Dez da manhã. O Barracuda continua ao largo de Sesimbra. Calibra-se o odómetro, instru-mento que mede as distâncias percorridas. Só depois se podem fazer ao altomar. O aparelho é essencial para se conseguir determinar a localização do submarino. “Se estiver descalibrado podemos ir parar a 20 milhas do local previsto”, adianta um oficial. À medida que se vai entrando no oceano, sinaliza-se na carta náutica a localização do Barracuda. “Também podemos obter a nossa localização através de GPS”, refere um elemento da sala de comando. Mas em águas profundas esta tecnologia não é eficiente. A “redundância” é um conceito importante debaixo do mar. Se uma máquina ou um procedimento falharem têm de se encontrar alternativas rápidas e fiáveis.
tar todo o tempo. Quem está preparado para o pior reage para o melhor”, atesta Mamede Alves. O objectivo é manter a tripulação bem treinada e pronta a responder a qualquer imprevisto. “Eu gosto muito deles, mas gosto mais de mim”, diz meio a brincar. Como reconhece Carlos Rodrigues, operador de sonar e armamento, “quem tiver o azar de fazer algo mal, põe todos os outros em risco”.
Onze da manhã. É dada a ordem para servir a primeira ronda do almoço. O Barracuda vai abandonando as águas calmas, protegidas pelo Cabo Espichel. À medida que navega à superfície rumo ao mar-alto, o submarino abana cada vez mais. Pelo sim pelo não, há comprimidos para combater o enjoo guardados numa estante. “Quando andamos muito tempo a navegar à superfície e depois vamos para terra parece que continuamos dentro do mar”, diz um elemento da tripulação. Pelo corredor apertado passam subma-
rinistas com travessas de comida, num autêntico número de equilibrismo e de perícia para não chocarem com os outros camaradas. Mas já estão habituados e conhecem todos os cantos. Contam até que no curso de especialização têm de andar de olhos vendados por aqueles labirintos de metal. A cozinha fica a meio do Barracuda, o que obriga a atravessar as áreas onde se opera a máquina para se chegar ao porão que serve de refeitório, de zona de descanso e de sala de convívio. O mesmo local onde estão os tubos dos torpedos, que servem de estrutura a meia dúzia de camas. Um espaço que serve ainda de despensa improvisada. “Beliches de quatro mesmo ao lado da mesa. É o sonho de qualquer um”, ironiza o tenente Almeida. O oficial explica como o Barracuda está organizado: “Temos uma sala de comando, que é o cérebro do navio, onde são dadas todas as ordens”. É neste compartimento que está o sonar, o radar, a sala de comunicações e o periscópio. A informação dada por estes aparelhos é permanentemente cruzada para, numa mesa de trabalho, se assinalar tudo o que rodeia o submarino. O tenente continua: “Ao lado está a sala de controlo, que é o coração e os pulmões, onde são executadas as decisões”. Nesta sala a actividade ainda é calma. Tem de se esperar um pouco para a submersão. Só depois a instabilidade provocada pelas ondas desaparecerá. Aproxima-se o meio-dia, altura em que acontece o render da guarnição. O serviço está organizado em três turnos. Por cada quatro horas de trabalho, há oito de descanso, que pode ser interrompido por exercícios ou para a resolução de eventuais problemas. “Ainda no outro dia um dos
CASUAL - 29.08.2008 | 5