«Os portugueses ousaram cometer o grande mar oceano, descobriram novas ilhas, novas terras, novos mares, novos povos, e o que mais é: novo céu, novas estrelas.» Pedro Nunes
Lisboa, Março de mil quinhentos e setenta e dois do ano da Graça de Deus Nosso Senhor: De uma janela do Paço Real, D. Sebastião, El-Rei de Portugal e dos Algarves, D`Aquém e Além-Mar em África, observa atentamente mais um dia desassossegado em volta da Ribeira das Naus. Por ali deambulam marinheiros, grumetes, artífices e restantes elementos das tripulações, que vão e vêm, muitos à espera de uma oportunidade para embarcarem pela primeira vez, tendo sempre presente na ideia as muitas riquezas situadas mais além na curva do oceano. O rio Tejo, aquela hora continua repleto de naus e caravelas que partem e chegam numa pressa, como se dum espectáculo festivo se tratasse. … A olhar sem ver o rio, nem nota que a seu lado há uns minutos se encontrava, respeitosamente em silêncio, o CosmógrafoMor do Reino, Pedro Nunes, o maior matemático ibérico quinhentista, já com setenta anos.
Ao longo dos séculos XV a XVI, os portugueses envolveram-se na expansão Portuguesa que os levou a países longínquos. As viagens de descobrimento e colonização de novas terras eram feitas em caravelas e naus. Até ao começo da Idade Moderna, navegava-se à vista da costa. Os Portugueses começaram a estudar o movimento dos astros, para preverem a posição em que se encontravam e aperfeiçoarem as técnicas de navegação, a fim de poderem regressar ao porto de partida ou voltar de novo à terra descoberta.
Pedro Nunes viveu em plena época dos Descobrimentos Portugueses, sendo um dos protagonistas através do desenvolvimento de regras e instrumentos de astronomia, geometria e auxiliando a navegação no alto mar.
Petrus Nonius Salaciensis nasce no anno Domini de 1502 em Alcácer do Sal.
Quando tinha apenas 27 anos, em 1529 recebeu o convite para ser cosmógrafo do reino. Em 1547 foi nomeado Cosmógrafo - Mor do Reino cargo que ocupou até à sua morte (1578), poucos dias antes da batalha de Alcácer Quibir (ou dos Três Reis), onde morreu o rei de Portugal, D. Sebastião, o Desejado. O seu trabalho de cosmógrafo consistiu em proceder ao exame dos navegadores, ao seu aconselhamento técnico, a ajudar na cartografia das terras e mares descobertos e resolver assuntos científicos importantes para o reino.
Como cosmógrafo deixou importantes trabalhos de matemática (álgebra, geometria, trigonometria), geografia, física, cosmologia e também uma grande obra poética e literária. A sua obra encontra soluções para problemas inerentes à Arte de Navegar, por exemplo, explica que a distância mínima a percorrer por um barco entre dois pontos da Terra é um arco de círculo máximo e não uma linha recta, o que vai dar maior rigor à navegação, permitindo medições com uma precisão até à dezena de quilómetros.
Em 1537 publicou o "Tratado da Sphera”, único livro escrito em Português, sobre a Náutica, onde referiu problemas sobre rotas marítimas. Curiosamente, sendo uma das suas obras mais conhecidas, este livro é uma tradução de outro autor.
O nónio foi o invento que tornou Pedro Nunes mais conhecido. Trata-se de um instrumento que permite obter medidas mais rigorosas dos ângulos. O nome atribuído deve-se ao seu apelido Nonius, em Latim.
Pedro Nunes será considerado o grande navegador do século XVI, embora jamais tenha ido aos mares. Ao mesmo tempo foi muito contestado pelos navegadores, existindo a novidade de as suas aulas contemplarem lições teóricas para obtenção da carta de marear e cálculos aritméticos, demasiado complexos. O seu nome será dado a uma cratera lunar e a um asteróide.
Imagem de Pedro Nunes na face das antigas moedas de cem escudos
Selo de 5$00 de 1978
Selo comemorativo do 4º centenário da sua morte
Selo comemorativo dos 500 anos do nascimento de Pedro Nunes