Meu nome é João Ayres e sou poeta e contista desde que me entendo por gente.Sou também compositor de samba de raiz. Luto intensamente com as palavras e faço desta luta um exercício de vida. Comecei muito cedo e em silêncio este meu intenso envolvimento com a poesia e a prosa. Tal atividade foi tomando conta de minha alma.Quando percebi já era tarde: Estava completamente tomado por tudo. Sou brasileiro e resido em Niterói. Permaneci anônimo durante muito tempo por questões de aprimoramento e obsessão estilística. Agradeço sinceramente pela acolhida. Meu e-mail para contato @globo.com Visite minha página pessoal-----------www.geocities.com/johnnyayres. Estou publicado nos seguintes endereços na net: www.otlho.com-poesias www.bestiario.com.br-conto ed-13 www.revistaetcetera.com.br-12-13-14-15-poemas e ensaios. www.geocities.com/johnnyayres-ensaios,poemas e contos www.aartedapalavra.com.br-32-36-poemas www.officinadopensamento.com.br-poemas escolhidos www.vaniadiniz.pro.br -poemas www.anavedapalavra.com.br-poema www.palavreiros.hpg.ig.com.br-poemas www.abrace1.com.br-Poeta convidado www.universitariun.com.br-ensaio Tem ainda publicações no jornal o arauto n2 e n6 Na mídia impressa está publicado nos seguintes lugares: Câmara Brasileira de Jovens Escritores Antologias n-1,5,8,9,10,11,13,15,16,17. Câmara Brasileira de Jovens Escritores-Antologia de Contos n1. Antologia de Contos n6 Antologia Internacional VMD.-poesia e contos Panorama Literário Brasileiro—2004-2005 As Cem Melhores Poesias-Câmara Brasileira de Jovens Escritores Painel Brasileiro de Novos Talentos 23-Câmara Brasileira de Jovens Escritores. 1Caminho por onde me desconheço O inferno expelido em gotas me arrebata Estou para o final dos tempos como todos aqueles que padecem O silêncio me diz coisas quando nada falo Posso sair por aí como se não fosse Nem mais e nem menos do que minha própria sombra no escuro.
2Há um risco na parede que me leva Para longe de meu longe num segundo As marcas de sangue no lugar onde morri Antes mesmo de me tornar muitas vezes um homem só. Este risco na parede esconde um nome Que ecoa no vazio dos corredores da memória Para longe de meu longe onde não me vejo Para longe de meu longe em ninguém. 3Eu sonho com noites escuras E meu corpo procura abrigo Tão vazio me perco em palavras Que me levam para longe de mim. Já não sei onde estou quando estou Enredado na teia das horas Quando assim me calo sozinho Quando a chuva lá fora se estende Eu sonho com noites escuras E meu corpo estremece de medo Tão intensa esta dor que eu sinto Que me leva ao começo do fim. 4Vento que traz um aviso De que amanhã não serei mais quem sou Amanhã ou depois de amanhã Quando escuto ou falo contigo. O silêncio lá dentro de mim Diz as coisas que estão muito além Eu procuro sem nunca achar Da janela a correr como um rio. 5À noite quando todos dormem Procuro um lugar sem lugar Para fechar as cortinas Para fugir e não mais ser Nem mesmo qualquer coisa alguma. Eu conto as estrelas sozinhas E deixo que as horas passem Calado e triste procuro o além Nas águas do tempo em meu abandono. À noite quando todos dormem
Procuro um lugar sem lugar À noite quando todos se esquecem Posso ouvir e calar e não ser. Conto de um homem morto. Ele não tinha mais vontade de viver.Ele estava agora feito de vidro.Sua inconsistência era patente naquele seu olhar vazio.Ele queria simplesmente sentar no verbo sentar.Queria agora fechar os olhos.Queria aquele tal silêncio dos monges na cerimônia do chá.Havia perdido tudo e nada mais restava a fazer. Ele, este pronome reto com jeito de morto-vivo, caminha pelas ruas à procura de si mesmo. Ele não quer se entregar ao alcoolismo.Ele toma uma dose de aguardente no bar da esquina.Pode sentir muito bem aquele fogaréu a arranhar sua garganta combalida. Ele olha ao redor e nada diz.Ele perdeu a família num acidente de automóvel.Perdeu o irmão, vítima de um câncer qualquer generalizado.Perdeu o emprego e perdeu a mulher que amava, pois não sabia massagear corretamente o clitóris da mesma.Perdeu este grande amor que nunca o amou. Perdeu, do verbo perder, algo ou alguém que nunca teve. Gostava, do verbo gostar, de quebrar copos com suas mãos de interiorano.Gostava de ver o sangue que desenhava contornos improváveis na palma de seu espírito atormentado. Não era afeito a gritos quando fazia amor.Simulava orgasmos como ninguém.As fêmeas da região o detestavam e ao mesmo tempo o adoravam pelo fato dele saber fazer muito bem o que elas faziam.Ele as possuía quase indiferentemente.Fechava os olhos para não ver aquelas expressões carregadas de profundo tédio.Elas se transfiguravam quando o viam.Ele seguia seu caminho até a sua humilde casa. O substantivo casa não o acolhera jamais.Havia goteiras por toda à parte.Quando ia ao banheiro, quando ia ao tal banheiro, sempre tinha problemas com a descarga.Tinha igualmente problemas para se limpar quando defecava compulsivamente. Comia geralmente sanduíche de queijo minas e tomava suco de laranja.Ele sentia o gosto do tal sanduíche quando olhava para aquelas fezes que boiavam na latrina.O papel atirado de forma absurda na mesma e o velho entupimento que consumia preciosos minutos de sua vida. As portas rangiam e este som o incomodava profundamente.Tudo era então o que parecia ser. Aquilo tudo bem à sua frente como aquele chuveiro de água fria, muito fria.O chuveiro agora seu companheiro inseparável quando as coisas iam de mal a pior. Desta vez parecia que ia ter um pouco de paz, pois ninguém habitaria aquele espaço no qual ele costumava se esconder da vida. Ele se senta no sofá da sala após o banho.Quero crer que agora fuma um cigarro, pois não consigo enxergar muito bem de onde não estou. Ele quer tomar algo, mas pensa muito antes de tomar qualquer iniciativa neste sentido.A garrafa de whisky importado bem em frente a ele.Lembra-se do último porre e da constatação de que não pode continuar deste jeito. Ele percebe que a tal garrafa se mexeu mais uma vez.Já é a segunda hoje, de acordo com seus cálculos imprecisos.Ele percebe que suas mãos tremem mais do que de costume.Ele sente uma pressão enorme no peito e procura relaxar o máximo que pode.
Nestes momentos razoavelmente dolorosos, ele gosta ou tem o hábito de repassar a vida.Ele tem que olhar para trás e sabe muito bem disso.Ela se levanta e ajeita as calças e ajeita os cabelos e olha firmemente para o passado ainda hesitante. Não deveria ter jamais enxotado seu pai daquele apartamento.Sabia que a convivência seria difícil, mas não poderia ter feito isto com aquele homem em apuros naquele momento. Ele se lembra do fato de que esperou o pai levantar e comunicou-o acerca de sua decisão irrevogável.O pai bebia em excesso e aquele filho tinha a vida organizada para não se tornar dependente e também para não administrar a vida de ninguém.Era isso e nada mais e muito mais do que isto naquela manhã ensolarada. Ele se lembra do pai que o olhou pela última vez.Lembra-se daquele semblante triste que o incomodaria anos a fio.Lembra-se do falecimento do pai.Lembra-se do telegrama lacônico que lhe foi enviado por um parente distante. Ele olha para tal garrafa que se mexe.Ele percebe que a mesa também está a se mexer e que todos os objetos daquela casa estão também a fazer o mesmo. Ele sente que seu corpo agora estrebucha.Seus órgãos se insurgem contra ele, esta entidade com status de pronome reto em terceira pessoa. Ele percebe que o seu coração está a pulsar no chão da cozinha.Percebe que sua cabeça foi cortada e colocada no freezer dentro de uma embalagem de plástico.Suas pernas foram arrancadas e viraram churrasco mal passado com molho especial.Ao mastigar os seus dedos da mão, ele se lembrou daquele ruído sedutor produzido por aquelas chips artificiais. Ele agora pode ver aqueles milhares de bocas a consumir os seus restos ordinários em qualquer lugar.Ele pode ver seu intestino combalido a zombar de si mesmo.Pode ver sua traquéia com cara de quem comeu e não gostou do que comeu.Pode ver seu nariz pisoteado no meio da rua por quem quer que seja.Pode ver os seus olhos perfurados por um nédio compulsivo em final de festa.Pode ver a multidão extasiada bem em frente ao tal homem guilhotinado em praça pública. Ele agora pode testemunhar a derrocada de seu corpo espalhado em todo e qualquer canto. Ele sabe que nada pode fazer quanto a isto. Lembra-se do fato de que sua mulher não esboçou reação alguma.Lembra-se do fato de que seus familiares o olhavam num misto de satisfação e desprezo.Lembra-se dos médicos que também o olhavam horrorizados ao extremo. Foi então que ele, que não era agora mais nada, procurou sua cabeça no freezer e ainda teve tempo de cuspir na cara de todos. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------6Vejam como a alma sangra Imersa que está no abandono destas horas Este dia cinzento assim exala O silêncio das coisas que emanam do além Uma raiz viva ou morta pode mudar o destino De cem mil homens que estejam como o vento Que abre portas e janelas para que ninguém duvide De que o mundo não mais resistirá à quebra de uma liga metálica
7Estou morto ou vivo ou entre um e outro. Minha ordem é o caos e o caos meu desatino de dizer o que não vejo. Falo em meus nervos quando estou ninguém. Há mais sangue do que nunca quando digo o que penso que digo. Gosto das coisas estranhas.Gosto de estar estranho quando tudo parece bem. O azul dos céus azuis me trucida. Os dias cinzentos me lembram do que não sou. Gosto das coisas esquivas Gosto de olhar a fumaça de um cigarro projetado na parede vazia. As palavras arrancam o pouco que resta de minha alma combalida. Sombras gigantescas maceram este meu dia qualquer. 8 Deixo que a alma corra E que nada seja o que é Pareço mais novo ou mais velho Como este relógio quebrado na cozinha Como qualquer outro espelho que pertenceu A ninguém menos do que um avô falecido Anônimo para todos como este nome Que ecoa no infinito de minha memória inerte Há alguns dias estou a engolir o peso deste mundo Imóvel nesta cama vazia como um traste que padece Neste mal qualquer que nunca teve cura Que vem de dentro como algo inexplicável Este indizível que devassa o torpor de todo nada E me atira para um sempre arfante e bem próximo ao fim. Já não posso fazer o que faço Agora que esta sina domina minhas veias O que está em mim não pode ser esquecido Jogado num canto como quem compra jornais velhos Jogado no lixo como um resto de comida qualquer Há muitos anos atrás eu pude ver Espíritos aflitos a se esgueirar pelas paredes da casa Eles aqui sempre estão A nos cobrar o que lhes é devido No ruído de dois copos que se encontram na cozinha Como sombras vazias que se escondem nas palavras
Lúgubres e distantes e sombrias em ninguém.
9 Não devo mais falar O que agora se ausenta de mim Tenho nas mãos o desterro da noite E um muro vazio que desaba em meu ninguém. Vou procurar o infinito e tomar chá Para me esquecer como uma alma distante Lá fora onde a chuva que cai E adentra a febre dos loucos. Eu sei o que dizem as tempestades Para longe de si mesmas onde o caos pulsa como a morte Não há redenção alguma ao redor Mas angústia, silêncio e sombra. 10 Por vezes me esqueço em coisa alguma Estou feito de papel ou talvez de fumaça ou de líquido pastoso. Por vezes me vejo indiferenciado em lápis: Paroxítono em mesa ou cadeira ou estante. Já estive morto em verbo de ligação e predicativo. Pretérito imperfeito em todas as minhas intenções e fracassos. Não mais dou um passo sequer hoje em dia. Tornei-me parte deste todo inerte como este adjetivo frio. Bebo consideravelmente quando sangro este nada ao meu redor: As horas pesam em mim como um rio que jamais corre . 11 Não haverá próxima vez Não quero o que dizem as palavras Só me resta calar e ouvir aquilo que não sei Preciso escutar as paredes As portas e janelas e os animais Para o além da fauna e da flora Neste algo que se faz ao meu redor em silêncio Para tal preciso não mais ter endereço Mulher e filhos e amigos ou parentes Para compreender o incompreensível
Entortando de vez tudo aquilo que aprendi. Devo chutar o vento como quem chuta uma lata vazia Andar de costas e cair do outro lado como quem nunca esteve Prestes a fazer coisa alguma sem alarde. ] Ode Mortífera Posso fechar os olhos E dizer que nada é Pois não mais estou onde estou Com a mente decapitada Em praça pública para que todos presenciem E vomitem solenemente o que resta da espécie Para onde caminha o inaudível Para onde caminha o que não é Vamos abrir o espírito E degolar