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1761

3

A ENCYCLICA

Providentissimus Deus DO

SANTO PADRE LEÃO SORRE OS ESTUDOS

VERSÃO PORTUGUESA SOBRE

XIII

BIIILICOS

O

TEXTO LATINO

IX)

Dr. Luís 3Iaria da Silva

Do Conselho Decano

Ramos

de Sua Majestade, Lente de Prima,

e Director

da Faculdade de Tlieologia

da Universidade de Coimbra

COÍMBRA IMPRENSA DA UNIVERSIDADE 1903

A encíclica

Providentissinius

Deus

A ENCYCLICA

Providentissimus Deus DO

SANTO PADRE LEÃO

XIII

SOBRE OS ESTUDOS BÍBLICOS

VERSÃO PORTUGUESA SOBRE

O

Dr. Luís Maria da ^Silva

Do Conselho Decano

TEXTO LATINO

Ramos

I

de Sua Majestade, Lente de Prima,

e Director da

Faculdade de Theologia

da Universidade de Coimbra

COIMBRA IMPRENSA DA UNIVERSIDADE 1903

'

^^

,

'

'"^ '^

Digitized by the Internet Archive in

2010 with funding from University of Toronto

http://www.archive.org/details/encyclicaprovideOOcath

AO

seu

collega. e

amigo

O EXCELLENTISSIMO E REVERENDÍSSIMO SENHOR

Doutor Manuel de Jesus Lino Sábio professor de exegese e hermenêutica sagrada na Faculdade de Theologia da Universidade de Coimbra,

Commendador

da esclarecida

Ordem

de Santiago, etc.

O. D. e C.

O

auctor,

A quem A

— Provide7itissiinus

Encyclica

damos

ler

á estampa, vertida

original latino, é

uma

Deus

— que ora

immediatamente do texto

das mais bellas e magistraes

que saiu da penna inspirada de Leão XIII. E, se não houvera tantas e tão profundas Encyclicas deste

grande Pontífice, tantos

documentos

veis

o seu

e feitos,

nome venerado

prestigio

— até

e

e tão

admirá-

que tornaram immortal

— tal

respeitado

é

o seu

pelos próprios inimigos da Igreja,

esta só bastaria para lhe dar

um

logar primacial

na ala dos Pontífices, que tanto accrescentaram o poder invencível da cadeira quasi vinte vezes

se-

cular de S. Pedro.

Ao

ler-se

tissimus

attentamente a Encyclica

Deus

encarecer

:

— não

sabe o assombro o que mais

se a pureza, a elegância, a propriedade

genuinamente ciceronica da dicção

merada tos,

— Providen-

latina, tão es-

e harmoniosa, se a sublimidade dos concei-

a justeza e a opportunidade dos mandatos, a

A

VIII

quetn ler

sabedoria mais a prudência dos conselhos aos professores e alumnos de Estudos biblicos.

Dá-se

um

facto muito para notar na longa serie

das Encyclicas do grande Pontífice: umas são o

precedente lógico doutras. Assim, a Encyclica

— em

Aeterni Patris



que Leão XIII restaura nas

escolas catholicas a áurea doutrina philosophica do

aquinatense, é o precedente lógico desta

prepara novos

e assignalados

em que

triumphos para as

sagradas Escripturas. Estudar o livro inspirado,

que é o thesouro mais opulento da revelação divina,

sem uma larga

e sã cultura philosophica, é trabalho

quasi perdido ou, pelo menos, de pouco fructo. Pois não diz o Pontífice que os apologistas e interpretes da Biblia têem de vingá-la contra as investidas, de dia para dia mais audazes, do racio-

nalismo, da falsa sciencia e da nova mentira, pompo-

samente decorada com o

titulo

de critica superior?

E como poderão aquelles terçar armas pera com os fautores de taes erros, vencida,

ajuntar novas palmas

de rija temlevá-los

de

de victoria ás já

alcançadas pela Escriptura na rude lucta que sustentou, durante séculos, contra insidiosos inimigos, se

não estão apercebidos com os sãos princípios da

verdadeira philosophia

com

?

Bem

o conheceu Leão XIII

o alto critério do seu espirito superior.

Como

adestrado capitão, não quis lançar ao com-

bate os seus

sem primeiro

fieis

soldados, defensores da

lhes abrir vasto e

bem

Biblia,

provido arse-

A quem

ix

ler

onde pudessem munir-se de armas que lhes garantissem a victoria. É assim que a Encyclica nal,

Aeterni Patris, preparando os triumphos da palavra

de Deus, na ordem natural, preparou os triumphos

da Escriptura, que

é a

palavra de Deus na ordem

sobrenatural. Enlaçam-se estas duas ordens, auxiliam-se mutuamente, vivem na mais perfeita har-

monia, como oriundas da dentes ao

mesma origem

mesmo fim (sem quebra da constituem

e ten-

sujeição lógica

uma

synthese

da inferior á superior)

e

de admirável belleza a

que chamamos — a verdade

catholica.

Tendo

a

meu

cargo, no futuro anno lectivo de

1903 a 1904 a regência da primeira cadeira de

Estudos bíblicos, segundo o plano de estudos professados na faculdade de theologia da Universidade

de Coimbra os

(1),

intendi ser de grande

meus alumnos,

e

monta para

ainda para os das outras ca-

deiras da faculdade, a versão portuguesa da Encyclica

ProvideJitissiimis

Deus

— porque a ella terei

de referir-me nas minhas prelecções. Sei de mais

que a presente versão só muito pallidamente flecte a belleza, a opulência e

ginal latino.

Nem

eu tentei,

propriedade do

reori-

que seria empresa

(1) Segundo o programnia official do ensino da faculdade de theologia, os Estudos bíblicos professam-se em duas cadeiras, a 9." Isagoge geral e archeologia, c a 12." Isagoge especial, hermenêutica e exegese.

A quem

X

ler

louca da minha parte, imitar,

português de

lei,

mesmo de

aquelles primores

;

longe,

em

mas sim tras-

ladar para a nossa formosa lingua, o mais fielmente

que pude, o pensamento do grande Pontífice, que elevou á elegância da lingua latina

e,

o que é mais,

ao progresso dos estudos bíblicos e á gloria da Igreja

um monumento

sábio e immortal

como

seu nome.

Coimbra,

14 de

julho de

Dr. Luís

1903.

Maria da Silva Ramos.

o

VERSÃO PORTUGUESA SOBRE O TEXTO LATINO

DA ENCYCLICA

PROVIDENTISSIMUS DEUS

Aos Veneráveis Irmãos Patriarchas, Primazes, Arcebispos e Bispos E outros Ordinários

EM PAZ

E

COMMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

LEÃO

XIII,

PAPA

Veneráveis B^mãos, saúde e benção apostólica

1.

Deus providentissimo, que por

um

admirável

desígnio da sua caridade, elevou o género humano,

desde a sua origem, a participante da natureza divina, e depois, regenerado da culpa e pena universal, o restituiu á pristina dignidade, dignou-se

liberalizar-lhe

uma graça

singular revelando-lhe

por meios sobrenaturaes os arcanos da sua divindade, sabedoria o misericórdia. E, se

bem que na

revelação divina ha verdades accessiveis á

intelli-

homem conhecidas por todos, dum

gencia humana, foram todavia reveladas ao

para que lograssem ser modo expedito, com firme certeza, sem lyiescla de erro; não porque para taes verdades fosse de absoluta necessidade a revelação divijia, mas porque

A

4

Deus em sua

um

Encyclica

bondade ordenou o homem a

infinita

fim sobrenatural

(1).

Ora, esta revelação sobrenatural está contida,

consoante no-lo ensina a crença da Igreja universal, já

nas tradições

oj-aes, já

nos livros sagrados e canóisso que, escriptos sob

chamados, por

nicos, assim

o influxo do Espirito Santo, tèem a Deus por auctor e

como

â sua Igreja

taes foratn confiados

é a crença que, acerca dos livros de

tamentos, a Igreja sempre e

camente professou;

em

Esta

os Tes-

toda a parte publi-

são conhecidos os documentos

e

como auctorizados, onde

tão antigos

(2).

ambos

que

diz

se

aquelle Deus que falara primeiramente pelos prophetas, depois por esse

mesmo

si e,

é o auctor

finalmente, pelos apóstolos,

da Escriptura canónica

oráculo e palavra de Deus

viada pelo Pae celeste

e

uma como

(4),

(3),

carta en-

transmittida pelos apóstolos

ao género humano, peregrino longe da pátria

Sendo pois tão remontada

a excellencia e

(5).

dignidade

das Escripturas, oriundas do próprio Deus, e sendo altíssimos os mysterios, desígnios e maravilhas que

(1)

Cone. Vatic, sess. III, cap.

(2)

Ibid.

(3)

S.

(4) S.

Aug.,

De

civit. Dei,

Ciem. Rom.,

I

XI,

II,

De

revel.

3.

ad Cor. 45;

S.

Polycarp. ad

Pliil.

7;

S. Iren. G. haer. II, 28, 2. (5) S.

serm.

Chrys. In Gen. hom.

2, 1

;

S.

2, 2;

S.

Aug. In

Greg. M. ad Theod. Ep. IV,

31.

Ps.

XXX,

»Providetitissirmis Deus»

encerra, é da mais subida excellencia e utilidade aquella parte da sagrada theologia que tem por

fim interpretar e defender a doutrina contida nos livros divinos.

Por

isso é

que Nós, assim como diligenciamos,

mediante repetidas cartas e

exhortações, promover,

e

não sem fructo, mercê de Deus, o esplendor de

momento para a gloria de Deus e salvação das almas, assim também de ha muito assentamos excitar e recommendar o nobi-

outras disciplinas de grande

líssimo estudo das sagradas Letras, imprimindo-lhe a direcção

que as circunstancias dos tempos recla-

mam. A

sollicitude

move-nos

e

seja

do nosso múnus apostólico como que nos impelle a que não só conhecida com segurança e fructo para a grei

christã aquella preclarissima fonte da revelação catholica, seja e

nem

mas também

que não consintamos que

a

ao de leve violada por aquelles que, ousada

impiamente, impugnam

com

fallazes

contra

e

a

sagrada Escriptura ou

imprudentes innovações tramam

ella.

Bem sabemos,

V.

I.,

que muitos catholicos, varões

de grande engenho e doutrina, se dedicam de boa

mente

e

animo inquebrantável

á defesa dos Livros

sagrados ou a tornar mais nitido e vasto o seu

conhecimento

e sentido.

E

se

louvamos, como é de

razão, taes e tão fructuosos trabalhos, não

podemos

deixar de exhortar instantemente outros varões cujo talento, doutrina e piedade

promettem grandes

A

6

Encyclica

cousas, a que sigam o louvável propósito daquelles.

É

nosso vehemente desejo que seja grande o numero

dos defensores das Letras divinas e que perma-

neçam constantes nesta missão, principalmente os que a graça divina chamou ao sanctuario, pois que a estes com toda a justiça impende a obrigação de as ler com mais diligencia e industria, de as meditar e explicar.

2.

A

razão principal que torna altamente recom-

mendavel lencia

este estudo,

não falando

segundo a promessa

está nos grandes bens que, infallivel

do Espirito Santo, delle dimanam:

a Escríptura, divinamente ensinar,

da sua excel-



do obsequio devido á palavra de Deus,

e

iJispirada,

para reprehender, para

truir ?ia justiça,

— Toda

é útil para

para inshomem de Deus

corrigir,

a fim de que o

seja perfeito e aparelhado

para toda a obra boa

O

dos apóstolos mostra-nos

exemplo de Christo

que com pturas.

tal desígnio

Jesus

e

(1).

nos foram dadas as Escri-

Christo — que

pelos

seus milagres

conquistou auctoridade, pela auctoridade mereceu fé,

pela fé attrahiu as multidões (2)

appellar para as sagradas Letras

da sua missão divina.

(1) II (2)

S.

Tim.

Com

útil cred.

como testemunhas

as Escripturas

III, 16-17.

Aug. De

— costumava

XIV,

32.

mostra

nProvidentissimus Dens«

que não só delias e

é legado de Deus,

mas verdadeiro Deus;

deduz argumento para ensinar os discípulos

confirmar a sua doutrina, para vingar a sua pre-

gação das calumnias dos detractores, para arguir os phariseus

e

saduceus

e

confundir o próprio

quando impudentemente

Satanás,

o

tentava

;

ás

mesmas Escripturas recorreu, emfim, nos derradeiros momentos da sua vida mortal, e, depois de resuscitado, as explicou aos seus discípulos até á

sua ascensão á gloria do Pae. Fieis á palavra e

mandatos do Mestre, os após-

ainda que em nome de Christo operavam mi-

tolos,

lagres

(1),

hauriram todavia dos Livros divinos

com que

aquella extraordinária efficacia

diffun-

diram entre os gentios a sabedoria christã, reduziram a obstinação dos judeus ções apostólicas e

onde

brilha,

esmagaram

e

Assim no-lo dizem

heresias nascentes.

nomeadamente

deduzido

de

as

as do B. Pedro,

varias

passagens

velho Testamento, firmíssimo argumento

da nova Lei. nos

O mesmo

Evangelhos de

Epistolas catholicas,

S. e,

as

prega-

em

do prol

achamos consignado Matheus e S. João, nas

facto

dum modo

brilhantíssimo,

no testemunho daquelle que se gloria de ter aprendido aos pés de Gamaliel a

lei

de Moysés e os

Prophetas, a fim de que, munido de auxílios espi-

(1)

Act.

XIV,

3.

A

8

rituaes,

da

pudesse confiadamente dizer: As armas

7iossa rnilicia

de Deus

Encyclica

Pelo exemplo, pois, de Christo e dos

(1).

apóstolos

não são carnaes, mas o pode?'

intendam todos,

nomeadamente

e

alumnos da milicia sagrada, quão grande preço das Letras divinas e com que fervor dade devem recorrer

a ellas

como

a

os

seja o e pie-

um bem

pro-

porque não ha, para os que têem de

vido arsenal,

ensinar a doutrina catholica a doutos e indoutos,

nem mais persuabem summo e perfei-

mais opulenta fonte de provas, siva demonstração de Deus,

proclamam a sua gloria e bondade. Acerca do Redemptor do género humano,

tíssimo e das obras que

o magistério da Biblia clarêsa inexcedivel; e

nymo que

— ignorar

que ignorar a Christo Ha, com

gem

effeito,

é,

sobre abundante,

duma

com razão affirma S. Jeroo mesmo é

as Escripturas, (2).

nas Escripturas

uma como

ima-

viva e inspiradora de Christo que nos alenta

na adversidade, nos exhorta e nos incita ao

amor

á prática da virtude

divino. Relativamente á Igreja,

as sagradas Paginas subministram-nos tantos e tão

peremptórios argumentos da sua instituição, natureza,

poderes e graças, que

dizer

com

inteira

(1)

S. Hier.

(2)

In

Is.

De

Prol.

verdade

:

S.

—É

Jeronymo poude

um

baluarte da

studio Script. ad Paulin. ep. LIII,

3.

(iProvidentissimus Deus»

Igreja aquelle que está apercebido

sagradas Escripturas

costumes

(1)



o estudo das

Para a formação dos

disciplina moral têem os varões apos-

e

na Biblia, óptimos

tólicos,

.

com

e

abundantes subsídios

preceitos da mais sublime santidade, exhortações opulentas de doçura e efficacia, exemplos insignes

de todas as virtudes, a promessa divina

nidade de prémios

e a

duma

eter-

coinminação de penas eternas

também. 8.

Esta virtude própria e peculiar das Escri-

pturas, oriunda da inspiração do Espirito Santo,

dá novo realce á auctoridade do orador sagrado, robustece a liberdade apostólica com que deve

gica e victoriosa.

uma eloquência por egual enérO orador que informa a sua pre-

gação do espirito

e

falar e inspira-lhe

não prega só de

j^cilavra, inas

do Espirito

virtude fructo

da força do verbo divino, esse

(2).

Procedem mal

dores sagrados que, Deus,

Saiito,

põem

e

com

efficacia,

com a

logrando abundante

desatinadamente os ora-

annunciando

a

palavra de

quasi completamente de parte os argu-

mentos divinos, para que nos seus discursos mais avultem as palavras da sciencia

e

da prudência

humana. Os discursos de taes oradores, por mais

(\)

In

(2) I

Is.

LIV,

Thess.

12.

I, 5.

A

10

Encíclica

brilhantes que sejam, toriiam-se necessariamente

áridos e frios,

como não

palavra de Deus

(1);

os

inflamma o fogo da

estão muito longe daquella

virtude que informa a palavra divina, viva e

efficaz,

mais penetrante que a espada de dois gumes, vae até ao intimo da alma

(2).

e

que

Assentindo ao juízo

de graves auctoridades, tenhamos como certo que

ha nas sagradas Letras uma eloquência admiravel-

mente variada, opulenta

e

digna dos mais alevan-

tados assumptos. Assim o affirma e largamente

demonstra Santo Agostinho

assim o confirmam

(3),

oradores sagrados excellentes

e

beneméritos que,

rendendo graças a Deus, confessam dever o seu

renome principalmente ao estudo assiduo meditação da

4.

Bem

e

pia

Biblia.

conhecidas foram e aproveitadas pelos

Santos Padres todas estas riquezas das divinas, por

isso lhe

Letras

tecem incessantes louvores e

exaltam os seus fructos. Ás Escripturas recorrem frequentemente, já como a thesouro opulentíssimo

de celeste doutrina salvação

(5),

(1)

Jerem. XXIII,

(2)

Ilebr. IV, 12.

(3)

De

(4) S.

De

(4), já

S.

a fonte

perenne de

29.

doctr. chr. IV, 6-7

Chrys. In Gen.

hoi.i. 21, 2;

discipl. chr. 2. (5)

como

ora propondo-no-las como férteis e

Athan. Ep.

fest. 39.

Hom.

60, 3; S.

Aug.

«Providentissimtis Deus»

11

ameníssimos prados onde a grei christã recebe admirável

pasto

e delicioso

(1).

Vem

aqui muito a

propósito aquellas palavras de S. Jeronymo ao clérigo Nepociano

:

— «Lê

muitas vezes as divinas

Escripturas, ou antes, nunca interrompas a lição

sagrada, instrue-te para instruíres os outros. a

.

linguagem do presbytero toda baseada na

das Escripturas

(2)».

É também

seja

.

lição

o sentir de S. Gre-

gório Magno, o doutor que mais sabiamente des-

creveu os niunus dos pastores da Igreja

que

dedicam ao

se

:

— «Para os

da pregação é de neces-

officio

sidade o estudo assiduo das sagradas Letras»

(3).

Apraz-nos recordar a admoestação de Santo Agos-

— «é

que

tinho, o qual affirma

vão pregador da

palavra de Deus aquello que a não tem gravada

O mesmo

em

S.

Gregório Magno ordena

aos oradores sagrados que

— «antes de recitarem os

sua alma

(4)

>,

mettam

seus discursos,

a

mão na sua

consciência,

para que não succeda que, condemnando as acções dos outros, a

guindo

gurou

a

si

próprios se condemnem»

a sua vida apostólica

(1) S.

Aug. Senn.

Serin. 19,

(5),

Se-

palavra e o exemplo de Christo que inau-

26,

ensinando e praticando,

24; S.

Ambr. In

Ps.

CXVITI,

2.

De

ad Nepot.

(2)

S. Hier.

(3)

S.

Greg. M. Regul. past.

II, 11;

(4)

S.

(5)

S.

Aug. Serm. 179, 1. Greg. M. Regul. past.

III, 24.

vit eleric.

Moral. XVIII,

26.

A

12

Encyclica

O apostolo preceitua tal doutrina não só a Timo-

também

theo, senão

Olhapor

a toda a hierarcliia clerical

epela instrucção dos outros, insta nestas

ti

cousas, porque, procedendo assim, lograrás a tua

salvação

e

a dos p>roximos

Ha, na verdade, nas

Cl).

sagradas Letras excellentes subsídios, abundantíssimos nos Psalmos, para a perfeição própria e

mas que

alheia,

e attento, de

divina.

Não

só aproveitam aos de

vontade piedosa

é o

mesmo nem

e

animo

dócil

rendida á palavra

de vulgar conhecimento

o desígnio e a traça de todos os livros sagrados;

mas, como foram escriptos sob o influxo do Espi-

Santo

rito

e

contêem cousas gravíssimas,

logares recônditas e difficeis,

para as intender

mesmo que,

e expor,

Espirito, isto

é,

como instantemente

em

muitos

havemos necessidade,

do

— advento

(2)

— do

das suas luzes e graças no-lo persuade a auctori-

dade do Psalmista inspirado, devemos implorar

com humilde prece

uma 5.

e fielmente

guardar mediante

vida santa.

Daqui vem

a providencia sobre todo o enca-

recimento admirável com que a Igreja estabeleceu leis

sabias e creou instituições, a fim de

— conservar

no devido acatamento aquelle thesouro celeste dos

(1) I, (2) S.

Tim. IV,

16.

Hier. In Mich.

1,

10.

Providentissimus Deus»

«

livros sagrados rito

13

que a siimma liberalidade do Espi-

Santo concedeu aos homens

determinou a Igreja não só que

Assim pois

(1).

uma grande

parte

das Escripturas fosse recitada e piedosamente meditada no officio quotidiano da psalmodia divina,

senão

também que varões idóneos

as

expozessem

e

interpretassem nas Igrejas cathedraes, mosteiros e

conventos de regulares, onde taes estudos pudessem

commodamente

estabelecer-se,

impondo além

disto

aos pastores de almas o dever de subministrar aos fieis,

ao menos nos domingos e dias sanctificados,

o pasto salutar do

Evangelho

(2).

Deve-se ainda ao

zelo e sollicitude da Igreja aquelle culto da

Sagrada

Escriptura que atravessou sempre vivo todas as

edades e sempre fecundo

6.

em opimos

fructos.

E, para dar mais força ao nosso asserto e ás

nossas exhortações, apraz-nos consignar que, desde o alvorecer do christianismo, floresceram no estudo

das sagradas Letras muitos varões insignes sciencia das cousas divinas e

em

santidade.

mente Romano, Santo Ignacio de Antiochia, carpo, discípulos immediatos dos apóstolos, os apologistas, S. Justino e Santo Ireneu,

principalmente das Escripturas aquella

(1)

Cone. Trid.

(2)

Ibid. 1-2.

.ses.s.

V, docret. Refomn.

1.

na

S. CleS.

e,

Poly-

dentre

hauriram

fé,

energia

A

14

e

Encyclica

uncção com que, nas suas epistolas

defendiam ora recommendavam licos.

e livros,

dogmas

os

Nas mesmas escolas catecheticas

instituídas

em

ora

catho-

e theologicas

muitas Sés episcopaes, nas celeber-

rimas cathedras de Alexandria

e Antiochia,

abertas

ao ensino, o magistério quasi todo se resumia na

exposição e defesa da palavra de Deus

leitura,

escripta.

Padres

De

taes institutos [saiu

e escriptores cujo talento

uma

legião

de

fecundo e obras

de subido valor, durante o longo período de três séculos, mereceram que áquella epoclia fosse dado, e

com toda

a justiça, o titulo de

edade áurea da

exegese bíblica. Entre os orientaes occupa

um

logar

primacial Origenes, admirável pela prespicacia do seu talento e tenacidade no estudo. Aos seus muitos escriptos,

á sua

momentosa obra das Héxaplas,

recorreram quasi todos que se lhe seguiram. accrescentar a estes

uma numerosa

Ha

a

plialange de

escriptores que alargaram o âmbito da exegese,

sobresaíndo, entre os mais distinctos, dria,

Clemente

e Cyrillo;

em

Alexan-

na Palestina, Eusébio e

Cyrillo de Jerusalém; na Cappadocia, Basílio Magno e

os

dois Gregorios,

Nazianzeno

e

Antiochia, aquelle João Chrysostomo

Nysseno;

em

em

cuja penna

de exegeta a excellencia da doutrina disputa pri-

mazias com a sublimidade da eloquência. Não menor é o esplendor

da exegese no Occidente. Entre os

muitos que tanto se avantajaram nesta disciplina

fulgem os nomes de Hilário

e

Ambrósio, de Leão

'

e

Provide7itissÍ7nus Deiis^

Gregório Magno,

Agostinho

e

com

e,

15

brilho especial, os de

Jeronymo; o primeiro, de admirável

agudeza de engenho na investigação do sentido da palavra de Deus

didade

em

e

de não menos admirável fecun-

deduzir da

mesma palavra

divina argu-

mentos em prol da verdade catholica; o segundo,

momenbem mereceu que

notável pela sua rara erudição biblica e tosos trabalhos escripturisticos, a Igreja o

7.

proclamasse Doutor máximo,

Desde então até ao século

xi,

ainda que os

estudos bíblicos não lograram aquelle esplendor,

nem produziram

aquelles fructos que nos séculos

idos, floresceram todavia, principalmente nas

obras

de escriptores ecclesiasticos. Cuidaram estes effeito

em

com

colleccionar o que de mais importante

em

escreveram os antigos, e enriquecô-Io

dispô-lo ordenadamente,

de novas investigações, e taes foram

os trabalhos de Isidoro de Sevilha, de

em

cuino principalmente;

illustrar

Beda

e Al-

de giossas os

sagrados códices, como fizeram Valafridio e An-

selmo de Laon

;

em

firmar com novos argumentos

a integridade do texto sagrado e este foi o trabalho S. Pedro Damião e Lanfranco. No século XII muitos tlieologos houve que cultivaram com merecido louvor a exposição allegorica da Sagrada Escriptura a todos porém se avantajou

de

;

S.

Bernardo, cujos sermões são, na sua quasi tota-

lidade, extrahidos das sagradas Letras.

A

16

8.

Mas novos

e

Encyclica

mais auspiciosos incrementos

produziu a disciplina dos escolásticos. E, se bem que estes procuraram estabelecer a lição fiel da versão latina, como no-lo attestam as suas Correcções bíblicas, foi todavia seu principal cuidado

Ninguém então conseguiu expor com mais ordem e cla-

interpretar e explanar o sagrado texto. até

reza

os

divina,

da palavra

vários e distinctos sentidos a sua força

probativa nas demonstrações

theologicas, a divisão e o

argumento dos Livros nexo intimo

santos, o escopo dos seus auctores, o

entre os diversos pensamentos bíblicos,

e

é evi-

dente que tudo isto derrama abundante luz sobre

Além de que, da selecta como copiosa,

os logares obscuros da Escriptura.

doutrina dos escolásticos, tão

muito se aproveitaram os tractados de theologia os

commentarios escripturisticos

trabalhos

a

todos leva

a

;

palma

e

ainda nestes

e

Thomás de

S.

Aquino. Todavia, depois que Clemente V, Nosso predecessor, dotou o

Atheneu de Roma

e

algumas Uni-

versidades famosas de cathedras para o magistério das linguas orientaes,

prestes os escolásticos

se

dedicaram com novo fervor ao estudo do códice original e versão latina da Biblia.

O

estudo dos

monumentos da literatura grega e o feliz advento da imprensa rasgaram vastos horizontes ao culto da sagrada Escriptura. Pasma-se de assombro ao ver como

em

tão breve espaço de tempo se diffun-

"Providentissmins Deus-

17

diram por todo o orbe catholico innumeraveis exemplares impressos da Biblia, principalmente da

Eram glorificados e amados os Livros no mesmo tempo em que os inimigos da

Vulgata.

divinos

Igreja a perseguiam

com calumnias.

Não devemos passar em

9.

silencio os

momen-

tosos serviços que, desde o Concilio de Vienna ao

de Trento, prestaram aos estudos bíblicos muitos varões dcutos, especialmente das differentes famílias religiosas.

engenho só

Dotados de vasta erudição

e

agudo

e aproveitando-se de novos subsídios, não

augmentaram

as riquezas

accumuladas dos seus

também prepararam o esplendor do século XVII em que pareceu reviver a edade áurea dos Padres. Ninguém ignora, e é para Nós

maiores, senão que

sobremodo agradável recordá-lo, que aos Nossos predecessores, desde Pio IV a Clemente VIII, se

devem

as insignes edições das antigas versões Vul-

gata e Alexandrina, que ao depois se tornaram de

commum em virtude do mandato de Sixto V e mesmo Clemente VIII. É sabido ainda que pelo mesmo tempo foram dadas á estampa, escrupulosa-

uso

do

mente

não só outras versões antigas da

revistas,

Biblia,

mas também

Paris, de

as polyglotas

de Anvers e

grande subsidio para a investigação do

genuíno sentido

;

que não ha livro do antigo

e

novo

Testamento que não tivesse hábeis expositores, nem questão 2

difficil

da Biblia sobre a qual se não exer-

A

18

E?icyclica

cesse o talento de muitos, entre os quaes alcançaram

brilhante

renome não poucos, profundamente

lidos

nas obras dos santos Padres.

Não esmoreceu, nossos exegetas.

felizmente,

Em

nome da

a

dos

sollicitude

philologia e scien-

cias análogas, o raciojialismo insurgiu-se contra as

Escripturas com armas da mesma tempera muitos homens distinctos e beneméritos dos estudos bíblicos vingaram aquelles livros divinos dos sophismas com que eram impugnados. ;

Quem ponderar

estes factos á luz

duma

critica

imparcial certamente confessará que a Igreja, sem ter necessidade de incitamentos estranhos, se desvelou

em

sempre

providencias, a fim de que as Escri-

pturas divinas fossem outras tantas fontes de salutar doutrina para seus filhos; que sempre conservou e illustrou

com

preciosos estudos aquelle baluarte

para cuja defesa e gloria a

namente

Igreja foi divi-

instituída.

Mas

10.

mesma

o desígnio que intentamos, V.

I.,

exige

que pratiquemos comvosco sobre o que mais convém á

boa orientação dos estudos bíblicos.

meiramente devemos averiguar sários e

O

que

pri-

é quaes os adver-

com quem temos de combater, quaes as armas em que mais confiam. Assim como nos

ardis

tempos idos a lucta principal foi contra os sectários do livre exame que, rejeitando as tradições divinas e o magistério

da Igreja, proclamaram a Escriptura

«

P7'ovidentissimtis Deus»

19

como única fonte da revelação e juiz supremo da té, assim também hoje a momentosa pugna é contra os racionalistas,

oriundos do protestantismo,

os

quaes, baseando-se no seu próprio juizo, rejeitam

completamente essas relíquias da

fé christã

que os

seus precursores ainda respeitaram.

De

para os racionalistas a revelação, a

feito,

a própria Escriptura

inspiração,

invenções e artifícios humanos

;

não passam de

as narrações bibli-

cas não têem realidade objectiva, são fabulas ine-

ptas ou historias puramente subjectivas; as pro-

phecias ou foram feitas depois de realizados os factos que annunciam, ou são previsões naturaes;

os milagres

festam

um

nem merecem

tal

nome, nem mani-

poder divino, são factos

em

certo

modo

admiráveis, não excedem as forças da natureza e são puros mythos; os Evangelhos e demais escriptos apostólicos não são dos auctores a

quem

se

attribuem, E tentam impor tão monstruosos erros, com que julgam destruir a verdade sacrosanta dos Livros divinos, invocando os decretos duma tal sciencia livre/ mas que é tão incerta para os próprios racionalistas que os induz a flagrantes con-

mudar de sentir sobre o mesmo Ao passo que taes homens sentem e escrevem

tradicções ou a

ponto.

tão impiamente de Deus, de Christo, do Evangelho o

demais livros da Escriptura, muitos ha dentre

elles

que se decoram com o

christãos

e

evangélicos,

titulo

de theologos

escondendo assim, com

A

20

Encyclica

nome de muita honra, a temeridade dum de soberba. CoUaboram com estes

aquelle

talento cheio

muitos cultores doutras sciencias, egualmente adversários intolerantes da revelação, auxiliando-os na lucta contra a Biblia.

Não podemos deplorar quanto

merece ser deplorada esta guerra sem tréguas que de dia para dia se alastra com mais vehemencia. Investem os racionalistas contra os eruditos que facilmente

podem

aperceber-se contra os seus ata-

mas investem sobretudo contra a turba dos indoutos com as insidias e astúcias próprias de tão funestos inimigos. Nos seus livros, opúsculos e jornaes propinam mortal veneno; insinuam-no nos seus congressos e discursos; invadem tudo, asseques,

nhoream-se de muitas escolas arrancadas á tutela da Igreja, onde inspiram ás dóceis

e tenras intel-

ligencias dos jovens o desprezo das Escripturas,

expondo-as miseravelmente ao ridiculo com facécias e chocarrices. Estes são os factos, V.

devem inflammar

I.,

que

o zelo de todos os pastores, a

fim de que não só a essa nova, mas falsa sciencia se

opponha aquella antiga

(1)

e verdadeira sciencia

que a Igreja recebeu de Christo por meio dos apóstolos,

mas também surjam

apologistas idóneos da

sagrada Escriptura, já que a lucta é de tamanhas proporções.

(1)

I,

Tim. VI,

20.

<•

11.

Providentisshilus Deus»

21

Seja pois o nosso primeiro cuidado que nos

Seminários e academias se professe o estudo das Letras divinas consoante o exigem assim a excellencia

daquella disciplina,

como

as

necessidades

dos tempos actuaes. Para lograr este fim haja todo

na escolha dos mestres, como

o escrúpulo

mas

todos são dignos de tão árdua missão, aquelles

que

amam

estudam sem cessar ração scientifica. e escrúpulo



fervorosamente a Biblia, e

a

têem a conveniente prepa-

Nem menor

com que devem

deve ser o cuidado ser educados os

hão de succeder no magistério daquelles. isso

nem

que

É por

conveniente que, dentre os alumnos que con-

cluíram com louvor o curso theologico, se escolham,

onde for possível, os de mais decidida vocação para os estudos bíblicos e se lhes facultem os meios

necessários a fim de que possam lograr

um

pro-

fundo conhecimento das Escripturas. Assim escolhidos e formados, o magistério; e

e,

podem confiadamente exercer

para que este seja o que deve ser

produza abundantes fructos, julgamos opportuno

entrar

em mais

largas considerações.

12. Logo desde o principio do seu magistério examinem os professores a aptidão intellectual dos alumnos, cultivem-na esmeradamente e procedam de modo que os habilitem assim para defenderem os Livros divinos, como para extrahirem delles o verdadeiro sentido. Este é o fim da chamada Intro-

A

22

Encyclica

ducção Bíblica que subministra ao alumno abundantes argumentos para demonstrar a integridade e auctoridade dos

e

Livros sagrados, para investigar

expor o seu genuino sentido e para destruir pela com que os impugnam. É des-

raiz as cavillações

necessário ponderar que é de grande

momento

a

discussão methodica e scientifica destes pontos, aos

quaes a theologia presta óptimos subsidios, como o tratado da Escriptura se firma naquelles funda-

mentos

e se esclarece

com

aquellas luzes.

Applique-se depois o professor, e nisto em-

13.

penhe todo o seu

zôlo,

á exegese, que é a parte

mais importante do seu magistério, ensinando aos seus discípulos

da religião

e

como podem converter em proveito da piedade as riquezas da palavra

divina.

Bem sabemos que nem nem dem

a estreiteza do

a vastidão

da matéria,

tempo permittem que

se estu-

nas escolas todos os livros canónicos; todavia,

attenta a necessidade de

da exegese,

fica á

methodo para o estudo

prudência do professor evitar os

extremos daquelles que ou analysam certas poricopas

em

todos os livros da Escriptura, ou dos que

gastam todo o tempo na analyse duma determinada

passagem num só

livro.

Se pois na maioria das

escolas não se p(3de fazer a analyse detida

doutro livro canónico, como

se faz nas

dum

ou

academias

de ensino superior, ao menos empenhem-se os pro-

«Providenfissimus Deus»

em dar uma

fessores

instriicção

23

acabada das peri-

copas que escolheram para estudo exegetico, a fim

de que os alumnos, assim doutrinados com

tal tiro-

possam ao depois fazer trabalho seu sobre

cínio,

os demais livros da Escriptura, cuja lição

devem

sempre amar. Fiel ás antigas tradições, ao professor im-

14.

pende o dever de usar da versão Vulgata que, sobre ser

recommendada pelo uso quotidiano da

deve

Igreja,

segundo o decreto tridentino, como

ter-se,

authentica, ncLs lições publicas, nas predicas, nas discussões e analyses isto

que

se

(1).

ponham de

Não queremos

dizer

com

parte as outras versões, tão

usadas e encarecidas pela antiguidade christã,

e

muito principalmente os códices primitivos. Se o sentido é claro na Vulgata latina, não é necessário

recorrer á versão donde

duzido

;

se,

porém,

é

immediatamente

foi

ambiguo

tra-

e obscuro, aconselha

Santo Agostinho o recurso á versão hebraica ou grega, consoante o texto latino é vertido daquella

ou desta lingua

(2).

É

manifesto que muito cuidada

deve ser a circunspecção neste ponto, pois que officio

«s-é

do interprete expor não o seu sentido, mas

o do auctor que interpreta-

(1)

Sess. IV, decret.

(2)

De

(3) S.



De

doctr. chr. III,

Hier.

(3).

edit. et usii sacr. libro?-.

4.

ad Pammach.

ep. 48, 17.

A

24

Encyclica

Ponderada attentamente, quando necessáa genuína lição, está aberto o caminho para

15. rio,

investigar e expor o sentido. Depois, a primeira industria é observar as boas regras hermenêuticas,

commummente

usadas, e

com

tanto maior cuidado

quanto mais viva e tenaz for a controvérsia os adversários.

Para

tal effeito,

logares parallelos.

.

.

hermenêuticos duma cimoniosa

de necessidade

é

ponderar o valor das palavras,

com

contexto,

o

os

revestindo todos estes meios

erudição a propósito, mas par-

que não succeda malbaratar o tempo

;

e

o trabalho que se devia dedicar ao conhecimento

dos livros divinos, ou que a accumulação de ideias sobre vários pontos vá prejudicar o aproveitamento

dos alumnos

16.

Com

em

vez de lhes ser auxilio.

este

methodo, o uso da sagrada Escri-

ptura será de grande efficacia nas demonstrações theologicas.

Não esqueçamos nunca

que, além das

causas de difficuldade que ordinariamente occorrem

para a intelligencia dos livros antigos, ha outras peculiares dos Livros sagrados. Escriptos sob o influxo do Espirito Santo contêem mysterios

altís-

simos que transcendem a esphera da razão

humana

intimamente

ligadas

e

muitas

com

elles;

outras

verdades

umas vezes

o sentido

recôndito do que a letra e as

leis

é

mais lato e

hermenêuticas

parecem indicar, outras vezes o sentido

literal

occulta outros sentidos de muito alcance já para

»P>'ovide}itíssimus Deus»

illustrar o

dogma,

25

para persuadir os preceitos



mor a es. Não é

pois de admirar que os Livros sagrados appareçam envolvidos em certa obscuridade religiosa, de luz

modo que ninguém ouse

que lhe allumie os passos

(1).

estudá-los

commum

providencia divina, no sentir

e

a

dos Santos

Padres, para que os homens os estudassem

mais vontade e diligencia

sem

Assim o dispôs

com

ficassem profunda-

mente gravados em sua alma os conceitos havidos

com

esforço,

e,

sobre tudo, intendessem que Deus

confiou as Escripturas á sua Igreja,

segura e interprete

e guia

Em

fiel

como

a mestra

da sua palavra.

verdade, onde os dons de Deus, ahi é que deve

aprender-se a verdade; onde a successão apostólica ahi é

que está o magistério innerrante das Escri-

pturas, trina,

como

que

no-lo diz Santo Ireneu

é a de todos os Padres,

(2).

Esta dou-

proclamou- a o

quando renovou o decreto

Concilio do Vaticano,

tridentino acerca da interpretação da palavra de

Deus escripta pontos de

:

fé e

—É

crença

do Concilio que em

costumes, atinentes á edificação da

doutrina christã, deve

ter-se como vei'dadeb'0 senda sagrada Escriptura aquelle que sempre professou e professa a Santa Madre Igreja, a quem

tido

(1) S. líier.

(2) C.

ad

Pauliii.

haer. IV, 20,

5.

De studio

Script. ep. LIII,

4.

A

26

Encyclica

pertence julgar do verdadeiro setitído e interpretação das Escripturas santas; e porisso a

é

ninguém

interpretar a Escriptura sagrada contra

licito

aquelle sentido ou ainda contra o consenso

dos Padres

Com tal

17.

unanime

(1).

doutrina, toda informada

duma

alta

sabedoria, a Igreja, longe de obstar aos progressos

da verdadeira sciencia pondo-os a

bom

biblica,

antes os fomenta,

recato contra todo o erro.

dade, fica aberto a todo o interprete largo

Na vercampo

onde pôde exercer seguramente a sua actividade

com grande

e

proveito para a Igreja. Nos logares

da sagrada Escriptura, cujo sentido ainda não está

determinado

dum modo

certo e seguro, pode pro-

ceder por forma que os seus estudos sejam, por

suave desígnio da providencia divina, outros tantos subsídios para que a Igreja pronuncie o seu juízo

supremo; nos logares, porém, cujo sentido definido,

pôde

já está

prestar ainda grandes serviços, tor-

nando-o quer de mais

fácil

intellígencia para os

rudes, quer mais brilhante para os doutos, quer,

finalmente, mais persuasivo para reduzir e levar

de vencida os adversários. Por tanto, é dever sa-

grado de todo o interprete catholico ajustar-se a

(1)

Sess. III, cap. II,

decret.

De

De

Revel., Cf. C. Trid. sess. IV,

edit. et íisu sacr. libror.

»Provide7itissÍ7nns Deus>

27

norma: os logares da sagrada Escriptura, cujo sentido foi authenticamente determinado quer pelos esta

agiographos divinamente inspirados, como succede

em

muitos logares do novo Testamento, quer pela

Igreja assistida do Espirito Santo,

quer por

um

juizo solemne, quer ]) elo magistério ordinário e uni-

da mesma Igreja

versal

(1),

não são susceptiveis

doutra interpretação; demonstrando, pelos subsidios de que dispõe, que se

compadece com

tal

interpretação é a única que

duma

as leis

Quanto aos outros logares,

sã hermenêutica.

norma suprema

a

é

seguir a analogia da fé e a doutrina catholica tal

como

é

proposta pela Igreja, pois que, sendo Deus

o único auctor dos Livros sagrados e da doutrina

confiada ao magistério da sível

mesma

Igreja, é impos-

que seja deduzido das regras duma legitima

interpretação o sentido opposto áquella doutrina. Infere-se daqui

que deve

rejeitar-se

falsa aquella interpretação

como inepta

e

que de qualquer modo

torne contradictorios entre

si

os

auctores inspi-

rados ou collida com a doutrina da Igreja.

18.

Brilhe pois no professor de hermenêutica

sagrada não só theologia,

uma

solida

senão também

um

sciencia

de toda

mento duá commentarios dos Santos Padres

(1)

a

profundo conheci-

Cone. Vatic. sess. III, cap. III,

De

fide.

e

Dou-

A

28

tores,

Encyclica

das obras dos interpretes auctorizados.

e

com grande encarecimento Santo Agostinho, que, com justa recommenda

Isto

queixa, exclama:

mais humilde intendida,

Jeronymo

S.

— «Se

mais temerário

e

qualquer disciplina, por

que

e fácil

um

(1)

seja,

demanda, para ser

preceptor ou mestre, haverá nada e

soberbo que tentar conhecer os

Livros divinos, rejeitando os seus interpretes?»

O mesmo

(2).

sentiram e confirmaram com o seu exem-

plo os demais Padres, que tido das Escripturas

<

na investigação do sen-

seguiam não o seu próprio

mas os escriptos e auctoridade de seus maiocomo estes receberam da successão apostólica

juizo, res,

a regra da genuina interpretação»

O

19.

(3).

ensino dos Santos Padres que

<;

depois dos

Apóstolos propagaram a santa Igreja, instruindo-a

com

o seu magistério, edificando-a

virtudes, accrescentando-a

com

a

com

as suas

sua doutrina»

(4),

summa auctoridade sempre que todos são unanimes em explicar do mesmo modo um dado logar é de

biblico relativo á fé ou á moral,

porque naquella

unanimidade nitidamente resplandece o facto de que

tal

ensino

é,

segundo a

fé catholica,

(1)

Cone. Vatic. sess. III, cap. III,

(2)

Ad Honorat. De

(3)

Rufin. Hist. Eccl. II,

(4)

S.

Aug.

utilit. ered. 9.

C. Julian. II, 10, 37.

De

XVII,

de proce-

fide, 6-7.

35.

(^Providentissivius Beus»

29

em grande mesmo logar

dencia apostólica. Deve ter-se ainda

preço o ensino dos Padres sobre o

quando falam como doutores particulares,

biblico,

porque não só a sua remontada sciencia da doutrina revelada e opulenta erudição, de

mento para

grande mo-

a intelligencia dos livros sagrados, os

torna altamente recommendaveis, senão

porque Deus

auxiliou

com mais vivas

graças aquelles varões insignes

em

também luzes

e

sciencia e san-

tidade. Se pois o interprete quer ser digno deste

nome

siga

Padres

com

respeito os exemplos dos Santos

com

e estude

intelligente critério as suas

obras.

Nem

20.

pôde

ir

se diga que,

procedendo assim, não

mais além, pois que, sendo necessário, deve

progredir nas suas investigações,

comtanto que

preste rendido obsequio áquelle sábio preceito de

Santo Agostinho, a saber:

abandonar o sentido razão grave ou doná-lo >

(1),

a

— «que

nunca devemos

literal e obvio, salvo se

uma

necessidade nos obrigam a aban-

preceito este que deve observar-se

tanto mais firmemente quanto é certo que, neste

maré magnutn de opiniões

e

desenfreada ambição

de novidades, ha perigo imminente de errar. Tenha

também

(1)

o interprete todo o cuidado

De Gen. ad

litt. I,

VIII,

c. 7, 13.

em não

des-

A

30

prezar

allegorico

sentido

o

Encyclica

e

analógico que os

mesmos Padres deram, por translação, a alguns logares biblicos, mormente quando tal sentido se deduz do

literal e

de muitos. Este

tem em seu abono

modo

de interpretar recebeu-o a

Igreja dos Apóstolos, e ella

com

a auctoridade

mesma

o confirmou

como no-lo attesta a liturgia. usaram do sentido allegorico para dogmas da fé, mas porque por expe-

o seu exemplo,

Nem

os Padres

demonstrar os

riência sabiam que tal sentido era de muito fructo

para fomentar a virtude

21.

É de menos

e a piedade.

conta, certamente, a auctori-

dade dos demais interpretes

como

catliolicos;

todavia,

os estudos biblicos têem progredido muito

na Igreja,

é justo

que se preste a devida honra aos

commentarios daquelles interpretes, pois que grandes subsídios prestam para vingar o genuino sentido e muita luz difficeis.

O que

derramam sobre os logares mais modo algum convém é que se

de

desconheçam ou desprezem as excellentes obras que os nossos nos legaram,

se

prefiram as dos

hereges e se procure nelles, com perigo evidente

da sã doutrina e não raro detrimento da

fé,

a expli-

cação dos logares que o talento e os escriptos dos catliolicos já de

ha muito explicaram optimamente.

Se é verdade que as obras dos hereges usadas com

podem algumas vezes auxiliar o interprete catholico, é também verdade, como no-lo attes-

prudência,

Pi'ovidentissimus Deiis>

31

tam numerosos documentos dos nossos maiores (1), que, fora da Igreja, nunca podemos achar o sentido incorrupto das sagradas Letras,

nem

tal sentido

pode ser alcançado por aquelles que, privados da verdadeira

mente

fé,

conhecem apenas muito

superficial-

as Escripturas (2).

O

22.

que sobre tudo

é

muito para desejar,

necessário mesmo, é que o uso da sagrada Escri-

ptura seja como que a alma de todas as acções da theologia e as informe; que tal é a doutrina pro-

fessada e praticada pelos Padres e theologos preclarissimos de todos os tempos.

com

effeito,

Procuraram

estabelecer e demonstrar

elles,

com argu-

mentos tirados principalmente das sagradas Letras as verdades dogmáticas e as

que destas se dedu-

zem; aos mesmos Livros divinos recorreram

e ás

tradições apostólicas para refutar as novas fabulas

dos hereges e investigar a razão, o sentido e o

E não

estranhemos

seja, pois é tão distincto o

logar que os

nexo dos dogmas catholicos. que assim

Livros divinos occupam entre as fontes da revelação que,

sem

o seu estudo e uso assiduo, a theologia

não pôde ser cultivada como deve

(1) Cfr.

Clem.-Alex. Strom. VII, 16; Orig.

IV, 8; In Levit. hom. 4-8; Tertuli.

hi Matth. XIII, 1. Greg. M. Moral. XX, 9.

S. Hilar. Pict. (2)

S.

sê-lo,

De praescr.

nem

De 15,

con-

princ. seqq.

A

32

siderada

com

justo que os

a

Encyclica

dignidade que merece. Nada mais

alumnos das academias

e escolas sejam

doutrinados na sciencia dos dogmas e que, mediante ordenada discussão, fé outras

deduzam dos

verdades, segundo as normas

artigos de

duma

phi-

losophia solida e digna deste nome; todavia, o theo-

logo erudito e grave nunca deve desprezar a de-

monstração dos dogmas, deduzida da auctoridade da Biblia. «A theologia não recebe os seus principios

das outras sciencias mas immediatamente

da revelação divina. Por isso nada recebe das outras sciencias como se estas lhe fossem superiores,

mas

como de inferiores methodo do magistério da

serve-se delias

ternas». Este é o

e subal-

sciencia

sagrada, proposto e encarecido pelo príncipe dos theologos, S.

Thomás de Aquino

(1).

Conhecendo

a

fundo a Índole da theologia christã, ensinou o aquinatense como é que o theologo pôde defender os seus princípios,

quando impugnados. «Nas contro-

vérsias, se o adversário admitte alguns princípios

revelados, então assim

como argumentamos contra

com a auctoridade da Escriptura, assim também com um artigo de fé podemos argumentar contra os que negam outro. Se porém o adversário os hereges

nada admitte do que a revelação ensina, ainda que não podemos argumentar com a razão para demon-

(1)

Sum.

theol. p. I, q.

1, a.

5

ad

2,

«

Providentissimns Detis»

strar artigos de

fé,

33

podemos todavia refutar com

a

razão os seus argumentos, se alguns adduz contra a

fé^> (1).

Assim, pois, cuide-se com esmero que os

23.

alumnos

se

preparem para

mente apercebidos cos,

e

a

lucta

conveniente-

doutrinados nos estudos bíbli-

para que não sejam frustradas as nossas espe-

ranças,

o que seria peor,

e,

para que, incautos,

não fiquem expostos ao perigo de erro, illudidos pelas fallacias e falsa erudição dos racionalistas.

E adestrar-se-hão denodados apologistas mando o caminho que Nós lhes indicamos, rem religiosamente e conhecerem a fundo a

se,

to-

cultiva-

philoso-

phia e a theologia, segundo a mente de S. Thomás.

modo caminharão com passo seguro

Deste



nos

estudos bíblicos, já na theologia positiva.

Expor, demonstrar

24,

catholica, por

e illustrar

meio duma legitima

pretação dos Livros sagrados

é,

e

a doutrina

esmerada

inter-

certamente, em-

presa de remontado alcance; ha todavia outra de tão grave

momento como árdua,

dum modo

e é:

demonstrar

invencível a auctoridade absoluta das

Escripturas. Tal demonstração só a poderá fazer

o magistério authentico da Igreja, a qual j)or si

mesma, pela sua admirável propagação, exímia san-

(1)

Ibid. 3

a. 8.

A

34

E7icycliea

em

tidade e inexaurível fecundidade

pela sua unidade catlioUca

todos os bens,

e invencível

estabilidade

um grande e perpetuo motivo de credibilid.ade e um testemunho irrefragavel da sua missão divina (1). é

E, porque o magistério da Igreja, divino e infal-

^ ^

se baseia ainda

livel,

.

'^ I

na auctoridade da sagrada

Escriptura, o primeiro cuidado será demonstrar directa e indirectamente que aquelle livro é digno

de

ao menos humana.

fé,

Com

testemunhas fidedignas stra-se

da

as Escripturas,

demon-

antiguidade,

peremptoriamente a divindade

de nosso Senhor Jesus Christo,

como

e a

missão

da

a instituição

hierarchia da Igreja, o primado conferido a Pedro e aos seus successores.

É

summa

por isso de

con-

veniência que muitos soldados da milicia sagrada

combatam migos da

pela fé e repillam as investidas dos Biblia, revestidos sobre tudo

ini-

da arma-

dura de Deus, tão recommendada pelo apostolo e apercebidos contra os

inimigos.

embates

Eloquentemente

e

(2)

armas novas dos

João Chrysostomo,

S.

falando dos deveres sacerdotaes

:

— «Grande

zelo

devemos empregar a fim de que a palavra de Christo habite abundantemente

em nós

(3);

temos com estarmos prestes para lucta

a

;

não nos conten-

um

só género de

guerra toma diversas phases e são muitos

(1)

Cone. Vatic. sess. III,

(2)

Eph. VI, 13 seqq.

(3)

Cf. Col. III,

Ití.

c.

III,

De

fide.

'iProvidetitisstmus

OS inimigos; traça; não é

Deus

35

-

nem todos usam armas da mesma uma só a estratégia com que intentam

combater-nos. Torna-se por isso necessário que, se

alguém quizer bater-se com todos, conheça as armas que seja sagittario e fun-

e as industrias de todos;

dibulario,

tribuno e commandante de manipulo,

general e soldado, infante e cavalleiro, marinheiro e adestrado

no ataque ás praças fortificadas. Se

não conhece todos os

bíblicos,

artificios

sabe o

diabo ordenar aos seus lobos que, pela parte desguarnecida, arrebatam as ovelhas»

(1).

Quaes

as

fallacias e variados artificios dos adversários nos

seus ataques contra

a

Biblia,

os



indicamos

resta-nos dizer dos meios de defesa.

O

25.

primeiro é o estudo das antigas línguas

orientaes e da arte critica.

E como

estas disciplinas

são actualmente de grande importância e muito encarecidas, o professor ecclesiastico que as cultive

com maior ou menor desinvolvimento, consoante as circunstancias do logar e das pessoas, com mais aproveitamento poderá exercer o seu honroso magistério,

porque deve ser tudo para todos

prestes sempre

para responder ao que

razão da esperança que manifesta

(1)

Desacercl. IV,

(2)

I,

Cor. IX, 22.

(3)

I,

Petr. III, 15.

4.

(3j.

(2)

e

lhe j)eça

a

Torna-se pois

A

36

Encyclica

necessário para os mestres da sagrada Escriptura, e é conveniente

para os theologos, o conhecimento

em que

das linguas

os livros canónicos foram pri-

mitivamente escriptos pelos agiographos;

e seria

muito para desejar que também as cultivassem os

alumnos theologos, nomeadamente os que aspiram aos graus académicos. Egiialmente é necessário que

em todas as academias, imitando

o louvável exemplo

dalgumas, se estabeleçam cathedras das demais linguas antigas, principalmente semíticas, e da sua literatura,

os que

destinam ao magistério das sagradas Letras.

se

26. é

como são de grande conta para

E, porque estes hão de exercer o magistério,

muito conveniente que tenham

profundo

e

um novo

artificio,

de critica superior, que, strar,

conhecimento

expedito da verdadeira arte critica,

visto que se inventou, ainda religião,

um

em

com damno da decorado com o titulo mal

e

vão, pretende demon-

exclusivamente com argumentos intrínsecos,

como dizem,

a origem,

integridade e auctoridade

de qualquer livro. Mas a verdade é que, tratando-se

de questões históricas, para demonstrar a origem e integridade

os

dum livro

qualquer, maior valor têem

documentos históricos do que

as razões intrín-

secas, e são precisamente aquelles

vêem investigar

e discutir

;

não têem o mesmo, valor

que mais con-

que as razões intrínsecas e só se

podem adduzir

para confirmar as extrínsecas. Seguir-se-hão gran-

'^Providentissimus Deiís>

37

des inconvenientes procedendo doutro modo. Assim crescerá a audácia dos inimigos da religião

impugnar

e destruir a authenticidade dos

sagrados

a

;

chamada

porta para que cada

em

Livros

critica superior abrirá larga

um

siga a interpretação mais

ao sabor dos seus desejos e prejuízos; não brilhará

nas Escripturas a luz que se busca; não se deduzirá delias doutrina

alguma certa; ficará aberto

largo caminho para aquella conhecida caracteristica

no

do erro que

sentir,

como

é a variabilidade e a contradição já o

demonstram

os príncipes da

nova critica superior; e porque muitos já estão eivados das ideias lista,

duma

philosophia vã e raciona-

não se pejam de expungir dos Livros sagrados

os milagres, as prophecias,

pertence á ordem

27.

O

numa

palavra, tudo que

sobrenatural.

interprete tem depois de haver-se

com

os

que, abusando das sciencias physicas e examinando minuciosamente os Livros sagrados, accusam os

seus auctores de ignorantes daquellas sciencias e

cobrem de vitupérios os seus escriptos. E, como estas accusações versam sobre cousas sensíveis, tornam-se summamente perigosas, quando conhecidas dos indoutos e muito principalmente da mocidade estudiosa, que, se deixa de prestar

fé a

um

só artigo da revelação divina, facilmente a rejei-

tará toda.

É

por demais sabido que as sciencias da

natureza, se convenientemente estudadas são

de

A

38

Encyclica

subida importância para contemplar a gloria do creador supremo reflectida nas cousas creadas

preversamente infiltradas em intelligencias ainda tenras destroem os princípios da sã philosophia e

depravam

os costumes. Será por isso de muita conta

para o professor da sagrada Escriptura o conheci-

mento das sciencias naturaes, para que assim mais facilmente descubra e destrua os laços armados contra os Livros divinos.

28.

Entre

a theologia e as sciencias

experimen-

taes não ha, certamente, desaccordo algum

quando aquella espliera,

e

estas

real,

não ultrapassam a sua

precavendo-se ambas com esta admoes-

tação dê Santo Agostinho:— «Nada se deve affirmar

temerariamente, é desconhecido

>

nem dar como conhecido o que (1). Havendo discordância entre

como se ha de haver o theologo di-lo esta resumida norma de «Não collidem com o magisSanto Agostinho: aquellas sciencias e a theologia, de



tério da Escriptura os factos

mente comprovados reza

scientificos devida-

o que as sciencias da natu-

;

oppõem como contrario

áquelle magistério

deve ser tido na conta de meras hypotheses ou falsas affirmações» (2).

Para devidamente ponderar

(1)

In Gen. op. imperf. IX,

(2)

De Gen. ad

litt. I,

30.

21, 41.

Providentissimus Deus

a justeza desta

norma devemos

39

>

ter

em

Deus que

os agiographos, ou antes «o Espirito de os inspirou,

não intentara instruir os homens acerca

da constituição intima do universo, como

nenhum isso

que

vista

proveito era para a salvação»

(1).

isto

de

É por

que os escriptores sagrados, pondo de parte a

observação da natureza, vão direitos ao seu fim; e se, por vezes,

empregam

descem

a falar das cousas creadas,

o sentido metaphorico, servindo-se da

linguagem vulgarmente usada naquelles tempos.

modo de dizer é frequente mesmo Na linguagem vulgar, as cousas designam-se espontânea e propriamente como se Ainda hoje

tal

entre os sábios.

Assim procederam os «descrevem as cousas, diz o Doutor

apresentam aos sentidos. agiographos:



angélico, taes

como sensivelmente appareciam (2\ >

ou então, o que o próprio Deus lhes significava,

accommodando-so cidade dos

mesmos

e á capa-

escriptores sagrados.

Da necessidade de defender valorosamente

29. a

linguagem humana

á

Escriptura santa não se conclue que devamos

defender com o

que cada

um

mesmo

zelo todas as interpretações

dos Padres e commentadores deram

aos logares bíblicos. Conformando-se, na exposição

(1) S. (2)

Aug.

Sanitua

11).

II, 9, 20.

Iheol. p.

I, q.

LXX,

u. 1,

ud

o.

A

40

Encyclica

dos textos que se referem

com as ideias correntes no sem em erro, perfilhando admittem. Por

isso,

phenomenos physicos,

a

seu tempo, talvez caís-

que hoje não se

ideias

de necessidade examinar

é

attentamente quaes as cousas que ensinam como

com

pertencentes á fé ou relacionadas as

ella e

quaes

que unanimemente professam, porque nas que

não são de

Thomás,

fé necessária, diz S.

aos Santos e é licito a nós pensar de

foi licito

modo diverso (1).

E noutro logar accrescenta com grande prudência — «Parece-me ser mais seguro não af firmar como dogmas de fé o que os philosophos commummente sentem e que não collide com a fé, nem também negá-lo como. opposto á a

fé,

para não darmos azo

que os sábios deste mundo rejeitem

revelada»

(2).

No

emtanto, se

bem que

a doutrina

o interprete

deva demonstrar que nas Escripturas, intendidas

como devem

sô-lo,

nada ha que

os naturalistas affirmam

tudo de sobreaviso,

como

se

opponha ao que

certo,

esteja

com-

pois pôde succeder que seja

amanhã havido como duvidoso e que hoje é recebido como

até rejeitado

falso o

certo.

Além

como disso,

se os escriptores de sciencias experimentaes, ultra-

passando os limites da sua esphera, invadirem o

campo da philosophia, semeando

(1) (2)

In Sent. II, Opusc. X.

dist. II,

ij.

1, a. 3.

nelle ideias erro-

<

neas,

Providentissimus Deus»

41

deixe o theologo exegeta aos philosophos o

encargo de as refutar.

30.

Passemos agora

á applicação destas consi-

derações ás sciencias affins, e nomeadamente á historia.

a

É para lamentar que

muitos se exponham

grandes fadigas no estudo dos monumentos

ar-

cheologicos, dos costumes e instituições dos povos, e doutros

assumptos análogos, mas não raro com o

propósito de descobrir erros nos Livros sagrados e

enfraquecer a sua auctoridade divina. Outros ha

que se dedicam aos mesmos estudos, mas com animo

exageradamente

hostil e critério

apaixonado. Con-

fiam nos livros humanos e nos documentos da antiguidade,

como

se nelles

ténue sombra de erro, e

não poderá haver nem

negam

credito aos Livros

da sagrada Escriptura á mais leve apparencia do erro e sem o mais superficial exame.

Pode realmente admittir-se que nos códices passem algumas incorrecções, devidas dos copistas,

mas

isto

esca-

á incúria

deve ser maduramente con-

siderado e só admittido nos logares onde o erro é evidente.

Pode ainda admittir-se que seja duvidosa dalgum logar e para esclarecimento

a genuina lição

da qual são de grande monta as regras duma boa hermenêutica, mas nunca será a inspiração

unicamente

a

licito

ou restringir

algumas partes da

sa-

grada í]scriptura, ou conceder que o auctor sagrado errou.

Também não pôde

tolerar-se o expediente

A

42

Encyclica

daquelles que julgam desembaraçar-se de difficuldades, não hesitando

em

conceder que só são divi-

namente inspirados os pontos de fé e de moral, porque erradamente pensam que, quando se tracta de apurar a verdade

que o

disse.

dum

conceito, não deve atten-

como á razão por E, na verdade, foram escriptos sob a

der-se tanto ao que

Deus

disse

inspiração do Espirito Santo todos os livros que a Igreja recebeu

como sagrados

e canónicos,

com

todas as suas partes; ora é impossivel que na inspi-

ração divina haja erro, visto como a ração só por senão

si

mesma

inspi-

não somente exclue todo o erro,

também que

o exclue tão necessariamente

quanto necessariamente repugna que Deus, Ver-

dade summa,

31.

Esta

seja auctor de erro

é a antiga e

algum.

constante crença da Igreja,

solemnemente definida nos Concílios de Florença e

confirmada

Trento,

e

mais desinvolvidamente

declarada no Concilio Vaticano, neste decreto pe-

remptório

:

— Devem ser recebidos

como sagrados e e Novo Testaconsoante vêm refe-

canónicos todos os Urros do Velho

mento, com todas as suas partes, ridos no decreto do

como

se

gata.

A

mesmo

Concilio (tridentino) e

contèem na antiga edição latina da Vul-

como sagrados e porque fossem compostos só por

Igreja tem estes livros

canónicos, 7ião

humana e depois approvados pela sua auctor idade, nem ainda sómeiUe porque contèem

industria

«Frovidentissimus Deus»

doiitrina revelada e verdadeira,

ptos sob o

m fluxo

como auctor se serviu

(1).

43

mas porque,

escri-

do Espirito Santo, tèem a Deus

Nem

se diga

que o Espirito Santo

de homens como de instrumentos para

escrever, e que, por isso, os erros que por ventura

devem

haja nas Escripturas se

attribuir

não a

Deus, auctor primário dos Livros santos, mas aos

agiographos. De

assim como o Espirito Santo

feito,

moveu os auctores sagrados a escrever, também lhes assistiu de modo que só escreveram, com pura intenção, fielmente e com verdade excitou e

assim

infallivel,

tudo o que lhes ordenou que escrevessem

e só isso, aliás

não seria Deus o auctor de toda a

Escriptura sagrada. Este

foi o sentir

constante dos

Santos Padres. «Pois que os agiographos, diz Santo Agostinho, só escreveram o que o Espirito Santo lhes inspirou,

quem

nunca

se

pôde dizer que não

escreveu: os escriptores sagrados,

foi Elle

como mem-

bros, só escreveram o que a cabeça lhes dictava»

E

Gregório Magno

S.

:

<

(2).

Ineptamente pergunta quem

escreveu as Escripturas aquelle que firmemente crê

que

é o Espirito

Santo o seu auctor. Escreveu esse

que dictou o que se devia escrever

que inspirou a obra» vertem

(1)

a

(6)

escreveu essa

Dediz-se daqui, que per-

noção catholica de inspiração divina, ou

Sess. Til,

(2) Be.

(3).

;

V. II,

Dfí rcvcl.

consensn Evdwjel.

Praef. in Job. n.

2.

1.

I, c.

XXXV.

A

44

Ejicyclica

convertem Deus em auctor de erro, os que julgam possível haver erros nos logares authenticos

ser

E

dos Livros sagrados.

gada era de que

tão profundamente arrai-

a crença de todos os

sagradas

as

Letras,

Padres

e

Doutores

como saíram

taes

da penna dos agíographos, são absolutamente im-

munes de todo o engenho logares

erro,

que procuram com egual

piedade conciliar entre

e

os

si

poucos

são precisamente os que a nova critica

(e

argúe) que parecem encontrados e contradictorios

confessando unanimemente que aquelles livros, toda a sua integridade e

em

em

todas as suas partes,

são divinamente inspirados, e que, falando Deus pelos agiographos,

nada podia inspirar que não

fosse verdade.

Sirvam de o

lição para todos aquellas palavras

mesmo Santo Agostinho escreveu

a S.

que

Jeronymo

— «Eu de mim confesso que da tua caridade aprendi a prestar

unicamente aos livros das Escripturas,

que ora denominamos canónicas,

tal

honra, que firmissimamente creio que

respeito

e

nenhum dos

seus auctores caiu,

ao escrevê-los, na mais leve

sombra de

se eu achar naquelles livros

erro.

E,

algo que pareça encontrar a verdade, não hesitarei

em

confessar ou que o códice não é

fiel,

ou que o

interprete não alcançou o sentido do que estava escripto,

(1)

Ep.

ou que eu não logrei intendê-lo

LXXXII,

1, et

crebrms

alibi.

>

(1).

«^Providentissimns Deus»

Pugnar vantajosamente com

32.

todas as sciencias

em

45

os recursos de

prol da santidade das Escri-

pturas empresa é muito superior ao que é justo esperar da industria dos theologos e interpretes.

por isso muito para desejar que tomem a peito

É tal

empresa os sábios catholicos de reconhecida competência e auctoridade.

Nunca

faltou á Igreja,

mercê

de Deus, e oxalá que sempre augmente para accres-

centamento da toda

a

fé, a

ponderação

maior numero

e

É

gloria de taes talentos.

conveniente

que

sobre

sejam

em

mais esforçados do que os inimigos

da Biblia, os defensores da verdade, porque nada ha mais efficaz para persuadir o vulgo a render-lhe

homenagem do que

vê-la

liberrimamente profes-

sada por homens eminentes

Além

disso, ficará

em qualquer

sciencia.

quebrada a audácia dos nossos

com tanta petulância que a sciencia é incompatível com a fé, ao verem que homens eminentes em sciencia prestam rendida homenagem á palavra de Deus. E pois que tantos serviços podem prestar á religião aquelles a quem a summa benignidade de Deus concedeu a graça da fé catholica e o dom apredetractores, e certamente não ousarão affirmar

ciável do talento, nesta febre de estudos por qual-

quer modo relacionados com as Escripturas, esco-

lham aquelle que mais aptidões,

e,

versados

se

nelle,

compadeça com

as suas

saiam a campo e

repil-

lam, que lhes vae nisso grande gloria, os ataques

da sciencia indigna de

tal

nome.

A

46

Vem a

Eneyclica

de molde para aqui e é-nos grato approvar

benemérita deliberação dalguns catliolicos de

crearem associações que subsidiem largamente prestem todos os recursos sciencia, a fim de

promovam os e

a

homens

distinctos

e

em

que cultivem aquelles estudos e

seus progressos. Óptimo,

em

verdade,

muito opportuno nas circunstancias actuaes, este

emprego de dinheiro. Quanto menor

for o subsidio

que os catholicos podem esperar dos poderes públicos para o progresso dos seus estudos, tanto maior

deve ser a liberalidade dos particulares aquelles a

quem Deus concedeu

uso fazem delias convertendo-as

e

;

saibam

riquezas que

em

bom

defesa do the-

souro da verdade revelada.

33.

Para que todos

em grande

estes trabalhos

redundem

proveito dos estudos bíblicos, instem

os eruditos nos princípios que deixamos estabelecidos,

e

creiam firmemente que Deus, creador e

governador supremo de todas as cousas,

é

também

o auctor das Escripturas, e que, portanto, nada

ha na economia do universo, nem nos monumentos

porém

pa-

recer dar-se tal conflicto, haja todo o cuidado

em

históricos que possa contradizê-las. Se

compô-lo, já recorrendo

ao

juizo

prudente dos

theologos e interpretes para apurar o que ha de

verdadeiro ou verosímil no logar que se discute, já

ponderando com novo cuidado

que

se

adduzem.

E não

as difficuldades

se deve levantar

mão

deste

f^Providentissirnus Deus»

47

trabalho sem que desappareça a minima sombra

de conflicto, porque, sendo impossível que a ver-

dade se opponha

á verdade,

palavras do texto

mal

dirigida. Se

ou a interpretação das

errónea ou a discussão delle

foi

nenhuma

destas hypotheses puder

verificar-se, suspenda-se o juizo até

que a verdade

appareça. Muitas e graves accusações se levanta-

ram, durante largo espaço de tempo,

em nome

das

e todavia

caíram

como vãs em completo olvido vários foram

os sen-

sciencias, contra as Escripturas

;

;

tidos dados a certos logares bíblicos (salvo aos

propriamente pertencem

que

comtudo

á f é e á moral); e

foram ao depois interpretados com mais justeza propriedade.

É que

o

tempo mata o

verdade vive sempre jança»

(1).

erro,

e

mas «a

cada vez com mais pu-

e

Ora, assim como nunca houve ninguém

tão soberbo que se arrogasse o pleno conhecimento

de toda a Escriptura,

quando o próprio Santo

Agostinho confessava que era maior a sua ignorância

do que a sua sciencia da Biblia se

(2),

assim também,

algum texto encontrarmos de mui

difficil expli-

cação sigamos a norma tão moderada como prudente do espirito

mesmo Doutor

angustiado

ao

III Esdr. IV, 38.

(2)

Ad

Januar. Ep. LV,

— «Melhor

é

sentir

o

contemplar signaes cuja

significação não conhece,

(1)

:

21.

mas que são

úteis,

do

A

48

Encyclica

que, interpretando-os inutilmente,

libertar-se

do

jugo da submissão para se precipitar nos laços

do erro

>

(1).

Se os que professam os estudos subsidiários da Biblia seguirem discreta e fielmente estes Nossos

conselhos e mandatos;

escrevendo

se,

e

ensinando,

aproveitarem o fructo dos seus estudos na reducção dos inimigos da verdade e contra os damnos

da

em

precaver a juventude

então,

fé,

alfim,

poderão

exultar de jubilo por dignamente servirem as sa-

gradas Letras viço tal

como

e

prestarem á

a Igreja

tem

piedade e sciencia de seus

Estes são, V.

34.

I.,

os

fé catholica

direito

um

ser-

a esperar

da

filhos.

mandatos

e exhortações

que, obedecendo á voz de Deus, julgamos opportuno dirígir-vos acerca dos estudos bíblicos.

Está da

vossa parte agora procurar que sejam fielmente

guardados

e

observados com o acatamento que é

modo que brilhe cada vez mais a devida gratidão para com Deus por ter communicado ao género humano os thesouros da sua sabede justiça e de

doria

;

e

que a suspirada vantagem daquelles estu-

dos redunde sobretudo

em

proveito da instrucção

dos jovens aspirantes ao sacerdócio, pois são

(1)

De

doctr. chr. III,

9, 18.

elles

aProvidentissimiis Deus"

49

objecto de grande sollicitude Nossa e a esperança

da Igreja.

Com

a vossa auctoridade e exhortações trabalhae

com animo

varonil, para que nos seminários e aca-

demias sujeitas á vossa obediência, os estudos cos

tenham

o logar de

bibli-

honra que lhe pertence

e

progridam.

Praza aos céus que floresçam, sob a direcção da Igreja,

segundo os salutares documentos

e

exemplos

dos Santos Padres e louvável costume dos nossos

maiores: que no decurso dos tempos alcancem taes

incrementos que redundem

em

defesa e gloria da

verdade catholica, divinamente revelada para

sal-

vação perenne dos povos.

Exhortamos, finalmente, com paternal

35.

cari-

dade, todos os alumnos e ministros da Igreja que

estudem as sagradas Letras sempre com summo affecto,

reverencia e piedade. Nunca se poderá

lograr salutarmente,

como

é

de necessidade,

a

sem renunciar á soberba da sciencia terrena e perseverar no santo exercício da sabedoria que vem do alto. Iniciada intelligencia das Escripturas

nesta sciencia, illustrada e fortalecida por ella, a intelligencia terá admirável luz para conhecer e

evitar o que ha de

mau na

sciencia

humana

e con-

verter os seus sólidos fructos noutros tantos meios

de salvação eterna. aspirará 4

E

a

alma inflammada em zelo

com mais vehemencia

aos bens ineffaveis

A

50

Encyclica «Providentissimus Detis»

da virtude e do amor divino

:

— Bemaventurados

os que investigam os testemunhos de Deus, e

todo o coração o buscam

Animado com

com

(1).

a esperança do

auxilio divino e

confiado na vossa soUicitude pastoral, paternal-

mente concedemos no Senhor a benção Apostólica, penhor de dons celestes e testemunha da Nossa particular benevolência, a vós, a todo o vosso clero e fieis.

Dada em Roma, em S. Pedro, aos xviii de novembro de MDCCCXCiíi, anno decimo sexto do Nosso Pontificado.

(1)

Ps. XVIII,

2.

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