dona, mas eu não sei sua idade, e depois a senhora me chama de meu filho. _ A, isso é vício, meu filho, oi, quero dizer, menino, mas se quer saber eu ainda sou uma donzelinha, só que não sou cegonha, não…

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_ E é o quê? Tão branquinha desse jeito ? Só pode ser uma cegonha… _ Incorreto, grunhiu o pássaro. Sou uma Garça, meu meninoborboleta, e das bem branquinhas. _

E de uma vez por todas não me chame mais de menino-

borboleta… Sabe, esse é um dos apelidos que me deram na escola, e me deixa muito triste. _ Que isso, menino, se não fossem essas asas você não estaria agora nas costas de um pássaro e muito menos conversando com ele. _ Sabe que penso que é mentira mesmo, que estou mais é sonhando? _ Hum…hum…pia o pássaro. Você vai ter a prova que não é um sonho, logo, logo… _ O que você está sabendo, meu? _ Deixa pra lá, deixa pra lá, deixa pra lá…

_ Dona Garça! Veja, que rio enorme, que rio é esse lá embaixo ? _ Esse é o Rio dos Bugres. O pessoal que mora na região, vive da pesca desse rio. Há dourados enormes aqui e há também os peixinhos que me alimentam. _ Nessa região os portugueses, sabe, aqueles que descobriram o nosso país, costumavam acampar para se esconder dos índios. Há descendentes desses índios até hoje. _ Como você sabe disso tudo?

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_ Essas coisas passam de um bico para o outro, são as histórias dos povos. E olhe lá na terra, as capivaras, as seriemas… _ Que coisa linda que é a natureza… _ É, mas há muita gente que não liga para nada disso. Por isso esse lugar é sagrado. Sabe como se chama aquele pássaro que está sobre aquele galho? _ Sei, já o vi nas minhas pesquisas, branco com pescoço preto com penas amarelas e vermelhas ao redor, é o … _ …Tuiuiu, pois é, é meu grande amigo, completa o pássaro, branco como a neve. Esse passarão é falador à beça, pensa Pedro Voador, mas nada diz à Garça pois afinal ela está sendo muito gentil. _ Bem garoto-garoto, nosso passeio está terminando, o sol vai se por e as mariposas, suas amigas, coisa que eu duvido muito, vão acordar. E assim dizendo a grande Garça pousa ao lado da árvore Jati. O sol está quase na linha do horizonte , o céu está vermelho como fogo e a floresta parece cor de rosa. A garça está voltando para o seu lugar. Antes porém não deixa de falar : _ Tome cuidado com essas mariposas, meu menino, elas não são boas companhias, causam enorme prejuízo às plantações, árvores e florestas, afinal não deixam de ser lagartas devoradoras. _ Incorreto, diz Pedro Voador, você não sabe a diferença entre elas?

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_ Ora, não há diferença. _ Incorreto, de novo. As mariposas são inofensivas. Sabe o que mais? Os livros dizem que os pássaros são seus grandes inimigos. _ Hum…hum…, muito engraçado, aqui é uma floresta, e se pratica a auto defesa para se viver… _ Então você reconhece que elas também precisam, não é? _ È, você está defendendo a sua espécie. _ Mas que Garça teimosa, não sou da espécie dos lepidópteros. _ Nossa, que nome feio, ´tá bem, não está mais aqui quem falou, tchau menino, e saiba que os livros não contam tudo. E assim dizendo lá se foi a Garça, espaço afora. Assim que a noite desce, as asas de Pedro Voador abrem-se novamente escondendo-o sobre elas, enrolado como um bebê recém nascido. Ele não pode ver os milhares de borboleta e mariposas chegando para o encontro mas pode ouvir o barulho do bater de suas asas. Pedro Voador está pronto para assistir o segundo milagre da natureza: as lagartas estão para se transformar em insetos adultos _ vai acontecer a metamorfose, a mudança. As crisálidas que saem dos casulos começam a largar suas peles. Os insetos encaixados naquela construção ao resistente mas ao mesmo tempo flexível, mudarão de forma. Agora Pedro já pode enxergar o que está acontecendo. Ele perde a 15

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respiração de surpresa. Não sabe se está assustado ou maravilhado. È bem diferente ver ao vivo do que na tela do computador ou na enciclopédia esse milagre da transformação. Tudo começa quando os órgãos e os tecidos do inseto vão se transformando numa substância semilíquida. Dessa substância formam-se asas, pernas e corpos dos insetos adultos. Pedro Voador está encantado com essa maravilhosa mudança. Até que começa a sentir uma estranha sensação em suas costas. A marca das asas de borboleta está se transformando naquela substância semi líquida. Ele sentese frio e molhado. E muito assustado. A luz da lua clareia a água do lago próximo. Nela ele pode ver as suas costas. Completamente lisa e sem a mancha. Ela se fora com as borboletas que estão voando para longe dele. Estão voando prontas para viver a sua curta vida. E Pedro Voador? Estará pronto para viver a sua mudança? Sem aquela mancha que tanta tristeza trouxe aos seus pais? Acaba de acontecer o segundo milagre. O milagre da metamorfose, da mudança de Pedro Voador.

Então uma suave brisa começa a assobiar. Pedro Voador está muito preocupado. Está tão longe de casa! Não há sinal de borboleta ou mariposa alguma. Todos os insetos se foram! 16

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E ele como vai voltar? Sem as suas asas vai ser difícil. Pedro Voador ainda não acredita que está sem elas. Passa a mão sobre a nuca e sente uma penugem macia. Apenas uma penugem. E tem a sensação de que perdeu alguma coisa sem a mancha. Afinal ela o tornava diferente dos outros meninos. Que garoto além dele poderá dizer que já voou com as próprias asas? Mas não é que de repente como saindo do nada, como em todas as vezes que aparece, a Garça branquinha, branquinha, reaparece? Dessa vez vem acompanhada. Ao seu lado está um pássaro tão grande quanto ela. É branco, tem o pescoço negro, enfeitado de penas vermelhas e amarelas. Espere aí - Pedro Voador o reconhece - é o Tuiuiú. _ Venha, garoto, afinal agora você é quase um garoto… _ Como, quase um garoto, não vê que estou sem as asas? _ Hum…, pois é. Vamos logo antes que a brisa vire tufão. A viagem de volta foi tão maravilhosa quando a vinda. Os três viajantes permanecem em silêncio aproveitando o espetáculo que a Natureza lhes oferece. Há pássaros em revoada contra o brilho da lua. Os animais noturnos que correm entre as ramagens. Os vaga-lumes abrindo alas à passagem dos três voadores. Pedro Voador está realmente confuso. Não sabe se gostou de perder as asas.

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A Garça pousa outra vez sob a seringueira enorme, onde tudo começou. O Tuiuiú despede-se com um abanar de asas, e pela primeira vez fala com Pedro Voador : _ Meu caro, essa não foi a última vez que nos vimos. Mas por enquanto, adeus! Esses pássaros são muito misteriosos, pensa o menino. E assim que termina de pensar vê duas borboletas tigres acompanhando os dois que desaparecem na noite quase dia. Logo de manhã, assim que o sol aparece, há um reboliço de guardas pelo parque: _ Por aqui, senhora, acho que descobrimos o garoto fujão! E está parecendo que ele nem saiu daqui, nós é que não enxergamos, vai ver porque estávamos muito nervosos! A mãe de Pedro Voador seguida pelo seu pai, aparece ofegante: _ Pedro, meu filho, estava morrendo de preocupação. Sabe Pedro, hoje descobrimos que amamos você mais do que tudo no mundo! Com mancha ou sem mancha você sempre será nosso filho querido! O pai de Pedro está intrigado. _ Meu filho, você está sem camiseta, e sem a mancha. O que aconteceu aqui nessa segunda feira? Pedro Voador jamais poderá contar-lhes. Eles não acreditarão que seu filho viajou no tempo. Em apenas um dia de mágica tudo aconteceu, misturando as horas. Para os seus pais foi apenas uma segunda feira comum, mas para Pedro Voador foi uma segunda feira sem fim! _ Não sei meu pai, só sei que caí no sono e acordei agora. _ Veja, meu velho, disse a mãe de Pedro Voador ao marido _ 18

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Veja, as costas estão limpas, só sobrou essa linda penugem dourada aqui na nuca! Emocionados, lá se foram os três.

Porém, às sextas-feiras, se alguém olhar para o céu, verá uma enorme mariposa, duas borboletas e dois enormes pássaros atravessando o céu contra o brilho prateado da lua cheia. E se fixar o olhar poderá descobrir que o corpo da grande mariposa é o corpo de um garoto. Esse é o terceiro e último milagre. Mas quem acredita em milagres? Somente as crianças, os jovens e os puros de coração.

Ninguém acreditará, somente nós, é lógico, porque sabemos que é Pedro Voador e seus amigos saindo para uma nova aventura. Mas essa já é outra história. E outra história á ainda a história de um certo menino que nasceu com uma certa mancha e que se tornou um certo importante cientista.Mas essa já é outra história, mais longa e mais fantástica.

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