UM PONTO DE PARTIDA PARA O DIÁLOGO A melhor forma de explicar a conferência Upload Lisboa é descrevê-la como um evento que tem como objectivo reunir profissionais e estudantes de comunicação, nas suas várias vertentes, com interesse pela comunicação online e especificamente em torno do conceito de Web 2.0. A Upload Lisboa é de facto esse ponto de encontro e local de diálogo entre pessoas de perfis bastante diferentes mas com um interesse em comum. Este documento surge assim apenas como um ponto de partida para o diálogo que pretende gerar. Como tal, o texto não tem a pretensão de querer reunir toda a área de comunicação online ou de ser indiscutível, pretende apenas apresentar alguns conceitos e noções de modo a facilitar o diálogo e o confronto de ideias. Qualquer um dos temas que foram abordados poderia ser alvo de uma reflexão mais extensa e de uma descrição mais pormenorizada sobre o efeito que a Internet teve na nossa forma de comunicar em sociedade. Da mesma forma, foram apresentados os desafios de transparência, participação e de gestão da comunicação que as empresas e outras instituições enfrentam. A resposta a estes desafios pode surgir de recorrendo a um leque bastante vasto de alternativas, cada uma com os seus benefícios e contra-partidas. É importante que sejam compreendidas as diferentes perspectivas, razão pela qual é importante criar espaços de diálogo e de reflexão. Por existirem várias respostas válidas aos desafios que as empresas enfrentam hoje em dia, é importante que o diálogo vá além da discussão sobre a utilização das plataformas de social media por parte das organizações. É crucial que a comunicação online seja guiada por mais do que pelo entusiasmo e apelo que rodeiam o aparecimento de novas plataformas, devendo para isso ser guiada por uma estratégia e uma metodologia cientifica. É pela criação de estratégias de comunicação sólidas que as empresas têm de facto sucesso, e hoje mais do que nunca , a comunicação online deve ser um componente central dessa estratégia. BRUNO AMARAL
www.uploadlisboa.com 2009
“(…)eu não previ o lado poderoso da comunidade da Internet e seu impacto em cada aspecto da nossa sociedade. A minha visão original era que a rede teria o propósito de uma interacção computador-computador ou pessoa-computador; mas o seu principal uso passou a ser a interacção pessoas-pessoas.” Leonard Kleinrock em Entrevista à SIC
INTERNET O que começou como um projecto da Advanced Research Projects Agency
A internet evoluiu, passou a ser usada em universidades e mais tarde
(ARPA) veio a tornar-se muito mais do que uma simples rede entre máquinas. O objectivo era aproveitar as infraestruturas que já existiam e ter forma de aceder a informação militar guardada
comercializada. Hoje, a Internet possui formas de interacção cada vez mais diversificadas e velocidades de transmissão de conteúdos cada vez mais rápidas, pode ser usada através de
em localizações remotas e mais seguras. Mas pela forma como foi desenvolvida a Internet veio a permitir uma série de outras aplicações, das quais o email e as páginas de web são
uma série de plataformas (computadores, telemóveis, netbooks e mesmo consolas de jogos), para transmitir e receber dados por linhas de cobre, satélite, ou redes 3G e serve para
apenas um dos exemplos mais antigos.
que qualquer pessoa possa publicar
conteúdos, interagir com indivíduos e grupos, ou colaborar à distância. Aquilo a que chamamos hoje Internet é um conjunto de tecnologias de comunicação que interagem de modos cada vez mais versáteis para permitir uma comunicação cada vez mais rica e interactiva.
“The power of tags shows that the way to manage information overload is more information. That's what the doomsayers of the 90's — Information Anxiety! Information Tidal Wave! — didn't foresee.” David Weinberger, Co-Autor do “Cluetrain Manifesto”; Autor de “Everything is Miscellaneous: The Power of the New Digital Disorder”
O EXCESSO DE INFORMAÇÃO Um documento publicado online está imediatamente acessível a milhões de pessoas com acesso à internet. Quer seja através da criação de uma página, perfis em redes sociais ou comentários em blogs, toda a nossa acção online passa pela publicação e partilha de informação. Se antes da Internet a informação e o conhecimento estavam limitados aos livros e às enciclopédias, hoje a informação é distribuída sem restrições. Isto faz da Internet a maior e mais acessível fonte de informação mas
também coloca em causa a qualidade da informação disponível. Dado o ritmo com que publicamos informação online, torna-se impossível categorizar os conteúdos, garantir a veracidade e precisão do que é disponibilizado e por vezes torna-se difícil averiguar a credibilidade das fontes de informação. Quer seja pela acção de públicos interessados ou como forma de garantir a qualidade da informação relacionada
com a sua actividade, as empresas vêm-se assim forçadas a uma transparência cada vez maior de modo a evitar falhas de comunicação e proteger a sua reputação.
PUBLICAR PRIMEIRO, FILTRAR DEPOIS Para responder aos desafios causados pelo excesso de informação surgiram uma série de novos mecanismos para reunir e organizar o que é publicado online.
atribuída recorrendo a uma formula matemática.
A primeira resposta surge através dos motores de busca que indexam e
Apesar da sua utilidade os motores de busca não respondem a todas as necessidades de organização de informação. Razão pela qual surgiram grupos de utilizadores, redes sociais
apresentam toda a informação que encontram sobre um dado termo de pesquisa, organizando-a consoante a credibilidade, que por sua vez é
como o Digg 1 e o Delicious 2, que em conjunto se encarregam de organizar e categorizar a informação que consideram valiosa.
1
http://www.digg.com
2
http://www.delicious.com
3
http://wikipedia.org/
Contudo, o excesso de informação não implica apenas uma necessidade de organização, inclui ainda a necessidade de actualização constante da informação. Os wikis, dos quais a wikipédia3 é um exemplo, são uma das ferramentas de colaboração que permite a manutenção da informação de modo simples e rápido, novamente relegando para a comunidade o dever de garantir a qualidade do que é publicado.
NOVAS FORMAS DE COMUNICAR Há muito que a internet não se limita à troca de emails ou à visualização de
mesmo empresas. Estes canais permitem que se formem públicos de
princípios de ética. A variedade crescente de canais de comunicação
páginas estáticas. Com a evolução da tecnologia e o avanço de linguagens de programação mais dinâmicas foi possível fazer da Internet uma base para novas formas de comunicação.
modo mais fácil, e dado que a comunicação se processa em tempo real, estes públicos têm forma de agir para influenciar empresas e outras instituições.
agrava estes desafios, não basta saber de que modo se deve participar no diálogo, é importante saber qual dos diferentes canais de social media usar para chegar aos diferentes públicos.
O termo social media tende a ser usado para referir a variedade de formas de comunicação que temos à nossa disposição para chegar a amigos, familiares, colegas de trabalho ou
Estas organizações enfrentam uma série de novos desafios, precisam de saber como escutar o diálogo online, de que modo podem obter o direito de participação no diálogo e sob que
“Web 2.0 é um conceito comunicado por muitos como sendo algo de novo, quando de facto se trata apenas de uma evolução.” David Phillips e Philip Young em “Online Public Relations — A Practical Guide to Developing an Online Strategy in the World of Social Media”
WEB 2.0 “In less than five years, a movement has taken hold that is having a profound
Ao falar de Web 2.0 estamos simplesmente a mencionar um ponto de
social. Fosse pelas salas de conversa, grupos de discussão e outros forums, a
effect on public relations. Called Web 2.0 by Tim O'Reilly, of O'Reilly Media in 2003, it heralds the evolution of the web from a repository of information and communication technologies into a
evolução da Internet caracterizado pela comunicação em tempo real e por uma interacção cada vez maior entre pessoas, grupos e organizações. Mesmo que se recorra a canais de
Internet foi sempre composta por tecnologia que tinha como objectivo a interacção social, a colaboração e a criação de comunidades ou organizações.
space for symmetrical communication; a platform which aids the transfer of knowledge and conversations and a place where people can easily mix and match both.” (Phillips e Young)
social media como o Flickr, Twitter e o Facebook para exemplificar as características do conceito Web 2.0 e o colocar como se tratando de uma “nova” Web Social, a verdade é que a Internet sempre teve uma componente
BLOGS Inicialmente usados como diários públicos, os blogs caracterizam-se essencialmente pela publicação de artigos (posts) em ordem cronológica inversa e pela possibilidade de comentar esses mesmos artigos. Algumas das plataformas de blog mais conhecidas incluem: livejournal.com; wordpress.com; blogger.com; bem como blogs.sapo.pt
MICROBLOGS O twitter surgiu como a plataforma de microblogging por excelência, caracterizado pela simples introdução de mensagens com 140 caracteres em resposta à pergunta “what are you doing?”. A grande vantagem das plataformas de microblogging está na possibilidade de comunicar de 1 para 1, de 1 para muitos e mesmo de muitos para muitos.
WIKIS Os wikis surgiram como resposta à necessidade de alterar uma página de internet de modo rápido e eficaz, sem que isso implicasse possuir conhecimento técnico. A wikipédia surge como o principal exemplo de um wiki, utilizado para manter um repositório de conhecimento em mais de 260 línguas diferentes.
REDES SOCIAIS As redes sociais online são autênticas ferramentas de comunicação para grupos de familiares, amigos ou colegas de trabalho. Quer seja através do facebook, linkedin ou myspace, as redes sociais atribuem uma página de perfil a cada utilizador, à qual ele acrescenta a indicação dos seus contactos dentro da mesma rede. A interacção nestas redes surge de várias formas, quer seja pela participação em grupos de discussão, comentários a perfis ou aplicações e jogos.
REDES DE PARTILHA DE CONTEÚDOS Tratam-se de sites como o Digg e o Delicious onde além de partilhar conteúdos os utilizadores se ocupam de o organizar de modo a que possa ser descoberto mais facilmente por alguém que partilhe o interesse pelo tema.
MUNDOS VIRTUAIS Quer se tratem de mundos interactivos em 3D como o Second Life ou World of Warcraft, ou plataformas de interacção online mais estáticas como o Habbo, os mundos virtuais são locais de interacção e diálogo.
MOTORES DE BUSCA O propósito dos motores de busca é simples, reunir e organizar a informação que encontram na internet. Existem mesmo motores de busca que se focam em temas muito específicos, como conteúdos académicos, fotografias ou comparação de preços.
RSS (REAL SIMPLE SYNDICATION) Trata-se de uma tecnologia de distribuição de conteúdos, um ficheiro de RSS pode ser lido por uma série de dispositivos e permite receber de modo automático as actualizações de informação que forem publicadas.
TAGS OU ETIQUETAS Dado que as categorias hierárquicas se mostraram insuficientes para a quantidade de informação disponível online, surgiram as Tags ou Etiquetas. Podemos classificar um mesmo conteúdo com uma ou mais etiquetas para que mais tarde o possamos encontrar e reunir outros conteúdos relacionados.
CREATIVE COMMONS Este nome designa um conjunto de licenças de copyright destinadas a permitir a disponibilização de conteúdo original pela internet sem limitar a sua distribuição e adaptação enquanto que ao mesmo tempo protege o autor.
PODCASTS Baseados na tecnologia de RSS, os podcasts são programas de rádio a que podemos subscrever e que podem ser ouvidos através de qualquer dispositivo capaz de interpretar um ficheiro de audio em MP3 ou formato equivalente.
WIDGETS Uma widget pode ser descrita como um programa que recolhe e apresenta informação em tempo real. As widgets podem ser aplicadas em páginas de web, copiadas e distribuídas de modo fácil, podendo ser usadas em computadores, telemóveis ou qualquer outra plataforma.
CROWDSOURCING O termo crowdsourcing refere-se à possibilidade de delegar a um grupo ou a uma comunidade online a execução de uma tarefa. Um exemplo comum de crowdsourcing surge quando se coloca uma pergunta num website de microblogging para receber a informação que se procura vinda de alguém na nossa rede de contactos.
SEARCH ENGINE OPTIMIZATION (SEO) Trata-se de um conjunto de técnicas que têm como objectivo facilitar a indexação de conteúdos pelos motores de busca. Estas técnicas passam pela programação, criação dos conteúdos, e até troca de hiperligações.
SOCIAL MEDIA OPTIMIZATION Conjunto de técnicas que se destinam a facilitar a partilha de conteúdos através dos diferentes canais de social media. Trata-se de um termo que foi inicialmente cunhado por Rohit Bhargava.
PARA IR MAIS LONGE Apesar de todo o impacto que a Web teve na nossa forma de comunicar e de distribuir conteúdo, os livros ainda se mostram como um elemento fundamental da partilha de conhecimento. Por
A lista não é exaustiva, no entanto serve como ponto de partida para estudar a área da comunicação online, quer seja na perspectiva das organizações ou para compreender melhor o impacto no dia a dia de cada um.
essa razão pareceu-nos que seria indicado incluir neste documento a referencia a alguns livros e autores que definiram as bases dos conceitos que foram abordados.
TÍTULO
AUTOR
ISBN
Wikinomics: How Mass Collaboration Changes Everything
Tapscott, Don
1591841380
Here Comes Everybody
Shirky, Clay
713999896
The New Rules of Marketing and PR: How to Use News Releases, Blogs, Podcasting, Viral Marketing and Online Media to Reach Buyers Directly
Scott, David Meerman
470113456
Naked Conversations: How Blogs are Changing the Way Businesses Talk with Customers
Scoble, Robert
9538
PR in Practice: Online Public Relations: A Practical Guide to Developing an Online Strategy in the World of Social Media
Phillips, David G. H.
749449683
What Is E-Business?: How the Internet Transforms Organizations
Li, Feng
1405125586
The Cluetrain Manifesto: 10th Anniversary Edition
Levine, Rick
465018653
The Cult of the Amateur: How today's Internet is killing our culture
Keen, Andrew
385520808
Public Relations on the Net: Winning Strategies to Inform and Influence the Media, the Investment Community, the Government, the Public, and More!
Holtz, Shel
814479871
The Tipping Point
Gladwell, Malcolm
316346624
The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom
Benkler, Yochai
300110561
CREATIVE COMMONS As fotografias usadas neste documento foram encontradas através da pesquisa online por uma série de fontes, tais como a wikipédia e o website flickr.com. Na ordem em que foram usadas, as versões originais e informações adicionais podem ser encontradas nos seguintes endereços: FOTÓGRAFO
PÁGINA ORIGINAL
Carrierdetect
http://www.flickr.com/photos/carrierdetect/3598454141/
Nick Wheeler
http://www.flickr.com/photos/nickwheeleroz/2669814012/
Ozyman
http://www.flickr.com/photos/ozyman/443545349/
Tomasz Sienicki
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Telefon_VHM_ubt.jpeg
Evan Leeson
http://www.flickr.com/photos/ecstaticist/1340787730/
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